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BCH-PERIODiCOS

Os modelos de universidade na
Europa do século XIX

Fernando Catroga
Professor da Universidade de Coimbra

RESUMO: O presente estudo trata dos Modelos das Universidades Europeias no Séc.
XIX, partindo do que se convencionou referir como tipos fundamentais: inglês, alemão
e francês ou napoleónico. As razões desta diversidade remetem para as específicidades
dos processos históricos que as determinaram (incluindo o peso das tradições universi-
tárias), reconhecendo-se igualmente a existência de condicionantes comuns. Examina-se
também o o impacto da "revolução científica", traduzido na consolidação de um ideal
de saber interessado em fazer aumentar a capacidade de previsão (e provisão) e em ques-
tionar os elos das novas ciências entre si e de todas com a técnica. Como uma síntese
final respeitante às relações das Universidades europeias com a sociedade desde os iní-
cios do século XIX, poder-se-a detectar, em termos comparativos mas necessariamente
genéricos e não síncronos, três fases essenciais, muito condicionadas pelos ritmos do
desenvolvimento industrial.
PALAVRAS-CHAVE: universidade, século XIX, ciência.
ABSTRACT: This study is about the European Models ofUniversities in 19th century,
starting by which is conventionally noted as fundamental types: English, German and
French or Napoleonic. The reasons for this diversity refer to the specifics of hístorical
processes that led (including the weight of university traditions), also recognizing the
existence of common conditions. Ir also examines the impact of "scienrific revolution",
translated in the consolidation of an ideal of knowledge interested in increasing capa-
city to predict (and provide) and in questioning the links of the new sciences among
thernselves and with ali the technique. As a final summary on the relations ofEuropean
Universities with the sociery since the beginning of the nineteenth century, you will
detect, in comparative terms and necessarily generic and not synchronous, three critical
phases, much influenced by the paces of industrial development.
KEYWORDS: universiry, 19th century, science.

TRAJETOS - Revista de História da UFC, v. 5, n. 9/10, 2007 9


Em 1907, ao fazer o balanço das grandes linhas de desenvolvimento Convenção, em 19 de Setembro de 1793, pa saram a certidão de 6biLO li
da Universidades da Europa - para melhor compreender os caminhos tri- uma instituição concebida, até então, como universitas magistrorum et scho
lhados pela Universidade portuguesa -, Sobral Cid, professor em Coimbra, larium. E se a reforma napoleónica trouxe algo de novo, ela não pretend .u
pen ava bem quando defendia que todas elas podiam ser "referidas a um de romper com o legado revolucionário.
rrê tipos fundamentais: inglês, alemão e francês ou napoleónico" I, palavras É certo que, tal como ocorria em outros países europeus antes de
que esboçam uma interessante perspectiva, que será aqui explorada. 1789, o estado das Universidades francesas, era, em geral, de decadência.
As razões desta diversidade remetem para as especificidades dos país contava com vinte e duas (no sentido medieval do termo), mas, em al-
processos históricos que as determinaram (incluindo o peso das tradições gumas delas, a frequência de alunos era diminuta: 30 estudantes de Direito
universitárias). Todavia, dever-se-a igualmente reconhecer a existência de na de Angers; em Caen, 18 em Medicina; 20 na Faculdade de Artes de Dou-
ondicionantes comuns. Recorde-se que o século XIX é comummente ca- ai, etc." Por outro lado, nem em todas funcionavam as quatro Faculdades
racterizado como a "era das revoluções". De facto, em correlação com as (Artes, Teologia, Direito, Medicina). E a sua população não era homogénea.
mudanças sociais e económicas que se objectivaram na chamada sociedade Assim, se, na de Paris, a Faculdade de Artes contava à volta de 5000 estu-
ientífico-industrial, irromperam revoluções políticas que, em geral, mas dantes, somente 563 frequentavam a de Direito. Na província, a debilidade
om ritmos próprios, liquidaram a ordem (política, cultural e simbólica) era ainda mais notória, sendo a Faculdade de Medicina de Montpellier uma
de Antigo Regime, em nome de uma concepção de soberania concretizada das excepçôes: ela tinha mais estudantes do que a da capital, não obstante a
numa nova estrutura - o Estado-Nação -, cujo poder se exercia num de- fraqueza do número que a frequentava (97 em 1787-1788).4
marcado território (daí, a importância da formação profissional das forças Ora, se esta realidade tem de ser sopesada na compreensão das me-
militares) e, cada vez mais, sobre a população, vista como a principal riqueza didas tomadas em 1793, fica por explicar por que é que não se seguiu -
das nações. Não espanta, assim, que esse período também tenha sido o da como virá a acontecer na Alemanha - uma via reformista, tanto mais que
"era das nações" e, posteriormente, dos nacionalismos. Por outro lado, a houve continuidade em relação a alguns estabelecimentos herdados do An-
legitimação da origem e função da nova ideia de soberania valorizava os seus tigo Regime e que virão a formar as "Grandes Écoles".
fundamentos seculares, o que arrastou consigo tanto a reformulação das De facto, a liquidação da Universidade é inseparável da política
recíprocas relações entre o Estado, a sociedade e as Igrejas, como o delinea- geral da Revolução contra as "sociedades inrerrnédias'", tendo em vista a
mento de perspectivas mundividenciais que valorizavam a mobilidade social afirmação de um modelo de Estado uno e indivisível. E a Universidade,
'o interesses terrenos. corporação e "coisa da Igrejà', conrraditava um projecto cujo ideal educati-
Mas tudo isto foi acompanhado pelo impacto da "revolução cien- vo, de raiz iluminista e secular, por razões económicas, mas, sobretudo, de
lífi a", traduzido na consolidação de um ideal de saber interessado em fa- cunho militar e político-burocrático, estava mais interessado em promover
I. 'r aumentar a capacidade de previsão (e provisão) e em questionar os elos a aprendizagem deste tipo de especializações.
das novas ciências entre si e de todas com a técnica. Movimento que deu
lima particular acuidade à dimensão taxinómica, enciclopédica e sistémica
d,1 fundamentação da verdade, bem como aos caminhos que, a partir dela, As "GRANDES ÉCOLES"

poderiam conduzir o homem à autonomia e à consciência de si, projecto


Os reis de França - pelo menos desde Francisco I - empenharam-
'X .rnplarmente expresso na nova palavra alemã Bildung.
na criação de instituições fora da Universidade. E, no século XVIII, den-
tro da política do despotismo esclarecido e do crescente fascínio (mesmo
I-O MODELO FRANCÊS lúdico) pela técnica, multiplicaram-se as iniciativas para se desenvolver o
ensino superior de matérias em boa parte ignoradas pela in titui ôes uni
intetize-se, então, a chamada "questão da Universidade" em Fran- versitárias, bem como pelos próprios colégios do je uíta e dos raiorianos.
~.l durante o século XIX.2 Como se sabe, o anticorporativismo da Revolução A Revolução irá apr priar- e deste património, pel que, a e te nível, houv .
.uingiu igualmente a Universidade de uma maneira radical. As decisões da renovação na onrinuidade."

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Com efeito, ela não suprimiu o Collêge Royal- cuja criação data- À luz desta políticas, poder-se-a dizer que, em e negar a impor
va de 1530 -, limitando-se a chamar-lhe Collêge de France (25 messidor tân ia da hamadas "ciências morais" (direito, história, língua), a pist 'mo
ano 11). Destino análogo tiveram a École de Ponrs-et-chaussées (fundada gia de te reformismo deu primazia à utilidade e às ciências da nt tur '/,1,
em 1715), a de Mines (1748) e a École du Génie Militaire (situada em me pecial relevo para a medicina, ramo que conquistou um inde m 'nd-
Maziêres, e instalada em 1748). Em simultâneo, o Jardim Real das Plantas vel domínio intelectual entre 1789 e 1820.8
Medicinais (o célebre "[ardin des Plantes") foi transformado, segundo um Em geral, os regimes políticos posteriores não porão em ausa ax
projecto de 1790, no Museu de História Natural. E este, por decreto de 10 randes Escolas. Alguns irão mesmo alargar a sua rede. Foi o que a Olll'
de Junho de 1793, passou a funcionar como uma instituição de ensino su- eu, durante a Restauração, não só com a fundação da École des hart '~
perior, que se queria pôr ao serviço do desenvolvimento económico (agricul- (1822), mas também com a da École Central e des Arts et Manufa rures
tura, comércio e artes). Para isso, a Convenção apoiou-o, dando-lhe recursos (Paris, 1829), de estatuto privado, voltada para o cultivo da "ciência indus
humanos relevantes (G. Saint-Hillaire, Lacepede, Lamarck, Fourcroy, etc.) trial". A II República fundou uma outra (8 de Março de 1848): a efém .ra
e conferindo-lhe uma relativa autonomia. Foi ainda criado o Instituto de scola de Administração, que tinha em vista fomentar o ensino sup rior
França (reorganizado em 1803). da política. Foi extinta por Falloux em 9 de Agosto de 1849. De qualquer
Mas a medida mais significativa desta orientação encontra-se na modo, a iniciat~va virá a ser invocada como uma das precursoras da a tual-
mente célebre Ecole Nacionale d'Administration (ENA) , instituída ap s a
fundação da Escola Politécnica (Setembro de 1793). Não se tratava de uma
TI Guerra Mundial."
instituição original, já que resultou da fusão da École des Ponts-et-chaussées
Mesmo quando a discussão acerca da reforma da Univer idade
e da École du Génie, tendo por missão formar todos os tipos de engenhei-
francesa voltava a estar na ordem do dia, um novo estabelecimento e p , .ial
ros civis e militares. E, embora o seu parto se tivesse dado após a queda de
surgiu em 1868, já s~b o impacto do prestigiado modelo alemão: a É 01 '
Robespierre, ela viu a luz sob os auspícios de dois sobreviventes do grande
Pratique des Hautes Etudes, devido à iniciativa do Victor Duruy, ministro
Comité de Salvação Pública (Carnot e Pieur de Ia Côte-d'Or) e de Fourcroy,
de Luís Napoleão Bonaparte na fase mais liberal do II Império. E foi ainda
um químico "patriota". Será de acordo com o seu modelo que, nesta con-
neste contexto que Émile Boutmy lançou a École Libre des Scien es Poli
juntura (1795), foi criada a École Centrale des Travaux Publics e, em Ou-
tiques.'? No campo mais tecnológico, em 1843 surgiram as École d 'S Am
tubro de 1794, a École Normale Supérieure, cujo objectivo visava formar
et Métiers e, a partir de 1880, instalaram-se a École de Physique et himic
professores para colégios e liceus.
Industrielle de Ia Ville de Paris e a École Supérieure d'Eléctricité de Malal 0(,
A importância que a Convenção depositou nesta última instituição
entre outras."
está bem patente na qualidade do seu corpo docente (Monge, Lagrange, Ber-
Não obstante exigirem diferentes requisitos de ingresso, a lar r.1 dl'
tholet, Volney, Laplace, La Harpe, Bernardin de Sainr-Pierre)." Contudo, ela
educar boa parte das elites burocráticas e técnicas, do Estado e da so i 'd,ld,
teve vida breve. Mas Napoleão recriou-a, início de um percurso que, assente
francesa, pertencia-lhes." A admissão aos seus cursos foi desde logo fo 11 c
no fomento de um espírito racional, tolerante e de finesse, irá definir um tipo
111.nte electiva, exigindo-se, segundo o modelo da École Polyté hniqu " o
de académico específico: o normalien. Destinada a ter um grande futuro,
ha .harelato e o exame de acesso (cours d'entrée). Por outro lado, esta impu
a primeira fase da vida desta instituição não foi fácil. Encerrada, de novo,
nha : frequência obrigatória das aulas, uma disciplina próxima da militar "
durante boa parte da Restauração (1822-1826), ela veio a fixar-se, duradou-
ainda, a definição rigorosa dos programas a ensinar. E procurava [orn 'nt,lr
ramente, na Rue Ulm, após a Monarquia de Julho.
a rn rirocracia", propondo-se admitir alunos em di crimina ão d ' nasci
A Revolução instalou, ainda (1793), Escolas de Saúde em Paris,
m .nto nem de fortuna. Como retribuição, os seus estudantes diplomnclos
Montpellier e Estrasburgo, que substituíram as respectivas Faculdades de a .diam, por direito, a altos cargos, civis e militares, da admini traçao púhll
Medicina. E o aumento do interesse pelo Oriente - com grande impulso -;I 1 ,d tino que ajudou à reconstiruição de novo privilégi so .inis, agol.1
na Inglaterra - reflecriu-se na instalação de cursos de línguas orientais vi- sol a mediação do E tado e sob a aparência da igualdad 15 (ai na j;í 1,11l~,lIlo
vas na Biblioteca Nacional, decisão antecessora da futura École de Langues por ai un e t re de e querda jacobina, aquando d d bate <lU ' I 'vou,
rientales. sua forma ão).

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Embora a situação se venha a alterar um pouco, esta índole eli-
A UNIVERSIDADE NAPOLEÓNICA E A FRAGMENTAÇÃO DOS SABERES

tista prolongar-se-à até hoje. As Grandes Escolas manterão privilégios em


Com Napoleão, a Universidade ressurgiu. Mas em que acepção?
matérias como o controlo de acesso, a autonomia e os apoios financeiros
Não se tratou, como é óbvio, de um regresso ou de uma reactualização do
estaduais, mesmo após se ter procedido à reorganização da Universidade.
modelo corporativo-eclesiástico medieval, nem de uma reforma no sentido
Significa isto que a Revolução deu continuidade e reforçou a existência de
da que, por essa conjuntura, estava em debate na Alemanha. A Universidade
um dualismo (pouco pacífico) dentro do ensino superior público: por um
napoleónica foi coisa bem diferente e não pretendeu pôr em causa a herança
lado, as Grandes Escolas e Institutos, e, por outro, as Faculdades, federadas,
da Revolução, mormente a índole centralista, dual e laica do sistema edu-
a partir da 111 República, em Universidades renovadas, cabendo às primeiras
cativo.
o papel de fornecer ao novo Estado-Nação e à sociedade pós-revolucionária
Por outro lado, a sua vocação estava sobretudo voltada para o cul-
uma formação adequada à estabilização do país e às necessidades e interesses
tivo de profissões úteis à sociedade, orientação que tinha uma maior seme-
(político-burocráticos e militares) da nova ordem, ao mesmo tempo que lhança com a que animava as Hochschulen ou as Spezialschulen alemãs, do
ajudavam a bloquear o aparecimento de corporações, antigas ou renovadas, que com a nascente Universidade humboldtiana.
no domínio da posse e do controlo dos conhecimentos. No entanto, elas A educação devia ser confiada a um corpo de professores, com um
também acentuaram a fragmentação dos saberes e empolaram a valorização espírito de solidariedade modelado pelo do militar e do eclesiástico, e o
do diploma, monopólio do Estado, como via imediata de acesso aos altos nexo com o poder estava garantido pela figura que a dirigia (no princípio),
cargos. E é discutível a importância que deram, tanto à nota, aos concursos um Grão-Mestre, que respondia directamente perante o Imperador. Possuía,
e à avaliação do mérito, como à regulamentação e uniformização dos pro- ainda, capitais, imóveis e finanças próprios. Como segundo centro do eu
gramas. 16. poder administrativo, Napoleão colocou o Conselho Superior da Univer-
Na prática, o seu funcionamento e a sua função desmentiam as idade (mais tarde, Conselho de Instrução Pública), cujos membros eram
promessas semeadas pela cultura republicana francesa, a qual, como se sabe, e colhidos entre os principais funcionários e professores." Além disso,
colocava o ensino como uma obrigação do Estado, em nome da prossecução E tado afirmou o seu monopólio no campo do ensino superior.
da felicidade comum e do seu postulado fundamental: a igualdade de opor- Mais concretamente, por lei de 10 de Maio de 1806, o Imperador
tunidades. Ao formarem elites, as Grandes Escolas contribuirão para a auto- d rerou que "il sera formé, sous le nom d'Université impériale, un corps
reprodução de novos privilégios e distinções no interior das classes médias .hargé exclusivement de l'enseignement et de l'éducation physique dans
ilustradas, sector social de onde provinha boa parte dos seus alunos. I? tout l'Empire" (art. 10). Bem vistas as coisas, o conceito aqui usado apare ia
Um outro efeito colateral diz respeito à própria desvalorização das mo sinónimo do que, desde a Convenção, se designava por "Edu a ao
Universidades, essa característica da França, pátria da figura do "intelectual", Na ional", e referia-se a um "todo único, simetricamente construído e rnili
não por acaso em boa parte construída fora (e até contra) do mundo acadé- r.irmenre hierarquizado" (Sobral Cid), com o papel de unificar, sob a dirc '\.1
rnico." Como salientou Alain Renaut, se a criação das Grandes Escolas e de I U I .la do Estado, o sistema de ensino em todos os seus graus. E te cvolu i d
outros estabelecimentos de ensino superior foi uma consequência do tradi- p.iru divi ões regionais, chamadas "Academias", tendo à sua frente um Rcl
cionalismo das velhas Universidades corporativas, o apoio que eles vieram ror, autoridade oficial e não académica, responsável por rod nsino no
a receber dos poderes centrais contribuiu para a depreciação do prestígio , 'U l 'rri tório,B
do sistema universitário e para a escassez das condições político-jurídicas e Império, no que ao ensino superior respeita, impô várias P:I~1I1
financeiras para o reforrnar.!" O essencial da pesquisa e inovação vinha das d.id 'S dispersou-as pela França, "sem coe âo e e pírito o P .rarivo" (Sohl.d
randes Escolas (à excepçâo de alguns cursos da Sorbonne), do olégio id): T' I gia ( uja pri ridade foi afirmada, em dúvida, d .vido J po\ltit,1
de França, do Instituto ou de sociedades cientlficas." E esta de igualdade dt' I • on ilia â rn a Igreja), Dir it e M di ina. I ir S' .í que, .rqui, ,.
rnanter-se-á, Nos finais do século XIX, tendo somente 4% dos e tudanrcs, \ '!'Ui,I,llradi âo. Mas inovava. 'nas restantes: nas de Ci 'llli,l\ 'l.t'II,\\, 1\111'
as Es olas recebiam cerca de 30% do orçamento estadual destinado a '11 vinh.un substituir a Fa .ul lad ' de Art 's. Vi .isshudcs po\(li .ts pml ,doI "
sino sup 'rior.21 1'('1,11,111111m.i ilin 1.1ma ior rl.1 )mcnt.u, ,10.

fHAJl1 H vi I (1 IIIRIOrll d I UI ,v", II 1J/1O, "00!


I1
Uma medida, inspirada em Royer-Collard, provocou brechas no -m qu o fascínio pelo modelo alemão cresceu, em consequência da derr ta
tipo de Universidade, una e indivisível, instituída por Napoleão. Mas o que na guerra franco-prussiana (1870) atribuída, em boa parte, à superioridad
poderia levar à descentralização produziu um maior atomismo social. Por do ensino além-Rene.
dificuldades financeiras e militares, muitos estabelecimentos, que se achou Recorde-se que, já em 1833, no seu Rapport sur L'instruction publi
desnecessários, foram suprimidos, o que provocou o encerramento de 7 Fa- '!"1' dans quelques pays de l'Allemagne et particuliêrement en Prusse, Victor
culdades de Letras e 3 de Ciências. Todo este movimento virá a desaguar no Cousin (filó ofo ecléctico de inspiração hegeliana), convocando o espírito
desaparecimento do cargo de Grão-Mestre e na colocação das Faculdades ti ' Sistema, escrevia: "11 est inouí de voir, en France, les diverses Fa ultés
sob a directa tutela do ministro do Interior. A tendência para a segmenta- dom se ompose une Université allemande séparées les unes des autres, ct
çâo continuará nas décadas seguintes, em consequência de pressões políticas 0111111perdues dans l'isolement [... J. Hélas! nous avons une vingtaine de
(nacionais e regionais), realidade que só a III República tentará modificar. mix '-rables Facultés éparpillées sur Ia surface de Ia France, sans aucun foycr
Suprimida sob a Restauração, a Universidade viveu "l'âge d'or de til- lurniêre. Hâton-nous de substituer à ces pauvres Facultés de provin ,
l'autonomie corporative sous Ia Monarchie de juillet".24 Todavia, este esta- P,lltollt langui santes et mourantes, de grands centres scientifiques rare t
tuto colidia com a propensão centralista do Estado francês. Pelo que, desde hlcn pia és, quelques Universités, comme en Allemagne, avec des Fa ulrés
1845 (Salvandry), foram tomadas decisões para fazer diminuir essa relativa t ompl \le , e prêtant l'une à l'autre un rnutuel appui, de mutuelles lumiêrcs,
autonomia, tendência que se acentuou na fase ditatorial do 11 Império, épo- l'll 11111tuelmouvement't.f Esta atracçâo manter-se-á, sob o signo da « ri~'
ca que Liard considerou "Ia plus pénible qu' ait eu à traverser l'Instruction ,ti '111:1do pensamento francês"." Várias tomadas de posição, desde R n.m
publique en ce siêcle"." Compreende-se. Foi o período em que os sectores ( 1H(,7) a Edmond Dreyfus- Brisach (1874), e vários estudos específico , I '
conservadores, liderados pela Igreja, lançaram uma forte contestação ao mo- vuluuucs de visitas de professores franceses a Universidades alemãs dep is d.1
nopólio do Estado no domínio da educação, sendo algumas das suas reivin- "li '11,1 E. Dreyfus-Brisach (1879), Fustel de Coulanges (1879), La hclu»
dicações satisfeitas com a aprovação da célebre lei Failloux (1850), alvo a (I HHI), Seignobos (1881) e outras -, possibilitaram um melhor onhc I
abater pelas campanhas posteriores a favor da obrigatoriedade, gratuitidade 11\'I\tO da realidade do país vizinho.ê" Todavia, é um facto que a pr rUl1di
e laicidade do ensino. Leis de Fortoul (1852) fizeram aumentar ainda mais a d,ld - dcst debate ficou longe da alcançada, nas duas primeiras dé adus dl
tutela do governo, com o direito que este passou a ter para designar e demitir ( )!lO enio , pelo seu émulo alemão.
directamente os professores. E esta orientação será inseparável de uma onda
de saneamentos, na qual figuras como Victor Cousin, Guizot, Michelet,
Jules Simon, Quinet, Mickiewicz são, tão-só, as vítimas mais conhecidas. 1\ 111 R PÚBLl A E A CRIAÇÁO DA UNIVERSIDADE FRANCESA MOOEHNA
Logicamente, não fazia sentido falar-se em liberdade académica ou
em livre docência. Proibiu-se mesmo o ensino de certas matérias, como o Arti ulando a reforma do ensino uperior com a revolu ao 'SlO
Direito Constitucional e a Filosofia, substituídas por assuntos mais neutros 1.11110 -nsin primário e se undário, a 111 República pto urou 011 rct iz.u
(Direito Romano, Gramática Comparativa). as ministradas, os professores ,111'11111.1\das idéia que, particularmente a partir do ano de 18,0, fOl.111I
eram obrigados a submeter à autoridade académica programas detalhados 1.111,Id." P Ia dis us â obre o nino superior, debate que d 'U 01igl'lll ,I
do que ensinavam, e pormenores como as vestes e o tamanho da barba não 11111,1 "p \ i .dc I110s fia d republi ani mo bre a Univer idad (I ,lvai\Soll,
eram descurados. .1\IH'IOI, [ulcs Barni, Paul Bert, eign b , Lavisse, Louis l.i.ird) , rcrn.ru
O crescimento da contestação (liberal e republicana) ao 11 Império di 1111\icl 'ai d .mopédl o 111que a h .ran a do llurninismo • do kg.ldo d.I
conduziu estes sectores a darem uma importância maior à "questão universi- 1 1 1l11l~.IOFr.m .csa surgia 111diada P 'I. li ao do positivismo (/111'S P\'II "
tária", particularmente no interior do mundo académico. E se a reflexão era I1II1 • I oui, 1 i.11I).ll)
tardia, quando comparada com o que se havia passado na Alemanha, ela não SOIlIl'IlIl' .lp6s 1875 1877, isto \ qu.mdo o It'gil1\l', S.Ido dm 1
deixará de emergir, com força, na fase mais liberal do 11 Império (Victor Du- 11111""(\\ d.1 ('0111\111,1,~' I.Hifi ou c S' onsolidou P,I\s.llldO.1 'li. llll.lIl.
ruy, 1868) e, sobretudo, nas primeiras décadas da III República, conjuntura I 'pllhll .1 diri 'id,1 por I -publi .\l1OS ,fi .11,\1\\Il'UIlIII.I\ .1\ llllldl 111
11111.1

16 TRAJETOS· Revista de História d UFC. v 5. n /10.2007


BCH-PERIOOiCO.

para se concretizar a reforma do sistema do ensinoê? e, dentro deste, do forma, reintroduziu aquele vocábulo na linguagem administrativa francesa
ensino superior, movimento que pode ser periodizado por três datas ernble- - foi tal que as suas disposições rnanter-se-âo praticamente inalteráveis até à
máticas: 1875, 1885 e 1896. célebre lei Edgar Faure (1968).
A primeira refere-se à lei de 12 de Julho. Esta, dando continuidade Almejava-se, em suma, acabar com a fragmentação e a dispersão das
a propostas que já vinham de um projecto avançado por Victor Duruy em Faculdades, nem que para isso fosse necessário fechar algumas, concentran-
1870, pôs em vigor a liberdade de ensino. Todavia, novas eleições trouxe- do-as nas principais cidades do país e, em particular, em Paris. Em simultâ-
ram a renovação do pessoal político e o controle total das instituições pelos neo, combatia-se a excessiva "profissionalização" (mais saint-simoniana do
republicanos. E, na linha da tradição jacobina, ganharam força os que viam que comtiana), em nome de uma aprendizagem que devia estar ao serviço
naquele princípio uma porta aberta para o avanço da contra-revolução ca- de motivações morais e cívicas, finalidade que os conhecimentos meramente
tólica. Por isso, a 18 de Março de 1880, uma nova lei restituiu ao Estado o parcelares, empíricos e técnicos não podiam alcançar. Assim, tal como acon-
monopólio na concessão de graus e retirou aos estabelecimentos privados tecia com a sua congénere alemã, não bastava que a nova Universidade não
de ensino superior o direito de se intitularern "Universidades". O facto de fo e mais uma universitas magistrorum et scholarium; ela teria de ser uma
o republicanismo à francesa pressupor o dever de a sociedade - e o direito uniuersitas scientiarium. Mas, qual o conceito de ciência que a cimentaria?
do homem - garantir a educação (requisito primordial para os indivíduos A resposta tinha de ser encontrada no horizonte da filosofia hegemónica no
ascenderem à cidadania), e o convencimento de que a Igreja constituía o r .publicanisrno francês finissecular: o positivismo.
principal obstáculo à conquista da emancipação intelectual e cívica, reforça-
ram a convicção de que só uma educação nacional, pública e Íaica poderia
fazer radicar o sistema representativo e a modernidade. A EPISTEMOLOGIA UNIFICADORA DO NOVO IDEAL DE UNIVERSIDADE
Quanto à segunda data, relernbre-se que a pedra fundacional do
edifício (de Nénot) que irá albergar a nova Sorbonne foi lançada em 3 de Mesmo quando não perfilhava a célebre "lei dos três estado" e re
Agosto de 1885. Foi também esse o ano (25 de Julho) em que se reconheceu j -uava a não aceitação, por Comte, da emergência de novas ciências - com
personalidade jurídica às Faculdades e, consequentemente, o direito de re- .uont ia, entre outros, com Louis Liard'", um dos principais impulsi na
ceberem doações, legados e subvenções. Tais medidas serão completadas por dor s da reforma -, um sector importante dos intelectuais franceses a r di
um novo decreto (28 de Dezembro de 1885), que reforçava a sua autono- i.iva que o positivismo encerrava uma "doutrina da educação univer ai" ,
mia, ao criar, em cada uma delas, o lugar de Deão, autoridade que represen- qu ' a humanidade tinha entrado na fase definitiva da positividade. A e t s
tava tanto o poder universitário como o central. Nomeado pelo Ministério, pl .ssup tos juntava-se o convencimento de que só a ciência, a partir d '
mas eleito pela Assembleia da instituição, ele tinha por tarefa administrá-Ia lei, g .rai , poderia iluminar o bom uso da técnica, distinguindo- e, a irn,
nessa dupla qualidade." I uuo de rnpirismo como da versão mais "recnocrática" de algum aint
Na sua específicidade própria, procurava-se dar corpo à experiência ximonivm de origem "politécnica", E, como aceitavam que 6 oral
moderna de autonomia. No entanto, a autonornizaçâo administrativa e a icm if .Iv-I, a inevitável divisão das ciências só teria ignifi ad em fllnc,..1O
diversificação dos ramos a ensinar teriam de ser completadas pela federação do 111',Ir qu - ada uma dela o upava na taxinomia teorizada p r aqu 'Ia qu '
das Faculdades, em ordem a que, na linha do modelo alemão, mas à luz de 111\1"lIi.1, 161i, e epistern lógi aa oroava: a i logia.
urro paradigma epistémico, a variedade se compatibilizasse com a unidade. Jassifi ar para nhe er era, afinal de c nta , uma vclh: pr 'miSS,1
Foi o que se pretendeu realizar com a lei de 10 de Julho de 1896, ao deter- d,l I'/,ÍI/f'II/{' () id .rual \ p rspe tiva que a de ri 50 das varias ;\rvor 'S do
minar-se que cada "corpo de Faculdade", ou várias Faculdades associada, ,dI 'I, 110P .ríodo mo l-mo, r a tualizou, Ela rapar - 'd, trans ormad.1 '111
t rnassern o nome de "Universidade". Geria-a um Conselho de Univer ida- pll iw d ' Sisl 'm.1 (rn 'wfisi arn .ru i fundarn rua 10), na filoso(i,1 .tI '111.1dm
d formado por representantes das Faculdades, sob a presidência de um Rei- 1'1111íplm do se ulo I . Ma." prirn 'ira vistu, a pOSI 'rio I' I' levnç.io pmili
t r da Academia, nomeado pelo Ministério, e de um Vice-Pre idenre, I it 'I \,1do P,II ,ldigm.1 das i ên .i.is da natur '1a par' i.1\0111, 1.1pou o I 'll pll .1
anualmente p r aquele onselho. O impacto desta reforma - que, d irra 1 I'ltlhl 111.ti ,I 1.1onkl1.I~.lo dos onhc irn lHOS. ( 1.1,n.io s pod "'1111

IH TRAJ TOS R vi t d HIst6rl d U c, v ,n /10,2007 1'1


cer que Com te, conquanto dentro do seu declarado antimetafisicismo, deu /1"1,,10 do cnsinu '0111a inve ligaçã036, de acordo orn
11111111 O ap ·10 qll '
continuidade às pretensões sistémicas do idealismo objectivo e às suas ten- I 1111111l\(olll.lld h.ivi.t ("ito' m o instigante modelo alemã -nsin.iva.
tativas para ordenar a nova enciclopédia dos saberes. Pode mesmo dizer-se 1',", 111.o 'lI,dll' im .nto do que e entendia por ciên ia não d ixava igu.d
que o pensador francês perseguiu, obsessivamente, a ideia de Sistema, agora 11111111 .I,' 11111ionar orno uma mundividência e como uma reté ri a qu "
estribada, não na metafísica (como aconteceu na Alemanha), mas na genera- 111111.110, . \ohr -tudo no d mínio das "ciências morai ", di pcnsava a .xpv
lização e hierarquização dos conhecimentos (que teriam progredido da má- 111111111.1'.1(11111 . r .ivindicava, tendo começado a gerar rea çôe várias, nmo
xima generalidade para a máxima complexidade), moldados, com pequenas I d'l 1H'lg\olli~mo, ou a pr tagonizada, sob o impacto do ca o r yrus, por
diferenças, pelo convencimento de que o método das ciências da natureza "1\1111\l'llOr'S tradi i nali tas (que tão da "nova Sorbonne", 1 10-1' 11j),
traria a definitiva cientificação dos fenómenos sociais e, consequentemente, '1"1 .1\us.rvum a Univer idade republicana de estar a pôr em ausa a ·UIIIIl.1
a correcta articulação entre todas as ciências, a quem a técnica devia estar 11I11I1.llIj\I.1.urop 'ia. independentemente das motivaçôe política qu' mo
subordinada. 11.1111'\1.1\ oru .sta óe , ou aquelas outras inspiradas no e piritualisrno '
O exposto ajuda-nos a inteligir melhor a versão francesa do ideal de 1IIIIIl'ol.lI11isl11 de fundo republi ano, é um facto, porém, que o posiuvis
universitas scientiarium. A Universidade ter-se-ia de organizar como Uni-versi- 11111"o i 'Illir; isrno, para o bem e para o mal, tornaram- e naís) fil sofla(s)
dade, o que não significava que os estudantes devessem estudar tudo. Porém, dlllllll1.11I1,(~) na Univer idade francesa.
o campo específico em que se formavam tinha de pôr em acção o núcleo que Por outr lado, a renovação não rompeu com realidades qu " in
totalizava e unificava a diversidade dos conhecimentos. Pode assim sustentar- 11ll\1.1l1.1\na iradi â académica e na estrutura do Estado-Na ã fran -s.
se que, no contexto dos anos de 1880, a Universidade francesa procurou fazer , !llolollgarao. As im, apesar da maior autonomia outorgada, o r gim' r
a síntese entre a herança da Revolução, encarnada por Condorcet, e a filosofia !lllhll' .1110nao abriu mão do monopólio que o Estado detinha em mal "ri.h
de Augusto Comte, em nome de uma "science républicaine" empenhada em 111"10.1 on .cssão e o reconhecimento de graus, e não quebrou o pr xlomí
construir uma "république scientifique" (Claude Nicolet). Deste modo, se, 11111 d,l .nunlids de e da macrocefalia de Paris, ponto de chegada de todas."
desde Kant e do idealismo alemão, esse papel devia caber à filosofia (e, portan- 1,lIll·il." .. .ntro privilegiado da oferta de ensino superior (da Univ 'rsid,lllt-
to, à respectiva Faculdade), na nova visão republicana gaulesa, tal tarefa seria d." ;',\I1d .s colas), tanto mais que o corpo docente da capital era o ll1,ti\
pelouro das ciências sociais", ou melhor, do positivismo. Mas, como este se IH111p.lgol7 (o me mo acontecia ao nível secundário).
apresentava como a definitiva cientificação da própria filosofia, o projecto não Esta p lírica - que contrastava com a descentralização alemã 1,1111
deixava de assentar num contraditório fundo dogmático e de se basear numa 1."111n.io pôs em causa a manutenção do sistema dual. Na verda I " ,I 111
concepção excessivamente unicitária sobre o método das ciências, ao mesmo 1{1'Il\'lhli-a não extinguiu nem integrou as Grande Escolas. ta mantcr.rn
tempo que propagava um ideal de cidadania entendido como sinónimo de lai- o IlIg.lr privilegiado que ocupavam na formação das elites té nica , buroc i.i
I j, ,1\ 'políLi a . Explica-se. É que, dentro da cultura republi ana, a igu,t1d.1
cidade (e de laicismo) e um nacionalismo muito condicionado pelo desfecho
da guerra franco-prussiana. dl' d . oportunidades e o princípio segundo o qual o Estado tinha bri '.\(,ol'~
A conseqüência mais imediata deste posicionamento traduziu-se no ,li I jV.IS -rn ampo como a saúde e a educação não pod iam cr cn t .nd i 1m
confinamento da filosofia à sistematização das ciências e em tentativas para IOIIlO um p mo de chegada: o en ino, não obstante reivin li ar a m -riio
se aplicar o método das ciências da natureza não só à sociologia - pionei- '1,1 i.t, .ra hierarquizador e selectivo. Por todos, teorizou-o url h .im, l' ,I
ramente ensinada, na Sorbonne, por Durkheim e, depois, por alguns dos ,111;lisc s i lógi a da realidade universitária comprova-o. Tanto as Cralllb
seus discípulos (Celestin Bouglé)35 -, mas também à historiografia (Fustel li, olas mo a Universidade - ainda qu e ta numa e ala lig .ir.uu '1111'
de Coulanges, Monod, Lavisse, Langlois, Seignobos, Arlaud) e à própria III,tiS baixa - re pondiam à procura, esmagadoramerue mas ulinn, d,l~ .1
literatura (Lanson). 11I,ld,ISmédia e letradas da sociedade. E a hora da ma sif a ao ;tind,1 11,1(1
É uma verdade comprovada que a valorização da ciência dita expe- linha -h 'gad .
rimental se materializou na modernização de iníra-esrruturas de pesquisa
(laboratórios, "salas de trabalhos", seminários) e, por conseguinte, numa

20 TRAJETOS - Revista de História da UFC, v. 5, n. 9/10, 2007


RAJ TOS - Revista d História da UFC, v. 5, n. 9/10, 2007 'I
11 - O MODELO ALEMÃO Ka 11t, tal mo Mendel sohn, utilizou aquele on eit várias ver \
(,01 I 'I lido m Ober Padagogik) para nomear, não s6 o intele tual, ma' iam
Sendo a Alemanha uma realidade politicamente fragmentada, as h 1m o de nv lvimento moral e emocional dos indivíduo. 'f, davia, . ub
suas Universidades sofreram as consequências da Reforma, das subsequentes ,I 11 'r I 'r a ua aplicação ao campo da educação, a im como a expli itaçao

guerras religiosas e, depois, do impacto da Revolução Francesa, prolongado d,I.~sua ara terf tica definidoras, a saber: a acçâo e a universalidad ..1'1 I',
pela invasão napoleónica. No início, estes últimos acontecimentos foram in- pod ' ti ,r, nder-se que o sucesso do vocábulo se deveu à sua grande apa i
terpretados, por muitos intelectuais, como o sinal das potencialidades ernan- I.,d 'para xprimir a cooperação tácita que deve existir entre o pl' fc r o
cipatórias da humanidade. Um bom exemplo desta expectativa encontra-se ,ti li no n proces o de aprendizagem, a fim de se criar Bildung, isto é, .rur
nas célebres respostas à pergunta Was ist Aufkliirung? (Kant, 1798), que se , int 'ri rizar uma formação activa.
saldaram num apelo à assunção da maioridade do homem, definido como
um ser educável para o uso da sua autónoma razão teórica e prática. No
mesmo contexto, surgiu, porém, uma reacção contrária (Sturm und Drang), A I UAÇÁO DA UNIVERSIDADE ALEMÃ NOS INÍCIOS DO SÉCULO Xl
que irá enfatizar a intuição, o sentimento e a crítica aos ideais excessivamen-
te universais e racionalistas do Iluminismo, acusando-os de não relevarem as escontadas algumas excepçôes, a herança medieval da divi á .m
especiíicidades nacionais (entes espirituais específicos, resultantes de condi- qu.u ro Fa uldades somente tinha sofrido mudanças terminol6gica nas Uni
cionantes como a história, a raça e o meio), atitude que teve na filosofia de v'lsidade alemãs: a Faculdade de Artes havia-se transformado em Fa ulda I,
Herder e na sua concepção acerca da índole concreta dos povos (Volksgeist) ti 'Filos fia (na acepção larga do termo, pois incluía tanto a filosofia pr pri.i
a sua objectivação precursora, e que, sob o trauma das vitórias de Napoleâo, m 'Ill ' dita, como os domínios da matemática e das ciências da natureza).
encontrará nos célebres Discursos à nação alemã, de Fichte (1807), a sua I )iga s que esta evolução foi preparada pelas instituições saídas da R form,
expressão nacionalista de maior repercussão. , do .ib olutismo iluminista, particularmente pelas de Halle e ôttin t .n. I••
Ambas as correntes acreditavam na capacidade emancipadora da 'l' muita outras estavam decadentes, estas - fundadas, respectivarnent " cru
educação - onde se notará influências de pedagogos como Rousseau e Pes- I (,t) c em 1737 - tinham alcançado merecida fama, mormente no domínio
talozzi -, expectativa que encontrará no vocábulo Bildung a sua fixação se- do, onhe imentos ligados à medicina e às demais ciências da natur '/.1, '111
mântica decisiva. O termo adequava-se bem à tradição judaico-cristã, que 110,1parte porque exigiam, sobretudo a partir da segunda metade d S \ lIlo
define o homem como imago Dei. É que, se, literalmente, ele referencia VIII, o empenhamento dos docentes na pesquisa científica e um 'mino
significados como "quadro" ou "retrato", também remete para "imagem". ministrado em eminários e assente na cientificação das disciplinas.
E, no contexto da problemática educativa, conotará, igualmente, a ideia de eu suce so - e o de outras, incluindo algumas "e ola p' i.ti,"
processo, ou resultado de um processo. vinha a encontro, na segunda metade de Setecentos, da n ssidadc-
Recorde-se que Moses Mendelssohn usou Bildung - termo recente dt' lima amada ocial cujo status decorria da educação, a burgue ia I 'lr'ld.,
no léxico alemão - para significar a maturidade humana de uma pessoa com (Uddutlgsbürgertum)40, que se preparava para servir o( ) E tad (), ou pal.1
Kultur e Aufkliirung. Para ele, em concreto, pessoa ilustrada seria a que possu- \l' d ,di 'ar a profi õe liberais, grupo que foi cre cendo a par da burgu ',i,1
ísse conhecimentos racionais e perspicácia em relação à vida e à missão huma- ('lonómi a (Wirtschaftsbürgertum). ignifica i to que, cada vez rnai , ( [uiu
na (Bestimung), adquiridos pela ciência e pela filosofia. Num outro plano, os 10 da niver idade alemã ficará condicionado pela ara terísti a ti' um.i
contactos sociais e a eloquência ou retórica somente fariam o homem culto. 'Il i xlad ' "e tadual-burguesa", bem distinta do consubstan iado na idl'i.,
E se certos povos, como o francês, eram cultos, e o inglês ilustrados, somente r l,lIl .sa I "cidadão-burguês" .41 Esta diferença cxpli a, em boa pan " POI'
a velha Grécia tinha conseguido, até então, combinar a ilustração e a cultura, '1"' 'qll a ua ri e u itou, no ontexto do de pertar do na .ionulisuu:
mediante a realização de uma verdadeira Bildung.38 Daí que Humboldt so- al má e anri-francês, não 6 a preocupação do P der p Ifti o, m.",
1I1t1l1.l1
nhasse com a concretização de um ideal educativo que fizesse a síntese entre o oh, .man ira, da ua "inteligência", de onde veio um riquí imo onjunro
espírito germânico e a herança da paideia grega. 11 ,,11 x - fil 6fi a e um de ejo reformado r que reclIp rar o 111lhoi do

22 TRAJETOS· Revista de História da UFC, v. 5, n. 9/10, 2007 1I AJl TO R vi ta de História da UFC, v. 5, n. 9/10, 2007 '\
legado de Gõttingen e de Halle.P Como esta última região deixou de fazer A I'N IA OMO I TEMA
parte da Prússia, em consequência das conquistas de Napoleão, o Estado foi
mesmo impelido a criar uma nova Universidade, que fosse capaz de renovar ruud.mça terrnin I gi a que onduziu à de igna de "Fa uld.i
â

a dinâmica da que servia de referência. E a génese de Universidade de Berlim .11 .11 hlmo(i.l" ins r 'via- e em reivindicaçõemailata:ultrapaar(lug.lr
(1809) não será estranha a esta intenção. H IlItlpllllllli () 'S' undári quea Faculdade de Arte ocupavarn ern rcl.içuo
Porém, o movimento para a reforma não se deveu somente aos efei- I 1I 1.1111 '\. ' lar um relativo acolhimento às ideias que onrestavarn O posi
tos da invasão napoleónica. Também pesou a decadência de muitas Univer- 111111.1111('1110 d.1 I '010 ia mo" enhora" de todo o abere, ob a rut .la d.1
sidades. Sublinhe-se que, em 1789, existiam, na Alemanha, 35, com 7900 1111111111.111(' . lcsiásti a (e política). Movimento que Kant interpret u numa
estudantes, 40% dos quais frequentaram as mais importantes (Halle, Gõt- 111I pn IIV.IIll.tis profunda, ao colo ar a filo ofia, enquanto reAexã racional
tingen, Iena e Leipzig). Mas a situação de muitas levou ao fecho de 18.44 Em 111111 ,I dm (i.ln lamento da ética e de todo o conhecimento ientff o. no
simultâneo, notava-se uma preocupante descida nas matrículas: em 1808, I' 1111dll lOnllilO ntre as Faculdades e como condição nece ária para ()
a Universidade de Duisburg contava com 38 estudantes, e a de Erfurt com 11"111"1111 'IHO d( id ai ilumini ta de Bi/dung.
43. Á MI.I I 'S , defendida no livro O Conflito das FacuLdades (Der Streit
Mais do que uma restauração, impunha-se aplicar uma nova con- ,Ir I l'rI/mll/lll'II. 17 8), é conhecida." Ao Estado cabia a solução dos I ro
cepção de aprendizagem. O filólogo Fr. A. Wolf chegou mesmo a propor a 1,11111"\d.1 popula â atravé de funcionários (eclesiástico, administrado
abolição do termo "Universidade", porque negativamente ligado ao passa- 1I d, jll\li<,.1 'ag nte médios). Pelo que seria lícito que ele interviesse na
do. Porém, tal alvitre não será ouvido, como não se seguirá o exemplo da "'1'.,11111.1\.10 do n in das "três Faculdades superiores" (Teologia, [ irciro
Revolução Francesa, ou a via napoleónica. Sobretudo na Prússia, ousou-se t\1,·didl\,I). que vi avam, respectivamente, "o bem eterno de cada um". o
modernizar, sob a directa inspiração de um intenso debate filosófico (1802- I" 111\Ol i.tl" . o "bem corporal". Mas o mesmo seria inaplicável à "Fa uld.i
1809) acerca da sistematicidade dos saberes e do modo como se devia estru- .I, "tI"1 iOI". ou s 'ja, à Faculdade de Filosofia. Nesta, o poder políti o d ·vi.1
turar uma Universidade que estivesse ao serviço da cultura e da ilustração d, IIl1loll.í 1.1"à razâ do povo sábio", espaço livre onde tudo pa ava p ·10
dos seus alunos. , 111I1do I1ihu nal da razão crítica." E se ela pod ia con ti n uar a ser onsid '1.1
De facto, a escolha não foi estranha a um ideal epistémico que cri- .I I 111/1dOI 1\.1pcrspe tiva do Estado, ao nível do efeitos da ua a ão sol I .
ticava a capacidade que, só por isso, o ensino especializado e parcelar teria I I 11,10jlllhli .1 seria uperior às outras, desde que se perseguis e a bll\l.1
para gerar Bildung. É certo que, na Alemanha, também existiam prestigiadas ,I 11I111I'\\,ld.1da verdade.
"Grandes Escolas", fruto do despotismo esclarecido de alguns reis. Convém 1'1,\ nela . p r ela que a Universidade ganhava con ciên ia dubit.ui
lembrar que já Leibniz, em Dissertatis de arte combinatoria, havia feito a I, oIllllld' IlI' I. mbérn inundaria o ensino ministrado na re tantes Fa ul
apologia do cultivo da ciência "em e por si", tanto do ponto de vista teóri- ti 111, ,I \Ijo s.rb r t .ndia a estar ubordinado à tradição, a fórmula' .stabclc
co, como na perspectiva em que elas são todas práticas, ao mesmo tempo , 1.1,1, .1 .nuoridad 8 a discutível propó ito de conven er povo de: t}\1.
que apelava para a criação, fora das Universidades, de um certo número ti IIl1h.1.1 v -rdad ' d 'finitiva. Bem vi ta a coisa, omo o nllito nao '1.1
de Academias (incluindo a Academia das Ciências de Berlim), sob o lema '"111 o hl.ldo. mas irure Faculdades, exigia-se o exer í i duma p 'r1lI.1
"theoria cum praxi". E a vertente iluminista mais apologética do saber téc- 111111,vlldl. n ia da razã . " c mo e ta é atividade ríti a, tal onllito <1\1('
nico e utilitário também se reflectirá, nos territórios alemães, na instalação 11111,1.1 11111,\ gu .rra, ma uma concordia discors, LI lima discordia ('()II('(m
de "escolas especiais" (Spezialschulen) e de "escolas superiores profissionais" .1I1"i,IiIi.1 se náo h uve e a rdo entre a ornunidad dos 'i ·IHiSI.I\ (' .1
(Fachhochschulen) no decurso do século XVIII. Tais instituições estavam em 0111I d.ld.I()~ a .cr 'a dos prin ípio que leviam levar à sup 'ração dos lil11il(".\
oncorrência e em rivalidade com o estabelecido, mas não constituíam uma 111j1l1\lO\. lib .rdadc de piniâ (públi a) pel arbítrio g v .rnnrn 'IH.d. S·
alternativa forte às Universidades (ao invés do que acontecia em França) I ti III\\(, P()~s(v 'I, os últirn eriam s prirn ir s, t mandos' a Pa IIld.III(·
nem funcionavam como forças bloqueadoras da sua reforma." d I~lo'tofl., Il,l UFa uldad up ri r nã para
U
, nquistar o pod '1\ 11',', )l.II,1
1"111(111.\1.Iqu .lcs que I'L ·m.49

2 TRAJETOS - Revista de História da UFC, v, 5. n. 9/10. 2007 11 11 10 HI vi t <I IIIat6rl d U C, v 5. n 9/10.2007


Com isto, Kant, em nome do ideal iluminista de Bildung, contribuiu I it u.iva l lallc), alteraram: a partir de 1807, on olidou- e a onvi çao
para a crítica à fragmentação e ao cariz mais especializado e mais profissio- dI M I 11' 'ss.íri riar uma nova Universidade, em Berlim, in titui 50 qu '
nalizante do ensino ministrado nas outras Faculdades. Só a problematização \ 1111,\1,\ofl inlrn nte m funcionamento a 16 de Agosto de 1809,
racional dos conhecimentos seria formativa; o que exigia o uso autónomo e Fa ilm nte e percebe que a esta intenção não eram e tranhas moti
incondicionado da razão, raiz motora da produção do verdadeiro. I~n , I 'g n rad ra de cunho patriótico. Pelo que o plano apare u liga
O apelo kantiano para a elevação da filosofia a instância fundamen- d" ,I I -íormas mai gerais, a sim como a iniciativas similare ,que e pia ma
tadora dos múltiplos saberes transmitidos pela Universidade marcará o tom 101111 110~UI rim nto de mais duas Universidades: a criação (ou recria á ) das
das reflexões imediatamente posteriores, embora feitas no quadro do idea- dI Un1\,l 'Br lau, em 1818, iniciativas que tinham por objectivo ref r ar o
lismo alemão (Os textos mais importantes são de Fichte, Schelling, Schleier- I'"dll pl ussian bre territórios muito heterogéneos e que iam da re j" '~
macher e Humboldtr.'? Este movimento - onde as ideias de Hegel sobre a di ftlll influ n ia francesa até à Polónia católica.
matéria são uma síntese das de Fichre e Schelling - opor-se-á, igualmente, Foi n te contexto que se desenvolveu o debate filosófico bre a
à aquisição de conhecimentos segmentados e à não compreensão de que a \ Jlliwl sidudc, ujo efeitos se irão repercutir, ainda com maior in idên ia,
procura da verdade é um processo orgânico. Ultrapassava, assim, o dualismo 1\",111lu, no' finai de 1808, a comissão encarregada de fundar a de B rlim
kantiano, visível no conceito de concordia discors, porque supunha a verdade I' I"OU ,I S 'r lid rada por Wilhelm von Humboldr. Quais as ideia nu ICM 'S
como sinónimo de unidade sistémica de conhecimentos. E só princípios 1\"1 presidiram ua estruturaçâo e ditaram o seu sucesso (ao abrir a 'U,lS
metafísicos (o Espírito; a Ideia) poderiam iluminar o caminho que levaria à 11111 1,ls, untava om 256 estudantes e 52 professores)?
vitória da cultura sobre a natureza. Como escrevia Schelling nas suas Lições ) ap. re imento, sem o peso directo da tradição, de uma n va ni
sobre o método dos estudos académicos (1803), a "Universidade é a filosofia por \1 I\ld,ld ' possibilitou o ensaio de um modelo mais adequado à ne essida
essência". Logo, para se chegar à verdade, a articulação dos conhecimentos dI, d' uma s iedade traurnatizada, em rápida mudança, e à pro lira d
teria de ser sobredeterminada pelo ideal de autonomia - estendendo-se a I IUIHl.tm .ntar omo "Nação cultural", raiz da futura "Nação políti a". I',
todas as Faculdades o requisito que Kant reivindicou para a de Filosofia -, 11111" sali .ruad a novidade: o respeito pela autonomia externa e o um
e pelo princípio de totalidade, ou melhor, de "Uni-totalidade" (Ein-undAI- 1"llIll'IHO da autonomia interna. A Universidade só criaria Bildung 'n.lo
lheit). Em suma: a Universidade tinha de constituir uma "totalidade sistémi- IIV '" sub rdinada, o que implicava o reconhecimento do papel t'Íti o l'
ca do saber", expressa na fórmula hegeliana de 'sistema absoluto'", projecro IIlltfll,ldor da fil fia (e da Faculdade de Filo ofia). Dir-se-ia qu a tít i ,I
que jamais se concretizou na sua plenitude, mas que, "como ideal puro e I ,1I1!i,III,lao pcn arnento heterónomo atingia uma corporizaçâ in titu io
unificador"!', foi decisivo para o entendimento da universitas scientiarium lI,tI Com a zarantia da ua autonomia externa, ela ficaria liberta de pr 'sso 'S
como Uni-versidade. uulu.u i.u, vi m ela do E tado, ou da própria sociedade, p rqu uuto
'IIV '111.11.1p .las autoridade a adémi a : o Reitor (anualrnent I ito P '10
( 1.1\1\110Pleno d s pr fe ore ordinári e extra rdinári s), L' allm c
A FUNDAÇÁO DA UNIVERSIDADE DE BERLIM E O MODELO " ''Il'1I.110 ,onsultivo.
HUMBOLDTIANO I) .ste rn ti , rnbora públi a, a n va Univer idade nno podia (UII
111111.11porqll 'S n 'garia a si me ma - 111 uma Univ 'r idad . do bt.lt!O,
O alvo concreto dos reformadores era a "forma gótica" (Schleierma- () POdl'l políti 'o d 'via limitar- - na palavra d l Iurnboldt ,10 I 'i d,1
cher) de Universidade. E, pelas razões assinaladas, a partir de 1802, o poder 1'111\\1.1 ,I Iorn .. r à niv r idad 111i n sários ; SU,I l' bl 11 i.r,
prussiano (sob a tutela do ministro Beyme e de Engel, antigo preceptor do 111,1\Sl'1I1S' introrn 't 'r nos LI n g6 i s int mos. Est 'S não r.un n '111fiO
rei) apresentou o primeiro plano de reorganização do ensino superior (13 de rli 1111S,'I 1.1SlI,1 irnp t ên ia, a xp riência mostrava qu •• qu.uulo i"o 1I,11l
Março de 1802). A sua materialização não foi imediata. As derrotas milita- 11111111i.I,.lS ons quên ia' rarn I11pr muit n ·'ativas.
res infligidas por Napoleão datam de 1806, e as suas consequências não s6 Por '111,ai runs orn Fit h d fendiam uma 01'',llIi".1 .\0 l 1111,1
atrasaram o processo, como. com a perda do ducado de Magdebourg (ond It 1.1 IWI 'Itín( 111,1,( nd (lidam prof ss res abdi ari.un d.1 ~lI,t ,1111111111

26 TRAJETOS - Revista de História da UFC, v. 5, n. 9/10, 2007 11A 11 I I vi I ti ItI t6rl ti U C, v ,n /10,2007
mia para se colocarem ao serviço do todo. Como a ciência era una, também 1111'1,1111 l'l 1'·ritim ~ par I'indépendance el l'individualité d Ia librc 1I1t1ll'
só devia haver uma única Universidade. A estas ideias opôs-se Schelling, para (1/ {,/I/I/g) xpiriu: ·11.",57 Talvez devido ao propósito de con ilia â , 'SI' {li
quem aquela - desde que desse corpo a uma correcta concepção sistémica 1111111nllll'ilO SC tenha transformado numa característica "espc íficarncntc
das relações interdisciplinares - seria compatível com a diversidade e a au- di 111I (I hom.ts Mann), não obstanre as críticas que Nierz he" lhe lançou
tonomia. Humboldt, depois de conferenciar com ambos, irá optar pela tese 111\ I '" l'~l ritos contra o historicismo e conta os proces os de interiorizaçuo
daquele filósofo, solução que vinha ao encontro do seu pensamento sobre o .111 tini \'\ ~o i.lis.~?
papel do Estado na sociedade e que irá marcar, indelevelmente, a génese da ( omp.irando-o, por sua vez, com a estratégia ubjacente à missão
Universidade moderna, ao fazê-Ia radicar no ideal de "pesquisa na solidão e \lI 11'11111.1 , Univer idade francesa, as diferenças tornam- e mais nítidas.
na liberdade" (Forschung in Einsamkeit und Preiheià, pedra de toque da "li- ( 11111 I kllO, no aso alemão, não se estava tanto na presença de um id \11
berdade académica". Não obedecendo senão aos imperativos da vontade, a "lu 11.1110lO!11a formação da cidadania. Interessava-lhe, ante de tud ,uma
sua actividade seria solitária, mas só na medida em que era autónoma (e não 'ItI\ IIdll.1 icm qu levasse o indivíduo à sua auto-educação, num c ru .xio
hererónornal.S E daqui decorria a exigência da autonomia interna: a liberdade 111qll " porém, se dava mais ênfase à unidade de uma comunidade d r .n
de docência e a liberdade de ciência (Lehr-und Lernfreiheit).53 E, com a criação \ I , do qll ' às r, rmas de uma sociedade cívica.
do sistema do Prioatdozenr", a remuneração de professores estaria dependente 1 . tudo o que ficou exposto se infere que, sem se alienar o m .lhor
da procura dos alunos, que Ihes pagavam, categoria de docentes que fez crescer .I" 1'."\,ltlO, se procurava renovar, num movimento que envolverá (nâ S '11)
a concorrência no interior da própria instituição. 1',,1\'111 il,h) iodo os domínios do saber, isto é, tanto as "ciência da natur .
Sinteticamente, poder-se-á então sustentar que o paradigma da /.1 . oruo as do "e píriro", para quem, desde a teologia de Schleierma hcr'",
reforma berlinense entroncava nas bases seguintes: combinação do ensino 1'.,,\.IIHlo por Droysen e Dilthey, se reivindicava uma autonomia epi t ~miL,1
com a investigação, centrada na aprendizagem em seminários; autonomia \ 111p.ual ·10 na cultura francesa e nas por ela influenciadas. E e ta ori 'IH,\
e unidade na pesquisa e no ensino no que concerne a toda a pressão do ,111ti .\ -nhou, de facto, uma corrente forte no pensamento alemão, dcfinívcl
Estado e da sociedade; prossecução contínua e desinteressada da verdade; 111.IVl-~ d,ls estreiras relações existentes tanto entre a arte e a história, COl1l0
divisão por Faculdades; e, na linha de Kant, institucionalização, através de 11111',I iência e a memória nacional, e especificado pelo domínio da filmo
uma Faculdade particular (a Faculdade de Filosofia), do pensamento crítico 11.1hcun .n êuti a nas ciências sociais, perspectiva que ainda hoje perdui.i l'
como garante da unidade e da liberdade da Universidade"; concebida como \ IIj.1 '{'\lCS' nâo é estranha ao conceito de Bildung. (Não por acaso, nd.uu 'I
Uni-versidade, ou melhor, como uma universitas scientiarum. dI dlUlll lhe um capítulo na sua obra maior, Verdade e Métodoi:"
Em termos tipológicos, é indiscutível que estamos perante o exem- ) su e so do "modelo humboldtiano" - que, no entant , nao ti -i
plo supremo da chamada Universidade "idealista", bem distinta da que já 011de sus itar rfticas e resistências por parte de Universidade fiéis J 11,1
foi caracterizada como "utilitarisra'T" Só uma aprendizagem que fomentasse dl,.\o n -otomista (como as da Baviera), ou das que queriam eguir.1 vi.i
a pesquisa como "actividade autónoma" moldaria a formação (Bildung) do 1,,11lo napoleóni a62 - trouxe-lhe um acelerado prestígio interno. Em I H I '),
homem como ser livre. Pelo que o conhecimento fragmentado, ou cingido à ,I Univcrsidad de Berlim contava já com 4900 e tudantes. ra, d ''I. ,\11m
sua exclusiva dimensão técnica e utilitária, seria insuficiente. dl'pnis, 'SI 'S tinham duplicado (9876) e, em 1830, chegavam aos I SHjH.
Sendo assim, ter-se-á de concordar com todos os que contestam 1h-pnis, 'slagnaram à volta dos 11000 (1860), para voltarem a subir \l,l\
a interpretação segundo a qual aquele conceito vinha exclusivamente ao d ·l,HI.lSs 'guinte : 29011 (em 1909); 60235 em 1914.63
encontro do fundo orgânico e comunitarista dominante no pensamento Por sua vez, a partir da década de ] 830, medr u, por to Ia a AI .\li ,I
político alemão. Ao invés, aceita-se que ele é indissociável de uma certa Ilb,1 . países vizinh ,uma aguerrida actividade estudantil, m o d 'S -nvol
secularização e individualização do sentimento do dever religioso, decorren- 1111'lHO ti . rituais própri ,de hábitos cole tivo de habita âo, ti' O\lvIVIO
te da influência luterana, condicional idade que, como salientou Troelrsch, I li· sociabilidad " orn migrações periódi a, no lnvcrn ,das niv'l'sitl,1
se consumou nesta ideia de liberdade: "Unité organique du peuple sur Ia dl'\ do Norte para a do ul, e com frequentes luta entre iradi i()Il,di~l."
base d'un dévouement à Ia fois rigoureux et critique de l'individu au tout, 1'111'Il'\\i~I,IS. Este último formavam um podero m vim '11l0 (lJII/'Irll/'//\

28 TRAJETOS - Revista de História da UFC, v. 5, n. 9/10, 2007 11AJI 10 R VlsI d HI tórl d UFC, v. 5. n. 9/10. 2007
li!
CH·P /0

chaft), com uma génese ligada às lutas contra a invasão napoleónica. Sob o ('hU/lII.(/IJ/lIgt'l'llIm), para um outr , que r vela um, maior as 'n, a< I [o
lema "Honra, Liberdade e Pátria", ele perseguia ideias nacionalistas, liberais 11 1I"II'Hlm d,l buruuc ia e n6mi a (WirtschajsbürgertllnJ), das pr()(I.~Ml,
e unitárias. Em 1848-1849, terá chegado a envolver 60% da população es- 111 11\ xmo da p 'qu'na
11111 burgue ia.• , como a onte ia nas suas 011
tudantil. 64 11 " '"W!l 'ias, () ,I mento p pular estava qua e ausent (2%)1>8,asshn
O sucesso da universidade humboldtiana também alcançou uma 111111111 f"llIillil1o.it9
repercussão externa (França, Inglaterra, EUA, Japão). Mas entre a idealiza- ht.I\ mudan a f, ram ditada pela tran formaçõe e n rni ,1\ '
ção e a realidade existiam diferenças. E, devido ao crescimento de pressões 111 I1 1., '0 i .dade ir enti ta alemã, realidade que e irá e pclhar no p 'Ml
socioeconómicas e ideológicas, bem como ao gradual aumento da massifi- , I111 o d,,, ht uldad . No ano de 1830, a mais frequentada rarn as I,
cação do acesso aos estudos superiores, o modelo irá sofrer desmentidos ao II I 110' 'Il'olo tia. mudo, e ta irão declinar a favor da Fa uldades d '
nível dos factos. Por exemplo, no que respeita à sua autonomia externa, não t\I, .lu 111,1-Filosofia ( iência e letras), que repre entavam, re pe tivarn '111',
se pode olvidar que as autoridades guardaram sempre, mesmo quando de 'I ,li" 10, 'ru 10 t tal dos efectivo nos inícios de 1880.7° nâ deixa d '
um modo discreto, o direito de lançarem um olhar político para as "suas" I I I \lIdll,lIivo qu, m 1910, a Faculdade de Filo ofia (devido a u ari,
Universidades. Em 1819 (Conferência de Karlsbad), decidiram nomear um 11\,"111(0) IIV-ss 2,1% dos inscritos."
seu representante junto de cada uma, figura que, em 1848, foi substituída ( ) d -scnv lvimento econ6mico e industrial também in idiu no ,111
pelos Kuratoren, embora com poderes muito limitados. E, como é lógico, 111111111 d,l pIO ma do curso e pecializados oferecidos pela Technischen 110
em épocas posteriores, de maior assomo estadualista (e nacionalista), esta 1/1" I'II/m. } A 1'01 ula ão estudantil destes estabelecimento tripli ou (à vol
presença tornar-se-á mais vigilante e activa, vindo a atingir o seu paroxismo 11 d, (lOO, '1111871-1872, para cerca de 17000 em 1903), enquanto que
I di Uuivcrsidade duplicou, sinal de que aquela começavam a dispui,u
totalitário e racista durante o Ill Reich.'?
Também o funcionamento da autonomia interna não deixava de , 11.1h,l\!' ti ' r' rutamenro. Todavia, isto não quer dizer que se arninhnva
gerar algumas injustiças, que agrediam os autoproclamados critérios merito- 1'",111"1 ,j\I'l11adual àfrance a. As elites e a intelectual idade om inAuAllli.1
cráticos. Se o sistema de escolha dos docentes pelos alunos e o dos concur- 111 111I d.ulc ,li .mã continuarão muito ligadas ao meio univer irári .
sos, em função do trabalho de investigação, constituíam factores dinâmicos
- como era o da concorrência dentro e entre as próprias Universidades -,
houve casos (e épocas) em que os recrutamentos foram ditados por motivos Hl - O MODELO INGLÊS

extra-científicos. Em 1830-1840, muitos cientistas judeus tiveram de emi-


par d fran ê e do alemão, costuma-se destacar, pela sua ori
grar por razões religiosas e políticas, nomeadamente para França. O mesmo
1'II.alld,III' . urra â ,o i tema da Inglaterra, cujo entendiment r ''lU -r,
aconteceu a alguns docentes liberais (em 1837, ao chamado grupo dos "7
11111 dI' tudo, lima perspectiva de longa duração, tanto mais qu , nos il1{
de Güttingen"). E a agudização dos conflitos sociais e políticos, nos finais de
I 11 do, ~ ulo XIX, ambridge e Oxford eram as úni as Univ .rsidad 'S .di
Oitocentos e da primeira década do século XX, reflecriu-se, intensamente,
66p or outro ld , 11'I1t'\. I .ontinuavam a gozar de autonomia em relaçâ ao Estado, ~.I
..
no seu mtenor. a o, t al como ocorrera ' em França, a hierarqui-
I 1111111.1 11 ,10 usuirut de ben fundiário e pelas sua e treitas relações (111I
zação do poder dentro dos grupos de pesquisa gerou um sistema de "rnan-
darinatos", alguns dos quais com interesses ligados ao desenvolvimento da
I 11'''1.1 IlIgli ,\11<1. Fun i navam, por i o, como orp ra õ s aUI norn.is
indústria." O que, igualmente, se repercutiu numa maior valorização das (r'// '(I/'('I/Iill,~ , eLf upporting), ir undadas d colleges, nd " sob a dirc ~.IU
ciências da natureza.
d, 11111!l' in ipal, s fellows e s imple estudam (IIndergrrrdlll1fl') vivi.un
111'OIll\IIIl.
Num outro registo, a Universidade alemã também tinha por voca-
(),.I. 110Sprirnórdi s d ito em s, a ua irua 50 .ru d ,<.: r i~ '. FIII
ção formar elites. Elegendo, como referência, o ano de 1865, sabe-se que os
I H 11),I UIII.IV.11llOn1 a adrni á anual de 820 alun s, números (lU '~' vitu
seus estudantes somente correspondiam a 0,5% da população. E a evolução
I 1111111nív ,I dos 10 s \ III XVIII. A au a de ta ituaçâo r -sidium 11,10'o
da sua origem social denota a passagem de um estádio, onde dominava o
1111 , ,,\, IHlm ',\I lidos na obri açâ d r id ~n i, n 'i dos 01~>imo 111.1\
filhos dos funcionários (38%) e, mais genericamente, da burguesia culta

30 TRAJETOS - Revista de História da UFC. v, 5, n. 9/10, 2007 II A" I)' I vlal d 11116rl dure. v 5, n. /10.2007 \I
1111111111 .1Itlln.ld.1 I· .onsci -n ia d 'qu 'era nc .ssário r .nov.u l' .\ob
também no facto de, em certa medida, elas serem Universidades da Igreja, já
" 1'1 I" d, 111111.1\ '. P ti n ias (Iranc sa , as ,sobretudo, ,11'111.1\)
que não aceitavam a admissão de não-anglicanos. Algumas alterações, como
11I ,I" 111.1dl I H O ,1 1880, . d .baccu, m lnglar 'IT,\, o modelo tl"
a progressiva introdução de exames (tripos), irão contribuir para uma relativa
melhoria da qualidade do ensino. O que não impediu que, em 1850, tivesse 11 111111""1 IHllldt'IÍ.I, [orrnn à inrel tual c m ral d h m '111.Pl',,1 t'\
sido formada uma comissão real para inquirir o estado decadente dos dois 11 I li di I1 ,\"t ,,-l.I foi, s -rn dúvida, o cs rim de]. 11. Ncwman ('I/li' Irll'" 11/
estabelecimentos." Por outro lado, a sua vocação, agora numa sociedade em t , 1I 11' I H I) ',\\ tornada dc P içâo d pen ad rc m John SIII,IIt
acelerado processo de industrialização, levava a que os desenvolvimentos I 11 1I1 11 1111I . Marh 'W Arn Id, etc. A análi e d s eu c ritos P '1Il1l\(
no campo do conhecimento ocorressem "outside the formal structure of 1"1,\11 ,1.11I1!l"1ll ulérn-Man ha, O problema 10 alizava na ljll'I'!.1
universities, which had a powerful institutional conservatism that tended to I I II\IH \ l'lllI 'o .nsin gen rali ta e a e pe ializaçâ .
give a bleak reception to intellectual innovations"." Ganha assim sentido a c uuuuumvnt " as te c de Newman âo apre entada .ornu a '11
afirmação de que a verdadeira génese da Universidade inglesa moderna está I tltI 111.1.P.lra ,I', a Univcr idade devia continuar a cr m,li, 11111
ligada à fundação da Universidade de Londres, em 1836. 111 ti ti I I1 11I1l,do ll" ' ti ' p .squisa, e ter um cariz mai geral, irucl ' tu.il c
Sobral Cid, ao sintetizar o modelo inglês, mostrava-se bem infor- 11111li tllI ,\"1 p,ofl\sional, r, rne endo ao estudantes uma ultura, ass nl
mado, quando, em 1907, escrevia: "a Universidade inglesa não é uma cor- 111 1111111 1111ti Ide, (/ibmd educationi. Apontava, a sim, para a forrnaç.io dl'
poração para a investigação original e descobertas científicas, missão que I I 'fi', ,lIli .11110 ,I fragmcntação dos sabere, realidad ó sup i.ivcl,
pertence às academias e reais sociedades, nem organizada para a habilitação I"" 111,"111" 111" 'sso da t .ologia ao papel de ciência harnei ra do sist 'Iu.t,
ao exercício das profissões liberais, ensino que na Inglaterra está domiciliado I I I 1" 11I .tIl1 "tI , ' opusc: à e ularização do en ino.
junto dos grandes hospitais para a medicina, nos tribunais para as carreiras 1,,1111SIII,III Mill, Marh w Arnold ou Thoma Henry l Iuxley 11.11l
na magistratura. São na realidade instituições de educação tradicional, fre- 11 1111111I1I1I11ld "L S prin ípios, ituando- e a ua divergên .ias, ,ob"
quentadas, ou mais rigorosamente habitadas pelos descendentes da nobreza 11111 111tltll"\.1 lLI S' ulariza âo e na solução que aprc enravam 1'.\1,1I
e da grande burguesia, abertas a todos os jovens inteligentes e de mérito, por I I I 1I 11111.\111 o "conílit da Faculdade". e Newrnan ar .luvu p.II,1
meio de bolsas de estudo - fellowships - que atraem os alunos mais brilhan- I I 111"1'11, 111,111 Mil! • Arn Id atribuíam a vocação unifi adora J 1I!t1l1.1
tes das escolas médias do país"." Combinando a educação clássica e huma- 11111111. "1i".III\() quc Huxlcy, mais po itivi ta, eguia cx rnplo 11.1111\
nista com a educação física, as Universidades tradicionais consideravam a lu 111 I I I'"blll ,I: .tb 'ria à iên ia experimental enlaçar a diversidade do
especialização incompatível com o seu ideal de educação liberal." 111111 1111111110\ ensina los na Universidade." Dir- e-ia quc aqui se ',hllt,.1 ,I
A criação da Universidade de Londres tem de ser encarada como 11 1111IIlgIl'\,1 do d 'bal br a "dua cultura".
uma reacção contra o cariz confessional de Oxford e Cambridge e como I ,I IIIOV.l<,.'1O foi mai fá il na quc tinha ido riada de novo ,I
um acto de modernização, que também procurava responder aos interesses 1I11I I Id,ldl' dt' Londres ,ela revelava- e mais difí il ndc irnp 'I,\V,I ,I 11,1
das novas classes médias, engrossadas pela industrialização e pelo crescimen- Ii 111 11.111I ljm'ri.1 provocar rupturas ou extin Õ s à francesa. .\l1\htidl'
to das cidades. A nova instituição secundarizará a importância da teologia. I I 1"11111.10im roduz.ir mudança imp rtantes, devid ,sobrcludo,.1 Pll'\
Será, igualmente, a primeira Universidade britânica a constituir-se sob ba- " ti I 11I11'd,lllt-,do pod 'r r lltico. Nos ano de 1870, S .rao olu ig,lll 1\.
ses seculares - nos seus primórdios, ela só instituiu as Faculdades de Artes, 1111'11\.1111 '1110, J sua r .forrna mais importante d .sd ' a ld.id ' Médi.I' m
Medicina e Direito (a de Teologia somente será criada em 189878 - e aquela 111.111111 11.\11,111,li anos 'a mulh re 80 foram finalrn nu: ,Idlllllidm,
em que o utilitarismo inglês encontrará algum eco. Tudo isto contribuiu J 1/0/1'1 ti", I()//(',~t'f nuiorizad a a ar-se, No entanto, o ,1 t'SMl f -miuiuo
para lhe incutir uma orientação menos generalista e mais especializada. Bem I" I" 111 IlIII '111' o 'orr 'd. '111 1920 ( xford) ,'m ,ambridg', -m Illl/H,
vistas as coisas, nasceu como uma espécie de federação de instituições autó- II1 10 IlIl'llllfvo a 10 ará t r ' magadoram .nrc masculino d.1 .dl.1 ·dll
nomas. Partindo do University College (1828) e do King's College (1829, 11\IlIgl.lI -u.t. No .ruant , '111 18 8, tinha ab .rro, '11\l ouch ,,o I I
1831), englobará, também, escolas ligadas a hospitais, a Royal School of olllT( (o IlIlUIO B xlford Square for WOI11 .n), " 111I HC>7, ,I lJllivll
Mines, o Royal College of Science, o Central Technical College, a London di 1IIIIdl 'S r' onh ,- .u as rnulh 'r 'S O [ir 'i\O a obt 'I' '11\"( t'lldl .111
School ofEconomics (1895).

32 TRAJETOS - Revista de História da UFC, v. 5, n. 9/10, 2007


of Higher Proficiency". Mas, aqui, o acesso aos graus somente ocorreu em
A JlMl'RGl'NTE UNIVER IDAD AMERI ANA

1878, tendo surgido as primeiras quatro graduadas em 1880.B!


( ) I\\od ·10 inglês, disrinto do fran ê e d alemao: foi matriz do
As reformas tiveram ourros efeitos. O predomínio dos estudos clás-
' I V'II 'Sl '11'a'percorrer um caminho próprio. sobr 'Iudo .1
sicos e das matemáticas deu lugar a uma maior relevação das ciências expe- 111111\.1110, I Ol,l '" c 'I I
'I'· I~ ia do sê ulo XIX.85 Sublinhe- e que, iI l.II.1 l,l
rimentais, da história do direito e das línguas estrangeiras. E, de acordo com I' 11111\ I,I 11l'\ li 11m.ls l e ao, .' . _ . ,.' ., .
IlId\ 111Ildl'lll LI, vomcnte existiam dez msnruiçoe de ensm s~lpellol }Ulllt
o modelo humboldtiano, em 1871, entrou a pesquisa (sobretudo em Carn-
11, l hu v.u d, I (dó; Yale, 1701; Prin eton, 1746; olumbia, 175 I), (h
bridge). Naturalmente, este renovamento terá efeitos ao nível da procura:
I I 111,I lJllldm, ti 'pois de 1776, empenhar-se-ão na criaç.ão de OUIl.IS, o
em 1861, ambos os estabelecimentos tinham 2400 estudantes, quantitativo . d d b d . sector públi o . um 0111ro
1'1 .lru 01 if;l'1lI .1 um sistema es o ra o. um .' ' ;. ,
que passou para 3690 em 1871 (aumento de 54%), 4710 em 1881 (28%),
\'11 11111,1\\,11\ Iun . c .rn boa parte herdeiro dos pnmelfos coLLe~es,~"SI.I. S
5100 em 1891 (8%) e 5880 em 1901 (15%).82
11111111.1 \ 11"11'11,embora predominasse o college residen~ial de upo ".,gk.~
Seja como for, a resposta mais imediata do ensino superior às ne-
" 1I 1111110 \', '111g .ral, de ariz literário e religio o, e tivesse por obje uvo
cessidades de uma sociedade a viver uma galopante industrialização (e con-
I, '11111111111.1
elite rcsi rita. ..
sequente urbanização) veio, tanto das mais tarde chamadas civic universities 1'1110111ro lado, durante muito tempo, a preparação e a CllIh.1
- criadas sob a iniciativa do Estado, ou, então, das autoridades provinciais 1111IIIIIts,i(\II,tI, ial c mo na rã-Bretanha, provinham de corp~raço 'S •
e municipais, movimento que se acentuou nas décadas de 1870 e 1880, a . . LL E o que prercnd Ia 1111111I.1
111111111IH'\ P,llllLulares exrenores aos co eges. .
partir do exemplo de Manchester (1851) e de Newcastle (1871) -, como 111., ,\lI qlll' I(mc para além do B.A. (bachelor o/ arts) eram obn~adm ,I
de escolas especializadas, que perseguiam objectivos mais pragmáticos. Por 11 1111' I hllIlP,\. (Re orde-se que o primeiro doutoramento conferido 1'01
outro lado, a preparação e a certificação para o exercício de certas profis-
ti,1IIIIllltl' St' deu em 1861). .
sões (advogados, médicos e engenheiros) estavam nas mãos de associações I h vido :1 sua gênese, o governo da Univer idade era excr "~O1'01
de classe. Estas conseguiram reactualizar tradições medievais corporativas e
I I'I"I·I'·\S
1111"11'I ,111\ , '"
nomeadas pelas entidades fundadoras (autorld.nlcs
~
resistir, até muito tarde, às críticas do Parlamento e às iniciativas das Univer- 1"11111.,,, lOIlf;IL'g.\I;OCS, fundações privadas), e o en ino tinha uma. UIIl,,1I1
sidades para lhes retirarem esses poderes." 1"' ,\ 11I'IV;\I11I'I1I'tran mis ora de conhecimentos, sendo a peSt~UI~:I.I,II,1
Note-se que os estabelecimentos mais técnicos, apesar do seu pres- I '1111111111, ,I lrcquôn ia dos colleges foi aumentando de um m~6do slgl1dll,1I1
tígio, não tinham por vocação formar as altas elites políticas e burocráticas, " 1" 1111dl' IHOO alunos, em 1800, para 32364, em 1860. . _ .
como em França, tarefa que continuou a cargo das Universidades e, em ( )1.1 se, 11'S[' arranque, é notória a inAuência da rradiçâo 1I111VlI
particular, do eixo Oxford-Cambridge. Estas manter-se-âo como o destino 11111I I ItllI'l,tI hritâni a, ela também tem a marca do modo 01110 Sl', tini
natural das camadas sociais mais altas, ao invés do que acontecia no sistema , ,"IIIIIII,I~,1I1 t' 01110 nasceu a nova Nação, com uma cultura .rl'pl//JIll'lllIiI
francês. (Os custos dos estudos em Oxbridge, de um aluno por ano, ron- I•• 111,Idll 1111'd,1 f'I,lncesa, porque radicada na ideia de omul1ldad', olld·
davam o rendimento anual de uma família burguesa). O que talvez expli- ""11 101110 ,I ,IS~O.inçao, a vida 10 ai e a religião se intcrli,g:wam. 1\ '.'11',
que por que é que "the new colleges in London, and others in the English li, 01 \"111.11,1111 S' irucr ·ss 'S c onórnico e solida~'icdad :s pra~1 <I:'de Im!.1 ,I,
provinces, did not succeed in establishing a rival university model in public '.\ 1'()Ç~l() de omunidade evolUIU, rapldal11l: 111<.:
, 1',11,1,I dl
111I I , I' ' Io l 111 • , . . ., .. ,I '
mind, and by the time this sector began to expand the reform of Oxbridge 1111\1 11110 '01101, , "'1 .o , ou cntao
,'-" I)ara o terrcn mais 111t11111~lad.I' 1<':,I~III'
was well under way. The result, and one of the keys to understanding Eng- ti 1:\ltll,III~,1. r lU'
lish higher education, was that expansion and differentiation took a hierar- \0\1.1 h.•, ' " importam " tanto mais que o nú !co IOIlC l as I1IV~'1\1
chical form". Isto é, Oxford e Cambridge continuaram a ser Universidades I "I 111111 k,\I\'1\ S 'I.Í con .bido, gcrido c d 'scnvolvldo dentro do t'\PIIlIO
nacionais, ao serviço do rejuvenescimento das elites de tipo tradicional, "but 01 '1\'I~OlOlllllllidrio", ti' arácter rUI1 ional, lnstrurn 'mal .. !",lf'lIl,IIIIO,
did not attempt to serve the full range of middle-class needs", as demais, e, I I OIIll.IV,1 '111posiçô 'S d .concorrên ia em r~bç,l~ aos 1I1111l,ldol ., do
em particular as civic universities, "were angled to local demands and catered 1III,m, illl it.mdo os a participar '111no s 'U finan "1,1111 'lHO ',1'011,11110,
for rather lower strata of the middle class". 84 1111 m C'II V,lm dL' ti iI' ç,lo. Daí, ,\ sua tcndên ia pai ,\ S ' lOlI1,\1 '111 'li 'I" c

34 TRAJETOS - Revista de História da UFC, v. 5, n. 9/10, 2007 11 111\)' li vi 111c\ 111iórln U I urc, v 5, n /10,2007
a ", preocupada com a ef á ia e atenta à alteraçé da pro ma o ial ' 1I1 nu dll'",I\ til 1111.11 -m 11.1Ullivl'"id,1 I" mouucnr« ,1\ dl' II,IIUI 11
, . 87 b
econorrucav, em como o seu estatuto dominantem nte privad ,ond c I" " I I .1 '11-,ld,l' ,10 mundo 1.1t' OIlOl1li,1 d,,, ÍlI1.\lII"I\."·/1,,1.1,11,'1-
prática da filantropia e do mecenato desempenha um papel cru ial, ara- 111I "111\1111, h.u ion S hool of l'inancc (inaugurad.. '111I HH I, 11,1
terísticas que surgirão, ainda com mais evidência, após a ua (relfundação, I ,,1,,11 d,I I' milv: IIb) " II<Hv, rd Busin " . hool (I <)08).
na década de 1860. 1111I 1.1\(lI I '111' r -novadora qll I 'vou Vai' a auibuir () S 'U pl im -i
De importância decisiva foi o Morri! Act (1862), assinado por Lin- IltI I ItI I Hell. l l.uvurd o s 'U prirn 'ira doutoram 'lHO, .m ,i~1I i.I\, '111
coln nas vésperas da guerra civil. Com a finalidade de encorajar o desen- I 1'1111.1111' 1880 1885, se [ nhr m douiorad 'r ,I U '<)00 illdl
volvimento da educação liberal e a prática das "classes industriais adaptada I ItI" 11I lllli ,,,j lad 'S arn 'ri anas. lni iava- 'um per urso que "'fI'
às diversas profissões", o Estado federal doou grandes extensões de terrenos 11I dIlIIlIlIlU,.1I1d.1 pm ura da Univ r idad eur peia por 'wld.IIII"
às comunidades para criarem escolas dedicadas ao ensino da agricultura e I" 11111 o , '\I n lim 'r orui n u u a au mental' s6 até à dé ada d ' IINO
da mecânica. O que gerou o aparecimento dos Agricultural & Mechanics 111111111111 11.1 apa idade de adaptaçâ do m del à ma sif , áo 'd'
Colleges (A Y M Cofleges), instituições voltadas para uma educação mais 111' 111111 111do 'mino superi r (em 1900, exi tiam 250000 ' rudarucs no~
profissional. Mas os fundos adquiridos também impulsionaram a reforma I~ ), 111111.1\ mulh 'r' sravarn numa per enragern bem rnai r do qu
das próprias Universidades, pois fizeram aumentar a convicção de que o I I 1111111 I ( S U 11ivcrsidades d tado, particularmente no c te, abri ram
modelo anterior - ainda excessivamente dependente do inglês - estava de- 1"111111.1 .to f -minina a partir do meado do é ulo XIX). .
sadequado a uma sociedade mais democrática, industrializada e pragmática. \ 1111''mio, a inAuên ia alemã nos EUA deve er matizada, 1.\11-
Para a concretização desse renovamento, os reformadores voltaram-se para o 11111,'1"' .[,1 roi lO ada não s6 pela tradição anterior - onde era f, rtc .1
exemplo alemão, então no auge do seu prestígio. I I til I d.1 \0 i xlad ivil -, mas também pelos valore e expe tativas 'lU
Resultados deste intercâmbio encontram-se na abertura, sob a pre- ItI"llIl I .1111.1 visáo americana do mundo. E se, na Alemanha, a problcm:
sidência de Daniel C. Gilman, da Johns Hopkins University (1876)88, e I I .I I I lniv ,tsid,lde remeteu para fundamentações rneraf ica a 'r ,\ d.1
na orientação que Samuel Eliot Morrison - que visitou a Alemanha em 1111,,1111/11 rluwrsn ti aberes, na América essa discus âo car cia de ntido,
1863 - imprimiu a Harvard. Generalizada, esta política veio a corporizar o I I 11Idl',tI d' iência não tinha finalidades emancipat6rias; aber era po
tipo de Universidade americana: quatro anos iniciais de ensino geral (Col- I I 1'11111111\'guint , era-lhe relativamente indiferente a polémi as brc .1
lege), onde as especializações eram meramente embrionárias; e um ciclo II 1111I I'l'i'l .mológica entre ciência e técnica, ou a atinente à con tituiç.u:
posterior, de pesquisas mais especializadas (Graduate School), organizadas I1 IIlIlllllIll 'IHOSobjectivos, que deviam ser postos ao serviço da uma mo
em departamentos. Todavia, se o modelo alemão não foi estranho a estas I ti ," LtI (' I ívi a, omo no positivismo francês. Interessava-lhe, obretudo,
mudanças, não se pode esquecer que a sua recepção foi mediada pela memó- I '" 11 "O I r qll a ciência tinha para resolver tecnicamente probl '111,1'
ria da herança inglesa e colonial, pelas características específicas da cultura I" 11111• li '111qu fo se aprendendo através da reconsticuição experim ni.rl
americana, e pelas necessidades de uma sociedade em acelerado processo ,111111111 I,il io que, primordialmente, levou à descoberta científica. E ''1'excm
de modernização da indústria e da agricultura. Por isso, mais do que uma ,,11.1 Ikllj,lmin Franklin illusrre bien cette attitude, qui era ensuit sy~I{o
imitação, procedeu-se a uma síntese. 111111'1"('111 '1Il développée par Ia philosophie pragmatique, tant sur 1 1'1.111
Ao invés do que acontecia na Europa, as Universidades america- 1'1 1Imologique, qu'éthique, politique et pédagogique"." .
nas foram desde logo sensíveis à formação profissionalizanre e tecnológica, 1',111 n lu âo: se se quiser fazer uma sínte e final re p itantc .1\
separando-se do clássico modelo inglês, mais generalista e mais voltado para I I1 11(\ d,ls niver idades europeias com a sociedade de de os iní ios do
a formação do gentleman. E se, na sua conciliação entre o ensino e a inves- IlltlO I ,p der- c-á detectar, em termos comparativos ma g n ri os
tigação, ressoa o eco do exemplo alemão, foi-lhe estranha a querela entre 11111 (Ill rono ,tr~ fase essenciai, muito condicionadas pelo ritmos do
o cultivo da ciência pura e o distanciarnenro perante a especialização. Elas .t I nvolvi 111-nr industrial. a primeira, as Universidades ntinuar.uu a
pro.cura~am especializar a própria investigação, através de uma pesquisa pro- I 11111'1,pr .d minanternenre, os filhos dos velhos proprietári rurais' d.ls
fisslOnallZada e do ensino de matérias que os preconceitos europeus ainda 1111 I'lo/lssionai. Na egunda, que se deu por volta de 1860, m '<,.11,\111

36 TRAJETOS - Revista de História da UFC, v. 5, n. 9/10, 2007 I1 AIOS Revista de Hislórla da UFC, v, 5, n. 9/10, 2007 \7
CH .omc
1IIIII,iI Il\ll'I,I//I.rll .• p.7. 1 I) . I) I' 19""1 P
a adaptar-se às necessidades das sociedades industriais, tornando-se mais re- , V 11' I .• dI! Universitr:s. aris: " ;t,.
I I I 11\1 IlIl'ltl ( h.1Ik . ,.\qllt:\ 'r' ·r. ts om
ceptivas à formação para as novas profissões em crescimento. A terceira, que I p . M' .
I I I' 1111 1\\lllIdil'll. I (I Noble t' (rEIIII. rondes Écoleset esprit de corps. ans: inuit,
de orreu entre 1860 e 1930, caracterizou-se por um grande aumento do nú-
mero de estudantes e por uma mais sólida consolidação do ideal de pesqui- l'III'I,lllly •..•
IIIIIII.IIII.cil.,p.27. E XiX 'el Essaid'histoirecom-
I I 1 1111IlIl'h\' Ch,u l '. Le !tll{!/~ectttelsedn !~roPlel aux i: 1~~~:i900. Paris: Minuir,
sa, "combining scholarship and teaching under direction of an autonomus I " I I' .11 I' ,.... c '\1'11 11'96
t ;! ,
. Nnissance es mie ectue .
a ademic profession" mulheres - e nos ritmos próprios que pautaram o seu 1'1'111
processo de modernização (incluindo a tardia industrialização), não deixará I I I tllI Itl 11.1\11,1111. cit., pp. 2-33. .
I I I Ittl 1111'"' ~h.lIl· ja que Verger, ob. ctt., P: 71.
de reflectir, no essencial, estas modificações.
I I 11 11I 111.1111.li". cit., p. 3. c I d I" nr supérieur et l'idéologie
W' "I' .orps prore sora e enselgneme
I I 1,111'1',1 '1\1.
I, 11 li 11111111'
:c ~
F
unlver narre n ran e,
1860-1885"
.
Revue Française de Sociologie, t.0
111 11)11. p. O}.
NOTAS
I I 1' I) AlltI 'IWIl, ob. cit., pp. 43-44.
I, 1I!f',1 WI I", art. cit., pp. 203-204.
"Oração de Sapientia recirada na sala grande dos acros da Universidade, no dia 18 de 11111 11,lId, li". rit .• t" 11, p. 241.
Outubro de 1907, pelo dr. José de Martes Sobral Cid, lente carhedrarico da Faculda-
111 1.111Itlll.IUt, ob. cit., p. 95. , fi . (J870-1914) Paris: PUF,
de de Medicina", Annuario da Universidade de Coimbra. Anno lectivo de 1907-1908, I I C I )1\'.1'011.I1I Cri e allemandde de Ia pensee '(mçazse .
Coimbra, Imprensa da Universidade, 1907, p. XXXIX.
III 1'1 . . 40 P '. S '1
1 É exrensíssima a bibliografia sobre este tema. Entre outros títulos, vejam-se: R. D. I I 1 1111IIIph' Charlc. La République des uniuersitaires. 1870-19 . ans: euu,
Anderson. European universities jrom the enlightenment to 1914. Oxford: Oxford
1'1'11. I' ) I . \\.; Alain Renaur, ob. cit., P: ,97. . . . Minuit 1987; Louis Le-
Universiry Press, 2004, pp. 39-50,176-190; Donald N. Baller e Patrick ]. Harrigan I I I I \ !I11.\\1i. /.I!S Philosophes de Ia Republzque. Paris. L '.. de Ia laicité
(ed.). TheMaking ofjrenchmen. Current directions in the history of education in France, . . ..
I 11111 I '1/lI/llr11erriu pos/tlvlsme
da ns l'oeuur. e de [ules Ferry. es ongmes .
1679-1979. Waterloo: Historical Reflections Press, 1980; Anroine Prost. Histoire de
l'enseignement en France. 1800-1967. Paris: A. Colin, 1968; Stephen D'Irsay, Histoire
1'111 t\11I1l1 Rivi r , 1961, pp. 217-237.. . t 1863 1914" Donald N.
I I I ,I 111 ~\l' Wl'Íw. "'I he anaromy of University re orm. - .
des Universitésjrançaises et étrangêres. 2 vols. Paris: Editions Auguste Picard, 1935. 1111, 1 I 1'.l\li\ k J. l larrigan (eds.), ob. ctt., pp. 3Al64-~7~. b.ri: 153 e ss
\ Para uma informação estatística mais completa, leia-se Louis Liard. L'Enseignement b d sintetizar leia-se all11'o.enaut, o . CI ., P: .
,[ti 11\1Ili o 1\'" se aca u e.. Ia', h' 2' ed Paris: Germer Bailliere,
supérieur en France. rO I. Paris: A. Colin, 1908. I I I 11111I i.ud. I fi cience pos/tlVe et metap 'YSlque. .
I Cf Alain Renaut. Les Révolutions de l'Université. Essai sur Ia modernisation de Ia cul-
ture. Paris: Calman-Lévy, 1995, p. 161. I1 11\"1111 I\UI kc. A locial history ofknowledge from Gutenberg to Diderot. Cambridge:
~ Cf. Pierre Rosanvallon. Le Modéle politique jrançais. La société contre le jacobinisme.
1',.II1Y 1'11''', 000, pp. 82-90. . d'hi . . P is: al-
Paris: Seuil, 2004. I I I I.I\IlI Ni olct. L'ldée républicaine en France·Ifssa/. zstotr~crttlquí' Par~: 'l-
" François Furer, "Préface". Terry Shinn. Savoir scientifique et pouvoir social. L'École I)H I) 07 e .: Pierre Bourerz. La Republzque et l universei. ans: a
Polytéchnique. 1794-1914. Paris: Presses de Ia Fondarion Nationale des Sciences Po-
litiques, s.d., pp. 5-6.
I1111111 I. I ,..'
11111111.-non, pp.93-95;)ohn Heilb~on,
.
t 45
b. ctt., Pj; 3 e ;s ... Gallimard 2005.
I I 1I 111F.lhi '\1 SpilJ .. Le Moment repldtbtc(amen rance. dans'Faculdades' passou de
Sobre a génese e evolução deste estabelecimento, veja-se Louis Liard, EUnioersité de . fi eiro do Esra o o orçamento as
II 111.1\111 .l\lOlO 1J1an 00 F 1913) a melhoria das insralações ' a
Paris. Paris: Librairie Renouard-H. Laurens Editeurs, 1909, p. 115 e ss.
I, \ IIIIIIH., '\11 1875. para 232280 d' em c 'd ogra'ficos repercuriram-se
,f. John Heilbron. Naissance de Ia sociologie. Marselha: Agone, 2006, p. 176 e ss.; N. I ont li'ti o d o en, ino 1 iga os ad tactores em ,
111111111,1 111 c resceu (de 488 em 1865 •
. ). Dhombres. Naissance d'un nouveau pouvoir: sciences er savants en France (1793- I Assim o número e proressores c
1111111111111101.\pro ura.vvssun, d estudantes parricularment'
1824). Paris: Payot, 1989.
1'" I I I1 (1\'\1\ 11)19). E o me mo acontecei na parte o~ 238 em i876 para 6586.
" Cr. Guy Thuillier. L'E.NA. avant l'E.NA. Paris: PUF, 1983. I11 I \I uld.ltI ., ti . Letra e iências. AldqudeeSdPaCs~~r~ e bir;m de 293 para 73 O.
II Cr. Maria de Lurdes Rodrigues. Os Engenheiros em Portugal. Oeiras: Celra, 1999, p. I e o das Facu a es e iencias su ,
19. 11\ 1'1 I. 1·"11ll.Ull? .qu mia estudantil- continuava a con entrar a pro uia,
1'ltI Il·1l1l0tl.ldllonaldeboé . I 5501. dose rudantcsdo
111Cr. R. D. Anderson, ob. cit, pp. 177-217.
I' Sobre esta vocação, leia-se E. Sulleiman. Les Élites en France. Crands corps et grandes
• 1111"11,1\t' 1101. um IIgello
· '. decré cimo Na capita estavam
~
upct ior em 1876, entra 43 lIo, em 191 .
onrudo 4 ,
70 c
em 1934-1935 •. ~~.
b .
écoles. Paris, Seuil: 1979. ," 1111 I
1111\1\1
• • de 54 901.
111VO I,IV.Ia cr e ,70. •
r
Christophe Charle e Jacque Verger, o . CII.• pp.
I I Sobre esra "Grande Escola", veja-se, por todos, a citada obra de Terry Shinn.
II r. Victor Karady. "li dualismo dei modello d'isrruzione superiore e Ia riforma delle li' I'\ . d d
I 111I HC, ,.\\ dif '1'"" as e ~ e.na
d rofessores titulares d e Pari
entre o p sara
ans e O~ cIa 1'10
3000); Medi ina (7000. 1'.\1.1
ra oltà de letrere e di scienze nella Francia di fine Ortocento". In: lIaria Porciani
lI•• I 11.~"1 .'.~,scglllntC : Dlr4eoltOoo()~4LOO
fra(I;~oOÓPpara 4000); Farmá ia (4000. P,II,I
(di r.). L'Università tra Otto e Novecento: i modelli europei e il caso iraliano. Nápoles: IClClII), ( I 11 1.1\(7500, para ,etras ,
.asa Edirrice Jovene, 1994, p. 63.

\"
I vlst d HI 16rl d UFC. v. 5. n. 9/10, 2007
lI! TRAJETOS - Revista de História da UFC. v. 5. n. 9/10, 2007
JOOO). :1. ,wrg' WeiSl, 'I! corpsprofi soral til! l'm I!iglll'lIIl'/It sttperieur I" I/dfll/II?.'I' I 1 11111 111" .11\1,1 I 11\0'\ ,I p,lIrll d,l !"dllllJ.'IIII//{(d' .ul.t d IH70), V 1,1lU >,
de la riforml! uniuersitaire en France, 1860 1885, p. 218. I I I'li ,/I, fi , 1'1'. 1(, 111,
1M ' bre este con eito e respe tiva apli ação na filosofia ideali ta alemã da Universid,ul " I I 'lI 11Ia 1111111W'UHI. ' 'M,IIHI.II in " od 'I 'AlI\l'ml'ilt'I'? S 'lblvt'IM:il1t1lli\ I) '1I1\t 11('1
leia-se R.D. Anderson, ob. cit., pp. 52, 55-57,103-104,110-112 111 ,ll.dtl, I (I ')()() 1').1.1)", ll'Ilg -n S hri .wcr, l',dwill I -in 'r ' ~hri~lOph'
19 f.. v.~n-Eric Liedman, "A Ia .~úsqu~da de Isis: educación general en Alcmanla y I 1I1I 'li' /li/, N,IIIIII 1I11tllllmrll'IIIi t/'I' Kulturen / À/li recherchr til' I'rSPIIf'f uu!
uecia . heldon Rothblart y BJOrn Wmrock (cornp.). Ia Uniuersidad europl!(/y anil!' I I""/'nl/ h,llIldllll .rm Main: P ter Lang, 1993, p. 18" 'SS.
rtcana desde 1800. Las tres transjormaciones de Ia Uniuersidad moderna. Bar elona:
1996, p. 84 e ss.
11 I I" I I .1111,111, (111. ri", pp. 9495.
Ediciones Pomares-Corredor, 11 1'"1111 11111,1,1 '1,1 do I 'lHO C desigual a esso das mulher as nivcrsid.id 'S
40 [R. D. Anderson, ob. cit., pp. 37, 62-63,131-132. 111111'1I '111111111,1\1' '11\ R. D. And irson, ob. cit., pp. 256-27 .
41 Cf. Rüdiger vom Bruch. "I1 modello tedesco: Università e 'Bildungsbürgerrum'". I I I" 1111.111('h,III't' J,\ ques Vergel', ob. cit., p. 65.
I1aria Porciani (coord.), ob. cit., p. 38. I I 11.111'I ","1 11,,1 h, 011. cit., p. 57.
42 Sobre o prestígio desta Universidade, consulte-se R. D. Anderson, ob. cit., pp 24-25, 1111 11111"1111111'\ 'I, a Technische Hochscbule, de Berlim harlottenbourg. s sc~s
52-53 11 111'li d ' 1799 . scrã tran formados em TH, em I 882~ arravé da ~1I ao
.1.11,1111
4.1 Cf. Alain Renaut, ob. cit., p. 114 e ss. I I I 11 • I lI! ,I'lim 'lHOS e pecializado . Nesta conjuntura, a mais recente f I a de
44 Cf. Christophe Charle e ]acques Verger, ob. cit., p. 64. 111111,.11111.111111904. hritophe r.harlee]acquesVerger,ob.cit.,p.IOI;
45 Cf. Alain Renaut, ob. cit., pp. 121-122. 11111 I 111111\111h, 1111. cit., p. 55.
46 Acerca das ideias de Kant e sobre o seu contexto universitário, leia-se R. Pozzo. I I 11111111.1!·( h.ulc e]a que Verger, ob. cit.,
pp. 74-75. . .
"Kant's Streit der Faleultdten and conditions in Kõnigsberg". History of Uniuersities. I I I I l hnmpson. "lntroduction". EM.L.1hompson (ed.). The Uniuersity 01
vol. 16, n? 2, 2000, pp. 96-128. I "/I IIIII/;'r /l1(lrld ollearning. 1836-1986. Londres e Ronceverte: lhe Harnble-
47 Cf. Kant. Le Conflit des Facultes. En trois sections. Paris: Librairie Philosophique]. 11111'1. ,I 'J')O, pp. IX-XXlII; N. Boyd Harte. The Uniuersity o/ London. 1830-
Vrin, 1973. I ,,11111.111 ,: 'I h, Athl ne Press, 1986.
48 Cf. Alain Renaur, ob cit., p. 143. 1 I I I I Ihumpson,ob. cit., p. X.
49 Cf. Miguel Baptista Pereira. "Universidade e ciência". Revista da Universidade de I '1/" Uniuer. idade de Coimbra. Anno lectivo de 1907-1908, p. XLI.
I I
Aueiro. Letras, n. 1, 1984, pp. 37-41. dI' t xford e Cambridge, e acerca das dificuldades da sua modernização,
I , I1 •
50 ~.tão em L. Ferry, ]. P. Person e A. Renaut. Philosophies de l'Université.
~raduzidos I I I 11I -rson, ob. cit., pp. 191-197.
Lidealisme allemand et Ia question de l'Uniuersité. Paris: Payot, 1979. (Contém textos I .111'~ J>y,IIIS."Theology", E M. L.1hompson (ed.), ob. cit., pp. 149-150.
de Schelling, Fíchte, Schleiermacher, Hurnboldr, Hegel). I 11I 111111Illl 'se do que se expôs, veja-se Alain Renaut, ob..cit., PP: 211-214 ..
SI C[ Miguel Baptista Pereira. "Considerações sobre a dimensão científica da Faculdade '11111'1110ná foi estranho à campanha
I I. 11111 que Stuart Mill, na linha do escrito de
de Letras". Biblos, vol. 59, 1983, p. 4. 111 ',,11\1011xraft, Yindication o/ the rights of women (1792), lançou com o seu
52 Cf. AIain Renaur, ob. cit., p. 130. 11 111 1/,/ vubjrction ofwomen (1861). . .
53 Cf. Schelling. "Leçons sur Ia rnéthode des études académiques" (1803). L. Ferry, J.P. I r ,tll!.II' ""lIh .rland, "The plainest principies oflustice. 1he University ofLondon
Person eA. Renaut, ob. cit., pp. 41-164. 11111rllI 1!11'1ll'1cdu ation of wornen", EM.L. 1homas (ed.), ob. cit., p. 35 e ss; R. D.
54 Sobre esta matéria, veja-se R. D. Anderson, ob. cit., pp 60-61,153-154. 11I. I 1111,pp, 264-266. .
55 Cf. Rüdiger vom Bruch, ob. cit., pp. 39-40; Alain Renaur, ob. cit., p. 145. I I I 1I Ander on. Universities and elites in Britain since 1800. Cambndge: Carn-
56 Cf. J. Dreze e J. Debelle. Conceptionsde L'Université.Paris: Éditions Universitaires, 1968. 1,".11" I Iulvcrxity Press, 1995, p. 14 " .,. .
57 In Louis Dumont. LUéologie alLemande.France-AlLemagne et retour. Paris: Gallimard, 111" ",.1.1 (!\la questão, leia-se Michael Burrage. De Ia educación pracnca a Ia edu-
1991, p.60; Pierre Bourerz, ob. cit., p.97. 11111I'IO! .sional académica: pautas de conflicto y adaptación en Inglaterra, Francia
58 Cf. E Nieczsche. "Consídérarions inactuelles Il" (1874). Oeuvres philosophiques com- I 1111" Unid s". heldon Rothblatt e Bjõrn Wittrock (cornp.), ob. ctt., pp. 156-
pletes. Paris: Gallimard, 1990, pp.119-120. lI,'
59 Idem, ibidem, pp.97-100. I II 11.1l'IW n . European uniuersities from the enlightenment to 1914, pp. 191-192.
60 Para se perceber as mudanças neste domínio, leia-se 1homas Albert Haward. Protes- I I 1.,111louraine. UniversitéetsociétéauxEtats-Unis. Paris: Seuil, 1973.
tant theology and the making of the modern german university. Oxford: Oxford Uni- I I I 111iviophe Charle e ]acques Verger, ob. cit., pp. 79-8 L , .• . . .
versiry Press, 2006. I I t.. ti. h ,I Frcitag. Le Naufrage de l'Uniuersité et autres essats d 'epistémologie politique.
61 Cf. Pierre Bouretez, ob. cit., pp. 97-98. 1'111 1.1 I \ ·ouverte/M.A.U.S.S., 1995, pp. 37-38.
62 Cf. Rüdiger vom Bruch, ob. cit., pp. 40-41. 1 I 11111,11Ilawkins. Pioneer. A history of the [ohns Hopkins University, 1874-1889.
63 Cf. Idem, ibidem, p. 57. " I lurqu ': Irhaca, 1960. , .
64 Cf. Christophe Charle e Jacques Verger, ob. cit., p. 68. Sobre este movimento estu- I I I "g 'r ;eiger. "Investigación, e.duc~ci?n de grad~a~os y Ia ecologia de Ias unl.~~r-
dantil, na Alemanha e em outros países, leia-se R. D. Anderson, ob. cit., pp. 72-74 ,,11111" 1'11 Estados Unidos: una historia lI1terpretanva . Sheldon Rothblart e Bjõrn
275-279. ' 1I111'lk (c rnp.), ob. cit., pp. 225-284.
65 Cf. Miguel Baptista Pereira. "Sobre o conceito heideggeriano de Universidade". Re- 111111I FI 'itag, ob. cit., p. 39.
vista da Faculdade de Letras. Filosofia. POrto: n? 14, 1997.

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