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METALURGIA DO NIQUEL

1. Introdução
2. Propriedades do Níquel. Aplicação.
3. Processos de extração do Ni
- Processo hidrometalúrgico
- Processo pirometalúrgico;

1. INTRODUÇÃO

Acredita-se que a palavra Níquel ou Kupfer Níquel seja derivada de um termo


depreciativo aplicado pelos mineiros medievais na Saxônia a um mineral que eles
erroneamente acreditavam ser um minério de cobre, mas do qual não podiam extrair
cobre. Na verdade, era o minério de niccolita (NiAs)-arseneto de níquel.
A historia do uso do níquel remonta-se aproximadamente ao século IV A.C associada
ao uso do metal cobre, pois ambos ocorrem freqüentemente nos seus minerais. Os
bronzes originários da Síria tem conteudos de niquel superiores a 2%. Manuscritos
chineses sugerem que o «cobre branco» era utilizado no Oriente desde 1400-1700 A.C,
entretanto a facilidade de confundir as minas de níquel com as de prata induzem a
pensar que, na realidade, o uso do níquel foi posterior, a partir do século IV A.C.
O níquel foi isolado pela primeira vez pelo mineralogista sueco Axel Cronstedt em 1751,
ao estudar um minério de gersdorffite (NiAsS) de Los, na Suécia que tentando extrair o
cobre da niquelina, obteve um metal branco que chamou de níquel.

O níquel é um metal branco prateado com propriedades metálicas típicas. Ocorre na


tabela periódica da primeira tríade do grupo VIII, depois do ferro e do cobalto, aos quais
está intimamente relacionado.
O níquel ocorre naturalmente como uma mistura de cinco isótopos estáveis de massa
número 58 (67,84%), 60 (26,23%), 61 (1,19%), 62 (3,66%) e 64 (1,08 %) Até agora, até
identificado com números de massa de 56, 59, 63, 65, 66 e 67.
A grande importância do níquel reside em sua capacidade, quando ligada a outros
elementos, de aumentar a resistência, a dureza e a resistência à corrosão de um metal
em uma ampla faixa de temperatura. O níquel é essencial para a indústria siderúrgica,
e as ligas que contêm níquel desempenharam um papel fundamental no
desenvolvimento de materiais para a indústria aeroespacial.
O status do níquel como elemento independente foi provado em 1775 por Torbern
Bergman e colaboradores, mas somente em 1804 Jeremias Richter produziu uma
amostra relativamente pura do metal e descreveu suas propriedades essenciais. Ligas
contendo níquel eram usadas muito antes da descoberta de Cronstedt. Durante séculos,
os chineses produziam "pai thung" ou "cobre branco" (40% Cu, 32% Ni, 25% Zn e 3%
Fe) que se assemelhavam à prata na aparência. Este material apareceu na Europa em
pequenas quantidades no final dos anos 1700. Como custa apenas um quarto do preço
da prata, a liga tinha, evidentemente, potencial comercial como substituto da prata. Na
década de 1830, as ligas de cobre-níquel-zinco, então conhecidas como prata alemã e
mais tarde como prata-níquel, estavam sendo produzidas comercialmente na Alemanha
e na Inglaterra em quantidades significativas. Além de sua cor prata, esta liga era fácil
de fundir e fabricar, era resistente a manchas e econômica de produzir.
O próximo desenvolvimento significativo ocorreu em 1857, quando os Estados Unidos
emitiram uma moeda de cuproníquel contendo 12% de níquel; outros países logo
seguiram o exemplo.
Em meados do século XIX, o níquel era produzido em pequenas quantidades a partir de
minérios de sulfeto extraídos na Alemanha, Noruega, Suécia e Rússia. Embora o níquel
metálico refinado tenha sido produzido pela primeira vez na Alemanha em 1838, a
produção mundial de níquel permaneceu abaixo de 1000t / a até 1876. A primeira chapa
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blindada de aço níquel foi fabricada na França em 1885 e logo depois na Itália, Inglaterra
e EUA. No início da década de 1890, a adoção de aços de níquel pelas marinhas do
mundo levou a um aumento acentuado na demanda por níquel.

Reservas

Principais reservas de níquel no Brasil (fonte: Anuário Mineral Brasileiro, 2016)

2. PROPRIEDADES DO NÍQUEL E APLICAÇÃO

Tabela 1. Propriedades do Niquel

Propriedades físicas
Estrutura cristalina Cúbica de face centrada e hexagonal
Estado da matéria Sólido (ferromagnético-hexagonal)
Ponto de fusão 1728 K (1455 °C)
Ponto de ebulição 3186 K (2913 °C)
Estados de oxidação (óxido) 2,3

O níquel tem seu ponto de fusão em 1455ºC, possuindo uma grande resistência a
corrosão e oxidação. Deste modo o níquel é utilizado, tanto puro como em ligas, em
aproximadamente 300 mil produtos para consumo, indústria, material militar, moedas,
transporte/aeronaves e em aplicações voltadas para a construção civil.
Ele se assemelha ao aço quanto a resistencia mecanica, dureza e tenacidade. Se
assemelha tambem ao cobre no que diz respeito a sua resietencia a corrosão, oxidação
e também apresenta condutividade térmica e elétrica próximas a do cobre.
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O níquel normalmente forma uma estrutura de cristal cúbicade face centrada embora
seja conhecida uma modificação hexagonal, que muda para a forma cúbica a 250 ºC. O
níquel cúbico é ferromagnético abaixo do ponto de Curie de 357 ºC, embora menos que
o ferro. A forma hexagonal de níquel não é ferromagnética.Possui uma grande
resistência a corrosão e oxidação.
Deste modo o níquel é utilizado, tanto puro como em ligas, em aproximadamente 300
mil produtos para consumo na indústria, material militar, moedas, transporte/aeronaves
e em aplicações voltadas para a construção civil

Nos países industrializados o níquel tem aproximadamente 70% de utilização na


siderurgia, sendo os restantes, 30%, divididos em ligas não–ferrosas, galvanoplastia
etc. Tal utilização se dá seguindo, também, a uma categorização assim expressa :

Classe I: Derivados com grande pureza, com no mínimo 99% de níquel contido (níquel
eletrolítico 99,9% e “carbonyl pellets” 99,7%) tendo assim larga utilização em qualquer
aplicação metalúrgica.

Classe II: Derivados com conteúdo entre 20% e 96% de níquel (ferro–níquel, matte,
óxidos e sinter de níquel) com grande utilização na fabricação de aço inoxidável e ligas
de aço.

Além da utilização em forma primária, pode-se mencionar a forma reciclada, largamente


utilizada na siderurgia, dando origem ao níquel secundário ou sucata de níquel. Estima-
se que grandes quantidades de sucata são coletadas e recicladas ao ano, tendo o níquel
secundário atingido 288 mil t em 1998, correspondente a quase 28% da oferta anual de
níquel.

APLICAÇÕES

Tabela 2. Aplicações do niquel

Categoria Proporção total


de consumo %
Aços inoxidaveis 60
Ligas com base em Ni (superligas) 14
Aços-ligas 9
Recobrimentos 9
Fundição (peças fundidas) 3
Baterias (p.e. Ni-Cd) 3
Ligas com base em Cu (p.e. Monel) 1
Catalises 1

Dentre as ligas é importante destacar 4 delas,


Monel – liga de Ni e Cu
Incoloy- super liga de Fe, Cr e Ni
Inconel- liga de Ni-Cr
Nitinol- grupo de ligas com memória ( volta a forma original após uma deformação)

OCORRÊNCIAS
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O níquel aparece na forma de metal nos meteoros junto com o ferro (formando as ligas
kamacita e taenita), e acredita-se que exista no núcleo da Terra junto com o mesmo
metal.

O niquel é extraido de dois tipos de minérios:

- minérios sulfetados: depósitos primários associados com rochas máficas que


são constituidas por minerais ferro magnesianos e ultramáficas (teor de ferro
magnesianos muito alto). Estes minérios sulfetados possuem em sua
composição, além do níquel, sulfetos de cobre, cobalto e ferro, assim como
alguns metais valiosos (platina, prata e ouro) e enxofre, utilizado para a
produção de ácido sulfúrico. Originados em camadas subterrâneas abaixo da
região saprolítica, os depósitos de minério sulfetado correspondem atualmente
a cerca de 27,8% das reservas de níquel, sendo principalmente encontrados no
Canadá e Rússia, seguidos por Australia, China, África do Sul e Zimbábue.
Cerca de 31% da produção total de níquel é oriunda dos minérios sulfetados
(Figura abaixo ).

laterito Reservas de Ni
Produção de Ni
31% 27,80%

69%
72,20%

Late…
- Figura 1 . Produção e reservas do niquel no mundo.

A produção de minérios sulfetados antes dominantes na produção de Ni devido aos


elevados teores e fácil tratamento, hoje foi superada pela produção a partir do minério
laterítico

- minérios lateríticos são depósitos oxidados perto da superfície formados por


encaixantes (corpo rochosos que abriga outro) ricos em olivina [Olivina é um
grupo de minerais da família dos nesossilicatos cujos membros são constituídos
por silicatos de magnésio e ferro, com fórmula química (Mg,Fe)2SiO4, formando
uma solução sólida em que a razão Fe/Mg varia entre dois extremos constituídos
pela forsterita (Mg2SiO4) e a faialita (Fe2SiO4)]
A ocorrência do minério laterítico, se dá numa região mais superficial, mais
especificamente a saprolítica. Seus depósitos, situados principalmente no Brasil,
Cuba, Austrália, Indonésia, Nova Caledônia e Filipinas, possuem teores médios
de níquel em torno de 1,95% e teores de óxido de ferro acima de 24%, além da
presença de cobalto e magnésio.
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OBS: Os solos lateríticos (later, do latim: tijolo) são solos superficiais, resultantes de
uma transformação da parte superior do subsolo pela atuação do intemperismo, por
processo denominado laterização. O processo de laterização proporciona o
enriquecimento no solo de óxidos hidratados de ferro e/ou alumínio e a permanência da
caulinita como argilo-mineral predominante e quase sempre exclusivo. Estes minerais
conferem aos solos de comportamento laterítico coloração típica: vermelho, amarelo,
marrom e alaranjado.
Os solos saprolíticos (sapro, do grego: podre) são aqueles que resultam da
decomposição e/ou desagregação in situ da rocha matriz pela ação das intempéries
(chuvas, insolação, geadas) e mantêm, de maneira nítida, a estrutura da rocha que lhe
deu origem. São genuinamente residuais, isto é, derivam de uma rocha matriz, e as
partículas que o constituem permanecem no mesmo lugar em que se encontravam em
estado pétreo.
Os solos saprolíticos constituem, portanto, a parte subjacente à camada de solo
superficial laterítico (ou, eventualmente, de outro tipo de solo) aparecendo, na superfície
do terreno, somente por causa de obras executadas pelo homem ou erosões. Estes
solos são mais heterogêneos e constituídos por uma mineralogia complexa contendo
minerais ainda em fase de decomposição.

No Brasil os depósitos de níquel estão assim dispostos:

- SULFETADOS: AMERICANO DO BRASIL (GO), FORTALEZA DE MINAS (MG),


JACUPIRANGA (SP), Santa Rita (BA).
Fonte: MME, 2009

- LATERITICOS:
GOIAS: Barro Alto, Iporá, Jaupací, Água Branca, Morro do Engenho, Níquelândia,
Santa Fe,Jussara, Crixás, Diorama, Goianésia, Montes Claros de Goiás
PARÁ: Vermelho,Onça Puma, Jacaré e Jacarezinho, Quatipuru, Serra do Tapa e Vale
dos Sonhos,
PIAUI: São João Do Piauí
TOCANTINS: Serra do Quatipuru, Lonta e Vila Oito
Fonte: Oliveira 1990, Oliveira et al. 1992, Macambira 2001, Kotschoubey et al. 2005 e
DNPM 2008.

Minérios de niquel
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Os depósitos de sulfetos de niquel ocorrem na forma de veios como sulfeto maciços ou


como minérios disseminados. Como sulfetos maciços contêm minerais sulfetados na
faixa de 90 a 95 %, enquanto como minério disseminado é uma mistura de sulfetos e
rocha silicatica como ganga. O niquel nos sulfetos ocorre principalmente no mineral
pentlandita (Ni,Fe)9S8. Ocorre em pequenas quantidades como milherita (NiS), violerita
(Ni2FeS4) e pirrotita niquelifera (Fe,Ni)8S9.

A pentlandita é um sulfeto de ferro e níquel. Sua composição é: Fe 32,56%, Ni 34,21%% e


S 33,23%.Pode apresentar cobalto como impureza. O Ni aparece de forma disseminada na
pirrotita que é um sulfeto de ferro típico, com uma composição variável de ferro em sua
fórmula: Fe(1-x)S (com x variando 0 a 0,2). Contém até 5% de níquel e, às vezes, cobalto,
podendo ser usada para obter estes dois metais. É também chamada de pirita magnética,
por causa de sua cor, similar à da pirita, e seu magnetismo, quase sempre presente.

Os minérios de níquel lateríticos misturas de oxi-hidroxidos de ferro e silicatos de


magnésio hidratados. Sua ocorrência se dá numa região mais superficial, mais
especificamente a saprolítica. Os depósitos de niquel foram formados por intemperismo
prolongado e lixiviação de rochas em climas tropicais e sub-tropicais. Devido o niquel
possuir menor mobilidade que outros metais, esta forma elevada concentrações
residuais com outros metais moveis e lixiviados ao longo de um perfil laterítico, como
resultado deu lugar a horizontes lateríticos com variados minerais (Figura 2).

Figura 2. Perfil lateritico de um minério de niquel

De acordo com sua formação, as lateritas de Ni são de três tipos:


Limoníticos (Fe,Ni)O.OH.nH2O,
garnierítico (Mg,Ni)SiO3.nH2O e
tipo intermediário (serpentínico) (Mg,Fe,Ni)6Si4O10(OH)8.
Tipo limoníticos, possuem cerca de 0,9-1,5% de Ni e são ricos em Fe e pobres em Mg
e Si.
O tipo garnierítico possui Ni% 2,0%, sendo ricos em Mg e Si e pobres em Fe. Esta
classificação é baseada em sua análise química Fe e MgO, como segue:
Tipo A: Garnierita (Fe < 12%, MgO > 25%)
Tipo B: Limonitas (Fe > 25%, MgO < 10%)
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B1: “(Fe > 32%, MgO < 10%) ou limonita vermelha


B2: “(25% < Fe < 32%, MgO < 10%).ou limonita amarela
Tipo C: Intermediário (12% < Fe < 25%, 10% < MgO < 35%)
C1" (12% < Fe < 25%, 25% < MgO < 35%)
C2" (12% < Fe < 25%, 10% < MgO < 25%)

Devido à sua formação (uma mistura heterogênea de hidróxidos de ferro e


hidrossilicatos de magnésio), as lateritas geralmente não podem ser beneficiadas por
métodos físicos. Assim, a única forma de separação do metal da ganga são os métodos
metalúrgicos.

3. PROCESSAMENTO DOS MINÉRIOS DE NIQUEL

Como já sabemos os recursos de Ni na superfície terrestre são encontrados na forma


de lateritas e de sulfetos.
Em geral, o níquel-laterito é constituído por dois tipos de minérios quimicamente e
fisicamente distintos, isto é, minérios saprolíticos (silicato/hidrossilicato) e limoníticos
(óxido/hidróxido).

3.1 A preparação do minério laterítico.

Devido à quantidade de água presente, e porque a água requer muita energia para
evaporar e aquecer, é necessário a realização de um pré-tratamento do minério (pelo
menos secagem e calcinação) antes da redução.

3.1.1 Secagem. Sendo constituído por compostos hidratados, a secagem é realizada


para evaporar a água. É realizada em um forno rotativo, girando a 1rpm, os gases
usados para a secagem são oriundos da queima de hidrocarbonetos (HC) e a
temperatura em seu interior alcança 800°C. A carga de minério após secagem
apresenta apenas 25% da água inicial. Nesta temperatura não é possível eliminar toda
a água combinada quer dizer a água da estrutura, aquela que está formando os
hidróxidos.

Fig. 3- Forno para secagem de minério

Obs. Só após a secagem é possível fazer o peneiramento do minério que tinha sido
cominuído antes da secagem e assim ajustado sua granulometria para tamanhos de 1
a 2 mm, adequados para a calcinação. Os pós gerados podem ser submetidos a
processos de aglomeração, como vimos na metalurgia do Zn.

3.1.2 Calcinação
Nesta etapa é possível eliminar a água estrutural. Os óxidos hidróxidos hidratados se
decompõem e o produto obtido contém NiO, MgO, FeO e SiO2 além da água que é
evaporada. Ou seja, pelo calor todos os hidróxidos se convertem em óxidos e pela
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quebra da estrutura a sílica é liberada. O calor para esta etapa também é originário da
queima de hidrocarbonetos. O produto desta etapa é denominado calcina. Na calcina
não há mais água. Um pouco do NiO se reduz a Ni pois no forno calcinador é registrado
a presença de C (resultante da combustão incompleta dos HCs).

3.2- Preparação do minério sulfetado.


O principal minério sulfetado, a pentlantita é uma solução sólida de sulfetos de níquel e
ferro, (Ni,Fe)9 S8 antes da redução é submetido a cominuição e depois flotação (já
falamos sobre estas operações). O concentrado assim preparado, apresentam Ni e Co
em percentuais de 1,5 e 0,5% respectivamente associados com vários outros sulfetos
(de Fe, de Cu etc.)

3.3 -Obtenção de Ni, Fe-Ni e matte de Ni.


A recuperação, ou a retirada do Ni de seus minérios é feita por rotas piro e/ou
hidrometalúrgica nas quais os processos são utilizados conforme o tipo de minério, se
laterítico ou sulfetado como mostra a seguir (Figura 4) :

Figura 4. Esquema simplificado para a obtenção de produtos de niquel para minérios


sulfetados e lateríticos.

A figura 4 mostra os dois tipos de minérios e no caso dos lateríticos, os seus subtipos
(saprolito, esmectita e limonitas) que diferem quanto ao teor de Fe de minerais. Nos
sulfetados predomina a pirometalurgia enquanto nos lateritos temos as operações de
piro e de hidrometalurgia sendo utilizadas.

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