Você está na página 1de 12

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ


CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE ALTAMIRA
FACULDADE DE MEDICINA
EIXO HABILIDADES MÉDICAS E PROFISSIONALISMO II

ROTEIRO 6: MOTRICIDADE, MANOBRAS DEFICITÁRIAS E REFLEXOS

EXAME DA MOTRICIDADE
O exame da motricidade pode ser dividido em exame da força muscular,
do tônus, dos reflexos, da coordenação e dos movimentos involuntários
anormais.

Avaliação do tônus muscular

A avaliação deve ser feita com o paciente em decúbito e contém as


seguintes etapas:
 Inspeção
 palpação
 movimentação passiva.

 Inspeção: revelará o estado do trofismo muscular e a presença de


atitudes anormais ou movimentos involuntários. Procuram-se sinais
de achatamento das massas musculares contra o plano do leito
(indício de hipotonia) ou de aumento do relevo muscular (indício de
hipertonia), em comparação ao segmento contralateral.

 Palpação: A consistência muscular pode estar aumentada


(hipertonia, rigidez, fibrose e contratura) ou diminuída (hipotonia e
flacidez)

 Movimentação passiva: Pedir para que o paciente relaxe o segmento


que será avaliado, em sequência O EXAMINADOR deve realizar
movimentos de flexão e extensão da articulação. Permite a avaliação
da passividade e da extensibilidade
Espasticidade e rigidez

Espasticidade (hipertonia elástica):pode indicar lesão piramidal.

Sinal do canivete:
O sinal do canivete é um achado clínico observado em pacientes neurológicos,
que se caracteriza por uma resistência inicial no arco do movimento, seguida por
uma diminuição dessa resistência conforme o ângulo-arco do movimento
aumenta

Rigidez (hipertonia plástica): pode indicar lesão extrapiramidal.

Sinal da roda denteada:


É tipicamente encontrado no parkinsonismo, alterna contração e relaxamento.
Ao tentar imprimir um movimento, como a extensão do cotovelo, o examinador
encontra uma resistência variável a sua força que cursa com interrupções
diminutas e sucessivas ao movimento.
https://www.youtube.com/watch?v=OF92GdUfvf8

Sinal do cano de chumbo:


Ocorre frequentemente nas manobras de extensão dos membros. Ao realizar
o movimento, o paciente imprime uma força regular, constante e contrária ao
movimento que o examinador exerce durante todo o movimento, dando a
impressão de se entortar um objeto muito duro como um cano de chumbo ou
uma barra de ferro

https://www.youtube.com/watch?v=qso65QtyZoM

Avaliação da motricidade voluntária

A motricidade espontânea é avaliada solicitando-se ao paciente que execute os


diversos movimentos possíveis do segmento corporal que se deseja avaliar,
como abrir e fechar uma das mãos, abduzir e aduzir um dos braços, fletir e
estender uma coxa.

 comparar os dois lados corporais


 avaliar velocidade, habilidade, energia e amplitude dos movimentos.

Avaliação da força muscular

Para a avaliação da força muscular, solicita-se ao paciente que mostre a


dificuldade que apresenta tentando realizar movimentos com os segmentos
afetados. Em seguida, os movimentos devem ser realizados contra a resistência
oposta pelo examinador (manobras de oposição). Caso haja déficit de força ou
dúvidas quanto à sua existência, utilizam-se manobras deficitárias. A força
muscular é graduada de 0 a 5
Manobras deficitárias

São de grande utilidade principalmente para a demonstração de paresias pouco


acentuadas.

Manobra de Barré:

 Avalia: déficits dos membros inferiores (MMII) (musculatura flexora)


 Solicita-se ao paciente, em decúbito ventral, que flexione os
joelhos, mantenha o quadril estendido, sustentando essa posição por
cerca de 2 minutos.
 Teste positivo: O déficit da musculatura flexora da perna leva a
oscilações ou à queda da perna parética

Manobra de Mingazzini:

 Avalia: déficits dos M M II (musculatura extensora)


 Indivíduo, em decúbito dorsal, mantém as coxas fletidas, formando
ângulo reto com o tronco, as pernas fletidas sobre as coxas,
horizontalmente, formando ângulo reto com as coxas, e os pés
formando ângulo reto com as pernas na vertical.
 Normalmente, essa posição pode ser mantida por 2 minutos.
 Teste positivo: ocorrem oscilações ou quedas progressivas do pé,
da perna ou da coxa, combinadas ou isoladas, caracterizando déficits
distais, proximais ou combinados.

Manobra dos braços estendidos:

 Paciente sentado ou em pé mantém os membros superiores


estendidos para frente no plano horizontal, com os dedos afastados
entre si, por até 2 minutos.
 A manobra pode ser realizada ainda em até três tempos(olhos
abertos, olhos fechados e mãos em pronação).
 O teste positivo: membro parético, se estiver em pronação, inicia
um movimento de supinação, seguido por oscilações e, por fim,
descreve uma queda em arco, assumindo uma posição mais baixa e
abduzida em relação ao membro.

https://www.youtube.com/watch?v=5DAJd9fBiNM

Reflexos superficiais e profundos


Define-se reflexos como uma reposta, motora ou secretora, a um estímulo
interno ou externo. Na prática de habilidades médicas avaliamos reflexos
motores, os chamados arco-reflexos. Em geral, avaliam-se percutindo o tendão
e é possível fazer uma avaliação qualitativa e quantitativa.

 Avaliação qualitativa: presença ou abolição.


 Avalição quantitativa: aumento ou diminuição.
 Sempre avaliado bilateralmente.
 Os reflexos são divididos em superficial e profundos:
 Reflexos superficiais: resposta a estímulos gerados na pele ou mucosas.
 Reflexos profundos: resposta a estímulos gerados em tendões ou
aponeuroses.

1. Reflexos superficiais:
Reflexo cutâneo-plantar:
Excitação posteroanterior realizada na lateral da planta do pé leva à flexão
plantar do hálux e dos artelhos. Esta é a resposta esperada em todos
os indivíduos normais após o 1° ano de vida.
Sinal de Babinski: flexão dorsal patológica do hálux e dos artelhos (com ou sem
a abertura em leque destes).
Reflexo cutâneo-abdominal:
Paciente em decúbito dorsal para garantir o relaxamento da parede abdominal,
o examinador estimula o abdome paralelamente à linha média abdominal (linha
Alba) em três alturas distintas (epigastro, mesogastro e hipogastro). A resposta
esperada é o desvio da linha média e da cicatriz umbilical em direção ao estímulo
pela contração da musculatura abdominal ipsilateral.

2. Reflexos profundos:
Reflexo aquileu:
Posição do paciente: sentado com as pernas pendentes.
Semiotécnica: com uma de suas mãos, o examinador deve apoiar suavemente
a face plantar do pé do paciente. O examinador flete levemente o pé do paciente
percutindo a região do tendão de Aquiles ou a região plantar, obtendo, como
resposta, a flexão plantar.
Reflexo patelar:
Posição do paciente: sentado com as pernas pendentes.
Semiotécnica: percute-se o tendão do quadríceps femoral (ligamento patelar),
observando-se a extensão da perna.

Reflexo estilorradial:
Posição do paciente: sentado ou de pé com o antebraço semifletido e o punho
em ligeira pronação.
Semiotécnica: o examinador apoia o seu antebraço sustentando seu polegar
sobre o processo estiloide do rádio. Em seguida, realiza a percussão sobre seu
próprio dedo. A resposta esperada é a contração do músculo braquiorradial
observada por uma discreta pronação do antebraço.

Reflexo bicipital:
Posição do paciente: sentado ou em pé com o antebraço semifletido e a mão em
supinação.
Semiotécnica: o examinador deve apoiar o antebraço do paciente e apoiar seu
polegar sobre o tendão bicipital do paciente. A percussão do tendão do bíceps
se faz no dedo do próprio examinador e causa uma contração bicipital levando
a uma flexã o e supinação do antebraço.
Reflexo triciptal:
Posição do paciente: sentado ou em pé com o braço em posição de abdução e
em semiflexão.
Semiotécnica: o examinador sustenta o braço do paciente em posição de
abdução e em semiflexão. Com a percussão do tendão do tríceps, há a extensão
do antebraço.

Manobra distratora:
 Casos em que paciente inibe motricidade reflexa.
 Solicita-se ao paciente que desvie o olhar do local que será testado
enquanto realiza uma atividade motora distratora.
 Exemplo: Solicitar ao paciente que olhe para cima e "puxe" uma mão
contra a outra enquanto o examinador testa o reflexo patelar.
3. Distúrbios do movimento:
São as ataxias descritas previamente em “equilíbrio, coordenação e marcha”.
São caracterizadas como movimentos anormais voluntários e involuntários:
Tremores:
 São movimentos oscilatórios, rápidos, rítmicos e involuntários que
atingem segmentos eletivos do corpo (mãos, pés, lábios, extremindade
cefálica). Ocorrem devido desequilíbrio na contração de músculos
opostos.
 Avaliação: ritmo, amplitude, frequência, sede, complexidade,
circunstância de aparecimento e influência por estímulos externos.
 Deve ser realizado no repouso. Exemplo: colocar uma folha de papel sob
os dedos estendidos do paciente ou exacerbar o teste pedindo para o
paciente fazer contas ao mesmo tempo. Outra forma é pedir para paciente
escrever uma frase, como “espiral de Arquimedes” em uma folha de papel.
 Diferenciar os principais padrões de tremores (tremor essencial vs. tremor
parkinsoniano):

Flaping (Asterix):
 Movimentos em segmentos distais, rápidos e de amplitude variável,
lembrando o bater de asas de um pássaro.
 Doenças associadas: encefalopatias hepáticas (insuficiência hepática
alcóolica e doença de Wilson).

Coreia:
Movimentos de início abrupto e explosivo (espasmódicos), arrítmicos,
geralmente de curta duração, que se repetem em intensidades e topografias
variadas, coferindo um acráter migratório e errático. Os movimentos voluntários
dos membros afetados são prejudicados, criando interrupções e desvios de
trajetória. Isso permite um caráter bizarro, descrito como pseudointencional, pois
paciente mediante um movimento involuntário realiza um movimento voluntário
para disfarçar quadro.
Balismo:
Movimentos amplos de início e fim abruptos e pode envolver polo cefálico, tronco
e segmentos proximais dos membros. Paciente pode apresentar chutes e
arremessos. Quando acomete um lado do corpo é chamado hemibalismo.
Atetose ou coreoatetose:
Movimentos lentos, irregulares, geralmente contínuos, que afetam sempre o
mesmo segmento corpóreo. Preferencialmente, atingem extremidades distais
como mãos e punhos resultando quadros de hiperextensão ou flexão dos dedos.
Tiques:
Movimentos estereotipados, sem finalidade, que ocorrem de modo repetitivo,
sempre em uma mesma região anatômica do paciente. Não têm correlação com
processos orgânicos e se relacionam com processos neuróticos. São
movimentos suprimíveis pela vontade do paciente e podem ter
manifestações motoras, vocais ou mistas.

Mioclonias:
Abalos musculares bruscos, breves e involuntários, podendo ser localizados ou
difusos, rítmicos ou arrítmicos, sendo muitas vezes referidos como trancos ou
sacudidas.
Mioquinias:
Contrações fibrilares ondulatórias em músculos íntegros que podem estar
presentes tanto em pacientes neuróticos ou fatigados como em indivíduos
hígidos, sendo o acometimento das pálpebras sinal típico desse quadro.
Fasciculações:
Contrações breves, irregulares, que podem ser visualizadas durante o repouso
e que não provocam deslocamento dos segmentos corpóreos, excetuando-se
um discreto movimento dos dedos. Podem acometer deltoides, bíceps,
quadríceps, língua, mãos, dedos, etc.

Tetania:
Movimentos tônicos que podem ser generalizados ou localizados (mais comuns)
com predileção por extremidades distais como mãos e pés, onde se manifesta
sob forma de espasmos carpo-podais. Pode ser evidenciado pelo sinal de
trosseau ou sinal chvostek. A tetania está presente na alcalose respiratória por
hiperventilação e nas hipocalemias, como a que pode ocorrer no
hipoparatireoidismo.
Sinais de tetania:
Sinal de Trousseau: desencadeado por uma compressão de até 10 minutos do
braço do paciente por um manguito inflado entre sua pressão arterial sistólica
e diastólica. Quando a manobra é positiva, evidencia-se o sinal de Trousseau,
ou seja, observa-se um espasmo carpal (flexão do punho e articulações
metacarpo-falangeanas, extensão das interfalanges distais e proximais, adução
do polegar e dos dedos) também conhecido como sinal da mão de parteiro.
Sinal de Chvostek: desencadeado pela percussão do nervo facial (parte
superior da bochecha, abaixo do osso zigomático e à frente da orelha). Quando
a manobra é positiva, a percussão desencadeia a contração dos músculos
faciais (sinal de Chvostek).

A rigor, os sinais de Trousseau e Chvostek evidenciam quadros de hipocalcemia,


uma das possíveis causas de tetania.

Convulsões:
Movimentos generalizados ou restritos a segmentos corpóreos eletivos, súbitos,
incoordenados e paroxísticos. As crises podem ser tônicas (contração m antida
com imobilização das articulações), clônicas (contrações e relaxamentos
musculares rítmicos) ou tônico-clônicas (com binação das duas anteriores que
se inicia por uma fase tônica seguida de uma fase clônica). Podem estar
presentes em alguns quadros epilépticos, no tétano, na hipoglicemia, na
intoxicação por álcool, estricnina e inseticidas, nos tumores cerebrais, na
meningite e associadas a episódios febris em crianças.

Você também pode gostar