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Anotações
Capítulo I
“A partir de 1450, na Europa, o número de pessoas cresce com rapidez; e porque se faz
necessário compensar . . . as enormes perdas sofridas no século precedente, na esteira da
Peste Negra. Houve recuperação até ao refluxo seguinte. Sucessivos fluxos e refluxos . .
. desenham, revelam regras tendenciais, regras de longa duração que continuarão válidas
até ao século XVIII. Somente no século XVIII ocorrerá a explosão das fronteiras do
impossível, superação de um teto até então intransponível. Desde então, o número de
seres humanos nunca mais parou de aumentar, não voltou a haver suspensões nem
reversões do movimento.” (p.11)
“Em todo o caso, até ao século XVIII, o sistema vivo está fechado num círculo quase
intangível. Mal a circunferência é atingida, quase imediatamente ocorre uma retração,
um recuo. Não faltam os modos e as ocasiões para restabelecer o equilíbrio: penúrias,
escassez, fome, duras condições da vida de todos os dias, guerras . . . – e sobretudo – o
longo cortejo das doenças. . . . a peste, em epidemias regulares que só deixarão a Europa
no século XVIII; o tifo . . .; a tifoide e a varíola, que são endémicas; a tuberculose,
presente desde cedo nos campos. . .; . . . as doenças venéreas, a sífilis que renasce ou . . .
explode por combinação de espécies microbianas, após a descoberta da América. As
deficiências da higiene, a má qualidade da água potável, fazem o resto.” (p.11)
“Imaginemos, portanto, a enorme e múltipla extensão que representam, para uma dada
região, todos os mercados elementares que ela possui . . . para débitos frequentemente
medíocres. . . principia o que chamamos a economia de troca, situada entre a
produção . . ., e o consumo . . . Nos séculos do Ancien Régime . . . ainda se trata de uma
economia de troca muito imperfeita. . . não chega a unir toda a produção a todo o
consumo, perdendo-se uma enorme parte da produção no autoconsumo, da família ou da
aldeia, pelo que não entra no circuito do mercado. (pp.14-15)
“os mercados . . . marcam uma fronteira, um limite inferior da economia. Tudo o que
ficar fora do mercado só tem um valor de uso, tudo o que . . . ingressar no mercado
adquire um valor de troca.” (p.15)
“O século XV, sobretudo depois de 1450, assiste a uma retomada geral da economia,
em benefício das cidades, as quais, favorecidas pela elevação dos preços “industriais”,
ao mesmo tempo que os preços agrícolas estagnam ou declinam . . . o papel propulsor é
o das lojas de artesãos ou, melhor ainda, dos mercados urbanos. São esses mercados que
ditam a lei. (p.19)
“Século XVI . . . desenvolvimento pujante desse século tão ativo seria, em última
análise, a exuberância de um último patamar, de uma superestrutura . . . inchada agora
pelas chegadas de metais preciosos das Américas e, mais ainda, por um sistema de
trocas que faz circular rapidamente uma massa de papel e de crédito. Essa frágil obra-
prima dos banqueiros genoveses desmoronará na década de 1620”. (pp.19-20)
“No século XVIII, século de aceleração econômica geral, todos os instrumentos da troca
estão logicamente em serviço: as Bolsas ampliam suas atividades, Londres imita e tenta
suplantar Amsterdão, que tende agora a especializar-se como a grande praça dos
empréstimos internacionais”. (pp.20-21)
Capítulo II
“Fica evidente que entre os séculos XV e XVIII não parou de se ampliar a zona dessa
vida rápida que é a economia de mercado. O sinal que o anuncia e o prova é, através do
espaço, a variação em cadeia dos preços dos mercados. Esses preços movimentam-se no
mundo inteiro”. (p.30)
“As trocas têm, em si mesmas, um papel decisivo, equilibrador, que elas igualam pela
concorrência os desnivelamentos, ajustam a oferta e a demanda, . . . o mercado auto-
regulador.” – “Ilusão . . . importa assinalar, pelo menos, que o – mercado, entre
produção e consumo, é apenas uma ligação imperfeita”. (p.31)
“Não é por acaso que, em todos os países do mundo, um grupo de grandes negociantes
se destaca nitidamente da massa dos comerciantes, e que esse grupo é, por uma parte,
muito reduzido e, por outra, está sempre ligado – entre outras atividades – ao comércio
a distância.” (p.38)
“o negociante . . . divide suas atividades entre diversos setores a fim de limitar seus
riscos”. (p.40) – Pensamento geral
“Se o grande comerciante muda com tanta frequência de atividade é porque o grande
lucro muda incessantemente de setor.” (p.41)
“O Estado moderno, que não fez o capitalismo, mas o herdou, ora o favorece, ora o
desfavorece . . . O capitalismo só triunfa quando se identifica com o Estado, quando ele
é o Estado. Em sua primeira grande fase, nas cidades-Estados da Itália, em Veneza, em
Gênova, em Florença, é a elite do dinheiro quem detém o poder. Na Holanda, no século
XVII, . . . o interesse [dos]homens de negócios . . . Na Inglaterra, a revolução de 1688
marca . . . um advento dos negócios à holandesa.” (pp.43-44)
“Os países do Norte nada mais fizeram do que tomar o lugar ocupado . . . pelos velhos
centros capitalistas do Mediterrâneo. Os nórdicos nada inventaram, nem na técnica, nem
na condução dos negócios. . . O que está em jogo é o deslocamento do centro de
gravidade da economia mundial por razões econômicas. . . Esse deslizamento definitivo,
no final do século XVI, do Mediterrâneo para os mares do Norte . . . a favor da nova
supremacia do Atlântico, há uma ampliação da economia em geral, das trocas, das
reservas monetárias”. (pp.44-45)
“Uma sociedade . . . derivando de uma sociedade feudal, ela própria ainda meio feudal,
é uma sociedade onde a propriedade, os privilégios sociais estão relativamente
protegidos, onde as famílias podem desfrutar deles . . . , sendo a propriedade, por assim
dizer, sacrossanta, onde cada um permanece em seu lugar. Ora, são imprescindíveis
essas águas calmas . . . para que a acumulação se faça, para que cresçam e se
mantenham as linhagens, para que, com a ajuda da economia monetária, o capitalismo
finalmente surja. Na ocorrência, ele destruiu certos baluartes da alta sociedade, mas para
reconstruir outros em seu proveito”. (p.47)
Capítulo III
Uma economia-mundo: - “ocupa um espaço geográfico dado; portanto, tem limites que
a explicam e que variam, embora com uma certa lentidão. Ocorrem mesmo,
forçosamente, de tempos em tempos, mas a longos intervalos, ruturas.” (p.53)
“Toda a vez que ocorre uma descentragem, opera-se uma recentragem, como se uma
economia-mundo não pudesse viver sem um centro de gravidade, sem um polo.” (p.56)
“No caso da Europa e das zonas que ela anexa, operou-se uma centragem na década de
1380, em benefício de Veneza. Por volta de 1500, . . . para Antuérpia, depois, em 1550-
1560, um retorno ao Mediterrâneo . . . em favor de Gênova; enfim, por volta de 1590-
1610, . . . para Amsterdão, onde o centro econômico da zona europeia se estabilizará por
quase dois séculos. Entre 1790 e 1815 deslocar-se-á para Londres.” (p.56)
“O triunfo dos nórdicos não teria resultado de uma melhor conceção dos negócios nem
do jogo natural da concorrência industrial . . . nem ao facto de terem adotado a
Reforma.” (p.58)
“Até por volta de 1750, esses centros dominadores foram sempre cidades, ou cidades-
Estados. . . Amsterdão . . . foi a última das cidades-Estados . . . [, no século XVIII,]
começa uma era diferente. Londres . . . é a capital [de]. . . um mercado nacional.” (p.62)
“Quanto à França, defrontou-se com obstáculos demais: seu atraso econômico, sua
imensidade relativa . . . suas ligações internas difíceis e . . . uma centragem
imperfeita. . . Edward Fox . . . [terá mostrado] que havia, pelo menos, duas Franças,
uma marítima, . . . pouco vinculada ao hinterland . . . e a outra continental, presa à terra .
. ., habituada aos estreitos horizontes locais, inconsciente das vantagens econômicas de
um capitalismo internacional. . . [Só no século XVIII é que] Paris se torna o centro
econômico do mercado francês.” (pp.65-66)
“Com o advento de Londres, foi virada uma página da história económica da Europa e
do mundo, pois o estabelecimento da preponderância econômica da Inglaterra,
preponderância que se estende também à liderança política, marca o fim de uma era
multissecular, a das economias de conduta urbana”. (p.67)
“Os campos ingleses esvaziaram-se de homens, sem que deixassem de manter sua
capacidade de produção; os novos industriais encontraram a mão-de-obra . . . de que
necessitavam; o mercado interno continuou se desenvolvendo, apesar da alta dos preços;
a técnica acompanhou. . .; os mercados externos abriram-se em cadeia, um após outro.”