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Capítulo 7

Fontes de força eletromotriz e receptores


elétricos

7.1 Fontes de força eletromotriz: geradores elétricos


Uma fonte de força eletromotriz (ou fonte de fem) é todo dispositivo que fornece
energia elétrica ao circuito que ela alimenta. A energia elétrica gerada por uma
fonte de fem é resultado da conversão (transformação) de alguma modalidade de
energia não elétrica disponível no dispositivo.
Por exemplo, a bateria de um automóvel é um exemplo de uma fonte de fem e a energia
elétrica gerada por ela é proveniente da conversão da energia química resultante das reações
eletroquímicas que ocorrem no seu interior. As fontes de fem, por gerarem energia elétrica,
são muitas vezes chamadas simplesmente de geradores elétricos.
Podemos estabelecer uma classicação para as fontes de fem baseada na modalidade de
energia que dispõem para produzir energia elétrica. Vamos citar quatro tipos de fontes de
fem.
(a) Geradores mecânicos
Os geradores mecânicos são todos aqueles que convertem energia mecânica em energia
elétrica. Por exemplo, os geradores elétricos das usinas hidrelétricas. Nas usinas hidrelétricas,
a água é represada e cai de grandes alturas. A queda das águas ocorre pela ação
gravitacional e, nesse movimento, as águas que possuem energia cinética atingem grandes
velocidades. Na base, as águas encontram as turbinas, que irão girar, graças à energia
das águas. Essas turbinas, por sua vez, estão conectadas a grandes geradores elétricos
que produzem a energia elétrica que é distribuída através das torres de transmissão.
(b) Geradores químicos
Os geradores químicos são todos aqueles que convertem energia química em energia
elétrica. Por exemplo, as pilhas e as baterias. A energia química é a energia gerada
em reações químicas. Tais geradores são capazes de armazenar os elementos necessários
para a reação e a ativação ocorre, em geral, a partir de algum contato externo como a
sua ligação em algum circuito.

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(c) Geradores ópticos (ou luminosos)


Os geradores ópticos são todos aqueles que convertem energia luminosa em energia
elétrica. Por exemplo, as células fotovoltaicas (ou células solares). Tais dispositivos
utilizam um semicondutor ou algum material semelhante para captar a luz solar e
converter em energia elétrica. Em geral, o material utilizado é o silício que possui
um alto valor de mercado tornando cara a fabricação desse tipo de gerador.
(d) Geradores térmicos
Os geradores térmicos são todos aqueles que convertem energia térmica diretamente
em energia elétrica. Essa conversão está diretamente relacionada a um fenômeno físico
chamado efeito Peltier-Seebeck (ou efeito termoelétrico) que é a geração de eletricidade
a partir da diferença (gradiente) de temperaturas e vice-versa. O efeito Peltier-Seebeck
mostra que a junção de dois metais distintos submetidos a uma diferença de temperatura
faz aparecer um corrente através dos condutores e o inverso também ocorre, ou seja,
fazendo passar uma corrente através de uma junção de dois metais distintos aparece um
uxo de calor de um metal para o outro. Esse é o princípio dos termopares que são
sensores de temperatura.
No Capítulo 6, quando discutimos o conceito de potência elétrica, vimos que quando uma
corrente elétrica atravessa uma bateria (e isso ocorre sempre no sentido do pólo negativo (−)
para o pólo positivo (+) que é o sentido de aumento do potencial elétrico), os elementos de
carga1 dq da corrente ganham energia elétrica. Vamos retomar essa discussão para xar o
mecanismo de transferência de energia elétrica de uma fonte de fem para a corrente elétrica
que passa por ela. Para isto, vamos considerar um circuito simples composto por uma pilha
alimentando uma lâmpada, veja Figura 7.1.

Figura 7.1: Circuito simples composto por uma pilha alimentando uma lâmpada.

1 Deve-se relembrar que a adoção do sentido convencional da corrente elétrica nos permite tratá-la como
um uxo ordenado de cargas positivas independentemente do sinal real das cargas das partículas que formam
a corrente. Logo, dq > 0.

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A gura mostra o que ocorre no interior da pilha, numa escala ampliada, durante a passagem
de uma corrente elétrica de intensidade i. O campo elétrico E ⃗ estabelecido no interior da
pilha aponta no sentido do pólo positivo (+) para o pólo negativo (−) atuando, assim, contra
o sentido de passagem da corrente elétrica. Neste cenário, a força elétrica F⃗ = dq · E
⃗ atuante
em cada elemento de carga dq da corrente elétrica realiza trabalho resistente (negativo),

dW = dq · (V− − V+ ) = −dq · V < 0.

Por outro lado, no interior da pilha, os elementos de carga dq também estão submetidos à
ação de uma força F⃗ne de natureza não eletrostática que atua no sentido oposto ao sentido
da força elétrica promovendo e possibilitando o deslocamento dos elementos de carga dq
da corrente elétrica para o pólo positivo (+) e, portanto, permitindo o retorno da corrente
elétrica para o circuito. Dessa forma, F⃗ne realiza um trabalho motor (positivo),

dWne = −dW = dq · V > 0

que é assimilado por cada elemento de carga dq da corrente elétrica como um ganho de
energia elétrica. Essa energia elétrica que a corrente ganhou é então transportada ao longo
do circuito e distribuída para os dispositivos receptores de energia.

7.1.1 Elementos que caracterizam uma fonte de fem


Duas grandezas são utilizadas para caracterizar uma fonte de fem: a sua força eletromotriz
(ε) e a sua resistência interna (r).

(a) Força eletromotriz (ε)

Embora essa grandeza receba o nome de força eletromotriz, ela não corresponde a uma força
na concepção dinâmica2 da palavra.
A força eletromotriz (ε) de uma fonte de fem é o valor da diferença de potencial
elétrico (ddp) entre os seus pólos, + e −, quando ela não está em operação, ou seja,
quando ela não está fornecendo energia elétrica para algum circuito. Dizemos, em
tal situação, que a fonte de fem está em aberto.
Unidade SI: [ε] = V
Por esta razão, muitas vezes a força eletromotriz é chamada de tensão em aberto ou tensão em
vazio da fonte de fem. Por exemplo, considere uma pilha comum pequena AA. Se medirmos,
com auxílio de um voltímetro, a ddp entre os pólos da pilha em aberto encontraremos um
valor igual à 1,5 V que corresponde a sua força eletromotriz. Esse valor se encontra indicado
no corpo da pilha comum.
Qual o signicado físico da força eletromotriz de uma fonte de fem? Para estabelecer
a interpretação física da força eletromotriz devemos primeiramente recordar que a unidade
2 Deacordo com a dinâmica, uma força é uma interação entre dois corpos ou de um corpo com o seu
ambiente. Esse agente físico é capaz de deformar um corpo ou de modicar o seu estado de movimento.

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volt (V) signica joule por coulomb (J/C) e, portanto, corresponde a uma medida de energia
elétrica por unidade de carga elétrica. Dessa maneira, como a função de uma fonte de fem
é produzir energia elétrica para alimentar um circuito, então podemos dizer que:

A força eletromotriz (ε) de uma fonte de fem informa a energia elétrica total gerada
pela fonte para cada unidade de carga que a atravessa. Deve-se ressaltar que essa
energia elétrica total é gerada a partir da conversão (transformação) de uma alguma
modalidade de energia não elétrica disponível na fonte.

Assim, quando dizemos que a força eletromotriz de uma pilha é ε = 1, 5 V signica que uma
quantidade igual à 1,5 J de energia elétrica é gerada para cada 1 C de carga que atravessa
a pilha. Essa quantidade de energia é proveniente da transformação de 1,5 J de energia
química resultante das reações químicas que ocorrem no interior da pilha.

(b) Resistência interna (r)

A resistência interna da fonte de fem está associada com a oposição que os materiais de que
ela é composta oferece à passagem da corrente elétrica. Por se tratar de uma resistência
elétrica, sua unidade de medida no SI é o ohm (Ω). A existência de uma resistência interna
revela que simplesmente pelo fato da corrente elétrica atravessar uma fonte de fem, uma
parcela da energia elétrica que ela ganhou foi dissipada inutilmente na forma de calor (efeito
Joule) dentro da fonte levando ao aquecimento do dispositivo.
Para exemplicar a dissipação resistiva que ocorre no interior de uma fonte de fem devida
à resistência interna, vamos supor que uma fonte seja percorrida por uma corrente elétrica
de intensidade i tal que o produto r · i = 0, 4 V. Isso signica que uma parcela igual à 0,4 J
da energia elétrica total gerada para 1 C de carga que passa pela pilha é dissipada na forma
de calor aquecendo inutilmente a pilha.
Dizemos que uma fonte de fem é ideal quando sua resistência interna é nula (r = 0).
Claro que, na realidade, ainda não existem fontes ideais pois mesmo utilizando os melhores
materiais condutores para fabricar uma fonte de fem, ainda sim existiria oposição à passagem
de corrente elétrica. Entretanto, a ideia de fonte de fem ideal pode ser utilizada como um
modo de aproximar o comportamento de fontes de fem reais que possuem uma resistência
interna muito baixa podendo, assim, ser desprezada em determinadas situações de operação.
Por exemplo, em ótimas condições, a resistência interna de uma bateria de automóvel (ε = 12
V) é menor do que 0,01 Ω de modo que podemos tratá-la aproximadamente como uma
bateria ideal. O mesmo ocorre para as pilhas comuns (ε = 1, 5 V) que, em ótimas condições,
possuem resistência interna da ordem de 0,1 Ω e, portanto, podem ser aproximadas como
ideais.

7.1.2 Representação gráca de uma fonte de fem num esquema de


circuito elétrico
Para representar uma fonte de fem (ε, r) num diagrama de circuito elétrico utilizamos algum
dos símbolos mostrados na Figura 7.2. Observando a gura, notamos que a informação

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sobre a força eletromotriz ε da fonte é colocada próxima a dois traços paralelos de tamanhos
diferentes que representam os pólos da fonte. O traço maior representa o pólo positivo
(+) de maior potencial elétrico e o traço menor representa o pólo negativo (−) de menor
potencial elétrico. Os pontos A e B representam os terminais da fonte de fem que estão
conectados diretamente aos pólos positivo (+) e negativo (−), respectivamente. Por outro
lado, a informação sobre a resistência interna r é colocada ao lado do símbolo de um resistor
que pode ser posicionado perto do traço menor que representa o pólo negativo ou perto do
traço maior que representa o pólo positivo. Devemos salientar que, embora a resistência
interna seja representada por um símbolo de resistor, evidentemente ela não se trata de
resistor colocado dentro da fonte de fem pelo fabricante e sim a resistência própria dos
materiais constitutivos do dispositivo.

Figura 7.2: Representação de uma fonte de fem (ε, r) num esquema de circuito elétrico.

7.1.3 Balanço energético por unidade de carga numa fonte de fem:


a equação da fonte de fem
Vimos anteriormente que a força eletromotriz ε indica a energia elétrica total gerada pela
fonte de fem para cada unidade de carga que a atravessa. Entretanto, devido à resistência
interna r da fonte, para cada unidade de carga, uma parcela dessa energia elétrica total
é dissipada inutilmente na forma de calor (efeito Joule). Desse modo, devido à dissipação
resistiva, a ddp efetivamente lançada pela fonte de fem ao circuito que ela alimenta é um
valor V < ε.

Exemplo 35 Considere o exemplo de uma pilha comum de força eletromotriz ε = 1, 5 V e


resistência interna r = 0, 1 Ω sendo atravessada por uma corrente de intensidade i = 2, 0
A. Quanta energia elétrica por unidade de carga (V) está sendo efetivamente lançada para
o circuito?
O valor ε = 1, 5 V indica que a fonte produz 1,5 J de energia elétrica por coulomb de
carga que passa por ela e o valor r · i = 0, 2 V signica que uma parcela de 0,2 J da energia
elétrica produzida pela fonte por coulomb de carga que atravessa a fonte é dissipada na forma

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de calor pela resistência interna. Desse modo, o circuito alimentado por essa pilha recebe
1, 5 J − 0, 2 J = 1, 3 J de energia elétrica por coulomb de carga que passar por ele, ou seja,
o circuito recebe uma ddp V = 1, 3 V.

A discussão acima pode ser facilmente generalizada. Da conservação da energia, segue


que a energia elétrica efetivamente lançada para o circuito por unidade de carga, que
chamaremos de V , será a diferença entre a energia elétrica total gerada pela fonte por
unidade de carga (ε) e a energia elétrica dissipada na forma de calor por unidade de carga
(r · i, com i sendo a intensidade da corrente elétrica que atravessa a fonte de fem), ou seja,

V =ε−r·i

A equação acima é chamada equação de balanço de energia elétrica por unidade de carga de
uma fonte de fem ou simplesmente equação de uma fonte de fem. A Figura 7.3 mostra um
esquema que ilustra o balanço de energia elétrica por unidade de carga que ocorre numa
fonte de fem. O retângulo representa a fonte de fem ε sendo atravessada por uma corrente
de intensidade i, a echa ondulada representa a dissipação resistiva r · i (efeito Joule) e a
echa retilínea indica a ddp V efetivamente lançada para o circuito.

Figura 7.3: Diagrama de balanço de energia elétrica por unidade de carga numa fonte de
fem (ε, r).

Exemplo 36 O circuito a seguir mostra uma bateria de força eletromotriz ε = 12 V e


resistência interna r = 2, 0 Ω alimentando um resistor externo de resistência R = 8, 0 Ω.
Determine a intensidade da corrente elétrica que ui através do circuito proposto.

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Para determinar a intensidade da corrente elétrica que ui através do circuito devemos
notar que, no circuito proposto, a ddp lançada pela bateria (Vbateria ) corresponde à ddp
recebida pelo resistor (Vresistor ), ou seja,

Vbateria = Vresistor .

Levando em conta que a corrente elétrica que atravessa a fonte de fem (para buscar energia
elétrica) é a mesma corrente que atravessa o resistor (fornecendo energia elétrica para ser
integralmente dissipada na forma de calor) podemos escrever Vbateria = ε−r·i e Vresistor = R·i
de modo que a igualdade Vbateria = Vresistor ca

ε
ε−r·i=R·i ⇒ ε = (R + r) · i ⇒ i=
R+r
Substituindo os valores ε = 12 V, r = 2, 0 Ω e R = 8, 0 Ω obtemos

12 V
i= ∴ i = 1, 2 A.
8, 0 Ω + 2, 0 Ω
O Exemplo 36 mostra que o valor da intensidade i da corrente elétrica que atravessa uma
fonte de fem (ε, r) para buscar energia depende do circuito que está sendo alimentado por
ela. Note que se variarmos o valor da resistência R do resistor externo teremos diferentes
valores de i.

7.1.4 Curva característica de uma fonte de fem


Para uma fonte de fem (ε, r), notamos através da equação da fonte que a ddp V efetivamente
lançada pela fonte ao circuito que alimenta é uma função da intensidade i da corrente elétrica
que a atravessa, ou seja, V = V (i) = ε − r · i. Podemos representar gracamente essa função
V = V (i) no plano V × i e o gráco gerado recebe o nome de curva característica da fonte
de fem.
Uma análise da relação funcional V (i) = ε − r · i mostra que:
ˆ V é uma função linear em i e, portanto, o gráco é uma reta
3;

3 Podemos estabelecer a correspondência de V = ε − r · i com uma equação de reta da forma y = b + a · x

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ˆ −r é o coeciente angular (inclinação) da reta de modo que, por ser um valor negativo,
temos uma reta decrescente.

ˆ Dois pontos dessa reta decrescente possuem signicados físicos relevantes.

 Fonte em aberto (i = 0): Nesta situação, temos i = 0, ou seja, a fonte


não está sendo atravessada por corrente elétrica. Isso signica que a fonte está
desconectada, ou seja, não está alimentando qualquer circuito. Dizemos, em tal
condição, que a fonte de fem está em aberto. Note, a partir da equação da fonte
de fem que,
V (0) = ε − r · 0 ⇒ V (0) = ε.
Tal resultado é esperado já que, como discutido anteriormente, quando medimos a
ddp entre os pólos de uma fonte de fem desconectada de um circuito encontramos
o valor de sua força eletromotriz ε o que justica as denominações tensão em
aberto ou tensão em vazio para a fem. Desse modo, o ponto (i, V ) = (0, ε)
pertencente à curva característica da fonte de fem corresponde ao ponto da fonte
em aberto.

 Fonte em curto-circuito (V = 0): Quando conectamos diretamente os dois


pólos (+ e −) da fonte de fem utilizando, para isto, um o condutor de resistência
desprezível (Ro ≈ 0) fazemos com que os pólos adquiram o mesmo potencial
elétrico (V+ = V− ) de modo que V = V+ − V− = 0. Quando isso ocorre, toda
a força eletromotriz gerada pela fonte ca aplicada em sua resistência interna e
uma corrente elétrica ui através desse sistema. Essa corrente recebe o nome de
corrente de curto-circuito da fonte. A Figura 7.4 mostra o esquema de uma fonte
de fem em curto-circuito.

Figura 7.4: Fonte de fem (ε, r) em curto-circuito.

A partir da equação da fonte de fem podemos obter a intensidade icc da corrente


de curto-circuito. Para isto, basta fazer V (icc ) = 0,
ε
V (icc ) = ε − r · icc = 0 ⇒ ε − r · icc = 0 ⇒ icc = .
r
Desse modo, o ponto (i, V ) = rε , 0 pertencente à curva característica da fonte


de fem corresponde ao ponto da fonte em curto-circuito.


onde y → V , x → i, ε → b e −r → a.

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Levando em conta a análise feita anteriormente, a curva característica de uma fonte de


fem é mostrada na Figura 7.5.

Figura 7.5: Curva característica de uma fonte de fem (ε, r).

Exemplo 37 A gura a seguir mostra a curva característica de uma bateria. Determine (a)
a sua força eletromotriz, (b) a sua resistência interna, (c) a equação da bateria V = V (i) e
(d) a intensidade da corrente elétrica que atravessa a bateria quando a ddp lançada por ela
ela for 50 V.

(a) Da curva característica, é imediato extrair, a partir do ponto associado à bateria em


aberto, que sua força eletromotriz é
ε = 100 V.
(b) Da curva característica, identicamos, a partir do ponto associado à bateria em curto-
ε
circuito, que icc = 20 A. Levando em conta que icc = r e que ε = 100 V, facilmente obtemos
ε 100 V
que r = i = 20 A e, portanto,
cc
r = 5, 0 Ω.
(c) Uma vez identicadas as grandezas que caracterizam a bateria, ε = 100 V e r = 5, 0 Ω,
podemos escrever a equação da bateria V (i) = ε − r · i como

V (i) = 100 − 5, 0 · i.

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(e) Utilizando a equação da bateria, podemos obter a intensidade a corrente i que atravessa
a bateria quando a ddp lançada por ela for V (i) = 50 V. Fazendo,

50 = 100 − 5, 0 · i ⇒ i = 10 A.

7.1.5 Potências elétricas de uma fonte de fem


Em uma fonte de fem, três processos energéticos ocorrem. O primeiro processo é a produção
de energia elétrica a partir de uma modalidade de energia não elétrica disponível na fonte.
O segundo processo é a dissipação de uma parcela da energia elétrica na forma de calor por
causa da resistência interna. O terceiro processo é lançamento efetivo da parcela restante da
energia elétrica para o circuito que está sendo alimentado. Para cada um desses processos
energéticos podemos associar uma potência elétrica. Essas potências podem ser obtidas
multiplicando ambos os membros da equação da fonte de fem pela intensidade i da corrente
que atravessa a fonte. Assim,

V = ε − r · i (×i) ⇒ V · i = ε · i − r · i2 .

Da equação resultante acima identicamos:


ˆ Potência Total Gerada (PotTOT )
No SI, signica quantos joules de algum tipo de energia não elétrica (mecânica, química,
luminosa, térmica) são convertidos em energia elétrica, em cada segundo. Está relacionada
com a força eletromotriz ε da fonte,

PotTOT ≡ ε · i

ˆ Potência Útil (PotU )


No SI, signica quantos joules de energia elétrica a fonte de fem efetivamente lança
para o circuito que está alimentando, em cada segundo. Está relacionada com a ddp
V efetivamente lançada pela fonte ao circuito alimentado,

PotU ≡ V · i

ˆ Potência Dissipada (PotD )


No SI, signica quantos joules de energia elétrica são dissipados inutilmente na forma
de calor (efeito Joule) dentro da fonte de fem, em cada segundo. Está relacionada com
a resistência interna r da fonte,

PotD ≡ r · i2

Note que as potências de uma fonte de fem satisfazem um princípio conservativo que segue
como consequência imediata do princípio da conservação da energia,

V · i = ε · i − r · i2 ⇒ PotU = PotTOT − PotD

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Para uma fonte de fem, podemos denir a partir das potências útil e total gerada,
uma grandeza que recebe o nome de rendimento ou eciência (η) da fonte. Essa grandeza
adimensional informa qual a fração da potência elétrica total gerada pela fonte é efetivamente
lançada como potência elétrica útil para o circuito que está sendo alimentado,

PotU V
ηfonte = = .
PotTOT ε

O resultado do rendimento ou eciência de uma fonte de fem é expressado em forma


percentual (%).

Exemplo 38 Considere o circuito composto por uma fonte de fem ε = 12 V e resistência


interna r = 2, 0 Ω alimentando um resistor externo de resistência R = 8, 0 Ω. Calcule (a)
as potências da fonte de fem, (b) o rendimento da fonte de fem e (c) a potência dissipada
pelo resistor externo.

(a) As potências da fonte são

PotTOT = ε · i = (12 V ) · (1, 2 A) = 14, 4 W


PotD = r · i2 = (2, 0 Ω) · (1, 2 A)2 = 2, 88 W
PotU = V · i = PotTOT − PotD = 11, 52 W

(b) O rendimento (eciência) da fonte é

PotU 11, 52 W
ηfonte = = = 0, 80 ⇒ ηfonte = 80%
PotTOT 14, 4 W

(c) A potência dissipada pelo resistor externo é dada por

PotD (R) = R · i2 = (8, 0 Ω) · (1, 2 A)2 ⇒ PotD (R) = 11, 52 W.

Podemos representar a distribuição da potências elétricas no circuito do Exemplo 38


construindo um uxograma de potências elétricas, veja Figura 7.6. Neste uxograma representamos

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os dispositivos que formam o circuito (no exemplo, a fonte de fem e o resistor externo) através
de retângulos. No interior do retângulo associado à fonte de fem indicamos a potência elétrica
total gerada pelo dispositivo (14,4 W). A seta ondulada apontando para fora do retângulo
representa a potência dissipada na forma de calor pela sua resistência interna (2,88 W). A
seta retilínea que parte do retângulo associado à fonte de fem e chega no retângulo associado
ao resistor externo indica a potência útil efetivamente lançada pela fonte ao resistor que está
sendo alimentado (11,52 W). No interior do retângulo associado ao resistor externo indicamos
a potência recebida. Uma vez que o resistor dissipa toda a potência recebida na forma de
calor, a seta ondulada apontando para fora do retângulo associado ao resistor externo indica
a potência dissipada por ele (11,52 W).

Figura 7.6: Fluxograma da distribuição de potências elétricas no circuito do Exemplo 38.

7.1.6 Transferência de potência útil


Vamos nos concentrar aqui em uma discussão um pouco mais detalhada sobre a potência
útil (PotU ) lançada por uma fonte de fem. Vimos que a potência útil de uma fonte de fem
é dada por PotU = V · i com V sendo a ddp lançada pela fonte de fem e i a intensidade da
corrente elétrica que a atravessa. Levando em conta que V = V (i) = ε − r · i então podemos
escrever
PotU = V (i) · i = (ε − r · i) · i ⇒ PotU (i) = ε · i − r · i2
evidenciando que a PotU é uma função quadrática da intensidade i da corrente elétrica que
atravessa a fonte de fem cuja representação gráca é um arco de parábola com concavidade
negativa (já que o coeciente −r da função é negativo). Antes de apresentar o gráco vamos
extrair algumas informações importantes a partir dessa expressão e explorar os signicados
físicos.

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ˆ Condições em que não ocorre transferência de potência útil:


Para responder esta questão basta obter as raízes da função PotU (i), isto é, determinar
para quais intensidades i de corrente devemos ter

PotU (i) = 0.

Mais explicitamente, temos que resolver equação quadrática


(
i=0
ε · i − r · i2 = 0 ⇒ i · (ε − r · i) = 0 ⇒ ε
i = = icc
r
As raízes obtidas acima mostram que a transferência de potência útil não ocorre em
duas situações. A primeira raiz, i = 0, indica que não há transferência de potência útil
quando a fonte está em aberto. Tal resultado é óbvio já que, nesta situação, a fonte
não está alimentando qualquer circuito, ou seja, ela não está em operação. A segunda
raiz, i = icc , indica que também não há transferência de potência útil quando a fonte
está em curto-circuito. No curto-circuito, a potência elétrica total gerada pela fonte é
completamente dissipada por sua resistência interna. Gracamente, as raízes i = 0 e
i = icc identicam os pontos nos quais o arco de parábola da função PotU (i) cruza o
eixo da intensidade de corrente i, veja Figura 7.7.

Uma fonte de fem não transfere potência útil quando ela está em aberto (i = 0) ou
quando ela está em curto-circuito (i = icc ).

ˆ Máxima transferência de potência útil:


Agora vamos identicar quando a fonte transfere a máxima potência útil possível.
Matematicamente, isso signica determinar qual o valor da intensidade i da corrente
elétrica que deve atravessar a fonte de fem para que a potência útil lançada PotU (i)
assuma o valor máximo. Na Figura 7.7 notamos que o vértice do arco de parábola
corresponde ao ponto de máximo da PotU (i). Para identicar as coordenadas do vértice
vamos utilizar o Cálculo Diferencial. Note que se traçarmos uma reta tangente ao
vértice do arco de parábola, a reta tangente será horizontal e, portanto, de inclinação
nula. Como consequência imediata, a primeira derivada dPotdiU (i) neste vértice, que
corresponde à inclinação da reta tangente, deve ser zero. Mais explicitamente,
dPotU (i) ε icc
=0 ⇒ ε − 2r · i = 0 ⇒ i= ⇒ i=
di 2r 2
O valor da máxima potência útil, PotU,máx , lançada pela fonte de fem pode ser facilmente
calculada,
ε2
 
icc ε ε  ε 2
PotU,máx = PotU = PotU =ε· −r· ⇒ PotU,máx =
2 2r 2r 2r 4r

Assim, concluímos que uma fonte transfere a máxima potência útil possível, PotU,máx =

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, quando ela é percorrida por uma corrente elétrica de intensidade i = i2cc , ou seja,
ε2
4r
uma intensidade igual à metade da intensidade da corrente de curto-circuito. Quando
a fonte está operando em máxima transferência de potência útil dizemos que a fonte
de fem e o circuito que ela está alimentando estão casados .

Uma fonte transfere a máxima potência útil possível quando ela é percorrida por
uma intensidade i de corrente igual à metade da intensidade da corrente de curto-
i ε
circuito, ou seja, i = cc = . Neste estado de operação, a máxima potência útil
2 2r
ε2
lançada vale PotU,máx = .
4r

Figura 7.7: Gráco da potência útil PotU lançada por uma fonte de fem como função da
intensidade i da corrente elétrica que a atravessa.

Exemplo 39 A gura a seguir mostra uma fonte de fem ε e resistência interna r alimentando
um reostato (resistor de resistência variável). Determine o valor da resistência R do reostato
para que a fonte de fem esteja operando em máxima transferência de potência útil.

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Como visto anteriormente, para que a fonte esteja operando em máxima transferência
icc
de potência útil, a intensidade da corrente que deve atravessá-la deve ser i = 2 = 2rε . Uma
vez que a ddp lançada pela fonte, Vfonte , é igual à ddp recebida pelo reostato, Vreostato , então

ε ε ε ε
Vfonte = Vreostato ⇒ ε−r·i = R·i ⇒ ε−r· = R· ⇒ = R· ∴ R=r
2r 2r 2 2r
Concluímos que a condição para que a fonte transra a máxima potência útil para o reostato
é que a resistência do reostato seja igual à resistência interna r da fonte de fem.

Para nalizar, vamos determinar o rendimento (ou eciência) da fonte de fem quando
ela está operando em máxima transferência de potência útil. Em tal situação, levando em
conta que i = i2cc = 2rε , a potência total gerada pela fonte é

ε ε2
PotTOT = ε · i = ε · ⇒ PotTOT =
2r 2r
de modo que
ε2
PotU,máx 4r ε2 2r
η= = ε2
= · ⇒ η = 0, 50 ⇒ η = 50%.
PotTOT 2r
4r ε2

Note que o resultado acima mostra que uma fonte operando em máxima transferência
de potência útil possui um rendimento razoável. Neste modo de operação perde-se uma
quantidade de potência igual à que é transferida. É por esta razão que a condição de
máxima transferência de potência útil é raramente imposta a sistemas de grande potência
uma vez que as perdas são consideradas muito altas.

Uma fonte de fem operando em máxima transferência de potência útil apresenta um


rendimento
η = 50%
sendo considerado razoável já que uma mesma quantidade de potência é dissipada
na forma de calor.

7.2 Receptores elétricos

Um receptor elétrico é todo dispositivo que ao receber energia elétrica de alguma


fonte de fem transforma uma parcela da energia elétrica recebida em uma modalidade
de energia útil não térmica e a outra parcela é dissipada na forma de calor devido à
resistência interna do receptor.

Um motor elétrico é um exemplo de receptor elétrico. Ao receber a energia elétrica de


alguma fonte de fem, uma parte da energia é convertida em energia mecânica. A outra
parcela da energia é inevitavelmente dissipada na forma de calor por causa da resistência
interna do motor. Podemos também citar como exemplo as baterias de automóveis. Por

162
Capítulo 7  Fontes de força eletromotriz e receptores elétricos Prof. Dr. Eduardo T. Matsushita

serem recarregáveis, as baterias de automóveis podem atuar como receptores elétricos. No


processo de recarga feita por um alternador (dispositivo que transforma energia mecânica
em energia elétrica), uma bateria de automóvel recebe energia elétrica e a armazena na
forma de energia química. Nesse contexto, dizemos que as baterias de automóveis são fontes
reversíveis.

7.2.1 Elementos que caracterizam um receptor elétrico


Duas grandezas são utilizadas para caracteriza um receptor elétrico: a sua força contraeletromotriz
(fcem) (ε′ ) e a sua resistência interna (r).

(a) Força contraeletromotriz (ε′ )

A força contraeletromotriz (ε′ ), abreviada como fcem, de um receptor elétrico


informa qual parcela da energia elétrica total recebida é transformada em energia
útil (não térmica) para cada unidade de carga que passa pelo receptor.
Unidade SI: [ε′ ] = V

Por exemplo, quando dizemos que um pequeno motor possui uma força contraeletromotriz
ε′ = 0, 9 V signica que uma energia elétrica de 0,9 J é convertida em uma modalidade útil
de energia não térmica (no caso do pequeno motor, energia mecânica) para cada 1 C de
carga que passa pelo motor.
A força contraeletromotriz ε′ pode ou não ser constante. Por exemplo, nos motores
elétricos (mesmo os de corrente contínua), a fcem depende da frequência de rotação do
motor que aumenta quando a energia elétrica recebida pelo motor (por unidade de carga)
aumenta. Nessas condições, a fcem de tais motores não é constante. Por outro lado, no caso
de uma bateria de automóvel em processo de carga (fonte reversível), a fcem é constante.

(b) Resistência interna (r)

A resistência interna (r) de um receptor elétrico está associada com a oposição que os
materiais constitutivos do dispositivo oferecem à passagem de corrente elétrica. No SI, a
unidade de resistência interna é o ohm (Ω). A existência de uma resistência interna implica
que uma parcela da energia elétrica recebida pelo receptor é inevitavelmente dissipada na
forma de calor levando ao aquecimento do dispositivo. Por exemplo, se o pequeno motor é
percorrido por uma intensidade i de corrente elétrica tal que r′ · i = 0, 4 V, isso signica que
uma parcela igual a 0,4 J da energia elétrica total recebida pelo motor, para cada 1 C de
carga que passa por ele, é dissipada na forma de calor, aquecendo inutilmente o motor.
Um receptor é dito ideal quando sua resistência interna é nula (r′ = 0). Como já discutido
anteriormente, a idealidade de um dispositivo, na realidade, é apenas um modo de aproximar
o comportamento do dispositivo que possui uma resistência interna muito baixa podendo,
dessa maneira, ser desprezada em determinadas situações de operação.

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7.2.2 Representação gráca de um receptor elétrico num esquema


de circuito elétrico
Para representar um receptor (ε′ , r′ ) num diagrama de circuito utilizamos a mesma representação
de uma fonte de fem, veja Figura 7.8.

Figura 7.8: Representação de um receptor elétrico (ε′ , r′ ) num esquema de circuito elétrico.

A informação sobre a força contraeletromotriz ε′ é colocada próxima a dois traços


paralelos de tamanhos diferentes que representam os terminais (+) e (−) do receptor. Os
terminais (+) e (−) não signicam pólos (+) e (−) como em uma fonte de fem. De fato, um
receptor elétrico não possui pólos positivo e negativo próprios como uma fonte de fem. Os
sinais (+) e (−) indicados num receptor servem apenas para indicar em quais pólos de uma
fonte de fem os terminais do receptor devem ser ligados para o seu correto funcionamento,
veja Figura 7.9. A Figura 7.9 mostra um circuito composto por um motorzinho (receptor
elétrico) sendo alimentado por uma pilha (fonte de fem). Observe que o terminal (+) do
motorzinho está conectado ao pólo (+) da pilha enquanto o terminal (−) está conectado
ao pólo (−). Isso deve ser feito para que a rotação do motorzinho se dê no sentido correto
estabelecido pelo fabricante.
Já a informação da resistência interna r′ do receptor é colocada ao lado do símbolo de
um resistor que pode ser posicionado próximo ao traço menor (terminal (−)) ou próximo
do traço maior (terminal (+)). Novamente, como no caso da resistência interna de uma
fonte de fem, esse símbolo não signica que a resistência interna do receptor seja um resistor
colocado dentro do dispositivo. É uma resistência própria dos materiais constitutivos do
receptor elétrico.

7.2.3 Balanço energético por unidade carga num receptor elétrico:


a equação do receptor
Um receptor elétrico sendo alimentado por alguma fonte de fem recebe uma quantidade
de energia elétrica por unidade de carga que denotaremos por V . Nesse cenário, portanto,
V corresponde a ddp recebida pelo receptor elétrico (e que foi lançada pela fonte de fem

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Figura 7.9: Circuito elétrico composto por um motorzinho sendo alimentado por uma pilha.

que o alimenta). A força contraeletromotriz ε′ do receptor indica qual parcela dessa energia
elétrica recebida será convertida numa modalidade útil não térmica de energia (por exemplo,
mecânica no caso de um motor) para cada unidade de carga que o atravessa. A outra
parcela é dissipada na forma de calor (efeito Joule) pela resistência interna r′ do receptor.
A Figura 7.10 mostra um esquema que ilustra o balanço de energia elétrica por unidade de
carga que ocorre num receptor elétrico. O retângulo representa o receptor com fcem ε′ sendo
atravessado por uma corrente de intensidade i, a echa retilínea entrando no retângulo indica
a ddp V recebida pelo receptor (enviada por alguma fonte de fem que está alimentando o
receptor), a echa ondulada representa a dissipação resistiva r′ · i (efeito Joule) e a echa
retilínea saindo do retângulo indica a energia útil por unidade de carga (ε′ ).

Figura 7.10: Diagrama de balanço de energia elétrica por unidade de carga num receptor
elétrico (ε′ , r′ ).

Da conservação da energia, segue que a energia elétrica total recebida pelo receptor por
unidade de carga (V ) é a soma da energia útil não térmica por unidade de carga (ε′ ) com
a energia elétrica dissipada na forma de calor por unidade de carga (r′ · i, com i sendo a

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intensidade da corrente elétrica que atravessa o receptor), ou seja,

V = ε′ + r ′ · i

A equação acima é chamada de equação de balanço de energia elétrica por unidade de carga
ou simplesmente equação de um receptor elétrico.
de um receptor elétrico

7.2.4 Curva característica de um receptor elétrico com fcem constante


Podemos obter para um receptor (ε′ , r′ ) a representação gráca da ddp V recebida pelo
receptor como função da intensidade i da corrente elétrica que o atravessa, ou seja, V = V (i).
O gráco da função V = V (i) no plano V ×i recebe o nome de curva característica do receptor
elétrico.
Vamos particularizar nossa discussão para o caso de receptores elétricos com fcem constante.
Uma análise da relação funcional V (i) = ε′ + r′ · i com ε′ constante mostra que:
ˆ V é uma função linear em i e, portanto, o gráco é uma reta
4;

ˆ r′ é o coeciente angular (inclinação) da reta de modo que, por ser um valor positivo,
temos uma reta crescente.

ˆ Receptor em aberto (i = 0): Nesta situação, temos i = 0, ou seja, o receptor não


está sendo atravessado por corrente elétrica e, portanto, não está sendo alimentado.
Dizemos, em tal condição, que o receptor está em aberto. Note, a partir da equação
do receptor que,
V (0) = ε′ + r′ · 0 ⇒ V (0) = ε′ .
Desse modo, o ponto (i, V ) = (0, ε′ ) pertencente à curva característica do receptor
corresponde ao ponto do receptor em aberto.
Levando em conta a análise feita anteriormente, a curva característica de um receptor
elétrico com fcem constante é mostrada na Figura 7.11. Vale salientar que a curva característica
ilustrada na Figura 7.11 só é válida para um receptor com fcem constante. Para outros
receptores, por exemplo um motor elétrico de corrente contínua, temos ε′ = ε′ (V ) e,
portanto, a curva característica não é linear, apresentando um comportamento mais complicado.

7.2.5 Potências elétricas de um receptor elétrico


Em um receptor elétrico, três processos energéticos ocorrem. O primeiro processo é a
recepção da energia elétrica proveniente da fonte de fem que está alimentando o receptor.
O segundo processo é a transformação de uma parcela da energia elétrica recebida em uma
modalidade energética útil não térmica. O terceiro processo é a dissipação da outra parcela
da energia elétrica recebida na forma de calor por causa da resistência interna. Para cada um
desses processos energéticos podemos associar uma potência elétrica. Essas potências podem
4 Podemos estabelecer a correspondência de V = ε′ + r′ · i com uma equação de reta da forma y = b + a · x
onde y → V , x → i, ε′ → b e r′ → a.

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Capítulo 7  Fontes de força eletromotriz e receptores elétricos Prof. Dr. Eduardo T. Matsushita

Figura 7.11: Curva característica de um receptor elétrico (ε′ , r′ ) com fcem ε′ constante.

ser obtidas multiplicando ambos os membros da equação de um receptor pela intensidade i


da corrente que o atravessa. Assim,

V = ε′ + r′ · i (×i) ⇒ V · i = ε′ · i + r′ · i2 .

Da equação resultante acima identicamos:

ˆ Potência Total Recebida (PotTOT )


No SI, signica quantos joules de energia elétrica o receptor recebe de uma fonte de
fem, em cada segundo. Está relacionada com a ddp V recebida pelo receptor,

PotTOT ≡ V · i

ˆ Potência Útil (PotU )


No SI, signica quantos joules de energia elétrica são transformados em energia útil
não térmica, em cada segundo. Está relacionada com a força contraeletromotriz ε′ do
receptor,
PotU ≡ ε′ · i

ˆ Potência Dissipada (PotD )


No SI, signica quantos joules de energia elétrica são dissipados inutilmente na forma
de calor (efeito Joule) dentro do receptor, em cada segundo. Está relacionada com a
resistência interna r′ do receptor,

PotD ≡ r′ · i2

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Note que as potências de um receptor elétrico satisfazem um princípio conservativo que


segue como consequência imediata do princípio da conservação da energia,

V · i = ε′ · i + r ′ · i 2 ⇒ PotTOT = PotU + PotD

Para um receptor elétrico, podemos denir a partir das potências útil e total recebida,
uma grandeza que recebe o nome de rendimento ou eciência (η) do receptor. Essa grandeza
adimensional informa qual a fração da potência elétrica total recebida pelo receptor é
efetivamente transformada em potência elétrica útil (não térmica),

PotU ε′
ηreceptor = = .
PotTOT V

O resultado do rendimento ou eciência de um receptor é expressado em forma percentual


(%).

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