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Apocalipse 4

-Introdução: De todas as visões do Apocalipse, esta se destaca pela beleza indescritível.


Certamente o apóstolo João procurava palavras para explicar o que viu comparando com algo
que já conhecia para que os leitores pudessem entender. Mesmo assim, tudo que lhe foi
mostrado é muito superior ao que conseguiu demonstrar. Para melhor entender esta visão do
apóstolo João é preciso ler a visão de Ezequiel dos Querubins diante da glória de Deus
(Ezequiel 1.5-28 e 10.9-17). A mesma revelação parece acontecer com João, como foi com
Ezequiel. Um paralelo entre estes dois textos ajuda na compreensão da mensagem.

Como é o trono de Deus?


Vamos refletir em alguns aspetos presenciados pelo apóstolo João diante do trono de Deus:
 
1- A Porta no Céu
v.1 “Depois destas coisas, olhei, e eis não somente uma porta aberta no céu, como também a
primeira voz que ouvi, como de trombeta ao falar comigo, dizendo: Sobe para aqui, e te
mostrarei o que deve acontecer depois destas coisas”.
A primeira coisa vista pelo apóstolo João foi “uma porta aberta no céu” (v.1). Em seguida
ouviu a mesma voz Divina, que já conhecia, chamando-o para subir até o céu e ver o futuro que
Deus mostraria.

O simbolismo da visão do trono de Deus:


-Porta aberta: representa Jesus que é a porta da salvação (João 10.9) que ainda está
aberta a todos que queiram entrar.
-Voz como de trombeta: a voz de Deus que já falara com João deste o começo da
revelação (Apocalipse 1.10) é forte como um toque de trombeta.
-A mensagem: um convite a subir e ver o que irá acontecer.
A porta do céu está aberta pra você!

2- O Trono de Deus
v.2,3 “Imediatamente, eu me achei em espírito, e eis armado no céu um trono, e, no trono,
alguém sentado; e esse que se acha assentado é semelhante, no aspecto, a pedra de jaspe e de
sardônio, e, ao redor do trono, há um arco-íris semelhante, no aspecto, a esmeralda”.
Quando foi levado até aporta, João viu “um trono e no trono alguém assentado” com
semelhança da beleza de pedras preciosas. Na verdade estava contemplando Deus em seu trono
celestial e sua esplendorosa beleza.

A aparência do trono ao redor:


 -Arco-íris: era o reflexo da glória de Deus ao redor de seu trono, como o que foi
visto pelo profeta Ezequiel quando viu o mesmo trono de Deus e havia ao seu
redor “como o aspecto do arco que aparece na nuvem em dia de chuva, assim era o
resplendor em redor. Esta era a aparência da glória do SENHOR” (Ezequiel 1.28).
Este arco representa a Aliança de Deus com a humanidade (Gênesis 9.13,16) que
reflete seu amor diante de sua presença.
-Relâmpagos, vozes e trovões: representam a ira de Deus e seu poder, com brilho,
calor, energia e rapidez em executar seu juízo, por isso “do trono saem relâmpagos,
vozes e trovões” (Apocalipse 4.5). As vozes são as sentenças do julgamento final
assim como o Senhor se manifestava diante de seu povo no monte Sinai (Êxodo
19.16-19).
-Mar de vidro: um local especial e grandioso onde estarão as almas dos vencedores
(Apocalipse 15.2). O profeta Ezequiel também viu “algo semelhante ao firmamento,
como cristal brilhante” (Ezequiel 1.22). Sendo assim, o mar representa os povos de
toda a terra, pois todos os continentes são banhados pelo oceano (Apocalipse 17.15). O
vidro ou cristal indica a transparência quando todas as coisas serão esclarecidas diante
de todas as pessoas.
Diante do trono de Deus é um lugar de sua Aliança de amor [arco-íris], mas também de sua
justiça [relâmpagos], para de todas as pessoas [mar de vidro]. Também estão ali os vinte e
quatro tronos (v.4), as sete tochas (v.5) e os quatro seres viventes (v.6-8) que serão descritos a
seguir.
Renda-se diante do Trono de Deus!
 
3- Os Vinte e quatro anciãos
v.4 “Ao redor do trono, há também vinte e quatro tronos, e assentados neles, vinte e quatro
anciãos vestidos de branco, em cujas cabeças estão coroas de ouro”.
Muito se discute sobre a identidade dos vinte e quatro anciãos. Mas é certo que não são seres
celestiais e sim homens, porque sempre estão descritos de maneira diferenciada dos anjos e dos
querubins (Apocalipse 5.5,8 e 11). O termo ancião se refere a homens sábios que representavam
o povo (Atos 5.2 e 20.17).

Quem são os vinte e quatro anciãos?


-Tronos: estão assentados porque já terminaram sua obra e receberam a recompensa
prometida por Jesus de que “ao vencedor, dar-lhe-ei sentar-se comigo no meu trono,
assim como também eu venci e me sentei com meu Pai no seu trono” (Apocalipse
3.21). Os vinte e quatro tronos são símbolos do poder destes homens que receberam
liderança no meio do povo de Deus.
-Vestes brancas: também como recompensa do “vencedor será assim vestido de
vestiduras brancas” (Apocalipse 3.5). Simbolizam a santidade (Eclesiastes 9.8),
pois “lavaram suas vestiduras e as alvejaram no sangue do cordeiro” (Apocalipse
7.14). Estes homens viverem em consagração a Deus durante sua vida e estavam
prontos para servir ao Senhor eternamente.
-Coroas: outra recompensa prometida por Jesus a quem for “fiel até à morte, e dar-te-
ei a coroa da vida” (Apocalipse 2.10). Estas coroas representam o governo humano.
Eles se prostram diante do poder de Deus rendendo-se diante da Majestade Divina e
entregam suas coroas ao Senhor (Apocalipse 4.10).
Podemos entender que os vinte e quatro anciãos simbolizam o sacerdócio que era escalado em
número de 24 turnos (I Crônicas 24.1-19). Também se tem entendido que este número é
representativo quanto à humanidade em duas alianças, com os doze patriarcas da antiga aliança
e os doze apóstolos da nova aliança. O que não pode ser esquecido é sua missão de servir a
Deus eternamente e sua atitude de adoração.
Seja um verdadeiro adorador!
 
4- Os sete Espíritos de Deus
v.5 “...diante do trono, ardem sete tochas de fogo, que são os sete Espíritos de Deus”.
A expressão “sete espíritos de Deus” aparece quatro vezes na Bíblia (Apocalipse 1.4; 3.1; 4.5;
5.6). Provavelmente é uma referência ao texto profético de Isaías 11.2 que fala de sete aspectos
do Messias “repousará sobre ele o Espírito do SENHOR, o Espírito de sabedoria e de
entendimento, o Espírito de conselho e de fortaleza, o Espírito de conhecimento e de temor do
SENHOR”. Esta lista passou a ter sentido de que são estas as características do Espírito Santo
que estava sobre o Messias e também no trono de Deus.

O que são os sete espíritos e as sete tochas?


-Sete tochas de fogo: são representações do Espírito Santo como fogo (Hebreus
12.29) e a manifestação da presença de Deus em forma de fogo (Êxodo 3.2 e
13.21,22). Também lembram o candelabro que tinha sete pontas e ficava aceso para
iluminar o tabernáculo (Êxodo 27.20).
O número sete significa perfeição de Deus e quando se refere aos Sete Espíritos de Deus tem o
sentido de que o Espírito Santo é perfeito.
Deixe o Espírito Santo incendiar sua vida!
 
5- Os quatro seres viventes
v.6-8 “...no meio do trono e à volta do trono, quatro seres viventes... não têm descanso, nem de
dia nem de noite, proclamando: Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus, o Todo-Poderoso, aquele
que era, que é e que há de vir”
Estes são os mesmos seres celestiais que profeta Ezequiel também viu e descreveu (Ezequiel
1.5-13) com a mesma aparência, pois “cada um dos seres viventes tinha quatro
rostos” (Ezequiel 10.14), “a forma de seus rostos era como o de homem; à direita, os quatro
tinham rosto de leão; à esquerda, rosto de boi; e também rosto de águia, todos os
quatro” (Ezequiel 1.10) e são chamados de “querubins” (Ezequiel 10.20). Sua função está clara
aqui, mostrando que tinham a tarefa de ministrar louvor diante do trono de Deus. Sempre são os
primeiros a proclamar a adoração.

A aparência dos quatro seres viventes tem o seguinte simbolismo:


-Leão: “o primeiro ser vivente é semelhante a leão” (v.7): representa a realeza e
poder, por ser um temível predador.
-Boi: “o segundo, semelhante a novilho” (v.7): animal forte, mas pacificador, por
isso chamado de novilho.
-Homem: “o terceiro tem o rosto como de homem” (v.7): simboliza o conhecimento
ou inteligência.
-Águia: “o quarto ser vivente é semelhante à águia quando está voando” (v.7):
aponta para rapidez e visão.
-Olhos: “cheios de olhos por diante e por detrás” (v.6) e “estão cheios de olhos, ao
redor e por dentro” (v.8): Do mesmo modo Ezequiel também diz que “todo o corpo
dos querubins, suas costas, as mãos, as asas e também as rodas que os quatro
tinham estavam cheias de olhos ao redor” (Ezequiel 10.12). Estes olhos mostram
que podem ver muito além do que é normal. Têm uma visão espiritual muito forte.
-Asas: “os quatro seres viventes, tendo cada um deles, respectivamente, seis
asas” (v.8). Estas asas serviam para voar, para cobrir o seu corpo (Ezequiel 1.11,23).
Também tinham olhos nas asas (Ezequiel 10.12). Estas asas mostram que eram anjos
que se movem com muita rapidez.
Os querubins são responsáveis pela adoração no céu. Estão sempre na presença de Deus
que “está entronizado acima dos querubins” (Salmos 99.1) por isso foram colocados
simbolicamente sobre a Arca da Aliança (Êxodo 37.7-9) e tinham sua imagem representada nas
paredes e no véu do santuário (Êxodo 26.31). São defensores da santidade de Deus (Gênesis
3.24). Estes seres viventes nos ensinam que precisamos viver para adorar a Deus em todo tempo
e incansavelmente.
Seja um adorador na presença de Deus!
 
Renda-se diante do trono de Deus!
CONCLUSÃO
v.9-11 “Quando esses seres viventes derem glória, honra e ações de graças ao que se encontra
sentado no trono, ao que vive pelos séculos dos séculos, os vinte e quatro anciãos prostrar-se-
ão diante daquele que se encontra sentado no trono, adorarão o que vive pelos séculos dos
séculos e depositarão as suas coroas diante do trono, proclamando: Tu és digno, Senhor e
Deus nosso, de receber a glória, a honra e o poder, porque todas as coisas tu criaste, sim, por
causa da tua vontade vieram a existir e foram criadas.”
Adoração: esta é a mensagem central de Apocalipse 4. A visão do trono de Deus é concluída
como um grande culto de adoração, quando os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos
louvam ao Senhor Deus. O primeiro cântico ministra quem Deus é (v.8) e o segundo cântico as
suas obras (v.11).
Se quisermos um dia, comparecer diante do trono de Deus, precisamos viver em adoração ao
Senhor. A cada dia devemos entoar um cântico novo ao Senhor e também viver para a sua
glória.
O céu é um lugar de louvor a Deus!
 
 

Dispensacionalismo, pré-
tribulacionismo e pré-milenarismo
Seg, 29/10/2018 por Ciro Sanches Zibordi

Em Teologia Sistemática, Escatologia é o estudo dos últimos eventos previstos na


Palavra profética, os que ainda “hão de acontecer” (Ap 1.19; 4.1) conforme a soberana
vontade de Deus (GILBERTO, p. 7-12). Neste artigo, procurarei demonstrar, mediante a
comparação de algumas escolas escatológicas, que o pré-tribulacionismo — pré-
milenarista e dispensacionalista — é a que melhor se coaduna com as Escrituras.
Para o pré-tribulacionismo, o primeiro evento escatológico é o Arrebatamento da Igreja
(1 Ts 4.16,17), que não deve ser confundido com a Manifestação do Senhor (Mt 24.29-31).
Esse rapto ocorrerá de modo secreto, antes da Grande Tribulação, que, segundo cálculos
complexos, terá duração de sete anos (cf. Dn 9; Ap 11-16; Mt 14.15-21 etc.). Isso tem sido
contestado por outras duas escolas. Segundo o mesotribulacionismo, a Igreja enfrentará a
primeira metade da Grande Tribulação. E, para o pós-tribulacionismo, os salvos já estão
passando por tribulações, que se intensificarão até que Cristo venha.
 
Principais escolas escatológicas
 
Há quatro modos de interpretar o livro de Apocalipse. O futurista, segundo o qual os
textos apocalípticos apontam para o futuro. O historicista, que vê as profecias como
simbólicas, relacionando-as com a História. O idealista, que considera tais textos como
meras expressões idealizadas da luta entre o bem e o mal. E o preterista, que interpreta as
profecias como já cumpridas, especialmente no primeiro século (JONES, p. 58-76).
Em Apocalipse 1.19, o Senhor Jesus aplica um duro golpe no preterismo, ao dizer a
João: “Escreve as coisas que tens visto, e as que são, e as que depois destas hão de
acontecer”. Mais que apresentar a divisão do livro, o Senhor deixa claro que a parte
profética de Apocalipse alude ao futuro. De fato, a partir do capítulo 4, tudo é escatológico,
com exceção das revelações parentéticas, isto é, os parênteses contendo profecias já
cumpridas.
Uma dessas revelações parentéticas está em Apocalipse 12, que menciona uma
“mulher vestida do sol” (v. 1) dando à luz a um Menino (Jesus) e sendo protegida por Deus
contra a fúria do Dragão (Satanás). Quem é essa mulher? Essa pergunta nos instiga a
“dialogar” com mais quatro escolas gerais de interpretação, além das três escatológicas
citadas: a aliancista, a neoaliancista, a dispensacionalista clássica e a dispensacionalista
progressiva.
Para o aliancismo, Deus só tem um plano: com a Igreja. A aliança com Israel vale para
os cristãos. As promessas feitas aos israelitas, ou já se cumpriram durante o reinado de
Salomão (cf. 1 Rs 4.21), ou se cumprirão por meio da Igreja, o “Israel de Deus”. Os
neoaliancistas dizem o mesmo de outra forma, defendendo que a aliança com Israel é
apenas uma figura da nova aliança. Nesse caso, para ambas as escolas, a mulher em
Apocalipse 12 é a Igreja.
Precisamos agora abrir um parêntese para introduzir mais duas escolas escatológicas
que estudam o Milênio, a amilenarista e a pós-milenarista, já que estas são regidas pelo
aliancismo. Os amilenaristas afirmam que não haverá um Milênio literal; Jesus já está
reinando, espiritualmente, pois prendeu Satanás, simbolicamente. Os pós-milenaristas
creem de modo semelhante: o Diabo foi esmagado, de modo pactual, e já estamos num
“milênio”, que durará até a Segunda Vinda. Para essas duas escolas, Cristo conquistará o
mundo progressivamente pela vitória do evangelho (BOCK, 2001).
Dispensacionalistas clássicos, além de identificarem, nas Escrituras, várias
dispensações (períodos em que Deus trata com seu povo por meio de pactos específicos),
dizem que o Senhor tem um plano para Israel e outro para a Igreja (1 Co 10.32; Rm 11),
uma vez que a aliança com Israel é perpétua (Gn 17.7,13). Não há motivo para forçar
Apocalipse 12 a dizer que a mulher é a Igreja. Afinal, ela dá à luz ao Menino, Cristo, que
afirmou: “estabelecerei a minha igreja” (Mt 16.18). Ora, se a Igreja foi fundada por Jesus,
Ele não “saiu” dela, e sim o inverso. Nesse caso, a mulher só pode ser Israel.
O pré-milenarismo (outra escola que estuda o Milênio) se baseia nos pressupostos do
dispensacionalismo clássico para defender a ideia de que Jesus virá antes dos “mil anos”
— que serão literais (Ap 20.1-7) — para cumprir a promessa de restaurar o reino a Israel
(Mt 24.3; At 1.7). Já os dispensacionalistas progressivos, por outro lado, não fazem
distinção entre Israel e Igreja e desgastam as características do próprio
dispensacionalismo, a fim de dialogarem com o aliancismo. Ao fim e ao cabo, é uma
espécie de semidispensacionalismo ou semialiancismo (LAHAYE; HINDSON, p. 139-153).
 
Arrebatamento secreto da Igreja
 
A doutrina do Arrebatamento secreto e pré-tribulacional, defendida pelos
dispensacionalistas clássicos, tem sofrido muita oposição por parte dos proponentes de
outras escolas citadas. Alega-se, por exemplo, que o termo “arrebatamento” sequer
aparece na Bíblia. Mas essa contestação é frágil, já que o mencionado vocábulo deriva da
frase “seremos arrebatados” (1 Ts 4.17). Aqui, o verbo “arrebatar” (gr. harpazō) tem o
sentido de “raptar” (cf. Mt 13.19; Jo 6.15; 10.12,28,29), à semelhança do que aconteceu ao
diácono-evangelista Filipe (At 8.39,40).
Críticos do pré-tribulacionismo dizem, também, que a ideia do Arrebatamento secreto é
um contrassenso, pois “todo olho o verá” (Ap 1.7). No entanto, a quem o Senhor Jesus
dirigiu as palavras contidas em João 14.3? A todo o mundo ou à Igreja? À Igreja, que
começou com os doze apóstolos, à qual prometeu: “virei outra vez e vos levarei para mim
mesmo, para que, onde eu estiver, estejais vós também”. Aqui, o verbo “levar”
(gr. paralambanō) também denota “raptar” (cf. Mt 2.13,14; Mc 9.2; Mt 24.40,41).
O rapto dos salvos vivos é análogo à ressurreição dos mortos em Cristo, visto que
esses dois grupos subirão juntos ao encontro do Senhor, nos ares (1 Co 15.51,52; 1 Ts
4.16,17). À luz de Lucas 20.35 e Filipenses 3.11, a ressurreição dos salvos, chamada,
literalmente, de ressurreição “dentre todos os mortos” (gr. ek ton nekron), será secreta e
seletiva. Por que a transformação e o arrebatamento dos salvos vivos seriam públicos?
Portanto, assim como os mortos em Cristo ressuscitarão dentre todos os mortos, os salvos
vivos também serão arrebatados dentre todos os vivos.
Quando examinamos Hebreus 9.28, nossa convicção de que a transformação, num
abrir e fechar de olhos, e o rapto dos salvos ocorrerão de modo secreto se torna mais
firme. O autor de Hebreus diz que Cristo “aparecerá segunda vez aos que o aguardam
para a salvação”. O verbo “aparecer” (gr. horaō), aqui, denota “ser visto”. Nesse caso, por
quem Jesus será visto, no Arrebatamento? Pelo mundo todo? Não! Somente pelos que “o
aguardam para a salvação”, o que se coaduna com João 14.3.
Examinemos o uso do mesmo verbo em 1 Coríntios 15.5-8. Paulo afirma que o Cristo
ressurreto, antes de sua ascensão, “foi visto” (gr. horaō) por todos os apóstolos, Tiago,
irmão do Senhor, e mais de quinhentos irmãos. Todas essas reuniões com o Senhor
ocorreram de modo secreto. Aliás, reuniões secretas de Jesus com os salvos não é
nenhuma novidade (cf. At 1.3; Jo 12.28,29; At 22.9). Assim, por ocasião do Arrebatamento,
somente os salvos o verão!
Outro texto significativo, nesse sentido, é Atos 1.9-11, no qual se menciona que Jesus
há de descer do céu assim como subiu. Na sua ascensão, somente os seus discípulos o
viram subindo até as nuvens. Por que, no Arrebatamento, todo o mundo haveria de vê-lo?
Portanto, somente os salvos verão o Senhor descendo até as nuvens, pois Ele “há de vir
assim como para o céu o vistes ir” (v. 11; cf. ZIBORDI, 2012).
 
Arrebatamento pré-tribulacional da Igreja
 
Pré-tribulacionistas creem que a Segunda Vinda terá duas etapas. Por isso, não se
incomodam com a ênfase de que “todo o olho o verá” (Ap 1.7). Na primeira etapa, o
Arrebatamento, os salvos irão ao encontro do Senhor nos ares, antes da Grande
Tribulação (1 Ts 4.16,17; 5.3-8). Na segunda, no fim desse período de sete anos, Ele se
manifestará diante de todos, para destruir o império do Anticristo, o que é corroborado pela
linha do tempo de Apocalipse 19-22, trecho desse livro que está, rigorosamente, em ordem
cronológica.
João avista a Igreja glorificada no Céu, nas Bodas do Cordeiro, durante a Grande
Tribulação (Ap 19.1-10). Logo depois, vê Cristo descendo do céu com a Igreja (vv. 11-16).
Em seguida, mencionam-se: a batalha do Armagedom (vv.17-19); a vitória de Cristo sobre
o Anticristo e o Falso Profeta (vv. 20,21); a prisão de Satanás (20.1-3); a ressurreição dos
mártires da Grande Tribulação e o Milênio (vv. 4-6); a liberação do Diabo, após os mil
anos, e sua condenação (vv. 7-10); o Juízo Final (vv. 11-15); e a eternidade (caps. 21-22).
Apocalipse 4 talvez seja o capítulo bíblico mais emblemático quanto ao rapto pré-
tribulacional da Igreja, no qual o Senhor revela a João, de modo profético, através de
símbolos, o futuro glorioso da Igreja. Esse apóstolo vê “uma porta aberta no céu” e 24
anciãos ao redor do trono de Deus (vv. 1-4), os quais não são anjos, pois, em nenhum
lugar do Novo Testamento, seres angelicais são chamados de “anciãos” (gr. presbyteros).
Esses “presbíteros” estão assentados em tronos, o que é curioso, pois Jesus tinha
acabado de prometer isso à Igreja (Ap 3.21; cf. Mt 19.28). Eles usam vestes brancas e
coroas de ouro, o que o Senhor também acabara de prometer aos salvos (Ap 2.10;
3.4,5,11). Têm harpas e salvas de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos
(5.8). E cantam um novo cântico, que dá ênfase à morte expiatória do Senhor (v. 9). Ora,
se não são uma categoria angelical, como querubins e serafins, só podem ser um novo
grupo no céu!
Quanto ao número 24, no próprio livro de Apocalipse explica-se, indiretamente, que
alude às 12 tribos de Israel e aos 12 apóstolos do Cordeiro (cf. 21.12-14). Estas e todas as
outras características citadas não deixam dúvida de que esses anciãos representam a
Igreja, formada pelos salvos de todas as épocas. E, nesse caso, não resta mais nenhuma
dúvida de que ela estará no céu antes da abertura dos sete selos, que aludem aos
primeiros juízos, logo no início da Grande Tribulação (cf. caps. 4-6).
Se voltarmos ao capítulo anterior de Apocalipse, veremos o Senhor prometendo
guardar a igreja de Filadélfia “da hora da tentação que há de vir sobre todo o mundo”
(3.10). Aqui, o sentido é de “guardar da”, e não “guardar através da” (HORTON, 1995, p.
62). Jesus não prometeu àqueles crentes — e a nós, por extensão (cf. vv. 13,22) — que
não morreriam, e sim que seriam guardados de algo que virá “sobre todo o mundo”, que só
pode ser a Grande Tribulação, da qual todos os arrebatados serão guardados.
Apocalipse 4 se conecta perfeitamente ao capítulo 19 do mesmo livro, passagem que
também não deixa dúvida quanto ao fato de que a Igreja estará nas Bodas Cordeiro
durante a Grande Tribulação. João vê os salvos, que formam os exércitos do Senhor,
vindo à terra com Ele (19.1-14). Aqui, a Nova Jerusalém é chamada de Noiva (vv. 9,10), o
que é uma metonímia em referência aos moradores dessa gloriosa Cidade, “inscritos no
livro da vida do Cordeiro” (v. 27; 22.3-5).
Escritos de Paulo mostram que ele era pré-tribulacionista (risos). Consideremos as
suas afirmações em 1 Tessalonicenses 5.3-9, logo após mencionar o Arrebatamento:
“sobrevirá repentina destruição” aos filhos das trevas, que “de modo nenhum escaparão”;
quanto aos salvos, como filhos da luz, não serão surpreendidos por “aquele Dia”, que virá
“como um ladrão”, pois “Deus não nos destinou para a ira” (cf. 1.10).
Pré-tribulacionistas interpretam a segunda carta de Paulo aos crentes de Tessalônica à
luz da primeira e de tudo o que o Senhor Jesus ensinou, em Apocalipse e no seu sermão
profético (Mt 24-25). Por isso, não supervalorizam a tese, baseada em 2 Tessalonicenses
2.3 (fora de contexto), de que não haverá Arrebatamento pré-tribulacional e secreto, visto
que a volta de Jesus só acontecerá após a manifestação do Anticristo.
Em 2 Tessalonicenses 2, evidentemente, Paulo dá sequência ao assunto apresentado
na primeira carta e alude à Manifestação do Senhor após a chegada do “homem do
pecado”. Ao citar a “apostasia”, ele faz uma conexão com a “operação do erro” (v. 11), que
já é uma realidade nos dias de hoje (cf. 1Jo 4.3), mesmo antes da manifestação pessoal e
visível do Anticristo, o que se constitui, nesse caso, um sinal dos “últimos dias”, inclusive
do Arrebatamento (cf. 1Tm 4.1-5).
Aliás, em 2 Tessalonicenses 2.6-8, Paulo assevera que “o iníquo” só se manifestará em
pessoa depois que for tirado “o que o detém”. Este, segundo alguns dispensacionalistas, é
o Paráclito, que sairá da terra junto com a Igreja. Mas essa tese não parece muito lógica,
já que desconsidera a onipresença e a imensidade do Espírito Santo. O mais coerente
seria afirmar que esse que impede a manifestação do Anticristo é o próprio povo de Deus,
que será arrebatado antes da “ira futura” (1 Ts 1.10).
Maranata!
 
Ciro Sanches Zibordi

A grande tribulação deverá se iniciar com a manifestação do Anticristo (ou de


seu governo) e provocar o consequente arrebatamento da igreja (2 Ts 2:3, 4).

Sugiro que você pesquise sobre o termo “dispensacionalismo” afim de


entender minha linha de interpretação. De fato, a interpretação
dispensacionalista no que diz respeito ao arrebatamento da igreja é
aparentemente a mais complexa e ao mesmo tempo a mais literal; mas
nem por isso, desconexa e infundada (1 Ts 4.13-18). Pra começar, parece
existir um objetivo bem claro de Deus quanto à grande tribulação (Ap 6 a 19): a
conversão dos Judeus(Zc 12:10; Ap 12), e juízo sobre os pecadores (Is
13:9-18). A grande tribulação é referenciada várias vezes no A.T como o “Dia
do Senhor” (Am 5:18-20; Jl 1:15; Sf 1:14). É tida profeticamente como o tempo
da angústia de Jacó ou Israel (Jr 30.7).  O dia do Senhor em sua aplicação
escatológica está sempre relacionado ao juízo, ao tratamento com os ímpios e
escuridão em todos os sentidos. Esses quadros, nada tem a ver com as
promessas de Jesus para seus seguidores (Jo 14.1-3). As posições da vinda
de Cristo no fim da tribulação, precisam considerar a atualidade dos
apelos bíblicos para a iminente volta de Jesus para buscar sua igreja (Ap
3:11; 22:12, 20; Hb 10:37; Tg 5:9).
A história sagrada ensina que em todos os tempos de juízos Divinos
sobre civilizações e populações inteiras, Deus sempre livrou seus fiéis.
Livrou a Noé e sua família do dilúvio (Gn 6:17,18); livrou a Ló da destruição de
Sodoma (Gn 19:17-22); livrou a Israel das dez pragas que atribularam ao Egito
(Ex 12.12,13); Livrou Jerusalém da invasão da Assíria (2 Re 19:32-34) e
prometeu livrar sua igreja militante e fiel da hora da tentação que há de vir
sobre toda a terra (Ap: 3.10). O arrebatamento antes da grande tribulação será
a forma de Cristo Jesus livrar sua noiva das agruras daquela última semana
profética (Dn 9:24-27); galardoar os crentes por meio de suas obras (2 Co 5:10)
e celebrar as bodas de seu figurado relacionamento com a sua igreja (Mt
26:29; Ap 19:7-9).
A idéia em torno do termo original “arrebatamento” denota em rapto, em
evento abrupto, não anunciado ou alardeado; diferente das citações de
Ap 1.7; 19:11-16), que são totalmente públicos e visíveis e referem-se à
manifestação de Jesus em Glória; evento ligado ao fim da grande tribulação – e
essa realização é diferente do arrebatamento. A concatenação bíblica para a
primeira fase da segunda vinda de Cristo (1 Ts 4.13-18), parece ter sentido
acontecer na abertura do parêntese dispensacional entre graça e milênio, ou
seja: na abertura da grande tribulação da qual a igreja de Cristo não passará –
pelo menos na visão pré-tribulacionista (Ap 3.10; 1 Ts 5.9).
Os indícios apocalípticos da pregação e da salvação durante a tribulação
parecem não indicar a presença da Igreja da era da graça pregando lá,
mas sim de um grupo de 144 mil Israelitas (Ap 7:4-8; 14:1-5). O Evangelho
do Reino de Mateus 24:14, que também foi pregado por nosso Salvador (Lc
4:43) terá sua continuidade na grande tribulação antes do julgamento das
nações e instauração do milênio na terra (Mt 25:31-34; Ap 20:4-6).
A pregação do Evangelho do Reino no contexto apocalíptico parece não
fazer alusão a uma missão cristã, e sim ao citado grupo de pregadores
israelitas escolhidos e a princípio dirigidos aos judeus (Mt 10:23). A
evangelização mundial parece alcançar seu ápice na pregação do Evangelho
Eterno (Ap 14: 6,7). Vale ressaltar que mesmo assim, a igreja de Cristo nesta
dispensação, recebeu a incumbência de evangelizar o mundo inteiro e não
pode negligenciar sua missão tarefa (Mc 16.15; Mt 28:18-20).
Pra terminar, quero dizer que a última trombeta citada por Paulo em 1
Coríntios 15:52, nada tem a ver com última trombeta de Apocalipse 11:15,
por razões claras: as menções retratam cenários escatológicos distintos: a
primeira a convocação dos salvos vivos e mortos para o arrebatamento e a
segunda para o anúncio do reino eterno de Cristo. Ademais, em João 14:1-
3, Atos 1:11, 1 Coríntios 15:52-58, Filipenses 3:20, Colossenses 3:4, entre
outras passagens, os apóstolos ensinaram que Cristo poderia retornar a
qualquer momento. Sem tal expectativa, a Igreja perde o foco espiritual e tem a
tendência de se tornar morta. Eu acredito num tipo de “igreja” ou de “salvos
mortos na tribulação” (Ap 7:13-16), mas não sendo integrantes desta igreja
promotora do Evangelho e da dispensação da graça (Ef 3.5-6; 2:8).

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