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A PRESENÇA DO LATIM

PUBLICAÇÕES
DO
CENTRO BRASILEIRO DE PESQUISAS EDUCACIONAIS
SÉRIE I GUIAS DE ENSINO VoL. 6
B - Escola Secundária

INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS


BRASIL - MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA
CENTRO BRASILEIRO DE PESQUISAS EDUCACIONAIS
Rua Voluntários da Pátria, n. 0 107
Rio de Janeiro, Estado da Guanabara - 1962
VANDICK L. DA NóBREGA
Catedrático da Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil
e do Colégio Pedro II, Membro da Sociedade Brasileira de Romanistas,
da Academia Brasileira de Filologia e da Sociétê Linguistique de Paris.

A PRESENÇA
DO
LATIM
I
(Metodologia e Instituições)

CENTRO BRASILEIRO DE PESQUISAS EDUCACIONAIS


INEP - MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA
Série I - GUIAS DE ENSINO - Escola Secundária - Vol. 6
A Presença do Latim

SÉRIE I - GUIAS DE ENSINO

A - ESCOLA PRIMARIA
Vol. 1 - Linguagem na Escola Elementar - 1955
esgotado
Vol. 2 - Matemática na Escola Elementar - 1956
esgotado
Vol. 3 - Ciências na Escola Elementar - 1955 -
esgotado
Vol. 4 - Ciências Sociais na Escola Elementar - 1955
esgotado
Vol. 5 - Jogos Infantis na Escola Elementar - 1955 -
esgotado
Vol. 6 - Música para a Escola Elementar - 1955 -
esgotado
Vol. 7 - Ethel Bauzer de Medeiros - Jogos para Re-
creação na Escola Primária - 1959

B - ESCOLA SECUNDARIA
Vol. 1 - Delgado de Carvalho - História Geral - Anti-
guidade - 1956
Vol. 2 - Delgado de Carvalho - História Geral: Idade
Média - Tomo 1 - 1959
Vol. 3 - Delgado de Carvalho - História Geral: Idade
Contemporânea - a sair
Vol. 4 - Alarich R. Schultz - Botânica na Escola Se-
cundária - 1959
Vol. 5 - Oswaldo Frota-Pessoa - Biologia na Escola
Secundária - 1960
Vol. 6 - Vandick L. da Nóbrega - A Presença do Latim
(3 volumes) - 1962

INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS (INEP)


(MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA)
1962

Impresso nos Estados Unidos do Brasil


Printed i,, the United States of Brasil
RELAÇÃO DAS SOCIEDADES CULTURAIS A QUE
PERTENCE O AUTOR:

Academia Brasileira de Filologia, do Rio de Janeiro.


American Philological Associati-on, de Philadelphia, U. S. A ..
Association Guillaume Budé, de Paris.
Cercle de Philologie Classique et Orientale, de Bruxelles.
Classical Association, de Oxford.
Linguistic Society of America, de Baltimore.
Sociedade Brasileira de Romanistas, do Rio de Janeiro.
Société des 11::tudes Latines, de Paris.
Société d'Histoire du Droit, de Paris.
Société des Antiquaires de France, de Paris
Société des Droits de l'Antiquité, de Paris.
Société de Législation Comparée, de Paris.
The Society for the Promotion of Hellenic Studies, de Londres.
The Society for the Promotion of Roman Studies, de Londres.
ABREVIATURAS

ACl.Lg. = Bulletin de l'Association des Classiques de l'Universite


de Liege.
AD = Acta Diurna.
AJPh = American Journal of Philology, Baltimore. John Hopkins
Press.
Ant. = Die Antike.
AU = Der altsprachliche Unterricht.
Auxilium =Auxilium Latinum.
AR = Atene e Roma.
BAGB = Bulletin de l'Association Guillaume Budé.
Bul.Soc.Ling. =Bulletin de la Societé Linguistique de Paris.
CI = Classical Investigation.
CJ = The Classical Journal.
Cl.Ph. = Classical Philology,
CO = The Classical Outlook.
CQ = Classical Quarterly Oxford University Press.
CR = Classical Review. Oxford University Press.
CW = The Classical World. New York, Fordham University.
Eranos = Eranos. Acta Philologica Suecane. Uppsala.
G = Gymnasium. Heidelberg, Winter.
GLOTTA =Glotta. Gõttingen, Vandenhoeck & ,Euprecht.
HERMES = Hermes. Wiesbaden, Steiner.
IQ = Quociente Intelectual.
JRS = The Journal of Roman Studies.
PCA = Proceedings of the Classical Association. London.
PW = Paulys Real-Encyclopãdie der Classischen Altertums.
REL = Revue des Etudes Latines. Paris, Les Belles Lettres.
Rev.Et.An. = Revue des Etudes Anciennes. Bordeaux.
Rev.Ph. = Revue de Philologie. Paris, Klinnische.
Riv.Fil.C. = Rivista di Filologia e di Istruzione Classica. Torino,
Chiantore.
RhMPh = Rheinisches Museum für Philologie.
RHS = Revue d'Histoire des Sciences.
TAPhA = Transactions and Proceedings of the American Philolo-
gical Association.
J e voitdrais aussi qu 'on fut soigneux de l1ti
choisir un conducteur qui eut plutôt la tête
bien f aite que bien pleine . ...
(MoNTAIGNE - Les Essais I, 26)

*
Wir blicken nicht auf das Wunder der
Antike in irgendeiner unklaren Schwiirmerei, so
warm unser H erz auch in Bewunderung vor
ihren Leistungen schliigt; es gilt für uns nicht
- um mich des Ausdrucks eines modernen .As-
theten zu bedienen - dem Ritf e der Se ele nach
dem Weiss und dem Bernsteingelb und dem Meer-
schaurnrosa des antiken Marmors und nach einem
purpurnen Himrnel - das sind Triiume, die den
einen erheben und die dem andern vielleicht
H emmitng in l[rafterfaltung und W eltanschau-
ung bedeuten: es gilt der immer erneuten Er-
kenntnis vom organischen Ursprung unserer
eigenen lebendigen Gegewwart.
(Trecho do discurso proferido pelo Secretário
de Estado - Staatssekretiir - JoHANNES POPITZ
na qualidade de Presidente da "Gesellschaft für
Antike Kultur". - Die Antike, V, 165).

*
W as ist heilig? Das ist 's was viele S eelen zusammen
Bindet; Biind'es auch nur leicht, wie den Kranz die Binse
Was ist das Heiligste? Das, was heut'und ewig die Geister,
Tiefer und tiefer gefiihlt, irnmer nur einiger macht.
(GOETHE - Vier Jahrzei.ten)
íNDICE

I PARTE

METODOLOGIA

A Presença do Latim . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
I - Fundamentos do ensino do Latim . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
O Latim e o Humanismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
O Latim e os objetivos da educação secundária . . . . 23
O Latim para as línguas românicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
O Latim: elemento de cultura histórica e científica 38
Depoimento de várias personalidades sôbre o ensino
do Latim . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
a) Vida pública . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
b) Homens de negócio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
e) Jornalistas .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
d) Engenheiros e Médicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
O Latim como instrumento de civismo . . . . . . . . . . . . 43
O Latim para a formação de líderes . . . . . . . . . . . . . . . . 45
O Latim para as profissões liberais . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
Profissão de fé . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
Sumário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
Bibliografia . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ... . . . . . . . . . . 47
II - Objetivos do estudo do Latim: seus problemas . . . . . . 50
Histórico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
Greene: ler o Latim . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
John Lord: poder pensar com precisão . . . . . . . . . . . . . . 51
Inquérito promovido pela «American Classical League». 52
Inquérito promovido no Colégio Pedro II . . . . . . . . . . . . 58
O tríplice objetivo de Hutchinson . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
Classificação dos objetivos do ensino do Latim . . . . . 84
a) Objetivos humanísticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
b) Objetivos de aplicação .. .. .. .. . .. . .. .. . .. .. . 86
c) Objetivos de formação literária . . . . . . . . . . . . . . 89
d) Objetivos de caráter disciplinar . . . . . . . . . . . . 91
e) Objetivos histórico e social . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
Sumário .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ... . . 97
Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98
Ill - Métodos de ensino do Latim . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100
Considerações preliminares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100
-8-

Os processos apontados por Engler e o método reco-


mendado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101
Condições apresentadas por Inglis . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102
Sumário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106
Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106
IV - Lingüística: síntese histórica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108
Definição e objeto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108
Primeira fase da história da Lingüística . . . . . . . . . . . . . 109
Bopp e a gramática comparada . . . . . . . . . . . . . . . . . 109
Schlegel e a metodologia da história . . . . . . . . . . . . 111
Humboldt e a lingüística geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111
Pott e a fonética comparada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113
Segunda fase da história de Lingüística . . . . . . . . . . . . 113
Schleicher e os três estados consecutivos . . . . . . . . 113
Curtius e a estrutura gramatical . . . . . . . . . . . . . . . . 114
Terceira fase da história da Lingüística . . . . . . . . . . . . 114
Ascoli e a glotologia italiana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 114
Schmidt e os fatos lingüísticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115
Schulze e os primitivos dialetos itálicos . . . . . . . . 115
Thomsen e os empréstimos lingüísticos . . . . . . . . . . 115
Stolz, Sommer, Walde e a fixação dos processos
da lingüística . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115
Bréal e os. estudos de semântica . . . . . . . . . . . . . . . . . 116
Saussure e a lingüística geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116
A ciência lingüística e a escola francêsa . . . . . . . . 119
Aplicação da lingüística ao ensinamento do Latim 120
Sumário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . 122
Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12·5
V - Leitura, tradução e versão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128
A) Leitura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128
A importância da leitura e a Classical Investi
gation . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128
Leitura do Latim como Latim . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130
A leitura cursiva dos professôres alemães . . . . . 133
Leitura como exercício de pronúncia . . . . . . . . . . . . 134
Leitura recomendada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135
B) Tradução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137
11: possível traduzir? . .. . .. .. .. .. . . .. . . . . . .. .. .. . 137
A missão de tradutor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 138
Processo de Schedd . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141
Conselhos de A. W. Smalley . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 143
Hoffman: o precursos de novos métodos . . . . . 134
Processo recomendado para a tradução . . . . . . . . 145
Os malefícios dos chamados burros . . . . . . . . . . . . 153
C) Versão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 154
D) Método direto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 155
Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 166
VI - A importância do vocabulário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 169
O vocabulário e o uso do dicionário . . . . . . . . . . . . . . . . . 189
Observação de Lodge . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 169
-9-

Recomendações de Harrimann . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 170


A densidade vocabular . . .. . . .. .. .. .. .. . .. .. .. .. .. .. .. 170
A utilização do vocabulário .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . 172
Bibliografia .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 173
VII - Posi~ão do Latim nas lingues indo-européias . . . . . . . . 175
História e definição de língua indo-européfa . . . . . . . . 175
Território dos indo-europeus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 177
Reconstituição do indo-europeu . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 178
Principais línguas indo-européias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 180
Indo-iraniano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 181
Grego .. .. . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1!11
!talo-céltico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 182
Albanês ......... ,·,;,............................... 185
Armênio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 185
Tocário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 188
Hitita .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 186
Germânico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 186
Balto-eslavo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 187
Sumário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 187
Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 188
VIII - Alfabeto Latino . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 189
Histórico .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1881
Estudo das vogais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 191
Alfabetos etruscos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 192
Quadro comparativo da evolução do alfabeto . . . . . . . 193
Consoantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 194
Ditongos ........... ,. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 203
Divisão das sílabas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 206
Quantidade das sílabas ........ ,·.................... 208
Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 210
IX - A pronúncia do Latim . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 212
Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 212
O problema da pronúncia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 212
Quantidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 215
Acentuação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 216
Pronúncia restaurada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 216
Esquema de Oxford e Cambridge . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 221
A qu~st~o da pronún_cia na França . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2·23
Pronuncia das vogais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 223
Conclusão ..................... ,. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 224
Bibliografia .......................... ,• . . . . . . . . . . . . . . . 227

II PARTE

NOÇõES SôBRE A VIDA PRIVADA DOS ROMANOS

1 - A educai:ão entre os romanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 231


Aspecto geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ?31
-10-

Ensino primário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 232


Ensino segundário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 232
Ensino superior . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 232
II - A casa romana e sua ornamentação . . . . . . . . . . . . . . . . 233
A casa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. .. . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 234
Ornamentação e mobiliário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 235
III - A vida cotidiana. As refeições . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 236
Primeiros atos: a salutatio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 236
O café da manhã . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 236
O almôço . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 237
Os banhos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 238
O jantar ....................... ,,. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 239
IV - A vestimenta dos romanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 242
A indumentária masculina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 242
A indumentária feminina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 244
Adornos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 244
Barba ............. ,. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . 245
Cabelo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 245
Calçado .. . . . . . . . . . . . . . ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 245
Chapéu . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2'46
V - Os funerais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 247
O desenlace . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 247
O sepultamento ........,............................... 248
VI - O livro e sua confeção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 249
Matéria prima . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 241
O papiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 251
JO pergaminho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 251
órgãos de publicidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 252
Os escribas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 252
As livrarias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 252
Leituras públicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 252
VII - Os jogos de Circo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 254
Aspecto geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 254
Os «ludi circensi» . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 254
Os «Iudi scaenici» . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 256
Os anfiteatros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 257
VIII - Organização militar dos romanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 258
O exército . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2'58
A marinha ........... ,. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 261
IX - A religião dos romanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 262
Aspecto geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 262
O sacrifício . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 265
O calendário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 266
Relação das principais festas .................. ,. . . . . . 267
-11-

III PARTE

PRINCIPAIS INSTITUI•ÇõES E SINTESE IDSTôRICA

I - A escravidão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 271
Histórico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . • . . . . . . . . . . . . . . 271
Condição social do escravo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 272
Situação jurídica do escravo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 272
Casos de responsabilidade do dominus . . . . . . . . . . . . . . 274
ProceSi!O relativo a liberdade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 275
Fontes de escravidão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 276
Extinção de escravidão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 247
A manumissão por vindicta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 247
Manumissão pelo censo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 278
Manumissão por testamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 278
Formas de manumissbo no Império . . . . . . . . . . . . . . . . . 278
Restrição à liberdade de manumitio . . . . . . . . . . . . . . . . 279
Condição do liberto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 280
Formas de manumissão do Baixo Império . . . . . . . . . . 281
Categorias do liberto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 281
Situações intermediárias entre a liberdade e a escra-
vidão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 282
Addictus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 282
Nexus .. . . . . . . . . . . . . . . ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . 283
Redempti . .. .. .. .. .. .. .. .. .. . . .. .. .. .. .. . .. .. . .. 283
Auctoratus . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 283
Pessoas in mancipio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 283
O Colonato . .. .. .. .. .. .. . . .. .. . . .. .. . . .. .. ... . . 283
II - O casamento e suas formas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 285
Noções do casamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 285
Cerimônia religiosa do casamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 286
Importância da manus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28'1
Requisitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2'88
Impedimentos .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 289
Casamento «cum manu» . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 290
Formação do casamento «cum manu» . . . . . . . . . . 291
Confarreatio . .. .......... .. ...... ........ .. .... . 291
Coemptio . ...... .... .... .... .. .. ...... .... .. ..... 292
Usus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 292
Dissolução do casamento «cum manu» . . . . . . . . . . . . . . 293
Casamento «sine manu» . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 294
Formação do casamento «sine manu» . . . . . . . . . . . . . . . 294
Efeitos ............................................. · . . 295
Dissolução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 297
Segundas núpcias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 300
Concubinato .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 301
III - O testamento ...................... ,. . . . . . . . . . . . . . . . . 304
Noção geral .... , . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 304
Testamento «calatis comitiis» . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 306
Testamento «in procinctu» , , ......... , , . . . . . . . . . . . . . . 306
-12 -

IV - Smtese histórica das instituições do povo romano . . . . 307


Noção geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 307
Divisão em períodos ............................. ,. . . 308
I - A Realeza . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 308
Os habitantes primitivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 308
Os etruscos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 309
Fundação de Roma . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 312
Instituições sociais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 314
Organização política . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 314
Fontes do Direito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 315
II - A República . .. .. .. . . .. . .. .. .. . . . . . .. .. .. . . . . . 315
Origens das instituições republicanas . . . . . . . . 315
O «imperium» e a «potestas» . . . . . . . . . . . . . . . . . . 317
A magistratura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 319'
Caracteres da nova magistratura . . . . . . . . . . . . . 319
Exercício da magistratura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 320
Atribuições dos cônsules . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 320
Questura .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 321
Consulado . . ... ... .. . .. ... .. .. .. . ... .. .. .. .. . 321
Pretura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 322
Edilidade curul .. .. .. .. . .. .. .. .. .. . .. .. .. .. .. .. 322
Triunviri reipublicae constituendae . . . . . . . . . . 322
Ditadura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 322
Senado .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 323
Comitia curiata . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 324
Comitia centuriata . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 324
Comitia tributa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 325
Concilia plebis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 325
Fontes de Direito Romano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 325
Costumes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 326
Lei ............................... , . . . . . . . . . 326
Editos dos magistrados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 326
Senatus-consultos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 327
Jurisprudência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32'8
Atividades dos prudentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 328
Patrícios, clientes e plebeus . . . . . . . . . . . . . . . . . . 329
Os tribunos da plebe . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 330
Elaboração da «lex duodecim Tabularum» . . . . 331
Loteamento do Aventino . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 332
Entendimentos entre plebeus e patrícios . . . . . . 333
A embaixada a Atenas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 333
Os decênviros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 334
Lex Duodecim Tabularum . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 335
III - O Principado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 343
Origem do Principado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 343
Tendências do Principado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 346
A cidadania romana e a constituição do Ca-
racala .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 346
Os comícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 348
Senado .............................. ,. . . . . . . . . . 348
Magistratura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 348
-13-

Novas magistraturas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 349


As províncias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 350
Costumes . . . . . . . . . . . ... . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . 350
Editos dos magistrados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 351
Responsa prudentium . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 351
Os senatus-consultos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 351
Constituições imperiais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 352
IV - O Dominato . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 353
Aspecto geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 353
Caráter do Dominato . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 353
Magistratura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 354
Os juristas e a profissão jurídica . . . . . . . . . . . . . . 355
Instituição política . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 356
Antigas magistraturas e o Senado . . . . . . . . . . . . 356
Tendências de jurisprudência na fa:::e buro-
crática .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 357
Fontes do Direito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 358
A lei das citações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 359
Compilações antejustinianéias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 359
O codex Hermogenianus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 359
O codex Hermogenianus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 359
O oodex Theodosianus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 360
Fragmenta Vaticana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 361
Collatio legum Mosaicarum et Romanarum . . . . . . 361
Consultatio ceteris cuiusdam iurisconsulti . . . . . . 361
Lex romana Wi:::igothorum . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 361
Lex romana Burgundionum . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3-til
Edictum Theodorici . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 362
Compilação Justinianéia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 362
Primeiro Código . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 362
Digesta .. . .. .. .. . .. .. .. . .. . .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. . 362
Institutas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 363
Segundo Código . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . 363
Novelas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 364
V - O Latim e a Ciência Jurídica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 365
Relações das principais leis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 366
Relações dos principais senatus-consultos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 376
Indice remissivo das principais leis e senatos-consultos . . . . 379
Apêndice: Normas estabelecidas para o ensino do Latim no
Colégio Pedro II . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 385
A PRESENÇA DO LATIM

O LATIM está presente na maioria das relações de que


cotidianamente participamos; na quase totalidade das
palavras de que nos utilizamos para transmitir o nosso
pensamento; nos costumes, que herdamos de nossos ante-
passados; nas obras literárias daqueles autôres, que ser-
viram de fonte inspiradora aos grandes gênios da huma-
nidade, em todos os tempos; no sistema jurídico, que
disciplina a nossa vida em sociedade; no espírito de lati-
nidade, que constitui um elo invisível, mas real, com a
finalidade de aproximar e manter unidas as Nações, que
a seiva benéfica da imperecível Roma tão bem soube
plasmar; na essência e no Direito da Civilização a que
pertencemos; no sangue, que corre pelas nossas veias.
Por isto, a campanha feita contra a sua presença
na formação cultural de nossos estudantes é, em última
análise, um atentado contra nós mesmos, contra tudo o
que nos é mais caro, porque atinge o espírito: - é a
fase preliminar de um crime de lesa-cultura.
Num discurso proferido perante a conferência da
Associação Internacional das Universidades, no México,
acentuou Bouchard (1) que, de todos os povos da anti-
guidade, somente os gregos e os romanos foram os pre-
ceptores do mundo ocidental. E a língua latina é o único
veículo capaz de transportar aos nossos dias êsses pre-
ceitos, que vinte séculos não conseguiram envelhecer.

(1) BoucHARD - Les humanités et l'enseignement supérieur.


Boulletin de l' Association Guillaume Budé, 1961 pág. 96.
-16-

O instinto destruidor do próprio homem poderá.


ameaçar os destinos e a segurança dos habitantes do
planêta terrestre, mas o espírito de romanidad.e, transmi-
tido pelos nossos antepassados, não deixará de ser man-
tido e propagado, enquanto estivermos em contacto, atra-
vés da língua latina, com a fonte criadora e propulsora
dessa energia vivifieante.
Referindo-se à antiguidade greco-latina, assim se-
exprime Bouchard: Maítresse de grandeur morale, elle
proclame la dignité de l'homme, son droit à la liberté, les-
devoirs que le lient à sa patrie, la solidarité qui l'unit à.-
tous les membres du genre humain, l'ideal de justice et
de fraternité qui f ait sa noblesse.
A recusa de nossa parte ao honroso convite para
elaborar um trabalho, destinado a orientar o ensino do-
latim nas escolas secundárias do Brasil, poderia ser qua-
lificado como impatriótico ato de covardia ou de como-
dismo. Eis, portanto, o principal motivo, que nos levou
a aceitar o encargo, cônscio da grave responsabilidade
de que fomos investido.
De início, devemos declarar que o Professor Anísio,
Teixeira, diretor do INEP, nos deixou inteiramente livre,
quer quanto à apresentação doutrinária, quer quanto à
metodologia preconizada. Êle nos fêz, preliminarmente,
a seguinte recomendação: "você vai escrever um tra-
balho com o objetivo de mostrar como deve s.er ministrado
o ensino de latim, no curso secundário, independente-
mente da programação e do currículo vigentes".
Se isto, à primeira vista, pode s.er interpretado1 como,
prova de confiança, contém também o inconveniente da
crítica situação a que ficaremos exposto, se não desempe-
nharmos, a contento, a missão recebida.
De qualquer forma, qu.eremos assegurar que não me-
dimos esforços e até sacrifícios para não decepcionarmos.
- 17 -

Não nos limitamos a oferecer o produto de nossa expe-


riência de vinte e cinco anos de ininterrupto magistério
do latim; procuramos obter a literatura indispensável à
elaboração dos diversos capítulos de que se compõe o
nosso trabalho. Na execução desta última tarefa, não
nos restringimos aos estudos contidos em livros e sepa-
ratas, porque fomos buscar manifestações e concepções
expostas em artigos publicados nas revistas especializa-
das nos respectivos assuntos. Jamais nos utilizamos de
citação indireta, sem a rlevida indicação. Esta orienta-
ção, que adotamos, não somente por questão de probidade
intelectual, mas também de princípios, nos livrará de
incidir em tropeços a que se expõem os que st enfeitam
com penas do pavão.
Com profundo pesar, somos impelido a dizer que os
maiores inimigos do latim não são aquêles, que ao mundo
se apresentam como tais; mas ê.les estão em nossas pró-
prias hostes. Sim, é preciso têrmos a coragem de dizer
a verdade. São os próprios professôres que mumificam
o latim e não sabem despertar nos discípulos as belezas
e as virtudes da língua e da civilização, que Roma legou
ao mundo; são os que ensinam sem alma; são os que
não conduzem os alunos a ler e sentir, sem ,auxílio de
dicionário ou de qualquer outro meio extranho, o pensa-
mento de um autor latino; são os que mandam decorar
tradução; são os que só sabem traduzir dissecando os
elementos da frase tal qual faria um mestre de anatomia
diante dum cadáver inerte; são os que não convencem
os jovens inexperientes dos malefícios dos chamados
"burros"; são os que, imbuídos de uma falsa concepção
de bondade, cometem o crime de aprovar candidatos sem
conhecimento mínimo da matéria correspondente à res-
pectiva série. São êsses os maiores inimigos da cultura
clássica, porque conseguiram, apenas, que os discípulos
aprendessem a detestar o latim!
-18 -

A primeira medida salvadora, que acorre a alguns


dos nossos legisladores incumbidos d.e elaborar e votar
as leis básicas do ensino secundário, consiste em aniqui-
lar ou até suprimir o ensino do latim. Com esta provi-
dência, julgam êles que a lacuna deverá ser preenchida
com ensinamentos técnicos e, assim, ficaria o adolescente
de hoje e homem de amanhã mais apto a atender às exi-
gências do progresso da vida contemporânea. É pura
ilusão, porque a substituição adotada poderá servir, quan-
do muito, para formar homens-máquina, mas não ho-
mens-homem.
Na já mencionada conferência de Reitores, Bou-
chard ( 2 ) observou com muita precisão: - "Ainda é,
atualmente, o ensino secundário que dispensa aos espíri-
tos o pão das humanidades, mas conservou-lhes um lugar,
fazendo-as descer do seu trono, confundindo-as com as
outras disciplinas, reduzindo sua participação nos pro-
gramas e nos horários a fim de poder inculca:ri aos alunos
rudimentos de todos os conhecimentos. Isto não o impe-
de de pretender por tradição, que vise a preparar cabeças
bem feitas antes do que cabeças bem cheias".
A presença do latim nas escolas secundárias será o
primeiro passo para a formação de cabeças bem feitas,
na frase feliz de Montaigne, e em condições de receber o
arcabouço adequado, quando estiver numa Faculdade
Superior e para melhor conduzir-se nas relações huma-
nas.
Não é somente no Brasil, que o ensino de latim se
encontra ameaçado de não produzir os frutos que poderia
oferecer à própria humanidade. Uma prova disso é a
seguinte resolução aprovada no 6.° Congresso da Associa-
tion Guillaume Budé, realizado em Lyon, em 1958: ( 3 )

(2) BOUCHARD - op. cit. pág. 101.


(3) Actes du Congres de I.ryon, Paris, 1959, pág. 539.
-19 -

Le Congres a/firme que la valeur des études classiques


est étroitement liée à leur durée, que l'on ne peut sans
péril reculer le moment ou les enfants sont .admis à lei
commencer: Il se prononce donc contre le systeme dit
du "tronc commun."
Il déplore que l'horaire du latin dans les lycées et
colleges ait été réduit de façon massive. Il demande que
soient rapportées les dispositions de l'arrête ministériel
du 12 aoíit 1957 qui ont considérablement aggravé la
situation."
A todos os inimigos do latim, a todos os que se opõem
ao ensino do latim em caráter obrigatório, podemos diri-
gir a(!uela sábia passagem de Goethe, lembrada por Bou-
chard na Conferência Internacional dos Reitores: -
"Quando nós nos colocamos diante da antiguidad.e e a
contemplamos na firme intenção de nos modelar segundo
sua imagem, somente então temos a impressão de nos
tornarmos homens."
E não seria inoportuno perguntar onde estão os
Go.ethes, os Petrarcas, os Luteros, os Ronsardos, os Mon-
taignes, os Camões, os Kantes da época em que vivemos.
Todos os nomes citados, apesar de não haverem seguido
a mesma orientação filosófica, tiveram formação clássica,
que lhes permitiu legar ao mundo o tesouro de suas obras
literárias. ~ual a obra literária ou filosófica de escritor
contemporâneo que poderá produzir, em nossa alma, as
sensações profundas causadas pelos grandes autôres de
outras eras, que tiveram o latim como fundamento da
sua formação cultural? O vasio com que nos defronta-
remos já é reflexo dos malefícios causados ao próprio
homem pelo decréscimo de intensidade dos estudos
clás;:;icos.
É importante ficar esclarecido que o nosso trabalho
não se destina apenas aos professôres de latim, mas
também aos alunos de Faculdades de Filosofia e de
- 20 -

Direito, aos candidatos aos exames vestibulares, aos


membros da magistratura, aos advogados em geral e a
todos os que pretendem ter boa formação literária. E
o seu principal mérito é o de pairar acima de eventuais
reformas de ensino secundário ou superior, porque estas
não afetarão jamais a essência dos ensinamentos, que
poderemos haurir dos autôres clássicos, através do estu-
do sistemático da língua latina.
Apesar da liberdade plena, que tivemos na sua ela-
boração, preferimos não ficar isolado na tôrre-de-mar-
fim, indiferente à periclitante posição do latim diante de
poderosos inimigos, impotentes para sufocar o espírito,
mas habilitados a impor à juventude indefesa, através de
leis indesejáveis as trevas da ignorância dos valores espi-
rituais do homem, em holocausto ao falso conceito duma
ciência perecível. Desempenhamos o papel do chefe mili-
tar que, para não arriscar-se a perder a batalha, faz
concessões ao num1go. Poderá parecer estranho que
assim tenhamos procedido, mas preferimos adotar essa
diretriz, em defesa do próprio latim.
Eis a razão pela qual, de acôrdo com o nosso plano,
o latim figura apenas nas cinco últimas séries de um
curso secundário de sete anos. Procuramos compensar
a mutilação, através dum método racional e científico,
cuja execução depende, em sua maior parte, de boa vonta-
de do professor.
No primeiro ano de estudo, o aluno deverá ser colo-
cado em condições de ter aprendido a morfologia elemen-
tar. Esta iniciação, bem feita e sempre orientada pelo
professor, é de suma importância, porque permitirá ao
aluno, através de numerosos exercícios, perceber o meca-
nismo da língua, o que reputamos indispensável ao pros-
seguimento do estudo nos anos subseqüentes.
No segundo ano, deverá ser completado o ensino da
morfologia e iniciado o estudo da sintaxe da oração inde-
- 21-

pendente. Cartas fáceis de Cícero e fábulas de Fedro


são excelentes elementos para transmitir êsses ensina-
mentos.
No terceiro ano, será possível explicar a sintaxe dos
casos, o discurso indireto e o período composto. Excertos
de Ovídio e os Comentários de Bello Gallico, de César
são os textos adequados e compatíveis com o grau de
adiantamento dos discípulos.
No quarto ano, se tudo houver decorrido normal-
mente, de acôrdo com as prescrições feitas, quer com
referência aos exercícios de tradução, quer quanto ao
estudo das diversas partes da gramática, poderá ser feito
um estudo crítico e minucioso da morfologia e da sintaxe
nominal e verbal, em confronto com textos de Virgílio e
de Cícero.
No quinto e último ano, deverá ser ministrado o
ensino, em função da orientação que o aluno pretenda
·imprimir à sua vida. Aí, serão êles divididos em dois
grupos: - a) os que não pretendam ingressar numa
escola superior; b) e os que se destinam a uma escola
superior. O ensino de gramática só aparecerá inciden-
temente. Se a orientação recomendada houver sido se-
guida, o aluno estará em condições de dominar a gra-
mática latina com facilidade e qualquer falha proveniente
de lapsos da memória poderá ser por êle próprio suprida.
Agora, o importante é incentivar a leitura dos clássicos
indicados, tendo em vista a futura profissão do aluno.
Aquêles que não forem seguir curso superior e os
que desejarem ingressar numa Faculdade de Filosofia
(cursos de letras) deverão ter como texto de tradução
De Ora tore ou De Of ficiis, de Cícero, poemas de Catulo,
Tibulo e Propércio; (seção de História e Geografia) -
a Conspiração de Catilina, de Salústio, os Anales, as Hi-
storiae e a Gerrnania, de Tácito, Ab Urbe Condita, de
Tito Lívio.
- 22-

Para os que pretenderem matricular-se numa Facul-


dade de Direito, serão indicados como textos de tradução,
o De Legibus, de Cícero, as Institutas de Gaio, as Regras
Ulpiano, as Sentenças de Paulo, excertos do Digesto e as
Declamationes de Quintiliano.
Se houver alunos que, apesar de haverem preferido
o curso secundário com estudo aprofundado do latim,
desejarem matricular-se numa Faculdade de Medicina,
de Farmácia, de Odontologia ou de Filosofia ( curso de
História Natural) os textos recomendados deverão ser
tirados da História N aturai, de Plínio e de De Medicina,
de Celso.
Se houver alunos que pretendam seguir curso de
Engenharia ou de Arquitetura será aconselhável traduzir,
e De aquaeductu, de Frontino.
Finalmente, os que pretenderem seguir agronomia
poderão traduzir as Geórgicas de Virgílio, De Re Rus-
tica, de Catão ou De Arboribus, de Columela.

* * *
Estamos firmemente convictos de que, se os ilustres
colegas quiserem fazer uso do rico material di8tri.buido
nos três volumes de A PRESENÇA DO LA '!'IM e o apli-
carem, sempre em função do grau de adiantamento dos
discípulos, terão contribui do - se nos for lícito parodiar
Montaigne - para fornecer à Pátria e à causa da Huma-
nidade, cidadãos dotados antes de uma cabeça bem feita
do que perturbada pelo acúmulo de conhecimentos de-
sordenados.

Rio de Janeiro, novembro de 1961


VANDICK L. DA NÓBREGA.
I PARTE
Metodologia
I

FUNDAMENTOS DO ENSINO DO LATIM

O Latim e o Humanismo - O progresso da técnica


no mundo contemporâneo pode proporcionar a pessoas, que
não se dedicam ao estudo de questões educacionais, a im-
pressão errônea de que as humanidades devem ser relegadas
a plano secundário, ou mesmo substituídas por um materia-
lismo falso e aparentemente mais compatível com as grandes
e surpreendentes conquistas da civilização.
O latim seria apenas símbolo duma velharia, que não
se justifica nos dias atuais e deve dar lugar a estudos mais
objetivos e de aplicação imediata.
Atribuímos a duas causas a diatribe movida contra o
ensino de latim no curso secundário: - falsa noção de
humanismo e métodos condenáveis, empregados por profes-
sôres, que se tornam assim, embora sem o saber, os maiores
inimigos da disciplina que lecionam.
O conhecimento da civilização greco-latina é o princi-
pal fundamento para a formação duma cultura geral, que
muito favorece o estudo de pesquisa e de especialização nos
diversos ramos do saber.
O desenvolvimento da técnica, no mundo atual, leva
muitos a supor que o humanismo pertença ao passado. Ser
humanista não é ser contra a ciência. Esta evolve, está
sempre sujeita ao aperfeiçoamento, ao passo que o huma-
nismo representa as realidades universais e eternas que não
mudarão jamais.
Brunetiere considera o humanismo como o conjunto de
tôdas as coisas concebidas com relação ao homem e expressas
em função do homem. Muito mais preciso reputamos o
<ionceito de Fernand Robert - ( 1 ). Humanismo é uma
adesão global a tôdas as formas de pensamento, que a

(1) ROBERT, Fernand - L'Humanis111e. Essai de définition.

3
- 26

humanidade tem reconhecido como suas e as faz sobreviver


às circunstâncias em que foram criadas."
Há quem confunda humanismo com Idade Média, pela
importância que se imprimiu à cultura do espírito nessa
fase da história, mas isto seria limitar o human/ismo no
tempo e no espaço. Humanismo é uma fôrça propulsara do
espírito, que existiu no passado e deve ser utilizada como
elemento indispensável para aproveitarmos e vivermos o
presente; êle foi cultivado por Cícero e Terêncio, como por
Montaigne, Dante e Goethe; foi fonte inspiradora das
grandes obras do espírito, como será o alicerce mais seguro
sôbre o qual o cientista de hoje e de amanhã poderá anun-
ciar as suas novas descobertas.
Fernand Robert serve-se dum conceito de Hipócrates~
segundo o qual "o fim da medicina é curar o doente", para
mostrar a diferença entre o pensamento técnico e o huma-
nista. Quando o médico demonstra ao doente a gravidade
do seu estado, representa o pensamento técnico e, quando
êle se compenetra do destino humano do ofício, procede
como verdadeiro humanista. É êrro julgar que o huma-
nismo deixa de existir quando começa a técnica. Há huma-
nismo em tôda profissão, desde que se proceda tomando o
homem como fim, e o próprio ofício como sendo um meio_
Podemos reproduzir, aqui, o verso milenar de Terêncio, sem
haver necessidade de adaptá-lo às contingências atuais,
porque o sentido das palavras de quem procede como huma-
nista, está muito acima da precariedade de certos conceitos
científicos: H amo sum : humani nil a me alienum pnto.
Tudo o que se refere ao destino do homem não nos deve
ser indiferente. Certos modernistas, principalmente os de
tendências marxistas, como é o caso de Irenee Arnaud, pro-
curam contrapor ao humanismo as humanidades, que quali-
ficam de modernas.
Ás expressões "humanidades modernas e clássicas" pa-
recem soar mal ao ouvido dos que compreendemos o verda-
deiro sentido do humanismo, que é um só, no tempo e no
espaço. Não aceitamos a forma hiperbólica de humanismo
clássico, porque humanismo sem classicismo é tanto hmna-
nismo quanto Sganarelle é médico na comédia de MoliBre
"Le médecin malgré-lui"... Também não aceitamos as de-
nominações de humanismo-marxista, existencialista ou mate-
rialista, que, apesar de freqüentemente usadas, nos parecem
-27-

verdadeiras heresias científicas, porque humanismo está


indissoluvelmente ligado à idéia de espírito. Seria o mesmo
se admitíssemos um materialismo cristão.
O chamado humanismo moderno, cujo principal objetivo
parece consistir em formar, sob medida, o homem completo,
segundo Irenee Arnaud (2) doit être "un", avant de se
dissoudre en sections 01t options: tout éleve doit recevoir
un enseignernent scientifique et technique - un enseigne-
rnent historique et sociologique - 1tn enseignernent des
belles lettres.
Está certo que o humanismo deve ser uno, mas as men-
talidades que êle forma, são diferentes, têm características
próprias e esta heterogeneidade transforma-se num todo
harmônico.
O humanismo denota unidade de processo, mas hetero-
geneidade de resultantes.
Êsse humanismo moderno de que nos fala Arnaud
corta todos os laços, que nos ligam ao passado, e tudo correrá
muito bem desde que, com os conhecimentos técnicos apren-
didos, estejamos aptos a transformar a natureza e a propor-
cionar a compreensão entre os povos.
Já temos exemplos de que a técnica divorciada do espí-
rito é uma arma contra o próprio homem, que a desenvol-
veu. O excesso de confôrto que nos oferece a vida contem-
porânea com o cinema, o rádio e a televisão, quando não
utilizados racionalmente, poderá impedir o desenvolvimento
das qualidades individuais.
A desintegração do átomo com o lançamento de bombas
atômicas e de hidrogênio, já constitui uma inquietação para
a humanidade, através da palavra de cientistas de vários
países.
Se, de fato, uma das finalidades do chamado "huma-
nismo moderno", como afirma Irenee Arnaud, é formar
homens que possam transformar a natureza, a estultice da
aplicação dessa doutrina poderá levá-los a contribuir para
a sua própria destruição.
Negamos ao humanismo a função de formar homens,
que tenham como objetivo poder transformar a natureza.
O humanismo, na verdadeira acepção da palavra, deve con-
tribuir para que o homem compreenda a natureza, admire
o quanto de belo nela existe e dela tire os ensinamentos,
(2) ARNAUD, Irenee - L'humanisme classique-contre-l'humain.
- 28

que possibilitem uma vida com menos sofrimento e com


mais confôrto.
Bouchard, na Conferência Internacional das Univer-
sidades, realizada em 1959, disse que não há de realmente
humano na natureza senão o que nós aí colocamos de nossa
humanidade: "il n'y a de réellement liiirnain dans la natiire
que ce que nous ·y mettons de 11otre hwmanité."
E noutra parte de seu discurso, afirma o mesmo pro-
fessor: "As humanidades não se confundem com a filo-
logia, embora corram o risco, por falta de sólidos conheci-
mentos filológicos, de se desgarrar na interpretação dos
textos e parecer bem ôcas e frívolas ; não se confundem
tampouco com a história, embora a história explique os
acontecimentos, as circunstâncias, as influências e as razões
que modelaram, em épocas e regiões diferentes, os pensamen-
tos, a sensibilidade e os costumes dos povos e ela forneça uma
informação indispensável à justa interpretação de obras
artísticas, literárias ou filosóficas. As humanidades dis-
tinguem-se, embora façam parte dela, da bagagem de conhe-
cimentos gerais que deve reunir um homem culto para não
ser estranho ao século e ao mundo em que vive e em que
introduzimos, ao lado da instrução cívica e, às vêzes, do
código rodoviário, elementos de tôdas as ciências, assim
como um resumo das questões políticas ou econômicas, que
nossa geração atormentada se esforça em resolver na angús-
tia e através de penosas tribulações."
Nós, que pertencemos à civilização ocidental, jamais
poderemos atingir o humanismo se não nos conhecermos rm
profundidade.
Quando Jacques Perret diz que os estudos latinos têm
por objetivo servir de iniciação ao mundo latino, não signi-
fica que devemos dar a esta tese o caráter exclusivamente
histórico, porque, se assim o fôsse, teríamos de defender a
obrigatoriedade do ensino de chinês, para nos servir de
iniciação ao mundo oriental.
Não nos parece suficiente declarar que os estudos lati-
nos nos interessam, porque nos permitem conhecer o mundo
latino, mas é necessário apresentarmos os motivos, que justi-
ficam êsse conhecimento. E isto nós conseguiremos se
tomarmos o humanismo como ponto de partida. Neste caso,
poderão objetar-nos que somente nós, ocidentais, estaremos
em condição de aspirar a uma formação humanística. Aos
- 29-

que assim objetarem, poderemos responder, que jamais atin-


giríamos as metas do humanismo se tentássemos penetrar
nas sutilezas do mundo oriental, em defrimento do mundo
em que vivemos e de onde saímos, da mesma forma que um
chinês dificilmente poderia praticar o humanismo através
do mundo latino, se desprezasse o sentido de sua própria
vida.
Num debate recente, promovido pela Association Gttil-
laume Budé, Grenier ( 3 ) assinala que humanismo é antes
baseado na consciência duma ignorância do que na certeza
de um saber, sobretudo dum saber dito esotérico. Não há
outros segredos para o humanismo senão os que são ins-
critos na natureza do homem. No interior da Ásia, diz
êle, o humanismo chinês foi removido, renovado e alargado
pelo pensamento de Buda. Gandhi sempre orientou as suas
reivindicações em função do humanismo, tal como êle con-
cebia a vida, de acôrdo com a sua filosofia.
Daniélou ( 4 ) observou, com muita precisão: "parece
que um chinês ou um banto tem uma estrutura mental
radicalmente diferente da de um ocidental, de maneira que
haja impossibilidade duma verdadeira comunicação. Pa-
rece que a história do humanismo clássico nos mostra, ao
contrário, que êle sempre foi acolhedor dos valores da
humanidade oriundos de outras culturas, e inversamente
exercem uma influência sôbre êstes. É verdade que o gênio
das línguas, o mundo das imagens, as orientações do espí-
rito são diversos, mas o homem permanece o mesmo".
Concordamos plenamente em que o ocidente não pode
isolar-se, principalmente se levarmos em consideração o
fato de terem sido encurtadas as distâncias, que nos separam
do oriente.
Irmscher ( 5 ), depois de dizer que a ciência da anti-
guidade deve ser encarada sob um caráter histórico e outro
humanístico, salienta a necessidade de procurar-se relação
com o antigo oriente.
Precisamos conhecer a nós mesmos, como ocidentais
vinculados a uma filosofia de vida própria e, em seguida,
(3) GRENIER, J. - Débat sur l'humanisme. Bulletin de l'Asso-
ciation Guillaumc Budé, 1959, pág. 185.
(4) DANIÉLOU, R.P. - Débat sur l'lmmanisme - op. cit.,
pág. 195.
(5) IRMSCHE!!, Johannes - Praktische Einführung in das Stu-
dium dei· Altertums-wissenschaften.
- 30-

podemos e devemos estender as nossas vistas para melhor


sentirmos os orientais, concretizando, assim, o ciclo de uma
evolução, cujo ponto derradeiro seria a prática do huma-
nismo integral.
Êsse humanismo integral não deve ser confundido com
o tipo burguês de humanidade, que, segundo bem disse
Maritain ( 6 ) está muito comprometido e sua condenação
é merecida.
"Se a cultura", comenta Amoroso Lima (7), "é o aper-
feiçoamento do homem, em suas várias condições de vida,
que é o humanismo? Podemos encarar o têrmo em sentido
estrito e em sentido lato. O primeiro sentido dos três em
que é habitualmente empregada a expressão - restauração
da cultura greco-romana - é o mais estrito dos modos por
que é habitualmente entendido o têrmo. O segundo sen-
tido é a cultura como universalização do homem - já é
mais alto. Humanismo passou então, a ser uma forma
sadia de cosmopolitismo. O homem deve ser aperfeiçoado
não segundo a sua raça, a sua nação, a sua classe, a sua
profissão, mas segundo a variedade de aspectos, que a
vida humana pode assumir nos vários continentes da terra."
O humanismo é, até certo ponto, a filosofia de uma
civilização. Não é nosso objetivo pretender estabelecer
normas pelas quais os que pertencem a outra civilização,
possam praticar o humanismo. Só nos interessa conhecê-lo
em função do mundo e da cultura ocidental.
Conhecer o mundo latino é buscar as raízes de nossa
civilização e sentir as diretrízes primitivas, que, através dos
séculos, plasmaram as nações do ocidente. A língua latina
é o segrêdo, que nos possibilita penetrar nesse cofre imagi-
nário, que contém, ao alcance de todos, as relíquias do pas-
sado e o espelho, que nos permite perceber o sentido, o
rumo que tem tomado a nossa vida através dos séculos.
É de causar admiração, que alguns dos que se insurgem
contra o humanismo, apresentem como atributos do homem
ideal por êles imaginado, justamente aquelas qualidades que
encontramos na civilização greco-latina. L'humain englobe
plusieurs aspects de l'homme; les attributs qui permettent
de le sa,isir sont par exemple: la pensée, la liberté, le sens
6) MARITAIN, Jacques - Humanisme Intégral - Aulier, 1947
pág. 100.
(7) AMOROSO LIMA, Alceu - Humanismo Pedagógico, pág. 151.
- 31-

de la justice, le sens de la beauté; l 'inhumain pouvant être


défini pa,r les attributs contraires: l'inconscience, l'aliéna-
tion, la cruauté envers autrui, la soumission à la '1!,ature
brutale. ( 8 )
Somente quem nunca leu as obras de Platão e Aristó-
teles, para nos limitarmos a êsses dois grandes filósofos,
cujos ensinamentos são lembrados e invocados a cada ins-
tante pelos escritores contemporâneos, poderia negar que a
antiguidade greco-latina seja uma fonte inesgotável do
pensamento.
As obras e a própria vida de Cícero podem ser inter-
pretadas como hino perene à liberdade, que sempre defen-
deu no fôro, nos comícios, em praça pública, nas reuniões
familiares, nos livros e na correspondência até que se fêz
<!alar a sua voz respeitada e temida.
Não descobrir sentimento de justiça num povo, que fêz
o milagre de criar o direito pretoriano sem estabelecer con-
flito com o direito civil, é dar demonstração pública de com-
pleta ignorância das instituições do antigo povo romano.
Finalmente, dizer que não experimentou o sentimento
do belo um povo, cujas obras de arte, existentes nos prin-
cipais museus do mundo, ainda nos elevam a alma e nos
causam agrado e admiração, é não querer reconhecer a
evidência.
Todo aquêle que tiver tido formação cultural baseada
€m ensinamentos hauridos na civilização greco-latina, estará
em melhor condição do que o homem de mentalidade for-
mada sob medida, para pensar, defender a liberdade, pro-
pagar a justiça e admirar o belo.
Em recente debate, promovido pela "Association Guil-
laume Bitdé", Pierre Bo:yancé mostra o êrro dos que supõem
ser o humanismo destinado a formar um homem abstrato e,
como animal racional, apenas dotado de saber e das técnicas
modernas. "L'Humanisme, c'est la formation de cet homme
en fonction et à l'aide du passé de sa cultnre, telle qu'elle
s'est exprimée d'abord et avant tout dans les grandes
oeuvres des littératitres, la française et celles qui sont les
sources principales de la française. Les sci.ences humaines
nous apportent chacune son lot d'information, mais non pas

(8) ARNAUD, Irenee. - op. cit. 47.


- 32-

une influence forrnatrice concernante en quel.que sorte, le


fond de notre être intellectuel et spfrituel.'·' ( 9 )
O humanismo não pode restringir-se à formação literá-
ria, como advertiu, nessa ocasião Pierre Boyancé. Êle deve
abranger a formação global do espírito, tomada esta expres-
são na acepção mais ampla de conhecimento, de que nos
fala Friedrich Dessauer: - Der Geist ist grosser als die
V erstandeserkenntnis. Darin liegt die Grenze jeder ph-ilo-
sophischen Erkenntnistheorie der Vergangenheit. Und das
unaitflosbare Ich, das iiber das Selbst emporragt, das nicht
wie das Kosmische objekti-viert, d. h, zum Gegenstancl ge-
macht werden kann, nennen wir, wie es andere getan haben;
Geist. (1º)
No Congresso de Tours e Poitiers, Simondon afirmou
com muita precisão, que o verdadeiro humanismo será um
misto de maturidade e de juventude, se definirmos por
maturidade, o sentido da medida interna e por juventude,
o sentido do entusiasmo. ( 11 )
Reportemo-nos ao ano de 1901, quando Santos Dumont
sobrevoou a Tôrre Eifel. Comparemos a ciência de então
com a de hoje, era da bomba atômica e do foguete inter-
planetário, e perguntemos o que se tornou mais velho; se
o dirigível do grande brasileiro ou o pensamento vivo das
obras de Virgílic e Platão, que já estavam há muitos séculos
daquela época 1 Resistir à ação do tempo é a principal
característica do classicismo.
Na Conferência de Reitores das Universidades euro-
péias, realizada em Cambridge, de 20 a 27 de julho de 1951,
dentre as resoluções aprovadas, destacamos a seguinte:
A Conferência acentua que a cultura geral não deve con-
sistir num conhecimento enciclopédico, mas deve contribuir
para nutrir o espírito, para formar o julgamento e a perso-
nalidade do estudante, e para provocar nêle uma curiosi-
dade que o torna capaz de interessar-se pelo mundo e pelo
homem do seu tempo. A Conferência também recomenda
que, em todos os casos, os ensinamentos de formação profis-
sional sejam apoiados em bases científica e humanista rigo-
rosas".
(9) BoYANcÉ, Pierre - Btületin de l'Association Guillaume
Budé, 1957, II, 11.
(10) DESSAUER, Friedrich - Mensch und Kosmos. In Eranos,
Band X V, 140".
(11) Congrês de Tours et Poitiers 3-9 septembre 1953, p. 5L
- 33 -

Henri Limet, num artigo intitulado "Le Latin à l'heurc


des spoutniks ( 12 ), mostra que o latim e o grego não devem
ser negligenciados na época dos sputniks.
Enganam-se, portanto, aquêles que imaginam ser o
humanismo incompatível com o progresso, porque êle repre-
senta as asas da inteligência e da cultura. A prática do
humanismo não revela qualquer indício de decadência ou
atitude retrógrada, mas a preparação do terreno apro-
priado para melhor aproveitar o presente e desvendar o
:futuro. Defendemos a prática do humanismo, não porque
queremos voltar ao passado, mas porque desejamos estar
preparados para melhor compreender o presente e enfrentar
o :futuro.

O Latim e os objetivos da educação secundária - Se


aceitarmos essa concepção de humanismo, seremos obrigados
a 1·econhecer a necessidade do ensino de latim, porque êle
nos :fornece um dos elementos indispensáveis para que
possamos sentir, em sua plenitude, as raízes e a própria
essência de nossa civilização.
Daí Jac'}ues Perret ( 13 ) considerar como principal :fina-
lidade dos estudos latinos a de proporcionar a iniciação
no mundo latino, sem querer negar outros objetivos plenaJ
mente atingidos, através do ensino da língua do Lácio.
Não é somente por ser um dos elementos essenciais ao
humanismo, que justificamos o ensino do latim, mas também
por muitos outros motivos, que passaremos a analisar.
É, inegàvelmente, o latim um dos pontos nevrálgicos das
reformas de ensino secundário. De um lado, colocam-se
aquêles que negam qualquer utilidade à sua aprendizagem
e, de outro, os que não aceitam esta concepção e procla-
mam a necessidade de ser intensificado seu estudo no curso
secundário. Os primeiros negam a utilidade do latim,
porque, além de não reconhecerem os méritos dessa apren-
dizagem, julgam que, desde o início, deve ser incrementado
o estudo das ciências.

(12) LIMET, Henri - Le latin à l'heure des apoutniks. A.C.L.g.


1958, pág. 19-22.
(13) PERRET, Jacques - Lai'in et cultere p. 222.
-34-

A Association Guillaume Budé ( 14 ), em assembléia geral


realizada em 24 de junho de 1956, aprovou o relatório apre-
sentado por Jacques Perret, que chamou a atenção de todos
os franceses para os perigos a que ficaria exposta a cultura
francesa, se a reforma de ensino projetada reduzisse o
ensino de latim.
A questão não poderá ser devidamente esclarecida sem
que tenhamos, antes, estabelecido a finalidade do curso
secundário.
Alexander Inglis ( 15 ), professor de Educação na Uni-
versidade de Harvard, indica três objetivos fundamentais da
educação secundária: l.º) a preparação do indivíduo como
cidadão previdente e membro cooperador da sociedade -
objetivo cívico-social; 2. 0 ) a preparação do indivíduo como
trabalhador previdente e produtor - o objetivo econômico-
vocacional; 3. 0 ) a preparação do indivíduo para aquelas
atividades que, enquanto primeiramente envolvendo a ação
individual e personalidade, são de grande importância para
a sociedade - o objetivo individualístico avocacional.
Não podemos deixar de reconhecer que o ensino secun-
dário deve cuidar da formação da personalidade do adoles-
cente.
O homem, na ânsia de querer desvendar o imperscru-
tável, procura penetrar nos arcanos da sabedoria e, estul-
tamente, julga avançado aquilo a que denominamos ciência.
Esquece-se, como já assinalamos, de que leis, outrora repu-
tadas como a última palavra, são tornadas sem efeito, em
conseqüência de novas descobertas ou de novos raciocínios e
nunca podemos ter a certeza de que estamos de posse da
verdade científica, porque a nossa inteligência é limitada e
sõmente o Ser infinito pode inferir a verdade absoluta. É
oportuno, neste sentido, lembrarmos, aqui, a palavra de
Goethe em versos imortais que mostram o valor das coisas
do espírito sôbre a ciência e a arte:

(14) PERRET, Jacques - Bulletin de l' Association Guillaune


Budé, 1956, n9 3 pág. 10.
(15) INGLIS, Alexander - Principies of Secondary education,
p. 368.
- 35-

Wer Wissenschaft und Kunst besitzt


Hat auch Religion;
W er jene beiden nicht besitzt,
Der habe Religion.

Enquanto a ciência pode passar, a literatura latina,


dotada de grande esplendor, com o encanto das referências
mitológicas, como fonte inesgotável de inspiração às maiores
obras literárias da humanidade, aí está, imperecível.
Isto não quer dizer que desconheçamos o valor e a
grande utilidade da ciência, que, apesar de ser contingente,
tende sempre a evolver e a fornecer à mentalidade do homem
novos e surpreendentes conhecimentos. Longe de nós esta
intenção. A nossa tese consiste em proclamar a necessidade
de se criar, preliminarmente, um terreno apropriado para
que, apoiado nêle, possam ser tratados e desenvolvidos os
conhecimentos científicos. E o ensinamento do latim con-
tribui extraordinàriamente para a melhor preparação dêsse
terreno.
Estabelecido o fundamento principal do ensino de
latim, não ficamos impedidos de assinalar outros argumen-
tos subsidiários, mas que são conseqüência da prática do
humanismo. Não queremos justificar a presença do latim
com a apresentação de argumentos subjetivos, que não
possam ser comprovados mediante testes ou exibição de
dados exatos.
Jacques Perret não foi muito feliz quando supôs que
a enumeração de vários casos para justificar o latim, daria
a impressão de ficar aquêle ensino transformado num dêsses
objetos de feira, que servem para tudo. Incidiríamos nesse
êrro se quiséssemos forçar conclusões, que não se imporiam
através duma argumentação fria e imparcial. Na VII
Conferência Internacional de Genebra, realizada em 1938,
as investigações permitiram concluir que o estudo das
línguas antigas desenvolve os hábitos de concentração, de
paciência, de perseverança, de precisão, de análise e de
generalização imparcial.
O professor Van Loon, (1 6 ) da Universidade de Michi-
gan, escreveu aos professôres de latim dos maiores estabele-
cimentos daquele Estado e pediu-lhes que perguntassem aos

(16) VAN LooN, G. E. - Why Study Latinf e. J. XV, 300.


36 -

seus 50 últimos alunos por que estudavam latim: - 276


disseram que o latim os auxiliava a escrever o inglês; 208
responderam que o latim ajudava o estudo de outras lín-
guas; 103 alegaram que o latim era um instrumento para
desenvolver o espírito; 93 opinaram que o latim servia de
auxílio em seu trabalho profissional; 64 declararam que
estudavam latim porque era interessante e 56 disseram que
o latim facilitava o estudo de outras disciplinas.
Deixar de fazer referência a fatos dessa natureza é não
querer analisar o problema, sob os vários ângulos em que
se apresenta.
Sentimo-nos inteiramente à vontade para apontar tôdas
as vantagens do estudo de latim, que nos parecerem mere-
cedoras de referência especial, mesmo porque as colocamos
em plano subsidiário.
Se o latim não fôsse uma das fôrças propulsoras do
humanismo, o seu estudo deveria ser justificado pela inesti-
mável contribuição para o conhecimento do Português.
Pretender explicar o português histórico a quem nunca
estudou latim, é querer nadar contra a fôrça da correnteza.
Mas não é sàmente a gramática histórica, <1ue exige conheci-
mento de rudimentos da língua latina, mas o estudo do
próprio vocabulário português. O latim permite-nos pene-
trar nos terrenos da fonética histórica e compreender os
segredos da etimologia, sem qualquer dificuldade. Não po-
demos aquilatar o sacrifício de quem nunca estudou o
latim para compreender as evoluções do vocalismo ou do
c<msonantismo na língua pátria.
O segundo motivo, que justifica o ensino do latim, é a
sua contribuição para desenvolver o raciocínio, sendo por
muitos corusiderado como a ginástica da inteligência. Os
exercícios de tradução de textos latinos, desde que graduados
o bem orientados, permitirão desenvolver o espírito de
observação do aluno e contribuirão para formar um estilo
claro e conciso.
O terceiro motivo refere-se à facilidade, que proporciona
o latim, para o estudo das demais línguas. Não é preciso
usar de longa argumentação para mostrar a importância
do latim, na qualidade da língua-mãe, para o conhecimento
de tôdas as línguas românicas, como por exemplo, o francês,
o espanhol, o italiano, o rnmeno, o rético etc. O fato de
37 -

serem as línguas romamcas oriundas do latim, justifica


plenamente sua importância para o estudo daqueles idiomas.

O Latim para as línguas não românicas - No entanto,


podemos, ainda, verificar que o latim é de grande vanta-
gem para o conhecimento do inglês e do alemão.
Diversos inquéritos promovidos nos Estados Unidos,
entre alunos que estudam diferentes línguas estrangeiras no
curso secundário, indicam, invariàvelrnente, superioridade
dos que estudavam latim. O professor Perkins fêz uma
experiência no Departamento Comercial da High School de
Dorchester (Massachussets), onde o estudo do latim tinha
sido introduzido no curso comercial, segundo a teoria de
que melhoraria o conhecimento do Inglês dos alunos. Depois
de haver adotado essa deliberação, o professor Perkins resol-
veu obter medidas quantitativas do resultado, mediante
testes feitos entre os alunos. A primeira providência foi
selecionar dois grupos de alunos de igual capacidade, um
do segundo ano de latim, outro do segundo ano de língua
moderna. A preocupação preliminar do aludido educador
foi escolher grupos de alunos de igual habilidade, além da
circunstância de serem todos do segundo ano, quer com rela-
ção ao latim, quer com relação à língua estrangeira. Final-
mente o mesmo professor resumiu, no 1quadlro abaixo, o
resultado dos testes realizados :

Testes Latim Alemão


1 - Ortografia ........................... . 82,5% 72,6%
2 - Emprêgo das palavras na frase ......... . 57,5% 40,6%
3 - Definições e partes do discurso ....... . 69,5% 33,0%
4 - Significação das palavras e ortografia .. 57,0% 27,5%
5 - Riqueza do vocabulário .............. . 36,0% 6,8%
6 - Significação das palavras e ortografia .. 65,3% 12,3%

O periódico Classical Jo1irnal ( 17 ) publicou, num dos


fascículos de 1946, trabalho elaborado por vários professôres
americanos, que concluíram não só reconhecendo a impor-
tância do latim para o conhecimento da língua e da litera-

(17) "You will also acquire a knowledge of our own Ianguage,


literature, and Iife, and what is equally important you will be
better able to understand the people of other countríes toàay
and feel more kindly toward them". C. J. vol. XLII, 181.
- 38

tnra inglêsa, mas também para a compreensão da vida dos


povos de outros países.
Muito mais recentemente, R. M. Tapper ( 18 ), professor
de latim na High School, em Illinois, diz que ensinar latim
significa ensinar uma língua, uma cultura, uma humanidade.
A construção da frase latina e a flexão dos substantivos,
adjetivos e pronomes tornam o latim elemento de introdução
de sumo valor para o estudo da língua alemã. De outra
forma não se compreenderia o incremento que sempre teve
na Alemanha o estudo do latim.
O professor Bernelle, conhecedor da língua russa e da
latina, com o objetivo de estabelecer relação de parentesco
entre os idiomas apresentou-nos, em "Vie et Langage", 19 )
algumas frases latinas e as correspondentes em russo. Assim,
se os antigos romanos quisessem dizer "dá-lhe mel e sal"
escreveriam "da ei mel et salem". A transcrição da mesma
frase em russo, será "dai'. ei med i sol". Está claro que a
pronúncia não é rigorosamente perfeita, mas a transcrição é
suficiente para observarmos certo parentesco entre as duas
línguas. A frase latina leo est duos agnos et pastorem
corresponde em russo a lev est dva iagnenka i pastuka; a
frase meus frater dat tibi decem oves et tres porcellos cor-
responde em russo a moí brat daet tebe desiat' ovets i tri
porosenka; as frases latinas sol et Zuna videntilr in mari
e meae matri est nova domics correspondem respectivamente,
em russo a "solnce i Zuna vidua na more" e "u moei materi
est' novyi dom".

O Latim: elemento de cultura histórica e científica -


O contacto direto com os principais autôres da literatura
latina fornece-nos preciosas informações sôbre as instituições
do antigo povo romano. O professor, ao comentar um trecho
das orações de Cícero, terá oportunidade de proporcionar
aos discípulos explicações preciosas a fim de elucidar refe-
rências existentes no texto à mitologia, às instituições e à
(18) TAPPER R. M. - "Teaching Latin means teaching a Ian-
guage, a culture, a humanity.
Learning Latin requires the mastering of a vocabu!ary. Indeed,
words must be Jearned thouroughly:, be reviewed often, be used
repeatedly in context, be associated etymologically with familiar
Latin und English word. And Proudly Teach Latin, CO,
XXXIV, 1.
(19) BERNELLE - Vie et Langage, 1952, fase. III, ,J). 11.
- 39-

própria vida do povo romano. Esta possibilidade de mi-


nistrar paulatinamente êsses ensinamentos indispensáveis
para a formação do verdadeiro humanismo, constitui mais
um motivo que justifica o ensino do latim.
Pesquisas realizadas por técnicos americanos de idonei-
dade incontestável já demonstraram o quanto pode contri-
buir o latim para o estudo das ciências.
Arthur Hill, ( 2º) em trabalho lido perante a Ameri.can
Olassical League e publicado no "The Olassical J ournal"
intitulado "The Olassics ,and Pure Science" mostra que os
estudos clássicos são de valor extraordinário para o estu-
dante de ciências - porque, além de permitir fácil aqui-
siçãu da nomenclatura científica, proporciona o hábito de

(20) Hn,L, Arthur E. - "The Classical and pure sciences".


Considerando a importância dêste trabalho, transcreveremos alguns
dos seus principais trechos: - The nomenclature of science is
one of Greek and Latin. How fully this generalization has been
substantiated by carefully compiled statistics, you will know better
than I; but a brief examination which I gave to a standard text
in college science indicated that the indexed titles are from the
Greek in 37% of the instances, from the Latin in 36%, from the
Anglo-Saxon in 9%, and are derived from proper names in 8%;
the remaining few per cent are from the modern languages as
from sources unknown to my lexicographer. (pág. 242).
That Greek prose and Latin prose are so well and generally
hated by the schoolboy is good evidence that that kind of training
means hard work for the student and hard work for the teacher;
but I am sure that we must have it for the future scientist, at
least as sure as you are that we must have it for the future
classicist. (p. 244).
"The classical literature, more particularly the Greek, is per-
meated with the spirit of philosophy; whose, studies it must sooner
or later realize that the plan of our universe, spiritual and material,
is something that the great minds of the world have been seeking
to understand throughout the ages, and that our present-day
view of it is not ultimate truth but merely one phase of a philo-
sophy which is still a million years short of being complete, Pro-
gress toward an understanding of this great plan comes when
we work with the humble realization that we are developing a
philosophy, and not with the boMt that we are finding out God.
Science is a part of this great philosophy; the unthinking world
needs to be reminded that science is not a factory for talephones
and dyestuffs,· nor an inventory of plants and of planets; it is
rather a natural philosophy (M it was once called) dealing with
atoms, with electrons, with the ether, and with evolution. (p. 246
- C. J. XXIII, p. 241).
- 40-

•pesquisa e abre os horizontes para melhor compreender os


pensamentos filosóficos.
Charles Brunold, ( 21 ) em trabalho sôbre o ensino Cien-
tífico e a história das Ciências, qualifica o método por êle
preconizado como poderoso auxílio para definir o que
chama de humanismo moderno, método êste que é fidele aux
grandes traditions et a11x valeurs indiscutées de l'lmmanis-
me traditionnel, et répondant aux néccssités impérieuses de
la formation des hommes de notre temps. É mais um teste-
munho de reconhecimento da contribuição ~o latim para
o estudo das ciências.
Num Congresso realizado na cidade de Lyon, em setem-
bro de 1959, Tournier, ( 22 ) diretor da "Compagnic N atio-
nale dit Rltône" e Presidente da "Société d' Econ01n1'.e Poli-
.tique et d'Economie Sodalc"; daquela cidade, disse:

Notre époque est celle des confusions: confu-


sions dans les idées, confusions dans le langage.
Aiissi, n'est-ce pas à mes ,yeux le rnoindre mé-
rite du lah'.n, Zangue du peuple qui avait besoin
de clarté dans son exprcssion, parce que son génie
était de constritire, que de pouvoir noits a.ider à
littter contre ces confusions clont je crains qu 'elles
ne nous conduisent, comme les bâtisseurs de Babel,
à l'impuissance."

E, mais adiante, afirma Tournier, num depoimento


insuspeito de quem, na vida pública, não vive em contacto
direto com o latim, mas sente os seus efeitos benéficos no
desempenho de suas atividades de engenheiro:

J'ai rappelé que le latin fut la langue dit


peitple qui avait besoin de clarté dans son expres-
sion parce que son génie était de constriiire la
langue des hommes qui édifierent aqueducs, rou.tes

(21) BRUNOLD, Charles - Enseignement scientifique et Histoire


des Sciences. - Revue d'Histoire des Sciences. Tomo X, 193 e segs.
(22) TOURNIER, Gilbert - Le Latin et la Scienc.e. ln 29 Con-
gres International pour !e Latin Vivant - Lyon Villeurbanne, 1959
pag. 118.
41-

et codes, le Zangue qui ne craignait pas d'inscrire


dans le marbre maximes d'action, regles de gestion,
jusqu'au cadastre!

Depoimento de várias personalidades sôbre o ensino


do Latim - Aos que invocam. a necessidade de incremen-
tar o estudo das ciências para suprimir o latim, podemos
responder com o depoimento de várias personalidades no
exercício das mais elevadas funções na vida pública e no
desempenho das mais variadas atividades profissionais: ( 23 )

A) VIDA PÚBLICA

"All literature that has lasted this claim upon us - that it is


not dead; but we cannot be quite so sure of any as we are of
the ancient literature that still lives, because none has 1ived so
long. It holds a sort of primacy in the aristocracy of natural
selection." (Woomww WILSON - Presidente dos Estados Unidos).
"Technical education is essential to the work of the world.
The vast development of education along technical lines meets an
urgent public need. But there are other needs.

ln no other country is it so necessary as in ours to provide


fully, for those who have the chance and desire to take it, broad
and high liberal education, in which one essential element shall
be elas si cal training." ( THEJODORE ROOSEVELT - Presidente dos
Estados Unidos) .
"I believe that the suc-cess of the Continental systems of edu-
cation and of that in Great Britain establishes the fact that not
only are the classical studies important as an essential element
in the best liberal education along with mathematics, science, his-
tory, economics, philosophy and modern literature, but that the
result of the Continental systems of education shows the practi-
cal value of such classical studies". (WILLIAM HOWARD TAFT
Presidente dos Estados Unidos).
"ln the plenitude Qf our knowledge, so slight compared to
the vast unknown, so ample if contracted only with what has gone
before in our brief history, when we leave the treasure house,
where all these riches of the mind are heaped up before us, let us
not forget the noble languages to which we owe not only all the
learning of the ancients and the reopening of the road which has

(23) Todos êsses depoimentos foram tirados do livro Value


o/ the Olassics, publicado pela Princeton University Press, 1918.

4
- 42-

brought us to where we are today, but most of all the poetry and
the beauty by which we are enabled to see visions and to dream
dreams.
Then let us recall the words of another great poet of another
race, who says to us, "Where there is no vision the people perish."
(HENRY CAB0TT L0DGE - Senador pelo Estado de Massachussetts).

B) HOMENS DE NEGÓCIO:

"I am inclined to favor the course requiring mathematics and


classics, believing that both should form part of the boy's course
in high schcol. . . . I would like to see high school graduates better
grounded in their elementary education and able to write legi-
bly, spell correctly and be more acurate and expert in simple
arithmetical problems." ( JAMES B. F0RGAN - Presidente do First
National Bank of Chicago.)
"I happened to have an inspired teacher of Latin for four
years at Columbia (University) and in Greek for two years; and
it is very easy for me to trace to their influence a good deal of the
facility I find in thinking as well as in writing." (WILLARD V
KING~ Presidente da Columbia Trust Company, New York).

O) JORNALISTAS

"Our mother lands are Greece and Rome. There men won
deathless fame in works that time has never conquered. Shall we·
let them die? Shall we undo the Renaissance, and of the coeva!
printer's art, art seemingly born to transmit for our advantage
and enjoyment the treasures of Greece and Rome, make a sumpter
mule burndened only with commodities appraisable in cash?"
(CHARLES R. MILLER - Editor do "New York Times").
"The language of Cícero and Vir gil has artistic qualities in
a formal perfection rarely if ever found in English. Through va-
riance with our own language in word order, in means of con-
ciseness and energy, in metaphors, colors and the subtler artis-
tries of wording, Latin lets us into the finest secrets of good
craftsmanship." (ROBERT LINCOLN O'BRIEN - Editor do Heral<l.
Boston, de Boston.

D) ENGENHEIROS E MÉDICOS:

"I am not only in favor of students in high schools who intend


to enter engineering scbools studying Latin, but my experience is
that it prepares them better for the study of English and otbe:r
culture subjects, so important, to engineers of today, than otheir
- 43-

Prof.
subjects which students often take." (FREDERIC L. BISHOP -
de Física, Decano da Faculdade de Engenharia da Universidade
de Pittsburgh).
"My classical training consists of a short course in the high
school, translating since leaving school, for my own pleasure,
Caesar and Cicero; and the reading of translations of the classics.
I have therefore only a limited field of classical experience. But
notwithstanding, the classics have been, almost daily, of practi-
cal value to me." (GEORGE R. CHATBURN - Prof. de Mecânica
Aplicada da Universidade de N ebraska).

"There has been found nowhere a better training for the thin-
king apparatus of the young than the study of Latin and Greek.
Carelessness anêl superficiality are imcompatible with any tho-
rough study of Greek and Latin". (VICTOR C. VAUGHEN - Presi-
dente da Associação Médica Americana.)
"As far as my experience goes with students entering the
medical school it seems clear that freedom of election which has
been permitted them in the high school and in college has been a
serious disadvantage to their preparation for medicine. Entirely
too large a proportion of these students have had an insufficient
amount of Latin". (H. W. E. KNOWER - Prof. de Anatomia na
Faculdade de Medicina da Universidade de Cincinnati).
"What I have learned in this way has produced a strong im-
pression that students who come to the law school with a good lin-
guistic training especially those who have had training in the
classics other things being equal, have an advantage and do better
work from the beginning. The law demands a clearness and
accuracy in thinking which is only to be attained in connection
wich accuracy in the use and in the interpretation of language."
(ROSCOE POUND - Decano da Faculdade de Direito da Universi-
dade de Harvard).

O Latim como instrumento de c1v1smo - Outro fun-


damento que apresentamos para justificar a presença do
latim no curso secundário é a sua contribuição como instru-
mento de civismo na formação do cidadão.
O "Chairman of the Laf.in Section" da Universidade
de Nebraska, perguntou a Hartley Alexander, da mesma
Universidade, mas não professor de latim, "Why Latin?"
Pois bem, êste mestre, que não era professor de latim, res-
pondeu com tôda a ênfase: "porque contribui para a for-
mação da cidadania ; é o caminho mais seguro para a cida-
dania."
"For training in citizcnship, in American
citizenship, it is the straightest path".
44 -

Alguém o advertiu: - mas isto não se consegue com


o ensino da língua, e sim com o de história, direito e letras.
A esta ponderação, respondeu Hartley Alexander: - Exata-
mente, é história, é direito, é literatura, é filosofia. São as
"litterae humaniores", o estudo do espírito humano como
trabalho sôbre os maiores e fundamentais problemas do
homem; é justamente isto que é o processo mais adequado
para a formação da cidadania, que conhecemos. E é preci-
immente isto que se chama latim.
"Precisevy; it is history, law, letters, philosophy
- the litterae humaniores, the stud,y of the human
mind at ·work upon man's gre,at and foundational
problems; it is just this which is the most capable
training for citizenship that we know. And it is
just this that spells Latin." (24 )

Ninguém melhor do que Cícero proclamou e defendeu


os direitos de cidadão. As orações pronunciadas em defesa
de Marcelo e de Quinto Ligário são as prerrogativas do
cidadão romano que se apresentam à consideração dos julga-
dores.
Encontramos, de fato, nas instituições do povo romano,
a melhor escola de civismo, como bem indica o respeito que
ali sempre se imprimiu ao cidadão, que não podia sofrer
restrição de capi.tis deminutio, dentro de perímetro da cidade.
O postliminimn é uma prova de que o cidadão, apesar de
ter sido capturado pelo inimigo, ao regressar a Roma, via
restabelecidos os seus direitos, porque voltava a ser civis
romanus.
Johannes Gaertner, ( 25 ) professor do Lafayette College,
imaginou que, se os russos tivessem ocupado a América do
Norte na última guerra, uma das medidas imediatas toma-
das pelos invasores seria a proibição dos estudos clássicos,
como medida preliminar para o aniquilamento de tôdas as
raízes da democracia.
Não queremos fazer a mesma conjetura, porque prefe-
rimos apresentar indícios positivos, que nos permitam for-
mular um juízo seguro, para mostrar em que consiste a
(24) ALEXANDRE, Hartley A. "Why Latin" - cw, XI, 122.
(25) GAERTNER, Johannes A. - The value of Latin and Greek
C. J. XLVII, 52.
- 45-

contribuição do ensino de Jatim, mas não poderemos dizer


que essa hipótese seja descabida.

O Latim para a formação de líderes -, A disciplina do


espírito e a agilidade mental para a compreensão da frase
são duas outras vantagens obtidas com o ensino de latim,
que podem ter muita influência na formação de líderes do
futuro. O cidadão que dirige, precisa estar habituado a
tomar, com firmeza, decisões imediatas, e deve, com a reso-
lução adotada, não somente não descontentar os liderados,
mas conseguir atingir determinado objetivo.
Os exercícios mentais obrigatórios para a penetração no
pensamento dum clássico latino são elementos de grande
valor para a formação da mentalidade dum futuro líder.
Evan Sage ( 26 ) professor da Universidade de Pitts-
burgh, reconhece a contribuição do latim na formação dos
líderes, quando proclama: - "I want Latin to continue to
be an essential ingredient in the training of the leaders of
the fidure; they need the inforrnation and the discipline".

O Latim para as profissões liberais - Qualquer que


seja a profissão que o estudante resolver abraçar, o cabedal
adquirido nas aulas de latim só lhe poderá facilitar os
novos estudos, que deverá empreender. Os que seguirem a
carreira jurídica não poderão penetrar nos domínios do
Direito Romano sem o latim; o médico encontrará no voca-
bulário latino, subsídio valioso para compreender a nomen-
clatura médica; os que pretenderem cursar uma Faculdade
de Filosofia terão, nos clássicos latinos, o melhor alicerce
para a formação de suas mentalidades de futuros professô-
res; os ensinamentos de V arrão e Plínio serão interessantes
aos futuros agrônomos; a obra de Vitrúvio não deixará de
proporcionar oportuna ilustração aos futuros engenheiros e
arquitetos.
Dissemos, no início dêste capítulo, que nós, professôres,
também temos uma parcela de responsabilidade na posição
do ensino do latim no curso secundário. Não basta que o
latim figure no currículo, mas que seja eficiente e racional-
mente ensinado. Seria contraproducente obrigar o discípulo
a decorar regras de gramática e tentar traduzir textos, sem
(26) SAGE, Evan T. - Who should study Latin. e. J. XX
143 e segs.
- 46-

os indispensáveis comentários. Dar êste tratamento ao


estudo do latim é muito pior do que suprimi-lo. O voca-
bulário, a tradução, os exercícios de versão, os textos e os
comentários devem merecer tôda a atenção do mestre, que
fará com que os alunos dêles se utilizem, de acôrdo com
processos recomendados pela pedagogia moderna, não se
esquecendo de lançar mão de todos os recursos, para que o
ensino se torne sempre atraente e provoque constante inte-
rêsse do aluno. Tôdas estas questões serão objeto de estudo
especial em capítulos posteriores.

Profissão de fé - Nesta época em que o mundo está


pràticamente dividido entre os que colocam, na matéria, a
finalidade da própria vida e os que ainda acreditam no
primado do espírito, queremos terminar êste capítulo com
uma profissão de fé no estudo do latim e, para isto, faze-
mos nossas as palavras de Jared W. Sandder, contidas num
trabalho publicado no The Classical W eekly ( 27 ) há mais de
quarenta anos:
"1 believe in Latin because it develops the me-
mory, the reason, the judgment, the imagination.
"1 believe in Latin because it develops obser-
vation, accuravy, and concentration of the mind,
and thus lays the f oundation for the largest success
in business or professionaZ. lif e.
"1 believe in Latin because it trains one to ex-
press himself in English with clearness and force-
fulness an indispensable requisite for civic in-
fluence.
"1 believe in Latin because it familiarizes one
with the history and thoitght of the greatest nation
of antiquity, a nation which furnished us ,with the
basis of 01tr own law and government, ianguage and
literature.
"I believe in Latin because there is no other
school study in which 'you can find so strong a
combination of values as in the study of Latin, a
study which yields thorough mental discipline,

(27) SANDDER, Jared W. - Ways in which the Latin readers


of the High School course may be brought into vital relation
with Efc of toclay - C. W. VII, 203.
-47-

acquaintance with the language and the civilization


to express
at the basis of our own, and the abilit-y
one's views convincingly."

As cinco profissões de fé acima transcritas acrescenta-


ríamos ainda: acreditamos no estudo do latim porque o
sentimos como sendo as asas da inteligência e da cultura.

Sumário
I - O principal fundamento do ensino de latim é a sua posi-
ção como elemento essencial ao humanismo.
II - Outros motivos, ainda, poderão ser apresentados:
a) facilita o conhecimento do português;
b) desenvolve o raciocínio através da observação, pro-
porcionando um estílo claro e conciso;
c) torna mais fácil o estudo das outras línguas;
d) permite um conhecimento seguro da antiguidade
greco-romana;
e) contribui para o estudo das ciências;
f) contribui para incutir nos jovens a noção de cida-
dania;
g) contribui para a formação de líderes;
h) facilita o estudo de qualquer profissão.

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SEEL, Otto - Hinweis auf Lukian. AU II/10 pág. 5.
SENDDER, Jared W. - Ways in which the Latin Reading of the
High School may be brought into vital Relation with the
li/e of to-day. CW 202 e segs.
SKEMP, J. B. - The position of Latin in relation on to Alternati-
ves in the Middle School. PCA LIV, 28.
STENZEL, Julius - Die Gefahren modernen Denkens und des Huma-
nismus Ant. 1928, 42.
TAPPER, Ruth M. - And Proudly Teach Latin. COL XXXIV, 1.
THOMAS, G. - How much is Latin? C J XXIX, 451.
T0URNIER, Gilbert - Le Latin et la Science. II Congres Interna-
tional pour le Latin Vivant. Lyon Villeurbanne, 1959, pág.
118 e segs.
VAN LooN, G. E. - Why Stuãy Latin? C J XV, 300.
II

OBJETIVOS DO ESTUDO DO LATIM: SEUS


PROBLEMAS.

Hist.órico
A questão do objetivo do ensmo do latim está ligada ao
problema de seu fundamento, pois o primeiro é corolário
.do segundo e completam-se intimamente.
O tema é preocupação constante não somente dos peda-
gogos, de modo geral, mas também dos próprios professôres
de latim que, através de pesquisas e inquéritos, não têm
ficado indiferentes diante do progresso da civilização con-
temporânea. Se procedermos a uma verificação histórica,
concluiremos que essa preocupação de averiguar e demons-
trar o objetivo do latim, no curso secundário, foi assunto
.constante, nos principais centros culturais do mundo, desde
o momento em que surgiram os primeiros ataques aos ensi-
namentos clássicos em curso de grau médio.
Num capítulo intitulado "Das Bildungsziel und das
Unterrichtsziel der Alten Sprachen" ( 1 ), Krüger procurou

(1) KRÜGER & HoRNIG - So verschieden die Antworten im ein-


zelnen ausfallen mõgen, immer wieder kommt in ihnen mehr oder
weniger das zum Ausdruck, was Schadewaldt einmal in den fol-
genden vier Punkten zusammengefasst hat: 1. Die Erlernung der
beiden antiken Sprachen, rein an sich selbst ist eine hervorra-
gende Schule des Verstandes; 2. Die Griechen haben uns in den
"verschiedenen Bereichen ihres Denkens hõchst instruktive Mo-
delle von der Welt und dem Menschen aufgestellt ... , 3. Die Be-
schiiftigung mit der Antike ist von grosser Bedeutung flir eine ge-
schichtliche Selbstorientierung und Selbstbestimmung unserer Zeit;
4. Die humanistische Bildung gipfelt darin, dass sie über Sprach-
und Kulturunterricht und geschichtliche Gesinnung hinaus den jun-
gen Menschen zur unmittelbaren Begegnung mit der seelisch-gei-
stigen Substanz der Antike führen, zur Konzeption eines Menschen,
der, bewegt von starken Trieben, doch selbstbeherrscht und be-
sonnen sein ganzes Dasein auf die Vernunft, die Einsicht gegrün-
det hat und so zu dem gelangt, was wir die Freiheit des Men-
.schen nennen. "Methodik des altsprachlichen Unterrichts." pag. 19.
- 51

analisar tôdas as tendências e os objetivos do estudo das


línguas antigas, depois da segunda guerra mundial, os quais
sintetizou nos seguintes quatro pontos: 1) a aprendizagem
de ambas as línguas antigas por si mesmas é uma escola
excepcional da compreensão; 2) os gregos têm-nos apresen-
tado, nas diferentes esferas de seu pensamento, o modêlo
mais instrutivo do mundo e dos homens; 3) o contacto com
a antiguidade é de grande significação, para uma auto-
orientação espiritual e autodeterminação de nosso tempo;
4) a formação humanística atinge o ponto mais elevado
na parte em que ela conduz o jovem homem através do
ensino da língua e da cultura e da mentalidade espiritual,
para um encontro direto com a substância espiritual da
antiguidade, para a concepção de um homem, que se move
por um forte impulso; pois baseou tôda sua existência auto-
determinável e prudente, na razão, na inteligência, e assim
atingiu aquilo a que chamamos de liberdade do homem.

Greene: ler o latim - No princípio do século atual


E. C. Greene (2), ao tratar dêste assunto, concluiu que o
objetivo imediato do ensino do latim seria colocar o aluno
em condições de ler inteligentemente um texto latino,
porque isto lhe proporcionaria admirável disciplina, alarga-
ria seu horizonte mental, dar-lhe-ia um lastro de cultura
geral e o colocaria de posse da língua-mãe.
"A course in Latin which reall,y accomplished
this immediate object - which really taught the
student to read his Latin intelligentl,y - might
justly contend that it provided the bo:y or girl with
admfrable discipline, enlarged his mental horizon,
gave him some glimpses at least of a rare and fine
culfore, and pitt him into fuller possession of his
mother-tongue". (3)

John Lord: poder pensar com prec1sao - John Lord,


ao comentar o resultado a que chegou a "Conference of
Classical Teachers" no Darthmouth College, em 20 de mai•)
de 1910, segundo o qual o objetivo do estudo do latim seria
ler o latim, afirma categoricamente:
(2) GREENE, E. C. - What is the object of the study of
Latin in Sec,ondary Schools f - CJ, III, 221.
(3) GREENE, E. C. - op. cit. CJ, III 225.
- 52

"W e must admit, then, that if the object of


studying Lat1'.n be to read it, the present study of
ü fails of its object." ( 4 )

O objetivo fundamental do estudo do latim não seria


proporcionar o conhecimento duma literatura antiga, nem
formação cultural, nem o fornecimento de subsídios aciden-
tais para uma educação espiritual. O objetivo fundamental
dêste ensino seria uma disciplina que contribui de maneira
excepcional para a maior finalidade da educação: o desen-
volvimento do poder de pensar com exatidão.
Êsse poder de pensar com exatidão manifesta-se através
da observação, da comparação e do raciocínio.
Conclui ainda John Lord que não existe assunto cien-
tífico que ofereça observação 1~ais definida e contínua do
que o ensino do latim:
"There is no scientific subject that calls for
more definite and continuous observation than the
study of Latin. But this study, as long as it is
a study of language, must be associated with trans-
lating, and this introduces the two other essential
elements, comparison and judgment". ( 5 )

Se o objetivo primordial do ensino do latim fôsse fazer


com que o estudante pudesse pensar com exatidão, como
defendia John Lord - "the development of the power of
exact thinking" -, não arriscaríamos apostar um centavo
pela sua permanência no "curriculum" do curso secundá-
rio, porque êsse alvo visado poderia ser atingido por outros
caminhos. Está claro que não negamos ser o objetivo apon-
tado por John Lord atingido através do latim, mas não
aceitamos a tese de ser êste o único ou mesmo o principal
objetivo.
Inquérito promovido pela "American Olassical League",
- A "American Classical League" promoveu, nos anos de
1921 e 1922, amplo inquérito - a "Classical. Investigation"
que concluiu pela determinação dos legítimos objetivos

(4) LORD, John K. - "The objects and results of the Study


of Latin" - CJ, VI, 234.
(5) LORD, John K. - op. cit. p. 238.
-53-

do estudo de qualquer disciplina do curso secundário. Nessa


ocasião foi ouvido o Comité Especial de Investigação -
Special lnvestigation Commitee - que visava à análise de
opiniões emitidas por experimentados professôres, no campo
da educação em geral e no ensino do latim, em particular.
Um questionário foi distribuído a mais de 1. 200 professôres
do curso secundário e trezentos professôres preencheram um
"Score-Card for the Evaluation of Objectives".
Os objetivos assinalados, em número de 19, eram:
1 - A capacidade de ler o latim, após o estudo formal
da língua, nas escolas e faculdades.
2 - A capacidade de compreender citações latinas, pro-
vérbios que aparecem em literatura de língua inglêsa e
maior facilidade de compreensão de palavras, frases e abre-
viações latinas encontradas em livros e publicações correntes.
3 - Maior capacidade de eompreender o significado
exato de palavras inglêsas derivadas direta ou indiretamente
do latim e maior precisão no seu emprêgo.
4 - Maior capacidade de ler o inglês com uma com-
preensão correta.
5 - Maior desenvolvimento do poder de pensar e ex-
pressar o pensamento através do processo de tradução do
latim para o inglês correto.
6 - Maior habilidade na grafia de palavras inglêsas
derivadas do latim.
7 - Maior conhecimento dos princípios de gramática
inglêsa e maior habilidade em falar e escrever o inglês
corretamente.
8 - Elementar conhecimento dos princípios gerais da
estrutura da língua como são testemunhados nas línguas
indo-européias.
9 - Maior capacidade para dominar os têrmos técni-
cos e semitécnicos de origem latina usados em outras disci-
plinas do currículo e em profissões e vocações.
10 - Maior capacidade para dominar outras línguas
estrangeiras.
11 - Maior conhecimento dos fatos que se relacionam
com a vida, história, instituições, mitologia e religião dos
romanos e da influência de sua civilização no curso da civi-
lização ocidental.
- 54-

12 - O desenvolvimento de atitudes emocionais (ideais)


em situações sociais (patriotismo, honra, serviço, auto-sacri-
fício etc.), incluindo uma compreensão mais ampla dos
problemas.
13 - Uma :familiarização, em primeira mão, através dos
seus escritos, com algumas das principais características
pessoais dos autôres lidos.
14 - O desenvolvimento da apreciação das qualidades.
literárias dos autôres latinos lidos, e o desenvolvimento de
uma capacidade generalizada para tal apreciação.
15 - Uma apreciação maior dos elementos do estilo
literário empregado na prosa e poesia inglêsas.
16 - Melhoria na qualidade do gôsto e estilo literário
do inglês escrito do aluno.
17 - Maior capacidade de compreender e apreciar-
referências e alusões, na literatura inglêsa e publicações
correntes, à mitologia, tradições e histórias dos gregos e-
romanos.
18 - O desenvolvimento de hábitos generalizados (aten-
ção dirigida, agudeza, procedimento ordenado, perfeição,
elegância, perseverança, etc.) .
19 - Maior capacidade para o raciocínio abstrato. ( 6 )

(6) Dada a importância de que se reveste o assunto, apre-


sentaremos o texto original das definições detalhadas dos dezenove
objetivos que traduzimos para o português:
1 - The ability to read Latin after the formal study of the
language in school or College has ceased.
2 - The ability to understand Latin quotations, proverbs, and
mottoes occurring in English literature and increased ability to
understand Latin words, phrases, and abbreviations found in books
and current publications.
3 - Increased ability to understand the exact meaning of
English words derived directly ôr indirectly from Latin and in-
creased accuracy in their use.
4 - Increased ability to read English with correct under-
standing.
5 - Increased development of the power of thinking and
expressing thought through the process of translating from Latin
into adequate English.
6 - Increased ability to apell English words of Latin deri-
vation.
7 - Increased knowledge of the principlea of English grammar.
and increased ability to speak and write English correctly.
- 55-

Os "score-cMds" foram preenchidos por 269 professôres


secundários e por 31 de faculdades.
Eram as seguintes as instruções para o preenchimento
dos referidos cartões: "Fazer uma cruz em cada objetivo,
na coluna que indica seu julgamento da importância rela-
tiva daquele objetivo, em cada ano do curso. Uma cruz na
eoluna número 1 indicaria que o professor considera o obje-
tivo de nenhuma importância relativamente, e uma cruz na
coluna número 10 indicaria que considera o objetivo da
mais alta importância. As colunas 2, 3, 4 etc. representam
aproximadamente iguais intervalos na escala de impor-
tância".
O julgamento foi feito pela soma de todos os graus
assinalados pelos professôres, em cada objetivo, para cada
ano, e dividida a soma pelo número de professôres que ex-

9 - Increa.sed abi!ity to master the technical and semi-technical


terms of Latin origin employed in other school subjects, and in
the professions and vocations.
10 - Increased ability to master other foreign languages.
11 - An increased knowledge of the facts relating to the life,.
history, institutions, mythology, and religion of the Romans, and
of the influence of their civilization on the course of western
civilization.
12 - The development of emotional attitudes (ideais) toward
social situations (e.g., patriotism, honor, service,self-sacrifice, etc.),
including a broader understanding of governmental and social
problems.
13 - A first-hand acquaintance through the study of their
writings with some of the chief personal characteristics of the
authors read.
14 - The development of appreciation of the literary qualities
of Latin authors read, and the development of a general capacity
for such apreciation.
15 - A greater appreciation of the elements of literary style
employed in English prose and poetry.
16 - Improvement in the quality of the literary taste and
style of the pupil's written English.
17 - Increased ability to undestand and appreciate references
and allusions in· English literature and current publications to
the mythology, traditions, and history of the Greeks and Romans.
18 - The development of generalized habits (e.g., sustained
attention, accuracy, orderly procedure, thoroughness, neatness, per-
severance, etc.)
19 - Increased capacity for abstract reasoning.
- 56-

pressaram sua opinião a respeito. Quando, como aconteceu


ocasionalmente, qualquer objetivo foi assinalado duas vêzes,
para o mesmo ano, tirou-se a média.
Aqui temos, como exemplo, o "score-card" utilizado:

OBJECTIVES
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
1. Ability to read Latin after
its formal study has cea-
sed . ..................... 1 1 1 1 1 1 1 1 1
1
2. Latin quotations, phrases,
etc., in English .......... 1 1 1 1 1 1 1 1 1

1 1
3. English derivatives ....... 1 1 1 1 1 1 1
1
4. Ability to read English
with understanding ...... 1 1 1 1 1 1 1 1 1

5. Power of thinking and ex-


pressing thought ......... 1 1 1 1 1 1 1 1 1

1
6. Spelling of English words 1 1 1 1 1 1 1 1 1

7. English grammar ........ 1 1 1 1 1 1 1 1 1

8. General principies of lan-


guage structure ......... 1 1 1 1 1 1 1 1 1

9. Technical and semi-techni-


cal terms in other subjects 1 1 1 1 1 1 1 1 1

10. Ability to master foreign


languages ............... 1 1 1 1 1 1 1 1 1

11. History and institutions of


the romans .............. 1 1 1 1 1 1 1 1 1

12. Emotional attitudes towards


social situations ......... 1 1 1 1 1 1 1 1 1

13. Personal characteristics of


the authors read ......... 1 1 1 1 1 1 1 1 1

14. Literary qualities of the 1


Latin authors read ..... _. 1 1 1 1 1 1 1 1 1

15. Elements of literary style


employed in English .... - 1 1 1 1 1 1 1 1 1

16. Literary style of the pupil's


written English .......... 1 1 1 1 1 1 1 1 1

17. References to mythology,


etc., in English .......... 1 1 1 1 1 1 1 1 1

18. Generalized habits, attitu-


des, and ideais ........... 1 1 1 1 1 1 1 1 1

19. Increased capacity for


abstract thinking ........ 1 1 1 1 1 1 1 1 1
- 57-

De acôrdo com os resultados obtidos, os dez objetivos


mais importantes para cada ano foram os seguintes:
1.0 Ano: 7, 18, 3, 6, 5, 4, 8, 2, 10, 19.
2. 0 Ano: 3, 18, 7, 5, 4, 6, 8, 11, 19, 10.
3. 0 Ano: 5, 18, 4, 3, 11, 19, 14, 7, 13, 16.
4. 0 Ano: 5, 14, 17, 4, 18, 3, 11, 19, 15, 16.

Um exame mais acurado permite-nos observar que, na


opinião dos professôres consultados, os objetivos 13, 14, 15,
12, 1, 16, 17, 11, 9, num total de nove, não são atingidos
pelo estudo do primeiro ano de latim, e os objetivos 15, 1
12, 14 e 17, num total de cinco, deixam de ser alcançados
no final do segundo ano de latim. Por outro lado, o inqué-
rito conclui que todos os dezenove objetivos são plenamente
atingidos tanto no terceiro como no quarto ano, pois,
nenhum dêles obteve média inferior a 5 no cômputo de
tôdas as respostas.
Os 269 professôres escolhidos pertenciam a dois grupos
geográficos distintos: - 171 da região Centro-Oeste dos
Estados Unidos e 98 da região Leste. Como a opinião do-
minante foi a de que, no terceiro e quarto ano, todos os
dezenove objetivos foram plenamente alcançados, apresen-
taremos, apenas, os resultados parciais do inquérito promo-
vido por cada região e referentes aos dois primeiros anos.
Os resultados parciais foram os seguintes:
1. 0 ano (região Centro-Oeste): 7, 3, 18, 6, 5, 4, 8, 10,
2, 13. "
1. ano (região Leste): 18, 7, 3, 6, 5, 4, 8, 2, 10, 19.
0

As respostas que os professôres de ambas as regiões


deram aos objetivos do ensino do latim após, o 2. 0 ano de
estudo, permitiram a elaboração dos seguintes resultados:
2. 0 ano (região Centro-Oeste): 3, 7, 5, 4, 18, 6, 8, 10,
11, 19.
2. 0 ano (região Leste): 18, 3, 7, 5, 4, 6, 11, 19, 8, 10.
A. Hare (7), professora do East High School, de Ohio,
baseada nas pesquisas promovidas pela "Classical Investiga-
tion", considera como objetivos mais importantes: ·

5
- 58-

a) A contribuição que o latim pode oferecer ao estudo


do inglês ( objetivos 3, 4, 5, 6 e 7).
b) O valor da disciplina para o exercício mental e o
desenvolvimento dos hábitos com maior eficiência é
evidenciado pelas altas cotações dos objetivos 5, 18
e 19.
e) A medida que o conhecimento do aluno aumenta, a
atenção deve ser dirigida para o valor cultural da
matéria. Pelo estudo da história, política, proble-
mas sociais e literatura dos romanos, êle deve
aumentar o conhecimento da vida e adquirir uma
concepção do papel que Roma desempenhou na civi-
lização do mundo ( objetivos 11, 13 e 17).
d) Alguns objetivos adicionais de importância para o
curso de quatro anos são os de número 14, 15 e
16. Aí a aptidão literária do aluno deve ser desen-
volvida.

Inquérito promovido no Colégio Pedro II - No exer-


cício da cátedra de latim do Colégio Pedro II, que temos
a honra de ocupar desde o ano de 1945, colaboram conosco
vários professôres, os quais foram solicitados a manifestar-se
sôbre os objetivos do ensino desta disciplina no curso secun-
dário. Com o intuito de obter o pronunciamento dêsses pro-
fessôres, fizemos uma adaptação à realidade brasileira dos
dezenove objetivos destacados pela "Classical I nvestigation'\
como também elaboramos, noutro quadro de nossa autoria,
dez indicações que contêm objetivos mais diretamente liga-
dos com a educação secundária no Brasil. Nesse sentido,
enviamos a cada um dos professôres da cadeira de latim
do Colégio Pedro II uma carta-circular ( 8 ).
Para o preenchimento dos quadros A e B recomen-
damos que o professor seguisse as seguintes instruções :
fazer uma cruz correspondendo a cada objetivo indicado, na

(7) HARE, Alice D. - An evaluation of objectives in th~


teaching of Latin. CJ, XIX, 165.
(8) 1ll o seguinte o texto da referida circular:
"Como já é do conhecimento do colega, devo apresentar, no-
início do ano letivo, ao Conselho Departamental, não só as normas
para o ensino de latim nas diversas séries dos cursos ginasial e-
- 59-

coluna que demonstrará o seu julgamento da importância


relativa daquele objetivo em cada série do curso. Assim,
uma cruz na coluna número 1 (Um) indicaria que o pro-
fessor considera o objetivo assinalado de nenhuma impor-
tância naquela série e uma cruz na coluna número 10 (Dez),
indicaria que o objetivo é considerado da mais alta impor-

colegial, como também um relatório das atividades realizadas no


ano findo e programadas para 1958.
A êsse respeito, dirijo-me ao prezado colega pedindo sua aten-
ção e preciosa colaboração no sentido de responder aos quesitos
constantes dos quadros anexos que se destinam, nos moldes de
um inquérito feito nos EE. UU. da América pela "A merican Olas-
sical League", a proceder a um levantamento dos objetivos pri-
meiros e últimos do ensino da cadeira de latim, segundo a opinião
daqueles que, no magistério, como o colega, lidam diretamente com
a disciplina em questão.
Visam as respostas à avaliação dos objetivos mais importantes
da cadeira, relativamente aos diversos níveis de aprendizagem do
primeiro ao último ano.
Assim, seriam considerados objetivos importante:s do ensino do
latim nos sete anos do Curso Secundário:

QUADRO A
1 - A capacidade de ler o latim, após o estudo formal da
língua, nas escolas.
2 - A capacidade de compreender citações e provérbios lati-
nos que aparecem em literatura de língua portuguêsa e
maior facilidade de compreensão de palavras, frases e
abreviações latinas encontradas em livros e publicações
correntes.
3 -· Maior capacidade de"' compreender o significado exato
de palavras portuguêsas derivadas do latim e maior pre-
cisão no seu emprêgo.
4 - Maior capacidade de ler o português com uma compre-
ensão correta.
5 - Maior desenvolvimento do poder de pensar e expressar
o pensamento através do processo de tradução do latim
para o português vernáculo.
6 - Maior habilidade na grafia de palavras portuguêsas deri-
vadas do latim.
7 - Maior conhecimento dos princípios da gramática portu-
guêsa e maior habilidade em falar e escrever correta-
mente o português.
- 60-

_tância. Ás colunas 2, 3, 4 etc. representam intervalos


aproximadamente iguais na escala de importância.
Como se verifica, a cada série do curso secundário ( ciclo
ginasial e clássico) são destinados dois Quadros (A e B),
de modo que o professor devia preencher 14 (Catorze)
quadros.

8 - Um elementar conhecimento dos princípios gerais da


estrutura da língua.
9 - Maior capacidade para dominar os têrmos técnicos de
origem latina usados em outras disciplinas do currículo
e em profissões.
10 - Maior capacidade para dominar outras línguas estran-
geiras.
11 - Maior conhecimento dos fatos que se relacionam com
a vida, história, instituições, mitologia e religião dos
romanos, e da influência de sua civilização no curso da
civilização ocidental.
• 12 - O desenvolvimento de atitudes emocionais (ideais) em
situações sociais (patriotismo, honra, serviço, auto-sacri-
fício, etc.) incluindo umá compreensão mais ampla dos
problemas governamentais e sociais.
13 - Uma familiarização, em primeira mão, através do estudo
de seus escritos com algumas das principais caracterís-
ticas pessoais dos autôres lidos.
14 - O desenvolvimento da apreciação das qualidades literá-
rias dos autores latinos lidos, e o desenvolvimento de
uma capacidade generalizada para tal apreciação.
15 - Uma apreciação maior dos elementos do estilo literário
empregado na prosa e poesia portuguêsas.
16 - Melhoria na qualidade do gôsto e estilo literário do
português escrito do aluno.
17 - Maior capacidade de compreender e apreciar referências
e alusões na literatura de língua portuguêsa e publica-
ções correntes, à mitologia, tradições e história dos gregos
e romanos.
18 - O desenvolvimento de hábitos generalizados (atenção di-
rigida, agudeza, procedimento ordenado, perfeição, ele-
gância, perseverança etc.)
19 - Maior capacidade para o raciocínio abstrato.

QUADRO B
1 - Elemento indispensável para uma formação humanística
segura.
- 61-

Cada professor foi solicitado a responder, nos mesmos


moldes do inquérito promovido pela "American Classical
League", considerando. os objetivos de ambos os quadros
com relação a cada série do atual curso secundário, em
ambos os ciclos: - ginasial e colegial. Assim, cada pro-
fessor preencheu dois quadros para cada série, num total
de catorze para tôdas as séries.
Apresentamos, a seguir, modelos dos dois quadros (A.
e B) distribuídos entre os professôres.
Logo a seguir, em páginas subseqüentes, apresentamos
gráficos referentes a cada série, com os resultados dos
pronunciamentos dos professôres.

2 - O conhecimento gramatical da própria língua latina e


a facilidade da leitura de textos escritos em latim.
3 - O conhecimento duma língua clássica como instrumento
de cultura geral.
4 - O estudo do latim para permitir o conhecimento dos
fatos da gramática histórica.
5 - Instrumento destinado a possibilitar o conhecimento do
mundo latino, sob todos os seu.s aspectos.
6 - Elemento auxiliar para o estudo da filologia.
7 - Possibilidade de leitura, no original, de autôres da lite-
ratura latina.
8 - Melhor conhecimento do vocabulário vernáculo.
9 - Possibilidade de identificar os elementos formadores de
grande parte do vocabulário português.
10 - Instrumento destinado a proporcionar capacidade de sín-
tese no tratamento dos diversos problemas da vida con-
temporânea.
OBJETIVOS DO ENSINO DO LATIM
QUADRO A
CURSO SECUNDÁRIO
.... Série do Ciclo , .. , ••••

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
1 - Capacidade de ler o latim
após seu formal estudo .. 1 1 1 1 1 1 1 1 1
2 - Citações e frases latinas
em português ..........• 1 1 1 1 1 1 1 1 1

8 - Derivação de palavras .. 1 1 1 1 1 1 1 1 1
4 - Capacidade de ler portu-
guês com inteligência ... 1 1 1 1 1 1 1 1 1
5 - Poder de pensar e expres-
sar o pensamento ...... . 1 1 1 1 1 1 1 1 1
6 - Grafia de palavras portu-
guêsas 1 1 1 1 1 1 1 1 1

7 - Gramática portuguêsa .. 1 1 1 1 1 1 1 1 1
8 - Princípios gerais da estru-
tura da língua ......... . 1 1 1 1 1 1 1 1 1
9 - Têrmos técnicos e semitéc-
nicos em outras disciplinas 1 1 1 1 1 1 1 1 1
10 - Capacidade para o domínio
de línguas estrangeiras .. 1 1 1 1 1 1 1 1 1
11 - História e instituições dos
romanos .............. . 1 1 1 1 1 1 1 1 1
12 - Atitudes emocionais em
situações sociais ....... . 1 1 1 1 1 1 1 1 1
13 Características pessoais
dos autôres lidos ...... . 1 1 1 1 1 1 1 1 1
14 Qualidades literárias dos
autôres latinos lidos .... 1 1 1 1 1 1 1 ! 1
15 Elementos do estilo literá-
rio usado em português .. 1 1 1 1 1 1 1 1 1
16 - Estilo literário do portu-
guês escrito do aluno .... 1 1 1 1 1 1 1 1 1
17 - Referência à mitologia
etc. em português ...... . 1 1 1 1 1 1 1 1 1
18 - Hábitos generalizados, ati-
tudes e ideais ......•.... 1 1 1 1 1 1 1 1 1
19 - Maior capacidade para o
raciocínio abstrato ..... . 1 1 1 1 1 1 1 1 1

Rio de Janeiro, .... de .............. de 195 ... .

Nome do Professor
-63-

OBJETIVOS DO ENSINO DO LATIM


QUADRO B
CURSO SECUNDÁRIO
.... Série do Ciclo ....... .

12345678910

1 - Formação humanística .. 1 1 1 1 1 1 1 1
2 - O estudo da língua por si
mesma ................ . 1 1 1 1 1 1 1 1
a- Instrumento de cultura
geral ................. . 1 1 1 1 1 1 1 1 1
4 - Subsídio para o português
histórico .............. . 1 1 1 1 1 1 1 1 1
.5 - Conhecimento do mundo
latino ................. . 1 1 1 1 1 1 1 1 1

(i - Instrumento de filologia . 1 1 1 1 1 l 1 1 1
? - Conhecimento da literatu-
ra latina .............. . 1 1 1 1 1 1 1 1 1
8 - Aperfeiçoamento do voca-
bulário português ...... . 1 1 1 1 1 1 1 l 1

9 - Estudo de etimologia 1 1 1 1 1 1 1 1 1

10 - Capacidade de síntese 1 1 1 ~, 1 1 1 1 1

Rio de Janeiro, .... de .............. de 195 ... .

Nome do Professor
OBJETIVOS DO ENSINO DO LATIM
QUADRO A
CURSO SECUNDÁRIO
1.ª Série do Ciclo Ginasial

·········

1"série· ~'""'õS1dl
Quodro A

1 Capacidade de ler o latim 11 - História e instituições dos


após seu formal estudo .. romanos ............... .
2 Citações e frases latinas 12 - Atitudes emocionais em
em português ......... . situações sociais ....... .
3 - Derivação de palavras .. 13 Características pessoais
4 Capacidade de ler portu- dos autôres lidos ...... .
guês com inteligência ...
5 Poder de pensar e expres- 14 Qualidades literárias dos
sar o pensamento ...... . autôres latinos lidos ....
6 - Grafia de palavras portu- 15 Elementos do estilo literá-
guêsas ................ . rio usado em portug-nês .
7 - Gramática portuguêsa .. 16 Estilo literário do portu-
8 - Princípios gerais da estru- guês escrito dos alunos ..
tura da língua ......... .
17 - Referência à mitologia
9 - Têrmos técnicos e semi- etc., em português ..... .
técnicos em outras discipli-
nas .............. • • • • • • 18 - Hábitos generalizados, ati-
10 - Capacidade para o domí- tudes e ideais .......... .
nio de línguas estrangei- 19 - Maior capacidade para o
ras raciocínio abstrato ..... .
OBJETIVOS DO ENSINO DO LATIM
QUADRO A

CURSO SECUNDÁRIO
2.ª Série do Ciclo Ginasial

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Ouodr-o A

1 Capacidade de ler o latim 11 - História e instituições dos


após seu formal estudo .. romanos ............... .
2 Citacões e frases latinas ;,; 12 - Atitudes emocionais em si-
em português .......... . tuações sociais ......... .
3 Derivação de palavras ..
13 Características pessoais
4 Capacidade de ler portu• dos autôres lidos ...... .
guês com inteligência ...
5 - Poder de pensar e expres- 14 Qualidades literárias dos
sar o pensamento ...... . autôres latinos lidos ....
6 - Grafia de palavras portu- 15 - Elementos do estilo literá-
guêsas ................ . rio usado em português .
7 - Gramática portuguêsa .. . 16 - Estilo literário do portu-
8 - Princípios gerais da estru- guês escrito do aluno ....
tura da língua ......... . 17 - Referência à mitologia
9 - Têrmos técnicos e semi- etc., em português ..... .
técnicos em outras disci-
plinas ................. . 18 - Hábitos generalizados, ati-
10 - Capacidade para o domí- tudes e ideais ......... .
nio de línguas estrangei- 19 Maior capacidade para o
ras .................. • • raciocínio abstrato
OBJETIVOS DO ENSINO DO LATIM
QUADRO A
CURSO SECUNDÁRIO
3.ª Série do Ciclo Ginasial

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·.. Quodro A

, ..
1 - Capacidade de ler o latim 11 - História e instituições elos
após seu formal estudo .. romanos .............. .
2 - Citações e frases latinas 12 - Atitudes emocionais em
em português .......... . situações sociais ....... .
3 - Derivação de palavras ..
4 - Capacidade de ler portu- 13 - Características pessoais
guês com inteligência ... dos autôres lidos ...... .
5 - Poder de pensar e expres- 14 - Qualidades literárias dos
sar o pensamento ...... . autôres latinos lidos ....
6 - Grafia de palavras 11ortu- 15 Elementos do estilo literá-
guêsas ................ . rio usado em português.
7 - Gramática portuguêsa .. 16 Estilo literário do portu-
8 - Princípios gerais da estru- guês escrito do aluno ...
tura da língua ......... .
9 - Têrmos técnicos e semitéc- 17 - Referência à mitologia
etc., em português ..... .
nicos em outras discipli-
nas ...................• 18 - Hábitos generalizados, ati-
10 - Capacidade para o ,lomí- tudes e ideais ......•••..
nio de línguas estrangei- 19 - Maior capacidade para o
ras ................... . raciocínio abstrato ..••••
OBJETIVOS DO ENSINO DO LATIM
QUADRO A
CURSO SECUNDÁRIO
4.ª Série do Ciclo Ginasial ·

1 - Capacidade de ler o latim 11 - História e instituições dos


após seu formal estudo .. romanos ......•........
2 - Citações e frases latinas 12 - Atitudes emocionais em si-
em português .......... . tuações sociais .........•
3 - Derivação de palavras .. 13 - Características pessoais
4 - Capacidade de ler portu- dos autôres lidos ...... .
guês com inteligência ...
5 - Poder de pensar e expres- 14 - Qualidades literárias dos
sar o pensamento ...... . autôres latinos lidos ....
6 - Grafia de palavras portu- 15 - Elementos do estilo literá-
guêsas ......•......... rio usado em português ••
16 - Estilo literário do portu-
8 - Princípios gerais da estru- guês escrito do aluno ..•.
tura da língua ......... .
17 - Referência à mitologia
9 - Têrmos técnicos e semi- etc., em português ..... .
técnicos em outras discipli-
nas ................... . 18 - Hábitos generalizados, ati-
10 - Capacidade _para o domí- tudes e ideais ......... ..
nio de línguas estrangei- 19 - Maior capacidade para o
ras ................... . raciocínio abstrato ..••••
OBJETIVOS DO ENSINO DO LATIM
QUADRO A
CURSO SECUNDÁRIO
1.ª Série do Ciclo Colegial (Clássico)

1 - Capacidade de ler o latim 11 - História e instituições dos


após seu formal estudo .. romanos ............... .
2 - Citações e frases latinas 12 - Atitudes emocionais em si-
em português .......... . tuações sociais ......... .
3 - Derivação de palavras .. .
13 - Caracte.rísticas pessoais
4 - Capacidade de ler portu- dos autôres lidos ...... .
guês com inteligência . .
5 Poder de pensar e expres- 14 - Qualidades literárias dos
sar o pensamento ...... . autôres latinos lidos ....
6 - Grafia de palavras portu- 15 - Elementos do estilo literá-
guêsas ............... . 1·io usado em português ..
7 - Gramática portuguêsa .. 16 - Estilo literário do portu-
8 - Princípios gerais da estru- guês escrito do aluno ....
tura da língua ......... .
17 - Referências à mitologia
9 - Têrmos técnicos e semi- etc., em português ..... .
técnicos em outras disci-
plinas ................. . 18 - Hábitos generalizados, ati-
10 - Capacidade para o domí- tudes e ideais ........ .
nio de línguas estrangei- 19 Maior capacidade para o
ras raciocínio abstrato ..... .
OBJETIVOS DO ENSINO DO LATIM
QUADRO A
CURSO SECUNDÁRIO
2.ª Série do Ciclo Colegial (Clássico)

1 - Capacidade de ler o latim 11 - História e instituições ·do;·.


após seu formal estudo .. romanos ............. .
2 Citações e frases latinas 12 - Atitudes emocionais em si-
em português ......... . tuações sociais ......... .
3 - Derivações de palavras ..
4 - Capacidade de ler portu- 13 Características pessoais
guês com inteligência ... dos autôres lidos ...... .
5 - Poder de pensar e expres- 14 Qualidades literárias dos
sar o pensamento ...... . autôres latinos lidos ....
6 - Grafia de palavras portu- 15 Elementos do estilo literá-
guêsas ............... . rário usado em português
7 - Gramática portuguêsa .. . 16 - Estilo literário do portu-
8 - Princípios gerais da es- guês escrito do alunos ..
trutura da língua ..... .
9 - Têrmos técnicos e semitéc- 17 - Referência à mitologia
nicos em outras discipli- etc., em português ..... .
nas ..............•.... 18 - Hábitos generalizados, ati-
10 - Capacidade para o domí- tudes e ideais ......... .
nio de línguas estrangei- 19 - Maior capacidade para o
ras .................. . raciocínio abstrato ..... .
OBJETIVOS DO ENSINO DO LATIM
QUADRO A
CURSO SECUNDÁRIO
3.ª Série do Ciclo Colegial (Clássico)

1 - Capacidade de ler o latim 11 - História e instituições dos


após seu formal estudo .. romanos ........•......
2 Citações e frases latinas 12 - Atitudes emocionais em si-
em português .......... . tuações sociais ......... .
3 - Derivações de palavras ..
4 - Capacidade de ler portu- 13 - Características pessoais
guês com inteligência ... dos autôres lidos ...... .
5 - Poder de pensar e expres- 14 - Qualidades literárias dos
sar o pensamento ...... . autôres latinos lidos ....
6 - Grafia de palavras portu- 15 - Elementos do estilo literá-
guêsas ................ . rio usado em português .
7 - Gramática portuguêsa .. . 16 - Estilo literário do portu-
8 - Princípios gerais da estru- guês escrito do aluno ....
tura da língua ......... .
9 - Têrmos técnicos e semitéc- 17 - Referência à mitologia
nicos em outras discipli- etc., em português ..... .
nas .... , . , , , , • •,, • • • · • • 18 - Hábitos generalizados, ati-
10 - Capacidade para o domí- tudes e ideais •..•.......
nios de línguas estrangei- 19 - Maior capacidade para o
ras ......... , • •,, • • • · · · raciocínio abstrato. . ....•
OBJETIVOS DO ENSINO DO LATIM
QUADRO B
CURSO SECUNDÁRIO
1.ª Série do Ciclo Ginasial

.' O uedc-o B

1 - Formação humanística ... 6 - Instrumento de filologia .


2 - O estudo da língua por si 7 - Conhecimento da literatu-
mesma ................ . ra latina ............•..
3 - Instrumento de cultura
geral ................. . 8 - Aperfeiçoamento do voca-
4 - S~b~í~io para o português bulário português ...... .
h1stor1co ............... . 9 - Estudo de etimologia ...•
5 - Conhecimento do mundo
latino ................. . 10 - Capacidade de síntese ..•
- 72-

OBJETIVOS DO ENSINO DO LATIM


QUADRO B
CURSO SECUNDÁRIO
2.ª Série do Ciclo Ginasial

1 - Formação humanística ... 6 - Instrumento de filologia


2 - O estudo da língua por si 7 - Conhecimento da literatu-
mesma ................ .
ra latina ............. .
3 - Instrumento de cultura
geral .................. . 8 - Aperfeiçoamento do voca-
4 - S"!lb~í~io para o português bulário português ...... .
h1stor1co .............. . 9 - Estudo de etimologia
5 - Conhecimento do mundo
latino ................. . 10 - Capacidade de síntese
- 73 -

OBJETIVOS DO ENSINO DO LA'rJ:M


QUADRO B
CURSO SECUNDÁRIO
3.ª Série do Ciclo Ginasial

Qvodro l3

·"
1 - Formação humanística ... 6 - Instrumento de filologia .
2 - O estudo da língua por si 7 - Conhecimento da literatu-
mesma ................ . ra latina ............... .
3 - Instrumento de cultura
geral ................. . 8 - Aperfeiçoamento do voca-
4 - Subsídio para o português bulário português ...... .
histórico .............. .
9 - Estudo de etimologia
5 - Conhecimento do mundo
latino ................ . 10 - Capacidade de síntese
OBJETIVOS DO ENSINO DO LATIM
QUADRO B
CURSO SECUNDÁRIO
4.ª Série do Ciclo Ginasial

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Quadro

1 - Formação humanística ... 6 - Instrumento de filologia .


2 - O estudo da língua por si 7 - Conhecimento da literatu-
mesma ............... . ra latina .............. .
3 - Instrumento de cultura ge-
ral ................... . 8 - Aperfeiçoamento do voca-
4 - Subsídio para o português bulário português ...... .
histórico .............. .
9 - Estudo de etimologia
5 - Conhecimento do mundo
latino ................ . 10 - Capacidade de síntese
- 75 -

OBJETIVOS DO ENSINO DO LATIM


QUADRO B
CURSO SECUNDARIO
1.ª Série do Ciclo Colegial (Clássico)

1 - Formação humanística ... 6 - Instrumento de filologia .


2 - O estudo da língua por si
mesma ............... . 7 - Conhecimento da literatu-
ra latina .............. .
3 - Instrumento de cultura ge-
ral .................. . 8 - Aperfeiçoamento do voca-
4 - Subsídio para o português bulo português ......... .
histórico .............. .
9 - Estudo de etimologia
5 - Conhecimento do mundo
latino ................ . 10 - Capacidade de síntese
OBJETIVOS DO ENSINO DO LATIM
QUADRO B
CURSO SECUNDÁRIO
2.ª Série do Ciclo Colegial (Clássico)

1 - Formação humanística ... 6 - Instrumento de filologia .


2 - O estudo da língua por si
mesma ................ . 7 - Conhecimento da literatu-
ra latina .............. .
3 - Instrumento de cult1Jra ge-
ral ................... . 8 - Aperfeiçoamento do voca-
4 - Subsídio para o português bulário português ...... .
histórico .............. . 9 - Estudo de etimologia
5 - Conhecimento do mundo
latino ................. . 10 - Capacidade de síntese
OBJETIVOS DO ENSINO DO LATIM
QUADRO B
CURSO SECUNDÁRIO
3.ª Série do Ciclo Colegial (Clássico)

1 - Formação humanística 6 - Instrumento de filologia •


2 - O estudo da língua por si 7- Conhecimento da literatura
mesma ............... . latina ............... .
3 - Instrumento de cultura
geral ................. . 8 - Aperfeiçoamento do voca•
4 - Subsídio para o português bulário português ...... .
histórico ............. . 9 - Estudo de etimologia
5 - Conhecimento do mundo
latino ................. . 10 - Capacidade de síntese
- 78-

De acôrdo com os gráficos apresentados, o inquérito por


nós promovido no Colégio Pedro II, dá como objetivos alcan-
çados nas várias séries do Curso Médio, os seguintes, na
ordem de importância:

Quadro A:
l.ª série ginasial: 3, 8, 7, 6, 5, 4, 19.
2.ª série ginasial: 7, 3, 8, 19, 6, 5, 4, 11.
3.ª série ginasial: 7, 3, 19, 6, 8, 4, 5, 11, 1, 2, 10, 17,
9, 18.
4.ª série ginasial: 7, 3, 6, 8, 5, 19, 1, 11, 4, 9, 10, 2,
17, 18, 13, 16, 12, 14.
1.ª série clássica: 3, 6, 7, 4, 1, 5, 19, 8, 10, 11, 9, 2,
13, 14, 16, 15, 17, 18, 12.
2.ª série clássica: 6, 3, 7, 1, 4, 8, 19, 5, 11, 10, 2,
14, 13, 17, 16, 12, 15, 18.
3.ª série clássica: 6, 3, 5, 15, 1, 4, 14, 11, 19, 7, 10,
8, 9, 17, 13, 12, 18, 2, 16.

Quadro B:
1. ª série ginasial : 8, 1, 2, 3.
2.ª série ginasial: 8, 1, 3, 2, 5, 9.
3. ª série ginasial : 8, 1, 1, 3, 5, 9, 2, 10.
4.ª série ginasial: 8, 3, 5, 1, 9, 10, 2, 4, 6, 7.
1.8 série clássica: 9, 8, 4, 3, 1, 5, 6, 7, 2, 10.
2.ª série clássica: 1, 3, 5, 9, 7, 2, 6, 8, 4, 10.
3.ª série clássica: 3, 1, 4, 6, 8, 7, 9, 5, 2, 10.

Consideramos como objetivos a serem alcançados nas


séries do curso secundário, primeiro e segundo ciclo, todos
os que obtiverem, no cômputo final dos valores atribuídos,
média igual ou superior a cinco.
Escolhendo do resultado obtido no Quadro A, os cinco
objetivos tidos como de maior importância nas várias séries
do curso ginasial, temos :
1.ª série: 3, 8, 7, 6, 5.
2.ª série: 7, 3, 8, 19, 6.
3.ª série: 7, 3, 19, 6, 8.
4.ª série: 7, 3, 6, 8, 5.
79 -

Podemos fàcilmente daí concluir que, de acôrdo com as


respostas dos professôres consultados, constituem objetivos
a serem alcançados no fim de quatro anos de estudo de
latim:
a) Maior conhecimento dos princípios da gramática
portuguêsa e maior habilidade em falar e escrever
corretamente o português.
b) Maior capacidade de compreender o significado
exato de palavras portuguêsas derivadas do latim
e maior precisão no seu emprêgo.
c) Um elementar conhecimento dos princípios gerais da
estrutura da língua.
d) Maior habilidade na grafia de palavras portuguê-
sas derivadas do latim.
e) Maior desenvolvimento do poder de pensar e ex-
pressar o pensamento através do processo de tradu-
ção do latim para o português vernáculo.
f) Maior capacidade para o raciocínio abstrato.
Se compararmos êsse resultado do inquérito promovido
no Colégio Pedro II com o que foi obtido pela "American
Classical Leagite", será interessante observar a identidade
das conclusões quando, tanto num como noutro, são consi-
derados de magna importância os objetivos do estudo do
latim que dizem respeito à aprendizagem e ao domínio mais
completo do idioma nacional.
É, portanto, incontestável o valor do idioma latino nesse
curso inicial de quatro anos que contribui de forma ineqüí-
voca para ..aperfeiçoar o conhecimento da língua pátria,
aprofundá-lo e preparar-lhe um alicerce apoiado em bases
científicas (objetivos 7, 3, 8, 6).
Além de tão grande utilidade, é ainda o latim nesses
quatro primeiros anos, instrumento ideal para mais com-
pleto desenvolvimento das faculdades mentais do aluno,
então adolescente, uma vez que desenvolve o "poder de
pensar e expressar o pensamento" ( objetivo n. 0 5) e aumenta
a "capacidade para o raciocínio abstrato" (objetivo n. 0 19).
Para os três anos seguintes ao Curso Ginasial, foram
considerados como cinco mais importantes objetivos do
estudo do latim :
1. 0 ano clássico: 3, 6, 7, 4, 1
2. 0 ano clássico : 6, 3, 7, 1, 4
3. 0 ano clássico : 6, 3, 5, 15, 1
- 80-

São, portanto, de acôrdo com o inquérito realizado,


objetivos a serem atingidos nessa segunda etapa do curso
secundário :
a) Maior capacidade de compreender o significado
exato de palavras portuguêsas derivadas do latim e maior
precisão no seu emprêgo.
b) Maior habilidade na grafia de palavras portugnt'i-
sas derivadas do latim.
e) A capacidade de ler o latim após o estudo formal
da língua nas escolas.
d) Maior conhecimento dos princ1p10s da gramática
portuguêsa e maior habilidade em falar e escrever correta-
mente o português.
e) Maior capacidade de ler o português com uma com-
preensão correta.
f) Maior desenvolvimento do poder de pensar e ex-
pressar o pensamento através do processo de tradução do
latim para o português vernáculo.
g) Uma apreciação maior dos elementos do estilo lite-
rário empregado na prosa e poesia portuguêsas.

Como podemos observar, continua a grande importância


do estudo do latim para o conhecimento da língua portu-
guêsa sob o aspecto histórico ( objetivos 3, 6, 7) e mesmo
para o aperfeiçoamento das tendências literárias ( objetivo
15). O objetivo n. 0 1, o conhecimento da língua latina em
si mesma, deve sem dúvida ter sido alcançado, após 7 anos
de estudo bem orientado da matéria. Nos objetivos 4 e 5,
permanece ainda em destaque o valor ordeiro e disciplinar
do estudo do latim.
Destacando do inquérito feito os quatro objetivos consi-
derados os mais importantes no Quadro B, de nossa autoria,
temos nas várias séries do curso ginasial o seguinte resul-
tado:
1.º ano: 8, 1, 2, 3
2.º ano: 8, 1, 3, 2
3.º ano: 8, 1, 3, 5
4.º ano: 8, 3, 5, 1.
- 81-

Assim, foram considerados objetivos de importância :


a) Elemento indispensável para uma formação huma-
nística segura.
b) Melhor conhecimento do vocabulário vernáculo.
c) O conhecimento duma língua clássica como instru-
mento de cultura geral.
d) Instrumento destinado a possibilitar o conhecimento
do mundo latino, sob todos os seus aspectos.
e) O conhecimento gramatical da própria língua latina
e a facilidade da leitura de textos escritos em
latim.

Para o curso clássico, nos três anos foram considerados


objetivos mais importantes os quatro seguintes:
1. 0 ano: 9, 8, 4, 3
2. 0 ano: 1, 3, 5, 9
3. 0 ano: 3, 1, 4, 6

Vejamos a seguir seus enunciados:


a) O conhecimento duma língua clássica como instru-
mento de cultura geral.
b) Elemento indispensável para uma formação huma-
nística segura.
c) O estudo do latim para permitir o conhecimento dos
fatos da gramática histórica.
d) Possibilidade de identificar os elementos formado-
res de grande parte do vocabulário português.
e) Instrumento destinado a possibilitar o conheci-
mento do mundo latino, sob todos os seus aspectos.
f) Elemento auxiliar para o estudo da filologia.

Podemos fàcilmente concluir, pelo que ficou exposto,


que, pelos objetivos considerados de maior importância nas
respostas apresentadas no Quadro B do inquérito, dois são
de preponderância evidente: o humanismo ( objetivo 1, 3, 5)
e o estudo da língua portuguêsa ( objetivos 4, 6, 8, 9).
Para terminar, então, resta-nos, com apoio agora em
dados concretos e em fatos estatlsticamente comprovados,
afirmar, mais uma vez, o que com insistência dissemos nas
páginas anteriores: o estudo do latim, no curso secundário,
- 82-

não só tem o valor que de modo algum se pode negar a


qualquer disciplina do curso de humanidades, como ainda,
por suas características próprias e pelos elevados objetivos
específicos a que visa, constitui um instrumento seguro
de boa e sólida formação intelectual e prepara pela orde-
nação e disciplina do pensamento, pela agudeza do espírito,
pelo amor à pesquisa e pelo respeito às tradições humanís-
ticas de nossa herança lingüística, as gerações merecedoras
de um futuro realizador.
O tríplice objetivo de Hutchinson - Mark Hutchinson,
professor do Cornell College, de Iowa, leu perante a Seção
clássica da Associação de professôres do Estado de Iowa
( Classical Section of the fowa State Teachers Association)
- em novembro de 1936, uma comunicação sôbre os obje-
tivos do ensino de latim no High-School, que são classifi-
cados em três grupos: - objetivo instrumental ou de apli-
cação; objetivo disciplinar e objetivo histórico-social.
Na primeira categoria, êle destaca a aplicação dos conhe-
cimentos adquiridos através do ensino de latim para faci-
litar a aprendizagem do inglês. Todavia é preciso não
exagerar essa aplicação, a fim de evitar que o estudo fique
transformado numa dissecação permanente de palavras, o
que poderia dar ao aluno a impressão dum campo árido e
de interêsse muito limitado.
"Most of the textbooks published since the Clas-
sical Report have devoted a great deal of atten-
tion to this objective. It has seemed to me that
sometimes teachers have paid so much attention to
these application objectives th,at their courses have
been classes in word-study and derivation rather
1

than in Latin ( 9 ).

A leitura do latim está incluída no segundo objetivo,


pois é através dela que o ensino pode ser considerado como
fator de disciplina mental.
Finalmente, o objetivo histórico-social tem a sua razão
de ser, porque o estudo da língua latina permite penetrar

(9) HUTCHINSON, Mark E. - Objectives in the Teaching o/


High-SohooZ Latin and the Measurement o/ their Attainment
- CJ, XXXIV, 274.
- 83-

no antigo mundo romano e estabelecer a sua correlação com


a vida do século atual.
"These values •will not come by accident, but
the teacher must know what is going on in the
world about him and make every effort to connect
the content of the Latin being read with twentieth
centur,y thought and lif e." ( 1º)

Em trabalho anterior ( 11 ), Hutchinson faz nove reco-


mendações aos professôres de latim e dá importância acen-
tuada à leitura como objetivo do ensino, High School,
conforme poderemos verificar através da enumeração de
cinco dessas recomendações :
a) Professôres de latim adotariam como único obje-
tivo a habilidade de seus alunos para ler o latim;
b) os textos de leitura devem ser adaptados à idade
dos estudantes ;
c) as leituras devem ser feitas com menor densidade
vocabular;
d) as leituras devem proporcionar ao aluno, nos
vários estágios da aquisição de vocabulário, muita prática
de leitura;
e) o .professor deve partir do latim para o inglês e
não do inglês para o latim;

No capítulo dedicado exclusivamente à leitura, reservar-


nos-emos para emitir considerações especiais sôbre o assunto
e mostraremos, baseados em dados positivos, como ela é um
dos principais complementos do ensino do latim.
Observação de G. Ganss - O padre jesuíta Gauss (1 2 ),
em trabalho publicado no Classical J ournal de 1956, numa
análise retrospectiva dos objetivos do ensino de latim du-
rante 400 anos, a partir de 1556 às últimas investigações
promovidas pela American Philological Association e o inte-

(10) HUTCH!NSON, M. E. - op. cit., pg. 276.


(11) HUTCHINSON, M. E. - Realism in Latin Teaching - CJ,
XXXI, 477.
(12) GANss, George E. - Ohanging objetives and Procedures
in Teaahing Latin, 1556-1956, pg. 21.
- 84

rêsse na lingüística estrutural e descritiva e outras expe-


riências, torna evidente que, hoje em dia, os classicistas
procuram integrar o latim no currículo tentando reajustar
seus objetivos e processos às circunstâncias do mundo
moderno.

CHassüicação dos objetivos do ensino de Latim


A orientação que imprimimos ao desenvolvimento e à
exposição dêste trabalho leva-nos a classificar em cinco
grupos os objetivos do ensino do latim:
a) objetivos humanísticos;
b) objetivos de aplicação;
c) objetivos de formação literária;
d) objetivos de caráter disciplinar;
e) objetivos histórico e social.

OBJETIVO HUMANÍSTICO - No capítulo dedicado à fun-


damentação do ensino de latim, demos importância excepcio-
nal ao seu papel na formação do humanismo, de modo que
cometeríamos flagrante contradição se, agora, ao tratarmos
de estabelecer os seus objetivos, também não fôssem as con-
seqüências decorrentes do humanismo apontadas, em pri-
meiro plano, como objetivo primordial.
Não teremos, aqui, necessidade de caminhar para o hu-
manismo, porque é dêle que devemos partir. Provada a
conveniência e indicadas as vantagens do humanismo na
constituição da mentalidade do homem, teremos de consi-
derar o latim com o objetivo de nos conduzir a êsse resul-
tado.
Não podemos, agora, fazer digressão para discutir a
definição do humanismo, mas não seria demais repetir o
que dêle afirma Herescu: ( 13 ) "é a arte de formar a alma
humana pela cultura do espírito." Essa cultura do espírito
pode ser eficazmente alcançada através do estudo do latim,
língua que alguns consideram morta, mas que, na realidade
é imortal. Herescu, ao formular a pergunta se o estudo
das línguas antigas contribui para a obtenção da cultura
do espírito, observa que, na época em que os estudos clássicos

(13) HEREscu, N. J. - "Homo-humus-humanitas" - Bulletin


de l'Association Guillaume Budé, 1948, p. 76.
- 85 -

eram a base de tôda a formação espiritual, o mundo estava


menos próximo da barbária do que nos dias anais.
Aulo-Gélio, ( 14 ) nas suas "z,.; oites Aticas", dá-nos uma
página admirável sôbre o humanismo, que transcreveremos,
porque os ensinamentos ali expostos servem para demons-
trar o quanto o ensino do latim pode contribuir para que
se obtenha formação humanística:
"Qwi verba latina f ecerunt quique iis probe usi smit
hnmanitatem non id esse voluerunt, qiwd milgus
existimat, quodque a graecis cp,Àav0pc,nría et significat
dexteritatem quandam benevolentiamque erga omnes
homines promiscam; sed humanitatem appellaverunt
id propemod·um, quod graeci 1rm8EÍav vocant, nos
ernd·itionern instifoonemque in bonas artes dici-
m11s; quas qui sinceriter c11pittnt appefontque, hi
.rnnt vel maxime hurnanissimi... Huius enim scien-
t-iae cura et disciplina ex universibus animantibus
uni homini data est, idcircoque humanitas appellata
est. Sic igitiir eo verbo veteres esse usos, et cum-
primis M. Varronem Marcumque Tullium, omnes
ferme li8ri declarant. Quamobrem satis habiti
unurn interim exemplum promere. ]taque verba
posui V arronis e libro Rerum humanarum primo,
cuius principium hoc est: "Praxiteles, qui propter
artificium egregium nemini est palum modo huma-
niori ignotus. Humaniori, inquit, non ita, ut vulgo
dicitur, f aci'.l-i et tractabili et benevolo, tametsi rudis
litterarum sit ( hoc enim cum sententia nequaquam
convenit), sed eruditi:ori doctriorique, qui Praxite-
lem, quid fuerit, et ex libris et historia cognoverit".

A magnífica e clara exposição de Aulo Gélio mostra a


amplitude do conceito de humanitas, que abrange a philan-
tropia e a paideia dos gregos. Além disso, é preciso pene-
trar no gênio da língua latina para compreender, em tôda
a sua extensão, o verdadeiro sentido de humanitas.
Num trabalho lido perante a 42.ª Reunião anual da
"Classical Association" de New England, em Amherst Col-
lege, em abril de 1948, Kershaw ( 15 ) mostrou, como a disci-
(14) AuLO GÉLIO - Noctes Attfcae - XIII, 17.
(15) KERSHAW, Helen G. - Functional Latin -, lf at ali -
CW, XLII, 25.
- 86-

plina visando à realização de suas possibilidades humanís-


ticas estaria contribuindo não só para a vital necessidade da
educação, mas acrescentaria ainda vigor à perpetualização
do latim.
ÜBJETIVOS DE APLICAÇÃO - Reuniremos, neste grupo,
todos os objetivos que consistem em facilitar o ensino do
português ou de uma língua estrangeira.
O objetivo imediato é, sem dúvida, poder ler inteli-
gentemente o latim, isto é, ler sabendo o que leu. Por isto
os textos devem conter dificuldades proporcionais à capa-
cidade intrínseca do aluno. Dentre todos os objetivos de
aplicação, o de ler o latim é, inegàvelmente, o que exige
maior atenção por parte do professor, porque o discípulo,
desde o primeiro ano de estudo, precisa estar em condição
de ler e compreender os textos que lhes são apresentados.
O curso completo de latim deve colocar o aluno em condi-
ções de ler inteligentemente os clássicos latinos e se êste
objetivo fôr alcançado todos os demais também serão.
Dunham, professor da Universidade de Michingan, em
substituição ao objetivo apontado pela Classical Investiga-
ti.on declara :
"The constant primary aim in the study of se-
condary Latin is the gradu,al gro:wth of power to
read and understand, interpret and appreciate such
classical Latin or Latin of a cla,ssical flavor as it
is suited to the capacity and aptitude of the
learner." (1 5 )

No entanto, devemos acentuar que o objetivo pôsto em


relêvo por Dunham não deve ser considerado como "cons-
tant aims", pois somos mais inclinados a concordar com
Charles Williams ( 17 ), quando diz que, no correr da vida,
uma pessoa pode esquecer as declinações e as conjugações
e até mesmo o poder ler ou traduzir, mas permanece o
efeito do estudo em seu desenvolvimento mental, o conhe-
cimento dos homens e do mundo conquistado direta ou indi-

(16) DUNHAM, Fred S. - What is our aim in Secondary Latint


- CJ, XXX, 166.
(17) WILLIAMS, Charles R. - apud Susan Paxson, Hints for
the Latin Teacher", CJ, VIII, 63.
- 87-

retamente e a largueza de visão, que entram como parte de


seu ser que nunca mais o deixarão.
A compreensão de citações e provérbios latinos, que apa-
recem constantemente na literatura, constitui outro objetivo
do ensino do latim. Após dois anos de estudo, o aluno já
poderá compreender certas abreviações e frases usuais
encontradas em publicações correntes.
A formação de palavras derivadas do latim será pro-
blema que o discípulo fàcilmente compreenderá. As ques-
tões da etimologia, sendo utilizados os conhecimentos apren-
didos através do ensino do latim, passarão a constituir
assunto que despertará a curiosidade do discípulo. No in-
quérito promovido pela "Classical Investigation", êsse obje-
tivo foi considerado como tendo sido atingido, logo após o
primeiro ano de estudo. Isto poderá ser uma das respostas
aos que consideram desnecessário o latim a quem não pre-
tende especializar-se nesses estudos.
A grafia das palavras portuguêsas, derivadas do latim
e um melhor conhecimento dos princípios gerais da estru-
tura da língua constituem objetivos plenamente atingidos,
logo após os primeir'os anos de estudo. No inquérito pro-
movido pela American Classical Leagtte, ficou comprovado
que o estudo do latim contribuiu para melhor conhecimento
da grafia de palavras inglêsas bem como da estrutura dessa
língua estrangeira. Se êste resultado foi obtido com refe-
rência ao inglês, devemos concluir que dados muito mais
:favoráveis serão conseguidos com relação ao português, por
ser êste língua românica.
O professor de português, que fôr levado, por qualquer
contingência, a explicar a gramática história a alunos,
que nunca estudaram o latim, estará perdendo seu tempo,
porque os discípulos jamais poderão entender as transfor-
mações por que passou a língua portuguêsa para chegar ao
estado atual. É possível que, com esfôrço mnemônico, o
aluno consiga gravar as explicações do professor, mas não
poderá compreender as principais leis, que regem a gramá-
tica histórica e explicam a evolução das formas do nosso
vocabulário.
Se outros objetivos não pudessem ser apontados, o de
servir para compreensão da gTamática histórica, seria o
bastante para justificar a presença do latim no curso secun-
dário. Êste objetivo envolve, pois, questão de caráter pa-
-88-

triótico, porque sem o instrumento do latim, será impossível


estudar a nossa língua em tôda a sua profundidade e
extensão.
O raciocínio empregado para compreender a frase
latina, dará ao aluno a capacidade de melhor interpretar
o texto em língua portuguêsa.
Finalmente, os inquéritos realizados demonstraram o
extraordinário valor do latim no ensino das línguas estran-
geiras. Não se pode negar êste subsídio no caso das demais
línguas românicas, porque a afinidade existente entre
elas e o fato de ser o latim a língua-mãe seriam o bastante
para afastar qualquer alegação em sentido contrário.
Limitemo-nos pois, a assinalar esta importância com refe-
rência ao ensino da língua inglêsa. Escreveríamos mais
de duzentas páginas, se tentássemos fazer uma apreciação
dos trabalhos e inquéritos promovidos nos principais centros
culturais com a finalidade de demonstrar a importância do
latim para proporcionar aos inglêses e americanos melhor
conhecimento da sua língua.
Bradley, em trabalho sôbre o efeito do latim sôbre os
estudos das línguas estrangeiras, apresenta-nos um sumário
com nove conclusões de suas interessantes investigações. Na
oitava conclusão, êle diz que, quanto mais difícil fôr a asso-
ciação do símbolo da língua estrangeira com o da língua
vernácula, tanto mais necessário será dirigir a atenção à
análise do conteúdo do pensamento. Por êste motivo, o
grego e o latim são superiores em possibilitar o domínio
da linguagem no alemão, francês e espanhol.
" ... the more difficult the direct association of
the f oreign symbol with the vernacnlar symbol, the
more certain is the direction of attention to ana-
lysis of the thought-content. For this reason Greek
and Latin are .rnperior as media for train1'.ng
foward mastery of language to German, French or
Spanish." ( 18 )
Hutchinson (1 9 ) assinala que a melhoria do vocabulá-
rio inglês deve ser considerado o mais importante dos últi-
(18) BRADLEY, Barclay W. - "The effect of Foreign Language
St'Udy upon habits of Thinking" - CW, XXV, 1.
(19) HUTCHJNSON, M. E. - Some recent Research on the Tea-
ching of Latin - CJ, XXXIX, 452.
- 89 -

mos objetivos do ensino do latim e as pesquisas, neste campo,


devem ser encorajadas. Os professôres Carr, Owen e
Schoeffer ( 2º) analisaram as vinte mil palavras do livro
"A Teacher's Word Book", de Thorndike e encontraram
48,73% de palavras de origem latina, 10,22% de grego,
32,26% do germânico, 0,70% do celta, 1,88% de várias
origens, 1,03% de imitação e 5,118% de origem duvidosa.
Alguns autôres, como é o caso de William Seaman
julgam que a importância do estudo do latim, independe
de qualquer objetivo alheio à aprendizagem da própria
língua. Êle chega a afirmar que se deve tão-somente ensi-
nar o latim, deixando os objetivos de caráter cultural em
nível inferior.
A orientação, que imprimimos a êste trabalho, já per-
mite ao leitor concluir que não podemos, de nenhum modo,
concordar com a opuuao isolada do professor Seaman ( 21 ),
qu~,,. contraria, aliás, as conclusões obtidas pela Classical
lnvestigation.
Se as estatísticas demonstram as vantagens de o latim
tornar o ensino da língua inglêsa mais compreensível aos
próprios inglêses, está evidente que essas vantagens são para
nós muito mais acentuadas, dada a circunstância de ser o
português derivado diretamente do latim.
OBJETIVOS DE FORMAÇÃO LITERÁRIA - As obras dos
grandes autôres da literatura latina, lidas diretamente no
original, permitirão sentir os incontestáveis tesouros que elas
encerram. Poderão objetar-nos que isto seria fàcilmente
possível, sem que houvesse necessidade de conhecer o latim,
mas através de boas traduções. É verdade que uma boa
tradução daria uma idéia geral da obra e dos temas nela
desenvolvidos, porém jamais proporcionaria o sabor de sentir
o verdadeiro estilo do autor, nem tampouco permitiria sentir
certas sutilezas somente suscetíveis de percepção, através
da leitura, no original.
O contacto direto com os clássicos latinos há de permi-
tir a compreensão das características dos autôres lidos e a

(20) CARR, w. L.; OWEN, E.; SCH0EFFER, Rudolf. - "The source


of English Words" - CO, XIX, 45.
(21) SEAMAN, W. - On the teaching of inflection. CW,
XXXVII, 17.

7
- 90-

sua utilização, na formação do próprio estilo do leitor. Mas


nãq é somente o aparecimento do estilo, que devemos assi-
nalar, porque o conteúdo das grandes obras da literatura
latina e a utilização de assuntos ali contidos como temas
de novos trabalhos, embora sejam inspirados num grande
autor, não deixam de ter o caráter de originalidade. Dante,
Goethe, Montaigne e muitos outros não teriam escrito as suas
obras-primas, se não houvessem lido, nos originais, as obras
clássicas que lhes serviram de inspiração.
Horácio já nos ensinava, em sua monumental Arte Poé-
tica, que se pode imprimir cunho de originalidade ao tra-
balho já exposto por outrem, desde que não se permaneça
num círculo vulgar, nem se empreguem assuntos numa
ordem usualmente conhecida.
"Publica materies privati iuris erit, si
Non circa vilem patulumque moraberis orbem?"
(HoR. A.P. 130)

Qualquer pessoa que, já conhecendo a Eneida, tiver o


ensejo de ler a Divina Comédia experimentará vivas emo-
ções, porque sentirá, a cada passo, surgir um Virgílio sob
outra forma. É o belo que se apresenta, aproveitando as
novas contingências da época, para poder ser melhor sen-
tido e admirado.
Somente quem tiver conhecimento da língua latina, po-
derá apreciar as qualidades literárias dos autôres latinos
lidos e utilizá-las na formação de seu estilo. Essa penetra-
ção nos originais das obras literárias da antiguidade latina
acarretará outras vantagens como por exemplo, fará com
que o aluno melhor possa apreciar os elementos do estilo
dos prosadores e poetas brasileiros e portuguêses. Por
outro lado, o aluno terá aprimorado o seu próprio estilo,
que adquirirá mais vigor e precisão, qualidades estas susce-
tíveis de serem aferidas através de testes comparativos entre
grupos de alunos, que estudaram a literatura latina e os
que não a estudaram.
O maior poema épico da língua portuguêsa está repleto
de referências para cuja elucidação é necessário conheci-
mento da mitologia e das instituições da antiguidade greco-
latina. Se quisermos ter uma prova disso, é só abrir os
Lusíadas, ao acaso, e poderemos verificar que não conse-
- 91-

guiremos interpretar o pensamento do autor, se não recor-


rermos à mitologia, à tradição e à história dos antigos
gregos e romanos.
"Se tenho novos mares perigosos
D 'outra Sila e Caribdis, já passados;
Outros ristes, e baixos arenosos; ·
Outros Acroceraunios infamados;
No fim de tantos casos trabalhosos,
Porque somos de ti desamparados f
Se êste nosso trabalho não te ofende,
Mas antes teu serviço só pretende!"
(Lus. VI, 82)

À alusão feita a Sila e Caribdis só poderá ser interpre-


tada por quem souber em que sentido Homerp, Virgílio e
Horácio se referiram a êstes lugares.
Hans Oppermann ( 22 ), mostra que a presença da anti-
guidade greco-romana se faz sentir nas grandes obras dos
principais autôres literários contemporâneos, como Sartre,
Thornton "\Vilder, O 'Neill, Reisiger, Bloch etc ....
Os objetivos números 13, 14, 15, 16 e 17 da Cla-Ssical
lnvestigation serão alcançados através do estudo da litera-
tura latina, mas, para isto, torna-se indispensável o conhe-
cimento da língua a ponto de ser possível o contacto direto
com o original, sem haver necessidade de recorrer às tra-
duções.
Se o conhecimento da literatura latina tem prestado
incontestáveis serviços ao patrimônio cultural da humani-
dade, como testemunham os que dela se utilizaram na ela-
boração de suas grandes obras, parece, fora de qualquer
dúvida, que ao ensino do latim também se deva atribuir o
objetivo de tornar possível ler e analisar as obras dos clás-
sicos: - é o objetivo de formação literária.
ÜJETIVO DE CARÁTER DISCIPLINAR - À estrutura da língua
latina obriga o estudante, desde o início, a fazer uso do
raciocínio de maneira bastante acentuada, a ponto de ser
o latim considerado a matemática das línguas.

(22) ÜPPERMANN, Hans - Die Antike und Kunst der Ge-


genwart - (Der altsprachliche Unterricht II, 10 pag. 40).
- 92

A flexão nominal e verbal, a colocação das palavras na


frase e o próprio vocabulário acarretam a prática de hábitos
recomendáveis ao desenvolvimento da inteligência como
atenção dirigida, agudeza e procedimento ordenado.
O caráter de matéria disciplinadora da inteligência é
reconhecido e proclamado por pedagogos de renome, bem
como verificado através dos inquéritos promovidos pela
Classicai lnvestigation:
"For mar,;y ·years Latin held its prominent place
in the curriculum of the secondary school because
it was thoitght to give a mental training or disci-
pline to the sfodent which wonld be of great valne
to him later life." (23 )

A propriedade de contribuir o estudo da língua latina


para o desenvolvimento de hábitos, atitudes e ideais foi
reconhecida pela quase totalidade dos professôres, que res-
ponderam ao inquérito da Classical lnvestigation. É im-
portante acentuar que o resultado positivo foi verificado
com relação a todos os anos do curso, inclusive o primeiro,
onde houve 82% de respostas favoráveis.
É verdade que alguns psicólogos (24 ) ponderam que
êsse exercício da disciplina do espírito pode ser obtido por
muitos outros meios, mas isto não significa que os profes-
sôres de latim, ao ministrar o ensino dessa disciplina, deixem
de considerar a sua utilização para o aprimoramento di\~;ses
hábitos generalizados.
Ademais, devemos observar que os próprios opositores
não negam ao latim o caráter de matéria que imprime dis-
ciplina à inteligência e desenvolve o raciocínio abstrato,
mas se limitam a dizer que êsse objetivo também poderia
ser alcançado através de outros processos. Não é opor-
tuno entrar no mérito dessa ponderação que nem sequer a
recebemos como objeção, porque, a nossa finalidade é distin-
guir e apontar os objetivos do ensino do latim.

(23) HUTCHINSON, M. E. - "Objetive8 in the Teaching of


High-SchooZ Latin and the MeaBUrement of their Attainment"
CJ, XXXIV, 273.
(24) THORNDIKE, E. L. - Mental diBctpline in High School
Subjects - J. of Educational Psychology, XV, 1-24; 83-98.
- 93-

OBJETIVOS DE CARÁTER HISTÓRICO-SOCIAL - Nos capítulos,


que dedicaremos aos processos de ensino, assinalaremos a
necessidade de ser o texto comentado sob todos os aspectos.
Os comentários em função do texto são úteis não somente
para a sua compreensão, mas também abre os horizontes
do aluno para penetrar no antigo mundo romano. Esta
análise retrospectiva permite-nos sentir as nossas próprias
raízes de povo latino e estabelecer o elo que nos liga ao
passado.
Não é somente ao professor de história que interessa o
conhecimento da antiga civilização romana, mas a todos nós.
Somos os próprios latinos com as pequenas modificações
nos hábitos e costumes, impostas pela evolução dos séculos.
O professor deverá, através das orações de Cícero, dar
ao aluno uma idéia geral da vida política dos romanos e
aproveitar as passagens adequadas para desperta~ o senti-
mento de patriotismo, de honra e de fidelidade à democracia.
Os problemas governamentais e sociais dos romanos serão
mais bem compreendidos mediante informações hauridas nos
escritores daquela época e tôdas essas informações encon-
trarão melhor receptividade por parte do aluno do que se
as transmitíssemos em caráter narrativo, como se ffü,sem
apenas aula de história.
O segundo capítulo da Primeira Catilinária, por exem-
plo, na parte em que se refere ao assassinato de Tibério
Graco, dá oportunidade a que o professor explique o motivo
dêsse crime diante das campanhas empreendidas pelos
irmãos Gracos visando à transformação social.
Ullman, ( 25 ) professor da Universidade de Chicago,
numa alusão aos que pretendem dar maior incremento
aos estudos de ciências sociais em prejuízo do de línguas
observa:
"They forget that the stiul,y of a language like
Latin is an education in itself.
They f orget that a good Latin teacher is at one and
the same time a good English teacher and a good
social science teacher. A.nd they b,ase some of their
most eff eetive arguments, on the utterances of those
na,rrow-visionecl Latin teachers who insist that the

(25) ULLMAN, B. L. - Cicero and Modern Politics - CJ, XXX,


385.
- 94-

aim of the Latin teacher is to teach Latin and


nothing else".

Segundo nos informa Hutchinson, ( 26 ) duas professôras


norte-americanas executaram dois importantes trabalhos nas
respectivas cátedras com a finalidade de tornar o objetivo
histórico-social uma parte vital do latim. Uma delas, a
prof.ª Florence Waterman, da Winson School, de Boston,
dedicou um ano inteiro a estabelecer uma comparação entre
a cidade grega e a cidade moderna; a outra, a prof.ª Julia
J ones, do Tower Hill School, de Wilmington, estabeleceu
conexão do latim com os departamentos de história antiga,
trabalhos manuais, música, arte, danças. Os resultados obti-
dos foram os mais promissores possíveis.
O exemplo dessas duas educadoras, principalmente o de
Julia Jones, é digno de ser adotado por todos os profes-
sôres de latim, porque o intercâmbio de informações entre
os mestres dos mesmos discípulos só poderá acarretar bene-
fícios para êsses alunos.
Hutchinson não somente louva o empreendimento acima
referido, mas externa a sua convicção de que o objetivo
histórico-social é um dos mais importantes e que o estudo
do latim seria de grande valor para qualquer rapaz ou
rapariga que deseje ter uma compreensão do mundo mo-
derno:
"I take the position, theref ore, that this social-
historical objective is a very important one for
Latin as well as for every other subject in the
modern high school, and that the studiy of Latin
can and should be very valuable to any boy or
girl who wishes to get an understanding of the
modern world, which is so largeZy a lineal descen-
dant of the Greco-Roman civili.zation. These values
,will not come by accident, but the teacher must
know what is going on in the world ,about him and
make eve'l'y effort to connect the content of the
Latin being read with twentieth century thought
and life".

(26) HUTCHINSON, M. E. - Objetivis in the Teaching of


High-School Latin and the Measurement of their Attainment
CJ., XXXIV, 276.
- 95 -

Se todos os professôres de latim sempre conservassem


na memória a oportuna recomendação que nos faz Hutchin-
son, no sentido de estabelecer correlação entre o texto,
objeto de exame, e a vida do século atual fariam com que
muitos inimigos do ensino da língua latiria, por desconhecer-
lhe o objetivo e a fundamentação, passassem a figurar entre
os seus mais ardorosos defensores.
Dorrance White ( 27 ), professor do Ann Arbor High
School, em artigo sôbre o latim como disciplina social,
refere-se a várias passagens tiradas da vida dos cidadãos
e das instituições dos antigos romanos, que podem servir
de exemplo de civismo, condição indispensável para o
cidadão ideal.
Outro objetivo, que incluiremos entre os cl~sificados
como histórico-sociais, é o de servir de instrumento de tra-
balho a todos aquêles que pretendem ser especialistas em
assuntos da Antiguidade ou de Idade Média. Os historia-
dores que se dedicam a pesquisar a antiguidade, bem como
qualquer aspirante a ser tratado como medievalista deverão
estar em condições de ler e entender documentos escritos em
latim ou grego. Se não estiverem em situação de atingir
êsse objetivo, jamais merecerão o título de especialistas, com
o qual só poderão apresentar-se entre pessoas menos cultas,
e incapazes de perceber que se trata, apenas, de impostores.
Finalmente, o ensino do latim tem o objetivo de servir
de instrumento imprescindível aos que irão matricular-se em
curso de ciências jurídicas. O Direito Romano é matéria
obrigatória nas diversas Faculdades de Direito e seria ridí-
culo admitirmos a possibilidade de nos dedicarmos a um
estudo eficiente dessa disciplina se não estivermos em con-
dição de compreender um fragmento do Corpus Iuris Civilis.
O fato de ser alguém conhecedor da língua latina não
significa que possa ser considerado romanista, porque para
isto, seria necessário ficar provado que também conhece os
institutos do Direito Privado Romano. Portanto, um lati-
nista possui a condição indispensável para tornar-se roma-
nista, mas não quer dizer que o seja. Todavia, se soubermos
que determinada pessoa é incapaz de traduzir o latim pode-
remos afirmar "a priori", sem possibilidade de errarmos,
que êste jamais poderá ser romanista.

(28) WHITE, Dorrance - "Latin ª" a Social Subject" - CJ,


XXII, 253.
- 96-

O romanista tem necessidade do latim para compreen-


der o sentido dos textos, que nos permitem formular a verda-
deira noção dos diversos institutos do Direito Privado Ro-
mano. Um dos problemas mais difíceis da carreira roma-
nística é distinguir as interpolações ( 29 ) introduzidas no
Corpus Iuris Civilis e todos os processos empregados neste
sentido exigem o conhecimento da língua latina.
Lipman, ( 3º) em trabalho que consideramos muito opor-
tuno, porqne o elaborou em função da realidade do mundo
contemporâneo, pouco depois do início da segunda guerra
mundial, diz ser um fato histórico a defesa das instituições
que tanto prezamos - e agora devemos defender contra
um ataque mais específico e eficiente jamais organizado -
as quais são produto duma cultura que, como Gilson ana-
lisa, é essencialmente a cultura da Grécia, herdada pelos
Romanos, transmitida pelos Padres da Igreja com os ensi-
namentos religiosos do Cristianismo e progressivamente
aumentada pelo seu número de artistas, escritores, cientistas
e filósofos desde o início da Idade Média até os princípios
do século XIX.
Os inimigos da democracia, que defendem o primado <la
matéria sôbre o espírito são coerentes em não aceitar o
ensino do latim que promete a realização dos diversos obj<\-
tivos apontados, porque sabem perfeitamente que êle seria
o instrumento mais eficiente para nos ligar ao passado e
conservar sempre acesa, em nosso espírito, a chama que ali-
menta as raízes de nossas instituições.
O latim, como bem demonstra Korfmacher ( 31 ), tem um
lugar definitivo no novo internacionalismo, como processo
fomentador do sentido lingüístico, animador duma tolerân-
cia racional, :encorajada duma verdadeira m~iver~alidadr.
E, ainda, porque faz parte da disciplina de estudos huma-
nísticos resistirá firmemente a qualquer nivelamento do
indivíduo. Não se renderá ao nacionalismo ou internacio-
nalismo que procura absorver o indivíduo num grandioso

(29) LÉVY-BRUHL, Henri - Le Latin et le droit Romain. REL.


II, 110 e segs.
(30) LIPMAN, Walter - apud Korfmacher, William CW,
XXXIX, 124.
(31) KORFIIIACHER, William e. - Latin and the New Interna-
tionalism - CW, XXXIX, 122-124.
- 97-

esquema de supersociedade desdenhada dos direitos e privi-


légios que cada um de nós, como ser humano, poderemos
ex1g1r. Pelo contrário, terá como objetivo a vida realizada
e completa do indivíduo na qual a perfeição marcha de
mãos dadas com a mais ampla noção de dever para com
Deus, para com os compatriotas, para com o país e para
com a sociedade das nações.

Sumário

I - Histórico
1 - Teoria de Greene: - ler o latim.
2 -

Teoria de John Lord: - poder de pensar com precisà,:>.
3 - Inquérito da American Classical League.
a) trabalho da Classical lnvestigation.
b) Relação dos 19 objetivos assinalados.
4 - Inquérito realizado no Colégio Pedro II.
5 - Tríplice objetivo de Hutchinson:
a) objetivo instrumental ou de aplicação.
b) objetivo disciplinar.
c) objetivo histórico-social.
6 Observação de G. Gauss: regimento às circunstyn•
cias do mundo moderno.

II -- Classificação dos objetivos


1 - Objetivo humanístico.
2 - Objetivos de aplicação:
a) leitura inteligente do latim: - opinião de Dun-
ham e sua contestação.
b) citação de frases e provérbios latinos.
c) derivação de palavras.
d) leitura inteligente do português.
e) grafia das palavras.
f) estrutura da língua.
g) gramática portuguêsa.
h) terminologia técnica.
i) domínio de língua estrangeira.
3 Objetivos de formação literária:
a) análise da obra dos autôres lidos
b) aprimoramento do estilo
c) apreciação das qualidades literárias dos autôres
latinos.
4 Objetivos de valor disciplinar:
a) desenvolvimento da inteligência: - atenção diri-
gida, agudeza e procedimento ordenado.
- 98 -

b) desenvolvimento de hábitos, atitudes e idéias.


e) expressão do pensamento.
5 - Objetivos de caráter histórico-social:
a) conhecimento do antigo mundo latino: - infor-
mação de Hutchinson e a correlação do latim com
outros departamentos do curso secundário.
b) instrumento de trabalho do especialista em histó-
ria antiga.
c) instrumento de trabalho do medievalista.
d) instrumento de trabalho do romanista.
e) a universalização do latim.

Bibliografia

BAMM, P. Die unsichtbare Flagge. München, 1952.


BENNET & Bristol - The Teaching of Latin and Greek in the
Secondary School. Longmans, Green and Co. 1906.
KELSEY, Francis - Latin and Greek in American Education. New
York. The Macmillan Company, 1927.
KRÜGER & H0RNIG - Methodik des altsprachlichen Unterrichts.
Verlag Moritz Dienstewoeg. Frankfurt am Main, 1959.
LIVINGSTONE, R. W. - A defense of Classical Education. Mac-
millan and Co. Limited, 1916, págs. 123 - 126.
LEONARD, J. Paul - Developing the Secondary School Curriculun.
Rinehart & Company, Incorporated. 1950 págs. 237, 259.

Periódicos
BARDLEY, Barclay W. - The effect of Foreign Language Study
upon Habits of thinking. CW, XXV, 1.
CARR W .. e outros - The Source of English Words. CO XIX, 45.
DUNHAM, Fred S. - What is our aim in Secondary Latin?
GANSS, George E. - Changing Objectives and Procedures in Tea-
ching Latin, 1556-1956. pág. 15.
GREENE, E. C. - What is the Object of the Study of Latin in
Secondary Schools? CJ III, 221.
HARE, A. D. - An Evaluation of Objectives in the Teaching of
Latin CJ XIX, 155.
HERESCU, N. I. - Homo - humus - humanistas. BAGB, 1948, 76.
HUTCHINS0N, Mark E. - Objectives in the Teaching of High-
School Latin and the measurement of their attainment. CJ
XXXIV, 271. id. - Realism in Latin Teaching. CJ XXXI,
477.
KENT, Roland G. - Latin as the International Auxiliary Langua-
ge CJ XIII, 38-44.
KERSHAW, Helen G. - Functional Latin CW XLII, 25-29.
K0RFMACHER, William Charles - Latin and the New Internatio-
nalism CW, XXXIX, 122-124.
LEVY-BRUHL, Henri - Le Latin et le Droit Romain. REL II,
103-120.
- 99 -

LORD, J. K. - Objects and results of the Study of Latin CJ VI,


233.
NUTTING, H. C. - Problems of secondary Latin. CJ XVII, 377.
OWEN, Eivion e outros - The Source of English Words CO
XIX, 45.
PACHS0N, Susan - Hints for the Latin Teacher CJ VIII, 63.
TH0RNDIKE, E. L. - Mental Discipline in High School Subjects,
JEP XV, ;1.-24; 83-98.
ULMANN, B. L. - Cicero and Modern Politics CJ XXX, 385.
SCHOFFER, R. e outros - The Source of English Words CO XIX, 45.
SEAMAN, William - On the Teaching of Inflections. CW, XXXVII,
17.
WHITE, Dorrance S. - Latin as a Social Subject CJ. XXII, 253.
III

MÉTODOS DE ENSINO DO LATIM

Considerações preliminares - Os processos usados no


ensino do latim constituem, muitas vêzes, a causa de uão
serem alcançados os objetivos visados e aos quais se che-
gará através de recursos didáticos compatíveis com a fina-
lidade da educação contemporânea.
Transformar o ensino da língua latina num amontoado
de desinências impostas à decoração do aluno e a certo
número de textos, qne o discípulo também decora, sem o~
comentários e explicação indispensáveis, é a negação dos
ensinamentos clássicos. Se êstes fôssem realmente os obje-
tivos do ensino do latim, não hesitaríamos em nos colocar
na primeira linha dos que pretenderiam a sua Rupressão
total no currículo do curso secundário. Mas não pensamos
dessa forma, nem empregamos êsses processos em nossas
aulas.
Os métodos de que nos servimos no ensino de qualquer
matéria devem ser considerados como instrumentos que nos
conduzirão aos objetivos.
Estabelecidas as finalidades do ensino do latim, com-
pete ao professor recorrer aos diversos processos pedagógi-
cos, que possibilitem a consecução <lêsses objetivos e afastar
todos aquêles que vierem contribuir para vedar ou mesmo
dificultar a sua realização.
Não se destina o curso secundário a formar elites, por-
que as oportunidades educacionais devem estar ao alcance
de todos, de acôrdo com sua capacidade e necessidades.
Um dos argumentos levantados pelos que se insurgem
contra a presença do latim no primeiro ciclo do curso
secundário, consiste em alegar a amplitude da educação
nesse grau de ensino, que tomou um caráter mais quanti-
tativo do que qualitativo. A grande massa, que hoje está
em condições de receber o ensino do segundo grau, não pre-
cisaria, segundo alegam, perder tempo com dois ou três anos
101 -

estudando o latim, porque a orientação, que buscam na edu-


cação, será de caráter utilitário. Portanto, de que lhes vale-
riam os ensinamentrn, adquiridos com dois ou três anos de
estudo da língua latina? Parece desnecessário declarar que
discordamos totalmrnte de semelhante raciocínio, mas aguar-
daremos o capítulo dedicado à posição do latim no currí-
culo secundário para apresentarmos argumentos contrários
aos que advogam a supressão total dos ensinamentos duma
língua antiga nessa primeira fase do curso. No entanto,
podemos adiantar que não nos impressiona o fato de não
mais se lembrarem do latim os que o estudaram dois ou
três anos, da mesma forma que não nos causa admiração se
um jurista confessa não mais estar lembrado de tôdas as
regras e experiências de Física e Química que aprendeu no
curso secundário. No caso do latim, o importante não será
sabê-lo, mas tê-lo aprendido: "Ce qiii importe ce n'cst pas
de savoir le latin, mais de l'avoir appris." (1)
Os processos apontados por Englar e o método reco-
mendado -, Comenta o professor Englar que, outrora, só
depois de haver o aluno aprendido as regras gramaticais,
deveria aplicá-las através de tradução dos textos. No en-
tanto de acôrdo com novos processos, os alunos irão à pro-
cura de vocabulário, formas de sintaxe, e reunirão resul-
tados de suas pesquisas. Assim, procurarão sintetisar, me-
morizar, praticar e ler, à primeira vista, as palavras de uso
mais comum.
Feita esta apreciação dos dois métodos de ensino, êle
conclui que ambos diferem no tratamento do problema, mas
os processos são muito semelhantes. Compete ao professor
escolher o que houver de melhor em catla um dêles:
"The two types of procedures diff er in attack
bili the processes of learning are much the same.
The ingenious teacher will take what is best frorn
each." (2)

No desempenho dessa tarefa de procurar utilizar o que


melhor houver dentre os processos de ensinar o latim, reco-

(1) apud LEPRINCE, G. - "Quelques tendences actuelles dans


l'enseignement du latin" - REL, IV, 124.
(2) ENGLAR, T. - Two types of procedure in Teaching be-
ginning Latin - CW, XXII, 81.
-102-

mendamos ao professor o cuidado de partir sempre do mais


fácil para o mais complexo. Se tivermos de dar ao ini-
ciante o significado de porta, em latim, é melhor dizermos
"porta" do que recorrermos a ianua: Isto não significa
que devamos ficar impossibilitados de dizer que "porta"
também pode ser expressa em latim por "ianua", mas o que
aconselhamos é dar o outro significado em primeiro lugar.
É por isto que Henry Preble ( 3 ) declara :

"JJJost simple words, especially in such earl·y


languages as Latin, originally designated simple
objects in the physical world or simple physical
acts or qualities. I would have the pupil first learn
these simple meanings thouroitghly, beginning with
the words he will mcet most frequentiy in his
reading, and then trace the development of the
words into representatives of kindred meanings or
deflected meanings, so that when he comes to read
connected sentences and finds a familiar looking
word the meaning of which is not immediately
clear to him, h·is first thought shall be to try to
derive from its original meaning a meaning that
makes sense ,with the words of the sentence already
understood, instead of looking into the dictionary
or elsewhere for some random English ·word set
down among others as one of the labels of his l,atin
•word."

É, aliás, êste, o processo que seguimos em nossas aulas


ministradas aos iniciantes, como se poderá verificar, consul-
tando as considerações que fizemos sôbre o estudo do voca-
bulário, logo no capítulo II de "O Latim do Ginásio" -
l.ª série. ( 4 )
Condições apresentadas por Inglis - Alexander In-
glis, ( 5 ) professor de Educação na Universidade de Harvard,
numa comunicação feita à Terceira Reunião Anual da

(3) PREBLE, Henry - "Some Suggestions as to Latin Study


- CW, I, 83.
(4) NÓBREGA, V. L. da - "º Latim do Ginásio" - 1• série,
pág. 17.
(5) INGLIS, A. - "The Oonditions of Success in Teaching the
O"lassics" - CJ, XVIII, 9-18.
-103 -

"American Classical League", de Boston, em 1922, apresen-


tou três condições para que se consiga resultado satisfatório
no sentido de disciplina de caráter clássico, como é o caso
do latim:
a) instruções metodológicas tendo em vista a capaci-
dade, interêsse e necessidade dos alunos;
b) adaptação às leis do ensino ;
c) adaptação de instrução aos objetivos e valores que
justificam os estudos clássicos.

As condições apresentadas por Inglis permitem que os


objetivos visados pelo ensino de latim e que justificam a
sua presença no curso secundário, inclusive no primeiro
ciclo, sejam plenamente alcançados.
a) Capacidade, interêsse e necessidade do aluno. -
As instruções metodológicas e os programas devem ser ela-
borados tendo em vista as condições intrínsecas dos alunos.
Programas que contenham matéria considerada acima do
nível mental dos discípulos a que se destinam, constituem um
atentado aos postulados da educação. É preciso que o
Poder Público, através de inquéritos e de testes periódicos,
procure verificar se os programas de ensino estão realmente
adaptados ao desenvolvimento intelectual dos alunos a que
se destinam. Consideramos verdadeiro atentado ao direito
que têm todos os cidadãos de receber educação, a adoção
de programas inexeqüíveis. Não basta que o programa seja
isoladamente suscetível de ser cumprido; é pieciso que igual•
mente o seja o das outras disciplinas.
Pode acontecer até a circunstância de haver, na mesma
classe, alunos que tenham I Q ( 5a) bastante heterogêneos e,
neste caso, compete ao professor dividi-los em grupos e
dar-lhes tratamento compatível com as condições de cada
um. Por isto Inglis recomenda, com muita precisão que
"the first task of the classical teacher is to stud)y the capa-
cities, interest, and needs of each class and, as far as possi-
ble, of each pupil in each class. On the basis of the
knowledge thits disclosed he must organize content and
rnethod to meet the capacities and needs of the pupils
concerned. ( 6 )
(5a) IQ = quociente intelectual.
(6) INGLIS, A. op. cit., pág. 13.
-104 -

O interêsse do aluno poderá ser fàcilmente despertado


através do emprêgo de textos sôbre assunto compatível com
as respectivas idades. Neste sentido é também fator de pon,
derável importância a atua~:ão do professor que poderá,
inclusive, elucidar dificuldades contidas no livro adotado.
A apresentação do livro didático, que deverá conter ilustra-
ções, é outro fator de interêsse.
Entendemos por necessidade do aluno, a utilização,
na vida prática, dos ensinamentos recebidos no curso
secundário. Aos que procuram, no curso secundário,
ensinamentos de caráter prático e imediato, os dois ou três
anos de estudo de latim terão a finalidade de servir de
instrumento para estudo da língua vernácula e visarão aos
objetivos de aplicação mencionados no capítulo anterior.
Todavia, aos que irão prosseguir o estudo do latim no se-
gundo ciclo, é necessário que os ensinamentos sejam minis-
trados levando-se em consideração o rumo futuro que cada
um dará à sua vida. Por isto, propugnamos pela instituição
dum ano intermediário, que servirá de elo entre o curso
secundário e o superior. Aquêles que se destinam às Facul-
dades de Direito precisam ter tido a oportunidade de se
exercitarem na leitura daqueles textos que lhes poderão
prestar subsídios valiosos no curso jurídico, como por exem-
plo, certos livros de Cícero e as regras de Paulo e Ulpiano.
Aos que se destinarem às Faculdades de Medicina, Odonto-
logia, Farmácia, deverão ser fornecidos textos, que, além de
apresentarem certa relação com os estudos futuros, possam
contribuir para melhor conhecimento do vocabulário técnico-
científico.
Os exercícios de tradução, versão, comentários e apre-
sentação da parte gramatical são fatôres da mais alta impor-
tância, que devem ser apresentados em função da capaci-
dade do aluno com a preocupação constante de lhe desper-
tar, na medida do possível, todo o interêsse. Dedicaremos
capítulos especiais a cada um dêsses fatôres tendo em vista
a importância de todos êles no ensino do latim e dos quais
dependerão os resultados obtidos.
b) Adaptação às leis do ensino. - A motivação de
interêsses é outra condição, que Inglis recomenda, para que
se obtenham resultados favoráveis no ensino da língua. É
de suma relevância, aqui, a contribuição pessoal e direta do
- 105

professor durante a aula para que a atenção dos alunos


esteja, de maneira natural e constante, voltada para o
centro dessa motivação de interêsse. Compete ao mestre
estudar a psicologia da classe e encontrar o motivo que
poderá despertar a curiosidade e o interêsse dos estudantes.
"One of the most significant educational de-
velopments of recent years is the practical recogni-
tion of the f act that successful learning is deter-
mined primariiy by the psychology of the learner
rather tha,n, by the logical relations of subject
matter as vie'wed b·y the expert acquainted witk
the subject in its complete form." (7)

Nos primeiros anos de latim, os textos que consistem


na redação de exercícios sôbre fatos memoráveis referentes
à história, à mitologia e às instituições do antigo povo ro-
mano, despertarão, com certa facilidade, o interêsse dos
alunos. Nenhum inconveniente haverá em que êsses exer-
cícios não sejam tirados de textos de escritor latino, mas
tenham sido especialmente elaborados para tornar a expo-
sição mais fácil de ser compreendida pelos alunos.
c) Adaptação das instruções aos objetivos dos estudos
clássicos. - As instruções metodológicas devem procurar
conduzir o ensino aos objetivos dos estudos clássicos sem
recorrer a processos que possam desviar a atenção do aluno
para determinado objetivo isoladamente. Se isto aconte-
cesse, o centro de interêsse passaria a ser êsse objetivo a
que se pretendesse dar maior atenção, em detrimento do
conjun'to de objetivos que constituem englobadamente a
finalidade suprema do ensino do latim.
O professor que, com o intuito de fornecer ao aluno
conhecimento especial do vocabulário latino, o fôsse obrigar
a decorar listas e mais listas de palavras, sem qualquer
relação com textos, estaria transforma~o o ensmo numa
dissecação anatômica. Os resultados, assim obtidos, seriam
muito limitados e dariam uma noção falsa das grandes van-
tagens do ensino de latim no curso secundário.
Inglis, também, nos adverte contra êsse perigo quando
observa que, para alguns, as páginas de César são transfor-

(7) INGLIS, A. - op. cit., pág. 14.


- 106 -

madas em estudo de vocabulário e de sintaxe sem que se dê


a necessária importância à emocionante discrição da con-
quista da Europa ocidental e ao comêço duma civilização;
para outros, as orações de Cícero ficam reduzidas a exer-
cícios de lingüística em lugar da obra-prima da literatura
ou quadros da vida e instituição dos romanos; para um
terceiro grupo, a EI].eida é peça para ser representada e
não um dos maiores poemas épicos da humanidade.
Não queremos, com estas observações, condenar os obje-
tivos já enumerados como suscetíveis de serem alcançados
pelo ensino de latim, mas nos insurgimos contra o perigo
de vir um dêles a representar a finalidade primeira e
última dos estudos clássicos. Todos os objetivos são partes
integrantes dum todo formado pela soma de conhecimentos
que nos permitirão compreender a língua e o gênio do
antigo povo romano.

Bibliografia

I - Considerações preliminares: -
1 - O elemento quantitativo no ensino de grau médio.
2 - O importante não é saber o latim, mas tê-lo apren-
dido.
II - Oi!! processos de Engla1·: -
1 - Aprendizagem preliminar da gramática;
2 - A pesquisa de vocabulários e a solução para formas
gramaticais, à medida que aparecerem.
III - Condições apresentadas por Inglis: -
1 - Capacidade, interêsse e necessidade do aluno.
2 - Adaptação às leis do ensino.
3 - Adaptação das instruções aos objetivos dos estudos
clássicos.

Sumário

AUSTIN, C. R. - One Way to Teach Latin C. W., VIII, 4.


BARRET, Mary A. - How Latin is taught in Rome today. C. O.
XXXII, 33.
CLAFLIN, E. F. - Teaching the Comprehension of Latin C. J,
XXII, 277.
ENGLAR, T. - Two types of procedure in teaching beginning La-
tin C W, XXIII, 81.
- 107 -

GREEN, W. M. - How the French teach Latin. C. J. XLIII, 269.


HENRY. N. E. - Illustrative material for Latin Teachers. C J
VIII, 115.
HUTCHINSON, Mark E. - Realism in Latin Teaching. C J XXX,
477 ..
HUTCHINSON, Mark E. - Some recent 1·esearch in the teaching of
Latin C J XLIX. 449.
INGLIS, A. - The conditions of Success in Teaching the Classics
C J XVIII, 9.
LEPRINCE, G. - Quelques tendences actuelles dans l'enseignement
du La.tin R E L IV, 124.
NÓBREGA, Vandick Londres da - O Latim do ginásio - 1.ª série.
PREBLE, Henry - Some Sugestions as to Latin Study C W I, 83.
STURTEVANT, Edgar H. - Comment and Conjecture on the Tea-
ching of Latin C W, XXXVII, 14.
WHITE, D. S. - Latin as a Social Subject C J XXII, 253.
WHITE, D. S. - New Emphasis in the teaching of Latin C J
XXX, 544.
IV

LINGOíSTICA: - SíNTESE HISTóRICA

Definição e objeto - A lingüística ou glotologia é a


ciência, que tem por objeto a linguagem e a língua. Com-
pete à lingüística descobrir as relações de parentesco entre
as várias línguas e o desenvolvimento histórico da própria
língua. Interessa ao glotólogo o estudo da linguagem sob
tôdas as suas manifestações: - língua de povos antigos,
falada por milhares de pessoas como por um reduzido nú-
mero de indivíduos; língua representada por uma literatura
abundante como a que não foi fixada em documento escrito;
língua ainda falada em nossos dias como a que já deixou
de o ser há dezenas de séculos.
Todavia, o objeto da lingüística não consiste em tratar
do problema da origem da linguagem, como bem nos adverte
Vendryes ( 1 ), logo no início da introdução do seu livro
clássico:
"On étonne toujours en disant que le probleme
de l'origine dit langage n'est pas un probleme
d'ordre linguistique. C'est pourtant l'expression de
la verité. Faute de s'en être avisés, la plupart
de ceux qui depuis cent ans ont écrit sur l 'origine
du langage n'ont fait qu'errer; leur principal tod
a été d'aborder le probleme par le côté linguistiqite,
comme si l'orig,ine du langage se confondait aveo
l'origine des Zangues. ( 1 )

O mesmo diz Sturtevant e até nos informa haver a


Société de Linguistique de Paris decidido não aceitar comu-
nicações sôbre a origem da linguagem. (2)

(1) VENDRYES, J. - Le Langage, pag. 6.


(2) STURTEVANT, E. - An Introduction to Linguistic Science
pag. 40.
-109 -

N"ão poderemos contentar-nos com a conceituação nega-


tiva sôbre o objeto da lingüística. São tão amplos como
complexos os problemas do domínio da língua, a ponto de
Hartmann afirmar que (3) o domínio físico, orgânico,
moral e espiritual constituem as quatro fôrças essenciais do
homem.
A função da lingüística, segundo Saussure, ( 4 ) é trí-
plice:
a) fazer a descrição e a história de tôdas as línguas
que ela pode alcançar, o que significa fazer a história das
famílias de línguas e reconstituir, na medida do possível,
as línguas-mães de cada família;
b) procurar fôrças que estão em jôgo, de maneira
permanente e universal, em tôdas as línguas e estabelecer
as leis gerais com as quais se pode conduzir todos os fenô-
menos particulares da história ;
c) delimitar e definir ela própria.

Em recente trabalho, Handricourt ( 5 ) observa que a


lingüística delimitou o objeto de sua pesquisa e modificou
o seu campo de ação estendendo-se a tôdas as línguas do
mundo e passou do naturalismo sob o ponto de vista socio-
lógico e do organismo da língua para a sua estrutura.
Para a consecução dêsses objetivos apontados por Saus-
sure, o glotólogo é obrigado a recorrer a métodos de caráter
comparativo e histórico.
.
PRIMEIRA FASE DA HISTóRIA DA LINGutSTICA

Bopp e a gramática comparada: Franz Bopp, nas-


cido em Mainz, Alemanha, em 1791, é considerado o funda-
dor da gramática comparada. Com a idade de vinte e um
anos foi para Paris onde estudou árabe com S. de Sacy e
o persa com Chézy. Dedicou-se ao estudo do sânscrito e

(3) HARTMANN, N. - Das Problem des geistigen Seins apud


Wartburg, W - "Ploblemes et méthodes de la Linguistique" pag. 1.
(4) SAUSSURE, Ferdinand - "Cours de Linguistique générale",
pg. 20. 4e. édition. Payot. Paris.
(5) HANDRICOURT A. G. - Les transformations de la Linguis-
tique - Scientia XCII, 314-319.
-110-

~m 1816, publicou importante trabalho sôbre o sistema das


conjugações da língua sânscrita em comparação com o
grego, latim, persa e alemão. - "über das Konjugationssys-
tem der Sanskritsprache in V ergleichung mit jenem der
gri.echischen, lateinischen, persischem, und germanischM1
Eprache." Todavia o trabalho com que recebeu o título de
fundador da gramática comparada, foi escrito mais tarde,
após anos de estudos profundos: - "Vergleichende Gram-
matik des Sans,krit, Zend, Griechischen, Lateinischen, Got-
schen und Deutschen."
Bopp fêz um estudo das raízes e da flexão nominal e
verbal. em diversas línguas e procurou estabelecer, através
da comparação, o que essas línguas tinham de comum. Em-
bora se trate d~m processo atualmente superado, não pode-
mos deixar de reconhecer ter sido êle o desbravador das
trevas que envolviam êsse campo da ciência. É também de
sua autoria um "Glossarium Sanskritum" no qual o autor
reuniu tôdas as raízes da língua sanscrítica e vocábulos com-
parados com palavras gregas, latinas, alemães, lituanas, esla-
vas e célticas, como êle próprio nos informa logo no pre-
fácio:
"Continenfitr hoc libro omnes linguae sanscritae
radices et vocabula usitatissima cum verbis graecis,
latinis, germanicis, lituanicis, slavicis, celticis, com-
parata, et, quantum fieri potuit, librorum sanscri-
toriim Zoeis illustrata." ( 6 )

Vejamos apenas a título de ilustração e para que possa-


mos aquilatar o gigantesco trabalho do autor que, naquela
época, partiu da estaca zero, como êle registra a raiz sâns-
1;
crítica "gihvá" que figura na palavra "língua" g i h v ã 1íl 1
(fortasse forma redupl. a. r. hvê vocare v. Pott, p. 230; sec.
Wils. a. r. lih lingere, mutato l in g, s. vâ) língua. H.2.9;
( Si gihvâ 'descendit a lih, huc trahenda sint lit. liezwwis,
cf. laizu lingo, lat: ling1ta Goth. fongô, nostrum, Zunge et
hib. teanga, si huc pertinent, ita e gihvâ' explicari possunt,
ut soni g - = dsch sol um prius elementum relictum sit;
send w,, svw hisva autem sibilantem solam, mutato s in h,
.servavit; v. gr. comp. 53. (7)
(6) BoPP, Franciscus - "Glossariwrn Comparativum linguae
.Banscritae" - Editio Tertia. Berolini, 1867, pg. V.
(7) BOPP, F. - op. cit. p. 153 b.
- 111-

Bopp concebia a linguagem como um produto do espí-


rito humano e julgava ser possível compará-la por suas
formas gramaticais a um organismo, que obedecia a leis
próprias. Isto seria conseguido através dum processo de
análise gramatical entre um dualismo histórico-naturalístico.
Êle se propôs, no primeiro trabalho, a resolver o problema
da origem da flexão mediante estudo das modificações da
própria língua internamente. Mas êsse processo de modifi-
cação orgânica êle próprio substitui pela teoria da flexão
obtida pela composição dos elementos da palavra.
A concordância das formas gramaticais das línguas
indo-européias, salvo algumas modificações impostas por cor-
ri>spondências fonéticas atestadas por dados filológicos mais
seguros, ainda é, nos dias atuais, fonte de informações em
que nos podemos apoiar.

Schlegel e a metodologia da história - Não podemos


omitir o nome de Friedrich von Schlegel, filósofo alemão
nascido em Hannover em 1772, que tentou estabelecer uma
metodologia da história apoiada na filosofia kantiana com o
opúsculo Vom W ert des Studiums, der Gri.echen und Romer.
Num trabalho mais desenvolvido sôbre a História da Poesia
grega e romana, êle procurou sistematizar os conceitos da
literatura, história e filologia. A filologia, como história,
deveria confundir-se com a filosofia. Foi êle quem indicou,
pela primeira vez, antes mesmo de Bopp, o parentesco do
Rânscrito e do persa com o grego, o latim e o germamco, no
livro Über die Sprache und Weisheit der Inder, ein Bei-
trag zur Begründung der Altertumskunde. É êste trabalho
qualificado por muitos como sendo a pré-história da lin-
güística. Digamos, apenas de passagem, que êste Schlegel
era irmão de August Wilhelm von Schlegel, primeiro pro-
fessor de sânscrito na Europa, que publicou a Bhaga-
vadgita e parte do Ramayana, sendo ainda, autor de Vor-
iesungen über schone Literatur und Kunst, trabalho êste
considerado o evangelho do romantismo.
Humboldt e a lingüística geral: Outro nome que, se
omitido, mesmo numa ligeira apreciação histórica da lingüís-
tica, acarretaria uma lacuna imperdoável é o do barão Karl
Wilhelm vou Humboldt, nascido em Potsdam, em 1767.
-112 -

Humboldt é o verdadeiro fundador da lingüística geral.


O conceito de língua devia ser histórico e filosófico. A
língua não é um lp"(ov mas uma svép"(Eto:.
A obra fundamental de Humboldt, que, aliás ficou
incompleta, é intitulada "über die K(l!wisprache auf der
Insel Java. É nesta obra que se encontra a célebre intro-
dução über die V erschiedenheit des menschlichen Sprach-
baues und ihren Einfluss aitf die geistige Ent,wicklnng des
Menschengeschlechts.
O têrmo "ép"(ov representaria a concepção segundo a
qual a língua seria uma obra criada uma só vez e conside-
rada definitivamente acabada; a tvép"fELo: significaria a
opinião contrária, isto é, a dos que lhe atribuem o caráter
duma fôrça criadora, suscetível de sofrer influência do
tempo.
A linguagem, - Évépyeio: - segundo Humboldt, não
compreendia os seus elementos analíticos, porém os trabalhos
sempre renovados do espírito ; a palavra não deve ficar
reduzida a mero símbolo, porque contribui para a formação
do conceito como indivíduo do mundo do pensamento.
Preliminarmente a nação cria a língua, e depois o povo
se incumbe de firmá-la, através do uso.
Comenta Meillet que a leitura de Humboldt é, muitas
vêzes, desencorajadora e sua influência sôbre os sábios pa-
rece ter sido medíocre : ( 8 )
"La lectitre de Guillaume de Humboldt est
souvent décourageante, et bien qne son nom soit
demeitré en honnenr, son influence sur les savants
parait avoir été médiocre par la sui.te."

Não obstante a autoridade de Meillet, não podemos


deixar de acentuar, que notamos certo rejuvenescimento de
teorias expostas por Humboldt em detrimento mesmo de
concepções mais modernas e defendidas por lingüistas do
valor de Saussure. É isto, pelo menos, o que nos diz Karl
Bühler, ( 9 ) representante no terreno lingüístico, da escola
de Viena:
(8) MEILLET, A. - Linguistique historique et linguistique
générale - II, pg. 153. Lib. Klincksieck. Paris, 1938.
(9) BOHLER, Karl, - Sprachteorie. Die Darstellungsfunktion
der Sprache - pag. 48.
113 -

"Da und dort wird heute noch versucht, balél


psychologisch~ bald erkenntnistheoretisch, dem einen
von beiden Gliedern des Paares energeia und ergon
eine Prioritiit zu vindizieren."

Pott e a fonética comparada. Os fundamentos da etimo-


logia indo-européia foram lançados pelo germanista August
Friedrich Pott, nascido em Hannover, em 1802, cuja obra
principal foi a Et·ymologische Forschungen auf dem Gebiete
indogermanischer Sprachen. É considerado o fundador da
etimologia e da fonética comparada das línguas indo-euro-
péias. É também, de sua autoria o ensaio "Die Ungleichhei.t
der menschlichen Rassen hauptsiichlich vom sprach,wissen-
schaftlichen Standpunkte.

SEGUNDA FASE DA HISTóRIA DA


LING'OíSTICA: 1850-1878.

Schleicher e os três estados consecutivos. O primeiro


representante dêsse período é o glotólogo alemão August
Schleicher, nascido em Meiningen em 1821 e que muito con-
tribuiu para o desenvolvimento da glotologia indo-européia.
As línguas são organismos naturais que, não sendo deter-
minados pela vontade do homem, surgem, crescem e se desen-
volvem de acôrdo com leis fixas, para depois envelhecer e
morrer. Êle apresenta, na formação da língua, a doutrina
dos três estados consecutivos: - monossilábico, aglutinante
e de reflexão.
Schleicher dedica maior atenção em seus estudos lin-
güísticos à língua viva, ao contrário de seus predecessores
que tinham as vistas voltadas para a língua literária. Êle
não mais se limita a analisar as formas gramaticais pelli
decomposição de seus elementos, mas procura investigar
como se processaram essas modificações no decurso do
tempo. No Handbuch der litauischen Sprache foi dado
grande incremento ao estudo da fonética, que se baseava na
articulação e nas mudanças de articulação em lugar de se
apoiar nas letras, entre as várias línguas. O seu trabalho
principal foi o Compendium der vergleichenden Gramma-
tik der indogermanischen Sprachen, no qual procura co-
-114 -

dificar e coordenar os resultados obtidos no domínio da


fonética, mas comete o êrro de acreditar na exatidão mate-
mática das reconstruções e de supor que a linguagem, en-
quanto segue a sua evolução normal, caminha para a deca-
dência.
Curtius e a estrutura gramatical - Digno de referên-
cia especial, no terreno da filologia clássica, é o nome do
George Curtius, nascido em Lubeca, em 1820, que se tornou
célebre com a obra Griechische Schulgrammatik, na qual o
autor procurou aproveitar os resultados da nova ciência
lingüística. A formação da estrutura gramatical indo-
européia é apresentada em Zur Chronologie der indogerma-
nischen Sprachf orschung.

TERCEmA FASE DA HISTóRIA DA LINGtJ1STICA


(1878 AOS NOSSOS DIAS)

- O progresso obtido nos estudos da fonética constitui


o fato mais importante do início desta terceira fase. As
preocupações românticas dos precursores da lingüística
foram substituídas pelo estudo positivo dos fa1los. Em
lugar de pesquisas de caráter arbitrário, notamos a tendên-
ria para a fixação de leis fonéticas.

Ascoli e a glotologia italiana - Graziano Isáia Ascoli


é o primeiro e um dos maiores filólogos dêsse período.
Nasceu em Goriza, Itália, em 1829. Foi por muitos consi-
derado como o maior glotólogo da Itália e do mundo. Êle
próprio dividiu a sua atividade científica em dois períodos:
no primeiro dedicou-se a vários campos da lingüística, pois
pesquisou o indo-europeu, o semítico, o turco, o chinês, a
língua dravídica; no segundo, limitou o campo de suas ativi-
dades ao indo-europeu. Dentre os seus numerosos trabalhos,
destacamos o Corsi di glottologia e os Saggi critici. Êle
próprio disse que não mais falaria de exceções nem escre-
vendo, nem ensinando. Preferiria mostrar e demonstrar que
de determinado som ou duma certa combinação de sons era
possível obter resultados diversos numa mesma língua ou
num mesmo dialeto.
-115 -

Schmidt e os fatos lingüísticos - J ohannes Schmidt,


nascido em Prenzlau, em 1843, discípulo de Schleicher,
prestou valiosa contribuição para o desenvolvimento dos
estudos lingüísticos com a obra Die V erwandtschaftsverhalt-
nisse der indogermanischen Sprachen. Enquanto Schlei-
cher tinha procurado sistematizar os fatos lingüísticos,
Schmidt preferia considerar cada fato isoladamente sem
estabelecer princípio de caráter geral. A história do voca-
lismo nas línguas indo-européias foi feita nos dois volumes
intitulados Zur Geschichte des indogermanischen Vokalis-
mus, onde o autor mostra a íntima correlação entre a filo-
logia e a lingüística.

Schulze e os primitivos dialetos itálicos - Outro


representante dêsse período é Wilhelm Schulze, glotólogo
ah•mão, nascido em 1863, na 'Westphalia. A sua obra é
uma notável contribuição para a história das relações entre
os Etruscos, latinos e outros povos da Itália antiga. Dentre
os seus trabalhos, destacamos Z ur Geschichte lateinischer
Eigennamen e Kleine Schriften.

Thomsen e os empréstimos lingüísticos - O dina-


marquês M. ,Vilhelm Thomsen é considerado o introdutor
da história na lingüística e tornou-se célebre com a tese
traduzida para o alemão sob o título "Über den Einflus3
der germanischen Sprachcn anf die finnisch-lapischen".
Verificou Thomsen que os grupos sociais menos civilizados
se servem de empréstimos tirados de civilizações mais avan-
çadas.

Stolz, Sommer, Walde e a fixação dos processos da


lingüística ~ Três grandes filólogos imprimiram novos
rumos aos estudos da lingüística latina : - Stolz, Sommer
e W alde. Friedrich Stolz, glotólogo austríaco, nascido em
1850, induziu os latinistas a realizarem os estudos dessa
língua de acôrdo com os processo da lingüística. Dentre
os seus trabalhos destacamos: - Historische Grammatik der
lateinischen Sprache; Lateinische Grammatik e Geschichte
der lateinschen Sprache.
Ferdinand Sommer, glotólogo nascido em 1875, professor
em Basiléia, Rostock, J ena e Bonn distingue-se como exímio
latinista e o seu manual Handb1wh der lateinischen Lau -
-116 -

und Formenlehre - é de excepcional valor. Escreveu, além


dêste, outros trabalhos: - Griechische Lautstudien; Ver-
gleichende Syntax der Schulsprachen.
A. Walde, glotólogo, nascido em Innsbruck, em 1869, é
autor dum dicionário etimológico da língua latina, - "La-
teinisches etymologisches Wõrterbuch" - primeiro livro no
gênero, elaborado de acôrdo com as novas conquistas da
lingüística. São, também, de sua autoria "über iilteste
sprachliche Beziehungen z-wischen Kelten und Italikern", no
qual levanta a hipótese de que o prelatino e o prefinlandês
teriam íntima relação com o pré-osco-umbro e pré-bretão; e
A.spiratendissimilation im Lateinischen, no qual estuda a
natureza dos grupos - ghr e ghl.

Bréal e os estudos de semântica - Michel Bréal, nas-


cido em Landau, na Baviera, em 1832, difundiu, no seu país,
os ensinamentos da lingüística comparada dos quais Bopp
foi o verdadeiro precursor. O seu principal trabalho foi
Éssai de sémantique.

Saussure e a lingüística geral - Todavia, foi Ferdi-


nand de Saussure, filólogo nascido em Genebra, Suíça, em
1857, que no mundo de língua francesa, imprimiu novos
rumos aos estudos da gramática comparada das línguas
indo-européias. Serviu-se dos resultados obtidos pelos lin-
güístas que o antecederam, para estabelecer a teoria do voca-
lismo indo-europeu. Com a idade de apenas vinte e dois
anos, publicou a Mémoire sur le systeme primitif des
voyelles dans les Zangues indo-européennes.
Segundo Saussure, o estudo da linguística comporta duas
partes: - uma essencial, tem por objeto a língua, que é,
social na sua essência e independente do indivíduo; a outra
é secundária e tem por objeto a parte individual da lingua-
gem, isto é, a palavra compreendendo a fonação. No pri-
meiro caso, trata-se dum estudo psíquico e, no segundo, dum
ensinamento psico-físico. ( 1º)
Langue e parole estão intimamente ligadas e se com-
pletam, embora esta última tenha a precedência histórica.
Esclarece, ainda, Saussure que a língua é necessária para
que a palavra seja inteligível e produza os seus efeitos, e

(10) SAUSSURE, F. - op. cit., 37.


- 117

a palavra, por sua vez, é necessária para que a língua se


estabeleca.
A língua não é uma função da pessoa que fala, mas
o produto que o indivíduo passivamente registra; a palavra
seria um ato individual da vontade e da inteligência, no
qual devemos distinguir as combinações · pelas quais a
pessoa, que fala, utiliza o código da língua, tendo em vista
exprimir seu pensamento pessoal e o mecanismo psico-físico,
que lhe permite exteriorizar estas combinações.
Saussure teve o mérito de estabelecer métodos científi-
cos para o estudo descritivo das línguas. O fator tempo é
o ponto central de sua concepção e a lingüística coloca-se
diante dêle, em dois caminhos inteiramente divergentes. A
lingüística descritiva e a lingüística histórica são gràfica-
mente representadas por eixos perpendiculares de acôrdo
com a figura abaixo :

O eixo A B simboliza a simultaneidade e se refere às


coisas coexistentes. Esta simultaneidade exclui qualquer
intervenção do tempo. O eixo C D simboliza a sucessão e
indica que só se pode considerar cada coisa por sua vez, e
aí podemos observar as 1mudanças por que passaram as
coisas do eixo A B.
A ciência da linguagem, segundo Saussure, está divi-
dida em duas partes: uma estática, descritiva ou sincrônica
e outra dinâmica, histórica ou diacrônica. l!Jle não admite
que seja possível estudar simultâneamente as relações no
tempo e no sistema. ( 11 )
Não nos parece que esta separação radical entre sincro-
nia e diacronia deva ser aceita, porque não podemos negar
existir certa relação entre o estudo duma língua em deter-
minado momento e a situação desta mesma língua numa
época anterior ou posterior.

(11) SAUSSURE, F., op. cit. pg. 30.


- 118 -

A c1encia da linguagem deve procurar alcançar uma


situação que abranja a estática e a dinâmica.
Sechehaye ( 12 ) que tem uma concepção mais ampla da
"parole" propriamente dita e da "pa.role" organizada, para
dar uma idéia da evolução da língua, propõe o seguinte
esquema:

Palavra prõpriamente dita


(Instrumento da expressão em geral)

1. Língua como sistema


2. Palavra orgânica
3. Evolução da língua

Os estudos realizados por Karl Bühler ( 13 ) também


demonstraram que a concepção de dois campos incomunicá-
veis - sincrônicos e diacrônicos - devia ser posta de lado,
substituída por uma teoria que reconheça a intercomuni-
cação entre os diversos atos da linguagem. Êle distingue
a "ação de falar" - Sprechhandlungen - que produz a
"palavra" - Sprachwer.ke - e o "ato de falar" -
Sprechakte - que produz o quadro da língua, isto é, a
frase - Sprachgebilde - . Com êstes quatro elementos,
Bühler organ-izon o seguinte quadro:

1I III
1. 1H. lw.
2. IA, 10.
?\o quadro acima, H representa Sprechhandlungen; W,
Sprachwerke; A, Sprechakte; e G, Sprachgebilde. Dos
(12) SECHEHAYE, apud Wartburg, op. cit. pag. 180.
(13) Btl'HLER, Karl, - Spranchtheorie, pg. 49. Verlag von
Gustav Fischen in jena. 1934.
-119 -

quatro elementos apresentados, Bühler indica a possibilidade


de se originarem s~is relações que êle representa da seguinte
forma:
H----W

X
A----G
Os fenômenos lingüísticos podem ser determinados de
duas formas: -- como fenômenos, que se referem ao sujeito,
e como fenômenos sem relação com o sujeito e consideradQs
como fixados inter-subjetivamente.
Devemos reconhecer que, de fato, a ação de falar e o
ato de falar representam estudos diferentes, muito embora
pareçam, à primeira vista, indicar a mesma coisa. A ação.
de falar é mais genérica, ao passo que o ato de falar indica
o momento preciso em que a palavra é produzida.
A ciência lingüística e a escola francesa Neste
ligeiro histórico da ciência lingüística devemos incluir os
nomes de especialistas mais recentes como os de Vendryes,
Meillet, Ernout, Marouzeau e o suíço Niederman.
J. Vendryes, lingüista francês, na sua principal obra
"Le Langage", procura mostrar como a linguagem nasceu
da vida e como a vida depois de tê-la criado, a alimenta.
Êle reconhece que para a constituição da linguagem, há
uma operação psicológica e que dois sêres humanos não
podiam criar entre si uma língua, salvo se estivessem ante-
cipadamente preparados para fazê-lo.
Antoine Meillet, lingüísta francês, nascido em Moulins,
França, em novembro de 1866, iliscípulo de Saussure. Um
dos seus principais trabalhos é a "Introduction à l'Étude
comparative des Langues Indo-Eitropéennes", no qual o
autor indica as concordâncias entre as diversas línguas indo-
européias e as conclusões que delas podemos tirar. Na
"Linguistique historique et linguistique générale" em 2
volumes, encontram-se reunidos trabalhos publicados ante-
riormente sôbre vários temas de lingüística e, em alguns
dêles estabelece o conceito da linguagem como fato social.
120 -

Com referência ao latim, escreveu a "E sqitisse d' une H is-


toire de la Langue Latine", já em 5.ª edição. É obra indis-
pensável a qualquer estudioso da língua latina. Dentre
muitos outros trabalhos ainda destacamos um sôbre o método
comparativo em lingüística histórica - La méthode compa-
rative en linguistique historique - e outro sôbre a história
da língua grega Aperçu d'une histoire de la langue grecque.
Em colaboração com Vandryes, escreveu o Traité de gram-
maire comparée des Zangues classiques e, em colaboração com
Ernout, o Dictionnaire étymologique de la langue lati.ne,
obra esta que recomendamos a todos os professôres de latim,
porque a consideramos indispensável e de consulta diuturna.
Alfred Ernout, membro do College de France, é autor
da "Morphologie Historique du Latin", obra que também
recomendamos especialmente aos professôres de latim. É
também da sua autoria, em colaboração com Meillet, o Dicio-
nário Etimológico a que nos referimos.
J. Marouzeau é um dos mais ardorosos defensores dos
estudos de latim no mundo atual e redator chefe da Revue
des Étiides Latines. É autor duma série de bons trabalhos
dentre os quais citaremos "Introduction au latin", "Traité
de stylistique latine", "L'ordre des mots dans la phrase
latine", "Quelques aspects de la f ormation du latin litté-
raire", "La linguístique oii Science du langage", "Léxique
de la terminologie linguistique", "La traductüm du LatinH
etc. . . . Todos êstes são trabalhos de grande valor e jus-
tificam a posição do autor na vanguarda dos estudos latinos.
Num artigo publicado na "Revue des .Études Latines" êle
tratou da lingüística aplicada ao estudo dolatim: - "La
linguistique et l'enseignement du latin" (1 4 ) Neste traba-
lho, Marouzeau procura mostrar a possibilidade de apro-
veitarmos as oportunidades que nos oferecem certas expli-
cações sôbre questões gramaticais em função da lingüística.

Aplicação da lingüística ao ensinamento do Latim -


Só poderão advir grandes vantagens, se o professor
procurar despertar a atenção do aluno para a apreciação
de fatos referentes à gramática histórica. Quando apare-
cerem, no texto, palavras como carus, caro, carrus, carbo

(14) MAROUZEAU, J. - REL, 1, 85; 11, 58.


- 121-

etc.. . . o professor poderá mostrar aos discípulos que o e


antes de ã ou ii transformou-se, em francês, em eh
carus cher
caro chair
carrus char
carfo charfon
capitulum ( caput) chapitre
campus - champ

O aluno, ao observar êste fato, terá uma noção do que


seja uma lei fonética, que dificilmente esquecerá.
O mesmo poderá ocorrer com as palavras em que houver
o grupo inicial pl. Aqui, o professor poderá explicar que
o grupo pl ora se transforma, em português, em eh, ora
em pr.
pluvia chuva
plorare chorar
plenum cheio
placere prazer
plaga praia
platea praça

No segundo ano de estudo do latim, ao tratar das con-


jugações, o professor poderá mostrar ao aluno que a verda-
deira desinência do infinitivo é se, que se transformou em
re por causa do rotacismo. É também oportuna a ocasião,
para mostrar a assimilação em vel-le.
Sturtevant ( 15 ), professor da Universidade de Yale,
dentre os seis pontos que indica para um programa inten-
sivo da língua latina, inclui a necessidade de possuir o
professor conhecimentos gerais de lingüística, a fim de poder
chamar a atenção do aluno para explicações de fonética ou
de sintaxe, sugeridas pelo próprio texto.
"The teacher should be a trained linguist
whose duty it is to hold the informant to his task
of speaking and repeating phrases and sentences.
He must also call the attention of the learner to
pr,,onetic and syntatic features of the informant's
speech that would otherwise not be noticed at first."
(15) STURTEVANT, Edgard H. - "Comment and Conjecture on
the Teaching of Latin" - CW, XLIV, 15.

9
- 122 -

Marouzeau ( 16 ) também reconhece e recomenda essas


incursões pelos domínios da lingüística e observa, com a
sua autoridade de mestre experimentado, que, quando os
alunos estiverem fa111iliarizados com a fisionomia do latim
clássico, não se temerá voltar a um estado anterior da
língua; assim será possível observar antigas formas da
declinação de quis no advérbio qiti e na conjunção q1tia.
Queremos, porém, deixar bem esclarecido que todos
êsses recursos só deverão ser empregados em função d()
texto e com a devida cautela, para que os resultados não
sejam negativos. É preciso que o professor tenha perma-
nentemente em vista a necessidade de despertar o interêsse
do aluno em receber êsses ensinamentos, porque, se assim
não proceder, terá perdido seu tempo.

Sumário
LINGüíSTICA
I - Conceito.
II - Função da lingüística.
III - Primeira fase:
1 Bopp: - o fundador da gramática comparada.
a) Principal trabalho: - Vergleichende Grammatik.
b) A linguagem como um produto do espírito humano.
c) A sua contribuição para a concordância das for-
mas gramaticais.
2 Friedrich von Schlegel - : - a metodologia da história.
a) Indicar, pela primeira vez, o parentesco do sâns-
crito e do persa com o grego,, o latim, e o germâ-
nico. b - A pré-histórica da lingüística: - über
die S'f}rache und W eisheit der lndier, ein Beitrag
zur Begründung der Altertumskunde.
3 Karl Wilhelm von Humboldt - : - fundador da lin-
güística geral.
a) ep-yov e a EPÉp')'ELC:(
b) obra fundamental: - über die Kawis'f}rache auf
der lnsel Java.
c) a célebre introdução: - Vber die Verschiedenheit
menschlichen Sprachbaus und ihren Einfluss auf
die geistige Entwicklung des M enschengeschlechts.

(16) MAROUZEAU, J. - "La Linguistique et l'enseignement du


latin". REL, II, 65.
- 123

4 August Friedrich Pott: - fundador da etimologia e


da fonética.
1 - Etimologische Forschungen auf dem Gebiet der
indogermanischen Sprachen.
IV - Segunda fase na história da lingüística: - 1850-1879.
1 - August Schleicher: - a doutrina dos três estados
consecutivos.
a) importância dada ao estudo da língua viva.
b) obra principal: "Kompendium der vergleichenden
Grammatik der indogermanischen Sprachen''.
2 - Georg Curtius:
a) formação da estrutura gramatical indo-européia:
"Zur Chronologie der indogermanischen Sprach-
forschung."
b) a "Griechische Schulgrammatik."

V - Te1·ceira fase dos estudos lingüísticos: de 1878 aos nossos


dias.
1 - Graziano Isaia Ascoli: - considerado o maior glotó-
logo da Itália.
a) Intensa atividade cultural.
b) Principais trabalhos :
"Corsi di Glottologia".
"Saggi critici".
2 - Johannes Schmidt - discípulo de Schleicher.
a) não sistematizava, mas considerava os fatos lin-
güísticos insola damente: - "Die Verwandtschaf ts-
verhiiltnisse der indogermanischen Sprachen".
b) histórico do vocalismo nas línguas indo-germâ-
nicas: - Zur Geschichte des indo-german-ischen
Vokalismus."
3 - Wilhelm Schulze: -
a) contribuição para o histórico das relações entre
os estruscos, latinos e outros povos da Itália.
b) Trabalhos: - a) Zur Geschichte lateinischer
Eigennamen
~) Kleine Schriften.
4 - Wilhelm Thomsen: os empréstimos linguísticos:
Ober den Einf luss der germanischen Sprache auf die
finnisch-lappischen
5 - Friedrich Stolz: - induziu os latinistas a seguir os
processos lingüísticos.
a) Principais trabalhos: -
a) Historische Grammatik der lateinischen
Sprache
b) Lateinische Grammatik
e) Geschichte der lateinischen Sprache
-124 -

6 - Ferdinand Sommer: -
a) Principal trabalho: - Handbuch der lateinischen
Laut-u. Formenlehre.
b) outros trabalhos: - a) Griechische Lautstu-
dien
b) Vergleichende Synta-
xe der Schulsprachen
7 - Alois Walde: -
a) dicionário etimológico: Lateinisches etymolo-
gisches Wiirterbuch.
b) Outros trabalhos: -
a) t.Jber alteste sprachliche Beziehungen zwis-
chen Kelten und ltalikern
b) Aspiratendissimilation im Lateinischen

8 - Michel Bréal: - o "Essai de sémantique".


9 - Ferdinand de Saussure: - imprimiu novos rumos
aos estudos da gramática comparada
a) a "Mémoire sur le systeme primitif des voyelles
dans les Zangues indo-européennes".
b) langue e parole
c) a sincronia e a diacronia
d) teoria que não deve ser aceita porque a c1encia
da linguagem deve procurar alcançar uma si-
tuação que abrange a estática e a dinâmica.
10 - Sechehaye: - concepção mais ampla da parole.
11 - Karl Bühler: - os quatro estudos que admitem seis
relações:
a) Sprachhandlungen - Sprachwerke
b) Sprechakte - Sprachgebilde
12 - J. Vendryes: - "Le language"
13 - Antoine Meillet - discípulo de Saussure.
a) as concordâncias entre as diversas línguas in-
do-européias: - "Étude comparative des Lan-
gues Indo-Européennes."
b) linguagem como fato social: - "Linguistique
histórique et linguistique générale."
c) Outros trabalhos:
a) Esquisse d'une Histoire de la Langue Latine;
b) La méthode comparative en linguistique his-
torique.
c) Aperçu d'une histoire de la Langue Grecque.
d) Dictionnaire étymologique de la Zangue la-
tine.
- 125 -

4 -- Alfred Ernout: -
a) Morphologie historique du Latin
b) Dictionnaire étymologique de la langue latine.
5 - J. Marouzeau: -
a) lntroduction au latin
b) Traité de stylistique latine
e) L'ordre des mots dans la phrase latine
d) Quelques aspects de la formation du latin litté-
raire.
e) La linguistique ou Science du langage
f) Lexique de la terminologie linguistique
g) La pronontiation du latin
h) La traduction du latin

VI - Aplicação da lingüística ao estudo do latim.

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V

LEITURA, TRADUÇÃO E VERSÃO

A) - LEITURA

A importância da leitura e a "Olassical Investigation"


Nem sempre os professôres de latim dão à leitura a
importância que lhe devemos atribuir, para que os objetivos
do ensino dessa disciplina sejam alcançados em plenitude.
É preciso que o aluno considere o texto um elemento
vivo e não mero instrumento, que só deve ser compreendido
através de processos de dissecação de suas partes compo-
nentes como se fôsse um cadáver submetido ao exame anatô-
mico dum especialista.
O grave êrro de supor que a função do discípulo diante
do texto consistiria em exprimir na língua vernácula o pen-
samento nêle contido, leva muitos educadores a relegar a
plano secundário o problema da leitura.
Marouzeau, (1) no capítulo dedicado à prática do
latim, reconhece a importância da leitura, que considera o
exercício mais difícil e, ao mesmo tempo, mais salutar.
Não basta obrigar o aluno a ler o texto, mas que a lei-
tura se processe com método adequado para a consecução
dos objetivos visados pelo ensino da língua.
Estabelecida a preliminar de que a leitura do texto é
imprescindível e consistirá o primeiro passo no ensino do
latim, passaremos a analisar as soluções propostas para, no
final, justificar a posição em que nos colocaremos. Está claro
que, quando nos referimos à leitura, queremos aludir à ação
de ler o trecho em todo o seu conteúdo e não partitivamente,
através da análise de palavra por palavra.
A primeira parte do Report of the Classical Investiga-
tion, promovida pela American Classical League, apesar de
(1) MAROUZEAU, J. - Introduction au Latin, p. 130.
-129 -

indicar a dificuldade que terá o estudante para, através da


leitura, compreender a ordem das palavras, diz que pro-
fessôres de certa habilidade conseguirão que os alunos leiam
o latim inteligentemente.
Clarence P. Bill, (2) professor da Western Reserve
University, estranha que a leitura de improviso, não tenha
sido incluída dentre os objetivos últimos indicados pela
Classical Investigation.
"The reading of Latin, the "indispensable pri-
mary immedíate objective which underlies the entire
process for each year of the co1trse", is del.iberately
discarded when the list of "ultimate objectives" is-
made up. "Ability to read new Latin after the
study of the language in school a;nd ,college has
ceased" is not a valid ultimate objective. ln other
words it is not one of the things we ought to try
to accomplish. This is astonishing. The seconda-
ry-school teacher who has been asked to spend his
energy for four years in teaching student to read,
and has set his heMt on "progressive development
of their power to read", is now told that be cannot
expect them to read. He must ma:ke the reading of
Latin his primary aim for f our years but must not
try to give his students ability to read it after lea-
ving school or college".

Não nos parece que Clarence Bill esteja com a razão,


porque a Classical Investigation incluiu a habilidade de ler
o latim de improviso, entre os objetivos imediatos. Daí não
podemos concluir, como fêz Bill, que devem ser consideradas
perdidas as energias gastas pelos professôres do curso secun-
dário, ao passarem quatro anos ensinando os estudantes a
ler inteligentemente textos latinos. Embora não reputemos
necessário distinguir objetivos imediatos dos objetivos últi-
mos, compreendemos as conclusões da Clasúcal Investigatíon,
consideramo-las judiciosas, e discordamos da crítica feita por
Clarence Bill. Se a leitura do latim figura entre os cha-
mados objetivos imediatos, e assim foi considerada durante
quatro anos de estudo, podemos concluir que, durante êsse

(2) BILL, Clarence P. - Reading the Classics. C. J . XXII, 91.


-130 -
.
tempo o aluno já deve ter alcançado êsse objetivo. Uma
vez que já se adquiriu o hábito de ler o latim, de impro-
viso, seria supérfluo e até desnecessário incluir a leitura
entre os objetivos últimos. Por isto, as observações de Bill
são improcedentes, inclusive na parte em que propõe a
substituição de objetivos imediatos por objetivos primários.
Duas grandes correntes de opinião preconizam processo<,
diferentes para a leitura do latim: - numa delas colocam-
se os professôres que julgam dever o latim ser lido como
latim e na outra, os que admitem o exame das categorias
gramaticais das palavras contidas no texto lido.

Leitura do Làtim como Latim - O professor Hale (3)


apresentou, em 1886, importante comunicado à Holidmy
Conference of the .Associatecl Principals sôbre o método que
devia ser adotado na leitura do ensino do latim. Êle ridi-
cularizou os processos tradicionais e mostrou que os estu-
dantes deviam ler as frases conservando as palavras na
mesma ordem em que as colocou o autor, de tal forma que,
ao ser conhecida a última palavra, fôsse possível ao leitor
ou ao ouvinte compreender todo o sentido. A comunicação
de Hale provocou verdadeira revolução no ensino de latim
e para ela se voltaram os professôres da época. Numa frase
de onze palavras, Hale apresenta-nos os diversos meios que a
imaginação do aluno deve seguir para compreender o latim,
como os romanos o compreenderam.
Franklin Potter ( 4 ) comenta que, se seguirmos as reco-
mendações de Hale com referência a esta frase de onze pala-
vras, encontraremos aproximadamente 125 itens de observa-
ção, reconhecimento, memorização e raciocínio. Se um dêsses
itens for ignorado ou apenas desprezado, os resultados do
processo são comprometidos e somente muita sorte evitará
que o aluno seja levado a cometer êrro. Hale parte de
princípio de que o aluno conhece o significado de tôdas as
palavras contidas no texto. Assim, o aluno, ao ler a frase,
não mais se preocuparia com a questão do vocabulário, mas
apenas com a função da palavra na frase. Se fôr encon-
trado, por exemplo, vocábulo "eri", o estudante logo verá

(3 HALE - Art. of Reading Latin. Apud Potter, in C. J.


XXIII, 17.
(4) POTTER, Franklin H. - Training for Comprehension. C.J.
XXIII, 17.
- 131 -

que só poderá ser um genitivo do singular, e por vêzes, urn


nominativo ou um vocativo do plural, mas, em se tratando
de significado desconhecido, deverá examinar-se a possibi-
lidade de ser um dativo do singular de 3.ª declinação.
A aplicação do método de Hale exige do aluno uma
série de conhecimentos preliminares, pois, como observou
Potter, o sucesso da compreensão direta depende da seqüên-
cia gradativa e da qualidade dos fatos utilizados na elabo-
ração da frase, bem como da perspicácia da observação e
do pensamento ordenado com que os fatos são aplicados.
Os requisitos indispensáveis para que o método de IIale
eonsiga os resultados visados, podem ser enquadrados em
três classes :
a) o aluno deve ter perfeito conhecimento das flexões,
pois, em caso contrário, perderá o fio do raciocínio, se fôr
obrigado a parar a fim de consultar a gramática;
b) acentuado conhecimento do vocabulário, a tal ponto
que possa reconhecer nove, dentre dez palavras do trxto;
c) conhecimento geral de todos os prineípios de sintaxe
utilizados no texto.
Não obstante Potter haver declarado que o método de
Hale só pode ser aplicado a estudantes adiantados, pensa-
mos diferentemente, porque tudo dependerá do preparo do
leitor em função das dificuldades contidas no trecho latino.
Se os trechos forem organizados ou escolhidos gradativa-
mente pelo professor, que levará em conta os ensinamentos
já ministrados, não achamos impossível a aplicação imediata
do método de Hale.
É oportuno acrescentarmos que muitos professôres acre-
ditam ser possível conseguir que o aluno possa ler César,
Cícero ou Virgílio sem haver necessidade de recorrer à
tradução. Não chegamos a contestar esta informação, mas
acreditamos que, nas contingências atuais, somente a grupos
selecionados de estudantes, em número reduzido, podería-
mos aplicar êsse processo de não ser necessário traduzir os
elássicos para apreender todo o conteúdo do texto.
A leitura dará ao discípulo uma idéia geral e indis-
pensável do pensamento do autor, expresso no texto lido,
mas o sentido exato dêsse pensamento, em profundidade,
poderá ser buscado posteriormente com a tradução e a
interpretação.
132 -

Em prosseguimento ao artigo anterior sôbre a leitura


dos Clássicos, Clarence Bill ( 5 ) volta a tratar do mesmo
assunto e diz, com muita precisão que uma coisa é conhecer
o vocabulário e a sintaxe da língua e outra é ser capaz de
aplicar todo êsse conhecimento rápido e inconsciente,
enquanto a frase vai se tornando clara.
O professor Carr, ( 6 ) da Universidade de Michigan,
observa que cada professor deveria perguntar a si próprio:
Devo eu tentar ou não ensinar os meus alunos a ler o latim
como latim? Se devo, como e quando? Se não devo, qual
é o meu objetivo primário imediato? Talvez uma questão
mais fundamental fôsse indagar: Devo eu ler latim como
latim? Qual a minha reação psicológica quando olho para
uma página de latim ?
Carr é partidário do processo de ler o latim como
latim, porque assim poderemos afastar do aluno a idéia
de ser o latim uma língua, que deve ser vista e não ouvida.
Todavia êle indica três motivos que dificultam a leitura do
latim como latim: a) os textos empregados e a falta de
conexão entre êstes e o estilo dos clássicos. Muitas vêzes os
alunos passam bruscamente da tradução de frases isoladas
para o tipo, de certo modo complexo, do estilo dos "Comen-
tários" sôbre a guerra gaulesa, de César; b) - a ânsia de
traduzir. O aluno, antes de concluir a leitura já tem a
sua atenção voltada para a elaboração da tradução; c)
a falta de hábito da leitura do latim como latim.
Carr deixa ao leitor a incumbência de responder às
perguntas, que formulou sôbre o processo, que o próprio
mestre deve adotar na leitura do latim. Não hesitamos
porém, em responder afirmativamente, porque o professor
precisa estar em situação de poder apreender o sentido do
texto, sem recorrer aos processos de sua dissecação.
Bourguet (7) reconhece que a leitura de textos latinos
é o melhor processo para aprender a ler. Rápida ou não,
essa leitura deverá suscitar questões no espírito do aluno.
O principal fator para conseguir-se, através da leitura,
todos os recursos que ela pode oferecer ao leitor, consiste

(5) BILL, Clarence P. - Reading the classics, CJ. XXIII, 489.


(6) CARR, W. L. - Shall we teach our pupils to read Latin!'
CJ, XXIII, 503.
(7) BOURGUET, Pierre du - "Le Latin", pg. 92.
-133 -

na orientação, que cada mestre é obrigado a ministrar ao


aluno. É preciso que esta orientação seja contínua e homo-
gênea. Contínua, no sentido de ser a leitura exercitada em
tôdas as aulas, e homogênea, na acepção de não haver mu-
dança de método.

A leitura cursiva e os professôres alemães -. Ernst


Ahrens ( 8 ) examina minuciosamente a questão da leitura,
que deve ser exercitada não somente na escola, mas também
em casa, como leitura privada. A chamada leitura cursiva
é indispensável e para que se obtenham bons resultados
é preciso que o professor adote as seguintes providências:
a) os alunos devem seguir o texto irrestritamente.
Por isto : - ligação estreita deve haver com referência à
colocação da palavra latina;
.b) os alunos fatigam-se com a seqüência concentrada
do texto mais depressa do que outrora. Por isso: - con-
vém interromper, nos lugares apropriados e explicar o
conteúdo;
c) os alunos devem ficar perto do texto latino. Por
isso : - todos os grupos de palavras de fácil tradução
conduzem para a língua latina, e oportunamente deve ser
preparado por meio de uma pergunta;
d) o acompanhamento dos discípulos deve ser cuida-
dosamente observado. Trechos lingüísticos difíceis de serem
compreendidos devem ser passados de relance e sôbre êles,
apenas, uma referência. Passagens importantes quanto à
estilística e ao conteúdo, podem, se forem difíceis, ser
repetidas duas ou três vêzes. Mas, muita sensibilidade: viel
Fingerspitzengefühl!;
e) o texto poderá tornar-se fácil, se determinada per-
gunta foi feita inicialmente;
f) o interêsse principal do objetivo da leitura cur-
siva consiste em que o professor e os discípulos se esforcem
conjuntamente para descobrir os pontos fundamentais -
(KernsteUen) suscetíveis de provocar ensinamentos.
Ahrens imprime singular importância à leitura inten-
siva de textos, principalmente como eficaz exercício para
capacitar a rápida compreensão. :ílJle recomenda ao pro-
fessor, controlar até a leitura feita em casa, o que conse-
(8) AHRENS, Ernst - Zur Frage der Einsparung im latei-
nischen LektünJ.plan. ln AU III/1 pag. 5.
134 -

guirá através de perguntas sôbre o texto que deve ser lido


sob o controle direto do próprio aluno. Finalmente,
êle ( 9 ) conclui que não é bastante a elaboração de um
plano de leitura, pois é também preciso evitar os traba-
lhos mecânicos.
Krüger (1º) proclama que a verdadeira compreensão do
significado das palavras e a construção da frase somenta
são possíveis em conexão com a leitura. Assim, de acôrdo
com êle, é a leitura que deve seduzir o aluno a com-
preender o sentido das palavras e a estrutura da frase.
Não devemos daí concluir que Krüger não dê importância
ao estudo do vocabulário, que deve ser feito através da leitura.
Êle afirma que a verdadeira compreensão - wirkliches
Verstehen - é obtida com a leitura. De fato, somente a
compreensão do contexto nos dará ensejo a perceber o sentido
exato em que o vocábulo foi usado pelo autor. É oportuno
relembrarmos que, em trabalho publicado há vários decênios
o professor Postgate mostrou que, muitas vêzes, a própria
intonação com que o autor pronunciava certas palavras po-
deria influir na compreensão do modo adequado para tra-
duzir a respectiva idéia.
Cuidados especiais recomenda Krüger que sejam dispen-
sados à leitura, sempre de acôrdo com o grau de adianta-
mento dos alunos. Assim, nas classes da Mütelstuf e, reco-
menda a leitura representativa; na Oberstuf e, a leitura
dos grandes autôres clássicos e condena a das obras dos
autôres da baixa latinidade.

Leitura como exercício de pronúncia - Em opo-


sição à leitura do latim como latim, estão "os que vêem
na leitura, apenas um instrumento que permite ao aluno
pronunciar corretamente as formas latinas, sem preocupa-
ção de apreender o sentido da frase."
A percepção do sentido da frase seria processo pos-
terior, que se conseguiria através do exame isolado dessas
formas, de acôrdo com a sua função sintática e da conse.
qüente tradução. Tomemos, por exemplo, o seguinte período
de Cícero:

(9) AHRENS,Ernest - op. cít. pag. 71.


(10) KRÜGER,& HORNIG - Methode des altasprachlichen Un-
terrichts. Verlag Norítz Diesteweg. 1959.
-135 -

"His ego sanctissimis reipublicae vocibus, et


eorum hominum, qui hoc idem sentiunt, mentibus
pauca respondebo.''

Ao concluir a leitura do período acima, o leitor não


se preocuparia em saber ter lido a disposição de Cícero de
responder às ponderações dos verdadeiros defensores da
República e aos pensamentos dos que faziam as mesmas
indagações. Uma vez lido o trecho, passaria o aluno ao
estudo das formas em busca do sujeito do verbo e predi-
cado para, através dessas considerações, compreender o sen-
tido da frase.
De acôrdo com êste processo, a leitura de nada valeria,
porque nenhuma aplicação poderia fazer o aluno dos sons
emitidos.
É preciso combater qualquer leitura que não tenha, pelo
menos, o objetivo de penetrar no ponto central do pensa-
mento do autor.

Leitura recomendada -· Infelizmente, alguns profes-


sôres não costumam dedicar atenção especial à leitura do
latim, e conhecemos até quem a julgue desnecessária para
o ensino da disciplina.
Torna-se absolutamente necessário que os exercícios de
leitura se façam desde a primeira aula, através de textos
fáceis e de dificuldade gradativa.
O Relatório da Classical Investigation assim se mani-
festou sôbre a questão da leitura ( 11 ): - "A maioria dos
professôres que preencheram o questionário geral expressam
a crença de que a frase latina deve ser abordada na ordem
latina. No entanto, uma grande parte dêsses professôres
segue, na prática, o método analítico. A razão parece con-
sistir, em grande parte, no fato de a oportunidade para o
uso da percepção no ensino da leitura e compreensão do
latim como latim, ser muito menor do que o ensino dos
elementos do latim. A prévia experiência do aluno na
compreensão de frases normais em inglês não fornece uma
base sólida para desenvolver a capacidade de compreender
o latim na ordem latina; pois é na ordem das palavras e
na estrutura da frase que o gênio da língua latina difere
(11) Classical Investigation, I, 189.
-136 -

radicalmente do da língua inglêsa. Com efeito, a maior


parte das dificuldades, que os alunos, comumente, enfrentam
ao procurarem ler e compreender o latim é, exatamente,
devido à tentativa inconsciente de adaptar o latim à ordem
que lhes é familiar no inglês".
A diferença entre a ordem latina e a portuguêsa poderá
acarretar, de fato, dificuldade para a percepção do pensa-
mento do autor, se, aos iniciantes, forem apresentados textos
não adequados ao desenvolvimento cultural e mental da
classe.
Se, após a leitura dum trecho, composto de frases sim-
ples e fáceis, o professor antes de pedir a tradução, fizer
perguntas sôbre o assunto nela contido, terá dado o pri-
meiro passo para conduzir o aluno a penetrar no gênio da
língua latina. O importante é proporcionar ao aluno o
hábito de esforçar-se por compreender o texto logo após a
leitura da última palavra. O exercício n. 30 de nosso "O
Latim do Ginásio" - 1. 0 ano (1 2 ) tem como tema "o assalto
ao Capitólio pelos gauleses", e oferece magnífica oportu-
nidade para que o professor, através de perguntas sôbre
questões contidas no texto, verifique se os alunos compreen-
deram o pensamento ali exposto. Se o mestre perceber que
o assunto continua muito nebuloso, poderá mandar repetir
a leitura duas ou mais vêzes.
A função do professor na orientação da leitura é assim
considerada por Marouzeau (1 3 ) :

"Il ( le maitre) choisira les textes les plus inté-


ressants et les plus accessioles à, la fois; il les fera
tradufre s'il le faut, par à-peu-prés, sans s'arrêter
aux finesses et aux obscitrités. Il souf flera les mots
aux traducteurs, il traduira lui-même, il résumera un
passage qui fait longueur ou difficul.té; de temps
en temps il lira une traduction, sans même passer
par le texte original. . . L'essentiel est d'avancer,
de défricher, d'explorer, de prendre à, vol d'oiseau
une vue des oeuvres et des hommes".

(12) NóBREGA, Vandick L. - 0 Latim do Ginásio, 1• série


58 ed. p. 69.
(13) MAROUZEAU, J. - "Introduction au Latin", 132.
-137 -

Além dêste processo de leitura expressiva, êle também


recomenda a leitura aprofundada, intensiva, que conduzirá
à penetração no pensamento do autor.
Esta modalidade última de leitura não poderá ser ado-
tada sempre, em tôdas as aulas, por falta de tempo, mas
periodicamente em oportunidades previamente escolhidas
pelo mestre.
A familiarização com os sons e ritmos padrões não se
adquire mediante a pronúncia de palavras isoladas. Ski-
les ( 14 ) qualifica em três categorias os processos que podem
proporcionar essa familiarização: a) habilidade para pro-
nunciar, com perfeição e automàticamente, à primeira vista,
considerável quantidade de palavras e frases latinas; b)
habilidade para pronunciar com perfeição e automàtica-
mente palavras latinas desconhecidas na medida que apare-
cerem; c) habilidade para ler uma oração latina ou um
parágrafo fluentemente com a inflexão de voz na palavra
apropriada.
Não seria demais prevenir que os resultados duma lei-
tura bem dirigida não são suscetíveis de aferição imediata,
porque somente poderão ser conseguidos através de prática
contínua e diuturna.
A aquisição do vocabulário é outro mérito que nos pro-
porciona a leitura. O hábito de ler os textos há de nos per-
mitir compreender o significado de palavras, que ainda não
tínhamos tido a oportunidade de conhecer. Se, apesar do
nosso esfôrço na procura do significado, não conseguirmos
encontrar resultado favorável, deveremos recorrer ao dicio,
nano. No entanto, não basta essa consulta ao dicionário.
É imprescindível fazer com que êste novo vocábulo venha
aumentar o cabedal que forma o vocabulário do aluno.

B) - TRADUÇÃO

:l!i possível traduzir? ~ Em primeiro lugar, surge a


questão preliminar de saber se é possível admitir-se a tra-
dução de um pensamento numa língua diferente daquela

(14) SKILES, J. W. D. - "The teaching of the reading of


Latin in the Latin word arder" - CJ, XXXIX, 90.

10
138 -

em que o autor o exprimiu. Moritz Haupt ( 15 ) já afirmou


que a tradução era a morte da compreensão - Die Über-
setzung ist der Tod des Verstiindnisses. No entanto,
Cauer ( 16 ) a considera um dos objetivos do ensino de
latim.
Klinz (1 7 ), talvez inspirado pelo que disse Haupt, per-
gunta: "se é verdade que o espírito de uma língua e de
uma nação tornam-se inegàvelmente mais fortes em suas
palavras intraduzíveis, por que então traduzimos Y" - "W enn
es wahr ist, dass sich der Geist einer Sprache und einer
N ation am stiirksten in ihren uniibersetzbaren W orten
offenbart, warum übersetzen wir dann?."
Se quisermos levar a questão sob um rigorismo extre•
mo, havemos de reconhecer que, nem sempre o próprio
autor consegue exprimir o seu pensamento com fidelidaclo
absoluta.
Goethe já nos disse que havia duas máximas funda.
mentais na tradução: - uma exige que o autor de uma
língua estrangeira seja transportado para nós de tal ma-
neira que nós o possamos reconhecer como um dos nossos,
e a outra, ao contrário, nos :faz a exigência, que nós nos
dirijamos ao estrangeiro e nos devamos colocar em seu
estado, em sua linguagem e em suas particularidades. Es
gibt zwei übersetwngs-Maximen: die cine verlangt, dass
der Autor einer fremden Sprache zu uns herübergebracht
werde, dergestalt, dass wir ihn als den unsrigen ansehen
konnen, die andere dagegen macht an uns die Forderung,
dass wir uns zu dem Fremden hi.nüberbegeben und uns in
seine Zustiinde, seine Sprechweise, seine Eigenheiten finden
sollen.
Traduzir, segundo Borucki, é transpor com suas formas
àe expressão um pensamento tirado de uma língua para
outra: - "Übersetzen heisst, einen Gedamken mit seinen
Ausdrucformen aus einer Spra.che in eine andere umset-
zen. ( 18 )

(15) HAUPT, Moritz - apud CAruus, Wolfgang, ln Die lnter-


pretation als Ziel des Lateinunterrichts. AU III, 1 p. 31.
(16) CAUER, P. - Die Kunst des übersetzens.
(17) KLrNz, Albert - Moglichkeiten und Grenzen der lnte,·-
pretation auf der Schule - In AU III/5 pag. 34.
(18) BORUCKI - apud KLINZ in "Zur Frage des übersetzens
und Interpretierens - AU II/8 pag. 35.
- 139

Segundo Kühn, traduzir é apreender um sentido com


auxílio de língua estrangeira bem como apanhar e moldai'
na forma interior da própria língua. "übersetzen heisst,
einen Sinn mit Hilfe der fremden Sprache erfassen 11ncl
in der inneren Form der cigenen neu ergreifen 1tnd ge-
stalten."

A missão do tradutor - A leitura do texto deve pro-


porcionar ao aluno uma idéia geral do assunto, mas é pre-
ciso apreender, em sua totalidade, o pensamento do autor,
ali exposto. Êste objetivo pode ser plenamente alcançado
por meio da tradução. A leitura inteligente do texto não
exclui a tradução; são ambos processos que se completam
para a consecução do mesmo objetivo.
Não é simples a tarefa de quem traduz, porque precisa
transportar para a língua em que se pretende traduzir, o
pensamento do autor, expresso em língua estrangeira, que é,
na maioria dos casos, a sna própria língua. Todos o~
recursos deverão ser utilizados para que o pensamento do
autor seja, de fato, retratado com a maior fidelidade possí-
vel. Está claro, portanto, que a tradução deve ser inteli-
gível. Conta-nos Marouzeau (1 9 ) a seguinte anedota de
René Doumic: - "Isto que escreveste, dizia um pai a seu
filho, não tem sentido". "Mas papai, respondeu-lhe o filho,
isto é uma tradução."
Seria ridículo aceitarmos como tradução um amontoado
de palavras, que nenhum sentido oferecem: A própria eti-
mologia da palavra "tradução" ( de traducere = traus +
ducere) indica que se trata duma ação de conduzir alguma
coisa para outro lugar, isto é, transportar o pensam<'nto
integral do autor para ser compreendido por prssoas, qne
falam outra língua. Podemos esclarecer que essa tradnção
sem sentido, de que nos fala a anedota de Rrné Doumic
está em situação semelhante ao de um rádio receptor qnr,
para poder ser transportado, foi decomposto em suas múl-
tiplas peças e ao chegar ao lugar a que se destinava ning-11ém
que o contemplasse poderia identificá-lo. Somente um
técnico de rádio seria capaz de verificar tratar-se dr p<>çai:;
dum aparelho de rádio, da mesma forma que somente um
exímio latinista de concluir, pelo exame de palavras isola-
das duma "tradução" srm sentido, tratar-se duma tentatiYa
(19) MAROUZEAC', J. - "Introduction an Latin", pg. 141.
-140 -

de traduzir determinado texto de autor clássico. Xo pri-


meiro caso, o bom técnico -conseguirá fàcihÍ1ente, pela. j1-Ínção
adequada das peças dar forma ao rádio, mas no segundo,
se o latinista não tiver o texto gravado na memória - o que
nem sempre acontece, nem é preciso - jamais conseguirá
aproveitar o material contido nessa má "tradução".
É muito conhecida a máxima, que deve servir de orien-
tação ao tradutor: - tão fiel quanto possível e tão livre
quanto necessário - "so treu wie moglich, so frei wie
1

notig !"
Distinguimos duas espécies de tradução: - uma, a
que chamamos de subjetiva, e outra, que denominamos de
objetiva. A tradução subjetiva é a que fazemos para nó~
mesmos, quando lemos ou ouvimos alguma coisa expressa
em língua estrangeira. Se alguém me dissesse - Da mihi
pecuniam ad panein emendum - (Dá-me dinheiro para com-
prar pão) - o simples ato de entregar a importância cor-
respondente ao preço do pão, sem haver pronunciado uma
palavra é a prova cabal de que fiz uma tradução subjetiva,
porque demonstrei haver compreendido o que me disse o
interlocutor.
A tradução, que denominamos de objetiva é a que pro-
porciona ao ouvinte ou ao leitor os elementos vernáculos
necessários a colocá-los em condição de apreender, ao tomar
conhecimento do texto transposto, o verdadeiro pensamento
do autor, que o exprimiu em língua diferente daquela que
está sendo utilizada pelo tradutor.
É óbvio acrescentar que êsse novo texto deve ser redi-
gido em linguagem correta e de acôrdo com os cânones
estilísticos da língua usada para a tradução.
Esclarecida a nossa posição diante de tão grave pro-
blema lingüístico, passaremos a apreciar as principais mani-
festações de autoridades que, em diferentes épocas, trata-
ram da tradução de línguas clássbas.
Dentre os vários processos usados para traduzir um
texto latino, destacamos o chamado método de construir -
J(onstruieren -, o analítico ou baseado na análise de frase
-Satzanavyse - e o literal ou baseado no significado dos
Yocábulos - worPwortbuches übersetzen.
1
-141-

Processo de Shedd - No primeiro número da Classi-


cal Weekl,y, o professor Cutler Sheld (2 º), num estudo feito
sôbre a tradução do latim, reconhece que se trata dum pro-
cesso que envolve um dos mais difíceis exercícios literários
que o homem conhece: - "It is a cornplicated process, this
art of translation. ln its cornpleted forrn it úivolves one
of the most difficult literay cxercices known to rnan."
No aludido trabalho, Cutler considera três processos de
tradução: - a) - o processo de simples transverbalização;
b) - o processo, que nos fornece a tradução literal; c) -
e o processo, que podemos qualificar de tradução literária,
embora Cutler o denominasse processo, que conserva a ordem
da ênfase sem obedecer à construção gramatical.
Tomemos um pequeno trecho de Cícero e vejamos como
poderíamos conseguir traduzí-lo pela aplicação de cada um
dos processos acima referidos.
"Quod vero non cruentum mucronem, ut vol.tâf,
extulit, quod, vivis nobis, egressus est, quod ei
f errum e manibus extorsimus q1tod incolumes cives,
quod stantem urbem reliquit; quanto tandem illum
maerwre af flie,tum esse et profligatitm puta tis?
Iacet ille nunc prostrafas, Qiârites, et se perculsitm
atque abiectum esse sentit et, retorquet oculos pro-
fecto saepe ad hanc urbem, quam e suis faucibus
ereptam esse luget: quae quidem laetari mihi vide-
tur quod tantam pcstem evomuerit forasque vroie-
cerit".

Se aplicarmos o processo de transverbalização, obtere-


mos a seguinte tradução :

"Mas, porque não a espada ensanguentada, como


,1nís, tirou; porque, estando nós vivos, saiu; porque
a êle o ferro das mãos arrancamos; porque os ci-
dadãos salvos, porque de pé a cidade deixou; por
quanta desolação êle ter sido atingido e abatido
julgais? Jaz êle agora prostrado, ó Romanos, por
êle ter sido desbaratado e vencido mas volta os olhos

(20) SHEoo, E. Cutler - "The translation of Latin'-', CW, I, 90.


142

certamente muitas vêzes para esta cidade, que de


suas garras ter sido arrebatada chora; a qual, na
verdade alegrar-se a mim parece porque uma peste
tão grande tenha vomitado e lançado fora."

Não podemos dizer que o resultado a que chegamos, pelo


processo de transverbalização, nos tenha fornecido um trecho
escrito em português.
O segundo processo consiste numa troca de lugar das
palavras, que serão colocadas de acôrdo com a ordem da
língua em que se fa za tradução. Assim, o mesmo trecho
seria traduzido da seguinte forma:

"Mas, porque não tirou a espada ensanguentada,


como quís, porque saíu estando nós vivos, porque
lhe arrancamos o ferro das mãos, porque deixou os
cidadãos salvos e a cidade de pé; finalmente, por
quanta desolação julgais que êle foi atingido e aba-
tido ? Agora êle jaz prostrado, ó Romanos, não se
sente ter sido desbaratado e vencido, mas também
certamente volta os olhos muitas vêzes para esta
cidade, que chora ter sido arrebatada de suas gar-
ras: a qual, na verdade, me parece alegrar-se, por-
que vomitou e lançou fora uma peste tão grande."

Êste segundo processo obedece à construção gramatical,


de modo que o nominativo sujeito não poderá, na tradução
ser transformado num objeto direto ou num adjunto-
adverbial.
O terceiro processo porém, mantém a ordem enfática
latina e não se preocupa com a construção gramatical.

"Mas, porque tinta de sangue não foi arrancada


a espada, como êle queria, porque saiu e ficamos
vivos; porque de suas mãos lhe arrancamos o ferro,
porque incólumes ficaram os cidadãos e a cidade
continuou de pé; finalmente, que espécie de deso-
lação julgais o haver atingido e abatido? Jaz êle
agora prostrado, ó Romanos, e se sente desbaratado
e vencido como também volta os olhos certamente
muitas vêzes para esta cidade, que de suas garras
-143 -

lamenta ter sido arrebatada: a qual na verdade me


parece alegrar-se, porque uma parte tão grande foi
vomitada e jogada fora."

Mas qual dos três processos poderemos recomendar aos


nossos alunos? Observa, ainda Shedd que uma tradução
perfeita deveria idiomàticamente visar à língua em que se
faz a tradução sem violar a sintaxe e a ênfase latina. To-
davia êle reconhece que tal coisa seria totalmente impossí-
vel de conseguir-se, de modo que a melhor tradução deveria
ser apenas uma aproximação dessa apresentada como per-
feita.

Conselhos de A. W. Smalley - O prof. A. W. Smal-


ley ( 21 ) do Hyde Park High School apresenta-nos dez con-
selhos para obtermos uma boa tradução:
1 - Ler tudo em latim, tentando apreender o sentido
sem traduzi,r para a língua vernácula;
2 - apreendendo o sentido, ler tôda a oração isolada-
mente, em latim, tentando apreender o significado, ainda
sem traduzir para a língua vernácula;
3 - se o significado não estiver claro, procurar com
preendê-lo analisando cada palavra que encontrar do se-
guinte modo e, para isto é aconselhável:
a) ler uma parte do discurso ;
b) localizar a forma ;
c) dar todos os significados e usos possíveis.
4 - Quando uma palavra esclarecer o significado de
outra anterior, retraduzir do princípio.
5 - Terminando uma oração, passe-a para nma lingna-
gem correta ;
6 - Terminando, traduza tudo ràpidamente, para a
linguagem correta ;
7 - Ler mais uma vez em latim: Se o significado de
qualquer parte do trecho não estiver claro, traduza nova-
mente aquela parte.

(21) SMALLEY, A. W. - apud "Hints for Teachers", B. L.


Ullman, CJ, XVIII, 309.
144 -

8 - Não procurar uma palavra no dicionário até estar


seguro de que não pode atinar com o seu significado.
9 - Antes de procurar uma palavra no dicionário con-
clua a forma que deve encontrar.
10 - Tentar raciocinar o significado duma palavra
por relações existentes entre palavras latinas e vernáculas.
Hoffmann: - precursor de novos métodos. - Um
dos precursores dos métodos modernos e científicos no en-
sino do latim foi Hoffmann, que chegou a ser por muitos
apontado como responsável pela orientação adotada nas
escolas alemãs, depois do aparecimento de seu notável tra-
balho ( 22 ). Êle condena enfàticamente o processo de entrar
primeiro em contacto com os membros da frase para daí
chegar ao sentido, porque o contrário é que deve ser feito,
isto é, deve-se buscar compreender o todo e somente depois
a relação dos membros: "erst das Ganze irgendiwie zu.
erfassen sucht und dann das Verhãltnis der Glieder ." ( 23 )
No que se refere à leitura, porém, o problema já tinha
sido objeto de considerações especiais de muitos pedagogos,
conforme tivemos oportunidade de assinalar. É verdade
que o trabalho de Hoffmann teve o mérito excepcional de
encontrar eco entre a maioria de latinistas de todo o mundo.
Talvez tenha contribuído para o sucesso de suas teorias
o fato de estar constantemente ameaçado o ensino de latim
em nossas escolas, diante do progresso incontestável da
técnica. Vivemos uma época de progresso material, do qual
será vítima o próprio homem, se continuar a esquecer-se
de si mesmo.
Se esta foi realmente a verdadeira causa da aceita<_;ão
de métodos científicos no ensino do latim, deveremos rece-
bê-lo como eficiente contribuição da técnica hodierna para
o progresso dos estudos clássicos.
A leitura do texto é medida tão preliminar e indis-
pensável quanto o garfo ou a colher para ingerirmos ali-
mentos. Somente a leitura nos permitirá auferir as grandes
lições contidas nas obras da antiguidade cássica. A lei-

(22) HOFFMANN_, Fr. - Der lateinische Unte1-richt auf sprach-


wissenschaftlicher Grundla.ge. Anregung und Winke, Leipzig,
1921, 2 Aufl.
(23) HOFFMANN, Fr. - op. cit. pág. 159.
145 -

tura, diz Krüger, (2 4 ) mostra a forma e o conteúdo da obra,


a concepção universal dos homens, que a criaram: - "die
Lektüre zielt auf Forin uncl Inhalt der Werke, auf die
Gedankenwelt der Jlllenschen, die sie schu_f en."
Outro mérito da leitura, como já salientou Heideg-
ger (2 5 ), consiste em transformar, em linguagem falada,
aquilo que não está falado : - "Lesen aber, was ist es
anderes als sarnrneln: sich 1:ersarnmeln in der Sam.rnlung
auf das Ungesprochene im Gesprochenen?"

Contribuição da escola alemã - Denominamos de escola


alemã a contribuição de cientistas tedescos, que recente-
mente conseguiram, através de numerosos trabalhos, fazer
triunfar processos por êles recomendados no ensino do
latim. Já aludimos, no início dêste capítulo, e provamos
posteriormente, que vem de longe a preocupação de reno-
mados pedagogos com referência à metodologia recomen-
dável no ensino das línguas clássicas.
Hoffmann, como já dissemos, recomenda insistente-
mente que se deve procurar apreender o sentido do con-
junto, pois, somente depois de alcançada essa fase preli-
minar, seria admissível buscar a relação dos diversos mem-
bros da frase. O método de Hoffmann é genuinamente
sintético e contra êle tem sido levantada a objeção de que
poderá levar o aluno a não compreender partes da frase
desde que tenha formulado uma percepção errada do con-
junto.
Neumann ( 26 ), depois de analisar o método de Hof-
fmann, diz que êle próprio entende por tradução a repro-
dução de um texto escrito em língua estrangeira num
alemão o mais correto possível. Essa tradução somente será
alcançada, assinala Neumann, depois de se ter compreen-
dido a frase em suas partes individuais e como um todo per-
feito. A compreensão da frase precede a tradução: - "dei'
Übersetzung geht das Satzverstiindnis, vorans." Chega-se à.
compreensão da frase através do sentido de palavras indi-
viduais ou da idéia. O sentido da palavra conduz ao sen-

(24) KRÜGER & HORNIG - Methodik des altsprachlichen Unter-


richts. Verlag Moritz Diensterweg. 1959 pág. 60.
(25) HEIDEGGER - apud Albert Klinz - Moglichkeiten uncl
Grenzen der Interpretation auf der Schule - In AU, III/5 pág. 34.
(26) NEUMANN, Willy - Konstruieren oder Lesenr ln AU I/3
pág. 5 e segs.
- 146 -

tido da frase - W ortsinn fiihrt mm Satzsinn. O signi-


ficado de palavras isoladas deYe ser tentado através da
W ortübertragung, isto é, através de comentários que a
estrutura da palavra nos proporciona. Baseado nessas
pesquisas, Neumann apresenta-nos o seu método de ensinar
a traduzir o texto latino depois de feita a indispensável
leitura, processo êsse que consiste em três tempos: - 1)
O sentido da palavra (Wortübertragung); 2) a compreen-
são da frase (Satzverstiindnis) ; 3) a tradução. Êle faz
questão de assinalar que a primeira fase não é propria-
mente uma tradução, uma transferência da idéia expressa
em língua estrangeira, uma compreensão de sentimentos e
meditação; é a tentativa de reproduzir o sentido e a signi-
ficação que a respectiva palavra latina em sua forma e
em seu lugar, tem com o contexto, através de uma expres-
são em língua vernácula, sem preocupação com a sutileza
e a beleza estilística ( 27 ).
Afirma-nos, ainda, Neumann que tem empregado o seu
método, com sucesso, durante mais de vinte anos de exer-
cício de magistério nas escolas alemãs. Êle acrescenta que,
a título de experiência pedagógica, empregou os dois pro-
cessos, isto é, o chamado método da construção dos mem-
bros da frase e o que êle preconiza. Pois bem, a reação
dos discípulos que primeiro aprenderam pelo método de
construir a frase e somente depois através da leitura cur-
siva, foi expressa na seguinte pergunta: - Por que não
nos ensinou sempre êste processo natural também para a
leitura dos escritores antigos? ( W arum hat man uns
nicht schon immer dieses natürliche V erfahren auch f-ür
die Lektüre der alten Schriftsteller gelehrt ?)
Krache ( 28 ) é inimigo acérrimo do método de cons-
truir para traduzir. Construir torna-se uma coisa verda-
deiramente destrutiva: "Das Konstruieren erweist sich als
1vahrhaft destrnktiv." Apresenta êle as dificuldades que
devem ser vencidas para a compreensão da leitura de um
texto latino: a primeira consiste em que a simples citação
do sujeito não deixa insatisfeito o romano; e a segunda
consiste em que o latino usualmente só emprega a forma
finita no predicado final.

(27) NEUMANN, Willy - op. cit., pág. 13.


(28) KRACHE, Arthur - Vbersetzung oder Verstehen. AU II/3
pâg. 66.
-147 -

Krache recomenda, após a leitura do texto, uma serie


de comentários sôbre a idéia contida em grupos de pala-
\Tas, na mesma ordem em que estas aparecem no texto.
A guisa de exemplo, transcreveremos as suas ·recomenda-
ções com referência ao cap. 54 do De Bello Galli.co, de
César:
Tamen Senones (Diferentes os Senones!), quae est ci-
vitas imprimis firma et magnae inter Gallos auctoritatis,
( êles são portanto uma tribo cuja resistência César não
pode considerar fácil) Cavarinitm (ah! isto é portanto o
atingido pela resistência dêles) quem Caesar apud eos cons-
tituerat ( êle era portanto uma "criação" de César) cuius
_frater 111oritasgus advenfo in Galliam Caesaris cuiusque
maiores regnum obtin1iera-t (- o predicado d.710 Kovvou faz
primeiramente alguma surprêsa) - César tinha tomado
portanto um instrumento da casa real reinante há muito
tempo. Com isto reconhecemos agora a posição problemática
do Cavarino) interficere publico consílio conati ( o sujeito
Senones deve ainda estar em consciência, o particípio signi.
fica o processo como somente preparativo) cum ille prae-
sens-isset ac profi1.gisset (êle o sentiu a tempo e fugiu)
usque ad fúies insecuti (êles ficaram-lhe nos calcanhares
até a fronteira) regno domoque expulserunt ( depuseram.
-no e exilaram-no - o verbo finito mostra que com isto
é terminada a primeira parte do acontecimento: com et
começa o segundo ato da resistência) missis ad Caesarem
satisfaciendi ca1tsa legati ( êles mandam embaixadores a
César para justificar-se) cum is omnem ad se senafam
ven·ire iussisset ( êle mandou que todo o conselho dos nobres
se apresentasse perante êle - tudo isto está antes daquilo
que segue agora) dicto attclientes non fuerunt (não se
submeteram a esta ordem).
Finalmente, conclui Krache dizendo que, quanto mais
cheio de sentido mais produtivo será êsse processo do que
o método de construir "Wieviel sinnvoller, wieviel fruchtba-
rer ist dies Verfahren als das "Konstruieren." Klinz ( 29 )
aplica à tradução a máxima W as friwhtbar ist, allein ist
wahr - ( o que é produtivo, é verdadeiro por si mesmo)

(29) Kr.rnz, Albert Zur Frage des tJbersetzens und In-


terpretierens. AU II/8p. 33.
- 148

e estabelece as recomendações abaixo para as atividades


escolares:
a) o ponto de partida da forma total e do ponto
principal é incondicionalmente necessário;
b) a compreensão do conteúdo, isto é, o conjunto
conhecido por meio da interpretação é pressuposição para
uma boa tradução da maior parte do texto;
c) o aluno necessita para a tradução tanto de uma
revisão criadora e crítica, quanto a combinação provocada
por uma fantasia criadora, porém ligada ao assunto e ao
tempo;
d) traduzir é uma atividade lingüística. A diferença
dos meios lingüísticos do original e da língua para a qual
se traduz deve ser expressa na tradução.
Schmidt ( 3 º), depois de apreciar os diversos processos
utilizados na tradução do latim, tira de todos êles o que lhe
parece recomendável e conclui:
a) do método de construir, o essencial;
b) do método de analisar a capacidade de reconhecer
em cada fato as relações entre os dados singulares e com
isto relações interiores;
c) do método de interpretar a arte, com vista cons-
tante sôbre o todo, reunir particuralidades num quadro
uniforme e finalmente, procurarmos conduzir nossos alunos;
d) apreender, através da tradução, um conjunto do
sentido e da idéia geral, e, após a compreensão, saber repro-
duzir de maneira inteligível com meios lingüísticos.

Processo recomendado para a tradução - Como já


tivemos oportunidade de aludir, a primeira preocupação de
quem vai traduzir é ler o texto para apreender o sentido
geral do pensamento do autor. Não é demais insistirmos
nesta operação preliminar, que não deve nem pode ser des-
prezada, se quisermos obter resultados satisfatórios.
E. P. Morris, ( 31 ) professor da Universidade de Yale,
no livro sôbre os princípios e métodos da Sintaxe Latina,
assim se referiu à preliminar de compreensão do texto antes
de ser êle traduzido :
(30) ScHMIDT, Kurt - Vbersetzen als geistige Sohultmg. AU
II/8 páp. 10.
(31) MORR1s, E. P. - On pr·inoiples and methods of Latin
Syntax apud "On translating Latin" - Edith Francis Clofbin, CJ,
XX, 108.
-149 -

"The necessary rniddle step úi translation is a


thorough comprehension of the thought, a com-
prehension which goes deeper than the f orms in
which thought expresses itself in any one language.
Without this, translation ,will not be flexible 01·
idiomatic; it will be tinged with the color of the
language from which the translation is made. The
failure to secure such a thorough comprehension is
one cause of the stif f and mechanical translations
to wich toachers are obliged to listen in the class-
room, as it is the source of much that is unclassical
in modern Latin".

A leitura recomendada para a compreensão do texto,


deve ser feita na ordem latina e nunca através da chamada
ordem direta, que transfigura e deturpa o gênio da língua
que se pretende traduzir.
Não podemos deixar de reconhecer que a ordem latina
acarreta, no princípio, alguma dificuldade ao aluno, mas é
preciso preveni-lo que só há um meio eficiente para colocá-lo
cm situação de vencer os obstáculos: - é o contato perma-
nente com os textos, através da leitura e tradução. Num
importante artigo sôbre os elementos da tradução latina, E.
Greene ( 32 ) lembra, com muita propriedade, a seguinte
observação de Kipling feita sôbre questões de trecho: "there
are nine and sixty ways of teaching translation and every
single one of them is right ... "No entanto, conclui Green que
por nenhum dêsses sessenta e nove processos se poderá conse-
guir resultado favorável sem a preocupação de colocar a
própria mentalidade de cada um no lugar do aluno e guiá-lo,
sem interrupção, mas também sem pressa ou importância".
O primeiro ato que o aluno deve fazer é ler o texto
e esforçar-se por compreender o sentido daquilo que acabou
de ler, sem preocupar-se com a tradução em si. O impor-
tante é que êle entenda o que acabou de ler. Somente
depois de haver executado essa tarefa preliminar e indis-
pensável é que será possível examinar detidamente as di-
versas orações de que se compõem cada período. É che-
gado o instante de tirarmos a prova, se havíamos percebido
ou não o pensamento do autor. Finalmente, numa terceira
(32) GREENE, E. Catherine - "The elements of translation
o/ Latin", CW, 1, 5.
-150-

fase, quando já nenhuma dúvida haverá quanto à apreen-


são geral do sentido do texto é que deveremos iniciar a
fase final, que é a tradução propriamente dita.
Reputamos de grande importância os comentários que o
professor deve fazer, pelo menos nos primeiros anos, antes
da leitura do trecho, para situá-lo no tempo e no espaço.
:F1sses comentários muito favorecerão a leitura expressiva
e, às vêzes, poderão ser feitos mediante perguntas dirigidas
ao próprio aluno, sôbre assunto do contexto anterior, jú.
objeto de estudo noutras aulas.
Imaginemos, por exemplo, que o aluno deva traduzir
o seguinte trecho da oração proferida por Cícero em defesa
do poeta Licínio :
"Si nihil aliud nisi ele civitate ac lege dicimus,
nihil dico amplius; causa dieta est. Quid enirn
horum infirmari, Grati, potest? H eracliaene esse
tum ascriptmn negabis? ....................... .
"Hic fo tabulas desideras Heracliensium pubi-
cas, quas Italico bello, incenso tabulário, interisse
scimus omnes ................................ .
"An domicilium Romae non habuit is quit tot
annis ante civitatem datam sedem tomni1tm rerum
ac f ortunarum Romae conlocavit ?"

Antes de ser iniciada a leitura, o professor deverá per-


guntar ao aluno o que estabelecia a lei de Silvano e Carbão,
a que se referiu o autor no parágrafo anterior. Perguntará
também se Licínio já residia em Roma, há muitos anos antes
da referida lei. Poderia Licínio ser considerado cidadão
romano pela lei de Silvano e Carbão? Por quê? Final-
mente, dirá o professor que Cícero, apesar de tôda a argu-
mentação anterior, ainda vai mostrar que Licínio foi regis 0

trado em Heracléia. No entanto, por motivo que o próprio


orador esclarece, não será possível exibir as tábuas rm r111r
se fêz êsse registro.
Com as explicações acima, o aluno haverá de perceber
o sentido do trecho transcrito e, antes mesmo de ser tentada
a tradução, estará em condições de responder a outras per-
guntas objetivas e relacionadas com o trecho lido.
Daí podemos verificar a necessidade de não ser feita
tradução de trecho fracionado, mas de textos que obedeçam
151 -

à indispensável sequencia. Por isto, é preferível traduzir,


num semestre, tôda uma oração de Cícero ou todo um canto
da Eneida, e não excertos avulsos de várias orações ou
versos esparsos dos doze cantos da Eneida.
Feitos os comentários gerais, já é tempo de ser iniciada
a tarefa de traduzir o trecho. A tradução será tanto mais
próxima da perfeição, quanto melhor consiga refletir, na
língua vernácula, o pensamento expresso na língua, que se
deseja traduzir. Por isto não devemos desprezar a ênfase,
que representa um reflexo da imagem projetada no espelho,
desde que não fique prejudicado o gênio da língua em que
se traduzir.
Não chegamos a condenar o processo de transverbali-
zação, mas só podemos admiti-lo como uma etapa para a
tradução literária.
Marouzeau, ( 33 ) com a sua grande autoridade, apre-
senta-nos as seguintes regras essenciais ao tradutor:

a) Não acrescentar: traduzindo, por exemplo,


novus por "novo e estranho";
b) não suprimir: - traduzindo vivus ac su-
perstes por "sobrevivente";
c) não decompor: - stitpens não é "profun-
damente admirado";
d) não recompor: - cupidus habendi não é
o eqüivalente puro e simples de "interessado";
e) não repetir o que não existe: - rniWurn
virtutem civium f ortitiidine metiri será mal tradu-
zido por "medir a coragem dos soldados pela cora-
gem dos cidadãos" ;
f) não deixar de repetir o que está repetido:
- animits excelsus excelsa petit será traduzido por
"um espírito elevado procura as grandezas".

No inquérito promovido pela Classical Investiga-tio n


dentre 659 professôres sôbre o mecanismo da tradução, 349
responderam no sentido de que se devia procurar em pri-
meiro lugar o sujeito, depois o verbo, e, finalmente o objeto;
221 opinaram que seria melhor procurar primeiro o vrrbo

(33) MAROUZEAU, J. - Introduction au Latin, p. 144.


-152 -

e, finalmente 89 julgaram ser aconselhável traduzir o pen-


samento expresso em cada grupo de palavras.
As traduções, quando bem feitas, não prejudicam, como
alguns pensam, a facilidade de expressão no próprio idioma.
No inquérito promovido pelo professor Nutting, ( 34 ) da
Universidade da California, ficou demonstrado que os alunos
de latim, obtiveram 82% de habilitação nos exames de
inglês, e os que não estudaram o latim, conseguiram apenas
67% de aprovação.
Outra recomendação que reputamos de suma importân-
cia, refere-se ao vocabulário. É preciso que o aluno se
habitue a não ter de consultar o dicionário a cada instante,
mas somente depois de esgotados todos os recursos de pro-
curar encontrar o sentido do vocábulo através de regras de
:formação das palavras ou do próprio contexto.
Todavia, se fôr absolutamente necessário consultar o
dicionário, é preciso que aos vocábulos até então ignorados
seja apresentada a devida atenção, mediante a sua anota-
ção em caderno especial, para evitar que, ao aparecer nova-
mente em textos futuros, se repita a operação de consulta.
A construção gramatical da frase será fàcilmente alcan-
çada se o aluno procurar distinguir a proposição principal,
as subordinadas à principal e as dependentes com relação
a ela.
Vejamos, por exemplo, o início da oração proferida em
defesa de Marcelo :

"Diuturni silenti., paires conscripti, quo eram


his temporibus usus, non timore aliquo, sed partim
dolore, partim verecundia, finem hodiernus dies
attulit, idemque initmm, quae vellem qitaeque sen-
tirem, meo pr·istino more dicendi."

A oração principal é "Diitturni silentii. . finem hodier-


nu,s dies attulit da qual depende a oração adjetiva quo eram
his temporibus usus, non timore aliquo, sed partim dolore,
partim verecundia, e desta, por sua vez, dependem duas
outras : - quae vellem e quaeque sentirem meo pristino
more dicendi.
(34)
V, 165.
NUTTING, H. e. - "The translation º' Latin" - C.J.
- 153

Observa Marouzeau ( 35 ) que, quando soubermos isolar


as proposições na frase e interpretar na proposição a forma
gramatical de cada um dos têrmos essenciais como verbo,
sujeito, regimes, não se deve fazer outra coisa senão traduzir
de acôrdo com êstes dados, isto é, atribuir a cada palavra
o seu papel na frase.
A última etapa do tradutor será verificar se o portu-
guês está claro e correto. Êle poderá mudar a forma,
porém não a idéia, como muito bem acentua Bourget (3 6 ).

Os malefícios dos chamados "burros" ~ A consulta


aos livros de tradução, já cognominados de "burros" cons-
titui obstáculo quase intransponível para o aprendizado da
língua. Julga o estudante haver poupado o tempo que em-
prega na elaboração de traduções, mediante simples cópia
da tradução já pronta e escrita em português correto.
Depois de copiada, êle trataria de estudá-la em função do
texto e teria a impressão de que se encontrava em condições
de traduzi-lo. Dolorosa ilusão e causa do fracasso de muitos
no estudo do latim.
Duplo é o perigo dêsse processo: - ilude não somente
o aluno, mas também o próprio mestre que, se não usar de
certa argúcia, terá a impressão duma suposta habilidade
no domínio da língua.
O professor Clifford Clark, ( 37 ) do Dartmouth College,
há mais de quarenta anos, já apontava os perigos da con-
sulta aos "burros" e apresentava as providências geral-
mente adotados para impedir êsses recursos:

a) o método da leitura;
b) proibição compulsória sob a forma de pro-
messa ou de dispositivo legal :
c) fazer o estudante alvo de ridículo ;
d) o método direto;
e) insistência em minúcias importantes;
f) sistema de Princeton, que consiste em per-
guntar aos estudante se êles preferiam lições grandes

(35) MAROUZEAU, J. - La traduction du Latin, p. 20.


(36) BOURGUET, P. du - Le Latin, 128.
(37) CLARK, Clifford - "The translation habit" - CJ, X, 17.

11
154 -

podendo consultar os "burros" ou lições pequenas


sob o compromisso de não consultá-los;
g) tradução à primeira vista nos testes finais
e de promoção.
Os seis primeiros processos são inaceitáveis e alguns
dêsses, como o de fazer do aluno alvo de ridículo, ferem
os mais elementares preceitos da pedagogia.
Estamos de pleno acôrdo com o professor Clark, quando
afirma que somente a tradução do texto à primeira vista
poderá levar os alunos a compreender a inutilidade e os
malefícios dos "burros":
"I!'rorn the very beginm:ng of Latin stndy, abi-
lity to interpret Latin at sight shoitld be indeli-
bly irnpressed upon the student's mind. (3 8 ) "

Ao assumirmos a cátedra de latim do Colégio Pedro II,


em fins de 1945, a nossa atenção foi logo voltada para o
problema da tradução nas provas e exames. Já tínhamos
observado que os alunos, durante o ano, consultavam êsses
livros de tradução feita e, para provas e rxames, limitavam-
se a decorar os textos marcados, porque somente êstes seriam
exigidos. A nossa primeira providência foi comunicar a
todos os professôres de latim, aos quais também pedimos
transmitissem aos alunos, que os textos fornecidos para
tradução em prova escrita deveriam ser obrigatoriamente
tirados dentre os não vistos em classe. Daquela época até
a presente data, não modificamos a diretriz e os alunos já
recebem, com a maior naturalidade, o fato de ser pedida, em
prova parcial, tradução de trecho que êles nunca viram,
apesar de ser do autor estudado na respectiva série. So-
mente assim êles compreenderam a necessidade de não se
utilizarem dos chamados "burros", que jamais os habilita-
riam a traduzir trecho desconhecido.

C) - A VERSÃO

Os exerc1e10s de versão para o latim têm sido comba-


tidos por uma corrente de professôres que, impressionados
(38) CLARK, e. P. - The translation habit - CJ, X, 24.
- 155

pelo método direto usado no ensino de outras línguas, são


partidários de sua supressão.
Não pensamos dessa forma, porque consideramos a
versão o recurso mais eficiente de que o professor dispõe
para aquilatar o grau de conhecimento dos .alunos sôbre a
parte gramatical explicada, sem recorrer ao processo pouco
pedagógico de fazer perguntas isoladas de morfologia ou
de sintaxe latina.
É interessante assinalar que os adversários da versão
reconhecem a sua utilidade como exercício de contrôle da
precisão dos conhecimentos gramaticais. Por isto, Bour-
guet ( 39 ) pergunta se esta utilidade de contrôle não pode
estender-se a outros elementos além da gramática. Se é
verdade que o professor pode servir-se da versão para con-
trolar os conhecimentos gramaticais, poderá, da mesma
forma, controlar a maneira pela qual o aluno utilizou o
conhecimento do vocabulário, a formação do raciocínio e do
gôsto que se pretende atribuir-lhe.
Ârchibald Hodger ( 4º) reconhecia que os exercícios de
versão para o latim oferecem muitas outras vantagens além
dos incontestáveis subsídios na aprendizagem da sintaxe.

"Latin composition helps fix in the mi.nd certaúi.


points of syntax, but it also does more than this.
It gives a feeling for what syntax means, for what
construction is, for that reiationship of word ,witlt
word, phrase with phrase, and clause ,with cla11se,
which ,can be observed with greatei· exactnes,s ,in
Greek and Latin than in any of the obher langua-
ges commonly studied."

Alegam alguns opogitores aos exerc1c10s de versão que


os alunos são levados a incidir em erros constantes, por-
que, geralmente, se limitam a estabelecer comparação entre
as duas línguas. É uma argumentação tão fraca que ruirá
por terra com um simples sôpro. Esta alegação somente
poderia ser levada em consideração se admitíssemos que os
exercícios de versão fôssem apresentados aos alunos, sem o

(39) BOURGUET, P. - Le Latin, pág. 130.


(40) HODGER, A. L. - What and Why in Gi·eek and Latin
Composition, CW, IV, 92.
-156 -

indispensável cuidado de verificar se todos os elementos


necessários para a sua execução já eram do seu conheci-
mento.
Seria ridículo se disséssemos que os exercícios de versão,
elaborados para aplicação da sintaxe do pronome relativo,
fariam com que o aluno acertasse o emprêgo do relativo e
errasse a flexão nominal ou verbal. Parece óbvio escla-
recer que o professor não iria colocar nessas frases pala-
vras de tema em e, se o aluno ainda não conhecesse a
quinta declinação. E se, obedecido o critério de somente
organizar êsses exercícios com matéria já explicada, o aluno
viesse a acertar o emprêgo do relativo e errasse a flexão
nominal ou verbal, era uma prova de que esta última parte
estava esquecida ou nunca fôra bem aprendida. Neste caso,
a versão teria proporcionado elementos para que o profes-
sor melhor aquilatasse a deficiência do discípulo em assunto
anteriormente explicado. Isto obrigaria o aluno a sanar,
ainda em tempo, falhas que lhe dificultariam o caminho.
Não podemos pois, inverter os papéis, isto é, insinuar
como nocivo o que deve ser considerado benéfico. É esta
a realidade, pois o professor estava na doce ilusão de que
o discípulo aprendera bem as flexões nominais e verbais
mas, graças ao exercício da versão latina, verificou que
estava iludido. Censurar a versão por êsse motivo, seria
o mesmo que condenar a verdade, porque melhor seria
viver na ilusão.
Alain Bourgeois, adepto fervoroso da prática de novos
métodos científicos na aprendizagem do latim, afirmou cate-
goricamente no Congresso Internacional para o Latim Vivo,
em Lyon : - "La grammaire peut évidemment se pratique1·
et se pratiq11e en effet dans les deux sens: celui du theme
et celui de la version. En theme, les éleves ont princi-
palement à faire la preuve de leurs connaissances gramma-
ticales. ( 41 )."
Está implícito o dever do mestre de escolher a época
em que êsses exercícios poderão ser feitos. Seria uma teme-
ridade se o professor determinasse ao aluno fazer uma
versão na qual deveria ser empregado o complemento do

(41) BOURGE01s, Alain - D'un enseignement moderne du La-


tin. ln, II Congres International pour le Latin Vivant pág. 105.
-157 ~

verbo studere, sem que anteriormente houvesse explicado a


sintaxe dêsse verbo.
Portanto, os exercícios de versão, quando bem elabo-
rados, - nem induzem os discípulos a estabelecer uma
perigosa comparação, nem poderão ser causa de erros fre-
qüentes. Aliás, os nossos alunos que acompanham as expli-
cações dadas em classe, cometem muito menos erros nos exer-
cícios da versão do que na tradução de texto desconhecido.
É esta, também, a impressão de Bradford Peaks, ( 42 ) num
tratado sôbre a composição latina: - "C omposition directly
in Latin, aftm· two or three attempts, is easiei· than trans-
lation and, th01tgh in a diff erent way, quite as instrnctive."
Vejamos, agora, dois casos práticos que servirão de
exemplos para demonstrar que os exercícios da versão, cuida-
dosamente organizados, nenhuma dificuldade apresentam
aos alunos do primeiro ou do quarto ano de estudo do
latim.
Quando o aluno já tiver estudado as três primeiras
declinações, os adjetivos da primeira classe e a conjugação
dos verbos na voz ativa, poderá fazer os seguintes exercícios,
que se encontram em nosso livro "O Lat1:m do Ginásio",
para a l.ª série: (43)

Exercício
Teseu e o Minotauro:
"]\finos (Minos) rei da Creta, por causa da morte de
Androgeu, fazia guerra com os Gregos. Os soldados gregos
combatiam com muita coragem, mas o rei venceu e impôs
severo castigo aos gregos. Todos os anos, disse êle, man-
dareis sete rapazes e sete môças para o meu país. Nós (os)
introduziremos no labirinto (acusativo) onde está o Mino-
tauro. Todos os anos, os Gregos mandavam sete rapazes e
sete môças para a ilha da Creta (acusativo). Teseu, afa-
mado cidadão grego, resolveu matar o Minotauro".

(42) PEAKS, M.Brandford - The teaching of Latin Oomposition


tn College - CW, V, 86.
(43) NÓBREGA, Vandick Londres da - O Latim do Ginásio -
1• ano, págs. 82 e 85.
- 158 -

Exercício
Teseu e o Jl,linofitro:
Teseu navega para a ilha de Creta. O labirinto não
era conhecido ao ilustre varão, mas Ariadne, filha da rainha,
prestou auxílio a Teseu. Teseu, por causa de sua coragem,
não temeu os perigos. Ariadne afastou uma grande difi-
culdade ao corajoso grego. O fio, disse ela, te fará sair
do labirinto (ablativo). Obedece aos meus conselhos e ven-
cerás. Teseu lutou e venceu o Minotauro; por isso salvou
a vida de muitos rapazes e môças.

Exercícios dessa natureza só poderão ser úteis, porque


desenvolvem um tema de assunto genuinamente romano e
não oferecem dificuldade aos iniciantes, desde que lhes seja
fornecido o vocabulário das palavras não vistas anteriormente.
Quando o aluno já possuir alguns anos de estudo e tiver
de aprender especificamente a sintaxe latina, os exercícios da
versão tornam-se indispensáveis. Os diversos empregos das
questões de lugar, por exemplo, podem ser apresentados aos
discípulos mediante exercícios da versão, como o seguinte, que
tiramos do nosso livro "O Latim do Colégio", 2.ª série ( 44 ).

Questões de lugar
Versão: - César saiu do acampamento com duas legiões
e se dirigiu para aquela parte que ainda não tinha atraves-
sado o rio. O rio Árar corre pelac, fronteiras dos Éduos
para o Ródano. Arquias ausentou-se da Sicília com Luculo
e veio para Heracléia. Canto as armas e o varão que veio
das praias de 'l'róia para o litoral de Lavínia. O homem,
que estêve em Londres, é o mesmo que saíu da Itália e foi
ferido na guerra. César saiu da Gália e partiu para a
Itália com a duodécima legião .


* *

(44) NÓBREGA, V. L. da - "O Latim do Colégio" - 2• ano,


pg. 58.
-159 -

Outra objeção apresentada contra os exercícios de versão


consiste no fato de não poder o aluno redigir à frase num
estilo semelhante ao dos autôres do período clássico da lite-
,ratura latina, como Cícero e César. Em primeiro lugar,
devemos esclarecer que o objetivo principal da versão con-
siste em ser empregado como exercício de aplicação dos conhe-
cimentos já adquiridos, e, em segundo lugar, não temos a
preocupação de formar pequenos Césares on pequenos Cíceros
como já observou lVIitchell: ( 45 ) - "W e are not tryng to
make little Caesars and Ciceros: we are trying to develop
the powers of youthf1il minds. Style is an 1:nimitable indi-
vidual gift."
Por outro lado é preciso não esquecer que o bom latim
não se rednz à língua de Cícero. No recente Congresso
sôbre o latim como Língua Viva ficou sobejamente demons-
trado que o latim de outros autôres como Tito Lívio, Tácito
é tão merecedor de ser imitado quanto o de Cícero ( 46 ).
Temos observado que, geralmente, a versão tem contri-
buído para que os bons alunos de latim, ainda não familia-
rizados com o estilo do autor indicado para a tradução, con-
i;;igam elevar as suas notas de aproveitamento, em exercíciÕs
mensais. Além disso, constitui uma boa base e um passo
muito avançado para aquêles que pretenderem escrever com-
posição em língua latina.

D) - MÉTODO DIRETO

Não somos dos que se mostram adeptos fervorosos do


método direto no ensino do latim. O principal motivo de
nossa :falta de entusiasmo consiste no receio de que o tempo,
- já escasso, - empregado para a composição sôbre assunto
:fora do mundo latino, prejudique os conhecimentos que po-
demos adquirir em contacto permanente com os autôres
clássicos.
Todavia, não condenamos o método direto, principal-
mente depois do que presenciamos no II Congresso Inter-
(45) MITCHELL, B. W. - The Teaching of Latin prose com-
ipOsition in the Secondary School - CW, VI, 29.
(46) Cf Actas do Premier Congres International pour le Latin
Vivant. Anignon.
-160-

nacional do Latim Vivo, realizado em 1959, em Lyon, e do


qual participamos. Professôres de várias nacionalidades lá
se reuniram e era através do latim, que os congressistas
se comunicavam. Ninguém poderá negar que o latim possa
ser utilizado como elemento de comunicação e de aproxi-
mação entre os cientistas. Um dos maiores inimigos do
latim é o reduzido tempo, que lhe é destinado no currículo
do curso secundário. Se o professor verificar ser possível
conduzir o aluno ao tesouro contido nos clássicos latinos
através de método direto, terá obtido o máximo e merecido
os mais entusiásticos aplausos. É preciso porém evitar, de
qualquer forma, que a preocupação exclusiva de manter
colóquios em latim não ponha os discípulos familiarizados
com as obras dos clássicos. O ideal será a consecução das
duas coisas, mas se, por fôrça das contingências, uma deva
ser sacrificada, que não seja o conhecimento direto dos
grandes escritores da literatura clássica latina.
Chickering ( 47 ) considera que os principais postulados
do método direto são os seguintes: - a) - a coisa, o ato, a
idéia serão associados diretamente com a expressão latina r
não com uma tradução em língua vernácula; b) - as formas
e sintaxe serão ensinados pelo uso, indutivamente e não
como fenômeno abstrato para ser aplicado posteriormente à
própria língua; c) - a compreensão deve vir antes da tra-
dução, que é, nos anos posteriores, um valioso exercício, mas
não o objetivo último; d) - o manejo oral da palavra, por
ser mais flexível, precederá a escrita.
A questão do método direto agitou os meios educacionais
há quase meio século, quando o professor Rouse. ( 48 ) de
Cambridge, começou a tratar do assunto. Era o método de
Nursery no ensino do latim. O professor deveria jogar prc-
Jiminarmente com as formas - surgimus, - considim11s, -
stamus, - sedemi1,s, - arnbulam1ts etc.. Para que tenhamos
uma idéia do processo do professor Rouse, trancrevemos
uma parte do mesmo

(47) CHicKERING, E. e. - The Direct Method in Latin Tea-


ching a Reply. CJ, IX, 67. id. - The Direct Method in Latin
Teaching - CW, VI, 37.
(48) ROUBE, W. H. D. - The Direct Method Again, cw,
VI, 157.
-161-

SERIES I - Tabula Nigra

I. 1. Surgimus - considimus
Surgimus - stamus - considimus - sedemus.
Surgimus - stamus - eximus - inimus - consi-
dimus - sedemus
Surgimus -- stamus - eximus - ambulamus - .
venimus - redimus - inimus - considimus -
sedemus
2. A et B. - Surgimus. Magister. Surgitis et ...
3. A et B. - Surgimus. Ceteri. Surgitis M. sur-
gunt etc ...
4. A et B. - Surgimus. Ceterz'. (A et B) Surgitis,
(Magistro) Surgunt etc ...
5. C. - Surgo M. Surgis. Cet. (C) Surgis.
M. (Ceteris) Surgit. Cet. (Magistro) Sm-
git etc ...
6. Ego, tu, hic et ille, nos, vos, hi, et illi.
Ego surgo, tu surgis etc ...
7. M. Tu, A, Surge! A. Surgo. (Cet.) (A) Surgis
( Magistro) Surgit etc ...
M. Vos, A et B, surgi te! etc ...
M. O A, Surge! quid facis Y A. Surgo: O pueri,
quid facio Y Oet. (A.) O A., Surgis.
O Magister, quid facit A Y M. Surgit A etc ...

A repetição das formas é um recurso de que se utilizou


Rouse na elaboração de seu processo do método direto.
Se consultarmos as publicações científicas da época,
veremos o interêsse que provocou o trabalho do dr. Rouse,
mas nem todos apareceram para aplaudi-lo. Edmund
Barss ( 49 ), depois de fazer uma síntese do processo do dr.
Rouse, mostra-se cauteloso e considera a posição do método
rlireto, semelhante à de um jovem com a primeira navalha,
o qual sabe que tôda a gente faz barba com êsse instru-
(49) BARSS, J. Edmund - D,·. Rouses' Exemplication of the
Di-rect Method of Teaching Latin - CW, VI, 45.
162 -

mento, mas também sabe que qualquer descuido redundará


num corte. É isto uma alusão às dificuldades que o método
direto pode oferecer aos próprios professôres.
Sattler ( 50 ), num interessante trabalho em que apre-
senta várias recomendações sôbre a aplicação do método
falado - Sprechmethode -'-, que êle faz questão de dis-
tinguir do método direto, conclui que se trata apenas, de
um meio com o fim de ser uma apropriação mais intensiva
da língua: - "will nur Jfittel mm Z·weck intensiver Sprach-
anet'gnung sein."
Kutland ( 51 ) também não se mostra muito entusias-
mado, porque pondera que o método direto era o processo
inevitáyel enquanto se escrevia e falava o latim. Por
outro lado, acrescenta êle mais adiante, seremos forçados
em nossa conversação a limitar-nos geralmente ao concreto
e a impedir maior aproximação com grandes pensamentos
de antôres como Virgílio:

"Furthermore, we should be forcced in oitr con-


versation to limit ourselves for the most part to
the concrete and to deny ourselves a close approach
to the great tho1tght of such an author as Verg-il.
W ords and syrdax wo11ld doubtless become more
vital_. bitt not the supreme ideas. I cannot be per-
suaded that the average student can be brought to
think in Latin, as it is called_. •without an enormous
and itnprofitable expenditure of time."
Chickering ( 52 ) procurou contestar o trabalho de Kirt-
land mas não conseguiu destruir a principal objeção, acima
transcrita, que julgamos persistir até hoje.
A Assocíatíon for Promotion of Study of Latin, de
New Jersey, nos Estados Unidos, publica uma revista bi-
mensal Auxilium Latinwm, redigida em latim, sôbre os
mais variados assuntos da atualidade. O número de abril-

(50) SATTLER, Hanna - Versuche mit der "Sprechmethode"


im Lateinischen Anfangsunterricht. AU III/5 pág. 91.
(51) KUTLAND, John e. - The Direct Method of Teaching
the Classics: The Availability of the Method for American Schools
- CJ, VIII, 357.
(52) CHICER!NG, E. e. The Direct Method in Latin Tea-
ching: a Reply - CJ, IX, 67.
-- 163

maio de 1957, assim registra uma pequena biografia do


ator cinematográfico Gary Cooper ( 53 )

"De Gari o Cooper


Franciscus J. Cooper, sed ex quo actor cinematicus
evasit sub nomine Gari Cooper omnibus sessoribus
notus, in praedio in Montana natus est die 7 lVIai
anno 1901.
Garius est filius secnndns Inclicis Caroli H. Cooper
e Tribunali Supremo l\fontanae. Maiores eius erant
Angli. Edncatus fnit cum suo fratre Dunstabuli in
Anglia et Grinellae in Statu Iowa Unitorum Sta-
tuum.
Post varia officia tentata Garius Cooper ad nrbem,
Iliscisylvam pervenit ut in cinematibns agere co-
naretur. Antea, ut artifex negotialis fieret, ad
urbem Angelos advenerat, verum acquisiverat offi-
cium vendendi spatia nnntiatoria, cuius offici post
tres menses eum pertarsum erat.
Decursmn cinematicum incepit equitando in pelli-
culis occiduis cum Thomasio Mix et Hoot Gibson.
Inter haec cinemata erant Legio Condemnatornm,
Alae et Temptts Syringaritm: Brevi tempore valde
popularis factus est. Post adventum phonematum,
Cooper agere pergit et quidem cum crescenti suc-
cessu. Nuper egit in phonemate, intitulato Illa
Persasio Amica.
Cooper solet declarare suas partes praedilrctas e,;se
Damini Deeds, Joannis Doe, Servientis York et Lon
Gehring.
Amat ambulare, equitare et natare.

Ainda, na mesma revista, ( 54 ) encontramos abundante


vocabulário sôbre têrmos usados em jôgo do futebol, como
poderemos observar:

(53) Auxilium Latinum - XIX, 7-8, pág. 11.


(54) Auxilium Latinum - XXX ,1-2, pág. 17.
-164-

Vocábulo P edifollia
um futebol - Pedifollis, is - m
um jôgo de futebol - Ludus pedi[ollis
técnico - Gymnasiarchu.s, ,: - m
árbitro - arbiter, tri - m
capitão de time - Praefectus, i - m.
bandeirinhas Officiales, ium - m.
torcedores - Incentores, um - m.
jogador - Liidor, oris - m.
extremo - Extrernus, i - m.
zagueiro Obstructor, oris - m.
guardião - P1·otector, oris - m.
centro - Medius, i
capitão - Dux, diteis - m.
artilheiro - Praecipitator, oris rn.
atacante - Aggressor, oris - m.
direito - Dexter, tro, trimi
esquerdo - Sinister, tra, trum
armador - Cursor, at·is - m.
ataque - Attactus, us - m.
time - caterva, ae - f.
astro (ás) - Eximius, i - m.
Jarda - Ulna, ae - f.
passe - Iacfas, u.s - m.
resultado - Ratio, onis
linha - Acies, ei - f.
meta - Meta, ,ae - f.
chute - Ca.ZCitratus, ns - m.
descanso - ilfora, ae - f.
alinhamento Orclo collocationis.

Edita-se, na Inglaterra, o jornal "Acta Diurna", órgão


da "Societas Orbiliana", todo êle escrito em latim, com
amplo noticiário baseado em assuntos da antiguidade gr<>eo-
latina. A forma pela qual o periódico é apresentado, eom
historietas, palavras cruzadas, enigmas, números, ilustra-
ções etc. constitui valioso estímulo ao cultivo da língua
latina.
Seria de grande efeito psicológico, se o professor de
latim pudesse exibir aos seus alunos pelo menos um exem-
plar dêsse jornal. Qualquer professor interessado em
-165 -

adquiri-lo poderá obter maiores informações comunicando-


se com a "Sociedade Brasileira de Romanistas".
É oportuna, aqui, uma referência ao dicionário de Bacci,
que teve a preocupação de apresentar minuciosa relação de
têrmos usados na linguagem contemporânea e as respectivas
formas correspondentes em latim.
Transcrevemos o noticiário acima para assinalarmos que,
num país onde predomina a técnica, ainda se publica revista
redigida em língua latina e sôbre assuntos da ordem do dia.
A publicação de uma revista como Auxilium Latinum
deve ser o resultado de atividades extracurriculares, e,
assim considerada, é de grande utilidade para incrementar
o gôsto pelo estudo da língua latina.
Não somos partidários, nem recomendamos a aplicação
do método direto nos cursos de latim. Num pequeno tra-
balho sôbre as tendências atuais no ensino do latim, o pro-
fessor Leprince ( 55 ) pede que os colegas reflitam um pouco
se será preciso adaptar o latim ao método direto, recorrendo
a um vocabulário concreto e até certo ponto moderno, que
o aluno não mais encontrará nos textos latinos clássicos.
É preciso que o professor aproveite o já tão limitado
tempo destinado às aulas de latim, para colocar o aluno
em contacto com os maiores representantes da prosa e da
poesia latina e dêles tire todos os ensinamentos que as suas
obras nos proporcionam, através de comentários adequados.
Isto não significa que o professor fique impedido de formu-
lar, em latim, pergunta sôbre o texto lido. Por exemplo,
uma vez lida a primeira Bucólica de Virgílio, não vemos o
menor inconveniente se o professor formular perguntas como
estas: Quis loquitur? Qualis est f agus? Qualem Musam
meditatur? Quo instrumento? Quid facit Menalcas? Quid
f acit Tityrus? Qualis residet? Qitid resonat Tit,yrus? etc ...
Perguntas dessa natureza são permitidas, porque não
desviam a atenção do aluno para campo de atividade que
não seja o dos clássicos, mas o obrigam a demonstrar haver
compreendido o sentido e fixado o vocabulário.

(55) LEPRINCE, G. - Quelques tendences actuelles dans l'en-


seignement du latin - REL, IV', pág. 119.
-166 -

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VI

A IMPORTANOIA DO VOOABULARIO

O vocabulário e o uso do dicionário - É impossível


a aprendizagem de qualquer língua sem o conhecimento do
seu vocabulário. Há quem suponha que a possibilidade de
consultar o dicionário para informar-se das palavras desco-
nhecidas, significa conhecer o vocabulário. Os que assim
pensam incidem num grave êrro, que reputamos, em grande
parte, responsável pelo insucesso no estudo de latim. Ima-
ginemos que alguém, para poder manter uma conversação
em francês, inglês ou alemão, fôsse obrigado a abrir um
dicionário para compreender o que diziam os interlocutores
ou mesmo para poder exprimir-se na língua estrangeira.
Caminharão para esta situação, quanto ao latim, aquêles que
não derem ao estudo do vocabulário, a atenção necessária
a fim de formar um cabedal que lhes permita, recorrendo à
composição da palavra desconhecida, descobrir o significado
desta última, sem recorrer ao dicionário.
Renomados pedagogos americanos, em várias épocas,
muito se têm preocupado com a formação do vocabulário
latino e com os processos aconselháveis para a sua aquisição.

Observação de Lodge - No primeiro número de


Classical W eekl1f, o professor Gonzalez Lodge (1) mostra
que, para alguém ficar em condição de ler latim, à primeira
vista, i;ão necessárias quatro coisas: - primeiro, conheci-
mento das formas; segundo, conhecimento dos princípios
fundamentais da sintaxe; terceiro, possuir um bom vocabu-
lário; e quarto, bastante prática na arte da tradução.
Como se vê, a falta de vocabulário não permitirá que se
penetre no próprio gênio da língua, para compreender o

(1) LooGE, Gonzalez - The vocabuZary of High School Latin.


CW, I, 66-74.

13
-170-

sentido dos textos lidos. Daí não devemos concluir que a


aquisição do vocabulário seja aconselhável através da leitura
dum dicionário. Semelhante processo provocaria justa re-
volta do aluno contra o latim e nenhum resultado positivo
seria obtido. A monotonia causada pelo contacto com certo
número de palavras deve ser afastada e, para isto, muito
influirá a habilidade do professor na orientação do estudo.
Por isto Potter considerava a formação do vocabulário como
a fase mais árdua no estudo da linguagem. ( 2 ).
Em primeiro lugar, antes mesmo de qualquer observação
intrínseca sôbre o assunto, queremos deixar bem claro que
nos opomos, terminantemente, a qualquer estudo do vocabu-
lário que não seja em função de textos.

Recomendações de Harriman - Se considerarmos as


de Harriman (3) que julgamos sensatas e dotadas de ca-
ráter pedagógico, podemos aconselhar as seguintes normas:
a) No primeiro ano de estudo, o vocabulário deve
conter cêrca de 550 palavras;
b) o vocabulário deverá ser constituído de palavras
tiradas de autôres clássicos como César, Cícero e Virgílio;
c) na seleção das palavras, devem ser preferidas as
que apresentarem certa relação com a língua vernácula.
l!lste processo de seleção do vocabulário produzirá ótimos
resultados quando o aluno tiver de traduzir textos dos clás-
sicos latinos como César e Cícero. Por isto, na elaboração
dos trechos para uso dos principiantes, o professor deverá
utilizar-se do vocabulário, tendo em vista a preparação do
terreno para habilitar os discípulos a não estranhar quando
estiverem em contacto direto com as obras dos clássicos.
Se não tiver havido êste cuidado, é possível que o aluno possa
encontrar muita dificuldade em compreender um capítulo
da campanha da Gália ou de uma oração de Cícero.

A densidade vocabular - É preciso habilitar o aluno


a formar a densidade vocabular não inferior a 1 :20. Isto
quer dizer que, diante dum texto novo, dentre cada vinte

(2) POTTER, Franklin H. - The Teaching of Vocabulary.


CJ, XXXVI, 143.
(3) HARRIMANN, Raymond - The Acquisition of vocabulary in
Latin - CJ, XXIII, 359.
-171-

palavras poderá somente desconhecer o significado de uma.


Se num texto de duzentas palavras houver quarenta desco-
nhecidas, é sinal de que a densidade vocabular não poderá
ser considerada satisfatória. Nesse texto de duzentas pala-
vras, consideremos normal que apenas dez sejam desconhe-
cidas.
Acontece que, muitas vêzes, palavras de significado des-
conhecido à primeira vista, passarão a ser familiares, se
melhor fixarmos a nossa atenção para os elementos que as
compõem.
A densidade vocabular de 1 :20 é também a que o pro-
fessor Carr ( 4 ) admite para os estudantes do High School.
Embora haja quem admita o estudo do vocabulário
independente do texto, nós nos insurgimos contra êsse pro-
cesso, que torna bastante árido o ensino da língua latina.
Só admitimos referência a palavra não contida expressa-
mente no texto quando fizermos a enumeração de outras,
formadas da mesma raiz.
O vocabulário não nos oferece apenas a possibilidade
de conhecer o significado da palavra raiz e agrupar, por
família, as que dela se derivam. Através do estudo do voca-
bulário, também poderemos observar as influências sociais
que sôbre êle atuaram.
É através do vocabulário que podemos ver a unidade
itálica e a autonomia dos dois desenvolvimentos posteriores
à unidade itálica: - o latim e o osco-umbro.
As transformações por que passou o vocabulário latino
comparadas com as da pronúncia e da gramática, foram em
muito menor número. A pronúncia não permaneceu a
mesma durante tôdas as fases da língua e o restabeleci-
mento da que predominou, no período clássico, é questão
ainda discutida; a morfologia histórica também nos aponta
o grau de intensidade da evolução das formas nominais e
verbais.
As principais modificações do vocabulário, como acen-
tua Meillet ( 5 ), são determinadas, por um lado, pelas proi-
bições e, por outro, pelas influências de civilização que pro-
porcionam empréstimos. Ora, prossegue Meillet, de um

(4) CARR, W. L. - Vocabulary Density in High School Latin,


CJ, XXIX, 323.
(5) MEILLET, A. - Esquisse d'une histoire de la Zangue latfne,
pg. 273. 5e. éd. Lib. Hachette. 1948.
-172 -

lado, a civilização greco-romana quase não comportava proi-


bição de empregar certas palavras e, por outro lado, o latim
quase não sofria a influência de palavras novas.

A utilização de vocabulário: Como se vê, é riquíssimo


o manancial de informações que nos oferece o vocabulário
latino, mas o seu estudo, sob êsse aspecto, deverá ser orien-
tado pelo professor.
Um caderno especial dedicado exclusivamente ao regis-
tro dos novos vocábulos encontrados nos textos, é providên-
cia indispensável que deve ser imposta pelo professor.
Várias são as modalidades de serem agrupadas as pala-
vras na organização do vocabulário escolar, conforme se
pretenda imprimir maior importância à etimologia, às idéias
que exprimem, às palavras e à lingüística.
O método etimológico consiste em agrupar os elementos
léxicos em tôrno dum pequeno número de palavras primi-
tivas. Por exemplo em tôrno de cor, cordis devem ser
agrupadas as palavras corda.tus, recordar, vecors, vecordia,
socors, socordia, concors, discors, misericors, misericordia,
mwndicors, praecordia, V erticordia.
O método que imprime importância especial às idéias
consiste em reunir, no mesmo grupo, palavras que exprimem
sentido referente à mesma atividade social. Por exemplo,
num mesmo grupo podem ser classificadas as palavras que
indicam atividades referentes ao homem e suas relações, e
noutro grupo, as palavras que indicam atividades referentes
à natureza. O primeiro grupo pode subdividir-se em "ho-
mem, vida e morte" ex. homo, vir, mulier, dominus, morior
etc ... , "família e relações tribais "mater, frater, amicus,
servus, gens, etc ... ", "o estado, sua forma, seu govêrno,
suas leis, guerra e paz, o exército "civitas, rex, senatus, mos,
lex, bellum, gero, victoria, legio, copiae" etc. etc. . . . O
segundo grupo subdivide-se em "universo físico, "ex. res,
luna, terra", em "os elementos" ex. ignis, aqua, lux etc ....
O método estatístico é o preferido pelos lingüístitas,
o qual consiste em levar em consideração a freqüência com
que a palavra é usada nos respectivos autôres.
O professor Mathy ( 6 ), secretário da Commission du
V ocabulaire Latin, organizada em Lyon pelas Academias de

(6) MATHY,M. - Le vocabulaire àe base àans la péàagogic


àu Latín. REL, XXVIlI, 295.
-173 -

Lyon e Grenoble, diz que, no caso do latim, a questão é


muito simples, porque se trata duma língua considerada
imóvel e porque o número de obras, objeto de estudo no
curso secundário, é bastante limitado. Será suficiente orga-
nizar uma lista-tipo, com uma ordem de freqüência.
Queremos acentuar, a fim de evitar qualquer interpre-
tação malévola, que as listas de vocábulos organizadas por
nós e que se encontram no segundo volume desta obra,
são instrumentos de trabalho do professor, que com êles
saberá lidar, na elaboração de exercícios, no contrôle do
aproveitamento de seus discípulos. Portanto, não deverão
ser concebidos como tarefa imposta aos alunos, que os deco-
rariam. Insistimos em reafirmar que o vocabulário somente
deverá ser apresentado ao aluno através dos textos. É
claro que uma vez conhecido o vocábulo, deverá o discípulo
esforçar-se em conservar o seu significado. É indispensável
a organização de um caderno especial, onde serão anotados
os vocábulos novos. O professor ministrará as devidas ins-
truções para que o próprio aluno os agrupe por famílias
de palavras.

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VII

POSIÇÃO DO LATIM NAS LíNGUAS INDO-EUROPÉIAS

Histórico e definição de língua indo-européia - Cer-


tos estudos realizados por glotólogos, como Bopp, Schlegel,
Rask e muitos outros, permitiram verificar que línguas dife-
rentes em sua estrutura e aparentemente oriundas de tron-
cos diversos, apresentavam alguns traços característicos
comuns.
William Jones, juíz inglês na índia, profundo estu-
dioso e conhecedor da literatura sânscrita, numa conferên-
cia proferida em Calcutá, em 1786, assinalou traços comuns
entre o sânscrito, o grego e o latim, os quais dificilmente
poderiam ser explicados, se não admitíssemos terem sido
essas línguas provenientes do mesmo tronco. Êle acrescen-
tava que, por analogia, seria levado a imaginar que o céltico
e o gótico também tivessem a mesma origem.
Alguns anos mais tarde, em 1808, apareceu o célebre
trabalho de Schlegel: über die Sprache iind Weisheit der
Inder. Nesta obra, foi apontado o parentesco do sânscrito
com o gótico e o persa. Todavia, incidiu Schlegel num
êrro ao admitir que a língua mãe - Ursprache - dessas
línguas fôsse a indiana.
O dinamarquês R. K. Rask, em 1814, fazendo abstração
rlo sânscrito, mostrou o parentesco entre o germânico,
lituano, eslavo, grego e latim no livro Undersogelse om det
gamle N ordiske eller lslandske Spmrgs Oprindelse.
Dois anos depois, apareceu o importantíssimo livro de
Bopp - über das Conjugationssystem der Sanskritsprache
in V ergleichung mit der griechischen, lateinischen, persi-
schen und germanischen Sprache - no qual o autor demons-
tra de maneira clara e definitiva a afinidade entre as cinco
mais importantes línguas indo-européias: - sânscrito, grego,
latim, persa e germamco. Em trabalhos posteriores, Bopp
também inclui o lituano, o céltico e o eslavo dentre essas
-176 -

línguas que apresentavam traços comuns com o sânscrito.


Se compararmos o presente do indicativo ativo sânscrito do
verbo bharami com as formas correspondentes em gótico,
eslavo, grego e latim poderemos verificar claramente a afi-
nidade existente entre elas:

Sânscrito j gótico
1 eslavo 1 grego 1 latim
1ª pess. Sing. bharãmi baíra 'bera tpÉpW fero
2• " ,, bharasi baíris beresi tpEpELS fers
3ª " " bharati bairip bereti:í tpápEL fert
1• " PI. bharãmas baíram beremu cptpoµEs ferimus
2ª " " bharatha baírip berete tpépETE fertis
3ª " " bharanti baírand beratu tpEpOV'TL ferunt
,,
1ª Dual bharavas baíros berese -
2ª " " bharatas baírats bereta tpépETOV
3• ,, berete
" bharatas berats tpépETOV

O armemo foi definitivamente incluído entre as línguas


indo-européias por H. Hübschmann; o tocário, somente nos
primeiros anos dêste século, por Leumann e o hitita por
H. Winckler e Hrozny.
A ligeira apreciação histórica, que acabamos de fazer,
mostra-nos serem o sânscrito, eslavo, grego, latim, céltico,
germano, armênio, albanês, tocário, hitita derivados duma
mesma língua. Essa língua - Ursprache - da qual certo
número de outras surgiram, é denominada língua indo-
européia.
Podemos chamar de indo-européia a língua que teria
existido numa época longínqua, difícil de ser determinada
com precisão, e da qual se derivaram várias outras línguas
que conservaram alguns traços comuns.
O indo-europeu é também denominado de indo-germâ-
nico, ariano e ariano-europeu. Os lingüistas alemães prefe-
rem a expressão indo-germânico.
O têrmo indo-europeu parece ter sido inventado pelo
físico Thomas Y oung.
Meillet assim define a língua indo-européia : - "On
appellera donc Zangue indo-européenne toute Zangue qui, à
un moment quelconque, en un Zieu quelconque, à un degré
- 177

d'altération quelconque, est iine forme prise par cet idiome,.


et qui continue ainsi, par une tradition 1'.ninterrompue,
l'usage de l'indo-européen." (1)
Para que uma língua seja considerada indo-européia,
acrescenta Meillet, é necessário e suficiente, em primeiro
lugar que apresente certo número de particularidades pecu-
liares ao indo-europeu e que seriam inexplicáveis se esta
língua não fôsse uma forma do indo-europeu.
A função do lingüista é pesquisar as formas gramaticais
P verificar se há entre elas um sistema comum, que também
deve ter figurado nessa língua primitiva. É plenamente
admissível e constitui até fato observado em nossos dias, a
inclusão no vocabulário de palavras isoladas de outra língua,
mas não acontece o mesmo com as formas gramaticais.
Estas não seriam aceitas senão em conjunto.
O fato de encontrarmos, numa língua, certo número de
palavras indo-européias, não é o bastante para concluirmos
tratar-se de língua indo-européia. No finlandês encontra-
mos muitas palavras indo-européias, mas não podemos con-
cluir por isto que se trate de indo-europeu, porque essas
palavras são tiradas do báltico, germano e do eslavo.
A melhor prova de ser uma língua do ramo indo-euro-
peu, segundo a autoridade de Meillet, reside nos fatos parti-
culares, que afastam qualquer concordância verificada por
mera obra do acaso.

Território dos indo-europeus - A conclusão a que se


chegou da existência duma língua, denominada de indo-
européia, leva-nos a admitir ter sido ela falada por um povo
que teria vivido numa época longínqua e num determinado
território. Essa região habitada por êsse suposto povo seria
a pátria primitiva - Urheimat - da qual teriam sido di-
fundidas no mundo as línguas indo-européias.
O problema da determinação do território dos indo-
europeus é questão ainda não resolvida com os dados cientí-
ficos de que dispomos. Hans Seger ( 2 ), num trabalho
sôbre a pré-história do indo-europeu confessa claramente
que permanece a mesma dúvida como há cinqüenta anos:

(1) MEILLET, A. - Introduction à l'étude comparative des


zangues indo-européenes, pg. 35. Se éd. Lib. Hachette.
(2) SEGER, Hans - "Vorgeschichsforschung und Indogerma-
nenproblem" in Festschrift für Hermann Hirt. - Erster Band. p. 4.
-178 -

- "Darauf beruht es, dass die Frage der Urheimat heute


noch ebenso heiss umstritten ist wie vor fünfzig Jahren."
Êsse trabalho de Seger é de 1936 e nenhuma contribuição
nova surgiu, a partir dessa época, que pudesse elucidar êsse
caso enigmático.
As principais teorias sôbre o território primitivo dos
indo-europeus são as de Schrader, Hirt, Feist, Giles, Devoto.
O território dos indo-europeus, segundo a teoria de
Schrader, estendia-se pela Europa Oriental, mas sua exten-
são pela Europa Central como pelas regiões do mar Cáspio
e do lago de Aral não foi determinada.
Hirt julgava que o território dos indo-europeus devia
ter sido localizado nas baixadas da Europa setentrional, do
\Veser ou do Reno em direção do oriente, até os montes
Urais. O norte da Alemanha seria, pois, a sede primitiva.
Feist admitia a origem asiática dos indo-europeus e,
por isto, julgava que o seu movimento tivesse partido da
Asia.
Giles preferia localizar os indo-europeus na região do
Danúbio, isto é, no território ocupado pela monarquia austro-
húngara. Devoto prefere dizer que os limites negativos
aceitos por todos se resumem no seguinte: - os indo-euro-
peus não residiam no ocidente do Reno, nem no sul dos
Alpes, do Danúbio, do Mar Negro ou do Cáucaso. O limite
setentrional é fornecido pelo limite da habitalidade das
regiões da Europa setentrional. O limite oriental extremo
é a Ásia.

Reconstituição do indo-europeu - Uma vez estabele-


cido o traço característico da língua indo-européia, é preciso
determinar as respectivas formas, numa época em que tôdas
elas eram idênticas. A reconstituição dessa língua -
Ursprache - foi tentada por Schleicher. Assim, as formas
verbais sânscritas bharãmi, bharasi, bharati seriam deriva-
das de paradigmas indo-europeus bhero, bheresi, bhereti.
Se não conhecermos a forma antiga, seremos obrigados
a determinar as correspondências entre as formas das dife-
rentes línguas.
Observa Meillet (3) que a gramática comparada das
línguas indo-européias está na situação em que estaria a

(3) MEil,LET, A. - Introduction à l'étude comparative des


Zangues indo-europénnes, p. 41.
-179 -

gramática comparada das línguas românicas se o latim não


fôsse conhecido : - a única realidade com que ela tem rela-
ção são as correspondências entre as línguas atestadas. As
correspondências, prossegue Meillet, supõem uma realidade
comum, mas desta realidade não se pode fazer uma idéia
senão por hipóteses, e estas hipóteses são inverificáveis: -
a correspondência é objeto da ciência. Não se reconstitui
pela comparação uma língua desaparecida; a comparação
das línguas românicas, segundo Meillet, não daria o latim
falado no século IV, nem uma idéia exata, nem uma idéia
('ompleta; não há razão para se acreditar que a comparação
das línguas indo-européias produza melhores resultados. E,
finalmente, declara Meillet que não se reconstitui o indo-
europeu.
O próprio Meillet reconhece, que a maior dificuldade
para o estudo das línguas indo-européias, consiste no fato
de não se dispor de qualquer outro meio de comparação.
Não obstante a autorizada opinião de Meillet, conside-
ramos de suma utilidade as tentativas de reconstituição
através do estudo das correspondências. Assim também
pensava Delbrück, porque as formas reconstituídas são
fórmulas cômodas e intuitivas para explicar o estado a que
se chegou através duma longa evolução.
O fato de Meillet haver declarado, que não se reconstitui
pela comparação uma língua desaparecida, não quer dizer
que êle negue o valor das correspondências lingüísticas.
Uma coisa é a reconstituição de formas através do estudo
das correspendências e outra é a reconstituição do indo-
europeu tal como teria sido falado. A primeira é plena-
mente admissível e constitui o método da gramática compa-
rada para a reconstituição do indo-europeu, mas a segunda,
a obtenção dum indo-europeu falado, é um estado a que a
ciência ainda não chegou e a que dificilmente chegará.
É preciso não confundirmos a posição do indo-europeu
com a língua primitiva, como se acreditou durante algum
tempo. O indo-europeu está para o sânscrito, o céltico, o
germânico, o grego etc. . . assim como o latim está para as
línguas românicas. Por isto, não podemos negar a existên-
cia de outras unidades lingüísticas relacionadas com o indo-
europeu. Além disso, é possível que antes de haver o indo-
- 180

europeu alcançado a unidade lingüística, outras línguas


indo-européias tenham surgido e tomado desenvolvimento
próprio.

Principais línguas indo-européias - A família linguís-


tica indo-européia apresenta-se dividida em vários ramos,
muitos dos quais se subdividiram. Os principais ramos são
os seguintes: - indo-iraniano, o grego, o albanês, o ítalo-
céltico, o armênio, o tocário, o hitita, o germânico e o balto-
eslavo.
O germânico e o balto-eslavo ocnstituem o grupo cha-
mado de europeu-setentrional, ao passo que os outros formam
o grupo asiático-europeu-meridional. A divisão dêsses dois
grupos foi feita por Schleicher, que apontou as sucessivas
cisões e filiações por que passou o indo-europeu em sua longa
evolução. É e a chamada Stammbaumtheorie, isto é, a teoria
da árvore genealógica. Na teoria da Schleicher não foram
incluídos o tocário e o hitita, porque não eram conhecidos
naquela época. Essa teoria teve o apoio de Fick, mas não
foi seguida por Schmidt, discípulo de Schleicher, que estabe-
leceu a Wellentheorie, isto é, a teoria das ondas. Segundo
Schmidt tôdas as línguas indo-européias têm algum traço
característico e se ligam entre si como anéis duma cadeia
fechada. Os desmembramentos das novas línguas se teriam
processado como ondas em tôrno dum centro.
Todavia, devemos ponderar que duas línguas indo-
européias muitas vêzes apresentam grande diferença entre
si, e podem representar o desenvolvimento de duas moda-
lidades locais da língua - mãe.
Há, nas línguas indo-européias, dois grupos distintos
quanto ao tratamento de alguns sons guturais. Num grupo,
êsses sons guturais têm o valor de k, g, e kh e gh, ao passo
que noutro transformam-se em sibilante ç, z. No grego,
italo-céltico, germânico k, g, têm o som de q", gU, ao passo
que no indo-iraniano, balto-eslavo, são tratados como sibi-
lantes s, z. Tomemos, como exemplo, o numeral centum i
- no grego tK.arov, lat. centum, irlandês cet, germânico,
hund ao passo que no hinddú satam, no avest. satem no
lituano simtas. Daí o motivo de alguns lingüistas qualifi-
carem de língua centum as oriundas da zona ocidental, e
satem, as demais.
-181-

Indo-iraniano - O indo-iraniano compreende dois


grupos : - o da índia e o do Irã.
O primeiro, isto é, o indo-iraniano da índia é represen-
tado por duas línguas literárias: - o veda e o sânscrito.
Distinguimos, aqui, as inscrições Açoka, do século III a. C.
e os hinos de caráter religioso, reunidos em livro sob o
nome de Rigveda. O Mahabhãrata e o Ramayana são duas
grandes epopéias hindus escritas em sânscrito e constituem
preciosas fontes para o estudo da língua.
O grupo indo-iraniano do Irã compreende duas línguas
distintas, embora sejam muito semelhantes: - o velho persa
e o avesta. O velho persa é a língua da dinastia de Dario,
rei de 522 a 486 a O.. O Avesta, algumas vêzes chamado
indevidamente de zend, é a língua dos livros sagrados da
religião de Zoroastro. O texto compreende duas partes: -
os gatha que são estudos escritos em linguagem semelhante
à dos Vedas, com arcaísmos, e a parte restante na qual se
observa grande correção da linguagem.

Grego - A tradição literária dos gregos surgiu


quando as diversas cidades da Grécia já tinham o seu dia-
leto próprio.
Distinguimos quatro grupos dialetais na antiga Grécia:
- o iônio, ático, o eólico, o arcado-cipriota e o grego
ocidental.
O iônio-ático é o grupo que melhor conhecemos, graças
aos numerosos textos literários e às inscrições que chegaram
até os nossos dias. Por outro lado, pouco sabemos das
línguas faladas locais, porque, como esclarece Meillet, ( 4 )
línguas comuns generalizadas desde uma época antiga,
foram as únicas admitidas no uso oficial e literário e os
dialetos, na medida em que guardaram traços próprios eram
simples "patois" e não foram escritos.
Encontramos o iônio na ilha da Eubéia, numa parte das
Cíclades (Paros, Thasos, Naxos, Ceos), na Dodecápode da
Asia Menor, onde Homero distingue quatro dialetos: o de
Mileto, de Éfeso, de Samos e de Quios. Herôdoto, Arquíloco
de Paros e Calinos de Éfeso e Hipócrates escreveram no dia-
leto iônico.

(4) MEILLET, A. - Aperçu d'une histoire de la Langue


Grecque, p. 79.
-182 -

O ático é célebre pela rica literatura que foi nêle ex-


pressa. Platão utilizou-se dêsse dialeto para escrever as
suas obras.
Os dialetos eólicos compreendem três grupos: - eólico
da Asia, tessálico e o beócio.
O dialeto da ilha de Lesbos é o mais importante, porque
nos apresenta as poesias de Alceu e de Safo.
O dialeto de Tessália nos é transmitido de maneira in-
completa; o da Beócia foi usado por Píndaro e pela poetisa
Corina.
O grupo arcado-cipriota compreende três dialetos: - o
arcádio, o cipriota e o panfiliano. Observamos, nas inscri-
ções de Chipre, uma escritura silábica diferente do alfabeto
grego.
Ao grupo ocidental pertencem os dialetos dóricos, que
constituem um grupo de invasores espalhados pela Grécia.
As célebres tábuas de Heracléia e a lei Górtina (de Creta)
foram escritas em dialeto dórico. Pertencem a êsse grupo
a Lacônia, Tarento, Heracléia, Messênia, Argos, Corinto,
Mégano, Creta, as ilhas dóricas.

italo-Céltico - A unidade ítalo-céltica foi contestada,


mas preferimos seguir a orientação de Meillet que, embora
reconheça a diversidade existente entre os dois dialetos,
assinala as suas particularidades comuns. Assim, como tra-
ços comuns ao ítalo-céltico, podemos destacar o genitivo em
-i dos temas em -o, as formas do passivo e do depoente,
subjuntivos em a e em e, a mudança do p inicial em qu
- quando havia um qu no comêço da frase seguinte.
Vendryes ( 5 ) diz claramente ser necessário interealar
um período de unidade ítalo-céltico entre a existência sepa-
rada dos dialetos, o itálico e o céltico, e o indo-europeu.
Os dialetos itálicos compreendem o latim, o osco e o
umbro. Portanto, se partirmos do indo-europeu para che-
garmos ao latim passaremos por duas fases: - na primeira,
encontramos o grupo ítalo-céltico constituindo uma unidade,
e no segundo, o itálico do qual se originou o latim.

(5) VENDRYEs, J. - La place du Latin parmi les langues


indo-européennes, REL, II, 92.
-183 -

indo - euro eu
o
o
·rl

M
,a,
o

o
,-t
fll

'ri

O latim é a língua de Roma e de seus arredores. Só


foi conhecido a partir da segunda metade do século III a.
C.. Muito pouco podemos reconstituir através das inscri-
ções anteriores a essa época, como é o caso das antigas ins-
crições de Preneste. O latim tornou-se uma língua de civi-
lização e como língua escrita, desempenhou, como observou
Brugmann, ( 6 ) papel semelhante ao do sânscrito clássico.
Comenta, ainda Brugmann, que o talento colonizador dos
romanos transformou a sua língua em língua do povo em
tôda a Itália e está em contacto com o grego, messápio,
samnita, umbro, etrusco e céltico.
"Das Oolonisierungstalent der Romer machte
ihre Sprache zur Volkssprache in ganz Italien, und
diese, mit griechischer, messapischer, samniti-scher,
(6) BRUGMANN, R . ...:.. Vergleichende Laut - , Stammbildungs
und Flexionsleh,·e der Isdogermanischen Sprache. Erster Band I,
p. 11.
-184-

umbrischer, etruskischer, keltischer Sprache sich


berührend und sie absorvierend, musste sich nach
den verschiedenen Gegenden mundartlich diff eren-
zieren."
Com as conquistas romanas, o latim substituiu os
dialetos bárbaros dos territórios conquistados. Era a
língua oficial do império romano. Dissolvido êste, não foi
possível conservar a unidade lingüística e, em diversos
pontos da Europa, passou o latim a ter vida independente
-e a seguir um processo de evolução de acôrdo com as peculia-
ridades regionais. Daí surgiram as línguas românicas: -
Português, Espanhol, Provençal, Francês, Italiano, Romeno,
Rético.
O osco chegou aos nossos dias através de inscrições
-encontradas na Lucânia, Campânia, Brutium, e na região do
norte até o Samnittm. (7)
Um dos traços característicos do osco é a conservação
dos ditongos ai, ei, oi, ou, que são nas outras línguas, com
exceção do grego, geralmente alterados. Assim, o ditongo
ei permaneceu em osco na forma preinatud, ao passo que
desapareceu nas correspondentes latinas privus e no umbro
prevo. O rotacismo parece ter sido desconhecido em osco,
porque nêle observamos o genitivo do plural em azuns em
lugar do arnm do latim e do -aru em umbro. O osco apre-
-;enta-se conservador, ao passo que o umbro é inovador.
O mais antigo documento escrito em osco é a inscrição
lucana toittiliemri poterem. É também muito importante a
tábua Bantina, escrita em bronze na segunda metade do
século II a. C..
O umbro é conhecido pelas Tábuas Eugubinas. Como
traço característico do umbro, dentre outros, podemos citar
a transformação do -i final em e, de modo que as vogais
finais ficaram reduzidas a três: - ,a, e, o.
As relações entre as três principais línguas itálicas, osco,
umbro e latim, comenta Vendryes ( 149 ) são estreitas, mas
cada uma delas está mais longe do itálico comum do que os
diversos dialetos gregos da língua hel€nica comum.
O sistema do verbo já se apresenta em jtálico através
da oposição entre o infectum, que indica um processo não
(7) Cf - MOMMSEN, Th. - Oskische Studien - Zeitschrift
für geschichtliche Rechtswissenschft - XIII, 67 e segs.
(8) VENDRYES, J. - op. cit. pág. 92.
185 -

acabado, e o per[ecturn, que indica uma ação concluída.


Todavia, o osco e o umbro não conheceram o passado em -11i
nem o futuro em bo, que são tempos característicos dos deno-
minativos latinos.
O céltico é representado por três grupos: - o gaulês,
o britônico e o gaélico.
O grupo gaulês é também chamado de continental J(on-
tinentalkeltisch - teria sido uma conseqüência das expe-
dições militares que abrangeram a Gália, o norte da Itália
e até a Ásia Menor, a partir do primeiro milênio a. C.. As
diferenças dialetais, como observou Brugmann ( 9 ) não são
raras: - Ditilektische Unterschiede sind nicht selten, z. B.
"ev, iv" und "ov" als Fortsetziing von uridg. eu.
O britônico estendeu-se pela Grã-Bretanha e compreen-
dia três formas : - o galês, o cómico e o bretão. O galês
é a língua do país de Gales; o cómico é conhecido através
dum glossário do século XIII e desapareceu no fim do
século XVIII ou no princípio do século XIX. O bretão
não é a língua das Aremoricae civitates do tempo de César,
mas a língua dos Bretões, que, talvez já no fim do século IV
fôra levada para a Gália por emigrantes saídos da Grã-
Bretanha.
O gaélico, cujas primeiras manifestações literárias apa-
recem no séc. VIII de nossa era, mas que certas inscrições
chamadas "orgânicas" remontam a sua existência ao séc. IV,
é ainda hoje falado em certas regiões da Irlanda e da
Escócia.

Albanês - O albanês é a língua dos antigos ilírios,


que somente foi conhecida a partir do século XV da era
cristã. Assinala Brugmann que grande parte do seu voca-
bulário é formado de palavras tiradas da língua dos roma-
nos, eslavos, turcos e gregos: - "Die Sprache ist dermassen
von Entlehnungen aus dern Rornanischen, Slavischen, Tür-
kischen und N e1igriechischen durchsetzt, dass sich von über
5000 Wortern niir etwa 400 als echt einheirnisch erweisen."

Armênio - O Armênio foi durante algum tempo con-


siderado como pertencendo ao grupo iraniano até que
Hübschmann demonstrou tratar-se dum ramo independente.

(9) BRUGMANN, op. cit. pg. 10.

13
- 186 -

É conhecido por textos literários, a partir do V século da


era cristã. Um dos traços característicos do armênio é a
síncope das vogais i, u em sílabas não finais.
Tocário - O Tocário foi conhecido através da desco-
berta de fragmentos de textos no Turquestão chinês. Muitos
dêsses documentos são tradução de assunto religioso budista.
É importante assinalarmos que êsses textos compreendem
duas línguas, que têm muita afinidade. Por isto, costuma-
-se chamar uma dessas línguas de tocário A e a outra, de
tocário B.
Hitita - É a língua do império hitita, que apareceu
por volta do ano 1900 a. C. e desapareceu pelo ano 1. 200
a. C.. Os textos são cuneiformes. Apesar de se tratar duma
língua desaparecida há tanto tempo, podemos verificar que
a morfologia como sua estrutura apresentam os caracteres
do indo-europeu.
Germânico - O ramo germânico abrange três grupos:
o gótico, o nórdico e o germânico ocidental.
O gótico é o dialeto mais antigo do ramo germânico,
sendo representado pelos resquícios da tradução da Bíblia
do arcebispo de vVúlfila, que se situa entre os anos 311 a
383 da era cristã. Brugmann (1º) acentua que essa língua
desapareceu com a nação gótica, mas Meillet ( 11 ) nos in-
forma, que havia, na Criméia, no século XVI, uma popu-
lação, que falava uma língua gótica, da qual o holandês
Bushck revelou algumas palavras.
O nórdico era o dialeto falado pelos germânicos loca-
lizados no norte da Escandinávia e até a época dos Vicos,
constituia em seu conjunto uma unidade linguística. Era
representada por meio de inscrições rúnicas. No século XI,
podemos distinguir quatro dialetos, que, durante muito
tempo, constituiam dois ramos, cada um dos quais abrangia
dois dialetos : - islandês e norueguês na região do noroeste ;
e sueco e dinamarquês na região do nordeste.
O germânieo ocidental divide-se em anglo-saxão, (An-
gelsiichsisch), frísio, ( Friesisch) baixo-alemão, ( N ieder-
deutsch), baixo-francês (Niederfriinkisch) e alto-alemão
( II ochdeutsch).
(10) BRUGMANN, op. cit. I, 15.
(11) MEILLET, A. - pág. 71. Introduction à l'étude Compa-
rative des Zangues indo-européennes.
187 -

O anglo-saxão deu origem ao inglês moderno e, por isto,


é chamado de inglês antigo.
O baixo-alemão compreende o baixo-antigo-alemão -
Altniederdeiitsch -, cuja existência vem. desde o ano 1200
até 1500 no qual foi composto o poema Heliand.
O baixo alemão é representado, atualmente, pelo neer-
landês ou flamengo.
O baixo-franco é também chamado de baixo-antigo-
franco e vai desde o século XIII até o século XIV.
O alto-alemão não indica sinais de unidade, porque os
textos representam dialetos diferentes. Compreende o bava-
rês, o alemânico, e o francônio.

Balto-ezlavo - O balto-eslavo compreende dois grupos


distintos: - o balto e o eslavo. A estrutura geral das
palavras permaneceu quase inalterada diante das modifi-
cações fonéticas.
O balto forma o Prússio, que desapareceu no século
XVII e do qual temos conhecimento através dum vocabulário
prússio-alemão de 800 palavras e por traduções de catecis-
mos feitos em 1545 e 1561.
Faz também parte do balto o leto-lituano, ainda hoje
falado e que compreende o lituano e o letão. O lituano, por
sua vez, divide-se em grande número de dialetos locais cuja
determinação mais clara é difícil na pesquisa insuficiente
dos dialetos do lituano-russo como acentua Brugmann. O
letão também tem variações dialetais, que são agrupadas em
alto-lético - hochlettisches Dialekt, que compreende os
dialetos do oeste e do sudoeste, e cúrio.
O eslavo compreende três grupos: - meridional, oci-
dental e o russo.
O grupo meridional abrange o búlgaro, o servo-croata
e o eslavo.

Sumário

I - Histórico e definição da língua indo-européia.


1 - Contribuição do juiz inglês William Jones
2 - Trabalhos de Schlegel e de Rask
3 - O importante livro de Bopp sôbre a gramática com-
parada.
-188 -

O grupo ocidental compreende o tcheco, o sorábio, polá-


bio, polonês.
O grupo russo abrange o pequcno,-russo ou ucraniano e
o grande-russo.
4 - Língua indo-européia é a língua que teria existido
numa época longínqua, difícil de ser determinada com
precisão, e da qual se derivam várias outras línguas
que conservam alguns traços comuns.
5 - O têrmo indo-europeu inventado pelo físico Thomas
Young.
II - Território dos indo-europeus:
Teorias de Schreder, Hirt, Feist, Giles e Devoto
III - Reconstituição do indo-europeu
IV - Principais línguas indo-européias:
1 - Indo-iraniano
2 - Grego
3 - !talo-céltico
4 - Albanês
5 - Armênio
6 - Tocário
7 - Hitita
8 - Germânico
9 - Balto-eslavo.

Bibliografia

ALTHEIM, Franz - Geschichte der lateinischen Sprache. V. Kloster-


mann. Frankfurt am Main.
BOPP, Franz - über das Conjugationssystem der Sanskritspra-
che in Vergleichung mit der' griechischen, lateinischen, per-
sischen und germanischen Sprache.
BRUGMANN, R. - Vergleichende Laiit, - Stammbildungs und Fle-
xionslehre der Indogermanischen Sprache. Erster Band.
Strassburg, 1897.
MEILLET, A. - lntroduction à l'étude comparative des langues
Indo-Européennes. Huitieme édition. Hachette.
idem - Aperçu d'une histoire de la Zangue Grecque. 6.ª éd. Paris.
Lib. Hachette.
MOMMSEN, Th - Oskische Studien. ln Zeitschrift für geschichtli-
che Rechtsuvissenschaft. XIII, 67.
RASK, R. K. - Undersogelse om det gamle Nordiske eller ls-
landske Sporgs Oprindelse. Copenhague, 1818.
SEGER, HANS - Vorgeschichtsforschung - und Indogermanen-
problem: Festschrift für Hermann Hirt. Erster Band.
SCHLEGEL, Friedrich von - über die Sprache und W eisheit der
Inder.
VENDRYES, J. - La place du Latin parmi les langues indo-europé-
ennes. REL, II págs. 92 e segs.
VIII

O ALFABETO LATINO

Histórico - O alfabeto latino é derivado dum antigo


alfabeto grego, transmitido aos romanos pelos etruscos.
Há várias teorias que procuram explicar a origem dêsse
alfabeto grego, que os etruscos transmitiram aos romanos.
A teoria geralmente aceita é a que vai buscar essa origem
no alfabeto fenício, de procedência semítica e cujas raízes
repousam na escrita hieroglífica egípcia como acentua
Ullman. ( 1 )
Os fenícios utilizavam caracteres silábicos e cada letra
tinha o valor de consoante. Nesses caracteres não havia
vogais. Todavia, os gregos tiveram a habilidade de empre-
gar letras fenícias para exprimir vogais gregas. Os signos
úlefe e he, levemente aspirados, eram usados para exprimir
as vogais a e e; o fricativo ayin foi empregado para expri-
mir a vogal o; o signo iode representava a vogal i; final-
mente o signo wait em sua origem consonantal, era usado
para exprimir a vogal it. Posteriormente houve a introdu-
r,ão do F ou [, chamado digama, que reflete alguma forma
variante da letra fenícia, e de que concorda com a forma
usual do wait no alfabeto fenício. O digama inverso F
passou a indicar o tt com valor consonantal.
Arthur Evans (2) não aceita esta explicação e procura
defender a tese de que o alfabeto fenício fora introduzido
na Ásia-Menor pelos Palesatos ou Filistinos, que tinham
vindo da ilha de Creta. Esta teoria de Evans foi seguida
por Newberry, ( 3 ) que também afirma ser o alfabeto grego
diretamente derivado de Minos e não dos fenícios. Os prin-

(1) ULLMAN, B. L. - Ancient Writings.


(3) NEWBERRY, J. S. - The prehistory of the Alphabet -
in Harvard Studies in Classical Philology, vol. XLV, pgs. 105 sgs.
-190 -

cipais argumentos consistem no fato de que a escrita fenícia


era lida da direita para a esquerda, não tinha vogais e,
além disso, êsse alfabeto era desconhecido dos gregos até o
VIII ou IX século a. C. Por outro lado, a scripta 1Jfinoa
era lida da esquerda para a direita, tinha vogais e foi intro-
duzida na Grécia, na época de Micenas. Todos os caracteres
do alfabeto Grego, comenta Newberry, já tinham sido empre-
gados nos scripta Jl,li.noa na época da fundação de Tebas.
Somos inclinados a aceitar as conclusões de Alan Gar-
diner, que estabelece uma base no hieróglifo egípcio e distin-
gue uma escrita intermediária entre êste e o alfabeto semí-
tico.
A descoberta do alfabeto etrusco de Marsiliana vem
fortalecer a tese, que apresenta os etruscos como transmis-
sores do alfabeto grego aos romanos.
O primitivo alfabeto grego bifurcou-se no alfabeto
iônico, que se desenvolveu em Mileto e no alfabeto grego do
oeste, que os etruscos transmitiram aos romanos. Êste
último alfabeto era usado nas colônias caldéias do sudoeste
ela Itália, Cumas etc ... e serviu de base ao abcedário etrusco
e a várias inscrições etruscas, que chegaram até nós. Os
alfabetos osco e umbro originaram-se de alfabeto etrusco
e de inscrições.
O alfabeto latino deve ter surgido do abcedário etru$Co
através do alfabeto grego e, primitivamente, compreendia
vinte e um caracteres que eram os seguintes:
ABCDEFGHIKLMNOPQRSTVX

O Y e o Z foram introduzidos posteriormente para a


transcrição das palavras gregas.
Somente na época de Cícero, o Z, talvez ao mesmo tempo
que o U (ypsilon), o qual nas mais antigas inscrições latinas
comumente é representado por V, raras vêzes por I da
escrita grega, foi introduzido na forma usada naquele
tempo, z. (4 )

(4) ScHMIDT, JOHN - Erst zu Ciceros Zeit ist es, etwa gleich-
zeitig mit dem v (ypsilon), das in alteren lateinischen Inschriften
gewohnlich durch V, selten durch I wiedergegeben wird, aus der
griechischen Schrift in der damals üblichen gestalt Z, für grie-
chische Lehnwõrter und Eigennamen in die lateinische Schrift wie-
der aufgenommen worden. - PW, I, 2 e, 1622.
- 191 -

O imperador Cláudio introduziu, no alfabeto latino, três


novos caracteres: - o :i digama inverso, para exprimir a
consoante V ou seja o U com valor consonantal; o ;r anti-
sigma para exprimir o som ps; e semi-aspirado, para repre-
sentar o som intermediário entre V e I, como na palavra
optumus.
O j e o v, com valores consonânticos de I e V latinos,
foram introduzidos na Renascença por Pierre La Ramée e
daí o fato de serem essas letras também denominadas de
ramistas.
Os romanos usavam de dois sistemas de escrita :
a escrita capital e a cursh-a. A escrita capital só con-
tinha caracteres maiúsculos e era usada nas inscrições
de caráter oficial, nos manuscritos de livros e nos documen-
tos particulares. La cursivc latine, comenta Cagnata ( 5 ),
n'est que de la capitale expediée, mais de la capitale
archaique à laquelle elle se rattache dircctement.

Estudo das Vogais.


A -- O a era caracterizado na escrita inicial da seguinte
forma ./t . A barra transversal recaia no meio elas duas
hastes, de modo que os dois lados do triângulo eram exata-
mente iguais. Essa barra transversal' nem sempre se apre-
senta uniforme.
Cagnat ( 6 ) apresenta as seguintes variações por que
passou essa letra na evolução da escrita latina: -
AA Na escrita dos atos públicos sôbre o bronze;
A nas inscrições feitas au crayon;
A talvez por êrro, num texto do tempo de Nero;
A nas inscrições do fim do II século, em Roma e na
África.
f>< na época de Diocleciano ;
A na época republicana, nas moedas e nas próprias pedras.
Aparece sob esta forma na escrita dos monumentos
do II século.

E - A forma primitiva fenícia era voltada para a


esquerda ~ . Encontramos, em antigas inscrições latinas o

(5) CAGNAT, René - Cours d'épigraphe latine, p. G,


(6) Idem, ibidem, pg. 11.
- 192 -

ALFABETOS ETRUSCOS

MAASILIANA FORMELLO CERVETERI CORRES.~.

~ A A A V a,

2 ~ B 8 =b
3 1 < e ,9
4 4 D D :d.
5 :l F E =C inver5c ern Fcrn--.d!o J as pi Pado
G 9 E F =f inv~~5o em f-0;.:,1·,-.cl\c e.

7 1 1 1 =1
8 l'I a □ ah.
9 0 $ @ -th.
10
11
l

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1

K
1
K
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12 J \, \, ,i
13 "'1 I"" .... -m.

14 '1 N M ,11,

1:S E\] EE w =S ( Fe nicio (sarneque)

iG o 0 0 =O
17 1 p p =fl,

ls M M '1 .$ san1.da in~cric;.ão Doric doce'cu,o 'iliª eV•


(t-~ad~ Finié:ia~)

19 Q Q .... =q,
2.o q p p = r>
e.1 s ~ ~ =5

22 T 1- T :t
23 '( '1 '( ="j

u. X X 'X Qcs
2'5 ~ (l) p .pY,.
2G y 'Y 'Y .eh,
QUADRO C0MPARA.TIVO DA EVOLUÇÃO DO ALFABETO
NqMES HEBR.i:'1cos DOS SEMITI\ FENÍCIO GREGO ETRUSCO UMERO osco FAl.lSCO LATINO VALOR CORREI:•
SIMBOLO'.I E SEUS HE.RIOIONAI {FORMAS OE PONDENTE
~AMOAe\T',.._)
R\IMITIVO
SIGNIFICADOll.
ÃLEFE.
.., ~ ( )4 A fl A N fi A !>.A A
Cl
BETE Q c--:i n ~ 9 ~'?a il i:; a 6 a B- B i>
GUMfL ? (F' 7 '\ 1 l<C ) :) <CC e
OALETE q= tj ~ A <l D q SI (l i;, D D
HE 'Ir 'r' ~ 9 3 F E. :1 ~ :i ~ li E li r.
VAU ? 'l' 0 y 1 "'IEF J".) J /\' r , ~

ZAINE. ? j:O & I l 'I' -11 i. f (j


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HEME ~ ", ""'? ~ MI\ M4 M M
NAHAS ~ '1 ~ '1 ---... '1 t' M l'1 l'1 NN N
SÂMEQUE <C,d tl =i: f 8 03
V\"'
AI~ = o o o o o o o o
PE <=> ◊ 1 '\ ., p ,, rt 11 r P p
SADE ? ,1, rt\ 1 /'- M M '1 M
CAF-E 1 ç ~ Q Q QQ Q
RESH & ) ~ <I <I q ? a a fl R.t' I<. K
SHIN e= \N >-l:' 2, <:. <G 7 :> 5
~ ~ ~
TAU -t X i"" + )(. T ,- r· ). T y..y T T
y y V V V VY u-v
)'. X )(. X
l.j)
1' '1
-194-

E representado sob a forma de dois traços verticais para-


lelos 11 . No entanto, o que caracteriza o E do alfabeto
latino da época clássica é a barra horizontal colocada exata-
mente no meio das duas outras.
A forma f;. , com as três barras horizontais um pouco
inclinadas para cima é encontrada em inscrições do fim do
I século.
Em monumentos cristãos da Gália e da Espanha encon-
tramos, a partir do V século, as formas~, y,

I - O I é representado sob a forma duma haste verti-


cal sem pé nem cabeça 1 • Era equivalente ao ditongo ei
sob a forma I , que ultrapassava a altura dos outros
caracteres, mas perdeu êsse caráter e foi assim usado para
representar a simples vogal i: - CRESRRJ

O - O o já figurava no alfabeto etrusco da descoberta


marsiliana sob a forma de O. Nas inscrições cristãs, nota-
mos a forma O e em alguns textos africanos da literatura
cristã a forma o
U - O u era representado no abcedário etrusco sob a
forma Y e já no alfabeto latino tinha duas hastes iguais
quase formando um triângulo isóceles V. Observa Cagnat
que as formas V. V, V são, apenas, caprichos dos gravadores.

Consoantes.
B - O b era representado sob várias formas nas inscri-
ções latinas: l3.J3,13,g.B . Muitas vêzes a parte superior é
tão reduzida que apresenta certa confusão com um D. No
abecedário etrusco, o b tem a face voltada para o lado
esquerdo 8 .

P - Se compararmos a forma do P nos alfabetos fení-


cios, no primitivo alfabeto grego e no abecedário etrusco,
observaremos que a perna menor era dirigida para a es-
querda. Além disso, notamos alguma semelhança e mtôdas
essas formas. Por isso podemos dizer, que paleogràfica-
mente o P não tem história.
- 195 -

M ~ No alfabeto fenício, o M tinha a forma duma linha


ondulada, que terminava por um traço mais longo e simbo-
lizava a onda da água-mem. A letra tinha, inicialmente,
cinco pernas e apresentava-se sob as seguintes formas vi/\
iau NiJ como podemos verificar na inscrição de Preneste.
Quanto à fonética é classificada como bilabial nasal.

F - O F parece ter sido uma invenção dos gregos que,


tendo adotado o wau fenício y para exprimir o som de v,
devia encontrar outro símbolo para representar a sonora
bilabial dos poemas homérieos. É esta a tese de Bartley,
segundo a qual o F teria sido derivado do E. A forma F
é muito semelhante à do E nas inscrições latinas, nas quais
o primeiro é representado sob a forma de 11 e o F, sob a
forma de li .
A teoria de ter sido F bilabial num período primitivo,
eomo observou Bennett, (7) está de acôrdo com a origem
de F, que, em muitos casos, provém dum bh. Tal hipótese
era confirmada pelas formas comflvont, comvollen da ins-
crição Minúcia ( 8 ).
Sõ posteriormente foi que F se tornou lábio-dental.
O F nunca figura no final da palavra, exceto nas
formas antigas de af em lugar de ab, como podemos obser-
var nas formas consagradas dos contratos literais.

D - O D no abecedário etrusco, tinha a parte recur-


vada dirigida para a esquerda O. O ~ ( delta grego) já
é uma pequena modificação do diálete fenício.
O 8 grego, através de evolução semelhante, deu ori-
gem à forma latina d.
No final de palavra é somente usado em ad, apud, haud,
sed e nos pronomes aliitd, id, illud, istud, quod. Encontra-
se, também, nas antigas formas adverbiais suprad, infrad.
As formas aput, at, haut, quit, existentes em inscrições,
revelam certa tendência do d em transformar-se em t.
Quanto à fonética o D é uma dental sonora.

T - O T é uma letra cuja forma quase não sofreu trans-


formação. O tau do alfabeto semítico + perdeu apenas o

(7) BENNETT, Char!.es E. - The Latin Lans,uage, p. 22.


(8) CIL, I, 199.
-196-

prolongamento da linha vertical, ao encontrar a horizontal


nos alfabetos grego e no abecedário etrusco.
O t latino tinha, no período clássico, o som de t, como
se verifica da transiteração de Valentia para a forma grega
OvaÀfvría. Todavia, na época imperial, encontramos ins-
crições onde lemos VOCONSIVS e SEPSIES em lugar do
vocantius e Septies.
Quanto à fonética, é uma consoante dental surda.

N - O N correspondia ao nun 1/\ do alfabeto fenício


que se transformou em vD no alfabeto grego e tinha a
forma V\ no abecedário etrusco.
Quanto à fonética; é uma consoante dental e nasal.
Antes de guturais, n tem o som de ng, como se observa
em ango. É um som tão diferente da dental n como da
labial m e por isto se representant por um símbolo espe-
cial. Nigidius Figulus ( 9 ) o chamava de "n" adulterinum.
Prisciano ( 1º) seguiu a analogia do grego e usou g com o
valor de nasal para representar o n-adulterium:
Agchises, agceps, aggulus.
A vogal antes de nf e ns é normalmente longa. A
omissão do n antes de s, em várias inscrições, não modificava
a quantidade da vogal. As formas de adjetivos em -ensinus
e de advérbios em iens foram, muitas vêzes, escritos -esimus,
ies. Conta-nos até Velius Longus ( 11 ) que Cícero pro-
nunciava forensi e Magalensia como foresia e Magalesia:
- "seqiwnda et vero non numqitam elegantia eruditormn
1Jivorum, qui quasdam li.tteras lenitatis causa omiserunt,
sicut Cícero qui foresia et Jfagalesia et hortesia sine n
littera libenter dicebat."
John Schmidt estabeleceu uma teoria sôbre as vogais
com o som nasal francês, que Sellmann ( 12 ) resumiu da
geguinte forma: -
1 - O n é, em certos casos, principalmente diante de
s, ora escrito, ora não. Êle se transformou com a vogal
precedente numa vogal nasal. Para expressar essa vogal na
escrita, não havia sinal e escreveria por isso em parte histo-
ricamente a antiga nasal, em parte deixava-a de lado.

(9) AULO GÉLIO - N.A. XIX, 14, 7.


(10) KEIL - Grammatici Latini, II, 30, 13.
(11) KEIL - Grammatici Latini, VII, 78-79.
(12) SELLMANN, Emil - Die Aussprache des Latein - p. 280.
197 -

2 - Realmente, fêz-se uma tentativa de caracterizar


gràficamente as vogais nasais. Numa moeda... encontra-
-se a vogal nasal e (francês in) indicam em parens por E.
Isto não pode ter sido outra coisa senão êste par és;
3 - O mesmo se dá com a nasal labial üi Poponi, Se-
proni, Decebris... Somente sob a suposição de uma pro-
núncia Põpon'i, Decébris etc ... compreende-se como a escrita
posterior novamente podia colocar o m em seu lugar;
4 - Grafias como Quictilis, Oriwule ( ins) provicia ( s) ,
devemos julgar da mesma forma como cosol e outros, quer
diber, a vogal nasal é expressa pelo sinal da mão nasalizada;
5 - Para o latim posterior são as vogais nasais expres-
samente atestados por :Mar. Victorino que diz in óà.µf3vt,
Ampelus, Lycambe não se ouve nem ~ nem !l, , que só
pode significar que se falava sãbüx.

S - É difícil determinar a sibilante fenícia de que


teria originado o sigma ~ grego. No abecedário etrusco, a
forma 1 muito se assemelha com o S latino. Nas inscri-
ções bárbaras, o s tinha a forma de f sem o corte 5. Em
algumas inscrições de Nápoles e da Sicília, encontramos C,
como forma de chamado ~ lunar; 2 existe nas inscrições
c·ristãs da Gália.
Quanto à fonética, o S é uma consoante dental sibilante
surda. Seelmann ( 13 ) acentua que o s é um som de frição
puramente dental de forma plosiva átona e dorsal.
No século IV, houve a sonorização do s intervocálico
que, pela chamada lei do rotacismo, se transformou em r:
- Papisius = Papirus. Canta-nos o jurisconsulto Pom-
pônio ( 14 ) ter sido Ápio Cláudio logo quem introduziu essa
transformação do s intervocálico em r: - "idem Appius
Claudius, qui videbar ab hoc processisse, R litteram invenit,
ut pro Valesii. Valerii essent et pro Fusii Furii."

G - O G latino deveria corresponder ao gimel 1 do


alfabeto fenício, porque a sua origem se explica através
duma transformação de C latino, que, embora mantivesse
a sua colocação na série alfabética, mudou o seu valor

(13) SELLMANN, Emil - S ist ein plosiv stimmlosen dorsal


gebildener rein dentaler reitelant - op. cit. 304.
(14) D. II, 2, 36.
- 198 -

fonético. Muitas vêzes encontramos at certa dificuldade


em distinguir o g do e em algumas inscrições latinas.
Quanto à fonética, o g é uma consoante palatal oral e
sonora.
O gramático 'rcrentianus M"aurus ( 15 ) assim se refere
ao som do e e do g
"utrum latus dentib1ts applicare linguam e pressius
itrget: dein hinc et hinc remittet, que voeis adhae-
rens sonus explicef1tr ore g porro retrorsum coit et
sonum priores obtusius ipsi prope mfficit palato."

Não resta a menor dúvida que, no período clássico da


língua latina, o g tinha o som gntnral, mesmo diante de
vogal, pois é sempre representado por como podemos veri-
ficar, através das transliterações do latim para o grego:
Scrgius, !ép')'ios Gellius, rO,Xws Verginius, O&wy,vws.

C, K, Q - O C era representado por uma longa cabeça


recurvada C, mas, no abcedário etrusco tinha a forma de 7 .
O K corresponde ao Kaph )1 do alfabeto fenício e ao
Kà.'ll''ll'a 9 do grego. No abecedário etrusco, ainda figura
com as duas pernas voltadas para a esquerda. ~ A forma
antiga de K que subsiste no império e /(.
O Q corresponde ao D do alfabeto fenício e ao K<i'll''ll'a
do abecedário etrusco. A forma G) figura em inscrições gau-
lesas do V e do VII séculos. O som era gutural. Encon-
tramos, às vêzes, em inscrições, o e substituído por J{:

INVICTISSI
MO CAE SARI
PIISSIMO
PRINCIPI CLEMENTISSIMO IMPE
RA'TORI MARCO AURELIO KARO PIO
ET FELICI INVICTO
AUGUSTO PONT. MAXIMO TRIBU
NICIAE P. PRO
cos.

(15) KE1L - op. cit. VI, 381, 194-198.


- 199 -

Nos primeiros tempos, o C foi também usado para repre-


sentar a oclusiva G, mas os romanos estabeleceram novo
símbolo para esta última, mediante um pequeno traço na
extremidade inferior do C. O gramático Terentius Scau-
rus ( 16 ) assim se expressa: - "C ... f-igura, ... non solum
ap·ud nos verum etiam apud antiquos Graecorf!.m G littera
notabatur, irt testatur f oedus Graeciae camelo aereo in
hortis Caesaris in aede Fortis Fortunae inci.sum, ubi pro ['
haec forma posita est, item XII Tab-ulae, ubi est NI P A.-
CU.K'l' per hanc formam, quod male quidani per e cnuntiant.
[figura autem quosdam deceptos contendcrim ] cretlidisse
nobis K deesse et hanc q1tidem K dixisse, ceternm pro ea
nota adiecta a Spnrio Ca.rvilio novwm formam G litterae
positam."
Os símbolos e, k, q, segundo observa Niedermann, ( 17 )
parece que repartiram primitivamente as respectivas fun-
ções, de tal forma que se escrevia e diante de i e e ( cifra,
census), K diante de a e de consoante (kaput, liktos, sakros),
q diante de o e u ( qomes, qura) e na combinação qu, que
representava oclusiva velar surda labializada quis.
A informação acima pode ser ilustrada com os seguin-
tes versos de Terentianus Maurus: ( 18 )
"k perspicuum est littera quod vacare possit; et q
sfrnilis, namque eadem 1iÍs in utraque est; q1tia qui
locus est primittts unde exoritur c, quascnnque
deinceps libeat iugare voces, m1dare necesse est
sonitum quidem wpremum, ref ert nihil1lm, k prior
an q siet an c."
O e era representado em grego na transliteração por
K, como notamos em centurio, pontifices, Cícero, C1irius,
Numicius que recheiam, em grego as seguintes formas: -
KEvrvp(wv 1rovr(iptKfi, K,Ktpwv, KoEwr, Nov(Kvor. Por outro lado
o K grego era representado, em latim, por c : - KLJlwv,
Kiavor, KtX,~ tomavam as seguintes formas em latim, Cimon,
Cadmus, Cilix.

R - Se partirmos do alfabeto fenício, observaremos


que duas formas se alternam para explicar a história da
(16) KEIL - op. cit. VII, 15.
(17) NIEDERMANN - op. cit., pág. 14.
(18) KE1L - op. clt. VI, 331, 204.
- 200 -

eonsoante H. A forma original é um triângulo com o


vértice na parte superior e com o lado direito um pouco
prolongado L1 forma esta que se apresenta muito seme-
lhante com a das letras bete 4
e dálete ~. No alfabeto
grego houve mudança na direçfw do triângulo, que tomou
a forma dum semicírculo virado para a direita P. No
alfabeto umbro não havia o d, de modo que o símbolo Q
indicava o so mdo r.
Quanto à fonética o R é classificado como consoante
palatal construtiva vibrante sonora. O som é produzido
pela vibração da ponta da língua.
O gramático Mário Vitorino (1 9 ) assim se expressava:
- sequetur r, quae vibrato voeis palatum linguae f asti-
gio fragorem tremulis ictibus reddit."
Terenciano Mauro ( 2 º) assim caracteriza o r: -
" vibrat tremulis ictibus aridum sonorem has quas
sequitur littera."
O r entre duas vogais é, muitas vêzes, o resultado da
lei do rotacismo, isto é o substituto de s. É o caso de lares
em lugar de Iases, arena em lugar de asena etc ....

L - O L correspondia ao lamede V do alfabeto fení-


cio, de cuja forma mais se aproxima do que do sím-
bolo J do abecedário etrusco. No período clássico, a
linha horizontal do L correspondia à metade da vertical,
mas, a partir do II século, começou a diminuir a ponto
de confundir-se com I.
Quanto à fonética, o L é uma consoante palatal constri-
tiva lateral sonora. Vejamos o que nos diz Terentianus
Maurus sôbre esta consoante: ( 21 )
"adversa palati supera premendo parte obstansque
sono quem ciet ipsa lingua nitens validum penitus
nescio quid sonare cogit, quo littera ad aures veniant
secunda nostras, ex ordine fulgens cui dat locum
synopsis."

(19) Km. - op. cit. VI, 34, 15.


(20) KEn. - op. cit. VI, 332, 288-9.
(21) KEIL - op. cit. VI, 332, 230.
- 201-

De acôrdo com o gramático Prisciano,( 22 ) o l era pro-


nunciado diferentemente, conforme a sua posição na pala-
vra: - um exilis sonus como o segundo l de ille, Metellus,
um pinguis sonus, após uma consoante ou no fim duma
palavra ou duma sílaba como em cwrus, sol, silva; em
medius sonus, quando inicial, como em lectus.
J e V - O símbolo j e v não eram conhecidos pelos
romanos e somente foram introduzidos no século XVI
pelo humanista Petrus Rams e daí terem sido estas letras
denominadas de ramistas.
O símbolo I era usado tanto para representar a vogal
1 como a consoante j. O gramático Nigídio Fígulo, citado
por Aulo Gélio, ( 23 ) diz que o u e o i como iniciais não
devtim ser consideradas vogais: - "Si quis putat praeire u,
in verbis V alerius, Venonius. Volusi_us, aut i in his: iam-
pridem, jecur, jocum, jucundum, errabit, quod hae litterae,
cum praeunt, ne rocales sunt."
O i seguido de vogal tornava-se muitas vêzes consoante
entre os poetas, como era o caso de abíetis, parietens, ariete.
Cícero, segundo o testemunho de Quintiliano, ( 24 ) pre-
foriu escrever aiio e Aiiax, com dois ii: - Sciat etiam Cice-
roni placuisse "aiio Maiiamque" geminata "i" scribere:
quod si est, etiam iungetur ut consonans." Conclui o pró-
prio Quintiliano que êste fato vem demonstrar que um dos
dois i tinha o valor de consoante.
A letra grega empregada na transliteração de palavras
latinas era o t: 'lovX,os.
O símbolo V era usado para indicar a vogal u e a con-
soante U.
Como já nos referimos anteriormente, o gramático Nigí-
dio Fígulo diz que o u inicial não deve ser considerado
vogal, como é o caso de V alerius, V enonius, V olusiits.
O u no meio da palavra, ora tinha o valor de vogal,
ora o de consoante: - la-ru-a (Plauto, Capt. 598), aparece
mui tas vêzes como dissílabo lar-ua; sil-ua figura algumas
vêzes com trissílabo si-lu-a ( cf. Hor. Od I, 23,4).
Além de ter sido o u, com valor consonântico ou vocá-
lico, representado pelo mesmo símbolo, também representa-
(22) K1m.. - op. cit. II, 29, 9.
(23) AuLo Gruo - N.A. XIX, 14, 6.
(24) QUJNTILIANO - I. 0. 1, 4, 11.

14
202

varo semelhança de pronúncia. Conta-nos Cícero ( 25 ) que


Marco Crasso, ao embarcar seu exército em Brundísiurn
ouvira um vendedor de figos gritar cauneas para anunciar
figos vindos de Caunus. O espírito popular observou que,
se Crasso tivesse seguido a advertência dêsse vendedor, não
teria perecido, porque êste ao apregoar Cauneas estava di-
zendo "caii(e) n(e) eas, isto é, "evita partir". Daí se con-
cluiria que a pronúncia da expressão cave ne eas deveria
ter sido mais ou menos esta "cauneas". ( 2 sa)
Na transliteração para o grego, o u ( consoante ou vogal)
era representado por ou ,Juvenalia, 'IououEvciX,a; Venusia,
OuEvouuía; Vo)sci OnoXuKo, ; Quintilius Varus, KouivnX,os
Oúapos. Todavia, se o u vinha precedido de q e seguido de
i era, também representado por u ou o : Aquinum, 'AKv:vov
Quintus, Kó,vros.
Devemos, ainda, assinalar que, por volta do ano 100,
encontramos inscrições gregas que usavam o ~ na translite-
ração do it latino: - verna, {:hpva conventus, Kov/Jévros. O
mesmo ocorre com a palavra Silvanus em MSS do N oyo
'festamento, que foi gravada com ~,X{3avos· Dittemberg (26 )
que estudou minuciosamente a representação de nomes ro-
manos nas inscrições gregas, conclui que 01, é mais antigo
do que ~. para reproduzir o valor de v.
Nenhuma dúvida pode haver quanto ao emprêgo do
mesmo símbolo para representar o ti consoântico ou vocálico,
mas a pronúncia, embora semelhante, não devia ter sido
exatamente igual.
Z - O Z era uma consoante fricativa dental sonora,
posteriormente introduzido no alfabeto latino para represen-
tar palavras gregas: "Quod curn contingit nescio quomodo
(25) CICER0 - De Divinatione II, 40.
(25-A) lll oportuno transcrever o comentário feito por Buck
ao comentar o livro de F. Lord sôbre a pronúncia romana
do Latim: "The Cauneas story is made to do duty for the author's
contention, by means of the suggestion that Caunos was a Greek
town, and that u in suck a connection is ot present pronunced
Zik our f or v, and that we know of no time when it was pro-
nounc.ed like our u. Thc only difficulty i.s in the statement of
the Zast clause, 'tor the approval of whick the author will have
to look mainly to the more chauvinistic of the Modern Greeks. -
Recensão feita por Carl D. Buck, do livro "The Roman Pronuncia-
tion of Latin; Why we use it and How to use it.", in CR X, 60.
(26) DITTEMBERG - apud Roby "Latin Grammar" I, XLI.
- 203 -

h ilariol' protinus renidet oratie, ilt in "zephyris" et "zopho-


ris." Prossegue, ainda, Quintiliano e diz que, se estas pala-
,-ras fôssem escritas com as letras latinas, teriam um som
surdo e bárbaro, que os próprios gregos não_ as reconhe-
ceriam.
Inicialmente, na época de Cícero, o s grego era repre-
sentado por z, mas depois passou a ser representado por s.
Nos séculos III e IV da era cristã, o z foi usado por se
como era o caso de zeta, e zaeonus de ótmra e lhcx.Kovos

Ditongos
Definição: Ditongo é o grupo de duas vogais que
l'epresentam apenas um fonema e que tornam, em latim, a
sílaba longa. l\fariuq Victorianus ( 27 ) assim define o di-
tongo: - "duae inter se voeales iitgatae ae sub unfos voeis
urnntiatione prolatae syllabam f aeiitnt natura longam, quam,
graeci diphtongon voeant, veluti geminae voeis itnmn somem,
ct ae oe au."
Os ditongos propriamente ditos eram os seguintes: -
ai=e, au, ei, eu, oi, ou.

AE - O ditongo latino ae tinha a forma ai até o ter-


c,0iro século a. C.. O ai latino corresponde ao IE ai, e, por
Yclta do II século a. C. passou a
O ae latino era, geralmente, representado em grego por
m: Caesar, Karo-ap; Aemilius, AtviXws; aequi, az,-;ot. No
Pntanto, encontramos também, a partir do segundo século
da era cristã o ai latino representado em grego por €: Cae-
c·ilins KEKiXws; Caecina, KEKivas. Por outro lado, o m grego
lra representado em latim por m: - A1vE!as, Aeneas; ai')'Ls,
argis. Todavia, o a e o 11 gregos também foram represen-
tados em Latim por ae: - 'Ao-KXi1Ttos, Aesculapius; O"KT/P~
,caena.
ObserYa Kcnt (2 8 ) que em latim rústico, ae tornou-se
primitivamente e como em Jlesium, pretor e na linguage!:1

(26-A) Qi:mTILIANO - J. 0. XII, 10, 29.


(27) KEIL - Gramatici Latini VI, 32, 4-6.
(28) KEXT, Roland G. - The Sounds of Latin, p. 48.
- 204-

coloquial da cidade, num período posterior tornou-se aberto


e foi identificado no latim pós-clássico com e acentuado.
Stolz e Schmalz ( 29 ) assinalam que raeda ao lado de
Epo-redia mostra a pronúncia do ditongo ( céltico primitivo
*reida). Saeculum contém a forma desaparecida sai-O=
IE* sae). Em Saeturnus, ainda observam êles, ao lado de
Sattlrnos figura ae mais provàvelmente derivada de e:
*Seturnus.
Não foi somente no latim pós-clássico que ae foi substi-
tuído por e. Niedermann ( 3 º) já se incumbiu de provar
que desde a época do Plauto, ae se transformara em e,
plenamente verificado através de palavras como prehendo,
que se apresenta sob esta forma ou sob a forma contracta.
"Ce prehendo, en eff ect, remonte à *prai hendo, devenu
siwessivament *prahendo, *prehendo, prehendo (avec abre-
gement de l'e, h étant muet), enfin prendo (par contrac-
tion).
As próprias fontes mostram-nos a indecisão dos antigos
entre ae e e. Por outro lado, as formas aedem e aiquom
figuram numa mesma inscrição. Ê digno de observação que
o primitivo e, foi pronunciado fechado".
Ê esta a observação de Stolz e Schmalz quando afirmam:

Zu beachten ist, dass ursprüngli.ches, das ge-


schlossen gesprochen wurde, stets von dern offenen
e - Laute, der a1ts ursprünglichen ae entstand,
streng auseinander gehalten wurde."

Concordamos inteiramente com Niedermann, ao afirmar


que no latim vulgar, posterior, quando desapareciam as
diferenças quantitativas das vogais, de tal forma que as
longas e breves não se distinguiam mais, a não ser pelo
timbre, ae se confundiu com e, que era uma breve aberta.
AU - O ditongo latino au corresponde ao IE au. A
forma au é encontrada quer em ditongos originários, quer
~m formas derivados como aucella de *avicella.
A representação, em grego, do au latino, era, feita por
av: - Aulus, AuXos. Por sua vez, o au grego também era
representado, em latim por av: - Auroµ,é8wv Automedon.

(29) STOLZ & SCHMALZ - Lateinische Grammatik, p. 70.


(30) NIEDERMANN - op. cit. pág. 6-A.
205 -

Na linguagem popular, o ditongo au passou a ser pro-


nunciado o. É conhecida a passagem de Suetônio, segundo
a qual o cônsul Mestrius Florus, certa vez, mostrou a Vespa-
siano que a pronúncia certa deveria ser plaustra e não
plostra. No dia seguinte, Vespasiano o saudou chamando-o
de Flaurus: - "Mestrium Florum consularem, admonitus ab
eo "plaustra" potius quam "plostra" dicenda, postero die
"Flaurum" salidavit." (Suet. Vesp. XXII).
O plodite ( de plaudite) das comédias de Plauto não
deve ser considerado como forma deturpada do ditongo au,
porque, como já demonstrou Niedermann, a vogal radical de
plodo era um õ propriamente latino e não um õ dialetal,
oriundo de antigo au. Se au, em plaudo fôsse antigo, tería-
mos "'compludo, displudo, expludo.
No entanto, a forma orichalcum, que encontramos em
Horácio, Virgílio e Cícero, corresponde ao aurichalcum, pala-
vra de formação grega.
Podemos, ainda, verificar que o ditongo au, em alguns
documentos, é representado por a, como acontece em Mars
de Maurte.
Não obstante essas pequenas modalidades o ditongo au
não se transformou em o no latim vulgar, com exceção de
algumas palavras rústicas.

EI - O ditongo latino ei corresponde ao ei IE. O


caráter do ditongo desapareceu muito cedo, pois somente os
antigos escritores e pensadores empregaram, com segurança,
o ditongo ei, como é o caso de deivos na inscrição Duenos.
No princípio do século II a. C., ei ficou reduzido a i
tendo antes passado por e. Nas sílabas postônicas e nas
sílabas finais, ei mais cedo do que nas tônicas principais é
escrito e e transformado em i.
Encontramos, a partir do século II a. C., o ditongo ei
para representar o IE 1 como se vê em ameici.tiam audeire
em lugar de amicitiam, audire.

EU - O eu IE resultou ou, em latim, que se transfor-


mou posteriormente em u. A passagem de eu para ou
=
ocorreu na época pré-literária: - douco ( duco). A forma
Leucesie, encontrada no Carm. Sal. não tem, como acen-
tuam Stolz e Schmatz, qualquer significação histórica lin-
- 206 -

guística: - "es hat claher keine sprachgeschichtliche Bedeu-


tung." (3 1 )
No entanto, o ditongo eu figura em certas interjeições
isto é, nos movimentos instintivos, de vez que, como observa
Niedermann, escapam à eYolução linguística normal: - heu,
eheu.
N euter era geralmente usado como trissílabo neu-ií-ter.
Finalmente, devemos assinalar que o ditongo eu era
usado para representar o grego Ev: Eupo~ Eurus.

OI - O oi IE resultou oi, em latim, que se transfon~10u


em oe na mesma época em que ai passou a ac. O ditongo
oi, segundo comentam Stolz e Schmatz, é conservado em síla-
bas raízes, em estilo curial até o ano 50 a. C. coircuernnt,
foidere.
O oi primitivo e a forma posterior oe transformaram-se
geralmente, em u no latim clássico: - oinos ( =unus),
commoini'..s ( = communis). No entanto, esta passagem para
ii não se verificou em certas palavras como foedus e Poenus,
rnaenia.
OU - O 01i IE transformou-se em u no século III a..
C.: - Loucanum Loucilia iousiscet.
O ditongo 01i deve ser considerado originàriamente resul-
tado da apofonia de eu: - denuo de *deneuo.
Uma prova da passagem de ou para u podermos encon-
trar em várias inscrições nas quais lemos noutrix, loucos, em
lugar de nutrix, lucus etc ....

O ditongo UI ~ Além dos já mencionados, podemos


acrescentar o ditongo ui, de origem secundária, e encontrado
em cui, huic, cuiiis, huius e hui.

Divisão das sílabas

Divisão das sílabas = 1 - Cada palavra possui tantas


sílabas quantas vogais ou ditongos possui. Exemplo: - ho-
mi-ncs; prae-da.

(31) STOLZ & ScHMALZ - op. cit. pag. 58.


207 -

Observa Quintiliano que se deve tomar cuidado, na


divisão das sílabas, para verificar se a consoante do meio da
palavra se junta à sílaba precedente ou à seguinte: - "Est
et in dividendis verbis observatio, mediaiii litteram conso-
na11tcm priori an scqucnti syllabae adiungas." ( 32 ). E logo
a seguir êle nos dá o exemplo de haruspex, cujas sílabas
dewm ser divididas em ha-rii-spex, porque a segunda parte
prcvém de spectare; e abstemius, palavra composta de absti-
111 entia e tcmenti, motivo pelo qual a divisão seria abs-ti-
nc nt i-a.
2 - Uma consoante entre duas vogais pertence, geral-
men t<', à sílaba seguinte. Exemplos: - l.au-da-nws; fra-
tcr; lo-quor. No entanto, quando se tratar de palavras com-
postas de preverbos, deve-se levar em consideração a etimo-
logia. Assim: - cir-cum-a-go; porque se trata duma pala-
H/\ composta de circiim e ago.

3 - Duas consoantes colocadas no meio da palavra,


clrverão pertencer a sílabas diferentes quando não fôr pos-
síwl iniciar uma palavra latina ou grega com essas consoan-
tes. Isto ocorrerá nos seguintes casos:
a) Quando se tratar de consoante geminada. Exem-
plo : - pu-el-la, mit-to;
b) se a primeira dessas consoantes fôr uma constrittva
Yibrante ou lateral (l,r), uma oclusiva nasal (m,n) ou x.
Exemplos: - mar-mor, cul-tus, am-pliis, can-to, sex-tus.
Eis o que nos diz o gramático Priscianus: "si antecedens
syllaba termfoat in consonantem, necesse est etiam seq1ien-
tcm a consonante 1:ncipere, 1it ar-tus, il-le, ar-d1ms, nisi si
compositum 1d ab-eco, ad-eo, per-eo."
4 -- Duas consoantes colocadas no meio da palavra
dewrão pertencer à sílaba seguinte, quando fôr possível com
elas iniciar uma palavra latina. Exemplo: - li-brum, la-
tro, tri-plex, A-fri-ca. Não estão compreendidas aqui as
palavras formadas de preverbos e prefixos, como é o caso de
ab-eo, ab-rogatio, que veremos mais adiante.
5 - O x e o z entre duas vogais, bem como o grupo ps
pertencem à sílaba seguinte. Exemplos: - e-xi-lium, ga-
za, nu-psi, scri-psi.

(32) QUINTil.lANO - I.0. - 1, C, 9.


- 208 -

6 - Os grupos consonantais se, sq, sp, st usados para


indicar o comêço de uma palavra, devem ser colocados no
princípio duma sílaba: - po-sco, te-sq1ta, a-sper, ca-sti-go.
É verdade que alguns linguistas modernos, como é o caso de
Niedermann, ( 33 ) Kent ( 34 ) e os outros preferem adotar a
divisão fonética e, nos exemplos acima, teríamos pas-co, tes-
qua, as-per, cas-ti-go. No entanto, preferimos a divisão,
com base na etimologia, que é, aliás, a recomendada pelos
gramáticos latinos: - "Pronomina nostritm ac vestruns si
in scriptura dividenda sunt, s littera prosteriori syllabae
maiestas scribis, stas in did1tctione 1.!ocis esse debet, non
tas. Sic in similibus."
7 - Os grupos de três consoantes, com as quais pode
começar uma palavra latina, ficam na mesma sílaba com a
vogal seguinte. É o caso de scl, ser, spr, str. Exemplo :
A-selum, A-sera, ca-stra.
8 - Excetuados os casos já referidos, num grupo de
três consoantes, das quais a primeira seja líquida ou nasal,
as duas outras devem ficar na sílaba seguinte. Exemplo :
- con-stare, iil-tra.
9 - Os grupos de quatro consoantes são raros e somente
a primeira, que é uma líquida ou uma nasal - fica na
sílaba anterior passando as demais para a seguinte -
Exemplo: - mon-strum, m1r,l-ctrum.
Finalmente, queremos acentuar que a divisão silábica,
recomendada por Niederman, Roby, Kent e outros não é a
adotada nas grandes coleções críticas de clássicos latinos,
como as de Oxford, Teubner, e Loeb. Se tivermos oportu-
nidade de verificar em qualquer dessas coleções verificare-
mos que divisão silábica de potestas, nostrum, constare, mons-
trum é feita da seguinte forma po-te-stas, no-striim, con-
stare, mon-str1tm.
Nos livros da coleção Budé, não há um critério uniforme
na divisão silábica, pois ora encontramos po-stero, hone-stae
ora res-titutio. ( 35 )

(33) NIEDERMANN - op. cit. pág. 171.


(34) KENT - The sounds of Latin, pág. 63.
(35) CfcERO - De Lege Agraria, n, 4, 10.
- 209-

QUANTIDADE DAS SíLABAS

Monossílabos: Os monossílab,os são, geralmente lon-


gos, salvo os que terminam em b, d, t, precedidos de vogal.
Ex.: do, da, si, dos, pes, ne, ab, ad. et.
No entanto, as enclíticas que, ce, ne, ve, te, pte, são
breves.
São, também, breves: an, bis, eis, cor, es, fac, fel, fer,
in, is, nec, os, per, quis, sum, vir, vas.
Sílabas finais: A final. As palavras terminadas em
a, possuem, geralmente, a última sílaba longa.
Ex. : trigintà, lauda, circa, antea etc ..
O a final é breve :
1.º) na declinação dos nomes, com exceção do ablativo
singular e vocativo dos nomes gregos. Ex.: puellii (nom.)
mas puellã (ablat.) Palla;
2.º) em certas palavras, como ita, quia, heia.
E FINAL. - O e final é, geralmente, breve. Ex.:
saepe, mitte, pone.
O e final é longo :
1.0 ) em nomes da primeira e quinta declinação e seus
derivados. Ex. : epitomê, diê, quare;
2. 0 ) nos advérbios formados de adjetivos de primeira
classe. Ex.: alte, longê, doctê, mas bene e male;
3.0 ) na segunda pessoa do singular do imperativo da
segunda conjugação. Ex. : monê.
4. 0 ) em algumas palavras gregas, como Andromache.
I FINAL: - O i final é, geralmente, longo. Ex.: veni,
vidi, regi.
É breve em nisi, quasi, sicuti, necubi, sicubi, citi; é
ancípite (breve ou longa) em mihi, tibi, sibi, ibi'..
O FINAL - O o final é, geralmente, longo, embora seja,
também, considerado comum por vários autôres. Ex. : lupo.
É breve em cito, duo, ego, cedo, ilico, immo, octo, modo.

U FINAL: - O u final é sempre longo. Ex.: genu,


manu.
B,D,L,M,T, FINAIS: - As sílabas finais em b,d,l,m,t
são, geralmente, breves. Ex.: aitdit, animal, regum.
- 210-

C FINAL: - A sílaba final em e é, geralmente, longa.


Ex.: t'lluc, produc.
No entanto, temos donifo.
N FINAL: - A sílaba final em n é, geralmente, longa.
Ex.: Titan.
No entanto, nos nomes que fazem o genitivo singular em
inis ou enis é breve. Ex.: flurnen.
R FINAL: - As palavras que terminam em r, possuem,
geralmente, esta sílaba breve.
Ex. : calcar.
No entanto encontramos cur, far, par, dispar. Nos
nomes que fazem o genitivo em eris é longo.
Ex. : crater.
AS e OS finais: - São, geralmente, longos.
Ex.: rnensãs, nef ãs_. servõs.
No entanto é breve em algumas palavras de origem
grega: anas, Pallas, larnpas, Delas, melas.
ES final: - É, geralmente, longo.
Ex.: leges, rupes.
No entanto, é breve em penes e nos compostos de es
( potes, ades, etc.) ; em palavras de origem grega como Troa-
eles; e no nominativo singular da terceira declinação : miles.
IS final. - É, geralmente, breve.
Ex.: dicrs, dicitrs.
No entanto, is é longo.
a) no dativo e ablativo do plural, como pnellis, nobis;
b) em palavras como Quiris;
c) segunda pessoa do singular do presente do indica-
tivo da quarta conjugação. - venís.
Ex.: venis.
d) no presente do subjuntivo de possis, nolis, malis,
velis.
US final. - É, geralmente, breve.
Ex. : hortus.
No entanto, é longo.
a) no genitivo singular da quarta declinação;
Ex. : fructus.
b) em palavras de origem grega, como tripus;
c) no nominativo singular da terceira declinação, nas
palavras que mantêm o u no genitivo singular.
- 211-

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IX

A PRONúNCIA DO LATIM

Introdução - No capítulo anterior, tivemos oportuni-


dade de indicar os respectivos sons das diversas letras de
que se compõe o alfabeto latino.
As consoantes e as vogais latinas representavam, apro-
ximadamente, na época pós-clássica, os mesmos sons dos res-
pectivos símbolos no alfabeto português. Se pretendermos
investigar como os romanos da época de Plauto ou de Cícero
pronunciavam o latim, notaremos algumas diferenças, plena-
mente compreensíveis e justificadas através do processo
normal de evolução duma língua qualquer. Tentativas dessa
natureza somente poderão ser levadas a efeito através de
consulta às informações de gramáticos latinos e às inscrições
antigas, principalmente mediante exame de transliteração
para o grego, uma vez que não contamos com testemunho
oral. No entanto, devemos desde já, esclarecer que até, hoje,
somente foi possível restabelecer parcialmente a pronúncia
do período clássico, uma vez que muito pouco sabemos sôbre
o chamado acento de altura que era, segundo o testemunho
dos gramáticos, a alma da palavra. O resultado dessas pes-
quisas poderá ser, em linhas gerais, resumido nas seguintes
observações :
a) O e tinha o som de k, mesmo antes de e e i;
b) o g tinha o mesmo som de oclusiva antês de a, o, u
como ants de e e i;
c) nos ditongos, ambas as vogais que os constituem,
deviam ser pronunciadas. Assim, ae e oe teriam
respectivamente o som de a + i e o +e;
e) o u consoante ( v) era pronunciada como vogal.

O problema da pronúncia - O professor F. D. Allen


numa recensão sôbre o livro "Latin Pronunciation", de Harry
- 213

Thurston Peck, (1) professor na Columbia College, diz que


as questões "como os antigos pronunciavam" e "como deve-
mos pronunciar", são e devem ser perfeitamente distintas
por dois motivos: - primeiro, porque há lacunas em nosso
conhecimento (ninguém pode deixar um espaço em branco
falando pulcher ou optimus porque êle pode· estar em dúvida
teórica em relação a certos sons no meio dessas palavras), e
em segundo lugar, porque nós não podemos ensinar nossos
órgãos a produzirem certos sons que os romanos pareceram
ter usado.
Não subestimamos a importância da primeira questão,
isto é, "como os antigos pronunciavam o latim", mas, diante
dos elementos de que dispomos e que só nos permitem resta-
belecê-la parcialmente, não reputamos aconselhável reco-
mendá-la aos que se iniciam no estudo da língua latina.
Todo aquêle que pretender estudar uma língua estran-
geira, deverá procurar pronunciá-la como essa língua era
pronunciada numa fase de sua evolução. É, aliás, comum
aos que se encontram nessa condição, procurar aprender a
pronúncia da língua estrangeira, cujo aprendizado se pre-
tende, na fase mais recente de sua evolução. Seria incom-
preensível se alguém desejoso de aprender o alemão, pro-
curasse adotar a pronúncia da época do bispo de Wúlfila ou
mesmo do imortal Goethe, ou então, familiarizar-se com a
pronúncia francesa do princípio do século XVII para ler
o Cid, de Corneille, bem como do português do século XVI
para ler os Lusíadas.
A língua latina não parou em Cícero, da mesma forma
que a inglêsa não se estabilizou no inglês da época de
Schakespeare ; a francesa, no francês da época de Racine, o
alemão ; no alemão da época de Goethe e o português ; no
português da época de Luís de Camões.
A língua latina, depois de Cícero, continuou a ser falada
e foi o instrumento de comunicação no Principado e no

(1) ALLEN, F. D. - Latin Pronuntiation - "The questions


"How did the ancients prononce?" and "How schall I prononce"
are and must be perfecty distinet-must be, for two reasons: first,
because .there are gaps in" our knowledge (one cannot leave a
blank in speaking pulcher or optumus because he may be in
theoretical doubt as to certain sonnds in the middle of these
words), and secondly, because we cannot school our organs to
some sounds that the Romam appear to have used" - CR V, 61.
214 -

Dominato. Os juristas no Dominato, como aconteceu com


Gregorius Thaumaturgus, tomavam lições de língua latina
para melhor se dedicarem à advocacia.
Conhecemos, por tradição oral, a pronúncia do latim
na época pós-clássica, que, aliás muito mais prox1ma se
encontra da adotada em algumas línguas românicas do que
do latim clássico e que só chegou aos nossos dias de maneira
incompleta, pois desconhecemos a sua própria alma, que era
o acento.
Ullman ( 2 ) diz, com muita precisão, que não somente
é impossível conhecer tôdas as minúcias da pronúncia do
latim, mas insensato e mesmo criminoso, ensinar aos alunos
do segundo ciclo tudo o que nós sabemos sôbre ela: - "N ot
only is it irnpossible to know all the details of Latin pronun-
ciation (scholars are not even agreed on the nature of the
Latin accent), but it is imwise. I would almost say crimi-
nal, to teach high-school pupils all that we elo know
about it".
A tese de Ullman consiste em apresentar aos discípulos
a pronúncia do latim como uma coisa fácil de ser apren-
dida e nisto êle tinha razão. Por todos êstes motivos, prefe-
rimos ensinar aos nossos alunos do curso secundário a cha-
mada pronúncia tradicional do latim, adotada na época pós-
clássica e que nos foi transmitida atraYés da tradição oral.
Pronúncia tradicional do latim - Tôdas as letras se
pronunciam e têm, mais ou menos, o mesmo som que em
português. Devemos, porém, observar o seguinte:
1) As vogais a, e, i, o, u pronunciam-se como em
português; y sôa i;
2) os ditongos ae e oe soam e. Podemos, aliás, veri-
ficar que, mesmo na época de Plauto, o ditongo ae era usado,
em, latim, para reproduzir o 11 grego. É o que observamos
no caso de scaena, palavra proveniente diretamente do grego
uK1rva, como podemos comprovar através do Dicionário Eti-
mológico de Ernout e l\!Ieillet (3). Depois elo século II
ela era cristã, encontramos, com mais freqüência, nas iw,cri-
ções gregas o e usado para reproduzir o ditongo ae: -
Caccilius, KiKtÀws; Caecina, KeK[vau.

(2) ULLMAN, B. L. - The Teatching of the Pronunciations


of Latin. CJ. XXIII, 27.
(3) ERNOUT ET MEILLET - , Dictionnaire Etymologique. 3êm. éd.
- 215 -

3) as consoantes soam como em português, devendo-se,


no entanto, ainda assinalar:
a) e e g têm o mesmo som que em português. Exem-
plo : cano (=cano), cecini ( =cécini) ; caelum ( =célum) ;
Gallia (=Gália); genus (=genus).
b) eh sôa k. Exemplo: pulcher ( =púlker) ;
c) ph sôa Exemplo: Philo (=filo) ;
d) o ti diante da vogal equivale a ci, quando o grupo
não fôr precedido de s, x ou t. Exemplo: - Prudentia
(=prudência) ;
e) m e n no fim da sílaba, não têm o mesmo som, nem
a nasalização que lhes atribuímos em português: - m sôa
m e n, n.
f) u consoante soa v. Exemplo: - valo ( =) ;
g) o x tem o som de cs. Exemplo : - rex ( =recs).
Minucioso e apurado estudo sôbre a pronúncia tradi-
tional foi feito pelo professor Nelson Romero, cuja consulta
recomendamos ( 4 ).
Quantidade - A quantidade de uma vogal ou de uma
i,;ílaba é o tempo que levamos para pronunciá-la. De acôrdo
com a quantidade, as sílabas são longas ou breves. Duas
sílabas breves eram pronunciadas no mesmo espaço de tempo
rm que se pronunciava uma longa - Quintiliano dizia que
até as crianças sabiam isto: - "Longa esse diwrum tempo-
rnm brevem imius etiam pueri sciunt. (5)
Uma sílaba é longa quando tiver uma vogal longa ou
um ditongo. Exemplo: cu-ro; prae-da.
A sílaba é breve quando tiver uma vogal breve. Exem-
plo: f a-cT-o. -
A sílaba pode ser longa ou breve, de acôrdo com a posi-
Qão que ocupa na palavra. Nestas condições podemos esta-
b..:Iecer as seguintes regras:
a) A sílaba em que houver vogal seguida de outra
Yogal, um ditongo ou h, é breve. Exemplo: - pigritia,
âac, clctraho;

(4) QUINTILIANO - I.0., IX, 4, 47.


(5) ROMERO, Nelson - O argumento histrico e a pronúnc-ia
do Latim. Rio de Janeiro. 1947.
-216-

b) A sílaba em que houver vogal de x ou de duas con-


soantes, é longa por posição. Exemplo: - contortus. Se a
segunda dessas consoantes fôr l ou r, a sílaba é, geralmente,
breve na prosa, e ancípiete (comum), isto é, breve ou longa,
no verso. Exemplo: - volucris ( =vó-lucris). No entanto,
existe simulãcrum.

Acentuação - É de suma importância que o aluno


aprenda, logo nas primeiras aulas, as principais regras
sôbre a acentuação latina e que podem ser resumidas nas
seguintes: -
a) Não há, em latim, palavras oxítonas, isto é, nunca
a acentuação recai na última sílaba. Assim, nas palavras
de duas sílabas, a acentuação deverá recair forçosamente na
primeira sílaba. No entanto, algumas palavras como illic,
produc, que perderam a vogal final conservam o acento
como se estivessem completas. Assim, pronunciamos illíc,
prodúc, porque antigamente eram illice, produce;
b) o acento tônico está sempre na penúltima ou ante-
penúltima sílaba da palavra;
c) o acento tônico vai para a penúltima sílaba quando
esta fôr longa, por natureza ou por posição. Exemplo: •-
curo; puélla;
d) se a penúltima fôr breve, a acentuação vai para o
ante-penúltima quer seja breve, quer seja longa. Exemplo:
- conficio, (=conficio), confieis ( =cônficis).
e) As enclíticas -qite, -ce, -ve, -ne fazem com que o
acento tônico recaia na sílaba que precede a enclítica.
Exemplo: - mensaque ( =mensáque) ; fl1tmi-nave ( =flu-
mináve).

Pronúncia restaurada - Em alguns países de língua


românica, como ocorreu na França, deixaram de ser obser-
vadas as regras da acentuação latina e, além disso, vogais
e consoantes foram consideradas em função do francês. Essa
deturpação da pronúncia latina foi assinalada por L. Clé-
dat, ( 6 ) num prefácio ao opúsculo de Waltz sôbre a pro-
núncia do latim, quando diz textualmente: - "Parmi les
peiiples civilisés, e' est nous qui avons le plus déformé le
(6) CLÉDAT, Léon - apud WALTS, René - Maniiel é!émen-
ta-ii'e et pratique de Prononciation du Latin, pág. VI.
- 217-

latin; le~ étrangers qui citent du latin se comprennent entre


eux, mazs ne sont par compris par les Français - non -
linguistes - qui sont eux-mêmes incapables de se faire
entendre."
Se os franceses chegaram a ler Cícero . ( =" Cicerô" ou
mesmo "Cecerôn" ( ! ! !) , como nos informa Marouzeau,7)
não obedeciam às mais elementares regras de pronúncia, em
qualquer fase da evolução da língua latina. Cicerôn não é
latim nem na chamada pronúncia tradicional francesa, nem
em qualquer outra. Não era somente na França que se
cometiam êsses atentados à pronúncia do latim, porque em
outros países, como na Inglaterra, também se procurava ler o
latim revestido de matizes da língua vernácula.
Era preciso reagir contra esta situação e para os que
não observavam as mais elementares noções da prosódia
latina, só poderemos qualificar de benéfíco qualquer movi-
mento que procurasse restabelecer a pronúncia do latim
numa fase de sua história.
Alexander Ellis, (8 ) presidente da Philological Society
professor do Trinity College de Cambridge, publicou, em
1874, um trabalho intitulado "Practical H ints on the Quan-
títative Pronunciation of Latin". Êlsse livro, como nos diz
o próprio autor na Introdução, foi o resultado do Syllabus
of Latin Pronunciation do qual participaram os professôres
Munro, de Cambridge e Palmer, de Oxford. A matéria é
apresentada sob a forma de artigos, ao todo 140, e os artigos
113 e 114 referem-se à maneira como se deve ler o latim
antigo.
Dois anos depois, o professor Friedrich Ritschl, ( 9 )
um dos editôres do Rheinisches Mitseum für Philologie, escre-
veu um artigo sôbre a "Nossa pronúncia hodierna do Latim"
no qual começa aludindo ao direito, que tinha, de falar numa
reforma da pronúncia do latim: - "Freilich haben Sie
Recht, sehr Recht, dass unsere herkommliche Aussprache des
Latein eine der Reform durchaus bedürftige ist". Nesse
trabalho, não teve êle a atenção voltada para o som que repre-

(7) MAROUZEAU, J. - Kikéro nous parait drôle? Que dire


alors de Cicéron (= si c'est rond)? - Pronuntiation... p. 17.
(8) ELLIS, Alexander - op. cit. pag. 8.
(9) RITSCHL, Friedrich - Unsere hentige Aussprache de8
Latein - RMPh, XXXI, pag. 48-A.

15
- 218 -

sentavam as consoantes, mas para a acentuação e a quanti-


dade: - "Ich denke im Augenblick nicht an so verhiilt-
nismiissig 1mtergeordnete, bloss einzelne consonantische La1de
betreffende Dínge, wie dass wir dezem dezimus, eziam nun-
zius, f enio f otum sprechen: das liisst sich, so falsch es ist,
zur Noth ertragen. Das Durchschlagende fiir clie Aiisspra-
che sind Accentuation und Quantitiit".
No princípio da segunda metade do século passado, apa-
receu na Inglaterra, um panfleto do professor Trübner, inti-
tulado "The Pronuriciation of fatin in the .11ugustian Pe-
riod", que mereceu uma recensão de Postgate, ( 10 ) no qual
foi dito: "For years the prevailing pronunciation of Latin
in England has been condemned by all competent judges;
and still it has been thought a hopeless task to supplant it."
É urna prova de que não era só deturpada, porque na Ingla-
terra, ela era anglicanizada. Por isto, Postgate recomendou
certa prudência, pois não seria possível mudar tudo duma
só vez: - "With the best inientions it is únpossible to
change he whole of oiir pronunciation siiddenly. B11t the
ideal should be always kept in view, and fresh advances
continually made. To come to details, we see a very large
proposition of the difficulty of the ref orrncd pronimciation
arises not from the f act that we do not possess the equiva-
lent sounds in English; but f roin the f act that the Latin
letter usually a different vaiue in English." ( 11 )
O esquema de Trübner foi recomendado pela Cambridge
Philological Society e pela Oxford Philological Society. que
reconheceram nêle, um meio prático de coibir a introdução
de modalidades peculiares à língua vernácula na pronúncia
do latim.
Êsse trabalho de Trübner deve ter sido o resultado do
livro de Ellis e da obra fundamental de Seelman ( 12 ) "Die
Aussprache des Latein", que aparecera dois anos antes, em
1885. Nesse livro, que assinala um marco para o estudo da
fonética latina o autor assim se expressa: -

(10) PosTGATE, J. P. The Refonnel Pronunciation of Latin


- CRI, 40.
(11) POSTGATE, J. P. - op. cit. pag. 41.
(12) SEELMAN, Emil - op. cit. pag. 4 (conservamos a orto-
grafia original e assim não escrevemos os substantivos com
maiúsculas).
- 219 -

"Alle jene historischen hiilfsmittel sollen ttns nicht erst


die bekanntschaft der fraglichen laute verschaf f en, sondern
11 ur zn einer wiedererkennung derselben anleiten! D,ie
kenntniss cler lante selber niuss uns durch die lautphysio-
logie von vornherein gegeben sein."
Depois de tratar do acento e sua recomendação, da
quantidade das vogais, do vocalismo e do consonantismo, no
capítulo final apresenta-nos os oito seguintes itens: ( 13 )
1 - 'fôdas as sílabas tônicas devem ser menos fortes,
tôdas as sílabas não acentuadas, ao contrário, devem ser
realçadas mais fortes do que em alemão ; sílabas tônicas,
além disso, devem ser pronunciadas com voz relativamente
mais alta de que as átonas;
2 - N"enhuma sílaba, no interior da palavra, deve deixar
de soar com um som ou frictivo, a não ser que a primeira
parte seja uma geminada. Deve-se empregar por isto, na
linguagem, cuidado especial na separação das sílabas do
latim, caracteristicamente diferente, nas suas relações de
geminação, que ambas dão um cunho estranho ao idioma.
3 - As cordas vocais devem ser distendidas para soar
desde o princípio, quer dizer, já antes da posição adaptada
,\ articulação os órgãos vocais em função. Em tôda a parte,
exceto no d final, nas médias e líquidas, deve ser clara e
plenamente expressa a plosiva, que dizer, o som plosivo
( Bliihlaut).
4 - Vogais iniciais devem ser pronunciadas com fraca
aspiração, não seguindo a maneira alemã com um som esta~
lante que acompanha o rompimento de um momentâneo
fechar da laringe. Se precede um h, essas vogais devem ser
pronunciadas com a aspiração mais forte.
5 - Vogais fortes iniciais não devem ser aspiradas à
maneira alemã, porém a corrente epiratória unida ao som
da voz, deve romper o fecho do órgão: - momento que
àeve ser observado principalmente na pronúncia de uma
muta + líquida inicial. Deve-se introduzir entre ambos,
um som semelhante vocálico deslizante, como é ouvido talvez,
entre gºn ou gºr em palavras como gnade e grade na pro-
núncia de alguns alemães do norte.

(13) SEELMANN, Emil - op. cit. pág. 372 e 373.


- 220 -

6 - Consoantes finais, quando o desenvolvimento as


demonstrou como fracas, devem ser pronunciadas com rela-
xamento do órgão e só ligeiramente: - fraco é o t, d, m
de terminações breves e, ao mesmo tempo, átonas, fortes ao
contrário, em tôda a parte l, r, n. O s devia ser pronunciado
fortemente na época clássica, também entre vogais. Além,
disso, consoantes finais com inicial vocálico devem ser imper-
ceptivelmente ligadas e fundidas. Antes de consoantes,
devem ser articuladas ainda mais fracamente do que de
costume.
7 - Na articulação das vogais, a bôca deve procurar
conservar um ângulo relativamente menor dos maxilares do
que os idiomas germânicos; da língua deve funcionar arti-
culatoriamente só a costa alargada média e anterior; os pala-
tais latinos têm, por isso, sua oclusão mais para a frente do
que os alemães: produz-se com isso ao mesmo tempo, um som
mais claro e mais brando. Também nas dentais deve ser
conservada a ponta da língua indiferentemente atrás dos
dentes inferiores, elas devem ser formadas com a costa ante-
rior curvada da língua, quer dizer, igualmente dorsal.
8 - Em geral, vogais longas têm um som relativamente
fechado, vogais breves, um som mais aberto.
Raphael Kühner já havia publicado em 1877, a Aus-
führl.iche Grammatik der Lateinischen Sprache, em três volu-
mes, sendo que nas 133 primeiras páginas do primeiro volu-
me, encontramos um estudo sôbre a pronúncia das consoantes
e vogais nas diversas fases da língua latina.
F. Sommer escreveu o "Handbuch der Lateinischen
La1" und Formenlehre", cuja primeira edição apareceu em
1902, o qual deve ser considerado um prosseguimento da obra
de Selman para o restabelecimento da fonologia da língua
latina. Os capítulos dedicados à qualidade das vogais e ao
acento são de valor inestimável.
A pronúncia do latim foi também objeto de estudo na
"Lateinísche Grammatik" de Friedrich Stolz, e J.H. Schm-
malz. No capítulo intitulado "A1tssprache des Latein, en-
contramos a indicação do som que representava cada vogal,
de acôrdo com a respectiva quantidade. Os autôres (1 4 )

(14) STOLZ & ScHMALZ -, Lateinisehe Grammatik 4• ed.


pag. 36.
- 221-

acentuam que o e e o g tinham originàriamente, mesmo


antes de e e i, o som palatal: - "e g waren ursprünglich
such in der Stellung vor e und i V erschlusstaute prãpalata-
len Charakters ( in den übrigen Stellungen waren sie post-
1

palatal oder noch genauer vor a mediopalatal.)

Esquema de Oxford e Cambridge - Todos os traba-


lhos, acima mencionados, apareceram antes de 1903. Em de-
zembro de 1905, numa reunião conjunta de membros da
Oxford Philological Society e da Cambridge PhilologicaL
Society, na qual foram intérpretes das duas sociedades, res-
pectivamente os professôres Joseph Wright e Postgate ficou
estabelecido por decisão de três quartos dos presentes que
devia ser elaborado um esquema da pronúncia somente com
sons latinos. ( 15 )
Um ano depois, foi aprovado o seguinte esquema pelas
Sociedades Filológicas de Oxford e de Cambridge :
Quantidade - Na pronúncia da quantidade das vogais
deve ser estritamente observado: lãbor, não como o inglês
lãbour; mfoor, não como o inglês mãnor; nota, não como o
inglês nõte. Isto é essencial para apreciação adequada na
prosa, do som, rítmo, e distinções de significados (lãbor,
labor) e no verso, a distinção do metro.
Vogais - É a seguinte a pronúncia aproximada das
vogais: - ã- ( prãtum) como o a de "fãther" não como o
ã de "mãte".
ã - (rãpit), o mesmo som, porém curto, como o a
de ãha.
ê (meta), como o alemão em "nehmen", não
como ee em rneet.
e - (freta) como o e de fret, não como ee d@
rneet.
i - ( fido) como ee em f eed (Fr. ie em amil), não
como i em fine.
i - (plico), como i em fit, não como o i em fine.
õ - (nõtus) como o o em Rõma.
õ- (nota), como o o de nõt (Fr. o em botte) não
como o o de nõte.

(15) Cf - CR XIX, pag. 43-A.


- 222

ü - ( tüto), como oo em shoot ( Ital. u em lüna),


não como o u de acute.
ií - (cu.tis), como n em f ull, não como o u de
acciirate, nem como o u de shún.

Ditongos ~ Os sons dos ditongos podem ser reprodu-


zidos pela união dos sons vocálicos unidos na pronúncia,
sendo o segundo pronunciado com maior rapidez.
Os mais importantes são:
ae - (portae) = a +, quase como o ai em Isaiah (pro-
núncia aberta), Fr. énwil, não como o a em lãte.
au - (aurum) = +a u, como ou em hour (como o ital.
au em fla11to) não como o aw em awful.
oe - (poena) = o + e, quase como o oi de boil, não
como o ee em f eet, não como o a em late.

Recomendando êsses sons para ae e oe, as Sociedades


orientaram-se principalmente em considerações práticas, uma
vez que já por experiência, sabemos que esta pronúncia é de
grande conveniência para os propósitos de aula. Esta foi
a pronúncia do latim primitivo e a distinção era ainda evi-
dente do e (longo) na época de Cícero, ainda que o som
exato então seja difícil de determinar e provàvelmente mais
difícil ainda seria inculcá-lo numa escola inglêsa.

Consonantes. e, g, t, s são sempre fortes.


e ( cepi, accepi), como o e em cat, não como o e em acid
ou accept.
g· (gero, agger), como g em get, não como o g em gibe
ou exaggerate.
t (fortis, fortia), ambos como t em native, fortia não
como em potential.
s (sub, rosa, res), como s em sit, ou sit, ou ce em rase,
não como o s em rose ou raise.

i e it consonântico.
i (j), jacio, como y em you, não como o j em Jack.
- 223 -

u (v), i,olo, pràticamente como w em we (Fr. 01t em oui),


não corno v em very.
r é sempre vibrante, mesmo no meio e no fim das pala-
vras, rarns; parrna, datur (não como o inglês palmer,
hatter).
As consoantes dobradas, como em vacca, Metellus, devem
ser pronunciadas como em Italiano.

A. questão da pronúncia na França - Na França, J.


Marouzeau, é o maior defensor da pronúncia restaurada e
assim resume as principais regras: -
a) Não existem j, v bem como o grupo gn com o
som nasalizado do francês agneau;
b) z só existe em palavras gregas;
c) u deve ser sempre pronunciado u;
d) oii, ae, oe, au, eu, ditongos reais, devem ser
pronunciados como ditongos;
e) e, g, t devem sempre ser pronunciados como
diante de a;
f) rn, n, articulam-se depois da vogal;
g) h é aspirado no princípio das palavras.

No resumo das regras da pronúncia, Marouzeau nenhuma


referência faz ao timbre das vogais, que varia conforme
sejam breves ou longas. O gramático latino Sérvio dizia que
e e o soavam diferentemente, quando longas ou breves:
"Vocales siint quinque a, e, i, o, u. Ex his duae, e et o,
aliter sonant productae, aliter correptae." Assim, quando
breves, o o e o e devem ser pronunciados abertos, e, quando
longos, o, e, devem ser fechados.

Pronúncia das vogais - Adotada a pronúncia recons-


tituída ou restaurada, as vogais devem ser pronunciadas da
seguinte forma:
I - a) ã soava como a italiano em padre. Exemplo:
habeo (= hábeo), taberna (= taberna).
b) ã soava como o a inglês em f ather ou a alemão em
Gabe. Exemplo: suãvis ( =
suáavis), ãcer ( = áacer).
- 224-

Observa Kent que ã e ã, parece terem sido semelhantes


quanto à quantidade. Para isto, êle se apoia no testemunho
dos gramáticos latinos e no desenvolvimento dessas vogais
nas línguas românicas, onde a e a não se distinguem.
II - a) O e era pronunciado como "e" aberto em
italiano "bello", o e francês mere ou o e português em
médico. Exemplo: sedeo ( =sédeo), medius ( = médius) ;
b) O é era pronunciado como é francês em bonté, o
e alemão em See, ou o e português em azêdo. Exemplo:
sedulo (= sêdulo), decido ( = dêkido).
III - a) O t era aberto e pronunciado como i inglês
em pin, o i em alemão em wissen, o i português em pino.
Exemplo: mico ( = mico), emfoo ( =êmico).
b) O i era fechado e pronunciado como i italiano em
nido, o i alemão em sie. Exemplo: misi ( =
mízi).
IV - a) O õ era aberto e pronunciado como o "o"
francês em encore, o "o" italiano em dot, o "o" alemão em
Gott e e o português em corte. Exemplo: - lõcus
(= lócus), mõllis ( = mólis) .
b) O õ era fechado e pronunciado como "ou" francês
em "fonte", o "o" alemão em Sohn, e o "o" português em
tôda. Exemplo : - nobilis ( =
nôbilis).
V - a) O ií era aberto e pronunciado como "u" inglês
em full, o "u" alemão em "dunkel" e o "u" português em
cúpido. Exemplo : - Siculiis ( = Sículus) ;
b) O ü era fechado e pronunciado como o inglês em
"fool", o u alemão em Ruder e o u português em "tudo".
Exemplo: - condiwo ( = condúco).

Conclusão - Não podemos deixar de reconhecer o


valor inestimável dos trabalhos realizados com o objetivo de
procurar restabelecer a pronúncia do latim, na época em
que a sua literatura atingiu o ponto culminante.
Os resultados a que chegaram os que como Ellis, Seel-
man, Stolz, Schmalz, Sommer e muitos outros permitiram
que, vozes autorizadas, como as de Postgate e Whrit na
Inglaterra, e Marouzeau na França, se erguessem contra o
descalabro da pronúncia do latim nesses países. O genitivo
- 225 -

singular dornini era pronunciado dorninái pelos inglêses e


domini pelos franceses. Ambas estas pronúncias nunca
foram latinas, em nenhuma fase da evolução da língua. Era
preciso, portanto, acabar com essa inexplicável evolução, que
atentava contra a própria índole da língua.
Nestas condições, podemos concluir que ·a aplicação dos
resultados obtidos na restauração da pronúncia latina
somente deve merecer o aplauso de tôdas os que se dedicam
ao estudo da língua latina. No entanto, como já assinala-
mos, essa restauração é apenas parcial, porque ainda não
conhecemos e dificilmente conheceremos o acento de altura
que, naquela época era considerado a alma da palavra.
Apesar disso, porém, essa pronúncia restaurada, embora
parcialmente, é muito mais compatível com o gênio da língua
latina do que as pronúncias regionais adotadas então na
França e na Inglaterra.
Felizmente a nossa pronúncia do latim não apresenta
os mesmos defeitos da adotada em outros países, como na
França e na Inglaterra, porque a recebemos através de tra-
dição oral e não modificamos a posição do acento. Com o
aparecimento das línguas românicas o latim continuou a
ser usado como instrumento de cultura. ·Quando os sábios
deixaram de se utilizarem do latim para escrever as suas
obras, a Igreja Católica tornou-se a única depositária e con-
seguia conservá-la imune a essas deturpações regionais.
Se a chamada pronúncia tradicional do latim, adotada
pela maior parte dos professôres brasileiros, estivesse trans-
figurando o latim realmente falado numa fase de sua histó-
ria, seríamos os primeiros a reconhecer as vantagens de ado-
tarmos as restaurações parciais da pronúncia do preíodo de
Augusto. Não é êste, porém, o nosso caso. Embora a nossa
pronúncia não seja a do período clássico, temos a nosso
favor a circunstância de sabermos não ser ela fictícia, mas
ter existido numa época em que o latim ainda era língua
falada pelo mosmo povo que outrora a utilizava para contar
os seus grandes feitos.
O professor Erneto Faria, catedrático de Línguas e
Literatura Latina da Faculdade Nacional de Filosofia é
defensor da pronúncia restaurada e sôbre êste assunto pu-
blicou vários trabalhos. No entanto, verificamos que recen-
temente demonstrou reconhecer certa vantagem de ser ado-
tada, em nossas escolas secundárias a grafia de v e j em
lugar de 1t e i, como poderemos observar no seu Dicfoná-
- 226 -

rio, ( 16 ) publicado pelo Departamento Nacional de Educação.


Só temos motivo para felicitar o professor Faria, por essa
medida, de carater didático em favor do latim, mas achamos
que êle foi até excessivo, pois a supressão do simbolo ramista
j em favor do i não acarreta dificuldade aos discípulos.
A pronúncia restaurada tem o seu mérito com relacão
aos franceses e inglêses, mas não deixa de ser fictícia e ~té
pode ser comparável a um todo formado com o tronco e os
membros duma pessoa e a cabeça de outra. O tronco e os
membros representariam os traços característicos do cidadão
romano da época de Augusto e a cabeça simbolizaria o dono
dêsse corpo falando o latim com o sotaque e a entonação da
época de Santo Agostinho.
Além disso, queremos salientar que, sob o aspecto didá-
tico, a pronúncia tradicional é muito mais fácil de ser uti-
lizada pelos estudantes da língua portuguêsa, do que a res-
taurada. Numa época em que sentimos ser ponderável a
corrente dos que se insurgem contra o ensino do latim sob a
falsa alegação de que os alunos deverão dedicar-se às disci-
plinas de caráter prático e de utilização imediata, conside-
ramos além de desnecessário, uma temeridade querer levar
os nossos discípulos a pronunciar "iiolui" para indicar a
primeira pessoa do pretérito perfeito de valo e do presente
do indicativo de volvo.
Estamos convencidos, através de experiência feita entre
os nossos próprios alunos, que êles encontram dificuldade
em se familiarizar com as regras da pronúncia restau-
rada, ao passo que, em poucos minutos de explicação, ficam
eapacitados de ler, sem êrro, qualquer texto latino, desde
-que seja, apenas, indicada a quantidade da penúltima sílaba.
Queremos, ainda, observar que, adotada a pronúncia restau-
rada, é preciso pronunciar cada vogal com a respectiva
-quantidade, o que não pode ser fácil até para os que lidam
com o latim há algum tempo. Fazemos essa observação para
afastar a impressão de que a pronúncia restaurada fica
reduzida ao som palatal de e, à pronúncia de ae e oe como
ditongos e à supressão do j e do v. Se assim fôsse, a figura
que imaginamos atrás para reproduzir essa pronúncia deve-
ria ser alterada porque teríamos apenas o tronco de uma
pessoa com a cabeça e os membros de outra.
(16) FARIA, Ernesto - Dicionário Escolar Latino-Português.
Departamento de Educação do Ministério de Educação e Cultura.
- 227 -

Ullman, ( 1i) no trabalho já citado sôbre a Pronún-


cia do latim, diz que deve ser óbvio, para qualquer pessoa
que raciocine, não ser tão importante a aquisição de uma
pronúncia absolutamente correta do latim, quanto das lín-
guas modernas. Por isso, devemos nos satisfazer com uma
pronúncia razoàvelmente correta. Minha tese, diz êle, é que
devemos tornar a pronúncia do latim uma coisa fácil. Não
podemos encontrar um caminho mais certo de matar o latim
nas escolas do que êste de tornar sua pronúncia tão difícil,
quanto a das línguas modernas.
Diante dessas considerações, embora reconhecendo a
necessidade da adoção da pronúncia restaurada para outros
povos como o francês e o inglês, recomendamos aos nossos
professôres de curso secundário do Brasil a chamada pronún-
cia tradicional do latim, porque é uma pronúncia que
realmente existiu numa fase da língua latina, porque é mais
fácil de ser aprendida pelos estudantes de língua portuguêsa
e com a qual podemos melhor argumentar a semelhança e
o parentesco das formas latinas e portuguêsas.

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(17) ULLMAN, B. L. - "It ought to be obvious to any


thinking person that the achievement of an absolutely correct
pronunciation is not nearly so important in Latin as in the modern
languages, and I shall not take time to argue that point. There-
fore we should be content with a reasonably correct pronunciation.
My thesis is that we should make the pronunciation of Latin an
easy thing. We can find no surer way of killing Latin in the
schools than by making its pronunciation as difficult as that of
the modern languages". - op. cit. CJ. XXIII, 27.
- 228 -

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WALTZ, Revé - Manuel élémentaire et pratique de Pronunciation
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II PARTE

Noções sôbre a vida privada dos romanos


I

A EDUCAÇÃO ENTRE OS ROMANOS

Aspecto geral - O Estado Romano não intervinha


na educação da juventude, pois isto era atribuição exclu-
siva da família.
Nos primeiros tempos, o ensinamento consistia em. ler,
escrever e contar.
Era absoluto o poder do paterfamilias sôbre os filhos,
pois lhe era facultado usar do ius vitae necisqite. Assim,
poderia êle expor - exponere - os filhos recém-nascidos,
que, geralmente, morriam de inanição ou eram recolhidos
por cidadãos, que, via de regra, os exploravam sob todos
os aspectos.
Se, porém, o pai desejasse reconhecer - suscipere - o
filho como elemento integrante de sua família, deveria
conferir-lhe o nome numa cerimônia religiosa. Era o dies
lustricus, que coincidia com o nono dia do nascimento para
os meninos e com o oitavo, para as meninas. O ato consistia
num sacrifício doméstico ou numa apresentação ao templo,
realizando-se, em seguida, uma refeição.
Os romanos eram supersticiosos e, por isto, cuidavam
de proteger os filhos contra os malefícios, ou melhor, contra
o que se chama de maus-olhados: - f ascinatio. Com
esta finalidade, penduravam no pescoço do recém-nascido
uma medalha redonda ou em. forma de coração - bulla -.
Os meninos a conduziam até o dia em que vestiam a toga
virilis, e as meninas, até o dia do casamento.
Não havia, na República, a obrigação de declarar o
nascimento do menor perante qualquer autoridade. Foi
Marco-Aurélio quem tornou obrigatória a declaração feita
- 232 -

pelo pai dentro de trinta dias após o nascimento, o que se


fazia, em Roma, perante o praefectus aerarú'., e nas pro-
víncias, perante os tabularii publici.

Ensino primário ~ A instrução primária ou elementar


era ministrada pelo litterator; a secundária, pelo gramma-
ticus; e a superior pelo rhetor.
O ensino primário era ministrado na escola do ludi
magister, pessoa que se contentava com o pagamento de
modestos honorários. As lições eram dadas em locais
inadequados - tabernae, pergolae - e até ao ar livre. O
professor sentava-se na cathedra e na sella e os discípulos,
em bancos individuais. O ensinamento consistia em leitura,
caligrafia, aritmética e recitação da Lei das XII Tábuas.
Os meninos iam para a escola acompanhados de um paeda-
gogus, isto é, de um escravo, que conduzia o material escolar.
As punições eram severas.

Ensino secundário - O ensino secundário ficava sob


a direção do grammaticus, que o ministrava em casa ou em
escola pública, mantida por particular. Os autôres estu-
dados eram Homero, Lívio Andronico e Ênio. Posterior-
mente, a partir de Augusto, os autores recomendados pas-
saram a ser Virgílio, Cícero e Salústio. A idade em que
os alunos freqüentavam a escola do grammaticus variava
entre 11 ou 12 e 16 anos, e todos êles de lá saíam conhe-
cendo perfeitamente o latim e o grego. Não havia o
ensino de história nem de geografia, como disciplinas,
mas todos os ensinamentos referentes a elas eram mm1s-
trados em função dos textos, objeto de estudo.

Ensino superior - O ensino superior tinha por obje-


tivo preparar os jovens para a vida pública. Era a época
em que os adolescentes vestiam a toga virilis. Compreen-
dia quatro ou cinco anos de estudo profundo de eloqüên-
cia, através de exercícios práticos sob a forma de suasoriae,
com a finalidade de persuadir, ou de controversiae, que
eram discussões sôbre teses contrárias, defendidas por dois
estudantes.
As discussões perante o rhetor eram públicas.
II

A CASA ROMANA E SUA ORNAMENTAÇÃO

A casa - A casa romana compunha-se de duas partes:


na primeira, e, geralmente no centro, ficava o atrium
e na segunda, o peristylum.
Entrava-se na casa - domus - pela porta - ostiiim,
aditus, que dava acesso ao vestibulum, onde costumavam
ficar os clientes, que, pela manhã, iam saudar o dominus.
O atriitm era a parte que ficava por baixo de uma
grande abertura no interior da casa, onde havia recipiente
adequado a receber a água da chuva. No atrium ficavam
as imagens de cêra dos antepassados, estátuas e medalhões.
Logo na entrada, estava situado o lectus genialis. Ali se
processavam a vida da família e as atividades domésticas.
As alae eram duas peças localizadas, nos dois lados
opostos do atrium, cuja principal finalidade consistia em
fazer penetrar o ar e a luz.
O tablinum estava colocado entre o atrium e o peristylum,
servia de gabinete de trabalho do proprietário ; dava acesso
ao perist·ylum, que é um pequeno jardim cercado por um
pórtico sustentado por colunas.
A exhedra era uma sala espaçosa colocada no pórtico
na extremidade de peristilo, oposta ao tablinum.
Os quartos - cubicula - eram voltados para dentro
e só recebiam a iluminação vinda do átrio ou do peristilo.
Os quartos situados em tôrno de peristilo eram maiores e
mais altos.
O triclinium servia de sala-de-jantar e foi introduzido
por influência grega, que consistia no hábito de tomar
refeição deitado.
Ás tabernae eram pequenas farmácias, que se localizavam
em tôrno do átrio.

16
- 234-

As escavações de Pompéia permitem-nos observar as


diversas partes de várias casas, que os romanos construíram
antes da nossa era.
Convém salientar que êles distinguiam duas espé('.Íl'S
dP. construções: - a villa urbana, localizada na cidade (•
a villa rustica, que era uma espécie da fazenda.

Ornamentação e mobiliário - As paredes das casas


eram revestidas de fazenda ou de pinturas. A pavimenta-
ção era de mosaico, muitas vêzes de rica execução.
As diversas peças da casa, de dimensões restritas, não
comportavam muitos móveis, como acontece com as habitações
hodiernas. Na verdade, somente o atrimn e o tablinum,
onde a família costumava reunir-se e receber os amigos,
eram peças relativamente amplas.
Os objetos domésticos eram guardados em móveis par-
ticulares como armários - armaria -, caixas ou cofres
- capsae -, cestas - cistae -, caixas - scrinia.
O mobiliário, de modo geral, podia ser denominado pelo
coletivo supellex. Todavia, costumavam os romanos distin-
guir o instrumentum domus, material destinado à proteção
- ad tutelam domus e os objetos de uso pessoal dos membros
da família ad voluptatem.
Dentre os instrumenta podemos citar os vela,ci lici'.a,
usados para proteger os tetos das intempéries.
Os romanos não conheciam o uso das vidraças nas
janelas, mas empregavam, para êsse fim, uma pedra apro-
priada - lapis specularis.
Nos cubicula ficavam as camas - lecti, que serviam
para dormir - lectus cubicularis, e também para trabalhos
noturnos, uma espécie de divã - lectus lucubratorius. O
hábito de tomar refeições quase deitados fêz com que se·
criasse o leito triclinário, que era mais baixo e, geralmente,
muito bem decorado.
O lastro da cama era de madeira retangular - sponda,
apoiada por quatro e raramente por seis pés. Por cima
dêsse lastro, havia uma cabeceira de madeira apoiada na
parede - pl.uteus - e um suporte na cabeça - fulcrn,m.
As camas das pessoas ricas eram encrustadas com ouro e
marfim, mas as dos pobres eram simples - grabatus, scún-
podi.urn - e não tinham pl1!teus nem f ulcrurn. Por cima
do lastro, entrelaçado com correias - institae, f asciae, lora
- 235 -

- ficava um colchão - culcüa, torus - e travesseiros --


pulvini, cervicalia. O colchão e os travesseiros eram cober-
tos por um lençol -- peristromata, stragula, strarnenta - ,
por cima do qual costumavam colocar uma colcha de linho
plagula, toral.
Havia três espécies de cadeiras: - o simples banco
ou tamborete de quatro pés - scamnurn, subselliicm; a
cadeira de braços - sella.; e a cadeira com encôsto alto
- cathedra, que era o assento adequado às mulheres. Dife-
rentemente desta última, era a cátedra magistral, que tinha
um encôsto reto.
As mesas possuíam várias formas, desde os simples
consolos - abaci - empregados para receber as baixelas
até as mesas - mensae - de var10s pés. As mesas de
apenas um pé - monopodia - eram raras e consideradas
preciosidades.
A _iluminação se processava por meio de archotes -
taedae, faces - , velas - candela.e - e lâmpadas a óleo
- liccernae - ou, ainda, lanternas - lanternae.
Os romanos utilizavam o espelho como ornamento
apropriado às mulheres, que o incluíam como peça de sua
toilette.
O dia real, ou melhor, o tempo em que o sol ficava
acima do horizonte, era dividido em doze horas - horae
- iguais, de modo que as horas de inverno eram de menor
duração do que as de verão. Os objetos usados para a
medição do tempo era o solar·iurn, por meio do sol, e o
horologium e clepsydra, por meio da água.
Segundo Ideler ( 1 ), a altitude de Roma sendo -n ° :i4
N, o dia, de acôrdo com as estações, tinha as seguintes
durações:

23 dezembro 8 horas
,, 54 minutos
,,
6 fevereiro 9
,, 50
23 março 12 ,, o ,,
9 maio 14 10 ,,
25 junho 15 ",, 6
,,
10 agôsto 14 ,, 10
25 setembro 12 ,, ,,
9 novembro 9 50
(1) lDELER - apud M'arquardt; - La Vie Privée des Romains
Tradução de V. Henry. II, 302.
III

A VIDA COTIDIANA. AS REFEIÇÕES

Primeiros atos: - a "salutatio" - Os romanos levan-


tavam-se cedo. Ao raiar do sol, os filhos e os escravos
dirigiam-se ao chefe da casa e com êles faziam o SACRIFÍCIO
e a PRECE. Logo a seguir o dominus recebia os clientes,
aos quais dava conselhos e ensinamentos. Era a cerimônia
da salutatio. Os clientes saudavam o dominus com as pala-
vras: ave, domine! ou salve, domine! Muitas vêzes havia
verdadeiro desfile de clientes diante do patrão, que recorria
ao nomenclator, se quisesse saber os nomes dos que não
guardava na memória. A audiência destinada à sal.utatio
durava até a segunda hora, o que correspondia a 8 h 13 no
verão, e 9 h 46 no inverno, pois a partir da terceira hora,
isto é, às 8 h 13 no verão e 9 h 46 no inverno, começavam
as audiências na justiça. Os sacrifícios e as solenidades
sociais da família, as núpcias, a festa da colação do nome,
o recebimento da toga eram realizados logo cedo, prima
luce. Podemos dizer que as visitas de felicitações, as de
condolências, as atividades profissionais se processavam
antes do meio-dia.

O café da manhã. - O café da manhã chamava-se


- ientaculumj o almôço, prandiumj e o jantar cena. Ante-
riormente o almôço era denominado cena e o jantar, ves-
perna.
O ientaculum, servido no decorrer da terceira hora,
constava de pão ensopado no vinho ou misturado com mel,
tâmaras, azeitonas, bolos e queijo. Havia grande variedade
de pães: - O pão prêto - panis acerosus, castrensis, ple-
beius, rusticus - ; pão de rala - panis secundarius; pão
branco - panis candidus, mundusj pão de trigo puro -
panis siligineus.
- 237

O almôço - O prandium realizava-se ao meio-dia e


constava de frios, peixe, carne, legumes, frutas e vinho.
Os cereais e legumes mais empregados eram os seguintes:
lentilhas - lentes -, favas - f abae, - ·tremoços -
lupini, - couve - brassica, caulis -, grão-de-bico -
ciceres, - alho porró - porrirm, - alface - la,ctuca.
Dentre os bulbos e raízes, destacavam-se; a cebola - caepa,
o alho - allium, rabanete - rapa, nabo - napus, rabão-
de-cavalo - raphanus etc ..
As frutas usuais eram: maçã - malum, pêra - pirum,
- ameixa - prunitm, uvas - 1ivae, - cereja - cerasum,
- noz - nux, - castanha - castanea, - amêndoa
nux, amygdala.
Os romanos eram carnívoros e comiam carne de boi
caro bubula -, carne de vitela - caro vi.tiilina - carne de
carneiro - caro agnina - carne de porco - caro suilla.
Comiam, ainda, carne de veado - cervus - de burro
selvagem - onager, e uma espécie de preá - glis. A
carne podia ser assada - assata, cozida - elixa, no espêto
- in verubus, na grelha - graticula, na brasa - in prunis.
As aves também eram apreciadas, destacando-se o fenicóp-
tero ou flamingo -- phoenicopteriis -, cuja língua cons-
tituía delicioso prato, a cegonha - ciconia, o pavão - pavo.
Os peixes eram conservados em salmoura genes, maenae;
os mais freqüentes nos cardápios eram os seguintes: -
a muréia - muraena, o sargo - mugi.l, mullus, o escaro
- scarus, o esturjão - aci.penser.
Um dos pontos característicos da cozinha romana, como
acentua Paoli (2) é o emprêgo ilimitado de môlho de peixe
- garum, não preparado na ocasião de ser servido, mas
feito através de longo processo. Êsse môlho também tinha
o nome de allec, li.quamen, oxygarum, muria. O sabor
dependia da qualidade dos peixes empregados na sua pre-
paração.
A merenda era uma pequena refeição entre o almôço e
o jantar.
A parte depois do meio-dia era destinada à sesta -
meridiatio, às diversões, aos exercícios ginásticos no Campo
de Marte e ao banho. Os exercícios consistiam em jôgo de
péla - pila, bola - gollis, jôgo de bola em que os jogadores

(2) PAOLI, op. cit. pág. 180.


- 238

se dividiam em dois campos - sphaerornachiae e jôgo de


bola de três jogadores - tn:gonaria.

Os banhos - A hora habitual do banho era entre a


oitava e a nona, isto é, entre 2 h. e 5 h. 02 no verão e entre
1 h. 29 e 2 h. 58, no inverno.
Os romanos preferiam o banho quente, que serve para
relaxar os músculos. Ricos, pobres e escravos costumavam
banhar-se diàriamente. Nos primeiros tempos, êles costu-
mavam lavar tôdas as manhãs os braços e as pernas, e
somente se banhavam de oito em oito dias. Alguns ba-
nhavam-se no Tibre e outros, num compartimento da casa,
perto da cozinha - lavatrina. Somente quando foi genera-
lizado o uso dos banhos quentes é que as salas de banho
- balnea - passaram a figurar nas habitações. Datam do
II século a. C. os primeiros balneários, organizados pela
comuna ou por um empreiteiro e entregues a um conductor,
sob certas condições. A entrada para os banhos era paga e
o preço variava em tôrno de um quarto de asse - quadrans,
para os homens. Os meninos tinham entrada livre. Na
época do Império os banhos constituíam motivo de prazeres
faustosos. Êsses estabelecimentos de banhos públicos eram
geralmente denominados thermae, que se compunham das
seguintes partes: - o apodyterium, o frigidarium, o tepi-
darium, o caldarium.
O apodyterium era o vestiário, onde os banhistas deixa-
vam as roupas depositadas em pequenos compartimentos
existentes nas paredes.
O f rigidarium ou cella f rigidaria era a sala dos banhos
frios onde havia uma espécie de piscina, cisterna, baptisteri-
um. Esta sala, via de regra, não era grande e ficava por
baixo de uma cúpola. Também era utilizada para êsse
fim a piscina comum da palaestra, que ficava ao ar livre.
O tepidariitm era o local em que os banhistas transpi-
ravam e se preparavam para suportar a mudança de tem-
peratura existente entre o caldarium e o frigidariwrn.
O caldarium era a sala de banho quente, a maior de
tôdas, onde havia diversas tinas - alveus, porque antiga-
mente só se tomava banho de tina, quer isolada, quer
coletivamente. Com o decorrer do tempo, foi introduzido
o banho de piscina - calida piscina. Nesse compartimento
- 239 -

ficava o labrum, espécie de banheira chata, destinada pro-


yàvelmente às duchas frias. O labrum estava instalado num
nicho semicircular - schola.
Algumas termas tinham uma pequena sala destinada a
banhos a vapor - assa sudatio ou sitdatoritlm.
Depois do banho frio e, às vêzes, antes do banho quente
havia o cuidado de secar o corpo - destringere e untá-lo
- ungere, o que se processava no tepidarium ou em locais
especiais - destrictarium, itnctorium. A operação se pro-
cessava por meio de um instrumento especial - strigilis,
concomitantemente com toalhas de linho. Havia um reci-
piente apropriado a guardar os ungüentos - alabastrum.
No fim da República foi introduzida, em muitas termas,
uma estufa sêca - laconicitm, cujo objetivo principal con-
sistia numa terapêutica enérgica contra certos excessos
produzidos por indigestão.
Algumas termas possuíam salas de ginástica - sphae-
risterium ou ephebum, esta última destinada aos jovens. No
interior ou nas proximidades das termas havia tabernas -
popinae, onde os egressos dos banhos encontravam o que
beber ou comer.
Nas termas havia compartimentos destinados aos homens
e outros às mulheres e, quando isto não acontecia, horários
diferentes eram estabelecidos para os dois sexos.
Os banhistas deviam levar objetos de uso pessoal, tais
como a soda - aphronitrum, que fazia o papel de sabão,
toalhas - lintea, sabana. Convém esclarecer que o sapo
era uma tintura para os cabelos. Escravos exerciam di-
versos misteres durante o banho dos domini: um - bal-
neator, ficava a seu lado durante o banho ; outro, - iatra-
liptes, incumbia-se das massagens; outro - alipil1ts, o
depilava.

O jantar - O jantar - cena - era a principal refei-


ção dos romanos e começava uma hora depois do banho, isto
é, na nona hora, o que correspondia a 3, 45 h. no verão
e 2h 15 no inverno. Nos primeiros tempos, tôda a família
comia sentada no atrium. Posteriormente, as refeições pas-
saram a ser feitas num pequeno sótão existente por cima
do tablinum. No entanto, na época clássica, o tri.clinium
passou a ser o local mais adequado para a cena. O nome
triclinium provém da existência dos três leitos que circun-
- 240 -

davam a peça, os quais eram chamados summus, medius


e imus, de acôrdo com a respectiva posição. Em cada leito
havia três lugares que, por sua vez, eram classificados de
locus summus, locus medius, locus imus. Não sabemos ao
certo onde ficava o lugar de honra. O dono da casa ocupava
o locus sumnus in imo. A mesa era, geralmente, retangular
mas também podia ser em forma de circulo - orbes. Assim,
cada triclinium comportava nove pessoas. Na falta de con-
vivas em número suficiente para ocupar todos os lugares,
outras pessoas - umbrae (sombras) - eram chamados para
ocupá-los.
A suntuosidade nos jantares chegou a tal ponto, que leis
chamadas suntuarias vieram coibir os excessos e até disci-
Um recipiente adequado - lagoena - continha vinho,
que podia ser utilizado à vontade; noutro ficava o sal -
salinum, num terceiro, aceta bulum, o vinagre.
A toalha da mesa - mantele - só apareceu no I
século depois de Cristo e o guarda-napo, - mappa - era
fornecido pelo anfitrião; os convivas ficavam numa posição
oblíqua, com o cotovêlo do braço esquerdo apoiado numa
almofada - pulvinar - e os pés voltados para a direita.
Como não se conhecia o garfo, êles comiam com os dedos.
Escravos designados - sc·issores, carptores, structores -
incumbiam-se de decompor os alimentos em pequenas
porções - pulmenta. No entanto, a colher - cochlear,
ligula - era conhecida e muito usada.
A qualidade do material usado na confecção dos pratos
variava muito, desde os feitos de barro de Sagunto - vasa
saguntina, usados pelos menos favorecidos, até os de prata
- argentum escatrium e potorium, de que se serviam as
famílias abastadas. Os copos - pocula, geralmente orna-
mentados, podiam ser de ouro, de murra e apresentavam
grande variedade de forma: largos e sem pé - paterae;
altos e com pés - cálices; em forma de barco - cymbium,
scaphium ou de chifre - rhyton.
Havia o hábito de tomar bebidas quentes, de modo que
o vinho era misturado com água quente tirada de um
vasilhame adequado - caldarium. A fim de tirar as im-
purezas existentes no vinho, era usado um filtro especial -
saccul1ts, colum.
A cena constava de três partes: - a gustatio, a cena
própriamente dita e a secunda mensa.
- 241

Os convivas deviam comparecer com a vestis cenatoria


ou synthesis e sandálias - soleae, diferentes das que aban-
donavam, ao entrar na casa.
A gustatio ou simplesmente gustus eram as entradas,
ou hors d'oeiivre, com a finalidade de provocar o apetite.
Era acompanhada do mulsum, uma mistura de vinho e mel,
motivo pelo qual também se chamava prom1tlsis. Constava
de ovos, saladas e legumes. Daí a razão de haver Horácio
empregado a expressão ab ovo ad mala para indicar "do
princípio a fim".
A cena propriamente dita era a principal parte da
refeição. Nos primeiros tempos e nas famílias pobres havia
apenas um serviço, mas via de regra, podiam constar de
três e até sete serviços, de acôrdo com as posses de cada
um: - prima cena, altera cena, tertia cena. Quando havia
vários serviços, o dominus devia organizar um cardápio para
que os convivas fôssem informados das iguarias, que iriam
saborear. Num determinado momento, se pedia silêncio e
uma oblação era feita aos deuses Lares com a mola salsa.
A cena constava de peixes, carne de aves e de animais
domésticos e selvagens, e grande variedade de vinhos, e pão.
Durante a refeição, os convivas costumavam levantar-se
para provocar vômito e depois voltavam à mesa com maior
apetite para ingerir novos alimentos, como se nada houvesse
acontecido. Devemos esclarecer que, geralmente, êsse gesto
tinha objetivos terapêuticos.
As secundae mensae eram a sobremesa e constavam de
doces, frutas e vinho. Nessa ocasião, estatuetas dos Lares
eram colocadas sôbre a mesa, para que se formulassem
desejos de bom augúrio.
Nos grandes festins, a commissatio seguia-se à cena.
Era o instante em que se bebia desregradamente : - o
rex convivii determinava as proporções de mistura de água
com o vinho.
Em casos especiais, divertimentos eram levados a efeito
para deleitar os convivas, como por exemplo, acontecia com
os tibicines, os ci.tharoedi, os lyristae etc. . ..
IV
A VESTIMENTA DOS ROMANOS.

A indumentária masculina - A matéria-prima usada


na -confecção era a lã; a pele de cabra com que se fabri-
cava um tecido chamado cilicium; o linho, empregado nas
vestes das mulheres e para fazer lenços - sudarium;
o algodão ; e a sêda.
Os homens usavam uma peça interna - tunica, por
cima da qual vestiam a toga, - que era uma espécie de
costume nacional dos romanos. Nos primeiros tempos,
somente a toga era usada, pois em lugar da tunica, havia,
apenas, uma tanga - subligar, subligaculum, campestre,
cinctus. Por cima da toga e a fim de se protegerem contra
o frio, usavam sobretudos de várias espécies - laena, para
o inverno, lacena, abolla, alicula nas demais estações.
A tunica era uma peça da parte superior, confecionada
com lã. Não devia ser confundida com a camisa de linho
- túnica interior, subucula ou strictoria, também chamada
de camisia, no baixo império. A tunica não tinha mangas,
ou quando as tinha, não iam além do cotovêlo. Em casa,
a indumentária se restringia à tunica.
A toga era obrigatoriamente usada para cobrir a tunica
sempre que se pretendesse sair de casa, quer para ir à
cidade, quer para ir ao fortim. No princípio era uma
peça muito simples, mas pouco a pouco, tornou-se elegante
e difícil de ser usada. Era feita de fazenda de lã branca.
No início consistia numa simples peça retangular, mas com
o decorrer do tempo, aumentou de dimensão; a fazenda era
cortada em semicírculo, e tornou-se complicada de ser ves-
tida, a tal ponto que havia escravo designado para ajudar
ao domimts, nessa operação. Os oradores caprichavam na
apresentação duma toga bem talhada e elegante. A des-
crição da toga nos é feita por Quintiliano (1), mas apesar
(1) QUINTILIANO XI, 3, 139-141.
- 243 -

de suas informações, ainda não sabemos, com precisão,


os diversos cortes dessa indumentária. Segundo Mar-
quardt, (2) a toga mais antiga cobria o braço direito e,
fazendo uma volta, sem arte, em tôrno do busto, não for-
mava prega - sinus. Havia outra modalidade de toga,
que prendia o braço direito e formava um sinus e um itmbo
ou nodus. O nodus ou umbo era a denominação dada ao
pano da peça interior tirada para o exterior.
Apesar de ter sido a toga, no início, também usada
na guerra, os romanos, por questões práticas, criaram o
cinctus gabinits, que a substituía em ocasiões de guerra.
O talhe dado ao cincfos Gabinus era de tal forma, que
permitia ficassem os dois braços livres para qualquer mo-
vimento. Posteriormente, o cinctus gabinus foi substituído
pelo sagum, que passou a constituir a indumentária de
guerra em oposição à toga., indumentária da paz. No en-
tanto, o cinctus gabinus continuou a ser usado em certos
atos solenes, como o testamentum in procinctn, a devotio,
na abertura do templo de J ano, nos sacrifícios etc ..
O sagirm, segundo Isidoro, não era de origem romana: -
sagum gallicum nomen est: dictum autem sagum qitadrum,
eo quod apitd eos primum quadratum vel quadruplex esset
(Isid. Or. XIX, 24, 13). Era uma capa muito ampla,
afivelada no ombro, chanfrada em triângulo, por cima da
cabeça.
Originàriamente não havia diferença entre o sagum e
o paludamentitm. Somente depois é que êste último, que
consistia numa capa vermelha e que denotava a autoridade
do comando, passou a ser usado apenas pelos generais,
c-hrfes do exército.
Havia muitas variedades de sagwrn: - o birrus, a
lacerna, a laena e a abolla. O birrus ou burrus era uma
capa vermelha e dotada de um capuz. A lacerna era uma
pelerine do gênero da clamyde grega, usada para defen-
der-se da chuva e também tinha um capuz - cucullus.
No império, a lacerna transformou-se em vestimenta
civil e, em lugar das grossas lacernae de outras eras,
apareceram lacernae brancas ou de côres vivas. A laena
era feita de espêssa fazenda de lã de pêlos longos, que
(2) MARQUARDT - La Vie Privée des Romains, II, 198.
- 244-

se colocava sôbre os ombros. Na época do Império, a laena


foi usada por tôda a gente, de ambos os sexos. A abolla,
muito semelhante à laena, era de origem estrangeira; era
uma capa contra o mau tempo.
O pallium foi a indumentária que, paulatinamente, e,
por questão de comodidade, foi utilizada pelos romanos para
substituir a toga. Era mais curto do que esta e permitia
muito maior liberdade de movimentos.
A paenula era uma capa sem mangas, que servia para
preservar do frio e do mau tempo.
Aos banquetes, as pessoas elegantes compareciam com a
synthesis ou vestis cenatoria.

Indumentária feminina - Na indumentária feminina,


distinguimos a tunica, a stola e vestimentas superiores.
A tunica (tunica interior, subucula, interula) era uma
camisa que as romanas usavam por cima da pele; por
baixo dessa tunica e como porta-seio ou soutiens havia
uma fascia pectoralis, também chamada de mamillare, stro-
phium ou taenia.
A stola era uma túnica, que ia até os pés, com mangas
até a metade do braço. A parte inferior era bordada -
instita - e havia um talho por volta da cintura. De início,
ambos os sexos usavam a toga ou a stola, mas com o decorrer
dos tempos, esta última foi reservada somente às mulheres.
A mulher que aparecesse com a toga denotava i'.mpudicic·ia.
A stola da matrona, que houvesse conseguido o i.us trium
liberorum diferia da simples stola usada pelas que não
tinham essa prerrogativa, mas não sabemos os traços ca-
racterísticos dessa distinção.
A principal peça usada na parte superior, era o rici-
nium ou reicinium, de forma quadrangular, que cobria os
ombros e a cabeça. A pala substituía o ricinium; era de
forma ampla e não restrita às matronas, pois as estrangeiras
e as cortesãs também a usavam.

Adornos - O anel - annlus - era o único adôrno dos


homens. O anel de ouro era a insígnia característica dos
cavaleiros, que tinham o úts anuli aurei.
- 245 -

No entanto, as mulheres usavam grande variedade de


adornos: broches - fibulae, espécies de brinco - inaures,
braceletes - armillae, colares - monilia, fitas - vittae,
mitrae, caliendra, rêdes - retícula, etc. . ..

Barba - Não é verdade que os antigos desconheciam


o uso de fazer barba, apesar da informação contrária de
Varrão. Os jovens não tiravam a barba logo que ela co-
meçasse a despontar; esperavam um pouco, até que já
houvesse aspecto de barba compacta. Nesse momento, era
cortada, em solenidade consagrada à divindade - depositio
barbae. Nas ocasiões de nojo, os homens deixavam crescer
a barba - barbam demittere, promittere, submittere.

Cab.elo - Os escravos tinham a cabeça raspada. Os


jovens e o pessoal doméstico podiam ter cabelos compridos.
Os adultos livres cortavam o cabelo, num determinado
comprimento.
As mulheres o tinham curto ou o deixavam crescer para
enrolá-lo em forma de cpque - tutulus. Elas pintavam
o cabelo com tinturas especiais - sapo, spuma batava.

O calçado - Os romanos calçavam sandálias, sapatos


ou botas.
Os calcei eram os sapatos característicos dos cidadãos
romanos. Além do simples calceus, havia o calceus patri-
cius e o calceus senatori.us. O primeiro, também chamado
calceus mitlleus, era de couro vermelho com sola alta, dotados
de colchêtes - malleoli, ligados por cordões de couro prêto
- corrigiae ou alntae e fechado por uma lingueta de pelí-
cula - lignla. O calceus senatorius era prêto e de forma
semelhante à do calceus patricius.
Na neve e na lama, principalmente na campanha, os
romanos usavam o pero, uma espécie de meia-bota. O com-
pagus era um sapato prêto, que somente cobria os dedos e
subia por trás do calcanhar, sendo prêso por meio de
correias que envolviam a perna.
As sandálias podiam ser de laço - soleae, sandalia
ou sem laços - socii. As correias de couro, que as fixavam,
tinham o nome de habenae, amenta, abstragula. Era inde-
coroso apresentar-se de público, calçando sandálias. A ca-
liga era uma sandália militar muito resistente.
- 246 -

Chapéu - Os romanos não conheciam o chapéu e man-


tinham a cabeça nua, que era coberta por um capuz -
cucullus, quando chovia. As jovens romanas também não
cobriam a cabeça, mas as matronas tinham a obrigação de
mostrar a sua dignidade, cobrindo-a com a palla. Conta-se
até que Sulpício Galo repudiou a mulher, que fôra à rua,
aperto capite.
V

OS FUNERAIS

O desenlace - Quando os parentes do moribundo


percebessem que se aproximava o desenlace, colocavam-no
em pleno chão, diante da porta e um dêles devia recolher
o último suspiro beijando-lhe a bôca ~ extremum spi.r1'-
tum ore accipere, porque, segundo a crença dominante, a
alma saía pela bôca. Em seguida, fechava-lhe os olhos.
Um dos presentes proclamava o nome de morto, em voz
alta: era a conclamatio. Depois disso, tinha início a fase
de preparação do corpo do defunto com a toilette, a cargo
das mulheres existentes na família ou de profissionais
dêsses misteres -- poll1'.nctores. O corpo era lavado com
água quente e, para evitar a sua rápida decomposição,
ungido com ungüentos compostos de sal, mel, resina de
cedro, mirra e bálsamo.
Realizada essa operação, vestia-se o defunto com a
melhor roupa: - a toga, se fôsse cidadão, ou a pretexta,
se magistrado. O corpo era colocado no lectus funebris,
que ficava no atriiirn. Tôdas as condecorações pertencentes
ao morto deviam ser expostas perto de sua cabeça; 11ma
moeda era colocada na língua, o que simbolizava o preço
da passagem no barco de Caronte.
Lâmpadas e velas ardiam diante do cadáver, os amigos
depositavam flôres e coroas.
As exéquias duravam uma semana, se o morto fôsse
nm imperador, mas os pobres eram enterrados no mesmo
dia. O corpo era incinerado ou inumado.
Um liberto era incumbido de comunicar o desenlace às
pessoas amigas e convidá-las para a cerimônia. Essa missão
também podia ser confiada a um pregoeiro, que fazia anúncio
público e daí a expressão indictivum f1tnus. Êsse pregoeiro
usava uma fórmula consagrada: Ollus Q1tiris leto daf11s.
- 248 -

Exsequias, quibus est commod1im ire iam tempus est. Ollus


ex aedibus affertur.

O sepultamento - De início, os funerais eram reali-


zados à noite com a luz de tochas, mas depois passou a
ser durante o dia e com grande acompanhamento. Sà-
mente o enterramento dos pobres e de crianças continuou
a ser feito à noite.
As exéquias ficavam a cargo de parentes funus privatum
ou do Estado - funus publicum. As cerimônias eram,
geralmente confiadas a emprêsas fúnebres - libitinarii, que
exploravam essas coisas como indústria lucrativa.
O corpo era colocado num esquife aberto e acompa-
nhado de um cortejo, na frente do qual havia tocadores de
flauta tibicines, tocadores de trombeta - tubicines, carpi-
deiras - praeficae.
Se o defunto pertencesse a família rica, os funerais,
como já dissemos, eram anunciados por um pregoeiro -
indfoere. Neste caso, o cortejo era acrescido dos tibicines,
que tocavam uma longa tuba de cornices, de dançarinos,
de cômicos, que parodiavam os gestos e a linguagem do
defunto. Máscaras de cêra - imagines, que representavam
antepassados ilustres eram transportadas em carros espe-
ciais.
A inumação devia processar-se fora do pomerium, pols
o sepultamento dentro do perímetro da cidade só se admitia
em casos especialíssimos. O corpo era pôsto mim cofre e
enterrado.
A cremação processava-se no lugar da sepultura ou
no lugar chamado bustum. Neste caso, o corpo era pôsto
numa pira - rogus - para ser queimado. Recolhiam-se as
cinzas numa urna, que ficava depositada num túmulo.
Os columbaria eram monumentos apropriados para receber
muitas urnas funerárias.
VI

O LIVRO E SUA CONFECÇÃO

Matéria-prima - Os romanos empregaram materiais


diversos para escrever, tais como fôlhas - folia, cortiça
liber, linho - lintei libri, tábuas de madeira, peles
de boi.
As tábuas de madeira - tabulae ou cerae eram reves-
tidas de cêra e nelas se escrevia com um instrumento chama-
do stilus, feito de osso ou de metal. Essas tabulae eram
usadas de preferência pelos escolares ou para anotar as
<l.espesas e receita de cada família. Várias tabulae podiam
ser ligadas entre si e formavam o codex. O pequeno codex
denominava-se codicilli ou piigillares.

O papiro - Com a descoberta do papiro - papyrus


charta e do pergaminho - membrana, a composição lite-
rária adquiriu grande incremento.
O Egito é considerado como a pátria dos papiros, porque
ali havia a planta de onde se tirava a matéria-prima para
a sua fabricação. O tecido interno do papiro era cortado
em longas tiras - phylirae. Estas eram dispostas em
sentido longitudinal e superpostas por outras em sentido
horizontal e isto formava a charta. Cada fôlha de papiro
denominava-se pagina e a reunião de várias fôlhas constitui
o volumen.
O monopólio do papiro pertencia aos egípcios, que
fabricavam cêrca de nove décimos da produção consumida
naquela época. Todavia, certo romano de nome Fânio pro-
curou aperfeiçoar o papiro egípcio, comprimindo-o numa
prensa ou castigando-o com o martelo. Graças a êsse pro-
cesso, foi possível obter uma página polida, isto é, sem
aspereza, ao passo que o papiro egípcio era bastante áspero.

17
250 -

Não se escrevia no verso da cada página, salvo em


casos excepcionais e, quando isto acontecia, o papiro era
ehamado de opisthographum.
Havia grande variedade de papiros, mas quanto ao
formato a altura das fôlhas destinadas a constituir rolos
devia variar entre 20 e 35 centímetros; o preço dependeria
da extensão e da largura. Todavia as fôlhas largas tinham
o inconveniente de se rasgarem. O certo é que o formato
variava, de acôrdo com os respectivos empregos.
Havia papel para cartas - charta epistolaris e papel
para livros. Até a época de César, escrevia-se no sentido
da largura - tmnsversa charta; para as cartas, no sentido
do comprimento.
Plínio enumera as seguintes espécies de papiros: a
charta regia ou l1.wrativa até a queda da Realeza egípcia e
charta Augusta depois de Augusto, com a largura de 0,34
m. ; charta livia,, com a mesma dimensão ; a charta hieratica
do período imperial com 0,20 m; a a,niphitheatrica, assim
chamada porque era fabricada perto do anfiteatro de Ale-
xandria com 0,166 m ; a charta .fanniana, manufaturada em
Roma por certo fabricante chamado Fânio, com a largura
de 0,18 m; a charta Saitica,, de Sais, de qualidade inferior,
com 0,147111., de largura; a charta Taeniotica-, manufaturada
perto de Alexandria e vendida a pêso ; a cha,rta emporetica,
papel de embalagem com 0,llm de largura; a cha,rta claudia,
fabricada em condições de poder ser escrita nas duas faces.
Era possível obter-se um volume de qualquer largura
com a superposição de várias fôlhas - paginae, pla,gulae,
,çchedae, ligadas uma à outra, na extremidade.
Assim, o livro compunha-se de várias fôlhas formando
'Q.Jll rôlo - scapus - de, geralmente, vinte páginas. Costu-
mava-se escrever em colunas e, via de regra, havia somente
uma coluna em cada página, ficando em branco o espaço
existente entre as colunas. Encontramos também duas
colunas em cada fôlha.
Na República, os documentos oficiais não eram escritos
em páginas, mas transversa charta, isto é, em longas linhas,
que abrangiam tôda a extensão do volume.
Havia rolos - volumen -·· de até 81 metros, o que
constituía grande dificuldade para ser manuseado, bem
como conservado.
- 251

Não era fácil enrolar um volurnen; começava-se pelo


fim, com o auxílio de um pequeno bastão de madeira ou
de osso, chamado umbillicus, cujas partes extremas se cha-
mavam cornua. Colocava-se um wmbillicus nas duas extre-
midades. Concluída a leitura, começava a operação de
enrolar o volume pela extremidade direita. A expressão ad
umbillicum adducúe significava que se tinha lido o livro
até o fim.

O pergaminho - A proibição da exportação de papiros


incrementou o emprêgo do pergaminho - membrana. Com
efeito, o uso da pele de animais como matéria-prima na
confecção dos livros já era antiga, mas a necessidade veio,
apenas, impor a sua adoção em grande escala.
A indústria do pergaminho floresceu e aumentou o nú-
mero de casas que exploraram êsse negócio: - os mem-
branarii.
O pergaminho, além de não ser tão frágil quanto o
papiro, podia ter as duas faces polidas e prestava-se a ser
dobrado em quatro, formando cadernos - quaterniones. A
união de vários cadernos formava os codices rnernbranei,
que já apresentavam semelhança com os nossos livros atuais.
A maior dificuldade no emprêgo do pergaminho consistia no
preço elevado em que ficava cada livro. Os primeiros
codices datavam do Império, da época dos Flávios.

Material empregado para escrever - A tinta empre-


gada - atramenturn -- era preta e o tinteiro - atrarnen-
espécie de pequeno caniço, - calamus - importado do
Egito ou de Cuido, ou uma pena de ave - penna, afiada:
na extremidade.
Um canivete apropriado - scalprum - afiava a ponta,
quando esta já estivesse rombuda.
As penas eram guardadas numa caixa especial chamada
theca libraria.
Pequenas tábuas de cêra - cerae - eram empregadas
para escrever bilhetes, cartas breves, notas e certas práticas
de magia. Várias cerae podiam ser ligadas entre si através
de um cordão e êsse conjunto era primitivamente denomi-
nado caudex ou codex. Posteriormente, deu-se o nome de
duplice.~, triplices, qitadriplices, quinquiplices ao conjunto de
- 252 -

cerae, de acôrdo com o número de tábuas emp:egadas. Com


o decorrer do tempo, o têrmo caudex passou a ser usado
para indicar os livros de pergaminho.
Os caracteres eram gravados nas cerae por meio de
uma longa haste chamada stilus ou graphium, sendo essa
operação qualificada de arare ou exarare.

órgãos de publicidade - Os atos públicos mais im-


portantes eram divulgados nos acta diurna populi, que
constavam de fôlhas isoladas, nas quais também havia in-
formações e comentários referentes a acontecimentos da vida
cotidiana. Eram, por assim dizer, o embrião dos órgãos da
imprensa de nossos dias. Os escritores se utilizavam dos
acta diurna como preciosa fonte de informações.

Os escribas - As famílias costumavam dispor de


pessoal habilitado a fazer nas cerae a escrituração de sua
receita e despesa cotidiana. Essa tarefa podia ser con-
fiada a escravos librarii ou amanuenses. Os escravos, que
copiavam as cartas do dominns chamavam-se servi ab
epistitls.
No fim da República, livreiros - bibliopola - manti-
nham pessoal especializado na arte de escrever nas cerae :
seribae cerarii e estenógrafos - notarii.

Livrarias - livrarias - tabernae -- encarregavam-


-se de fornecer livros a número limitado de pessoas, que
podiam adquiri-los. Um afamado livreiro de Cícero era
Titus Pomponius Atticus. Não havia direito de proprie-
dade literária, como bem comprova o fato de haver Cícero
enviado a Attico a obra de Hirtius, para que o livreiro
editor a divulgasse em seu próprio interêsse. Assim, o
autor ficava privado de receber honorário como paga-
mento de seu trabalho intelectual.
As famílias mais importantes mantinham bibliotecas
particulares e somente muito depois, apareceram as biblio-
cas públicas. Foi Asinius Pollio quem criou a primeira.

Leituras públicas - Era hábito muito espalhado a


leitura pública, o que permitia a um número considerável
de pessoas o conhecimento das obras literárias. Tal pro-
- 253 -

cesso conseguiu contrabalançar as dificuldades existentes


na divulgação do livro. Augusto imprimiu considerável
incremento a essas reuniões a que grupos de pessoas com-
pareciam com o objetivo de ouvir a leitura de uma obra.
Na época do imperador Adriano foi construído o Athe-
naeum, uma espécie de pequeno teatro, com a finalidade
exclusiva de reunir pessoas interessadas na leitura
pública.
As leituras públicas se efetuavam, geralmente, depois
do meio-dia.
VII

OS JOGOS DE CIRCO

Aspecto geral - Os divertimentos oferecidos ao povo


romano pelos magistrados ou até por particulares, deno-
minavam-se jogos - ludi. Inicialmente, os ludi eram cor-
ridas de cavalos instituídas em honra de Marte e Consus,
deuses protetores dos animais. Pouco a pouco, foi aumen-
tando o número de jogos, a tal ponto que podemos dividi-
los em três categorias: os jogos de circo - ludi cfrcen-
ses; as representações teatrais - ludi scaenici e combates
de gladiadores - m·unera.
Cada jôgo revestia-se de caráter religioso : ludorum
primum initium procurandis religionibus datum (Lvi. VII,
3). Celebravam-se jogos nos aniversários dos deuses, em
homenagem às estátuas e aos templos, nos aniversários dos
mortos, nos aniversários dos vivos, nos aniversários das vi-
tórias e nos aniversários das cidades, por ocasião de alguma
:festa, na inauguração de um novo período, como ocorria
com os ludi sacculares.
A presidência de cada jôgo cabia aos edis, com exceção
dos ludi Apollinarcs, de 6 a 12 de julho, a partir de 212
a. C., que eram presididos pelo pretor urbano; os ditadores
e os cônsules presidiam aos jogos votivos. Com efeito, os
edis plebeus organizavam os ludi plcbci, de 4 a 19 de no-
vembro, desde 220 a. C. no circo Flamínio, os Cerealia, de
12 a 19 de abril, desde 202 a. C. ; os edis curuis, os ludi
Romani. os ludi .lfegalenses e os Floralia, em honra de
,Júpiter, ,Jnno e Minerva, respectivamente, bem como os
jogos da Dea 'Mater e da lJea Flora.

Os ludi circenses - Os jogos de circo começaram com


uma procissão solene - pompa, seguida pelo magistrado que
os presidia, o qual era conduzido em pé, num carro aberto.
- 255

O circus tinha a forma de um retângulo alongado, com


uma das extremidades recurvada; os ca,rce1·es eram os lugares
de onde partiam os carros; spina, era a parte elevada, que
ficava no meio da arena.
A predileção dos romanos pelos jogos de circo está
muito bem expressa naquela célebre passage mde J uvenal
referindo-se ao povo que, desiludido e alquebrado, só dese-
java duas coisas: - pão e jogos circenses :

dua,s ta,ntilm res a,nxúts opta,f, panem ct cn·-


censes (Juv. Sat. X, 80).

As corridas de carros e os combates dos gladiadores


eram os principais jogos realizados no Circi1,s.
Havia duas espécies de carros - currus: - os menores,
de dois cavalos, chamados - biga,e; e os maiores, de quatro
cavalos, denominados qua,drigae. Cada cocheiro conduzia
o seu carro de pé e o vencedor era aclamadíssimo. Os
cocheiros, que obtinham vitórias sucessivas, angariavam po-
pularidade só ultrapassada pela dos próprios cavalos, que
conduzia. Confessa-se Marcial desiludido, porque, apesar de
ser poeta e haver conhecido vários países, não é mais conhe-
cido do que o cavalo Andremon, (cf. l\!Iart. X, 9 e X, 50).
Cada corrida - missits - compreendia sete voltas,
podendo realizar-se vinte e quatro no mesmo dia.
Os cocheiros conduziam as côres do partido (clube)
esportivo - f actio - a que pertenciam; os quais eram assim
distribuídos: vermelho - factio nissata; verde - prasina;
branca - albata, e a azul - veneta.
A corrida se processava da direita para a esquerda e a
meta ficava à esquerda.

Os combates de gladiadores também se realizavam no


Cfrcus. Antes de começar o espetáculo, os combatentes
dirigiam-se ao imperador nos seguintes têrmos: - Ave,
Caesar, moritnri te salutant! Ave, César, os que vão morrer
te saúdam!
Podia acontecer que, durante o combate, o povo se apie-
dasse do combatente vencido, e, excitado, gritasse com o
polegar levantado, dirigindo-se ao Imperador: - Mitte!
:'\este caso, o vencido livrava-se da morte. Se, porém, outro
- 256 -

fôsse o desejo dos espectadores, poderiam gritar lugula! e,


ao ouvir êsse veredicto, o vencedor ou um escravo mataria
o vencido. Conta-nos Suetônio que o imperador Cláudio
costumava decapitar o gladiador vencido.

* * •
No Circus também se realizavam as corridas dos cavalos
alados - funales; as '!Jenationes, que consisitiam em caça às
feras, como tigres, leões, panteras etc. . .. ; execuções pú-
blicas de condenados atirados ad bestias e mortos de forma
crudelíssima.

Ludi scaenici - A estrutura material do teatro romano


recebeu influência do teatro grego.
Originàriamente o teatro consistia, apenas, num estrado
- pulpitum, onde os atôres representavam, e na scaena,
que constituía o fundo.
Apesar de inspirado no teatro grego, o teatro romano
deixou de ser obrigatoriamente constituído, como acontecia
com aquêle, no flanco de uma colina. É que os romanos
tinham conhecimento da abóbada, e que lhes permitia edifi-
car os seus teatros onde bem quisessem. Assim, o teatro
romano, outrora construído de madeira, passou a constituir
edifício independente de terreno, apoiado, às vêzes, numa
colossal parede exterior. O pulpitum primitivo foi transfor-
mado na scaena de pedra, atrás do qual ficava a scaena
frons. O público ocupava lugares dispostos em hemiciclo
- cavea, que se dividia em três partes: ima caven, media
cavea e summa cavea. Na ima cavea, que ficava acima da
orquestra - orchestra, ficavam os melhores lugares.
Não havia, inicialmente, lugares especiais para persona-
gens importantes dentre os espectadores, e os senadores se
misturavam com o povo. No entanto, à medida que as
representações teatrais se tornavam prática quase obrigatória
de romanos ilustres, foram estabelecidos assentos - subsellia
de madeira nas primeiras filas, reservadas aos senadores :
- eram os loci senatorii. A lex Roscia theatralis, do
ano 67 a. C., estabeleceu que as catorze filas atrás da
orquestra, só podiam ser ocupadas por cavaleiros e as duas
primeiras pelos membros da ordem eqüestre, que tivessem
sido tribunos. A partir dessa época, os côros passaram a
- 257 -

figurar na scaena e não na orquestra, como ocorria até


então.
A cortina - aulaea, sipariiim, uma particularidade do
teatro romano, não era movimentada como atualmente, mas
levantada de baixo e daí o motivo das expressões hodiernas
de levantar e baixar o pano.
Os romanos recorriam ao emprêgo das machinae para,
com ruídos característicos, assinalar o aparecimento de
divindades; casos de solução humana impossível eram
resolvidos com a intervenção de um deus ex machina:
Oeos ã.1rb µf!xav~s . Parece ter sido Claudius Pulcher quem
introduziu as rnachinae no teatro romano.
O primeiro teatro da pedra foi construído por Pompeu,
no Campo de Marte, no ano 55 a. C. ; Cornélia Balbo cons-
truiu outro, no ano 13 a. C., perto do Tibre; e, no ano 11
a. C. foi concluído o de Marcelo, cuja construção fôra ini-
ciada por César.
Nos intervalos das comédias, um tocador de flauta subia
à scaena e executava trechos de música.

Anfiteatro - No ano 59 a. C. o edil Gúrio construiu


dois teatros de madeira, contíguos, de tal forma que, con-
cluídas as representações dramáticas, as duas cavae podiam
ser ligadas, formando um grande círculo. O sucesso alcan-
çado levou César a construir em 46 a. C., um amphiteatrnm-,
fixo, isto é, que não necessitava de serem movimentadas as
suas peças para unir as duas construções.
Os jogos dos gladiadores que, inicialmente, se realizavam
no Circus, na época imperial, passaram a ser efetuados no
amphiteatriim. As venationes e os espetáculos dos conde-
nados ad bestias também passaram a ser feitos no amphi-
teafrum.
VIII

ORGANIZAÇÃO MILITAR DOS ROMANOS

O exército - O número de soldados que compunham


eada legião, variava de acôrdo com as épocas. No início,
parece que se elevava a 4. 200, assim distribuídos: 1. 200
hastati, l. 200 príncipes, 600 trian:i e 1. 200 ,velites, sendo
que êstes últimos eram tiradas das últimas classes do censo.
Os hastati, os príncipes e os triarii distinguiam-se pela idade.
Assim, os hastati eram soldados, ainda jovens, os príncipes,
homens de meia idade e os triarii, mais velhos.
A infantaria legionária dividia-se em 30 rnanipuli, que
se compunha de cêrca de 100 homens, sob o comando de
nm centurião.
O armamento também variava de acôrdo com a época.
A lorica era uma armadura de couro ou de metal e sempre
foi usada como couraça pelos legionários; o scittum era um
escudo de madeira, coberto de couro, com forma geralmente
oval ; o clipeus tambm era um escudo redondo, de bronze,
não mais usado na época clássica; o capacete, que podia
SE'r de couro - galea., on de metal - cassis, na época
clássica. A lorica, o scutum, o clipeus, a galea e o cassis
constituíam as principais armas defensivas dos romanos.
Dentre as armas ofensivas podemos citar as seguintes: -
o gladius era uma espada, longa até a segunda guerra
púnica e, a partir daí, curta, mais apropriada a perfurar
do que a cortar, a qual ficava suspensa do lado direito de
um talabarte - balteus, o pilmn era uma haste de madeira,
com ponta de ferro, medindo cêrca de 1,30 m; o veruturn
era uma arma leve e menor do que o gladius, a hasta era
uma lança, que também podia ser usada como dardo.
Cada manipul1ts hastatorum dividia-se em dois pelotões
- centuriae e cada centuria compreendia 60 hastati e 20
velites; a distribuição se processava em dez filas de oito
homens, ou em oito de dez. Os príncipes eram dispostos
- 259

da mesma forma, e os triarii por serem menos numerosos,


formavam, apenas, cinco filas.
A cavalaria da legião compunha-se de 300 equites, que
se dividiam em 10 formae de 30 homens ; cada turma tinha
três decuriones, um dos quais a comandava.
Na República, a legião apresentava-se a combate em
três filas, a primeira constituída de hastati; a segunda de
príncipes e a terceira, de triarii. Não podemos afirmar,
com precisão, onde ficavam as insígnias - signa. Sabemos
da existência de um corpo da elite, chamado antesignani,
que devia ficar perto dos signa.
As insígnias - signa militaris - eram de grande varie-
dade. Um molho de ferro na ponta de uma lança e figuras
de animais como águias, lôbos, cordeiros ou uma mão esten-
dida eram as insígnias da infantaria; a partir de Mário,
uma águia de metal ( ouro, prata ou bronze), era a insígnia
da legião. A insígnia da cavalaria era o Ve:rillurn, estan-
darte de madeira vermelha ou branca. As insígnias dos
manip1lli eram chamadas, ora signurn, ora vexülum.
Até o fim da República, o comando da legião era
dividido entre vários chefes, que o exerciam cada um por
sua vez. Os oficiais superiores eram seis tribuni. militum,
Rendo que dois dêles ficavam em função durante dois meses,
de tal forma que o comando pudesse ser exercido alterna-
tivamente, dia e noite.
Os auxilia eram tropas auxiliares formadas de soldados
exércitos romanos, e muitas vêzes, constituíam a maior parte
do exército.
Os auxílio. eram tropas auxiliares formadas de soldados
recrutados nos próprios países em que se fazia a guerra.
O campo - castra - formava um quadrado cujos
lados deviam ser orientados para os quatro pontos cardeais;
era dividido por linhas, na direção Este-Oeste - decumani,
e outros na direção Norte-Sul - cardines.
O exército em marcha obedecia a normas preestabele-
cidas. O exército avançava em coluna por um. Os hastati,
os príncipes e os triarii avançavam paralelamente em três
colunas, sendo precedidos do equipamento - impedimenta.
Ao aproximar-se a hora do combate, os soldados passavam
na frente dos irnpedimenta e ficavam em ordem de batalha
- 260-

acies. Todavia, César modificou essa disposição, pois


êle costumava marchar na frente, deixando os impedimenta
para trás.
A expressão agmen quadratum significava a ordem de
marcha, em forma de quadrado. Havia, ainda, outras dis-
posições: - orbis, quadrado perfeito formado pelo exército
batido em retirada; testitdo, que permitia resistir a um
ataque violento de armas de arremêsso; globus, que era
um corpo destinado a investir no flanco inimigo.
Havia, na República, a praetoria cohors, corpo de elite
criado para proteger o praetorium, espécie de quartel-
general, e a pessoa do comandante. A guarda pretória
compreendia nove cohortes.
Os músicos, que acompanhavam os exércitos, assim
podem ser classificados: - cornfoes, tocadores de trompa,
tubic'ínes, tocadores de trombeta; tibic'ínes, tocadores de uma
espécie de trombeta - litu1is, usada na cavalaria; buci-
natores, tocadores de buzina.
Dentre as máquinas de guerra, podemos citar as seguin-
tes: - a catapulta, que era uma peça destinada a receber
certa munição e lançá-la bem em direção horizontal; a
ballista, um engenho de complexa confeção e com a finali-
dade de atirar ao longe blocos de pedras num ângulo de
45°; o onager era uma peça diferente da ballista, mas cuja
finalidade também consistia em arremessar grandes blocos
de pedra; o scorpio era uma catapulta de um só braço.
Como material de assalto, os romanos empregavam os
seguintes instrumentos: - o aries uma espécie de viga ou
barrete com que se forçavam os muros; a testudo arientaria
era o aries com um teto em forma de testudo, feito de pele
de animal, usado para proteger a máquina e os próprios
soldados assaltantes; os f alces murales serviam para abrir
uma brecha; as tenebrae eram arietes munidos duma ponta
aguda; as dolabrae também era um instrumento empregado
para abrir brechas; o musculiis servia para minar muralhas.
Os principais meios de defesa consistiam no agger, que
era uma espécie de varanda da terra; f assa, um fôsso em
tôrno do acampamento; vallum, uma sebe; ericii, cavalos de
frisa, usados para proteger as portas.
- 261-

MARINHA. - Os Romanos só conheceram a marinha


a partir do ano 260 a. C. Bizâncio, Frejus, Ravena e Mi-
sena foram os principais portos de que se utilizava a mari-
nha romana.
A frota romana compreendia embarcações compridas
- longae naves - que se distinguiam da marinha mer-
cante - naves onerariae. As embarcações poderosamente
armadas dispunham de um esporão - rostra - de três
dentes. Os remos podiam ser dispostos em várias filas.
As pequenas embarcações destinadas a incursões rápidas
e à tarefa de reconhecimento denominavam-se naves actua-
1·iae ou speculatoriae. As naves li.burnae eram navios
rápidos de filas de remos e também chamados biremes.
IX

A RELIGIÃO DOS ROMANOS

Aspecto geral - Os romanos conceberam a existência


de um ser supremo, que seria a personificação do céu
através de seus fenômenos luminosos, o qual correspondia
a uma Terra Mater, produtora de tndo o qne sustE'ntava
o homE'm. É um resquício de influência indo-européia com-
provada através de culto prestado aos diversos fenômenos
da natureza: - nmnfoa,. Dentre as outras divindades,
citamos o Sol, a Lua, os Dióscuros, Castor e Polux.
Marquardt (1) apresenta-nos a seguinte relação das
divindades dos indigitamenta:
1) - Deuses e deusas que presidE'm ao d~senvolvimento
do homem, desde sua concepção até o nascimento: - Ianus
Consivius, Saturnus, Liber et Libera Fluonia, Alimonia,
Nona, Decima, Partula, Vitumnus, Sentinus;
2) - Divindades que presidem ao nascimento: Juno,
Lucina, E geria, N umeria ;
3) - Divindades, que devem ser invocadas após o nas-
cimento para a mãe e o filho : Intercidona, Deverra, Pi-
lumnus Picumnus, Opis, Cunina, Rumina, Nundina, Geneta
Mana;
4) - Divindades da primeira infância: Potina et
Educa, Cuba, Ossipago, Levana, Statanus, Statilinus, Abeo-
na et Adeona, Farinus, Fabulinus;
5) - Divindades da adolescência: Iterduca et Domi-
duca, Meus, Deus Catius pater, Consus, Sentia, Divus Vo-
lumnus, Diva V olumna, Stimula, Diva Peta, Praestana,
Pollentia, Agonius et Peragenor, Numeria et Camena, Mi-
nerva, Paventia, V enilia, V olupia, Lubentina et Liburnus,
Inventas et Fortuna;

(1) MARQUARDT, J. Le ciilte chez les romains. Trad. de G.


Humbert I, 1.
- 263 -

6) - Deuses do casamento: Inno mga, Deus Ingati-


nus, Domidncus, Domitius, Mantnrna, Unxia, Cinxia, Vir-
niensü;, Mntunus Turtunus, Subigus, Prema, Pertnnda, Per-
fica;
7) - Divindades protetoras em diversas circunstâncias
da vida: - Tutanus et Tutilina, Orbona, Caeculus, Viduus.
Os pontífices formavam mn colégio oficial sob a autori-
dade do pontife:x: maximus e eram incumbidos de supervi-
sionar o culto sagrado - fas, competindo-lhes conservar a
tradição religiosa da cidade, adaptá-la ao desenvolvimento
político e sugerir as providências qne as contingências im-
pusessem. O colégio foi criado por Xnma e, de início, tinha
somente cinco membros, número êste elevado, posteriormente,
até 15. Os pontífices distinguiam-se em maiores e meno-
res. Os primeiros eram os membros ordinários do colégio
e os segundos eram os escribas e secretários do colégio.
Os /lamines, o rex sacrorum e as vestais faziam parte do
('.Olégio pontifical.
Os pontífices participavam diretamente do culto das
divindades imediatamente ligadas à vida de Roma, isto é,
Vesta, os Penates e a tríade capitolina: - ,Júpiter, Marte
e Quirino.
O rex sacrorum era um sacerdote que, na República,
praticava cerimônias religiosas outrora da eompetência do
re.r. Tornou-se o rex sacror11,m o sacerdote espe<:ial de .J ano.
Os flam'ínes não formavam colégio e eram sacerdotes
ligados ao culto de uma divindade. Êles, em número de l!J,
deviam alimentar a chama do sacrifício. Três /lamines,
chamados maiores, eram escolhidos entre os patrícios e os
doze restantes, tirados da plebe. Os três /lamines maiores
- isto é, o flamen Dialis, Martialis, Quirinalis podiam
participar do colégio dos pontífices com direito de voto.
O flamen Dialis, com tôda a sua casa, é propriedade de
seu deus; competiam-lhe os deveres da vida civil: - sua
pessoa, sua mulher, seus filhos, sua casa eram consagrados
ao deus.
O flamen Dialis sofria várias interdições, pois não podia
andar a cavalo, ver um exército em forma de combate,
jurar, nem usar anel que não fôsse rompido; de sua casa
não se podia tirar fogo, que não fôsse para uso sagrado;
se um prisioneiro acorrentado entrasse em sua casa, seria
libertado etc. . ..
- 264-

O flamen Martialis e o flamen Qiiirinalis podiam aceitar


funções urbanas.
As vestais eram virgens, que conservavam o fogo con-
sagrado a V esta, no templo do Forum. Diz a lenda que
Rômulo e Remo eram filhos da vestal Rea Silvia. As vestais
deviam conservar a virgindade durante trinta anos, depois
dos quais podiam entrar na vida privada e contrair ca-
samento: - nos dez primeiros anos, eram noviças; nos dez
segundos, ministras ; e nos dez finais, magistrae.

Os aitgi'íres eram intérpretes oficiais da vontade dos


deuses e ,ma ciência consistia na interpretação do vôo e
do canto das aves. Constituíam um colégio de 3 membros,
número êste elevado para 6,9,15 e até 16.
Os haritspzces formavam um colégio, cujo número de
componentes atingia a 60 e a principal finalidade consistia
em examinar as entranhas das vítimas.
A Sibila era o nome dado à uma sacerdotisa incum-
bida de fazer conhecer os oráculos de Apolo. Há várias
versões sôbre a origem da Sibila : uns adimitem que a
primeira teria sido filha do troiano Dardanos e de N eso,
a qual por causa de suas aptidões proféticas, fêz com que
o nome de Sibila fôsse dado a tôdas as profetisas ; outros,
porém julgam que a primeira teria sido uma filha de Zeno
e de Lauria. Conhecemos referências a várias Sibilas, que
tomavam o nome do respectivo país: - a Delphis, Oimmena,
Erythrea, Hibyca, Persica, Oumana, Samia, Hellespontica,
Phrygia etc. . . . A Sibila Cumana é a mais célebre, graças
às referências que a ela fêz Virgílio. Dizem que ela chegou
a Roma durante o reinado de Tarquino Soberbo e foi por-
tadora de nove coleções de oráculos. Ela propôs vendê-las
a Tarquino que, depois de achar o preço elevado, terminou
comprando três coleções, que depositou no templo de Júpiter
Capitolino. :Êsses livros sibilinos exerceram grande influ-
ência sôbre a religião romana.
O colégio dos irmãos Arvais compunha-se de doze mem-
bros, e tinha como uma de suas finalidades celebrar uma
festa em honra da dea Dia.
O colégio dos salios ( de salire) era, igualmente for-
mado de· 12 membros e as suas festas comemorativas reali-
zavam-se em março e em outubro.
- 265 -

Os luperci constituíam um colégio dedicado a Fauno e


imbdividido em duas confrarias de origem gentilícia: - a
dos Lu,perci Fabiani e a dos Luperci Quintiliani. A festa
principal dos Luperci realizava-se a 15 de feverC'iro.
O colégio dos feciais - f eti.ales - era uma corporação
latina de vinte membros, incumbida das formalidades re-
ferentes à conclusão dos tratados e às declarações de guerra.
A guerra devia ser justa isto é, admissível somente depois
de haverem fracassado tentativas de conciliação, pois, se
assim não se procedesse, a divindade ficaria ofendida. A
aliança - foedus - somente deveria ser considerada sagra-
da, se fôsse procedida de um juramento. Havia formulários
e um ritual complexo para o pedido de uma satisfação -
res 1·epetere; para reclamar do inimigo contra qualquer
injustiça - clarigatio. A declaração de guerra devia ser
feita lançando no território do inimigo uma lança de ferro
ou de madeira com sangue na ponta - sanguínea praeusta.
Não era o colégio inteiro que devia tratar com o inimigo.
Quando houvesse necessidade, de entender-se com o inimigo,
designava-se uma delegação de dois ou até de quatro mem-
bros, um dos quais recebia o título de pater pa.tratiis, com
o que ficava investido de poderes para falar em nome do
povo romano. O companheiro do pater patratus chamava-se
verbenarius. Ambos penetravam no território inimigo pela
porta da cidade e expunham as suas intenções, concedendo,
para resposta, um prazo limitado, geralmente de 30 dias.

O sacrifício - O sacrifício consistia num ato religiÕso,


mediante o qual o ofertante participava, através de ofere-
cimento incruento ou de vítima imolada, da vida do ser ao
qual se fazia o sacrifício.
O oferecimento incruento consistia na oferta de produtos
da agricultura e da indústria doméstica, tais como as primí-
eias dos frutos - fruges, farinha e sal, - mola salsa, ali-
mentos - clapes, doces sagrados - liba, leite, vinho, per-
fumes.
As ofertas cruentas eram chamadas hostiae ( isto é, os
pecudes) e vítimas (isto é, os armenta).
Cada sacrifício devia ser obrigatoriamente precedido de
uma prece, que só podia ser feita por quem tivesse o corpo
e a alma puros, a consciência sem mácula. Antes do sa-

18
- 266

crifício, devia-se banhar em água corrente ou, pelo menos,


lavar as mãos.
Touros, vacas, ovelhas, veados eram animais usados nos
sacrifícios.
Antes de começar o ato, pedia-se silêncio através das
expressões consagradas - / avete linguis, par cito linguam.

O calendário - O ano romano era, inicialmente, divi-


dido em dez meses : março, abril, maio, junho, julho, agôsto,
setembro, outubro, novembro, dezembro. Março, maio, julho
e outubro eram de 30 dias e os demais de 31. Todavia,
êsse ano não correspondia aos dez meses lunares, o que nos
acarreta certas dificuldades para melhor explicação. Parece
ter sido Numa Pompílio ou Tarquino Prisco quem introduziu
a divisão do ano em doze meses.
O pontif ex minor, no início, ficava incumbido de obser-
var a primeira fase da lua e o Rex proclamava o resultado
dessa observação ao povo reunido diante da Guria Calabra
com um sacrifício dedicado a Iuno. Assim, todos ficavam
sabendo que o primeiro quarto lunar seria dentro de 5 ou
7 dias. Êsse dia chamava-se nonae, porque era o nono
dia antes dos idus. A lua cheia cairia sempre no oitavo
dia (segundo a nossa maneira de contar) após os idos isto
é, no dia 13 ou 15 de cada mês. Como vemos, o espaço
de tempo compreendido entre os idus e o primeiro dia do
mês seguinte, era duas vêzes o que havia entre as nonae e
os idus.
As kalendae eram dedicadas a Juno e os idus a Júpiter.
As nonae não eram dedicados a nenhum deus, mas nessa
época, o rex sacrorum anunciava as festas para todo o mês.
Os dias do calendário vinham assinalados com uma
sigla para indicar quais os atos, que podiam ser praticados
nesse dia. De modo geral, o dia era / astus ou nefastus.
Os di'.es fasti vinham assinalados com (F) o que significava
tratar-se de dia de trabalho comum, podendo comparecer
às audiências nos tribunais, mas não se devia comparecer
aos comícios.
Os dias em que podiam ser realizados comícios, vinham
assinalados com ( C) ; os dias dedicados ao culto, eram os
dias nefasti indicados por um (N) ; os dias festivos vinham
assinalados com a sigla (NF).
- 267 -

Havia três grandes categorias de festas: - as f eriae


publi.cae, as f eriae gentium e as f eriae singulorum.
Relação das principais festas - As principais festas
distribuídas pelos diversos meses eram as seguintes:
MARÇO - Era o mês que abria o ano religioso.
15 - festejava-se a deusa Anna Perenna, com um
ritual licencioso, para incrementar a fertilidade da natu-
reza;
17 - Liberalia, dedicada a Liber, divindade que ex-
prime a festividade. ;
19 - Quinquatrus, festa de purificação dos exércitos.
23 - Tubilustrium, festa militar.
ABRIL - Era o mês da vegetação.
15 - Fordicidia, festa arcaica, de caráter mágico
agrário, dedicada a Telus.
19 - Oerialia, festa dedicada a Ceres.
21 - Parilia, dedicada a pedir a prosperidade dos
rebanhos.
23 - V inalia, para proteger a vindima.
25 - Robigalia, realizada num bosque para proteger a
semente.
MAIO: - Era o mês do crescimento de vegetais.
9,11 e 13 - Lemuria, para aplacar os espíritos do
defunto.
JUNHO - É o mês dedicado a ritos de caráter expia-
tório.
9 - 15 - V estalia eram dias de festa de caráter
genuinamente nefasto.
11 - Fortunae, festa dedicada ao templo da Fortuna.
JULHO - Outrora chamado Quintilis, porque era o
quinto mês.
5 - Poplifuga, festa que consistia na fuga empreen-
dida pelo povo durante a sua realização.
23 - N eptnnalia, festa em honra de Netuno.
25 - Furrinalia, festa em honra de Furrina.
AGÔSTO
17 - Portunalia, festa dedicada a Portunus, deus que
levava a chave na mão.
19 - Vinalia, festa para desejar boa vindima.
21 - Oonsualia, festa dedicada a Conso.
- 268 -

27 - Yi1lcanalia, festa dedicada a Vulcano, deus do


fogo, que alimentava a indústria e destruía as coisas.
25 - Opiconsiva, festa dedicada a Ops, protetora do
grão.
SETEMBRO - Era o sétimo mês.
1 - Festa dedicada a três templos: de Júpiter Li-
bertas, Juno Regina e Júpiter Tonante.
OUTUBRO - Era o mês caracterizado pela lustração dos
exércitos no fim da campanha de guerra.
11 - 1lfeditrinalia - festa dedicada a Júpiter.
13 - Fontinalia, festa dedicada ao deus Fonti.
19 - Armifastrium, festa de purificação dos exércitos.
NOVEMBRO - Não havia, nesse mês, festas especiais.
Todavia, no dia 13, os irmãos Arvaü, faziam sacrifícios no
templo de Feronia.
DEZEMBRO - Era o mês dedicado à semente.
11 - Agonium, festa dedicada ao Sol Indiges.
15 - Consualia, festa em honra de Consus.
17 - Sat11rnalia, festa dedicada a Saturno, deus da
semente.
19 - Opalia, festa em honra de Ops, deusa da abun-
dância.
21 - Divalia, festa dedicada à Diva Angerona.
23 - Larentalia, festa dedicada a Acca Larentia
JANEIRO -
9 - Agoniurn, festa drdicada a J ano.
11 e 15 - Carrnentalia, festa dedicada à dea Carmenta,
deusa do carmen, que previa o nascimento.
FEVEREIRO - Era o mês dedicado à. purificação e à
expiação.
15 - L1tpercalia, festa antiquíssima, cujo rito se di-
vidia em três momentos.
17 - Quirinalis, festa realizada no templo de Quírio.
21 - Feralia, era o último dia de uma semana dedicada
aos mortos da família.
23 - Terminalia, festa campestre em honra dos limites
da propriedade privada.
24 - Regifugimn, era um rito comemorativo à fuga
de Tarquínio Soberbo.
2 - Eq1tirria, havia uma corrida de cavalo no Campo
de Marte.
III PARTE

Principais instituições e síntese histórica


I

A ESCRAVIDÃO

Histórico - A escravidão é uma instituicão do ius


gentiitm, porque existia em todos os povos da a'ntiguidade.
Todos os homens são livres ou escravos, ensinava Gaio
nas Institutas: Summa divisio in inre personarum haec
est, quod omnes homines aut liberi sunt aut servi (1, 9).
Sômente os liberi podiam ser sujeitos de direito, ao
passo que os servi eram apenas objeto de direito, pois eram
considerados coisa, como se fôssem animais.
A liberdade consistia na faculdade de fazer o que se
quisesse, salvo o que fôsse proibido pela fôrça ou pelo di-
reito: - "libertas est facitltas eius, quod cuique facere libet,
nisi si quid aut vi aut iure prohibetur" ( Inst. J ust. I, 3, 1).
A escravidão era uma instituição do direito das gentes,
pela qual alguém estava, contrariando a natureza, sujeito
ao poder de outrem: - "servitits autem est constitutio iuri.s
gentium, qua quis domínio alieno contra naturam subicitur"
(Inst. Just., 3, 2).
E' o escravo uma pessoa? Apesar de encontrarmos
textos em que o têrmo servus é mencionado como uma das
divisões de pessoas, podemos dizer que êle não era consi-
derado persona, na acepção jurídica da palavra. Os legis-
ladores romanos empregaram "persona" na acepção de ser
humano.
De fato, vários são os textos que poderíamos apresentar
para demonstrar que os servi não eram jurldicamente con-
siderados persona.
O escravo é um homem, que não é pessoa jurídica, mas
uma coisa; não podia participar de qualquer relação jurídica;
não tinha bens ativos (propriedade), nem passivos ( contrair
dívidas) ; não participava de qualquer relação de direito
de família.
- 272

Um processo contra um escravo seria completamente


inócuo.

Condição social do escravo - A condição social do


escravo sofreu uma evolução desfavorável para êle. Parece
que não havia, nos primeiros tempos de Roma, grande di-
ferença entre as condições de vida do dorninus e as dos
servi.
As atividades agrícolas dos romanos eram simples e
delas participavam os escravos, que faziam parte da f a-
mília. Além disso, êles eram da mesma raça que os Ro-
manos, pois foram capturados nas guerras contra os povos
vizinhos.
Com o aumento do território, o capitalismo foi intro-
duzido em Roma e, a partir do VI século da fundação da
cidade, isto é, 200 a. C., a sociedade romana muito se
modificou sob a influência de fatôres econômicos. O número
de escravos aumentou consideràvelmente e êstes já não eram
do mesmo culto e da mesma raça dos romanos. O dornin11,s
passou a residir na cidade, ficando ainda mais afastado
dos seus escravos, cujo número crescia consideràvelmente.
Em Roma ficavam os escravos necessários para o desem-
penho de serviços pessoais, isto é, de caráter doméstico :
- era a f ami.lia urbana,. Os escravos que ficavam nas
propriedades do interior constituíam a chamada família
rústica.
Como os dornini não podiam permanecer nas proprie-
dades, onde apenas passavam férias ou iam mui raramente,
eram obrigados a confiar os seus escravos a prepostos cha-
mados villici. Êstes últimos podiam ser escravos libertos.
O tratamento dado pelo villicus aos escravos era, geralmente,
o mais brutal e desumano possível. Até mesmo no Baixo
Império, apesar da propagação do cristianismo, a situação
do escravo continuou muito cruel.

Situação jurídica do escravo - O escravo não em


sujeito de direito, pois era considerado uma coisa, ou melhor~
um animal humano. O dominus exercia sôbre o servus o
direito de propriedade e para sancionar êsse direito fazia
uso da ação - reivindicatio.
O dominus tinha o direito de vida e de morte sôbre o
servus. Êle podia tornar-se amante de sua escrava e exer-
- 273 -

eia o direito de propriedade sôbre os filhos. Os filhos da


mulher escrava era o que se chamava de partus ancillae.
A união de dois escravos não era um casamento, mas
um mero fato a que se dava o nome de contuberni1lm. O
dominus podia não somente separar o escravo da escrava,
vendendo-os isoladamente, mas até os próprios filhos.
No princípio do Império, vemos aparecer as primeiras
medidas que vieram atenuar os maus tratos dispensados
aos escravos.
No ano 19 da era cristã, apareceu a lex Petronia que
proibia os domini de entregar os seus escravos às feras nos
jogos do circo, salvo a título de castigo, mediante autori-
zação do magistrado. "Post legem Petroniam et senatus
consulta ad earn legem pertinentia dominis potestas ablata
est ad bestir..~ depugnandas suo arbitrio servos tradcre:
oblato tamen iudici servo, si fosta sit domini quarella, sic
poenae tradetur" (D. 48, 8, 11, 2).
Duas constituições de Antonino Pio estabeleceram que
quem matasse, sem motivo, o seu escravo, sofreria as mes-
mas penas que se houvesse morto o escravo de outrem.
Um edito do imperador Cláudio não permitia que o
dominus abandonasse o seu escravo velho e impotente no
templo de Esc1llápio.
Justiniano concedeu o direito de cidade ao escravo do-
ente, que fôsse expulso da casa de seu dominus.
Constantino considerava caduco o direito do dominns
que abandonasse os escravos recém-nascidos, assim como
proibiu a dura separatio, isto é, a separação dos escravos
unidos pelo contubernium.
Os imperadores estabeleceram, para a eficácia das me-
didas acima concedidas, que os escravos podiam recorrer aos
magistrados por meio de um processo extra ordinem se
recebessem, sem motivo, maus tratamentos dos domini.
O dominus procurou tirar do escravo todo o proveito
possível. O servus não somente era utilizado na cultura dos
campos, mas foi-lhe permitido participar de atos jurídicos
para aumentar o patrimônio do dominus. E' isto o que nos
ensina Gaio.
"ln potestate itaque s1mt servi dominorurn. Quase qui-
dem potestas iuris gentium est: nam a,pud ornnes peraeque
gentes animadverfere possmnus dominis in servos vitae ne-
- 274-

cisque potestatem esse, et quodcumque per servum adqui-


ritur, id domino adquiritur" ( Gaio, Inst., I, 52).
O texto acima esclarece muito bem que tudo aquilo
que fôsse adquirido pelo escravo - quodcumque per servum
adquirititr - seria adquirido em nome do dominus.
Não resta a menor dúvida que o escravo podia adquirir
em nome do dominus, mas não podia praticar qualquer
ato que tornasse o dominus devedor: - "Melior condicio
nostra per servos fieri potest, deterior fieri non potest" (D.
50, 17, 133).
O escravo, ao adquirir em nome do domi.nus, tornava-se
apenas um instrumento de aquisição, mas isto não impli-
cava em atribuir-lhe personalidade. As obrigações contraí-
das pelo escravo não eram obrigações civis, mas obrigações
naturais, pois o credor não podia exigir a execução. O
único efeito que essas obrigações produziam, consistia no
seguinte : se o escravo, depois de haver alcançado a liberdade
( manumissio), - executasse a obrigação que assumira, era
considerado como tendo o que devia, assim como se a
obrigação fôsse nula, êle não teria pago uma coisa devida e
poderia pedir a restituição.

Casos de responsabilidade do dominus - As atribuições


confiadas aos escravos aumentavam consideràvelmente, tor-
nando-se indispensável, para a concretização dos negócios,
que certas garantias fôssem dadas aos que com êles man-
tinham relações comerciais.
O domi.nus que confiasse a um escravo a direção de um
navio de comércio, era responsável por todos os atos ju-
rídicos concluídos pelo escravo na direção do navio. O
pretor concedia ao credor uma actio exercitoria que obrigava
o dominus - (exercitor) - a tôdas as conseqüências decor-
rentes dêsses atos jurídicos.
Se o dominus colocasse o escravo no comércio terrestre,
como, por exemplo, na gestão de uma taberna, o pretor
concedia, em defesa dos credores, uma actio institutoria.
Se o dominus confiasse ao escravo a execução de de-
terminada tarefa, o pretor também amparava os credores
por meio de uma actio quod iussu.
O dominus podia limitar o seu risco confiando ao
escravo um pecúlio. Os terceiros, ao contraírem qualquer
ato jurídico com os escravos, sabiam que podiam contar
-275 -

apenas com o valor dêsse pecúlio. No entanto, se o dominus


tivesse enriquecido em virtude da obrigação contraída pelo
escravo em quantidade superior ao valor do pecúlio, o pretor
permitiria que êle respondesse até o limite de seu enrique-
cimento. A ação correspondente era a actio de peculio et
de in rem verso.
Se o dominus tivesse conhecimento de que o escravo ao
qual confiou um pecúlio, fazia mau negócio, era obrigado
a repartir com os credores a parte restante do ativo do
pecúlio, proporcionalmente ao valor de cada crédito. Os
credores que se julgassem prejudicados, poderiam propor
contra o domfaus uma actio tribiitoria.

Processo relativo à liberdade - Vejamos agora a


situação de um individuo que vivesse como escravo e pre-
tendesse ser livre, ou vice-versa, isto é, um indivíduo que
se apresentasse como livre e alguém pretendesse que êle
fôsse seu escravo.
O processo pelo qual se procurava saber se um indi-
víduo era livre ou escravo chamava-se causa liberalis.
Se um cidadão pretendesse que lhe pertencia como es-
cravo alguém que vivia como se fôsse livre, poderia fazer
valer o seu direito por meio da vindicatio in servitutem.
Se algum indivíduo que vivesse como escravo preten-
desse ter direito à liberdade, poderia fazer uso da vindicatio
in libertatem.
A causa liberalis era proposta sob forma de uma reivin-
dicatio, com certas particularidades. Como o escravo não
podia usar da palavra diante do pretor, era necessário que
se fizesse acompanhar do adsertor libertatis.
Mathieu Nicolau (1) observa que três regras muito
importantes caracterizavam o favor libertatiss 1.ª) o socra-
mentum era reduzido ao mínimo: 50 asses; 2.ª) as vindiciae
eram secundum libertatem, isto é, o escravo permaneceria
durante o processo em liberdade provisória; 3.ª) o processo
de liberdade podia ser renovado indefinidamente pelo mes-
mo adsertor.
O julgamento do processo não competia ao iudex itnus,
mas a um colégio composto u.\! dez membros.

(1) NICOLAU, Matheus - Causa liberalis, p. 176.


-276-

Fontes de escravidão - Wallon (2) observa que as


fontes da escravidão em Roma são as mesmas que na Grécia.
Os escravos ou nascem ou se tornam escravos, ensina-nos
Justiniano.

"Servi mdem aut nascuntar aut f iunt. N ascun-


tnr ex ancillis nostris : fiitnt aut iure gentiwn, id est
captivitate, aut iure civili, ciim horno liber maün-
v·iginti annis ad pretittrn participandiirn sese venurn-
dari passtf.s est, (Inst. Just., Jus., 113, 4).

De acôrdo com o sentido do citado de Justiniano, o


nascimento não se enquadraria no direito das gentes, nem
no direito civil. Seria uma fase à parte.
No entanto, Marciano, no livro I das Instituições,
prefere apresentar duas fontes principais de escravidão,
incluindo o nascimento numa delas:

"Servi autem in dominimn rnostrum rediguntur


amt iure civili aut gentium: iure civili, si quis se
maior v·iginti annis ad pretium partici.pandum ve-
nire passus est: iure gentium servi nostri sunt, qui
ab hostibus capiuntur aut qiti se ancillis nostris
nascuntur, (D. I, 5, 1).

Havia, também, certas fontes de escravidão que perma-


neceram até a época de Justiniano e foram por êle abolidas.
A Lei Sência proibia que os deditícios residissem na
cidade de Roma ou dentro de cem milhas da mesma; aquêles
que infringissem essa determinação - tanto êles como os
seus bens - seriam mandados vender publicamente e sob
a condição de nunca serem livres bem como de não servirem
D.a cidade de Roma. Se fôssem manumitidos, tornar-se-iam
escravos do povo Romano.
Fontes da escravidão no direito clássico Schulz es-
clarece-nos que, no direito clássico, as fontes da escravidão
eram apenas as seguintes:

(2) WALLON, H., Histoire de l'esclavage dans l'antiquité, II, 17.


- 277

a) pessoas capturadas que se tornavam escravos do


Bstado romano ;
b) filhos nascidos de uma escrava;
e) condenação em processo criminal - servus poenae;
d) uma livre que coabitasse com um escravo contra
a vontade do dominus.
Extinção da escravidão - Os escravos tornavam-se
livres pela manumissão, que é a atribuição positiva da
liberdade por parte do dominus. O simples abandono não
tornava o escravo livre, mas apenas um escravo sem dono.
As formas de rnanumissão, no antigo direito romano,
eram a vindicta, o censo e o testamento.

A MANUMISSÃO POR VINDICTA - A mamunissão por


vindicta era, até pouco tempo, explicada da seguinte forma:
o domintis e o escravo deviam ir à presença do magistrado
juntamente com uma terceira personagem chamada adsertor
libertatis, que pronunciava as seguintes palavras: - "eu
digo que êste homem é livre, segundo o direito dos Quirites"
( hunc homi.nem liberum esse ittre Quiritiiim dico) . O
adsertor conduzia na mão a vindicta, varinha que represen-
tava a lança (hasta) e com ela tocava o escravo ao pronunciar
as palavras acima mencionadas; o dominus não opunha a
contra vindicatio e também tocava o escravo com a vindicta,
1:onfirmando assim a declaração do adsertor. Diante disso,
o magistrado proferia a addictio, isto é, êle homologava a
d(•claração do adsertor, confirmando, por parte do estado
romano, que o escravo se encontrava em condições de homem
livre. Lévy-Bruhl insurge-se contra esta explicação e não
admite que a manumissão por vindicta fôsse um processo
fietício. Segundo êle, o ato se revestia de uma declaração
feita pelo domintts perante o magistrado e por êste homolo-
gada. Não havia questão de processo, nem tampouco de
adsertor libertatis. Havia apenas um desejo expresso pelo
dominits perante o representante da autor' iade pública que
o ratificava. O magistrado tocava o escravo com a vindicta,
num gesto simbólico, fato êste que deu o nome a essa forma
de manumissão.
Lévy-Bruhl para defender a sua teoria, alude a um
baixo-relêvo existente no castelo de Mariemont, na Bélgica,
- 278 -

perto de Charleroi. Trata-se de uma rara representação de


uma manumissão por vindicta, onde não se nota a presença
do adsertor.

MANUMISSÃO PELO CENSO - o censo era o recensea-


mento dos cidadãos romanos feito por um magistrado
chamado censor, de cinco em cinco anos.
A inclusão do nome de um escravo na parte reservada
aos homens livres seria o bastante para torná-lo um homem
livre.
Parece-nos mais lógico, porém, admitirmos, como faz
Lévy-Bruhl, que o nome do escravo estivesse acompanhado
de algum sinal, pois, caso contrário, não se distinguiria um
liberto de um ingenuus.

MANUMISSÃO POR TESTAMENTO - o testamento é um ato


de última vontade que existiu em Roma desde a época da
Lei das XII Tábuas. A manumissão por testamento podia
ser submetida a um têrmo ou a uma condição. Dava-se o
nome de statuliber ao escravo que esperava a concretização
do têrmo ou realização da condição.
A condição é um acontecimento futuro e incerto, uma
vez que pode não se realizar. O têrmo é um acontecimento
que se concretizará, como, por exemplo: determinado dia
do calendário.

Formas da manum1ssao no Império - A manum1ssao


pelo censo tornou-se obsoleta, como bem acentua Buckland,
embora ainda fôsse assinalada teoricamente pelos juriscon-
sultos clássicos.
Surgiu, nesse período, nova modalidade de manumissão
por causa de morte : o fideicomisso. O herdeiro ou o lega-
tário recebia a missão do testador de manumitir um ou
var1os escravos que se tornavam seus manumissos, isto é,
do herdeiro ou do legatário que lhes conferia a liberdade.

"Qui autem ex fideicomisso manumittitur, non


testatoris fit libertits, etiamsi testatoris servus fue-
rit, sed eiils qui maniimittit" ( G. II, 266) .

No entanto, o escravo que tivesse sido libertado dire-


tamente por testamento mediante disposições tais como "que
- 279 -

meu escravo Sticus seja livre" ou "eu ordeno que meu


escravo Sticus seja livre", tornava-se liberto do próprio
testador.
"At qui directo testamento liber esse iubefar
veluti hoc modo: "Stichus servus (meus) liber
esto" vel hoc: "Stichum servurn meum libermn
esse iubeo, is (ipsius) testatoris fit libertus" ( G.
II, 267).

Os escravos podiam dirigir-se ao magistrado, como ficou


estabelecido pelo senatus-consulto Rúbio Galo e Célio Hispão,
para obter a execução do fideicomisso da liberdade.
A lex !unia dispõe sôbre a situação dos escravos que
foram manumitidos sem que se observassem as formalidades
exigidas, desde que o dominus manifestasse o desejo de
manumitir na presença de testemunhas ou em carta diri-
gida ao escravo. Ás pessoas que obtinham a manumissão
dessa forma, isto é, inter amicos ou per epistulam tornavam-
se latinos Junianos; não eram cidadãos.
Ás outras formas de manumissão, isto é, por testamento
e por vindicta ainda persistiam no Império.

Restrições à liberdade de manumitir - Duas impor-


tantes leis restringiram a liberdade de manumitir: as leis
Fúfia Canínia e a Elia Sência. Como o número da ma-
numissão aumentasse consideràvelmente, medidas restritivas
se impuseram para que homens de origem duvidosa não
se misturassem e se confundissem com os cidadãos romanos,
que deviam manter certo nível de moralidade. Além disso
as manumissões contribuíam para empobrecer as famílias.
1) Lei Fúfia Canínia - Do ano 2 antes de Cristo,
proibia a manumissão por testamento de mais de cem escra-
vos e ainda estabelecia que os escravos a serem manumitidos
deviam ser designados nominalmente no testamento.
2) A lei Aelia Sentia continha quatro disposições:
a) O dominus menor de 20 anos não podia manumitir
seus escravos, salvo se fôsse por motivos legítimos, como, por
exemplo, para desposar uma escrava. Competia a um con-
selho de 5 senadores e de 5 cavalheiros verificar se havia
motivo legítimo ( Gaio, I, 20).
b) Qualquer pessoa, de qualquer idade, não podia
manumitir o escravo menor de 30 anos, salvo por um motivo
- 280

legítimo, a juízo do conselho referido no item anterior


(Gaio, I, 18).
e) O domin1ts não podia manumitir o escravo para
:fraudar os direitos do credor ( G., I, 37).
cl) Não podiam ser manumitidos certos escravos que
~ofressem pumçoes consideradas como particularmente de-
gradantes ( Gaio, I, 13, 15).

Condição do liberto - O escravo que alcançasse a


liberdade não era assimilado a um cidadão, pois ficava
numa situação intermediária entre o escravo e o homem
livre; era chamado libertus ou libertinus, em contraposição
ao ingenuus, denominação dada a quem nunca tinha sido
escravo.
O libertus não se desligava totalmente do dominus a
quem devia certas obrigações que constituíam os iura patro-
natus, o obsequi.tirn, as operae e os bana.
a) obsequium - Trata-se de uma noção mais de ca-
ráter moral do que jurídico. O libertus não podia intentar
ação injuriosa contra o seu patrono, porque isto implicava
numa falta de reverentia.
Se o patrono caísse na miséria, poderia reclamar ali-
mentos a seu antigo escravo que estivesse em melhor situa-
ção financeira do que êle. A obrigação de prestar alimentos
era recíproca.
b) operae - O libertus devia prestar ao patronus
trabalhos e serviços de acôrdo com certa regulamentação
de modo que o colocava em situação muito diferente daquela
em que se encontrava quando era escravo : as operae of fi.-
ciales e as operae f abriles.
As operae officiales eram serviços domésticos, semelhan-
tes aos que o escravo doméstico prestava ao seu dono na
domus, como, por exemplo: servir à mesa. No entanto o
dominus não podia exigir judicialmente a prestação dêsses
serviços.
As operae f abriles eram trabalhos manuais ou indus-
triais cujo valor pecuniário podia ser fàcilmente determi-
nado. Neste caso, o dominus podia reclamar a prestação
das operae f abriles por meio de ação iudicium operarum,
cuja fórmula era semelhante à da ação certae creditae
pecuniae. Os domini antes de manumitir seus escravos, fi-
xavam as operae que êstes lhes deveriam, após serem libertos.
- 281-

Como o escravo não era pessoa jurídica, o dominus ex1g1a


que êle prometesse por meio de um juramento, antes da
manumissão, os serviços que pretendia exigir do futuro
liberto.
c) os bona constituíam o patrimônio do liberto. Se
êste morresse sem deixar testamento nem filhos, o antigo
dorninus teria direito à sucessão.

Formas de manumissão no Baixo Império - A dou-


trina cristã muito contribuiu para que fôsse abolida grande
parte do formalismo exigido para que se concretizasse a
manum1ssao. Exigia-se apenas a vontade manifesta e in-
<·ontestável do dominus.
A manumissão per cpistulam e inter amicos produziu
os mesmos efeitos que a manumissão por vindicta.
No tempo de Justiniano a manumissão por vindicta
se reduziu a uma declaração solene feita perante o magis-
trado ou o Conselho Imperial.
Uma prova da abolição de qualquer formalismo encon-
tramos na manumissão per mensam, segundo a qual seria
liberto o escravo que fôsse admitido a se sentar à mesa do
dominus. E' verdade que Justiniano exigia que a manu-
missão se processasse na presença de cinco testemunhas.
Havia, no Baixo Império, um processo novo de manu-
missão que parece ter sido o mais empregado: manitmissio
in sacrosanctis ecclesi.is. Uma constituição de Constantino
no ano 316, dirigida a certo bispado, faz referência expressa
à liberdade concedida a escravos in ecclesia catholica, perante
os fiéis e na presença do sacerdote, devendo o documento
ser assinado pelo dominus, vice testium ( C. 1, 13, 1).

Categorias de libertos - Devemos distinguir os libertos


cidadãos, os libertos latinos e os libertos peregrinos.
a) libertos cidadãos - Eram os que tinham obtido
a liberdade concedida por um cidadão romano, de acôrdo
com um dos três processos clássicos de manumissão. O
liberto cidadão distinguia-se do ingenuus, uma vez que não
tinha o ius honorum, não podia ser eleito como magistrado,
nem servir nas legiões.
Quanto ao direito privado, o liberto cidadão podia
exercer todos os atos jurídicos, exceto contrair casamento
com um ingênuo. Somente podia casar na classe dos liberti,

19
- 282 -

sendo, pois, vedado o casamento entre liberti e ingenui.


No entanto, a lex Iulia de maritandis ordinib1ts suprimiu
essa proibição, que apenas persistiu na classe senatorial e
foi afastada por Justiniano.
Os libertos podiam ser inteiramente assimilados aos
ingênuos por meio de uma instituição chamada restitutio
natalium. O mesmo aconteceria por meio de um privilégio
chamado ius a1treorum annitlorurn, que consistia no direito
de usar um anel de ouro, que indicava a liberdade de
origem, de modo que o Imperador, ao conceder ao liberto
êste privilégio, relevava as suas incapacidades quanto ao
direito público.
e) libertos latinos Eram os libertos dos latinos
que não podiam dar, aos que fôssem por êles manumitidos,
categoria superior à dêles próprios. Havia também alguns
libertos de cidadãos romanos que eram regidos por um
estatuto análogo ao dos latinos, em virtude da lex [unia
N orbana. Eram os latinos junianos, libertos por uma forma
irregular de manumissão.
O liberto latino juniano tinha o ius cornmerci com os
cidadãos romanos, mas não tinha o conubium. Êles viviam
livres, mas morriam escravos; não podiam testar, nem re-
ceber por testamento.
e) os libertos peregrinos deditícios - Os libertos pe-
regrinos eram os que foram escravos de peregrinos e dêstes
obtiveram a manumissão.
Os libertos deditícios, criados pela lex Aelia Sentia,
eram considerados indignos em virtude de terem exercido
ofícios degradantes durante a escravidão. Êles não podiam
residir a menos de cem milhas de Roma nem em certas
cidades.
No direito de Justiniano não mais havia libertos dedi-
tícios nem latinos.

Situações intermediárias entre a liberdade e o estado


de escravidão -, As situações intermediárias entre a liber-
dade e a escravidão, no direito antigo, eram as seguintes:
o addictus, o redemptus, o auctoratus e as pessoas in
mancipio; no direito posterior devemos citar o colonato.
ADDICTUS - O addictus era o devedor insolvável, en-
tregue ao credor por meio da man11s iniectio. O credor,
- 283 -

satisfeitas certas formalidades, podia vendê-los trans Tibe-


rim.
O ladrão que, em certas condições, era entregue à
pessoa que havia roubado, podia ser classificado entre os
addicfas era, na teoria jurídica, uma verdadeira pessoa livre.
NEXUS - O nexus era o indivíduo vinculado a outro
por meio de uma operação jurídica chamada nexus, que
consistia num processo per aes et libram.
O nexus que não executava a sua obrigação, ficava em
situação semelhante à do addicfas.
A lei Poetelia Papiria muito favoreceu os nexi, pois
não permitiu que fôssem mantidos a ferros.
REDEMPTI - Os redempti eram cidadãos romanos cap-
turados pelo inimigo e resgatados pelos clientes ou por
membros da mesma gens. No fim da República, aquêle que
fôsse resgatado por um cidadão romano não adquiria ime-
diatamente a liberdade, porque devia antes pagar ao re-
demptor a importância correspondente ao resgate. Até que
isto acontecesse, o romano que tinha sido capturado era
considerado redemptns e ficava submetido ao redemptor.
Quando fôsse satisfeita essa exigência, o redemptus gozaria
do benefício do postliminium e adquiria completa liberdade.
AUCTORATUS - Os auctorati eram homens que se alu-
gavam para prestação de serviços a empresários de espe-
táculos ou de jogos de circo. A restrição que sofriam era
mais de caráter moral do que jurídico.
PESSOAS "IN MANCIPIO" - Eram as pessoas que, sem
perder a qualidade de cidadãos romanos, tinham sido alie-
nadas pelo paterfamilias. Dizia-se que essas pessoas se
encontravam sob um poder diferente da patria potestas,
estavam in mancipio; ficavam em escravidão sem ser es-
cravos.
A alienação tinha caráter exclusivamente individual, de
modo que quando o paterfarnilias alienava um membro de
sua família, somente êle ficava in mancipio do adquirente;
a situação da mulher e dos filhos continuava a ser a mesma
como se não tivesse havido a alienação.
o COLONATO - O colonato é uma instituição que tomou
grande desenvolvimento no Baixo Império.
O colono, segundo Lévy-Bruhl, era um escravo rural,
empregada a palavra escravo numa acepção mais ampla,
- 284-

porque êle nunca foi qualificado dessa forma, salvo em


textos literários. O colono estava ligado à terra que cul-
tivava, a qual não podia livremente abandonar.
As origens do colonato são um pouco obscuras. Alguns
autores, como Rostovzeff, julgam que provêm do arrenda-
mento das terras públicas.
O ager publicus era alugado por cinco anos e êsse arren-
damento podia ser renovado indefinidamente, sem haver ne-
cessidade de nova convenção.
Os proprietários de grandes áreas territoriais aplicaram
êsse processo usado pelo Estado, de modo que instalaram
em suas propriedades, cidadãos livres incumbidos de justi-
ficar e explorar essas terras. No entanto essa liberdade dos
arrendatários tornou-se cada vez mais reduzida em virtude
de fiscalização, que sôbre êles exerciam os proprietários.
Os proprietários obtiveram do Estado medidas rigorosas
que não permitiam os colonos abaiidonarem suas terras.
Uma constituição de Constantino, no princípio do IV século,
punia rigorosamente o colono fugitivo e aplicava severa
multa a quem lhe desse asilo.
O colono estava muito mais ligado à terra do que ao
dominus e nisto reside a principal diferença entre êle e o
escravo. Não podia ser vendido sem a terra, nem esta sem
o colono.
Sob certo aspecto, a situação do colono era pior do que
a do escravo, pois era uma espécie de escravo de uma coisa:
a terra. Nestas condições não podia aspirar à manumissão,
o que seria possível se estivesse, como o escravo, mais ligado
ao dominus.
Apesar disso, o colono podia ter um patrimônio, bem
como contrair casamento legítimo, prerrogativas não con-
feridas ao escravo.
A fonte primitiva do colonato parece ter sido um con-
trato de aluguel, mas a mais numerosa foi o nascimento.
II

O CASAMENTO E SUAS FORMAS

Noção do casamento - O matrimônio romano pode


ser definido como a convivência do homem e da mulher
sob a autoridade do marido, com a intenção efetiva e
contínua de serem marido e mulher.
A mulher, em Roma, gozava de certas vantagens que
não encontramos noutros povos da Antiguidade. Na Grécia,
a filha somente herdaria os bens do pai, se não tivesse
irmão; na antiga Germânia, as filhas somente eram admitidas
à partilha dos bens móveis, sendo excluídas da partilha
da terra; entre os chineses, era a mulher completamente
afastada da sucessão; entre os muçulmanos, hindus e he-
breus, a mulher era inteiramente excluída da sucessão do
pai.
O que acabamos de informar é o suficiente para obser-
varmos a superioridade da mulher em Roma, a qual, por
ocasião da morte do pai, participava da sucessão com os
mesmos direitos de seus irmãos.
Modestino define as núpcias como a união do homem
e da mnlher numa convivência perene, a comunicação do
direito divino e humano: "nuptiae sunt coniunctio maris et
f eminae et consortium omnis vitae, divini et humani iuris
communicatio" (D. 23, 2, I).
O têrmo nuptiae era, muitas vêzes, usado para indicar
matrimonium iure gentium, diferentemente das iustae nup-
tiae, isto é, do casamento legítimo. As núpcias eram um
casamento entre duas pessoas que não tinham o conu,bium
e não podiam contratar casamento, de acôrdo com o direito
civil.
O têrmo nuptiae, para indicar o casamento legítimo,
deve vir acompanhado do adjetivo iustus.
- 286 -

Justas núpcias eram as que contraíam entre si os


cidadãos romanos: - "Justas autem nuptias inter se Romani
contrahunt'' (Insti. Just. I, 10, pr.).

Cerimônias religiosas do casamento - Os antigos


romanos faziam revestir o casamento de cerimônias religio-
sas, que duravam um dia. A filiaf amilias oferecia os seus
pertences aos deuses domésticos, abandonava a toga prae-
texta e vestia a tunica recta. Logo nas primeiras horas, a
noiva vestia um véu vermelho - o flammeitm - e tinha
início a cerimônia, que se dividia em três partes:
a) A entrega da noiva ao espôso na casa paterna;
b) a noiva era levada para a casa do espôso: - de-
ductio in domum mariti.;
e) recepção da mulher na casa do marido.
a) A primeira providência, de caráter genuinamente
religioso, consistia em tomar os auspícios, para saber se os
deuses eram ou não favoráveis ao casamento. Isto era feito
pela observação do vôo dos pássaros, ou das entranhas das
vítimas. Nessa ocasião, era sacrificada uma ovelha. Os
convidados reunidos aguardavam qne os auspices comuni-
cassem o resultado da consulta, conhecida a qual, era pro-
nunciada a fórmula tradicional: Qitando Gaius ib1'., ego
Gaia. Os noivos eram levados à presença um do outro
por meio de uma mulher casada - a pronuba - e nesse
momento, êles apertavam as mãos - dextras iungunt.
Depois de alguns sacrifícios feitos aos deuses agrícolas, os
noivos recebiam os cumprimentos através da fórmula ritual:
feliciter. Finalmente era servido um banquete - cena -
na casa do pai da noiva, que durava até o crepúsculo.
b) A segunda parte começava por uma simples simu-
lação de rapto da noiva dos braços da mãe. Formava-se o
cortejo em direção à casa do noivo, o qual era precedido
por tocadores de flauta e por pessoas que conduziam tochas.
Os convidados entoavam hinos fesceninos e crianças pediam
que lhes oferecessem nozes. Êsses versos fesceninos eram
muito indecentes.
A noiva estava cercada por três rapazes, os piieri ma-
trini et patrini, filhos de casamento legítimo, cujos pais ainda
viviam, devendo um dêles levar a tocha nupcial feita de
ramo de pilriteiro.
- 287 -

e) Quando o cortejo chegava à casa do marido, a noiva


era levantada ao entrar, para que evitasse tocar o limiar
da porta. O marido a recebia no atrium de ·sua casa e lhe
comunicava a água e o fogo, como símbolo da vida comum
e da comunidade de culto: - "igni et aqua accipere novam
nuptam" (D. 24, 1, 66). A pronuba preparava no atrium
o lectus genialis, em honra do gênio da família. A mulher
suplicava aos deuses proteção para a sua união e depois
disso, os chamados dii indi'.getes presidiam a vários atos
de caráter verdadeiramente obscenos: Cinxia, Virginiensis,
Subigus pater, Prema Mater, Pertunda, Perfica.

Importância da "manus" - A mulher, segundo o an-


tigo direito romano, entrava, em conseqüência do casamento,
na família civil do marido e ficava submetida ao poder do
mesmo paterfamilias. Êsse poder, que o marido exercia
sôbre a mulher, chama-se manus e a colocava na posição da
filha: - filiae loco. A manus e o casamento eram insepa-
ráveis no antigo direito romano. Isto quer dizer que a
man1ts era uma conseqüência natural e inevitável do casa-
mento. Daí concluirmos não ser admissível casamento sem
manus, nem manus sem casamento.
O casamento e a manus originavam-se de atos solenes
chamados confarreatio e coemptio. A simples affectio mari-
talis desprovida de solenidades, que caracterizavam os men-
cionados atos, não proporcionava a essa união o caráter de
casamento. No entanto, decorrido um ano dessa união sem
formalidades, a mulher tornava-se pelo uso ( us1is), a espôsa
do marido e ficava sob a sua manus. Se, porém, a mulher
saísse da casa do marido antes de terminado o ano, verifi-
cava-se a usurpatio, que interrompia o usiis e ela não caía
sob a maniis do marido. Primitivamente, acreditava-se que
essa usurpatio evitava não somente a manus, mas também
impedia o próprio casamento. Posteriormente, recorria-se à
nsurpat-io apenas para evitar que a mulher entrasse na fa-
mília civil do marido, isto é, que êste adquirisse a manus
sôbre a sua mulher, mas não impedia a realização do casa-
mento.
Portanto, a mamts passou a ser considerada indepen-
dentemente do casamento. Daí a existência do casamento
cum manu, que se processava através do usus, ou de atos
- 288-

solenes; e o casamento sine manit ou casamento livre, que


era desprovido de formalidades.

Requisitos - A possibilidade de duas pessoas contraí-


rem casamento válido chamava-se conubium. O casamento
legítimo - legitimum matrimonium -- só era permitido
entre cidadãos; a lei Canuléia concedeu aos peregrinos o
ius conubi. Os ingênuos que não tivessem o ius civitat-is
podiam contrair casamento, mas êsse matrimônio não era o
legitimum matrimoni,um dos romanos, e sim o matrimonium
iuris gentium. Os filhos de um cidadão romano nascido de
um matrimonium iuris gentium, não pertenciam a sua fa-
mília civil, que apenas compreendia os filhos nascidos de
um matrimonium legitimum. As uniões entre escravos e
cidadãos livres não constituíam matrimônio - n,ullurn ma-
trimoniwm - essa união chamava-se confobernimn.
Para a realização do casamento legítimo eram necessá-
rias as seguintes condições: - o consentimento, a idade
adequada e o conubium.
a) CONSENTIMENTO - Tratava-se, primitivamente, do
consentimento dos pa.terfarnilias respectivos e não dos futu-
ros esposos. Se êstes fôssem sui iuris, era exigido o consen-
timento do futuro espôso, no caso um paterfamilias, P o
tutor da mulher, que estava sempre sob tutela.
Devemos esclarecer que, se o paterfamilias fôsse o avô,
embora vivo o pai, o consentimento devia ser dado pelo
primeiro, isto é, pelo avô, que era o paterfamilias.
No direito clássico, foi também exigido o consentimento
dos noivos, mesmo que fôssem alieni iuris. O consenti-
mento do pa,terfami-lias ainda era necessário, mas não podia.
ser negado sem motivo, pois a lex Iulia de maritandi.~
ordinibits (ano 18 a. C.) permitia aos futuros esposos alieni
iuris dirigirem-se extra ordinem ao magistrado para suprir
o consentimento do paterfamilias da noiva. Se, porém, a
recusa em dar o consentimento partisse do paterfamilias
do noivo, não havia recurso em virtude do princípio : -
"nemini invito s1tus heres adgnascitur". No entanto, Justi-
niano coloca o filiusf amilias na mesma situação da filia! a-
milias, quanto ao consentimento do paterfamilias para efeito
de contrair matrimônio legítimo.
b) IDADE - A idade era um dos requisitos essenciais,
porque todo o casamento exigia um desenvolvimento físico
289 -

que permitisse a procriação. Quanto aos esposos, o homem


devia ser púbere; e a mulher, núbil. Já tivemos ocasião
de observar que havia divergências entre proculianos e sa-
binianos, quanto à fixação da idade que assinalava a puber-
dade e a nubilidade. Os sabinianos admitiam que a fixação
dependia das condições físicas de cada pessoa, competindo,
pois, ao paterfamilias indicar se o filiusf amilias ou a fiz.ia-
familias estava ou não na idade de se casar. Os proculianos,
porém, fixavam a idade de 12 anos para as mulheres e a
de 14 anos para os homens, tendo sido êste sistema que
triunfou na época de Justiniano. -
e) CONUBIUM - - Era, como vimos, a possibilidade que
tinham duas pessoas de contrair um casamento válido.

Impedimentos - Além das restrições referentes ao


estado das pessoas, havia outros impedimentos de contrair
legitimum matrimonium: - eram incapacidades absolutas
ou relativas.
Eram absolutamente incapazes do conubium: - os lou-
cos, os menores, os castrados e os que, já tendo contraído
casamento legítimo, viviam sob êste estado. Êstes impedi-
mentos podiam ser posteriormente afastados; era o que
acontecia se o louco fôsse curado ou estivesse no chamado
intervalo lúcido; se o menor fôsse pnbis; se o casado esti-
vesse viúvo.
Os impedimentos relativos de contrair legitimum ma-
trimonium apoiavam-se nas seguintes causas:
a) No PARENTESCO - Nas sociedades primitivas havia
uma regra que não permitia escolher a espôsa dentro do
próprio grupo, e quem desposasse parente próximo comete-
ria um incesto, ficando passível de severa punição.
No direito romano, o ascendente e o descendente não
podiam contrair matrimônio legítimo, qualquer que fôsse o
grau de parentesco. Esta proibição abrangia os parentes
por via de adoção, mesmo depois de dissolvida a adoção.
Na linha colateral, a proibição abrangia até o sexto grau.
No Baixo Império, a restrição foi atenuada, e a proibição
abrangia até o terceiro grau; com o objetivo de permitir
o casamento do imperador Cláudio com sua sobrinha Agri-
pina, houve uma lei de exceção que excluía da proibição
o casamento entre tio e sobrinha.
- 290 -

b) NA AFINIDADE - Primitivamente a afinidade -


adfinitas - não era obstáculo para a constituição do ma-
trimônio legítimo, mas no fim da República, a proibição
foi extensiva aos afins em linha reta: - o sogro não podia
desposar a sua nora, nem a nora o seu genro; posteriormente
a proibição atingiu os afins em linha colateral: - o casa-
mento entre cunhados não era permitido.
c) NA DIFERENÇA DE CLASSE - De acôrdo com a lei
Iulia et Papia Poppaea, os ingênuos não podiam desposar
mulher de condição inferior, como era o caso da adúltera
e certas mulheres merecedoras de infâmia: - laena, a
lenone manumissa, itidicio publico damnata, quae artem
ludicram fecerit, quae palam quaestum corpore fecit, fecerit.
d) NO ADULTÉRIO - O casamento entre o adúltero
e sua cúmplice não era permitido.
e) NO CARGO OCUPADO PELO HOMEM - Um senatus-
consulto de Marco Aurélio e Cômodo não permitia que o
governador da província desposasse uma mulher da mesma
província.
f) NA RELIGIÃO - No Baixo Império, não era permi-
tido o casamento entre cristãos e judeus.
O casamento realizado contrariando qualquer dos im-
pedimentos acima aludidos, era nulo, e esta nulidade tinha
efeito retroativo, de modo que os filhos nascidos dessa união
eram considerados ilegítimos.

CASAMENTO "CUM MANU"

Formação do casamento "cum manu" - Os romanistas


costumam indicar três formas de casamento cmn rnanu,
tendo em vista as três modalidades pelas quais se originava
a rnanus: - pelo uso, pela coemptio e por confarreatio.
No casamento cum inann, a mulher entrava na família
civil do marido e ficava numa posição semelhante à de uma
filha: loco, filiae.
Acreditou-se, durante muito tempo, que a ordem de
apresentação dessas três modalidades de aquisição da rnanils
correspondia à ordem histórica do seu aparecimento. Assim,
a conf arreatio teria sido mais antiga do que a coemptio.
- 291-

Confarreatio - As mulheres ficavam sob a manus do


marido por meio da confarreatio, que era uma espécie de
sacrifício oferecido a Júpiter Fáreo; neste sacrifício, em-
pregava-se um pão de trigo e daí a denominação confarrea-
tio. Além disso, muitas outras formalidades eram pratica-
das nessa cerimônia, por meio de palavras solenes e determi-
nadas, pronunciadas na presença de dez testemunhas. Êste
direito existia no tempo de Gaio, pois os flâmines maiores.
isto é, os de Júpiter, de Marte e de Rômulo, assim como
os reges sacrormn não eram escolhidos senão entre as pes-
soas nascidas de núpcias por confarreatio; e não podiam
exercer a dignidade sacerdotal se não fôssem casados por
conf arreatio. E' isto o que nos ensina Gaio.
De acôrdo com a informação de Gaio, a união se fazia
por um sacrifício, oferecido pelo flâmine, possivelmente pelo
pontifex maximus. Em uma cerimônia religiosa, que se
processava na presença de dez testemunhas além dos esposos,
sendo pronunciadas palavras solenes - verba solemnia.
Dionísio de Halicarnasso apresenta essa modalidade de
aquisição da manus como tendo sido a mais antiga, os
autores posteriores repetem esta informação, sem maiores
exames.
Noailles observa, com razão, na confarreatio a interven-
ção do principal dos sacerdotes do culto público de Roma,
o flâmine de Júpiter, incumbido no tempo do Capitólio do
culto a Júpiter.
A oferenda sendo feita a Júpiter, o casamento por
conf erre atio fica sob a invocação de um deus muito diferente
dos outros deuses invocados até então, nas cerimônias dessa
natureza, pois só eram invocados deuses indígetes e agrá-
rios. A referência a Júpiter e aos flàmines indica a quali-
dade de deus da cidade, o protetor de tôda a cidade, que
era invocado. A invocação não era feita a Quirinus, deus
protetor de Roma Quadrata, mas a Júpiter, que se tornou
o deus da cidade, depois que o Palatino foi incorporado à
cidade vizinha e independente do Quirinal.
A confarreatio não podia ser mais antiga que a cidade
romana, mas posterior a todo o período gentilício, durante
o qual se constituíram os ritos do casamento. Portanto, a
confarreatio não é anterior aos domínios dos reis etruscos.
- 292

Na época dos Tarquínios eram cidadãos e daí o motivo


de ter sido a confarreatio uma modalidade de casamento
que se restringia aos patrícios.

Coemptio - A coempti.o consistia num ato solene -


mancipati.o - pelo qual a mulher ficava sob a manus do
marido. Era uma venda fictícia, realizada na presença de,
pelo menos, cinco testemunhas, cidadãos romanos e púberes,
e do libripens, pela qual o marido comprava a mulher
que, em conseqüência da mancipatio, caía sob a sua man-u.~.
A coemptio devia ter sido instituída numa época em
que não havia moeda, como fàcilmente deduzimos da pr<:>-
sença do libripens.
Há certas particularidades na rnancipatio usada na
coemptio. Sendo a mulher alieni iuris, deveria ser o seu
paterfamilias que interviria no ato, mas, como bem indica
a própria denominação - coernptio - era ela mesma que
dêle participava. O futuro marido devia pronunciar as
seguintes palavras: - an tit mihi materfamilias esse velis '!
A mulher responderia: volo, e perguntava: - an tu mi.hi
paterfamilias esse velis? E o marido responderia: volo.
Era uma automancipatio da qual participava a mulher com
a auctoritas de seu paterfamilias, se fôsse alieni iuris, ou d<'
seu tutor, se fôsse .mi iitris.
E' oportuno esclarecer que essa venda a que se refere
a forma de mancipatio usada na coemptio é puramente
fictícia. O marido não comprava a sua mulher, mas recebia
até um dote. São resquícios da época primitiva em que o
marido devia mesmo comprar a sua mulher.

Usus - A ma.nus era adquirida pelo marido se a


mulher convivesse com êle durante um ano, sem interrupção,
com fins matrimoniais. Segundo Gaio, o marido adquiria a
manus por uma espécie de usucapião. Apesar da autoridade
de Gaio, a semelhança apontada é muito vaga; pois, en-
quanto o usucapião, é uma instituição excepcional, o usus
é uma conseqüência normal e inevitável.
Como já nos referimos em páginas atrás, se a mulher
antes de completar um ano de vida em conjunto saísse da
casa do marido, durante três noites consecutivas, evitaria
cair sob a manus do marido e primitivamente impedia até
- 293

que o casamento se consumasse. Só posteriormente se admi-


tiu que a usurpatio trinocti impedisse apenas a manus, e
não o casamento.

Dissolução do casamento cum manu - O casamento


contraído pela confarreatio dissolvia-se por um ato contrá-
rio, chamado dif f arreatio. A dissolução dos casamentos
realizados pela coemptio ou pelo us1ts, primitivamente, só
se admitia da parte do marido e só depois, essa prerroga-
tiva também foi concedida à mulher. O processo usado
era a remancipatio.
A mutatio farniliae por parte do marido importava a
dissolução do casamento. Se um paterfarnilias emancipasse
um filho casado e não fizesse o mesmo com a mulher e
seus filhos, a mulher deixaria de ser espôsa legítima de seu
marido e o casamento se romperia. E' semelhante a situa-
ção no caso de dação em adoção, quando, por exemplo, um
paterfamilias dava em adoção um filho casado.
A mutatio f amiliae por via de ad-rogação não dissolvia
o casamento, porque o paterfamilias levava consigo todos
os membros da antiga para a nova família.
A perda da liberdade, em conseqüência da captura pelo
inimigo, suspendia apenas os efeitos do casamento, enquanto
o antigo cidadão estivesse prisioneiro. Quando êste voltasse
ao território romano, readquiria todos os direitos, por meio
de uma ficção chamada postliminium. O casamento era
restabelecido sem qualquer formalidade e com efeitos retroa-
tivos.
No casamento cmn mann, os poderes do marido eram
muito amplos, mas êle não podia dissolver a união matri-
monial sem qualquer motivo e para isto deveria observar
a regra de paralelismo das formas, que regia os principais
institutos do antigo direito romano.
O casamento realizado pela confarre atio só podia ser
dissolvido, como vimos, pela difarreat-io, que consistia em
eerimônias semelhantes à confarreatio, mas em sentido con-
trário. Assim, o bôlo de trigo que, na confarreatio era
consumido; na dif arreatio era partido, para simbolizar a
ruptura do matrimônio.
Além da parte formal obrigatória, era preciso que hou-
vesse motivo concreto para que se concretizasse a dissolução.
Segundo um texto de Plutarco, o marido só podia repudiar
- 294-

a sua mulher por motivo de adultério, de abôrto, ou se


tivesse bebido vinho. Se ocorresse qualquer um dêsses casos,
o marido tinha o direito de repudiar a sua mulher, quer
o casamento tivesse sido constituído por confarreatio, quer
por coemptio.
Karlowa e Esmein, procurando interpretar um texto de
Dionísio de Halicarnasso, admitem a dissolução voluntária
do casamento por coemptio ou usus, mas não por confar-
reatio, ao passo que Voigt, no estudo sôbre as leis Régias,
estende essa proibição até aos casamentos contraídos por
confarreatio. O problema parece-nos ter sido bem apresen-
tado por Corbertt, que não admite a dissolução volun-
tária de casamentos realizados com a intervenção do sacer-
dote até o tempo de Domiciano, salvo mediante pedido
especial. No entanto, o próprio Corbertt reconhece posteri-
ormente a dissolução do casamento por confarreatio - exceto
quando os ofícios sagrados das partes proibiam o divórcio
- e a fortiori de outros casamentos cum manu. Êle não
considera a dif arreatio uma invenção recente, como julga
Karlowa (1), mas como uma instituição antiga que saía
de uso à medida que diminuía o emprêgo da confarreatio.

CASAMENTO "SINE MANU"

Formação do casamento sine manu - O casamento


sine manu processava-se sem qualquer formalidade, bastando
para a sua concretização, que houvesse o consenso entre os
esposos de contraírem o casamento: - "nuptia non con-
cubitiis sed consensus facit". É êste um princípio que,
segundo bem acentua Schulz (3), rege o casamento no
direito clássico.
O indispensável para que o casamento se consumasse
era a affectio maritalis, isto é, a ação recíproca dos esposos
de viverem maritalmente.
Não era necessária a presença de testemunha, nem a
assistência de uma autoridade religiosa, ou do Estado, na
(1) CORBERTT, PERCY ELLWOOD - The Roman Law of marriage,
página 220.
(2) KARLOWA, ÜTTO - Romische Rechtsgeschichte.
(3) ScHuLz - Olassical Roman Law, p. 110.
- 295 -

realização do casamento, mas, apesar dessa não obrigatorie-


dade, certas solenidades eram usualmente executadas. É
verdade que, segundo os textos, essas solenidades não eram
essenciais para que o casamento se realizasse.
Se cerimônias especiais não fôssem exigidas, essa liber-
dade não podia ir ao ponto de não admitir algum sinal
exterior capaz de distinguir as iustae nuptiae provenientes
de um casamento sine manu e as provenientes de uma união
inferior, como o concubinato.
Êste sinal podia manifestar-se por meio da constituição
de um dote, ou da deductio da mulher in domum mariti,
isto é, a entrega da mulher na casa do marido.
Ernst Levy ( 4 ) é de opinião que a deductio in domum
mariti era o modo de formação necessária do casamento
sine manu.
Rage-Brocard ( 5 ), em tese apresentada à Faculdade de
Direito de Paris, conclui que, pràticamente, um casamento
em que não se observassem certos ritos devia ser alguma
coisa de anormal.
Observa Monier ( 6 ) que, antes do Baixo Império, a
formação do casamento exigia o estabelecimento de um do-
micílio comum, pois a mulher devia ser conduzida ao domi-
cílio do marido : - deductio in domum mari.ti. A doação
feita na casa da noiva pelo futuro espôso seria válida,
mas a doação feita em favor da mulher depois que esta
tinha entrado na casa do noivo, seria nula, pelo fato de
já se ter tornado espôsa.
No Baixo Império, a deductio in domum mariti teria
desaparecido, porque o simples consenso bastava para cons-
tituição do casamento, que se concretizava antes mesmo de
a mulher entrar na casa do marido.

Efeitos - O casamento sine manu era o casamento


livre, que não colocava a mulher sob a autor.idade do ma-
rido. Ela continuava na mesma situação quanto ao status
familiae; se ela fôsse sui iuris continuava sui iuris, apesar
do seu casamento, e permanecia submetida à tutela do mesmo
tutor, pois na época antiga, as mulheres eram submetidas

(4) LEVY, Ernst - op. cit., p. 69, n. 3.


(5) M. RAGE-BROCARD - La deductio in domum mariti, p. 114.
(6) MoNIER, R. Manuel elementaire de droit romain I, 287.
- 296 -

à tutela perpétua; se fôsse alieni iuris, continuava perten-


cendo à mesma família de que fazia parte antes do casa-
mento. A mulher permanecia independente e conservava
todos os bens que possuísse.
Tudo aquilo que a mulher alieni iuris tivesse, ou adqui-
risse durante o casamento, se tornaria propriedade do seu
paterfamilias e não do marido. A mulher continuava pro-
prietária de todos os seus bens, salvo aquêles que ela en-
tregava ao marido como dote. Ela devia poder demonstrar
a procedência dos bens adquiridos na constância do casa-
mento e, se isto não pudesse fazer, admitia-se, por presunção,
que êsses bens provinham da família do marido : - era a
praesumptio Mucciana.
No casamento cum mamr, a mulher era submetida à
patria potestas de um ascendente do marido se êste fôsse
alieni iuris e à ma,mis do marido, o que já podia constituir
algum conflito. No casamento sine manu, porém, a situa-
ção era mais grave, porque o marido, além de não ter a
manus sôbre a mulher, tinha que admitir a interferência do
sogro ou do pai do sogro - que pertenciam a outro grupo
- em tôdas as questões patrimoniais da mulher.
A mulher era considerada uma estranha quanto à famí-
lia civil do marido, uma vez que sempre continuava sendo
membro da família paterna. Ela era emprestada ao marido
com o fim de procriação; não era chamada de materfamilias,
mas apenas de uxor.
Tendo em vista a sua posição de filia familias, podia
ser exigida pelo pai por meio do interdictum de libcris
exhibendis et ducendis.
Por outro lado, o direito pretoriano atribuiu a essa
relação entre os esposos, provenientes do casamento sine
mamt, um caráter jurídico, pois concedeu-lhes recíproco,
direito de sucessão hereditária através da bonorum possessio
unde vir et uxor. O direito civil também favoreceu a po-
sição da mulher por meio de dois importantes senatus-
consultos: - o senatus-consulto Tertuliano, que conferiu à
mãe direitos de sucessão na sucessão dos filhos, e o senatus-
consulto Orficiano, que atribuía aos filhos, direitos de su-
cessão para sucessão da mãe. Os preceitos legais contidos
nestes dois senatus-consultos foram incorporados por Justi-
niano às Novelas.
- 297 -

Na época pós-clássica o marido, por meio do interclfrtum


<:le uxore clNcenda, podia reclamar a sua mulher, se o sogro
exorbitasse os seus direitos e reclamasse a filha para dissol-
yer o casamento.
A mulher não podia exercer uma ação infamante contra
o seu marido.
Primitivamente, os esposos podiam fazer doações recí-
procas, mas no fim da República, essas liberalidades foram
proibidas, tendo em vista a possibilidade de serem feitas em
momentos de irreflexão, pelo fato de viverem os esposos
debaixo do mesmo teto. A proibição permaneceu no tempo
de Caracala com a inovação de que seriam válidas, se não
fôssem revogadas até a morte do espôso doador.
A liberdade da mulher casada sofreu certa restrição
no primeiro século da era cristã, com o fato de não lhe
ser permitido fazer atos de intercessio. A intercessio con-
sistia em garantir compromissos assumidos por outrem, ga-
rantia essa que podia ser oferecida por meio de hipoteca,
penhor ou até pela substituição do devedor primitivo.
Essa proibição aplicava-se apenas às mulheres casadas,
mas o senatus-consulto Veleiano (entre 41 e 69 da era cristã)
estendeu a restrição a tôdas as mulheres. O senatus-consulto
Veleiano apoiava-se numa exceção, pela qual a mulher se
eximia de oferecer a garantia prometida. No entanto, a
mulher tinha a faculdade de renunciar previamente a essa
proteção. Na época de Justiniano, porém, semelhante facul-
•<fade não mais foi concedida às mulheres, que ficaram,
contra a sua vontade ou não, protegidas pela sanção do
senatus-consulto V eleiano.

Dissolução - A dissolução do casamento snie manu


podia ocorrer independentemente da vontade das partes, ou
pela vontade de uma ou de ambas as partes.
a) No primeiro caso dava-se a dissolução pela morte
•OU pela capitis cleminutio maxima de um dos cônjuges.
O civis que perdesse a liberdade teria automàticamente
rompido o seu casamento, porque um escravo não podia
•contrair justas núpcias. Se a perda da liberdade fôsse
decorrente da captura pelo inimigo, seria aplicada a teoria
do postliminium por ocasião do seu regresso. O postlimi-
niu ,n era uma ficção pela qual o cidadão romano, capturado
pelo inimigo, ao regressar a território romano, devia ser

20
298 -

considerado como se dêle não tivesse saído e não tivesse


perdido os seus direitos.
No entanto, no caso do postlirninilon, o tratamento
não era o mesmo para quem fôsse casado cum manu e sine
rnanu. No casamento curn rnanu os laços matrimoniais eram
considerados restabelecidos, independentemente de qualquer
formalidade. O mesmo não acontecia em se tratando de
casamento sine manu, e, como o postlúninium se aplicava
a situações de direito e não de fato, o casamento era consi-
derado rompido; a mulher não mais era considerada como
casada e, para que o vínculo do matrimônio se restabelecesse,
devia casar novamente.
Se um cidadão perdesse o ius civitatis, o casamento
ficaria rompido, o mesmo não acontecendo se houvesse a
nwtatio familiae por parte de um dos cônjuges.
b) A dissolução do casamento podia ocorrer em con-
seqüência da vontade de um dos cônjuges - repudium -
ou pela vontade de ambos - divortinin.
No antigo direito, quem se divorciasse sem razão, era
passível da nota censoria.
A Lei das XII Tábuas indica que certas palavras eram
pronunciadas para que se verificasse a dissolução do casa-
mento. Cícero discute se, pelo fato de alguém contrair
casamento depois de abandonar a primeira mulher, ocorreria
a ruptura do primeiro matrimônio. O jurisconsulto Paulo,
no livro segundo de adulteriis, diz que era preciso uma
declaração oral ou escrita, feita na presença de sete teste-
munhas, que deviam ser cidadãos romanos e púberes: -
" Nullum clivortimn ratum est nisi sevtem civibus Romanis
puberibus adhibitis praeter libertum eius qui divortium
facict" (D. 24, 2, 9). O ensinamento de Paulo não deve
ser aplicado em todos os casos, porque encontramos vúrios
textos em que essas formalidades não eram exigidas: 111ar-
ccllus libra octavo digestorum scribit, sive vir 11xorem sive
uxor viruin domo expulit et res amol!crunt, reruin amotarum
teneri. (D. 25, 2, 11 pr.). Por isso o texto em que se
mencionavam essas exigências seria, segundo Lcvy, interpo-
lado.
Cobertt considera autênticos os textos referentes à lex·
lulia de adulteriis e afasta qualquer contradição aparente.
Segundo Cobertt, o marido que chamasse as testemunhas
299 -

e ordenasse à mulher que saísse de sua casa, depois de


havê-la feito sair, fazia uma declaração escrita ou oral de
divórcio, atestada pelas testemunhas e somente então podia
instituir um processo contra ela, ficando assim livre de
uma acusação de lenocinimn.
No antigo direito, os paires podiam dissolver o ca~a-
mento dos cônjuges in patria potestate sem o consentimento
dêles, regra esta que só foi revogada por Púis ou llfarcus.
Diante da separação de fato de um dos cônjuges, no
Principado, sem haver a declaração de que pretendia di-
vorciar-se, o outro cônjuge o convidaria diretamente ou por
intermédio de um liberto a deixar a casa com o que lhe
pertencesse.
Devemos verificar que, no casamento livre, como era o
casamento sine inanu, a vontade de conservar o estado
matrimonial devia perdurar durante todo o tempo, sob
pena de ocorrer a ruptura, porque predominava a regra
segundo a qual matrimonia libera esse.
No Baixo Império bastava o repuclimn para a dissolu-
ção do casamento, desde que isto correspondesse a uma
vontade permanente de seu autor.
A lex Iulia ele 1naritandis orclinibus não permitia que a
mulher liberta repudiasse o antigo clomin1is contra a von-
tade dêste. No direito de Justiniano, o divórcio era válido
em todos os casos.
Com o advento do Cristianismo, certas restrições foram
impostas ao divórcio, de modo que penas severas passaram
a ser aplicadas contra quem repudiasse o cônjugue sem
causa justa. Foram estabelecidas as três seguintes catego-
rias de dissolução do casamento: divortimn bana grafia,
repudium ex iusta causa e repuclium sine ulla causa. O
clivortúiin bona grafia era permitido diante de uma causa
legítima, como por exemplo, a impotência ou a esterilidade
do conJuge. Ambos os cônjuges não incorriam em sanção.
O repuclium ex iusta causa era aplicado se um dos
cônjuges fôsse culpado de algum crime, ou de adultério.
O cônjuge que repudiasse, não ~ofria sanção, o mesmo não
acontecendo com o repudiado, contra o qual haveria uma
sanção.
- 300 -

O repudium sine ulla cansa era o repúdio sem motivo.


Uma sanção era aplicada contra o cônjuge que repudiasse.
Embora o cônjuge repudiado não sofresse qualquer sanção,
o matrimônio se dissolveria pela vontade de uma parte, o
que não parece de acôrdo com os princípios do Cristianismo.

SEGUNDAS NúPCIAS

Em alguns países da Antiguidade, as segundas núpcias


não eram admitidas, porque a mulher, como acontecia na
Índia, não podia sobreviver ao seu marido. Contudo êsse
costume não foi introduzido em Roma, onde encontramos
até certas normas de caráter legislativo que favoreciam as
segundas núpcias de viúYos e viúvas.
No antigo direito, a mulher viúva era obrigada a per-
manecer nesse estado durante dez meses e, se contraísse
núpcias antes de concluído o prazo, deveria expiar por
meio de sacrifícios. Era o chamado tempus lugendi, du-
rante o qual a mulher choraria a perda do marido. A
sanção primitiva era de caráter religioso, mas posterior-
mente o pretor, considerava passível de 1·.nfamfo a mulher
que não observasse o tempus lugendi. No entanto, a mulher
divorciada podia contrair novas núpcias logo após o seu
divórcio. Compreende-se que isto podia trazer séria dificul-
dade, que ficou conhecida como turbatio sang1iinis. Se, por
exemplo, uma mulher contraísse novas núpcias logo após o
seu divórcio e lhe nascesse um filho entre o sétimo e o
nono mês após o casamento, surgiria uma dúvida quanto à
paternidade da criança. A fim de dirimir a situação, um
senatus-consulto de Planciano, no tempo de Adriano, esta-
beleceu que a mulher divorciada que se casasse novamente,
deveria comunicar sua gravidez ao marido dentro dos trinta
primeiros dias que se seguissem a êsse novo casamento. Por
outro lado, um rescrito de Marco Aurélio e Lúcio Verus
procurou evitar a supressão do parto por meio de abôrto,
logo após o divórcio. De acôrdo com êsse rescrito, o marido
podia verificar a gravidez da mulher e cuidar do parto.
As chamadas leis caducárias com o intuito de comba-
ter a desnatalidade e de incentivar o casamento, estabele-
ceram incapacidades sucessórias para os celibatários e para
301 -

os vmvos ou divorciados que, embora na idade de contrair


matrimônio, não o fizessem. As mulheres, porém, a fim de
não haver a pertitrbatio partus, ficavam isentas, durante
certo prazo, das sanções dessas leis caducárias. Assim, a
lex Iul'Ía permitia que as mulheres não contraíssem segundas
núpcias durante os dez primeiros meses após a morte do
marido, e seis meses após o divórcio; a lex Papia dilatou
êsse prazo para dois anos, e dezoito meses respectivamente.
O Cristianismo tinha a tendência para considerar as
segundas núpcias como um v1c10. O primeiro casamento
era considerado prêmio e Constantino aboliu as penas im-
postas aos celibatários. A mulher, sob pena de infamia,
não podia contrair_ novas núpcias antes de um ano.
O cônjuge que se casasse novamente - parens binubus
- sofria certas restrições, impostas para defender os filhos
do primeiro matrimônio. A mulher casada em segundas
núpcias não podia dispor dos bens que tivesse recebido a
título gratuito - lucra, nuptialia - de seu primeiro marido,
e a propriedade ficava sendo dos filhos do primeiro matri-
mônio.
O parens binubus ficava apenas com a nua propriedade
dos bens provenientes do cônjuge do primeiro casamento e
não podia dispor, rnortis causa, em proveito do novo côn-
juge do segundo casamento, de parte superior à que coubesse
ao filho menos favorecido do casamento anterior.

CONCUBINATO

Concubinato era uma permanente união permitida, mas


ilegítima, do homem e da mulher: - "fernina q-uae cum
uxor non esset, cmn aliquo tamen vii:ebat, femina pro
uxore."
O concubinato diferia do casamento legítimo pela in-
tenção que presidia à sua formação. O casamento exigia o
animus de desposar a mulher, de acôrdo com O!! usos da
cidade; a mulher participava da posição social do marido;
o consentimento do pater era necessário para os filhos
in potestate. Se faltasse qualquer uma destas condições, não
havia casamento legítimo, mas concubinato.
A mulher de uma união dessa natureza era chamada
concubina)· numa pedra de túmulo há referência à concitbina
302 -

divi Pi,i. A concubina era também chamada, embora não


oficialmente, amfra, hospi'.ta, focaria.
O concubinato era uma reação à concepção do casa-
mento legítimo e não consistia numa união transitória,
repelida pela moral. A concubina romana diferia da me-
retri:>:, e não constituía qualquer estigma para a mulher ser
uma cone1ibina,. Quando Augusto estabeleceu certas penas
contra aquêles que tivessem relações contrárias aos bons
costumes fora do casamento - stuprum - com uma mulher
ingênua e de honra, excluiu claramente o concubinato das
sanções legais, desde que a mulher fôsse núbil e que não
houvesse qualquer impedimento em con<;eqüência do pa-
rentesco, dos bons costumes ou de um casamento ainda não
dissolvido. Isto não quer dizer que Augusto houvesse incen-
tivado o concubinato; êle apenas o tolerou.
No entanto, os filhos de uma concubina eram ilegítimos
- spnrii - não havia no concubinato a pafria potcstas,
de modo que nenhuma relação existia entre o filho e o pai,
que, jurldicamente, eram considerados estranhos. Se o pai
quisesse transmitir sua sucessão ao filho havido com uma
concubina, deveria instituí-lo herdeiro. O imperador Cara-
cala proibia doações feitas por um soldado a sua concubina,
mas admitiu as doações feitas por esta ao soldado. A posi-
ção dos militares com relação às vantagens decorrentes do
concubinato era, de fato, especial, pois Adriano reconhecia
direito de sucessão aos filhos naturais de soldados.
O filho nascido de um concubinato era admitido à
sucessão ab intestato de sua mãe, e o pretor lhe concedia a
bonoritm possesio unde cognati.
Bonfante ( 6 ), com o intuito de esclarecer alguns pontos
sôbre a concessão de relação jurídica ao concubinato, dis-
tingue duas fases nitidamente distintas: - a fase chamada
cristã e a bizantina ou justinianéia. Na primeira fase,
houve elevação puramente jurídica, mas uma depressão real
do instituto. Com Justiniano o concubinato torna-se um
inaequale coniitgimn, embora atenuado por certos efeitos
favoráveis.
A doutrina cristã reprova o concubinato, como tôdas as
uniões fora do matrimônio legítimo.

(6) BONFANTE, P. - Nota sulla riforma Giustinianea del Con-


cubinato, in Studi in onore di SILVIO PEROZZI, 283.
- 303

Constantino proíbe, sob pena de severas sanções, o pai


de fazer qualquer liberdade em favor de seus filhos na-
turais ou da concubina.
As relações de paternidade e de filiação fora do casa-
mento legítimo foram reconhecidas juridicamente, mas não
para conceder qualquer vantagem aos filhos naturais, e sim
para restringir a sua capacidade jurídica. O rigorismo da
legislação de Constantino foi atenuado pelos imperadores
do V século, que permitiram ao concubino dispor de 1/12
de seu patrimônio em favor de seus filhos naturais, ou
deixar 1/24 para a sua concubina, se esta não tivesse filhos.
Se o concubino não tivesse parentes nem filhos legítimos,
poderia dispor de 1/4 de seu patrimônio em favor da
concubna e dos filhos naturais.
Constantino proibiu que o homem casado tivesse uma
concubina, mas os solteiros podiam ter várias até a época
de Justiniano, quando o concubinato poligâmico foi proibido.
A infidelidade de uma concubina passou a ser consi-
derada aditlteri11,m e o concubinato foi submetido às mes-
mas condições de validade que as do casamento: - a con-
cubina devia ter, no mínimo, 12 ano se não ser parente de
concubino em grau proibido pelo casamento.
,Justiniano concedeu aos filhos naturais direito a ali-
mentos e, se não houvesse descendentes legítimos, êles seriam
chamados à sucessão ab intcstato sôbre os 2/12 do patri-
mônio paterno.
III

O TESTAMENTO

Noção Geral - Os povos antigos, como o hindu, ()


grego e o germânico, não conheceram o testamento, de modo
que, entre êles, predominava a sucessão ab intestato.
Entre os romanos, porém, acontecia o contrário, por-
que a sucessão testamentária era a modalidade normal de
sucessão, ao passo que a sucessão ab intestato era uma
sucessão subsidiária.
A importância que os romanos davam à idéia de testa-
bilidade também constitui uma prova do papel prepode-
rante da sucessão testamentária. A intestabilidade era
considerada sanção já prevista desde a época das XII
Tábuas, sanç.ão em que incidiria quem se recusasse a servir
de testemunha.
- Os romanos conheceram o testamento muito antes
da lei decenviral e, segundo informações de Gaio, o prati-
cavam sob duas formas: - o testamento comicial, isto é,,
calatis cornitiis e o testamento militar, ou in proáncfo.
Havia, no princípio, diz Gaio, duas espécies <le testa-
mento, porque os Romanos faziam seu testamento ou perante
os comícios calados, reunidos duas vêzes por ano para êsse
fim, ou in procinctu., isto é, quando pegavam em arma para
guerrear (antes de partir para a guerra). - "Testamen-
tonirn autem genera initio duo fuernnt. Nam aut calatif;
cornitiis testamentoruin faciebant, quae comitia bis in anno
testamentis faciendis destinada erant, aut in procinctu,,
id est cum belli causa surnebant" ( G. II, 101).

Testamento "calatis comitiis" - O testamento comicial


ou calatis comitiis era muito mais importante do que o
testamento in procinctu, mas, infelizmente, poucas são as
fontes de que dispomos para conhecer a sua constituição.
- 305 -

Os com1c10s calados, segundo Aulo Gélio, realizavam-se


perante o colégio dos pontífices. Nestes comícios chamados
calata, costumava-se fazer o abandono dos sacra e os testa-
mentos. - "Calata comitia esse quae pro collegio pontificttm
habenfttr. . . iisdein comitiis qiiae calata appellari diximtts,
et sacrorum detestatio et testainenta fieri solebant" (A. Gel.
- N. Att. XV, 27).
Os comícios por cúrias eram as mais antigas assem-
bléias do povo romano e somente acessíveis aos patrícios;
delas os plebeus não podiam participar.
Certo Laelius Felix, contemporâneo de Lábeo, diz que,
segundo êste último, os comitia calata se realizavam nas
af'\sembléias por cúrias ou por centúrias. Esta informação,
porém, não modifica a hipótese de terem sido os comícios
por cúrias os mais antiiOS.
Os cornitia curiata eram chamados calata por influência
de calare, que significa "convocar".
Os dois dias por ano em que se realizavam os comitia
calata eram 24 de março e 24 de maio, de acôrdo com o
calendário romano.
As fontes não esclarecem muito bem as conseqüências
dos atos aprovados pelos comitia calata, principalmente
quanto ao testamento. Por isto, várias são as hipóteses
elaboradas por alguns romanistas, com o objetivo de trazer
luz a tão discutido problema. Lenel chega a negar a ins-
tituição do heres no testamento comicial, que nada mais
teria sido do que uma coleção de legados e de disposições
particulares. E' uma tese avançada, que não conseguiu boa
acolhida, porque, como acentua Girard, seria muito difícil
admitir que os têrmos "heres esta" do testamento tivessem
adquirido tanto rigor numa época mais recente, se anterior-
mente não significassem a instituição do heres.
Mommsen e Girard atribuem ao testamento comicial o
valor de uma verdadeira lei, uma vez que êle se processava
perante os comícios, que o votavam como votariam uma lei.
No entanto, Appleton pensa diferentemente, porque o
testamento não é uma rogatio.
Preferimos seguir a hipótese de Lévy-Bruhl e consi
derar o testamento calatis comit-iis como tendo por função
essencial a designação de um heres, que seria o chefe
espiritual do grupo.
- 306 -

Testamento "in procinctu'' - O testamento in pro-


-cincht era a forma de testamento usada pelos soldados antes
da batalha.
O têrmo procincht indica, de modo geral, o equipamento
-do soldado.
O outro testamento, dizia Aulo Gélio, fazia-se in pro-
cinctit, quando os homens eram chamados para o combate,
colocados em linha de combate - "Altermn in procinctu,
,cmn viri ad proeliitm faci-endurn in aciem vocabantur" (A.
Gel. N. Attl. XV, 27).
Todos os soldados deviam fazer seu testamento com-
pletamente equipados, como se fôssem para uma morte certa
- "Facientibus omnibits in procinctu testamenta velit-t ad
certam rnortcrn c1indcm f oret" (Vel. Paterc. II, 5, 2).
Não podemos afirmar, com muita precisão, quando de-
sapareceu esta forma de testamento, mas sabemos que já
não se praticava na época de Cícero. A informação mais
:recente de um testamento in procincftt é do ano 149 a. C..
IV

SÍNTESE HISTóRICA DAS INSTITUIÇÕES


DO POVO ROMANO

Noção geral - O direito romano compreende o con-


junto de regras jurídicas que governaram a sociedade
romana desde as origens até a metade do século VI da
era cristã, ou melhor, até o ano 565.
A data de 565 a que nos referimos, como delimitadora,
no tempo, do direito romano, assinala a morte do imperador
Justiniano. Foi por determinação dêste imperador que co-
missões especiais de juristas reuniram certo número de
obras sôbre o direito romano e o conjunto dessas compilações
ficou conhecido como o Corpns biris Civilis.
Depois das compilações de Justiniano, o direito romano
ficou pràticamente estagnado e, até segundo uns, foi con-
siderado morto. No entanto, o Império Romano do Oriente
não se extinguiu depois da morte de Justiniano, mas ainda
perdurou por quase mil anos, até o ano 1453, quando se
verificou a queda de Constantinopla.
Com a morte de Justiniano, comenta Bury ( 1 ), os
ventos saíram de seus antros, os elementos de dissociação
começaram a sua obra, o sistema artificial se enfraqueceu
e a transformação do Império, iniciada há vários anos, porém
acobertada por acontecimentos surpreendentes do reinado
tumultuoso de Justiniano, começou a manifestar-se ràpida-
mente a ôlho nu.
O direito do Império Romano do Oriente, depois da
morte de Justiniano até o ano 1465, é chamado de direito
bizantino.
Os romanistas não são unânimes, quanto à delimitação
das várias fases do direito romano.
(1) BURY, J. B. - A History of the Later Roman Empire, II,
página 67.
308 -

Divisões em períodos - A divisão mais usual do


direito romano, quanto à história externa, é a seguinte:
1.0 período: - Desde a fundação de Roma, no ano
754 a. C. até o ano 200 a. C. Nessa época predominava o
direito consuetudinário e nela foi codificado o direito dos
quirites com a Lei das XII Tábuas.
2. 0 período: - Desde o fim da segunda guerra púnica
ao estabelecimento do Império; vai desde o princípio do II
século a. C. até o ano 27 da era cristã. E' a época repu-
blicana.
3. 0 período: - Desde o ano 27 ao aparecimento de
Diocleciano em 284. É o Alto Império, também chamado
principado de Augusto.
4. 0 período: - Desde Diocleciano até a morte de Jus-
tiniano em 565. É o Baixo Império ou dominato.

I - A REALEZA

Os habitantes primitivos - Pouco sabemos sôbre a


situação dos habitantes da Península Itálica nas fases
neolítica e eneolítica, ou melhor, antes do século VIII a.
C.. Todavia, objetos, de cobre, como martelos e punhais
de sílex, confeccionados no segundo milênio a. C., foram
encontrados na Península. E uma prova de que havia,
naquela época, relações comerciais entre os seus habitantes
e a civilização do mar Egeu, que era o centro da meta-
lurgia.
Observa P. de Francisci que o têrmo cuprmn (cobre)
indica ser o mental proveniente da ilha de Chipre (2).
Se quisermos saber quem eram os romanos, devemos
como fêz Max Kaser ( 3 ), lançar um olhar retrospectivo
sôbre os chamados povos itálicos.
Dentre o grande número de povos itálicos, destacamos
os lígures e os sícnlos. Os primeiros tinham como sede a
Itália setentrional, parte da central, as ilhas de Córsega e
Sardenha; os sículos habitavam a Itália meridional, parte
da central e a Sicília.
(2) P. DE FRANCISCI - Arcana lmperii, III, 1, p. 7.
(3) MAX KASER - Rõmische Rechtsgeschichte, 17. Wer waren
die Rõmer? Die Frage kann mir durch einen blick auf die Bevõl-
kerung ganz Italiens beatwortet werden.
309 -

Observa Ducati que os lígnres tinham grande afini-


dade com os iberos, pois, na fase neocuprolítica, um único
povo se estendia da Península Itálica à Península Ibérica
- era o povo lígure-ibério.
Os sículos produziram os primeiros documentos de ce-
râmica pintada.
A sorte dos povos itálicos é determinada por migrações,
que se processaram em duas fases ( 4 ). A primeira ocorreu
entre 2. 000 e 1800 a. C., sendo caracterizada pela cremação
dos mortos, e se processou em diversas camadas parciais,
vindo do Danúbio superior, passando pelos Alpes em direção
da planície elo Pó. Esta migração ficou estacionada nos
Apeninos e somente penetrou na Itália Central e Ocidental
pelo ano 1500 a C. aproximadamE>nte. Os latinos faziam
parte desta camada migratória, os quais, segundo Kaser,
formaram o núcleo da população romana.
A segunda fase caracterizava-se pelo fato de serem os
seus mortos enterrados. Esta corrente migratória é prove-
niente do território dos Drau, e Save, tendo penetrado na
Itália e se fixado pelo ano 1000 a C. no sul dos Apeninos.
O dialeto das tribos que constituíam esta segunda camada
migratória, distinguia-se dos dialetos das tribos da camada
anterior. Os sabinos faziam parte destas tribos.
Max Kaser observa que a história posterior às duas
aludidas migrações é distinguida pelo domínio dos estran-
geiros provenientes do oriente sôbre os camponeses que
habitavam os campos itálicos.

Etruscos - Atenção especial elevemos destinar aos


etruscos, que exerceram profunda influência na formação
das próprias instituições romanas. Diante das dificuldades
que encontramos para elucidação da origem dos etruscos,
Max Kaser os qualificou de povo enigma - Ratselvolk
da história romana, povo êste que formou o fermento do
desenvolvimento itálico.
Parece fora de dúvida que os etruscos não são arianos,
nem tampouco provenientes de uma raça peninsular do an-
tigo Mediterrâneo. Comenta Max Kaser que êles devem
ser considerados como membros de uma raça proveniente
de país do mediterrâneo oriental e talvez da Ásia Menor.
(4) MAX KASER - Rornische Rechtsgeschichte, p. 18.
- 310 -

Trata-se de um povo de cultura bastante desenvolvida,


que se distingue pela cultura itálica, pelo caráter cruel e
fantástico na adoração da divindade, bem como pelo culto
aos mortos e aos antepassados. Era um povo navegante e
não camponês, fato êste que se reflete em suas instituições
sociais, principalmente na posição da mulher, que gozava de
mais liberdade do que entre os povos itálicos.
Os romanos receberam dos etruscos a previsão do fu-
turo, a consulta aos vôos dos pássaros e aos intestinos dos
animais sacrificados - auspiciuin e harnspices.
A influência etrusca também se faz sentir no poder do
paterfaniilias romano, que vai muito além do poder do
paterfamilias germânico e grego.
Os etruscos fundaram na Gália Cisalpina e na Campâ-
nia uma federação de 12 cidades. A mais antiga dessas
confederações ficava na 'füscana meridional.
A etimologia da palavra etrusco é duvidosa. Alguns,
como Ducati, julgam derivada de l'yrsenoi ou l'yrrhcnoy,
com que os Gregos indicavam o povo etrusco l'yrs - equi-
valente a titrs - com metátese do r., a prótese de um e e
com um final em ci; E-trus-ci ( 5 ).
Os monumentos construídos pelos etruscos deixam trans-
parecer traços de influência grega e de povos vizinhos.
Marcantes foram os traços deixados por êles na Península
Itálica, principalmente em trabalhos hidráulicos.
E' preciso, porém, não chegarmos ao ponto de atribuir-
mos aos etruscos tôda a organização política de Roma.
Pietro de Francisci ( 6 ) distingue no período monárquico
duas fases: uma mais antiga, que pode ser chamada latina;
e outra mais recente, que corresponde ao domínio etrusco.
De fato, as instituições mais antigas de Roma são de origem
essencialmente latina, como pode ser deduzido da termino-
logia: - rcx, regia, interregnum, patres, tribus, rnagister,
curia, clecuria, pontífices, aiigures, /lamines.
Está fora de qualquer dúvida ter havido grande influên-
cia dos etruscos sôbre a civilização e até sôbre as institui-
ções dos romanos. O importante é delimitarmos o campo
de ação dessa influência, mas isto é tarefa difícil, ainda
não concluída, que muito preocupava os estudiosos da etrus-
cologia.
(5) DUCATI, op cit., I, 173.
(6) DE FRANCISCI, Pietro - Arcana Imperial, III, 1, 29.
- 311

O problema etrusco, até pouco tempo, era um enigmar


mas tem sido considerável o progresso alcançado nesse setor
por sábios que se preocupavam exclusivamente em resolvê-lo
ou pelo menos trazer mais luz para melhor conhecimento
do assunto.
Há, como bem acentuou Ducati (7), três soluções para
o problema etrusco:
a) a teoria defendida pelos lingüistas: - seriam au-
tóctones, num sentido relativo e representariam o antigo
elemento étnico da civilização neocuprolítica e da cupro-
lítica;
b) a teoria elos historiadores - desembarque dos etrus-
cos na Itália atravessando os Alpes;
e) a teoria dos arqueólogos: - desembarque de colo-
nos tírios nas costas do mar Adriático e conseqüente forma-
ção do povo etrusco pela fusão dêstes tirrenos com os indí-
genas ou com os umbros.
Conclui Ducati que no fim do século Vll, a Etrúria
entre o Arno, o Tibre e o mar já estava completamente
constituída. Assim pela chama animadora da raça medi-
terrânea, forma-se uma Etrúria poderosa e temível ; mas
logo ela se enfraquece na opulência e perde tôda a sua fôrça
de expansão. O mesmo não ocorre no sul do Tibre, em
Roma, uma vez que, pela fusão da raça mediterrânea (sabi-
nos) com a raça indo-européia (latinos), se constitui um
povo em que as melhores qualidades das duas raças em lugar
de se enfraquecerem ou degenerarem, fortificam-se uma pela
outra. E' a fusão da audácia, da agilidade mediterrânea, e
da firmeza, da tenacidade indo-européia ; daí nasce o povo
romano.
A explicação de Ducati ( 8 ) está mais ou menos de
acôrdo com a exposição de Beloch ( 9 ) sôbre a origem do
Latiuin vetus.
A família romana é do tipo patriarcal, como ocorria
com os povos indo-europeus, e, numa acepção restrita, sig-
nifica o conjunto de pessoas sujeitas ao poder de um chefe,
chamado paterfamiliar,. O poder dêsse paterfaniilias é abso-
luto e vitalício. O Estado não intrevinha na vida interior

(7) DucATI, Pericle - Le problême étrusque, p. 169.


(8) DUCATI, op. cit., p. 187.
(9) BELOCH - Rõemische Geschichte, p. 124.
- 312 -

da família, onde o paterfamilias exercia os mais amplos


poderes de magistrado doméstico : - êle era sacerdote e
juiz.
Antes da formação da civitas, a família apresentava-se
como um grupo fechado, que assegurava a vida de seus
membros e procurava defendê-los contra os vizinhos, por êles
considerados como inimigos.
Com a morte do paterfamilias a família se desmembrava
em tantas famílias quantos fôssem os filiifamilfos.
Todos aquêles que descendiam do mesmo chefe, embora
pertencessem a famílias diferentes, constituíam a gens. Os
membros da mesma gens deviam ter o mesmo nome genti-
lício e os mesmos cultos.
A gens, comenta Chia.zzese ( 1º), reconhece um chefe
próprio - pater ou magister gentis - tem sua organização,
o seu território - pagus - os seus costumes e institutos,
as suas assembléias próprios - concincs - as suas leis
decreta gentis - e seus ritos próprios
Era necessário descender de um ingênuo, isto é, de
quem nunca tivesse sido escravo, para poder fazer parte da
gens. Assim, somente as famílias patrícias podiam formar
gentes;
A gens era uma extensão da família, assim concebida
para que seus membros melhor se defendessem e se bastas-
sem a si mesmos.
Portanto, a gens é anterior à civitas.

Fundação de Roma - Na época da fundação de


Roma, as gentes que habitavam o território romano, criaram
um centro comum de defesa no monte Palatino, cercado de
muralhas. Estava, assim, fundada a Roma Quadrata. Sur-
giu, então, a necessidade de ser escolhido dentre os chefes
dessas gentes um dirigente, que tomou o nome de rex.
Esta federação de gentes ocorreu no ano 754 a. C.,
tendo havido posteriormente a inclusão de cidades vizinhas.
O poder do rex, de início semelhante ao de gcns,
tornou-se político e de direito, ao passo que a função do
chefe da gens era político e familiar.

(10) CHIAZZEZE, Lauro - Introduzione allo studio del Liritto


Romano, p. 45.
313 -

Bonfante ( 11 ) assinala que a ci'.vitas penetra no orga-


nismo gentílico exerce profunda transformação na vida
pública e privada.
Verificamos que a gens foi uma instituição que se en-
fraqueceu em benefício da civitas.
De acôrdo com a lenda, Rômulo, irmão de Remo, foi o
primeiro rei de Roma.
Rômulo, Numa Pompílio, Tulo Hostílio, Anco Márcio,
rrarquínio Prisco, Sérvio Tullo e Tarquínio Soberbo foram
os sete primeiros reis de Roma. Beloch inclui Tito Tácio
antes de Numa Pompílio, perfazendo assim um total de
oito e julga que os dois Tarquínios representam uma mesma
pessoa ( 12 ).
Beloch não encontra dificuldade em explicar o duplo
aparecimento de Tarquínio como sendo apenas um só, por-
que, segundo êle, os reis eram eleitos e não indicados pelo
antecessor.
Segundo Beloch, Rômulo é simplesmente o romano; o
nome está para "romano", assim como Volsculus está para
Volscns e Graecitlits para graecits; é um étimo como Aequi-
culns, Poediculus, Siculus. O nome de Tarquínio é etrusco;
e a estirpe, uma das primeiras da cidade, pertencia ao v1z1-
nho Caere, como bem demonstra o seu túmulo de família.
E' muito pouco provável que tenha havido um poderio
etrusco em Roma na época dos Tarquínios, porque, se tal
coisa tivesse acontecido, encontraríamos traços dêsse poderio
através de monumentos, como podemos observar na Estrúria.
ÜFi túmulos etruscos são característicos nas províncias etrus-
cas do Sul e não deixaram vestígios nos arredores de Roma.
:!\"estas condições, conclui que Roma, apesar do poderio
etrusco, é um estado que permaneceu puramente latino pela
língua, pela fé e pelos costumes.
Daí não podermos concluir que Roma tenha sido latina
desde o princípio; é possível que o nome seja etrusco, mas
seria arriscado ir mais além. Schulz procura explicar os
nomes das três tribos primitivas como prownientes de
etruscos, mas as suas conjeturas, na opinião acertada de
Beloch, ultrapassam as fronteiras onde termina o saber e
(11) BONFANTE - Scritti giuridiche, I, p. 7.
(12) Der zweite Tarquinius ist nichts weiter als ein Duplicat
der ersten - Beloch, op. cit., 226.

21
- 314-

começa a imaginação. Êle provou que o etrusco exerceu


profunda influência sôbre a formação dos nomes latinos e,
em geral, sôbre os nomes itálicos. Admite-se mesmo que os
etruscos formaram a população pré-indo-germânica da
Itália superior e central. Os etruscos devem ter emigrado
numa época em que a Europa Central ainda não tinha
sido ocupada por sua ·população indo-germânica.
Imtituições sociais - Distinguimos na população de
Roma dois importantes elementos: - os patrícios e os
plebeus.
Os patrícios constituíam a classe privilegiada e somente
êles gozavam de todos os direitos civis e políticos, como,.
por exemplo, o Úts suffragi, que consistia na faculdade de
votar nos comícios; o ius hononun, que era o direito de
exercer cargos públicos; o ius occ1tpandi agrum publicmn,
isto é, o direito de posse das terras conquistadas; o ius·
commerci, o direito de adquirir ou transferir propriedade
de acôrdo com modalidade romana; o ius conubi, isto é, o
direito de contrair casamento. No entanto, ao lado dessas
prerrogativas, era imposta aos patrícios a obrigação de pagar
os impostos - ius tribidi - como também a de prestar o
serviço militar - ius militiae.
Os clientes estavam ligados aos patrícios por vínculos
e com êles formavam a cidade, da qual não participavam
os plebeus. Os clientes tinham respeito e obediência aos
patrícios que haviam tomado como patronos, eram obriga-
dos a acompanhá-los à guerra, ou, ainda, a prestar-lhes au-
xílio econômico, se necessário e se fôsse possível.
Os plebeus não estavam incluídos nas gentes; eram
habitantes da cidade, mas não participavam de sua organi-
zação política, até que Sérvio Túlio lhes concedeu um lu-
gar nos comícios das centúrias, que se realizavam no campo
de Marte, e daí em diante começaram a pagar impostos e
a prestar a serviço militar.

Organização política - A organização política da


antiga Roma compreendia o poder executivo confiado ao
rex; o poder consultivo, ao senado, e o poder legislativo,
aos comícios.
O rex era principalmente o chefe do exército, com cer-
tas atribuições religiosas e judiciárias. Era designado pelo
- 315 -

predecessor ou por um senador chamado de interrex. No


mtanto, Beloch admite que fôsse eleito.
O senado era composto de homens idosos, em número
de 300, que exerciam o papel de conselheiros do rei.
Comícios - O poder legislativo competia a uma assem-
bléia denominada comícios, que se reuniam por cúrias. As
cúrias eram subdivisões de tribos, pois cada tribo compu-
nha-se de dez cúrias e cada cúria era formada de dez
gentes.
Os plebeus não faziam parte dos comícios.

Fontes do direito - As fontes do direito na Realeza


são o costume dos antepassados e a lei.
O costume - mos maiormn - compreendia o ius non
scriptmn, as normas jurídicas não elaboradas por um órgão
especializado. Aquêle que violasse uma norma dessa na-
tureza responderia perante os tribunais.
O costume emana da consciência do grupo, que se trans-
forma no órgão competente para imprimir fôrça de lei a
qualquer fato, mesmo que tenha sido praticado apenas uma
vez.
Os comícios por centúria são o primeiro órgão legisla-
tivo. - Chegou aos nossos dias uma coletânea de leis
antigas, conhecidas como leis régias, e atribuídas aos pri-
meiros reis de Roma.
Segundo Pompônio essa compilação recebeu o nome de
Ius civile Papirianwrn, mas estudos recentes demonstram que
êsse trabalho foi feito no fim da República. Isto, porém,
não quer dizer que as leis régias sejam apócrifas, pois a
crítica se refere apenas ao trabalho de compilação.

II - A REPÚBLICA

Origens das instituições republicanas - O rex, chefe


único e vitalício na Realeza, foi substituído por uma ma-
gistratura colegial, no princípio vitalícia e depois anual.
Os membros dessa magistratura foram primitivamente
chamados praetores ( de prae + ire), porque iam na frente
dos exércitos e somente depois passaram a ser chamados
cônsules.
316 -

Há duas opiniões sôbre a forma pela qual foi instituída


a República em Roma: uns admitem a mudança brusca,
em conseqüência de uma revolução; outros, porém, acham
que a passagem da monarquia para a organização republi-
cana se processou gradualmente. Esta última hipótese é
a mais provável e tem sido aceita pelas grandes autori-
dades no assunto ( 13 ).
Beloch ( 14 ) diz que essa passagem se processou através
da ditadura, que teria sido, no princípio, uma espécie de
monarquia anual. Êsse rex anual - dictator - teria um
auxiliar, o magister eqn-itum. Daí surgiram o praetor ·ma-
ximus e o praetor minar e, finalmente, o colégio dos cônsules.
No ano 365 a. C., Tito Lívio faz referência a um
dictatoi· cuja função principal consistia em movimentar uma
espécie de chave nas muralhas de um templo - dictator
clavi figendi causa. Era um processo antigo usado para a
contagem dos anos. No templo de Iupiter optimus ma,ximus
foi gravada 11ma lex segundo a qual compstia ao praetor
maximus movimentar uma chave nos idos de setembro.
De acôrdo com a informação de Tito Lívio, concluímos
que havia, no princípio da República, uma magistratura
suprema que devia ser exercida pelo pmetor maximus. Era
preciso que o magistrado tivesse o impcri'.mn mais elevado
para proceder ao rito das chaves e dentro dessas condições
estava o dictator.
O imperiitm do praetor maxinms era superior ao dos dois
outros pretores e foi assim proclamado por Festus:

"Maximum praetorem d1·ci putant aUi eum qui


maxúm'. imperii sit; alii qtti aetatis maxime. Pro
collegio quidam augurmn deci·etum est, quod in
solutis augurio praetores maiores et minores appe-
lantitr, non ad vim imperii pertinere."

Guarino ( 15 ) julga que o magister popul-i foi um magis-


trado diferente do rex vitalício, isto é, de um rex tipo
etrusco, coberto de púrpura, munido de únperiurn e cercado
(13) DE FRANCISCI, Pietro - Sintesi Storica del Diritto Romano,
página 53.
(14) BELOCH, K. - Rõmische Geschichte - p. 233.
(15) GUARINO, A. - La formaz·ione clella "republica" romana,
in "Revue Internationale des droits de l'ant!quité", vol. I, p. 111.
- 317

por lictores. Êle não aceita a tese defendida por Beloch,


que considera êsse magistrado supremo praetor maximus
um ditador anual - magister populi que teria sucedido
ao rex.
Não nos parece que a razão esteja com Gúarino, porque
o próprio Varrão nos ensina que o dictator era também
chamado magister populi, uma vez que exercia o poder
supremo sôbre o populus.
O dictator sucede ao rex, como chefe da cidade, em
grande número ele cidades latinas.
O imperador Cláudio qualificava Sérvio Túlio como uma
personagem chamada em etrusco niastania, que quer dizer
inagister.
Mazzarino (1 6 ) vai mais além, porque chega a admitir
que Sérvio Túlio, na qualidade de magister populi., era o
chefe dos infantes. Êsse chefe era plebeu, pois a legião sob
o seu comando também era plebéia, ao passo que o tribunus
celerum e posteriormente o nwgister equituni, era o chefe
dos equites.
fJsse papel relevante, que l\fazzarino pretende atribuir
à plebe no fim da Realeza, é exagerado e esta tese já foi
merecidamente qualificada de temerária por Monier.
Os estudos recentes iniciados por Beloch e prosseguidos
por Mazzarino, Hanell, Cornelius e Monier, não obstante
as ponderações em contrário de Guarino, levam-no a admitir,
a partir do ano 508 a. C. e até a época dos decênviros, a
existência de um magistrado supremo chamado praetor
maximtts.
Outra questão importante consiste em saber por que
motivo e de que maneira surgiu o colégio dos dois pretores.
De Fra:.1cisci responde à primeira pergunta apoiando-se em
Delbrü.ck, e apresenta a criação de duas legiões como tendo
sido o motivo da criação de dois praetorcs. Cada legião
devia ser comandada por um praetor, que ia na frente ( de
prae + ire) e um pretor não podia comandar as duas legiões.

O "imperium" e a "potestas" - A potestas é um poder


comum a todos os magistrados e inerente às suas funções.
A noção de únperiwn provém dos etruscos, significa
o poder de comandar, de chefiar. Êste poder de comando
era conferido a poucos magistrados pelos comitia curiata;

(16) MAZZARINO - Dalla monarchia allo stato republ-icano, 1946.


- 318 -

era um poder absoluto, conferido pelo povo. O povo ro-


mano, comenta Biezunska-Malowist (1 7 ), encontrava-se sob
a proteção particular de seus deuses que lhe faziam conhe-
cer sua vontade, segundo a qual êle devia agir. A inter-
pretação desta vontade era confiada pelo pop1tlus rornanus
a uma pessoa por êle eleita e, a partir dêste momento,
os auspfria pertenciam ao eleito.
Festus esclarece que somente tinha o imperiurn quem
tivesse recebido do povo êsse poder, ao passo que a potestas
seria o poder de quem fôsse designado pelo povo para o
exercício de qualquer função pública:
"Curn frnperio est dicebat1tr apud antiquos cui
rwminatim a, populo dabatur imperiurn. Curn po-
testate est dicebatur de eo qui a populo alicui nego-
tio praeferabatur."

Portanto, em tôda a função pública, distinguimos a


potestas, mas para que houvesse imperium era indispensável
uma concessão especial do povo.
Wagenwoort ( 18 ) procura dar ao têrmo imperium um
sentido muito elástico, atribuindo a existência dêle a uma
época em que os romanos ainda não conheciam os deuses
pessoais, O imperiurn seria uma espécie de "mana" do chefe,
que influiria sôbre aquêles que a êste eram submetidos.
A conjetura de Wagenwoort é audaciosa, porque as
fontes autênticas de que dispomos só nos autorizam a ver
a noção de imperium entre os romanos muito tempo depois
do reconhecimento dos deuses pessoais.
Somente o magistrado investido de imperimn podia
proceder a uma devotio. A devotfo podia ser feita usando-se
da própria pessoa ou da de um terceiro. O cônsul Decius
oferecia a sua cabeça aos deuses manes para que suas tropas
alcançassem a vitória.
O imperium podia ter dupla aplicação: - o impcriurn
militar, que era o poder militar, e o imperimn que existe
em matéria de justiça, e que se exerce quer em questão
criminal, quer em questão cível.
(17) IZA BIEZUNSKA-MALOWIST - "Les institutions politiqnes
romaines" - in RHD, 1949, p. 11.
(18) WAGENWOORT, E. - Roman Dynt:lmism. p. 59.
- 319 -

A magistrat.ura - "l\fagistra tus ", diz De Francisci,


segundo a significação das fontes, é o ofício político por
fôrça do qual o seu titular tem o poder ( e sem dever
,correspondente) que lhe é próprio e originário (não deri-
vado do outro com uma relação de mandato) de exercer
em nome da Rep1tblica romana uma série de funções e de
cumprir uma série de atos igualmente eficazes na defesa
de todos os cidadãos romanos. Os magistrados eram sub-
metidos à colegialidade e à anualidade. Durante o exercício
,do cargo, eram protegidos por uma ação chamada crimen
minutae maiestatis.
Os magistrados podiam ser divididos em:

a) nw,r1istrafits cum imperio: - cônsul, pre-


tor, ditador, tribuni militmn cons1tlari potestate,
decemvfri legibus scribundis, triumviri 1 ei publicae
constituendae;
b) magistratus sine imperio: - questor, cen-
sor, edis curnis, tribunos do povo.

As magistraturas, consideradas sob outro aspecto, ainda


_podiam ser classificadas em ordinárias e extraordinárias.
As magistraturas ordinárias tinham funções definidas e per-
manentes de modo que não se extinguiam depois de termi-
nado o mandato de cada magistrado. As principais eram
as seguintes: - consulado, pretura, edilidade curul, censura.
As magistraturas extraordinárias eram instituídas para
atender à necessidade do momento, uma vez que os magis-
trados ordinários não dispunham de meios suficientes para
resolver a situação. A mais importante magistratura extra-
.ordinária foi a do dictator (ditador).

Caracteres da nova magistratura - "os cônsules". O


fundamento da potestas na antiga Realeza era a auctoritas
do rex, a que todos se submetiam.
O magister populi e o praetor deixam de ser simples
-auxiliares do rex para se tornarem órgãos oficiais da civitas.
O fundamento da potestas do magistrado, observa De Fran-
cisei ( 19 ), não é a sua auctoritas pessoal, mas corresponde
(19) DE FnANc1sc1, Pietro - Sintesi storica del diritto romano,
página 69.
- 320 -

a um ordenamento pelo qual é regulada tôda a vida da


civitas.
A nova magistratura é um órgão da civitas e nisto
consiste um dos seus principais característicos. Enquanto
o rex se sobrepunha à federação de grupos menores, a nova
magistratura era um órgão supremo, necessário e em íntima
conexão com a civitas.
Cada praetor gozava do imperium de maneira absoluta
e podia paralisar a ação do outro colega de magistratura
mediante a intercessio, que era uma espécie de veto de
que se utilizava o magistrado, quando não queria que Yigo-
rasse qualquer ato de seu colega de magistratura.
A questão do exercício da iurisdictio como urna conse-
qüência do únperiwn é plenamente aceitável, apesar da opo-
sição de Ettore Pais que alega ter sido a iurisclictio óvilis
no princípio da República, exercida pelos pontífices.
De Francisci (2º) já se incumbiu de mostrar a falta
de fundamento na oposição de Pais, porque os pontífices
não poderiam exercer senão um imperimn manclatmn e nos.
limites do seu mandato; além disso, uma coisa é reconhecer-
a êsses auxiliares do magistrado a qualidade de conserva-
dores e de intérpretes do direito, e outra é atribuir-lhes um
poder que é essencial e t'ipicamente político.

Ex.ercício da magistratura - O sistema ele eleição era


ignorado. O magistrado criava o magistrado, quer para ser·
um colaborador, quer para ser o seu sucessor.
A creatio começou a sofrer alteração depois da Lei das
XII Tábuas, quando o magistrado passou a interrogar as
centúrias convocadas como assembléia popular - comitiahts
rnaximus - sôbre o nome do sucessor. O magistrado, neste
caso, propunha o nome à assembléia que podia aprová-lo ou
rejeitá-lo, mas não apresentava candidatos próprios. Os
substitutos dos cônsules eram o praefectus urbi e o intcrrex.

Atribuições dos cônsules - As principais atribuições


dos cônsules eram as seguintes: a) direção geral das fôrças
armadas ; b) a segurança pública ; e) a administração da
justiça criminal - cognitio; d) o exercício da jurisdição-
civil contenciosa ( útrisdict-io); e) gerir o erário público;
(20) DE FRANCISCI, Pietro - op. cit., p. 62.
- 321

f) fazer o recenseamento; g) dar em locação as terras.


públicas.
As atribuições dos cônsules foram limitadas pela cria-
ção sucessiva de diferentes magistraturas.

Questura - ...:\ questura era uma mag·istratura ordi-


nária, não curul, sine imperio. No princípio, os questores
eram escolhidos e subordinados aos cônsules, mas no século
III (297 a. C., passaram a ser eleitos pelos cornitia tribitta.
O número havia, apenas, dois questores, mas depois êsse
número foi elevado para 4 e até 8, tendo havido 20 no
tempo de Sila e 40, na época de César.
As atribuições dos questores eram determinadas anual-
mente pelo senado.

Censura - A c?nsura era uma magistratura patrícia,


ordinária, maior, curul, sine únpcrio e compreendia dois
censores eleitos pelos cornitia ccnturiata dentre os senatores
consulares. Com o decorrer dos tempos a censura tornou-
se uma magistratura muito importante, porque a potestas
censor-ia conferida aos eleitos mediante uma lex centuriata
de potestate censoria, fazia com que os censores fôssem
investidos de uma dignidade não sujeita à vis maioris
potestis nem ao ius intercessíonis dos tribunos da plebe.
As principais atribuições dos censores eram o recensea-
mento da população de cinco em cinco anos, a distribuição
da população por tribos, a avaliação dos bens dos patres-
familias, a lectio senatus e algumas atribuições financei-
ras. O recenseamento terminava por um sacrifício expia-
tório chamado lustnun, no campo de Marte, perante os
cmnitia centuriata. Por ocasião da lectio senatus e do re-
censeamento, os censores tinham oportunidade de fazer uma
devassa na vida pública e privada dos cidadãos, nos anos
posteriores ao último lustrmn. Assim, os censores, por meio
da nota ou animaclversio censoria, podiam destituir membros
do senado, ou impedir o ingresso no senado de ex-magis-
trados - senatu mot•ere vel praeterire - excluir cidadãos
da classe dos equites, determinar a transferência de tribo -
tribunus inutare iubere - e excluir cidadãos dos comitia
tributa.
- 322 -

Aquêle que recebesse a nota censoria seria considerado


atingido por uma desestima social a que os romanos deno-
minavam de ignominia.

Pretura - A pretura era uma magistratura patrícia,


ordinária, maior, curul cmn imperio, tendo sido criada no
ano 367 a. C. pelas leges Liciniae Sextiae.
Era uma magistratura autônoma e considerada inicial-
mente como um prolongamento da magistratura praetores-
consiiles. O pra.etor a que se referem as leges Liciniae
Sextiae era um collega minor dos cônsules.
Com a criação do praetor peregrinns, no ano 242 a. C.,
a magistratura tornou-se acessível aos plebeus.
O número de pretores foi elevado para 4 no ano 227
a C., havendo Sila aumentado para 8 e César para 10,
depois 14 e até 16.
Eram colegas dos cônsules, mas tinham seis lictores e
não doze.
As atribuições do pretor compreendiam a administração
judiciária, isto é, a inrisdictio inter cives e a administração
das províncias.
Com o intuito de melhor desempenhar as suas ativi-
dades judiciárias, os pretores faziam uso do ins edicendi,
que era o direito de tornar públicas as suas decisões, por
meio de editos.

Edilidade curul - A aedilitas era uma magistratura


ordinária criada no ano 367 a. C. e pràticamente abrangia
duas magistraturas distintas: - dois edis curuis, magistra-
dos patrícios, menores, sine imperio e dois edis da plebe,
magistrados plebeus.
Competia aos edis curuis a cura 1trbis, isto é, a admi-
nistração da polícia na cidade, a c11ra annonae, isto é, a
disciplina das provisões, e dos mercados, e a cura- lndorum,
isto é, a organização e a polícia dos jogos públicos.

Triunviri rei publicae constituendae - Eram os mem-


bros de segundo triunvirato investidos de poderes extraor-
dinários pela lex Titia_. do ano 43 a. C.

Ditadura - Era uma magistratura extraordinária ins-


tituída em caso de gravíssimo perigo, sendo o ditador
- 323

escolhido por um dos cônsules, de acôrdo com decisão do


senado entre os cives optimo i11re. O ditador tinha mais
poderes do que os cônsules, porque não estava sujeito ao
acompanhamento de 24 lictores.

Senado - Os sénadores no princ1p10 eram escolhidos


pelos cônsules, mas depois da lc:r Ovinia do ano 315 a. C.
passaram a ser escolhidos pelos censores. Eram antigos
magistrados, mas isto não quer dizer que, na República,
os senadores fôssem invariàvelmente homens de idade avan-
çada, pois encontramos senadores com 30 e até 28 anos.
Só quem nunca tivesse sido escravo podia ser senador.
As duas principais atribuições do senado eram o in-
taregnum e a auctori:tas.
O senado devia providenciar a respeito da designação
do interrex, no caso de vacância de magistratura patrícia,
porque auspicia ad patres redcunt. O intcrrex era eleito
entre os senadores curuis e patrícios e, decorridos cinco dias,
devia transmitir a sua dignidade a outro colega e assim
até o dia em que os comitia centu.riata tivessem eleito os
cônsules.
O senado usava de sua autoritas para ratificar as de-
cisões legislativas e eleitorais dos comitia. centitriata. A
lex Publilia Philonis, do ano 339 a. C., estabeleceu que a
auctoritas do senado, em lugar de ser posterior à votação,
fôsse anterior: - "ut legum, quae cornitiis cenf1triat-is fer-
1·entur, ante initiurn s11ffragi111n paires anctores fierent."
Disposição idêntica foi aplicada aos comícios eleitorais por
meio da lex llfocnia, do ano 338 a. C. Assim, a a.iwtoritas
do senado transformou-se num senatus-consulto preventivo,
mediante rogatio do magistrado. A lei Hortênsia do ano
287 a. C., porém suprimiu a necessidade de sanção do senado
para as deliberações adotadas nos comícios.
O número de senadores na República era de 300; Sila
o elevou para 600, César para 900 e depois para 1. 000. As
insígnias dos senadores eram o an1rlus anreus, a tunica la-
ticlavia e o ca1ceus senatorius. Os senadores tinham lugares
reservados no teatro e1 depois do ano 194 a. C., tinham o
ius publice epulandi.
No fim da República, o Senado intervinha em assuntos
políticos extraordinários; cm matéria de finanças; em ne-
gócios externos e de guerra.
- 324-

Em assuntos políticos: a) nomeação do ditador; b) em


casos de tumultns, i. é, o poder de chamar os cidadãos às
armas sem observar as formalidades normais; e) em caso
de iustitimn, i. é, a decisão de suspender, nos graves mo-
mentos de desordem, a atividade civil e política ordinária;
d) nos casos de salvação pública, o senatus-consulto último
por meio da fórmula: caveant Consules ne quül respublica
detrimenti capiat.
Em negócios políticos e administrativos. o Senado inter-
vinha: a) para indiear as províncias aos magistrados; b)
nas questões surgidas na administração da cidade e da provín-
cia; e) nos casos de traição dos cidadãos.

Oomitia curiata - Segundo 'l'ito Lívio, houve no


início três tribos : - ramnense, titiense e lucerense. Cada
uma dessas tribos subdividia-se em dez cúrias que, por sua
vez, se subdividiam em de.z gentes. As reuniões eram rea-
lizadas duas vêzes por ano: - 24 de março e 24 de maio.
Na República, os comícios tinham atribuição de caráter
político e religioso. Como atribuição de caráter político
eram convocados pelos cônsules e pelo ditador para conferir
o impcriwn através da lex curiata de impcrio. Como atri-
buição de caráter religioso os comit-ia curiata eram convo-
cados pelo pontif ex maxinrns ou pelo re:c sacrormn para
assistirem a atos religiosos como, por exemplo, a declaração
da vontade de fazer testamento.
No fim da República, a importância dêsses comícios
decaiu consideràvelmente e ao mesmo apenas compareciam
30 líctores.

Oomitia centuriata - Os conútia cenhtriata eram, na


República, o comitiatns maximus; as reuniões realizavam-se
no campo de lVIarte e deviam ser convocadas e presididas
pelos magistrados cwm imperio. Entre a publicação do edito
de convocação e a data da reunião devia haver um lapso
de tempo de 30 dias - tr·inum dinwn.
Havia 193 centúrias divididas em centúrias de eqiiites
e de pedites.
-- Os equites compreendiam 18 centúrias e deviam ter 20
jeiras de terra ou 100. 000 asses.
Os pedites eram divididos em cinco classes de acôrdo
com as posses de cada um: - 1.ª classe) compreendia 80
- 325 -

r,entúrias; e a ela pertenciam os que tiYessem 20 jeiras de


terra ou 100.000 asses; 2.ª classe) 20 centúrias - 15 jeiras
de terra ou 75. 000 asses; 3. ª classe) 20 centúrias - 10
jeiras de terra ou 50.000 asses; 4.ª classe) 20 centúrias -
25. 000 asses ou 5 júrias de terra; 5.ª classe) 30 centúrias
2 jeiras de terra ou 11. 000 asses.
Os censores Aurélio Cota e Fábio Butone obtiveram
uma reforma dos cornitia centitriata, sendo as centúrias de
primeira classe reduzidas a 75 e as demais divididas ent
três classes de 35 centúrias.
As principais atribuições dos comitia cenforiata eram:
a) eleição ( creatio) dos magistrados ordinários e extraor-
dinários maiores; b) votação das leis; e) iudicimn nas causas
criminais.

Comitia tributa - Eram assembléias deliberati--:·as de


todo o povo dividido por tribo, estando incluídos os patrí-
cios e os plebeus. A convocação competia aos magistrados
maiores.
O local era o f orum e depois o Campo de Marte.
As principais atribuições eram: a) a creatio dos magis-
trados menores e dos tribuni rnilitnrn; b) iudicium em
causas passíveis de muleta; e) atribuições de caráter reli-
gioso, como a eleição dos pontífices.

Concilia plebis - Eram assembléias deliberativas da


plebe, convocadas por um tribuno e tinham por principais
atribuições: a) crcatio dos magistrados plebeus; b) votação
dos plebiscita; e) o fodicimn em alguns casos passíveis da
muleta.

As decisões dessas assembléias chamaYam-se plebiscita;


a lex Hortênsia do ano 287 a. C. equiparou os plebiscitos à
própria lei.

Fontes do direito romano ~ As fontes elo direito


romano na República são o costume, a lei, os editos elos
magistrados e a jurisprudência.
- 326

cosTUl\IE - O costume é o ius non script um. Lemos


em Gaio que a ação da lei per pignoris capionem se exercia
em determinados casos por fôrça dos costumes, e em outros
por determinação legal. "Per pígnoris capionem lege age-
bafar de quibusdam rebus moribus ( de quibusclam) lege"
(Gaio, IV, 26).
LEI - Lei - lei; - numa acepção ampla, era o têrmo
usado para indicar tôdas as deliberações votadas nos comí-
cios, quer centuriata, quer tributa, bem como nos concilia
plebis. As deliberações votadas nos comícios da plebe to-
mavam a denominação especial de plebiscitmn.
As leis podiam ser clatae ou rogatae. As leges datae
eram as leis formuladas pelo Senado ou por um magis-
trado superior em virtude de poderes especiais conferidos
pelo Senado ou pelo povo. Eram leis que emanavam indi-
retamente do povo. A Lei das XII Tábuas é um exemplo
de lex data.
EDITOS DOS MAGISTRADOS - Os mais importantes magis-
trados romanos costumavam publicar, ao assumirem o cargo,
um programa de ação, que servia para comunicar ao povo
as normas que deveriam ser observadas durante a sua admi-
nistração. Essas normas foram primitivamente comunica-
das oralmente perante uma assembléia e, por êste motiYo,
chamavam-se editos: edicta, de edicere. Dentro de pouco
tempo, essas normas passaram a ser escritas em tábuas de
madeira revestidas de gêsso branco e daí o nome album,
que também foi usado para indicar as disposições contidas
na tábua.
Se, porém, durante o exercício do cargo fôsse subme-
tido à consideração do magistrado algum caso cuja solução
não pudesse ser encontrada no edictmn, publicado ao assu-
mir as respectivas funções, o magistrado podia disciplinar
o assunto por meio de um edictum repentinum, que expe-
diria na ocasião.
:Muitas disposições contidas no edictmn do magistrado
anterior foram mantidas pelo sucessor e essa parte do edito
passou a ser chamada pars translaticia; a parte nova intro-
duzida pelo sucessor ficou sendo conhecida como pars nova.
- 327 -

O mais importante dos editos era o edito do pretor.


Chegaremos a esta conclusão, se analisarmos a iurisdictio e
o imperium do pretor no pleno exercício de suas funções.
A úirisdict-io era o poder de proferir sentença e consis-
tia no poder negativo inerente ao pretor de impedir que
os cidadãos fizessem justiça por si próprios.
O pretor possui o imperfom, que consiste no poder de
comandar, de fazer respeitar a sua autoridade utilizando-se,
para êste fim, até de recursos materiais. Os processos de-
correntes do únperium eram os seguintes: - a restitidio
in integrwn (restituição do estado anterior), stipulationes
pra-etoriae, interdicta, missio ad interdicta.
Díreüo pretoriano - As normas publicadas sucessiva-
mente pelos dversos pretores constituíram o que se chamou
de direito pretoriano.
O direito pretoriano, como nos ensina o jurisconsulto
Papiniano, foi o direito eriado pelos pretores, por utilidade
pública com o fim de secundar, completar ou corrigir o
direito civil.
SENATUS-CONSULTOS - Senatus-consulto é o que o Se-
nado delibera e constitui, e isto tem fôrça de lei, embora
haja quem duvide. "Senatusconsultum est quod senatus
iubet atque constituit; idque legis vicem obtinct, quamvis
fue1·-int quaesitnm" ( Gaio, 1, 4).
O Senado, algumas vêzes, teve a atribuição de dispensar
a lei. E' nestas condições que alguns romanistas incluem
os senatus-consultos como fonte de direito na fase republi-
cana, apesar da advertência de Gaio: - quamvis fuerit
quaesitum.
Devemos, porém, considerar que no caso dos plebiscitos
houve restrição e não ampliação de atribuições do Senado.
A lex Valeria Horatia (ano 440 a. C.) reconhecia autoridade
legal aos plebiscitos desde que fôssem ratificados pelo Se-
nado; a lei Publilia ( ano 339 a. C.) determinou que essa
ratificação fôsse anterior e, finalmente, a lex H ortensia
( entre 289 e 286 a. C.) suprimiu a necessidade de ratifica-
ção pelo Senado, equiparando, dessa forma, o plebiscito
à lei.
328 -

JURISPRUDÊNCIA - Até a Lei das XII Tábuas, não era


fácil consultar uma regra de direito, pois êste, como diz
Lívio, se ocultava no santuário dos pontífices. O pro-
gresso fêz com que os cidadãos pudessem conhecer as normas
jurídicas que se encontravam à sua disposição.
O primeiro passo para a vulgarização do direito foi,
inegàvelmente, a Lei das XII Tábuas, que veio permitir aos
cidadãos a consulta imediata aos diversos dispositivos do
novo Código. Outro passo foi a divulgação das chamadas
.ações da lei - legis acf'ioncs - e para que isto ocorresse
muito contribuiú o excepcional trabalho elaborado por
Cneius Flavius. Essa obra notável fêz com que o seu autor,
,escriba de Ápio Cláudio, fôsse, como testemunho de reconhe-
cimento público, elevado à edilidade enrul. Um terceiro
passo para a vulgarização do direito assinalamos com a
atuação de Tibério Coruncânio, o primeiro sumo pontífice
plebeu, que introduziu o processo de responder publicamente
a. consultas de direito: p1tblice respondere.

Os juristas que davam consultas públicas eram chama-


dos prudentes. Devemos assinalar que os prudentes não
eram juízes, mas apenas conhecedores da ciência jurídica,
e emitiam a sua opinião sôbre as questões a êles submetidas.
Essa opinião podia ser dispensada, se a questão fôsse clara
e simples, pois, neste caso, as partes tinham a faculdade de
se dirigirem diretamente ao juiz.

Atividades dos "prudentes" - O campo de atividade


dos prudentes pode ser apresentado pelas três seguintes pala-
vras: - cavere, agere, respondere.
Se me perguntassem sôbre o verdadeiro jurisconsulto,
declara Cícero, eu diria que é o homem conhecedor das leis
e dos costumes, perito em dar consultas ( ad respondendurn)
em defender num processo ( ad agend1t1n) e em indicar as
precauções que deviam tomar ( ad cavendmn).
CAVERE - E' uma medida de precaução que os cida-
dãos deviam tomar, quando tivessem que realizar oralmente
ou por escrito, algum ato jurídico. Os pruclentes eram ouvi-
dos na defesa do interêsse ela parte. 1\Iânlio é o exemplo
de prudente que Cícero aconselha em casos dessa natureza,
- 329 -

isto é, acl cavendum. As fórmulas empregadas em cada ato


obedeciam a rigoroso formalismo, de modo que uma fórmula
defeituosa poderia proporcionar desagradáveis conseqüências
quanto à eficácia do negócio. Por êste motivo a consulta
aos prudentes deveria afastar emprêgo impróprio ou defei-
tuoso de qualquer fórmula.
AGERE - Entendemos pela expressão ad agendum a
orientação geral que o "prudente" dava à causa perante o
Tribunal. Não devemos confundir o prudente com o advo-
gado pois êste último era um orator, que usava da palavra
perante o tribunal para expor a questão.
HESPONDERE - E' a atividade mais importante d.os
prudentes e consiste em responder às consultas sôbre ques-
tões a êles submetidas por quem tivesse algum interêsse
em determinado caso. Muitas vêzes a simples resposta do
"prudente" dirimia dúvidas e evitava tempo perdido numa
causa forense.
No entanto essas consultas também podiam ser formu-
ladas no curso do processo, por um dos advogados ou pelo
próprio juiz, que era um simples cidadão não familiarizado
com as questões forenses.

PATRÍCIOS, CLIENTES E PLEBEUS - Os patrícios


constituíam a classe privilegiada e somente êles gozavam de
todos os direitos ci.vis e políticos, como, por exemplo, o itis
suf fragi, que consistia na faculdade de votar nos comícios;
o ius honorum, que era o direito de exercer os cargos públi-
cos; o ius ocmipandi agrum publicum, isto é, o direito de
posse das terras conquistadas; o direito de adquirir a pro-
priedade de acôrdo com processos romanos ( ius commerci) ;
o direito de contrair casamento (ius conubi). No entanto,
ao lado dessas prerrogativas, era imposta aos patrícios a
obrigação de pagar os impostos ( ius tributi), como também
a de prestar o serviço militar ( ius militae).
Os clientes estavam ligados aos patrícios por vínculos
e com êles formavam a cidade, da qual não participavam
os plebeus. Os clientes tinham respeito e obediência aos
patrícios que haviam tomado como patronos, eram obrigados
a acompanhá-los à guerra e, ainda, a prestar-lhes auxílio

22
- 330 --

economico, se necessário e possível fôsse. Apesar de ser de


caráter religioso, era fortíssima a sanção contra o patrono
que procurasse iludir o cliente: "Patronus clienti fraudem
faxit, sacer esto" (Lex XII Tab., VIII, 21).
Os plebeus não estavam incluídos nas gentes e quase
sempre sofriam as conseqüências das penalidades impostas
pelas execuções, em virtude de não terem podido pagar os
empréstimos contraídos. Não podiam contrair matrimônio
com os patrícios e somente a Lex Canuleia, sancionada de-
pois da Lei das XII Tábuas, veio conferir aos plebeus o
ius conubi. Eram habitantes da cidade, mas não participa-
vam de sua organização política, até que Sérvio Túlio lhes
concedeu um lugar nos comícios das centúrias, que se rea-
lizavam no Campo de Marte, e daí em diante, começaram
a pagar impostos e a fazer o serviço militar.
Arangio-Ruiz observa que a plebe não foi excluída do
direito político, mas antes fêz parte da tribo originária, dos
comícios por centúrias e da correspondente organização re-
publicana; politicamente, foi excluída somente dos postos
de comando.
A origem da plebe e as relações dos patrícios com os
clientes e plebeus têm admitido opiniões divergentes dos
romanistas que estudaram a questão ( 21 ).

Os tribunos da plebe - Divergentes são as opm10es


dos romanistas que procuram explicar a origem e primitivas
relações entre patrícios, clientes e plebeus, mas nenhuma
dúvida haverá em proclamar-se que os últimos não gozavam
dos mesmos direitos políticos dos patrícios. Esta situação
desigual provocou duas tendências distintas e, à primeira
vista, contraditórias, como já muito bem observou Monier:
l.º) tendências separatistas da plebe, que procuraria orga-
nizar-se com absoluta independência e sob a direção de
chefes por ela própria escolhidos; 2.º) tendência para al-
cançar a liberdade política entre os patrícios e plebeus.
No ano de 494 a. C., os plebeus retiraram-se para o
monte Sagrado e ameaçaram os patrícios de estabelecer
(21) DE FRANc1sc1, Pietro - Storia dei Derecho Romano - Vai.
I, página 199.
- 331-

ali uma cidade, que seria rival de Roma. O resultado dêsse


gesto foi a concessão dos patrícios, que permitiram aos
plebeus o direito de escolher magistrados próprios, dotados
de extraordinário poder, inclusive o de intercessão contra
os cônsules e os demais magistrados. Eram os tribunos do
povo ( c. Tito Lívio, II, 33, 1 e segs.).
A legislação passou a ser da competência dos comitia
tributa e, em maior escala, do concilium plebis, que era
uma assembléia presidida por um tribuno da plebe. As
resoluções votadas nesses comícios chamavam-se plebiscita,
que foram equiparados às leges, ex vi da lei Hortênsia.
Segundo a tradição, os tribunos do povo foram dois, no
início, mas Meyer e Neumann não aceitam essa interpre-
tação e preferem elevar êsse número para quatro. No en-
tanto, como acentua P. de Francisci, não sabemos, ao certo,
quantos teriam sido, primitivamente, os tribunos que, na
época histórica, não eram menos de dez.

ELABORAÇÃO DA "LEX DUODECIM TABULA-


RUM" - Os cônsules, no ano 462 a. C., eram quase tão
cruéis quanto os antigos chefes da Realeza e com relação a
êstes levavam, apenas, alguma vantagem quanto ao nome:
- "nomine enim tantum minus invidiositm, re ipsa prope
atrocius quam regiu.rn esse" (22 ) .
Não havia limite para conter o excessivo rigor dos
cônsules na aplicação de castigos e suplícios à plebe. Xrn;sa
época imperava o direito consuetudinário, mas, acima dêstcs,
a vontade e, principalmente, o ódio dos cônsules.
Foi com o intuito de pôr um têrmo a êsse abuso qne
o tribuno do povo Gaio Terentílio Harsa propôs a nomra-
ção de uma comissão de cinco membros para que fôsse
regulamentado o poder consular: - "Quae ne aeterna illis
licentia sit, legcrn se promulgat1trmn ut quinque viri crccn-
tur legibits de imperio consulari. scribendis; quod pupulus
in se ius dederit, eo consulem 1tsurum, non ipsos libidi11cm
ac licentiam suam pro lcge habituros" ( 23 ).

(22) Tit. Liv., III, 9, 3.


(23) Tit. Liv., III, 9, 5.
332 -

Isto significa, observa Bonfante, o completo estabele-


cimento da comuna plebéia no Estado, conforme a tendên-
cia da secessão; mas a sabedoria dos patrícios fêz com que
desde êsse momento, prevalecesse a tendência de fusão das
duas classes.
O projeto de Terentílio causou grandes apreensões e
protestos dos patrícios; Quinto Fábio, prefeito da cidade,
foi o primeiro em atacá-lo fortemente. Atendendo à situa-
ção anormal por que passava o país, Terentílio viu-se na
contingência de ceder à dignidade consular e retirou a pro-
posição : - "cess·it ad ultimum maiestati consulis tribunus
et destitit" ( 24 ).
Tudo nos faz crer que essa desistência de Terentílio
tenha sido momentânea, pois a chama que a sua iniciativa
provocou não se extinguiu no ânimo dos plebeus.
Os tribunos perceberam que jamais poderiam conseguir
que o projeto de Terentílio fôsse votado, enquanto estivesse
em Roma certo Caeso Quinctius, varão corajoso e dotado de
excepcional fôrça física, e que numa ocasião, expulsara os
tribunos do fôro e afugentara a plebe. Por isso, o tribuno
Aulus V erginius, com surprêsa geral, o acusou de crime
capital.
Caeso, depois de apresentar fiadores, evadiu-se para a
Etrúria, o que representou uma vitória dos plebeus, que,
animados com o sucesso obtido, julgaram não haver mais
obstáculos que impedissem a promulgação do rumoroso pro-
jeto de Terentílio. Os patrícios passaram a dedicar tôda
espécie de consideração aos plebeus, patrocinavam suas cau-
sas no fôro e não usavam de violência nem pública, nem
particularmente. Desta forma, foi mais uma vez pôsto à
margem o supremo objetivo dos plebeus. Outras tentativas
surgiram, mas a habilidade dos patrícios sempre encontrava
um pretexto que adiasse a aprovação do projeto.

Loteamento do Aventino - Possivelmente, entre 456 e


454 a. C., foi promulgada uma lei que ordenou o lotea-
mento do monte Aventino: "De Aventino pitblicando lata
lex est" (25 ).
(24) Tit. Liv., III, 10, 3.
(25) Tit. Liv., III, 31, I.
- 333 -

Não obstante tratar-se de assunto de grande importân-


cia, Tito Lívio mostra-se pobre de informações, e só aciden-
talmente diz que seu autor foi o tribuno Ecílio. Esta lei,
dentre outras medidas, estabelecia a distribuição gratuita,
entre os plebeus, dos terrenos desocupados.

Entendimentos entre plebeus e patrícios - Doze anos


tinham decorrido desde a primeira apresentação do pro-
jeto de Terentílio, e os plebeus compreenderam que difi-
cilmente lograriam o objetivo, enquanto não houvesse um
entendimento com os patrícios. Dessa forma, os plebeus
resolveram abandonar o texto primitivo e propuseram à
outra classe a organizão de uma comissão legislativa, da
qual participariam representantes das duas classes, com o
fim de serem apresentadas normas que garantissem a igual-
dade e a liberdade. A proposta ainda não agradara aos
patrícios, mas êstes limitaram-se a vetar a inclusão de
plebeus na Comissão sugerida, objeção que foi aceita.

A embaixada a Atenas - Conta-nos Tito Lívio que


uma comissão composta de Spurius Postumius Albus, Aulus
Manlius e Publius Sulpicius Camerinus fôra enviada à
Grécia para copiar a constituição de Sólon e estudar os
costumes, os usos e as leis das cidades gregas.
Os romanistas discutem sôbre a veracidade dessa infor-
mação, porque não havia necessidade de mandar uma co-
missão a Atenas para o fim aludido, quando cidades próxi-
mas ofereciam modelos da legislação helênica, inclusive da
própria Constituição de Sólon. As instituições fundamen-
tais de direito quiritário, que declara Bonfante, os Gregos
jamais conheceram em sua concepção romana, são pura-
mente romanas no seu nome e na sua essência; mas nas
próprias disposições especiais, apesar das declarações dos
antigos, é difícil reconhecer um caso ou dois de influência
grega certa.
Se a comissão a que alude Lívio foi ou não à Grécia,
pouco ou nada interessa ao jurista, porque, sob êste aspecto,
o essencial é verificar até que ponto as leis helênicas influí-
ram no trabalho dos decênviros. De que valeria a certeza,
- 334 -

se porventura a tivessem, de que a embaixada fôra real-


mente à Grécia, se não encontrássemos traços da legislação
ou costumes gregos na Lei das XII Tábuas?
Não reputamos impossível que se tenha verificado a ida
dessa embaixada à Grércia, mormente se levarmos em con-
sideração que os autores das grandes obras, como aconteceu
posteriormente com a Eneida de Virgílio, não menospre-
zavam uma viagem a Atenas a fim de concluírem trabalhos
intelectuais de grande vulto.

Os decênviros - No ano 452 a. C. Appius Claudius,


Titus Genicius, Plubius Sestius, Lucius Veturius, Caius Iu-
lius, Aulus Manlius, Publius Sulpicius, Publius Curiatius,
Titus Romilius e Spurius Postumius foram nomeados decên-
viros, sob a presidência do primeiro. Êstes apresentaram
ao povo, um ano depois, as dez tábuas, que encerram leis em
cuja elaboração todo o esfôrço devia ter sido empregado para
que fôsse reconhecida a igualdade de grandes e pequenos
perante a lei. Os comícios por centúrias adotaram as leis
contidas nas dez Tábuas e esta obra foi posteriormente
qualificada por Lívio como sendo a fonte de todo o direito
público e privado.
"Cum ad rumores hominum de unoquoq1te legum capite
editos satis correctae viderentur, centuriatis comitiis decem
tabularum leges perlatae sunt, qui num quoque, in hoc
immenso aliarum super alias acervaturum legum cumulo,
fons omnis publici privatique est iuris" (26 ).
O trabalho dos decênviros não foi considerado completo,
motivo pelo qual ficou estabelecida nova eleição de decên-
viros para conclusão do que faltava. Depois de uma cam-
panha muito disputada, Appius Claudius foi reeleito e com
êle Marcus Cornelius, Maluginensis, Marcus, Lucius Minucius,
Quintus Fabius Vibulanus, Quintus Poetilius, Titus An-
tonius Merenda, Kaeso Duillius, Spurius Oppius Cornicen
e Manius Rabuleius foram também elevados ao decenvi-
rato ( 27 ). Segundo informação de Dionísio de Halicar-
(26) Tit. Liv., III, 34, 6.
(27) Cf. Tit. Liv., III, 35, 11.
- 335 -

nasso ( 28 ), Quintas Doetelius, Kaeso Duillius e Spurius


Oppius eram plebeus.
Os decênviros anteriores confiavam as insígnias a um
só dentre êles e, por isto, foi geral a estupefação quando
todos êstes se apresentaram em público com as doze insíg-
nias ( 29 ). Patrícios e plebeus compreenderam logo o perigo
que semelhante atitude encerrava e nenhuma dúvida mais
houve de que estavam sob o jugo não de um poderoso, mas
de dez prepotentes.
Os decênviros ficaram investidos de absolutos e despô-
ticos poderes até que, após o rumoroso e discutido processo
de Virgínia, a indignação geral se fizesse sentir e os de-
pusesse.

Lex Duodecim Tabularum

TABULAI

1 - SI IN IUS VOCAT, 1 - Se alguém fôr chamado


NI ITO ANTESTAMINO: perante o magistrado e
IGITUR EM CAPITO. não comparecer, o autor
deverá fazer uso de fôrça,
na presença de testemu-
nhas.

2 - SI CALVITUR PEDEM- 2 - Se (o acusado) procurar


STRUIT, MANUM
Í\l'E usar de astúcia 01t ten-
ENDO IACITO. tar fugir, que seja agar-
rado.

3 - SI MÔRBUS AEVITAS- 3 - Se a doença ou a velhice


VE VITIUM' ESCIT, dificultar a locomoção
(QUI IN IUS VOCABIT) (aquéle que tiver tido a
IUMENTUM DATO. iniciativa de convocar pe-
SI NOLET, ARCERAM rante o magistrado) de-
NE STERNITO. verá colocar um animal
de carga à disposição do
impedido. Se o acusado
recusar, que se não lhe
ofereça um carro fechado.

(28) Cf. Dion. Halic., X, 58.


(29) Cf. Cic. de Rep., II, 36 e Liv. III, 36, 4.
- 336-

4 - ADSIDUO VINDEX A- 4 - Que o "vindex" (fiador)


DSIDUO ESTO: PROLE- de um censitário (rico)
TARIO IAM CIVI QUIS seja um censitário e o
VOLET VINDEX ESTO. de um proÚtário, qual-
quer pessoa que aceite o
encargo.

5 - NEX (I MANCIPIQUE 5 - Terão os mesmos direitos


CUM P. R. IDEM) FORC- os "forcti" e os "sanati"
TI SANATI (QUE IUS quando ligados pelo "ne-
ESTO). xum" e pelo "mancipi~
um" com o povo Romano.

6 - REM UBI PAGUNT, O- 6 - Se as partes chegasseni


RATO. a um entendimento, de-
veria ser proclamado o
acôrdo.

7 - NI PAGUNT, IN COMI- 7 - Se não fôsse possível o


TIO AUT IN FORO AN- entendimento, êles expo-
TE MERIDIEM CAUS- riam a causa no "comiti-
SAM' COICIUNTO, CUM um" ou no "forum" antes
PERORANTO A MB O do meio-dia. Era impres-
PRAESENTES. cindível o comparecimen-
to de ambas as partes
para que se fizesse a ex-
posição.

8 - POST MERIDIEM 8 -· Se depois do meio-dia só-


PRAESENTI LI TE M mente uma parte houves-
ADDICITO. se comparecido, a esta
devia ser adjudicado o
o objeto em litígio.

9 - (SI AMBO PRAESEN- 9 - (Se ambas as partes es-


TES), SOLIS OCCA- tivessem presentes) ne-
SUS SUPREMA TEM- nhum ato de processo
PESTADE ESTO. deveria prolongar-se além
do pôr do sol (=o por
do sol deveria ser o últi-
mo têrmo de todo ato do
processo).

10 - VADES. . . ET SUBVA- 10 - . . . cauções. . . e sub-cau-


DES. ções que garantiam o no-
vo comparecimento do
réu perante o magistra-
do,
- 337 -

TABULA ll

1 - Sacramenti actio genera- 1 - O sacramento ( = depó-


lis erat; de quibus enim sito solene) era a forma
rebus ut aliter ageretur geral de ação; usava-se
lege cautum non erat de dêsse processo do sacra-
bis sacramento ageba- mento em todos os casos
tur. em que a lei não indica-
va outra modal-idade de
agir.

Poema autem sacramen- A pena do sacramento


ti aut quingenaria erat era quingenária ( =
50
aut quinquagenaria; asses) ou quinquagená-
ria (= 500 asses).

Nam de rebus mille aeris Com efei.to, quando o


plurisve quingentis as- valor da causa era igual
sibus, de minoris vero ou superior a mil asses,
quinquaginta assibus sa- o sacramento seria de
cramento contendebatur; 500 asses; e, se fôsse in-
nam ita Iege XII tabu- ferior, o sacramento se-
larum cautum erat. ria apenas de 50 asses,
pois assim determinava
a lei das XII tábuas.

Sed si de libertate ho- Mas se o litígio versasse


minis controversia erat, a liberdade de um ho-
etsi pretiosissimus ho- mem, embora êste fôsse
mo esset, tamen ut digno da mais elevada
quinquaginta assibus sa- consideração, a mesma
cramento contenderetur lei (das XII Tábuas)
eadem Lege cautum est estabelecia que o sacra-
favore scilicet liberta- mento seria apenas de
tis, ne onerarentur ad- 50 asses, a fim de não
sertores. onerar bastante os fia-
dores.

2 - ... MORBUS SON- 2 - .. . A enfermidade gra-


TICUS AUT STATUS ve. .. . a fixação do dia
DIES CUM HOSTE ... com o estrangeiro . . . se
QUID HORUM FUIT o juiz, o árbitro ou o
VITIUM IUDICI AR- réu tiver algum dêsses
BITROVE REOVE, EO inconvenientes, a audi-
ência deverá ser trans-
DIES DIFFUSUS ESTO.
ferida para outro dia
- 338 -

3 - CUI TESTIMONIUM DE- 3 - Se a testemunha não se


FUERITS, IS TERTIIS prontificasse a compare-
DIEBUS OB PORTUM cer, a parte interessada
OBVAGULATUM ITO. iria à sua porta convocá-
la, em altas vozes, duran-
te três dias.

TABULA ID

1 - AERIS CONFESSI RE- 1 - Confessada a dívida ou


BUSQUE IURE IUDICA- reconhecia judicialmente,
TIS XXX DIES IUSTI o devedor teria o prazo de
SUNTO. trinta dias para dela de-
sobrigar-se.

2 - POST DEINDE MANUS 2 - Decorrido o prazo de SO


INIECTIO ESTO. IN dias ( sem que o devedor
IUS DUCI1'O. houvesse cumprido o que
determinara a sentença
condenatória, teria lugar
a "manus iniectio" e o
devedor devia ser condu-
zido à presença do ma-
gistrado.

3 - NI IUDICATUM FACIT 3 - Se o devedor não pagas-


AUT QUIS ENDO EO se nem apresentasse vin-
1N IURE VINDICIT, SE• dex, o credor o levaria
CUM DUCITO, VINCI- para sua casa e o amar-
TO AUT NERVO AUT raria ou o prenderia com
COMFEDIBUS QUINDE- péso de quinze libras, no
CIM PONDO NE MAIO- máximo ou menor, se as-
RE AUT S VOLET MI- sim quisesse.
NORE VINCITO.

4 - SI VOLET SUO VIVITO. 4 - Se o devedor quisesse,


NI SUO VIVIT, QUI poderia viver à sua custa,
EUM VINCTUM HA- isto é, do seu patrimônio,
BERIT, LIBRAS FAR- m.as em caso contrário, o
RIS ENDO DIES DATO. credor lhe daria uma li-
SI VILET, PLUS DATO. bra de farinha por dia,
ou mais, se quisesse.

5 - ERAT AUTEM IUS IN- 5 - Havia também o direito


TEREA PACISCENDI de transigir. O devedor
AC, NISI PACTI FO- era pôsto em ferros, du-
RENT, HABEBANTUR rante 60 dias, salvo se
1N VINCULIS DIES SE- houvesse acôrdo. Nesse
XAGINTA. INTER EOS espaço de tempo havia
- 339 -

DIES TRINIS MUNDI- três dias de mercado nos


NIS CONTINUIS AD quais era levado ao comí-
PRAETOREM IN COMI- cio perante o pretor, e ai
TIUM PRODUCEBAN- proclamava-se, em altas
TUR, QUANTAEQUE vozes, a quantia pela qual
PECUNIAE IUDICATI respondia.
ESSENT, DRAEDICA-
BATUR.

6 - TERTIIS NUNDINIS 6 - No terceiro dia de feira,


PARTIS SECATO - SI os outros credores apre-
PLUS M'INUSVE SE- sentarão a relação de seus
CUER UNT, SE FRAU- créditos (isto é, com o
DE ESTO. objetivo de dividir entre
si os bens restantes do
devedor). Se as relações
fôssem mctiores ou meno-
res do que na realidade
deveriam ser (isto é, se
não fôssem exatas) não
haveria importancia (isto
é, não haveria um rom-
pimento da fides).

TABULA IV

1 - cito (necatus) tamquam 1 - Imediatamente era mor-


ex XII Tabulis insignis to, segundo a lei das XII
ad def-Ormitatem puer. Tábuas, o menino que
apresentasse deformação
monstruosa.

2 - a) Cum parti lex - de- 2 - a) A lei atribuía ao pai o


derit in filium vitae ne- direito de vida e de morte
cisque potestatem. sôbre o filho.

b) SI PATER FILIUM b) Se um pai vendesse o


TER VENUM DU (UIT) filho três vêzes, o filho
FILIUS A PARTE LI- ficaria livre do poder do
BER ESTO. pai.

3 - Iliam suam suas res sibi 3 - 1Ue ordenou que aquela


habere ius sit ex tabulis sua (companheira) apa-
claves ademit, exegit. nhasse tôdas as suas coi-
sas e, segundo a lei das
XII Tábuas, retirou-lhe
as chaves, expulsou-a.
- 340 -

4 - Comperi, feminam - in 1 - Uma mulher deu à luz


undecimo mense post ma- uma criança no décimo
riti mortem peperisse, fac- mês depois do falecimen-
tumque esse negotium to do marido e êste fato
propteractionem tempo- originou um processo, por
ris, quasi marito mortuo causa do tempo da gesta-
postea concepisset, quoni- ção que permitia sitpor
an decemviri in decem haver sido concebido de-
mensibus gigni hominem, pois do falecimento do
non in undecimo scrip- marido e isto porque os
sisset. decênviros tinham escrito
que o prazo seria de 10
meses e não de onze.

TABULA V

1 - Veteres - voluerunt fe- 1 - Os nossos antepassados


minas, etiasmi perfecte determinaram que as mu-
aetatis sint, propter ani- lheres apesar de haverem
mi levitatem in tutela alcançado a maio1•idade,
esse; - exceptis virgini- ficariam sob tutela por
bus Vestalibus; quas libe- causa da fraqueza de seu
ras esse voluerunt: itaque espírito; - excetuadas as
etiam lege XII tab. cau- 't1irgens Vesta'ls, as quais
tum est. êles estabeleceram que
fôssem livres: assim tam-
bém se procedia na lei
das XII Tábuas.

2 - Mulieris, quae in agna- 2 - As "res mancipi" de uma


torum tutela erat, res mulher, que estava sob a
manc1p1 usu capi non tutela dos agnados não
poterant, praeterquam si podiam sofrer os efeitos
ab ipsa tutore (auctore) do usucapião, exceto se
traditae essent: id ita fôssem adquiridas por
loge XII tab: (cautum ela própria com a "auc-
erat). toritas" de seu tutor; e
tal coisa também estava
ordenado na lei das XII
Tábuas.

3 - UTI LEGASSIT (SUPER 3 - Tudo o que se houvesse


PECUNIA TUTELA VE) estabelecido sôbre o seu
SUAE REI, ITA IUS partimônio, (quer se tra-
ESTO. tasse dos bens ou da tu-
tela) devia ser observaao.
- 341-

4 - SI INTESTATO MORI- 4 - Se alguém morrer sem


TUR CUI SUUS HERES ter feito testamento (e
NEC ESCIT, ADGNA- não deixar "suus heres'·')
TUS PROXIMUS FAMI- os seus bens passarão
LIAM HABETO. para o agnado mais pró-
ximo.

5 - SI ADGNATUS NEC ES- 5 - Se não houver agnado, o


CIT, GENTILES FAMI- patrimônio deverá per-
LIAM (HABETO). tencer aos gentis.

6 - Quibus testamento- tutor 6 - Se não fôr nomeado tu-


datus non sit, iis ex Iege tor para certas pessoas,
XII (tabularum) agnati segundo a lei das XII
sunt tutores. Tábuas, os tutôres serão
os agnados.

7 - a) SI FURIOSUS ESCIT, 7 - a) Se alguém fôr conside-


ADGNATUM GENTILI- rado furioso, competirá
UMQUE IN EO PECU- aos agnados e aos gentis
NIAQUE EIUS POTES- a "potestas" sôbre êle e
TAS ESTO. sóbre os seus bens.

b) ... AST EI CUSTOS b) ... Mas se não hou-


NEC ESCIT. ver curador . ..

e) Lege XII tab. prodi- e) A lei das XI Tábuas


go interdicitur honorum não permitiu que o pró-
suorum administratio. digo administrasse seu
Lex XII tab. - prodi- patrimônio. A lei das
gum, cui bonis interdic- XII Tábuas determina-
tum est, in curatione va que o pródigo, proibi-
iubet esse agnatorum. do de administrar os
próprios ben.~, ficasse
sob a curatela dos ag-
nados.

8 - Civis Romani Iiberti he- 8 - Se um cidadão Romano


reditatem Iex XII tab. Hberto morresse nessa
patrono defert, si intes- estado sem deixar tes-
tato sine suo herede Ii- tamento nem "suus he-
bertus deceserit. res", a lei das XII Tá-
buas declarou que a he-
rança fôsse deferida ao
patrono.

Cum de patrono et liber- Quando a lei trata do


to Ioquitur Iex: EX EA patrono e do liberto as-
FAMILIA, inquit, IN sim se expressa: dêste
EAM FAMILIAM. patrimônio para o mes-
mo patrimônio.
- 342 -

9 - Ea, quae in nominibus 9 - Estas coisas que estão


sunt, - ipso iure in por- na categoria de dívida,
tiones hereditarias ex le- - segundo a lei das XII
ge XII tab. divisa sunt. Tábuas, são divididas
em porções hereditárias,
Ex lege XII tab. de acôrdo com o próprio
aes alienum hereditari- direito.
um pro portionibus qu!ll-
sitis singulis ipso iure De acôrdo com a lei das
divisum. XII Tábuas o débito he-
reditário era dividido
proporcionalmente entre
cada herdeiro.

10 ·- Haec actio (familiae er- 10 - Esta ação (familiae er-


ciscundae) proficiscitur ciscundae) origina-se da
e lege XII tabularum. lei das XI Tábuas.

TABULA VI

1 - CUM NEXUM FACIET l - Quando alguém fizer um


MANCIPIUMQUE, UTI- "nexum.,, ou 'Uma "man-
LINGUA NUNCUPAS- cipatio", proceder-se-á
SIT, ITA IUS ESTO. (= o direito será) como
houver declarado.

2 - Cum ex XII tab. satis 2 - De acôrdo com a lei das


esset et praestari, que XII Tábuas, deviam ser
essent lingua nuncupata, levadas em consideração
quae qui infitiatus esset, as palavras que houves-
dupli poenam subiret, a .sem sido pronunciadas
iuris consultis etiam re- e tudo aquilo que h01t-
ticentiae poena est cons- vesse confessado. A pena
tituta. era o dôbro do dano
causado e os juriscon-
sultos também punfam a
reticência.

3 - Usus auctoritas fundi 3 - O uso e a "auctoritas''


biennium est, - cete- de um imóvel duram
rarum rerum omnium dois anos - mas o 1tso
- annus est usus. das outras coisas é de
um ano.

2 - Lege XII tab. cautum 4 - A lei das XII Tábuas de-


est, ut si qua nollet eo terminava que se uma
modo in manum mariti mulher não qutsesse fi-
convenire, ea quotannis car sob a "manus" do
trinictio, abesset atque marido, devia ausentar-
- 343 -

eo modo cuiusgue anni se durante três noites


(usum) interruperet. cada ano e isto impedi-
ria o usucapião.

5 - (QUI) IN IURE M'A- 5 - Se (êles) apertam as


NUM CONSERUNT. mãos perante o magis-
trado.

6 - Advocati (V'erginiae) - 6 - Os advogados de Virgí-


postulant, ut (Ap. Clau- nia pedem que Ap. Cláu-
dius) - lege ab ipso la- dio, de acôrdo com a lei
ta vindicias -det secun- por êle mesmo promnl-
dum libertatem. gada, conceda as "vindi-
cias" de a.côrdo co1n a
liberdade.

7 - TIGNUM IUNCTUM AE- 7 - Ninguém deve tirar a


D I BUS VINEAEVE trave que sustenta itma
(ET CONCAPIT) NE construção ou um vi-
SOLVITO. nhedo.

8 - Lex XII tab. negue sol- 8 - A lei das XII Tábuas não
vere permitittit tignum permite tirar a trave
fudtivum aedibus vel vi- roubada que se encont1·a
neis iunclum negue vin- anexada a uma constru-
dicare, - sed in eum, ção ou um vinhedo, -
gui convictus est iun- mas contra aquêle que a
xisse, in duplum dat anexou cabe uma ação
actionem. em dôbro.

li - .. .QUANDO QUE 9 - e quando fôr podada


sAR p TA, ~n o N E e poderá ser retirada (rei-
DEMPTA ERUNT. vindicada).

III - O PRINCIPADO

Origem do Principado - Marco Antônio, Lépido e


Otaviano, depois da morte de César, organizaram o se-
gundo triunvirato rei publicae constituendae.
Cícero, numa carta dirigida a Cássio, já vislumbrara
que o assassinato de César não fôra o bastante para que
a liberdade voltasse a imperar, porque o desejo de transfor-
mar a República num reinado dominava o espírito dos que
se encontravam no poder.

"Nam id adhuc quidem actum est, non regno


sed rege libera ti videmur; inter!ecto enim rege re-
- 344 -

g·ios omnes nutus tuemur, neque vero id solum sed


etiam qua ipse ille, si viveret, non faceret, ea nos
quasi cogitata ab illo probamus" (Ep. ad. Fam.,
XII, 1, 1).

Os últimos defensores da República - Bruto e Cássio


foram vencidos em Filipos.
Exterminadas as últimas fôrças que se haviam insur-
gido contra as idéias implantadas por César, os dois vence-
dores de Filipos dividiram entre si o império: - Marco
Antônio ficou com o Oriente e Otaviano com o Ocidente.
Lépido, que juntamente com Otaviano e Marco Antônio,
fazia parte do triunvirato rei publicae constituendae foi,
pouco a pouco, sendo desprezado.
No ano 36 a. C., Lépido foi destituído, ao passo que
Otaviano e Marco Antônio continuaram senhores absolutos
do império.
Otaviano, a partir do ano 38 a. C., passou a usar o
título de Imperator ( 3º) que as tropas lhe haviam confe-
rido por aclamação, como general vitorioso.
A tribunicia potestas foi um poder extraordinário de
que usou Otaviano a partir do ano 36 a. C..
No dia 13 de janeiro do ano 27 a. C., renunciou perante
o Senado os poderes extraordinários de que se encontrava
investido. O senado porém, não aceitou a renúncia e supli-
cou a Otaviano que modificasse a sua deliberação. Diante
da insistência do Senado, concordou Augusto em permane-
cer no govêrno desde que seu poder não ultrapassasse dez
anos e fôsse feita uma divisão das províncias entre êle e
o Senado.
O Senado aceitou essas imposições e Otaviano conti-
nuou no poder com o nome de Princeps. Em seguida o
senado conferiu-lhe o título de Augusto.
No ano 23 a. C., Augusto renunciou ao consulado e,
em compensação, foi-lhe atribuído pelo Senado o imperium
proconsulare, que tinha a vantagem de não prender o cônsul
em Roma. Êsse imperiiim proconsulare era perpétuo e infi-
nito, isto é, não limitado pelo pomerium.

(30) Cf. GAETANO DE SANCTIS - Imperator, in Studi in onore


Riccobono, II, p. 59.
- 345

Os poderes decorrentes da tribunicia potestas de Au-


gusto a partir do ano 23 a. O., eram os mais amplos pos-
síveis e compreendíam os seguintes: a) a intercessio; b) o
lus agendi cum populo et cum patribus; e) o ius coercitionis.
Augusto tinha a tribunicia potestas, mas não se tornou
colega dos tribunos.
De Francisco enumera numa relação de treze itens, as
principais atribuições do príncipe:
1. O direito de fixar, mudar, regular, mediante leges
datae, os regulamentos das províncias, dos municípios, das
colônias; o direito de conceder a cidadania aos latinos, a
latinidade aos peregrinos, o conubium aos não cidadãos, a
ingenuidade aos libertos, o direito de distribuir o ager
publicus aos veteranos;
2. o direito de guerra e de paz, de concluir tratados,
de enviar e receber embaixadores;
3. o direito de convocar o senado;
4. o direito de indicar os candidatos às magistraturas
de origem republicana e o direito de commendatio;
5 . a repressão penal decorrente do seu imperium;
6. a jurisdição civil é exercitada na forma adminis-
trativa da cognitio;
7. o direito de cunhar moeda de ouro e de prata;
8. o direito de estender o limite do comércio;
9. o direito de expedir ordens com ofertas gerais ou
particulares ;
10. a faculdade de dispor dos recursos financeiros;
11. o direito de vigilância geral em matéria de reli-
gião;
12. a a possibilidade de assumir outros poderes;
13. o direito de usar uma série de títulos - o prae-
nomen de Imperator e o de Caesar Augustus.
A definição jurídica do principado é questão bastante
controvertida. Segundo Wolf, Schiller, De Francisci e ou-
tros é uma autocracia verdadeira, embora privada do ca-
ráter de hereditariedade.
Schulz e Beseler preferem explicar o Principado como
uma continuação da República, ou antes, uma evolução
desta no sentido aristocrático.
Já Arangio-Ruiz julga que a República continua a sub-
sistir posição jurídica de protetor.

23
- 346

Tendências do Principado - As principais tendências


do Principado repercutiram nos terrenos econômico e social.
O império atravessou uma fase de grande prosperidade
econômica decorrente, em grande parte, do período de paz
que dominou em Roma. A navegação marítima foi favo-
recida com a construção de portos, canais, como o canal
de Corinto. Um acontecimento notável proporcionou grande
incremento ao comércio interno: - a criação pelo Estado
do cursus p,ublicus, ou melhor, do correio.
A moeda de ouro foi introduzida em Roma, tornando-se
monopólio do Estado.
O Estado aproveita o desenvolvimento do comércio para
cobrar os portoria (impôsto comercial) e para criar impos-
tos especiais sôbre os comerciantes.
A questão social agravou-se ainda mais no Principado e
a antiga desigualdade entre patrícios e plebeus é, agora,
representada pelo fator econômico.
De um lado estão os aristocratas, que ganharam for-
tunas em negócios e do outro, os proletários miseráveis que
nem sequer ganhavam o suficiente para viver.
Houve, também, transformações no setor religioso com
a propagação de cultos orientais entre o proletariado; entre
os plutocratas e aristocratas, a doutrina estóica exerceu
ponderável influência.

A cidadania romana e a constituição de Caracala -


César compreendeu que, para maior fortalecimento do im-
pério, deveria conceder a cidadania ao maior número pos-
sível de cidadãos. No entanto êste plano não poderia ser
executado de uma só vez, mas gradativamente. Era preciso
assegurar a unidade ao império que se tornava cada vez
mais amplo e nada mais favorecia a consecução dessa uni-
dade do que a aplicação do mesmo direito aos cidadãos. O
direito romano era aplicado nas coloniae civium 1·omano-
rum, mas o passo decisivo para a sua expansão foi dado
pelo imperador Antonino Caracala, no ano 212.

"In orbe romano qui sunt ex constitutione I m-


peratoris Antonini civis romani effecti sunt" (D.
l, 5, 17).
- 347 -

Isto significa que a cidadania romana foi concedida


aos habitantes dos territórios conquistados, que passaram a
ser regidos pelo direito romano.
O grande romanista Mitteis ( 31 ) apresentou uma tese
revolucionária em 1891, segundo a qual o direito romano,
devido aos processos solenes que o caracterizavam, não foi
aplicado, como se julgava, a todos êsses territórios conquis-
tados. As províncias, dizia Mitteis, continuaram a ser regi-
das pelo seu próprio direito.
Se fôsse verdadtlira a tese de Mitteis, além do grave
problema de distinguir o que era propriamente direito ro-
mano, teríamos que aceitar a grande compilação de Justi-
niano como sendo mais direito bizantino e provinciano do
que direito romano.
O próprio Mitteis modificou posteriormente o seu ponto
de vista e chegou a reconhecer que a compilação justinianéia
constitui a principal fonte dos estudos romanísticos.
Ernst Schõnbauer, em trabalhos publicados na Zeit-
schrift der Savigny-Stiftung ( 32 ) cita escritores asiáticos,
africanos e gregos que proclamaram a superioridade do
direito romano para refutar a tese de Mitteis.
Esclarece Schõnbauer ( 33 ) que a posição dos territórios
submetidos aos romanos nem sempre era a mesma.
A tese de Schõnbauer foi aceita por Chiazzese ( 253 ) ao
reconhecer que os romanos permi~iam aos habitantes dos
territórios conquistados o uso do direito local, mas o direito
oficial era, nas províncias, aplicado nas relações entre os
cives e os respectivos habitantes.
Devemos esclarecer, porém, que o direito romano de-
pois do edito de Caracala não ficou estagnado mas seguiu
o processo normal de evolução. As transformações por que
passou, foram tão acentuadas que o direito vigentt', depois
(31) MITTEIS, L. -
Volkrecht und Reichrecht.
(32) Idem - Reichsrecht gegen Volksrechtr ZSS, 51, 277-335:
Reichsrecht, Volksrecht un Provinzialrecht - ZSS, 57, 309-355.
(33) Die Stellung der einzelnen Bewhner war demgemaess
auch weitherhin eine ungleiche. Wer schon frürger einer Gemein-
schaft gewesen war, also innerhalb einen Korporation mit staatli-
chem Charakter zuglich fiPX(J)V und fi.pxóµevos gewesen war, der
hatte auch fernerhln neben der Reichsbürgerschat das heimatliche
"Staatsüurgerretchat" - (ZSS, v. LI, p. 334).
(34) CHIAZZESE, Lauro - Introduzione allo studio del Diritto
Romano, p. 363.
- 348 -

b) PRETURA - O número de pretores foi elevado a


dezoito, e alguns dêsses novos tinham autoridade judicante
especial, como o pretor fideicomissário, o pretor tutelar.
e) CENSURA - Esta magistratura deixou de existir
como magistratura autônoma a partir de Domiciano.
d) QUESTURA - Os questores eram 40, mas foram
reduzidos a 20: - dois quaestores Augitsti, quatro qitaes-
tores-consulum, doze questores das províncias e dois quaes-
tores itrbani. A questura foi a magistratura menos atingida
pela nova ordem implantada com o principado.
e) TRIBUNATO - - 0 poder passou para O príncipe.

Novas magistraturas - Os novos cargos criados para


atender à orientação que o príncipe queria imprimir ao
govêrno eram os seguintes:
a) PRAEFECTI - Eram representantes públicos desig-
nados pelo príncipe para o exercício de determinada ati-
vidade. O praefectus itrbi era um simples delegado do
imperador em suas ausências temporárias. Acontece que a
partir de Tibério o praefectus 1trbi ficava em exercício
contínuo, porque o príncipe passou a residir fora de Roma.
Nestas condições o praefecfits urbi ficou sendo uma espécie
de chefe de polícia e sob o seu comando se encontravam
as coortes urbanas com cêrca de 4. 000 a 6. 000 homens. O
praefecfas urbi tinha a jurisdição criminal em Roma e num
raio de ação de cem milhas em tôrno da cidade ; a jurisdição
civil era exercida em casos de ordem pública, mas isto
ocorria raramente.
Os praefecti praetorio exerciam influência na escolha do
imperador e por êste motivo desfrutavam uma situação
privilegiada. Êles tinham a jurisdição criminal além da
zona destinada ao praefechts ttrbi.
O praefectus annonae fiscalizava o abastecimento da
cidade; o praefectus vigilum devia superintender o serviço
de vigilância noturna e tinha sob o seu comando sete coortes
com 1. 000 a 1. 200 homens; o praefectus Aegypti - autos
ridade de ordem equestre - era designado em atenção
especial à posição do Egito comparada com a das outras
províncias.
b) LEGATI - Eram lugares-tenentes de imperador no
govêrno da província e no comando das legiões.
- 349 -

da Constituição Antonina, ficou conhecido como ius novum,


·que era o produto dos quatro seguintes fatôres: - ius gen-
tium, ius honorarúim, a jurisprudência e a cogniti.o extra
ordinem.
Os comícios - Os com1c1os quase não se reuniram
durante o Principado. No início ainda conservaram certa
competência eleitoral, que foi transferida para o Senado.
A função judiciária em matéria criminal tinha sido
abolida desde o fim da República, com a instituição das
quaestíones perpetuae.
A função legislativa é exercida até o fim do primeiro
século, mas a partir dessa época foi tirada aos comícios.
Dentre as leis votadas no Principado, podemos citar a lex
Iulia de adulteriis, lex de collegiis, lex lulia sumpfoaria,
lex lulia de maritandis ordini.bus, lex Fiifia Caninia, lex
Se.ntia, lex !unia Norbana, etc ..
Senado - A restrição dos poderes dos comícios impli-
cou num aumento de atribuições do Senado. A importân-
cia do Senado foi tão acentuada que o regime dominante é
também chamado de diarquia, para indicar a existência de
dois poderes: - o do Príncipe e o do Senado.
Compunha-se o Senado de 600 membros, sendo exigido
que cada um dos seus membros possuísse uma fortuna de
um milhão de sestércios e tivesse mais de 25 anos.
O Senado devia reunir-se somente nas calendas e nos
idos de cada mês, com exclusão dos meses de setembro e
outubro. A convocação podia ser feita pelo príncipe, pelos
cônsules, pretores e tribunos.
A política externa passou a ser exercida diretamente
pelo Príncipe, perdendo o Senado tôda a influência nesse
terreno.
As atribuições mais importante do Senado são, inegà-
velmente, sob o ponto de vista legislativo. Os senatus-con-
sultos exerceram grande influência no direito privado.
Magistraturas - As magistraturas antigas foram sen-
sivelmente atingidas pelas transformações do Principado.
a) CONSULADO - As principais atribuições dos côn-
sules passaram ao príncipe. Os mandatos que eram outrora
de um ano passaram a ser semestrais, quadrimestrais, tri-
mestrais, e, finalmente, mensais.
- 350

e) PROCURADORES - Eram auxiliares particulares do


príncipe no setor administrativo e financeiro. Com o de-
correr do tempo, êles se transformaram em funcionários
públicos.
As províncias As províncias, no Principado, divi-
dem-se em províncias senatoriais ou do povo e imperiais
ou do imperador.
As províncias seniatoriais eram governadas por um pro-
cônsul designado pelo Senado. Êste procônsul é auxiliado
por um legafos propraetore, no que se refere à justiça, e
por um questor em assuntos financeiros.
As províncias imperiais eram governadas por um lega-
tus Augusti pro praetore, que devia ser um magistrado
escolhido pelo imperador.
FONTES DO DIREITO - O costume, a lei, o edito
dos magistrados e os responsa prudentium são considerados
fontes antigas, que ainda persistem no Principado. Além
dessas, duas novas fontes surgem no Principado: - os
senatus-consultos e as constituições imperiais.
Costume - E' o ius non scriptum, que não se encontra
em documento, mas pode ser observado mediante o procedi-
mento constante do povo com relação a determinada norma.
A soberania do povo é tão importante que, segundo
nos ensina Juliano, mediante o tácito consentimento de
todos, a lei pode ser ab-rogada pelo desuso: - "leges non
solum suf fragio legislatoris sed etiam tacito consensu omni-
um per desuetttdinem abrogentur" (D. I, 3, 23, 1).
LEI - As leis, como já dissemos, podem ser apresen-
tadas como fonte de direito até o fim do primeiro século.
Depois dessa época, tornaram-se raras. Em parágrafo ante-
rior, já citamos algumas das leis mais importantes do Prin-
cipado como: "Lex Iulia de maritandis ordinibus, lex Iitlia
de adulteriis coercendis, le."C Papia Poppaea, lex Aelia Sen-
tia,, lex Fuffrt Caninia.
Editos dos magistrados - Os editos dos magistrados
continuaram a formar, no Principado, o ius honorarium,
mas não ~e observa a independência da época republicana,
em virtude rla ~rande soma de poderes conferidos ao prín-
cipe. Os pretores limitavam-se a reproduzir o edito dos an-
tecessores e inovações, somente eram feitas mediante soli-
citação do Senado ou de autoridades superiores.
351-

Essa tendência da época, segundo a qual quase não


havia pars nova nos editos, ficou consubstanciada com a
determinação do imperador Adriano, que conferiu ao juris-
consulto Sálvio J"uliano a elaboração do Edictum perpet1t11m.
O Edicturn perpetuurn a que nos referimos não é aquêle
edito anual, em contraposição ao edicturn repentinu.rn, mas
significa uma codificação dos editos anteriores.
Responsa prudentium - As respostas dos jurisconsul-
tos continuaram no Principado a ser uma importante fonte
de direito.
RESPONDERE, como observa Schulz (3 5 ), era uma fun-
ção peculiar aos juristas republicanos.
É fácil verificar que, num período em que os poderes
do imperador tinham sido dilatados, que certas restrições
também tivessem atingido os prudentes, quanto ao pleno
exercício de suas funções.
Augusto concedeu a alguns jurisconsultos o direito de
responder pela autoridade do príncipe: - i11s respondendi
ex a1wtoritate principis. Os pareceres - t·esponsa - emi-
tidos pelos jurisconsultos que houvessem recebido essa con-
cessão do príncipe eram mais importantes, porque os seus
autores estavam investidos da auctoritas do príncipe. Isto
não quer dizer que os outros jurisconsultos que não tives-
sem recebido a a11ctoritas ficassem impossibilitados de dar
consultas, isto é, de respondere.
Um rescrito do imperador Adriano veio colocar as res-
postas dos jurisconsultos na categoria de fonte de direito.
De acôrdo com êsse rescrito, se os pareceres fôssem concor-
des teriam êles fôrça de lei; em caso contrário, o juiz podia
decidir como lhe parecesse mais acertado.
Os senatus-consultos - E' no Principado que os
senatus-consultos são equiparados à lei.
Os senatus-consultos estabelecem certa concatenação en-
tre as leis propriamente ditas e as constituições impena1s.
O senatus-consulto era designado pelo nome do magis-
trado que o propunha: - Os principais são os seguintes:
o senatus-consulto Trebeliano, sôbre os fideicomissos; o
senatus-consulto Silaniano que trata das obrigações de her-
deiro do testador assassinado; o senatus-consulto Claudiano,
sôbre a condição da mulher livre que tivesse relações com o
<35) ScHULZ - History of Roman Law Science, p. 112.
- 352-

escravo; o senatus-consulto Veleiano que não permitia às


mulheres a intercessão por outrem; o senatus-consulto Volu-
siano que proibia a venda da casa para demolição ; o
senatus-consulto Neroniano sôbre os legados nulos por vício
da forma.
As proposições que o príncipe dirigia ao Senado e eram
por êste votadas receberam a denominação especial de ora-
tiones: a oratio Severi sôbre os direitos do tutor quanto ao
patrimônio do pupilo.

Constituições imperiais - As constituições imperiais


eram decisões imperiais que tomaram o lugar dos senatus-
consultos, que não existiram além do terceiro século.
Essas decisões do príncipe dividem-se em quatro cate-
gorias: mandatos, decretos, editos e rescritos.
a) Os mandatos - mandata - eram instruções do
imperador aos funcionários imperiais e aos governadores das
províncias, sôbre os assuntos mais diversos. Preliminar-
mente, essas instruções só se aplicavam a cada caso singu-
lar, mas depois, elas se aplicavam aos casos análogos.
Havia o liber mandatoriim que reunia os mandatos di-
rigidos pelo imperador ao respectivo funcionário, que assim
podia transmitir ao sucessor as instruções recebidas da au-
toridade superior.
b) Os decretos - decreta - são julgamentos profe-
ridos pelo imperador, quer em grau de recurso, quer como
juiz de primeira instância. O imperador também podia
proferir decisões interlocutórias.
Como juiz, o imperador devia aplicar a lei; mas em
se tratando da mais alta autoridade do Estado, tinha amplo
poder de interpretação a ponto de, às vêzes, introduzir
princ1p10s novos. As palavras do imperador são, geral-
mente, precedidas por um dixit - o imperador disse - ou
então era feito um sumário dos fatos, devendo a decisão
ser apresentada em seguida.
e) Os editos - edicta - são, em tese, semelhantes
aos editos dos magistrados do período republicano. A única
diferença consiste em que, na República, os editos são profe-
ridos, via de regra, ao ser o magistrado investido nas fun-
ções, ao passo que o imperador não tinha a preocupação de
apresentar, mediante editos, os principais traços de seu
programa, porque os fazia divulgar à medida que as cir-
- 353 -

cunstâncias o aconselhassem. A célebre constitutio Antoni-


na, do ano 212 era um edito e ficou conhecida como o
edito de Caracala.
d) Os rescritos - rescripta - são as respostas dadas
pelo imperador ou pelos membros de sua chancelaria a
consultas sôbre questões de direito, que lhes eram formuladas.
Se a consulta fôsse feita por um particular, a resposta
seria dada em baixo do próprio documento e esta resposta
tinha o nome de subscriptio.
Se a consulta fôsse formulada por um funcionário, a
resposta seria dada em documento separado, que recebeu o
nome de epistula.

IV - O DOMINATO

Aspec,to geral - O poder imperial passou por duas


:fases distintas: na primeira - o Principado - o Imperador
tinha o poder de primeiro cidadão da República ; na segunda
- o Dominato - tinha o poder de verdadeiro monarca,
que era considerado como legum dominus, iustitiae aequita.
tisque rector e até como dominus et deus.
O princeps, no Principado, não tinha poderes legislati-
vos e sua influência, na formação do direito, era puramente
suplementar, mas o monarca no Dominato era dotado de
poderes legislativos e, por êste motivo, exerceu influência
direta no desenvolvimento do direito.
Caracteres do Dominato - Um dos traços caracte-
rísticos do Dominato consiste no grande número de fun-
cionários que formavam uma espécie de militia da qual se
servia o Imperador no exercício de suas funções. Por
isto Schulz (3 6 ) denomina a fase que vai de Diocleciano a
Justiniano como o período burocrático da jurisprudência
romana ( 37 ) Ê oportuno esclarecer que êsse sistema buro-
crático que tomou tão grande incremento na época de
Diocleciano e de Constantino, tinha sido iniciado desde
Augusto.
(36) ScHULZ, Fritz - History of Roman Legal Science, 262.
(37) ScHuLz refuta, com razão, o conceito de Mommsen sôbre
sa reformas de Diocleciano. Segundo palavras textuais de Mommsen
"Neu ist darin so zu sagen alles" (Abriss d. Staatr. p. 351) cf. Schulz
RLS p. 263.
- 354-

Os funcionários tinham o direito de usar o cingulum


mesmo quando não mais estivessem em atividade e, de
acôrdo com a importância dos postos, eram divididos em
quatro categorias: - illiistres (praefectus praetorio, prae-
fectus urbi, magister militum), spectab-iles (magister offi-
ciorum, quaestor sacri palatii, comes sacrarum largitionum,
comes rerum privatarum), clarissirni, perfectissirni.
Essa burocratização muito contribuiu para que o desen-
volvimento do direito passasse a depender de um poder
central, que achou mais conveniente codificar a esparsa
legislação existente.
Magistraturas As magistraturas, no Dominato,
sofreram grandes transformações, como poderemos veri-
ficar mediante a análise de cada uma delas.
PRAEFECTUS PRAETORIO - Deixou de ser um órgão de
administração central, mas não perdeu tôdas as prerroga-
tivas, pois ainda participava dos trabalhos do consistoriurn
imperial.
MAOISTER EQUITUM - Residia perto do imperador e
participava da atividade militar.
MAGISTER OFFICIORUM - Passou a exercer funções ou-
trora confiadas ao praefectus praetorio. Eram subordina-
dos ao rnagister officiorum os agentes in rebus publicis -
um corpo de 1. 248 agentes de polícia e inspetores adminis-
trativos; os larnpadarii que conduziam archotes na frente do
imperador.
QUAESTOR SACRI PALATII - Era geralmente um jurista
que colaborava com o imperador na elaboração das leges
e nas respostas às preces. Êle é, segundo observa De Fran-
cisci ( 38 ), o consulente supremo em assunto jurídico.
COMES SACRARUM LARGITIONUM - Devia cuidar do pa-
trimônio privado do imperador ( 39 ).
PRAEPOSITUS SACRI CUBICULI - Era no princípio o ca-
mareiro privado do imperador, mas depois passou a exercer
grande influência na vida do imperador. Havia também
um praeposifos para a imperatriz.
(38) P. DE FRANCISCI - Síntese Storica, 445.
(39) Comenta P. de Francisci que, para administrar o patri-
mônio do imperador, foi primeiro instituído um procurador rei pri-
vatae, chamado mais tarde magister rei privatae e sob Constantino
rationis rei privatae; mas no ano 342, o rationalis é substituído
pelo comes rerum privatarum (Sintese Storica, 447).
355 -

CONSISTORIUM PRINCIPIS - Era o órgão consultivo do


imperador e congregava os mais importantes funcionários
do império.
Na organização administrativa do império romano des-
tacamos officia ou scrinia, que se subdividem em memoriae,
epístularum, libellorum chefiados por um magister. O ma-
gister memoriae redigia as adnotationes e devia responder
às preces, isto é, aos recursos. O magister episfolarum fi-
cava incumbido da correspondência com as civitates e das
respostas às consultationes. O mag,ister libellorum tratava
de examinar os processos e de responder aos recursos sub-
metidos à consideração do imperador ( 4º).
Os juristas e a profissão jurídica - Os mais impor-
tantes juristas não se livraram da tendência burocrática
da época. Conhecimentos jurídicos passaram a ser exigidos
dos funcionários de postos elevados.
Os jurisconsultos da época clássica conservavam-se
afastados da advocacia.
Gregorius Thaumaturgus, desejando seguir a advocacia,
tomou lições de latim em sua cidade natal e aprendeu com
o seu mestre que o direito romano seria o melhor equipa-
mento para a vida, quer pretendesse seguir a advocacia,
ou abraçar qualquer outra profissão. Por isso projetou ir
a Berito onde deveria receber ensinamento mais profundos
do direito romano, mas não realizou o que pretendera. No
entanto, a partir do século IV os advogados eram obrigato-
riamente juristas e os pretendentes à advocacia deveriam
antes estudar o direito romano em Berito, durante quatro
ou cinco anos ( 41 ).
Justiniano proibiu o ensino do direito fora das três
universidades imperiais de Roma, Berito e Constantinopla.
No entanto, Triboniano fala de professôres incompetentes
que ensinavam direito em Alexandria e em Cesaréia ( 42 ).
Collinet ( 43 ) nos ensina que depois da lei de uliano,
de 362, a nomeação dos "mestres e doutôres" da Universi-
(40) Convém acentuar que é difícil distinguir a atribuição das
preces entre os três magistri.
(41) ScHULZ - History of R. L. s., 268.
(42) Audivimus etiam in Alexandriam spledissima civitate et
in Caesaresensium et in aliis quosquam imperitos homines devagare
et doctrinam discipulis adulterinam tradere (Const. Omnem S. 7).
(43) Collinet, Paul - Histoire de l'école de droit de Beyrouth,
página 197.
356 -

dade de Berito era feita por decreto dos decuriões com o


consentimento dos optimi; mas o Imperador, não querendo
ficar alheio à escolha, determinou que o decreto do Senado
fôsse por êle referendado. Os professôres recebiam apenas
honorários de seus alunos, mas podiam exigir o pagamento
por meio judicial ( 43 ). Os professôres de direito de Cons-
tantinopla, a partir de 425, receberam do Estado um esti-
pêndio que, segundo opinião de Andréades, era bastante
elevado. Os professôres de direito das províncias não goza-
vam dos privilégios concedidos aos de Roma, que ficavam
livres dos encargos da tutela e da curatela.

Instituições políticas - Diocleciano, que governava no


ano 283, para melhor enfrentar as invasões dos bárbaros.
procurou obter a colaboração de Maximiliano, a quem. con-
fiou o govêrno do Ocidente, ficando êle com o do Oriente.
Milão e Nicomédia passaram a ser a sede dos dois governos.
Galério e Constâncio Cloro foram feitos Césares de
Diocleciano e de Maximiano, respectivamente.
Os dois imperadores abdicaram no ano 505 e, após um
período de lutas, todo o poder ficou concentrado nas mãos
de Constantino, filho de Constância Cloro.
O govêrno foi transferido para Bizâncio e o Império
dividido em quatro prefeituras: - Oriente, Itália, Ilíria e
Gália.
Com a morte de Teodósio I, foi quebrada a unidade do
império que ficou dividido entre os seus dois filhos: -
Honório ficou com o Ocidente e Arcádio com o Oriente.
A administração era independente, mas a legislação,
comum aos dois impérios. O Império do Ocidente durou
apenas até o ano 476, assinalado pela invasão dos bárbaros,
e o do Oriente subsistiu até a queda de Constantinopla pelos
turcos no ano 1453.

Antigas magistraturas e o Senado - Os pretores e os


questores subsistiram apenas nas duas capitais, Roma e
Constantinopla; mas a sua competência ficou reduzida à
(43) "Proinde ne iuris quidem civilis professoribus ius dicent:
est quidem res sanctissima civilis sapientia. Sed quae pretio numma-
rio non· sit aestimanda nec nec dehonestanda, dum in iudicio honor
petitur, qui in ingressu sacramenti offerri debuit. Quaedam enim
temetsi honeste accipiantur inhoneste tamen pétuntur". D. 50,
13. 1. 5.
- 357

organização dos jogos. Eram escolhidos pelo Senado e


confirmados pelo Imperador.
Os cônsules ainda gozavam de certas prerrogativas, pois
pelos seus nomes eram designados os atos e leis. A nomea-
ção dos dois cônsules, um para o Ocidente, e outro para o
Oriente, era feita pelo Imperador. O consulado era anual
e os cônsules assumiam o pôsto, solenemente, no dia 1 de
janeiro.
O Imperador tinha a faculdade de assumir o consulado,
e quando isto acontecia, o seu nome precedia ao do colega.
O Senado, apesar de passar a ser um órgão passivo,
conservou certa dignidade e ainda era designado amplissi-
m us ordo, sacratíssimus coetus.
Constantinopla. A organização dêsses dois senados não
era a mesma do Senado que funcionou até o Principado.
Havia, no novo Senado, duas categorias de senadores:
cs que tinham direito de voto e os que apenas recebiam o
título por questão honorífica.
Os membros do Senado dividiam-se em ilustres, spec-
tabi'.les e clarissimi, mas só os primeiros tinham direito de
Yoto. A presidência era geralmente exercida pelo prae-
f ectus urbi.

Tendências da jurisprudência na fase burocrática -


O classicismo jurídico é uma das principais características
da jurisprudência no chamado período burocrático e êste
movimento foi iniciado por Papiniano.
Schulz adverte que não se deve confundir o espírito
histórico com o classicismo. O historiador procura restabe-
lecer fatos passados para ver e representar o passado como
se fôra processado atualmente, ao passo que o classicista
busca um modêlo, baseado em algum fenômeno histórico
que teria alcançado um ponto culminante e digno de ser
imitado pelo presente.
Uma das provas da tendência classicizante dêsse período
consiste na codificação da jurisprudência clássica - o Di-
gesto e as Institutas de Justiniano - de que nos ocuparemos
mais adiante.
- 358 -

Outra tendência dessa época burocrática consiste em dar


norma estatutária ao direito em vigor, circunstância esta
que Schulz chama de tendência para a estabilização ( 44 ).
Aliás, a elaboração do Edictum Perpetuum por ordem de
Adriano já revelava uma tendência para essa estabilização,
que tomou maiores proporções no Dominato. O direito
contido sob a forma estatutária E'ra o ins certurn, que se
tornou o ideal.
A tendência para a simplicidade do direito era outro
traço característico do período burocrático. E' curioso es-
clarecer que esta tendência foi até certo ponto, prejudicada,
ou melhor, retardada, em virtude da tendência para o clas-
s1c1smo. Mostra-nos Schulz que o objetivo dos professôres
da escola de Berito não era ser simples, mas rivalizar com
as sutilezas dos juristas clássicos, prineipalmente Papiniano;
para êstes a si1btilitas não era um defeito, mas uma quali-
dade. Triboniano, que foi o coordenador e orientador das
codificações de Justiniano, recomendou que se afastasse a
subtilitas dos juristas clássicos para não prejudicar a sim-
plicidade.
Foi também com o objetivo de atender à simplicidade
que Valentiniano decretou a célebre lei das Citações.
A influência helênica é também uma das características
dêsse período burocrático.

FONTES DO DIREITO - As fontes do direito fic·aram


reduzidas aos costumes e às constituições imperiais.
As fontes anteriores continuaram em vigor nas partes
não revogadas.
Quando foi instituído o poder absoluto, a única fonte
de direito ficou reduzida à vontade do imperador. O têrmo
ius ( ou iura) passou a ser usado para designar o direito
contido nas obras dos jurisconsultos antigos, enquanto não
fôssem modificados pelas constituições imperiais.
O direito novo •- ii1,s novum - eram as constituições
imperiais - leges. Estas eram submetidas à discussão no
consistoriurn e no Senado; depois da aprovação definitiva
do Imperador que assinava o original, êste ficava sob a
guarda do quaestor sacri palatii.

(44) ScHt:LZ - History of Roman Legal Science, p. 287.


- 359

A Lei das Citações - No ano 321 Constantino aboliu


as Notae de Ulpiano e as de Paulo, ao passo que recomen-
dava as de Papiniano ( 45 ).
No entanto, é curioso assinalar que, um ano depois, o
mesmo Constantino reconheceu o valor dos escritos de Paulo
e especialmente o dos livros das sentenças.
Uma célebre constituição de Teodósio II e Valentiniano
III, do ano 426, ordenou que os trabalhos dos cinco grandes
juristas Papiniano, Paulo, Ulpiano, Gaio e Modestino, assim
como as opiniões por êles citadas, tivessem fôrça quase esta-
tutária e fôssem obrigatórias perante o jniz. Se houvesse
divergência entre as opiniões dos citados juristas, prevale-
ceria o parecer da maioria; se houvesse empate, prevaleceria
o ponto de vista de Papiniano; se êste não se houvesse
manifestado, o juiz seguiria o parecer que melhor lhe aprou-
vesse.
COMPILAÇÕES ANTEJUSTIN1ANÉ1AS - As com-
pilações antejustinianéias abrangem leges, iura e iura et
leges.
As compilações de leges eram o code.r Gregoria.ntts, o
codex H ermogenianus - compilações particulares - e o
Theodosianus - compilação oficial.
O codex Gregorianus. Dividia-se em quinze livros, que
compreendiam as constituições desde Adriano, apresentadas
de acôrdo com a ordem cronológica até o ano 291. Está
provado que a existência de uma constituição do ano 295
foi resultado de inclusão posterior.
O codex Hermogenianus. E' considerado um suple-
mento do anterior e continha inicialmente as constituições
dos anos 293 e 294. Posteriormente, foram acrescentadas as
constituições dos últimos anos de Diocleciano - 295 a 304
- as de Constantino e Licínio - 314 a 323 - as de
Valentiniano e Valente - 364 e 365.
O codex Gregorianus estava dividido em livros e êstes
em títulos; o codex Hermogenianus só estava dividido em
títulos e não em livros.
(45) "Perpetuas prudentium contentiones eruere cupientes UJ-
piani ac Pauli in Papinianum notas, qui dum ingeri laudem sectan-
tur, non tam corrigere eum quam depravare maluerunt, aboleri
praecipimus" (C. Th. I, 4, 1).
360 -

Dispomos de muito poucos elementos para restabele-


cermos a história do texto dêstes dois códigos, e, como bem
acentua Schulz, é quase certo que seu texto não permane-
ceu inteiramente puro na época de Justiniano.

Oodex Theodosianus. Foi publicado em 15 de fevereiro


de 438 e entrou em vigor em 1 de fevereiro de 439. Os
dois códigos a que já nos referimos eram compilações par-
ticulares que obtiveram um reconhecimento oficial indireto
por parte de Teodósio II, no ano 429, ao determinar que
servissem de modêlo à compilação que iria empreender. O
imperador Teodósio II determinou que se fizesse por ordem
cronológica uma compilação das constituições a partir de
Constantino, sem omitir as que tinham sido revogadas, por-
que a data indicava fàcilmente a que se encontrava em
vigor; o texto das constituições não poderia ser alterado,
mas foi permitido suprimir as considerações gerais, que
não fôssem indispensáveis à compreensão da norma jurí-
dica ( 46 ).
Essa comissão, para levar a efeito a tarefa, era com-
posta de altos funcionários e nela só figurava um advogado,
que, aliás, não participou de todos os trabalhos. Scherillo
atribui à ausência de mestres de direito nessa comissão,
muitas das imperfeições apontadas no código Teodosiano,
apesar de De Francisci considerar como causa principal a
falta de arquivos.
A principal característica do código Teodosiano consiste
em ter fôrça estatutária. Observamos, ainda, a predominân-
cia do direito público sôbre o direito privado.
O código Teodosiano estabelecia a unidade de legislação
no Oriente e no Ocidente, mas o decreto de sua publicação
determinou que as Novelas promulgadas por um príncipe
não se aplicavam à outra parte do império governada pelo
outro príncipe. A Novela de um príncipe, por meio de uma
sanctio pragmatica, podia ser remetida ao outro, que ti-
nha plenos poderes para rejeitá-la ou modificá-la. Há vá-
rios exemplos de Novelas do Oriente para o Ocidente, mas
não temos conhecimento de que o contrário tenha ocorrido.
(46) A comissão foi autorizada a suprimir o supérfluo -
supervacanea verba, acrescentar o que fôsse necessar10 - necessa-
ria, modificar os ambigua e corrigir o que fôsse incongruente -
incongrua.
- 361-

A aplicação dos fora tornou-se tarefa difícil, que ex1g1a


a leitura das obras clássicas dos grandes jurisconsultos. A
fim de proporcionar êsse objetivo surgiram os seguintes tra-
balhos: - as Regulae, de Ulpiano; as Ulpiani opiniones;
as Res cottidianae; as Sententiae Paiili; o Epitome Gai e
alguns outros.
As compilações particulares mistas de iura e leges são
os Fragmenta Vaticana, o livro Siro-Romano, a Collatio le-
gum Mosaicarum et Romanorum e Consultatio veteris cuius-
dam iurisconsiilti..

Fragmenta Vaticana. São fragmentos de constituições


imperiais e de trabalhos de jurisconsultos, descobertos pelo
cardeal Mai em 1821, sendo desconhecido o seu autor.

Oollatio legum Mosaicarum et Romanarum estabelece


comparação entre o Direito Romano e as leis de Moisés.
Foi elaborada entre 390 e 438.

Oonsultatio veteris cuiusdam iurisconsulti, assim cha-


mada por Cujácio, contém uma coletânea de consultas res-
pondidas por jurista desconhecido.
As compilações oficiais mistas de iura e de leges são
a lex romana Wisigothorum; a lex rornana Burgundionwrn
e o Edictum Theodorici.

Lex romana Wisigothorum - Foi elaborada por de-


terminação de Alarico II com o objetivo de ser aplicada
aos súditos romanos do reino visigótico. Esta lei, redigida
por uma comissão de prudentes, foi aprovada no ano 506
por uma assembléia de bispos, tendo sido imediatamente
promulgada pelo imperador Alarico. São excertos tirados
dos Códigos Gregoriano, Hermogeniano, Teodosiano, das No-
velas, Institutas de Gaio, Sentenças de Paulo e Respostas
de Papiniano.

Lex Romana Burgundionum - Foi promulgada depois


que Gondebaldo, rei da Borgonha, deu aos borguinhões uma
lei para reger os seus súditos bárbaros. Ela devia ser
aplicada aos súditos romanos da Borgonha. As principais
fontes desta lei foram os códigos Gregoriano, Hermogenia-
- 362 -

no, Theodosiano, algumas Novelas, as Sentenças de Paulo


e as Regulae ou Institutiones de Gaio.

Edictum Theodorici - Continha normas que deviam


ser aplicadas aos Gôdos e aos Romanos. Dividia-se em 155
capítulos e o seu conteúdo foi tirado ex novellis leg1:bns et
veteris iuris sanctimonia.

COMPILAÇÃO JUSTINIANÉIA - No século IV, os


principais centros culturais em que se estudava o direito,
ficavam no Ocidente, na Itália, mas no século posterior, quem
pretendesse dedicar-se a êsses estudos, devia dirigir-se ao
Oriente, onde estavam localizadas as principais escolas de
direito: - Alexandria, Antióquia, Constantinopla e Berito.
Justiniano, ao assumir o govêrno no ano 527, iniciou
uma obra memorável, que lhe permitiu legar à posteridade
o tesouro mais precioso da sabedoria romana, como bem
disse De Francisci. Essa obra consiste numa série de com-
pilações jurídicas empreendidas por determinação de Justi-
niano, considerado o restaurador e o renovador da república
romana.
As compilações justinianéias compreendem dois códi-
gos, o Digesto e as Institutas.

Primeiro Código - Justiniano designou, em 13 de


fevereiro de 528, urna comis1::ão de dez membros com a
finalidade de compilar as constituições em vigor e apresentar
um novo código: - de novo cod-ice f aciendo. Essa comissão
era constituída ele mestres eminentes como Triboniano e
Teófilo. O trabalho ficou concluído em pouco tempo, de
modo que no dia 7 de abril de 529, foi publicado com a
constituição de novo codice confirmando, que fixou a data
de 16 de abril de 529 para o novo código entrar em vigor.

Digesta - A elaboração do primeiro Código assinalou


apenas o passo inicial da grande obra de legislação de que
foi autor o imperador Justiniano. Êste, pela constituição
Deo auctore, de 15 de dezembro de 530, conferiu a Tribonia-
no - quaestor sacri palatii - a tarefa de nomear uma
comissão para compilar o direito existente nas obras dos
antigos jurisconsultos. Os membros da comissão foram
autorizados a escolher os textos livremente, podendo até
- 363

alterar, corr1g1r e substituir os originais a fim de adaptá-los


às necessidades da época. As obras dos diversos juriscon-
sultos deviam ser apreciadas sem qualquer hierarquia, desa-
parecendo a gradação estabelecida na lei das citações.
Justiniano deu a êsse empreendimento o nome de Di-
gesfo ou Pandectae.
Triboniano nomeou par aessa comissão, Teófilo e Crá-
tino, professôres da Escola de Constantinopla; Constantino,
comes sacrarum largitionum; Doroteu e Isidoro, professôres
da Escola de Berito, além de onze advogados.
Embora tivesse havido preliminarmente a recomenda-
ção de que só fôssem incluídos textos de autôres que tives-
sem o ius respondendi, a comissão não obedeceu a essa
determinação.
Essa obra gigantesca ficou terminada - antes de 16
de dezembro de 533, data em que fci publicada pela consti-
tuição De confirmatione Digestormn.
O prazo relativamente curto para um trabalho de tão
grande envergadura foi o principal responsável pelas im-
perfeições que podem ser assinaladas com referência à exa-
tidão de textos reproduzidos.
O trabalho compreende cinqüenta livros subdivididos
em títulos, com exceção dos livros XXX a XXXII.

Institutas - Antes mesmo de estar concluído, o


"Digesto", compreendeu Justiniano a necessidade de ser
elaborado um compêndio didático destinado aos estudantes
de direito. Esta atribuição foi confiada a Tribuniano,
Doroteu e Teófilo, como se verifica através da constituiç:fo
Deo auctore.
A obra recebeu o nome de Institutioncs e foi publicada
pouco antes do Digesto, no dia 21 de novembro de 533.

e,eg-undo Código - O Primeiro Código não abrangia


diversas constituições e além disso, não estava em harmo-
nia com as inovações posteriores. Por isso, Tribuniano e
Doroteu foram incumbidos de proceder a uma nova edição
do Código, que foi concluída em menos de um ano e publi-
cada, em 17 de novembro de 534. Êsse Código substituiu o
anterior e foi o único cujo texto chegou aos nossos dias.
- 364-

Novelas - Com a promulgação do Segundo Código


não cessou a obra de codfiicação empreendida por Justiniano.
Êle compreendeu, que novas contingências da vida exigiam
novas normas, para que fôssem observados os preceitos su-
premos da eqüidade e da justiça. Por isso, 177 novas leis
- N ovellae - foram promulgadas depois do segundo Có-
digo e antes da morte de Justiniano. Dentre elas, destaca-
mos a Novela 22, sôbre o matrimônio e as Novelas 118 e
127 sôbre o direito de sucessão.
·v
O LATIM E A CIÊNCIA JURiDICA

O sistema jurídico, que rege as nossas relações em


sociedade é baseado no Direito Romano.
São inúmeras as passagens da literatura latina referentes
às instituições jurídicas do antigo povo romano. Jamais
poderemos interpretar as passagens em que houver referência
ao Direito Romano, se desconhecermos totalmente o arca-
bouço da organização jurídica daquele povo, que se impôs
ao mundo como verdadeiros mestres do Direito.
Não basta portanto, ao professor o domínio da língua
latina para ser considerado em condições de apreender inú-
meras alusões contidas em textos de autôres clássicos. É
indispensável que êle não desconheça as noções essenciais
de Direito Romano.
Está fora de dúvida que ninguém poderá tornar-se
romanista, se fôr incapaz de traduzir um texto literário.
Assim, o conhecimento do latim é tão somente a fase
preliminar e obrigatória para que alguém possa pronun-
ciar-se, com autoridade sôbre as obras clássicas dos juris-
peritos romanos.
Num interessante artigo, Lévy-Bruhl (1) diz: "la con-
naissance du droit est, à Rome, le fondement solide de ce
que nous appelleri'.ons la "culfore générale". Cela ne veut
pas dire, certes, qu'il soit indispensable de savoir le droit
romain pour compreendre tous les aspects de la litte-
rature latine, mais seulement que cette connaissance est
tonjours utile et parfois même nécessaire. J e ne parle pas
des jurisconsultes elas siques, des textes l.égislatifs ou adrni-
nistratifs, parce que la chose est trop vraie pour eux, mais
elle est presque aussi vraie pour Cicéron, ce prince de la
littérature latine, pour Quintilian oit pottr Pline le jeune.
(1) LÉVY-BRUHL, H. - La latin et le droit romain. REL II,
103 e segs.
366

Combien de contra-,ens auraient p1t être évites si les


traducteurs, hommes parfaiternente instruits par aillenrs,
vaient s1t 11n pen de droit !
Nas páginas anteriores fizemos uma síntese das princi-
pais informações, que reputamos indispensáveis à compreen-
são de referências às i!1stituições jurídicas, que constante-
mente encontramos nos textos de autôres da literatura latina.
Finalmente, daremos agora, em ordem alfabética a relação·
das principais leis e senatus-consultos, que disciplinaram,
no decurso de sua história, as relações jurídicas do antigo
povo romano.

RELAÇÃO DAS PRINCIPAIS LEIS E SENATOS-CONSULTOS


1 - Lex Acilia repetundarum - é uma lei do ano 123 a. C ..
segundo a qual o direito da cidadania seria concedido
ao peregrino que fizesse condenar um magistrado
concussionário.
2 - Lex Aebutia - Não se tem certeza de sua data, mas foi
promulgada entre 199 e 126 a. C.. Refere-se ao direito
judiciário e é considerada como a lei que criou o pro-
gresso formulário.
3 - Lex Aelia Sentia - Do ano 4 da era cristã. Continha qua-
tro disposições: -
1) - O dorninus menor de 20 anos não podia ma-
numitir seus escravos, salvo se fôsse por motivo legí-
timo, como por exemplo, para desposar uma escrava.
Competia a um conselho de cinco senadores e de cinco
cavalleiros verificar se havia motivo justo;
2) - Qualquer pessoa, de qualquer idade, não po-
dia manumitir o escravo menor de 30 anos, salvo por
motivo legítimo a juízo do conselho referido no item
anterior;
3) - O dorninus não podia manumitir o escravo
para fraudar os direitos de credor;
4) - Não podiam ser manumissos certos escravos,
que sofressem punições consideradas como particular-
mente degradantes.
4 - Lex Aemilia - Do ano 367 a. C.. Limitou a duração da
atividade de censor a 18 mêses.
5 - Lex Aemilia sumptuaria - Do ano 115 a. C. Era uma lei
contra luxúria e chegou a fixar o genus et modus cibo-
rum.
6 - Lex agraria - Do ano 111 a. C. Foi votada após a queda
dos irmãos Gracos a fim de consolidar os possuidores do
ager publicus, uma vez que lhes concedia a proprie-
dade quiritária das terras possuídas num determinado
raio em tôrno de Roma.
- 367 -

7 - Lex Antia sumptuaria - Do ano 71 a. C. Limitava a


quantia que podia ser gasta com banquetes e proibia
os magistrados de comparecer aos mesmos.
8 - Lex Antonia de Termessibus - Do ano 71 a. C .. Concedia
aos habitantes de Termessus (Pisidia) o privilégio de
serem livres, amigos e aliados do povo romano.
9 - Lex Appuleia de maiestate - Do ano 103 a. C.. Estabe-
leceu o estatuto do crimen maiestatis.
10 LexAppuleia de sponsu - Por volta do ano 241 a. C.. Era
aplicável aos sponsores e aos fidepromissores.
11 Lex Aquilia - Da segunda metade do III século. Regula-
mentava a reparação dos danos causados a outrem.
12 Lex Aternia Tarpeia - Do ano 454 a. C.. Fixava o má-
ximo das multas impostas pelos magistrados.
13 - Lex Atilia - Do fim de terceiro século a. C.. Conferia ao
pretor urbano o direito de nomear um tutor para as
mulheres e para os impúberes, que não tivessem tutor
legítimo, nem tutor testamentário.
14 Lex Atinia - Talvez do ano 102 a. C.. Referia-se à admis-
são de tribunos plebeus no Senado.
15 Lex Atinia - Do II século a. C. Tratava de coisas rouba-
das.
16 Lex Aurelia de ambitu - Do ano 70 a. C.. Aplicava a
pena de dez anos de inelegibilidade ao candidato que
fôsse acusado de ambitus.
17 - Lex A urelia iudiciaria - Do ano 70 a. C.. Criou três
decúrias de jurados.
18 - Lex Caecilia Didia - Estabelecia o trinumdinum entre a
publicação de um projeto de uma estátua e a sua vo-
tação.
19 Lex Calpurnia de ambitu - Do ano 67 a. C.. Estabelecia
rigorosas disposições sôbre o ambitus.
20 Lex Calpurnia de condictione - Antes do ano 204 a. C..
Estabelecia normas para a sanção de res certa.
21 Lex Calpurnia repetundarum - Do ano 148 a. C .. Conce-
dia aos habitantes das províncias o direito de pedir a
restituição de quantias por êles entregues a magistra-
dos, mesmo a título de doação.
22 - Lex Canuleia - Do ano 445 a. C.. Permitia o casamento
entre patrícios e plebeus.
23 - Lex Cassia - Do ano 45 a. C.. Concedia a admissão dos
plebeus ao patriciado.
24 - Lex Cassia - Do ano 104 a C.. Excluía do Senado pessoas
condenadas ou privadas do imperium por voto popular.
25 - Lex Cassia tabellaria - Do ano 137 a. C.
26 - Lex Cicereia de sponsu - Do II século a. C.. Obrigava o
credor a proclamar, em altas vozes, o montante da dí-
vida e o número das cauções.
27 - Lex Cincia - Era um plebiscito do ano 204 a. C. Limitava
num montante desconhecido as doações. Proibia os
- 368

advogados de receber presentes ou dinheiro como paga-


mento de serviços por êles prestados.
28 - Lex Claudia de tutela mulierum - Do ano 41 a. C.. Aboliu
a tutela legítima dos agnados sôbre as mulheres pú-
be.res.
29 - Lex Claudia - Do ano 47 da era cristã. Proibia consentir
a um filius familias fazer empréstimo de dinheiro após
a morte do paterfamilias.
30 - Lex Clodia de collegiis - Do ano 58 a. C.. Restabeleceu a
liberdade de associação, que o Senado havia suspendido.
31 - Lex Cocceia - Do ano 96 da era cristã. Proibiu a castra-
ção.
32 - Lex Coloniae Genetivae - Do ano 44 a. C.. E.ra o estatuto
da colônia de Urso, na Espanha.
33 - Lex Cornelia Baebia de ambitu - Do ano 181 a. C.. Con-
tra o subôrno nas eleições.
34 - Lex Cornelia de adpromissoribus - Do ano 81 a. C.. Li-
mitou em 20.000 sestércios a quantia que uma pessoa
podia dar em garantia pelo mesmo devedor e no mesmo
ano.
35 - Lex Cornelia de captivis - Do ano 82-79 a. C .. Estabeleceu,
por ficção, que o prisioneiro morto, em estado de escra-
vidão, era considerado como se houvesse morrido na
cidade de Roma e isto evitava que fôsse nulo o seu tes-
tamento.
36 Lex Cornelia de edictis perpetuis - Do ano 67 a. C.. Or-
denou aos pretores a expedição de editos perpétuos.
37 - Lex Cornelia de falsis - Do ano 81 a. C.. Reprimia fal-
sificações.
38 - Lex Cornelia de iniuriis - Do ano 82-79 a. C.. Punia
três espécie de injúrias: - pulsare (surrar), verbera-
re (açoitar, esbofetear) e domum introire (forçar a
invasão do domicílio de outrem).
39 - Lex Cornelia de legibus solvendo - Do ano 76 a. C.. Res-
tringiu o poder do Senado a isentar das leis uma pes-
soa.
40 - Lex Cornelia de magistratibus - Do ano 81 a. C.. Fixou
a seqüência das magistraturas - questor, pretor e
cônsul - bem como o interstício entre ambas as or-
dens.
41 - Lex Cornelia de maiestate - Do ditador Sulla, no ano 81
a. C.. Referia-se ao crimen maiestatis e punia com exí-
lio queur sublevasse fôrças militares ou começasse hos-
tilidade contra qualquer país, sem aprovação do Senado.
42 - Lex Cornelia de praetoribus - Do ano 81 a. C.. Elevou
para oito o número dos pretores.
43 - Lex Cornelia de proscriptione - Do ano 82 a. C.. Refe-
ria-se à inscrição do nome de uma pessoa na lista dos
considerados fora da lei.
- 369 -

44 - Lex Cornelia de sicariis et veneficis - Do ano 81 a C..


Aplicava-se aos assassinos e envenenadores.
45 - Lex Cornelia de tribunis plebis - Do ano 82 a. C.. Tinha
como principal objetivo privar dos poderes os tribunos
da plebe. Somente os senadores poderiam ser eleitos
para o tribunato.
46 - Lex Cornelia de viginti quaestoribus - Do ano 81 a. C ..
Fixava o pessoal "Subalterno, que dependia de cada
questor.
47 - Lex Cornelia nummaria - Do ano 81 a. C.. Estabelecia
normas sôbre o testamento.
48 - Lex Cornelia sumptuaria - Do ano 81 a. C.. Proibia des-
pesas excessivas com banquetes e funerais pomposos.
49 - Lex Cornelia testamentaria - Do ano 81 a. C .. Estabelecia
normas sôbre o testamento.
50 - Lex Cornelia Pompeia - Do ano 88 a. C .. Impunha res-
trições à atividade legislativa e eleitoral dos comitia
tributa.
51 - Lex Cornelia Pompeia - Do ano 88 a. C.. Parece que re-
gulamentava a taxa de juros.
52 - Lex Crepereia - De data desconhecida. Fixava em 125
sestércios o montante da sponsio no processo per spon-
sionem, perante o tribunal centunviral.
53 - Lex Curiata de imperio - De data incerta, é a lei que
investia certos magistrados com o imperium e discipli-
nava certos atos do direito da família, como a adroga-
tio e o testamento.
54 - Lex de bello indicendo - De data incerta. Estabelecia que
decisões referentes à declaração de guerra, que deviam
ser tomadas pelos comitia centuriata.
55 - Lex de flaminica diali - Possivelmente do ano 24 da era
cristã. Estabelecia que num casamento do flamen dia-
lis, concluído solenemente por confarreatio, a espôsa
não ficaria sob a manus do marido.
56 - Lex de imperio - Da época do Império. Era um estatuto
pelo qual o imperador ficava investido de poderes espe-
ciais pelo povo e pelo Senado.
57 - Lex de únperio V espasiani - Do ano 69 a. C.. Conferia
ao imperador Vespasiano o poder tribunício.
58 - Lex de praedonibus coercendis - Do ano 101 a. C.. Punia
a pirataria.
59 - Lex Didia sumptuaria - Do ano 143 a. C.. Estendia a
validade da Lei Fânia a tôda a Italia e estabelecia pe-
nalidades aos participantes de banquetes condenados
pelo estatuto.
60 Lex Domitia - Do ano 103 a. C.. Reformou o sistema
de eleições dos pontífices e dos augures.
61 - Lex Duilia de provocatione - Do ano 449 a. C. Estabele-
cia medidas para proteger a instituição da provocatio.
62 - Lex Duilia Menenia - Do ano 357 a. C.. Fixava a taxa
de juros em doze avos do capital.
- 370 -

63 - Lex duodecün tabularmn - É a lei das XII tábuas. Pela


importância de que ela se reveste preferimos dedicar-
lhes maiores considerações nas páginas, 327 e segs ..
64 - Lex Fabia - De data desconhecida, posslvelmente do II e
I século a. C.. Punia com a pena de 50.000 sestéricos
aquêle que houvesse seqüestrado, vendido ou comprado
um cidadão romano, um liberto ou o escravo alheio, bem
como aquêle que induzisse um escravo a fugir da casa
de seu dominus.
65 - Lex Falcidia - Do ano 40 a. C.. Proibia que se dispusse,
no testamento, de mais de três quartos do respectivo
patrimônio, a fim de assegurar ao herdeiro, no míni-
mo, um quarto do ativo da sucessão.
66 - Lex Fujia Caninia - Do ano 2 a. C.. Proibia a manu-
missão, por testamento, de mais de cem escravos e ainda
estabelecia que os escravos a serem manumitidos de-
viam ser designados nominalmente, no testamento.
67 - Lex Furia ele sponsu - De data incerta. Estabelecia nor-
mas em favor dos sponsores e dos fidepromissores; a
dívida seria dividida entre os que a houvessem garan-
tido.
68 - Lex Furia testamentaria. Entre 204 e 169 a. C.. Proibia o
testador fazer legados superiores a 1.000 asses, salvo
a certos parentes.
69 - Lex Gabinia de piratis persequendis - Do ano 67 a. C ..
Autorizou Cn. Pompeu a combater a pirataria com um
exército de vinte legiões e uma armada de 500 navios.
70 Lex Gabinia Tabelleraria - Do ano 139 a. C.. Introduziu
o voto secreto nas eleições dos magistrados.
71 Lex Genucia - Do ano 342 a. C.. Proibiu o empréstimo
de dinheiro a juros, que foi considerado delito público.
72 - Lex Glitia - de data e conteúdo desconhecidos.
73 - Lex Hieronica - Do III século a. C.. Era uma lei agrária,
mencionada por Cícero nas Verrinas. Não era uma lei
romana, mas de Hiero II, tirano de Siracusa. Todavia
foi aplicada na Sicília, após a conquista romana.
74 - Lex Hortensia de plebiscitis - Do ano 286 a. C.. Elevou
o plebiscito à categoria de lei e foi votada após a ter-
ceira secessão da plebe no monte J anículo.
75 - Lex Hostilia - De data desconhecida. Permitia a repre-
sentação judiciária de pessoa vítima de roubo, de pri-
sioneiro de guerra ou de pessoa ausente no interêsse
de Estado.
76 - Lex lulia agraria - Do ano 59 a. C.. Lei agrária, pro-
posta por César durante o seu consulado, atribuía os
territórios férteis de Cápua e de Stellata aos cidadãos,
que tivessem no mínimo três filhos. Os lotes distribuí-
dos eram inalienáveis durante vinte anos.
77 - Lex Iulia ambitus - Do ano 18 a. C.. Era um estatuto de
Augusto contra o subôrno em eleições.
78 - Lex lul:'a caducaria - Era uma parte dos estatutos que
regulamentavam a situação de certas pessoas conside-
deradas incapazes de aceitar testamento.
79 Lex lulia de adulteriis - Do ano 17 a. C.. Reprimia o
adultério.
80 - Lex lulia de annona - Posslvelmente ·do ano 18 a. C ..
Proibia a elevação de preços de mercadorias.
81 - Lex Iulia de cessione bo;wrum - Da época de Augusto.
Regulamentava a cessio bonorum no caso de insolvência
do devedor, que ficava livre da execução pessoal.
82 - Lex lulia de dvitaíe - Do ano 90 a. C.. Conferiu ao co-
mandante de um exército o direito de conceder a cida-
dania romana a soldados peregrinos, como recompensa.
83 - Lex luliu. de collegiis - Do fim do I século a. C.. Restrin-
gia a liberdade de associação, pois foi exigida a auto-
rização do Senado para a formação dos collegia.
84 - Lex folia ele fundo clotali - Do ano 18 - 8 a. C.. Era
uma parte da lex liilia ele adulteriis e tornava obriga-
tório o consentimento da mulher para que o marido
alienasse imóvel dota] italico.
85 - Lex folia ele iudiciis privatis - Do ano 17 ou 16 a. C ..
Aboliu o antigo sistema judidário das ações da lei e
generalizou o uso do processo formulário.
86 - Lex lulia de iudiciis publicis - Do ano 17 a. C.. Regula-
mentava o processo criminal.
87 - Lex lulia maritandis ordinibiis - Do ano 18 a. C.. Com-
batia o celibato e favorecia os homens casados e pais
de família. Facilitava o casamento dos filhos e filhas
de família b::m como obrigava o paterfamilias a dotar
sua filha.
88 Lex Iulia de modo aedificiorum - Do ano 18 a. C.. Regu-
lamentava as construções.
89 Lex lulia de pecuniis mutuis - Do ano 49 a. C.. Fazia
concessões aos devedores que já tivessem pago juros em
contratos de mútuo, isto é, em empréstimo de dinheh·o.
90 - Lex Iulia de senata habendo - Do ano 10 a. C.. Referia-se
ao processo de votação no Senado.
91 Lex Iulia de vi publica et privata. - Da época de Augusto.
Reprimia atos de violência e proibia o usucapião de
coisas tiradas de seu possuidor, por meio de violência.
92 - Lex lulia de vicesima hereditatum - Posslvelemente do
ano 5 da era cristã. Estabelecia a taxa de 5% sôbre o
patrimônio e legados, salvo aos deixados a filhos e
certos parentes.
93 - Lex lul·ia maiestatis - Cesar, em 46 a. C .. e Augusto, em
8 da era cristã, promulgaram estatutos sôbre o crime
de maiestas.
94 - Lex lulia indiciaria mais conhetcida no plural Leges luliae
indiciariae. - Do ano 17 a. C.. Eram leis que regula-
mentavam o processo civil e criminal.
- 372 -

95 - Lex lulia muicipalis - Do ano 45 a. C.. Regulamentava o


policiamento da cidade de Roma.
96 - Lex lulia Papiria - Do ano 30 a. C.. Tratava de multas
pecuniárias.
97 - Lex lulia peculatus - Da época de César ou de Augusto.
Reprimia o peculato e o sacrilegium.
98 - Lex lulia repetundarum - Do ano 59 a. C.. Punia rigo-
rosamente a concussão e proibia o usucapião de coisas
dadas a um magistrado provincial pelos habitantes de
sua província.
99 - Lex lulia sumptuaria - Do ano 46 a. C .. Proibia a luxú-
ria.
100 - Lex Iulia theatralis - Do ano 5 da era cristã. Estabelecia
que s,àmente as pessoas nascidas livres, cujos pais ou
avós tivessem patrimônio de 400.000 sestércios, podiam
sentar-se nas catorze primeiras filas do teatro.
101 - Lex !unia - Do ano 126 a. C .. Determinava a expulsão -de
Roma de todos os estrangeiros, que pretendessem tor-
nar-se cidadãos romanos.
101 - Lex !unia Norbana - Do ano 19 a. C.. Regulamentava a
manumissão, que criou a categoria de manumissos lati-
nos junianos.
l 03 - Lex !unia Petronia - Do ano 19 da era cristã. Estabelecia
que, se num processo sôbre a condição de uma pessoa
houvesse divergência entre os centúnviros, a decisão
devia ser tomada em favor da liberdade.
104 - Lex !unia Vellaea - Do ano 26 da era cristã. Permitia
normas sôbre instituição e deserdação de filhos póstu-
mos.
105 - Lex Laetoria - Do ano 191 a. C .. Protegia os menores de
vinte e cinco anos contra manobras fraudulentas e pes-
soas, que exploravam a pouca experiência dêles.
106 - Lex Latina tabulae Bantinae - Do ano 113 - 118 a. C..
Estatuto de conteúdo desconhecido, pois dêle só conhece-
mos a sanção.
107 - Lex Licinia de sodaliciis - Do ano 55 a. C.. Tinha por
objetivo, proibir certos tipos de associações, que se or-
ganizavam durante o período eleitoral, a fim de favore-
cer candidaturas de aspirantes à magistratura.
108 - Lex Licinia Cassia - Do ano 172 a. C .. Concedeu a côn-
sules e pretores o direito de indicar tribunos milita-
res.
109 - Lex Licinia !unia - Do ano 62 a. C.. Determinou que o
texto dos estatutos fôssem depositados no aerarium.
110 - Lex Licinia Mucia - Do ano 95 a. C.. Suprimia a facul-
dade concedida aos latini veteres de adquirir a cida-
dania romana, desde que viessem residir em Roma e
deixasse um descendente do sexo masculino da cidade
de origem. Esta lei provocou uma revolução e foi logo
revogada.
- 373 -

111 - Lex Licinia Sextia - Do ano 367 a. C.. Dispunha sôbre


o consulado e a pretura. Foi assegurado aos plebeus o
direito de ocupar um dos dois consulados, ao passo que
à pretura somente tinham acesso os patrícios.
112 - Lex Licinia Sextia agraria - Do ano 367 a. C.. Limitou
os lotes do ager publicus, que deviam ser distribuídos,
a 500 iugera.
113 Lex Licinia sumptuaria - Possivelmente do ano 103 a. C..
Era um estatuto contra a luxúria.
114 - Lex. Maenia de patrum auctoritate - Possivelmente do III
século a. C., por volta da 338 a. C .. Determinou que a
aprovação do Senado devia ser anterior à votação do
povo nos comícios.
115 - Lex Mamilia Roscia - Do ano 109 a. C .. Era uma lei
agrária, que renovava a obrigação de deixar um es-
paço livre de cinco pés entre imóveis rurais e deter-
minava que os litígios referentes a essa faixa de terra
deviam ser decididos por um só árbitro.
116 - Lex Manciana - Possivelmente da época de Vespasiano.
Regulamentava as relações entre procuratores e con-
ductores nas possessões africanas.
117 - Lex Mareia - Do ano 104 a. C.. Confirmava a proibição
de empréstimo a juros, considerado delito privado.
118 Lex Maria - Do ano 119 a. C.. Estabelecia regras sôbre
as votações secretas em assembléias populares.
119 Lex metalli Vipascensis - Do segundo século depois de
Cristo. Tratava de administração das minas em Vi-
pasca (Espanha).
120 - Lex Minicia - Do ano 90 a. C.. Declarava que o filho nas-
cido de mãe romana e de pai peregrino ou latino não
se tornaria cidadão romano e seguiria a condição do pai.
121 - Lex Ogulnia - Do ano 300 a. C.. Aumentou o número de
pontífices e de augures de quatro para oito e nove
respectivamente.
122 Lex Oppia - Do ano 215 a. C .. Condenava a luxúria entre
as mulheres.
123 Lex Orchia - Do ano 181 a. C., Limitou o número de pes-
soas, que podiam participar de um jantar suntuoso.
124 - Lex Ovinia - Do ano 315. Determinou que os senadores
passassem a ser escolhidos pelos censores.
125 Lex Papia - Do ano 65 a. C.. Estabelecia normas para
a escolha da Vestais
126 Lex Papia de civitate - Do ano 65 a. C.. Organizou o
tribunal incumbido de resolver as questões referentes
ao direito de cidade - status civitatis
127 - Lex Papia Poppaea - Do ano 9 da era cristã. Modificou
disposições da lex lulia de maritandis ordinibus. Favo-
recia os casados e fazia exigências aos celibatários, aos
viúvos e aos casados sem filhos.
- 374-

128 - Lex Papiria de consecratione - De data desconhecida. A


aprovação da plebe passou a ser exigida para a vali-
dade da consecratio.
129 - Lex Papiria tabellaria - Do ano 131 a. C.. Referia-se ao
voto secreto em assembléias populares.
130 - Lex Petronia de praefectis iure dicundo - Do ano 32 a.
C.. Regulamentava a eleição dos praefecti iure dicundo
nas municipalidades.
131 - Lex Petronia - Do ano 19 da era cristã. Proibia o domi-
nus de lançar os eccravos às feras nos jogos de circo,
salvo a título de castigo, mediante autorização do ma-
gistrado.
132 - Lex Finaria - De data desconhecida. Suspendeu durante
trinta dias, o processo da legis actio após a vrovoca,tio
ao sacramentum e determinou que, decorrido êsse pra-
zo, as partes voltariam à presença do magistrado para
escolher o juíz.
133 Lex Plaetoria, vida Lex Laetoria.
134 - Lex Plautia de vi - Do ano 78-63 a. C.. Era a mais antiga
lei contra o crimen vis - violência; proibia o ususca-
pião de coisas tiradas por violência ao possuidor.
135 Lex Plautia iudiciaria - Do ano 89 a. C.. Referia-se à
eleição de juízes.
136 Lex Plautia Papiria de civitate - vide lex lulia de ci-
·vitate.
137 Lex Poetelia de ambitu - Do ano 358 a. C.. Contra pro-
cessos desleais com finalidades eleitorais.
138 Lex Poetelia Paviria - Do ano 326 a. C.. Favoreceu a
condição dos devedores insolváveis, que ficariam livres
de serem postos dentre ferros; aboliu a condição jurí-
dica dos nexi.
139 - Lex Pompeia - Do ano 52 a. C.. Obrigava os candidatos
a posto eletivo permanecerem em Roma durante o pe-
ríodo eleitoral.
140 - Leo; Pompeia - Do ano 52 a. C .. Estabelecia um interstício
de cinco anos entre o exercício de uma magistratura e
a subseqüente pro-magistratura numa província.
141 Lex Pompeia de ambitu - Do ano 62 a C.. Estabelecia me-
didas severas contra subornos nas eleições.
142 Lex Pompeia de culleo - Possivelmente do ano 55 a. C ..
Aboliu a execução por sorteio.
143 Les Pompeia de parricídio - Do ano 55 ou 52 a. C .. Es-
tendeu o têrmo parricidimn ao assassinato de parentes,
avós, filhos, tio ete ..
144 Lex Pompeia de vi - Do ano 52 a. C.. Era um estatuto
sôbre o crimen vis.
145 Lex Pompeia Licinia - Do ano 70 a. C.. Aboliu as restri-
ções impostas por Sula sôbre os tribunos do povo.
146 Lex provinciae - De data desconhecida. Tratava da orga-
nização da administração de uma província conquistada.
147 - Lex Publicia - Do ano 204 a. C.. Limitava as doações que
os patronos podiam exigir de seus clientes nas Satur-
nales.
148 - Lex Publilia Philonis - Do ano 339 a. C.. Exigia a aucto-
ritas prévia do Senado para os projetos de lei subme-
tidos aos comícios.
149 Lex Publilia Philonis - Do ano 339. Regulamentava a
admissão de plebeus na censura.
150 - Lex Publilia Voleronis - Do ano 4.71 a. C.. Referia-se à
eleição de magistrados plebeus. ·
151 Lex Publilia de sponsu - Do ano 250-150 a. C.. Abranda-
va a situação das cauções; permitia ao sponso1·, que
houvesse pago a dívida, exercer a manus iniectio contra
o devedor principal.
152 Lex Pupia - Do ano 57 a. C .. Proibia reuniões do Senado
nos dias em que fôsse convocada assembléia do povo.
153 Lex Quinctia de aquaeductibus - Do ano 9 a. C.. Refe-
ria-se aos aquedutos e estabelecia as penalidades apli-
cáveis aos que lhes causassem danos.
154 - Lex Rhodia de iactu - De data incerta. Dispunha sôbre o
transporte marítimo; no caso de perigo, se o capitão do
navio lançasse ao mar parte da carga, para evitar o
naufrágio, o prejuízo devia ser repartido pelos proprie-
tários das mercadorias salvas.
155 - Lex Roscia - Do ano 49 a. C.. Concedia o direito de ci-
dania romana aos habitantes da Gália Transpadana.
156 - Lex Roscia theatralis - Do ano 67 a. C.. Estabelecia nor-
mas sôbre a distribuição de lugares nos teatros; os
equites deviam sentar-se atrás dos senadores.
157 - Lex Rubria de Gallia Cisalpina - Do ano 42 a. C.. Esta-
belecia normas sôbre a aplicação da concessão da cida-
dania romana aos habitantes da Gália Cisalpina.
158 Lex Rupilia - Do ano 131 a. C.. Organizou a Sicília como
província.
159 Lex Salpensana - Do ano 82-84 da era cristã. Era uma
constituição municipal do municipium Salpensa.
160 - Lex Scatinia - Do ano 149 da era cristã. Combatia o
stuprum ewn maseulo (pederastia) e a pena era de dez
mil sestércios.
161 - Lex Scribonia - Por volta do ano 50 da era cristã. Aboliu
o usucapião das servidões prediais.
162 - Lex semiunciaria - Do ano 347 a. C.. Reduzia a taxa
máxima dos juros, que foi fixada em um vinte e quatro
avos do capital.
163 - Lex Sempronia agraria - Do ano 133 a. C.. Votada por
iniciativa de Tibério Graco, para favorecer a volta da
plebe urbana ao campo.
164 - Lex Sempronia de abactis - Do ano 123 a. C.. Estabelecia
que o magistrado, destituído de suas funções por deli-
beração do povo, não podia obter outro cargo.
- 376 -

165 - Lex Sempronia frumentaria - Do ano 123 a. C.. Era um


plebiscito proposto por Semprônio Graco, que instituiu
a distribuição de trigo - frumentat - a todos os
cidadãos romanos: - cinco modii podiam ser mensal-
mente obtidos pelo preço de 6 1/3 asses.
166 - Lex Sempronia indiciaria - Do ano 123. a. C.. Determi-
nava que os membros dos juris criminais e os jurados
dos processo civis deveriam ser escolhidos duma lista
de 300 senadores e 600 membros da ordem eqüestre.
167 - Lex Servilia de repetundis - Do ano 111 a. C.. Concedia
ao latino, que fizesse condenar um magistrado concus-
sionário, o direito de cidadania romana.
168 - Lex Silia de condictione - Do ano 200 a. C.. Criou a ação
da lei chamada legis actio per condictionem, que per-
mitia como sanção créditos que tivessem por objeto uma
quantia determinada, certa.
169 - Lex Silvanus et Garbo - Era a lex Plautia Papiria, dos
tribunos Marcus Plautius Silvanus e Caius Papirius
Carbo. Seria concedida a cidadania aos que satisfizes-
sem a uma das seguintes condições: - a) se tivessem
sido registrados numa cidade aliada; b) se por ocasião
da promulgação desta lei tivessem domicilio em Roma
e, dentro de 60 dias, fizessem declaração perante o
pretor.
170 Lex Terentia - Do ano 189 a. C.. Concedia a filhos de
homens livres a cidadania optimo iure.
171 - Lex Thoria - Do ano 119-118 a. C .. Era uma lei agrária,
que muitos indentificam com a lei agrária do ano 111
a. C.
172 - Lex Titia - Do II século a. C.. Completava a lei Júlia,
sôbre a tutela; permitia que qualquer pessoa, inclusive
o incapaz, se dirigisse ao gevernador da província para
pedir a nomeação de um tutor.
173 - Lex Titia - Do ano 43 a. C.. Criou uma magistratura ex-
traordinária, que consistia numa conmissão de três pes-
soas para a organização da estrutura constitucional do
Estado: - tresviri reipublicae constituendae causa.
174 - Lex Titia de aleatoribus - De data incerta. Permitia as
apostas nos jogos desportivos.
175 - Lex Trebonia - Do ano 448 a. C.. Introduziu a eleição de
dez tribunos plebeus nos concilia plebis.
176 - Lex Tullia de ambitu - Do ano 63 a. C.. Proposta du-
rante o consulado de Cícero e visava a combater o su-
bôrno nas eleições.
177 - Lex Valeria Horatia de provocatione - Do ano 449 a. C ..
Regulamentava o apêlo dirigido ao povo em favor dum
condenado a pena criminal.
178 Lex Valleria - Do ano 509 a. C.. Abolia a Realeza.
179 - Lex Valleria - Do ano 86 a. C.. Dispunha sôbre as dí-
vidas contraídas em ocasião da crise econômica. Os
a inviolabilidade dos tribunos do povo.
- 377 -

devedores ficaram obrigados, apenas, ao pagamento da


quarta parte de seus débitos.
180 - Lex Valeria Hora tia - Do ano 449 a. C.. Dispunha sôbre
181 - Lex Vallia - Do II século a. C.. Permitia ao devedor, em
certos casos, a ser o seu próprio vindex e contestar
êle mesmo a legitimidade da pretensão do autor.
182 - Lex Varia - Do ano 90 a. C.. Punia como traição todo
aquêle que induzisse um país aliado a pegar em armas
contra Roma.
183 - Lex Vetti Libici - De data e conteúdo desconhecidos.
184 - Lex Vibia - Do ano 43 a. C.. Renovava a abolição da Dita-
dura.
185 - Lex Villia - Do ano 180 a. C.. Fixou a idade mínima
para o exercício das magistraturas: 44 anos para os
cônsules; 40 anos para os pretores; e 37 para os aediles
curules. O interstício era de dois anos.
186 - Lex Visellia - Do ano 24 da era cristã. Reprimia a usur-
pação da qualidade de ingenuus.
187 - Lex Vocania - Do ano 169 a. C.. Continha várias dispo-
sições dentre as quais destacamos a que não permitia
os cidadãos da primeira classe instituíssem herdeiros a
pessoas do sexo feminino. Além disso, proibiu o testa-
dor de legar a qualquer pessoa quantia superior à que
fôsse destinada ao herdeiro instituído.

SEN ATOS-CONSULTOS
1 - Senatusconsultum Acilianum - Do ano 122. Proíbia a
doação de coisas, que ornamentavam os edifícios.
2 - Senatusconsultum Afinianum - De data desconhecida.
Concedia ao filho dado em adoção pelo pai, que tivesse
três filhos do sexo masculino, um quarto dos bens do
adotante.
3 - Senatusconsultum Apronianum - Da época de Adriano.
Permitia a decisão dos fideicommissa hereditatis às ci-
vitates.
4 - Senatusconsultum Articuleíanum - Do ano 123 a. C.. Re-
feria-se às manumissões por fideicomissos nas provín-
cias.
5 - Senatusconsultum Calvisianum - Do ano 61 da era cris-
tã. Estabelecia que o casamento de um homem, com
mais de 60 anos, com uma mulher, acima dos 50 anos,
não os isentava das sanções da lex Iulia de maritandis
ordinibus.
6 - Senatusconsultum Claudianum - Do ano 52 da era cristã.
Se uma mulher livre tivesse relações com o escravo
de outrem o filho naseido dessa união seria livre.
7 - Senatusconsultum Dasumianum - Do ano 119 da era cris-
tã. Referia-se às manumissões por fideicomisssos.
8 - Senatusconsultum de advocationibus - Do ano 55 da era

25
- 378 -

cristã. Proibia pagamento de honorários de advogado


antes do julgamento.
9 - Senatusconsultum de aedificiis non diruendis - Do ano 44
da era cristã. Proibia a aquisição de edifícios com
intenção de destruí-los para melhores proveitos - di-
ruendo plus adquirere.
10 - Senatusconsulturn de agonscendis libertis - .De data in~erta.
Dispunha sôbre o re·conhecimento da paternidade.
11 Senatusconsultum de aquaeductibus - Do ano 11 a. C..
Dispunha sôbre a proteção dispensada aos aquaeductus
bem como sôbre as sanções aplicadas contra os que os
danificassem.
12 - Senatusconsultum de Asclepiade - Do ano 78 a. C.. Con-
cedeu a três cidadãos gregos, que prestaram auxílio a
Roma, durante a guerra civil, a qualidade de amigos
do povo romano.
13 - Scnatusconsultum de Bachanalibus - Do ano 186 a. C ..
Dispunha sôbre sanções aplicáveis aos participantes da
chamada conspiração dos Bancanais.
14 - Senatusconsultum de collusione detegenda - Da époea de
Domiciano. Proibia o processo fictício entre o manu-
misso e seu antigo dominus, a fim de saber se êle era
ou não seu manumisso, de modo a reconhecer-lhe a
qualidade de ingenuus.
15 - Senatusconsultum de collegiis - De data incerta. Dispu-
nha sôbre a fundação dos collegia e determinava a sua
dissolução, no caso de ficar provada atividade contra
o Estado.
16 - Senatusconsultmn de Iudaeis - Do ano 132 a. C.. Era
uma resposta ao Estado judeu com relação a queixas
apresentadas contra Antiochus, rei da Síria.
17 - Senatusconsultum de nundinis saltus Beguensis - Do ano
183 da era cristã. Assegurava certos privilégios a uma
localidade na província da África.
18 - Senatusconsultum de ludis saecularibus - Do ano 17 a. C..
e 47 da era cristã. Dispunha sôbre os jogos chamados
ludi sacculares nos quais quindecim viri sacris f aciundis
desempenhavam importante papel.
19 - Senatusconsultum de philosophis et rhetoribus - Do ano
161 a. C.. Proibia que filósofos de rêtores gregos resi-
dissem em Roma.
20 - Senatusconsultum de Thisbensibus - Do ano 170 a. C ..
Dispunha sobre as relações com a cidade de Thisbae.
21 - Senatusconsultum de Tiburtinis - Do ano 159 a. C.. Con-
cedia anistia geral à cidade de Tibur.
22 - Senatusconsultum Geminianurn - De data incerta. Esten-
dia as penalidades da Lex Cornelia de f alsis às pessoas
que aceitassem dinheiro por falso testemunho.
23 - Senatusconsultum Hosidianuum - Do ano 44 da era cristã.
Proibia a venda de casas com o objetivo de obter lucros
com o material tirado de sua demolição.
- 379 -

24 - Senatusconsulturn Iuncianwm - Do ano 127 da era cristã.


Dispunha sôbre a manumissão por fideicomissos.
25 - Senatusconsultmn Iuventianurn - Da época de Adriano.
Dispunha que o i-éu não estava obrigado ao pagamento
dos juros sôbre o preço das coisas hereditárias vendidas,
desde que estivesse de boa-fé. No entanto, estava obri-
gado ao pagamento integral de preços das coisas here-
ditárias, mesmo que tivesse havido diminuição de valor
depois da venda.
26 - Senatusconsultmn Largianum - Do ano 42 da era cristã.
Estabelecia a ordem de sucessão mortis causa entre os
latini imâaui.
27 - Seuatusconsultum Libonianum - Do ano 16 da era cristã.
Dispunha sôbre declarações testamentárias num testa-
mento, que devia ser anulado.
28 - Senatusconsultum Macedoniamon - Do ano 75 da era cris-
tã. Proibia o empréstimo de dinheiro aos filiifamilias
de qualquer idade. Todavia, o empréstimo seria válido
e o mutuário obrigado à restituição, se o pate1·fami-
/iais desse o Eeu consimento no ato, ou ratificasse pos-
teriormolte o contrato, bem como se o filiusfamilias,
tornado sui ürris, confirmasse a operação i-ealizada.
Z9 Se1wtusconsulti!m Memmianum - Do ano 63 da era cristã.
Procurava evitar que pessoas sem filho burlassem as
exigências da lex Iulia de rnaritandis ordinibus.
30 - Senatusconsultum Neronianum - Do ano 54-68. Estabe-
cia que um legado per vindicationern nulo deveria va-
ler como legado per damnationern.
31 - Senatusconsultmn Orfitianmn - Do ano 178 da era cristã.
Admitia os filhos à sucessão da mãe antes dos agnados.
32 Senatusconsultmn Pegasianurn - Do ano 73 da era cristã.
Concedeu ao herdeiro fiduciário certo interêsse na a~ei-
tação, reservando-lhe uma parte da sucessão. Era o
quarto pagasiano, por imitação do quarto falcidiano.
33 - Senatusconsultum Pisonianum - Do ano 57 da era cristã.
Dispunha sôbre a venda do escravo, que podia ser sub-
metido a torturas pelo fato de ter sido o domim!s encon-
trado assassinado. A venda seria nula.
24 - Seaatusconsultmn Plaucianmn - De época anterior ao rei-
nado de Adriano. Estabelecia que a mulher grávida era
obrigada a denunciar o marido de divorciado, no prazo
de trinta dias após o divórcio.
S5 - Senatuseonsultmn Rubianmn - Do ano 100 da era cristã.
Determinava que o pretor devia proclamar livre o es-
cravo, desde que a pessoa incumbida de manumití-lo não
quisesse cumprir a disposição testamentária.
36 - Senatusconsultum Silanianum - Do ano 10 da era cristã.
Proibia a abertura do testamento de um cidadão assas-
sinado, antes que os esc.ravos fôssem submetidos a tor-
tura.
37 - Senatusconsultum Tertullianum - Da época de Adriano.
380 -

Admitiu a mãe à sucessão do filho, desde que certas


condições fôssem observadas: - o filho não devia ter
filhos e a mãe devia ter o ius trium liberorum.
38 - Senatusconsultum Trebellianum - Do ano 56 da éra cris-
tã. Colocava o difeicomissário numa situação semelhan-
te à do herdeiro.
39 - Senatusconsultum Ultimum - Era o senatus-consulto su-
premo, que autorizava os cônsules a empregar todos os
meios para reprimir sublevações contra a segurança do
Estado.
40 - Senatusconsultum Velleianum - Do ano 46 da era cristã.
Foi extensivo a tôdas as mulheres a faculdade de pra-
ticar atos da intercessio, isto é, de garantia compro-
missos assumidos por terceiros.
íNDICE REMISSIVO DAS LEIS E DOS
SENATUS-CONSULTOS ( 1 )

Assassino -· L 44 Crédito de quantia certa


Aliados do Povo Romano - L 168
L 8 Cidadãos gregos - S. C 12
Associações - L 107 e L 109 Cidadania optimo iure - L
Assembléias populares - L 118 170
e L 129 Cidadania romana - L 110, L
Aquedutos - S C 11 e L 153 157, L 167 e L 169.
Ambitus - Lex Aurelia de Crimen maiestatis - L 9, L 41
ambitu - L 16 e L 19 e L 93
Ager publicus - L 6 e L 112 Civitates - S C 3
Apostas nos jogos - L 174 Comícios - L 114
Adrogatio - L 53 Candidatos a postos eletivos -
Adultério - L 79 L 139
Auctoritas do Senado - L 148 Colégios - S C 15
Augures - L 121 Condenado a pena criminal
Bacanais - S C 13 L 177
Banquetes -· L 7, L 48 e L 59 Comitik tributo - L 33
Beguenses - S C 17 Concessões aos devedores
Candidato a posto efetivo - L 89
L 139 Coisas roubadas - L 14
Casamento do flamen dialis - Consulado - L 111
L 55 Concussão de magistrado
Casamento de menores de 60 Lex - L 1, L 9&.
anos - S C 5 Confarreatio - L 55
Casamento entre patrícios e Consecratio - Lex L 128
plebeu - L 22 S Consentimento da mulher
Casados sem filhos - L 127 Lex Iulia de fundo dotali -
Cauções - L 151 L 84
Castração - L 31 Coisas hereditários - S C 25
Celibatários - L 127 Colonia de Urso - Lex - L
Celibato - Lex Iulia maritan- 32
dis ordinibus - L 87 Cauções - L 26
Censor - duração da magis- Construções -· Lex Iulia de
tratura - L modo aedificiorum - L 88
Censores -· L 124 Conductores - Lex manciana
Censura - L 149 L 116
Centúnviros - L 103 Candidaturas - L 107
Cessio Bonorum - L 81 Cônsules - S C 39

(1) L = Lex; se = Senatusconsultum.


- 382 -

Danos causados a outrem Fraude - L 105


L 11 Fideicomissos - S C 3
Declaração de guerra - L 54 Fideicomissario - S C 38
Devedor - vlndea - L 181 Fidcpromissores - L 67 e L
Devedores insolváveis - L 138 90
Destituição de função - L 164 Filho adotivo - S C 2
Demolição s e 9 s e 23 Filhos póstumos - L 104
Dívidas contraídas na crise Filiusfamilias - S C 28
econômica - L 179 Filiusfamilia.3: empréstimos
Direito de cidadania L 155 L 29
Divórcio - S C 34 Filósofos gregos - S C 19
Ditadura - L 184 Funerais - L 48
Doações - L 27 e L 147 - L 34
Edifícios - vide demolição Garantia pelo mesmo devedor
Edifício - s e 1 e S e 9 Herdeiro - L 187
Editos perpétuos - L 36 Herdeiro fiduciano - S C 32
Eleições - 33, L 107, L 77, Hono,·ário c:e advogado S
L 118 e s
Eleições de juízes - L 135 Honorários d cadYogados - L
Eleições dos magistrados 27
L 70 Idade exigida para o exercié:i'>
Eleições de magistrados pie dos magistrados - L 185
Eleições dos praefecti iure di Imperador - L 56
Imperium - L 53
beu - L 150
Ingenuus - S C 14
cundo - L 130
Ingenuus - L 1S6
Eleições - suborno - L 141
Inelegibilidade L 16
Empréstimo - Lex - L 117
Intercessão - S C 40
Empréstimo de dinheiro a fi-
Interstício - L 40, L 14!)
1:us-familias - S C 28
Isenção das leis - L 3
Empréstimo de dinheiro - L Institu:ção de herdeiros - L
29 e L 71 187
Emp.réstimo a juros - L 117 Instituição de filhos pstumos
Equites - L 156 L 104
Escravos - S C 35 Imóveis rurais - L 115
Escravos lançados às feras Inviolabilidade dos tribunos
L 131 L 180
Espaço entre imóveis - L 115 Injúrias - L 38
Estatutos - L 109 Ius trium liberorum - S C 37
Estrangeiros - L 101 Jantar suntuoso - Lex Urchia
Eunuco - L 31 - L 123
Execução - L 139 Jogos de circo Lex Petro-
Execução por sorteio - L 142 nia - L 131
Estatutos - L 109 Jogos seculares S C 18
Estrutura constitucional do Jurados - L 17
Estado - L 173 Judeus - S C 16
Exclusão do Senado - L 24 Juris criminais - L 166
Falsificações - L 37 Juros - Lex Genucia - L 71
Falso testemunho - S C 23 Juros - L 17, L 25, L 51, L 89
Flamen dialis - L 55 L 162
- 383 -

Latini Veteres - L 110 Peculato - L 97


Legados - S C 30 Plebeus admitidos ao patricia-
Legados - L 68 e L 92 do - L 23
Legis actio - L 132 Preteres - número de - L
Lei agraria - L 73, L 76, L 115, 42
L 163 e L 171 Pretura - L 111
Leis - L 114 Província conquistada L
Liberdade de associação - L 146
30 Período eleitoral - L 139
Liberdade de associação Pirataria - Lex Gabia L 58 e
Lex Iulia de Collegiis - L L 69
83 Prisioneiro morto - L 35
Luxúria - Lex - L 5, L 99, Policiamento - L 95
L113eL122 Pontífices - L 121
Magistrado concussionários - Processo civil e criminal
Ll L 94
Magistrado destituído dE> "fun- Processos desleais - L 137
ção - L 164 Processo formulário - L 2
Magistraturas - L 185 Processo formulário - Lex
Manumissão - Lex Aelia Sen- Iulia de iudiciis privatis -
tia - L 3 L 85
M'anumissão - S C 4 Processo criminal - Lex Iulia
Manumissão por fideicomsos de iudiciis publicis - L l:16
- se 4e se 7 Projetos de Lei - 148
Manumissão de escravos - S Provocatio - Lex Finaria
e 35 L 132
1\fanumissão L 66 e L 102 Procuratores - Lex Maneia-
Membros dos juris - L 166 na -· L 116
Menores de 25 a.nos - L 105 Quarto pegasiano - S C 32
Mercadorias - Lex Iulia de Questor - L 46
aunona - L 80 Relações da mulher livre -
Minas em Vipasca - L 119 se 6
Município Salpensa - L 159 Realeza - L 178
Mulher grávida - S C 34 Representação judiciária - L
Mulher livre - S C 6 75
Multas impostas pelos magis- Res certa - L 20
trados - L 12 Restituição de quantias L
M'ultas pecuniárias - L 96 21
Nomeação de tutor - L 173 Reforma agrária - L 165
Ornamentação de edifício - S Retores gregos - S C 19
e 1 Reuniões do Senado - L 152
Praefecti iure clicundio - L Revolução - S C 39
130 Sacrilcgium - L 97
Pederastia - L 160 Senado - Lex Maenia de pa-
Plebe - L 128 e L 63 trum auctoritate - L 114
Plebeus - L 149 Senado - aprovação do - L
Plebiscito - Lex - L 74 114
Parricídio - L 143 Senado - L 152
Pessoas sem filho - S C 29 Senadores - Lex Ovinia - L
Prescrição - L 43 124
- 384-

Senadores no teatro - L 156 Transporte Marítimo - L 154


Servidores prediais - L 161 Tabua Bantina - L 1016
Sicília - L 158 Tibur - se 2
Sponsío - L 52 Tribunato miitares - L 108
Sponsor - L 151 Tribunos da plebe -· L 14
Sponsores - L 90 e L 67 Tribunos plebeu - L 175
Saturnais -· L 147 Tribunos do povo - L 145
Status civitate - L 126 Tribunia potestas - L 57
Status civitatis - L 126, L 167 Trigo - L 165
e L 169 Trinumdinum - L 18
Status familiae - L 120 Tisbae - s e 20
Segurança do Estado - S C 39 Tortura - S C 33
Sublevações - S C 39 Tutela - L 172
Sucessão da mãe - S C 31 Tutela legítima das mulheres
Sucessão mortis causa - S C -L 28
26 Tutor para as mulheres e im-
Suborno - L 141 púberes - L 13
Suborno nas eleições L 33, Usucapião - L 91 e L 98
L 77, L 141 e L 176. Usucapião de coisas tiradas
Taxa - L 92 por violência - L 134
Taxa de juros - L 51 e L 162 Usucapião de servidões pre-
Traição - L 182 diais - L 161
Teatro - L 100 e L 156 Venda de escravo - S C 33
Testamento - S C 36 Vestais Lex Papia - L 125
Testamento - L 49 e L 47, L Violência - Lex Plantia re vi
65 e L 78 - L 134
Testamento nulo - S C 27 Vindex - L 18
Testamento de prisioneiro Vis - L 134
L 35 Viuvos - L 127
Testamento - Lex curiata de Votação secreta - L 118
imperio - L 53 Votações secretas - L 118
Testemunha - S C 22 Votação no Senado - L 90
Tresviri reipublicae constituen- Voto secreto - L 70
dae causa - L 173 Voto Secreto - L 129
APÊNDICE
NORMAS ESTABELECIDAS PARA O ENSINO DE
LATIM NO OOLÉ'GIO PEDRO II

DEPARTAMENTO DE PORTUGUÊS
LITERATURA, LATIM E GREGO
Rio de Janeiro, 12 de março de 1959.

Prezado colega,

Tenho a honra de comunicar ao prezado colega que,


em cumprimento ao disposto no art. 26 do Regimento do
Colégio Pedro II (Decreto n. 0 34 742, de 2-12-1953), o
Departamento de Português, Literatura e Grego decidiu
aprovar a matéria constante da relação anexa, para o
ensino de Latim no corrente ano letivo de 1959.
Solicito ao prezado colega o obséquio de comunicar
imediatamente ao catedrático de Latim da respectiva uni-
dade do Colégio q11alq1wr dificuldade qiw, porventura,
encontre na execução da matéria especificada.
Convém que o prezado colega dê conhecimento aos
alunos, logo nas primeiras aulas, de que os textos de tra-
dução das provas parciais, para tôdas as séries, versarão
matéria que ainda não tenha sido objeto de estudo em
classe. No ciclo ginasial não será permitido o uso de di-
cionário, mas será fornecida a tradução de todos os vo-
cábulos novos, isto é, das palavras que, até então, não tenham
sido encontradas nos trechos traduzidos em classe. Não
será dado vocabulário aos alunos do ciclo colegial ( curso
clássico), mas, em compensação, poderão êles fazer uso do
dicionário.
Com os meus protestos de estima e consideração, subs-
crevo-me cordialmente.
( ass.) Vandick Londres da Nóbrega
LATIM

Matéria do 1. 0 semestre

i,a SÉRIE GINASIAL


I - Alfabeto e pronúncia~
II - Os casos e seu emprego.
III - Segunda declinação. Nomes em ei· e em z;·. Nor.,ês
neutros.
IV - A conjugação latina. Os tempos primitivos. Os
tempos do perf ectum.

2.ª SÉRIE GINASIAL


I - Revisão da declinação dos substantivos e dos adjetivos
II - Pronomes pessoais. O pronome relativo.
III - Adjetivos de 1.ª classe e adjetivos possessivos.
IV - Pronome hic, haec, hoc; iste, ista, istwl; il/e, illa, illud;
is, ea, id; idem, eadem, idem; ipse, ipsa, ipsum.
V - Os numerais.
VI - Adjetivos de 2.ª classe.
Tradução de frases de Eutrópio: I, 1; I, 2; I, 3; I, 4; I, 5;
1, 6; I, 7; I, 8; I, 9; 1, 12; I, 13; II, 10.
Versão de frases fáceis sôbre a parte gramatical explicada.

3.ª SÉRIE GINASIAL


I - Anomalias de flexão dos substantivos.
II - Adjetivos de 1.ª classe e adjetivos possessivos.
III - Adjetivos de 2.ª classe. Concordância do adjetivo
com o substantivo.
IV - Graus dos adjetivos. Formação irregular do compa-
rativo e do superlativo.
V - Pronomes pessoais.
VI - Pronomes relativos e interrogativos.
Tradução das seguintes fábulas:
Vulpes ad personam tragicam
Anus ad amphoram
Ranae ad solem
Ovis, canis et lupus
Capellae et hirci
- 387

Vacca et capella, ovis et leo


Homo et colubra
Ovis, cervus e lupus
Rana rupta et bos
Mons parturiens
Graculus superbus et pavo
Vulpes et hircus
Mustela et homo.

4.ª SÉRIE GINASIAL


I - Revisão geral do estudo da flexão nominal e
pronominal.
II - Formação irregular de comparativo e superlativo dos
adjetivos.
III - Sucinta revisão da conjugação latina.
IV - Sintaxe do nominativo, genitivo e dativo.
Tradução: César: "Cornmentarii de Bello Gallico" I, 12; I, 13;
1, 14. Exercícios de versão.

i.a SÉRIE CLÁSSICA

I - Generalidades sôbre a morfologia do substantivo.


II - Morfologia dos nomes gregos.
III - Gênero dos nomes.
IV - Morfologia dos adjetivos. Graus dos adjetivos.
V - Morfologia dos pronomes e dos numerais.
VI - Conceito de estilística: propriedade, elegância e
harmonia.
VII - Caracteres gerais da literatura latina. Divisão em
períodos. A presa literária no período ciceroniano.

Tradução: Cícero. IV Catilinária, caps. 1, II, III, IV, V, VI,


VII, VIII, IX, X e XI.

2.ª SÉRIE CLÁSSICA


I - Sintaxe dos adjetivos. Emprêgo dos pronomes.
II - Sintaxe do nominativo e do vocativo.
III - Sintaxe do genitivo, dativo e acusativo.

Tradução: Virgílio. Eneida, Livro V, 114 a 241; e 362 a 436.


Exercícios de versão.

3.ª SÉRIE CLÁSSICA

I - Prosódia.
II Ritmo. Espécies de pés métricos.
III - Estrofes sáfica, alcaica e asclepiadéia.
388 -

IV - Sintaxe do verbo. Emprêgo dos modos. Emprêgo do


indicativo. Emprêgo do subjuntivo nas orações
independentes.
V - Literatura: A poesia lírica na época de Augusto.
Horácio: a influência de Lucílio; a sátira, as epístolas
e a arte poética. A poesia lírica de Horácio: as
Odes e os Epodos.
Tradução: Horácio. Odes I, 2; I, 10; I, 22; I, 9; III, 1; III,
2; III, 3; I, 3; I, 6; I, 14; I, 1; III, 30.

MATÉRIA DAS AULAS


P SÉRIE GINASIAL

1.ª Aula - Alfabeto e pronúncia. Leitura.


2.ª Aula - O nominativo. Desinências do nominativo singular
e plural da 1.ª declinação. Presente do indicativo
do verbo esse. Exercício de tradução e versão
sôbre o emprêgo do nominativo.
3.ª Aula - O genitivo. Desinências do genitivo singular e
plural da 1.ª declinação. Imperfeito do indicativo
do verbo esse. Exercício de tradução e versão
sôbre o emprêgo do genitivo.
4.ª Aula - O acusativo. Desinências do acusativo singular e
plural da 1.8 declinação. Futuro imperfeito do
indicativo do verbo esse. Exercícios de tradução e
versão sôbre o emprêgo do acusativo.
5.ª Aula - O dativo. Desinências do dativo singular e plural
da 1.8 declinação. Presente do subjuntivo do verbo
esse. Exercícios de tradução e versão sôbre o
emprêgo do dativo.
6. 11 Aula - O vocativo. Desinências do dativo singular e plural
da 1.8 declinação. Imperfeito do subjuntivo do
verbo esse. Exercício de tradução e versão sôbre
o emprêgo do vocativo.
7.ª Aula - O ablativo. Desinências do ablativo singular e
plural da 1.ª declinação. Imperativo do verbo esse.
Exercícios de tradução e versão sôbre o emprêgo do
ablativo.
8. 8 Aula - Ainda o ablativo. Insistir nos diversos empregos
do ablativo.
9.ª Aula - Primeira declinação. Nomes pluralia tantum. Exer-
cícios de tradução e versão.
10.ª Aula - Segunda declinação: desinências do nominativo,
genitivo, dativo e acusativo no singular e plural.
Exercício de tradução e versão.
11.8 Aula - Segunda declinação: desinências do vocativo e abla-
tivo no singular e plural. Nomes em er e em ir.
Exercícios de tradução e versão. Gênero dos nomes
da 2.11 declinação.
12. 8 Aula - Segunda declinação: nomes neutros. Exercícios de
tradução e versão.
- 389-

13.ª Aula - Adjetivo de 1.ª classe. Adjetivos possessivos.


14.ª Aula - Concordância do adjetivo com o substantivo.
Exercícios de concordância.
15.ª Aula - Verbos. Tempos primitivos .. Formação dos tempos.
Tempos do perfectum: pretérito perfeito e mans-que
perfeito do indicativo de qualquer verbo. Exercícios.
16.ª Aula - Verbos. Tempos do perfectum: o futuro perfeito
do indicativo, pretérito perfeito do subjuntitivo,
mais-que-perfeito do subjuntivo, perfeito do infinito
de qualquer verbo. Exercícios.

PROVA PARCIAL

1. ª Questão : - Tradução de frases fáceis sem


auxílio do dicionário.
2.ª Questão: - Versão de frases fáceis.
3.ª Questão: a) Concordância de um adjetivo
com um substantivo da 1.ª ou
2.ª declinação.
b) Conjugação de um verbo em
tempos do per/ ectum, sendo
dados os tempos primitivos.
000 -

2.ª SÉRIE GINASIAL


1.ª Aula - Revisão da 1.ª declinação. Tradução de frases de
Eutrópio.
2.ª Aula - Revisão da 2.ª declinação. Tradução de frases de
Eutrópio.
3.ª Aula - Revisão da 2.ª declinação (nomes neutros). Tra-
dução de frases de Eutrópio I, 1.
4.ª Aula - Revisão da declinação dos pronomes pessoais. O
pronome relativo. Tradução de frases de Eutrópio,
I, 1.
5.ª Aula - Revisão dos adjetivos de 1.ª classe. Adjetivos pos-
sessivos. Tradução de frases de Eutrópio I, 3.
6.ª Aula - Revisão da 3.ª declinação. Tradução de frases de
Eutrópio I, 4.
7.ª Aula - Pronomes demonstrativos: declinação de hic, haec,
hoc.; iste, ista, istud; ille, illa, illud.
8. 8 Aula - Revisão da 3.ª declinação. Tradução de frases de
Eutrópio I, 5.
9. 8 Aula - Pronomes demonstrativos: declinação de is, ea, id;
idem, eadem, idem; ipse, ipsa, ipsum.
10. 8 Aula - Revisão da 3.ª declinação. Tradução de frases de
Eutrópio I, 6.
11.ª Aula - Revisão da 3.ª declinação. Tradução de frases de
Eutrópio I, 7.
12.ª Aula - Numerais cardinais e ordinais. Tradução de frases
de Eutrópio I, 8.
- 390-

13.ª Aula - Adjetivo de 2.ª classe. Tradução de frases de


Eutrópio 1, 9.
14. 8 Aula Quarta declinação. Tradução de frases de Eutrópio
I, 12.
15.ª Aula Quinta declinação. Tradução de frases de Eutrópio,
I. 13.
16.ª Aula Comparativo e superlativo. Tradução de frases de
de Eutrópio II, 10.

PROVA PARCIAL
1.ª Questão: Tradução de frases fáceis de Eutrópio
adaptadas à matéria já lecionada.
í::.f', Questão: Questões de gramática.
3.e. Questão: Versão de frases com vocabulário
visto em aula.

3.ª SÉRIE GINASIAL


1.ª Aula - Ligeira biografia de Fedro. O professor poderá
mandar ler e traduzir, com os alunos, o prólogo do
livro I das fábulas de Fedro para mostra1·, com as
palavras do próprio autor, a finalidade das
fábulas.
2.~. Aul[\ Tradução da fábula: Vulpes ad personam tragicam.
Eevisão e anomalias da l.ª declinação.
3.ª e 4.e Aula - Tradução da fábula: Lupus et agnus. Revisão
e anomalias da 2.ª declinação. Exercícios,
5.ª Aula Tradução da fábula: Anus ad amphoram. Re-
visão dos adjetivos de 1.ª classe.
6. 2• Aula Tradução da fábula: Ranae ad solem. Revisão da
3.ª declinação. O professor deverá mostrar a afi-
nidade existente entre a 3.ª e a 4.ª declinações.
7.ª Aula Tradução da fábula: Ovis, canis et lupus. Revisão
da 3.ª declinação. Temas em vogal e temas mistos.
s.e. Aula Tradução da fábula: Capellae et hirci. Anomalias
9. 2• Aula - Tradução da fábula: VacClli et capella, ovis et leo.
da terceira declinação.
Adjetivos de segunda classe.
10. 11• Aula - Tradução da fábula: Homo et colubra. Revisão da
quarta declinação. Irregularidades da 4.ª decli-
nação.
]1.!\ Aula - Tradução da fábula: Ovis, cervus et lupus. Re-
visão da quinta declinação e particularidades dos
substantivos.
12. 2• Aula - Tradução da fábula: Rana rupta et bos. Graus
de adjetivos. Formação irregular do comparativo
e do superlativo. Exercício de versão.
13.ª Aula Tradução da fábula: Mons parturiens. Pronomes
pessoais e reflexivos. Adjetivos possessivos.
14.ª Aula Tradução da fábula: Graculus superbus et pavo.
Pronomes demonstrativos. Exercício de versão.
- 391-

15.ª Aula Tradução da fábula: Vulpes et hfrcus. Pronomes


demonstrativos (conclusão).
16.ª Aula Tradução da fábula: Mustela et homo. Pronomes
relativos e interrogativos. Exercícios.

PROVA PARCIAL
1.ª Questão Tradução de quatro ou cinco versos
desconhecidos.
2.ª Questão Versão de frases para aplicação da
parte gramatical.
3.ª Questão Questões de gramática, de acônlo
com o trecho da tradução.

4.ª SÉRIE GINASIAL


V" Aula - Revisão da 1.ª e 2.ª declinação. Tradução dos
Commentarii de Bel/o Gallico, I, 12 até. . iunctis
transíbant. O professor deverá explicar e chamar
a atenção do aluno para as questões de lugar •; por
onde" per fines Haeduorum e "para onde" in
Rhodanum; o ablativo de modo incredibili lenitate;
o sentido exato de uter na expressão utram partem.
2.ª Aula -- Revisão geral da 3.ª declinação. Tradução:
César, B. G. I., 12 desde Ubi per explora tores . ..
até silvas abdiderunt. O professor deverá explicar
a expressão certior f actus est, a noção de vigília, a
circunstância da companhia, as questões de "lugar
donde" e castris profectus e "para onde" ad eain
partem, a conjugação dos compostos de eo ( tran-
sierat), a expressão fugae sese mandarunt.
3.ª Aula - Revisão geral da 4.ª e 5.ª declinação. Tradução:
- desde Is pagus. . . até o fim do capítulo. O
professor devreá chamar a atenção do aluno para
a sintaxe do complemento do verbo na voz passiva
( appellabatur) e mostrar a diferença se o verbo
fôsse depoente (ultus est); a expressão idiomática
p;·inceps poenas persolvit.
4.ª Aula -· Revisão geral dos pronomes interrogativos, indefi-
nidos e correlativos. Tradução: - César, B. G. 1.,
13, 1 até ... dux Helvetiorum fuerat. O professor
deverá chamar a atenção do aluno para a construção
gerundiva pontem faciendurn, o ablativo de tempo
diebus viginti, o emprêgo do relativo.
5.ª Aula - Revisão da conjugação dos verbos depoentes. Tra-
dução: - César, B. G. I., 13 desde Is ita cuin
Caesare. . . até aut memoriam proderet. O pro-
fessor deverá aproveitar o texto para explicar ao
aluno o discurso indireto.
6.ª Aula - Revisão geral do comparativo e do superlativo.
Exercícios de versão sôbre o emprêgo do comparativo
e do superlativo.
- 392 -

7.ª Aula - A sintaxe do nominativo: - O emprêgo do nomi-


nativo com o infinito histórico ou de narração.
Tradução: - César, B. G. 1., 14 até timendum
putaret? O professor deverá assinalar o genitivo
partitivo dubitationis, o genitivo com certos adjetivos
como conscius.
8.ª Aula - Sintaxe do genitivo. Exercícios de versão sôbre o
genitivo com substantivo € adjetivo.
9.ª Aula - Sintaxe do genitivo com verbos especiais. Exercí-
cios de versão.
10.ª Aula - Tradução: - César, B. G. L., 14 desde Quod si
veteris até impunitatem concedere. O professor
deverá chamar a atenção do aluno para o genitivo
com oblivisci, a conjugação de possum e volo.
11.ª Aula - Tradução: - César B. G. I., 14 desde Cum ea ita
sint. . . até dato discessit. O professor deverá
chamar a atenção do aluno para o ablativo de
agente, as construções infinitivas etc ..
12.ª Aula - Sintaxe do dativo: empregos gerais. Exercícios
de versão.
13.ª Aula - Sintaxe do dativo. Empregos especiais. Exercícios
de versão.
14.ª Aula - Tradução. César, B. G. I., 15 até de nostris cadunt.
O professor deverá dar ao aluno uma noção
sôbre a constituição dum acampamento romano.
15.ª Aula - Tradução: - a parte restante do capítulo anterior.
O professor deverá assinalar e explicar o ablativo
instrumental, o acusativo de tempo e os numerais
distributivos.
16.ª Aula - Exercício de versão.

PROVA PARCIAL

1.ª Questão: Tradução de trecho não conhecido.


2.ª Questão: Frases para versão sôbre a parte
gramtical explicada.
3.ª Questão: Questão de gramática, de acôrdo com
o trecho dado para tradução.

1.ª SÉRIE DO CURSO CLASSICO

1.ª Aula - Generalidades sôbre a morfologia do substantivo.


Tradução: Cícero: ln Lucium catilinam oratio
quarta I, 1.
2.ª Aula - Desinências arcaicas da 1.ª declinação. Tradução.
Cícero: IV Cat. I, 2.
3.ª Aula - Desinências arcaicas da 2.ª declinação. Tradução.
Cícero: IV Cat. II, 3.
- 393 -

4.ª Aula - Terceira e Quarta declinação. Tradução. Cícero:


IV Cat. II, 4.
5.ª Aula - Continuação da matéria da 4.ª aula.
6.ª Aula - Declinação dos nomes gregos. Tradução. Cícero.
IV Cat. III, 5.
7.ª Aula - O gênero dos nomes. Tradução. Cícero. IV Cat.
III, 6.
8.ª Aula - Morfologia dos pronomes e dos numerais. Tra-
dução. Cícero. IV Cart. IV, 7.
9.ª Aula - Morfologia dos numerais. Tradução. Cícero. IV
Cat. IV, 8.
J O.ª Aula - Conceito de estilística: propriedade, elegância e
harmonia. Tradução. Cícero, IV Cat. V, 9.
ll.ª Aula - Caracteres gerais da literatura latina. Os períodos
da literatura latina. Tradução. Cícero. IV Cat.
V, 10.
12.ª Aula - A prosa literária no período ciceroniano. César,
sua atividade intelectual, suas obras. Cícero: as
orações e a correspondência. Tradução. Cícero,
IV Cat. VI, ll.
13.ª Aula - O período: estrutura rítmica da frase e do verso.
Ordem das palavras. Tradução. Cícero. IV Cat.
VI, 12.
14.ª Aula - Tradução. Cícero. IV Cat. VI, 13.
15.ª Aula - Tradução. Cícero. IV Cat. VII, 14.
16.ª Aula - Tradução. Cícero. IV Cat. VII, 15.
17.11 Aula - Tradução. Cícero. IV Cat. VII, 16 e VIII, 16.
18.ª Aula - Tradução. Cícero. IV Cat. VIII, 17.
19.ª Aula - Tradução. Cícero. IV Cat. VIII, 18 e IX, 19.
20.ª Aula - Tradução. Cícero. IV Cat. IX, 19.
21.ª Aula - Tradução. Cícero. IV Cat. X 20.
22.ª Aula - Tradução. Cícero. IV Cat. X, 21.
24.ª Aula - Tradução. Cícero. IV Cat. X, 22.
25.ª Aula - Tradução. Cícero. IV Cat. XI, 23 e 24.

PROVA PARCIAL
l.ª Questão: Tradução de um trecho de Cícero
com auxílio de dicionário.
2.ª Questão: Análise morfológica e sintática de
palavras existentes no trecho da
tradução.
3.ª Questão: Questões de gramática, estilística e
literatura.

2.ª SÉRIE DO CURSO CLASSICO

1.ª Aula - Sintaxe dos adjetivos. Exercício de versão.


2.ª Aula - Emprêgo dos pronomes. Exercício de versão.
3.ª Aula - Emprêgo do a,lius e alter. Exercício de versão.
4.ª Aula - Sintaxe do nominativo e do vocativo. Virgílio.
Eneida, V, vs. 114 a 123.

26
- 394

5.e, Aula - Sintaxe do genitivo. Exercício de versão.


6.ª Aula - Sintaxe do genitivo. Exercício de versão.
7.ª Aula - Tradução. Virgílio. Eneida, V, vs. 124 a 131.
8.ª Aula - Tradução. Virgílio. Eneida, V, vs. 134 a 141.
9.ª Aula - Tradução. Virgílio. Eneida, V, vs. 142 a 150.
10.ª Aula - Tradução. Virgílio. Eneida, V, vs. 151 a 161.
11.ª Aula - Tradução. Virgílio. Eneida, V, vs. 162 a 177.
12.ª Aula - Sintaxe do dativo. Exercício de versão.
13.ª Aula - Sintaxe do dativo. Exercício de versão.
14.ª Aula - Tradução. Virgílio. Eneida, V, vs. 173 a 193.
15.ª Aula - Tradução. Virgílio. Eneida, V, vs. 194 a 209.
16.ª Aula - Tradução. Virgílio. Eneida, V, vs. 210 a 219.
17.ª Aula - Sintaxe do acusativo. Exercício de versão.
l 8.ª Aula - Sintaxe do acusativo. Exercício de versão.
19.ª Aula - Virgílio. Eneida, V, vs. 220 a 231.
20.ª Aula - Virgílio. Eneida, V, vs. 232 a 241.
21.ª Aula - A poesia na época de Augusto. Tradução. Eneida,
V, vs. 362 a 373.
22.ª Aula - A Eneida de Virgílio. Tradução. Eneida, V, vs.
374 a 391.
23.ª Aula - Tradução. Virgílio. Eneida, V, vs. 391 a 405.
24.ª Aula - Tradução. Virgílio. Eneida, V, vs. 406 a 420.
25.ª Aula - Tradução. Virgílio. Eneida, V, vs. 421 a 436.

PROVA PARCIAL
1.ª Questão: Tradução de versos da Eneida, com
auxílio de dicionário.
2. ª Questão : Versão.
3.ª Questão: Questões de gramática, de literatura
e de estilística.

3.ª SÉRIE DO CURSO CLÁSSICO


1.11 Aula - A poesia lírica na época de Augusto. Tradução.
Horácio. Ode I, 2. vs. 1 a 12.
2.ª Aula - Horácio: a ,influência de Lucílio; a sátira, as
epístolas e a arte poética. A poesia lírica de Ho-
rácio: as Odes e os Epodos. Tradução. Horácio.
Ode I, 2, vs. 13 a 28.
3.ª Aula - Prosódia. Noções. Tradução. Horácio. Ode I, 2,
vs. 29 a 44.
4.ª Aula - Ritmo. Espécies de pés métricos. Tradução. Ho-
rac10. Ode I, 2 vs. 45 até o fim.
5.ª Aula - Estrofes sáfica, alcaica e asclepiadéia. Tradução.
Horácio. Ode I, 10.
6.ª Aula - Sintaxe do verbo. Emprêgo dos modos. Emprêgo
do indicativo. Exercícios.
7.ª Aula - Tradução. Horácio. Ode I, 22, vs. 1 a 16. O aluno
deve aprender a escandir os versos de uma ode
sáfica.
8.ª Aula - Tradução. Horácio. Ode I, 22 (parte final).
- 395 -

9.ª Aula - Emprêgo do subjuntivo nas orações independentes.


Exercícios de aplicação.
10.ª Aula - Tradução. Horácio. Ode I, 9. O aluno deve
aprender a escandir os versos de uma ode alcaica.
1vi. Aula - Tradução. Horácio. Ode III, 1, vs. 1 a 16.
12.r, Aula - Tradução. Horácio. Ode III, vs. 17 a 32.
13.ª Aula - Tradução. Horácio. Ode III, 1; vs. 33 até o fim.
14.ª Aula - Tradução. Horácio. Ode III, 2, vs. 1 a 16.
15/• Aula - Tradução. Horácio. Ode III, 2, vs. 17 até o fim.
16.r. Aula - Tradução. Horácio. Ode III, 3, vs. 1 a 24.
17.ª Aula - Tradução. Horácio. Ode III, 3, vs. 25 a 48.
18.ª Aula - Tradução. Horácio. Ode Ili, 3, vs. 49 até o fim.
19.ª Aula - Tradução. Horácio. Ode I, 3, vs. 1 a 20. O aluno
deve aprender a escandir uma ode asclepiadéia 1.ª.
20.ª Aula - Tradução. Horácio. Ode I, 3, vs. 21 até o fim.
21.ª Aula - Tradução. Horácio. Ode 1, 6. O aluno deve
aprender a escandir uma ode asclepiadéia 2.ª.
22.n Aula - Tradução. Horácio. Ode 1, 14. O aluno deve
aprender a escandir uma ode asclepiadéia 3.a,
23.ª Aula - Tradução. Horácio. Ode I, 1, vs. 1 a 22.
24.ª Aula - Tradução. Horácio. Ode I, vs. 23 até o fim.
25.ª Aula - Tradução. Horácio. Ode III, 30.

PROVA PARCIAL
1.ª Questão: Tradução de versos de uma ode de
Horácio, com o auxílio do dicionário.
2.ª Questão: Análise morfológica, sintática e
literária.
3.ª Questão: Quest.ões de gramática, métrica lite-
ratura.

Matéria do 2. 0 semestre
1.ª SÉRIE GINASIAL
I - Terceira declinação.
II - Verbos. Os tempos do infectum.
III - Adjetivos de segunda classe.
IV - Quarta declinação.
V Quinta declinação.
VI - A ordem das palavras.

2.ª SÉRIE GINASIAL


I Formação regular do comparativo e do superlativo
dos adjetivos.
II Verbos: - voz passiva. Conjugação em todos os
tempos e modos.
III - Principais preposições.
IV - Principais advérbios.
- 396

V - Principais conjunções.
VI - Principais interjeições.

3.ª SÉRIE GINASIAL


;_~~::.-.1•--~·
I -
Os numerais: - multiplicativos e distributivos.
II Verbo sum e seus compostos.
-
III Verbo volo e seus compostos.
-
IV Verbo fero e seus compostos.
-
V -Verbos fio e edo.
VI -Palavras invariáveis: advérbios, preposições, advér-
bios, conjunções e interjeições.
VII - Composição e derivação; perfixos e sufixos mais
VIII - Sintaxe da oração independente.
freqüentes; modificações fonéticas mais sensíveis.
IX - Sintaxe da oração independente.
Tradução das seguintes fábulas: -
Lupus et vulpes, iudice simto.
Perae, sive de vitiis hominum.
A nus ad senem pastorem.
Taurus et vitulus.
Calvus et quidam pilis def ectus.
Vulpes et uva.
Calvus et musca.
Canes famelici.
Vulpes et corvus.
Canes et corcodili.
Canis per fluvium carnem f erens.
Lupus et gruis.
Dictum Socratis.
Vulpes et aquila.

4.ª SÉRIE GINASIAL


I - Sintaxe do acusativo.
II - Sintaxe do ablativo.
III - Concordância do verbo com o sujeito.
IV - O período composto. Principais noções sôbre o em-
prêgo dos modos e dos tempos nas orações subor-
dinadas.
V - O discurso indireto.
VI - Noção de métrica latina: o hexâmetro dactílico.
Tradução de César, B .G. I, caps. 16 a 20.

Ciclo Colegial
1.ª SÉRIE CLASSICA

I - Semântica do infectum e do perfectum.


II - Morfologia do verbo: - o infectum e o perfectum.
- 397 -

III - Classificação dos verbos quanto aos temas de inf ectum


e do perf ectum.
IV - Verbos depoentes. Os chamados irregulares.
V - Prosódia. O hexâmetro e pentàmetro dactílicos.
VI - A escolha das palavras.
VII - O período: estrutura rítmica da frase e do verso.
Ordem das palavras.
VIII - A poesia na época de Augusto.
Tradução: - Virgílio. Bucólicas I e IV.

2.ª SÉRIE CLÁSSICA


I - Sintaxe do ablativo.
II - Sintaxe das palavras invarraveis.
III - Cícero: - seus trabalhos de retórica.
IV - Noções sôbre os costumes e a civilização do antigo
povo romano.
Tradução: - Cícero, Orator, Capítulos I a XI.

3.ª SÉRIE CLÁSSICA


I Emprêgo de infinitivo: - o infinitivo com sujeito
em acusativo e o infinitivo histórico. O infinitivo
complementar e o infinitivo objetivo.
II - Emprêgo dos tempos do indicativo, do imperativo e
do subjuntivo.
III - Emprêgo dos particípios e do supino.
IV - Emprêgo do gerúndio e do gerundivo.
V - Cícero: suas obras filosóficas.
Tradução: - Cícero, De Officiis, Livro I, caps. I a X.

Matéria das aulas


1.ª SÉRIE GINASIAL

17.ª Aula - Terceira declinação. Temas em consoante. Exer-


cícios.
18.ª Aula - Terceira declinação. Temas em vogal. Exercícios.
19.ª Aula - Verbos. A formação dos tempos. O presente do
indicativo para tôdas as conjugações. Exercícios.
20.ª Aula - Verbos. O imperfeito do indicativo para tôdas as
conjugações. Exercícios.
21.ª Aula - Verbos. O futuro imperfeito do indicativo para
tôdas as conjugações.
22.ª Aula - Verbos. O imperativo para tôdas as conjugações.
Exercícios.
23.ª Aula - Verbos. O presente do subjuntivo para tôdas as
conjugações.
- 398 -

24.ª Aula - Verbos. O imperfeito do subjuntivo para tôdas as


conjugações. Exercícios.
25.ª Aula - Adjetivos da segunda classe. Exercícios de tra-
dução.
26.ª Aula - Concordância de adjetivos de segunda classe com
substantivos. Exercícios.
27.ª Aula - Quarta declinação. Exercícios de tradução.
28.ª Aula - Quinta declinação. Exercícios de tradução.
29.ª Aula - A ordem das palavras. Exercícios de tradução.
30.ª Aula - Revisão geral da matéria.

PROVA PARCIAL
1.ª Questão: - Tradução de frases fáceis. Não
será permtido o uso do dicionário,
mas somente deverão ser empre-
gados vocábulos explicados em
aula.
2.ª Questão: Versão de frases fáceis.
3.ª Questão: a) - Concordância de um adjetivo
de segunda classe com um
substantivo;
b) - Conjugação de um verbo em
tempo do infectum e do
perfectum.

2.ª SÉRIE GINASIAL


17.ª Aula - Verbos. Revisão das quatro conjugações regulares
na voz ativa, o perfeito e o mais que perfeito do
indicativo. Exercício.
18.ª Aula Verbos. O futuro perfeito do indicativo, o pretérito
perfeito do subjuntivo, e mais-que-perfeito do
subjuntivo e o perfeito do infinito. Tradução de
frases do Eutrópio II, 14.
19.ª Aula - Verbos. O presente e o imperfeito do indicativo.
Tradução de frases do Eutrópio III, 3.
20. 8• Aula - Verbos. O futuro imperfeito do indicativo e o
imperativo. Tradução de frases de Eutrópio III, 4.
21.ª Aula - Verbos. O presente e o imperfeito do subjuntivo.
Tradução de frases fáceis de Eutrópio III, 5.
22.ª Aula - Verbos. O particípio do presente e o gerúndio.
Tradução de frases fáceis de Eutrópio III, 11.
23.ª Aula - Verbos. Particípio do futuro e os futuros do infi-
nito. Tradução de frases fáceis de Eutrópio III, 12.
24.ª Aula - Verbos. A conjugação passiva. Tempos de infec-
tum. Tradução de frases fáceis de Eutrópio III, 13.
25.ª Aula - idem.
26.ª Aula - Verbos. Conjugação passiva. Tempos de perfectum.
Tradução de frases fáceis de Eutrópio IV, 5.
27.ª Aula - Verbos depoentes. Tradução de frases fáceis de
Eutrópio VI, 12.
399

28.ª Aula - Principais prepos1çoes que regem acusativo. Tra-


dução de frases fáceis de Eutrópio VI, 14.
29.ª Aula - Principais preposições que regem ablativo. Tradução
de frases fáceis de Eutrópio VI, 17.
30.P, Aula - Principais preposições que regem acusativo e abla-
tivo. Tradução de frases fáceis de Eutrópio VI, 19.
31.1., Aula - Principais advérbios. Tradução de frases fáceis de
Eutrópio VI, 20.
32.ª Aula - Principais conjunções coordenativas. Tradução de
frases fáceis de Eutrópio VII, 6.
33.ª Aula - Principais conjunções subordinativas. Tradução de
frases fáceis de Eutrópio VII, 7.
34.ª Aula - Principais interjeições. Tradução de frase sfáceis
de Eutrópio VII, 8.
35.ª e 36.ª Aula - Revisão geral.

3.ª SÉRIE GINASIAL


17.P, Aula - Tradução da fábula "Lupus et vulpes, iudice simio.
Pronomes indefinidos. Exercícios de aplicação.
18.ª Aula - Conclusão do assunto da aula anterior.
19.ª Aula - Tradução da fábula Pera-e sive de vitiis hominum.
Os numerais.
20.ª Aula - Tradução da fábula Asinus ad senem past-Orem.
Os numerais: - multiplicativos e distributivos.
Exercício de versão.
21.11 Aula - Conclusão da tradução da fábula "Asinus ad senem
pastorem. Exercícios de aplicação sôbre os nume-
rais.
22.P· Aula - Tradução da fábula Taurus et vitulus. Revisão das
conjugações: o infectum.
23.ª Aula - Tradução da fábula "Calvus et quidam pilis defectus.
Revisão das conjugações: - o perfectum.
24.ª Aula - Tradução da fábula "Vulpes et uva". Verbo: voz
passiva.
25.ª Aula - Tradução da fábula "Calvus et musca - Verbos
depoentes. Exercício de versão.
26.P, Aula - Tradução da fábula "Ganes famelici" - Verbo sum
e seus compostos.
27.ª Aula - Tradução da fábula "Vulpes et corvus". Verbo volo.
28.ª Aula - Tradução da fábula "Ganes et corcodili. Verbos
nolo e malo.
29.ª Aula - Tradução da fábula "Canis per fluvium carnem
ferens. Verbo fero e seus compostos.
30.8 Aula - Tradução da fábula "Lupus et gruis. Verbo eo e
seus compostos.
31.ª Aula - Tradução da fábula Dictum Socratis. Verbos fio e
edo.
32.ª Aula - Principais advérbios e preposições. Exercícios de
aplicação. Exercício de versão.
33.P. Aula - Principais conjunções e interjeições. Exercícios de
aplicação.
- 400 -

34.ª Aula - Sintaxe da oração independente.


35.ª Aula - Composição e derivação. Exercícios.
36.ª Aula - Prefixos e sufixos mais freqüentes. Modificações
fonéticas mais freqüentes.

PROVA PARCIAL

1.ª Questão: - Tradução de cinco ou seis versos


desconhecidos.
2.ª Questão: - Versão de frases para aplicação da
parte gramatical.
3.ª Questão: - Questões de gramática.

4.ª SÉRIE GINASIAL


17.ª Aula - Tradução de César B. G. I, 16 até adesse dicere.
O professor deverá chamar a atenção do aluno para
o emprêgo de f lagitare, que pede dois acusa ti vos; o
infinito histórico, o ablativo de separação.
18.ª Aula - Tradução de César B. G. I, 16 desde Ubi se
diutius. . . até o fim de capítulo. O professor de-
verá chamar a atenção do aluno para o dativo com
verbos compostos de prae, o ablativo de comparação.
19.ª Aula - Tradução de César B. G. I, 17 até erepturi. O
professor deverá assinalar o emprêgo do dativo em
lugar do ablativo de separação.
20.ª Aula - Tradução de César B. G. I, 71, a parte restante do
capítulo. Convém assinalar o emprêgo de sese.
21.ª Aula - Sintaxe do acusativo. Exercício de versão.
22. 11 Aula - Sintaxe do acusativo. Exercício de versão.
23.11 Aula - Sintaxe do ablativo. Exercício de versão.
24.ª Aula - Tradução de César B. G., I, 18 até audeat nemo.
O professor deverá destacar o acusativo de causa.
25.ª Aula - Tradução de César B. G. I, 18, a parte restante.
O professor deverá assinalar o supino, o emprêgo
de dois dativos, o ablativo de preço, o dativo com
verbos especiais e o ablativo de característica.
26.ª Aula - Sintaxe do ablativo. Exercício de versão.
27.ª Aula - Sintaxe do ablativo. Exercício de versão.
28.ª Aula - Sintaxe do ablativo. Exercício de versão.
29.ª Aula - Tradução de César B. G. I, 19 até verebatur. Con-
vém assinalar o ablativo absoluto.
30.ª Aula - Tradução de César B. G. I, 19 a parte restante.
31.ª Aula - Concordância do verbo com o sujeito. Exercício de
versão.
32.ª Aula - O período composto. Exercício de aplicação.
33.ª Aula - O discurso indireto. Exercício.
34.ª Aula - Tradução de César B. G. I, 20 até voluntate factum.
35.ª Aula - Tradução de César B. G. I, 20, a parte restante.
36.ª Aula - Noções de métrica latina.
- 401-

PROVA PARCIAL

1.ª Questão: Tradução de trecho desconhecido de


César.
2.ª Questão: Frases para versão sôbre a parte
gramatical explicada.
3.ª Questão: Questão de gramática.

1.ª SÉRIE DO CURSO CLÁSSICO


26.ª Aula - Morfologia do verbo. Desinências do infectum.
Tradução: - Virgílio. Bucólica I vs. 1 a 8.
27.ª Aula - Semântica do infectum e do per/ ectum. Tradução:
Virgílio. Bucólica I vs. 9 a 18.
28.ª Aula - Verbo. Morfologia dos tempos: o infectum. Tra-
dução: Virgílio. Bucólica I vs. 19 a 27.
29.ª Aula - Verbo. Morfologia dos tempos: - o perfectum.
Tradução. Virgílio. Bucólica I, vs. 28 a 36.
30.ª Aula - Verbo. Classificação dos verbos quanto aos temas
de infectum. Tradução. Virgílio. Bucólica I vs.
37 a 46.
31.ª Aula - Verbo. Classificação dos verbos quanto aos temas
de perfectum. Tradução. Virgílio. Bucólica I vs.
47 a 59.
32.ª Aula - Verbo. Conjugação de sum, fero, volo e seus com-
postos. Tradução. Bucólica I vs. 60 a 70.
33.ª Aula - Verbo. Conjugação de eo e seus compostos e de
edo. Tradução. Virgílio Bucólica I vs. 71 a 84.
34.ª Aula - Verbo. Conjugação dos defectivos memini; coepi;
odi e novi. Tradução. Virgílio. Bucólica IV vs.
1 a 10.
35.ª Aula - Verbo. Conjugação de fio; queo, nequeo; fari; aio;
inquam; quaeso; ovare; salvare, avere, cedo.
36.ª Aula - Noções de prosódia. O hexâmetro e o pentâmetro
dactílico. Tradução. Bucólica IV, 11 a 20.
37.ª Aula - A poesia na época de Augusto. Virgílio: - as
Bucólicas e as Geórgicas.
38.ª Aula - Morfologia das palavras invariáveis. Os advérbios.
Virgílio. Bucólica IV, 21 a 31.
39.ª Aula - Morfologia das palavras invariáveis. As preposi-
ções. Tradução. Virgílio. Bucólica IV, vs 32 a 42.
41.ª Aula - Morfologia das palavras invariáveis: - as inter-
jeições. Tradução. Virgílio. Bucólica IV vs 52 a 63.
42.ª Aula - 50 aula - Revisão geral da matéria, a critério do
professor. Conforme o adiantamento da turma, o
professor poderá escolher outros textos para ser
objeto de tradução e comentários.

PROVA PARCIAL
1.ª Questão: - Tradução de uns 6 a 8 versos das
Bucólicas.
- 402 -

2.ª Questão: Comentários filológicos referentes


ao texto.
3.ª Questão: Questões de gramática, estilística
e literatura.

2.ª SÉRIE DO CURSO CLÁSSICO

26.ª Aula - Síntaxe do ablativo. Exercício da versão.


27.ª Aula - Tradução. Cícero. Orator I, 1 e 2.
28.ª Aula - Tradução. Cícero. Orator 1, 3 e 4.
29.ª Aula - Síntaxe do ablativo. Exercício de versão.
30.ª Aula - Tradução. Cícero. Orator II, 5 e 6.
31.ª Aula - Síntaxe do ablativo. Exercício da versão.
32.ª Aula - Tradução. Cícero. Orator II, 7 e 8.
33.ª Aula - Tradução. Cícero. Orator II, 9 III, 9.
34.ª Aula - Sintaxe do ablativo. Exercícios da versão.
35. 8 Aula - Tradução. Cícero. Orator III, 10 e 11.
36.ª Aula - Tradução. Cícero. Orator III, 12 e 13.
37.ª Aula - Tradução. Cícero. Orator IV, 14 e 15.
3ll.ª Aula - Tradução. Cícero. Orator IV, 16 e V, 17.
39.ª Aula - Tradução. Cícero. Orator V, 18 e 19.
40.ª Aula - Cícero e seus trabalhos de retórica. O asianismo e
o aticismo.
41.ª Aula - Tradução. Cícero. Orator V, 20 e VI, 21.
42.ª Aula - Tradução. Cícero. Orator VI, 22 e VIII, 22 e 23.
43.ª Aula - Tradução. Cícero. Orator VII 24 e VIII, 24 e 25.
44. 8 Aula - Cícero. Tradução. Orator VIII, 26 e 27.
45.ª Aula - Dissertação sôbre a constituição do povo romano.
46. 11 Aula - Cícero. Tradução. Orator IX, 28 e 29.
47.ª Aula - Cícero. Tradução. Orator IX, 10 e 31.
48.ª Aula - Cícero. Trailução. Orator IX, 32 e 33.
49.ª Aula - Cícero. Tradução. Orator X, 34 e 35.
50.ª Aula - Cícero. Tradução. Orator XI, 36 e 37.

PROVA PARCIAL

1.ª Questão: - Tradução de um trecho desconhe-


cido do Orator, de Cícero.
2.ª Questão: - Versão para aplicação da sintaxe
da regência.
3.ª Questão: Questões de gramática, de litera-
tura e de estilística.

3.ª SÉRIE DO CURSO CLÁSSICO


26.ª Aula - Cícero: suas obras filosóficas. Tradução. Cícero:
De Officiis Livro I, Cap. 1, 1.
27.11 Aula - Tradução. Cícero. De Officiis. Livro I Cap. I, 2.
28.ª Aula - Tradução. Cícero. De Officiis. Livro I Cap. I, 4
e II, 5.
29. 8 Aula - Tradução. Cícero. De Officiis. Livro I, Cap. II,
6 e 7.
- 403-

30.ª Aula - Tradução. Cícero. De Off iciis. Livro I Cap. III,


7 e 8.
31.ª Aula - Emprêgo do infinitivo. - o infinitivo com sujeito
em acusativo e o infinitivo histórico. O infinitivo
complementar e o infinitivo objetivo.
32.I" Aula - Tradução. Cícero. De Officiis. Livro I Cap. III,
9 e 10.
33.ª Aula - Tradução. Cícero. De Officiis. Livro I Cap. IV,
11.
34.ª Aula - Tradução. Cícero. De Officiis. Livro I Cap. IV,
12 e 13.
35.ª Aula - Emprêgo dos tempos do indicativo, do imperativo e
do subjuntivo.
36.ª Aula - Tradução. Cícero. De Officiis. Livro I Cap. IV,
14.
37.ª Aula - Tradução. Cícero. De Officiis. Livro I Cap. V,
15.
38.ª Aula - Tradução. Cícero. De Officiis. Livro I Cap. V,
16 e 17.
39. 8 Aula - Tradução. Cícero. De Officiis. Livro I Cap. VI,
18.
40.ª Aula - Tradução. Cícero. De Officiis. Livro I Cap. VI,
19.
41.ª Aula - Emprêgo dos particípios, do supino, gerúndio e
gerundivo.
42.ª Aula - Tradução. Cícero. De Officiis. Livro I Cap. VII,
20 e 21.
43.ª Aula - Tradução. Cícero. De Officiis. Livro I Cap. VII,
22 e 23.
44.ª Aula - Tradução. Cícero. De Officiis. Livro I Cap. VII,
24 e VIII, 25.
45.ª Aula - Tradução. Cícero. De Officiis. Livro I Cap. VIII,
26 e 27.
46.ª Aula - Tradução. Cícero. De Officiis. Livro I Cap. IX,
28.
47.ª Aula - Tradução. Cícero. De Officiis. Livro I Cap. X,
31 e 32.
49.ª Aula - Tradução. Cícero. De Officiis. Livro I Cap. X,
33.
50.ª Aula - Revisão geral.

PROVA PARCIAL
1.ª Questão: - Tradução dum trecho desconhecido
do De Officiis, de Cícero.
2.ª Questão: Comentários filológicos.
3.ª Questão: Questões de gramática e de lite-
ratura.
*
:t;JSTE LIVRO FOI COMPOSTO E IMPRESSO
NAS OFICINAS DA EMPMSA GRAFICA DA
"REVISTA DOS TRIBUNAIS" S. A., À RUA
CONDE DE SARZEDAS, 38, SÃO PAULO,
EM 1962.

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