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Retrato Historiográfico:
Uma análise sobre a utilização de imagens como fonte histórica no Brasil
(2007-2017)
Guarulhos
2021
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO
ESCOLA DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA
Retrato Historiográfico:
Uma análise sobre a utilização de imagens como fonte histórica no Brasil
(2007-2017)
Guarulhos
2021
Fontanini, Khyara Gabrielly Mendes.
RETRATO HISTORIOGRÁFICO:
Uma análise sobre a utilização de imagens como fonte histórica no Brasil
(2007-2017)
Aprovação: _____/_____/_____
________________________________________________________________
Prof. Dr. Fábio Franzini
Universidade Federal de São Paulo
________________________________________________________________
Prof. Dr. Luís Filipe Silvério Lima
Universidade Federal de São Paulo
_______________________________________________________________
Prof. Dr. Charles Monteiro
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
Aos meus pais, por todo suporte.
Às historiadoras e historiadores que
bravamente concluíram suas pesquisas.
AGRADECIMENTOS
O ato de agradecer ameniza os transtornos psíquicos causados por uma longa jornada
quase solitária. Por este motivo, meu sincero e emocionado muito obrigada a todos que de
alguma forma contribuíram com esta jornada!
Agradeço inicialmente aos meus pais, Afife Maria dos Santos Mendes Fontanini e
Marcio Roberto Fontanini, pelo amor e apoio incondicional. Por não terem medido esforços em
proporcionar tudo o que fosse preciso para que eu mudasse de cidade, de Estado e de
companhias, para realizar esta pesquisa. Obrigada por serem minha inspiração, por serem
professores e educadores dedicados e terem me ensinado a também ser assim. Mãe, obrigada
por sempre corrigir e ajudar em todas as minhas produções desde o prézinho, corrigindo tarefão,
até agora, corrigindo artigos e a dissertação. É impossível descrever em palavras o tamanho da
minha gratidão.
Ao meu orientador, Fábio Franzini, por ter topado essa empreitada com entusiasmo! Por
ter aceitado o projeto, por todas as valiosas indicações e apontamentos. Nossas reuniões no
Centro Cultural São Paulo e na PUC-SP foram sempre bem-humoradas. Além da orientação
ainda conheci um pouco mais dessa cidade enorme chamada São Paulo. Obrigada por toda a
atenção cedida ao longo deste trabalho e também pela preocupação com meu (ou nosso) bem-
estar nesses tempos sombrios em que se encerra essa dissertação.
Agradeço aos professores, Luís Filipe Silvério e Charles Monteiro, pela leitura atenta e
apontamentos valiosos feitos durante a qualificação. Foi gratificante e instigante escutá-los,
ainda que de forma remota.
Agradeço ao professor Wagner Geminiano dos Santos por ter aceitado minha
comunicação no simpósio de Teoria e História da Historiografia da Anpuh, por ter lido
atentamente meu trabalho e feito críticas que me auxiliaram a pensar nas dinâmicas da
historiografia brasileira. Agradeço também ao professor Thiago Lenine Tito Tolentino pela
leitura atenta da minha qualificação e incentivo.
Sou muito grata a todas as professoras e professores da Unifesp com os quais tive a
oportunidade de cursar as disciplinas, assim como a todas as professoras e professores que
comentaram e contribuíram para o meu trabalho nos eventos e encontros acadêmicos.
Especialmente, aos comentários das professoras Ana Maria Mauad e Iara Lis Schiavinatto.
Muito obrigada aos amigos Victor Hugo Traldi e Maitê Lemos por todo o apoio, por
compreenderem essa jornada, por estarem nela também. Obrigada pelos dias nas bibliotecas e
pela companhia nos eventos. Pernambuco foi excepcional com vocês!
Agradeço imensamente também ao meu tio Paulo Fontanini, pela paciência em realizar
as correções e revisões ortográficas sempre que pedi.
Por fim, agradeço à CAPES, pelo financiamento da pesquisa que foi essencial para seu
bom andamento.
“Mesmo em retrato, a graça e, podemos acrescentar, a semelhança,
consistem mais em considerar o ar geral do que observar a similitude
exata em cada traço” (REYNOLDS, 2002, p. 86).
RESUMO
Durante as décadas de 1990 e 2000 ocorreu uma valorização das imagens enquanto fonte de
conhecimento histórico, tendo em vista a emergência das “viradas visuais” e do campo
denominado de Cultura Visual; estes objetos, em suas mais variadas formas, passaram a
interessar aos cientistas sociais dado sua potencialidade enquanto fonte visual sobre o passado.
Esta dissertação busca compreender como as historiadoras e historiadores brasileiros vêm
utilizando imagens visuais como fonte em suas pesquisas. Portanto, o objetivo é compreender
como se deu a consolidação dessa prática historiográfica, como a imagem visual foi empregada
como fonte histórica e quais as principais características dessa historiografia. Para tanto,
organizamos uma extensa base de dados a partir de tabelas, com as teses e dissertações de seis
Programas de Pós-Graduação em História brasileiros que utilizaram imagens como fonte
histórica e que foram defendidas entre 2007 e 2017. Dessa forma, pudemos concluir que as
imagens são utilizadas principalmente nas pesquisas que se referem ao século XX, no Brasil e
os objetos imagéticos mais analisados foram os audiovisuais e fotográficos. As imagens visuais
permitiram uma ampliação dos temas de pesquisa e a compreensão de aspectos culturais e
sociais por meio da visualidade. A partir da base de dados, também elaboramos o rastreamento
de uma rede intelectual que viabilizou a consolidação dessa prática historiográfica. Assim, de
maneira geral, procuramos contribuir para com a compreensão das dinâmicas e características
da historiografia brasileira.
Palavras-chave: Imagens. Historiografia. História da Historiografia.
ABSTRACT
During the 1990s and 2000s, a valorization of the images as a source of historical knowledge
has happened, bearing in mind the emergence of the “visual turns” and the field called Visual
Culture, these objects, in their most varied forms, became an interest to social scientists given
its potential as a visual source about the past. This thesis quests to understand how Brazilian
historians have been using visual images as a source in their research. Therefore, the objective
is to understand how this historiographic practice was consolidated, how the visual image was
used as a historical source and what are the main characteristics of this historiography. For this
purpose, we have organized an extensive database organizing schedules with the dissertations
of six Brazilian Postgraduate Programs in History that used images as a historical source and
that were defended between 2007 and 2017. Thus, we could conclude that the images are used
mainly in researches that refer to the 20th century, in Brazil and the most analyzed imagetic
objects were the audiovisual and photographic ones. Visual images allowed an expansion of
the research themes and the understanding of cultural and social aspects through visuality. From
the database, we also elaborated the tracking of an intellectual network that enabled the
consolidation of this historiographical practice. So, overall, we seek to contribute to the
understanding of the dynamics and characteristics of Brazilian historiography.
Tags: Images. Historiography. History of Historiography.
LISTA DE GRÁFICOS
INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 13
Introdução
Nos próximos anos, será interessante observar como os historiadores de uma geração
exposta a computadores e televisão praticamente desde o nascimento, que sempre
viveu num mundo saturado de imagens, vão enfocar a evidência visual em relação ao
passado. (BURKE, 2017, p. 23)
A citação acima foi retirada do livro Testemunha Ocular: o uso de imagens como
evidência histórica, originalmente publicado em 2001, em inglês, no Reino Unido. O livro,
segundo o autor, é fruto de muitos anos de preocupação com relação à evidência imagética para
a História e surgiu, particularmente, após Burke ter ministrado uma matéria a este respeito para
os graduandos de primeiro ano em Cambridge1. O trecho expressa uma preocupação com uma
possível mudança na historiografia, tendo em vista o contexto social e tecnológico no qual
cresceram e se formaram uma geração de historiadoras e historiadores, muito mais expostos às
imagens do que o próprio autor, devido ao aumento da possibilidade de criação e circulação
destas. Nesta dissertação, pretendemos encontrar nuances desta mudança, investigando as teses
e dissertações compostas por historiadoras e historiadores contemporâneos ao século XXI no
Brasil.
Vivemos em um mundo imagético, os objetos visuais contemporâneos nos atravessam
e permeiam nosso dia a dia com muito mais intensidade: o cinema, a fotografia, as imagens que
circulam em redes sociais, as diversas mídias digitais e impressas, os espaços de memória e
muito mais. Imagens passam a ser símbolo de certos momentos, com mais efeito do que
slogans; algumas imagens recobram espaços, memórias, contextos e tempos quase que
instantaneamente nos interlocutores que partilham do mesmo universo visual, cultural e social.
Este momento identifica-se com o contexto das viradas visuais2. O mundo
contemporâneo convive e percebe a perturbação causada pelas imagens, elas nos agitam,
coagem e informam de forma intrínseca ou, às vezes, despercebida, com diferentes pretensões.
Todavia, a visualidade é algo que acompanha a propagação cultural do ser humano desde sua
existência em sociedade. Segundo o professor Paulo Knauss (2006), a visualidade seria uma
percepção do registro visual enquanto imagem imbuída de significado, e os significados devem
ser entendidos como processos de criação de sentidos dentro da sociedade, logo, considera-se
1
O curso foi ministrado e idealizado junto com o professor Bob Scribner (1941-1998).
2
Movimento ocorrido ao longo dos anos 1990 que engendrou os campos da História da Arte e dos Estudos
Culturais, deslocando a categoria de arte para o visual e os conteúdos históricos para o foco na cultura, criando
assim o campo da Cultura Visual, cujo centro das questões a serem discutidas está na Visualidade.
14
Além disso – ainda que o termo seja mais sentido do que compreendido nas práticas
humanas – a percepção da alteridade das imagens fez com que elas se tornassem uma questão
para os historiadores ou a todos que se propõem a compreender a visualidade criticamente. A
imagem do outro, da outra coisa, é aquela que pode ser moldada, apropriada e ressignificada
pelos diversos agentes; nenhuma imagem circula em razão de sua realidade ou concretude, e
sim em função de sua alteridade, do seu poder de distinguir e significar. Como pode ser lido no
exemplo de Santiago Júnior:
Saber e agir a imagem como “algo”. Talvez ela seja forma de vida, protopessoa, ou
somente artefato vazio, mas sempre outra, dotada de um grau variado de diferença
icônica. As atitudes perante objetos da vida material aos quais atribuímos nomes de
imagens são atos de construção de sua alteridade, que podem ser encontrados em
inúmeras situações: queimar uma boneca-bruxa com efígie da filósofa feminista
Judith Butler; colar no carro um adesivo da ex-presidente Dilma Rousseff com vulva
exposta, para toda vez repetir um estupro simbólico quando se abastece o combustível;
replicar viralmente a foto do ex-presidente Lula, tirada por Francisco Proner, no ato
de sua prisão em 2018; destruir uma cidade-monumento como Palmira, realizado pelo
Estado Islâmico (Isis); encenar um videoclipe de afirmação racial no Museu do
Louvre, contrapondo-se à história da arte branca, como fizeram Beyoncé e Jay-Z;
tentar retirar a imagem de Iemanjá do rio São Francisco, em Juazeiro (BA). A virada
visual ocorre quando emerge a consciência da perturbação e ansiedade que as
imagens criam ou canalizam no espaço público.
15
Os exemplos colocados pelo autor são fatos contemporâneos expressados por meio da
visibilidade que exigem uma contextualização ampla para o entendimento dos seus
significados, que encontram razões e antecedentes em elementos culturais e sociais endêmicos
à sociedade. Eles reafirmam o quanto o encontro do historiador com as imagens e os processos
de inserção ou marginalização de visualidades são graves e urgentes. Como será demonstrado
nesta pesquisa, este encontro vem acontecendo na historiografia brasileira contemporânea.
Assim, dissertaremos tanto sobre a curiosidade em relação ao futuro, colocada por
Burke na epígrafe ora destacada, quanto no que diz respeito à constatação feita por Paulo
Knauss no trecho abaixo:
De modo conclusivo, […] a História como disciplina tem um encontro marcado com
as fontes visuais. Esse certamente pode ser um caminho para rever a própria memória
disciplinar e, ao mesmo tempo, revalorizar a sua própria tradição erudita,
ultrapassando as barreiras de conhecimento estabelecidas. (KNAUSS, 2006).
O que se pode adiantar é que este encontro ocorreu e trouxe renovações. No presente
trabalho, compusemos uma extensa base de dados sobre as produções acadêmicas em História,
cujas fontes de pesquisa foram imagens visuais. Neste sentido, a partir da análise desta base de
dados foram compostos diversos gráficos que proporcionaram alguns traços da face desta
historiografia. Pretendemos contribuir para com a identificação e formação de uma memória
disciplinar sobre esta característica historiográfica, que adentrou a produção acadêmica em
História no país.
Deste modo, desmembrando as partes do título, o que se quer por retrato é a composição
de uma caracterização multifacetada da escrita das historiadoras e historiadores em relação ao
uso das imagens visuais como fonte para composição da escrita histórica; tal retrato será
expresso principalmente por tabelas e gráficos que foram compostos pela análise documental e
mostram algumas linhas da face deste corpo historiográfico-documental e o sulcado de suas
principais marcas de expressão. Como expresso na epígrafe pelo retratista Joshua Reynolds,
não pretendemos fazer uma descrição idêntica desta historiografia, tendo em vista que ela nos
escapa dada sua larga extensão e continuidade. Não se trata de um corpo único, mas tentaremos
expressar seu “ar geral”, seus temas, fontes e intelectuais envolvidos.
Por historiográfico caracterizamos a nossa fonte documental, pois tratam-se de teses e
dissertações produzidas e defendidas dentro dos Programas de Pós-Graduação de determinadas
Universidades, ou seja, forjadas dentro do ambiente acadêmico, disciplinado, profissional,
16
avaliado e autorizado pelos pares, o que se poderia chamar de uma parte da historiografia
profissional, entre outras formas de produção, no universo acadêmico. Por historiográfico
também identificamos o campo disciplinar a que esta dissertação se refere, pois compõe uma
análise sobre a escrita da História dentro de determinados recortes.
Lembrando que, o intuito é que nosso retrato sirva mais a uma face de análise da
historiografia e não a um questionamento dos trabalhos selecionados. Não procuramos por
equívocos ou enganos, tendo em vista que todas as fontes documentais analisadas – teses e
dissertações – já foram defendidas por seus autores e aprovadas pelos pares. Procura-se,
portanto, quais as características do uso das imagens como fontes de conhecimentos históricos,
os sinais de sua face, seus principais mobilizadores, os espaços, os tempos, objetos e temáticas
mais demarcadas.
Para mapear tal estrutura, escolhemos seis Programas de Pós-Graduação que são centros
de referência historiográfica no país e cuja produção pode ser tomada em termos do potencial
de impacto na área como um todo. São eles: Programa de Pós-Graduação em História da
Universidade Federal Fluminense (PPGH- UFF), Programa de Pós-Graduação em História da
Universidade Federal de Minas Gerais (PPGH- UFMG), Programa de Pós-Graduação em
História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGHIST- UFRGS), Programa de
Pós-Graduação em História Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGHIS-
UFRJ), Programa de Pós-Graduação em História da Universidade de Campinas (PPGH-
UNICAMP) e o Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade de São Paulo
(PPGHS- USP). A partir dos bancos de teses e dissertações das páginas virtuais destes
Programas, e também do banco de teses e dissertações da CAPES, foram selecionados os
trabalhos que lidavam com as imagens visuais. O recorte temporal determinado entre 2007 e
2017 foi escolhido mediante a preocupação com o contemporâneo da historiografia. Estes
Programas possuem notas classificadas como de excelência pela Avaliação Quadrienal da
CAPES, o recorte temporal proposto coincide com os anos de divulgação do desempenho dos
Programas nas avaliações realizadas – três trienais e uma, a última, quadrienal, em 2007, 2010,
2013 e 2017 respectivamente3. A partir da seleção e tabelamento deste corpus documental é
que se desenvolveram os gráficos e análises que dão face a esta historiografia.
3
Disponível em <http://avaliacaoquadrienal.capes.gov.br/resultado-da-avaliacao-quadrienal-2017-2>. Acesso
em: 27 abr. 2018. Cabe notar que apenas dois Programas dentre os selecionados tiveram variação de nota no
período: em 2007, a UFRGS possuía nota 5, depois subindo e mantendo-se com 6; já a UFRJ passou de 6 para 5
em 2017. Um caso e outro, contudo, não afeta o critério de seleção, por serem pontuais e porque os respectivos
Programas passaram a maior parte do período no estrato superior da avaliação. Também há o caso do programa
da PUC-RS, que se equivaleria ao programa da UFRGS, no entanto, a sua nota foi decrescente em relação aos
anos de divulgação (6;6;5;5), por este motivo o mantivemos fora do recorte.
17
4
Ver Anexo 1.
5
Os Mestrados Profissionais não adentraram nosso recorte, tendo em vista que apenas um deles (FGV/RJ) possui
nota nas quatro avaliações (5 em todas elas). Neste momento desconsideramos a análise destes cursos, no entanto,
seria uma importante forma de se estudar a relação entre História e Imagem aplicada pelos professores em sala de
aula. Esta é uma preocupação crescente entre os colegas que trabalham no ensino básico, e também uma
preocupação dos editores de livros didáticos.
19
no Sudeste e uma no Sul do país. Dessa forma, quando pretendemos produzir uma historiografia
sobre o uso de imagens visuais na historiografia brasileira, deixamos claro que a formação de
um possível lugar geográfico institucional não foi proposital, mas sim consequência de um dado
prévio condicionante.
Expandindo essa análise sobre a avaliação, a desigualdade sobre os locais dos
Programas se acentua ainda mais. Tomando a avaliação de 2017 como referência, considerando
que é a que possui mais Programas avaliados (67), obtemos os seguintes dados: na região Norte
apareceram na avaliação somente 2 Programas; na região Centro-Oeste, 6; na região Sul, 15;
na região Nordeste, 18; na região Sudeste, 26. O estado do Rio de Janeiro, em especial, é o que
possui o maior número de Programas do país, contabilizando 11.
Mais uma vez, o recorte foi feito com base no marco institucional da avaliação CAPES
e não propositalmente em função dos lugares geográficos que ocupam os PPGH que entraram
no recorte de melhor nota. Assim, não é possível falar da constituição de um Lugar Disciplinar
da criação e produção de conhecimento histórico a partir das imagens visuais. Entretanto, os
Programas de maior nota são também aqueles que já vinham se constituindo (ou considerados
consagrados) como lugares de produção por excelência e de excelência dos historiadores
brasileiros profissionais, disciplinados e acadêmicos. Logo, fez-se o recorte pensando no
respaldo que os Programas de excelência possuem em relação à produção de conhecimentos
históricos, utilizando-se das imagens visuais.
Dessa forma, admite-se que Programas de maior atenção com a relação entre História e
Imagem, possivelmente, ficaram de fora da pesquisa, à nuca do retrato. Entretanto, em meio às
análises feitas dentro do recorte como atenção à bibliografia apresentada nas teses e
dissertações; análises feitas sobre os professores-orientadores; tabela feita sobre os Simpósios
Temáticos da ANPUH; associações entre pesquisadores e grupos de pesquisa, em todas estas
serão, irremediavelmente, tocados aqueles que contribuem para a pesquisa histórica com
imagens visuais no Brasil. Fazer um recorte nada mais é do que traçar uma linha, um circuito
em meio à ampla historiografia produzida nos PPGH brasileiros. Uma linha a se seguir, como
caminho possível em meio a tantos outros. Tudo o que toca à sua margem também é importante,
a clareira que se abre também faz luz a outros pontos. Sabemos que para se abordar a questão
historiográfica ora eleita há também outras formas de se fazer, há outros espaços disciplinares,
instrumentos de pesquisas como publicações de revistas, periódicos, eventos acadêmicos e
grupos de pesquisa. No entanto, estes ficam como um espaço aberto a futuras pesquisas que
podem ser pensadas em vista da clareira já aberta.
20
6
Para um maior aprofundamento neste tema, cf. ARAUJO, Valdei Lopes de. O regime de autonomia avaliativo
no Sistema Nacional de Pós-Graduação e o futuro das relações entre Historiografia, Ensino e Experiência
Histórica. Anos 90, Porto Alegre, v. 23, n. 44, p. 85-110, dez. 2016.
21
imagética? Por qual maneira os historiadores brasileiros vêm empregando o uso desta fonte em
seus trabalhos?
22
O presente capítulo apresenta três grandes diálogos que foram separados por fronteiras
muito tênues ou praticamente inexistentes e que constituem parte da estrutura central do
raciocínio proposto para esta dissertação.
Abordaremos a inserção das imagens na historiografia internacional e nacional,
ressaltando algumas características – como as chamadas “viradas” – que foram marcantes para
a formação das redes intelectuais sobre o tema. Além disso, apresentaremos uma breve história
das imagens na historiografia nacional, a partir de debates travados indiretamente entre
historiadores e instituições, assim como a partir das revistas acadêmicas e dos Simpósios
Temáticos realizados nos Simpósios Nacionais de História organizados pela ANPUH.
Falamos também sobre questões teóricas levantadas a partir das imagens visuais. O
termo “Questões teóricas” foi mais adequado do que “definições” ao se pensar acerca das
imagens visuais, pois em busca de uma certa definição descobrimos que os caminhos possíveis
são inúmeros, que promover entrecruzamentos e debates seria mais frutífero do que forçar uma
definição para algo tão complexo. Sendo assim, as questões levantadas ajudaram a balizar quais
seriam as fontes selecionadas para esta pesquisa, bem como apontaram para uma bibliografia
comum – no sentido de mais citadas – sobre Imagens e História.
Conforme afirma Alloa, todos sabemos o que é imagem até que nos perguntem “o que
são as imagens?”7, então nos vemos frente a frente com uma tese a se escrever. Porém, a
pergunta principal para o início desta pesquisa foi um pouco diferente: Como selecionar as teses
e dissertações que usam imagens visuais como fonte histórica? Como identificá-las? Qual
investigação deveria ser feita nos bancos de teses e dissertações a fim de definir um quadro de
fontes?
Parte destas questões serão esclarecidas no subtítulo “Um passo a passo de nosso
retrato”. O que se pode adiantar é que se trata, sim, de imagens figurativas, imagens que são
dadas a ver com formas e cores, mas que também pertencem ao universo do visual, tendo em
vista que possuem significado; em resumo, registros visuais figurados que são imagens
imbuídas de significado, ou, nas palavras de Knauss: “O plano da figuração não permite
esquecer que as imagens têm um papel privilegiado no sentido de representar ou figurar o
7
ALLOA, Emmanuel (org.). Pensar a Imagem. Tradução: Carla Rodrigues (coordenação), Fernando Fragozo,
Alice Serra, Marianna Poyares. Belo Horizonte: Autêntica, 2015. 236 p.
23
mundo em formas visuais”8 (KNAUSS, 2006). Este foi o limite que nos arregimentou, pois
poderíamos ter seguido as prescrições de Rancière: de que existem imagens em todas as
palavras. O conceito faz sentido, no entanto, inviabilizaria a pesquisa alargando o número de
fontes na mesma proporção do quanto houvesse sido produzido durante todo o período
recortado, que felizmente se trata de uma quantia absurda, portanto, condicionada aos fatores
propostos.
8
Esta frase é inspirada nos textos de W.J.T Mitchell sobre os estudos da imagem. Tal estudo englobaria uma rede
de outros processos complexos às imagens, assim a descrição de Knauss poderia ser também compreendida como
um processo metodológico, a saber: “Com Mitchell, pode-se afirmar que isso implica um estudo da imagem como
um jogo complexo entre visualidade, aparatos, instituições, discursos, corpos e figuração. Cada um desses termos
indica um complexo conjunto de práticas subjacentes que tornam possível a imagem e a sua capacidade de conter
significado. Visualidade se refere ao registro visual em que a imagem e o significado visual operam. O aparato diz
respeito ao domínio do meio de expressão que condiciona a produção e a circulação, tal como a reprodução
eletrônica em nossos dias. Ao nos referirmos às instituições, interessa observar as relações sociais organizadas em
torno da produção da imagem e a sua circulação. Os corpos, por sua vez, lembram-nos a necessidade de
considerarmos a presença do observador, do espectador, como um ‘outro’ necessário nos circuitos de promoção
do significado visual, e que alguém conduz o controle da imagem” (KNAUSS, 2006, p. 114).
24
Tal dificuldade existe e sempre existirá, tendo em vista que nenhuma verdade ou
constatação se faz exclusiva ou excludente de outras formas de se pensar o mesmo tema9. Alloa,
portanto, demonstra a dificuldade em se definir as imagens. Dentro dessa problemática, o trecho
a seguir, de Ulpiano Toledo Bezerra de Meneses, evidencia a diversidade de discursos, áreas e
aparatos teórico-metodológicos e multidisciplinaridade para se trabalhar com as imagens:
9
Salvo revisionistas e negacionistas, que sem fundamento em métodos, teorias e fontes, não constituem verdades
embasadas e ciência, apenas falácias.
25
Mediante tamanha diversidade, pretendemos neste subcapítulo permear como esta rede
intelectual em torno das imagens se formulou internacionalmente e, em “maiores pormenores”,
como se deu na historiografia brasileira.
Um discurso mais geral, ou melhor, generalista, foi o engendrado por Peter Burke em
Testemunha Ocular. Este livro tem um caráter de “portas de entrada” a respeito deste universo
para os pesquisadores. De acordo com Burke, tal como a escrita, o universo imagético é repleto
de possibilidades para os historiadores, os objetos que o representam ganharam espaço
justamente por auxiliarem a responder novas questões: em suas palavras, “a história das
mentalidades, a história da vida cotidiana, a história da cultura material, a história do corpo
etc.” foram viabilizadas, entre outros documentos, pelo uso das imagens (BURKE, 2017, p. 17).
Ainda segundo o autor, o uso com maior intensidade dos objetos imagéticos deu-se a
partir dos anos 1980, com a chamada “virada pictórica”. Este termo foi utilizado por William
Mitchell para designar os novos trabalhos adeptos das análises visuais que surgiram com
intensidade nos países anglófonos, tendo como representantes o periódico Past and Present, o
simpósio americano Journal of Interdisciplinaty History e a coleção Picturing History
(BURKE, 2017, p. 23). No entanto, Burke ainda recobra o fato de que historiadores do séc.
XIX, como Jacob Burckhardt e Johan Huizinga, já produziam estudos a partir de objetos
imagéticos.10
Esta breve rememoração historiográfica pode ser completada pelas análises de Paulo
Knauss (2008) e Francisco das Chagas Fernandes Santiago Júnior (2019). A partir de seus
artigos, uma formulação com base em três frentes internacionais nos é apresentada sobre as
chamadas “viradas” introduzidas pelo campo, a saber: o picturial turn nos Estados Unidos da
América, representado por William Mitchell, já citado por Burke; a iconic turn na Alemanha
ou Bildwissenschaft, posta em cena por Gottfried Boehm; e a theórie de L’image na França ou
virada visual, desempenhada por Georges Didi-Huberman. Estas “viradas”, segundo Santiago
Jr. (2019), ganharam maior circulação e visibilidade no Brasil ao longo dos anos 1990.
Apesar dessas diferentes frentes, de acordo com o mesmo autor, havia uma sensação ou
prática de repressão do visual, tendo em vista alguns fatores como a pouca presença deste objeto
10
A respeito dos séculos XVIII e XIX, Menezes ainda acrescentaria: “Antes que em meados do século passado
os próceres do grupo dos Annales alforriassem, como se acredita, a imagem visual para servir de fonte histórica, é
no século XVIII que começa a se afirmar o potencial cognitivo da imagem […]. Mas é somente no século XIX
que a imagem assume com intensidade sua capacidade documental, em especial com a rápida divulgação da
fotografia, abundantemente empregada em geografia, antropologia, etnografia, arqueologia, ciências biológicas,
astronomia, história da arte, arquitetura e urbanismo, e assim por diante” (MENESES, 2012, p. 250-251).
26
No que diz respeito ao pictorial turn e à iconic turn, Paulo Knauss (2008) descreve as
pretensões traçadas pelos movimentos de, “aproximação anglo-saxônica” e “virada icônica
alemã” (ou, como prefere o autor, “vertente germânica”), respectivamente, que voltados à
chamada Cultura Visual, englobam múltiplas imagens, sejam da arte, do design, digitais ou nos
demais suportes.
A respeito da aproximação anglo-saxônica, Knauss destaca duas principais vertentes:
uma mais abrangente e outra mais restrita. A mais abrangente é defendida por W. J. T. Mitchell
11
Ideias tomadas por Santiago Júnior respectivamente de Cardoso e Mauad (1997) e Menezes (2012).
12
Constatação notada a partir da leitura da introdução de diversas teses, dissertações, artigos e livros de história
que trabalham com imagens visuais.
13
No original, o autor pula o item três.
27
e por Martin Jay, que cunharam os termos Pictorial Turn e Visual Turn, respectivamente, ambos
com a intenção de enfatizar a importância do visual e da visualização, em que “a cultura visual
serve para pensar diferentes experiências visuais ao longo da história em diversos tempos e
sociedades” (KNAUSS, 2008, p. 157). Esta proposição implica pensar a historicidade não só
das imagens, mas também as experiências visuais que cada sociedade pôde vivenciar,
corroborando com a ideia de que nem tudo pode ser visto em certa época e lugar e as condições
determinantes do que pode ser visto perpassam por características de organização social,
cultural e política, que variam de acordo com o tempo, espaço, rede de produção e circulação.
Já a definição mais restritiva é defendida por Chris Jenks e Nicholas Mirzoeff. O primeiro
entende que a cultura visual enquanto prática social é um desdobramento da cultura ocidental.
Assim, o ocularcentrismo (a centralidade do olhar)14 é pautado na observação e no empirismo,
que são bases do pensamento científico ocidental. Mirzoeff, por sua vez, acrescenta que a
cultura visual é uma característica cultural da contemporaneidade, pois há muito mais consumo
e meios técnicos de se produzir imagens, principalmente, virtuais e digitais.
A vertente germânica possui o nome de Bildwissenschaft (ciência da imagem). A
palavra Bild (imagem) designa um campo mais amplo em relação aos tipos imagéticos, o qual
não possui tradução para o inglês ou português. Esta ciência da imagem alargaria a História da
Arte de modo que abarcasse todas as imagens, evitando assim a formação de um outro campo
disciplinar. Para Hans Belting, a Bildwissenschaft seria uma nova forma da iconologia, uma
iconologia reformulada, que leva em conta a antropologia da imagem e a história do olhar. A
corrente germânica tem como antecedentes os estudos culturais de Aby Warburg e a iconologia
de Erwin Panofsky, que anteriormente já haviam expressado interesse por imagens
consideradas não-artísticas.15
Por fim, a virada francesa – a Theórie de L’image – é marcada, de acordo com Santiago
Júnior, pela combinação entre filosofia e história, notadamente no trabalho do já citado filósofo-
historiador da arte Georges Didi-Huberman. Este autor propõe uma análise singular das
imagens, ou melhor, das imagens em sua singularidade, em seus aspectos simatológicos e
únicos. As imagens apresentariam sintomas, que vistos profundamente demonstrariam
14
JAY, Martin. The Disenchantment of the Eye: surrealism and the crisis of ocularcentrism. In: Visual
Antropology Review. Volume 7, number 1, p. 15-38, 1991.
15
Sobretudo pelo fato de que Warburg já havia influenciado uma geração de intelectuais, como o próprio
Panofsky, além de Fritz Saxl, Edgar Wind e Ernst Gombrich (Cf. GINZBURG, Carlo. Mitos, emblemas e sinais:
morfologia e história. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. p. 41-42).
28
encarnações de sentidos significados e ressignificados pelos homens. Com base nos estudos de
Warburg, a análise posta por Didi-Huberman desperta o problema do anacronismo na história,
tendo em vista que a sobrevivência dos sintomas encontrados nas imagens não poderia ser posta
em uma perspectiva diacrônica, pois sintomas passados sobrevivem e se vinculam com o
momento de produção e circulação da obra, assim como o momento do acontecimento único
em que o objeto imagético é posto aos olhos de seu espectador. Deste modo, de acordo com
Didi-Huberman, é essencial que o pesquisador, além de conhecer as características formais e
contextuais da obra, também deixe de lado, por algum momento, o próprio saber em face da
obra:
É isso, portanto, o que está em jogo: saber, mas também pensar o não-saber quando
ele se desvencilha das malhas do saber. Dialetizar. Para além do próprio saber, lançar-
se na prova paradoxal de não saber [...], mas de pensar o elemento do não-saber que
nos deslumbra toda vez que pousamos nosso olhar sobre uma imagem da arte. (DIDI-
HUBERMAN, 2013, p. 15-16).
Santiago Júnior afirma que todo este debate chegou à historiografia nacional nos anos
2000 graças, principalmente, ao trabalho de três autores: Ulpiano T. Bezerra de Meneses, no
artigo Fontes visuais, cultura visual, história visual. Balanço provisório, propostas cautelares,
de 2004; Paulo Knauss, no artigo O desafio de fazer histórias com imagens: arte e cultura
visual, de 2006, e no artigo acima abordado Aproximações disciplinares: história, arte e
imagem, de 2008; e com Manuel Salgado Guimarães, no artigo Vendo o passado:
representação e escrita da história, de 2007, no qual levanta a problemática da visualização do
passado por meio dos museus e patrimônio histórico.
Contudo, há outros movimentos mais profundos e estruturais da, e em nossa
historiografia, que nos remetem aos anos 1980 e que permitem uma compreensão mais ampla
da relação das historiadoras e historiadores brasileiros com as imagens. Um deles é a influência
da escola dos Annales, particularmente da geração da Nouvelle Histoire, sua proposta de
renovação de temas, fontes e abordagens engendradas em torno dos estudos culturais; outro é a
disputa ao derredor dos novos espaços de consolidação de produção do conhecimento histórico,
as Pós-Graduações, constituídas na década anterior; e, finalmente, o próprio contexto social e
político no Brasil à época, que clamava por inovações.
Para compreender melhor os dois primeiros itens descritos acima, a tese de Wagner
Geminiano dos Santos, intitulada A Invenção da Historiografia Brasileira Profissional,
Acadêmica: Geografia e memória disciplinar, disputas político-institucionais e debates
epistemológicos acerca do saber histórico no Brasil (1980-2012), faz-se necessária. Nela, o
29
16
Sobre esta formação, Santos destaca as falas de Alice Canabrava à frente da direção da Revista Brasileira de
História e da memória forjada no livro Escola Uspiana de História (1994). Sobre a fala de Canabrava, “Com este
discurso Canabrava procurava articular muito claramente a produção historiadora dos associados da ANPUH a
uma única tradição historiográfica, a tradição francesa” (SANTOS, 2018, p. 50). Ainda sobre Canabrava e sua
influência na composição do livro, o autor cita: “Este discurso de Canabrava e sua tentativa, já nas páginas da
RBH, de construir uma determinada história da historiografia brasileira e de vinculá-la a uma determinada escola
e a uma dada tradição encontraria eco, alguns anos depois, mais precisamente no ano de 1994, no texto de Maria
Helena Rolim Capelato, Raquel Glezer e Vera Lúcia Amaral Ferlini intitulado a ‘Escola Uspiana de História’, no
qual as autoras procuram constituir a produção historiadora da USP quase como uma continuidade da produção
dos Annales. Inclusive a história da ‘Escola Uspiana de História’ feita por elas, segue a velha divisão em fases, e
não por coincidência as autoras a dividem em três fases bem aos moldes de como se conta, tradicionalmente, a
história dos Annales” (SANTOS, 2018, p. 51).
17
Sobre as propostas de renovação e de oposição ao Programa da USP, destacamos os trechos em que Santos
analisa a fala de Edgar de Decca sobre a constituição do PPGH da UNICAMP: primeiro, “o Programa de Pós-
Graduação em História de outra Universidade paulista, a UNICAMP, criado na segunda metade da década de 1970
e que procurava se constituir e construir como um locus de renovação da historiografia nacional, pensado em
oposição ao programa da USP, [...]” (SANTOS, 2018, p. 53). Depois, segundo o autor, “o relato de De Decca
constrói uma outra narrativa, bem distinta daquela produzida por Canabrava, acerca da produção historiadora nos
Programas de Pós-Graduação naquele momento. Além de tentar deslocar a UNICAMP da área de influência da
USP, construindo-a em seu relato como o lugar da mudança e da inovação, De Decca constrói o Departamento de
História da USP como o lugar do conservantismo, do engessamento, da presença de uma forte estrutura
hierárquica, produto do regime de cátedras, que se desdobrava através do paternalismo de orientadores para com
orientandos e a pouca ou nenhuma abertura política para a construção e produção de uma historiografia inovadora,
sobretudo, proveniente dos novos quadros formados naquele departamento. Se a tradição uspiana era francesa e
estava assentada na contribuição intelectual dos Annales, a da UNICAMP, para De Decca se assentava no que
“havia de mais inovador no campo da História Social, [...]” (SANTOS, 2018, p. 54).
30
aos Programas cariocas, nos PPGH da UFF e UFRJ havia a influência de brasilianistas de
tradição americana, inglesa e alemã.18
A formação disciplinar destes Programas, apontados por Santos, reflete-se na produção
historiográfica, por meio da utilização de imagens visuais feitas pelos historiadores brasileiros.
A saber, conforme será melhor desdobrado no capítulo seguinte, a UNICAMP que se propunha
renovadora da historiografia nacional, foi a que mais apresentou pesquisas com as imagens
visuais, enquanto a USP foi a que menos apresentou uma renovação neste sentido.
A respeito da renovação historiográfica proposta pelos Annales existe, a princípio, um
lugar-comum de fala sobre a imanência dos estudos imagéticos com o incentivo dos Annales,
como podemos ver, primeiro, no que diz Ana Maria Mauad e Ciro Flamarion Cardoso:
Num período da historiografia quando a máxima seguida era “a história faz-se com
textos”, aquela posição não teve maior impacto. No entanto, imbuídos deste caráter
generalizador dos testemunhos, Marc Bloch e Lucien Febvre, os fundadores dos
Annales, conclamaram em 1929 os historiadores a saírem dos seus gabinetes e
farejarem, tal como o ogro da lenda, “a carne humana” em qualquer lugar onde
pudesse ser encontrada por quaisquer meios. Para os historiadores que ouviram o
apelo de Bloch e Febvre, o texto ganha contornos mais amplos, incluindo toda a
produção material e espiritual humana: [...] De lá para cá, tanto a noção de documento
quanto a de texto continuaram a ampliar-se. Agora, todos os vestígios do passado são
considerados matéria para o historiador. Desta forma, novos textos, tais como a
pintura, o cinema, a fotografia etc., foram incluídos no elenco de fontes dignas de
fazer parte da história e passíveis de leitura por parte do historiador. (MAUAD,
CARDOSO, 1997, p. 568-569).
18
Sobre os Programas cariocas, Santos descreve: “Uma vez que seus Programas de Pós-Graduação não aderem à
tradição francesa dos Annales ou só a ela, mas também a outras tradições, nem sempre historiográficas, de outros
países como, por exemplo, a americana – a partir dos vários brasilianistas que compuseram os Programas das duas
instituições. Assim como as tradições inglesas, alemã ou até mesmo latino-americana, depois da chegada de Ciro
Flamarion Cardoso ao Programa da UFF” (SANTOS, 2018, p. 52).
31
Pode-se perceber que a frase posta em parênteses não faria diferença no entendimento
do texto, porém, os autores fizeram questão de colocar este aposto em meio ao parágrafo;
pensando na escolha da construção do texto, ele poderia estar em uma nota de rodapé, mas os
autores preferiram deixá-lo no corpo do texto. Portanto, este aposto provocativo tem por função
relembrar que a renovação historiográfica da Nova História, ou da terceira geração dos Annales,
não teria o mesmo teor ou originalidade dos fundadores dos Annales Bloch e Febvre.
32
É possível, portanto, constatar duas memórias sobre a inserção do estudo das imagens
na historiografia brasileira: a que toma os Annales como origem, ainda que de forma crítica, a
partir dos anos 1980; e a proposta por Santiago Júnior, em que o debate teria sido inserido no
Brasil nos anos 2000 por Knauss, Meneses e Guimarães. Mas, há como se pensar de forma mais
orgânica, olhando para o contexto brasileiro da década de oitenta e, posteriormente, para os
artigos em revistas e simpósios temáticos voltados ao assunto.
Segundo Francisco Gouvea Souza19, as mudanças ocorridas na historiografia brasileira
da década de 1980 não se deram somente por uma diferenciação teórica proposta pelos Annales,
mas também pelas experiências culturais e políticas vividas no país. A redemocratização abalou
a historiografia brasileira, era preciso que a História desse voz aos vencidos, que aderisse aos
novos sujeitos históricos, e a historiografia vigente até então foi criticada por ater-se a um lugar
de produção onde dominavam as elites.20 No panorama teórico foram também recebidos os
textos de Michel Foucault, E. P. Thompson e Antônio Gramsci, dando vez à intelectualidade
das massas, das pessoas comuns, tirando-os de um espaço de subordinação no discurso
histórico. A inclusão de novos assuntos e sujeitos na história fez com que houvesse a adesão de
novas fontes e referências para a composição historiográfica, incorporando, portanto, também
as imagens visuais.
Em relação a Foucault e a outros escritores considerados pós-estruturalistas, foi
atribuído o giro linguístico, que causou grande abalo dentro das discussões teóricas nas
Universidades brasileiras.21 Os historiadores foram confrontados quanto à natureza da sua
prática, posto que o que fazem é científico, mas também uma forma de narrativa. Ou seja, é
uma escrita e uma forma de linguagem padronizada, assim configurando uma forma literária,
ajustada e elaborada pelos historiadores sob o amparo das instituições de pesquisa. No que diz
respeito às imagens, Foucault também deixa uma brecha para a diferenciação, na medida em
que as imagens, como outra forma de linguagem, não operam pelos mesmos códigos que os da
escrita, portanto não podem ser traduzidas em palavras. Sendo assim, Foucault refere-se a essas
duas formas diferentes de se codificar coisas da seguinte maneira:
Não que a palavra seja imperfeita e esteja, em face do visível, num déficit que em vão
se esforçaria por recuperar. São irredutíveis uma ao outro: por mais que se diga o que
se vê, o que se vê não se aloja jamais no que se diz, e por mais que se faça ver o que
19
SOUZA, Francisco Gouvea de. Escritas da história nos anos 80: um ensaio sobre o horizonte histórico da (re)
democratização. Anos 90, Porto Alegre, v. 24, n. 26, p. 159-181, dez. 2017.
20
Neste caso, as elites paulistas ligadas às cátedras da USP. Sobre esta questão, cf. Geminiano (2018).
21
Cf. RAMOS, Igor Guedes. Genealogia de uma operação historiográfica: Edward Palmer Thompson,
Michel Foucault e os historiadores brasileiros da década de 1980. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2015. 623
p.
33
22
O “grupo” refere-se a Instrumentos de Pesquisa, Obras de Referência e Transcrições no Brasil entre 1980-1989.
23
Disponível em: http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/reh/issue/view/301. Acesso em: 29 dez. 2019.
24
Disponível em: http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/reh/issue/view/301. Acesso em: 29 dez. 2019.
34
25
Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_issuetoc&pid=0102-
018820050001&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 29 dez. 2019.
26
O site da ANPUH oferece os anais dos SHN desde o ano 2001. No entanto, a forma como ocorria o evento e
como eram organizados os anais em 2001 e 2003 é diferente dos anos seguintes, por isso não pôde haver uma
identificação de Simpósios Temáticos que lidaram com imagem. Os anais de 2001 são divididos por resumos de
Comunicações Coordenadas (esse espaço de organização foi extinto, dando lugar aos ST) e aos Grupos de
Trabalho, os primeiros aparentemente seguindo uma ordem geográfica estadual. Já os anais de 2003 não
especificam as divisões por área temática, apresentando diretamente os artigos completos em ordem alfabética de
acordo com o nome dos autores. Com exceção dos anais de 2005, todos os outros foram analisados digitalmente,
apenas o de 2005 foi analisado o caderno impresso devido à inexistência do endereço digital indicado no site. Cf.:
https://anpuh.org.br/quem-somos/simposio-nacional-de-historia. Acesso em: 29 dez. 2019.
35
27
RAMOS, Alcides Freire; PATRIOTA, Rosangela; PESAVENTO, Sandra Jatahy (org.). Imagens da História.
São Paulo: Aderaldo e Rothschild, 2008. 461 p.
28
Cf. Disponível em: https://anpuh.org.br/index.php/grupos-de-trabalho/atividades/item/3828-gt-imagem-
cultura-visual-e-historia. Acesso em: 04 out. 2019.
39
deste Simpósio nas suas ocorrências: Charles Monteiro (PUC-RS), Iara Liz Franco Schiavinatto
(UNICAMP), Cristina Meneguello (UNICAMP), Jens Michael Baumgarten (UNIFESP),
Flavia Galli Tatsch (UNIFESP) e Francisco das Chagas Fernandes Santiago Júnior (UFRN)
que, atualmente, preside o grupo de trabalho.
O professor Monteiro foi o que permaneceu mais vezes como coordenador do ST e
ajudou na refundação do GT em 201129. Ele também é responsável pelo “Laboratório de
Pesquisa em História da Imagem e do Som” no Programa de Pós-Graduação em História da
PUC-RS. Já Santiago Júnior é autor da mais recente publicação em revista brasileira sobre o
tema História e imagem, ora comentado, fazendo uma análise historiográfica sobre os impactos
do visual turn e iconic turn.30
Outro importante ST foi o de Imagens de Arte, abrangendo imagens, arte, práticas
historiográficas, patrimônio e questões que envolvem as fronteiras disciplinares entre a arte, a
história, a história da arte e a história das imagens. Este ST não esteve presente no encontro de
2017. Ele recebeu diferentes títulos ao longo dos Simpósios,31 embora seja possível perceber a
permanência de alguns professores-coordenadores que permearam este diálogo ao longo dos
anos, como Luciene Lehmkuhl (UFU),32 Paulo Knauss (UFF) e Maria Bernardete Ramos Flores
(UFSC).
Os ST sobre História, Cinema e o Audiovisual foram os de maior expressão quantitativa
entre os ST destacados ao longo dos anos. O professor Jorge Luiz Bezerra Nóvoa (UFBA)
coordenou durante quatro encontros o ST sobre História e Cinema33, em companhia do
professor Marcos Antonio da Silva (USP). Os títulos dos ST enfatizavam os problemas de
ensino e pesquisa por meio dessa fonte e faziam referência à perspectiva transdisciplinar nos
estudos sobre Cinema e História, alternados os anos.
Ainda neste sentido, um importante ST foi realizado durante cinco encontros pelo
professor Eduardo Victorio Morettin (USP) sobre História, Cinema e Televisão, contando
também – a partir do terceiro encontro enumerado – com a coordenação da professora Mônica
29
Charles Monteiro também foi integrante da formação do GT “História, imagem e cultura visual” na seção
Estadual Rio Grande do Sul, em 2010, e coordenou a gestão do grupo entre 2014 e 2016. Além da seção estadual
– RS, o GT também existe nas seções do RJ e SP.
30
SANTIAGO JÚNIOR, Francisco das Chagas Fernandes. Dimensões historiográficas da virada visual ou o que
pode fazer o historiador quando faz histórias com imagens? Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 11, n. 28, p.
402-444, set./dez. 2019.
31
A saber: 2007 “Imagens de Arte: fronteiras disciplinares entre histórias da imagem e história da arte”; 2009
“Imagens de Arte e a Ética do Olhar”; 2011 “História e Arte: práticas historiográficas; 2013 “Imagens de arte
atuam sobre nós: dialética, anacronismo, montagem, sobrevivência”; 2015 “Arte e Patrimônio”.
32
Atualmente na UFPB.
33
Em 2007, contou com a coordenação da professora Miriam de Souza Rossini (UFRGS) e não de Silva.
40
Almeida Kornis (CPDOC/FGV). Ambos são frequentemente citados pelas pesquisas que
trabalham com estes objetos, sendo que Morettin é um importante debatedor/comentador das
obras de Marc Ferro. No simpósio de 2009, Morettin não esteve presente, todavia, Kornis
coordenou junto com o professor Marcos Napolitano o ST “Dimensões Históricas do
Audiovisual: o Ethos e o Pathos da imagem”, sendo a única contribuição de Napolitano como
coordenador entre os ST destacados, ele que também é autor de uma importante bibliografia
para o campo.
As doutoras Sheila Schvarzman (Anhembi Morumbi) e Rosana Elisa Catelli
(UNICAMP) coordenaram em 2009 e 2011 o ST “História no Cinema/História do Cinema”,
que posteriormente não teve mais continuidade. Finalizando os ST sobre audiovisual,
ocorreram respectivamente em 2015 e 2017 os ST “Cultura audiovisual, memórias e narrativas
do pertencimento: território e identidade na contemporaneidade” e “História Oral, História
Visual, História Audiovisual: fontes históricas em sons e imagem”, que abrangiam temas mais
amplos a respeito das fontes tratadas.34
A respeito da imprensa ilustrada – incluindo, portanto, revistas ilustradas, jornais e
periódicos –, ocorreram três simpósios. Os dois primeiros em 2011 e 2015, coordenados pelos
doutores Aristeu Elisandro Machado Lopes (UFPel) e Marcelo Balaban (UNB), e em 2017
pelas professoras Isabel Lustosa (Fundação Casa de Rui Barbosa) e Tania Regina de Luca
(UNESP). Os três ST foram voltados para as imagens da imprensa, principalmente no século
XIX e no XX, período que também é o mais comum para as teses e dissertações que estudam
tal objeto.35
A respeito da nona arte, que são as Histórias em Quadrinhos, houve apenas dois
simpósios, coordenados pela doutora Geisa Fernandes, que faz parte do Observatório de
Histórias em Quadrinhos da USP.
Os dois últimos SNH contaram com a coordenação da professora Maria Cristina Correia
Leandro Pereira (USP). Em 2015, em parceria com a doutora Rita Luciana Berti Bredariolli (IA
– UNESP), coordenaram o ST “Os lugares das Imagens”. Em 2017, agora em companhia do
doutor Gabriel de Carvalho Godoy Castanho (UFRJ), coordenaram o ST “Representações:
política, imagens e escritas”.
34
Houve ainda, em 2013, o ST “Imprensa, cinema e História Contemporânea: novos objetos e métodos da
investigação histórica” que, no entanto, foi acoplado a outro ST.
35
Conforme indicado pelo site do SHN 2015, o ST coordenado por estes professores, intitulado “Imprensa
ilustrada e jornalismo no Brasil do século XIX”, foi dividido e juntado a outros dois ST.
41
Nunca houve antes época como a nossa, em que a imagem visual fosse tão barata, em
qualquer sentido que se tome a palavra. Estamos cercados, investidos, por cartazes e
anúncios, por histórias em quadrinhos e ilustrações de revistas. Vemos aspectos da
realidade representados nas telas de televisão e de cinemas, em selos postais e
embalagens de comida. A pintura é ensinada na escola e praticada em casa como
terapia e passatempo, e muito amador domina truques que pareceriam pura mágica a
Giotto. Talvez até o colorido berrante das nossas caixas de corn flakes para comer
com leite no café da manhã deixasse boquiabertos os contemporâneos de Giotto. Não
sei se haverá quem conclua do que foi dito acima que a caixa de corn flakes é superior
a Giotto. Eu não faço isso. Mas penso que a vulgarização e os estratagemas da
representação podem criar um problema tanto para o historiador quanto para o crítico.
(GOMBRICH, 1986, p. 8).
Essas interrupções, derivações e rearticulações que modificam menos pomposamente
a circulação das imagens não têm santuário. Elas acontecem em toda parte e a
qualquer momento. (RANCIÈRE, 2012, p. 38).
O problema que se pretende tratar a partir dos excertos acima diz respeito aos problemas
teóricos que podem ser pensados a partir das imagens. Gombrich nos ressalta o caráter
multifacetado das imagens na contemporaneidade, elas possuem diferentes suportes materiais
e formas de vinculação com o mundo, estamos expostos o tempo todo a formas de produção e
reprodução de imagens – televisão, cinema, cartazes, histórias em quadrinhos, computadores,
pinturas, artes gráficas e muito mais –, imagens vendem coisas, imagens influenciam e formam
opiniões, imagens informam, imagens entretêm, imagens criam memórias e assim por diante.
Essas tomadas de telas, hoje muito mais vinculadas ao universo midiático, chamado por
Rancière de imageria36, circulam – como descrito pelo próprio autor – em grande fluxo, sem
um santuário específico.
Além disso, as imagens também possuem diferentes expressões no tempo. Gombrich
relembra Giotto (1267-1337), pintor italiano caro ao Renascimento, e também se refere à arte
gráfica da caixinha de Corn Flakes, feita no século XX ou XXI. Tanto a pintura quanto a
caixinha de cereal podem ser enquadradas sob o título “imagem”, no entanto, tratam-se de
objetos distintos por suas especificidades, contextos, tempos e espaço. Logo, percebe-se o
trabalho que estes objetos exigem de historiadores, críticos, historiadores da arte e outros
profissionais. Justamente por isso é que seu estudo se torna amplo e instigante.
36
No original imagerie. A Imageria refere-se ao momento crescente no século XIX onde é criado “o grande
comércio da imageria coletiva”, um repertório imenso de imagens que conjuntamente com palavras fazem algo se
tornar desejável, em suma, uma troca entre as imagens da arte e o comércio (RANCIÈRE, 2012, p. 24-26). Ou
ainda, segundo o autor, o crescimento da Indústria Cultural e da Cultura Midiática.
43
Um primeiro grande ponto que foi trabalhado por Walter Benjamin é a questão da
reprodução. Em que medida o que analisamos é de fato uma imagem, uma obra de arte ou uma
reprodução? O que diferencia tais categorias, ou ainda, colocando Benjamin em diálogo com
outros autores, a questão da reprodução é realmente cara à análise do objeto imagético enquanto
testemunho histórico?
Segundo Benjamin, a obra de arte sempre foi algo reprodutível, primeiramente pelos
próprios mestres para ampliação de seu trabalho, em seguida pelo aprendizado de seus
discípulos e ainda por terceiros, que faziam cópias intencionando o lucro. A xilogravura teria
sido um dos primeiros meios de reprodução das grandes obras na Idade Média, em seguida as
estampas em chapas de cobre e água forte e no início do século XIX; já a litografia permitiu
uma reprodução até mesmo de imagens da vida cotidiana. Mais recentes, com o maior potencial
de serem e gerarem reprodutibilidades, estão a fotografia e o cinema.37
Benjamin ressalta pontos positivos desta grande capacidade de reprodutibilidade, pois
ela aproxima os indivíduos das obras que talvez jamais veriam presencialmente, “a reprodução
técnica pode colocar a cópia do original em situações impossíveis para o próprio original”
(BENJAMIN, 1985, p. 2). Contudo, a reprodução perderia a autenticidade da obra ou sua aura,
pois se esquiva da materialidade do original, perdendo assim seu testemunho histórico. A
reprodução não possui o “aqui e agora da obra única” (BENJAMIN, 1985, p. 2), ou seja, as
marcas da passagem do tempo em sua estrutura física e os sentidos que adquiriu frente às
mudanças de lugar pelas quais o original passou e onde agora repousa.
Tal autenticidade reivindicada por Benjamin possui sua autoridade, contrapor-se ao fato
de que a materialidade do original possui um testemunho histórico seria uma falácia, no entanto,
esta não é a única forma de testemunho; a semelhança apresentada pelas reproduções e sua
circulação também formam conjuntamente um testemunho histórico de outro caráter.
Obra e reprodução tornaram-se objetos de análise, tendo em vista a semelhança e as
apropriações como fatores de importância. Jorge Coli destaca o fato de que a História da Arte
Contemporânea teve início com as coleções fotográficas. A possibilidade de reprodução das
obras permitiu a comparação entre diferentes imagens e tal operação nada mais é do que uma
interpretação silenciosa, que se apresenta aos olhos. Por mais que se tenha acesso aos originais,
as análises são feitas através de imagens.38
37
BENJAMIN, Walter. Obras Escolhidas. Tradução: Sergio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1985. v. I.
p. 1.
38
COLI, Jorge. A Obra Ausente. In: SAMAIN, Etienne. Como Pensam as Imagens. Campinas, SP: Editora
Unicamp, 2012. Cap. 3. p. 41-50.
44
Jorge Coli, baseado nas interpretações de Marcel Proust, está diametralmente oposto às
críticas feitas por Benjamin, pois, segundo Coli, a ideia de perda da áurea devido à
reprodutibilidade é romantizada e possui a fetichização pelo original. Uma obra é seu original,
assim como tudo o que foi produzido por semelhança a ela, criando uma aura muito superior à
da originalidade, pois conta com mais acessos, com mais apropriações e, consequentemente,
com mais testemunhos históricos construídos a seu respeito39. Desta forma, o lugar real do
original perde seu status, as representações criam “uma verdade superior à existência, embora
sejam alimentadas por ela” (COLI, 2012, p. 49).
Em síntese:
Semelhanças e analogias criam uma substância artística maior do que seus limites
materiais [...]. Essas obras não são feitas apenas de um original. Delas fazem parte,
como elemento constitutivo profundo, e não como sucedâneos desprovidos de alma,
a reprodução, a marca deixada na memória, as sobrevivências nas réplicas, nas cópias,
nas imitações: todas as formas de representação, ou antes, de reapresentação, todas as
formas de associações presididas pela semelhança. Material e imaterial, a obra é tudo
isso, é feita de tudo isso. (COLI, 2012, p. 50).
39
No terceiro capítulo, quando analisamos as pesquisas que utilizam o audiovisual como fonte histórica, pudemos
perceber que a materialidade do original foi sobremaneira deixada de lado pelos historiadores, fato que gera
preocupações por diversos fatores, entre eles o risco de perda do original e a fabricação de análises que não
encontram respaldo na materialidade.
45
40
Benjamin afirma que o cinema é capaz de produzir uma arte perfeita porque ele é montável, várias metragens
podem ser gravadas e posteriormente manipuladas para se produzir um único filme. Diferentemente da escultura,
considerada pelo autor como uma arte em declínio, pois é feita a partir de um único bloco (BENJAMIN, 1985, p.
5).
41
“No original, imagerie, o termo deve ser tomado aqui em sentido amplo – relativo a todas as formas de produção
e reprodução de imagens, não as especificamente produzidas por ‘equipamento imageador’ –, como repertório de
imagens disponíveis [N.T.]” (RANCIÈRE, 2012, p. 24).
46
Este exemplo seria um limite possível das fronteiras entre a arte, o design e a esfera social
em que se apresenta a imagem; tal limite ganha uma ponte com a existência do campo da
Cultura Visual. Assim, voltamos à discussão estabelecida a dois parágrafos anteriores sobre os
limites da arte e das imagens.
A Cultura Visual é um campo de estudos novos, que já possui longo histórico – no
subcapítulo anterior esmiuçamos as “viradas” que fazem parte da constituição deste campo – e
que de modo geral articulou a História da Arte com a História Social e Cultural à História das
Imagens e ampliou fontes e temas para a construção do conhecimento histórico. A ênfase dos
estudos se desloca da Arte para a Visualidade, esta última sendo analisada através de uma
perspectiva histórica cultural.
Conforme ressaltam Iara Lis Franco Schiavinatto e Eduardo Augusto Costa42, a Cultura
Visual diz respeito à análise da construção social do olhar; tal retórica foi constituída
principalmente por Michael Baxandall na obra “O olhar renascente”43 (1999). Para além da
análise da materialidade ou interpretação das imagens, há uma análise da lógica do ver e ser
visto – o que pode ser visto em um determinado tempo e espaço, como se constituem as
iconosferas44 de determinados assuntos ou objetos e qual impacto gerado por tais
representações. Os autores ressaltam que a formação de uma determinada cultura sobre o visual
é influenciada por instituições, tecnologias, discursos e figurações que moldam as visualidades
de cada lugar e período. Dentro destes contextos é preciso perceber as semelhanças ou
dessemelhanças apresentadas. Semelhanças no sentido de imagens já conhecidas, que possuem
precedentes detectáveis; e dessemelhanças, seja na composição das relações que podem ser
críticas ao período, seja na presença ou ausência incomum.
A visão e a imagem projetam-se no âmbito político. Estão envolvidas com o social,
com a ordem das condutas, a estética e a lógica do ver e ser visto. (SCHIAVINATTO;
COSTA, 2016).45
Segundo Baxandall, tais relações são exemplificadas de forma muito clara. Na obra
anteriormente citada, o autor enfoca os quadros como fósseis de uma relação econômica. No
século XV, as pinturas eram mercadorias de alto valor, eram encomendadas por mecenas que
42
SCHIVINATTO, Iara Lis Franco; COSTA, Edurdo Augusto (org.). Cultura Visual e História [recurso
eletrônico]. São Paulo: Alameda, 2016.
43
BAXANDALL, Michael. O olhar renascente: pintura e experiência social na Itália da Renascença. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1999.
44
Diz respeito aos signos imagéticos relacionados a temas. Por exemplo, “futebol”, possui uma iconosfera na qual
lembramos de bola, campo, time, jogador, etc.
45
A página não foi indicada por se tratar de um e-book, portanto, não há páginas, apenas “posições”. A citação
em questão encontra-se na posição 186.
47
determinavam seu preço a partir de diferentes critérios. Em suma, entender o lugar da imagem
na esfera econômica leva em conta uma grande análise do contexto do período em que foi
produzida.
Os mecenas do século XV encomendavam pinturas a um pintor; a remuneração pelo
trabalho executado levava em conta o tamanho da obra, o tempo gasto em sua construção, os
materiais empregados, a fama e a habilidade do pintor. Baxandall enfatiza que, no começo do
século, as obras mais onerosas dispunham de ouro na pigmentação das tintas e o “azul
ultramarino” que era mais caro devido ao processo de fabricação da pigmentação.
Posteriormente, estes elementos passaram a ser menos valorizados, pagando-se mais pela
habilidade técnica e artística do pintor.
O porquê de se investir em tais empreendimentos também são fatores de testemunho
histórico; os mecenas, geralmente, encomendavam as obras para embelezar as cidades e Igrejas,
desta forma se mostravam benevolentes com a sociedade, além de ser um fator de “virtude” e
distinção social apreciar as obras de arte. Baxandall cita Rucellai, um empregador de pintores
do século XV: este dizia que “a pintura serve a Deus, à honra da cidade e a minha própria
memória” (BAXANDALL, 1999, p. 13). Assim, o autor considera de suma importância para o
conjunto de uma História Social da Arte o reconhecimento das condições de mercado do
período.
Outra acepção defendida por Baxandall era o fato de que as convenções sociais, listadas
acima, definiam estilos artísticos que passavam a ser facilmente reconhecíveis na esfera
iconográfica de cada pintor e do século em geral. “Os fatos sociais favoreciam o
desenvolvimento de faculdades e hábitos visuais característicos” (BAXANDALL, 1999, p. 9),
tanto para os artistas, quanto para os mecenas e espectadores. A partir desta forma de análise é
que Baxandall foi considerado um dos precursores dos estudos de Cultura Visual.
A Cultura Visual consolidou-se em meio a uma renovação das Ciências Sociais em um
período de ênfase aos estudos culturais, envolvendo as práticas pós-coloniais, a abertura para
os estudos de gênero e o olhar para as etnicidades. A pesquisa envolve uma visão sobre as
48
Por que diferentes idades e diferentes países representam o mundo visível de maneiras
tão diferentes? [...] E essa variabilidade da visão artística não nos ajudaria a explicar
também as desnorteadoras imagens criadas pelos artistas contemporâneos?
(GOMBRICH, 1986, p. 3).
isso, é que a arte moderna escolheu o estilo “desnorteador”, pois somos capazes de representar
com maestria qualquer outro estilo; parafraseando novamente: um amador conhece truques que
seriam mágica a Giotto. Por isso mesmo, uma contrarrepresentação seria hoje o estilo adotado.
Na tentativa de pensar teoricamente o universo das imagens, falamos pois de
reprodução, reapresentação, estilo artístico, representação, cópia, imitação, autenticidade,
autonomia, visibilidade, visualidade, construções do olhar e tantos outros conceitos. Todos eles
apontam para a complexidade que as imagens atingiram em seu percurso, são evidências de sua
historicidade. Não é nossa intenção rever uma história das imagens a partir dos conceitos
criados para se falar delas. No entanto, todo o exposto faz luz a esta história, que deve ser
pensada em um momento em que a manipulação das imagens influencia grandes massas, onde
arte e imageria não possuem fronteiras fixas, onde a lógica do ver e ser visto requer ainda mais
instrução do olhar do espectador para que possa detectar as ilusões a que é exposto.
As fontes selecionadas para esta dissertação exprimem o universo imagético como
constituidor de análises históricas de variadas formas. Um conjunto imagético pode exprimir a
história de um tema específico; é possível analisarmos o conhecimento histórico intrínseco à
constituição da imagem, ou ainda a sua forma de circulação como testemunho de historicidade;
ou ainda, pode-se fazer um mergulho na própria “tela”, sendo tomada por ela como experiência
sensorial que depois se tornará descritiva. Em suma, trata-se de entender as posturas teóricas e
não julgá-las, compreendendo seus objetivos e possibilidades. Em termos práticos, essas são
algumas das formas através das quais as imagens transpõem os historiadores e adentram à
historiografia, partindo do pressuposto de que há realmente uma produção historiográfica
acadêmica brasileira e atual que emprega as imagens visuais – nos seus inúmeros suportes e
possibilidades de análise – como fonte histórica.
50
46
NICODEMO, Thiago Lima; SANTOS, Pedro Afonso Cristovão dos; PEREIRA, Mateus Henrique de Faria.
Uma Introdução à História da Historiografia Brasileira (1870-1970).Rio de Janeiro: FGV Editora, 2018. 232
p.
47
Não é nossa intenção aqui discorrer sobre as mudanças nessa produção, ou mesmo fazer críticas à avaliação,
outros autores já trataram melhor deste assunto (cf. Jaime Ginzburg, 2014). No entanto, uma simples constatação,
que poderá ser vista nos gráficos ao longo da dissertação, é que a quantidade de produção aumentou
significativamente.
51
produções referentes aos anos anteriores foram encontradas nos bancos de teses e dissertações
de cada Programa especificamente.
Considerando essa sistematização ocorrida nas Pós-Graduações e o espaço de tempo
contemporâneo, é que se determinou o recorte temporal orientado pelos anos de divulgação das
avaliações coordenadas pela CAPES, que foram três trienais e uma, a última, quadrienal, em
2007, 2010, 2013 e 2017, respectivamente48. As avaliações atribuem notas de 3 a 7 para os
Programas, sendo que aqueles que alcançaram notas 6 e 7 são considerados de excelência. Tal
fator determinou os PPGH de onde foram selecionadas as teses e dissertações fontes, sendo eles
os Programas da UFF, UFMG, UFRGS, UFRJ, UNICAMP e USP. Apenas dois Programas
dentre os selecionados tiveram variação de nota no período: em 2007, a UFRGS possuía nota
5, depois subindo e mantendo-se com 6; já a UFRJ passou de 6 para 5 em 2017. Um caso e
outro, contudo, não afetam o critério de seleção por serem pontuais e também porque os
respectivos Programas passaram a maior parte do período no estrato superior da avaliação.
De acordo com Nicodemo, Santos e Pereira, as tendências iniciais das obras
historiográficas eram de avaliar e julgar os trabalhos já escritos, com uma ideia de apontar novos
temas ou fontes a serem explorados, a exemplo da obra de Capistrano de Abreu Necrológio de
Francisco Adolfo de Varnhagen, Visconde de Porto Seguro, onde Capistrano se remete a
diversas lacunas na História do Brasil que deveriam ser escritas e preenchidas a fim de
contribuir com uma futura síntese da história. No entanto, atualmente, seguindo as ideias
propostas pelos três autores, há outras formas teóricas de se pensar a análise de balanço
historiográfico, que não se pretendem julgadoras do que já foi feito e sim compreensivas ao se
tomar obras como fontes:
Complementando:
Não se veem apenas os méritos ou defeitos das obras. Analisa-se o autor, inferem-se
suas limitações (pessoais e do contexto no qual viveu), agrupam-se períodos e tipos
de produção que contribuam para explicar/compreender as formas variadas pelas
48
Disponível em: http://avaliacaoquadrienal.capes.gov.br/resultado-da-avaliacao-quadrienal-2017-2. Acesso em:
27 abr. 2018.
52
A criação dessa base de dados e a forma de lidar com ela seguiram exemplificações de
três obras. No artigo “Historiografia da Educação Brasileira: no rastro das fontes secundárias”,
Bruno Bontempi Júnior e Maria Rita de Almeida Toledo explicam como o grupo de estudos do
qual faziam parte constituiu um corpus documental de teses e dissertações a fim de investigar,
a partir delas, uma Historiografia da Educação Brasileira. Os pesquisadores adotaram
determinados critérios que atendessem às suas expectativas, sendo eles: seriam consideradas as
pesquisas que anunciassem explicitamente o estudo da História da Educação; elas seriam
retiradas dos Programas de Pós-Graduação em Educação brasileiros; o recorte temporal de 1971
a 1988 levava em conta o início da produção até o último caderno disponível no momento de
realização da pesquisa; foram lidos os resumos e paratextos a fim de encontrar as fontes
secundárias que eram o foco de análise principal. Os caminhos escolhidos pelo grupo de
pesquisa obtiveram sucesso, pois foram capazes de notar tendências historiográficas em meio
ao montante de teses e dissertações. A lição mais valiosa desta obra e das outras duas a seguir
é o fato de que se torna necessário estabelecer critérios e operar escolhas.49
A tese de Igor Guedes Ramos, Genealogia de uma operação historiográfica: as
apropriações dos pensamentos de Edward Palmer Thompson e de Michel Foucault pelos
historiadores brasileiros na década de 1980, auxilia no sentido de entender como se produz
um trabalho sobre historiografia. Ramos desenvolve uma análise sobre o impacto causado por
Thompson e Foucault na historiografia brasileira e as formas pelas quais foram apropriados, no
sentido de modos de usar pelos historiadores (RAMOS, 2015). Para tanto, concentrou-se sobre
teses e dissertações dos Programas de Pós-Graduação da USP, UNICAMP, UNESP (Assis),
UFPR, UFF e UFRJ, abarcando, como ele mesmo aponta, 65% das monografias produzidas no
período. Após fazer o levantamento das fontes, o autor dividiu-as em quatro eixos temáticos
dele derivados, tornando a pesquisa manobrável sob determinados direcionamentos.
Afife Maria dos Santos Mendes Fontanini, em sua dissertação de mestrado (2015),
também indica possibilidades de formas de organização, dividindo os resultados de um
questionário (fonte da pesquisa) em duas grandes vertentes: as que podiam constituir gráficos
49
As pesquisas com História e Imagem não se desenvolveram somente no campo da História acadêmica nos
espaços de Pós-Graduação, mas também em outros cursos, já que a fonte imagética por si só requer um espaço
interdisciplinar. Ao longo da pesquisa nos foi recomendado também rastrear as pesquisas feitas no campo da
Comunicação, da Psicologia, nos cursos de Cinema, História da Arte, anais de Museus, entre outros. No entanto,
tal esforço requer mais espaço e tempo do que dispomos, portanto, nos detivemos às pesquisas em História. O
grupo de pesquisa da professora Ana Maria Mauad, na UFF, vem fazendo um trabalho de levantamento
semelhante, porém, agregando demais áreas do conhecimento. O que se pode obter por comparação é o fato de
que essas pesquisas vêm crescendo quantitativamente ao longo dos anos 2010.
54
objetivos, ou seja, dados que podiam ser agrupados sem gerar uma depreciação ao seu sentido;
e categorias mais específicas, que correspondiam a um número menor de assuntos abordados e
que não poderiam reduzir-se a gráficos. Seguindo este modelo, alguns dados gerais do nosso
banco de dados como quantidades de pesquisas por ano, recorte temporal, recorte espacial e
natureza do objeto imagético foram divididos em gráficos, enquanto outras características,
como a proeminência de determinados orientadores, por exemplo, constituíram uma categoria
de análise cujos dados não podem ser tão bem objetivados por gráficos.
Qualificando e cruzando todas as prescrições exemplares das obras citadas, e
respeitando as especificidades da nossa fonte, uma das tabelas iniciais criadas foi a seguinte:
Tabela 2: Teses e dissertações por PPGH
PPGH Teses totais Teses com Dissertações Dissertações
fonte imagética totais com fonte
imagética
USP 415 22 517 59
UFMG 143 14 225 20
UFF 377 37 519 56
UFRJ 168 15 208 17
UFRGS 109 8 216 13
UNICAMP 173 32 245 38
TOTAL 1385 128 1930 193
Esta tabela apresenta os dados numéricos mais gerais a respeito da produção de cada
Programa; ela considera o total da produção de teses e dissertações durante os onze anos
analisados de cada Programa e a quantidade deste total que fez uso das imagens como fonte
histórica. Dela derivam-se outros dados, como as informações percentuais que serão
trabalhadas mais adiante. Esta tabela, por sua vez, foi constituída pela informação de uma outra,
que considerava os mesmos dados de produção, porém, específicos para cada PPGH a cada
ano:
2009 34 2 34 4
2010 44 1 41 2
2011 30 2 55 7
2012 39 3 49 3
2013 37 4 58 8
2014 21 2 55 6
2015 40 6 50 6
2016 35 4 51 7
2017 35 4 43 7
TOTAL 377 37 519 56
Destes dados, alguns foram copiados e outros elaborados a partir da leitura. Os itens –
ano, autor, orientador, título, linha de pesquisa, palavras-chave e resumo – foram copiados da
maneira como apareciam nas teses e dissertações. Já a “Referência”, no caso, catalográfica, foi
copiada da ficha catalográfica, e as que não dispunham de ficha catalográfica foram geradas a
partir de uma ferramenta online para referências50 ou por meio do banco de teses e dissertações
da CAPES. A unidade “Link PDF” diz respeito à existência ou não da tese ou dissertação
disponível em PDF para ser baixada do banco correspondente. Por fim, os grupos – tema,
50
Disponível em: http://novo.more.ufsc.br/tese_dissert/inserir_tese_dissert. Acesso em: 15 mai. 2019.
57
período51, espaço, natureza do objeto imagético – foram preenchidos de acordo com o que
estava exposto nas fontes. Em todos eles respeitou-se a forma pela qual foram colocadas as
informações pelo pesquisador.
A partir dessa longa série de tabelas, foi possível conceber dados quantitativos dos quais
formularam-se gráficos e, consequentemente, surgiram informações qualitativas e sintomáticas
do impacto do uso das imagens visuais na historiografia. Os gráficos e tabelas permitiram
vislumbrar movimentos e tendências que estudos de caso não poderiam demonstrar. O grande
ajuste do qualitativo ordenado sob alguns critérios demonstra os “pontos fora da curva” ou
ainda suscita novas questões. Em relação à importância e manuseamento dos dados
quantitativos, Richard Graham (2008) em seu artigo “Os Números e o Historiador não-
quantitativo'' foi nosso principal aporte metodológico. Segundo ele:
Mas não há dúvidas que valiosas percepções podem ser extraídas de dados
quantitativos, particularmente porque eles geralmente indicam padrões de
comportamento nem sempre vistos e muito menos compreendidos ao seu tempo. De
fato, é precisamente o padrão geral que frequentemente torna notável e importante o
desvio particular. E a informação quantitativa pode levar os pesquisadores a formar
questões que de outra forma não pensariam em fazer, especialmente quando ela é
sujeita à análise comparativa. (GRAHAM, 2008, p. 2).
A partir destas considerações e dados gerais é que serão expostos os gráficos do capítulo
a seguir.
51
O grupo Período nas tabelas foi preenchido com o recorte do autor e o(s) século(s) presente(s) neste recorte. Na
configuração dos gráficos foram utilizados apenas os séculos, tendo em vista um melhor manuseamento dos dados.
58
Este primeiro gráfico demonstra informações quantitativas dos seis PPGH em relação à
quantidade de teses e dissertações totais defendidas ao longo do período entre 2007 e 2017,
bem como a quantidade de trabalhos que apresentam imagens visuais como fonte de pesquisa.
Gráfico 1: Relação entre teses/dissertações totais e teses/dissertações que utilizam as imagens visuais.
52
A apresentação dos Programas de Pós-Graduação aparece em ordem alfabética, de acordo com o nome da
Universidade à qual o PPGH pertence.
59
10%. Isso indica que um índice geral de trabalhos realizados com fontes imagéticas mantém-se
entre nove e dez por cento entre mestrados e doutorados. Ou ainda, somando-se estas duas
formas, o resultado é de 9,68% de trabalhos produzidos com fontes imagéticas entre teses e
dissertações em relação à soma do total dos dois tipos. Isso significa que tanto no nível
formativo de pesquisa que são as dissertações de mestrado, quanto no nível de pesquisa
aprofundada que são as teses de doutorado, existe uma produção de conhecimento voltada à
investigação das imagens visuais.
Outro dado que pode ser visualizado neste gráfico é a diferença em termos de produção
absoluta entre um Programa e outro; o PPGHS da USP é disparadamente o que teve mais
defesas no período recortado, foram 932 trabalhos, enquanto o de menor produção foi o PPGH
da UFRGS, com 325. Ou seja, na USP houve quase três vezes mais defesas entre teses e
dissertações que na UFRGS53. Alguns dados podem servir de referência para compreender tais
assimetrias, a saber: o tamanho dos departamentos, o tempo de existência dos Programas e o
número de vagas oferecidas para ingressantes.
Os dois PPGH mais antigos são os da USP e da UFF, bem como são os de maior
produção total de trabalhos, ambos credenciados à CAPES em 1971, um ano depois da criação
dos Centros Regionais de Pós-Graduação pela fundação54. Na USP, segundo a própria
apresentação no site do Programa, a primeira tese em História teria sido defendida em 1939, já
na primeira década de existência da Universidade, fundada em 1930. O doutorado na UFF, por
sua vez, foi iniciado em 1985, sendo o segundo mais antigo entre os Programas aqui destacados.
Inversamente, os Programas da UFRGS e da UFMG são os de menor produção total e
também os de mais recente funcionamento. O primeiro teve o mestrado inaugurado em 1986, e
o doutorado em 1995; o segundo é o mais recente de todos, com o mestrado criado em 1990 e
o doutorado licenciado somente nos anos 2000.
Os Programas da UNICAMP e UFRJ55 abriram os doutorados na década de 80, sendo
que na UNICAMP o Programa de mestrado existia desde 1976. Nesta última, cabe destacar a
criação da titulação em História da Arte no Programa de Pós em História; tal fato ocorreu em
2004, dentre os trabalhos selecionados neste Programa, uma parte considerável pertence à linha
de História da Arte.
53
Número de produções totais (teses e dissertações) entre 2007 e 2017: UFF – 896; UFMG – 368; UFRJ – 684;
UNICAMP – 418.
54
Cf. https://www.capes.gov.br/historia-e-missao
55
Sobre a UFRJ não foi possível encontrar informações sobre o ano exato de início do Programa, nem se houve
um intervalo entre a abertura do mestrado e do doutorado.
60
56
Esta afirmação advém de uma pesquisa realizada nos sites dos PPGH. A partir desta pesquisa, pudemos constatar
que em 2019, nos editais para concorrer à vaga de discente de mestrado ou doutorado para 2020, a USP dispunha
de 79 docentes, e foram oferecidas 140 vagas para discentes; a UFF dispunha de 70 docentes, e foram oferecidas
172 vagas para discentes; a UFRJ dispunha de 33 docentes e foram oferecidas 62 vagas para discentes; a
UNICAMP dispunha de 41 docentes (contando com colaboradores e participantes) e foram oferecidas 44 vagas
para discentes; a UFMG dispunha de 34 docentes (contando com colaboradores) e foram oferecidas 50 vagas para
discentes; a UFRGS dispunha de 31 docentes (contando com colaboradores) e foram oferecidas 50 vagas para
discentes.
61
Gráfico 2: Porcentagem de teses e dissertações que utilizam imagens como fonte em relação ao total de produção.
Nos subtópicos a seguir, relacionamos alguns fatores responsáveis por tais diferenças
percentuais como: a presença de linhas de pesquisa nos Programas que incentivem a renovação
documental e estimulem o uso de fontes imagéticas; a presença de orientadores reconhecidos
por seu trabalho com imagens, e, portanto, os discentes procuraram os PPGH específicos por
conta deste profissional; a manutenção de laboratórios de pesquisa que se voltem para a fonte
imagética; ou ainda, e não menos importante, a trajetória de formação de cada PPGH, conforme
descrito no capítulo anterior.
62
Os gráficos a seguir demonstram a relação desta produção em cada PPGH ao longo dos
anos compreendidos no recorte; é possível notar pelas linhas gráficas que não existe
necessariamente uma padronização ao longo dos anos, mas que em geral o trabalho com estas
fontes sempre se manteve.
O gráfico com colunas verticais representa os números absolutos de “teses e dissertações
produzidas no total” e “teses e dissertações produzidas utilizando as imagens visuais” ao longo
dos anos. Já o gráfico com linhas horizontais representa as porcentagens de uma produção
sobre a outra a cada ano.
Nos seis diferentes Programas, ora as dissertações apresentam uma maior porcentagem,
ora as teses, mas em geral pode-se inferir que ambas as formas acadêmicas utilizaram imagens
visuais como fonte de pesquisa em proporções próximas.
Gráfico 3: PPGH- UFF- números absolutos
63
57
Além das coordenadoras, também são pesquisadores efetivos do laboratório Mariza de Carvalho Soares, Martha
Abreu, Paulo Knauss e Samantha Viz Quadrat.
64
Apesar da existência do laboratório, o Programa da UFF não conta com nenhuma linha
de pesquisa ou setor temático que privilegie o estudo das fontes imagéticas; dentre as fontes
selecionadas, as pesquisas aparecem dentro das linhas “Cultura e Sociedade”, e “Poder e
Sociedade”, em setores temáticos variados.
Outrossim, ao que se pode quantificar a partir das fontes, é que o fator de maior
crescimento de pesquisa com documentos imagéticos deve-se à presença de orientadores
especialistas no trato com as imagens. Os docentes Ana Maria Mauad e Paulo Knauss são os
responsáveis por grande parte das orientações destes trabalhos, sendo que entre as fontes
selecionadas Mauad orientou 21 trabalhos (9 teses e 12 dissertações) e Knauss 13 (7 teses e 6
dissertações). Em geral, em um quadro de 70 professores no Programa, 29 orientaram trabalhos
cujas fontes eram imagens. Além dos dois já citados, destacam-se também Vânia Leite Froés e
Alexandre Carneiro, ambos tendo orientado 5 pesquisas cada um, e Denise Rollemberg Cruz,
Cecília da Silva Azevedo e Samantha Viz Quadrath, tendo orientado 4 pesquisas cada uma.
As pesquisas orientadas por Mauad possuem um padrão bem definido: os objetos
imagéticos circunscritos são sempre fotografias ou cinema e o recorte temporal estabelecido
varia entre as décadas do século XX; quanto ao recorte espacial, apenas duas pesquisas não se
referem ao Brasil, o restante incide sobre este tema, especialmente sobre o Rio de Janeiro. Já
58
Disponível em: http://www.labhoi.uff.br/node/30. Acesso em: 23 set. 2019.
65
as pesquisas orientadas por Knauss são mais diversificadas quanto aos objetos e recortes,
destacando-se as histórias em quadrinhos, cinema e artes diversificadas. Temporalmente,
referem-se ao século XIX, em maior quantidade ao século XX; já os recortes espaciais oscilam,
principalmente entre Brasil e Estados Unidos da América.
66
e Cultura na História”. Todas elas fazem menção à utilização de imagens na história, e entre as
fontes selecionadas encontram-se trabalhos pertencentes às três linhas.
Existe ainda no Programa um grupo de estudos da imagem, o NINFA – Núcleo
Interdisciplinar de Estudos da Imagem59, que pensa o universo imagético, sobretudo, a partir
dos diálogos propostos por Aby Warburg, entendendo que existem inúmeras formas de se
pensar as imagens; uma delas consiste não somente em entender seus significados, mas sim em
identificar as inúmeras correspondências existentes entre uma imagem e outra, ainda que
pertencentes a períodos e lugares diferentes.
De modo geral, não é possível deixar de mencionar que o Programa, por estar localizado
em Minas Gerais, apresenta muitos estudos sobre a iconografia mineira. Mais da metade das
teses e dissertações selecionadas fazem menção ao Barroco Mineiro, às imagens das capelas,
igrejas e irmandades, às paisagens mineiras, às cidades históricas como Mariana e Ouro Preto,
e ainda, à Belo Horizonte e Diamantina.
Entre o quadro de orientadores, três destacam-se por terem feito um maior número de
orientações: Rodrigo Patto Sá Motta orientou três dissertações, já Magno Moraes Mello e
Adalgisa Arantes Campos orientaram cinco trabalhos cada um entre teses e dissertações. Todos
os trabalhos orientados por Campos referem-se ao setecentos ou oitocentos mineiro, com
análises sobre a extensa iconografia sobre o barroco mineiro, ou às imagens de devoção das
ordens religiosas e irmandades, ou seja, todos voltados para a arte religiosa e sua produção
iconográfica como objeto.
O professor Mello também orientou trabalhos com essa característica, sobre arte e arte
religiosa em Minas, mais especificamente com pinturas em diferentes suportes. Porém, também
circunscreveu a orientação de outros objetos, como fragmentos tumulares na Roma antiga e sua
significação simbólica, ou ainda, objetos recentes como a apropriação das obras de Tarsila do
Amaral como produtos de consumo em artefatos comerciais.
Motta é o que mais se diferencia em termos dos objetos e temáticas das pesquisas que
orientou, tendo um recorte contemporâneo, todos sobre o século XX, analisando imagens
visuais recentes como o cinema, história em quadrinhos e selos postais. Temas voltados ao
comunismo, às tensões da guerra fria e ao período pré e pós segunda guerra mundial.
Dentre o conjunto de 34 pesquisas selecionadas, uma chama a atenção: a dissertação de
Àlan Oziel da Silva Pires, orientado por Regina Helena Alves da Silva, intitulada “A Pichação
Como Apropriação da Cidade: o pixador como formador do cenário urbano”, cenário urbano
59
https://ninfaufmg.wixsite.com/ninfa, acesso em 02/10/2019
68
este da capital Belo Horizonte. A pichação é um dos elementos visuais mais contemporâneos
dentre as pesquisas selecionadas e aparece somente neste trabalho como fonte de pesquisa,
sendo portanto um dos objetos exclusivos entre todas as pesquisas selecionadas no período.60
Ocorre um contraste: a maior parte da historiografia produzida com objetos imagéticos
no Programa da UFMG refere-se a imagens dos setecentos e oitocentos, imagens religiosas por
excelência em locais considerados patrimônio histórico. Por outro lado, houve também um
olhar sobre as imagens contemporâneas na cidade, o cenário urbano que é feito por outros
indivíduos, cuja prática envolve também um aspecto político e apropriação dos espaços. Os
conjuntos imagéticos dos setecentos são nomeados como iconografias, já o conjunto imagético
de pichações não recebe esta nomenclatura.
Isto nos diz algo sobre a periodicidade dos conceitos e os espaços para os quais eles
servem historiograficamente. Ao que se pode notar, “Iconografia” sempre está ligado a um
conjunto imagético voltado ao que, por praxe, se considera arte, e tem envolvimento com a
aplicação do método de análise imagética serial panofskiana, sedimentado na análise
iconográfica-iconológica61. Tal recurso metodológico não compreende os objetos visuais
contemporâneos, a nomeação da imagética serial também não vem a ser a mesma. Isto
demonstra o quanto os objetos imagéticos, por suas variações, exigem da historiografia formas
de análise e conceitos diferenciados, assim como o rompimento de formas de pesquisa já
consagradas.
60
PIRES, Alan Oziel da Silva. A Pichação Como Apropriação da Cidade: o pixador como formador do cenário
urbano. 2017. 174 f. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte,
2007. Há também, entre as fontes, um trabalho referente ao grafite urbano contemporâneo, que também se
enquadra como uma arte de rua, mas que possui contextos diferentes da pichação. Cf.: SILVA, William da Silva
E. Grafite Urbano Contemporâneo: Cultura na era da Globalização. 2014. 179 f. Tese (Doutorado em História) –
Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2014.
61
Este “iconográfica” já não se refere a um conjunto serial de imagens, mas sim de identificação dos elementos
na imagem.
69
62
A Universidade também possui o Programa na área de concentração em História Comparada, que, por sua vez,
não entrou no campo de seleção de fontes por não atender a um dos critérios de recorte, possuindo uma nota de
avaliação pela CAPES inferior a 6.
72
somando-se teses e dissertações. Tal média é um pouco abaixo do padrão entre nove e dez por
cento, mas, ainda assim, é expressiva. Aqui também a média foi maior entre as teses do que
entre as dissertações, ainda que entre as teses a porcentagem tenha chegado a zero em três anos
diferentes. A partir de 2013, ao inverso do que ocorre no Programa da UFF, a produção absoluta
diminuiu.
Funciona dentro do Programa um laboratório voltado ao estudo das imagens, o IMAM
– Laboratório de Imagem, Metrópole, Arte e Memória, coordenado pela professora Andréa
Casa Nova Maia. O laboratório agrega pesquisadores de diferentes áreas que promovem a
orientação de trabalhos de conclusão de curso, mestrados, doutorados e pós-doutorados, em
uma perspectiva que côngrua Imagem e História Social da Cultura. O laboratório conta com
diversas produções, projetos e arquivos imagéticos.
Entre as linhas de pesquisa do Programa, pode-se destacar duas que abrangem as fontes
imagéticas selecionadas para esta pesquisa, a “Sociedade e Cultura” e “Sociedade e Política”,
embora na descrição das três linhas sejam apontados os estudos de História e Imagem e História
da Arte.63
A professora Maia, além de ser coordenadora do laboratório ora citado, é também uma
das orientadoras mais assíduas na orientação de trabalhos que utilizam a fonte visual, tendo
orientado 7 trabalhos nesta vertente, de um montante de 32. As pesquisas orientadas
circunscrevem-se ao recorte temporal dentro do século XX e trabalham principalmente com
imprensa, entre jornais e revistas ilustradas, mas aparecem também objetos como cinema,
fotografia e histórias em quadrinhos.
Já a professora Maria Beatriz de Mello e Souza – que também orientou sete pesquisas
entre as selecionadas – fez orientações de pesquisas que se referem a um período anterior,
centradas principalmente nos séculos XV e XVI, incluindo objetos como pinturas, gravuras,
xilogravuras, ícones e azulejos, enquadrando principalmente uma iconografia cristã, com
estudos de imagens da Virgem Maria e de São Francisco de Assis, bem como imagens da coroa
portuguesa. Os recortes espaciais variam entre os espaços geográficos em que hoje nomeamos
os países da Europa.
63
A terceira é Sociedade e Economia
73
64
São elas: História da Arte, História Social, História Cultural e Política, Memória e Cidade.
65
Fizemos um breve levantamento dos programas que englobam a História da Arte nas mesmas universidades,
são eles: UFF- Programa de pós-graduação em Estudos Contemporâneos das Artes; UFMG- Programa de pós-
graduação em Artes; UFRJ- Programa de pós-graduação em Artes Visuais; USP- Programa de pós-graduação em
Interunidades Estéticas e História da Arte; UFRGS- Programa de pós-graduação em Artes Visuais.
66
A linha de História da Arte é exclusiva do PPGH da Unicamp, nenhum dos outros cinco Programas a possui.
Fazendo uma pesquisa nos Programas das outras cinco Universidades, nenhuma delas possui um Programa de Pós-
Graduação em História da Arte, ou seja, um órgão separado do Programa de História. Isso significa que os
pesquisadores interessados em História da Arte provavelmente se concentram na Unicamp, ou em outros poucos
Programas que oferecem uma linha de pesquisa voltada para tais estudos.
75
uma referência bibliográfica importante tanto para seus orientandos quanto para outros
pesquisadores da área.
Outro orientador de respaldo para o tema é Luciano Migliaccio, tendo orientado oito
pesquisas entre as distinguidas. Todas elas possuem uma característica em comum, que diz
respeito à análise de obras e, por vezes, biografia de artistas conhecidos nos museus de arte ou
por serem representativos de seu período, como Manoel da Costa Athayde, Sebastiano Ricci,
Francisco de Holanda, Agelo Agostini (incluindo sua produção gráfica para as revistas
ilustradas), entre outros, trazendo uma análise, sobretudo, das pinturas realizadas por estes e da
exposição e trajeto de suas obras. Entre os acervos onde são encontrados estes objetos são
citados: o MASP, o Museu de Arte Sacra de São Paulo e a Fundação Cultural Ema Gordon
Klabin.
Claudia Valadão Mattos Avolese também orientou um número significativo de
trabalhos: foram sete entre teses e dissertações. A maior parte deles voltados para a pintura e
fotografia entre os séculos XIX e XX, em especial, a imagens do Brasil Império.
Destacam-se ainda os professores José Alves Freitas Neto, Nelson Alfredo Aguilar e a
professora Iara Liz Schiavinatto, todos tendo orientado cinco pesquisas entre teses e
dissertações. O primeiro orientou pesquisas voltadas à Argentina no século XX, envolvendo
objetos como cinema, histórias em quadrinhos e jornal. Já o professor Aguilar orientou
trabalhos voltados ao estudo de pinturas produzidas por artistas brasileiros e russos durante o
século XX; as pesquisas também fazem uma abordagem sobre as formas de museus e
exposições. Por fim, a professora Schiavinatto orientou pesquisas cujos objetos são
majoritariamente fotografias de fotógrafos brasileiros, profissionais ou não, temporalmente
localizadas no século XX, e fazendo uma abordagem a partir das perspectivas da Cultura
Visual67.
67
A professora Schiavinatto faz parte da organização de um importante livro sobre História e Cultura Visual,
organizado com o professor Eduardo Augusto Costa, que é uma referência para a área. Cf.: SCHIVINATTO, Iara
Lis Franco; COSTA, Edurdo Augusto (org.). Cultura Visual e História [recurso eletrônico]. São Paulo: Alameda,
2016.
76
68
Única exceção para o professor Marcos Antonio da Silva, que orientou também teses dessa característica.
69
Cabe salientar que nem todas as teses e dissertações – disponíveis em PDF ou impressas fisicamente – nos seis
Programas pesquisados, identificam a linha de pesquisa às quais pertencem. Por este motivo as linhas de pesquisa
não se tornaram um fator de recorte para a determinação das fontes selecionadas, tendo em vista que nem sempre
eram citadas pelos autores, que na maioria das vezes identificavam apenas a área de concentração. Há também
diferenças de um Programa para o outro; na UFF, por exemplo, existe uma área de concentração principal, três
linhas de pesquisa e um número maior de setores temáticos que flutuam entre as linhas de pesquisa. Ou ainda no
caso da Unicamp, onde a identificação presente nas pesquisas refere-se mais às ramificações das linhas de pesquisa
do que nestas propriamente ditas.
70
O Laboratório começou suas atividades em 2010, anteriormente era denominado de Laboratório de Teoria e
História da Imagem e da Música Medievais.
78
PPGHS da USP são de grande importância para a disseminação de trabalhos com imagens na
história: o professor Marcos Francisco Napolitano de Eugênio, Elias Thomé Saliba e Ulpiano
Toledo Bezerra de Meneses. Todos eles possuem obras importantes para este campo e que são
frequentemente citadas nas pesquisas de mestrado e doutorado.
O professor Saliba orientou apenas duas pesquisas no período de 2007 a 2017; no
entanto, sua obra Raízes do Riso. A representação humorística na História Brasileira: da Belle
Époque aos primeiros tempos do rádio (2002) é uma grande referência para trabalhos que lidam
com humor gráfico e imprensa ilustrada. Já Meneses orientou duas teses e uma dissertação
dentro do recorte proposto; sua obra possui grande respaldo pelo trato de caráter teórico-
metodológico com as imagens, em especial, no artigo “Fontes Visuais, Cultura Visual e História
Visual: balanço provisório, propostas cautelares” (2003), por fazer uma avaliação sobre a área
na produção acadêmica brasileira, conforme mencionado no capítulo anterior.
Napolitano, por sua vez, é muito citado pelo seu trabalho com as fontes audiovisuais;
ele orientou duas pesquisas dentre as selecionadas, ambas relacionadas ao uso do cinema como
fonte histórica. Seu capítulo de livro “Fontes audiovisuais: a História depois do papel” é muito
citado pelos autores de teses e dissertações que utilizaram o cinema como fonte histórica.
Napolitano também possui um projeto de pesquisa com grande respaldo intitulado “História e
Audiovisual: dimensões históricas do audiovisual”, que teve início em 2005 e perdura até hoje.
Assim, podemos notar que o corpo docente dos Programas é flutuante, por seus vários
motivos, porém, a produção orientada por estes ou as produções que têm por bibliografia básica
certos nomes fundadores reverberam por toda produção aqui elencada como fonte de pesquisa.
79
diretor. Entre os pintores, há uma equidade entre pintores estrangeiros como Malievitch, Giotto
e Van Gogh, e pintores brasileiros como Antonieta Santos Feio, Arthur Thimotheo da Costa,
Pedro Américo, Victor Meirelles e outros.
Entre os temas de pinturas mais recorrentes estão a arte sacra, imagens da realeza,
paisagens, pinturas rupestres e de sítios arqueológicos. Dentre os trabalhos selecionados com
esta fonte, também se destacam pesquisas sobre as pinturas pertencentes à iconografia mineira,
majoritariamente produzidas no PPGH da UFMG. As categorias “pinturas” e “iconografias”
são interseccionadas, pois, como será discutido adiante, a iconografia engloba imagens de
diferentes suportes materiais ligados por uma característica de estilo.
Por este motivo, algumas pesquisas realizadas sobre Minas Gerais e suas cidades
históricas estão localizadas no item “iconografia”, pois tratam de imagens de diversos suportes
– quadros, esculturas, monumentos, retábulos, vitrais, etc. – que pertencem a um mesmo estilo,
temporal e geograficamente localizados, por isso agrupados por se tratarem de uma
“iconografia mineira”. A iconografia poderia ser subdividida em grupos que a
qualificam/adjetivam. Assim, tendo em vista as pesquisas selecionadas, temos: iconografia
egípcia, iconografia ateniense, iconografia grega, iconografia da família real, iconografia cristã
e outras. Os agrupamentos iconográficos referem-se na maior parte das vezes a objetos
temporalmente pertencentes às Idades Antiga e Média. Podem ser constituídos de diferentes
aportes, como fragmentos tumulares e funerários, livros e iluminuras, itens visuais de ordens
ou irmandades religiosas, retábulos, símbolos oficiais da realeza, etc.
Expografias de museus e feiras de arte também foram chamadas de iconografias, por
exemplo, a iconografia da Bienal de Arte Moderna de Porto Alegre – este foi o conjunto mais
moderno encontrado. Assim, este universo liga-se muito com os estudos de Cultura Material,
porém, mais focado na evidência imagética. Cabe ressaltar o fato de que o termo iconografia,
via de regra, é empregado para conjuntos de itens visuais oficiais, para as artes clássicas e
elementos de Cultura Visual na Idade Antiga. Dito isto, pois em meio a outros conjuntos visuais
de caráter urbano ou não-oficiais como os grafites e a pichação, tal termo não é empregado.
A categoria “revistas ilustradas”, da mesma forma, possui intersecção com outras
categorias, haja vista que nelas compreendem-se propagandas, fotografias, charges, caricaturas
e podem ser consideradas como imprensa. Porém, os principais ícones visuais nelas analisados
são as charges e caricaturas. Delas extraem-se inúmeros temas, como política, personas
políticas ou figuras públicas, carnaval, regiões do Brasil, republicanismo, urbanização,
festividades, moda, assuntos relativos à iconosfera feminina, entre outros.
83
O século XIX aparece como o segundo mais estudado: somando-se as três colunas
referentes a ele são 68 trabalhos. Tal fenômeno se explica pelo surgimento da fotografia no
século XIX71, e nos seus anos finais, o fenômeno do cinema72. Ambos adquiriram maior
proporção de produção e circulação ao longo do século XX, o que justifica o número
discrepante de trabalhos que se referem ao século XX, tendo em vista que a fotografia e o
cinema foram os objetos mais estudados.
Em relação às palavras-chave dos trabalhos, não foi possível extrair grandes dados, nem
mesmo foram úteis à pesquisa de seleção, pois muitos trabalhos não apresentaram as palavras-
chave, assim como é comum não constarem a área de concentração e linha de pesquisa. Foram
encontradas cerca de 35 a 40 palavras-chave que estão ligadas às imagens visuais. Entre termos
conceituais foram recorrentes o uso das palavras “arte”, “imagem”, “cultura visual” e
“representação”, e com menos ocorrência, as palavras “visualidade”, “representação visual” e
“audiovisual”. Já entre as palavras que são substantivos, ou seja, nome dos tipos de objetos
imagéticos, as variações foram maiores, com grande destaque para cinema, fotografia, pintura,
história em quadrinhos e gravura.
O termo “arte” aparece tanto quanto “cinema” ou “fotografia”, e geralmente designa
diferentes tipos de objetos visuais, assim podemos perceber que o movimento de alargamento
do estatuto das Artes requerido pela Virada Visual vem sendo adotado pelos pesquisadores aqui
analisados. Ou ainda, conforme Walter Benjamin, a fotografia teria de fato mudado o próprio
estatuto da arte, que agora engloba outros objetos para além da dita arte clássica.
Considerando os quatro gráficos, a resposta imediata que podemos constatar é que os
historiadores brasileiros, quando se trata do uso das imagens visuais como fonte, utilizam-se
principalmente do cinema e da fotografia, e se importam mais em estudar a História do Brasil,
e o período de maior investigação é o século XX. Ou melhor, podemos trocar “os historiadores
brasileiros” por “as historiadoras brasileiras”, tendo em vista que a maioria das teses e
dissertações foram escritas por mulheres: no total foram 180 autoras mulheres e 141 autores
homens. Este dado se reflete na escolha das imagens analisadas, em razão de ocorrer um
enfoque maior em imagens femininas ou que correspondem a uma iconosfera feminina,
contextualizando e desnaturalizando a construção destas imagens.
71
Cf.: MONTEIRO, Rosana Horio. Arte e ciência no século XIX: um estudo em torno da descoberta da fotografia
no Brasil. Revista Estudos Históricos v. 2, n. 34, 2004. p. 51-70.
72
Cf.: MASCARELLO, Fernando (org.). História do cinema mundial. 7 ed. Campinas: Papirus, 2012.
87
fios dessa rede e os intelectuais que, nelas enlaçados, apareciam com mais ou menos frequência.
Tais categorias são: os orientadores da Amostragem Geral e da amostragem Continuidade de
Pesquisas; os professores que participaram das bancas das pesquisas presentes na amostragem
Continuidade de Pesquisas; e o entrecruzamento destes com os professores coordenadores de
Simpósios Temáticos nos SNH listados anteriormente73. Neste sentido, procuraremos
demonstrar as relações e características, para além das tendências já citadas, do uso desta fonte
pelos historiadores.
73
Capítulo 1, subcapítulo 1.1.
89
imagens etnocêntricas, que demonstram a diversidade dos povos indígenas brasileiros. Por
conta disso, de acordo com Brum Lopes, o circuito de suas imagens e sua prática
etnográfica/jornalística fazem parte da experiência fotográfica brasileira ao longo da primeira
metade do século XX.74
Outro exemplo de trabalho cuja temporalidade se estende por todo século XX devido à
especificidade de contextualização das fontes visuais é a dissertação de mestrado de Rafael
Quinsani, defendida no PPGHIST- UFRGS. Nela, o autor faz uma análise de três filmes que
remontam ao contexto histórico da Guerra Civil Espanhola, que ocorreu entre 1936 e 1939 e
desembocou na ditadura do líder nacionalista/fascista Francisco Franco, que ficou no poder até
morrer, em 1975. Durante a ditadura franquista houve grande repressão e censura, fato que fez
com que não houvesse uma produção audiovisual sobre o período da guerra ou sobre o próprio
período ditatorial; portanto, os filmes analisados pelo autor foram produzidos e exibidos
somente durante os anos 90, período no qual era possível abordar o tema sem repressão ou
censura. Assim, devido aos desdobramentos dos fatos históricos e das condições que impediram
e permitiram a criação de imagens, a temporalidade do tema proposto se alarga.75
Há também particularidades em relação ao recorte temporal: é o caso, por exemplo, da
dissertação de Thiago Faria, defendida no PPGHS- USP, a qual faz uma análise sobre dois
filmes de temporalidades diferentes – Cinco Vezes Favela (1962, feito pelo Centro Popular de
Cultura da União Nacional dos Estudantes) e o filme 5x Favela, agora por nós mesmos (2010,
feito pela produtora Luz Mágica em parceria com ONGs atuantes nas favelas) – que se ligam
devido ao tema, traçando uma reflexão estética e política sobre as favelas, e destaca a
importância da visualização sobre esses espaços criados através do cinema, ainda que por meio
de tramas ficcionais.76
Em relação ao crescimento dos recortes que incidem sobre as décadas de 1960, 1970 e
1980, a justificativa corroborada pela análise das tabelas de Continuidade de Pesquisas é a
grande quantidade de trabalhos cujo contexto se dá em relação à ditadura militar brasileira,
74
LOPES, Marcos Felipe de Brum. MARIO BALDI: experiências Fotográficas e a trajetória do “repórter
perfeito” - (1896-1957). 2010. 205 f. Dissertação (Mestrado em História) - Universidade Federal Fluminense,
Niterói, 2010. LOPES, Marcos Felipe De Brum. Mario Baldi – Fotografias e narrativas da alteridade na
primeira metade do século XX. 2014. 327 f. Tese (Doutorado em História) - Universidade Federal Fluminense,
Niterói, 2014.
75
QUINSANI, Rafael Hansen. A revolução em película: uma refle Civil Espanhola. 2010. 134 f. Dissertação
(Mestrado em História) - Universidade Federal Do Rio Grande Do Sul, Porto Alegre, 2010.
76
SILVA, Thiago de Faria e. Audiovisual, memória e política: os filmes Cinco Vezes Favela (1962) e 5X Favela,
agora por nós mesmos (2010). 2011. 237 f. Dissertação (Mestrado em História Social) - Universidade de São
Paulo, São Paulo, 2011.
91
77
A saber: Santos, 2014; Cardoso, 2007; Krause, 2016; Guedes, 2016; Esteves, 2013; Esteves, 2007.
92
O último gráfico comparativo diz respeito às imagens visuais utilizadas como fontes nas
pesquisas. Apresentamos categorias mais bem especificadas com relação à natureza destas
fontes e, a partir delas, relacionamos as fontes e temáticas de pesquisa, demonstrando as
tendências e, ao mesmo tempo, a pluralidade do que foi abarcado a partir das imagens visuais.
Gráfico 22: Fontes
As quatro primeiras formas de imagens visuais que serviram de fonte, em tons de azul,
dizem respeito ao universo audiovisual: 17 pesquisas fazem parte deste conjunto78; em lilás
estão os trabalhos que utilizaram fotografias79; em verde e vermelho, estão duas formas que
englobam imagens de diferentes suportes técnicos, mas que são ligadas por uma característica
de estilo e contexto de produção, iconografias e imagens de movimentos artísticos,
respectivamente80; por fim, a coluna marrom refere-se a pesquisas que fizeram análise sobre
HQs.81
Sobre o primeiro conjunto, audiovisual, de forma mais minuciosa encontramos cinco
diferentes tipos de obras audiovisuais que serviram de fonte para a produção de conhecimento
78
Esteves, 2007; Esteves, 2013; Guedes, 2011; Guedes, 2016; Krause, 2011; Krause 2016; Quinsani, 2010;
Quinsani, 2015; Archangelo, 2007; Archangelo, 2015; Faria e Silva, 2011; Faria e Silva, 2016; Pavam, 2011;
Pavam, 2017; Cardoso, 2007; Silva, 2013; Santos, 2014.
79
Lopes, 2010; Lopes, 2014; Rattes, 2010; Ferrer, 2010; Ferrer, 2016.
80
Maia, 2010; Maia, 2014; Fernandes, 2013; Fernandes, 2017; Saturnino, 208; Saturnino, 2013; Nunes, 2011,
Nunes, 2016; Bohrer, 2015; César, 2010; César, 2014; Silva, 2009; Silva, 2015.
81
Guerra, 2011; Guerra, 2016.
93
82
Curiosamente, uma forma de produção audiovisual que não foi abordada em nenhuma das pesquisas são os
videoclipes, importante forma de produção cultural contemporânea.
94
Como o cinema nunca se constituiu como indústria e sempre foi atividade marginal
da cultura brasileira até os anos 1930, não existiu propriamente uma consciência de
que havia uma memória a ser preservada. A Cinemateca Brasileira, ligada hoje ao
Ministério da Cultura, teve sua origem no Clube de Cinema de São Paulo em 1940,
fundado por jovens estudantes do curso de Filosofia da USP, entre eles, Paulo Emilio
Salles Gomes, Décio de Almeida Prado e Antonio Candido de Melo e Souza. No
entanto, sua história é marcada por dificuldades e sucessivas crises, típicas de um país
pouco afeito ao investimento maciço na preservação de sua história, que impediram a
constituição de um acervo maior e mais representativo de tudo que foi produzido até
hoje. Porém, se atualmente essas imagens existem, devemos sua existência à
cinemateca. Como dizia Paulo Emilio “não há cultura sem perspectiva histórica, e
como conhecer a história do cinema se os filmes não foram preservados?”
(MORETTIN, 2014, p. 61).
83
Cf. também MORETTIN, Eduardo Victorio. Acervos fílmicos, imagem-documento e cinema de arquivo:
cruzamentos históricos. In: BRANDÃO, Alessandra S.; SOUSA, Ramayana L. de. (orgs.). A sobrevivência das
imagens. Campinas: Papirus, 2015. p. 87-102.
95
produções mais recentes que foram filmadas já com câmeras digitais, encontram-se
materialmente em outros formatos. Podem estar em DVD, em cartões de memória, em HD
(Hard Disks, ou Disco Rígido), arquivadas em sites online ou disponíveis de alguma forma na
internet, sobrevivendo na memória de grandes servidores ou de outros computadores. Estas
últimas, formas mais abstratas de sobrevivência material, tendo em vista que podem ser
acessadas por diferentes aparelhos eletrônicos, no entanto, sem rastrearmos seu espaço físico
como eram as películas. Em outras palavras, hoje as produções audiovisuais podem circular e
ser reproduzidas com muito mais facilidade, até mesmo de forma simultânea em diferentes
espaços, sem parecer importar sua existência original única.
Penso que este seja um sintoma digno de preocupação revelado pela análise das
pesquisas: as poucas discussões sobre a materialidade das obras audiovisuais, que, aliadas ao
contexto atual de ataque à preservação dos bens culturais (como a produção fílmica conservada
pela Cinemateca), pode vir a se tornar um sério déficit para a historiografia brasileira e suas
fontes documentais audiovisuais. Assim como se faz necessário, em se tratando das formas de
produção e circulação mais recentes, um maior esforço interdisciplinar e de conhecimentos
técnicos para compreender a arqueologia dessas fontes e as implicações e processos históricos
ligados a elas, principalmente no tão novo formato digital.
Ademais, os historiadores expressaram muito bem outras características e preocupações
oriundas das fontes audiovisuais. Entre estas últimas, podemos enumerar algumas:
metodologias de análise fílmica; identificação das representações feitas sobre o passado;
investigações sobre a recepção dos filmes e sobre as circunstâncias que apresentam; os agentes
formadores das obras audiovisuais (formas de fomento, diretores, atrizes e atores, demais
membros/cargos da equipe); breves análises sobre a história do cinema e da televisão; local de
produção e distribuição dos filmes; contexto histórico no momento de produção; contexto
histórico do que é representado; a produção audiovisual como disputa simbólica de poder; no
mesmo viés, as ligações entre cinema, política e propaganda; relação entre cinema e história
engendrando um debate teórico-metodológico e historiográfico. Em diferentes medidas, todas
as pesquisas se preocuparam com estes fatores.
Em relação às pesquisas que analisam uma filmografia brasileira, particularmente, há
um destaque especial para a diretora ou diretor de cinema e como a trajetória pessoal, política,
artística e gênero influenciaram e ainda influenciam na produção e circulação do produto final.
A maior parte das diretoras e diretores analisados são ligados a movimentos políticos de
esquerda, atravessados pelo combate/resistência à ditadura militar brasileira e
experienciaram/constituíram movimentos como o Cinema Novo e o Cinema Marginal.
96
84
Esteves, Flavia Cópio. "Sob" Sentidos do Político: história, gênero e poder no cinema de Ana Carolina (Mar
de rosas, Das tripas coração e Sonho de valsa, 1977-1986). 2007. Dissertação (Mestrado em História) -
Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2007.
ESTEVES, FLAVIA COPIO. REINVENTANDO O POLÍTICO NAS TELAS: Gênero, memória e poder no
cinema brasileiro (décadas de 1970 e 1980). 2013. Tese (Doutorado em História) - Universidade Federal
Fluminense, Niterói, 2013.
97
Quando tomamos os trabalhos que se utilizam das fotografias como fonte histórica,
podemos perceber a permanência destes temas transversais. Porém, tomados com uma sensação
diferenciada, qual seja, a de dar a ver o outro (sujeitos, povos e regiões) que ainda era
“desconhecido”. Se nos trabalhos sobre cinema os sujeitos marginalizados são vistos e
protagonizam as histórias, na fotografia eles são os objetos de captura: importa mais saber a
relação entre o fotógrafo e o fotografado, porque um é dado a ver enquanto o outro é o detentor
do equipamento fotográfico, e porque o utiliza.
Dentro da amostragem Continuidade de Pesquisas, seis foram os trabalhos que se
utilizaram das fotografias como fonte histórica86. Temporalmente, um trabalho se referia ao
século XIX, dois sobre o início do século XX e outros dois sobre o final do século XX. Em
relação aos recortes geográficos, três se referiam ao Brasil, um sobre o Brasil Império e outro
sobre narrativas fotográficas no Brasil e nos países da América Latina. Foi possível perceber
que, ao trabalharem com as fotografias, os historiadores engendraram como um aspecto de
suma importância a investigação sobre a motivação que levou os fotógrafos a produzirem tais
imagens, com destaque para três principais: fotografias produzidas para reportagens em jornais
e revistas (fotojornalismo); fotografias de exploração de terras e povos, caracterizando
fotografias de cunho etnocêntrico e antropológico; e fotografias realizadas com o intuito de
serem apreciadas enquanto objetos artísticos.
Estendendo a análise para a Amostragem Geral, a preocupação em relação aos motivos
da criação de visualizações por meio das fotografias continuou sendo uma chave de leitura
principal. O fotógrafo possui o poder de criar e manipular imagens, e as cria em função de
algum objetivo subjacente à sua prática. Desta forma, os processos de visualização por meio
das fotografias importam tanto pelas imagens que dão a ver, criando possibilidades do
85
JUNIOR, Francisco das Chagas Fernandes Santiago. IMAGENS DO CANDOMBLÉ E DA UMBANDA:
etnicidade e religião no cinema brasileiro nos anos 1970. 2009. Tese (Doutorado em História) - Universidade
Federal Fluminense, Niterói, 2009.
86
Um deles não pode ser lido, pois não possuía circulação permitida pelo autor.
98
87
RATTES, Cecília Luttembarck de Oliveira Lima. Retratos do Outro: as fotografias antropológicas da
Expedição Thayer e da Comissão Geológica do Império do Brazil (1865-1877). 2010. Dissertação (Mestrado em
História) - Universidade Federal De Minas Gerais, Belo Horizonte, 2010.
99
88
FERRER, Monica Villares. Arte fotográfica e liberdade de expressão: um diálogo entre Brasil e Cuba. 2010.
Dissertação (Mestrado em História) - Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2010. FERRER, MONICA
VILLARES. Feito na América Latina 1978: Teoria e Imagem Um debate Reflexivo sobre a Fotografia da Nossa
América. 2016. Tese (Doutorado em História) - Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2016.
100
crítica feminista presente em todas elas, centrando sua análise nas poéticas visuais das artistas,
que, abordando o corpo feminino e gênero, criaram imagens desestabilizadoras em relação à
“imagem” da mulher idealizada, tanto em períodos anteriores quanto atualmente. Nas palavras
da autora, “não se trata apenas de contar uma história de mulheres artistas, mas de contá-la por
meio dos desvios e rupturas gerados por suas imagens feministas”, pois “suas poéticas visuais
reelaboram importantes pautas políticas, como o preconceito sexual e racial, a violência
doméstica e o imperativo do corpo belo e jovem” (SATURNINO, 2008, p.18). As obras visuais,
no caso, são instalações, performances, objetos, desenhos e fotografias; assim, o enfoque não
recai necessariamente na análise material das imagens, de seus suportes, mas sim no processo
mais complexo da formatação de estéticas que competem com outras visões de mundo.
Os outros quatro trabalhos elencados neste grupo formam um nicho específico de
pesquisas que se preocuparam em analisar o desenvolvimento de uma Cultura Visual formatada
nos parâmetros estéticos do Realismo Socialista, vertente artística oficial do regime socialista
soviético entre 1934 e 1956.89 Na dissertação e na tese de Rafael Reis Maia, defendidas no
PPGHIS - UFRJ, o autor utiliza-se das imagens produzidas pelos artistas soviéticos para
expressar a consonância destes com o programa político para as artes pretendido pelo Realismo
Socialista, desmembrando as vanguardas Futuristas e Construtivistas. As imagens criadas,
segundo o autor, expressaram a experiência moderna da Rússia Contemporânea, adequadas e
sincronizadas a uma proposta ideológica marxista, segundo a qual a arte deveria fazer uma
representação “realista” da realidade e expressar uma posição social. O autor evidencia a
importância da criação dessas imagens como um esforço em prol da formação de uma cultura
soviética que transformasse o que se conhecia enquanto arte: “aqui se presume poder observar
em uma determinada produção artística vestígios relativos às circunstâncias sociais que
permearam a sua criação, porém igualmente se reconhece a capacidade de tal produção,
enquanto ação social, de interferir sobre tais circunstâncias” (MAIA, 2014, p. 15). Ou seja, a
nova vertente artística tinha por pretensão não somente representar o mundo, mas de
reapresentá-lo de forma a interferir no mundo social.
Na dissertação e na tese de Karina Pinheiro Fernandes, defendidas no PPGHIS- UFRJ,
por sua vez, pode-se perceber os desdobramentos da Cultura Visual criada a partir do Realismo
Socialista na produção dos artistas brasileiros. Na dissertação, a autora analisa as ilustrações
presentes no jornal Tribuna Popular, ligado ao PCB, nas quais os artistas “adaptaram” a estética
89
As quatro pesquisas foram desenvolvidas no PPGH da UFRJ, e três delas foram orientadas pela Profa. Dra.
Andrea Casa Nova Maia.
101
da vertente artística socialista para o público brasileiro, com o intuito de fortalecer a ideologia
para os leitores por meio das imagens. Em sua tese, a autora amplia as fontes, incluindo também
outras mídias (cartazes e pinturas) produzidas pelos artistas vinculados ao PCB e evidencia a
militância destes através de suas obras. Em suma, nos quatro trabalhos, os pesquisadores
abordaram a formação de uma concepção comunista de arte, que tinha por objetivo não somente
dar a ver o mundo através de uma estética socialista, mas também de cooptar os espectadores
por meio das imagens.
Abrangendo a análise também para as pesquisas da Amostragem Geral, é característico
dos historiadores que se debruçaram sobre as “Imagens de movimentos artísticos” uma ampla
problematização sobre os Estudos Visuais, tendo em vista a formação de Culturas Visuais a
partir do contexto das obras e da alteração desses mesmos contextos por influências das obras
visuais.
Quanto aos trabalhos que se debruçaram sobre as fontes iconográficas, há aqui um
deslocamento nos recortes temporais abordados, uma vez que a maior parte das pesquisas não
recai sobre o século XX, mas sobre períodos anteriores. Esta é uma característica presente em
quase todos os trabalhos que se utilizam de conjuntos iconográficos: a abordagem de períodos
mais distantes, que centram suas análises sobre conjuntos imagéticos já organizados e
sistematizados por museus, coletâneas, galerias de arte e grupos de pesquisa – via de regra, sob
títulos abrangentes como Iconografia Cristã, Iconografia Barroca, Iconografia Egípcia,
Iconografia Ateniense, apenas para citar alguns exemplos. Também é característico deste
conjunto, em termos de materialidade dos objetos imagéticos, a ausência de suportes
tecnológicos/digitais como nas fotografias e no cinema, pois se trata quase sempre de imagens
elaboradas à mão por artistas ou artesãos. Entre as pesquisas destacadas, as fontes iconográficas
encontravam-se em suportes como quadros, retábulos, cerâmicas, tapeçarias, vitrais, afrescos e
azulejos.
Feito o preâmbulo acima, baseado em nossas fontes documentais, cabe apresentar um
breve debate sobre a palavra “iconografia”, a fim de melhor definir esta categoria enquanto
grupo/conjunto de fontes destacado no gráfico. Pelo que foi possível observar ao longo da
pesquisa com as teses e dissertações e em uma diversa bibliografia, “iconografia” ganhou
muitos sentidos diferentes, porém, é empregada na maioria das vezes como uma palavra sobre
a qual todos os leitores compartilham de um mesmo entendimento, na medida em que os
pesquisadores não se preocuparam em defini-la ou descrevê-la. De modo geral, podemos
descrever três formas diferentes de seu uso: iconografia como conceito histórico; iconografia
102
como forma metodológica; iconografia como nome de um conjunto, acompanhada por adjetivo
que a qualifica.
A iconografia como conceito histórico foi entendida principalmente a partir de sua
etimologia. Segundo Eduardo França Paiva, “a origem do termo é grega. Ele deriva da palavra
eikón, que significa imagem, e graphía, que significa descrição. Daí eikongraphía, que se
transformou em iconographia no latim, transformando-se em iconografia no português”
(PAIVA, 2002, p. 14). Sendo assim, a iconografia seria tanto a fabricação de imagens em um
determinado suporte, sua materialização, sua descrição em um objeto físico, quanto a dimensão
da representação, da criação de símbolos que significam coisas.
De encontro ao último sentido descrito está o entendimento de iconografia enquanto
metodologia quando se fala de Análise Iconográfica, ou seja, da identificação dos elementos
visuais presentes nessas “coisas” que foram talhadas em algum suporte, o que elas significam,
o que comunicam, o que representam, inserindo-as em contexto com outras fontes do mesmo
período para poder dar-lhes nome e sentido, para a partir delas ser possível uma descrição e
narrativa. A iconografia entendida como metodologia possui embasamento da Semiótica, mais
recorrentemente da descrição feita por Erwin Panofsky. Este último propunha uma metodologia
na qual a iconografia seria a segunda fase de análise de uma imagem, que ao todo seriam: pré-
iconográfica, iconográfica e iconológica. 90
Por fim, a iconografia também foi empregada como título dado a um conjunto de
imagens. Funcionando como o sujeito de um advérbio adnominal que a qualifica, conforme
ressaltado anteriormente, ficaria sendo a iconografia de alguma coisa – iconografia cristã,
iconografia persa –, e assim por diante. Esta foi a forma mais empregada pelas historiadoras e
historiadores, demonstrando uma simplificação do termo e, assim, corroborando com a
conclusão exposta por Meneses:
90
De acordo com Meneses, a descrição destes níveis de análise são: pré-iconográfico é basicamente descritivo e
se fundamenta na experiência cotidiana complementada pelo conhecimento de repertórios para definir informação
factual, bem como expressiva. Assim, aqui se identificam pelas formas os objetos (seres humanos, animais, coisas)
e as relações primárias, que podem construir os eventos, por exemplo, o significado de um chapéu ou de um aperto
de mão. Iconográfico: “trata-se das significações secundárias, das convenções, fórmulas, motivos artísticos, temas
e conceitos. Entre as referências necessárias está o conhecimento de outras imagens da época e o ‘patrimônio
cognitivo’ do observador. Duas mulheres trazendo respectivamente um ramo de oliveira e uma balança, e coroando
um rei só podem representar paz e justiça”; Iconológico: “O visível é sintoma do invisível, e todo objeto, toda
imagem significam mais do que a aparência e podem conduzir à circunscrição de um inconsciente coletivo, uma
cosmovisão, um espírito da época. Como sentido intrínseco ou conteúdo que se pode apreender a atitude básica de
uma nação, um período, uma classe, uma religião, uma filosofia etc” (MENESES, 2012, p. 245).
103
91
Vide exemplos discutidos sobre as pichações no capítulo anterior.
104
do que se vem estudando na historiografia a partir desse objeto. Isso pode ser afirmado com
base na comparação com a Amostragem Geral, pois setenta por cento dos trabalhos com tais
fontes tiveram o mesmo leitmotiv: Histórias em Quadrinhos de Super-Heróis da Marvel Comics
e/ou DC Comics; história dos EUA; Segunda Guerra Mundial; Guerra Fria; em suma, o
universo fantástico baseado no contexto político e cultural dos eventos contemporâneos,
principalmente da segunda metade do século XX até os dias atuais.
É característico destas pesquisas uma ampla concentração sobre as condições de
produção e circulação de suas imagens, imbricadas ao conceito de Indústria Cultural e
Representatividade, em razão de serem produzidas no despontar da principal nação capitalista
do mundo e visarem o lucro por meio do entretenimento. Portanto, a demanda das
representações imagéticas e narrativas nas HQs se destinava ao grande público e mudava
conforme a satisfação do mercado consumidor, ficando clara a posição da arte como produto
econômico do capitalismo. Também é comum o emprego do conceito de Imaginário, porém,
sem muita discussão, significando em geral um repertório de imagens criadas para compor
narrativas fantásticas que possuem um paralelo com fatos e pessoas reais; por isso, seriam
representativas da imaginação de uma sociedade figurada através dos quadrinhos e sujeita a
diversas interpretações.
No trabalho de mestrado e de doutorado de Fábio Vieira Guerra, defendidos no PPGH-
UFF, fica evidente a noção de Representatividade por meio das imagens nas Histórias em
Quadrinhos dos super-heróis da Marvel. O autor demonstra – conectando os fatos históricos, as
mudanças na sociedade e o público leitor – como as imagens e narrativas dos quadrinhos se
modificaram no decorrer do século XX a fim de ter uma maior empatia com o público. Durante
a Segunda Guerra até a década posterior, segundo o autor, os super-heróis dos quadrinhos eram
brancos, possuíam uma moralidade inquestionável, dirigiam-se à juventude e apoiavam a
guerra, sendo que, além da juventude, também eram leitores os ex-combatentes. Em período
posterior, com o advento da Guerra Fria, as noções de nacionalismo estadunidense e de combate
ao inimigo comunista se ampliam. Já no século XXI, há uma transformação maior na imagem
e na história dos personagens, de modo a contemplar a representatividade exigida pelo público
leitor, acompanhando as mudanças na sociedade. Assim, o autor identifica novas características
advindas da crítica feminista, do combate à discriminação racial, da abertura para a visualização
de homossexuais, do aparecimento e ganho de maior atenção para personagens de outras
nações. Em suma, “ainda que marcada pelo fator mercadológico, suas narrativas funcionam
como crônicas políticas e sociais que representam o contexto de uma época” (GUERRA, 2012,
p. 438).
105
Por fim, ainda seria possível uma discussão no seguinte sentido: as Imagens Visuais
atualizaram a História ou a História é atualizada pelas Imagens Visuais? As imagens
atualizaram a História, pois a partir delas emergiram possibilidades de investigação diferentes
das oferecidas pelos documentos escritos, trazendo, obviamente, temas sobre o período
contemporâneo – quando ocorreu sua maior proliferação –, mas também um novo olhar sobre
temas já conhecidos. Ao mesmo tempo, as histórias são atualizadas pelas imagens, pois nestas
o passado é dado a ver, toda vez que olhadas por um espectador. As imagens visuais carregam
o peso da representação e o sulcado temporal de sua própria materialidade, sendo portanto,
duplamente História.
107
92
Utilizamos aqui os termos “afinidade” e “simpatias” como sinônimo para pessoas que se conhecem devido à
rede que estamos descrevendo. Pois, pensando em outro sentido, também existem “não-afinidades” e antipatias:
discordâncias que também fazem parte destas redes, e que contribuem para sua ampliação e aprofundamento.
109
93
Este número é aproximado, pois alguns autores se repetem; assim, fez-se uma estimativa subtraindo-se metade
da quantidade dos autores das Continuidades de Pesquisa.
110
94
KNAUSS, Paulo. Imaginária urbana e poder simbólico: escultura pública no Rio de Janeiro e Niterói. 2008.
Tese (Doutorado em ??) – Universidade de ????, 1998.
111
95
Neste mesmo artigo há também outra consideração que corrobora com o mesmo discurso feito por Knauss nos
anos 2000: “[...] escassa ou nenhuma atenção dos historiadores no que se refere à imagem. É frequente verificar
que Teses e outros estudos pretensamente exaustivos ignoram ou indicam secundariamente o universo de
fotografias, caricaturas e outras imagens ali contidas” (SILVA, 1992, p. 117).
96
Este foi um dos vídeos produzidos: Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=hk0scx8oyzo. Acesso
em: 19 out. 2020.
112
Foi uma trama geracional observada nas tabelas e análises realizadas até aqui que nos
levou a destacar o nome da professora Iokoi. Ela orientou o professor Maurício Cardoso, que
estudou as relações entre Cinema e História a partir da análise dos filmes dos diretores Leon
Hirszman e Glauber Rocha, durante o mestrado e o doutorado; depois, Cardoso se tornou
professor da USP e continuou orientando trabalhos cujas fontes audiovisuais eram caras às
pesquisas. Assim, ainda que não tenha se dedicado diretamente ao tema, Iokoi possibilitou que
intelectuais e pesquisas fossem desenvolvidos levando em conta a relação História e Imagem
no PPGHS da USP.
Como indicado, os três professores ora mencionados fazem parte dos PPGH analisados
nesta pesquisa. Há, entretanto, alguns pesquisadores que, mesmo sem fazer parte dos programas
que compõem o recorte desta dissertação, se destacam por terem sido fundamentais na formação
dessa historiografia – seja por terem sido coordenadores de simpósios temáticos, seja por
estarem presentes nas bancas dos trabalhos que compõem a amostragem Continuidade de
Pesquisas, indicando seu envolvimento nesta rede intelectual. Elas e eles são: Luciene
Lehmkuhl (UFPB), Jens Michael Baumgarten (UNIFESP), Maria de Fátima Morethy Couto
(UNICAMP), Mônica Almeida Kornis (CPDOC/FGV) e Eduardo Victorio Morettin (USP).
Luciene Lehmkuhl atualmente é professora do Curso de Design da UFPB e professora
do Programa Associado de Pós-Graduação em Artes Visuais UFPB/UFPE. Sua trajetória pode
ser considerada interdisciplinar quanto às suas formações, e foi acolhida por diferentes
universidades. Lehmkuhl fez graduação em História na UFSC, graduação em Educação
Artística e Artes Plásticas na UDESC, mestrado em História pela UFSC e doutorado em
História pela UFSC, com período sanduíche na Universidade Nova de Lisboa. Como
professora, faz a orientação de diversos estudantes envolvendo a área da História do Design, a
História da Cultura e o estudo das Artes, promovendo uma interdisciplinaridade e mobilizando
as ferramentas da História para a área das Artes Visuais e Design. No sentido contrário,
participou das bancas de avaliação dos trabalhos em História e atuou nos ST dos SNH, de onde
vem sua principal ligação com a rede ora citada.
Em 2007 e 2009 Lehmkuhl coordenou simpósios sobre Imagens da Arte no encontro
dos historiadores em parceria com o professor Paulo Knauss, abarcando trabalhos interessados
em pensar as fronteiras entre a História das Imagens e a História da Arte. Ela também participou
das bancas de defesa de alguns orientandos de Knauss, reafirmando a simpatia e a afinidade
intelectual entre ambos. Outra importante intelectual para esta rede foi sua orientadora de
mestrado e doutorado, a professora Maria Bernardete Ramos Flores, que também foi por
diversas vezes coordenadora de simpósios temáticos, ora junto com Lehmkuhl, ora com a
113
97
MORETTIN, 2014, p. 61
116
98
Dávilla é professor da pós-graduação em Multimeios da Unicamp e da graduação em Cinema e Audiovisual da
Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila). Sua formação é internacional, tendo passado por
universidades no Chile, na França e no Brasil.
117
particular deles, também acabou por aproximá-los de pesquisas que envolvem História e
Imagem.99
Cristina Meneguello e Iara Schiavinatto, pelo contrário, possuem amplos estudos sobre
Cultura Visual. Ambas participam do GT História, Imagem e Cultura Visual, que promoveu
simpósios em todos os anos do SNH aqui analisados, sob a coordenação revezada entre elas e
outros participantes do GT, como Charles Monteiro (PUC-RS), Flavia Galli Tatsch (Unifesp),
Francisco Das Chagas F. Santiago Jr. (UFRN) e Helouise Lima Costa (MAC-USP). O trabalho
do grupo tem ampliado os estudos sobre Cultura Visual, promovendo comunicações, eventos,
mobilizando dossiês temáticos e fazendo a organização de coletâneas sobre Cultura Visual.
Meneguello é professora do departamento de História e atua também no curso de
Arquitetura e Urbanismo da Unicamp. Ela fez sua graduação, mestrado e doutorado em História
nesta mesma Universidade, com período sanduíche na Universidade de Manchester, e também
possui dois pós-doutorados, um pela Universidade de Veneza e outro pela Universidade de
Coimbra. Foi coordenadora do ST de Cultura Visual em 2005, 2009 e 2011, e em 2013 publicou
o artigo “Cultura Visual: um campo estabelecido”100, no qual enfatiza o assentamento das
pesquisas em Cultura Visual na historiografia brasileira. Foi orientadora de uma dissertação e
duas teses presentes na Amostragem Geral, as quais tinham por fonte imagens de revistas
ilustradas, fotografia e monumentos. Sua principal linha de pesquisa é “Cultura Visual, História
Intelectual e Patrimônio”, cujos estudos buscam desnaturalizar as imagens ao mesmo tempo em
que enfatizam os processos de rememoração e esquecimento intrínsecos às representações, bem
como as manifestações visualmente presentes nos patrimônios.
Meneguello ainda fundou o Comitê Brasileiro de Preservação do Patrimônio Industrial
e realiza e orienta pesquisas que articulam patrimônio e memória. Na pós-graduação em
História da Unicamp, atua na linha de pesquisa “Visualidades, Políticas de Memória e Questões
do Contemporâneo”, da qual também fazem parte a professora Schiavinatto e o professor José
Alves de Freitas Neto101. Parte do escopo da linha é questionar as condensações de sentido
aderidas às representações visuais historicamente constituídas.
99
O professor Arnaldo Daraya Contier faleceu em 2019. Marcos Napolitano, que foi seu aluno de graduação,
publicou a seguinte nota a seu respeito: https://anpuh.org.br/index.php/2015-01-20-00-01-
55/noticias2/diversas/item/5556-nota-sobre-arnaldo-daraya-contier-1941-2019-por-marcos-napolitano.
100
MENEGUELLO, C. Cultura Visual: um campo estabelecido. Cadernos de História (UFOP. Mariana), v. 2,
p. 8-18, 2013.
101
José Alves de Freitas Neto foi orientador de 5 pesquisas presentes na Amostragem Geral; entre elas há o uso
de fontes como o cinema, histórias em quadrinhos e imagens de imprensa.
118
102
Não foi possível encontrar mais informações sobre o Seminário, nem ao referido, nem ao anterior ou
posteriores. Os sites encontram-se indisponíveis.
103
SCHIAVINATTO, Iara Lis Franco; Eduardo Costa (org.) . Cultura Visual & História. 1a. ed. São Paulo:
Alameda, 2016. v. ebook. 342p .
119
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As imagens podem não ser os documentos mais comuns aos historiadores brasileiros;
entretanto, em face a todo o exposto, é inegável a presença e a relevância das fontes visuais na
historiografia produzida no país nas últimas duas décadas. Mais do que isso, existem esforços
entre historiadoras e historiadores para promover esta prática historiográfica. Exemplos de tais
esforços são as comunicações feitas nos simpósios temáticos dos SNH; a formação de grupos
de pesquisa; o incentivo a essas investigações nas linhas de pesquisa dos Programas; a produção
de eventos específicos sobre essas temáticas; a organização de coletâneas que reúnem pesquisas
sob o tema História e Imagem. E, sobretudo, a escrita de dissertações e teses com tais fontes
nos Programas de Pós-Graduação.
Permear esta consolidação, entretanto, é uma tarefa que não se esgota. À guisa de
conclusão, procuraremos relacionar alguns aspectos, a saber: como a imagem foi entendida
como fonte histórica; quais as características da historiografia que toma este tipo de
documentação como fonte; o que esta historiografia informa; como pensar as próprias
dinâmicas da historiografia; quem informou estas pesquisas e por meio de quais referências.
O mais tenro debate se instaura em torno de dois fatores: a própria concepção teórica
sobre o que são as imagens e a perturbação causada por elas nas esferas culturais e sociais. Em
vista à análise feita sobre as teses e dissertações produzidas nos Programas brasileiros, pudemos
perceber que a preocupação das pesquisas recai mais sobre o segundo fator do que sobre o
primeiro.
A percepção sobre o que são as imagens ainda é informada por poucos historiadores,
sendo mais debatida entre filósofos, historiadores da arte e sociólogos, e se iniciou em âmbito
internacional a exemplo das chamadas “viradas visuais”. Dentre as pesquisas analisadas, as
preocupações teóricas em torno da natureza mesma da imagem não são questões centrais, por
este motivo, optamos por nos referir às fontes destes trabalhos como “Imagens Visuais”,
seguindo a nomenclatura adotada por autores como Knauss (2008) e Pereira (2016). Por
imagens visuais entende-se que estes objetos são imagens figurativas, inscritas sobre inúmeros
suportes e que nelas ocorre o fenômeno da representação de algo, que carrega um significado e
este significado é informado através do visual. Sobre essas duas instâncias, em variados níveis,
recaem as análises históricas: considerando a materialidade dos suportes e os significados da
representação visual.
Os trabalhos realizados nas teses e dissertações analisadas recaem, portanto, sobre a
perturbação causada pelas imagens no cultural e social, que são sintomas de sua historicidade.
120
Estes sintomas foram investigados por meio da percepção de que as imagens foram produzidas
por alguém, para serem vistas por outras pessoas. Deste processo resultam inúmeras
interpretações e efeitos; a imagem é moldada por indivíduos ou grupos que fazem parte de uma
sociedade e cultura. Ao existir, as imagens tomam dimensões próprias, que transcendem sua
motivação inicial de existência, transformando o espaço cultural e social, dando a ver aspectos
de uma historicidade, que é ressignificada por quem criou as imagens, por quem as viu e pelos
contextos em que foi apresentada ou reproduzida aos espectadores.
Estes fatores, em diferentes medidas, foram analisados pelos historiadores. Foi
característico a estes trabalhos uma análise interna e externa das fontes, avaliando seu contexto
de produção, contexto de exibição, autoria, motivações e circulação, as razões, sentidos das
imagens e crítica desses elementos. A análise material das fontes foi feita em menor medida,
tendo em vista que a maior parte foi acessada de forma digital e não em contato com a existência
material do suporte da imagem, principalmente em relação às fontes audiovisuais. Por outro
lado, algumas pesquisas também são fruto da organização de coleções imagéticas ou de grupos
de pesquisa que organizam, digitalizam e catalogam materiais iconográficos.
A face geral deste conjunto historiográfico possui alguns contornos marcantes em
relação ao que nos informa e suas predileções. Foi possível constatar, a partir da Amostragem
Geral, que o recorte temporal recai principalmente sobre os séculos XIX e XX, prevalecendo o
século XX, que abarcou quase 50% das pesquisas, já o século XIX cerca de 12%. Em relação
aos recortes espaciais, a maior parte se refere ao Brasil, somando 64% das teses e dissertações.
As imagens visuais analisadas foram diversas, entretanto, houve uma maior incidência sobre as
produções audiovisuais, que somam 21% das pesquisas, e sobre as fotografias, que foram
analisadas em 18% dos trabalhos. Em seguida, destacam-se a análise de objetos de categorias
mais diversas, mas que em suma são conjuntos iconográficos específicos, englobando imagens
sob diferentes suportes, ligados por características estéticas em comum.
Estas mesmas características se repetem na amostragem mais específica — a
predominância do recorte sobre o século XX; recorte espacial sobre o Brasil; análise dos
documentos audiovisuais e fotografia —, reforçando os traços desta práxis historiográfica. Tal
fato torna viável a hipótese de que mesmo que outras fontes fossem escolhidas para constituir
a base de dados, estes ainda seriam os principais contornos sobre os quais se assentam as
pesquisas com imagens na historiografia brasileira. Lembrando que se tratam de pesquisas
“com” imagens, que pensam a partir delas, que as utilizam de fato como fontes históricas e não
empregadas apenas como ilustrações dos conteúdos escritos.
121
104
Consultando o site dos eventos encontramos: Rodrigo Patto Sá Motta; Solange Lima Ferraz; Renato Luiz Couto
de Neto e Lemos; Luciene Lehmkuhl; Annateresa Fabris; Jens Baumgarten; Ulpiano Toledo Bezerra de Meneses;
Marcos Silva; Bóris Kossoy; Jorge Luiz Nóvoa; Ismênia Lima Martins; Eduardo Morettin; Mauricio Linovsky;
Maria Inês Turazzi e Iara Lis Schiavinatto.
122
Esses eventos tiveram como coordenador geral em suas quatro primeiras edições o
professor Alberto Gawryszewski (UEL), o qual promovia estudos sobre imagens da imprensa
ilustrada durante o período republicano brasileiro. Também contou com a organização geral e
coordenação de três professoras em todos os anos: Angelita Marques Visalli (UEL),
coordenando os simpósios sobre imagens religiosas; Ana Heloísa Molina, que coordenou os
eixos sobre artes, e Terezinha Oliveira, que coordena os simpósios sobre imagem e educação.105
A existência desses dois eventos demonstra a consolidação do estudo das imagens nas ciências
humanas, é significativo do ponto de vista da formação e comunicação entre os pesquisadores
que analisam imagens, valorizando uma posição interdisciplinar e internacional.
As revistas acadêmicas também são um espaço que demonstra a consolidação entre
História e Imagem na historiografia brasileira. Um espaço de comunicação e divulgação
científica importante foi feito por meio da revista O Olho da História: revista de teoria, cultura,
cinema e sociedades. O editor geral da revista é Jorge Nóvoa, importante pesquisador da área
de História e Cinema conforme já demonstrado na tessitura das redes intelectuais. A revista é
uma publicação da Oficina Cinema e História, do Grupo de Produção e Pesquisas de Imagens
e Representações das Formas de Consciência e Processos, vinculada à Faculdade de Ciências
Humanas e Filosofia da UFBA.
O evento ENEIMAGEM e a revista O Olho da História são movimentos específicos da
historiografia de aprofundamento do debate e comunicação sobre o universo das imagens e
imagens em movimento. Entretanto, a consolidação também ocorre em outros espaços que não
se dedicam exclusivamente ao estudo das imagens. Realizamos um levantamento nas revistas
de História ligadas aos seis Programas analisados, nos números publicados entre 2007 e 2020.
São elas: Varia História; Anos 90; Topoi; Revista de História Social e Revista de História. Em
todas pudemos notar a presença de pesquisas que se referem à temática História e Imagem.106
A Varia História é ligada ao PPGH-UFMG, possui publicações desde 1985. No período
recortado, houve quatro dossiês de destaque para nossa temática: A História nos Velhos Mapas,
de 2007, trazendo artigos que trabalharam com imagens cartográficas, apresentados por Júnia
Ferreira Furtado; dois referiam-se à Arte e foram apresentados por Magno Moraes de Mello,
História da Arte, de 2008, e Arte e Ciência: um processo operativo, de 2016; o dossiê
105
Também fizeram parte da coordenação geral, em alternados anos: Rogério Ivano (UEL); Richard Gonçalves
André (UEL) e Edméia Aparecida Ribeiro (UEL).
106
A revista “Tempo”, vinculada ao programa da UFF, também entraria nessa relação, entretanto, no momento
da pesquisa, o site encontrava-se em reformas e não foi possível o acesso aos números anteriores da revista.
123
107
Cf. Anexo 6
108
A Anos 90 é ligada ao PPGHIST- UFRGS e é publicada desde 1993. Para ver os artigos destacados consultar
o Anexo 7.
109
Todos os artigos e resenhas destacados estão no anexo 8.
110
Anexo 9.
124
Por fim, na Revista de História, ligada aos programas de História Social e História Econômica
da USP, pudemos destacar três dossiês: Imagem Medieval História e Teorias (2011); Moda e
História (2019) e História e Artes (2020).111
Para além das revistas ligadas aos Programas, também realizamos um levantamento nas
edições da revista de História da Historiografia. Conforme esperado, os artigos que se referem
ao universo das imagens não propunham exatamente uma análise sobre as imagens visuais,
como foi comum à grande maioria das teses e dissertações. Mas sim, sobre aspectos teórico-
metodológicos em torno destes objetos, mais especificamente — corroborando com as resenhas
publicadas na revista Topoi — os artigos debatiam a História Social da Arte proposta por Aby
Warburg e suas inquietações.
Como tentativa final de juntar os fragmentos que compõem este retrato historiográfico,
realizamos uma última pesquisa na amostragem Continuidade de Pesquisas: uma investigação
sobre a bibliografia quantitativamente mais empregada pelas teses e dissertações. Tal
empreendimento teve por finalidade demonstrar a integração entre os professores da rede
intelectual rastreada e a produção feita pelos discentes. Afinal, o processo de orientação não é
algo facilmente rastreável, entretanto, podemos entender que parte da bibliografia empregada
pelas historiadoras e historiadores em suas teses e dissertações foi indicada pelos especialistas
que os orientaram, ou pela bibliografia das matérias cursadas, ou ainda pelas indicações
recebidas ao longo de sua formação acadêmica.
Desta forma, pretendemos vislumbrar, ainda que parcialmente, tendo em vista que os
quadros a seguir foram feitos com base na amostragem mais reduzida, por meio de quais
referências os integrantes da rede intelectual traçada embasaram as teses e dissertações
produzidas.
Para tanto, dividimos essas referências em seis categorias: bibliografia usada como
aporte teórico para os trabalhos; bibliografia empregada na contextualização histórica dos
recortes; bibliografia tomada como referência no estudo das imagens; autores e autoras de
referência no estudo do cinema; autores e autoras de referência no estudo das fotografias;
autores de referência no estudo das Histórias em Quadrinhos. Estes autores, autoras, referências
e bibliografias foram os que apareceram mais frequentemente nos trabalhos da amostragem
Continuidade de Pesquisas.
111
Anexo 10.
125
Tabela 6: Referências
Carlo Ginzburg ● Medo, reverência e terror. São Paulo:
Companhia das Letras. 2014.
● Mitos, Emblemas e Sinais. São Paulo:
Companhia das Letras, 1989.
● O fio e os rastros: verdadeiro, falso,
fictício. São Paulo: Companhia das
Letras, 2007.
E.P. Thompson ● A miséria da teoria. Rio de Janeiro,
Zahar, 1981.
Edward Said ● Cultura e Imperialismo. São Paulo:
Companhia das Letras, 2005.
● Reflexões sobre o exílio e outros ensaios.
SP: Companhia das Letras, 2003.
Jacques Le Goff ● História: novos objetos. Rio de Janeiro:
Francisco Alves, 1976. v. 3.
● História e memória. São Paulo: Editora
da UNICAMP, 2003.
Marc Bloch ● Apologia da história ou o ofício do
historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
2001.
Michael Pollak ● Memória, esquecimento e silêncio. In:
Revista Estudos Históricos, v. 2, n. 3,
1989.
Michel de Certeau ● A Escrita da História. 3. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2013.
Michel Foucault ● As palavras e as coisas. São Paulo:
Martins Fontes, 1995.
Michel Vovelle ● Ideologias e mentalidades. São Paulo:
Brasiliense, 1991.
Mikhail Bakhtin ● Questões de literatura e de Estética (A
teoria do romance). 3 ed. São Paulo:
Unesp, 1993.
Paul Ricoeur ● Tempo e Narrativa Tomo III. 2. ed. São
Paulo: Papirus Editora, 1997.
126
Também apareceram com frequência autoras que trabalham a História das Mulheres e
as relações de gênero, como Michelle Perrot, Simone de Beauvoir, Margareth Rago, Raquel
Soihet, Norma Telles, Joan Scott e Judith Butler.
Já dentre as referências mais presentes na bibliografia das pesquisas que se referem à
contextualização dos recortes, são mais comuns autoras e autores brasileiros:
127
Tabela 7: Referências
Ângela de Castro Gomes ● A invenção do trabalhismo. 3. ed.
Rio de Janeiro: FGV, 2005.
Eric Hobsbawn ● A era dos extremos. 1914-1994
São Paulo: Companhia das letras,
2005.
● O novo século: entrevista com
Antonio Polito. São Paulo:
Companhia das Letras, 2000.
● Tempos fraturados: cultura e
sociedade no século XX. São
Paulo: Companhia das letras,
2013.
Gilberto Velho ● Memória, identidade e projeto.
Projeto e metamorfose.
Antropologia das sociedades
complexas. Rio de Janeiro: Zahar,
1994.
Marcelo Ridenti ● Em Busca do Povo Brasileiro.
Artistas da revolução, do CPC à
era da TV. Rio de Janeiro: Record,
2000.
Marcos Napolitano ● 1964: história do regime militar
brasileiro. São Paulo: Contexto,
2014.
Nicolau Sevcenko ● História, Cultura e representação.
In: Projeto História: Revista do
Programa de Estudos Pós-
Graduados em História e do
Departamento de História da PUC-
SP. São Paulo, dez. 1993.
● Literatura como missão. Tensões
sociais e criação cultural na
Primeira República. 3. ed. São
Paulo: Brasiliense, 1989.
Roberto Schawarz ● Que horas são? São Paulo:
Companhia das Letras, 1987.
(Ensaios).
● Pai de Família e outros estudos. 2.
ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1992.
● Seqüências Brasileiras. São Paulo:
Companhia das Letras, 1999.
(Ensaios).
128
Para este quadro, selecionamos apenas as autoras e autores que foram comuns à maioria
dos trabalhos, tendo em vista que esta parte da bibliografia é a mais extensa entre as pesquisas,
contando com obras específicas de acordo com as temáticas. Também apareceram com
expressividade as obras de Elio Gaspari, Sandra Jatahy Pesavento, Marilena Chaui, Cecília
Azevedo e Ronald Raminelli.
Em relação às autoras e autores utilizados como referência no estudo das imagens,
encontramos um grupo estável, que se repete na maioria dos trabalhos, variando entre
referências sobre a História da Arte e a Cultura Visual:
Tabela 8: Referências
Aby Warburg ● Histórias de fantasmas para gente
grande: escritos, esboços e
conferências. São Paulo:
Companhia das Letras, 2015.
Ana Maria Mauad ● História e Imagem: Os exemplos
da fotografia e do cinema. In:
CARDOSO, Ciro Flamarion;
VAINFAS, Ronaldo
(org.). Domínios da
História: Ensaios de teoria e
metodologia. 5. ed. Rio de Janeiro:
Campus, 1997. cap. 18. p. 300-
320.
Annateresa Fabris ● KERN, Maria Lúcia Bastos (org).
Imagem e conhecimento. São
Paulo: Edusp, 2006.
Audiovisual:
Tabela 9: Referências
Alcides Freire Ramos ● Canibalismo dos fracos: cinema e
História do Brasil. Bauru: Edusc,
2002.
Alex Viany ● Introdução ao Cinema Brasileiro.
Rio de Janeiro: Alhambra, 1986.
● O Processo do Cinema Novo. Rio
Janeiro: Aeroplano, 1999.
André Bazin ● O western ou o cinema americano
por excelência In:
RIEUPEYROUT, Jean Louis.
Belo Horizonte: Itatiaia, 1968.
Eduardo Morettin ● Acervos fílmicos, imagem-
documento e cinema de arquivo:
cruzamentos históricos. In: [S.l:
s.n.], 2015.
● Acervos cinematográficos e
pesquisa histórica: questões de
132
Na Fotografia:
Histórias em Quadrinhos:
Tabela 11: Referências
Álvaro de Moya ● História das Histórias em
Quadrinhos. São Paulo,
Brasiliense, 1996.
136
REFERÊNCIAS
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EDUSP, 1999.
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Graduação e o futuro das relações entre Historiografia, Ensino e Experiência Histórica. Anos
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SCHIAVINATTO, Iara Lis Franco; COSTA, Eduardo Augusto (org.). Cultura Visual e
História. São Paulo: Alameda, 2016. E-book. Acesso em: 06 jan. 2019.
SOUZA, Francisco Gouvea de. Escritas da história nos anos 80: um ensaio sobre o horizonte
histórico da (re)democratização. Anos 90, Porto Alegre, v. 24, n. 26, p. 159-181, dez. 2017.
Sites:
Anexo 1
Tabela de divulgação das notas dos Programas de Pós-Graduação em História. Avaliação 2007
(2004-2006); Avaliação 2010 (2007-2009); Avaliação 2013 (2010-2012); Avaliação 2017
(2013-2016).
145
ANEXO 2
Orientadores “Amostragem geral”
UFF- 29 orientadores
Ana Maria Mauad de Sousa Andrade Essus - 9 teses; 12 dissertações; total 21
Paulo Knauss de Mendonça - 7 teses; 6 dissertações; total 13
Vânia Leite Froés - 3 dissertações; 2 teses; total 5
Alexandre Carneiro Cerqueira Lima - 1 tese; 4 dissertações; total 5
Denise Rollemberg Cruz - 3 teses; 1 dissertação; total 4
Cecília da Silva Azevedo - 4 dissertações
Samantha Viz Quadrath - 3 dissertações; 1 tese; total 4
Martha Campos Abreu - 2 dissertações; 1 tese; total 3
Rachel Soihet - 2 dissertações; 1 tese; total 3
Daniel Araão Reis Filho - 2 dissertações
Adriana Facina Gurgel Do Amaral - 2 dissertações
Laura Antunes Maciel - 1 tese; 1 dissertação; total 2
Angela Maria de Castro Gomes - 1 tese; 1 dissertação; total 2
Renata Rodrigues Vereza - 1 tese; 1 dissertação; total 2
Ciro Flamarion Cardoso - 1 tese; 1 dissertação; total 2
Adriene Baron Tacla - 1 tese; 1 dissertação; total 2
Carlos Augusto Addor - 1 tese; 1 dissertação; total 2
Sonia Regina de Mendonça - 1 tese
Norberto Osvaldo Ferreas - 1 tese
Gladys Sabrina Ribeiro - 1 tese
Jorge Luis Ferreira - 1 tese
Marcelo Badaró Mattos - 1 tese
Ismênia de Lima Martins - 1 dissertação
146
UFMG - 16 orientadores
Magno Moraes Mello - 4 teses; 1 dissertação; total 5
Adalgisa Arantes Campos - 2 teses; 3 dissertações; total 5
Rodrigo Patto Sá Motta - 3 dissertações
Júnia Ferreira Furtado - 1 tese; 1 dissertação; total 2
Regina Helena Alves da Silva - 2 dissertações
Eliana Regina de Freitas Dutra - 2 dissertações
Betania Goncalves Figueiredo - 1 tese; 1 dissertação; total 2
Adriana Romeiro - 1 tese; 1 dissertação; total 2
Regina Horta Duarte - 1 tese
José Newton Coelho Meneses - 1 tese
Bergo de Carvalho - 1 tese
Maria Eliza Linhares Borges - 1 tese
Rafael Moreira - 1 tese (co-orientador)
João Pinto Furtado - 1 dissertação
Eduardo França Paiva - 1 dissertação
André Miatello - 1 dissertação
UFRGS - 15 orientadores
Cesar Augusto Barcellos Guazzelli - 3 teses
Enrique Serra Padrós - 3 dissertações
Sandra Jatahy Pesavento - 1 tese; 1 dissertação; total 2
José Augusto Avancini - 1 tese; 1 dissertação; total 2
147
UFRJ - 16 orientadores
Maria Beatriz de Mello e Souza - 6 dissertações; 1 tese; total 7
Andréa Casa Nova Maia - 4 dissertações; 3 teses; total 7
Manoel Luiz Lima Salgado Guimarães - 2 dissertações; 1 tese; total 3
José Murilo de Carvalho - 2 teses
Francisca Nogueira de Azevedo - 1 tese
Andrea Daher - 1 tese
Carlos Fico - 1 tese
Jacqueline Hermann - 1 tese
Renato Luís do Couto Neto e Lemos - 1 tese
William De Souza Martins - 1 tese
José Augusto Valladares Pádua - 1 tese
Norma Cortês - 1 dissertação
Daniel Aarão Reis Filho - 1 dissertação (co-orientador)
Maria Aparecida R Mota - 1 dissertação
Marcos L Bretas - 1 dissertação
Fernando Luiz Vale Castro - 1 dissertação
148
UNICAMP - 19 orientadores
Jorge Sidney Coli Júnior - 7 teses; 9 mestrados; total 16
Luciano Migliaccio - 6 dissertações; 2 teses; total 8
Claudia Valladão de Mattos Avolese - 3 teses; 4 dissertações; total 7
José Alves Freitas Neto - 4 dissertações; 1 tese; total 5
Iara Liz Schiavinatto - 4 dissertações; 1 tese; total 5
Nelson Alfredo Aguilar - 3 dissertações; 2 teses; total 5
Luiz Cesar Marques Filho - 3 teses; 1 dissertação; total 4
Pedro Paulo Funari - 2 teses; 1 dissertação; total 3
Luzia Margareth Rago - 2 teses; 1 dissertação; total 3
Cristina Meneghello - 2 teses; 1 dissertação; total 3
Leandro Karnal - 2 teses
Sidney Chalhoub - 1 tese
Andre Leonardo Chevitarese - 1 tese
Vavy Pacheco Borges - 1 tese
Edgar Salvadori De Decca - 1 tese
Leonardo Affonso de Miranda Pereira - 1 dissertação
Silvana Barbosa Rubino - 1 dissertação
Marcos Tognon - 1 dissertação
Aline Vieira de Carvalho - 1 dissertação
USP - 29 orientadores
Marcos Antônio da Silva - 5 dissertações; 1 teses; total 6
Robert Sean Purdy - 6 dissertações
Maria Cristina Correia Leandro Pereira - 5 dissertações
Solange Ferraz - 4 dissertações
Maria Helena Capelato - 2 teses; 2 dissertações; total 4
Mary Anne Junqueira - 3 dissertações
Maria Luiza Tucci Carneiro - 2 teses; 1 dissertação; total 3
Ulpiano Toledo Bezerra de Meneses - 2 teses; 1 dissertação; total 3
149
ANEXO 3
Total: 47
Alcides Freire Ramos (UFU)
Ana Carolina de Moura Delfim Maciel (UNICAMP - COCEN)
Aristeu Elisandro Machado Lopes (Doutor(a) - UFPel)
Arnaldo Daraya Contier (USP)
Cristina Meneguello (Pós-doutor(a) - Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)),
Eduardo Victorio Morettin (USP)
Edvaldo Correa Sotana (UFMT - Universidade Federal de Mato Grosso)
Edwar de Alencar Castelo Branco (Pós-doutor(a) - Universidade Federal do Piauí)
Emerson Dionisio Gomes De Oliveira (Doutor(a) - Universidade de Brasília)
Flavia Galli Tatsch (Doutor(a) - EFLCH / Universidade Federal de São Paulo)
Francisco Das Chagas F. Santiago Jr. (Doutor(a) - UFRN)
Gabriel de Carvalho Godoy Castanho (Instituto de História-UFRJ
Geisa Fernandes (Doutor(a) - Observatório de Histórias em Quadrinhos/USP)
Helouise Lima Costa (MAC-USP)
Iara Lis Schiavinatto (UNICAMP)
Ignacio Del Valle Dávila (Universidade Federal da Integração Latino-americana)
Isabel Lustosa (Fundação Casa de Rui Barbosa)
Jaqueline Aparecida Martins Zarbato (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul)
Jens Michael Baumgarten (Pós-doutor(a) - Unifesp)
João Pinto Furtado (UFMG)
Jorge Luiz Bezerra Nóvoa (Pós-doutor(a) - Universidade Federal da Bahia)
José Roberto Severino (Doutor(a) - UFBA/FACOM)
Kleber Antonio de Oliveira Amancio (UNICAMP)
Luciene Lehmkuhl (Universidade Federal de Uberlândia)
Mara Rubia Sant Anna (UDESC)
Marcelo Balaban (Pós-doutor(a) - UnB - Universidade de Brasília)
151
ANEXO 4
UFMG
Adalgisa Arantes Campos - 1 dissertação; 1 tese
Betania Goncalves Figueiredo - 1 dissertação; 1 tese
UFRGS
Cesar Augusto Barcellos Guazzelli - 1 tese
Enrique Serra Padrós - 1 dissertação
UFRJ
Maria Beatriz de Mello e Souza - 1 dissertação; 1 tese
Manoel Luiz Lima Salgado Guimarães - 1 dissertação
Daniel Aarão Reis Filho - 1 dissertação
Andréa Casa Nova Maia - 1 dissertação; 2 teses
UNICAMP
Luzia Margareth Rago - 1 dissertação; 1 tese
Claudia Valladão de Mattos Avolese - 1 dissertação; 1 tese
153
USP
Marcos Antônio da Silva - 1 dissertação; 1 tese
Maria Luiza Tucci Carneiro - 1 dissertação; 1 tese
Zilda Marcia Grícoli Iokoi - 1 tese
Elias Thomé Saliba - 1 dissertação; 1 tese
Maurício Cardoso - 2 dissertações
154
ANEXO 5
Professores doutores que estiveram presentes nas bancas de defesa dos trabalhos
selecionados para a amostragem “Continuidade de Pesquisa”
ANEXO 6
ANEXO 7
Revista Anos 90, dossiês, artigos e resenhas relacionados à temática História e Imagem
v. 15, n. 27 (2008)
● Alessander Kerber. Representações étnicas das identidades nacionais argentina e
brasileira em Carlos Gardel e Carmen Miranda
v. 15, n. 28 (2008)
Dossiê A História e suas fontes:
● Paulo Knauss. Aproximações disciplinares: história, arte e imagem
● Charles Monteiro. A pesquisa em história e fotografia no Brasil: notas bibliográficas
v. 17, n. 32 (2010)
● Artigo. Mara Rubia Sant Anna. Álbuns de família, uma experiência pedagógica e de
investigação histórica de Moda
v. 19, n. 36 (2012)
● Dossiê História e Mídia. Apresentação. Luiz Alberto Grijó
v. 20, n. 38 (2013)
● Artigo. Fernanda Luiza Teixeira Lima, Luiz Estevam de Oliveira Fernandes. Pelos
olhos de uma criança: as ditaduras militares latino-americanas no cinema
contemporâneo
v. 21, n. 40 (2014)
● Artigo. Anderson Ribeiro Oliva. Espelhos pós-coloniais, imagens coloniais: discursos
e representações sobre os portugueses em livros didáticos angolanos de História
elaborados no pós-independência (1979-2000)
● Artigo. Diego Eduardo Niemetz. A la busca del Colón perdido: modulaciones en torno
a la figura del almirante en tres nuevas novelas históricas latino-americanas
● Artigo. Cláudio de Sá Machado Júnior. Performances de relações familiares: as
charges e seu avesso fotográfico nas representações matrimoniais sul-rio-grandenses
(1929-1930)
160
v. 22, n. 42 (2015)
● Artigo. Fabio Gabriel Nigra. O cinema histórico de Hollywood como ação
hegemônica
v. 24, n. 45 (2017)
● Artigo. Roberto Abdala Junior. Cabra marcado para morrer: um filme entre história e
memória
v. 24, n. 46 (2017)
● Artigo. Isabel Ibarra Cabrera, Rickley Leandro Marques. O filme documentário
Mauvaise conduite: memória e direitos humanos em Cuba
v. 25, n. 47 (2018)
● Artigo. Katia Maria Paim Pozzer. Guerra, violência e memória cultural nas imagens
assírias.
● Artigo. Eduardo Wright Cardoso. Euclides da Cunha e a cor local: a pintura da história
de Canudos.
● Artigo. Mara Rubia Sant Anna. Entre a sedução e o consumo – a publicidade de
cosmético no Brasil de 1968
v. 25, n. 48 (2018)
● Artigo. Paulo Roberto de Azevedo Maia. Glauber Rocha no caminho da televisão
● Artigo. Francielly Rocha Dossin. Sobre o regime de visualidade racializado e a
violência da imageria racista: notas para os estudos da imagem
v. 27 (2020)
● Artigo. Geovanni Gomes Cabral. Fotografia e trabalho escravo: relatos e desafios
contemporâneos no Pará
161
ANEXO 8
● Resenha. Naiara dos Santos Damas Ribeiro. Do mito ao enigma: a história da arte como
iconologia.
PANOFSKY, Erwin e Dora. A Caixa de Pandora: as transformações de um símbolo
mítico. Tradução Vera Maria Pereira. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
● Artigo. Francisco das Chagas Fernandes Santiago Júnior Imagem, raça e humilhação no
espelho negro da nação: cultura visual, política e “pensamento negro” brasileiro durante
a ditadura militar.
● Artigo. Ludmila Catela da Silva. Todos temos um retrato: indivíduo, fotografia e
memória no contexto do desaparecimento de pessoas.
● Artigo. Roberto Abdala Junior. Brasil anos 1990: teleficção e ditadura — entre
memórias e história.
● Artigo. Marcelo Balaban “Transição de cor”: Raça e abolição nas estampas de negros
de Angelo Agostini na Revista Illustrada.
● Artigo. Eduardo Wright Cardoso. Uma nação para ser vista: desvelando o tempo e o
espaço nacionais por meio da cor local na historiografia oitocentista.
ANEXO 9
n. 13 (2007):
n. 17 (2009)
● Daniel Camurça Correia. Os Puppets em combate: análise dos discursos dos cartoons
americanos durante a Primeira Guerra Mundial.
● Erica Gomes Daniel Monteiro. Diplomacia Hollywoodiana: Estado, indústria
cinematográfica e as relações interamericanas durante a II Guerra Mundial
● Ivan Lima Gomes. Quadrinhos e pensamento social brasileiro: mitos de origem em
Pererê e a defesa dos quadrinhos brasileiros
● Wellington Amarante Oliveira. Uma breve história do ensino na TV brasileira durante
o regime militar (1964 – 1979)
n. 21 (2011)
n. 22/23 (2012)
166
n. 24 (2013)
● Ana Carolina da Moura Delfim Maciel. Personagens, seus objetos, suas imagens.
Arcabouço material como evidência biográfica
167
ANEXO 10
● LUCA, Tania Regina de. Brasil Ilustrado (1887-1888) e Félix Ferreira: conhecimentos
úteis em prol da Nação.
● SILVA, Márcia Regina Barros da. Cinema científico: a construção de imagens da
medicina na produção de Benedito Junqueira Duarte
169
ANEXO 11
v. 2 n. 2 (2009)
● Artigo. Isis Pimentel de Castro. Entre a opsis e a akôe: as marcas de enunciação na
pintura histórica e na crítica de arte do oitocentos
● Artigo. Felipe Charbel Teixeira. Aby Warburg e a pós-vida das Pathosformeln antigas
v. 4 n. 6 (2011)
● Resenha. Fernando Nicolazzi. Algumas reflexões sobre história e cinema.
ROSENSTONE, Robert A. A história nos filmes, os filmes na história. Tradução
Marcello Lino. São Paulo: Paz e Terra, 2010, 262 p.
v. 4 n. 7 (2011)
● Resenha. Alexander Martins Vianna Filme, história e narrativa. ROSENSTONE,
Robert. A história nos filmes / Os filmes na história. São Paulo: Paz e Terra, 2010, 264
p.
v. 5 n. 8 (2012)
● Artigo. Francisco das Chagas Fernandes Santiago Júnior. Cinema e historiografia:
trajetória de um objeto historiográfico (1971-2010)
v. 5 n. 9 (2012)
● Artigo. Rejane Maria Bernal Ventura. Lodovico Dolce e uma crítica às Vite de Giorgio
Vasari
v. 8 n. 19 (2015)
● Artigo. Antonio de Pádua Bosi História e narrativa fotográfica: o caso de “Migrant
Mother”, de Dorothea Lange.
v. 9 n. 20 (2016)
● Artigo. Roberto Abdala Junior Um papel histórico para a teleficção: a minissérie Anos
rebeldes e a cultura histórica brasileira dos anos 1980.
170
v. 10 n. 25 (2017)
v. 11 n. 26 (2018)
● Artigo. André Araújo. Tradução Ilustrada: Imagens da História Universal inglesa e de
suas edições europeias no século XVIII.
v. 11 n. 28 (2018)
v. 12 n. 30 (2019)
● Artigo. Eduardo Wright Cardoso. A história como pintura: da dimensão pictórica à
textual na historiografia francesa da primeira metade do século XlX.
v. 13 n. 34 (2020)
● Artigo. Naiara Damas. Enredar a loucura “dialética dos monstros” na história da arte de
Aby Warburg.