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No organograma do poder, a corporação também tem seu CEO. Ainda que não exista
formalmente o cargo de presidente, o líder incontestável, desde a fundação do
movimento, em 1984, é o gaúcho João Pedro Stédile. Abaixo de Stédile, há um
número restrito de executivos, como Gilmar Mauro, de São Paulo, Roberto Baggio,
do Paraná, e Mário Lill, do Rio Grande do Sul. Estes três fazem parte da direção
central e Lill cuida das finanças. Descendo na hierarquia, chega-se aos 90
coordenadores regionais em 23 dos 26 estados brasileiros e aos militantes – quase
todos assalariados. Mas de onde vem o dinheiro para manter tanta gente em
acampamentos, tantosquadros internos e promover ocupações em regiões tão remotas?
Na prática, ainda que haja um certo grau de delegação de poderes, a descentralização
não é absurda. O MST tem quatro grandes fontes de recursos. Uma das principais é o
próprio setor público, especialmente o governo federal. Por meio de convênios com
ministérios como Desenvolvimento Agrário, Trabalho e Educação, o movimento tem
acesso a verbas próximas a R$ 8 milhões por ano. São recursos, na maioria dos casos,
para treinamento e assistência técnica nos assentamentos. Em segundo lugar, vêm as
doações nacionais, da Igreja Católica progressista, e internacionais. O MST S.A.
conta com enorme simpatia das ONGs européias e algumas delas, como a alemã
Caritas e a francesa Frères des Hommes, estão ajudando a levantar a Escola
Nacional Florestan Fernandes.Cerc de 65% dos r$7,4 milhões orçados vêm de fontes
européias. Uma terceira fonte de renda é a cobrança de 1% do que é produzido nos
assentamentos. Já existem, organizadas, 150 cooperativas e agroindústrias ligadas ao
MST em todo o país. Cada uma fatura, em média, R$30 mil mensais e algumas
fornecem a multinacionais como a Parmalat e a Ceval. As cooperativas têm uma
receita anual próxima a R$ 54 milhões por ano e o 1% representa R$540 mil. Por
último, há ainda um pedágio de 3% cobrado na liberação de empréstimos para a
agricultura familiar ou para projetos habitacionais. Somando tudo, chega-se a uma
receita de R$ 20 milhões por ano.
Ao mesmo tempo em que invade fazendas, o MST fortalece sua marca por meio de um
amplo aparato de marketing. O movimento tem um jornal mensal, com tiragem de 20
mil exemplares, uma revista trimestral com 10 mil unidades e ainda criou diversas
rádios nos assentamentos. Nas lojas do movimento, são vendidos bonés, camisetas e
bolas de futebol com a marca MST , além de doces, queijos, biscoitos e dos produtos
ligados a militantes famosos, como o fotógrafo Sebastião Salgado e o compositor
Chico Buarque. A loja de São Paulo gera uma margem de lucro considerável, gastando
R$3 mil na compra dos produtos e vendendo R$16 mil a cada mÊs. Muitos dos itens à
venda nas lojas são também encontrados no site MST, com versão para seis países
europeus: Alemanha, França, Espanha, Itália, Suécia e Inglaterra.
O MST, que já assentou 350 mil famílias em todo o país, também diversificou suas
atividades e descobriu novos nichos de mercado. Um exemplo é a destilaria Paladar,
que produz cachaça na Bahia. Outro é a agencia de turismo rural Turismo Solidário,
também conhecida como MSTur, conduzida por Miguel Stédile, filho do líder da
organização, o que j;a aponta um certo ar de empresa familiar na corporação. O
foco da MSTur consiste em organizar visita a assentamentos, onde são oferecidos
churrascos e chimarrão aos visitantes. Lá, eles conhecem produtos sem agrotóxicos,
que são até exportados para vários países sob as marcas Sabor do Campo e Terra &
Frutos, entre outras. E, como toda a empresa, o MST sempre prospecta novos
mercados potenciais. Foi isso que aconteceu, há vários anos, quando o sem-terra José
Rainha, recentemente condenado à prisão, foi deslocado do Espírito Santo para atuar
no Pontal do Paranapanema, em São Paulo, uma das regiões mais conflagradas do
país.
Apesar das controvérsias, o MST tem tudo para alcançar aquilo que é sonho de muitas
corporações empresariais: a perpetuidade. À medida que a reforma agrária avança,
novas cooperativas surgem, assim como novas fontes de recursos. O financiamento
proveniente da Europa é um dos pontos mais polêmicos e que assustam os grandes
produtores rurais. Mesmo que o movimento continue avançando, é pouco provável que
o MST S.A. consiga promover a revolução camponesa e socialistano Brasil. Pesquisas
da área de inteligência do governo federal constataram que, assim que se tornam
donos de terras, mais de 70% dos sem-terra passam a defender
incondicionalmente a propriedade privada e – quem diria – a próprio capitalismo.
Pouco a pouco, o ímpeto revolucionário é dissolvido e dá lugar a discussões sobre
números contábeis, capital de giro , geração de caixa e atémesmo lucro.
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