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Educação Matemática com as Escolas da Educação Básica: interfaces entre pesquisas e salas de aula

OFICINAS PEDAGÓGICAS EM UMA ESCOLA RURAL: UM


RELATO E TANTAS EXPERIÊNCIAS

Glauce Kelly Souza de OLIVEIRA(UFGD/PROEX)1


Tiago Dziekaniak FIGUEIREDO (UFGD)2

Resumo:
Este artigo apresenta um relato de experiência das ações realizadas peloGrupo de
Pesquisa Tecnologias na Educação Matemática – GPTEM em especial pelo projeto
intitulado “Grupo de Estudos e Ensino de Matemática – GEEM” contemplado pelo
edital Edital PROEX/PIBEX Nº27/2018 com 21 alunos de uma escola rural com classe
multisseriada da rede pública de Dourados/MS.O objetivo deste trabalho é apresentar as
ações, que são realizadas em formas de oficinas pedagógicas para suprir as dificuldades
que os alunos encontram em aprender e compreender determinados conteúdos.
Realizaram-se cinco oficinas, que foram confeccionadas com materiais do GPTEM,
onde através dessas oficinas os alunos tiveram a compreensão dos conteúdos trabalhado
de uma forma mais dinâmica. Assim conclui-se que esta ação é de extrema importância
para o desenvolvimento intelectual e social.

Palavras-chave:Oficina; Geometria; Grupo de pesquisa;

1. Introdução

“Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo


E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo
Corro o lápis em torno da mão e me dou uma luva
E se faço chover, com dois riscos tenho um guarda-chuva”
(AntonioPecci Filho Toquinho / Vinicius De Moraes)

Neste pequeno trecho da música “Aquarela”de AntonioPecci Filho Toquinho e


Vinicius De Moraes a nossa imaginação é capaz de viajar pelos versos e dar sentido a
cada letra que a compõe. Sim! Em uma folha qualquer eu desenho um sol amarelo. Um
sol amarelo, um céu azul e o que mais minha criatividade e imaginação permitirem.

1
Licencianda em Matemática da UFGD, Bolsista de extensão e membro do Grupo de Pesquisa
Tecnologias na Educação Matemática – GPTEM –UFGD/CNPq. E-mail: glaucekelly.gk@gmail.com
2
Professor do curso de Matemática da UFGD e líder do Grupo de Pesquisa Tecnologias na Educação
Matemática – GPTEM –UFGD/CNPq tiagofigueiredo@ufgd.edu.br
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Motivados por esta música, conseguimos parar e imaginar o quanto a nossa vida
é cheia de pequenos detalhes, detalhes sequer lembrados na correria do dia a dia, mas
que podem fazer toda diferença. E são as diferenças, os detalhes que nos fazem ser
sujeitos únicos comprometidos com nosso papel diante de uma sociedade em
movimento que a cada dia exige mais e mais.
E neste movimento é que buscamos através da realização de oficinas
pedagógicas, mostrar a importância de trabalhar a matemática desta forma, afim de
estimular o envolvimento e a participação dos alunos em atividades que os façam
perceber as aplicabilidades dos conceitos matemáticos construídos em sala de aula.
As oficinas pedagógicas têm como foco principal engajar os alunos, envolvendo-
os com os variados temas da matemática por meio da construção de materiais didáticos
que sejam capazes de auxiliar a construção do seu aprendizado.Aderimos a proposta de
oficinas pedagógicas como forma de estratégias de aprendizagem, para através delas
articular e integrar os saberes matemáticos.
Assim, destacamos que,
as oficinas pedagógicas são situações de ensino e aprendizagem por
natureza abertas e dinâmicas, o que se revela essencial no caso da
escola pública – instituição que acolhe indivíduos oriundos dos meios
populares, cuja cultura precisa ser valorizada para que se entabulem as
necessárias articulações entre os saberes populares e os saberes
científicos ensinados na escola (MOITA; ANDRADE, 2006, p. 11).

Por meio da realização das oficinas é propiciado um espaço de aprendizagem


mais amplo em que educador e educando aprendem de forma cooperativa e por meio da
valorização dos saberes individuais e coletivos, uma vez que o conhecimento humano
não é produzido apenas por meio da aprendizagem de conceitos oriundos das áreas
especificas do saber, mas também pelas vivências de cada sujeito.
Assim, busca-se formar cidadãos mais conscientes sobre capacidade e aprender,
mais autônomos e criativos.A forma em que as oficinas são trabalhadas corroboram
com as ideias de Piaget(1973, p.17) quando afirma que “o conhecimento humano é
essencialmente coletivo, e a vida social constitui um dos fatores essenciais da formação
e do crescimento do conhecimento.”.
A partir disto,se reconhece que a estratégia de aprendizagem necessita ser
refletida, uma vez que muitas vezes a preocupação do professor pode ser somente
ensinar o conteúdo, não cabendo aqui criticar este professor uma vez que cada um sabe
e deve lidar com sua ação pedagógica da maneira como acredita ser a mais eficiente.Isto

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pode acontecer por distintos motivos, porém na contemporaneidade é cada vez mais
emergente compreender que os atuais e futuros professores, necessitam adquirir cada
vez mais conhecimentos para elaborarem estratégias capazes de acompanhar uma
sociedade que esta sempre em movimento. Neste movimento, cabe também
compreender que a aprendizagem pode ser construída em distintos ambientes,
quebrando o paradigma de que somente a sala de aula é local para se aprender.
Assim, cabe ressaltar que,
a escola, hoje, não é mais a principal detentora do saber. O papel do
professor somente como transmissor do conhecimento não tem mais
lugar nesse espaço. É mais importante indicar onde o aluno pode
encontrar as informações de que necessita para a construção do seu
saber e como poderá transformá-las em conhecimento do que ser um
repassador dos conteúdos de sua área. (SARAIVA, 2004, p.142).

Assim como Saraiva retrata a escola e outros locais são ambiente de


aprendizagem, e explorar distintas estratégias de aprendizagem em determinados locais
nos quais onde não costumam trabalhar matemática pode incentivar os alunos a procurar
mais sobre a matemática e aprender com situações do seu cotidiano.
Em busca de mostrar que a matemática poder ser incluída em tudo, utilizamos a
perspectiva interdisciplinar para realização de algumas das oficinas. Utilizando esta
metodologia, tem-se como propósito de melhorar a compreensão do cotidiano, fazendo
um processo de reflexão sobre o processo para a construção do conhecimento, no qual
se obtém através da realização de atividades interdisciplinares.
Onde podemos compreender que:
Qualquer forma de combinação entre duas ou mais disciplinas com
vista á compreensão de um objetivo final a elaboração de uma síntese
relativamente ao objetivo comum. A interdisciplinaridade implica,
portanto, alguma reorganização do processo de ensino/aprendizagem e
supõe um trabalho continuado de cooperação dos professores
envolvidos.(POMBO, 1993, p.13).

Sendo que Fazenda(2011) descreve que uma tarefa interdisciplinar não é


realizada como uma via de mão única, uma vez que para executar a interdisciplinaridade
é necessário se identificar ou estar disposta a ser um sujeito interdisciplinar e acreditar
que o outro é ou pode ser interdisciplinar.
E neste contexto, apresentamos um relato sobre as oficinas desenvolvidas ao
longo do ano de 2018 com 22 alunos de uma turma multisseriada de uma escola rural da
cidade de Dourados/MS por meio do projeto “Grupo de Estudos e Ensino de

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Matemática – GEEM” vinculado ao Grupo de Pesquisa Tecnologias na Educação
Matemática – GPTEM.

2. Desenvolvimento

Uma das primeiras ações foi promover uma campanha para arrecadação de
livros de literatura infantil, tendo em vista que a escola não possuía estes recursos, para
realização da oficina de uma jornada interdisciplinar entre Matemática e Língua
Portuguesa. A campanha foi realizada no estado do Mato Grosso do Sul
especificamente na cidade de Dourados e no Rio Grande Do Sul na cidade de Rio
Grande, onde foi proposto para aqueles que pudessem doar livros para essa nova
proposta de oficina. Dessa forma, registra-se que foram arrecadados cerca de 300 livros.
Nesta campanha de arrecadação dos livros de história infantil, obteve-se também
a doação de um microcomputador. A partir da ideia de conseguir apoio de materiais
didáticos, o GPTEM se disponibilizou doar alguns desses materiais para o ensino de
matemática, tais como tangrans, blocos lógicos, jogo de xadrez, régua de frações,
sólidos geométricos, disco de fração, geoplano, dominó de multiplicação e ábacos, bem
como materiais de uso diário como folhas de oficio, lápis de cor, giz de cera, entre
outros.
Abaixo apresentamos as oficinas realizadas durante a execução do projeto.
• Oficina de contação de história – foi realizada pelos membros do GPTEM
aliando a Língua Portuguesa nas histórias infantis que foram contadas com o auxílio de
origamis. Ë importante destacar que os próprios alunos fizeram a construção do material
como forma de fazê-los perceberem as propriedades matemáticas que um único origami
pode conter. Logo após o término das histórias, foi realizada a formalização dos
conteúdos que os mesmos identificaram (reta, ponto, interseção, área, perímetro, entre
outros) conforme a Figura 1.

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Figura 1: Realização da oficina de contação


Fonte: Os autores

• Oficina do tangram – Objetivo desta oficina era fazer a apresentação das


figuras geométricas que o tangram apresenta, mostrando as diferenças entre elas. A
oficina iniciou por meio do relato sobre uma das lendas da origem do tangram e logo
após foi proposto que os alunos fizessem diversas figuras com o auxilio do tangram
para fazer um mural,buscando evidenciaras relações entre as peças geométricas que
constituem o quebra cabeça conforme a Figura 2.

Figura 2: Realização da oficina de tangram


Fonte: Os Autores

• Oficina da construção do ábaco –Esta oficina buscou fazer com que os alunos
compreendessem a forma que se utiliza o ábaco. Para isso, foi proposto que os alunos
construíssem o material e após esta confecção aplicamos atividades para que os mesmos
operassem com o auxilio do instrumento conforme a Figura 3. Ademais, buscou-se
também identificar as ordens do Sistema de Numeração Decimal, para em seguida
realizar a próxima oficina.

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Figura 3: Realização da oficina da construção do ábaco


Fonte: Os Autores

• Oficina da matemática com reciclagem –a atividade foi desenvolvida durante


a semana do meio ambiente e teve como objetivo evidenciar que também se pode fazer
matemática por meio da reciclagem. Os materiais utilizados para sua realização foram
papelão, tintas, garrafas e tampinha, produzindo assim um twister da geometria
conforme a Figura 4.

Figura 4:Realização da oficina de matemática com reciclagem


Fonte: Os autores

• Oficina da régua de fração – Objetivo desta oficina foi buscar capacitar o


aluno a aprender a manusear a régua de frações, identificar frações e entender o
conceito de denominador e numerador. Esta oficina foi realizada com uma atividade de
corrida dos carros com o material concreto (Figura 5).

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Figura 5:Realização da oficina de matemática com reciclagem


Fonte: Os autores

• Oficina da simetria– O objetivo desta oficina foi buscar com que aluno
aprendesse as diferenças entre três tipos de simetria (rotação, translação e reflexão), as
quais foram explicadas através das obras de Maurits Cornelis Escher.Esta oficina foi
planejada e trabalhada de forma interdisciplinar por meio da integração das áreas de
Arte e Matemática (Figura 6).

Figura 6:Realização da oficina de simetria


Fonte: Os autores
• Oficina de figuras geométricas– O objetivo desta oficina era fazer a
apresentação e a comparação das figuras geométricas em duas dimensões e em um
formato de três dimensões, mostrando as diferenças e as relações entre elas por meio de
atividades que demandavam o manuseio das peças conforme a Figura 7.

Figura 7:Realização da oficina figuras geométricas


Fonte: Os autores
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• Oficina de Geoplano– O objetivo desta oficina foi mostrar a construção do
material didático possibilitando através deste mesmo, a compreensão de como calcular
áreas, perímetros e outras propriedade de figuras regulares e não regulares. Mostrando
também as peculiaridades de cada tipo de figura (Figura8).

Figura 8:Realização da oficina geoplano


Fonte: Os autores
• Oficina de pizza dos números – A oficina foi executada por meio da
construção do material didático juntamente com os alunos,utilizando o material
confeccionado para a compreensão da representação dos números com a sua quantidade
corretamente, utilizando a quantidade de calabresa da pizza para identificar os números
de cada pedaço (Figura 9).

Figura 9: Realização da oficina pizza dos números


Fonte: Os autores
Deste modo, por meio destas 9 oficinas, é importante destacar que as atividades
são planejadas durante as reuniões do Grupo GPTEM, e desenvolvidas na escola
quinzenalmente. Elas são principalmente voltadas para alfabetização matemática, tendo
como suporte as reflexões oriundas de discussão teóricas embasadas em autores como
Pierre Levy, Maurice Tardif, Luiz Carlos Pais, Estela Kaufman Fainguelernt entre
outros, aliando-se também a elementos de outras áreas como a arte e a língua
portuguesa.

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Ao longo das oficinas, é notável as dificuldades apresentadas pelos alunos na
compreensão de conceitos que tradicionalmente são denominados como simples dentro
do campo da matemática, mas que servem de base para a construção de conceitos mais
avançados e que se não forem trabalhados de forma eficaz comprometem todo o
desenvolvimento matemático dos alunos.
Destaca-se também que ao realizar cada oficina os materiais utilizados para
elaboração das mesmas são fornecidos pelo GPTEM, fazendo com que a escola não
necessite dispor recursos, que na maioria das vezes são escassos, para a realização das
atividades.
Como a atividade é oriunda de uma proposta de extensão, vinculada a um Grupo
de Pesquisa, o compartilhamento dos relatos das diversas experiências vivenciadas na
escola, promove a construção de um campo riquíssimo de aprendizagem, aliando ensino
e extensão por meio de propostas de ensino aplicados diretamente no campo específico
de atuação dos profissionais que estão em formação.

3. Considerações Finais

Com este trabalho foi possível perceber que a extensão universitária


potencializa o trabalho colaborativo buscando-se assim estreitar os laços entre a
formação inicial e continuada de professores por meio de ações diretas nos espaços
educativos, os quais são os futuros campos de atuação dos licenciandos.
A realização dessas experiências diretamente com os alunos da rede pública de
ensino constitui-se como a possibilidade de vivenciar experiências enriquecedoras para
a atuação dos colaborados como futuros profissionais da área da educação, pois além
dos estágios obrigatórios do curso, estes sujeitos tem a oportunidade de estar na sala de
aula e propor atividades de maneiras diferenciadas do método tradicional de ensino.
Além de contribuir para a formação acadêmica, contribui também para a
realização particular dos sujeitos envolvidos, por meio da vivência direta com alunos de
uma comunidade rural e que demandam ações específicas para seu desenvolvimento
enquanto comunidade.
Viver outra realidade pode fazer de nós sujeitos cada vez mais atentos as
mudanças da sociedade, bem como a nos fazer compreender a subjetividade do trabalho
docente com vistas a demandas específicas para atender as particularidades de cada
comunidade atendida.
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4. Agradecimentos

Ao PROEX/PIBEX pela concessão de bolsa de extensão ao primeiro autor e


Grupo de Pesquisa Tecnologias na Educação Matemática – GPTEM, por conceber
experiências através das atividades realizadas pelo grupo.

5. Referências

FAZENDA, I. C. A.Interdisciplinaridade:História, Teoria e Pesquisa. 18 ed


Campinas, SP: Papirus, 2011
MOITA, F. M. G. S. C; ANDRADE, F. C. B. O saber de mão em mão: a oficina
pedagógica como dispositivo para a formação docente e a construção do conhecimento
na escola pública. REUNIÃO ANUAL DA ANPED, v. 29, p.16, 2006.

PIAGET, J. Estudos sociológicos, Rio de Janeiro: Forense, 1973.

POMBO, O. O conceito de interdisciplinaridade e conceito afins. Lisboa, Texto


Editora, 1993.

SARAIVA, I. S.. Aprendendo com alunos: uma experiência dialógica no curso de


pedagogia anos iniciais. In. MUHL, E. H.; ESQUINSANI, V. A. (Orgs.). O diálogo
ressignificando o cotidiano escolar. Passo Fundo, RS: UPF Editora, 2004. p. 124-152.

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