Dimensão Ético-Política da Atuação do Psicólogo na Saúde do Trabalhador
O Conselho Federal de Psicologia (CFP) apresenta à categoria e à sociedade o documento Saúde do Trabalhador no Âmbito da Saúde Pública: Referências Técnicas para a Atuação da(o) Psicóloga(o), edição revisada, elaborado no âmbito do Centro de Referências Técnicas em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP). O documento apresenta as possibilidades de atuação da Psicologia no âmbito da Saúde do Trabalhador, atentando-se para as relações de poder existentes no mundo do trabalho na contemporaneidade. Deste modo, em consonância com um dos princípios fundamentais do Código de Ética do Psicólogo O psicólogo considerará as relações de poder nos contextos em que atua e os impactos dessas relações sobre as suas atividades profissionais, posicionando-se de forma crítica e em consonância com os demais princípios deste Código. Considerando os impactos que tais relações têm sobre as atividades desenvolvidas, no que tange o campo em debate, a(o) psicóloga(o) precisa refletir sobre as consequências que tais relações provocam na saúde do trabalhador, trazendo para o horizonte da atuação da Psicologia a defesa do Sistema Único de Saúde como política pública imprescindível na garantia de direitos e diminuição das desigualdades. Nesta nova edição da Referência, a comissão entendeu que grande parte do documento permanece atual, ainda apresentando, de modo eficaz, as diretrizes importantes que norteiam o trabalho da psicóloga(o) neste campo de atuação. No entanto, a introdução Saúde do trabalhador no âmbito da saúde pública: referências técnicas para a atuação da(o) psicóloga(o)9da nova edição traz pontos relevantes acerca da conjuntura política atual e as consequências para a consolidação e sobrevivência da política pública. Ademais, foram incluídos aspectos que versam sobre o momento atual deste campo de atuação, como a discussão sobre o uso de álcool nos contextos de trabalho, bem como a importância de formar profissionais aptos para atuar com a Saúde do Trabalhador. O psicólogo baseará o seu trabalho no respeito e na pro- moção da liberdade, da dignidade, da igualdade e da integridade do ser humano, apoiado nos valores que embasam a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Com relação às políticas públicas de saúde, a psicologia atua com foco na atenção, promoção, prevenção de saúde, não apenas nos casos de doença, mas nas ações que visam a melhoria da qualidade de vida da população. Segundo o Plano Nacional de Saúde 2012-2015, o campo de atuação do psicólogo em saúde pública é amplo, podendo-se atuar na Atenção Básica; Atenção Especializada; Atenção às Urgências; Vigilância em Saúde; Atenção Integral à Saúde; Rede de Saúde Mental; Atenção Integral à Saúde da Pessoa Idosa; Atenção aos Portadores de Doenças Crônicas e Atenção à Saúde Indígena. Ou seja, o psicólogo atua desde a atenção primária até o nível terciário de atenção. A atuação da psicologia se dá por meio da aplicação dos conhecimentos e das técnicas psicológicas, sendo o seu objeto as relações interpessoais envolvendo os múltiplos fatores determinantes da saúde mental. Segundo o Centro de Referência em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP), essa atuação inclui, ainda, os diferentes grupos sociais e os seus problemas associados à promoção da saúde em geral e à prevenção de doenças. Na Prevenção Primária à Saúde, o psicólogo pode atuar com famílias, pessoas idosas, crianças e adolescentes; com lazer, programas de saúde de adulto em problemas específicos de saúde, entre outros.
Na Atenção Primária à Saúde a atuação do psicólogo acontece com pessoas em que os
distúrbios já estão instalados e os tipos de intervenção podem ser: psicoterapia, triagem, orientação de mães, psicodiagnóstico, ludoterapia ou, ainda, processos grupais, tais como: grupos de usuários de substâncias psicoativas, portadores de HIV, tuberculose, hanseníase, entre outros. Especificamente, em relação aos Serviços de Saúde Mental, eles são organizados em rede, considerando as especificidades do local e da região, atuando no território e na comunidade onde está inserido. A atuação nos equipamentos de saúde mental deve ser de forma integrada, articulada, e efetiva nos diferentes pontos de atenção para atender as pessoas em sofrimento, com transtornos mentais e com consumo de álcool, crack e outras drogas. Contudo, não se deve pensar no fazer da Saúde Mental apenas dentro dos espaços dos hospitais e dos CAPS (Centros de Atenção Psicossocial), mas sim, numa perspectiva de Rede de Apoio Psicossocial que abrange a Atenção Básica, as Unidades Básicas de Saúde; Núcleo de Apoio à Saúde da Família; Consultório na Rua; Centros de Convivência e Cultura, Atenção Psicossocial Estratégica, nas suas diferentes modalidades de intervenção. Na atenção terciária, ou seja, em hospitais, podemos citar algumas das atividades que podem ser desenvolvidas pelo psicólogo, a avaliação das pessoas candidatas a diferentes procedimentos cirúrgicos; educação em saúde; desenvolvimento de programa para pessoas que não aceitam o tratamento proposto pela equipe de saúde; avaliação psicológica para diagnóstico e sugestão de intervenção; na comunicação de más notícias, atuação multidisciplinar com outros profissionais de saúde; ajuda na reabilitação de pacientes com deficiências físicas; acompanhamento de pacientes submetidos à quimioterapia; em psicologia pediátrica e outros. Em cada um desses níveis, a atuação do psicólogo, acontece de forma a proporcionar o seu aprendizado, favorecendo, também, o aprendizado para atuar em equipes multidisciplinares, ampliando o seu conhecimento junto com outros saberes, produzindo escutas e potencializando sua prática, de forma a construir políticas públicas que estejam, realmente, voltadas para a coletividade.