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RESUMO
Este estudo teve por objetivos identificar as dificuldades e as facilidades de doentes no seguimento do tratamento da
hipertensão arterial; e, verificar se existem diferenças nessas dificuldades e facilidades em dois momentos dessa
trajetória - no atendimento ambulatorial e na internação. Para este estudo descritivo, quantitativo, foram entrevistados
34 doentes, com diagnóstico médico de hipertensão arterial (HA) e/ou suas complicações, sendo 17 matriculados no
ambulatório e 17 hospitalizados na unidade de internação de nefrologia. Os resultados revelaram que, em geral, não
houve diferenças entre as dificuldades e as facilidades referidas pelos doentes para o seguimento do tratamento da
HA, nos dois momentos estudados. As dificuldades e facilidades apontadas referem-se ao financiamento do tratamento
(compra de medicamento e gastos com transporte); acessibilidade ao serviço (facilidade em marcar consulta médica
e distância do serviço de saúde); mudança de hábito alimentar (dieta hipossódica) e a importância do apoio familiar
nesta trajetória.
ABSTRACT
This study aims to identify difficulties and facilities of the patients in following the treatment of the arterial
hypertension; and, to verify differences that exist between those difficulties and facilities in two moments of the
trajectory - in the ambulatorial treatment and in the hospital stay. For this quantitative, descriptive study, 34 patients
with medical diagnosis of arterial hypertension or its complications were interviewed, being 17 registered in the
ambulatorial unit and 17 hospitalized in the nefrology unit. The results of the study revealed that, in general, there
were no differences among the difficulties and the facilities referred by the patients for the following of the treatment
in the two studied moments. The difficulties and facilities pointed out by the patients refer to the financing of the
treatment (medication purchase and expenses with transport); accessibility to the service (easiness in marking medical
consultation and distance of the service of heakth); change of alimentary habit (hipossodic diet) and the importance
of the family support in this trajectory.
1 INTRODUÇÃO
AMBULATÓRIO INTERNAÇÃO
N % N % N % N %
AMBULATÓRIO INTERNAÇÃO
Escolaridade N % N %
A escolaridade nos permite avaliar as influências escolaridade (27,8%) do que p a r a aqueles com nível
sociais e suas associações aos riscos da HA. Um estudo superior (6,6%)(ACHUTTI; ACHUTTI, 1997). E s t a
r e a l i z a d o em P o r t o A l e g r e , em 1978, s o b r e a relação inversa entre escolaridade e nível de PA já foi
o
"prevalência dos fatores de risco" comparou dois verificada em outros estudos. Indivíduos com 3 grau
extremos da população quanto ao grau de escolaridade. completo "tem índice de prevalência de HA 40% menor
Ficou evidente a maior exposição a todos os fatores de que aqueles que têm menos de 10 anos de escolaridade"
risco, i n c l u s i v e HA, p a r a os i n d i v í d u o s s e m (BRASIL, 1993a).
T a b e l a 3 - Distribuição dos doentes, por u n i d a d e s de t r a t a m e n t o , q u a n t o a ocupação. São Paulo, 1997.
AMBULATÓRIO INTERNAÇÃO
Ocupação N % N %
Prendas do lar 7 41,2 3 17,6
Aposentado definitivo 3 17,6 5 29,4
Auxílio doença 2 11,8 1 5,9
Vínculo empregatício 2 11,8 3 17,6
Desempregado 2 11,8 1 5,9
Empregada doméstica 1 5,9 - -
Autônomo - - 2 11,8
Pensionista - - 1 5,9
Vive de economias - - 1 5,9
TOTAL 17 100,0 17 100,0
Q u a n t o à ocupação verificou-se (Tabela 3) que auxílios doença concedidos pelo INAMPS (6,6% da
no ambulatório g r a n d e p a r t e dos doentes (41,2%) totalidade de benefícios concedidos/ano) e a primeira
dedica-se a p r e n d a s domésticas; já n a u n i d a d e de causa de invalidez p e r m a n e n t e (20,4% do total de
i n t e r n a ç ã o 29,4% dos doentes t ê m a p o s e n t a d o r i a aposentadorias definitivas concedidas/ano).Ainda,
definitiva. segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 1993a), as
As doenças cardiovasculares, além de serem a doenças do aparelho circulatório referidas acima,
primeira causa de mortalidade (34%), r e p r e s e n t a m corresponderam à cerca de 29% do total de causa de
um enorme ônus financeiro p a r a o país (BRASIL, aposentadorias concedidas pelo INAMPS, entre 1980
1993ab). Segundo o Ministério da S a ú d e (BRASIL, e 1986. Neste período, considerando-se o total de
1988), em 1983 a H A e s u a s c o m p l i c a ç õ e s c a u s a de a p o s e n t a d o r i a s definitivas, a HA foi a
r e p r e s e n t a v a m a terceira causa mais freqüente de p r i m e i r a c a u s a de aposentadoria no país.
Tabela 4 - Distribuição dos doentes, por unidades de tratamento, quanto a renda familiar. São Paulo, 1997.
AMBULATÓRIO INTERNAÇÃO
R e n d a familiar N % N %
1 a 2 SM 7 41,2 2 11,8
3 a 4 SM 2 1L7 2 11,8
5a6SM 3 11,7 4 23,5
> 7 SM 3 11,7 9 52,9
TOTAL 17 100,0 17 100,0
* Renda em salários mínimos
AMBULATÓRIO INTERNAÇÃO
Tempo N N
- há menos de 4 anos 3 17,6 7 41,2
- entre 10 e 20 anos 5 29,4 7 41,2
• entre 21 e 30 anos 6 35,3 1 5,9
- 31 anos ou mais 3 17,6 2 11,8
TOTAL 17 100,0 17 100,0
- dieta hipossódica 13 12
- tomar medicação 10 10
- parar de ingerir bebidas alcoólicas 1 3
- parar de fumar - 4
- diminuir estresse 2 -
- diminuir esforço físico/repouso 2 -
- fazer exercícios 1 -
- diminuir o peso - 1
- comprar aparelho PA - 1
não referiu informação/não lembra 1 1
0 t r a t a m e n t o da HA é p a r a t o d a a v i d a . A tabela abaixo (Tabela 9) nos mostra que a
E n t r e t a n t o , p a r a que o t r a t a m e n t o seja eficiente, é maioria dos hipertensos, tanto do ambulatório (88,2%)
necessário u m bom e n t e n d i m e n t o e n t r e médico e quanto da unidade de internação (76,5%), referiu que
paciente, que leve em conta as preferências de estilo marcar consulta médica não é u m a dificuldade sentida
de vida do doente. Além disso, tem como objetivo no seguimento do tratamento. É importante lembrar
reduzir ao máximo a PA, até os níveis toleráveis pelo que n e s t a i n s t i t u i ç ã o , os r e t o r n o s são agendados
paciente. A HA secundária é t r a t a d a de acordo com a u t o m a t i c a m e n t e n o f i n a l de c a d a c o n s u l t a
a sua etiologia e n q u a n t o que na HA essencial, que médica.Quando questionados se a distância entre a
representa 95% dos casos de HA, ocorrem m u d a n ç a s m o r a d i a e e s t e s e r v i ç o de s a ú d e d i f i c u l t a v a o
no estilo de vida do paciente (moderação n a ingesta t r a t a m e n t o da h i p e r t e n s ã o , a maioria (58,8%) do
de sal, redução de ingesta de álcool e peso, atividade ambulatório e 70,6% da unidade de internação, disse
física). Essas m u d a n ç a s contribuem p a r a diminuir que não. Metade dos doentes tratados no ambulatório
a PA, bem como os fatores de risco associados à HA justificou que apesar de morar longe da instituição,
(redução do uso de tabaco e lipides). Se os níveis não s e n t i u a distância como dificuldade devido a
tensionais reduzem, diminuem também a qualidade do atendimento valer o esforço para vir às
n e c e s s i d a d e de m e d i c a ç ã o a n t i - h i p e r t e n s i v a . consultas. Dos 7 (41,2%) doentes do ambulatório que
Portanto, essas medidas contribuem p a r a diminuir disseram considerar a distância do serviço de saúde
a i n c i d ê n c i a da HA, a u x i l i a n d o n a p r e v e n ç ã o como dificuldade p a r a o seguimento do tratamento, 4
p r i m á r i a desta patologia. (RIBEIRO; ZANELLA; justificaram ser por motivos relacionados ao número
KOLMANN JR., 1996). de conduções e o tempo dispendido nesse transporte.
Tabela 9 - Distribuição dos doentes, por u n i d a d e s de t r a t a m e n t o , e as dificuldades referidas p a r a o
seguimento do t r a t a m e n t o da h i p e r t e n s ã o arterial. São Paulo, 1997.
AMBULATÓRIO INTERNAÇÃO
n % n % n % n % n %
* Total
Tabela 10 - Distribuição dos doentes, por unidades de tratamento, e recursos facilitadores p a r a o seguimento
do t r a t a m e n t o da h i p e r t e n s ã o a r t e r i a l . São Paulo, 1997.
AMBULATÓRIO INTERNAÇÃO
n % n % n % n % n %
- vale transporte pelo Serv. Assistência Social 12 70,6 5 29,4 17 8 47,1 9 52,4 - - 17
:
Total
A m a i o r i a dos h i p e r t e n s o s do a m b u l a t ó r i o - Na u n i d a d e de i n t e r n a ç ã o : predominou a
(76,5%) e da unidade de internação (70,6%) consideram c l i e n t e l a do sexo m a s c u l i n o , com a p o s e n t a d o r i a
a proximidade do serviço de saúde como um facilitador definitiva e diagnóstico de HA Essencial, isolada ou
para o seguimento do tratamento; 70,6% dos doentes já com suas complicações r e n a i s ; idade entre 41 a
do ambulatório e 47,1% da unidade de internação, 50 anos, escolarização de 1( g r a u incompleto e renda
referiram que o fornecimento de vale transporte pelo familiar maior ou igual a 7 salários mínimos.
serviço de a s s i s t ê n c i a social se c o n s t i t u i r i a em
facilitador para o tratamento. J á 52,4% dos hipertensos 4.2 Q u a n t o a o c o n h e c i m e n t o d o d i a g n ó s t i c o e
da unidade de internação r e l a t a r a m que esta medida o s e g u i m e n t o do t r a t a m e n t o
não se faz necessária para o seu t r a t a m e n t o mas que
- N o a m b u l a t ó r i o : os doentes referem a descoberta
poderia facilitar o t r a t a m e n t o daqueles que precisam
da d o e n ç a p r e d o m i n a n t e m e n t e a t r a v é s da
da ajuda financeira p a r a o t r a n s p o r t e . 70,6% dos
sintomatologia ou d u r a n t e a gestação, sendo que a
d o e n t e s do a m b u l a t ó r i o e 88,2% d a u n i d a d e de
maioria relata ter história de HA h á pelo menos 10
internação consideram ser importante o apoio familiar
anos e, metade diz não saber que o tratamento seria
para o seguimento do t r a t a m e n t o da HA.
p a r a sempre; as orientações recebidas para o controle
da doença englobaram principalmente a tomada da
medicação e a ingestão de dieta hipossódica; em relação
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ao seguimento do t r a t a m e n t o as dificuldades mais
referidas p a r a esse seguimento foram: dinheiro para
Este estudo realizado com 34 doentes, sendo a compra de medicamentos, comer alimentos sem sal,
17 em t r a t a m e n t o a m b u l a t o r i a l e 17 em t r a t a m e n t o distância até o serviço de saúde e dinheiro para o
na unidade de i n t e r n a ç ã o de nefrologia permitiu as t r a n s p o r t e ; q u a n t o aos r e c u r s o s facilitadores do
considerações finais descritas a seguir. t r a t a m e n t o a totalidade da clientela aponta o
4.1 Q u a n t o à c a r a c t e r i z a ç ã o d a c l i e n t e l a recebimento gratuito de medicamentos da instituição
estudada e, a maioria julga que a facilidade de marcar consultas,
a proximidade do serviço, o fornecimento de vale
- N o a m b u l a t ó r i o : predominou o sexo feminino, que transporte e o apoio familiar ajudariam no seguimento
dedica-se à prendas domésticas, acometida por HA do t r a t a m e n t o .
Essencial, com idade entre 51 e 60 anos e escolaridade
de 1( grau incompleto; p a r a o sustento de 1 a 4 pessoas - Na u n i d a d e d e i n t e r n a ç ã o : grande parte dos
têm renda familiar entre 1 e 2 salários mínimos. d o e n t e s d e s c o b r i u s e r h i p e r t e n s o a t r a v é s da
sintomatologia, h á menos de 4 anos ou e n t r e 10 e 20 BRASIL. Ministério da Saúde. S e c r e t a r i a de A s s i s t ê n c i a à
anos; e, desconhecia dever t r a t a r - s e p a r a sempre; S a ú d e . D e p a r t a m e n t o d e P r o g r a m a s de S a ú d e . C o o r d e n a ç ã o
de D o e n ç a s Cardiovasculares. D o e n ç a s cardiovasculares no
as orientações recebidas p a r a o controle da HA Brasil, S i s t e m a Único de Saúde - S U S : dados epidemiológicos
envolveram principalmente a tomada de medicação e assistência médica. Brasília, 1993b. p.9-35.
e a i n g e s t ã o de d i e t a h i p o s s ó d i c a ; q u a n t o à s
dificuldades p a r a o seguimento do tratamento, foram C A R V A L H O , J . G . R d e . R i m e h i p e r t e n s ã o a r t e r i a l . In: A M O D E O ,
apontadas a ingestão de dieta hipossódica, o dinheiro C ; LIMA, E.G.; V A Z Q U E Z , E . C . (coord.) H i p e r t e n s ã o a r t e r i a l .
S a o P a u l o , S a r v i e r , 1 9 9 7 . c a p . 18, p . 1 4 1 - 5 2 .
para a compra de medicamentos e p a r a o t r a n s p o r t e
e, a distância até o serviço de saúde; em relação aos C O S T A , C.A.R. H i p e r t e n s ã o a r t e r i a l s i s t ê m i c a d o a d u l t o . In:
recursos facilitadores, a maioria referiu o B A R R O S , E. et al. N e f r o l o g i a : r o t i n a s , d i a g n ó s t i c o e
r e c e b i m e n t o g r a t u i t o de m e d i c a m e n t o s d a t r a t a m e n t o . P o r t o A l e g r e , A r t e s M é d i c a s S u l , 1 9 9 4 . c a p . 5,
p.49-54.
instituição, o apoio familiar, a facilidade de m a r c a r
consultas e a proximidade do serviço de saúde como
C O N S E N S O B R A S I L E I R O D E H I P E R T E N S Ã O A R T E R I A L , 3,
aqueles que mais ajudariam no t r a t a m e n t o . C a m p o s do J o r d ã o , 1 9 8 8 . A n a i s , C a m p o s do J o r d ã o , S o c i e d a d e
Brasileira de H i p e r t e n s ã o , 1988.
Em g e r a l n ã o h o u v e d i f e r e n ç a s e n t r e as
dificuldades e as facilidades referidas pelos doentes
F L E U R Y , S.; G I O V A N E L L A , L. U n i v e r s a l i d a d e d a a t e n ç ã o à
para o seguimento do t r a t a m e n t o da HA nos dois s a ú d e : a c e s s o c o m o c a t e g o r i a d e a n á l i s e . In: C I B E N S C H U T Z ,
momentos estudados. As dificuldades e facilidades E. (org.) P o l í t i c a d e s a ú d e : o p ú b l i c o e o p r i v a d o . Rio de
apontadas pelos doentes referem-se ao Janeiro, Fiocruz, 1996. p. 177-99.
f i n a n c i a m e n t o do t r a t a m e n t o ( c o m p r a de
D E L I T T I , A . M . d e C.; S I L V A , D . d a . R e l a ç ã o m é d i c o - p a c i e n t e -
medicamento e gastos com transporte);
hipertensâo: u m e s t u d o psicossociológico. Sao Paulo, Limay,
acessibilidade ao serviço (facilidade em m a r c a r 1996.
consulta médica e distância do serviço de saúde);
mudança de hábito a l i m e n t a r (dieta hipossódica) e P A S C O A L , I.F.; M I O N J R . D . H i p e r t e n s ã o a r t e r i a l e o r i m . In:
a importância do apoio familiar n e s t a trajetória. R I B E I R O , A . B . (org.) A t u a l i z a ç ã o e m h i p e r t e n s ã o a r t e r i a l :
clínica, diagnóstico e t e r a p ê u t i c a . São Paulo, A t h e n e u , 1996.
c a p . 10, p . 9 7 - 1 0 8 .
P I E R I N , A . M . G . e t al. A t e n d i m e n t o d e e n f e r m a g e m ao p a c i e n t e
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS com hipertensão arterial. Rev. Bras.Med.Card., v.3, n.4,
p. 2 0 9 - 1 1 , 1 9 8 4 .
15. No momento em que descobriu ser hipertenso, recebeu alguma orientação sobre a necessidade de
t r a t a r a h i p e r t e n s ã o p a r a sempre? S ( ) N ( )