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Economia Brasileira 1500 1900

(1) ASPECTOS DA FORMAÇÃO DA ECONOMIA BRASILEIRA


1500 / 1888
José Murilo Philigret Baptista

Parte I – Condicionantes Externos


Parte II – Adequação / Estruturação Econômica Interna
1. a “visão oceânica” – os “ciclos econômicos”
2. a força das atividades internas – os agentes comerciais e
financeiros
Parte III – A Transição em Direção ao Capitalismo

Parte I – CONDICIONANTES EXTERNOS


O Brasil Colônia no contexto do sistema geral de colonização européia.
O período da economia mercantil-escravista brasileira (1500/1888)
compreende significativas alterações no sistema econômico mundial:
• a acumulação primitiva no bojo da expansão comercial, tendo como
pólos: Espanha, Portugal, Holanda, França e Inglaterra;
• a emergência e consolidação das relações capitalistas;
• a Revolução Industrial;
• o início da passagem do capitalismo da sua etapa concorrencial para o
monopolista.
Significativas transformações internas: “ciclos” e atividades complementares
ocupação territorial de diversificação das atividades produtivas.
A medula do sistema colonial é o monopólio do comércio que garante a
acumulação de capital comercial.

A) “EXCLUSIVO” COMERCIAL – mecanismo de ajuste da expansão


colonizadora à transição da Europa para o capitalismo industrial.

Razões do monopólio:
• competição na compra levaria aumento de preços;
• riscos do comércio à longa distância;

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• orientação no processo produtivo da Colônia;
• o contrabando e outras colônias européias como prova da necessidade
de fornecedores coloniais;
• obrigatoriedade do transporte por navios das “companhias”.

B) “Cabedais”: volume de riqueza acumulado pelos comerciantes através dos


monopólios, favores governamentais, da “acumulação primitiva” (pela
expropriação violenta) ou, ainda, pelas oportunidades comerciais (diferenciais
de preços entre as regiões de produção e consumo) e das práticas da usura.

C) O requisito das formas compulsórias de trabalho.


Dada a abundância de terras, os trabalhadores livres poderiam efetivar uma
economia de subsistência sem vinculação efetiva com os centros
metropolitanos.
Necessidade de rebaixar os custos de produção.
A necessidade de produção em larga escala requer amplos investimentos
iniciais e não seria atendida pela agregação de pequenos excedentes
O trafico negreiro é apenas um ramo de comercio colonial e seus ganhos fluem
para a metrópole; o apressamento dos indígenas era apenas um negócio
interno da colônia.
A concentração da renda interna (que não foi transferida para a metrópole) –
reforça o trabalho na forma da escravidão.

D) Relações econômicas entre a Metrópole e a Colônia


• caráter complementar
• a utilização do trabalho escravo – rebaixamento do custo da produção; o
tráfico como atividade comercial relevante e integrada de mercados;
garantia da produção de determinados produtos complementares (em
vez da “anarquia” de bens produzidos por pequenos produtores
independentes.
• “setor exportador” produtor de bens coloniais especializados que serão
exportados para a metrópole
• setor produtor de alimentos para a população local

E) Relações Internas
A atividade açucareira (especializada e de alta produtividade e rentabilidade)
representa “mercado” capaz de motivar a emergência de outras atividades
econômicas complementares, mesmo considerando o fato da forte drenagem
de recursos para o exterior (a força das trocas internas X “visão oceânica”).
A economia mineira (século XVIII) abre oportunidades: fluxo migratório
europeu; atividades e mercados urbanos; relações sociais mais flexíveis;

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aumento da monetização; demanda explícita por sistema de transporte; cumpre
uma “missão importantíssima, qual seja a articulação das várias regiões do sul
da colônia”; dinamizou o sistema administrativo e tributário da colônia.

F) Perfil da Formação Social:


• grande lavoura monocultura
• trabalho escravo
• núcleos econômicos desarticulados
• produção agrícola de subsistência em pequenas propriedades
• camponeses, agregados e moradores
• hegemonia do capital comercial que orienta o processo produtivo
(mercadorias exportáveis)
• Organização predatória e de baixa produtividade com reduzidíssimo
mercado interno.
• Outro estrato existe entre os colonos senhores de escravos e os
produtores diretos: a camada urbana (funcionários, intermediários,
militares, religiosos) que possibilita a ampliação de mercado.

Parte II – ADEQUAÇÃO / ESTRUTURAÇÃO ECONÔMICA INTERNA


1. “Visão oceânica” – os “ciclos econômicos”
• Cana-de-açúcar – séculos XVI / metade XVII
Capitanias hereditárias (isenções de tributos, garantia contra penhora
dos instrumentos de produção, honrarias e títulos).
• Pecuária – século XVII
“ocupação de terras extensivas e até certo ponto itinerante”.
complementar ao açúcar e a mineração
• Mineração – século XVIII
migração de mão-de-obra
Expansão da área de subsistência.
O enfraquecimento colonial – Abertura dos Portos. (1808); tratados com a
Inglaterra (“potencia privilegiada”) de 1810, 1827, restrições ao tráfico negreiro;
queda dos preços de exportação e declínio da mineração; independência
política de Portugal.
1822 – Ruptura do “pacto colonial”, do exclusivo metropolitano”
1822 – 1888 – A nível mundial ocorre a “evolução orgânica do capitalismo” que
se estende do final na Revolução Industrial na Inglaterra à

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grande crise de 1873/97 que assinala a transição do capitalismo
concorrencial para o imperialismo.
Café - aproveita preços internacionais e “recursos pré existentes e
subutilizados”.
Outros produtos (cacau, fumo) não revertem a “tendência ao desequilíbrio
externo” da economia dependente primário exportadora.

2. A força das atividades internas


A desarticulação da economia colonial e os contornos de uma nova vida
urbana. Pós-1850.
A realocação dos recursos empregados no tráfico negreiro possibilita a
diversificação da atividade comercial – navegação de cabotagem, comércio
urbano.
A crescente monetização da economia – tráfico inter-regional de escravos;
aquisição de alimentos; os mascates e artesãos; a lei de terras de 1854; os
comissários, sistema bancário e o código comercial (desconto de letras:
condições de liquidez para o comércio”.
A lavoura do café abre a possibilidade de aumentar a internalização do
excedente produzido. Isto é, a economia mercantil-escrativista cafeeira se
articula a um sistema comercial-finaceiro sob controle nacional, reduzindo a
drenagem de recursos antes observada nos circuitos tradicionais do “exclusivo
colonial”.
A aplicação de “cabedais” do “comissário” de café na esfera da produção
traduz o comprometimento do “capital” mercantil nacional com esta atividade e
lhe garante condições para seu desenvolvimento. A produção fica submetida
ao comércio e às taxas de juros.
Duas inovações permitem a continuidade da expansão cafeeira: o transporte
ferroviário e as máquinas de beneficiamento de café. Interrelações com o
capital industrial e bancário da Inglaterra e apoio do Estado brasileiro (via
garantia de juros).
Final do período imperial: a velha classe senhorial se transforma em burguesia
agrária, subordinada aos “comissários” (aos detentores dos “cabedais”
aplicados no comércio) e aos banqueiros.

Parte III – A TRANSIÇÃO EM DIREÇÃO AO CAPITALISMO


Os novos elementos qualitativos que surgem no final do século XIX e as
tendências que se apresentam são indicadas fundamentalmente por:
• O caráter da intervenção governamental.
• A diversidade da atuação dos agentes comerciais
1. Intervenção do governo

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As práticas governamentais buscam garantir o bom andamento das praças
comerciais: garantia de juros para empreendimentos inovadores; socorro nas
sucessivas “crises” dos produtos exportáveis; criação da infra-estrutura
necessária; manutenção da “paz e a ordem”; empréstimos junto a bancos
estrangeiros; concessões e a empresários nacionais e estrangeiros.
2 .Atuação dos agentes comerciais
“As diversas atividades impulsionadas pelos agentes comerciais são
necessárias para a reprodução de seus próprios ”cabedais”, assim como visam
atender à lógica da demanda externa e ao movimento internacional de capital”.
“No relacionamento entre o comerciante e o produtor os diversos mecanismos
de crédito devem ser encarados como instrumentos de dominação: o
endividamento possibilita a formação de “cabedais” e a subordinação dos
produtores aos agentes comerciais”.
“É importante observar a chamada intermediação financeira informal,
assentada nas grandes casas comerciais, “quase sempre voltadas para as
atividades de exportação e importação (que) supria , diretamente, as
necessidades de crédito da crescente produção agrícola”.
A diversificação das pautas de exportação e importação; as grandes casas
comerciais são representantes de sindicatos bancários estrangeiros, de
companhias de navegação e de seguros, possuem fábricas e manufaturas e
mantém longas rotas comerciais internas.
3. A substituição do trabalho escravo pelo pequeno produtor subordinado à
grande propriedade a agrícola ou diretamente ao capital comercial urbano;
proliferação de atividades artesanais e pequenos empreendimentos cujas
atividades se voltam “para a satisfação das necessidades internas de uma
população de estrutura de renda extremamente concentrada”.

BIBLIOGRAFIA:

FURTADO, Celso – “Formação Econômica do Brasil”;


NOVAES, Fernando A. – “O Brasil nos Quadros do Antigo Sistema Colonial” in:
Brasil e Perspectiva – DIFEL – São Paulo – 1968;
GRANZIERA, Rui – “Moeda e Crédito no Limiar do Capitalismo no Brasil” –
Tese do Doutoramento – UNICAMP – 1976;
CPE/SEPLANTEC – “A Inserção da Bahia na Evolução Nacional – 11850 –
1889 (1ª etapa) e 1890-1930 (2ª etapa)” Salvador – 1978-80;
______________ - “A Economia Baiana de 1850 a 1930; Algumas questões” –
Salvador 1981;
OHLWEILER, Otto A. – Evolução Sócio-econômica do Brasil.

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(2) EVOLUÇÃO SÓCIO-ECONÔMICA DO BRASIL
Otto A. Ohlweiler

O período da economia mercantil-escravista brasileira (1500/1888)


compreende significativas alterações no sistema econômico mundial:

- a acumulação primitiva no bojo da expansão comercial, tendo como pólos:


Espanha, Portugal, Holanda, França e Inglaterra;
- a emergência e consolidação das relações capitalistas;
- a Revolução Industrial;
- o início da passagem do capitalismo da sua etapa concorrencial para o
monopolista.

Significativas transformações internas: “ciclos” e atividades complementares


ocupação territorial diversificação das atividades produtivas.

“Cabedais”: volume de riqueza acumulado pelos comerciantes através dos


monopólios, favores governamentais, da “acumulação primitiva”
(pela expropriação violenta) ou, ainda, pelas oportunidades
comerciais (diferenciais de preços entre as regiões de produção e
consumo) e das práticas da usura.

Relações econômicas entre a Metrópole e a Colônia


• caráter complementar
• mecanismos para a transferência de excedentes:
- “exclusivo metropolitano”: monopólio comercial,
- tributação
• a utilização do trabalho escravo – rebaixamento do custo da produção; o
tráfico como atividade comercial relevante e integrada de mercados;
garantia da produção de determinados produtos complementares (em
vez da “anarquia” de bens produzidos por pequenos produtores
independentes.

Atividade produtiva na colônia

• “setor exportador” produtor de bens coloniais especializados que serão


exportados para a metrópole
• setor produtor de alimentos para a população local

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A atividade açucareira (especializada e de alta produtividade e rentabilidade)
representa “mercado” capaz de motivar a emergência de outras atividades
econômicas complementares, mesmo considerando o fato da forte drenagem
de recursos para o exterior (a força das trocas internas X “visão oceânica”).

A economia mineira (século XVIII) abre oportunidades: fluxo migratório


europeu; atividades e mercados urbanos; relações sociais mais flexíveis;
aumento da monetização; demanda explícita por sistema de transporte; cumpre
uma “missão importantíssima, qual seja a articulação das várias regiões do sul
da colônia”; dinamizou o sistema administrativo e tributário da colônia.

Formação Social:
• grande lavoura monocultura
• trabalho escravo
• núcleos econômicos desarticulados
• produção agrícola de subsistência em pequenas propriedades
• camponeses agregados e moradores
• hegemonia do capital comercial que orienta o processo produtivo
(mercadorias exportáveis)

1822 – Ruptura do “pacto colonial”, do exclusivo metropolitano”


1822 – 1888 – A nível mundial ocorre a “evolução orgânica do capitalismo” que
se estende do final na Revolução Industrial na Inglaterra à
grande crise de 1873/97 que assinala a transição do capitalismo
concorrencial para o imperialismo.
A lavoura do café abre a possibilidade de aumentar a internalização do
excedente produzido. Isto é, a economia mercantil-escrativista cafeeira se
articula a um sistema comercial-finaceiro sob controle nacional, reduzindo a
drenagem de recursos antes observada nos circuitos tradicionais do “exclusivo
colonial”.
A aplicação de “cabedais” do “comissário” de café na esfera da produção
traduz o comprometimento do “capital” mercantil nacional com esta atividade e
lhe garante condições para seu desenvolvimento. A produção fica submetida
ao comércio e às taxas de juros.
Duas inovações permitem a continuidade da expansão cafeeira: o transporte
ferroviário e as máquinas de beneficiamento de café. Interrelações com o
capital industrial e bancário da Inglaterra e apoio do Estado brasileiro (via
garantia de juros).
Final do período imperial: a velha classe senhorial se transforma em burguesia
agrária, subordinada aos “comissários” (aos detentores dos “cabedais”
aplicados no comércio) e aos banqueiros.

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Agentes sociais:
• proprietários rurais
• comerciantes / representantes bancários
• pequena burguesia urbana: pequenos produtores, funcionários, militares
artesãos, profissionais liberais.
• lumpem: mão de obra despossuída e sem qualificação
• massa rural: camponeses, pequenos produtores, agregados, moradores
e posseiros.

Ações do Estado:
• apoio e fomento às atividades dos grandes proprietários rurais
• disputa de poder entre os empresários cafeeiros e a classe senhorial
escravista do Nordeste e do Vale do Paraíba.

BIBLIOGRAFIA:

OHLWEILER, Otto A. – Evolução Sócio-econômica do Brasil.

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