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Ficha formativa – preparação teste único – 17 nov.

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Grupo I - Educação literária


Parte A (100 pontos)

Leia com atenção o seguinte soneto de Antero de Quental.

(A Francisco Machado de Faria e Maia)

Sonho de olhos abertos, caminhando


Não entre as formas já e as aparências,
Mas vendo a face imóvel das essências,
Entre ideias e espíritos pairando…

5 Que é o mundo ante mim? Fumo ondeando,


Visões sem ser, fragmentos de existências…
Uma névoa de enganos e impotências…
Sobre vácuo insondável rastejando…

E dentre a névoa e a sombra universais


10 Só me chega um murmúrio, feito de ais…
É a queixa, o profundíssimo gemido

Das coisas, que procuram cegamente


Na sua noite e dolorosamente
Outra luz, outro fim só pressentido…

ANTERO DE QUENTAL, Sonetos completos, [Lisboa], Ulisseia, 2002.

Apresente, de forma clara e bem estruturada, as suas respostas aos itens que se
seguem.

1. Explique em que medida o «sonho de olhos abertos» (verso 1) constitui uma


condição para que o sujeito poético concretize a ação descrita no verso 3. (12+8)

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2. Atente na segunda estrofe. Explicite a importância da metáfora na elaboração de
uma visão pessimista, quase apocalíptica, da existência. (12+8)

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3. Demonstre que os tercetos apresentam a ideia de uma ligação íntima entre o eu


lírico e as «coisas». (12+8)

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4. Retire, exemplificando, um recurso expressivo da segunda estrofe. (12+8)

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5. Atendendo à forma do poema, classifique-o quanto à sua estrutura. (12+8)

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Parte B (100 pontos)

Leia com atenção o seguinte excerto do poema de Cesário Verde

Avé-Marias

Nas nossas ruas, ao anoitecer,


Há tal soturnidade1, há tal melancolia,
Que as sombras, o bulício2, o Tejo, a maresia
Despertam um desejo absurdo de sofrer.

O céu parece baixo e de neblina,


5 O gás extravasado enjoa-nos, perturba;
E os edifícios, com as chaminés, e a turba3
Toldam-se d’uma cor monótona e londrina.

Batem os carros de aluguer, ao fundo,


10 Levando à via-férrea os que se vão. Felizes!
Ocorrem-me em revista, exposições, países:
Madrid, Paris, Berlim, S. Petersburgo, o mundo!

Semelham-se a gaiolas, com viveiros,


As edificações somente emadeiradas:
Como morcegos, ao cair das badaladas,
15 Saltam de viga em viga os mestres carpinteiros.

Voltam os calafates4, aos magotes,


De jaquetão ao ombro, enfarruscados, secos; Vocabulário:
Embrenho-me, a cismar, por boqueirões, por becos, 1 caráter sombrio,
20 Ou erro pelos cais a que se atracam botes. taciturno;
2 agitação, burburinho;
3 multidão, conjunto de

E evoco, então, as crónicas navais: pessoas pertencentes


às classes sociais mais
Mouros, baixéis, heróis, tudo ressuscitado! desfavorecidas;
Luta Camões no Sul, salvando um livro, a nado! 4 operários navais.

Singram soberbas naus que eu não verei jamais!

Cesário Verde, Cânticos do Realismo, O livro de Cesário Verde, (coord. Carlos Reis,
introdução e nota biobibliográfica de Helena Carvalhão Buescu), Lisboa, INCM, 2015 .

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Apresente, de forma clara e bem estruturada, as suas respostas aos itens que se
seguem.

6. Identifique o momento do dia e o lugar em que decorre a ação esboçada no poema


e justifique a resposta com elementos do texto. (20+5)

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7. Explicite a importância do recurso às sensações na caracterização da cidade.


(20+5)

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8. Justifique o estado de espírito do sujeito poético, relacionando-o com o conteúdo


da terceira estrofe. (20+5)

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9. Justifique a alusão ao épico português na última estrofe. (20+5)

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Grupo II - Gramática
(200 pontos)

Lê o seguinte texto.

O homem descende do macaco!

Já todos ouvimos a expressão «o homem descende do macaco!» No entanto, sem


clarificar cientificamente o que é o «macaco», nesta frase, ela tende não só a ser mentira,
como a fazer tremer de horror biólogos evolutivos e antropólogos.
Quando falamos em evolução humana estamos a referir-nos ao processo evolutivo que
5 resulta em nós: o Homo sapiens anatomicamente moderno. No entanto, é preciso não
esquecer que também nós somos primatas e a nossa história evolutiva está traçada na
mesma ramada da árvore da vida que contém os Lémures, os Társios, os macacos do novo
mundo (Macaco-capuchinho, Mico-leão) e do velho mundo (Babuíno), e os grandes símios
(Gorila, Orangotango, Chimpanzé).
10
[...] Apesar de hoje pertencermos a ramos diferentes da árvore, um dia, há milhões de
anos atrás, na base da ramificação que nos separa, existiu um primata que deu origem a
ambos: humano e chimpanzé e a partir daí ambas as espécies seguiram um percurso
evolutivo independente, e nunca mais voltariam a pertencer ao mesmo ramo. A este
processo chama-se especiação e a esse primata, que deu origem a dois outros, chamamos
15 um ancestral comum.
[...] Assim, para evitar incorrer em erro evolutivo grave, a frase que devemos utilizar é «o
homem partilha um ancestral com o macaco!» ou «o homem evoluiu de um primata!».
Desengane-se quem pensa que é um processo rápido este de originar espécies! Se
quisermos seguir o nosso percurso evolutivo desde os primeiros antepassados dos
20 hominídeos, que se pensa terem vivido há sete milhões de anos, encontramos uma
panóplia de antepassados da nossa espécie.
[...] Foram precisos quase dois milhões de anos, e muitos eventos evolutivos, para
passarmos de trabalhar pedras a pesquisar na Internet!
O Homo sapiens possui características que o diferenciam dos restantes símios: somos
25 totalmente bípedes, o nosso cérebro é três vezes maior do que seria de esperar e
possuímos uma linguagem complexa, diferente da de todas as outras espécies conhecidas.
No entanto, partilhamos uma enormidade de características com os restantes primatas. [...]

Telma G. Laurentino, Núcleo de Educação e Divulgação da Evolução – APBE, 22/06/2015


(disponível em www.apbe.pt/nede, consultado em janeiro de 2016)
(texto adaptado).

1. Responde aos seguintes itens, selecionando a opção correta.

1.1 Entre a palavra «primatas» (l. 6) e as palavras «Lémures», «Társios», «Macaco-


capuchinho», «Mico-leão», «Babuíno», «Gorila», «Orangotango» ou
«Chimpanzé» (ll. 7-9) estabelece-se uma relação semântica de
(A) meronímia.
(B) hiperonímia.
(C) sinonímia.

5
(D) antonímia.

1.2 A oração presente em «Apesar de hoje pertencermos a ramos diferentes da


árvore,» (l.10) classifica-se como
(A) oração subordinada adverbial causal.
(B) oração subordinada adverbial concessiva.
(C) oração subordinada adverbial consecutiva.
(D) oração subordinada substantiva completiva.

1.3 Em «esse primata, que deu origem a dois outros, chamamos um ancestral
comum» (ll. 14-15), a oração sublinhada desempenha a função de
(A) modificador.
(B) modificador restritivo do nome.
(C) modificador apositivo do nome.
(D) predicativo do sujeito.

1.4 Na expressão «o homem partilha um ancestral com o macaco!» (ll. 16-17), o


verbo é
(A) intransitivo.
(B) transitivo direto.
(C) transitivo indireto.
(D) transitivo direto e indireto.

1.5 O segmento « em evolução humana» (l.4) desempenha a função sintática de


(A) modificador restritivo do nome.
(B) modificador apositivo do nome.
(C) complemento oblíquo.
(D) complemento indireto.

1.6 Na expressão «Desengane-se quem pensa que é um processo rápido» (l. 18),
as orações são, respetivamente
(A) subordinada substantiva completiva + subordinada substantiva relativa +
subordinante.
(B) subordinada substantiva relativa + subordinada substantiva completiva +
subordinante.
(C) subordinante + subordinada substantiva completiva + subordinada
substantiva relativa.
(D) subordinante + subordinada substantiva relativa + subordinada substantiva
completiva.

1.7 O pronome «que» na (l.25) desempenha a função sintática de

(A) modificador restritivo do nome.


(B) modificador apositivo do nome.
(C) complemento direto.
(D) sujeito.

6
2. Refere a função sintática do constituinte sublinhado em «Assim, para evitar incorrer
em erro evolutivo grave» (l. 16).

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3. Identifica a(s) classe(s) e subclasse(s) das expressões sublinhadas em «primeiros


antepassados» (l. 19) e «sete milhões de anos» (l. 20).

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4. Indica o processo de formação da palavra destacada em «somos totalmente


bípedes» (l.25).

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Bom trabalho! ☺

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