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Os temas a serem abordados nesta mentoria não têm a ver

com autoajuda, nem com coaching, tampouco são


necessariamente restritos a quem sofre de burnout. No
entanto, como muitos deles, com frequência, não estão
explicitamente presentes nas conversas entre médicos, pode-
se, então, pensar que são assuntos "fora da medicina". Por esse
e outros motivos, concluímos que, se estes temas forem
discutidos por médicos, de maneira séria e numa linguagem
que valorizamos, pode haver muita sintonia com nossos
leitores.

Autores:

João Marcelo Coluna


Médico Ginecologista e Obstetra formado pela Universidade
Estadual de Londrina (UEL) • Mestre em Fisiopatologia pela
Universidade do Oeste Paulista (Unoeste) • Docente do
Departamento de Saúde Materno-Infantil da Unoeste
(Presidente Prudente-SP) • Preceptor da Residência Médica do
Hospital Regional de Presidente Prudente-SP.

Maikel Ramthun
Médico Especialista em Clínica Médica, Nefrologia e Medicina
Intensiva ⦁ Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade
Estadual de Ponta Grossa (UEPG) ⦁ Sócio-Fundador do canal
Além da Medicina.

Victor Miranda
Residência Médica em Medicina do Exercício e do Esporte pelo
Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual
(Iamspe-SP) • Especialista em Medicina do Exercício e do
Esporte (MEE) • Preceptor da Residência Médica de MEE •
Diretor da Sociedade Paulista de Medicina Desportiva
(SPAMDE) • Sócio-Fundador do canal Além da Medicina.
Introdução

Sabemos que se formar em medicina não é fácil. Mas, muitas vezes,


mesmo depois de passar por todo o longo caminho de muito estudo, é
mais difícil ainda ter a confiança necessária para colocar em prática todos
esses ensinamentos.

Muitos alunos relatam se sentir despreparados para o momento de estar


sozinho, seja em um plantão ao consultório, atendendo pacientes. E se
esquecer de algo? E se não sei tudo o que preciso saber?

Para tentar facilitar um pouco esta transição de aluno para médico,


reunimos neste e-book os principais pontos de uma Mentoria Médica para
você, desde cursos práticos, conhecimentos necessários e informações
importantes que você vai precisar, até a importância do apoio psicológico
e da inteligência financeira.

Esperamos que seja útil na sua prática médica!


1. Conhecimentos técnicos necessários

Bom dia! Hoje é segunda-feira, são 8h30 da


manhã. Finalmente me formei em medicina.
(Aliás, a festa foi ontem, domingo, à tarde...)

E, então? Pra onde eu vou? O que devo fazer


primeiro? A quem devo procurar? Quem
poderia me ajudar neste momento tão
confuso e me dizer o que fazer com toda essa
energia que tenho represada agora?

Foi exatamente pensando nessa hora em que a magia e o encantamento da


missão consolidada na faculdade (salvar os outros, salvando a si mesmo) podem
se transformar no pesadelo do começar a vida médica é que nos propomos a
orientar e dar sugestões de como vencer essas etapas iniciais sem cometer nossos
mesmos erros. Seria como mostrar o “caminho das pedras, sem as pedras”, a fim
de que os problemas e as dificuldades não sejam iguais aos que tivemos e
ninguém nos avisou. Mas, não se iluda: é claro que outros surgirão.

Em primeiro lugar, o recém-formado deve se registrar no Conselho Regional de


Medicina (CRM) do local onde pretende trabalhar ou prestar residência médica. O
registro no CRM deve ser feito presencialmente, e é possível realizar sua inscrição
sem ter ainda o diploma, portando uma declaração ou a certidão da faculdade na
qual a colação de grau foi realizada. O diploma deve ser apresentado, em seguida,
no prazo de até 120 dias. A lista de documentos é encontrada facilmente no site
do CRM de cada estado. O tempo médio para se obter o número de registro em
São Paulo, por exemplo, é de 15 dias para o CRM-digital e de até 30 dias para o
diploma. Se sua intenção for trabalhar em estados diferentes, vale ressaltar que
cada estado requer uma inscrição para exercer sua atividade (independentemente
de ser um ambulatório por semana ou um plantão por mês), sendo necessária uma
nova inscrição dita secundária no respectivo CRM de destino. Não há limites para
inscrições secundárias, lembrando-se apenas de que as anuidades são separadas
e existe um controle do governo federal, chamado de Cadastro Nacional de
Estabelecimentos de Saúde (CNES), no qual algumas regras permeiam o trabalho
médico, a saber:

• Vínculos públicos: 2, no máximo.


• Vínculos particulares: 5, no máximo (esse número pode ser ultrapassado
apenas com justificativa do estabelecimento, gestor municipal, em
campos específicos do CNES).

Até o momento atual, considerando que as duas normas estão em parágrafos


diferentes, o entendimento jurídico é que cada médico pode acumular 7 vínculos
(2 públicos e 5 particulares),

Para verificar se a quantidade de vínculos e carga horária inscritos está correta, o


médico deve acessar o site do CNES, e, no campo “Consultas > Profissionais >
SUS”, digitar seu nome e CPF/CNS para verificar os registros. Caso não concorde
com a situação, o médico deve entrar em contato com o(s) empregador(es) para
atualização cadastral. É importante verificar regularmente os vínculos, uma vez
que o conflito, além de ilegal, resulta em multa e complicações legais para o
exercício profissional.

De posse de seu número de registro (e com as taxas de anuidade pagas – sua


primeira despesa, ou melhor, seu primeiro investimento com a profissão), já é
possível pensar em prosseguir.

Aí vêm as perguntas que não querem calar...

Será que faço residência médica ou


começo a trabalhar? Devo juntar um
dinheiro para montar meu pé-de-meia,
talvez pagar meu financiamento
estudantil, comprar o carro de meus
sonhos (afinal, sempre andei de “busão”
ou de Uber) ou simplesmente seguir
adiante?

Muito cuidado nesse momento. Poucos falam dos prós e dos contras das duas
estradas, mas vamos tentar iluminar o caminho para você.

Medicina ainda é uma profissão com muito espaço e mercado. Se você tiver
vontade e estiver disposto a trabalhar e fazer dinheiro, pode pegar plantão no dia
seguinte à sua formatura. Plantões surgem aos milhares, pagando valores que
variam com a complexidade e o volume. Em média, algo próximo de 1.200 reais
por 12 horas até cerca de 2 mil reais por 12 horas, neste caso em locais onde
ninguém quer fazer. Você, que está começando agora, sempre se lembre destas
dicas para se precaver: ir em dupla para enfrentar os primeiros plantões, ter
colegas ou professores mais experientes na retaguarda, recorrer aos famosos
grupos de WhatsApp (ou outro aplicativo similar) para um tira-dúvidas rápido, e,
sobretudo, poder contar com ótimos aplicativos de suporte clínico disponíveis no
mercado, como o Whitebook, até nas horas mais “fatais”.

Se você pretende iniciar sua vida médica por esse caminho, é importante já ter na
bagagem, ou providenciar assim que sair da faculdade, os recursos a seguir.

1. Curso de suporte básico de vida.


2. Curso de suporte de vida em cardiologia.
3. Aplicativo de consulta rápida para decisões clínicas (Whitebook, por
exemplo).
4. Grupo de consulta ou retaguarda de alguém com mais experiência que você
(lembre-se de que até quem tem mais tempo de formado vai passar por
dificuldades; a diferença é que os mais experientes conhecem mais
“caminhos” para resolver problemas, mas também enfrentam desafios
novos a todo momento. Basta olhar para o tanto que o Covid-19 está
revolucionando a medicina no mundo: todos estão publicando e realizando
um monte de tentativas para acertar no tratamento e na cura dessa nova
doença. Ninguém sabe ao certo nada a respeito. Estamos todos no mesmo
barco: recém-formados, antigos plantonistas, cientistas, chefes de plantão,
bem como o residente do primeiro ano de clínica médica.
5. Se for trabalhar num plantão longe de um grande centro, procure conhecer
os meios de encaminhar a centros maiores os pacientes com necessidade
de suporte. É motivo de grande angústia para o recém-formado não saber
para onde direcionar um caso que não consegue, então, resolver.
6. Acesso a Informações, se possível antes mesmo de qualquer coisa, sobre
bons “antecedentes” do empregador quanto a pagamento. É muito
frequente encontrar vagas com salários e condições “maravilhosas e
tentadoras”, abandonadas por outros colegas em razão de atraso ou não
realização de pagamentos, condições de trabalho inadequadas, ameaças
frequentes de pacientes ou acompanhantes. Lembre-se de responder à
seguinte pergunta: Por que será que este emprego que paga tanto por tão
pouco serviço está vago até agora, será que foi feito para mim?! A resposta
é: Não, nem em sonho! Não se iluda, valorize seu treinamento, sua
capacidade e acima de tudo sua classe médica. Atualmente existem grupos
que publicam, na internet, principalmente nas mídias sociais, listas desses
“maus pagadores”. Pesquise e, se encontrar algum na sua região com má
reputação, confirme e não se esqueça de compartilhar suas experiências.

Agora, se sua pegada for algo mais suave, com horário para entrar e sair e número
certo de pacientes, é possível, ainda, ingressar na rede pública pelo programa
Saúde da Família.
Nesse tipo de serviço ambulatorial, você terá vínculo com o munícipio por meio
de contrato como pessoa física ou jurídica, por concurso público, por consórcios
regionais (pessoa jurídica), ou ainda, mais raramente, por intermédio de cadastro
em empresas médicas que ofereçam listas de médicos para prestar serviços.

A rotina do médico de família (alguns lugares exigem residência médica em


medicina de família) é bem determinada. Envolve atendimentos médicos na
forma de consultas presenciais ou em domicílio, participação de palestras para os
grupos (hipertensos, diabéticos, gestantes), atendimento de patologias pouco
complexas, que se estende, entretanto, a toda a família, desde o recém-nascido
até os avós da criança. Além dos serviços médicos envolvidos, muitas unidades
regionais promovem reuniões de planejamento, atualizações ou treinamentos
para os médicos que atuam no Saúde da Família.

Outro universo de trabalho para o recém-formado seria tentar se projetar na


carreira acadêmica, tanto nos serviços públicos como nos privados. O fato de nos
serviços públicos, mais do que nos privados, ser exigido pós-graduação,
mestrado, e algumas situações restringir-se somente a quem tem doutorado,
limita um pouco, mas a possibilidade existe. O ingresso nessa área de atuação se
dá por meio de concursos públicos, no caso da maioria das universidades e
faculdades públicas, ou, por outro lado, nas instituições da rede particular, por
contratos temporários ou mais longos,. O ganho financeiro nesses locais pode ser
aquém do mundo lá fora, mas a obrigatoriedade de se manter atualizado, o
contato com os jovens e o reconhecimento acadêmico podem compensar alguns
reais a menos. O compromisso de vontade de crescimento na carreira acadêmica
pode ser um trampolim para um start mais rápido e um comprometimento com o
contínuo aperfeiçoamento.

Saindo do ambiente de serviços públicos, há algumas opções para início de vida


médica. Como mencionado, na esfera privada, você pode ser um plantonista. A
diferença de plantão em um hospital particular é que, em geral, a retaguarda é
mais bem abastecida de especialistas, em prontidão para suporte ao plantão do
pronto-socorro presencial.

Além desses plantões, muitos serviços ambulatoriais necessitam de clínicos gerais


para atendimentos em jornadas curtas (2, 4 ou 6 horas). Esses serviços ditos
ambulatoriais, em geral, estão vinculados a planos de saúde, com consultas
agendadas, que possibilitam que o médico receba por consulta ou por período de
atendimento.

Por fim, considerando que o campo de trabalho médico é um “Universo”, e você


pode ser uma “supernova”, há ainda a possibilidade de montar seu próprio
consultório e começar os atendimentos clínicos. Nesse caso, é bem interessante,
sobretudo como um meio de diminuir despesas e conhecer o mercado, associar-
se a outros dois ou três colegas, com tempos de experiência iguais ou diferentes,
e, juntos, dividirem um espaço. Você ocupa seu tempo “livre” dos outros serviços,
conquista nome como serviço privado e pode, também, ser procurado por
pacientes de seus serviços públicos, uma vez que vários deles, quando criam
empatia com o médico, muitas vezes perguntam: Doutor, o senhor tem
consultório particular?

Então, vamos combinar, a partir do dia seguinte a sua formatura, nunca mais e
em hipótese alguma se esqueça destas palavras: espaço existe para todos, agora
lugar ao Sol alcança apenas quem aguenta o calor do astro-rei. Enquanto os
outros vão ficar debaixo de uma árvore esperando ficar menos quente, você, que
já enfrentou o calor escaldante, será beneficiado. Por isso, se quiser obter com a
medicina resultados que ninguém tenha conseguido antes, percorra caminhos
diferentes nunca percorridos, de modo que você alcance lugares que ninguém
jamais sonhou existirem.

O Sol é o limite!

2. Informação é poder

“Quem procura sempre acha.”

“Ninguém acha o que não sabe que está procurando.”

Essas e muitas outras frases poderiam inundar o início deste capítulo. Todos nós
que passamos pela faculdade de medicina, em algum momento, tivemos pela
frente essas frases proferidas por nossos preceptores, colegas de turma,
bibliotecários, enfim, alguém já tentou por meio dessas nos dar o impulso inicial,
a deixa, para buscar a informação.

A informação talvez seja, ao lado da atenção, um dos bens mais valiosos da


atualidade. Num universo ilimitado de informações disponíveis no mundo virtual,
os detentores de maior quantidade e qualidade de informações são considerados
“ricos”. E essa riqueza gera “poder”. Assim sendo, vamos mostrar como caminhar
pela trilha do poder em medicina.

Ao sair da faculdade, tudo está meio fresco ainda, você está em contato com
pessoal da turma, os professores estão nos grupos de bate-papo, tudo ainda está
bem fácil, “mastigado”. Aquele eletrocardiograma que parece um
eletroencefalograma é rapidamente desvendado pelo cardiologista do grupo,
outro dá sugestão de uma conduta medicamentosa, e, assim, os primeiros casos
são resolvidos.

Mas o tempo passa, você não tem rotina de se atualizar, de buscar o


conhecimento, “automatiza” suas condutas, não frequenta congressos, assina
aplicativos médicos, ou seja, com o passar das semanas e meses de formado, vai
se distanciando do “meio ambiente” acadêmico. Você trabalha bastante, ganha
bem, está supercontente com seu carro novo, já planeja comprar um
apartamentinho de 2 quartos no ano que vem, começa a investir a grana que sobra
no fim do mês etc., e a informação (o bem real impagável do médico) que estava
tão fresca na sua cabeça começa a falhar...

É nesse exato momento que você se lembra do que dizia aquele professor mais
chato da faculdade ou talvez seus pais pediam: Filho, estude, pelo menos, 1 hora
por dia. Se você se dedicar, ninguém pode tomar a informação, o conhecimento
de você. O governo ou qualquer um pode tentar levar seus bens, até sua vida, mas
seu conhecimento é seu maior poder. Vai com você para o túmulo. Você pode até
ensinar os outros, explicar os detalhes, mas o pulo do gato, esse só você vai saber...
(Interessante notar que todas essas palavras, inclusive as com grifo, são repetidas
a nossos filhos e alunos.)

Essa é o lembrete de que é hora de retomar ou manter seu depósito de


informações. É importante sempre revisitá-lo, ter sua contagem de estoque
atualizada, desprezando coisas antigas e as trocando por novas.

A informação hoje é extremamente fácil de ser acessada. A produção de


informações nas mais diferentes mídias impressas ou digitais é enorme. Assim
sendo, vamos lhe sugerir adiante alguns instrumentos para manter seu estoque
atualizado, revisado e sempre disponível.

Livros impressos

São uma fonte importante de consulta de informação, mas o grande problema é


que sua atualização é demorada. Informações publicadas em livros e suas revisões
impressas podem estar até 5 anos defasadas. No entanto, é importante você
sempre ter em seu poder livros de disciplinas básicas da medicina. Alguns tópicos
não vão mudar muito com o passar dos anos, por exemplo: estruturas anatômicas,
técnicas cirúrgicas consagradas, legislações, tratamentos de doenças mais
comuns, entre outros.

Livros digitais
Talvez sejam a melhor opção. Resolvem nosso problema quanto a praticamente
tudo. São mais baratos, atualizadíssimos (ou fáceis de atualizar), simples de
acessar (não é mais preciso carregar aquelas verdadeiras bigornas, que são os
livros de técnicas cirúrgicas de 3 volumes), podem ser usados em qualquer lugar.
(Principalmente num momento de isolamento social como o da pandemia de
Covid-19.)
Mas, tudo OK, mesmo? Talvez não. Basta pensar que hoje todo mundo pode
escrever a qualquer hora, sobre qualquer assunto e publicar em qualquer lugar. A
internet virou terra de todos (usar o termo “terra de ninguém” a isolaria mais ainda
– rindo de nervoso com o isolamento social ), assim a confiabilidade da fonte é
importante ser observada.

O meio de aquisição do livro eletrônico também deve ser um fator relevante: você
compraria um livro eletrônico diretamente no site da editora ou numa loja virtual
de confiança com certeza, mas não compraria livros vendidos por um colega
entregues no seu e-mail, não é? (Essa prática, além de poder incorrer em crime de
direitos autorais e plágio, prejudica quem quer colaborar na produção de ciência.
Lembre-se sempre de que, enquanto você está lendo este e-book, alguém está
pensando em novidades no campo das ciências.)

Aplicativos médicos
Hoje em dia talvez seja essa a grande sacada para consultas rápidas (e até
demoradas) e para buscar informações atualizadas e de fonte segura. Temos no
mercado vários aplicativos médicos. Antes de você se decidir por um (ou, se a
grana permitir, mais de um), é importante verificar os pontos a seguir.

• Sistema operacional: observe se o aplicativo é compatível com seu


smartphone, notebook ou outro dispositivo que você use para realizar
as consultas. Seria desastroso fazer a compra de um aplicativo e após o
período de testes ter que cancelar este por incompatibilidade do
sistema operacional.
• Custos: boa parte dos aplicativos oferece opções gratuitas e pagas. O
mais óbvio é que as versões gratuitas disponham de menos informações
e funcionalidades. Em geral, servem apenas como testes. Assim, vale a
pena investir em versões pagas de bons aplicativos. Principalmente se
você, como muitos colegas, precisa ir de plantão em plantão com
metade do guarda-roupa dentro do carro e o restante na lavanderia,
sem muito tempo para estudar em casa. (Muitas vezes, vai lá de visita
apenas para ver a correspondência!)
• Idioma: os aplicativos hoje em dia oferecem possibilidade de escolha da
língua. Mas alguns são oferecidos somente em português ou somente
em inglês, e assim por diante. Verifique isso antes de mergulhar de
cabeça. Ainda não sou capaz de entender completamente sequer um
ideograma japonês… Outro fator relacionado diz respeito à estrutura de
linguagem dos aplicativos. Alguns editores direcionam seus aplicativos
para públicos-alvo com maior ou menor nível de complexidade. Para
isso, as versões de testes ajudam a situar se aquele aplicativo vai lhe
ajudar ou trazer mais confusão na tomada de decisões clínicas.
• Corpo editorial: sempre que possível é interessante dar uma passeada
pelo corpo editorial do aplicativo, ver as qualificações de quem está
escrevendo o que você está lendo, consumindo. Afinal, enquanto
consumidor e pagando o mesmo valor, você prefere comprar uma
pipoca fria e murcha ou uma pipoca quentinha com a manteiga
derretendo?
• Suporte: confira (pode ser na internet) o grau de satisfação dos usuários
que utilizam o suporte técnico do aplicativo. Se houver muitas
reclamações – que podem, inclusive, ser por falta de revisão –, observe
principalmente se estas são resolvidas com rapidez ou prontidão.
Lembre-se de que informações médicas podem ser renovadas o tempo
todo. Um aplicativo dedicado a acompanhar as mudanças e que se
atualiza com frequência pode garantir que você esteja sempre em dia
com o que há de novo, prestando o melhor serviço a seus pacientes
também.

Respondido esse checklist, você pode buscar seu parceiro de plantão, o


aplicativo médico. Há muitos no mercado, de diferentes preços, tamanhos,
suportes e outras variáveis. Atualmente os principais aplicativos disponíveis são:
Whitebook, CID-10 Pro, WHO (Organização Mundial de Saúde – OMS), entre
outros. Escolha o seu, e bons estudos!

Chegar ao Sol é fácil: esse é o seu limite. Saiba, no entanto, que vai estar
quente quando chegar lá: essa é a informação de que você precisa.

3. Apoio emocional e psicológico

O médico é um ser estranho... Dele é cobrado frieza e calma para prestar um ótimo
serviço atendendo a um ente querido, ao mesmo tempo que lhe é exigido
capacidade de ter empatia e compaixão de se colocar no lugar do familiar que
perdeu seu parente.

Ao mesmo tempo, as pessoas que vivem fora do universo médico acreditam que
nós somos super-heróis (e super-heroínas, é claro) e que temos em nossas mãos
o poder de um botão mágico que escolhemos apertar para decidir quem vive e
quem morre.

As pessoas acreditam que o médico é um ser todo especial, muito rico, que não
precisa trabalhar, não tem angústias, medos, incertezas, dúvidas, temores,
pavores, não fica doente, não faz necessidades biológicas, não gosta de tomar
banho (alguns não gostam mesmo, outros têm preguiça, brincadeirinha... ).

E, assim, vão passando os dias. Você não se dá conta, e, de repente, automatizado


nessa vida de plantão, consultório, casa, hospital, cirurgias, ambulatórios, sem
contar os desafios das pessoas que estão ao seu lado (namorado(a), cônjuge, filho,
cachorro – sim, seu cachorro precisa de sua atenção), onde está o principal ator
desse enredo todo: VOCÊ?
Quantas vezes você já se questionou:

Quem sou eu? O que desejo para mim


daqui a um ano? Quem eu amo mais?
Ou menos? O quanto eu tenho cuidado
das minhas emoções nos últimos
meses, anos, dias, minutos, segundos?

Exige-se do médico que ele conjugue, ilimitadamente, o verbo cuidar de... mas
quem cuida dele? Este capítulo aborda o quanto é importante você dedicar um
pouco de tempo para você mesmo. O ator principal desta novela chamada: Ser
médico, uma paixão sem remédio!

Todo o conflito começa durante a faculdade. Muitas faculdades, inclusive, têm


apoio psicológico para seus alunos. É relativamente frequente o uso de
medicamentos, drogas legais e ilegais entre estudantes de medicina, que as
utilizam pelos mais diferentes motivos: para aliviar o estresse dos estudos, dos
plantões de fim de faculdade e/ou do período pré-provas; para concentrar-se;
para superar desilusões etc. (Quantos não fizeram ou estão fazendo faculdade se
sentindo frustrados, ou por ser o desejo dos parentes, e ao sair da faculdade
sentem-se mais frustrados ainda, muitas vezes, chegando ao ponto de tirar a
própria vida num momento de estresse máximo?)

Um meio de abrandar essa fase seria procurar os serviços de apoio. Mas, e se você
já está formado? A quem ou o que você poderia procurar para tentar compartilhar
tudo isso que está sentindo?
1. Amigos: apesar de muitos acreditarem que médicos fazem parte de um
grupo fechado (como uma “maçonaria”), esses momentos de angústia,
desespero (a primeira morte em suas mãos, um caso com diagnóstico
malfeito resolvido por outro colega, medicações com efeitos colaterais
num paciente, dúvidas até mesmo se essa seria a carreira desejada para
toda a vida) podem, sim, ser compartilhados com seus amigos mais
próximos. Quando você fala com alguém que conhece o que se passa no
seu dia a dia, torna-se mais fácil enfrentar os problemas. Muitas vezes esse
mesmo problema que lhe aflige hoje já foi vencido por seu colega de
plantão semanas atrás. Nesse ponto, nós médicos somos corporativistas
mesmo: a maioria não vai negar apoio a um colega que precisa de ajuda
numa situação como essa.
2. Outros profissionais: se a situação estiver num patamar mais drástico ou
urgente, não hesite em procurar um psiquiatra, um psicólogo. Apesar de
essa rotina ser comum à maioria de nós ou de já termos passado por
problemas outras vezes e sabermos que podem ser vencidos, muitas vezes
é mais fácil alguém de fora do seu ambiente “médico” lhe mostrar que pode
haver saídas que você não imaginou sequer existir. Muitos colegas não
admitem que fazem tratamento psiquiátrico (talvez por vergonha ou por
pensar que serão discriminados), mas isso é comum.
3. Atividade física: o hábito de relaxar por meio de uma atividade física regular
pode trazer o conforto de que você precisa para se desligar de seu
ambiente estressante. Procure realizar alguma atividade, nem que seja
andar ao redor da quadra do hospital por 20 minutos, pelo menos, 3 vezes
na semana. De preferência, use fones de ouvido, para escutar uma música
de que goste, e, se possível, não atenda ligações telefônicas nem responda
mensagens. Esse momento é seu, exclusivo da pessoa mais importante
para você. Agora é hora de cuidar do personagem principal de sua história:
VOCÊ!
4. Vida social: é interessante ter algum meio de contato com outras pessoas.
Vida social não significa ir a baladas caras, restaurantes chiques ou viagens
para resorts fantásticos... Vida social pode significar apenas sentar no bar
da esquina com um(a) amigo(a), paquera ou até sozinho, para tomar uma
garrafa de água ou um refrigerante, uma cervejinha gelada, ou apenas
deixar o tempo passar, não pensar em nada... “esfriar a cabeça”.
Eventualmente também significa participar dos eventos que os colegas,
amigos ou conhecidos organizem.

Lembre-se de que a estrutura de atendimento em saúde depende de você. Para


que o médico esteja em condições de cuidar dos outros, é preciso primeiro estar
bem cuidado. Você é o personagem dessa história paralela e seu papel tem de
ser, nada mais nada menos, de protagonista.

Mais importante que alcançar o Sol, que é o seu limite, é o prazer que a
viagem pode te dar.

4. Resiliência
Se alguém lhe bloquear a porta, não gaste energia com o confronto. Procure as
janelas.
(Augusto Cury)

Você está indo para seu plantão, ao entrar no carro, atrasado, percebe que o
combustível está na reserva. Com certeza, vai chegar atrasado. Ao se dirigir para
o posto, o pneu traseiro direito fura. Mais alguns minutos de atraso. Vai olhar o
estepe e está vazio... E agora? Murros no ar, palavras impublicáveis...

Pneu trocado, tanque cheio, via marginal de acesso entupida e um


engarrafamento gigante... Tudo o que você não desejava no momento...
Será que ainda pode piorar? Sempre pode... Começa a chover – não sei com você,
mas por aqui parece que a chuva tem um estranho poder de entrar no cérebro de
alguns motoristas e lentificar suas reações, até mesmo as mais lentas . Piorou?
Chega! Pode ficar “melhor” quando você tem resiliência.

Resiliência é um termo da física, relacionado com a propriedade que alguns


corpos têm de retornar à forma original após terem sido submetidos a uma
deformação elástica.

É impressionante como algumas pessoas têm uma capacidade incrível de lidar


com situações adversas. O que para a maioria são montanhas intransponíveis (um
verdadeiro Everest de problemas), para as pessoas resilientes são pequenos
problemas que podem ser resolvidos em questão de instantes.

Voltando ao início de nossa saga: quando a sequência de imprevistos deu início


aos infortúnios, em vez de você xingar até a 15ª geração da Goodyear, dar murros
no volante ao ver o combustível na reserva, gritar palavras que eu jamais
conseguiria transcrever aqui etc., bastaria fazer uma ligação para o serviço
hospitalar onde você deveria estar, explicar a situação e resolver um problema de
cada vez. Não adiantaria de nada entrar em pânico ou desconfiar de que todos os
deuses de todas as religiões estavam contra você naquele momento.

Como superar a perda de uma pessoa querida ou um tratamento de câncer


mantendo as emoções positivas? Como perder o emprego e não perder a
esperança? Como fazer o que precisa ser feito e seguir em frente? A resiliência
está relacionada com quaisquer diferenças individuais ou experiências de vida que
possam ajudar as pessoas a lidar com situações adversas de maneira positiva,
ajudando-as a lidar com o estresse no futuro, o que pode impedir o
desenvolvimento de transtornos mentais.

Indivíduos que são resilientes são capazes de acreditar em si mesmos e em sua


capacidade de gerenciar eficazmente os desafios da vida. Além disso, aqueles que
possuem mais resiliência do que outros tendem a ser mais proativos e estão mais
inclinados a trabalhar arduamente para evitar que certas questões e doenças
ocorram. E quando você acredita que é o próprio Daniel jogado sistematicamente
todos os dias à cova dos leões? Há algo que você poderia fazer para adquirir mais
resiliência e não tentar ser o anticristo? A boa notícia é que sim, a resiliência é uma
característica que pode ser desenvolvida. Como? Veja a seguir.
1. Seja flexível: pessoas resilientes são capazes de olhar para os problemas e
tentar encontrar saídas. Quando estiver diante de um problema: foque a
solução, não o problema. Os circuitos cerebrais trabalham melhor por
“atalhos”... Tente um desvio da rota principal. Por exemplo, se você sabe
que no fim da tarde há muito mais trânsito num bairro, mude a rota, saia
mais tarde, ou mais cedo, se possível... Se está parado no
congestionamento, aproveite para escutar uma música, olhar para a
paisagem, repassar seus planos para a noite ou para o dia seguinte...
2. Aprenda isto: em vez de ficar procurando o “culpado” de seu tanque estar
vazio, ou quem colocou o prego na rua para furar seu pneu, pense em como
tudo isso poderia ter sido evitado. Se você costuma chegar com pouco
combustível, abasteça antes de ir para casa se preparar para o plantão.
Mantenha o pneu reserva calibrado. Questione: Tudo o que aconteceu
poderia ser evitado? Caso sim, se pergunte: Como evitaria? Caso não,
afirme: Não vou sofrer, vou resolver e pronto. Não seja a vítima… seja o ator
do filme!
3. Tenha atitudes positivas: o tempo que você perdeu xingando Deus , o
planeta, o cara do posto que demorou para abastecer seu carro e o
“abençoado” que jogou um prego na rua, dê risadas, aproveite o tempo
enquanto está abastecendo para olhar seus recados, ligar para alguém... Se
seu chefe reduziu suas horas do ambulatório por causa do coronavírus, ou
o movimento está fraco, é uma boa hora para investir em sua carreira, fazer
cursos e sair da zona de conforto. Olhe para a frente!
4. Mantenha-se conectado: é importante ter amigos, parentes, conhecidos;
enfim, em alguns momentos, você vai precisar de ajuda. Vivemos em
sociedade, é imprescindível ter com quem contar em momentos difíceis. É
importante ter disponível um ou dois amigos próximos, seus familiares
sempre por perto, ou até mesmo a ajuda de profissionais em situações mais
críticas. Cultive as amizades.
5. Desenvolva mecanismos antiestresse: é importante encontrar alguma
forma de liberar as tensões. Todos nós passamos por situações-problema.
O que nos difere é o modo como cada um de nós lida com essas. Tente,
invente, tenha uma válvula de escape:
• Escreva.
• Tenha um diário.
• Medite.
• Faça terapia.
• Cante ou dance.
• Toque um instrumento musical.
6. Adquira boas práticas de saúde: aquele velho ditado de mente sã em corpo
são vale bem aqui. Além de ser um momento dedicado a você e sua saúde,
cuidar do melhor instrumento do médico (ele mesmo) é uma forma de ser
resiliente. Cultive hábitos saudáveis:
• Faça atividades físicas regularmente.
• Sempre que possível alimente-se de forma balanceada.
• Leia livros de temáticas diferentes (nem só de medicina vive o
médico).
• Reserve horários de descanso, sempre que viável, e, principalmente,
respeite esses horários.
Quando você estiver fisicamente bem, a tendência natural será enfrentar as
situações difíceis muito mais facilmente.
7. Trabalhe sua autoestima: nem tudo vai dar sempre certo, mas também nem
tudo vai dar sempre errado. Acredite que fez o “máximo do melhor
possível”. Como disse, certa vez, o filósofo Mario Sergio Cortella: Faça o teu
melhor, na condição que você tem, enquanto você não tem condições
melhores, para fazer melhor ainda! Se você acredita em você, acredita que
está fazendo o certo (por meio de reflexões e autorreflexões). Assim,
acredite em você. Você é especial, afinal é produto do encontro de milhões
de espermatozoides com um folículo selecionado de centenas de outros
recrutados. Você merece estar aqui. Você é “o cara”!
Quem acredita mais em si mesmo tem uma vida mais focada, atinge suas
metas mais facilmente, é mais produtivo, aceita assumir mais riscos e
encarar novas oportunidades (que podem significar mais riscos, mas
também mais retorno), e mantém-se positivo nas adversidades.
8. Sorria: a felicidade e o bom humor ajudam a resolver problemas. Nosso
cérebro trabalha mais leve e tende a pensar em menos problemas quando
estamos felizes. As soluções parecem vir mais fáceis quando estamos
felizes, em paz e contentes. Quem sorri mais parece mais jovem, vive mais
tempo. Quem sorri mais é mais criativo, mais leve, consegue interagir
melhor com as pessoas... Quem você procuraria para conversar ou ser
consultado: um médico superqualificado, cientista, ganhador do Prêmio
Nobel mas carrancudo ou aquele supersimpático, feliz, que demonstra
estar em paz? Qual atrairia mais clientes? O hábito de sorrir move nossa
mente e nossos pensamentos para lugares mais positivos.

Ser positivo requer esforço. O pessimista simplesmente aguarda as coisas


darem errado. Já o otimista, enquanto os outros esperam as coisas se
resolverem sozinhas, procura soluções, tenta resolver, busca a felicidade. Ser
feliz, portanto, dá trabalho, e ser resiliente exige bastante de nós, mas o
produto dessa equação traz muito mais e os melhores resultados. Podem
acreditar!

5. Inteligência financeira
Enriquecer é uma questão de escolha.
(Gustavo Cerbasi)

Esta situação é muito comum: um médico há muitos anos no mercado de


trabalho, já com seus cabelos brancos, tendo de fazer plantão noturno, nos fins de
semana, normalmente em um serviço que não lhe traz satisfação, simplesmente
para poder pagar as contas que acumulou em uma vida inteira de erros
financeiros.

Inteligência financeira é fundamental para nós médicos. E vale a pena começar a


desenvolver essa habilidade já na faculdade.

Você já parou para se perguntar como os médicos mesmo ganhando mais que a
maioria da população conseguem estar endividados? Vamos explicar, então, de
maneira resumida, um passo a passo do que você deve e não deve fazer para ter
um futuro financeiro mais tranquilo e com mais liberdade.
1. Pague-se primeiro: temos a mania de pegar nossos salários, pagar todas as
contas, gastar com itens que são na maioria das vezes dispensáveis e só
depois pensamos em investir o que restou (isso se sobrar alguma coisa). O
melhor caminho é o inverso, ao pegar seu salário, separe uma porcentagem
dele para investir (20 a 30% é uma porcentagem bacana), só, então, use o
restante para pagar as contas, e se sobrar depois disso, pode gastar como
bem entender.
2. Pare de querer impressionar seu vizinho: outro "vício social" do médico é
querer impressionar os outros com bens de consumo. Nada poderia ser
mais danoso para sua vida financeira. Primeiro pela clara demonstração de
falta de autoconhecimento e de distorção de valores. Segundo pelo fato de
que isso vai comprometer seu futuro financeiro. Lembre-se de que seu
vizinho não vai pagar suas contas, nem vai o ajudar no futuro quando você
não puder mais trabalhar,
3. Tenha uma reserva de emergência: Isso nunca vai acontecer comigo! Você
se lembra de já ter falado essa frase alguma vez? Pois bem, todos estamos
suscetíveis a emergências e, se não estivermos, preparados, podemos
entrar em armadilhas financeiras. A reserva de emergência é um valor que
deve corresponder a 6 a 12 meses de seus gastos fixos, e esse montante
deve estar aplicado em um investimento seguro (sem volatilidade) e com
liquidez (para que você consiga sacar rapidamente). É essa reserva que vai
ser sua salvação se o hospital atrasar o pagamento, no caso de um evento
que o impeça de trabalhar ou, até mesmo, naquelas situações em que você
precisa adquirir novas ferramentas de trabalho (seu celular quebrou ou seu
notebook foi roubado, por exemplo).
4. Viva sempre um degrau abaixo do que pode: se você pode comprar um
apartamento de 1 milhão de reais à vista, compre um de 600 mil e invista os
400 mil restantes. Esse valor investido em fundos imobiliários, por exemplo,
pode gerar um aluguel mensal. E você continuaria morando muito bem,
Além disso, as pessoas se esquecem de colocar os gastos agregados que
ocorrem com a aquisição de bens. No caso do apartamento, por exemplo,
aquele que custa 1 milhão também terá valor de condomínio mais alto,
gastos com energia elétrica e manutenção mais elevados, e até o comércio
ao redor será mais caro. Uma única decisão mal pensada pode se
transformar numa bola de neve.
5. Aprenda a cuidar do próprio dinheiro: poupar e investir não é difícil,
principalmente para você que já estudou tanto na faculdade e na
residência. Reserve um tempo na semana para aprender sobre finanças e
investimentos, caso contrário você será refém de péssimos produtos, que
somente geram boas comissões para gerentes e assessores de
investimentos. Ninguém sabe melhor do que você quanto custou para
ganhar aquele dinheiro, por conseguinte, ninguém melhor do que você para
cuidar dele.
6. Dinheiro é meio, não é fim: por último, a lição mais importante. Dinheiro não
é seu objetivo final. Você não acumula patrimônio para ficar se enchendo
de coisas supérfluas. Você acumula patrimônio para ter mais liberdade de
escolha e poder dizer não a um trabalho que não lhe traga crescimento e
satisfação pessoal, para poder ter mais tempo com quem você ama, para
poder se dedicar a outros projetos que o motivam. Para isso, você deve
buscar ter mais dinheiro.

Esperamos que esses pequenos passos possam ajudá-lo na caminhada rumo a sua
liberdade financeira. E que todos possam ter escolhas inteligentes.

Para saber mais:


Além da Medicina

@alem.da.medicina

6. Mercado médico particular

Durante toda a minha formação médica, tanto na faculdade quanto na residência,


eu, Victor Miranda, ouvia repetidas vezes: Pacientes particulares são cada vez
mais raros.

Por ouvir isso de pessoas há muito mais tempo na carreira médica e que eu
respeitava como profissionais, tomei, por um tempo, isso como verdade.

As justificativas eram sempre as mesmas. Repetiam sempre que o mercado estava


ruim, os planos dominaram tudo e ninguém paga mais consultas particulares.

Enfim, segui minha jornada médica com esta crença limitante de que: mercado
particular é difícil e não tente conquistar seu espaço porque você se dará mal.

Essa crença mudou com uma simples informação a que tive acesso em uma
palestra de um grande gestor de clínicas médicas no Brasil, Pedro Faria, da CEP
Varizes. Consistia numa comparação entre os dados do Sistema Único de Saúde
(SUS), os de planos e seguradoras de saúde e os do mercado particular, concluindo
que: aproximadamente 78% da população brasileira não possuem plano de saúde.
Dos 22% restantes que estão cobertos por algum benefício, mais de 60% só o têm
por trabalharem em alguma empresa.

Sabemos da atual situação do SUS. Em alguns lugares, é exemplar e surpreende,


mas, na maioria do país, não consegue atender às demandas da população com a
qualidade e agilidade que os brasileiros merecem.
Com isso, o palestrante levantou esta questão: Por que eu vou brigar pelos 22%
sendo que tenho 78% que precisam de mim?

Considerei essa pergunta inteligente demais e mudei completamente meu modo


de interpretar aquelas afirmações que eu sempre ouvia. O problema estava no
mercado ou no produto que estava sendo entregue?

Infelizmente, nós médicos não nos vemos como prestadores de um serviço.


Passamos anos com um pensamento quase que de sacerdócio, doação e
voluntariado. Não nos atentamos ao fato de que há uma concorrência crescente
ao nosso redor e ficamos esperando que os pacientes abram as portas de nossos
consultórios particulares e digam: Estou aqui, meu doutor! Me atenda! Não, isso
não acontece mais. Isso foi a realidade até o início dos anos 2000, quando tudo
começou a mudar.

Hoje, eu só atendo na rede particular. Terminei minha residência em 2019 e estou


muito feliz com meu fluxo de pacientes nos consultórios.

Vou resumir a seguir os principais pontos que julgo de extrema importância na


construção de um consultório a partir do ano de 2020.
1. Formação: antes de tudo, esteja preparado para atender e resolver os
problemas de seu paciente. Parece óbvio, mas o pior marketing é o boca
a boca de um paciente insatisfeito.
2. Autoridade/audiência: o jogo mudou. Agora o inteligente é o médico “ir
atrás” de seus pacientes, e não apenas o contrário. É preciso atrair a
atenção e começar a construir sua audiência. Sendo bem direto:
Instagram, YouTube e outras mídias sociais e plataformas em que as
pessoas passam boa parte de seu dia. Construa sua autoridade no
assunto ali dentro. Mostre o quanto você sabe, de maneira acessível e
leve. Deixe um pouco o “mediquês” de lado e use uma linguagem
adequada para o seu público. Mais do que isso, conheça exatamente
quem está lhe ouvindo; sexo, idade, renda, sonhos, medos, gostos,
aspirações, frustrações, traumas. Com isso em mãos, você consegue se
conectar a sua audiência e tracionar seu público. Escolha um ou dois
pontos que serão seu carro-chefe de conteúdo. Construa sua autoridade
nisso. Por exemplo, se você for um cardiologista que fala de hipertensão,
arritmia, pós-IAM, IC, valvopatias etc., sua audiência ficará confusa.
Escolha um ou dois temas e se torne “o especialista” nisso . Assim, você
ocupa somente um lugar na cabeça de seu paciente. No meu caso, “Dr.
Victor – Diabetes”. Sou médico do esporte, entendo de vários esportes,
doenças crônicas e performance em geral. Se você abrir meu Instagram,
irá me acompanhar falando de dois únicos assuntos: diabetes e
emagrecimento (pois andam muito juntos). Isso é construção de
autoridade em assuntos e criação de público.
3. Captação e interação: uma vez que você saia detrás de sua mesa do
consultório e comece a aparecer para seus possíveis pacientes em locais
onde você é bem-vindo (redes sociais), é criada a possibilidade de captar
pacientes por meio da interação. Uma mensagem via inbox ou uma DM
(direct message) é o principal sinal de interesse que um possível cliente
pode dar. É comum muitos colegas reclamarem que “paciente vem no
inbox só para ter consulta grátis”. Precisamos entender esse
comportamento e usá-lo em nosso favor. Nunca perca essa
oportunidade. Recebeu um inbox assim: Doutor, minha glicose veio a
136. Estou diabético? Não responda isto: Marque uma consulta para eu
te explicar melhor. Assim, você perderá a melhor chance de interagir e
captar esse paciente. Veja uma sugestão de resposta para aproveitar
melhor a situação: Olá fulano, tudo bem com você? Humm, 136 é um
valor alto mesmo, viu? Você estava em jejum? Foi a primeira vez que fez
esse exame? Me conta isso para que eu possa o ajudar melhor. Ao
responder dessa maneira, você automaticamente já se mostrou cordial,
atencioso, pronto para ajudar, ciente do assunto e acessível. Tudo o que
um paciente deseja de um médico. Adivinha qual será a provável
resposta que você vai receber: MUITO OBRIGADO, Dr.! Já fiz esse exame
algumas vezes e já me falaram que tenho diabetes mesmo. Preciso
cuidar disso. Qual é o telefone do seu consultório? Atualmente,
considero meu Instagram a maior ferramenta de captação de pacientes
que possuo.
4. Ferramentas antigas não são substituídas pelas novas: o modelo antigo
de prospecção de clientes pelo marketing boca a boca ainda funciona e
nunca será substituído. Pessoas confiam em indicações, especialmente
se vindas de amigos e familiares. Todas as ferramentas on-line que há
hoje (e não existiam 10 anos atrás) vieram para acelerar o processo de
aquisição de mercado, mas jamais substituirão uma boa consulta.
5. Experiência do cliente: se você já esteve do outro lado, no papel do
paciente, sabe o que eu estou dizendo. Eu, por exemplo, precisei ir ao
médico com minha avó há algum tempo. Esperamos a consulta em uma
sala pouco privativa, na qual um paciente negociava preços com a
secretária, que explicava os exames que ele ia fazer e os procedimentos,
tudo na nossa frente. Após 45 minutos de atraso, entramos na sala do
médico, que foi pouco cordial e parecia estar com pressa. Dificilmente,
você construirá um consultório particular de sucesso nessas condições.
Pense em cada detalhe da experiência de seu cliente, desde o momento
em que ele liga para agendar uma consulta até o estacionamento do
carro, a temperatura da sala de espera, a pontualidade etc. Isso tudo
conta muito na decisão do paciente para retornar e o indicar.
6. Preço versus valor: Quanto vale controlar sua glicose e parar de usar
insulina? Quanto custa uma consulta? São perguntas totalmente
diferentes. Concentre-se em agregar valor à sua consulta. Resolva os
problemas, conecte os pontos, esclareça as dúvidas, ofereça suporte,
não tenha pressa, olhe no olho, pegue na mão, abrace! Isso aumenta
muito o VALOR de sua consulta e torna o PREÇO dela um mero detalhe.
A medicina está anos atrás de outras profissões no que se refere a prestação de
serviço ao cliente. Talvez seja por isso que muitos médicos não conseguem evoluir
com seus consultórios particulares a acabam aceitando afirmações como: o
mercado está ruim.

Brinco com alguns amigos que não é mais a medicina que define um médico de
sucesso. O conteúdo técnico é uma premissa inegociável para o bom atendimento
médico, mas são necessárias diversas outras habilidades para se construir uma
carreira de sucesso.

Toda a minha contribuição com as dicas que mostrei neste capítulo foi o que eu,
como médico do esporte com atenção especial a paciente crônicos,
especialmente diabéticos, usei para a construção de meus consultórios médicos
particulares. Bom proveito! Grande abraço!

Para saber mais e conhecer meu trabalho voltado a pacientes diabéticos:


Liga da Saúde Research

@drvictormiranda

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