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Outras produções de sentidos: exogenias sociais para além do Ocidente e da Sociedade da Arte

Kypá Maryá
Seminário de Pesquisa em História Social da Arte

Junho de 2023
Textos;
● “A Ética em Michel Foucault: do cuidado de si à estética da existência”, Bruno Abilio Galvão
● “A arte e a vida: interseções”, Noéli Ramme

Proposta;

● Arte não separada da ancestralidade/vida. – Apresentar o trabalho da Artista Sallisa Rosa


● Vivendo fora do mundo da arte com arte. Furo no sistema e consequentemente marginalizado
pelo sistema neoliberal dominante. – Minha trajetória enquanto viajante e artista de rua.
“A palavra “arte” não tem tradução em quase nenhuma língua indígena
porque, assim como no contexto ancestral africano, os povos
tradicionais não separam a arte da vida. Assim, a arte abrange um
universo de práticas que não são necessariamente um objeto ou um
artefato, mas que compõe em ritualizar a vida.” - Sallisa Rosa

Sallisa Rosa (1986 | Goiânia, GO) se dedica a investigações


contemporâneas de imagens e temas que a atravessam, dentre os quais
a própria identidade e o universo feminino, assim como futuro, ficção e
descolonização. Usando fotografia, vídeo e outras estratégias, propõe
investigações e experiências em torno da identidade nativa
contemporânea da cidade.
TEXTO: A arte e a vida: interseções”, Noéli
Ramme

“A superação dos gêneros artísticos ocorrida com a


substituição da artesania pelo trabalho com o conceito
no começo do século XX pode ser tomada como o
início de um processo de abertura total do campo da
Então, minha
arte, que parece ser irreversível e definitivo. Essa
abertura pode ser entendida, no sentido duchampiano, gente, a
como uma expansão sem limites do conceito arte, questão
mantendo, no entanto, a distinção entre a arte e a vida” levantada é a
pág 3 seguinte:

“No entanto, a existência mesma do conceito


Segundo o texto, que traça um contexto histórico a partir da percepção do arte indica que, de algum modo, os seus limites
fazer do Ocidente, segundo as Belas Artes e aponta que diversas formas externos permanecem, marcando uma
de limitações e validações do que é ou não arte se criou e modificou de separação entre o que é arte e o que não é.
acordo com o tempo, e quem há muito tempo essa mesma sociedade Nesse ponto podemos apontar duas questões.
começa a “permitir” um furo na conservadorismo para o surgimento de Uma é sobre como as coisas passam de meros
uma nova percepção e critérios para algo ser considerado arte. objetos comuns à obras de arte, e a outra é
sobre a possibilidade de ultrapassar esse último
limite entre a arte e a vida, superando até
(...) vivemos um tempo em que não há limites para o mesmo o uso do conceito arte.”
que pode ser arte, desde que há 100 anos o primeiro
ready made duchampiano instaurou o novo regime
histórico da arte ao qual nós ainda pertencemos.

Arte para este povo é uma categoria, com técnicas e validações


específicas, contrapostas. A produção de um objeto, seja físico ou
conceitualmente. O contemplar. O colecionar. Ter bastante. E fazer
críticas sobre o consumo e desenfreado de uma sociedade capitalista,
como foi o caso dos ready made.
Horta de
mandioca
Umuarama

Umuarama, no tupi: “local ensolarado


onde se encontram os amigos, lugar
de descanso”
No dia 15 de junho de 2019, quem
passava pela orla da Lagoa da
Pampulha, em Belo Horizonte, podia ver
uma placa de madeira com a mesma
palavra indígena fincada em um terreno
ocioso. Com um pouco mais de atenção,
era possível observar ali um grupo
almoço regado a peixe
trabalhando no plantio de mandioca em tambaqui, milho, batata e
pleno sábado, no meio da cidade.. pajuaru, bebida
fermentada de mandioca
“Umuarama”, 2019, horta de mandioca como caminho artístico ancestral,
residência Bolsa Pampulha, MG, foto de Aline Ramos

No mundo globalizado em que


vivemos com esgotamento de
sentidos, faz-se necessária a
construção de novos valores que
deslocam para revalorização da
cultura ancestral, o que deveria
parecer arcaico, mas é, ao final,
futurista.

A artista, então, planejou


realizar uma retomada
simbólica da terra, uma vez
que “não são os indígenas
que estão nas cidades, mas
as cidades que se situam em
territórios indígenas”,
“É extensa a discussão sobre a transculturalidade da arte hoje, gerando polêmicas
entre a Antropologia, a História da Arte e suas relações com comunidades não
ocidentais. Indo além de critérios estéticos, os povos indígenas nos ensinam a
pensar uma experiência artística que não culmine exclusivamente na contemplação
ou na reflexão, mas que produza relações de sociabilidade. Em vez de interpretar a
obra, somos convidados a investigar quais são as reações e as intencionalidades
que ela provoca no decorrer da interação social. Assim, mais do que significar algo,
uma obra é capaz de “produzir presença”, situação não muito distante do que
entendemos por arte contemporânea hoje.” - Revista Continente
a espiritualidade como gps da minha vida
e Exú me contou que estaria no meu encalço me
protegendo de todo acidente e assalto que poderia vir a
a Cigana me disse que se eu quisesse acessar o interferir em meu caminho.
que ela tinha para me ensinar, eu teria que ir para
a estrada que é onde ela mora.

Cabocla me disse que daquilo que estava me causando


adoecimento da cabeça eu tinha que imediatamente me afastar, ir
buscar na coragem de painho recomeçar em outro lugar

Iansã me fez ver que eu tinha sangue de uma guerreira. Antes


de uma guerreira ser atingida, ela recua antes. Pois ela é
inteligente. E feiticeira.

A Baiana me guiou até onde o seu espírito e riso estava para que eu Os pretos e pretas velhas me ensinavam a respirar
encontrasse a felicidade mesmo quando tudo parecesse perdido quando tudo parecia um caos. tudo dependia da forma
como eu iria escolher ver.
maracá
mochilão
chapéu de palha

a bicicleta enquanto transporte de viagem


casa, companheira, instrumento de liberdade, possibilidade
imensa.
TEXTO: “A Ética em Michel Foucault: do cuidado de si à estética da existência”,
Bruno Abilio Galvão
[...] o conjunto de buscas, práticas e experiências
tais como as purificações, as asceses, as
Mediante a esse anseio por apreender o real em sua verdade pelo aparente, diversas técnicas de renúncias, as conversões do olhar, as
observação e vigilância surgem neste período proporcionando uma série de arquivos a respeito do modificações de existência, etc., que constituem,
homem, objetivando a construção de verdades a respeito deste. O homem é conceituado como um não para o conhecimento, mas para o ser mesmo
objeto ou coisa passível de sua própria análise e investigação. Temos então, durante a do sujeito, o preço a pagar para ter acesso à
modernidade, a apreensão do sujeito em representações conceituais delimitando e dizendo o que verdade.”
ele é e, consequentemente, o modo e a possibilidade única de ele ser. Assim, a abertura ontológica
do horizonte de possibilidades que cabe aos entes virem-a-ser é jogada para o esquecimento
sendo a eles apontados outros direcionamentos, por meio de táticas de exercício de poder
atrelados a construções de verdades sobre o homem, conduzindo-os a uma subjetividade dócil. Portanto, a espiritualidade consiste
num conjunto de atitudes as quais o
sujeito exerce sobre si mesmo para
ter acesso à verdade. A “verdade”,
nesse sentido, distinta da “evidência”
moderna, exige do sujeito, pois por
“padrões morais e normativos impostos como modos padronizados de vida” ela se “paga um preço”, um olhar
apurado sobre si mesmo, um exame
“esquecimento e memória” das atitudes e do modo como ele
vive no mundo, ou seja, para ter
acesso a verdade é necessário
“modificar a forma de existir (...)
Portanto, podemos dizer que o “cuidado de si” se trata de um enaltecer a vida se livrando de tudo o
“duplo-retorno”, primeiramente um “retorno para si” e, num que a faz degradar. Assim, a
segundo momento, um “retorno para o outro e para o mundo” “(...) os indivíduos estabelecem a si mesmos seus espiritualidade “postula a
modos de vida, culminando em uma “estética da necessidade de que o sujeito se
existência” em que, voltando-se para si modifique, se transforme, se
reflexivamente, alcança momentos de liberdade e dá desloque [...]” 27, pois “a verdade só
“A “estética da existência”, que deriva de um processo de a si mesmo regras de existência distintas de padrões é dada ao sujeito a um preço que
trabalho sobre si estabelecido pelo sujeito, é de e normas ditadas pelas relações sociais, esculpindo, põe em jogo o ser mesmo do sujeito”
fundamental importância de ser pensado, pois, ao constituir assim como obra de arte, sua vida e subjetividade.”
estilos diferenciados de vida, promove o surgimento de
focos de resistência aos mecanismos de poder e
dominação que têm como objetivo normalizar e padronizar
os modos de vida dos sujeitos.”
https://revistacontinente.com.br/edicoes/231/sallisa-rosa

https://www.jaca.center/sallisa-rosa-br/
https://www.premiopipa.com/sallisa-rosa/

https://www.pipaprize.com/sallisa-rosa/3-76/

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