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2.1. Introdução
O solo é um dos principais compartimentos da biosfera em termos
de reservatório biológico, além de funcionar como um importante
reservatório de água, suporte essencial do sistema agrícola e atividades
humanas. Neste capítulo serão abordados tópicos que contribuem para
uma melhor compreensão do solo, sua importância, estrutura, diversidade
biológica e os fatores determinantes dessa diversidade.
O solo é um sistema biológico dinâmico, considerado o principal
reservatório da diversidade biológica, onde podemos observar uma malha
estreita de inter-relações dos organismos presentes, sendo essa malha
essencial para a manutenção do equilíbrio ecológico, como por exemplo,
na manutenção da ciclagem de nutrientes neste ambiente bastante
complexo que apresenta peculiaridades que o tornam um sistema único
na biosfera (RAAIJMAKERS et al., 2009; BERENDSEN et al., 2012).
O solo encontra-se estruturado de maneira heterogênea e
descontínua, o que possibilita a ocorrência de micro-hábitats que irão
variar entre si em função das suas características físicas e químicas e da
disponibilidade de nutrientes, sendo essa variação também em função do
tempo e do espaço. Além disso, a formação dos micro-hábitats encontra-
se associada com a formação de agregados de solo (MOREIRA; SIQUEIRA,
2009; DUCHICELA et al., 2013). Os agregados são formados por diferentes
proporções de areia, argila e silte, que funcionam como um suporte físico
para a aderência microbiana e proporcionam condições diferenciadas de
aeração e disponibilidade de nutrientes que possibilitam a coexistência de
milhares de microrganismos, com diferenciadas habilidades metabólicas,
nessas regiões (Figura 2.1) (DUCHIELA et al., 2013).
24 Microbiologia do Solo
areia
silte
argila
matéria orgânica
água
fungos
bactérias
arquéias
2.3.1. Atmosfera
A atmosfera do solo compreende a porcentagem, composição e
disponibilização dos gases que serão utilizados pelo metabolismo microbiano,
sendo o principal gás o oxigênio. A taxa de difusão e a concentração de
oxigênio no solo são variáveis, possibilitando a ocorrência de diferentes
ambientes (anaeróbio, microaeróbio e anaeróbio) (CARDOSO et al., 1992).
Os ambientes aeróbios (com até 20% de O2) apresentam elevadas
concentrações de oxigênio, propiciando a ocorrência de metabolismos
oxidativos, onde o oxigênio é utilizado como aceptor final de elétrons
na respiração. Quando a concentração de oxigênio se encontra muito
baixa, os ambientes são descritos como microaerofílicos. Organismos que
se multiplicam nessas condições são capazes de utilizar oxigênio e outros
elementos como aceptores finais de elétrons. Os ambientes anaeróbicos
são caracterizados pela ausência do oxigênio, onde serão utilizados outros
elementos como aceptores finais de elétrons em seu metabolismo. Os solos
alagados (cultivo de arroz, manguezais, entre outros) são solos tipicamente
anaeróbios. Porém, é possível observar a ocorrência da anaerobiose nos
diferentes microhábitats do solo, mesmo naqueles predominantemente
aeróbios, devido à ocorrência da intensa atividade respiratória dos
organismos aeróbios ou em regiões que apresentam alta viscosidade. Nessas
condições, além da ausência de oxigênio, frequentemente a atmosfera
do solo possui valores muito elevados de gás carbônico, podendo chegar
até por volta de 5%, centenas de vezes mais do que na atmosfera terrestre
externa (0,04%). Os procariotos são os únicos organismos que conseguem
sobreviver em condições de anaerobiose (MADIGAN et al., 2010; CARDOSO
et al.,1992).
O solo como um ambiente para a vida microbiana 27
2.3.2. Temperatura
A atividade das células dos organismos é governada pelas leis da
termodinâmica, onde a temperatura influencia diretamente (acelerando
ou retardando) a ocorrência dos processos metabólicos microbianos
(MOREIRA; SIQUEIRA, 2009).
Cada microrganismo possui um valor ótimo de temperatura para
a sua multiplicação e desenvolvimento, sendo esse valor dependente
do aporte enzimático apresentado pelo organismo. Dependendo da
faixa ótima de temperatura para o seu crescimento e atividade, os
microrganismos podem ser divididos em psicrófilos (menos que 20ºC);
mesófilos (entre 20 e 40ºC) e termófilos (mais que 40ºC). Apenas alguns
procariotos
Figura crescem
2.2. Classificação em temperaturas
dos microrganismos do solo deacima dea temperatura
acordo com 60ºC, que são
ótima paraos
multiplicação celular. (Figura 2.2) (MADIGAN et al., 2010).
hipertermófilos
Temperatura (°C)
-20 -10 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
psicrófilos
mesófilos
termófilos
hipertermófilos
2.3.3. Água
Elemento essencial para a ocorrência e a manutenção da vida do
planeta, a água é o principal solvente da natureza, no qual se encontra
diluída grande parte dos nutrientes e onde ocorrem as principais reações
bioquímicas no meio intracelular. Nos solos, a água pode ser encontrada
em três formas distintas: água higroscópica, que se encontra aderida às
partículas do solo, água capilar, que corresponde ao reservatório contido
nos microporos e água livre ou gravitacional, que escoa pelos macroporos,
sendo que, na capacidade de campo, a água é retida por uma força de
1/3 de atmosfera (MOREIRA; SIQUEIRA, 2009).
A água influencia diretamente a atividade biológica dos solos,
participando na difusão de nutrientes, na motilidade microbiana,
influenciando a determinação dos valores de pH e do potencial redox,
além de estar relacionada com a temperatura e a aeração.
As variações sazonais de temperatura e umidade implicam na
ocorrência de ciclos de seca/umidade (em alguns casos congelamento
e aquecimento) que ajudam a liberar substratos das superfícies das argilas
ou de células mortas, estimulando a atividade metabólica dos solos
(MOREIRA; SIQUEIRA, 2009).
2.3.4. pH
O pH é um dos atributos físico-químicos do solo mais descritos por
influenciar as diferentes comunidades microbianas que habitam os solos. Os
mecanismos exatos de como esse parâmetro influencia as comunidades
microbianas ainda não são bem descritos, mas sabe-se que os valores
de pH afetam a solubilidade dos minerais no solo, afetando, portanto,
a disponibilidade de nutrientes. Ferro, manganês e zinco são menos
O solo como um ambiente para a vida microbiana 29
Ferro, Cobre
Manganês e Zinco
Molibdênio
e Cloro
Fósforo
Nitrogênio,
Enxofre
e Boro
Potássio, Cálcio
e Magnésio
Alumínio
Referências
ALEXANDER, M. Introduction to soil microbiology. 2nd ed. New York, John
Wiley, 1977. 472 p.