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Copyright © 20210 by Rafael Fernandes Titan

Categoria: Bioética e Biodireito


Produção Editorial Livraria e Editora Lumen Juris Ltda.

Conversão Epub: Rosane Abel


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CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
Titan, Rafael Fernandes
Direito animal : o direito do animal não-humano no cenário processual penal e
T617d ambiental / Rafael Fernandes Titan. – Rio de Janeiro : Lumen Juris, 2021.

Inclui bibliografia.
Inclui anexos.
Epub 1331kb
ISBN 978-65-5510-406-6

1.Direito do animal. 2. Direito ambiental. 3. Processo penal - Brasil. 4. Crimes contra


o meio ambiente - Brasil. 5. Procedimento especial. I. Título.
CDD 344
Ficha catalográfica elaborada por Ellen Tuzi CRB-7: 6927
Ao Ayron, Ayla, Anakin e todos os seres vivos que merecem
justiça.
Agradecimentos

A Deus.
À minha família, que me incentivou e ajudou a chegar até aqui. Pai, mãe e
irmãos e irmãs: Amo vocês!
À minha esposa, quem sempre foi incansável e a responsável, diretamente,
por esse projeto acontecer. Te amo, por toda eternidade.
À minha amada avó “Manina” que me guiou pelos bons caminhos e hoje
guia o meu maior tesouro: minha filha. Minha amada avó, aqui te torno
imortal.
À minha amada madrinha “Tia Marlene”, pela assistência e amor
incondicional. Te amo!
Aos meus amigos não humanos Ayron, Ayla e Anakin, que me ensinaram
um pouco sobre o amor incondicional.
Ao meu grande amigo / irmão Gabriel Sombra, que assim como eu, nutre
um profundo amor e respeito pelos animais não humanos, te amo! In
memoriam Rafael Sombra.
Ao meu grande amigo / irmão Leandro Lobo Leite, que se empenhou para
que, mais uma vez, esse sonho se transformasse em realidade. Te amo!
Ao meu grande amigo / irmão Igor Magalhães, que sempre me incentivou
no caminho do saber. Que essa obra possa, de alguma forma, te trazer paz e
felicidade. Te amo!
Aos meus amigos e familiares.
À minha querida ex aluna e ex orientanda, atualmente Advogada, Maria
Cristina Krause Ramos, que contribuiu para a produção dessa obra com seu
conhecimento sobre o tema.
Por fim e o mais importante: Ao GRANDE AMOR DA MINHA VIDA,
Saori Pereira Fernandes Titan. Nosso amor, sem dúvida, é além da vida.
Talvez chegue o dia em que o restante da criação animal venha
a adquirir os direitos que jamais poderiam ter-lhe sido negados,
a não ser pela mão da tirania.
Jeremy Bentham
Nota do autor

Nada, absolutamente nada, é mais gratificante pra um autor, para um


escritor, do que ver sua obra alcançar uma enorme parcela dos seus leitores.
Tivemos todas as obras de A Desproporcionalidade, graças a Deus,
adquiridas e isso é motivo de orgulho e comemoração.
Esse fato me faz recordar dessa mesma sensação de orgulho e
comemoração, quando finalizei meu Trabalho de Conclusão de Curso, há
cinco anos atrás. Para quem não sabe a minha pesquisa sobre o tema de
direito animal existe há exatos sete anos e ocorreu de uma maneira singular.
Conto para vocês. Eu tinha o companheirismo e amizade de um labrador
chamado Ayron e como todo bom canino – deveria ser - era brincalhão,
dengoso, alegre, feliz e saudável. Fazia lá suas traquinagens, também como
todo bom cachorro, mas nunca algo preocupante a ponto de me fazer ter a
necessidade de contratar um adestrador para lidar com o problema.
Conseguíamos nos entender muito bem. Infelizmente, uma doença o
acometeu. Câncer, linfoma. Neoplasia maligna é uma das doenças mais
frustrantes e angustiantes que existem, pois quando o tratamento é iniciado
você tem a esperança e acredita firmemente que o paciente sairá ileso daquela
situação, pois o mesmo apresenta uma melhora considerável. Entretanto, em
alguns casos, essa mesma melhora transforma-se em uma piora também
considerável e, fatalmente, depois o óbito. Meu assecla (em tantas situações)
não resistiu e foi morar nos campos do Criador. Fiquei de luto, tentei
entender e aceitar o que aconteceu. Voltei mais forte e prometi ao meu
melhor amigo que faria algo que o orgulhasse, algo de positivo para todos os
seres vivos como ele (e os diferentes também). Honrei minha promessa
quando iniciei, desenvolvi e concluí meu primeiro estudo sobre o direito do
ser não humano.
Depois desses fatos, eu decidi não parar pois entendi que ainda havia
muito trabalho a ser desenvolvido, muita pesquisa a ser feita e muitas
transformações necessitavam ser iniciadas. Era necessário tentar colocar em
prática as pesquisas que estavam sendo desenvolvidas, entretanto fazer isso
no cenário jurídico não é tão simples como devem pensar algumas pessoas.
Você precisa de um caso concreto, precisa apresentar uma solução nova para
esse caso e diligenciar (de todas as maneiras possíveis) para que a solução da
demanda, embasada de uma tese nova e atual, seja aceita para, enfim,
produzir os efeitos da teoria. E isso, pra quem é da ciência jurídica, é
extremamente moroso e doloroso.
Após muitas atividades práticas, em conjunto com a Comissão de Defesa
dos Direitos dos Animais da OAB/PA, lutando pela tutela dos seres não
humanos, percebi que eu poderia fazer mais. Eu poderia minimizar o
problema, talvez, na “raíz” e tentar sensibilizar e desmistificar costumes e
conceitos ambientais, instaurados no âmago das pessoas. Foi, então, que
comecei a palestrar sobre o tema. Minhas palestras me levaram a muitas
faculdades, a escolas e o que eu considero o mais importante: ao doutorado
em direito. Estudo de excelência esse que me possibilitou desenvolver uma
tese para proporcionar, ainda mais, garantias de direitos aos animais não
humanos.
Pensando nas adversidades encontradas por colegas de profissão, alunos,
protetores e entusiastas do assunto, decidi lançar, em 2016, a primeira edição
do livro A Desproporcionalidade. Essas primeiras notas, esses primeiros
pensamentos, foram de grande valia para estudos e fundamentações de peças
processuais em defesa do direito animal. Percebi, nesse momento, que eu
deveria ir além. Então, ao concluir as aulas do doutorado, me senti
extremamente confiante para continuar minhas pesquisas na área e
proporcionar a todos – seres humanos e não humanos – uma outra concepção
do assunto (direito animal), a fim de que ambos caminhassem lado a lado, de
mãos e patas dadas. Esses acontecimentos me levaram a uma cadeira de
professor em duas faculdades de direito, as quais, não estava mais como
palestrante e sim como docente. Eu pude demonstrar e ensinar sobre o direito
dos animais, bem como explicar meus pontos de vista, minhas compreensões
e posicionamento sobre diversos assuntos nessa área, o que, por sinal, foi
extremamente relevante para o projeto dessa nova literatura.
Com a soma de todos esses feitos, o direito animal ganhou mais um aliado
à sua tutela. Me transformou em um pesquisador específico dessa área e tais
pesquisas deram origens a artigos, premiações e reconhecimento, mas não o
reconhecimento pessoal e sim o reconhecimento científico, fazendo com que
a procura pelos livros A Desproporcionalidade aumentassem
admiravelmente.
Eu não poderia deixar que o conhecimento contido em nossa obra primeva
ficasse estagnado. Assim, comecei a desenhar em meus pensamentos a sua
atualização e a inclusão de pontos extremamente relevantes e atuais em um
possível novo exemplar. Assuntos como a perspectiva teórica como base da
evolução histórica da lei de crimes ambientais, a “nova” regra de
competência para crimes contra a fauna e a flora brasileira, a necessidade de
um procedimento penal especial para crimes contra o meio ambiente e o
direito animal como direito humano e fundamental, eram exemplos de
discussões importantes que gostaria de trazer a baila.
Foi então que com a infeliz chegada do Covid-19 ao Brasil, fazendo com
que alguns serviços fossem suspensos, me dediquei quase que
exclusivamente a produção desse novo título. Uma literatura mais robusta,
mais atual e com temas interessantes que não havíamos incluído no primeiro
livro.
Outras questões como: tutela animal e orientação alimentar, animal como
sujeito de direito, natureza jurídica do animal não humano e tantos outros,
ainda não fazem parte dessa edição. Pelo menos não de maneira tão profunda.
Explico: Estou preparando uma doutrina sobre direito animal que versará
sobre o resultado de todas as minhas pesquisas na área. Será algo grandioso e
completo, de maneira que uma obra nessa proporção requer mais tempo de
organização e atenção. Para quem está impaciente por essa obra, eu peço um
pouco de calma, pois prometo que suas expectativas serão atendidas e quem
sabe até extrapolada.
Por derradeiro, agradeço você: leitor, aluno, professor, protetor, entusiasta
do assunto, por estar comigo nesse momento sorvendo cada gota do
conhecimento aqui gravado, fruto de muita pesquisa, muito amor e muita
vontade de fazer a diferença - positiva - para aqueles que não conseguem
fazer sozinhos. Que todos nós possamos aplicar praticamente a teoria contida
nessa nova obra.

Rafael Fernandes Titan Belém, 13 de abril de 2020.


Apresentação

O professor e advogado Rafael Fernandes Titan, se lançou a mais um


desafio na sua vida acadêmica, que foi o de escrever a presente obra
intitulada “Direito Animal – o direito do animal não humano no cenário
processual penal e ambiental”. Trata-se de obra desafiadora, que cuida de
tema inovador, complexo e rodeado de pré-julgamentos. Titan, no entanto, o
enfrenta com competência, coragem e, sobretudo, compromisso com a
natureza e com a construção de uma sociedade, presente e futura, mais
tolerante, solidária e pacífica, na qual a dignidade, enquanto princípio, não
seja uma exclusividade da espécie humana.
O tema é instigante porque remove o véu do preconceito a respeito da
natureza jurídica dos seres não humanos e das consequências sobre as ações
que contra eles os humanos empreendem. Defendem alguns que estaria
surgindo um novo ramo do Direito, de terceira geração, que reconhece os
Animais como sujeitos de direitos, afastando a concepção de que seriam eles
coisa ou recurso natural. Seria o chamado Direito dos Animais, baseado no
paradigma da senciência, ou seja, no entendimento de que os animais não
humanos devem ter sua natureza jurídica modificada, tonando-se titulares de
direitos fundamentais.
A Constituição Federal, em seu artigo 225, dispõe ser o meio ambiente
ecologicamente equilibrado um direito fundamental, e, em seu parágrafo 1º,
inciso VII, refere que isso implica, também, no cuidado e proteção aos
animais. Se lhes confere “natureza difusa e coletiva; um verdadeiro bem
sócio-ambiental de toda a humanidade, com imperativo moral que demonstra
preocupação ética de vedar práticas cruéis contra os animais, e não apenas
com o equilíbrio ecológico.”1
O Supremo Tribunal Federal (STF), “numa primeira aproximação e tendo
em mente os precedentes do STF nos casos envolvendo a assim chamada
farra do boi, da rinha de galo e da vaquejada, nos quais a Corte — também
não de modo incontroverso — decidiu pela ilegitimidade constitucional de
tais práticas, fazendo prevalecer, no contexto de uma ponderação, o dever
constitucional de proteção dos animais em face de manifestações culturais e
desportivas de determinados segmentos da população, a decisão ora
comentada poderia, a depender do ponto de vista, soar como contraditória e
mesmo de caráter retrocessivo”2.
Ao defender a proteção aos animais sencientes, as conclusões do STF na
ADI nº 4.983/CE, na qual se discutia a constitucionalidade de lei estadual que
tratava da prática da vaquejada, sintetiza a evolução da jurisprudência no
sentido de reconhecer a senciência e apontar à existência de um Direito
Animal3.
Em que pese a brilhante conclusão do Tribunal Constitucional pátrio, vale
destacar, em especial, a argumentação desenvolvida pelo Min. Luís Roberto
Barroso, para o qual os animais, apesar de sofrerem – e terem percepção
desse sofrimento – estão em significativa desvantagem em relação aos
humanos. Isso porque os animais não podem, por si próprios, protestar de
forma organizada contra o tratamento que recebem, sendo dependentes dos
seres humanos para se organizarem em seu lugar. Nesse sentido, a
justificação moral para tal apoio estaria no reconhecimento de que animais
humanos e não-humanos compartilham, além do mesmo espaço, também
senciência e, com ela, o sofrimento, a dor e o legítimo interesse de não
receber tratamento cruel.
Constata-se, portanto, evidente evolução positiva na jurisprudência Corte
Superior Brasileira, embora ainda haja Ministros com uma percepção
significativamente antropocêntrica, que não reconhecem os animais não-
humanos como sujeitos de direito. Já se caminha, entretanto,
indubitavelmente, para uma maioria que reconhece, repudia e admite punir
atos dos humanos que submetem animais à crueldade por total
incompatibilidade com o art. 225, §1º, VII, da Constituição Federal.
Ao lançar a presente obra, com análise de doutrina nacional e estrangeira
sobre o tema, bem como observando o trajeto da evolução da jurisprudência
em nosso país, o Autor presta um grande serviço à sociedade na defesa de
todos os animais sencientes, humanos e não-humanos, que vai além da mera
contribuição acadêmica, servindo como importante convite a repensar os
direitos humanos em perspectiva ampliada.

Ophir Cavalcante Junior Advogado, Mestre em Direito pela UFPa, ex-


Procurador-Geral do Estado do Pará, ex-Presidente da OAB/PA e ex-
Presidente do Conselho Federal da OAB.
1 CHALFUN, Mery. A questão animal sob a perspectiva do supremo tribunal federal e os “aspectos normativos da
natureza jurídica”. Revista de Biodireito e Direito dos Animais. Curitiba: v. 2, n. 2, p. 56 – 77, jul./dez. 2016.
2 SARLET, Ingo Wolfang, O STF e a tensão entre a liberdade religiosa e o dever de proteção animais. Revista
Eletrônica Consultor Jurídico. Publicação eletrônica: 26 abr. 2019. Disponível em:
<https://www.conjur.com.br/2019-abr-26/direitos-fundamentais-stf-liberdade-religiosa-dever-protecao-animais >.
Acesso em 03 jul. 2020.
3 [...] Portanto, a vedação da crueldade contra animais na Constituição Federal deve ser considerada uma norma
autônoma, de modo que sua proteção não se dê unicamente em razão de uma função ecológica ou preservacionista,
e a fim de que os animais não sejam reduzidos à mera condição de elementos do meio ambiente. Só assim
reconheceremos a essa vedação o valor eminentemente moral que o constituinte lhe conferiu ao propô-la em
benefício dos animais sencientes. Esse valor moral está na declaração de que o sofrimento animal importa por si só,
independentemente do equilibro do meio ambiente, da sua função ecológica ou de sua importância para a
preservação de sua espécie. [...] Diante do exposto, acompanho o relator, julgando o pedido formulado na presente
ação direta de inconstitucionalidade procedente, de acordo com os fundamentos aqui expostos, para declarar a
inconstitucionalidade da Lei nº 15.299, de 8 de janeiro de 2013, do Estado do Ceará, propondo a seguinte tese:
manifestações culturais com características de entretenimento que submetem animais a crueldade são incompatíveis
com o art. 225, § 1º, VII, da Constituição Federal [...] (ADI nº 4.983/CE, Rel. Min. Marco Aurélio, Tribunal Pleno.
Voto do Min. Roberto Barroso. Brasília: j. 06 out. 2016, DJe 27 abr. 2017)
Prefácio

Tenho dedicado os últimos anos da minha vida acadêmica, como Professor


da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná (UFPR), a
desenvolver estudos e pesquisas para a elaboração dogmática do Direito
Animal brasileiro, como ramo jurídico autônomo em relação ao Direito
Ambiental.
O Direito Animal, no ponto de vista do direito positivo, é o conjunto de
regras e princípios que estabelece os direitos fundamentais dos animais não-
humanos, considerados em si mesmos, independentemente da sua função
ambiental ou ecológica.
Dessa forma, os animais, no âmbito dessa nova disciplina, são encarados
como indivíduos importantes por si mesmos, ou seja, dotados de valor
intrínseco e dignidade próprios. Exatamente porque os animais têm
dignidade própria é que se deve outorgar a eles um catálogo mínimo de
direitos fundamentais.
No Brasil, a doutrina do Direito Animal, separada do Direito Ambiental,
somente passa a contar com trabalhos acadêmicos, em concentração
apreciável, a partir dos anos 2000, muito embora, antes disso, possam ser
encontradas obras precursoras, como Direito dos animais: o direito deles e o
nosso direito sobre eles, de Laerte Fernando Levai, de 1998, e A tutela
jurídica dos animais, de Edna Cardozo Dias, de 2000. Com mais de vinte
anos de produção acadêmica, a doutrina animalista já acumula um acervo
importante.
Mas ainda é preciso produzir muito mais para dar consistência científica
ao Direito Animal, de modo que ele possa influir, mais eficazmente, nas
decisões judiciais que tratem da tutela jurídica da dignidade animal.
Por essa razão, é muito bem-vinda a obra de Rafael Fernandes Titan, sobre
um aspecto ainda negligenciado pela doutrina animalista: as incongruências
do sistema de persecução penal, no que se refere à proteção da dignidade
animal. A desproporcionalidade entre o Direito Penal para proteção da
dignidade humana, em relação ao Direito Penal para proteção da dignidade
animal é flagrante, para não dizer inconstitucional, ante a clara insuficiência
das disposições penais, sobretudo das penas cominadas, especialmente para o
segundo caso.
O livro de Titan – DIREITO ANIMAL: O Direito do Animal Não Humano
no Cenário Processual Penal e Ambiental – é uma verdadeira denúncia
dessas incongruências, que possibilitam uma reflexão crítica sobre o caráter
especista e antropocêntrico do sistema jurídico-penal, que insiste em não
oferecer respostas adequadas às exigências constitucionais de proteção dos
animais como seres importantes em si mesmos.
Passando em revista as principais disposições penais e processuais penais
sobre o tema, Titan introduz os conceitos animalistas – como a senciência –
para ampliar a reflexão tradicional da doutrina penalista, que não consegue
enxergar a dignidade animal como um bem penalmente tutelável.
Da minha parte, sinto-me lisonjeado pelo convite de prefaciar esta obra,
que certamente será de citação obrigatória, quando se tratar das implicações
penais e processuais penais do Direito Animal.
Fico feliz em perceber o movimento crescente de jovens juristas – como
Rafael Titan – que encaram o desafio de construir a história do Direito
Animal, lançando as suas bases dogmáticas, sem se deixar levar pela sedução
constante das demais disciplinas tradicionais – até mesmo do Direito
Ambiental.
Tenho certeza que Titan é impulsionado pelo mesmo sentimento que me
acometeu anos atrás: tratar os animais com consideração e respeito, não por
piedade ou compaixão, mas por direito e por justiça.
Parabéns ao autor pela obra!
Curitiba, inverno de 2020.

VICENTE DE PAULA ATAIDE JUNIOR


Professor Adjunto do Departamento de Direito Civil e Processual Civil da
Universidade Federal do Paraná (UFPR). Professor do Programa de Pós-
Graduação em Direito da UFPR. Doutor e Mestre em Direito pela UFPR.
Pós-Doutor em Direito Animal pela Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Coordenador do Programa de Direito Animal da UFPR. Coordenador do
Curso de Especialização em Direito Animal da ESMAFE-PR/UNINTER.
Juiz Federal no Paraná. Formador de Magistrados pela Escola Nacional de
Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados (ENFAM) e pela Escola da
Magistratura do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (EMAGIS). Ex-
Promotor de Justiça do Ministério Público de Rondônia. Membro do Instituto
Brasileiro de Direito Processual (IBDP) e Membro-Fundador do Instituto
Paranaense de Direito Processual (IPDP). Membro da Comissão de Direito
Socioambiental da Associação dos Juízes Federais do Brasil (AJUFE).
Prefácio

Recebo o distinguido convite de Rafael Fernandes Titan para prefaciar esta


obra – dedicada às perspectivas ambientais e criminais do Direito Animal –,
que se traduz em rara e militante oposição à cultura de exclusão dos animais
de sistemas eficazes de tutelas e a um cansado processo civilizatório de
centralidades e interesses essencialmente econômicos – que ignorou censuras
e constrangimentos.
Assim, torna-se prazeroso o ato de apresentar esta obra. Pelos alcances
universalizantes e penhores humanistas, que não se furtam do seu criador;
dão-lhe, antes, ombros largos, que ostentam adequadamente discursos
cuidadosos, delineados em escritos e ensaios agradavelmente postos em
forma de correntezas temáticas. Apesar da seriedade que engradece o
trabalho.
Muito há a ser dito sobre o autor.
Além dos estuários acadêmicos, Rafael Fernandes Titan beneficiou-se
intelectualmente em cursos plurais de pós-graduação em Direito Público, em
Direito Penal e Processual Penal, estando a erguer, neste momento, o seu
Doutoramento.
Nele, somam-se outros quilates, a exemplo de cargos de professor
universitário, advogado e membro da Comissão de Defesa dos Direitos dos
Animais da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção do Estado do Pará.
E se os olhos percorrerem a introdução da obra que honrosamente aceito
prefaciar, encontram-se virtudes legitimantes da profissão de fé do autor à
substância do Direito Animal, posto revelarem a urgência confessada do
próprio escritor e de seu trabalho.
Trata-se de trabalho reativo ao estado das coisas que se consolidou a partir
de premissas essencialmente econômicas e em processos civilizatórios que
habitualmente marginalizaram o animal, quanto à perspectiva da existência,
da vida e da proteção adequada.
Com esse espírito de combatividade, “Violar um direito animal é violar
um direito humano”, brada, obstinado, Rafael Titan. A pronúncia de seu
sobrenome parece fazer todo sentido.
O ensaio abrange, contudo, mares ainda mais bravios. Inunda pautas éticas
alusivas relativas à agenda de proteção efetiva em favor dos animais, as quais
parecem precipitar evoluções, estabelecer projetos existenciais e erradicar
memórias de uma civilização severamente colonizada pelo utilitarismo, que
não se constrange perante a condição humana do homem e que em tudo
testemunha contrariamente a tal condição.
A condição do animal é, sem dúvida, intrínseca à humanidade do homem e
parte da improrrogável superação da ideia de que haveria escalonamentos –
base e ápice – entre as espécies a justificar pluralidade de níveis morais de
proteção. Tanto que a Declaração Universal dos Direitos dos Animais não
silencia: “2. O homem, como espécie animal, não pode exterminar os outros
animais ou explorá-los violando esse direito; tem o dever de pôr os seus
conhecimentos ao serviço dos animais.”
Há imprescindibilidades nesta obra, reveladas em sua estrutura. O autor
perpassa, com láurea, o sistema normativo de proteção ambiental, tecendo
valioso estudo sobre as teorias fundantes – facultando-nos indispensável
ponto de contato com a gênese do tema – e o aparelho processual de tutelas
aplicáveis – em verdadeiros cuidados com a amplitude constitucional do
tema. Propõe, com suas edificantes ideias, novas centralidades para a conduta
humana, a partir de escolhas por juízos éticos possíveis favoráveis ao bem-
estar animal.
Entusiasmo-me verdadeiramente a apresentar este estudo – que reputo
sério e promissor – acerca de tutela libertadora dos animais e de uma
precipitação de avanços humanitários. No que, aliás, o estudo é muito bem
sucedido.

Geraldo Og Nicéas Marques Fernandes


MINISTRO DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA - STJ
Sumário

Nota do autor
Apresentação
Prefácio
Prefácio
Sumário
1 Introdução
2 Breves Considerações da Lei de Crimes Ambientais
2.1 Perspectivas teóricas
2.1.1 Teoria Antropocentrista
2.1.2 Teoria Ecocêntrica
2.2 Aspectos gerais da Lei 9605/98
3 A fauna brasileira
3.1 Animais da fauna brasileira
3.2 Formas de violência
3.3 Comércio de animais
3.4 A caça de animais e as armadilhas
4 A desproporcionalidade
5 Os procedimentos penais e a Lei de Crimes Ambientais
5.1 Diferença entre Processo, Jurisdição e Procedimento
5.1.1 Tipos de procedimento
5.1.2 O procedimento especial do processo penal brasileiro
5.2 A Lei de Crimes Ambientais e o procedimento especial
6 O direito do animal não humano como um direito humano
6.1 A senciência
6.2 Declaração Universal de Direitos
6.2.1 Evolução do Direitos Humanos no Brasil sob a ótica ambiental
6.3 Legislação brasileira
6.4 Violar um direito animal é violar um direito humano
7 Conclusão
Posfácio
Por Daniel Braga Lourenço
8 Bibliografia
Anexos
1 Introdução

Atualmente o homem limita-se unicamente a sua existência. Envolvido


pelo sentimento de poder e ambição, ele sempre almeja aquilo que lhe
satisfaz momentaneamente e depois descarta, não se importando com as
consequências geradas por esses descartes. Desmatamentos, maus tratos,
crueldades e entre outros crimes ambientais são praticados para satisfazer a
necessidade humana.
O homem e a natureza sempre coexistiram, porém aquele depende deste
para sobreviver e o contrário não é verdadeiro. Há tempos se busca o
entendimento entre homem e natureza. O homem, como já citado, é um ser
totalmente dependente da natureza, necessitando dela para viver e sobreviver,
pois é dela que retira os recursos indispensáveis para sua manutenção; foi
dela que teve sua origem biológica.
A relação do homem com a natureza já foi menos gravosa. Atualmente
nosso planeta passa por um processo de degradação ambiental muito alto.
Embora haja inúmeros projetos voltados para mitigar esses efeitos, os danos
já foram causados e muitas vidas já foram tomadas.
Partindo do preceito puramente biológico, o conceito de vida é o
fenômeno que anima a matéria e que passa pela seguinte sequência:
nascimento, crescimento, reprodução e morte – com as devidas vênias e
posteriores aprofundamentos, essa seria a sequência básica – sendo, portanto,
qualquer interrupção de caráter não biológico durante esse processo, até
mesmo a morte de um ser humano, é considerado um dano ambiental.
Ainda nesse sentido, morte deve ser algo natural do processo da vida
quando ocorre dentro do processo normal evolutivo. Quando isso ocorre fora
do padrão considerado normal, como um assassinato, por exemplo, muitas
responsabilidades irão surgir desse fato, tais como sanções, danos,
obrigações. E de tais fatos nasce uma palavra que comumente se vê em
televisões e jornais: justiça.
O conceito de justiça é demasiadamente subjetivo. O que pode ser justo e
correto para um indivíduo, pode não ser para o outro. O que precisa ser feito,
então, é valorar-se condutas em um determinado tempo e lugar, de acordo
com os costumes de uma sociedade, por exemplo, para se chegar próximo de
tal conceito. Mas, com o intuito de analisar o assunto aqui estudado, justiça é
fornecer à alguém ou a alguma coisa – no sentido de bem móvel ou imóvel -
tratamento igualitário na medida de suas (des)igualdades.
Logo, diante do conceito acima estudado, aquele que interrompe uma vida
merece ser punido de uma forma severa. O direito à vida é o direito mais
importante das legislações mundiais, independentemente do tipo de estado e
governo que o país esteja submetido. É importante ressaltar, que mesmo
sendo o mais importante em todas as partes do mundo, o direito a vida é
relativizado em alguns países. Constitucionalmente, no Brasil, o direito a vida
é o bem jurídico mais relevante que os cidadãos possuem e, de certo modo
bem como cumprindo alguns requisitos, ele pode ser posto em
condicionalidade, não sendo, dessa forma, absoluto. Do ponto de vista
religioso, a existência é o bem mais importante que a divindade entregou ao
mortal, seja qual for a religião do ser humano. E ela não deveria ser tomada a
não ser pela vontade de seu criador.
Ainda nesse sentido, as garantias constitucionais buscam consagrar à
solidariedade, consolidando dessa maneira os princípios da Revolução
Francesa: liberdade (1º geração), igualdade (2º geração) e fraternidade (3º
geração). A Terceira geração são os direitos fundamentais direcionados com
o destino da humanidade, inicialmente preocupados com o Meio Ambiente e
a sua proteção e conservação, o desenvolvimento econômico e a defesa do
consumidor. Esta visão decorrente da organização social que é a partir dessa
geração que surge a concepção individual considerada em sua unidade e não
na fragmentação individual. Logo, percebe-se que essa geração contribuiu de
forma maciça para o surgimento de uma consciência jurídica de grupo e na
consequência, o redimensionamento da liberdade de associação e de outros
direitos coletivos, também chamados de direitos transindividuais ou difusos.
Analisando a Constituição Federal de 1988, no âmbito dos direitos
fundamentais, é dever do ser humano, também, defender e preservar o meio
ambiente e nesse sentido a fauna e a flora que dele fazem parte, como bem
preceitua o artigo 225 da Constituição. No enfoque jurídico, aquele que ceifa
a vida de alguém, dependendo das leis do Estado em que se encontre, é
punido da mesma forma, com a morte. No Brasil o Código Penal, em seu
artigo 121 diz, in verbis: “Homicídio simples - Art. 121. Matar alguém: Pena
- reclusão, de seis a vinte anos.”1
Existe questionamento do porquê essa reclusão mínima não é maior. Há
posicionamentos acerca desse quantum ser ínfimo, por exemplo, 6 anos para
quem matou alguém. É aí que recaí o conceito de justiça e há de ser
analisado, mas talvez em momento oportuno, as condições da prática do
crime, a conduta do agente e uma série de fatores que levaram à prática
delituosa.
Um tema que, com certeza, gera uma discussão fervorosa em razão do
conceito de justiça é pensar: por que a sua vida é mais importante que a do
ser humano do seu lado? A pergunta pode também ser feita através de uma
outra ótica, vejamos: Por que a sua vida é mais importante que qualquer outra
forma de vida? Todos não têm direito à vida? Por que A tem que morrer para
B sobreviver?
A partir desses questionamentos é que se entra no tema mais importante
desse texto e já mencionado mais acima. Com o consumo desenfreado e a
busca por melhor condição de vida, o homem devasta a natureza, consome
seus recursos naturais sem a menor preocupação, dizimado tudo o que vê pela
frente: desmata, mata, fere e extingue fauna e flora que à ele são
indispensáveis para sua própria sobrevivência. Diante dessas afirmações,
volta-se as perguntas do parágrafo anterior: por que a vida do homem é mais
importante do que a vida da natureza, se é ela que faz ele permanecer vivo?
O conceito de justiça, como já foi afirmado, é subjetivo e é do
entendimento de cada um e em cada tempo, mas não se pode fechar os olhos
para uma situação que está fora dos padrões considerados éticos de uma
sociedade. Vejamos o que diz o artigo 29 da Lei 9.605/98 – Lei de Crimes
Ambientais, in verbis2: Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar
espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida
permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em
desacordo com a obtida. Pena - detenção de seis meses a um ano, e multa.
Ainda nesse sentido, o artigo 32 da mesma lei: “Art. 32. Praticar ato de
abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou
domesticados, nativos ou exóticos: Pena - detenção, de três meses a um ano,
e multa”3.
Se um homem matar um animal silvestre ou mutilar um animal doméstico
ele não vai ser encarcerado, com a devida vênia, não será nem “preso”. É
nessa situação que não se pode esquecer, que não se pode fingir, que não há
uma desproporcionalidade, pois de fato há! A todo momento existem notícias
nos diversos meios de comunicação sobre maus tratos e matança
indiscriminada da fauna e desmatamento da flora.
É necessário um senso moral, ético e justo em avaliar e ponderar sobre a
vida. Ela não deve ser banalizada a ponto de ser tomada apenas pelo simples
fato de não significar -tanto - para quem a ceifou. Que tipo de relação seria
essa? Seria uma relação justa? Não é um mundo justo e harmônico que o ser
humano busca?
A evolução histórica da Lei de Crimes Ambientais, como é chamada a Lei
9605/98, teve início, como já explicado, a partir do artigo 225 da
Constituição Federal Brasileira de 1988 e com a intenção de consolidar as
raras leis que regulavam os atos lesivos contra o meio ambiente. Na nova lei
criada, a intenção do legislador, além de unificar os textos legais esparsos, era
sancionar penalmente o agente causador do dano ambiental. Tal intenção foi
positiva, entretanto não houve um “quantum” de pena adequado e necessário
para quem cometesse o crime, tendo a referida lei o caráter sancionador
apenas administrativo e econômico.
Cada vez mais, animais selvagens e silvestres estão ameaçados de
extinção, devido a perda de habitat, poluição, intervenção humana,
exploração comercial e outros fatores. Os homens nem sempre fazem uso dos
recursos naturais, incluindo animais selvagens e silvestres, de maneira
responsável. Como resultado, os processos ecológicos não conseguem
funcionar corretamente, para manter o meio ambiente saudável e
diversificado para a população selvagem/silvestre. Existem tipos diferentes
de exploração dos animais selvagens e silvestres, com efeitos variados no
bem-estar dos indivíduos envolvidos. Alguns animais são capturados na
natureza, enquanto outros são reproduzidos em cativeiro. Eles podem ser
comercializados vivos ou mortos (inteiros, em partes ou na forma de produtos
processados). Muitos tipos de exploração envolvem alto grau de sofrimento
animal. Algumas formas de exploração comercial dos animais selvagens e
silvestres também comprometem sua preservação. Populações animais são
afetadas, assim como também a qualidade de vida do animal
individualmente.
O homem não sabe utilizar os recursos naturais de forma sustentável.
Utiliza-os de forma danosa para o meio ambiente e acaba causando morte,
maus tratos à animais silvestres, domésticos e domesticados. Não há
proporcionalidade entre a conduta do criminoso quando mata um animal com
a sanção imposta por tal ação. Se for feita uma comparação com o artigo 121
do Código Penal, será observado uma relativa proporcionalidade entre a
conduta e pena. Isso não ocorre no artigo 29 da lei de crimes ambientais.
Com uma atitude que cause severos e contínuos danos ao meio ambiente, a
consequência, em longo prazo, do ser humano é a própria extinção. Como
será abordado adiante, será possível perceber que ao modificar o cenário
ambiental onde vive, o homem está fadado a tal mudança. Se essa mudança
for positiva, racional a consequência será na mesma proporção. Entretanto, se
essa mutação for negativa e sem racionalidade, a consequência para o ser
humano, não será diferente.

1 (Brasil. DECRETO-LEI No 2.848, DE 7 DE DEZEMBRO DE 1940 (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984).
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848.htm).
2 BRASIL. LEI Nº 9.605, DE 12 DE FEVEREIRO DE 1998. Dispõe sobre as sanções penais e administrativas
derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9605.htm
3 BRASIL. LEI Nº 9.605, DE 12 DE FEVEREIRO DE 1998. Dispõe sobre as sanções penais e administrativas
derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9605.htm
2 Breves Considerações da Lei de Crimes
Ambientais

2.1 Perspectivas teóricas


Atualmente tem-se discutido a relevância dos recursos naturais do nosso
mundo. Ainda bem que a consciência em relação importância da preservação
e cuidado com o meio ambiente tem crescido e algumas pessoas tem se
posicionado cada vez mais de forma ecológica. Porém, não costumava ser
assim. Durante séculos o ser humano utilizou a natureza (fauna, flora e
demais recursos) da maneira que lhe convinha, entendendo que os recursos
naturais eram inesgotáveis. Esse pensamento, esse modo de agir, se
perpetuou ao longo dos anos e hoje a sociedade encontra dificuldade de
entender e aceitar que o meio ambiente possui valor próprio.
Diante desse contexto, analisaremos duas teorias importantes sobre a
perspectiva homem x meio ambiente: o antropocentrismo e o ecocentrismo.
Ainda existem outras teorias como o biocentrismo e especismo, mas não
trataremos dessas duas nessa abordagem.

2.1.1 Teoria Antropocentrista


De acordo com o promotor e professor Laerte Levai, o antropocentrismo é
“uma corrente de pensamento que reconhece o homem como o centro do
universo e, consequentemente, o gestor e usufrutuário do nosso planeta”
(LEVAI, L. F. 2011, p. 02). Assim, é de fácil percepção que essa teoria
defende a supremacia humana, pois todo e qualquer propósito que não seja do
ser humano fica em posição de inferioridade.
Nessa sequência, essa teoria não atribui relevância aquilo que não é
humano, os animais e outras formas de vida são considerados objetos e
servirão ao propósito do homem. Sua importância fica vinculada ao quanto
eles serão úteis para o desenvolvimento do ser humano e sua vida sadia.
Assim, os que não são homens possuem apenas um mero valor de uso e é
através dessa forma de pensar, através do antropocentrismo, que muitos
autores justificam a exploração do meio ambiente.
Inserida na perspectiva ora discutida, é possível citar a doutrina estrangeira
“The Great Chain of Being” (“A Grande Cadeia do Ser”), de autoria do
filósofo e historiador estadunidense Arthur Oncken Lovejoy. Essa obra, em
síntese, realiza uma distribuição das formas de vida e de não vida no mundo.
No primeiro degrau desse escalonamento existem os seres que não possuem
vida (terra, água, pedra e outros), acima deles as plantas, depois os animais
não humanos e no topo os homens.
Dessa forma, o mundo que conhecemos hoje foi construído sob os moldes
dessa “pirâmide” na qual os humanos dominam e detêm o controle sobre
todas as outras formas de vida e de não vida presentes no planeta.

2.1.2 Teoria Ecocêntrica


A visão do ecocentrismo é o contrário do antropocentrismo, é uma linha
de pensamento da filosofia voltada a ecologia, ou seja, posiciona a natureza
(o meio ambiente) como personagem principal e dessa forma passa a possuir
uma valoração, uma essência, algo que mereça proteção. Nessa teoria, os
interesses são todos voltados e concentrados ao meio ambiente. Para essa
teoria, o ser humano e a natureza estão no mesmo nível de escalonamento.
O argumento principal do ecocentrismo é de que o homem quando
executar qualquer tipo de ação, ou mesmo o pensamento, deve levar em
consideração a proteção e a conservação da natureza. Ao contrário do
antropocentrismo que preconiza a vida do ser humano como foco, como
centro, a teoria ecocêntrica busca a preservação do ecossistema e de todas as
espécies (incluindo a humana). Defende ainda, que todas as formas de vida
têm a mesma origem (água) e por isso não devem possuir tratamentos
distintos. O ecocentrismo é uma teoria, ao nosso sentir, mais abrangente pois
considera tanto os seres bióticos (os que possuem vida) quanto os seres
abióticos (os que não possuem vida). Nas palavras do professor ambientalista
Stan. J Rowe: “Ecocentrismo vai além do biocentrismo com sua fixação em
organismos, pois ecocentrismo vê as pessoas como inseparáveis da natureza
orgânica/inorgânica que as encapsula” (ROWE, J. Stan. 1994, p. 106-107).
Portanto, é cristalino que o posicionamento central dessa teoria posiciona
os valores do meio ambiente como detentor de garantias, prerrogativas,
direitos e não somente os animais. Essa visão procura por fim não somente a
exploração animal em todas as suas formas, mas também a ruina da natureza.
2.2 Aspectos gerais da Lei 9605/98
A partir de um dado momento da história do planeta Terra, a evolução
humana passou a representar um risco iminente e acentuado para os outros
seres vivos. Com o passar do tempo, a espécie humana, como era de se
esperar, cresceu e saltou de 1 bilhão e meio para quase 6 bilhões de pessoas4.
Como qualquer espécie, a humana precisa consumir os recursos naturais
disponíveis no ambiente, entretanto esse consumo é desenfreado e sem limite,
prejudicando as outras formas de vida bem como o próprio do homem.
A evolução humana se deu pela predisposição genética do homem, as
grandes descobertas bem como o avanço tecnológico, proporcionaram ao
mesmo um rápido crescimento em comparação com as outras espécies. Tais
avanços e descobertas acentuaram o processo de transformação e degradação
em níveis que hoje se demonstram extremamente perigosos à própria
sobrevivência da humanidade.
Grandes áreas verdes foram desmatadas, rios e lagos poluídos, emissão de
gases e poluentes, dando início a um ciclo de poluição e contaminação do
solo, da água e do ar. Toda essa destruição teve como ponto de partida a
evolução do homem.
Em nosso país, antes da Constituição Federal de 1988, eram raros os textos
normativos que se preocupavam em normatizar os fatos que estavam
ocorrendo. A preocupação com a degradação ambiental e necessidade de
impor sanção ao homem acabou acontecendo, mas era porquê estava
lesionando algum direito alheio e por razões econômicas, e não pelo fato de
que davam valor ao meio ambiente. Faltava ainda uma punição em caráter
penal, a tipificação de crime pra quem degradasse o planeta. Foi então que
houve a hierarquização constitucional da proteção ao meio ambiente, inserida
no artigo 225 da Carta Magna do país, as leis penais pertinentes à proteção
ambiental foram consolidadas na Lei 9.605/98, de 12 de fevereiro de 1998.
A lei de crimes ambientais é um projeto oriundo do poder executivo e
tinha, originalmente, a intenção de sistematizar as punições administrativas e
unificar o valor das multas. Houve um debate no Congresso Nacional sobre a
tentativa de consolidar a legislação ambiental à questão penal. A intenção do
legislador era de reunir as sanções penais e administrativas brasileira em um
único dispositivo de lei em matéria ambiental. Concentraria a matéria em
uma única norma. Tal regulamentação veio através do Decreto 3179/99, que
especifica as penas aplicáveis às condutas e atividades lesivas ao meio
ambiente5.
Foi perceptível a boa intenção do legislador, entretanto faltou sensibilidade
ao mesmo acerca das sanções para quem cometesse crimes contra o meio
ambiente. Apesar disso, a vantagem da norma está na sistematização, pois há
um texto unificado, regulando as condutas e revogando dispositivos legais em
outras leis esparsas pelo princípio constitucional “lex specialis derogat lex
generali”, que significa nas palavras do doutrinador Luiz Paulo Sirvinskas:
“norma especial afasta a geral se se tratar da mesma matéria e se for
conflitante”6.
Ademais, ainda nesse sentido, é importante pontuar algumas
características da referida lei. O professor venezuelano José Moyá (2007, on
line), já na época da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente,
no Rio de Janeiro em 1992 (Rio 92), chegou a alardear que: “meio ambiente
não existe”, e que o que existe “é um todo global e integrado, cujos
elementos se combinam interdependentemente, formando uma unidade
indissolúvel” que deve então ser denominado apenas de ambiente7. Com a
devida vênia, ouso discordar e ter como concepção quatro modalidades de
meio ambiente: meio ambiente natural (aquele local existente sem a ação do
homem como meio para constituí-lo); meio ambiente artificial (aquele local
em que foi necessária a ação do homem para que existisse) e meio ambiente
cultural (todo aquele local que, apesar da ação do homem ser imprescindível
para que surgisse, é considerado um monumento histórico, cultural)8 e meio
ambiente laboral (formados por conjuntos de equipamentos de proteção
individual, por exemplo), bem como entender que as palavras meio e
ambiente não são sinônimas mas sim termos que se complementam. Nesse
mesmo entendimento, o mestre Édis Milaré apresenta sua concepção9: Tanto
a palavra meio quanto o vocábulo ambiente passam por conotações, quer na
linguagem científica quer na vulgar. Nenhum destes termos é unívoco
(detentor de um significado único), mas ambos são equívocos (mesma
palavra com significados diferentes). Meio pode significar: aritmeticamente,
a metade de um inteiro; um dado contexto físico ou social; um recurso ou
insumo para se alcançar ou produzir algo. Já ambiente pode representar um
espaço geográfico ou social, físico ou psicológico, natural ou artificial. Não
chega, pois, a ser redundante a expressão meio ambiente, embora no sentido
vulgar a palavra identifique o lugar, o sítio, o recinto, o espaço que envolve
os seres vivos e as coisas. De qualquer forma, trata-se de expressão
consagrada na língua portuguesa, pacificamente usada pela doutrina, lei e
jurisprudência de nosso país, que, amiúde, falam em meio ambiente, em vez
de ambiente apenas.
Ainda no que tange a lei de crimes ambientais, mister ressaltar que há a
previsibilidade do concurso de pessoas com base no artigo 29 do Código
Penal Brasileiro, em que a pessoa responderá mediante ao seu grau de
culpabilidade. Há a responsabilização da pessoa jurídica, pois de acordo com
a carta magna, o meio ambiente é um direito social, pertencente a toda
coletividade. O artigo 3º, da Lei 9605/98 ensina que é de integral
responsabilidade do Estado em punir civilmente, administrativamente e
penalmente as pessoas físicas ou jurídicas que cometem este delito, bem
como o parágrafo único deste artigo que aduz que, mesmo que se for a pessoa
jurídica que cometeu o delito, não excluirá a culpabilidade de seus
representantes legais, mesmo porque quem possui a capacidade para a prática
deste delito é somente a pessoa física, que consequentemente será de
responsabilidade do seu representante legal10. As circunstâncias judiciais
elencadas no artigo 59 do Código Penal para a aplicação na dosimetria da
pena estão presentes. Entretanto a Lei 9.605/1998 em seu artigo 6º elenca
circunstâncias específicas em crimes ambientais. Mas mesmo com essa
especificidade, há de se levar em consideração, de forma conjunta, o artigo
59 do Código Penal, não podendo se estipular um novo mínimo e máximo do
“quantum” da pena. O artigo 7º da lei em análise, de crimes ambientais, traz a
figura das penas restritivas de direito, as quais são autônomas e substituem as
penas privativas de liberdade desde que cumpridos os requisitos. No artigo 16
desta Lei, há a previsão da suspensão condicional da pena (o SURSIS penal)
desde que a pena máxima do delito ambiental não ultrapasse três anos.
A ação penal dos crimes de natureza ambiental, de acordo com o artigo 26
da Lei 9605/98, é pública e incondicionada a representação, ou seja, não se
faz necessário a atuação da vítima ou do seu representante para o início da
persecução criminal. Nos crimes contra a flora, a competência para processar
e julgar é da Justiça Federal quando fica comprovada a existência de lesão a
bens, serviços ou interesses da União. Caso contrário, o julgamento da causa
compete à Justiça Estadual, conforme entendimento do Superior Tribunal de
Justiça. Nos casos de crimes contra a fauna a competência da Justiça Federal
para o julgamento e processamento dos feitos somente se justifica se
demonstrado interesse direto e específico da União, de suas autarquias ou
empresas públicas, se não houver esse interesse, a competência é da justiça
Estadual. É importante destacar que o art. 53 da Lei 9.985/2000 outorgou ao
IBAMA o dever de catalogar espécies ameaçadas de extinção em território
nacional. Dessa forma, é possível entender que quando o IBAMA catalogar
espécies em possibilidades de extinção, qualquer crime praticado contra esse
animal será de competência federal. Vejamos o entendimento do Supremo
Tribunal Federal sobre o assunto: No presente caso, o delito imputado (art.
34, parágrafo único, inciso III, combinado com art. 15, II, alíneas “a” e “q”
da Lei 9.605/1.998) foi praticado dentro do território nacional, e não há
demonstração de que os espécimes capturados seriam transportados para fora
do país. Por outro lado, a fauna não é descrita pelo texto constitucional como
bem da União (art. 20 da Constituição). Nessa linha, a competência da Justiça
Federal para processamento do feito somente se justifica se demonstrado
interesse direto e específico da União, de suas autarquias ou empresas
públicas. Ora, in casu, o art. 53 da Lei 9.985/2000 outorgou ao IBAMA o
dever de catalogar espécies ameaças de extinção em território nacional. A par
disso, o art. 54 confere à União a faculdade de autorizar em caráter
excepcional a captura de determinados espécimes em risco de extinção
destinados a programas de criação em cativeiro ou formação de coleção
específica. Entrevejo, pois, que o dever de catalogar as espécies ameaçadas
de extinção no território nacional constitui interesse federal específico,
decorrente da necessidade de proteger determinados animais em toda a
extensão territorial brasileira. Como no caso em questão a denúncia reporta-
se à Instrução Normativa nº 05/2004 IBAMA, não merece reparo a fixação da
competência da Justiça Federal, com fulcro no art. 109 da Constituição. Sem
razões para a concessão da ordem de habeas corpus. Ante o exposto, nego
seguimento ao presente habeas corpus (art. 21,§1º, do RISTF). Publique-se.
HABEAS CORPUS 121.681 RIO GRANDE DO SUL. RELATORA : MIN.
ROSA WEBER. PACTE.(S) :FERNANDO LUIS DA ROSA FREIRE. IMPTE.(S)
:DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO. PROC.(A/S)(ES) :DEFENSOR
PÚBLICO-GERAL FEDERAL. COATOR(A/S)(ES) :SUPERIOR TRIBUNAL
DE JUSTIÇA. 15/12/2017.
Percebe-se, portanto, que a competência para processar e julgar crimes
contra o meio ambiente, em regra, é da Justiça Estadual e apenas com as
devidas condições estabelecidas pelos tribunais superiores é que será de
atribuição da Justiça federal. Ainda nesse contexto, poderá ser de
competência do juizado especial criminal os crimes em que a pena máxima
não exceder dois anos.
A evolução histórica da Lei de Crimes Ambientais, como é chamada a Lei
número 9.605/1998, teve início, como já explicado, a partir do artigo 225 da
Constituição Federal Brasileira de 1988 e com a intenção de consolidar as
raras leis que regulavam os atos lesivos contra o meio ambiente. Na nova lei
criada, a intenção do legislador, além de unificar os textos legais esparsos, era
sancionar penalmente o agente causador do dano ambiental. Tal intenção foi
positiva, entretanto não houve um “quantum” de pena adequado e necessário
para quem cometesse o crime, tendo a referida lei o caráter sancionador
apenas administrativo e econômico. No que diz respeito a parte processual,
verifica-se a fragilidade do sistema em garantir uma justa condenação, haja
vista os inúmeros “benefícios” que a legislação oferece por ter uma pena
desproporcional.

4 ROMANELLI, Francisco Antônio. A sanção penal no sistema da lei 9.6905/98.


http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=7118
5 ROMANELLI, Francisco Antônio. A sanção penal no sistema da lei 9.6905/98.
http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=7118
6 SIRVINSKAS, Luiz Paulo. Tutela Penal do Meio Ambiente. São Paulo: Saraiva, 2004, 3.ª edição; pág. 235.
7 http://www.oab.org.br/editora/revista/revista_08/anexos/o_meio_ambiente_na_constituicao_federal.pdf
8 http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,comentarios-a-parte-geral-da-lei-de-crimes-ambientais,33417.html
9 http://www.oab.org.br/editora/revista/revista_08/anexos/o_meio_ambiente_na_constituicao_federal.pdf
10 http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,comentarios-a-parte-geral-da-lei-de-crimes-ambientais,33417.html
3 A fauna brasileira

3.1 Animais da fauna brasileira


Fauna é o conjunto de espécies animais quem vivem numa determinada
área (floresta, país, ecossistema específico). A fauna de uma determinada
região pode ser muito variada, dependendo das condições ambientais
existentes11. Grande, diversificada e específica é a fauna brasileira. Muito são
os animais nativos em nosso território, cabendo a nós, por força
constitucional, cuidar e proteger, pois é cristalino que nossa sobrevivência e
evolução dependem da boa relação entre o ser humano e o animal.
Na região amazônica são muitos os tipos de peixes e mamíferos aquáticos
que habitam os rios e lagos. As espécies mais conhecidas são o pirarucu e o
peixe-boi (ameaçado de extinção). Nas várzeas existem jacarés e tartarugas
(também ameaçados de extinção), bem como algumas espécies de anfíbios, a
capivara e algumas serpentes, como a sucuri. Nas florestas propriamente dita
se encontram a onça, os macacos, a preguiça, a jiboia, a sucuri, os papagaios,
araras, tucanos e uma variedade de insetos e aracnídeos. Nas caatingas,
cerrados e campos são mais comuns a raposa, o tamanduá, o lobo guará, o
guaxinim e codornas. De maneira geral, a fauna brasileira não se compara
com nenhuma outra em variedades. São inúmeras as aves de rapina, como os
gaviões, como as corujas e as águias12.
Dessa forma, são muitos os animais que compõe a fauna brasileira,
devendo a mesma ser preservada, pois pela própria evolução humana, como
já foi citado, é possível que alguns animais da nossa fauna sejam extintos,
como de fato já aconteceu e está acontecendo.
3.2 Formas de violência
Primeiramente se faz necessário definir, conceituar, a palavra violência.
De acordo com o dicionário13, violência é “Qualidade ou caráter de violento,
do que age com força, ímpeto. Ação violenta, agressiva, que faz uso da força
bruta: cometer violências.” é também “Ato de crueldade, de perversidade, de
tirania: regime de violência.” Ainda, “ação ou efeito de empregar força física
ou intimidação moral contra; ato violento.” Por Violência entende-se a
intervenção física de um indivíduo ou grupo contra outro indivíduo ou grupo
(ou também contra si mesmo). No entendimento de Foucault14, para que haja
violência é preciso que a intervenção física seja voluntária: o motorista
implicado num acidente de trânsito não exerce a violência contra as pessoas
que ficaram feridas, enquanto exerce violência quem atropela
intencionalmente uma pessoa odiada. Além disso, a intervenção física, na
qual a violência consiste, tem por finalidade destruir, ofender e coagir. É
violência a intervenção do torturador que mutila sua vítima; não é violência a
operação do cirurgião que busca salvar a vida de seu paciente. Exerce
violência quem tortura, fere ou mata; quem, não obstante a resistência,
imobiliza ou manipula o corpo de outro; quem impede materialmente outro
de cumprir determinada ação15. Geralmente a violência é exercida contra a
vontade da vítima. Existem, porém, exceções notáveis, como o suicídio ou os
atos de violência provocados pela vítima com finalidade propagandística ou
de outro tipo. (Stoppino, 1992, p.1291)16. Com a devida vênia, na minha
concepção, violência, de uma maneira abrangente, é uma conduta (ação ou
omissão), dolosa ou culposa, que provoca lesões contra a saúde física e/ou
psicológica de um ser vivo capaz de expressar sentimentos, ou seja, em seres
sencientes.
A violência através de uma ação dolosa é aquela que possui a vontade,
livre e consciente, de causar sofrimento a um ser. O agente quer satisfazer sua
vontade, quer infligir dano contra a saúde física e/ou psicológica do seu alvo.
A violência através da omissão é aquela em que o agente deixa de prestar um
socorro, uma ajuda para o ser vivo que precisa ser socorrido. No mesmo
sentido, a violência através de uma ação culposa, é aquela em que o agente,
por negligência, imprudência ou imperícia, não tem a intenção de lesionar,
mas lesiona.
A ação da violência, abordada de maneira genérica, pode recair sobre
objetos (mas dessa forma não lesiona e sim danifica) e sobre os seres vivos.
Desde o começo da humanidade, tal ação recai comumente sobre os animais
silvestres, domésticos e domesticados. E muitas são as formas de violência
física contra esses seres vivos, os quais são objetos desse estudo. Durante
muito tempo, os animais foram e continuam sendo mortos, vítimas de maus-
tratos, feridos, mutilados e explorados para satisfazer os prazeres, muitas das
vezes sem necessidade, dos seres humanos. Ceifar a vida de um animal, sem
necessidade, é o pior tipo de violência física que esse ser vivo pode receber,
pois aquela é a maior garantia que a Constituição Federal Brasileira oferece,
nenhuma outra garantia é tão importante quanto a vida, a essência da
existência, e retirar isso de um ser que a possui é a maior violação de um
direito que pode ocorrer, em qualquer lugar do mundo.
Ainda nesse sentido, o artigo 32 da Lei de crimes ambientais, cita, porém
não limita, os possíveis tipos de violência física que podem ser cometidos
contra animais silvestres, domésticos e domesticados. Praticar ato de abuso é
agir de maneira incorreta, ilegítima, imoderada e injusta, é forçar o animal
executar atividades que contrariem sua atividade natural; maltratar é o ato de
fazer sofrer; ferir significa machucar; mutilar é o ato de cortar, retalhar um
membro ou parte do corpo. Algumas doutrinas e pesquisadores acerca do
direito ambiental entendem que não é possível a modalidade culposa, através
da imprudência, negligência ou imperícia, para os tipos de violência física
descritos no artigo 32 e 29 da referida lei. Com o devido respeito, ouso
discordar. No que tange a ação de maus tratos, penso que é possível ser
cabível a modalidade culposa do delito, entretanto antes de aprofundar o
mérito do raciocínio, se faz necessário a conceituação das modalidades da
conduta culposa. A culpa, em sentido estrito, possui três modalidades:
imprudência, negligência e imperícia. Qualquer pessoa que execute uma ação
pautada em tais modalidades, age com culpa (sem intenção) e não com dolo
(com intenção). Agir com negligência significa deixar de fazer algo quando
deveria ter feito, é uma conduta omissiva. Imprudência significa agir com
precipitação, sem cuidado e zelo necessário. Imperícia significa não saber
fazer direito, falta de conhecimento necessário para agir. Dessa forma, é
perfeitamente plausível um ser humano que possui um animal de estimação
(doméstico) e, por conta de seus afazeres diários, esquece-se de alimentá-lo
por mais de dez dias, fazendo com que o mesmo fique debilitado. Houve
violência na conduta da pessoa, caracterizada pelo maltrato, entretanto não
houve vontade, intenção de alcançar aquele resultado e sim culpa em razão da
negligência, através da omissão, do deixar de alimentar.
Não se pode deixar de mencionar atos de violências que já foram muito
comuns em outrora. Era sensacional em espetáculos circenses a aparição de
animais como tigres, leões, elefantes e outros animais que compõe nossa
fauna. Bastava um gesto do domador e o animal atendia ao seu comando
fazendo o público aplaudir de pé. Sem saber, pessoas de bem aplaudiam a
violência na sua forma mais primitiva pois era através de atos de abuso, maus
tratos e até mutilações (remoção de unhas, dentes e outros) que os animais
ficavam condicionados à obediência. Esse espetáculo, bizarro, muitas vezes
não eram licenciadas e autorizadas pelos órgãos competentes, sendo realizado
na mais pura ilegalidade e a exposição desses animais incentivavam mais um
crime previsto pela lei dos crimes ambientais, o tráfico. Outra situação que
ocorre com frequência são as chamadas festa de “peão” onde animais como
bois, vacas e cavalos (na sua grande maioria) sofrem atos de abuso, maus
tratos e são feridos com o intuito de divertir o público.
Outrossim, além da violência física, existe a violência psicológica e tal
violência pode sim ser infligida contra animais da fauna brasileira. A própria
negligência citada no parágrafo anterior é um exemplo de violência
psicológica, ou seja, se alguém que tenha adquirido o dever de cuidado para
com um animal, seja ele silvestre, doméstico ou domesticado, deixa-lhe de
fornecer água, comida, abrigo e demais cuidados necessários para sua
sobrevivência, acaba gerando um nível de estresse alto fazendo com que esse
animal seja violentado não só fisicamente, mas também psicologicamente.
É de fácil percepção do ser humano, notar que muitos cachorros que
vivem nas ruas são agressivos. A agressividade é algo natural tanto nos seres
humanos quanto nos animais, entretanto aflorar essa natureza de forma
desnecessária é prejudicial tanto para quem agride quanto para quem é
agredido e tal postura (de agressor) nada mais é do que uma forma de
sobrevivência, de instinto, de defesa. Animais domésticos, como cães e gatos
de rua por exemplo, são abandonados quando seus “proprietários” não tem
mais interesse em permanecer com eles e isso nada mais é do que um tipo de
violência psicológica, pois gera nos mesmos, sentimento de medo fazendo
com que eles, para conseguir sobreviver, sejam ou se tornem mais agressivo
que o natural.
As violências psicológica e física estão diretamente ligadas com o
sentimento e tal palavra tem por definição a aptidão de receber impressões.
Todos os animais da fauna brasileira são capazes de receber impressões, e
sendo essa a definição de sentimento, de uma maneira abstrata, por lógica
entende-se que os animais não humanos possuem sentimentos. A médica
veterinária e Pós-Doutora Carla Molento afirma que: “Embora a afirmação
pareça óbvia, na sociedade ainda é comum considerar animais como
objetos.”17.
Durante o III Congresso Brasileiro de Bioética e Bem-estar Animal em
agosto de 2014, realizado na cidade de Curitiba, 26 cientistas concluíram que
os animais além de possuírem sentimentos, não devem ser considerados
objetos. As justificativas e evidências para isso se dividem em quatro
categorias: comportamentais, neurológicas, farmacológicas e evolutivas. Tais
evidências demonstram que os animais se comportam semelhante aos seres
humanos e também apresentam estrutura nervosa parecida e isso pôde ser
percebido através de algumas substâncias liberadas diante de sensações de
medo e alegria18.
Dessa forma é cristalino o entendimento de que pode haver violências
tanto no aspecto físico (atos de abuso, mutilações, maus tratos etc.) quanto no
aspecto psicológico (abandono, exposição indevida etc.) contra os animais
pertencentes a fauna brasileira.
3.3 Comércio de animais
O comércio de animais no Brasil advém desde a chegada dos portugueses
em nosso território. Com os lusitanos em solos brasileiros e sua convivência
com os indígenas, logo ocorreu a prática do escambo, ou seja, o ato de “trocar
presentes”, sem o uso de moeda, “dinheiro”, entre esses dois povos. Essa
troca consistia em materiais que os índios tinham interesse, artefatos que não
tinham muito valor pros estrangeiros, e materiais que os portugueses tinham
interesse e sem valor para os índios. Alguns exemplos de materiais
importante para os portugueses: madeira, serviços, animais etc.
Os primeiros registros de envio da fauna silvestre brasileira datam de
1500. Em 27 de abril de 1500 pelo menos duas araras e alguns papagaios,
frutos de escambo com os índios, foram enviados ao rei de Portugal,
juntamente com outras amostras de animais, plantas e minerais.19.
Os animais que chegavam até Portugal, causavam grande admiração e
interesse, pois alguns desses eram exóticos para aquela região. Com o
despertar desse interesse, os portugueses perceberam que era possível criar
um comércio em torno desses animais e que seria bastante rentável. Alguns
seres vivos serviam de estimação e outros eram sacrificados para virar tecido
para roupas, adorno para o corpo etc. Dessa forma, a procura por esses
animais cresceu na Europa e diante desse cenário, o colonizador, a cada vez
que voltava ao Brasil, levava consigo alguns exemplares da nossa fauna,
causando dessa forma, o extermínio de várias espécies brasileiras para
atender ao crescente mercado estrangeiro.
Atualmente, mesmo com a lei de proteção à fauna e a lei de crimes
ambientais, as quais proíbem essa prática, salvo com algumas exceções, ainda
é comum se ver o comércio de animais. Esse comércio se dá através de feiras
ao ar livre e em contrabando ou tráfico, e tal ação dificilmente é punida,
facilitando, inclusive, a posse ilegal pela própria sociedade onde esses
animais são comercializados. O tráfico é o comércio ilegal de produtos
ilegais, enquanto que o contrabando é o comércio ilegal (sem pagar
impostos), de produtos legais.20 Essa atividade ilegal não é somente uma
afronta à lei, mas uma afronta à própria fauna brasileira, onde esses animais
comercializados muitas vezes entram em extinção, prejudicando todo o
ecossistema.
É quase certo que em todas as feiras há depósitos clandestinos de animais,
bem próximos, com a finalidade de abastecer os “estoques” dos vendedores.
Também há locais para esconder animais caso ocorra uma eventual operação
policial. Dado interessante é que nos casos de operações realizadas com a
Polícia Civil, nem sempre os traficantes e vendedores têm êxito, pois conta-se
com uma ação surpresa do Órgão Público. Já nos casos de operações
efetuadas pela Polícia Ambiental, ocorre o inverso, uma vez que ações em
feiras com policiais fardados geralmente não são bem sucedidas, já que os
“olheiros” conseguem avisar sobre a presença da polícia, dando tempo aos
comerciantes de esconderem os animais ou fugirem.21
O “modus operandi” dos traficantes são dos mais variados, utilizam
transporte terrestres, pequenas aeronaves e até embarcações e conseguem
atravessar fronteiras sem nenhuma tipo de preocupação em relação à
fiscalização de autoridades. Dessa forma, essa atividade ilegal, só ganha
incentivo ante a impunidade dos fatos.
Infelizmente o Brasil está entre os países considerados como exportador de
animais silvestres e em algumas feiras pelo menos dois mil animais como,
por exemplo, araras, papagaios, tucanos etc., são vendidos a cada domingo22.
Esse tipo de comércio é altamente perigoso não só para o próprio animal
(pois eles geralmente são acomodados em locais impróprios, superlotados,
sem ventilação e alimento necessário, ficam estressados e acabam morrendo
ou brigando com outras espécies e até se mutilando) mas também para o
próprio ecossistema, como já foi explicado.
3.4 A caça de animais e as armadilhas
Preliminarmente, se faz necessário conceituar o verbo caçar. De acordo
com o dicionário Aurélio online, caçar é: “Perseguir animais para os apanhar
ou matar.”23. Dessa forma, podemos entender o verbo acima mencionado, em
um sentido mais estrito, mais “fechado”, como a perseguição de um animal a
outro animal com a intenção de abater.
A caça acontece desde os primórdios do mundo e, nesse início, sempre
teve caráter de subsistência. Os predadores sempre escolhiam suas presas de
acordo com a facilidade de obtê-la, pois o alimento, a sobrevivência era mais
importante.
Com o passar do tempo, o homem foi conquistando seu espaço dentro da
cadeia alimentar, dentro da briga pela sobrevivência até chegar aos dias
atuais, o qual encontra-se no topo. Com suas tecnologias, máquinas e
estratégias, o mesmo consegue caçar todo e qualquer tipo de animal,
entretanto muita das vezes não é por alimento e nem sobrevivência, apenas
por diversão.
A caça nos Estados Unidos, dependendo da época do ano é uma atividade
legal e visa controlar a população de algumas espécies de animais, preservar
o meio ambiente e ajudar na manutenção do ecossistema local.
No estado de Nova York, são caçados duzentos mil cervos por temporada.
Neste mesmo estado um milhão de licenças de caça são emitidas anualmente
pelas autoridades. Ganham com isto os fazendeiros, gerentes de caça,
entidades preservacionistas, governo, turismo, fauna e todos que estão direta
ou indiretamente ligados a esta atividade como fabricantes e comerciantes de
artigos para caça, (vestuário, armas, munições, veículos, hotéis e etc.) Nos
Parques de Caça, também existem espécies exóticas oriundas da Europa,
Ásia, e África. A cada dia, esportistas do tiro dos EUA contribuem com mais
de 3 milhões de dólares para os esforços de conservação da vida selvagem.
Isto significa uma média anual de 1,5 bilhões de dólares. Desde que estes
programas começaram em 1930, pescadores e caçadores já desembolsaram
mais de 17 bilhões de dólares. Somente os caçadores são responsáveis por
mais de 380 mil empregos diretos. Para cada dólar de outros impostos que é
destinado à conservação da vida selvagem, os caçadores contribuem com 9
dólares.24
No Brasil, a caça é proibida. A Lei nº 5.197, de 3 de janeiro de 1967
regulamenta a situação, in verbis25: Art. 1º. Os animais de quaisquer espécies,
em qualquer fase do seu desenvolvimento e que vivem naturalmente fora do
cativeiro, constituindo a fauna silvestre, bem como seus ninhos, abrigos e
criadouros naturais são propriedades do Estado, sendo proibida a sua
utilização, perseguição, destruição, caça ou apanha.
Entretanto, existem peculiaridades regionais que comportam o exercício
da caça, como por exemplo o Estado do Rio Grande do Sul mas que precisa
ter permissão do Poder Público Federal. A Lei de Crimes Ambientais
também prevê uma exceção para a prática da caça e do abate de animais, de
acordo com o que estabelece o artigo 37 da referida lei26: Art. 37. Não é
crime o abate de animal, quando realizado: I - em estado de necessidade, para
saciar a fome do agente ou de sua família; II - para proteger lavouras,
pomares e rebanhos da ação predatória ou destruidora de animais, desde que
legal e expressamente autorizado pela autoridade competente; III –
(VETADO); IV - por ser nocivo o animal, desde que assim caracterizado pelo
órgão competente.
A caça de animais quando não tem caráter de sobrevivência, de
alimentação ou de segurança é ilegal pois causa danos não somente ao animal
que foi abatido e sim em todo o meio ambiente e no próprio ser humano. Esse
tipo de atividade, por vezes feita apenas pelo prazer de matar, deveria ser
considerada errada perante a moral e os bons costumes, pois a intenção de
causar dor e sofrimento a um animal, de acordo com especialistas, é um
sintoma gritante da psicopatia, podendo, inclusive, esse ser humano causar
um mau a sociedade em algum momento futuro.
Quando o animal caçado é de grande porte, ágil e com força física
superior, ou quando o caçador quer apanhar o animal através de emboscada,
ele utiliza alguma armadilha para conseguir capturar a caça e assim não sofrer
nenhuma ameaça à sua saúde. Entretanto, essas armadilhas, muitas vezes, são
cruéis, causando sofrimento para o animal e fazendo-o agonizar por horas
antes de morrer.
A armadilha provoca sérios ferimentos e grande estresse. À medida que
tenta escapar, o animal se fere ainda mais; ao morder a armadilha, quebra
seus dentes e machuca a boca e, algumas vezes, morde e mastiga a perna
presa até arrancá-la. Muitas vezes, morrem de infecção mesmo se conseguem
escapar dessa forma. Se a fuga não é possível, a vítima pode morrer de
choque, perda de sangue, hipotermia, desidratação ou exaustão antes que o
caçador retorne, o que pode levar dias ou semanas. Ele pode também ser
morto ou mutilado por predadores. Existe uma armadilha conhecida como
“leghold” e é universalmente conhecida pela crueldade. Seu uso é proibido
em mais de oitenta países27.
No ano de 2015, no mês de julho, na África, um leão chamado Cecil de 13
anos de idade, foi morto por caçadores, mas antes de morrer, teve seu corpo
arrastado por uma caminhonete para fora do parque ambiental onde se
encontrava e agonizou por mais de 40 horas com uma flecha fincada em seu
corpo.
A legislação brasileira proíbe o uso de armadilhas para o abate de animais
(com algumas exceções), de acordo com o artigo 10 da Lei 5197/67:
Art. 10. A utilização, perseguição, destruição, caça ou apanha de espécimes da
fauna silvestre são proibidas. a) com visgos, atiradeiras, fundas, bodoques, veneno,
incêndio ou armadilhas que maltratem a caça; b) com armas a bala, a menos de três
quilômetros de qualquer via térrea ou rodovia pública; c) com armas de calibre 22
para animais de porte superior ao tapiti (sylvilagus brasiliensis); d) com
armadilhas, constituídas de armas de fogo.

O fato é que a caça por si só já é um ato de covardia contra os seres vivos


que merecem ter sua vida preservada, bem como uma vida livre de
sofrimento e agonia. A armadilha não só acua o animal como o faz sofrer.
Atividades e apetrechos como os citados, deveriam ter uma punição mais
severa por parte da legislação, pois somente assim essa prática encontraria
um fim.
Grande, diversificada e específica é a fauna brasileira. Na região
amazônica são muitos os tipos de peixes e mamíferos aquáticos que habitam
os rios e lagos. As espécies mais conhecidas são o pirarucu, jacarés,
tartarugas, capivara, sucuri, onça, macacos, preguiça, papagaios, araras,
tucanos e uma variedade de insetos e aracnídeos. Dessa forma, são muitos os
animais que compõe a fauna brasileira, devendo a mesma ser preservada. A
violência contra esses animais pode se dar de maneira física e psicológica. A
violência física é aquela que atinge o animal externamente, machucando-o
por fora através de atos que mutilam, ferem e até mesmo causam a morte. A
violência psicológica se da através, por exemplo da negligência com o
animal, causando para ele estresse, medo e sensações que o façam temer pela
sua vida, afinal o instinto de sobrevivência é inerente a todo e qualquer ser
vivo. O comércio de animais silvestres ocorre no Brasil com muita
frequência. Esse tipo de comércio é muito perigoso para o meio ambiente,
além de ser considerado ilegal pela legislação brasileira. A caça no Brasil é
proibida, e a mesma quando não tem caráter de sobrevivência, de alimentação
ou de segurança deveria ser considerada uma afronta à sociedade, pois causa
danos não somente ao animal que foi abatido e sim em todo o meio ambiente
e no próprio ser humano. Esses animais caçados, muitas vezes, são abatidos
por armadilhas feitas pelos caçadores com o intuito de facilitar o abate da
presa. A armadilha também é considerada ilegal no Brasil.

11 http://www.suapesquisa.com/o_que_e/fauna.htm
12 https://pt.wikipedia.org/wiki/Fauna_do_Brasil
13 https://www.dicio.com.br/violencia/
14 COSTA. Helrison Silva. PODER E VIOLÊNCIA NO PENSAMENTO DE MICHEL FOUCAULT. Sapere aude –
Belo Horizonte, v. 9 – n. 17, p. 153-170, Jan./Jun. 2018 – ISSN: 2177-6342.
15 http://www2.ucg.br/flash/artigos/080708foucault.html
16 http://perolaspalavras.blogspot.com.br/2011/06/foucault-e-violencia.html
17 http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/ciencia-e-
saude/2014/09/21/interna_ciencia_saude,448119/cientistas-brasileiros-afirmam-que-os-animais-tem-
sentimentos.shtml
18 http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/ciencia-e-
saude/2014/09/21/interna_ciencia_saude,448119/cientistas-brasileiros-afirmam-que-os-animais-tem-
sentimentos.shtml
19 http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?artigo_id=4532&n_link=revista_artigos_leitura
20 Na opinião deste autor, o animal não humano não é um produto. O termo foi utilizado com o intuito - exclusivo - de
explicar a diferença entre tráfico e contrabando..
21 http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?artigo_id=4532&n_link=revista_artigos_leitura
22 http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?artigo_id=4532&n_link=revista_artigos_leitura
23 http://www.dicionariodoaurelio.com/cacar
24 http://www.savageadventures.com.br/index.php?
option=com_content&view=article&id=61:caca&catid=48:informativo&Itemid=59
25 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5197.htm
26 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9605.htm
27 https://www.passeidireto.com/arquivo/3913254/atividade_aula_07_protecao_de_animais_selvagens-1/4
4 A desproporcionalidade

Proporcionalidade é aquilo que estabelece certo equilíbrio entre o que está


sendo analisado. Logo, a partir desse conceito, desproporcionalidade é o
desequilíbrio, a desarmonia, entre duas situações. Pode-se pensar, portanto,
que a desproporcionalidade gera a injustiça, pois onde há desequilíbrio a
justiça não possui forma.
No direito alemão, existe o princípio da proporcionalidade o qual ensina
que nenhuma norma constitucional é absoluta, ou seja, nenhuma garantia
constitucional supre ou revoga outra de mesmo valor. No Brasil, o princípio
da proporcionalidade tem por finalidade precípua equilibrar os direitos
individuais com os anseios da sociedade. Na seara administrativa, segundo o
mestre Dirley da Cunha Júnior, a proporcionalidade “é um importante
princípio constitucional que limita a atuação e a discricionariedade dos
poderes públicos e, em especial, veda que a Administração Pública aja com
excesso ou valendo-se de atos inúteis, desvantajosos, desarrazoados e
desproporcionais”. Complementando, a professora Fernanda Marinela
assevera que embora referido princípio não esteja expresso no texto
constitucional, alguns dispositivos podem ser utilizados como paradigmas
para o seu reconhecimento, como, por exemplo, o artigo 37 combinado com o
artigo 5º, inciso II e o artigo 84, inciso IV, todas da Constituição Federal
Brasileira28, in verbis: Art. 37. A administração pública direta e indireta de
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência (...).
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes: II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão
em virtude de lei.
Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: IV - sancionar,
promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos para
sua fiel execução.
O ilustre doutrinador Bonavides afirma que
“em nosso ordenamento constitucional não deve a proporcionalidade permanecer
encoberta. Em se tratando de princípio vivo, elástico, prestante, protege ele o
cidadão contra os excessos do Estado e serve de escudo à defesa dos direitos e
liberdades constitucionais. De tal sorte que urge, quanto antes, extraí-lo da
doutrina, da reflexão, dos próprios fundamentos da Constituição, em ordem a
introduzi-lo, com todo o vigor, no uso jurisprudencial”29.

Ainda sobre o princípio da proporcionalidade, Humberto Ávila explica:


“O postulado da proporcionalidade se aplica apenas a situações em que há
uma relação de causalidade entre dois elementos empiricamente
discerníveis, um meio e um fim, de tal sorte que se possa proceder aos três
exames fundamentais: o da adequação (o meio promove o fim?), o da
necessidade (dentre os meios disponíveis e igualmente adequados para
promover o fim, não há outro meio menos restritivo do(s) direito(s)
fundamentais afetados?) e o da proporcionalidade em sentido estrito (as
vantagens trazidas pela promoção do fim correspondem às desvantagens
provocadas pela adoção do meio?)”30.
Dessa forma, se faz necessário, de acordo com as palavras do professor
Paulo Bonavides e Humberto Ávila, como já descrito, fazer uso do princípio
da proporcionalidade na aplicação imediata da lei em todos os seus sentidos,
observando a adequação, a necessidade e a proporção em sentido estrito.
Logo a simples aplicação da lei de forma desproporcional é uma afronta ao
princípio constitucional da proporcionalidade. Seria aplicar uma norma de
forma injusta, desarmônica e sem compasso.
O código penal brasileiro, em seu artigo 121, explica que para a ação de
matar alguém o agente terá como sanção uma pena de reclusão de 6 a 20
anos. O bem protegido pelo artigo 121, sem dúvida é a vida e mesmo que o
ceifador dela seja condenado no limite máximo da pena, o bem tutelado não
irá retornar, ficando claro, portanto, que tal sanção não é proporcional ao bem
jurídico que se tenta proteger, entretanto é eficiente para que haja um
desencorajamento dessa conduta. Por outro lado, a conduta de matar um
animal prevista no artigo 29 da lei 9.605/98, que tem como pena 6 meses a 1
ano de detenção, que também tem como bem tutelado a vida, não tem sanção
proporcional com o que se pretende proteger e tampouco é eficaz para que
não haja um estímulo em cometer tal crime. Ao aplicar a pena do artigo 29 da
lei de crimes ambientais, fica clara a desproporcionalidade, a injustiça e
desarmonia que a própria Constituição Federal busca.
Em relação a proporcionalidade, para cada ação ou omissão humana que
caracterize um ato ilícito, haverá uma consequência, ou seja, uma sanção para
disciplinar aquela conduta desvirtuada e tal sanção, por vezes, é adequada e
justa para o ato descumprido. Nesse sentido, é completamente
desproporcional a sanção de matar um animal silvestre, doméstico ou
domesticado quando comparado com a sanção por matar um ser humano. As
duas condutas traduzem em ceifar uma vida, extinguir a existência daquele
ser, causar a morte, ato esse que vai de encontro com o principal direito
protegido e garantido pela Constituição Federal, o qual ninguém e nem o
Estado pode violar, o direito a vida. Aquela possui uma pena de detenção de
6 meses a 1 ano, enquanto essa possui uma pena de reclusão de 6 a 20 anos. É
possível verificar a ausência de harmonia, de proporcionalidade, de justiça
quando se faz tal comparação, ambas as sanções dizem respeito ao
descumprimento de uma conduta, de uma ação que leva a morte de um ser
vivo. Tal injustiça é uma afronta ao princípio da proporcionalidade
estabelecido pela constituição e implica afirmar, de forma implícita, que a
vida do ser humano tem mais validade do que a de um animal, induz ao
pensamento de que um animal é inferior ao homem e que está correto trata-lo
de maneira desrespeitosa.
Essa desproporcionalidade gera insegurança jurídica, pois nunca será
adequada uma pena de detenção de 6 meses a 1 ano para quem matar um
animal. Se a sanção para uma conduta ilícita tem o objetivo, inicial, de
desencorajar aquele ato criminoso, então ela precisa ser, também,
proporcional àquela conduta. No exemplo aqui ventilado, o do artigo 29 da
Lei 9.605/98, não há uma segurança jurídica, não há um desencorajamento
para quem mata um animal, pois a quantidade da pena, não faz outra coisa
senão estimular a prática de tal ato infame, pois não há uma punição efetiva.
A fim de explicar a insegurança jurídica gerada pela desproporcionalidade da
pena, é mister citar o procedimento processual penal para quem infringe o
artigo 29 da referida lei.
O crime de matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna
silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou
autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida, possui
pena mínima de 6 meses e pena máxima de 1 ano de detenção. É um crime de
ação penal pública e cabe ao Ministério Público oferecer a denúncia por ser
ele o titular da ação penal. O rito é o sumaríssimo, conforme prevê o artigo
394, §1º, III do Código de Processo Penal, e será regulado pela Lei número
9.099/95, que institui o Juizado Especial, neste caso, o criminal, por ser sua
pena máxima inferior a 2 anos. Por ter sua pena mínima inferior a 1 ano, o
promotor deve propor a suspensão condicional do processo no oferecimento
da denúncia. A Suspensão Condicional do Processo ou sursis processual é
uma medida despenalizadora - extingue a punibilidade - cabível, sob
determinadas condições, em crimes de menor potencial ofensivo, ou seja,
com pena máxima em abstrato menor ou igual a dois anos. Se o autor do
crime cumprir as condições determinadas pelo juízo, a pena deixa de ser
aplicada para o crime cometido. Levando em consideração que haja a ação
penal, o agente poderá alegar uma excludente de ilicitude (estado de
necessidade), poderá alegar vício no procedimento penal, o regime inicial de
cumprimento de pena será o aberto (isso se chegar a ser preso), fará jus a
substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos, entre
outros. O agente nem chegará a ter sua prisão cautelar decretada, apenas
aquela em razão da pena e isso em última hipótese (caso em que não ficará
efetivamente preso). Não haverá uma eficaz punição para o crime que foi
cometido, e com essa “impunidade” há o estímulo, indireto, para a prática do
mesmo crime mais e mais vezes.
O que ocorreu foi um claro equívoco do legislador ao estabelecer uma
pena tão ínfima para o crime analisado. Não houve uma adequação
proporcional e efetiva ao valor do bem tutelado. O professor Nestor Távora
explica: “Pressupõe-se, por conseguinte, que a sanção cominada para
determinado tipo penal seja proporcional ao valor do bem jurídico penal
merecedor da tutela penal. No entanto, deve-se observar que a pena
estabelecida pelo legislador deve ser adequada e eficaz, não podendo ser
excessiva e nem insuficiente na proteção do bem jurídico (proibição do
excesso – veda a atuação abusiva do Estado; e proibição da proteção
deficiente – a atividade estatal não pode ser deficitária, pois, do contrário,
ensejaria a nulidade do ato).”31.
Em maio de 2013, na cidade de Santa Cruz do Ariri, Estado do Pará foi
palco de um cenário de matança, crueldade e maldade em seu sentido mais
primitivo. O prefeito da cidade, o senhor Luiz Carlos Beltrão Pamplona, a
fim de controlar a população de cachorros na cidade, teve como solução
ordenar que os servidores municipais matassem os animais. Cerca de 200
cães foram mortos pelos servidores, que capturavam os animais e os levavam
para a zona rural da cidade e lá os executavam. Cada assassino recebia, das
mãos do próprio prefeito, o valor de R$ 5,00 (cinco reais) para cada cão
macho executado e R$ 10,00 (dez reais) para cada cão fêmea executada32.
Tal caso é um exemplo de que a pena para a conduta de matar um animal não
desencoraja o ato, não é proporcional ao bem jurídico tutelado, bem como
fica clara a desproporcionalidade do artigo 29 da lei de crimes ambientais
quando comparada com o artigo 121 do código penal, uma vez que se a
ordem do prefeito fosse para executar pessoas, os assassinos não só
pensariam melhor ao executar a ordem, como a pena para o crime seria muito
mais severa, como exaustivamente explicado acima.
Os efeitos negativos dessa desproporcionalidade não atingem apenas os
danos já citados, vai além. A conduta de matar, mutilar, maltratar animais é
cientificamente provado ser indícios de psicopatia. E tal patologia atinge tão
severamente o ser humano que o mesmo pode causar um dano alto e
irreversível não somente contra o animal e a ele próprio, mas também contra
a sociedade, pois a partir do momento que uma pessoa, dita racional, concluir
que a vida de um animal é insignificante, existe a possibilidade de essa
mesma pessoa entender que a vida do ser humano também não tem valor.
Segundo estudos do FBI (polícia dos Estados Unidos), na sua grande
maioria, os psicopatas começam a carreira matando animais33. Por isso, em
países como Estados Unidos e Inglaterra, os matadores de animais já são
tratados e julgados de forma diferenciada que avança para muito além do
crime de maus-tratos a animais. Nesses locais já se entende que deter esses
indivíduos ou monitorá-los, quando começam a matar animais na infância,
representa uma medida preventiva, de proteção não somente aos animais,
mas a toda a sociedade34.
Faz-se necessário afirmar que é fundamental uma reforma na lei de crimes
ambientais, por tudo o que foi exposto, no sentido de tornar proporcional (em
todos os sentidos) as penas previstas nos artigos 29 e 32 da referida lei. É
imperioso que tal conduta seja rechaçada energicamente dos seios da
sociedade para a proteção do meio ambiente em sua forma integral (seres
humanos e seres vivos), pois somente assim caminharemos em direção à
justiça.
Mas mais do que haver uma reforma na lei de crimes ambientais, é
importante pensar em um código de defesa animal a fim de tutelar seus
direitos, posto que quando a fauna brasileira é apreciada na Lei número
9.605/98, ela é vista como recruso ambiental, como res, como objeto e o
animal não humano senciente e consciente não pode e nem deve - quer no
campo filosófico moral, quer no campo normativo jurídico - ser considerado
como coisa.
Atualmente existem conferências e congressos voltados para esse assunto
e na grande maioria desses eventos afirma-se que o animal pode e deve ser
considerado sujeito de direito, contraindo direitos e sendo representados por
serem considerados incapazes de realizar por si só os atos da vida civil,
podendo, inclusive, demandar em juízo - o que, aliás, essa é uma visão
defendida arduamente por este autor.
O animal como sujeito de direitos já é concebido por grande parte de
doutrinadores jurídicos de todo o mundo. Um dos argumentos mais comuns -
e valorosos - para a fundamentação desta concepção é o de que, assim como
as pessoas jurídicas ou físicas possuem direitos de personalidade
reconhecidos desde o momento em que registram seus atos constitutivos em
órgão competente, e podem comparecer em Juízo para pleitear esses direitos,
os animais também tornam-se sujeitos de direitos subjetivos (objetivos
também) por força das leis que os protegem. Embora não tenham capacidade
de comparecer em Juízo para pleiteá-los, o Poder Público e a coletividade
receberam a incumbência constitucional de sua proteção. O Ministério
Público recebeu a competência legal expressa para representá-los em Juízo,
quando as leis que os protegem forem violadas. Aprofundando a reflexão
sobre os chamados direitos de personalidade, pode-se constatar que nada
mais são que direitos emanados da pessoa como indivíduo. Devem ser
compreendidos, portanto, como direitos oriundos da natureza da pessoa como
um ente vivo, desde o seu nascimento. Um bebê, antes de ser registrado, já é
uma pessoa, pelo menos sob o ponto de vista científico e filosófico. Em
termos de medicina psiquiátrica, um indivíduo se torna pessoa quando
adquire noção de sua individualidade. Valorando a pessoa como um ser vivo,
temos que reconhecer que a vida não é atributo apenas do homem, e sim um
bem genérico, inato e imanente a tudo que vive. E, sob esta ótica, a pessoa
tem seus direitos imbricados em sua condição de indivíduo, e não apenas
pessoa física com identidade civil. Não se pode chegar a outra conclusão
senão a de que os animais, embora não sejam pessoas físicas ou jurídicas, são
indivíduos que possuem direitos inatos e aqueles que lhes são conferidos
pelas leis35.
Ainda nesse sentido, é necessário demonstrar que o animal não humano
dotado de consciência e senciênca (tema analisado nessa obra nos próximos
capítulos), possuem a tutela constitucional da vedação à crueldade, disposto
no artigo 225, §1º, VII da Constituição Federal de 1988, garantindo a eles um
direito fundamental (direito subjetivo) e a abertura (possibilidade) para
edição de legislações infraconstitucionais que regulem seus direitos de
maneira específica (direitos objetivos), a exemplo do Código de Direito e
Bem-Estar Animal da Paraíba. Argumentando de outra maneira, o animal não
humano é sujeito de direito e possui direito a uma vida digna. Nesse
diapasão, vejamos os ensinamentos do brilhante professor, pós-doutor e juiz
federal Vicente de Paula Ataíde Junior: Em assim sendo, o direito animal
opera com transmutação do conceito civilista de animal como coisa ou bem
semovente, para o conceito animalista de animal como sujeito de direitos.
Todo animal é sujeito de direito fundamental à existência digna, positivado
constitucionalmente, a partir do qual o direito animal se densifica
dogmaticamente, se espraindo pelos textos legais e regulamentares. A
sistematização dogmática permite - e permitirá ainda mais - apontar outros
direitos correlatados e ajustados à natureza peculiar dos animais não
humanos, bem como construir as tutelas jurisdicionais que lhes sejam
adequadas. (ATAIDE JUNIOR, Vicente de Paula. Introdução ao Direito
Animal Brasileiro. Revista Brasileira de Direito Animal, E-ISSN: 2317-4552,
Salvador, volume 13, número 03, p. 48-76, SET-DEZ 2018.) Como já
explicado, a desproporcionalidade entre as os artigos das leis mencionadas se
dá pelo fato da comparação entre uma lei e outra como também pela
comparação da sanção com o bem tutelado e sua eficácia. Matar um animal
por puro prazer, não pode ser uma conduta aceitável e é importante buscar
uma proporcionalidade não só com o bem que se pretende proteger, mas
também com a conduta de matar um ser humano, pois somente assim o
homem saberá que não é somente a vida dele que importa. Ademais, se faz
necessário uma reforma na lei de crimes ambientais a fim de que seja
aumentada a pena para quem mata ou cause maus tratos (de forma ampla). É
mister ressaltar que a desproporcionalidade não gera efeitos negativos apenas
no âmbito processual penal e ambiental, mas também no campo social, pois
está provado cientificamente que o ser humano que mata um animal por
prazer, tem um potencial elevado para ser considerado um psicopata e
infringir danos não somente aos animais e a ele mesmo, como também à
coletividade a qual está inserido. Todos os seres vivos têm direito a existência
e uma existência digna, livre de maus tratos, livres de atos de abuso e
violência (seja ela física ou psicológica). Negar isso, seja ao ser humano ou a
qualquer outro ser vivo, é retirar a essência da criatura, é negar a evolução do
ser.

28 http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/5865/O-principio-da-proporcionalidade
29 BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 18ª ed. Malheiros Editores, 2006, p. 434
30 ÁVILA, Humberto. Teoria dos Princípios:da definição à aplicação dos princípios jurídicos. 2. ed. São Paulo:
Malheiros, 2003, p.104 e 105.
31 TÁVORA, Nestor; ANTONNI, Rosmar. Curso de Direito Processual Penal. 3.ed. Bahia: JusPODIVM, 2009, p. 56
32 http://g1.globo.com/pa/para/noticia/2013/06/prefeito-de-santa-cruz-do-arari-pa-causa-polemica-ao-cacar-caes-de-
rua.html
33 CHUECCO, Fátima. Assim começa a carreira de um psicopata. Disponível em:
<https://anda.jusbrasil.com.br/noticias/180463015/assim-comeca-a-carreira-de-um-psicopata>. Acesso em: 13 set
2019.
34 http://anda.jusbrasil.com.br/noticias/180463015/assim-comeca-a-carreira-de-um-psicopata
35 http://jus.com.br/artigos/7667/os-animais-como-sujeitos-de-direito
5 Os procedimentos penais e a Lei de Crimes
Ambientais

O Estado é quem detém a capacidade de administrar a justiça. A legislação


vigente considera crime o ato de “fazer justiça com as próprias mãos”, de
acordo com o que diz o artigo 345 do Código Penal. O processo é o caminho
que o Estado percorre para compor a lide, aplicando o direito ao caso
concreto e resolvendo todos os conflitos. Dessa forma, a jurisdição é a função
e o processo o instrumento da atuação.
Dessa forma, as matérias processuais necessitam de uma atenção especial
do operador do direito com relação aos procedimentos que são aplicáveis,
como fazer para adequá-los e elaborá-los, bem como os prazos necessitam ser
observados. Qualquer erro no desenvolvimento do processo pode resultar na
perda na perda de oportunidades para o pleno exercício da defesa dos direitos
e interesses da parte envolvida.
Assim, se faz necessário explicar, ao longo dessa exposição, que a os
crimes previstos na Lei de Crimes Ambientais, necessitam de um tipo de
procedimento penal diferente do que regula atualmente.
5.1 Diferença entre Processo, Jurisdição
e Procedimento
É mister, antes do assunto principal, explicar a diferença entre
Procedimento e Processo. Processo é uma ação continuada, realização
contínua e prolongada de uma determinada atividade. É o instrumento pelo
qual se manifesta a jurisdição, com finalidade de se chegar a um provimento
que solucionarão as diferenças, objetivando a concretização do Direito e
pacificação social.
Jurisdição (do latim juris, “direito” e dicere “dizer”) é o poder de um
Estado, decorrente de sua soberania, para aplicar o direito e ministrar a
justiça. Em seu sentido tradicional, a jurisdição compete apenas aos órgãos
do Poder Judiciário. Contudo, modernamente, já é aceita a noção de que
outros órgãos também exercem a função jurisdicional, desde que exista
autorização constitucional. Um exemplo é a competência que foi dada ao
Senado Federal para julgar o Presidente da República em caso de crime de
responsabilidade.
Procedimento é o rito processual, ou seja, é a mera consequência dos atos
do processo. É o modo como o processo é executado, é a operacionalização
do processo. Aroldo Plínio Gonçalves em seu livro Técnica Processual e
Teoria do Processo de 1992, explica: O processo é o procedimento que se
desenvolve em contraditório entre os interessados, na fase de preparação do
ato final e entre o ato inicial do procedimento de execução até o ato final,
aquele provimento pelo qual ela é julgada extinta, está presente o
contraditório, como possiblidade de participação simetricamente igual dos
destinatários do ato de caráter imperativo que esgota o procedimento.”
(Gonçalves, 1992, p. 96).

5.1.1 Tipos de procedimento


Os procedimentos penais estão classificados em dois tipos: procedimento
comum e procedimento especial. O procedimento especial é aquele que
encontra previsão no Código de Processo Penal e nas Leis Extravagantes,
para hipóteses legais específicas, que pela natureza ou gravidade do fato
necessitam de uma tramitação processual diferenciada. São exemplos de
procedimentos especiais: O procedimento da lei 11.343/06 (“Lei de
Drogas”); a lei 11.340/06 (“Lei Maria da Penha”); o procedimento do
Tribunal do Júri, entre outros. O procedimento comum é aquele que encontra
previsão no Código de Processo penal e é aplicado quando não houver
previsão em procedimento especial (Código de Processo Penal ou Legislação
Extravagante). O procedimento comum está divido em: a) ordinário; b)
sumário; c) sumaríssimo.
O procedimento comum ordinário está previsto no artigo 394, §1º, I do
Código de Processo Penal, e será cabível quando tiver por objeto crime cuja
sanção máxima cominada for igual ou superior a 4 (quatro) anos de pena
privativa de liberdade. O procedimento comum sumário está previsto no
artigo 394, §1º, II do Código de Processo Penal, e será cabível quando tiver
por objeto crime cuja sanção máxima cominada seja inferior a 4 (quatro) anos
de pena privativa de liberdade. O procedimento comum sumaríssimo está
previsto no artigo 394, §1º, III do Código de Processo Penal, e será cabível
para infrações penais de menor potencial ofensivo.

5.1.2 O procedimento especial do processo penal


brasileiro
O procedimento especial penal brasileiro, ou apenas rito especial, é
normatizado pela lei que o institui. O legislador deve, obrigatoriamente,
obedecer, primeiramente, o comando constitucional no momento de
elaboração do procedimento penal a ser adotado por aquela determinada
legislação.
Após as devidas análises constitucionais, o legislador deve basear-se, para
a construção daquele procedimento, na natureza e gravidade do fato que
originou a feitura da lei e do procedimento. A lei número 11.340/06, Maria
da Penha, por exemplo, precisou ter seu rito diferenciado do rito processual
penal comum, devido as constantes violências as quais as mulheres eram
submetidas e a total ineficiência da sanção prevista no tipo legal que era
infligido.
Enquanto não houver uma reforma do Código Penal e Código de Processo
Penal, o procedimento especial se faz necessário para corrigir e suprir as
faltas e falhas do legislador à época. A sociedade é mutante e as leis deveriam
acompanhar essa mutação, para que permaneçam eficiente e eficazes.
5.2 A Lei de Crimes Ambientais e o procedimento
especial
Alguns artigos da lei de Crimes Ambientais, atualmente, são regulados
pelo procedimento comum sumaríssimo, ou seja, regulados pela lei 9.099/95
(Lei dos Juizados Especiais) e o que determina sua regulamentação é a
quantidade máxima da pena em abstrato, no caso aqui estudado, 2 (dois)
anos. São considerados crimes de menor potencial ofensivo.
Por força da própria Constituição Federal, a competência dos Juizados
Especiais Criminais está circunscrita ao processo, julgamento e execução das
infrações de menor potencial ofensivo. Por força normativa, fica definido, no
artigo 61 da lei 9.099/95 que o conceito de menor potencial ofensivo são: “as
contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não
superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa”.
O procedimento dos juizados especiais criminais tem como princípios a
Oralidade, Simplicidade, Informalidade, Economia Processual e Celeridade, a
fim de promover a efetiva rapidez de tramitação aos processos, bem como a
conciliação ou transação penal como forma de solução do litígio.
O Processo Penal comum sumaríssimo é realizado por duas fases de
persecução criminal, persecutio criminis extra judicio e persecutio criminis in
judicio (fase pré-processual e fase processual). A notícia crime ofertada,
comumente, em sede policial, após ser verificada como fonte de informação
válida a demonstrar indícios suficientes da existência de crime (autoria e
materialidade), dá origem a um termo circunstanciado (caso a pena máxima
não ultrapasse 2 anos), peça de informação prescindível que funciona a dar
justa causa à eventual denúncia ou queixa[15]. É dever do Ministério Público,
ao oferecer a denúncia, propor a suspensão condicional do processo, por 2
(dois) a 4 (quatro) anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou
ter sido condenado por algum outro crime. Essa ação é uma medida de
despenalização, que após cumprido o período de provas citado, e não
havendo revogação da medida, é declarada extinta a punibilidade e há a
consequente ausência de crime.
Em uma situação hipotética, não sendo capaz de ser ofertado o SURSIS
Processual (Suspensão Condicional do Processo) e antes do Juiz do juizado
criminal decidir sobre o recebimento da inicial acusatória, é dever do
judiciário e do ministério público propor ao acusado a Transação Penal. A
transação penal, assim como a suspensão condicional do processo, tem
caráter despenalizante e visa substituir a pena privativa de liberdade. Se a
transação penal for aceita, o acusado ouvirá a proposta do Ministério Público
e/ou do Juiz e fará o que foi ofertado. Após cumprido todos os termos da
transação, é declarada extinta a punibilidade e, como no SURSIS processual,
há a ausência de crime. É importante mencionar que os dois institutos não
importam em julgamento antecipado e tampouco culpa.
Não sendo cabível a transação penal, o juiz decidirá sobre o recebimento
da inicial acusatória. Sendo favorável pelo recebimento, e decidido sobre a
possibilidade do SURSIS processual, o réu fará jus ao contraditório e ampla
defesa (garantidos constitucionalmente), e seguirá normalmente no fluxo
processual (audiência de instrução e julgamento e sentença).
Em uma possível sentença de condenação, o sentenciado não terá sua
liberdade suprimida, de fato, pois o quantum máximo da pena não permitirá.
Será imputado ao mesmo a substituição da pena privativa de liberdade pela
pena restritiva de direitos, desde que obedecidos os requisitos do artigo 44 do
Código Penal. É importante destacar que se o réu não for condenado a pena
superior a 2 (dois) anos, não for reincidente em crime doloso e a
culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e personalidade do agente,
bem como os motivos e as algumas circunstâncias forem favoráveis, o
mesmo tem o benefício da suspensão condicional da pena (SURSIS penal),
prevista no artigo 77 do Código Penal.
A Lei número 9.605/98, Lei de Crimes Ambientais, dos crimes contra a
fauna, em seus artigos 29 e 32 (matar um animal e atos de abuso,
respectivamente) possuem pena máxima de 1 (um) ano. Pode-se entender,
dessa forma, que o procedimento penal cabível para um agente que infrinja os
dispositivos legais mencionados, é o sumaríssimo (o rito dos juizados
especiais). O agente que comente tal ilícito, possui todos os benefícios
elencados na Lei 9.099/95, já demonstrados.
É possível perceber, portanto, que não há proporcionalidade nem
razoabilidade entre a conduta do agente e a sanção imposta pela lei. Mais
ainda, não é proporcional e tampouco razoável que o procedimento do
juizado especial criminal seja o correto diante de tal exemplo.
Ainda nesse sentido, é perceptível a ausência dos princípios
constitucionais citados no parágrafo anterior, quando se analisa o artigo 30 e
o compara com o artigo 29 ambos da Lei de Crimes Ambientais. O ilícito do
artigo 30 – “Exportar para o exterior peles e couros de anfíbios e répteis em
bruto, sem a autorização da autoridade ambiental competente” – possui pena
de reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos e multa e não é competência do Juizado
Especial Criminal. O ilícito do artigo 29 – “Matar, perseguir, caçar, apanhar,
utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a
devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em
desacordo com a obtida” – possui pena de detenção de 6 (seis) meses a 1
(um) ano e é de competência do Juizado Especial Criminal. A gravidade do
crime previsto no artigo 29 é, claramente, maior do que a gravidade do crime
previsto no artigo 30, entretanto há um benefício “procedimental penal”
muito maior. Naquele crime uma vida foi ceifada, neste crime peles e couros
foram exportados. Ademais, é importante frisar que a pena imposta por
infringir alguma norma é – ou deveria ser – além de uma consequência por
violar um preceito legal, um desestimulante à prática de ilícitos, entretanto,
como bem pode ser observado, a sanção por descumprimento do disposto no
artigo 29 da Lei 9.605/98 padece de tal característica.
Nesta seara, se faz imprescindível a possibilidade da Lei de Crimes
Ambientais ter um procedimento especial e, consequentemente, diferente do
procedimento sumaríssimo. A natureza e a gravidade dos crimes praticados
na citada lei ambiental beiram a hediondez. É comum ser veiculado nas
mídias virtuais, televisões e ondas de rádio, atos de abuso, maus tratos e
mortes de animais silvestres, domésticos e domesticados. É de fácil
percepção que tais crimes são cometidos todos os dias e, além de não se ter
uma fiscalização preventiva e ostensiva que combata esses atos infames, não
há uma efetiva punição pra quem inflige a referida lei ambiental. Não há um
desestímulo para a prática ilícita.
Ainda nessa análise, não se pode admitir que uma vida seja ceifada, por
exemplo, e o procedimento penal seja “recheado” de benefícios. O agente que
cometeu o ilícito possuirá suas garantias constitucionais preservadas e
respeitadas, entretanto não é proporcional e nem razoável – mais uma vez –
que o mesmo possua as mesmas vantagens daquele que cometeu algum ilícito
de fácil reparação ou composição do dano causado, a exemplo o crime
previsto no artigo 163 do Código Penal: “Dano. Art. 163 – Destruir, inutilizar
ou deteriorar coisa alheia: Pena – detenção, de um a seis meses, ou multa”.
O procedimento especial na Lei de Crimes Ambientais, mais
especificamente nos artigos 29 e 32, prevendo um rito diferenciado e saindo
da esfera do Juizado Especial Criminal, mitigariam os problemas
mencionados no presente estudo. Sem os benefícios do rito mais célere, o
infrator teria menos condições procedimentais favoráveis e isso já seria um
pequeno (mas positivo) passo rumo a uma efetiva punição pelo crime
praticado.
É preciso destacar que o artigo 27 da Lei de Crimes Ambientais dispõe, in
verbis:
Art. 27. Nos crimes ambientais de menor potencial ofensivo, a proposta de
aplicação imediata da pena restritiva de direitos ou multa, prevista no art. 76 da Lei
9.099, de 26 de setembro de 1995, somente poderá ser formulada desde que tenha
havido a prévia composição do dano ambiental, de que trata o art. 74 da mesma lei,
salvo em caso de comprovada impossibilidade.

Por sua vez, o art. 28 da referida lei determina a aplicação do art. 89 da Lei
9.099/95.
Art. 28. As disposições do art. 89 da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995,
aplicam-se aos crimes de menor potencial ofensivo definidos nesta Lei, com as
seguintes modificações: I – a declaração de extinção de punibilidade, de que trata o
§ 5° do artigo referido no caput, dependerá de laudo de constatação de reparação
do dano ambiental, ressalvada a impossibilidade prevista no inciso I do § 1° do
mesmo artigo; II – na hipótese de o laudo de constatação comprovar não ter sido
completa a reparação, o prazo de suspensão do processo será prorrogado, até o
período máximo previsto no artigo referido no caput, acrescido de mais um ano,
com suspensão do prazo da prescrição; III – no período de prorrogação, não se
aplicarão as condições dos incisos II, III e IV do § 1° do artigo mencionado no
caput; IV – findo o prazo de prorrogação, proceder-se-á à lavratura de novo laudo
de constatação de reparação do dano ambiental, podendo, conforme seu resultado,
ser novamente prorrogado o período de suspensão, até o máximo previsto no inciso
II deste artigo, observado o disposto no inciso III; V – esgotado o prazo máximo
de prorrogação, a declaração de extinção de punibilidade dependerá de laudo de
constatação que comprove ter o acusado tomado as providências necessárias à
reparação integral do dano.

Nota-se, portanto, nesses dois dispositivos, a preocupação do legislador


com a composição e a reparação do dano ao meio ambiente como condição
da transação penal e a suspensão do processo. Mecanismos estes importantes
para uma tentativa de garantir a defesa do meio ambiente.
Assim, quando o legislador fala em composição do dano ao meio
ambiente, este não se confunde com a reparação do dano. Dessa forma, insta
registrar o conceito e distinção existentes nessas expressões. Nesse sentido,
brilhantemente, Cezar Roberto Bitencourt assim averba: O verbo compor, tal
qual está empregado no art. 74 da Lei 9.099/95, tem o significado de solução
do conflito no plano cível, de acerto entre as partes, de celebração de
compromisso através do qual o autor da infração assume a responsabilidade
de pagar o prejuízo causado pela infração penal. Agora, a reparação efetiva
do dano, isto é, o pagamento do acordado, normalmente ocorrerá em
momento posterior, podendo, inclusive, ser parcelado. Aliás, a previsão legal
de que a composição dos danos, homologada pelo juiz, constitui título
judicial (art.74) não permite outra interpretação. Se a composição cível
exigisse o pagamento no ato, na própria audiência preliminar, não haveria
razão nenhuma para considerá-la título a ser executado no juízo cível
competente.” (BITENCOURT, Cezar Roberto. In Boletim IBCCrim nº 73,
dez./98).
O art. 27 da Lei 9.605/98 determina como condição para a transação penal
a devida composição do dano ambiental. Dessa forma, caso as partes não
compuserem o dano, ou seja, não chegarem a um consenso sobre a forma de
reparar o dano, não poderão transigir quanto à sanção penal.
No entanto, caso a composição do dano ambiental seja de caráter
irreparável, ou seja, quando comprovada a impossibilidade de se reparar o
estrago causado ao meio ambiente, pode-se efetivar a transação penal.
Conforme exemplifica José Carlos Barbosa Moreira, “Destruída a rocha que
embelezava a paisagem, o dano é irreparável”. Ceifada a vida, a mesma não
retornará.
Houve uma clara tentativa de tornar dificultoso o procedimento
sumaríssimo no caso do cometimento de crimes ambientais, entretanto é
cristalino o entendimento de que não há efetividade na tentativa e na norma.
Tratando-se de crime contra a fauna, especificamente na morte de um animal,
é impossível a reparação do dano (podendo ser impossível também a
composição dos danos cíveis) mas mesmo assim o benefício da transação
penal será efetivado.
Dessa forma, conforme exaustivamente demonstrado, é necessário que
haja um procedimento especial para a Lei de Crimes Ambientais. A natureza
e gravidade de tais crimes são imensas e violam diretamente um direito que é
garantido constitucionalmente: o de um meio ambiente ecologicamente
equilibrado.
6 O direito do animal não humano como um
direito humano

Muito se discute sobre os direitos humanos em relação ao homem, de


forma quase natural, as regras e sanções são atualizadas e adequadas ao
momento atual da história, a fim de proteger e preservar a vida do ser
humano. Entretanto, pouco se aborda a respeito dos direitos e garantias dos
demais animais existentes e pertencentes ao meio ambiente.
A existência do ser humano é protegida com leis, sanções e fiscalização,
enquanto a maioria dos animais não humanos vivem à mercê de maus tratos
(físicos e psicológicos), sem normas efetivas e proporcionais à sua
importância no meio ambiente. Assim sendo, uma forma de compensar todo
o dano que o homem fez e faz ao meio ambiente, seria, sem dúvida, além da
promoção intensa de políticas públicas a efetiva proteção jurídica desses
animais.
Nesse sentido, é interessante entender e compreender como a violação de
um direito animal – ou direito animal não humano – pode ser entendido como
a violação de um direito humano. A reflexão que deve-se tomar é a seguinte:
Se um agente causar a um animal não humano senciente maus tratos, ele
viola um direito humano?
O Homo Sapiens Sapiens é apenas uma das espécies que compõe o meio
ambiente, e é latente, além de cristalina, a desproporcionalidades sobre
cuidados, garantias e importância entre as outras espécies, especialmente com
as espécies de animais não humanos sencientes. Observa-se essa diferença
quando se vislumbra a existência da Declaração Universal dos Direitos
Humanos, em âmbito mundial – por obviedade - e Constituição Federal
Brasileira, em âmbito nacional, que visam a preservação e proteção do ser
humano em sociedade e pouco, ou quase nada, se observa quando se trata dos
animais não-humanos. Após a Declaração Universal dos Direitos Humanos
em 1948, os países signatários iniciaram sua jornada na busca da adequação
de suas normas com a declaração, de modo que, coube a Constituição
Brasileira a função de estabelecer garantias, direitos e obrigações dos
cidadãos, assim como o dever do Estado para com estes, dispondo regras
essenciais para a boa convivência do ser humano na vida em sociedade.
Nesse processo surgiram normas complementares para reger e punir
condutas contrárias ao que prevê o acordo da boa convivência em sociedade.
Como forma de colaborar com essas regras, o homem enxergou a
necessidade de normas especiais ou específicas para proteção de determinado
grupo, como a Lei Maria da Penha, Estatuto do Idoso, Estatuto da Criança e
do Adolescente e Estatuto da Igualdade Racial, por exemplo. Nota-se a
preocupação com os (de alguma maneira) desiguais ou em situação de
vulnerabilidade. Entretanto, essa preocupação está sempre dentro do mesmo
limite: preservar e proteger a espécie humana, ou seja, as legislações são
sempre pensadas e ofertadas sob uma ótica antropocentrista.
Considerando o fator histórico, é possível vislumbrar teorias que
exemplificam essa relação do ser humano com o animal não humano,
Sócrates (469-399 a.C) e outros filósofos da época, que defendiam o
antropocentrismo, afirmando ser o homem o centro de tudo e superior aos
outros animais por possuir a capacidade de pensamento e linguagem. Com o
nascimento do Iluminismo outros filósofos surgiram com ideias contrárias,
passando a defender os animais como seres dotados de senciência, como
Voltaire (1694-1778) e Jeremy Bentham (1748-1832). O marco histórico,
político e positivo na luta pela defesa dos animais em âmbito mundial, se deu
a partir da Declaração Universal dos Direitos dos Animais em 1978 na
Organização das Nações Unidas para Educação Ciência e Cultura UNESCO.
Entretanto, muito ainda se discute quanto a sua efetividade e implementação
pelos países signatários, a exemplo do Brasil, que ainda caminha em direção
a normas efetivas, justas e proporcionais.
Antes de aprofundarmos as reflexões trazidas nesse capítulo, se faz
interessante possuirmos o conceito de senciência. Para isso, estudaremos essa
definição com mais profundidade nas páginas que se seguem.
6.1 A senciência
A senciência se traduz na habilidade de ser atingido positivamente ou
negativamente. É a capacidade de possuir ensaios, experiência. Não é
somente a capacidade para compreender um estímulo ou responder a certas
condutas. A capacidade de sentir é um experimento de “dentro para fora”.
A senciência pode ser entendida como o nível mais primacial de
consciência, ou seja, é a capacidade de sentir, conscientemente, as sensações
mais básicas. De uma maneira mais técnica, a senciência pode ser
conceituada como: habilidade de subjetivamente experimentar dor, frio,
conforto, desconforto, e conscientemente diferenciar estados internos como
bons ou ruins, agradáveis ou desagradáveis36.
Um ser consciente é um sujeito que dotado de experiências, ou seja, é um
indivíduo com a habilidade de experimentar o que acontece consigo. Um
organismo - vivo - somente consegue possuir experiência se tiver uma
ordenação que conceda a habilidade para a consciência e se possuir um
sistema nervoso capaz de oferecer consciência.
A experiência é uma característica de um ser consciente. Afirmar que uma
entidade experimenta uma sensação é o mesmo que argumentar que é
consciente. Ainda no mesmo raciocínio, ser consciente é, sem dúvida, ser
senciente. Dessa maneira, quando se perde a capacidade de sentir, se perde a
consciência. O professor Vicente de Paula Ataíde Junior, ensina sobre
consciência: Além disso, é oportuno lembrar que a Declaração de Cambridge
sobre a Consciência em Animais Humanos e Não Humanos, de 2012, inclui
na relação de seres sencientes e conscientes não apenas mamíferos e aves,
mas, também “muitas outras criaturas, incluindo polvos”, não descartando,
portanto, os animais invertebrados. (ATAIDE JUNIOR, Vicente de Paula.
Princípios do Direito Animal Brasileiro. Revista Brasileira de Direito
Animal, E-ISSN: 2358-4777, Salvador, volume 30, número 01, p. 106-136,
JAN-JUN 2020.) A justificativa pela qual a consciência - ou seciência - é
crítica para a questão moral mora na constatação das experiências, somente
possíveis aos seres conscientes, poderem ser “boas” ou “ruins” para as
entidades que as detém. Estes podem ser afetadas positiva ou negativamente.
Uma maneira de sinônima de conceituar a senciência é, então, a habilidade de
sofrer um prejuízo ou um benefício.
Acerca da consciência, a Declaração de Cambridge sobre a Consciência
(2012) – elaborado por neurocientistas, neurofarmacologistas,
neurofisiologistas, neuroanatomistas e neurocientistas computacionais
cognitivos reunidos na Universidade de Cambridge/Reino Unido, afirma: A
ausência de um neocórtex não parece impedir que um organismo experimente
estados afetivos. Evidências convergentes indicam que os animais não
humanos têm os substratos neuroanatômicos, neuroquímicos e
neurofisiológicos de estados de consciência juntamente como a capacidade de
exibir comportamentos intencionais. Consequentemente, o peso das
evidências indica que os humanos não são os únicos a possuir os substratos
neurológicos que geram a consciência. Animais não humanos, incluindo
todos os mamíferos e as aves, e muitas outras criaturas, incluindo polvos,
também possuem esses substratos neurológicos.” Traduzido. Conferir o texto
original, em inglês, disponível em <http://fcmconfer
ence.org/img/CambridgeDeclarationOnConsciousn
ess.pdf>. Acesso em: 05 set 2019.
O conceito de senciência é fundamental para as considerações de bem-
estar animal, pois ao considerarmos os animais como seres sencientes,
estamos assumindo que são seres capazes de, conscientemente, sofrerem em
situações dolorosas, desconfortáveis ou frustrantes. Portanto, passamos a ser
responsáveis, do ponto de vista ético e moral, pelas condições em que
mantemos os animais que foram removidos da condição natural e estão sob
nossos cuidados, sendo esses animais domesticados ou não37.
A definição do importante filósofo francês René Descartes (1596-1650) de
que os animais seriam como “máquinas sem alma”, ou seja, fariam tudo por
instinto e não teriam consciência de suas condições, influenciou amplamente
o pensamento da população em geral. Assim as pessoas passaram a assumir
que os animais não tinham nenhum grau de consciência. Por outro lado,
algum tempo depois, outro importante filósofo chamado Jeremy Bentham
(1748-1832), defendeu que para decidir como tratar os animais, nós
deveríamos considerar não se os animais são dotados de razão ou linguagem,
mas sim sobre sua capacidade de sofrer. Posteriormente, Charles Darwin
(1809-1882) defendeu que a atividade mental dos animais deve ser
semelhante àquela dos humanos, indicando assim que os animais seriam seres
com ao menos algum grau de consciência38.
6.2 Declaração Universal de Direitos
A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi declarada pela ONU
(Organização das Nações Unidas) na Assembleia Geral das Nações Unidas
em Paris, em 10 de dezembro de 1948, com intuito de estabelecer uma forma
de tratamento igualitária entre todos os países, formalizando um
compromisso de proteção e tratamento digno a todos os seres humanos,
independente de cor, credo ou nação. Com efeito, mostrando sua importância
logo em seu artigo 1º, ao afirmar que: “Todos os homens nascem livres e
iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem
agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade”39.
Nesse particular, vale destacar que esse documento surgiu após a segunda
guerra mundial como resposta a forma cruel com que milhares de pessoas,
entre civis e militares, combatentes e inocentes, foram torturadas ou mortas
com a justificativa da guerra. Então, foram elencados nesse documento os
direitos básicos e essenciais a uma vida digna, como direitos civis, políticos,
sociais, econômicos e culturais. De modo que, os Estados-membros, uma vez
que assinassem a declaração, tornavam-se comprometidos e obrigados a
seguir o disposto em seu conteúdo, sob pena de sanções tuteladas por um
instrumento formal de aprovação na comunidade internacional.
A declaração de direitos animais iniciou-se com as discussões que
apontam que o animal não humano, ao longo do tempo, sofreu e sofre abusos
e maus-tratos, sendo tratado de forma diferenciada conforme sua necessidade
para o ser humano. Dando início à história pela defesa dos animais, surgiram
entidades como World Wildlife Found – WWF40 e Greenpeace41, com
movimentos a favor dos animais, em busca de sua proteção, preservação e
não diferenciação entre animais humanos e não-humanos no que tange os
direitos fundamentais à vida digna, liberdade, proteção e preservação.
A discussão acerca do tema meio ambiente ecologicamente equilibrado,
resultou na Conferência de Estocolmo em 1972, ponto importante na
construção do Direito Internacional Ambiental, com a participação de
diversos Estados – incluindo o Brasil – momento em que foram abordados
vários temas relacionados ao meio ambiente com foco no equilíbrio e
relacionamento harmônico do homem com o meio ambiente, visando o
crescimento econômico, responsabilidade ambiental e preservação.
Dentre vários entendimentos e acordos em prol do meio ambiente, a
discussão quanto a normativos adequadamente justos aos animais que
compõem o meio em conjunto com o ser humano, resultou na Declaração
Universal dos Direitos dos Animais em 1978 na UNESCO (Organização das
Nações Unidas para Educação Ciência e Cultura) agência ligada a ONU
(Organização das Nações Unidas), que dispõe em seu artigo 1º que: “Todos
os animais nascem iguais diante da vida, e têm o mesmo direito à
existência”42. Estabelecendo princípios comuns como direito a vida, a saúde,
o bem-estar, tratamento digno e proteção a todos os animais como seres
essenciais ao meio ambiente.
A Declaração Universal de Direitos dos Animais não atingiu status oficial
internacional por não deter os requisitos necessários que se vislumbra e exige
o Direito Internacional, sendo entendida, não como determinante de
princípios jurídicos ou políticos, como a Declaração Universal de Direitos
Humanos, mas se tornando apenas uma declaração informativa de ordem
moral e ética.

6.2.1 Evolução do Direitos Humanos no Brasil sob a


ótica ambiental
É interessante salientar aqui que a história do direito ambiental no Brasil
tem início com a colonização dos Portugueses visando a exploração de nossas
terras, sendo que esse padrão de exploração desde o descobrimento até
ultimamente foi extremamente avassalador.
Segundo Siqueira43 “o modelo de ocupação território brasileiro foi
marcado pela exploração florestal irracional, que se concentrou em uma única
espécie, o pau-Brasil, a qual tinha larga aplicação na produção de corante e
grande utilização na marcenaria”.
Seduzidos pelas nossas riquezas, os portugueses não hesitaram em
explorar: o ouro, açúcar, café e o famoso pau-Brasil. Como todos nós
sabemos, o Brasil ficou sobre o julgo de Portugal até meados do século XIX,
período em que a legislação aplicável era de Portugal. Por essa razão, o
processo evolutivo da legislação ambiental no brasileiro se relaciona
profundamente com a legislação portuguesa à época, sendo elas: regimento
do Pau-Brasil de 1605 (regulamentando a extração da madeira para evitar o
esgotamento da espécie); alvará de 1675 (proibia a distribuição de terras
destinadas à produção nas terras litorâneas, onde existia madeiras); carta
Régia de 1797 (preocupava-se com a defesa da fauna, das águas e dos solos),
Regimento de Cortes de Madeiras de 1799 (estabelecia rigorosas regras para
a derrubada de árvores).
O professor Swioklo44 nos diz que: “descumprimento dessas normas
resultava em penas consideradas altas, pois além da multa em dinheiro, os
infratores eram degredados por dois anos para fora da comarca”.
Essas leis vindas de Portugal eram bastante evoluídas, pois, vinham
protegendo os recursos naturais da degradação colonialista portuguesa,
destacando aqui algumas disposições relevantes, senão vejamos: foi proibida
em 1393 corte de árvores frutíferas; em 1926 houve a ordenação que
protegias as aves, medidas essas que ficaram compiladas e inserida no Brasil.
A segunda evolução histórica tem como marco a vinda da Família Real, a
vinda dessa família ao Brasil constituiu um acontecimento de grande
importância para o desenvolvimento e proteção ao meio ambiente, por
intermédio do comprometimento em pôr em liberdade o escravo que
propagasse o contrabando de pau-Brasil; através desse meio a proteção
intensificou-se.
Devido à Constituição Política do Império do Brasil de 1824 e o Código
Criminal de 1830 sancionado poucos meses antes da abdicação de D. Pedro I,
previam o crime de corte ilegal de árvores e a proteção cultural. Percebe-se,
neste período, a fase segmentária, em que a legislação buscou proteger
categorias mais amplas dos recursos naturais, restringindo sua exploração
desordenada.
De acordo com o professor Kengen45 “a chegada da família real ao Brasil,
em 1808, promoveu grandes transformações em todas as áreas, valendo
destacar a criação do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, em 1811. Sua
implantação representa marco de maior importância, ainda que ele tivesse
como objetivo a aclimatação de plantas e o estudo da flora brasileira de
interesse econômico”.
Apesar de não ser de caráter ambientalista, a criação do Jardim Botânico
foi de grande importância para o Direito Ambiental brasileiro, sem dúvida foi
o primeiro passo para a regulamentação de áreas protegidas, resultando a
criação do Sistema Nacional de Unidades de Conservação.
Além de promulgada a legislação sobre o uso da terra em 1821, a qual
previa a manutenção de reservas florestais em 1/6 das áreas vendidas ou
doadas. Possivelmente esta medida foi precursora que hoje é conhecido por
Reserva Legal de propriedades rurais, previstas no Código Florestal vigente.
A terceira evolução histórica tem como marco a criação Lei da Política
Nacional do Meio Ambiente de 1981, esta lei inova ao apresentar o meio
ambiente como objeto específico de proteção.
A partir daí ficaram evidentes os passos que devem ser seguidos para uma
conduta ecologicamente equilibrada como direito humano, no que diz
respeito aos princípios, aos objetivos e aos instrumentos da política
ambiental. Essa terceira revolução foi tão significava, pois, através dela
desencadeou uma série de normas, senão vejamos algumas delas: Lei n.
7.347/1985 (Lei da Ação Civil Pública com objetivo principal a recuperação
in natura, através de medidas fáticas tendentes a evitar o dano ambiental), CF
de 1988 (que tem como objetivo propiciar a recomposição do meio
ambiente); lei n. 9.605/98 (Lei de Crimes Ambientais, veio dispor sobre as
sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas
ao meio ambiente); lei n. 9.985/2000 (Sistema Nacional de Unidades
Conservação, vem contribuir para a preservação e a restauração da
diversidade de ecossistemas naturais); lei n. 12.305/2010 (Política Nacional
de Resíduos Sólidos, com a preocupação de reduzir, reutilizar, reciclar, e
tratar os rejeitos, para qualidade ambiental); entre outras.
O Direito ambiental parece ser, hoje, o direito da terceira geração, se não
for o mais conhecido poderíamos dizer que o menos ignorado no Brasil.
Atualmente, os povos de todo o mundo tiveram os olhos voltados ao meio
ambiente. Tanto é verdade que existem várias organizações não
governamentais defendendo o meio em que vivemos contra atos lesivos
praticados por quem quer que seja. Em razão disso é que o meio ambiente
deve ser a preocupação central do homem, pois toda a agressão a ele poderá
trazer consequências irreversíveis as presentes e futuras gerações.
6.3 Legislação brasileira
No Brasil, observa-se que a inserção dos direitos humanos foi concentrada
na preocupação da proteção integral e desenvolvimento pleno do ser humano
considerando o princípio da dignidade da pessoa humana. Por este motivo, ao
se apreciar a construção da legislação onde estão dispostos os crimes contra
fauna e flora, resultantes da Constituição Federal de 1988, faz-se necessário o
entendimento dos princípios do Direito Ambiental (relacionados à proteção
do animal não-humano).
O Princípio da Prevenção, base do direito ambiental, composto por
medidas protetivas, visa a redução de ameaças ao equilíbrio, saúde e
preservação do meio ambiente, como exemplo dessas medidas estão a
educação, conscientização, prevenção e punição. Conceitua Milaré (2011)
que o poluidor pagador “que lucra com uma atividade deve responder pelo
risco ou pelas desvantagens dela resultantes” de modo que o Princípio da
Reparação Integral em conjunto com o Princípio do Poluidor Pagador tratam
do dever de reparar o dano gerado ao meio ambiente de forma a recuperar, no
que for possível, a sua integridade, assim, aquele que polui deve arcar com os
riscos e custos necessários para eliminação do risco de dano e, quando não
possível a prevenção e a proteção integral, arcar com o necessário para
minimizar ou neutralizar o dano gerado, realizando a devida reparação, seja
em ação ou indenização.
As autoridades nacionais devem esforçar-se para promover a internalização dos
custos ambientais e o uso de instrumentos econômicos, considerando o critério de
que o que contamina deve, em princípio, assumir o custo da contaminação, com a
devida consideração ao interesse público e sem distorcer o comércio ou
investimentos internacionais. (Rio/92 Conferência das Nações Unidas para o
Meio).

Oportuno considerar também, o princípio da Dignidade da Pessoa


Humana, em relação ao envolvimento de todos os princípios aqui destacados,
pois a proteção animal está direta e intimamente ligada a este princípio assim
como da fauna e flora como um todo, considerando que, o ser humano como
parte do meio necessita deste para sua preservação, assim sendo, protegendo
os demais integrantes do meio ambiente, tornando esse equilibrado e seguro
para todos, o ser humano se beneficia também, se envolvendo ao conceito de
meio ambiente ecologicamente equilibrado e ao desenvolvimento sustentável.
Ao se traçar uma linha do tempo, no que tange os direitos dos animais
não-humanos, se destaca a relação desse com o homem, ainda na época do
descobrimento do Brasil, quando animais eram levados para Portugal para
fins econômicos e domésticos, surgiram daí os primeiros vestígios de
proteção animal, evidentemente com caráter econômico, pois proibia o
comércio de animais, mantendo lucro apenas com a coroa portuguesa. De
qualquer forma, no histórico das constituições brasileiras, apenas a partir de
1934 houve menção sobre proteção ao meio ambiente. Ainda, no mesmo ano,
foi publicado o Decreto 23.793/34, denominado Código Florestal, que dividiu
os crimes em infrações penais e contravenções e o Decreto n° 24.645/34
conhecido como Código de Defesa dos Animais, que definia conceito de
maus-tratos. Pouca coisa mudou entre a constituição de 1934 e a Constituição
de 1988 em relação ao direito animal. Entretanto, neste período, surgiram leis
de proteção aos animais, como a Lei de Proteção à Fauna, o Código de Pesca,
a Lei 6.638/79 sobre a vivissecção animal, a Lei 7.173/83 sobre os Jardins
Zoológicos, a Lei 7.643/87 quanto a pesca de baleias, botos e golfinhos, a Lei
do Abate humanitário nº 7.705/92, que autoriza o abate de animais de forma
reconhecida pela Organização Mundial de Saúde – OMS e o Novo Código
Florestal – Lei 4.771/95.
Com a constituição cidadã de 1988, foi registrado um grande passo na
proteção ao meio ambiente, incluindo neste contexto os animais não-
humanos. Pois tratou em seu artigo 225 sobre o meio ambiente, colocando
este como um bem comum de todos e essencial à vida.
Art. 225: Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de
uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder
público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e
futuras gerações.

Por outro lado, nas palavras do autor Leonardo Boff (2003)46, o Brasil
ainda não conseguiu se enquadrar completamente na atual tendência dos
países da América Latina no sentido de reconhecer um constitucionalismo
que abarque não somente as necessidades do ser humano, mas sim de todas
as espécies existentes no planeta.
Após a tratativa do texto regulado no artigo 225 da Constituição Federal
de 1988, surgiram, aos poucos, normas específicas para a proteção e defesa
do meio ambiente e dos animais, assim como instrumentos de tutela
destinados a esta proteção, evoluindo até o surgimento da lei 9.605 de 1998
que descreveu os atos lesivos contra a fauna e flora e apresentou as sanções
cabíveis considerando o previsto em seu artigo 29º: Matar, perseguir, caçar,
apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória,
sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou
em desacordo com a obtida: Pena – detenção de seis meses a um ano, e
multa.47
Entretanto, os animais não-humanos, nessa concepção, ainda não se
constituem como titulares de direitos plenos e garantidos como o são ao
homem, que tem em sua defesa o princípio da dignidade da pessoa humana o
que não é ofertado aos não-humanos.
Se cotejarmos os direitos de uma pessoa humana com os direitos do animal como
indivíduo ou espécie, constatamos que ambos têm direito à defesa de seus direitos
essenciais, tais como o direito à vida, ao livre desenvolvimento de sua espécie, da
integridade de seu organismo e de seu corpo, bem como o direito ao não
sofrimento. Sob o ponto de vista ético e científico fácil justificar a personalidade
do animal (DIAS, 2006).

Quando se trata da visão do direito animal no ordenamento jurídico


Brasileiro, ainda se encontra muita discussão e, consequentemente, lacunas.
Isso pois, enquanto alguns autores defendem a visão do animal não-humano
como coisa, outros afirmam que esses, por possuírem legislação específica de
proteção e, a partir desta, passam a ser sujeitos de direitos, como explana
Rodrigues (2012, p.188) “os animais não-humanos, como também são
incapazes, podem ser sujeitos de direitos, mesmo porque a lei permitiu que
seus direitos sejam defendidos e representados por órgãos competentes”. No
entanto, ainda é visível a relativização entre as espécies animais, na medida
em que são tidos como protegidos, ou não, pela sua importância na religião,
cultura, companhias como animais domésticos, trabalho, alimentação ou
vestuário. Em desacordo com o texto constitucional, que ao descrever como
crime a prática cruel em animais, não fez especificações quanto a espécie de
animal passível dessa proteção, o que torna subjetiva a decisão do que seria a
prática cruel e de qual animal estaria protegido.
Assim, uma visão relativizada do que se caracteriza ou não maus-tratos se
configura como descreve Figueiredo:
O eixo norteador da legislação aplicada na defesa dos animais é a proibição de
práticas cruéis, portanto o abate, as experiências científicas e presença de animais
em espetáculos públicos estão fora do alcance de proteção, pois se evitarem o
sofrer além do necessário são condutas perfeitamente ilícitas e toleráveis
socialmente. (FIGUEIREDO, 2012).

Logo, a visualização dos maus-tratos, normalmente, está ligada aos


animais que possuem alguma função laboral ou de entretenimento, como os
cavalos, bois de rodeios, animais de circo, zoológicos e outros, pois os textos
protetivos não impedem as atividades laborais ou culturais em si, desde que
não se configure maus-tratos, abandono ou que o animal corra risco de morte.
Em nossa primeira obra sobre direito animal, A Desproporcionalidade, ao
relacionarmos o desequilíbrio da sanção penal quanto aos crimes contra
humanos e animais, demonstramos:
Matar um animal por puro prazer, não pode ser uma conduta aceitável e é
importante buscar uma proporcionalidade não só com o bem que se pretende, mas
também com a conduta de matar um ser humano, pois somente assim o homem
saberá que não é somente a vida dele que importa. (TITAN, 2016).

Neste contexto, é abordado o fato de que, em crimes contra a vida humana,


a pena inicial de reclusão é de seis anos, enquanto que o crime contra uma
vida animal inicia com a pena de detenção de seis meses, o que dificilmente
resultará em prisão.
A corrente do bem estar animal, voltada para a proteção dos animais,
apresentada pelo filósofo Singer, trouxe discussões relevantes ao tema da
proteção dos animais, pois demonstrou o sofrimento tido pelos animais em
abates ou experimentos científicos: Se eles (animais não humanos) são
capazes de sentir prazer e dor, como os seres humanos, também possuem
interesses, os quais só podem ser devidamente protegidos quando
reconhecidos socialmente como direitos, deixando de serem somente apelos
éticos. (SINGER, 2004).
O antropocentrismo ainda tem prevalecido na relação do homem com o
animal não-humano e, mesmo com todo avanço filosófico quanto ao tema, o
ser humano, ainda, se coloca em superioridade entre as outras espécies
animais, podendo fazer o que convém a sua cultura, como matar, adorar ou
mesmo domesticar as outras espécies animais integradas ao meio ambiente. A
visão do homem em relação aos animais ainda os considera como parte do
universo de coisas disponíveis para uso próprio, que existem para servir e, em
prol do homem, assim, os animais não-humanos tem suas vidas
regulamentadas a serviço do homem.
Em 2019 foi aprovado o Projeto de Lei 27 de 201848 que acrescenta
dispositivo à Lei nº 9.605/98 e dispõe sobre a natureza jurídica dos animais
não-humanos. Com a aprovação do projeto de lei, os animais passam a
possuir natureza jurídica sui generis. Os animais não humanos sendo
reconhecidos como seres sencientes, deixam de ser tratados como coisa e
passam a ser reconhecidos como sujeitos de direitos despersonificados de
natureza sui generis. Dessa forma, algumas normas precisam ser alteradas de
modo a serem adequadas a esse novo entendimento, como a lei de crimes
ambientais e até a competência do código civil brasileiro. Entretanto,
infelizmente, após grande discussão quanto as espécies animais a serem
tuteladas pelo projeto, o texto final estabeleceu o status de sujeitos de direitos
apenas para alguns animais, o que ainda não põe fim à discussão atual sobre a
tutela animal e acende a discussão sobre especismo49.
A PL 27/2018, apesar de ter sido aprovada com a diferenciação entre
animais não humanos a detentores de direitos e proteção, se mostrou
importante e necessária na discussão em torno da efetiva e proporcional
proteção aos animais não humanos. O embate se dá em torno da indústria e
comércio, visto que ao se reconhecer o animal como um ser senciente e
protegido, toda a cadeia de produção industrial e cultural é afetada.
Assim, visando a adequação do texto do projeto ao mais favorável
entendimento quanto a necessidade do uso animal, o projeto passou por
alterações, chegando ao ponto de tratar apenas dos animais domésticos. Não
obstante, considera-se esse um grande avanço em se tratando de direito
animal. Positivamente, com a redução do público-alvo do projeto, vários
deputados, senadores e defensores dos animais, solicitaram a Comissão de
Constituição e Justiça (CCJ) que inicie uma análise a fim de debater o tema,
em particular, a segurança jurídica real ao que tem previsão.
Em conjunto com o projeto de lei recentemente aprovado, pode-se citar o
projeto PL 7196/2010 sobre a guarda dos animais de estimação quando da
dissolução do casamento, que não teve aprovação e foi arquivado em 2011 e
alguns que estão em tramitação, como PLS nº 470 de 201850, referente à
punição financeira para estabelecimentos comerciais que concorram para os
maus-tratos e PL nº 1095 de 201951, que propõe a elevação das penas e
sanções estabelecidas em lei, indicando a pena inicial de reclusão para os
crimes de abuso e maus-tratos aos animais, ambas propondo alterações na Lei
de Crimes Ambientais nº 9.605/98.
Sobre a desproporcionalidade quando do tratamento dado ao ceifador de
uma vida humana e de uma vida não humana, no que tange as sanções penais,
afirmamos (A Desproporcionalidade, 2016):
O código Penal brasileiro, em seu art. 121, explica que para a ação de matar
alguém, o agente terá como sanção uma pena de reclusão e 6 a 20 anos. O bem
protegido pelo art. 121, sem dúvida, é a vida e mesmo que o ceifador dela seja
condenado no limite máximo da pena, o bem tutelado não retornará, ficando claro,
portanto, que tal sanção não é proporcional ao bem jurídico que se tenta proteger,
entretanto, é eficiente para que haja um desencorajamento dessa conduta. Por outro
lado, a conduta de matar um animal, prevista no art. 29 da Lei 9.605/98, que tem,
como pena, 6 meses a 1 ano de detenção, tendo, como bem tutelado, a vida, não
tem sanção proporcional com o que se pretende proteger e tampouco é eficaz para
que não haja um estímulo em cometer tal crime. (TITAN, 2016).

Com a exposição do pensamento do autor quanto ao tratamento e pesos


diferentes dado a vida humana e a não-humana, fica fácil e evidente,
visualizar o quão desproporcional é a penalidade dada ao crime contra a vida
de um animal não-humano, quando comparada ao crime contra a vida
humana.
Contudo, não se deve esquecer que a aprovação deste projeto de lei, foi
apenas o início e, que vem formalizar o observado nos últimos anos no
judiciário brasileiro quanto à tutela jurídica dos animais, não ficando inertes
frente as novas demandas. Percebe-se um grande passo dado pela legislação
brasileira quanto ao direito animal em busca da proteção efetiva aos diretos
dos animais não-humanos, cumprindo assim, mesmo que de forma singela,
seu papel de proteção aos desiguais conforme sua desigualdade.
Por fim, constata-se que a disparidade de tratamento e proteção ao animal
é extensa, pois a própria legislação se mostra desproporcional, branda e
tolerante, esquecendo-se que os animais não-humanos são seres sencientes,
detentores de sentimentos e sensações e, que suas vidas são necessárias ao
bom andamento e equilíbrio do meio ambiente, o qual também necessita o
animal humano.
6.4 Violar um direito animal é violar um direito
humano
A relação entre animais humanos e não-humanos é uma construção
histórica refletida pelas teorias que colocam o homem com status de
superioridade ao animal não-humano. Sócrates (469-399 a. C) defendia a
superioridade do homem frente aos outros animais, tendo como justificativa a
capacidade de pensamento e linguagem. Essa visão foi defendida e fortificada
por outros filósofos da época como Descartes (1956-1650) que tinha a visão
do animal como máquina a serviço do homem.
Mais tarde, com a evolução do pensamento filosófico, pensadores
discutiam suas ideias baseadas na influência religiosa, visualizando as
semelhanças entre homens e animais em ações como locomoção e
alimentação e sentimentos como dor, alegria ou felicidade e, considerando a
diferença apenas na alma. Para uns, os animais mesmo agindo de forma
semelhante ao homem, em ações e sentimentos não possuíam alma, para
outros, se reconhecia as semelhanças por completo, como Voltaire (1694-
1778), um dos primeiros a pensar nos animais como detentores de direitos,
que não acreditava na existência de alma em ambos. Em uma das suas obras
sobre este tema expõe: Que ingenuidade, que pobreza de espírito, dizer que
os Irracionais são máquinas privadas de conhecimento e sentimento [...] Será
porque falo que julgas que tenho sentimento, memória, ideias? Pois bem,
calo-me. Vês-me entrar em casa aflito, procurar um papel com inquietude,
abrir a escrivaninha, onde me lembra tê-lo guardado, encontrá-lo, lê-lo com
alegria. Percebes que experimentei os sentimentos de aflição e prazer, que
tenho memória e conhecimento. Vê com os mesmos olhos esse cão que
perdeu o amo e procura-o por toda parte com ganidos dolorosos, entra em
casa agitado, inquieto, desce e sobe e vai de aposento em aposento e enfim
encontra no gabinete o ente amado, a quem manifesta sua alegria [...]
Descobres nele todos os mesmos órgãos de sentimentos de que te gabas.
Responde-me maquinista, teria a natureza entrosado nesse animal todos os
órgãos do sentimento sem objectivo algum? Terá nervos para ser insensível?
Não inquines à natureza tão impertinente contradição.(Voltaire 1694-1778) 52
Os primeiros vestígios sobre o direito animal, que defendia que cada ser
deveria viver e se desenvolver de forma natural independente da vontade ou
ação humana, surgiram com Jeremy Bentham (1748-1832), que iniciou, a
partir das ideias de Voltarie, uma nova fase sobre a discussão quanto a forma
do homem se relacionar com os outros animais, através das afirmações e
discussões trazidas pelo seu livro Libertação Animal, quando compara a luta
pelo direito animal com as lutas pelos judeus, negros, mulheres,
homossexuais e demais movimentos por igualdade de direitos e tratamento ao
longo da história, em um de seus textos Bentham afirmava que: Talvez
chegue o dia em que o restante da criação animal venha a adquirir os direitos
que jamais poderiam lhe ter sido negados, a não ser pela mão da tirania. Os
franceses já descobriram que o escuro da pele não é motivo para que um ser
humano seja irremediavelmente abandonado aos caprichos de um torturador.
É possível que algum dia se reconheça que o número de pernas, a vilosidade
da pele ou a terminação do osso sacro são razões igualmente insuficientes
para se abandonar um ser senciente ao mesmo destino. O que mais deveria
traçar a linha intransponível? A faculdade da razão, ou, talvez, a capacidade
da linguagem? Mas um cavalo ou um cão adultos são incomparavelmente
mais racionais e comunicativos do que um bebê de um dia, uma semana, ou
até mesmo um mês. Supondo, porém, que as coisas não fossem assim, que
importância teria tal fato? A questão não é saber se são capazes de raciocinar,
ou se conseguem falar, mas sim se são passiveis de sofrimento. (Jeremy
Bentham 1748-1832).53
Para consolidar seu pensamento, o autor compara, ainda, a relação do
homem com os semelhantes, afirmando que os direitos, deveres e respeito
existentes entres os iguais, são estendidos aos diferentes, principalmente, aos
que não detêm razão ou forma de demonstrar entendimento lógico, como
crianças recém-nascidas e deficientes mentais, por exemplo. Comparando,
ainda, temas como a vivisseção animal para fins científicos e acadêmicos e,
até mesmo o entendimento quanto ao trabalho escravo afirmando que “se a
posse de um grau mais alto de inteligência não autoriza um ser humano a usar
outros seres humanos para seus próprios objetivos, como poderá autorizar os
humanos a explorar, com o mesmo propósito, os não-humanos?”. Para o
autor, se são permitidos e defendidos direitos a esses, por não terem como
exprimi-los sozinhos, não há o que diferencie da relação com os animais não
humanos, devendo existir a mesma garantia de proteção e direitos,
principalmente quanto a igualdade na busca da proteção: ausência de
sofrimento e garantia de vida digna. Assim, ter sua vivência e independência
quanto ao homem, afirmando que, para se, efetivamente, respeitar os direitos
dos animais não humanos, não basta extinguir a carne animal da dieta
humana, mas não os utilizar como força de trabalho. Ideia que foi
considerada ao mesmo tempo inovação na proteção animal e radical na
exclusão do homem de seu convívio, visto considerar que o homem deve se
abster de relações com os animais, dando aos animais não-humanos o direito
de sobreviver da melhor forma que puderem, restando ao homem se defender
em caso de um conflito ou perigo.
A Declaração Universal de Direitos dos Animais traz a reflexão acerca da
ação humana para com os animais e designa que o homem, além de respeitar,
tem o dever de proteger, não podendo lhe tirar a vida injusta ou cruelmente,
não fazendo diferenciação entre as espécies animais, portanto, não trata com
superioridade a posição do homem na relação entre o animal humano e o não-
humano, tendo o homem, ainda, dever de cuidado, como previsto no Artigo
2, alínea c: “Cada animal tem direito à consideração, à cura e à proteção do
homem”.54
No texto Constitucional Brasileiro, o tema do direito animal está em um
capítulo específico que trata sobre o meio ambiente, cujo artigo 225 diz que
“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de
uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida”. Ficando
demostrado como a proteção do meio ambiente está intimamente ligada à
qualidade de vida, sendo essencial para a preservação da vida animal,
humanos e não-humanos, incluídos como parte importante do meio ambiente,
desse modo a lei interpreta que é dever de todos, sociedade e Estado, zelar e
preservar, para toda coletividade presente e futura.
O Conceito e entendimento do significado da dignidade humana se traduz
na garantia da qualidade de vida e tratamento digno, sendo resguardada a sua
integridade física, mental e emocional, a fim de permitir desenvolvimento
social e bom convívio com a coletividade com a proibição de atos que violem
a manutenção de direitos constitucionais. Dessa forma, pode-se visualizar o
tratamento igualmente digno aos animais não-humanos, considerando estes
como parte do meio ambiente e da coletividade, sendo, portanto,
imprescindível, o tratamento justo a estes para que tenha vida digna, tornando
o meio ambiente equilibrado e socialmente justo para todos. O princípio da
dignidade da pessoa humana para se fazer eficaz, precisa superar o conceito
de espécies, considerando níveis e importância, assim, passando a ser
aplicado também aos animais não-humanos, como princípio básico entre
todas as espécies, visando o equilíbrio entre homens e animais, com uma
convivência justa, visando o meio ambiente saudável e devendo o Estado
conceder e garantir direitos, fiscalizando e punindo as infrações, para que
estes direitos sejam efetivamente respeitados.
A ampliação da noção de dignidade da pessoa humana (a partir do reconhecimento
da sua necessária dimensão ecológica) e o reconhecimento de uma dignidade da
vida não-humana apontam para uma releitura do clássico contrato social em
direção a uma espécie de contrato socioambiental (ou ecológico), com o objetivo
de contemplar um espaço para tais entes naturais no âmbito a comunidade estatal.
(SARLET, 2007).

Corroborando o tema abordado pelo texto, principalmente quando se


recorda a ideia de Singer, que afirma ser necessário o afastamento do homem
e do animal, faz-se necessário analisar a necessidade e dependência que o ser
humano tem em relação aos animais. Certo que a tecnologia permite que a
carne animal seja excluída da dieta alimentar humana, assim como do
trabalho ou da pesquisa científica, mas e quando o assunto for o emocional
humano? Será que o ser humano tem a capacidade de se desligar
completamente dos animais e manter suas relações afetivas apenas entre seres
humanos? É uma importante e pertinente reflexão.
A dependência emocional do homem faz com que seja criada uma
diversidade de funções aos animais não-humanos na vida cotidiana, como os
animais de estimação por exemplo. Como forma de validar tal pensamento,
pode-se observar o que diz a ciência quanto a tratamentos de saúde com
participação de animais como na TAA55 (terapia assistida por animais),
indicada normalmente em casos de doenças psicológicas, como depressão e
fibromialgia, ou locomotora, como parte do tratamento de fisioterapia. Vale
destacar também, o sucesso na indicação da TAA para crianças autistas e
para idosos, visando o compartilhamento de emoções. Quanto ao tema, a
psicóloga Fernanda de Toledo após estudar a relação da terapia assistida por
animais em idosos, afirma que os animais agem “estimulando tanto o aspecto
físico quanto o emocional com o objetivo de melhorar a qualidade de vida
das pessoas e acelerar os processos de recuperação”.
Nota-se também a crescente participação de animais nas empresas, tanto
com a permissão para funcionários levarem seus animais para o trabalho,
quanto na nomeação de animal como funcionário. Empresas por todo o
mundo já permitem que seus funcionários levem animais para o trabalho,
pois com a presença dos animais ocorre a diminuição do estresse, além de
tornar o ambiente de trabalho mais tranquilo e agradável. No Brasil são
exemplos dessa prática as empresas Pedigree, Whiskas e Google Brasil. De
outra forma, empresas resolvem, por meio de seus funcionários humanos,
adotar, ou melhor, contratar, animais de rua como membros da equipe, com
uso de crachá e até cargo definido, como a OAB/AP que adotou o gato
Leon56, logo depois que ele chegou a instituição, pequeno e amedrontado, ao
fugir da fome e do frio, e hoje circula livremente pelo prédio57, ou o caso do
cachorro Tirilo58 que foi abandonado e encontrou abrigo em um posto de
gasolina no interior de São Paulo, ganhou cama, comida, cuidados e emprego
de frentista. Exemplos como esses fortalecem os laços positivos entre
humanos e animais, demonstrando o quanto o homem é dependente
emocionalmente das outras espécies. É certo que o ser humano precisa muito
mais do que os animais não-humanos têm a oferecer do que o contrário.
Tal constatação faz sentido quando se coloca em ênfase o princípio
constitucional e, parte da convenção americana de direitos humanos,
elencado como princípio máximo do Estado democrático de direito: a
dignidade da pessoa humana. Tanto a Constituição Federal de 1988 quanto a
Declaração Universal dos Direitos Humanos fazem previsão quanto aos
direitos fundamentais (individuais e coletivos) no que se refere a vida em
sociedade de forma justa e digna, descrevendo, em razão disso, direitos civis,
políticos, sociais, econômicos e culturais. Oportuno lembrar que, neste rol
encontram-se, dentre outros, o direito à vida, liberdade, segurança e saúde.
Essas garantias, foram destacadas pois, são as primeiramente afetadas, são
direitos básicos restringidos ao ser humano quando um direito animal é
violado. Um exemplo desta ligação se faz relembrando o caso do ex-prefeito
de Santa Cruz do Arari (PA) – conforme demonstrado no capítulo 4 da
presente obra - condenado por crime ambiental e maus-tratos aos animais.
Em sua gestão, preocupado com a quantidade considerável de animais de rua
na cidade que afetavam sua gestão, tomou a pior das decisões, atacando e
eliminando os animais. Entretanto, compreende-se, como exemplo, que
tantos animais abandonados se multiplicando nas ruas causa preocupação,
visto que, são animais que vivem de forma quase selvagem a mercê de sua
própria sorte, assim, portadores de doenças perigosas para outros animais,
inclusive os humanos. Sob esse enfoque, a saúde pública está diretamente
ligada e dependente do controle dos animais abandonados e esses, por sua
vez, deveriam estar ligados a direitos básicos e garantia de vida digna, assim
como aos animais humanos. Neste mesmo contexto, quando se considera a
segurança, pode-se constatar que os animais de rua, por não terem
convivência harmônica com os humanos, podem a qualquer momento ficar
agressivos e atacarem uma pessoa, que acaba tendo sua saúde, segurança e
liberdade afetada, pelo fato de não poder se locomover pelas ruas sem
preocupação. Isso sem entrar no mérito dos crimes cometidos contra os
animais abandonados.
Ainda nessa argumentativa, trazemos a baila o seguinte raciocínio: um
homem possui um cachorro que acabou sendo infectado por Leishmaniose59.
Preocupado em fazer o mais fácil em detrimento do que é correto, esse ser
humano decide por abandonar60 esse animal não humano. O ser que foi
abandonado, através do agente transmissor, transmite aos seus pares a doença
com a está infectado. Não se possui mais apenas um cachorro infectado e sim
uma matilha; esse coletivo, mais uma vez através do agente transmissor,
acaba, por fim, transmitindo a outros seres humanos que convivem com a
matilha de animais não humanos.
Seguindo o pensamento, a saúde daqueles seres humanos foi afetada. E é
do conhecimento de todos que a ausência da saúde afeta diretamente a
condição de uma vida digna que, por sua vez, afeta a dignidade da pessoa
humana e que, por fim, ameaça a vida. A vida, a dignidade da pessoa humana
e a saúde são direitos humanos positivados no cenário internacional –
Declaração Universal dos Direitos Humanos - e nacional. Entendemos,
inclusive, que estão positivados no âmbito nacional, nos direitos sociais, no
artigo 6º da Carta Magna Brasileira. O mesmo entendimento possui Ingo
Wolfgang Sarlet, vejamos: Em que pese sejam ambos os termos (‘direitos
humanos’ e ‘direitos fundamentais’) comumente utilizados como sinônimos,
a explicação corriqueira e, diga-se de passagem, procedente para a distinção é
de que o termo ‘direitos fundamentais’ se aplica para aqueles direitos do ser
humano reconhecidos e positivados na esfera do direito constitucional
positivo de determinado Estado, ao passo que a expressão ‘direitos humanos’
guardaria relação com os documentos de direito internacional, por referir-se
àquelas posições jurídicas que se reconhecem ao ser humano como tal,
independentemente de sua vinculação com determinada ordem constitucional,
e que, portanto, aspiram à validade universal, para todos os povos e tempos,
de tal sorte que revelam um inequívoco caráter supranacional (internacional).
(SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 6ª ed., Porto
Alegre : Livraria do Advogado, 2006, p. 35 e 36).
O que é possível entender a partir desse raciocínio é que quando se
comente uma conduta – que geralmente é, ou deveria ser, crime – que viola
um direito animal, acaba-se por afetar um direito humano. Em outras
palavras, em nossa opinião, violar um direito animal é violar um direito
humano.
Pelo exposto, pode-se considerar o bem estar animal como o próprio bem
estar humano, visto que, sendo detentor de capacidade de planejamento, o
homem pode e deve utilizar-se disso para planejar o futuro, seu e de todos
que não o podem fazer por incapacidade temporária ou permanente,
independente de espécie, fazendo com que a visão antropocêntrica, seja
deixada por completo no passado, servindo como história e aprendizado. Não
que se tenha excluído totalmente essa visão antropocêntrica em relação ao
meio ambiente mas, atualmente, fica mais fácil colocar o homem como
membro do meio em que está inserido, ocupando papel de companheiro e
protetor, e não mais o proprietário, mesmo tendo regulado leis tão brandas e
permissivas quando se tratando do direito animal. Evidente que a legislação
brasileira está infinitamente longe da efetiva relação harmônica que preza o
ecocentrismo, mas muito se pode aproveitar desta teoria, permitindo a
convivência harmônica e justa entre animais humanos e não humanos, até
que a utilidade de um para o outro se resuma apenas a sentimental, quando o
ser humano voltará ao papel principal no meio ambiente, mas agora não
como proprietário e sim como protetor. Argumentando de outra maneira,
sendo garantido aos animais não humanos direitos básicos para uma vida com
segurança e dignidade, com sansões efetivas e proporcionais a sua
importância ao meio ambiente, estará se garantindo, consequentemente e de
forma mais simples, uma vida digna ao ser humano, assim fazendo sentido o
conceito do direito animal como um direito humano.

36 Disponível em: https://conscienciaanimalblog.wordpress.com/o-que-e-senciencia/. Acesso em 05 set. 2019


37 Disponível em: https://conscienciaanimalblog.wordpress.com/o-que-e-senciencia/. Acesso em 05 set. 2019
38 Disponível em: https://conscienciaanimalblog.wordpress.com/o-que-e-senciencia/. Acesso em 05 set. 2019
39 Disponível em: <https://nacoesunidas.org/direitoshumanos/declaracao/>. Acesso em: 05 set. 2019.
40 Fundo Mundial para a Preservação da Vida Selvagem.
41 organização não governamental ambiental (ONGA).
42 Disponível em: <http://www.urca.br/ceua/arquivos/Os%20direitos%20dos%20animais%20UNESCO.pdf>. Acesso
em 08 ago 2019.
43 SIQUEIRA, J. D. P. A legislação florestal brasileira e o desenvolvimento sustentado. In: Congresso Florestal Pan-
americano, Congresso Florestal Brasileiro, 7. 1. 1993, Curitiba. Anais... Curitiba, PR: [S.n.], 1993.
44 SWIOKLO, M. T. Legislação florestal: evolução e avaliação. In: Congresso Florestal Brasileiro, 6, 1990, Campos
do Jordão. Anais... Campos do Jordão, SP: [S. n.], 1990. v.1. p. 53-58
45 KENGEN, S. A. política florestal brasileira: uma perspectiva histórica. In: Simpósio Ibero - Americano de gestão e
economia florestal, 1. 2001, Porto Seguro
46 Constitucionalismo ecológico na América Latina, 2003. Disponível em: <http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Meio-
Ambiente/Constitucionalismo-ecologico-na-America-Latina/3/27997>. Acesso em: 25 ago 2019.
47 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9605.htm>. Acesso em: 16 ago. 2019.
48 Disponível em: <https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/133167>. Acesso em: 13 set. 2019.
49 O Especismo é conceituado pela violação de direitos (subjetivos e objetivos) de determinada espécie. É também a
discriminação tirânica e a predileção de uma espécie em detrimento de outra.
50 Disponível em: <https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/134775>. Acesso em: 13 set. 2019.
51 Disponível em: <https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2192978>. Acesso
em: 13 set. 2019.
52 Dicionário Filosófico. Voltaire. Irracionais. Versão para eBook. Disponível em:
<http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/filosofico.html>. Acesso em 24 ago. 2019.
53 Extraído do texto “igualdade para os animais” Defensores dos Animais. Disponível em:
<https://defensoresdosanimais.wordpress.com/publicacoes/textos/texto-igualdade-para-os-animais>. Acesso em 14
ago. 2019.
54 Disponível em: <http://www.urca.br/ceua/arquivos/Os%20direitos%20dos%20animais%20UNESCO.pdf>. acesso
em 08 ago 2019.
55 Disponível em: <http://www.pubvet.com.br/uploads/c 0 0 c d f 7 a b a a b d 3 1 d 6 35be0692c2ef0ae.pdf>.acesso
em 28 set 2019.
56 Disponível em: <https://olharanimal.org/gato-e-adotado-por-funcionarios-da-oab-e-ganha-cracha-no-amapa >.
acesso em 28 set 2019.
57 Infelizmente o “AdvoGato” Leon, acabou falecendo em junho de 2020 vítima de uma possível intoxicação, de
acordo com o site de notícias G1, da globo.com. Disponível em:
<https://g1.globo.com/ap/amapa/noticia/2020/06/04/simbolo-do-direito-dos-animais-e-mascote-da-oab-ap-
advogato-leon-morre-1-ano-apos-adocao.ghtml). Acesso em: 15 jul 2020.”.
58 Disponível em: <https://razoesparaacreditar.com/animais/tirilo-cao-frentista-ganha-fas/>. acesso em 28 set 2019.
59 A Leishmaniose Visceral (LV) é uma doença causada por um protozoário da espécie Leishmania chagasi. O ciclo
evolutivo apresenta duas formas: amastigota, que é obrigatoriamente parasita intracelular em mamíferos, e
promastigota, presente no tubo digestivo do inseto transmissor. É conhecida como calazar, esplenomegalia tropical e
febre dundun.
A Leishmaniose Visceral é uma zoonose de evolução crônica, com acometimento sistêmico e, se não tratada, pode
levar a óbito até 90% dos casos. É transmitida ao homem pela picada de fêmeas do inseto vetor infectado,
denominado flebotomíneo e conhecido popularmente como mosquito palha, asa-dura, tatuquiras, birigui, dentre
outros. No Brasil, a principal espécie responsável pela transmissão é a Lutzomyia longipalpis.
60 É importante destacar que não existe o crime de abandono de animais não humanos. Afirmamos categoricamente
baseado no princípio da legalidade (nullum crimen nulla poena sine previa lege) do direito penal, bem como
fundamentado no artigo 1º do Código Penal: “Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia
cominação legal”. A interpretação correta, ao nosso sentir, é de que a conduta de abandonar, ou seja, o ato de
abandonar é crime previsto no artigo 32 da Lei 9605/98, vez que causa ao animal não humano dotado de senciência,
um abalo, uma violência mental. Faz este animal sentir medo, frio, fome e sede. Agindo dessa maneira, o agente que
pratica o abandono inflinge, sem a menor dúvida, maus tratos aquele ser.
7 Conclusão

Diante do estudo aqui exposto, a presente obra teve por escopo analisar a
necessidade de um procedimento especial penal para os crimes previstos no
artigo 29 e 32 da Lei de Crimes Ambientais e como isso gera uma segurança
jurídica para a tutela dos animais e do meio ambiente em todas as suas
modalidades. Como foi demonstrado, a dificuldade de se conseguir uma
garantia, uma prerrogativa para o animal é extrema devido a cultura do
antropocentrismo já enraizado na legislação brasileira e na consciência social.
Assim, procuramos encontrar uma saída para remodelar a conjuntura na qual
os animais estão inseridos.
Para isso, realizamos um estudo através da análise de duas perspectivas
teóricas relevantes sobre o tema: antropocentrismo e ecocentrismo. Dessa
forma, demonstrou-se que a percepção mundial, apesar de ter sido criada ao
longo dos anos com esteio na supremacia do homem, tem sofrido
transformações a favor do meio ambiente e dos seres não-humanos. Nesse
sentido, é preciso que o ordenamento jurídico pátrio acompanhe os anseios
sociais que tem surgido conforme a consciência ecológica tem se
desenvolvido.
A proporcionalidade entre a conduta e a pena não existe, tanto no campo
do princípio quanto na comparação com outras leis. Especificamente, a pena
imposta para que mata um animal, não condiz com uma forma pura de
justiça, uma vez que tal sanção não é adequada, se faz necessário uma maior
punição para desestimular a matança e é desproporcional estritamente, pois as
“vantagens”, trazidas pelo artigo da lei analisada, são bem menores (para a
coletividade) em relação as desvantagens, gerando dessa forma uma
insegurança jurídica diante de tal cenário.
Quando tal comparação de proporção é feita com o homicídio, é possível
ver um abismo entre as penas impostas, mas que tem as mesmas condutas.
Dessa forma, é incorreto afirmar, em um primeiro momento, que a vida do
ser humano tem mais validade que a de um ser vivo, apenas baseando-se na
superioridade da raça. Pensamentos assim devem ser rechaçados, pois
orientam para caminhos ditatoriais, xenofóbicos e discriminatórios. É mister
ressaltar que todos têm o direito à vida e vivê-la de forma digna, caso
contrário, tomando por base o discurso da “raça superior”, seria aceitável que
uma civilização mais avançada que a dos seres humanos, promovesse o
extermínio dessa. O correto é colocar de forma justa e igualitária a vida do
ser humano e a de outros seres vivos.
Além da falta de proporcionalidade, se faz necessário que haja um
Procedimento Especial para os artigos 29 e 32 da Lei de Crimes Ambientais.
Não se pode entender como proporcional e razoável um procedimento com
inúmeros benefícios para quem, por exemplo, ceifa a vida de um animal. A
previsão de um procedimento especial para a referida lei, poderá mitigar
muito os problemas abordados nesse estudo.
Porém, mais do que simplesmente modificar apenas os artigos citados e
objetos dessa pesquisa, é, com base na teoria ecocêntrica, transformar toda a
Lei de Crimes Ambientais e oferecer a ela um rito especial no processo penal,
pois permanecer da maneira que está é confirmar que nosso modelo
legislativo ainda segue a absurda e obsoleta teoria antropocêntrica. Esse autor
ousa afirmar que seguir o antropocentrismo é perseguir a extinção humana.
Do ponto de vista e finalidade desta literatura, o direito pátrio enfrenta
questionamentos novos e tocante, o direito dos animais. Porém, para que se
tenha sucesso na tutela dos animais frente às diferentes e contestadas relações
com os humanos, é necessário alterar, modernizar, criar, inventar, renovar,
rever definições, conceitos e pré-conceitos, mudando essencialmente a
legislação, principalmente a criminal. A Carta Magna de 1988 alicerça o
legislador na confecção (elaboração) de normas civis e penais para uma
segura e efetiva renovação legislativa em prol dos animais não humanos. Isto
posto, basta transgredir as barreiras do preconceito a fim de, em uma
alteração de regras, garantir aos animais uma vivência - existência - sublime e
liberta de sofrimento imposto pelo ser humano.
Em outro ponto, vale ressaltar a relação íntima entre o direito humano e o
direito animal, visto que, o ser humano, como ser racional e responsável por
sua perpetuação, precisa estar atento e preocupado com o pleno
funcionamento do meio em que está inserido, cuidando do equilibro
necessário para que seu direito a saúde, segurança e proteção estejam
garantidos. Assim, sendo permitido que aos demais animais integrantes do
meio ambiente tenham uma vida digna, com saúde, segurança, proteção
efetiva e cuidados necessários, consequentemente, se dará ao ser humano
estes mesmos cuidados. Considerando, principalmente, no que se refere aos
princípios e garantias a direitos básicos – traduzindo o entendimento da
dignidade humana – base constitucional da proteção humana na vida em
sociedade, sendo dever do Estado a garantia desses diretos e, portanto, da
efetiva proteção animal, visando, senão o animal não-humano como
companheiro e merecedor dessa proteção, que seja se valendo da capacidade
de raciocínio e planejamento que detêm o ser humano, cuidando dos demais
animais para que assim, se mantenha controle sobre o ambiente em que todos
vivem, garantindo sua qualidade, segurança e subsistência para os
integrantes, atuais e futuros desse meio, pois garantindo aos animais não-
humanos os direitos básicos e necessários para que esses tenham uma vida
digna, logo se garantirá o mesmo aos humanos, utilizando-se os direitos
humanos como fonte para o direito animal com foco no princípio da
dignidade humana e não-humana.
O Direito não tutela anseios unânimes, pois é ciência que se propõe a
defender anseios individuais da sociedade, de modo a proporcionar a
harmonização social como um todo. Tutelar o direito dos animais não-
humanos é tutelar o direito humano e não ferir direitos subjetivos e garantias
constitucionais como a dignidade da pessoa humana e o direito-dever a um
meio ambiente saudável, pois são inegáveis os danos reflexos que situações
degradantes à integridade do animal não-humano podem gerar. Sendo esses,
seres senscientes e incapazes, fisiológica e racionalmente, de expor alguma
pretensão jurídica a não ser pela voz humana.
Através de toda pesquisa contida nessa obra, concluímos com a afirmativa
de que a discussão, ampla e expansiva, para criação e adequação de normas
específicas e efetivas na proteção aos animais, se faz necessária e, acima de
tudo, urgente, sendo imprescindível a visualização do animal não humano
como um ser senciente, pois mesmo com a aprovação da PL 27/2018, muito
ainda se poderá evoluir quanto aos direitos, garantias, proteção efetiva e
sanções proporcionais, além da consideração estabelecida em lei, para os
animais não humanos, por serem integrantes do mesmo meio ambiente onde
vive e do qual necessita o ser humano.
Posfácio

O pensamento ocidental caracteriza-se por demarcar grandes oposições


entre as quais pode-se citar: natureza e cultura; natural e artificial; corpo e
alma; primitivo e civilização; razão e emoção; humano e animal. Pode-se
afirmar que esse modelo de visão de mundo dualista passou sistematicamente
a corroborar a pré-compreensão no sentido de que os animais não humanos
representariam uma condição de falta, de ausência, quando comparados à
humanidade.
É curioso perceber que existe hoje um senso comum relacionado ao fato
de que a humanidade encontra-se inafastavelmente inserida na dimensão
biológica da animalidade, afinal não há dúvida alguma sobre o fato de que a
espécie Homo sapiens integra o reino animal, noção segundo a qual todos os
animais são singulares e os homens são apenas mais uma espécie dentre
tantas outras.
De outro lado, a condição animal revela uma fronteira praticamente
intransponível que separa essas duas categorias. Os animais representariam,
como condição, aquilo que justamente se contrapõe ao fenômeno humano
(condição humana), todo um enorme bloco de seres que estão excluídos, por
ausência de singularidade, do padrão considerado relevante para ingresso na
subjetividade moral e jurídica. Esse sistema de exclusão funciona como uma
espécie de espelho negativo da experiência humana de mundo.
A cultura, neste sentido, sublinha a exclusividade da participação do
homem na condição humana, tornando-o um sujeito (agente) moral, uma
pessoa, um alguém, e não algo. Será um ente que possui dignidade existencial
própria, imanente, fato que lhe concede imediato e automático acesso a uma
vasta gama de direitos fundamentais.
A animalidade, por sua vez, ficará tradicionalmente conectada apenas e tão
somente ao mundo instrumental. Normalmente essa posição que confere
estatuto moral próprio ao homem e, paralelamente, nega esta atribuição aos
animais, está conectada ao fenômeno do antropocentrismo, que significa
justamente afirmar que o mundo não humano possui valor somente na
medida em que atenda, direta ou indiretamente, a interesses, preferências,
necessidades, utilidades ou conveniências humanas (mundo não humano
atrelado a valor meramente relacional).
O trabalho de Rafael Fernandes Titan, O Direito do Animal Não Humano
no Cenário Processual Penal e Ambiental, avalia justamente em que medida
esse dualismo proposto (dimensão biológica da animalidade vs. condição
animal) seria, ou não, justificável no âmbito do mundo do Direito, e em que
sentido a afirmação do contínuo das espécies colaboraria para minar as teses
que privilegiam, de modos distintos, a exclusividade da inclusão moral dos
homens, seja a partir do critério de discriminação com base no pertencimento
de espécie (especismo geral), seja a partir do critério da excepcionalidade
humana frente às demais criaturas (especismo estrito).
Não somente isso, a obra pretendeu dar uma conformação atualizada ao
direito adjetivo no sentido de resituar a tutela dos bens jurídico-penais do
objetivismo dogmático para uma perspectiva analítica existencial. A justiça
em relação à titularidade da vida, integridade física, psicológica em bem-estar
experimental leva a que devam ser modificados os padrões típicos das
condutas infracionais penais e seu recorte processual.
Assim é que a Ética Animal e o próprio Direito Animal procuram se
apoiar no critério da senciência, compreendida genericamente como a
capacidade de sentir dor e prazer, para conferir status moral e jurídico aos
animais não humanos. O sofrimento é, em princípio, intrinsecamente ruim
para qualquer sujeito que possa sofrer. Os seres sencientes possuem o
interesse em manter seu bem-estar experimental, possuem o interesse
fundamental de não sofrer. Este interesse, baseado nesta capacidade, deveria
ser protegido de forma similar a interesses semelhantes (de intensidade e
importância equivalentes) titularizados por seres humanos. Causar
sofrimento, sem razões suficientemente fortes para tanto (sem uma causa
justificante especial) consiste, portanto, em conduta moralmente condenável
de discriminação prejudicial injustificada. Essa conclusão leva a que o
Direito devesse reconhecer essa dimensão sensível e se libertar da noção
reificada da vida animal. Esse novo olhar sustentará a possibilidade de
titularidade de bens jurídico-penais pelos próprios animais em si mesmos,
fato que se une à necessidade urgente de combater o tratamento abusivo e
instrumental a que boa parte dos animais estão submetidos.
É extremamente relevante que se perceba, pois, que a decisão de manter os
animais não-humanos classificados como objetos, e não como sujeitos de
direito, obedece a uma perversa lógica de dominação, na medida em que a
história das sucessivas gerações de direitos passa a ser identificada como uma
forma de inclusão social da própria espécie humana e tão somente dela.
Artificialmente construiu-se a idéia de que a categoria “humano” é a única
fundante e coincidente com a noção de “direito”.
Esse processo de auto-identificação do direito com o ser humano é
também uma triste história de exclusão, a exclusão de tudo aquilo que não se
enquadre nessa categoria de “humanidade”. A recorrente aceitação da teoria
de uma “Grande Cadeia do Ser”, como que em uma autêntica escada
evolutiva, classificando hierarquicamente os seres vivos, não serve a outro
propósito que o de, por meio da dicotomia superior/inferior, justificar a
radical disparidade de poderes e direitos existente entre eles.
O fato é que o mundo contemporâneo tende a apelar cada vez mais para a
inclusão generalizada dos homens na sociedade e, nesse sentido, no próprio
Direito, entendido como sistema dessa mesma sociedade. Todavia, o
mecanismo utilizado para tanto se socorre do ambíguo conceito de
“humanidade”, que pode ser tomado estrutural e semanticamente sob as mais
diversas óticas. Serviu, justamente por isso, em diferentes momentos
históricos, para legitimar a funesta “indiferença jurídica” com relação ao
próprio homem (gregos e bárbaros, senhores e escravos, fiéis e hereges,
nobres e servos, soberanos e súditos, negros e brancos, judeus e arianos, ricos
e pobres, entre tantas outras que ainda perduram entre nós). Entretanto,
continua, até os dias de hoje, a serviço da exclusão dos animais não-humanos
do rol de autênticos sujeitos de direito, conduzindo a uma equivocada
polarização e diferenciação entre humanos e não-humanos.
Os flagrantes e desnecessários abusos e crueldades diuturnamente
cometidos contra os animais não-humanos, seja por meio das fazendas
industriais, pela indústria alimentícia, farmacêutica e de cosméticos, pelo
tráfico internacional de animais silvestres, pela caça, pelas exposições e
espetáculos, pelos zoológicos e cativeiros, pela experimentação científica e,
mesmo pelo abuso doméstico, permitem, reflexamente, que o movimento
ganhe força e credibilidade, fazendo com que o público tome conhecimento
dessas práticas abomináveis e se conscientize, cada vez mais, acerca das
questões éticas, filosóficas e jurídicas a eles relacionadas.
A luta pelo reconhecimento dos direitos dos animais não-humanos não
implica nem sugere que os problemas humanos sejam de menor importância
ou mesmo que já tenham sido resolvidos. A sua defesa poderia, à primeira
vista, soar como uma futilidade ou um escapismo, num mundo marcado pela
pobreza, pela fome e pela guerra. No entanto, o massacre incessante dos
animais pelo homem é também um massacre do homem contra si próprio,
mergulhados que estamos em relações sociais que muitas vezes nos cegam.
Os dois temas estão umbilical e inafastavelmente interligados.
Rio de Janeiro, 16 de julho de 2020.

DANIEL BRAGA LOURENÇO


Doutor em Direito UNESA/RJ; Professor da Faculdade de Direito da
Universidade Federal do Rio de Janeiro - URFJ, do Instituto Brasileiro de
Mercado de Capitais - IBMEC/RJ e do Programa de Pós-Graduação em
Direito da UniFG/BA. Coordenador do grupo de pesquisa Antilaboratório de
Direito Animal – ANDIRA – da UniFG; Coordenador do Centro de Ética
Ambiental da UFRJ.
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Anexos

Declaração universal dos direitos dos animais


1 - Todos os animais têm o mesmo direito à vida.
2 - Todos os animais têm direito ao respeito e à proteção do homem.
3 - Nenhum animal deve ser maltratado.
4 - Todos os animais selvagens têm o direito de viver livres no seu habitat.
5 - O animal que o homem escolher para companheiro não deve ser nunca
ser abandonado.
6 - Nenhum animal deve ser usado em experiências que lhe causem dor.
7 - Todo ato que põe em risco a vida de um animal é um crime contra a
vida.
8 - A poluição e a destruição do meio ambiente são considerados crimes
contra os animais.
9 - Os diretos dos animais devem ser defendidos por lei.
10 - O homem deve ser educado desde a infância para observar, respeitar
e compreender os animais.
Preâmbulo:
Considerando que todo o animal possui direitos; Considerando que o
desconhecimento e o desprezo desses direitos têm levado e continuam a levar
o homem a cometer crimes contra os animais e contra a natureza;
Considerando que o reconhecimento pela espécie humana do direito à
existência das outras espécies animais constitui o fundamento da coexistência
das outras espécies no mundo; Considerando que os genocídios são
perpetrados pelo homem e há o perigo de continuar a perpetrar outros;
Considerando que o respeito dos homens pelos animais está ligado ao
respeito dos homens pelo seu semelhante; Considerando que a educação
deve ensinar desde a infância a observar, a compreender, a respeitar e a amar
os animais,
Proclama-se o seguinte:
Artigo 1º
Todos os animais nascem iguais perante a vida e têm os mesmos direitos à
existência.
Artigo 2º
1. Todo o animal tem o direito a ser respeitado.
2. O homem, como espécie animal, não pode exterminar os outros animais
ou explorá-los violando esse direito; tem o dever de pôr os seus
conhecimentos ao serviço dos animais 3.Todo o animal tem o direito à
atenção, aos cuidados e à proteção do homem.
Artigo 3º
1. Nenhum animal será submetido nem a maus tratos nem a atos cruéis.
2.Se for necessário matar um animal, ele deve de ser morto instantaneamente,
sem dor e de modo a não provocar-lhe angústia.
Artigo 4º
1. Todo o animal pertencente a uma espécie selvagem tem o direito de
viver livre no seu próprio ambiente natural, terrestre, aéreo ou aquático e tem
o direito de se reproduzir.
2 Toda a privação de liberdade, mesmo que tenha fins educativos, é
contrária a este direito.
Artigo 5º
1. Todo o animal pertencente a uma espécie que viva tradicionalmente no
meio ambiente do homem tem o direito de viver e de crescer ao ritmo e nas
condições de vida e de liberdade que são próprias da sua espécie.
2. Toda a modificação deste ritmo ou destas condições que forem impostas
pelo homem com fins mercantis é contrária a este direito.
Artigo 6º
1. Todo o animal que o homem escolheu para seu companheiro tem direito
a uma duração de vida conforme a sua longevidade natural.
2. O abandono de um animal é um ato cruel e degradante.
Artigo 7º
Todo o animal de trabalho tem direito a uma limitação razoável de duração
e de intensidade de trabalho, a uma alimentação reparadora e ao repouso.
Artigo 8º
1. A experimentação animal que implique sofrimento físico ou psicológico
é incompatível com os direitos do animal, quer se trate de uma experiência
médica, científica, comercial ou qualquer que seja a forma de
experimentação.
2. As técnicas de substituição devem de ser utilizadas e desenvolvidas.
Artigo 9º
Quando o animal é criado para alimentação, ele deve de ser alimentado,
alojado, transportado e morto sem que disso resulte para ele nem ansiedade
nem dor.
Artigo 10º
1. Nenhum animal deve de ser explorado para divertimento do homem.
2. As exibições de animais e os espetáculos que utilizem animais são
incompatíveis com a dignidade do animal.
Artigo 11º
Todo o ato que implique a morte de um animal sem necessidade é um
biocídio, isto é um crime contra a vida.
Artigo 12º
1. Todo o ato que implique a morte de grande um número de animais
selvagens é um genocídio, isto é, um crime contra a espécie.
2.A poluição e a destruição do ambiente natural conduzem ao genocídio.
Artigo 13º
1. O animal morto deve de ser tratado com respeito.
2. As cenas de violência de que os animais são vítimas devem de ser
interditas no cinema e na televisão, salvo se elas tiverem por fim demonstrar
um atentado aos direitos do animal.
Artigo 14º
1. Os organismos de proteção e de salvaguarda dos animais devem estar
representados a nível governamental.
2. Os direitos do animal devem ser defendidos pela lei como os direitos do
homem.
Declaração de Toulon

Após o manifesto de Cambridge em 2012, que reconheceu a senciência


animal com base científica, são juristas franceses que agora declaram
oficialmente o direito que possuem os animais em serrem tratados como
pessoas, com leis que os protejam e legitimem Na sexta-feira, 29 de março,
durante uma reunião solene do segundo simpósio sobre a personalidade
jurídica dos animais realizado na Faculdade de Direito da Universidade de
Toulon (França), os pesquisadores de direito, Louis Balmond, Caroline
Regad e Cédric Riot proclamaram oficialmente a Declaração de Toulon.
Esta declaração segue a mesma linha do Manifesto de Cambridge,
assinado em 7 de julho de 2012 por 13 representantes de instituições
científicas como Caltech, MIT ou o Instituto Max Planck, destacando o
conhecimento avançado do comportamento animal e da afirmação de sua
senciência, enfatizando o estado de consciência e a sensibilidade animal.
Na França, a legislação prevê desde fevereiro de 2015, no artigo 515-14,
um novo olhar sobre o direito animal: “Os animais são seres vivos dotados de
sensibilidade. Embora alvos de leis que os protejam, os animais estão sujeitos
ao regime de propriedade”.
Dr. Regad e Riot descrevem esse direito animal como “esquizofrênico”, no
sentido de que a lei afirma a sensibilidade animal, mas a coloca sob o regime
de propriedade na mesma sentença. Os pesquisadores então trabalham para
dar personalidade jurídica ao animal, o que lhe permitiria receber direitos e
desenvolver essa legislação a seu favor.
Seu trabalho é apresentado em três simpósios sobre três categorias
diferentes de animais: 1 – O animal de estimação
2 – Animais ligados a um fundo (aluguel, entretenimento, experimentação)
3 – Animais selvagens
O objetivo deste trabalho é fornecer ao animal uma personalidade legal, o
que possibilitará a confecção de leis que possam ser escritas corroborando e
garantindo esses direitos aos animais.
A proposta dos dois professores pesquisadores é adicionar uma subdivisão
às pessoas naturais: pessoas humanas e pessoas não humanas.
Alvo da exploração humana desde tempo imemoriais, sendo tratados como
coisas e subjugados à vontade alheia conforme a ambição humana, os
animais são comprovadamente conscientes do mundo que os rodeia, capazes
de sentir, amar e sofrer e agora com tudo isso levado em consideração, mais
este passo: dignos de direitos a altura de sua capacidade senciente61.
No mês de maio do ano de 2020, acompanhei uma palestra do Dr. Cédric
Riot. Consegui absorver muito conhecimento daquelas explicações e, por
querer mais, por querer me aprofundar no assunto, decidi procurar o
palestrante – Dr. Riot – para que pudéssemos debater sobre esse assunto. O
Dr. Riot, através da rede social Facebook, respondeu minhas intenções de
contato e conversamos muito por alguns dias. Durante nossa conversa, senti
muita gentileza, paciência e vontade de transformar positivamente o cenário
animal na França, características essas que, modéstia parte, também encontrei
em mim mesmo no sentido de transformar positivamente o direito animal no
Brasil.
Ao final daquela conversa, pude acrescentar mais conhecimento a esta
obra que vocês leitores acabaram de apreciar, bem como contribuir
acadêmica e literariamente para o fomento de pesquisas científicas voltadas
aos animais não humanos.
Por fim, pedi para que o Dr. Riot autorizasse eu compartilhar com vocês,
em nosso livro, a Declaração de Toulon. Contemplem:
TRADUÇÃO DA DECLARAÇÃO DE TOULON
Nós, juristas acadêmicos, participamos da trilogia de simpósios
organizados dentro da Universidade de Toulon sobre o tema da
personalidade jurídica do animal.
Considerando o trabalho realizado em outras áreas disciplinares,
notadamente por pesquisadores da neurociência.
Tendo em vista a Declaração de Cambridge de 7 de julho de 2012, pela
qual os pesquisadores chegaram à conclusão de que “os seres humanos não
são os únicos a possuir os substratos neurológicos da consciência”, sendo
estes compartilhados com “animais não humanos”.
Lamentando que o direito não tenha aproveitado esses avanços para
desenvolver em profundidade todo o corpo de leis relativas aos animais.
Observando que na maioria dos sistemas legais, os animais ainda são
considerados coisas e carecem de personalidade jurídica, sendo esta a única
capaz de dar a eles os direitos que eles merecem como seres vivos.
Acreditando que hoje a lei não pode mais ignorar que o progresso das
ciências, e podem melhorar a consideração dos animais, conhecimentos até
esse momento subutilizados.
Considerando, finalmente, que a atual incoerência dos sistemas jurídicos
nacionais e internacionais não pode resistir à inação e que importa iniciar
mudanças para levar em conta a sensibilidade e inteligência dos animais não
humanos.
Declaramos,
Que os animais devem ser considerados universalmente como pessoas e
não como coisas.
Que é urgente acabar definitivamente com o reinado da reificação.
Que os conhecimentos atuais impõem um novo olhar legal sobre o animal.
Que, como consequência, a qualidade de pessoa, no sentido legal, deve ser
reconhecida aos animais.
Dessa forma, além das obrigações impostas aos seres humanos, os animais
terão seus próprios direitos, permitindo que seus interesses sejam levados em
conta.
Que os animais devem ser considerados como pessoas físicas não
humanas.
Que os direitos das pessoas naturais não-humanas serão diferentes dos
direitos dos indivíduos humanos.
Que o reconhecimento da personalidade jurídica ao animal é apresentado
como um passo essencial para a coerência dos sistemas de direito.
Que essa dinâmica faz parte de uma lógica jurídica nacional e
internacional.
Que somente o caminho da personificação jurídica é capaz de trazer
soluções satisfatórias e favoráveis a todos.
Que as reflexões sobre a biodiversidade e o futuro do planeta devem
integrar pessoas físicas não-humanas.
Que isso reforçará o vínculo com a comunidade dos (seres) vivos, que
pode e deve encontrar uma tradução jurídica.
Que, aos olhos da lei, a posição legal do animal irá mudar para sua
elevação à categoria de sujeito de direito.
* A Declaração de Toulon foi oficialmente proclamada em 29 de março de
2019, durante a solene reunião do simpósio sobre A personalidade jurídica do
animal (II) realizado na Faculdade de Direito da Universidade de Toulon
(França), por Louis Balmond, Caroline Regad e Cédric Riot62.

61 Esse texto foi produzido por Eliane Arakaki e importado do site ANDA (Agência de Notícia dos Direitos dos
Animais). Disponível em: <https://www.anda.jor.br/2019/04/declaracao-de-toulon-reconhece-os-animais-como-
sujeitos-de-
direito/#:~:text=Tradu%C3%A7%C3%A3o%20da%20Declara%C3%A7%C3%A3o%20de%20Toulon&text=Lamentando%20que%20
Acesso em: 16 jun 2020.
62 Esse texto foi produzido por Eliane Arakaki e importado do site ANDA (Agência de Notícia dos Direitos dos
Animais). Disponível em: <https://www.anda.jor.br/2019/04/declaracao-de-toulon-reconhece-os-animais-como-
sujeitos-de-
direito/#:~:text=Tradu%C3%A7%C3%A3o%20da%20Declara%C3%A7%C3%A3o%20de%20Toulon&text=Lamentando%20que%20
Acesso em: 16 jun 2020.
Algumas faculdades de direito que oferecem
cursos de direitos dos animais nos Estados
Unidos e seus coordenadores em 200763.

LAW SCHOOL OFFERING ANIMAL LAW COURSES


Arizona State University College of Law
(Tempe, Arizona) Instructor: Professor Stephanie.
Benjamin N, Cardozo School of Law
(New York, NY) Instructor: David Wolfson and Eva Hanks.
California Western School of Law
(San Diego, CA) Instructor: Kristina Hancock.
Case WeStern Reserve University
(Cleveland, OH) Instructor: Kathy Hesseler and Sonia Waisman.
Chapman University School of Law
(Orange, CA)
Instructor: Tim Canova.
Columbia Law School
(New York, NY) Instructor: David Wolfson.
De Paul University College of Law
(Chicago, IL) Instructor: Neal Levin and Amy A Breyer.
Duke University School of Law
(Durham, NC)
Instructor: William Reppy.
Emory University School of Law
(Atlanta, GA) Instructor: Ani B. Satz.
Florida Coastal School os Law
(Jacksonville, FL) Instructor: Elizabeth DeCoux.
Florida State University College of Law
(Tallahassee, FL) Instructor: Cindy McNelly.
George Washington University Law School
(Washington, DC) Instructor: Nancy Perry and Jon Lovvorn.
Georgetown University Law Center
(Washington, DC) Instructor: Valerie Stanley.
Golden Gate University
(San Francisco, CA) Instructor: Althea Kippes Course not currently
offered.
Hamline University School Law
(Saint Paul, MN) Instructor: Lee Scholder and Barbara Gislason.
Course not currently offered.
Havard Law School
(Cambridge, MA) Instructor: David Wolfson Course not currently offered.
Hastings College of the Law
(San Francisco, CA) Instructor: Bruce Wagman Indiana University
School of Law – Indianapolis
(Indianapolis, IN) Instructor: Judith Anspach.
Lewis & Clark College
(Portland, OR) Instructor: Pamela Frasch.
Animal Law Clinical Intership Seminar
Instructor: Laura Ireland Moore Summer Course: Legislation, Lobbying
and Litigation Instructor: Nancy and Jonathan Lovvorn.
Loyola Law School
(Los Angeles, CA).
Marquette University Law School
(Milwaukee, WI) Instructor: Megan Senatori.
Massachusetts School of Law at Andover
(Andover, MA) Instructor: Diane Sullivan.

* No Brasil ainda são poucas as Universidades que possuem uma


disciplina específica sobre direito animal. Entretanto, destaco duas delas, as
quais eu tenho muita admiração pelo conteúdo desenvolvido, que são: Pós
Graduação em direito animal – Lato Senso – promovido pela Escola de
Magistratura Federal do Paraná juntamente com a Faculdade Uninter e o
Programa de Pós Graduação de Direito da Universidade Federal da Bahia –
Stricto Senso (Mestrado) – em que existe a linha de pesquisa sobre direito
animal. Ainda nesse sentido, existem outros programas de pesquisa científica
no ramo do direito dos animais não humanos em muitas Instituições Federais
Brasileiras. Aliado a isso, algumas ONGS, ativistas e Comissões de trabalho
da Ordem dos Advogados do Brasil – em suas respectivas seções e
subseções, bem como a federal – promovem cursos voltados a tutela animal.

63 RODRIGUES, Danielle Tetü. O Direito e os Animais: uma abordagem ética, filosófica e normativa. 2ª Ed. 4ª
reimpr. Curitiba. Juruá, 2002. Pág. 221

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