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Maringá, PR
2011
Patricia Sebastiana Pires Guelles
Maringá
2011
Dedico este trabalho aos meus filhos, Gabriel,
Isabela e Davi que com um amor incondicional
me ensinaram a vencer todos os obstáculos
percorridos nesses últimos quatro anos.
Com a conclusão deste trabalho encerramos mais uma etapa de nossas vidas.
E como não começar agradecendo a Deus, que me permitiu viver esses quatro
anos de aprendizagem, alegrias e tristezas, guiando e me sustentando em
todos os momentos difíceis.
E como não agradecer pelo apoio incondicional do meu esposo Elvio, que
esteve do meu lado, compartilhando todos os aprendizados e as inseguranças
vividas nesses anos.
Às minhas amigas de sala, Ana Maria, Flavis, Lara, Paula e Pri, vocês foram as
maiores responsáveis por eu não desistir, alegraram as minhas manhãs nesses
últimos quatro anos.
(Francisco de Assis)
GUELLES, Patricia S. Pires. Os caminhos opostos percorridos por jesuítas
e franciscanos na colonização do Brasil. 2011. Monografia (Trabalho de
Conclusão de Curso) – Universidade Estadual de Maringá.
RESUMO
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 9
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................... 57
6. REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 59
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1. INTRODUÇÃO
A vida colonial brasileira, desde 1500, quando aportaram Pedro Álvares Cabral
e sua tripulação, foi marcada pela forte atuação de missionários que almejavam
a conversão dos índios que aqui se encontravam.
A Companhia de Jesus foi formada em 1534, nas cercanias de Paris, por seis
padres liderados por Inácio de Loyola. Em 1540, o papa Paulo III oficializou a
nova ordem religiosa que tinha como principal objetivo as missões internas pela
Europa, as missões pelas novas terras conquistadas ao cristianismo, a
administração e manutenção de escolas, colégios e universidades, a relação
próxima aos soberanos, materializada na atividade de confessores de reis e
príncipes, e a atuação destacada no Concílio de Trento.
Segundo Rosa (1954), Loyola foi um homem que, ao abandonar a sua vida de
cavaleiro e seguir os ensinamentos de Cristo, buscou edificar-se na fé e
converter os infiéis pecadores na doutrina cristã. O autor afirma que Loyola foi
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peça fundamental para a formação da Companhia, visto que ele foi o autor das
Constituições, documento que regulamentou criteriosamente a vida dos
jesuítas.
Com relação aos franciscanos, Frei Martino Conte assegura que a conversão
de Francisco não previa constituir uma Ordem religiosa, porém com a procura
de alguns homens para segui-lo em missão, sentiu-se, com a inspiração divina,
uma necessidade em regulamentar o que seria a formação da Ordem dos
Frades Menores.
Segundo Rosa (1954), Loyola não teve uma boa educação, com isso tinha uma
vida regrada de pecados, apesar da sua boa índole. Seguiu carreira militar e foi
em umas das batalhas que ele se feriu ficando entre a vida e a morte. Ao se
recuperar, Loyola começou a ter uma nova visão da vida, ou seja, ele deixou
seus atos mundanos para seguir os preceitos de Cristo. Primeiramente Loyola
dividiu o pouco que tinha entre os mais necessitados, dando sua requintada
roupa de cavaleiro1. Depois deste episódio, ele seguiu sua árdua peregrinação
com muitos obstáculos e provações. Quando Loyola se sentia muito tentado
ele se refugiava entre os pobres.
Segundo Rosa (1954), Loyola tinha um grande desejo de visitar a Terra Santa
e também de trabalhar na conversão dos mulçumanos. Ele chegou a conhecer
Jerusalém, contudo não conseguiu realizar a sua missão, pois o guardião
franciscano de lá, zelando da sua integridade física, o mandou de volta.
Anos após este episódio Inácio foi para Paris estudar Filosofia e lá, depois de
um rigoroso exame, se tornou professor de Filosofia. Neste período, enquanto
Loyola estava muito desanimado, pois não encontrava ninguém que
compartilhasse dos mesmos pensamentos, apareceram homens que tinham os
mesmos propósitos dele: Pedro Fabro, Francisco Xavier, Diogo Lainez, Afonso
Salmerón, Nicolau Afonso e Simão Rodriguez. Loyola, juntamente com os seis
companheiros, fundou, em 1534, a Companhia dos estudantes parisienses.
Em 1540 foi aprovada a bula que oficializou a nova ordem religiosa com o
nome de Companhia de Jesus, que tinha como objetivo em especial educar
sobre o prisma cristão as crianças e as pessoas rudes. Esta missão seria de
1
As roupas de um cavaleiro simbolizavam sua nobreza, sendo uma tradição a ser honrada.
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acordo com a vontade do papa, pois além dos votos de obediência, pobreza e
castidade os jesuítas tinham o de obediência direta ao papa.
A Companhia de Jesus era uma ordem religiosa que não tinha como
característica seguir os antigos regulamentos monásticos: não havia longos
coros de cantigas religiosas, não tinha um vestuário específico e também não
era administrada com regras rígidas. Como destaca Rosa (1954), os jesuítas
tinham uma grande preocupação em seguir os preceitos religiosos. Eles
dedicavam uma parte do tempo em estudos religiosos, sobretudo na oração,
outra parte eles utilizam para estudos bíblicos.
O papa Gregório XIII para por fim a qualquer oposição dos adversários em
relação à Companhia de Jesus, aprovou duas bulas entre 1583-1584: a
primeira confirmava de forma geral a ordem religiosa, seus privilégios e as
constituições; já a segunda levantava os pontos mais discutidos e que merecia
certas modificações. Desta forma aquele Sumo Pontífice colocava em xeque
qualquer questionamento dos opositores.
la, dentre eles: Calvino e Henrique III. As novas doutrinas encontraram mais
adeptos no norte da Europa, pois esses Estados queriam se afastar do poder
papal que atingia todos os setores dos Estados europeus.
A primeira parte demonstra-nos como deve ser a escolha dos candidatos que
são aptos, depois a maneira pela qual tratar os mesmos candidatos quando
aceitos na casa para a primeira provação.
Nesta parte o autor relata também quais são impedimentos para ser admitido
na Companhia dentre eles: pessoas com deficiências ou deformidades
notáveis, como por exemplo, corcunda, feridas, pois tudo isso não é compatível
com os propósitos da Companhia e podem atrapalhar a pregação; também não
serão admitidos os candidatos possuírem dívidas que não podem pagar, faltam
das qualidades citadas acima, devoções indiscretas etc.
A segunda parte relata como deve ser a demissão prudente e amigável dos
que não são aptos; descreve também quais as causas morais e físicas e a
maneira pela qual demitir os candidatos que foram mandados embora ou
aqueles que quiseram sair com cautela.
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Por meio da análise feita da segunda parte das Constituições, no capítulo que
relata como deve ser o modo de despedir os jesuítas, podemos concluir que
Loyola tinha uma grande preocupação em não expor e não causar nenhum
dano psicológico ao demitido. É descrito um ritual que deve ser feito na casa
quando for despedir algum membro, no qual todos devem rezar e pedir para
iluminar esta decisão sem revelar o nome do demitido, faz-se necessário
consultar uma ou mais pessoas para saber a opinião deles sobre a pessoa que
vai ser demitida, entre outros cuidados a fim de não denegrir a identidade do
demitido.
Os demitidos não podem ser vistos pela sociedade com maus olhos, ao
contrário, as pessoas devem sentir pena e rezar por eles. Os membros da
Companhia podem ser demitidos publicamente ou secretamente, no primeiro
caso todos ficam sabendo o motivo pelo qual alguém está sendo mandado
embora da Companhia, já o segundo não é secreto e sim discreto, pois toda
demissão deve ser um fato público, contudo em certos casos, para não
perturbar os outros membros da Companhia, a demissão deve ser cautelosa.
Loyola afirma que na hora das refeições se faz necessário ler algum livro,
sermão ou uma carta edificante para alimentar também o espírito. Essas cartas
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Nesta parte, ainda, Loyola relata também como devem ser feitas as correções
e penitências, primeiramente deve-se repreender os culpados com amor e
doçura; já, na segunda vez, o culpado deve se sentir confuso e envergonhado,
mas o repressor deve ser dócil e amoroso; na terceira, a correção deve ser
com amor, mas causando temor no culpado.
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Como afirma Costa (2004) o Ratio Studiorum pode ser definido como “construção das regras
pedagógicas e educacionais dos jesuítas” (p.228)
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que é citado como base teórica é São Tomás de Aquino, isto é válido tanto
para os colégios como para as universidades.
Os reitores vão definir uma vez por semana, depois das refeições, um aluno de
teologia escolástica e artes para defender uma tese que eles irão determinar
um dia antes da discussão, todos podem participar e haverá um presidente
para organizar o debate. É importante ressaltar a importância dessas
discussões para os alunos adquirirem mais conhecimentos, pois nestes
momentos os alunos tiram suas dúvidas e também exercitam a inteligência.
Além das matérias citadas acima, nas universidades deve-se ensinar a lógica,
a física, a metafísica, moral e as matemáticas, sem desviar do objetivo principal
da Companhia de Jesus. As faculdades de Medicina e de Direito não são
ofertadas pelas universidades jesuíticas, pois não se enquadram nos fins da
Companhia.
Os padres que estão em missões pelo mundo devem seguir os mesmos rituais
realizados na Companhia, ou seja, não significa que por estar longe, em muitos
casos quase sem comunicação, que os princípios das Constituições não
devem ser seguidos.
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A sexta parte explica como deve ser a vida dos que foram admitidos e
incorporados na Companhia, demonstrando aspectos relacionados à pobreza,
castidade e obediência.
De acordo com as Constituições, a obediência para ser perfeita tem que ser de
execução, de vontade e entendimento, ou seja, o individuo deve realizar o que
lhe é ordenado com a mesma vontade de quem manda e também deve ser
consciente que está sendo bem mandado.
A oitava parte das Constituições afirma que deve haver a união de todos com o
chefe e entre si, indica o meio para promovê-la e preservá-la, regras as
congregações das diversas províncias e as de toda ordem (Congregações
Gerais).
A união, para ser mantida, precisa da obediência que, por sua vez, está ligada
com a subordinação, neste sentido é essencial que todos os membros da
Companhia com suas funções específicas tenham consciência que todos os
seus atos dependem da autorização de seus superiores, com isso, quem vive
em um colégio ou casa está subordinado à vontade do Reitor ou do Superior
Geral, já aqueles que vivem em alguma Província deve consultar sempre o
Provincial ou algum Superior Local. Os superiores Locais e os Reitores devem
sempre se comunicar e consultar os Provinciais, e esses, por sua vez, depende
das ordens do Superior Geral.
O Superior Geral tem que possuir algumas qualidades para manter a união
entre ele e seus companheiros, dentre elas: a boa estima, a autoridade, o amor
e a dedicação, demonstrando sempre que tem capacidade para governá-los da
melhor maneira possível.
Na Companhia de Jesus o Superior Geral tem total autoridade, pois para o bom
funcionamento dela o Geral tem que ser o detentor do poder, dele deve partir
todas as decisões, mesmo delegando poderes aos outros superiores
dependentes, ele pode revogar qualquer decisão deles. Todos têm como
obrigação obedecer plenamente e respeitar o Superior, pois ele é o
representante de Cristo na Terra.
A décima parte, e última, ratifica alguns temas que são de suma importância
para a Companhia de Jesus, dentre eles: a obediência que é a base
sustentadora da união e a comunicação entre os membros mesmo estando em
diferentes regiões do mundo. Isto é observado neste trecho das Constituições:
Para tanto, as normas que regulamentavam a vida dos jesuítas foram escritas
para que o membro se edificasse na fé, obediência e na união entre os irmãos
que estivessem em peregrinação pelo mundo. A pobreza é um dos pontos que
Loyola destaca como sendo fundamentais para garantir a essência de
Companhia, COSTA (2004) afirma que “todo professo fará uma promessa de
nunca alterar as regras da Companhia no que se refere à pobreza, e se mesmo
assim o fizer, será somente para ser mais rigorosa.” (p.123). Com isto, Inácio
de Loyola garante que os erros de outras Ordens religiosas não repetiriam na
Companhia de Jesus.
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Frei Martino Conti pertence à Ordem dos Frades Menores, é conhecido por divulgar os
escritos de São Francisco de Assis, a partir do Concílio Vaticano II, propaga o retorno das
fontes primárias do que consiste a inspiração de Francisco para a dedicação da vida em
caridade.
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A visão que Francisco de Assis, segundo Frei Martino Conti, tinha do castelo
de armas, o inspira a tornar-se um nobre cavaleiro. Em 1205 ele decide unir-se
a um homem nobre de Assis que almejava um cargo de cavaleiro. Em uma
viagem a Espoleto, como ocorreu com Paulo, descrito nas Sagradas Escrituras,
Francisco recebe um chamado de Cristo, pedindo que deixe o servo e passe o
seguir a Cristo. Francisco de Assis volta para Assis e aguarda que Cristo se
manifeste e revele a sua vontade.
No fim de 1205, Francisco relata que entra numa igreja chamada de São
Damião, guiado pelo Espírito Santo e faz uma oração; do crucifixo da igreja
chega-lhe uma voz: “Francisco, vai e restaura minha casa que está em ruína”
(CONTI, 2004, p.21). As palavras comovem Francisco e ele encontra o
caminho que havia pedido Cristo.
O projeto de Francisco, segundo Frei Martino Conti, não era de constituir uma
Ordem religiosa, porém seu dom de ser um líder de um movimento apostólico
acontece naturalmente e seus exemplos de bom homem desperta à vontade de
outras pessoas segui-lo, os primeiros são: Bernado de Quintavalle e Pedro
Cattani, depois Egídio e rapidamente muitos outros jovens decidem seguir
Francisco.
Frei Martino Conti afirma que os primeiros atos da nova ordem religiosa são
marcados por três experiências missionárias: a primeira na Marca de
Acogrupo, a segunda no Vale de Rieti, e a terceira depois que o grupo já tinha
o número de oito, seria o chamado dois a dois nas quatro direções do mundo.
Com o avanço da fraternidade da ordem, Francisco escreve para ele e para a
ordem uma regra, ou forma vitae, que no ano seguinte recebe exame e
aprovação do Papa.
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Jacques de Vitry, Segundo Frei Martino Conti, foi um cardeal francês, chamado a Roma para
ser consagrado bispo de São João de Acre, encontrou a corte pontíficia em Perusa,
enfrentando a morte de Inocêncio III e a eleição de Honório III. Aproveitou a oportunidade para
conhecer os novos movimentos religiosos que havia na região e foi, assim, a primeira
testemunha que, sem pertencer à Ordem, deixou um escrito sobre os franciscanos dos
primeiros tempos.
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daqueles homens que se reunião uma vez por mês e destes encontros tiravam
diversos benefícios e, no encerramento, dividiam-se nas regiões próximas
evangelizando e ganhando novos irmãos. Como afirma Frei Martino Conti,
Francisco recebe do recém-eleito papa Onório III a indulgência da Porciúncula,
chamada de “Perdão de Assis”.
De acordo com Frei Martino Conti, o início da ordem franciscana não foi muito
fácil, visto que havia chegado a noticia que em Marrocos estavam em martírio
Frei Berardo e mais 16 companheiros. Com todos os acontecimentos,
Francisco resolve voltar para Itália, renunciando o cargo no governo da Ordem.
Para relatar essas dificuldades, Jacques de Vitry nota que “a Ordem dos
Frades Menores contém em si um gravíssimo perigo, devido principalmente ao
fato de serem mandados dois a dois por todo o mundo não somente os
perfeitos, mas também os jovens e imaturos.” (CONTI, 2004, p. 29). Com isso,
as missões poderiam estar ameaçadas e, a partir de então, Francisco
estabelece maior disciplina interna na ordem, pedindo pessoalmente auxilio ao
Papa Honório III que nomeia o cardeal Hugolino como defensor da Ordem dos
Frades Menores.
Ao retornar para Assis, Francisco faz uma visita à Irmã Clara em São Damião,
no qual permanece algum tempo para se curar, porém, cedendo às pressões
de Hugolino para fazer um tratamento, em 1226 realiza cirurgias de
cauterização nos olhos na cidade de Sena. Os cardeais, ao observarem a
fragilidade de Francisco, pedem-lhe que faça uma benção em um memorial, no
qual rapidamente registra sua vontade no conhecido “Testamento de Sena
(abril-maio de 1226)” (CONTI, 2004, p. 34).
A morte de Francisco foi marcada pela leitura do Evangelho, pedido dele, que
em volta dos seus irmãos de fé despede-se deste mundo. A noticia de sua
morte é dada à toda Ordem por uma carta escrita por Frei Elias, tecida por
muitas esperanças e escritos bíblicas. Seu corpo é levado para a igreja de São
Jorge, e lá ele é sepultado honrosamente.
Frei Martino Conti afirma que a transformação foi tão radical que até mesmo a
língua falada, o latim, foi substituída para o que foi conhecido como língua
vulgar. Um novo povo surge buscando liberdade para governar suas vidas,
realizar viagens para adquirir novos produtos e para comercializar seus
produtos, os locais onde esse povo se reunia e vivia ficou conhecido como
comuna, como explica Frei Martino Conti, significando núcleos de cidadãos que
trabalham e comercializam produtos.
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Neste contexto, Frei Martino Conti afirma que surge a vocação de Francisco de
Assis, o qual rapidamente ganha apoio da Igreja. O Papa Inocêncio III
reconhece nele um homem mandado por Deus para defender e propagar a
Palavra do Cristo. O Papa cria uma nova ordem, chamada de apostólica,
diferente da eremítica, monástica e canonical que já existiam, a nova Ordem
traria para a sociedade vigente um novo sentido de evangelização.
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Frei Martino Conti declara que Francisco, ao receber o chamado de Cristo, não
tinha a intenção de criar uma ordem religiosa, sua vontade era apenas de
seguir sua convocação de Cristo, porém, quando alguns homens resolveram
seguir a caminhada junto com ele é que, Francisco inspirado nas Escrituras da
Bíblia, dita o que seria o modo de vida dele e de quem resolvesse seguir seus
passos.
O termo “regra” é usado nos escritos de Francisco de Assis por diversas vezes,
ela representa a norma de vida que os irmãos frades deveriam seguir, segundo
a Palavra de Cristo.
Não foram apenas esses momentos apontados acima que Francisco escreve
para regulamentar a norma franciscana e, segundo alguns relatos de
companheiros, ele escrevia diversas regras e as colocava em prática, a fim de
garantir uma vivência melhor de seus irmãos.
As leis que regulamentavam a vida dos frades podiam ser mudadas, conforme
apareciam as dificuldades. Frei Martino Conti apresenta um trecho dos escritos
de Jacques de Vitry, em que:
Deste modo, a Regra Geral era um espaço em que os frades poderiam fazer as
alterações necessárias para o bom andamento da Ordem. É neste âmbito
ainda, que a fraternidade se dividiu em províncias e que se elegeram ministros
provinciais. Frei Martino Conti afirma, ainda, que é nesse contexto que são
escolhidos custódios para atribuições da Ordem, como exemplo, “guardar os
frades no seu ideal de vida apostólica, para que nenhum deles se perca”
(CONTI, 2004 p.185). É, também, nesse ambiente que surgem os primeiros
lugares que são chamados de casa, ou conventos, que são destinados a
formação inicial e continuada dos frades a fim de prepara-los para o exercício
do mandato de evangelizar.
distribuir seus pertences aos pobres, não podendo ficar com dinheiro, não
podendo dar este aos membros da Ordem e, quanto a roupa, “o ministro
conceda-lhe as vestes de provação por um ano, a saber duas túnicas sem
capuz, o cíngulo, calções e o caparao” (FONTES FRANCISCANAS, 2008
P.166). Após este primeiro ano de provação o candidato seria recebido, não
podendo frequentar outra religião ou desrespeitar a obediência da Ordem.
Francisco de Assis esclarece que as vestes devem ser baratas.
O sexto capítulo esclarece o recurso dos irmãos aos ministros e que ninguém
se chame de pior, mas que todos se achem irmãos menores, assim, todos
seriam tratados igualmente, um servindo ao outro.
Por isso, nenhum dos irmãos, onde quer que esteja e para
onde quer que vá, de modo algum apanhe nem receba nem
faça receber dinheiro ou moedas, nem por motivo de vestes
nem de livros nem como salário de algum trabalho,
absolutamente por nenhum motivo, a não ser por causa de
manifesta necessidade dos irmãos enfermos, porque não
devemos ter nem considerar no dinheiro e nas moedas maior
utilidade do que nas pedras (FONTES FRANCISCANAS,
2008 p.171).
O décimo capítulo diz respeito aos irmãos que caírem na enfermidade, que
deverão ser cuidados pelos irmãos com saúde, que ninguém seja abandonado,
O décimo quarto capítulo explica como devem ir os irmãos ao mundo. Eles não
devem levar nada e, se chegarem a um lugar e forem pedidos suas coisas,
mesmo que sejam suas vestes, eles devem entregar e se alegrar, pois devem
sempre servir aos irmãos o que forem necessários.
O décimo quinto capítulo proíbe que os irmãos andem a cavalo, ou que tenham
qualquer animal, a não ser por motivo de enfermidade.
O décimo sexto capítulo pede para que os irmãos que desejam conviver com
sarracenos ou infiéis que peçam permissão aos seus ministros, e que eles
concedam a permissão, que os irmãos possam se apresentar como filhos de
Deus e propagar o evangelho.
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“A lauda era, no contexto medieval italiano, uma espécie de exortação religiosa em forma de
canto.” (FONTES FRANCISCANAS, 2008, p. 179, nota de rodapé)
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Aguiar (2010), por sua vez, aponta que a Regra não Bulada não trata de uma
simples regra que fundamenta a vida dos frades que iriam viver fechados em
conventos, mas trata de um projeto de evangelização. Francisco de Assis, em
cada capítulo, dirige-se para aqueles irmãos que estivessem em missão
evangelizadora e que deveriam seguir os mesmos pressupostos de todos os
irmãos da Ordem. O texto busca a transformação da vida dos fiéis, uma
transformação apostólica de toda a sociedade.
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O século XVI foi marcado pela forte presença dos missionários católicos em
busca de evangelizar os povos gentios encontrados no Brasil Colonial. Os
jesuítas tornaram-se conhecidos pela atividade de evangelizar e educar os
índios, segundo os moldes da Igreja Católica e os costumes europeus.
A missão jesuítica que chegou ao Brasil em 1549 era composta pelos padres
Manuel da Nóbrega, Leonardo Nunes, João Azpilcueta Navarro e Antonio
Pires; pelos irmãos: Vicente Rodrigues e Diogo Jacome. A embarcação trouxe
também Tomé de Souza, nomeado primeiro governador do Brasil; a frota
aportou na Bahia após oito semanas de viagem.
Foram fundados diversos colégios, escolas, capelas, nos quais muitos índios e
descendentes portugueses recebiam instrução e formação. Em 200 anos de
colonização, a Companhia de Jesus tornou-se a maior educadora e missionária
do Brasil.
Deste modo, a evangelização dos gentios não foi motivo de conflito para os
jesuítas, o trabalho pautou-se em convertê-los aos modos e costumes
europeus. Ao passar do tempo os jesuítas perceberam a dificuldade em
transformar os costumes dos índios, então passaram a usar da força e do
temor para convertê-los.
O autor Sangenis (2004) expõe a ação dos franciscanos no Brasil desde 1585,
quando foi criada a Custódia de Santo Antônio do Brasil, com sede em Olinda,
os frades tinham como objetivo catequizar os índios que moravam nessa
região.
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Frei Venâncio Willeke relata ainda que, em 1516, Frades Menores anônimos
embarcaram na catequização dos índios Tupiniquins, em Porto Seguro,
“levantando a primeira igreja e batizando os primeiros filhos da selva”. Em
1549, ainda de acordo com Frei Venâncio Willeke, morre afogado, no Sul da
Bahia, um franciscano anônimo, que tinha como objetivo catequisar os índios
daquela região; o rio que transpassa aquela região ficou conhecido como Rio
do Frade.
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Este livro apresenta as atividades dos Frades Menores na cidade da Bahia, no período de
1587 a 1862. São relatos dos franciscanos que não se perderam com o tempo, os
organizadores o julgam incompleto, pelo fato de que nem todos os franciscanos chamados de
Guardiães registraram seus feitos nos documentos oficiais. Ao analisar os relatos podemos
averiguar as ações dos frades nos primeiros anos de colonização do Brasil, visto que a Bahia
era um ponto de referência nesse período.
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“São Francisco de Assis, quando fundou a Ordem, não desejava que seus
frades possuíssem livros e muito menos se dedicassem aos estudos”. Deste
modo, o modelo franciscano não almejava e tampouco se preocupava em
redigir suas ações evangelizadoras, o principal objetivo era a conversão desse
povo gentio a fé cristã.
Este embate entre os jesuítas a favor de obter bens materiais e o que eram
contra teve reações diversas de jesuítas moralistas que viviam na Europa que
eram contrários a aquisição de fazendas, gados e uso de mão de obra escrava.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Costa (2004) afirma que na há como negar a intensa participação dos padres
da Companhia de Jesus na história brasileira no século XVI. Com a sua
formação rigorosa transmitiram o ensino das primeiras letras em todo o Império
Português, principalmente no Brasil.
6. REFERÊNCIAS