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Professora: Maria Carolina Nobre

“EDUCAÇÃO E RENDA: UMA RELAÇÃO OPORTUNA DE LONGO PRAZO”


CARVALHO, Tassiana Cunha
Em cenários de aumento de desemprego e economia em declínio, perde-se a clareza dos benefícios
que a educação traz em termos de emprego e renda.
O bom desempenho de Carlos no ensino fundamental da escola pública do Recanto das Emas, em
Brasília, permitiu a ele cursar o primeiro e segundo anos do Ensino Médio em uma reconhecida escola
particular da capital com bolsa para alunos de baixa renda. O desempenho de Carlos não foi suficiente para
manter sua bolsa no último ano da etapa, no entanto terminar o ensino médio na rede pública de ensino o
ajudou na obtenção de financiamento da sua faculdade privada em Ciências Contábeis. Mesmo com o
diploma na mão, a falta de oportunidades o levou à reinvestir nos estudos: começou a cursar Administração
em outra faculdade privada. A nova rede e o novo currículo permitiram um estágio remunerado em um
escritório de Contabilidade com chances de entrar para o quadro.
A trajetória de Carlos é privilegiada. Ter a visão e as condições financeiras necessárias para a
continuidade dos estudos é raridade no cenário brasileiro. E remetem a um velho e conhecido dilema: qual o
retorno financeiro da educação no Brasil para o jovem de baixa renda?
Um relatório de 2018 do Banco Mundial, que discute oportunidades de emprego e educação para
jovens brasileiros, aponta que ter um diploma universitário (em contraste a ter apenas o ensino médio
completo) significa, em média, uma remuneração 125% superior. Também estima que o adicional de
remuneração entre a conclusão do ensino médio e do ensino fundamental pode alcançar 50%. Mas esses
números também vêm acompanhados de pesquisas que mostram que parte significativa dos entrevistados
não reconhecia que saltos educacionais implicavam ganhos de remuneração.
É possível que a deterioração econômica do país nos últimos dez anos contribua para desacreditar
essa relação positiva entre estudos e renda para a parcela mais pobre da população. Nesse período, segundo
análises da FGV Social com dados da PnadC (Pesquisa Nacional por Amostra De Domicílios Contínua), a
renda da metade mais pobre da população reduziu cerca de 26% embora a escolaridade média dessa mesma
parcela tenha crescido em 1,7 anos.
No último dia 30 de setembro o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografias e Estatísticas), ao divulgar
a redução da taxa de desemprego no Brasil de 14,7% para 13,7% em relação ao trimestre anterior, apontou
que o resultado se deve, também, ao aumento do número de trabalhadores no mercado informal, que somam
hoje 36,3 milhões de pessoas em atividades produtivas que não envolvem carteira de trabalho ou CNPJ.
O desemprego e a falta de postos de trabalho formais incentivam o trabalhador autônomo, mas não
representam o sonho do empreendedorismo. Muitos recorrem à informalidade como única fonte de renda, o
que muitas vezes significa redução da renda em relação ao emprego anterior. Para aqueles que se preocupam
com a subsistência familiar e com a queda do poder de compra decorrente da inflação, estudar dificilmente é
uma realidade. Um cenário desolador de indicadores econômicos e necessidades básicas prementes à porta
reforçam a falta de oportunidades infligidas a Carlos e de tantos outros jovens brasileiros que buscam
ingressar no mercado de trabalho.
Contudo, é importante não se deixar levar pelo sofisma: a falta de empregos e oportunidades no
mercado de trabalho não significa que a educação não implique aumento de renda. Mais ainda, a educação
não só se alinha com adicionais financeiros como tem relações sinérgicas com a produtividade de um país e
por isso não deve ser abandonada mesmo frente ao cenário econômico preocupante com que nos deparamos
hoje.
O Nobel de economia de 2021 foi concedido a David Card (Canadá e EUA) e a uma dupla de
pesquisadores - Joshua D. Angrist (Israel e EUA) e Guido W. Imbens (Holanda) - por creditar mais
confiabilidade aos estudos empíricos e às relações causais dos experimentos naturais. Os pesquisadores
fizeram uso de situações reais que dispensam grupos de controle e se assemelham a eventos aleatórios para
inferir ou refutar relações de causa e efeito. Um dos estudos que levaram a premiação é de Angrist e de
outro colega (Alan Krueger, falecido), que utilizando a aleatoriedade do mês de nascimento e a diferença de
tempo de estudo decorrente da entrada mais ou menos tardia na escola, aponta justamente que o maior
tempo despendido com estudos resultou em uma diferença de 9% em relação à renda obtida na vida adulta.
Quanto à relação entre educação e a produtividade de um país, cabe destaque um outro relatório do
Banco Mundial, específico sobre emprego e crescimento, que aponta que, ainda que baixo, o crescimento
econômico registrado no Brasil nos últimos vinte anos foi impulsionado pelo aumento do nível de
escolaridade da força de trabalho. Além disso, uma educação bem direcionada, que atenda as competências
requeridas pelo mercado e pelas novas lógicas de relações sociais e de consumo, pode melhorar o
“matching” entre trabalhadores e oportunidades, tornando mais eficiente e produtiva a alocação de recursos
profissionais do país.
O impacto da educação é ainda mais relevante quando falamos de políticas públicas do setor, em
especial na rede pública de ensino. O Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades (Made) da
Universidade de São Paulo (USP) publicou em maio de 2021 um estudo que reforça o valor agregado do
investimento em educação ao estabelecer correlações positivas entre gastos em educação pública e a redução
da desigualdade no grau de concentração de renda medido pelo índice de Gini. O estudo mostra que os
investimentos têm retornos distintos a depender da etapa à qual se destinam, sendo mais relevantes quando
aplicados no ensino fundamental e neutros quanto ao indicador quando destinados ao ensino superior.
As políticas públicas e o investimento em educação devem ser vistos como importantes para o
crescimento do país, mesmo em situações de ajuste fiscal e oferecendo apenas retornos a longo prazo. São
políticas de fundação, que ajudam o país a crescer, reduzem desigualdades, e podem conferir mais
credibilidade e por conseguinte atrair mais investimento externo. Continuam sendo o presente necessário
para o país do futuro. Fonte: https://www.conexaogestaopublica.com/post/educa%C3%A7%C3%A3o-e-renda-uma-rela
%C3%A7%C3%A3o-oportuna-de-longo-prazo

RESPONDA
1- Você pretende ingressar numa instituição de ensino superior ou em algum curso técnico? Se a resposta for
sim, em qual curso pretende se formar? Se a resposta for não, diga um motivo que faz com que você não
queira dar continuidade aos estudos.
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2- Você concorda que a continuidade dos estudos, após concluir o ensino médio, é uma garantia de
aquisição de maior renda? Se sim ou não, justifique sua resposta.
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3- Ao escolher um curso, você leva em consideração o mercado de trabalho e o piso salarial da área
escolhida ou a escolha é feita somente por afinidade com a área pretendida?
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4- Qual a renda mensal que se você obtiver, fruto da profissão que escolher, seria satisfatória para suprir os
seus anseios e que você acharia justa, observando todo o esforço empregado para a sua formação?
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