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Nação, Identidade Nacional e Globalização

A ideia de nação, de identidade nacional não é algo com o qual se nasce, mas
é formado e transformado no interior da representação o que, portanto, torna o
assunto muito mais complexo do que a princípio possa parecer. Antes de existirem
como tal, as nações são “comunidades imaginadas”, como aponta Benedict Anderson
(2008); são alimentadas pelo desejo de manter um vínculo entre seus membros, de
serem distintas de outras nações e soberanas, para que sua liberdade seja garantida.

Stuart Hall (2003) pontua que a nação não possui caráter apenas político, mas
é algo que produz sentido, ou seja, “um sistema de representação cultural” em que os
indivíduos imaginam a nação do modo como ela é representada pela cultura nacional,
que, por sua vez, também é construída, alicerçada por padrões que vão influenciar e
organizar as ações dos indivíduos. Produzindo sentidos sobre a nação através das
histórias que sobre ela se conta, das memórias que ligam passado e presente gerando
um sentimento de identificação e pertença, a cultura nacional constrói, assim,
identidades (Cf. HALL, 2003). Resumindo, as culturas nacionais, ao produzir sentidos
sobre “a nação”, especificamente sentidos com os quais podemos nos identificar,
constroem identidades.

A sociedade pós-Moderna é marcada por uma forte globalização que influencia


diretamente na identidade nacional dos povos, visto que houve o surgimento de uma
fragmentação, uma certa desarticulação, e uma contínua ruptura que acabou por ser
refletida diretamente em nossa sociedade, criando não somente uma, mas sim,
identidades plurais e diferentes entre si, que se alteram e se transformam de forma
rápida, constante e permanente. Este fato mostra que se antes havia uma unificação,
uma certa homogeneidade dentro de uma cultura nacional, diretamente ligada à
concepção de nação, a globalização quebrou esta. Visto isso, nota-se que a
globalização trouxe consigo uma ideia de individualidade, e apesar de existirem
diversos tipos de identidades, quando se trata de identidades nacionais, o indivíduo
sempre será parte de algum grupo ao qual ele se identifica com mais propriedade e
se sente melhor representado. Porém, isso não significa necessariamente que é um
pertencimento a identidade nacional, já que ocorre um declínio gradual, pois o que
mais se reafirma em um mundo globalizado são identidades que passam por um
processo de hibridização, bem como as particularidades. Visto isso, começa-se a
entender o porquê a ideia de nação, que antes estava fortificada, trazendo uma ideia
sólida de identidade nacional que eram centradas, coerentes e inteiras, estão sendo
agora deslocadas pelos processos de globalização, bem conforme o capitalismo
passa a avançar.

Além disso, esta forte globalização, juntamente com os grandes e rápidos


avanços tecnológicos, possibilitaram que as culturas nacionais se associassem com
culturas externas, conectando-as de uma maneira mais profunda, pois criaram pontes
de rápido e fácil acesso às demais culturas, permitindo que houvesse engajamento
cultural. Ela aproximou as pessoas e encurtou distancias, além de gerar certa
interdependência. Por exemplo, a cultura nacional brasileira sofre grande influência
da cultura norte americana, principalmente através das mídias sociais que oferecem
acesso facilitado a qualquer coisa em qualquer lugar no mundo. Tal fato propicia que
haja uma hibridização, como já citado anteriormente, ou seja, uma fusão cultural. Com
isso, é possível verificar que a identidade nacional está se modificando e se
reinventando de forma rápida e intensa, visto que é influenciada por outras identidades
culturais distintas que vão de encontro umas às outras. O sujeito, previamente vivido
como tendo uma identidade unificada e estável, está se tornando fragmentado;
composto não de uma única, mas de várias identidades, algumas vezes contraditórias
ou não resolvidas.

Infelizmente, com essa influência externa, começa-se a existir, em determinada


sociedade, o hábito de crer que tudo o que pertence a cultura nacional possui valor
inferior àquilo que estava associado a culturas externas, perdendo parte desse
sentimento de representação e pertencimento que a ideia de nação trouxe, bem como
a identidade nacional de fato.

Como argumenta Anthony McGrew (1992), a “globalização” se refere àqueles


processos, atuantes numa escala global, que atravessam fronteiras nacionais,
integrando e conectando comunidades e organizações em novas combinações de
espaço-tempo, tornando o mundo, em realidade e em experiência, mais
interconectado. “A globalização implica um movimento de distanciamento da ideia
sociológica clássica da "sociedade" como um sistema bem delimitado e sua
substituição por uma perspectiva que se concentra na forma como a vida social está
ordenada ao longo do tempo e do espaço” (Giddens, 1990, p.64). Essas novas
características temporais e espaciais, que resultam na compreensão de distância e
de escalas temporais, estão entre os aspectos mais importantes da globalização a ter
efeito sobre as identidades culturais.

Os indivíduos, na contemporaneidade, foram impelidos a flexibilizar suas


identidades, incluso aquela que mantinham por fidelidade e obediência para com o
Estado nacional, pois este, cada vez mais golpeado pelas forças do mercado ávidas
por facilidades financeiras e econômicas, não foi capaz de continuar a oferecer
proteção e direitos aos membros da comunidade. À medida em que as culturas
nacionais se tornam mais expostas a influências externas, é difícil conservar as
identidades culturais intactas ou impedir que elas se tornem enfraquecidas através do
bombardeamento e da infiltração cultural.

No presente momento histórico, marcado pela globalização, a construção da


identidade nacional tornou-se um grande desafio, graças ao fenômeno de
aprofundamento das relações econômicas, sociais, culturais e políticas entre os povos
do mundo, que determina certos ‘padrões culturais’ baseados nas culturas de países
de grande influência, como os Estados Unidos, que têm se tornado hegemônicas no
mundo. Porém, como visão do futuro das identidades num mundo pós-moderno, este
quadro, da forma como é colocado, é muito simplista, exagerado e unilateral, desde
que há, também, uma fascinação com a diferença e com a mercantilização da etnia e
da diversidade. Há, juntamente com o impacto do "global"', um novo interesse pelo
"local", com uma grande quantidade de turistas interessados em conhecer lugares
aparentemente “intocados” pelas influências modernas, o que, de certa forma, garante
a “proteção” destes locais.

As nações modernas são, todas, híbridas culturais, mas, mesmo com a


globalização em um nível tão avançado como está, ainda há, ainda que leve, um
sentimento de identidade cultural, demonstrado através de expressões culturais que
tem como objetivo expor, de forma orgulhosa, a cultura de um determinado país para
os demais, o que garante a não concretização da ideia de uma homogeneização
cultural mundial.

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