Jun 19, 2023

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Apesar desta prática estar mais associada a países africanos e do Médio
Oriente como Somália, Eritreia, Etiópia, Serra Leoa, Sudão, Egito, Iemen,
Emirados Árabes Unidos, Qatar e Arabia Saudita, a verdade é que esta,
também, apresenta números alarmantes ao redor do mundo. As estatísticas
demonstram que cerca de 200 milhões de meninas e mulheres já foram
submetidas à MGF a nível mundial. Estima-se que até 2030, cerca de mais 68
milhões de meninas possam vir a ser vítimas (ONU, 2023). À parte destes, a
existência desta prática é reconhecida noutros países, como por exemplo na
Austrália, Inglaterra, Holanda, Suécia, França, Portugal, Itália, Canadá e
Estados Unidos. Relativamente às estatísticas na União Europeia, estima-se
que, por ano, cerca de 180 mil meninas estejam em risco de serem
submetidas a esta prática (ONU, 2020). No que concerne a Portugal, de
acordo com os dados recolhidos pela DGS (2023) foram identificados um total
de 853 casos de MGF desde 2014 e 190 só no ano de 2022, onde 49.5% foram
submetidas a mutilações do tipo II e 44.7% dos casos apresentam o tipo I.
Ainda no mesmo sentido, a OMS declara que a MGF categoriza a violação dos
direitos humanos, uma vez que esta resulta em graves complicações físicas e
psicológicas e pode ser sustento de severas limitações à sexualidade e saúde
das meninas e mulheres vítimas deste procedimento. De acordo com a
mesma, a dor severa; hemorragias; febre; infeções; problemas de cicatrização;
morte são algumas das consequências a curto prazo que advém desta
prática. Por seu turno, e a longo prazo as consequências mais comuns são:
complicações ginecológicas; cicatrizes e queloides; desenvolvimento de
disfunção sexual; aumento do risco de complicações no parto; necessidade
de cirurgias na idade adulta; problemas no funcionamento psicológico, nos
quais se incluem depressão, ansiedade e stress pós-traumático. No que diz
respeito às consequências psicológicas, a OMS destaca as perturbações
psicológicas e psicossomáticas que se traduzem em problemas
comportamentais, alimentares e do sono, bem como ansiedade, depressão,
irritabilidade crónica, e ausência de desejo e prazer sexual. Uma das
intervenções para o funcionamento psicológico é a intervenção cognitivo
comportamental em diagnósticos de depressão, ansiedade e stress pós-
traumático (ONU, 2023). Para além do impacto físico e psicológico, a MGF
enuncia-se ainda ao nível da consciência social, dado que a maioria das
vítimas veem-se obrigadas a executar tais práticas, por temerem a rejeição
por parte da sua comunidade, da sua família e da possibilidade de vir a

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encontrar um companheiro (Abdulcadir et al., 2016).Verificamos que para
além da aceitação social, a maioria das razões apontadas para a mutilação
genital feminina estão assentes na religião, uma vez que esta é vista, ainda,
como uma maneira de preservar a virgindade, tornando a suscetível ao
casamento e sujeitas à satisfação sexual do seu companheiro. De igual forma,
consideremos que os números assinalados em Portugal são preocupantes e
merecem total atenção, dado que este procedimento relativiza o papel das
mulheres de puderem decidir sobre o seu próprio corpo, como também
representa um atentado contra as suas vidas sendo, portanto, uma atividade
criminosa conforme o Artigo nº 144–A do Código Penal Português, cuja pena
varia entre dois e dez anos de prisão.

Sources

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