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CAPÍTULO 7
INDUTÂNCIA

7.1 – ELETROMAGNETISMO

Lei de Faraday

E M 1831, o físico inglês Michael Faraday descobriu através de experiências tais como da
figura abaixo, o princípio da indução eletromagnética.

Faraday verificou que quando aproximava o ímã da espira, o ponteiro do amperímetro se des-
locava, indicando a existência de uma corrente. No momento em que parou de movimentar o
ímã, a corrente se anulou. Quando começou a afastar o ímã, o ponteiro se deslocou novamen-
te, mas em sentido oposto. Assim, a Lei de Faraday pode ser anunciada:

“Sempre que houver variação no fluxo magnético através de uma espira, nesta surgirá uma
força eletromotriz (tensão) induzida”. Matematicamente:

d
e=
dt

onde e é a tensão induzida em volts e d/dt é a taxa de variação do fluxo em relação ao tempo.

Lei de Lenz

Se a espira for fechada, circulará uma corrente de valor igual à tensão induzida dividida pela
resistência da espira. A Lei de Lenz estabelece que:

“O sentido da tensão (ou da corrente) induzida é tal que seu efeito tende a se opor à variação
do fluxo que lhe deu origem.”

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EEL521 – Capítulo 7 90

A figura a seguir ilustra este fato.

A Lei de Faraday-Lenz pode ser expressa matematicamente por:

d
e = −N
dt

onde N é o número de espiras da bobina e o sinal (–) significa que a tensão induzida é uma
força contraeletromotriz, retratando a oposição ao fluxo que lhe deu origem.

Exemplo

O fluxo envolvendo uma bobina varia de 1,8  10-4 Wb em um décimo de segundo. Se duran-
te a variação do fluxo surge uma tensão de –3,6 V, quantas espiras existem na bobina?

Solução

d 
e = −N   −N 
dt t

1
−0
t 10
N = − e = −(−3,6)  = 2000 espiras
 1,8 10− 4 − 0

7.2 – INDUTÂNCIA

Considere uma bobina percorrida por uma corrente i variável no tempo. A passagem da cor-
rente dá origem a um fluxo magnético que corta as N espiras, induzindo uma força contraele-
tromotriz. Neste caso:

Fmm Ni
Fmm = Re   = N  i  =  =
Re Re

Da Lei de Faraday-Lenz:

d
e = −N 
dt

Combinando as duas equações anteriores,

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EEL521 – Capítulo 7 91

d  Ni 
e = −N   
dt  Re 

N 2 di
e=− 
Re dt

Note que se a relutância for constante (o que ocorre quando µ é constante), a tensão induzida
fica proporcional à derivada da corrente em relação ao tempo. Logo, define-se indutância pró-
pria como a capacidade de um condutor induzir tensão em si mesmo, quando a corrente varia.

Matematicamente:

di
e = −L 
dt
onde:

N2
L=
Re

Do estudo de circuitos magnéticos no Capítulo 6, tem-se que:


Re =
A

Então, combinando-se as duas últimas equações, chega-se à expressão da indutância:

 A N2
L=

onde µ é a permeabilidade magnética do núcleo (h/m); A é a área da seção transversal do nú-


cleo (m2); N é o número de espiras da bobina, e ℓ é o comprimento principal do núcleo (m). A
unidade da indutância é o henry, sendo simbolizada pela letra H.

Exemplo

Uma bobina de 200 espiras é enrolada sobre um núcleo de aço, com comprimento principal de
0,1 m e seção reta de 4  10-4 m2. A permeabilidade relativa para a faixa de corrente da bobina
é 1000. Determine a indutância da bobina.

Solução

(1000  4 10 −7 )  (4 10 −4 )  200 2


L= = 0,201 H
0,1

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Exemplo

Se a corrente da bobina do exemplo anterior aumentar de 0,4 A para 0,5 A em um período de


tempo de 2,5  10-3 s, qual a força contraeletromotriz induzida?

Solução

Do exemplo anterior, tem-se L = 0,201 H. Assim:

di I
e = −L   −L 
dt t

0,5 − 0,4
e = −0,201 = −8,04 V
2,5 10− 3

7.3 – TIPOS DE INDUTORES

Indutores ou bobinas são componentes elétricos produzidos para incluir indutância em um


circuito. São especificados pelo tipo de núcleo e por apresentarem indutância fixa ou variável.
Bobinas com núcleo de ar ou cerâmica são usadas em rádios e outros dispositivos eletrônicos,
enquanto bobinas com núcleo de ferro são utilizadas em fontes de alimentação e dispositivos
de áudio. Em circuitos elétricos, os indutores são simbolizados por:

Os indutores variáveis possuem um núcleo ferromagnético, cuja posição é ajustada mecani-


camente para variar a permeabilidade e consequentemente a indutância. Como já mencionado,
o símbolo da indutância é L, e a unidade é o henry (H). Em circuitos práticos, encontram-se o
mili-henry (mH) e o micro-henry (µH).

7.4 – PERDAS NOS INDUTORES

Idealmente, indutores não dissipariam potência sob a forma de calor, mas, na prática, apresen-
tam aquecimento quando estão em operação. Há duas classes de perdas nos indutores:

• Perdas no enrolamento, provocadas pela passagem da corrente pelos condutores da bobi-


na, já que os fios possuem resistência baixa, porém não nula.
• Perdas no núcleo, que ocorrem quando o indutor está em um circuito de corrente alterna-
da. Assim, o fluxo magnético também é alternado, o que obriga o realinhamento periódico
dos dipolos magnéticos elementares, consumindo energia e provocando o aquecimento do
núcleo. Este efeito é denominado histerese.

As perdas no núcleo também englobam outra parcela. Imperfeições no material do núcleo


dão origem a pequenos caminhos que se comportam como espiras, pelas quais são induzi-

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das as chamadas correntes parasitas ou correntes de Foucault, que provocam o aquecimen-


to do núcleo.

Essas perdas podem ser reduzidas se o núcleo for laminado, i.e., composto por várias cha-
pas isoladas entre si por camadas finas de verniz, o que interrompe diversas “espiras” co-
mo mostra a figura abaixo. Outra opção é a utilização de núcleos de ferrite, que apresen-
tam boa permeabilidade magnética, mas alta resistividade elétrica.

7.5 – ASSOCIAÇÃO DE INDUTORES

Assim como resistores e capacitores, os indutores podem ser ligados em série e em paralelo.

a) Quando os indutores são ligados em série, eles são percorridos pela mesma corrente, como
mostra a figura:

Do indutor equivalente:
di
e = LS 
dt

Tomando a associação série, tem-se pela LKT:

e = e1 + e2

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Mas, da equação de definição do indutor:

di di
e1 = L1  e2 = L2 
dt dt

Assim, combinando, vem:

di di di
e = L1  + L2   e = (L1 + L 2 ) 
dt dt dt

Comparando esta última com a equação do indutor equivalente, conclui-se que:

LS = L1 + L 2

Considerando-se N resistores em série, pode-se generalizar:

LS = L1 + L 2 +  + L N

b) Na ligação em paralelo, os indutores são submetidos à mesma tensão, i.e.:

Do indutor equivalente:

 e  dt
di 1
e = LP   i=
dt LP

Tomando a associação paralela, tem-se pela LKC:

i = i1 + i 2

Mas, da equação de definição do indutor:


di 1 1
e = L1   i1 = e  dt
dt L1

 e  dt
di 2 1
e = L2   i2 =
dt L2

Combinando com a LKC:

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 1 1 
  
1 1
i= e  dt + e  dt  i =  +   e  dt
L1 L2  L1 L 2 

Comparando com a equação do indutor equivalente, conclui-se que:

1 1 1 L1  L 2
= +  LP =
L P L1 L 2 L1 + L 2

Generalizando para N indutores em paralelo:

1 1 1 1
= + ++
L P L1 L 2 LN

Exemplo

Reduza o circuito abaixo à sua forma mais simples.

Solução

Inicialmente, combina-se em paralelo os indutores de 1,2 H, 1,2 H e 1,8 H, obtendo:

1 1 1 1
= + +
L P 1,2 1,2 1,8

L P = 0,45 H

Assim:

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Combinando agora os indutores em série:

L S = 0,45 + 0,55 = 1 H

Logo, o circuito em sua forma mais simples é:

7.6 – OPERAÇÃO EM REGIME PERMANENTE DC

No indutor, tensão e corrente se relacionam por:

di
e = L
dt

Note que só existirá tensão no indutor se houver variação de corrente! Se esse elemento opera
em regime permanente DC, em que todas as correntes são constantes, vem:

di
e = L = L0 = 0
dt

Logo, em regime permanente DC, um indutor se comporta como um curto-circuito.

Exemplo

Determine a potência fornecida pela fonte, que opera em regime permanente DC.

Solução

Em regime permanente DC, o circuito apresenta a seguinte configuração, em que o indutor se


comporta como curto-circuito:

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Logo:

10
I= =5A
2

Portanto:

P = V  I = 10  5 = 50 W

7.7 – ENERGIA ARMAZENADA

O indutor armazena energia no campo magnético estabelecido em torno de sua bobina. De


uma forma geral, a energia de qualquer elemento de circuito pode ser calculada por:

 
w ( t ) = p( t )  dt = v( t )  i( t )  dt

Mas no indutor, tensão e corrente se relacionam por:

di ( t )
v( t ) = L 
dt

Combinando:

 
di ( t ) 1
w(t) = L   i( t )  dt = L  i( t )  di ( t ) =  L  i 2 ( t )
dt 2

Para o valor final da corrente do indutor em regime permanente, tem-se:

1
W=  L  I2
2

Onde W é a energia [J]; L é indutância [H], e I é a corrente de regime permanente [A].

Exemplo

Determine a corrente de regime permanente e a energia armazenada no indutor.

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Solução

Em regime permanente DC, o circuito se comporta como:

Assim:

15
I= = 3A
3+ 2

Logo:

1 1
W=  L  I 2 =  6  10 −3  32 = 27  10 −3 J = 27 mJ
2 2

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