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O FUTURO PRÓXIMO

A dádiva de prever o futuro! A vidência, os profetas. Em tempos difíceis, de


grandes dúvidas, a necessidade de prever o futuro aumenta, muito! Na
ciência acadêmica existem algoritmos projetados para estimar o futuro em
diversas áreas. Não são novidades, a matemática, a estatística, a
computação, a TI já fazem isto, algumas especialidades, desde os tempos
remotos. A grande questão, muito comum nestes casos, é a premissa de
que o futuro tende a reproduzir o passado, então os modelos levam em
conta novas variáveis dinâmicas que surgem com o tempo, para melhorar
a capacidade preditiva. Acontece que, a natureza, lato sensu, nem sempre
aceita se comportar metodicamente, ou seja, enquadrada no método
científico de estudar os fenômenos. Isto invalida os modelos preditivos?
Invalida o planejamento? Não, pelo contrário, justifica mais ainda, o ATO
DE PLANEJAR! Dito isto, o fiz para deixar claro que tenho absoluta
consciência das minhas limitações e capacidade de prever o futuro. Creio
eu, que este, de fato, pertence à Deus. Muito bem, o mundo está vivendo,
sem sombra de dúvidas, a maior crise deste século, talvez semelhante
(tomara que não, à gripe espanhola, no século passado) e a outras dos
tempos medievais. Estamos tendo o “privilégio” de viver a realidade dos
filmes de ficção apocalípticos, todos (que sobreviverem) terão muito o que
contar para filhos, netos e bisnetos, afinal, estamos “vivendo a história”.
Vejo na mídia em geral e, nos grupos que participo, que os aspectos
epidemiológicos, desde as formas de disseminação, tratamento atual e
providências preventivas (desenvolvimento de vacinas e novos fármacos),
estão sendo tomadas. Muito bem, assim é que se procede! Contudo,
refletindo no meu pequeno mundo que posso influenciar, ser útil, servir aos
outros, tomando atitudes, buscando fazer acontecer, ouso expor
publicamente o que penso, ou seja, posso estar errado, portanto, sofrerei
as consequências, mas não errarei por omissão. Deixando tudo isto bem
claro, pergunto ao universo de profissionais das análises clínicas (desde o
nível operacional, médio, superior, técnicos, administradores, empregados
e empresários): o que estamos fazendo (planejando) para enfrentar o
imenso risco que se forma e, certamente desabará sobre o mercado das
análises clínicas? Sobretudo, na parte mais frágil, os pequenos e médios
laboratórios? CRISE, tire o “S”, fica CRIE. Muito bem, tenho visto o pessoal
tratando da oportunidade (Crise, no ideograma chinês (Ops!) significa
ameaça e oportunidade) que surgirá com o imenso mercado criado pelos
exames para o diagnóstico da COVID – 19. Ainda, ontem (18/03/2020) vi
que a ANVISA liberou mais oito testes rápidos, então, estão certos os que
buscam as oportunidades. Parabéns, todavia, me sinto na obrigação de
chamar a atenção de todos que, podem, vejam, podem existir variáveis
muito ameaçadoras para o mercado das análises clínicas em um FUTURO
PRÓXIMO (título deste artigo). A demanda em geral, irá aumentar, se
manter ou desabará? Independente disto, teremos reagentes para
trabalharmos? E os nossos profissionais poderão se deslocar até os
laboratórios? Neste caso, teremos os EPI´s mínimos necessários para a
operação segura dos nossos negócios? Os clientes terão autorização e
meios de transporte para irem aos laboratórios? Os nossos laboratórios (de
todos os portes) terão autorização para funcionar? Se não, por quanto
tempo? Se tivermos que trabalhar em regimes especiais, teremos cobertura
legal, em termos da CLT? Regras para suspensão temporária dos empregos?
Regras das VISAS para a precisão e exatidão das modalidades liberadas de
testes rápidos? Proteção contra futuras demandas judiciais? Repercussão
na área de marketing para os laboratórios que atenderem demandas de
possíveis infectados? POP´s para preservar os clientes e funcionários na
recepção, coleta e produção, na medida que não somos o Congresso
Nacional que pode trabalhar em casa e votar pela internet, com todos os
proventos garantidos? Se não trabalharmos, falimos, simples assim! E,
quanto ao socorro financeiro para as nossas contas? Quem dará? A que taxa
de juros? Quais as garantias exigidas? Que prazos serão concedidos? E,
mesmo que tenhamos empréstimos “subsidiados e facilitados”, será que
poderemos pagar no futuro? Teremos uma “quebradeira” geral? Quem nos
substituirá num FUTURO PRÓXIMO? Posso estar sendo pessimista, admito,
mas mesmo os laboratórios com grandes margens de lucro deverão
enfrentar sérios problemas, se não financeiros, de logística, de
abastecimento de todos os tipos de insumos! Ninguém será poupado! Se a
curva de contaminação for íngreme e duradoura (o Presidente americano
está falando de até seis meses), não se surpreendam, a luta não será por
reagentes, será por comida! Digo isto, porque o problema ainda, de
verdade, nem começou, todos os mercados estão abastecidos e as pessoas
ainda estão com o fluxo de caixa normal (não falo dos servidores públicos,
estes estão garantidos, mas dos sem emprego formal, ambulantes etc.), e
mesmo assim já presenciei (testemunhei, ninguém me contou) cenas
incríveis em um supermercado (de primeira classe) aqui em Porto Alegre.
No dia 16/03/2020, ou seja, ainda quando o nível de stress deveria ser
baixo, as pessoas “saqueando” as prateleiras, inclusive de alimentos
perecíveis, que não adianta estocar. Filas imensas de carrinhos cheios, cada
pessoa com 2 ou 3 carrinhos. Este é um supermercado grande, as gondolas
são de pelo menos 10 m, com três andares, pois bem, o setor de papel
higiênico, com duas gondolas, estava vazios, numa segunda-feira às 15h!
Fui informado que o setor dos limões, já tinha sido reposto duas vezes, cada
reposição em torno de 500 unidades! Pessoal, imagina quando a crise
estiver no pico! E quando faltar dinheiro para os menos abonados: sem
dinheiro e lutando por comida. Vi na TV espanhola, dois idosos em luta
corporal por um saquinho de arroz! Os Governos (Federal, Estaduais e
Municipais) já começaram a adotar medidas restritivas para a circulação de
pessoas e abertura de lojas (quem pagará os prejuízos, serão pagos?) em
shoppings, comércio ambulante, rodoviárias, fechando rotas, fronteiras
etc. Vamos torcer que aqui a situação não chegue ao ponto dos conflitos
físicos, acreditar que somos civilizados, que não predomine o egoísmo e a
força bruta (física e do dinheiro), vamos acreditar no espírito caridoso do
povo, MAS TAMBÉM DEVEMOS TOMAR PRODÊNCIAS! Pelo sim, pelo não.
Minha família trabalha em laboratório há 45 anos, tenho uma pequena
empresa de consultoria na área de gestão econômica laboratorial, então,
por estes fatores, também tenho a obrigação de contribuir, reiterando o
que falei no início e, pela minha capacidade limitada, só posso, como
consultor, contribuir sugerindo. MINHA SUGESTÃO À TODOS: busquem de
forma organizada, através de comissões, dialogar oficialmente com as
Sociedades Científicas (SBAC; SBPC); com os sindicatos (Patronais e de
empregados) e com os Conselhos Profissionais (CFF; CFBio; CFM...), para
que eles CRIEM UM GABINETE INSTITUCIONAL DE CRISE, visando defender
junto aos órgãos competentes, os interesses dos pequenos e médios
laboratórios e, por extensão, das análises clínicas. Tem que ser uma ação
conjunta das instituições, pois terão que atuar nos mais diversos
segmentos, onde os problemas surgirem. E TEM QUE SER LOGO!
Finalizando, prefiro errar sendo o profeta apocalíptico do que pecar por
omissão. Obrigado por lerem até o fim!
Humberto Façanha
Em 19/03/2020

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