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CAPÍTULO 3

Macroeconomia
Fundamentos de Economia
Introdução
Neste Capítulo, você vai compreender as principais medidas de avaliação do
comportamento de uma economia como um todo, sendo capaz de distinguir
os fenômenos da macroeconomia e da microeconomia. Você será
introduzido aos principais instrumentos da política macroeconômica,  o que
lhe permitirá realizar análises práticas a partir desses. Também deverá ser
apresentado às medidas de mensuração da atividade econômica de um
país, entendendo os agregados que descrevem a economia através da
produção e da circulação de bens, assim como o fluxo monetário necessário
para sua efetivação. Por fim, você será capaz de relacionar os efeitos da
atividade econômica e das expectativas dos agentes sobre o nível geral de
preços da economia, compreendendo as principais causas e consequências
da inflação. Dessa forma, ao final deste Capítulo, você entenderá como o
contexto econômico no qual está inserido pode influenciar tomadas de
decisão no nível da organização, bem como de decisões pessoais.

1. Introdução à Macroeconomia
Você já deve ter percebido que, em determinados momentos, é muito fácil
encontrar um emprego, enquanto em outros, a oferta de vagas é reduzida.
Também já deve ter notado que o seu salário, que em um ano lhe permitia
adquirir uma certa quantidade de produtos, em outro ano pode não lhe dar
a mesma capacidade de compra. Tais fenômenos moldam como você se
insere nos mercados de trabalho e de consumo de bens, ou seja, definem o
contexto no qual você se insere em um sistema econômico. E é justamente
este o objetivo da macroeconomia: compreender e descrever as condições
econômicas que determinarão o comportamento dos agentes do mercado
(consumidores, investidores e firmas).
Essa breve contextualização provavelmente fez você refletir sobre as
principais diferenças entre a microeconomia e a macroeconomia. Conforme
visto anteriormente, a microeconomia tem o intuito de aprofundar as
questões relativas ao comportamento dos agentes econômicos, de modo a
permitir a compreensão de como eles interagem nos mercados formando
preços. Nesse sentido, são objetos da microeconomia questões relativas às
decisões de compra por parte do consumidor, à alocação dos insumos
produtivos para se ofertar uma quantidade que maximize o lucro por parte
da firma e à realização de investimentos para elevação de capacidade de
produção.

A macroeconomia tem como principal objetivo realizar uma análise ampla


das condições econômicas que moldam a tomada de decisão desses agentes
do mercado. Ou seja, apresenta os determinantes do desempenho
econômico geral de uma economia.

1.1 Estrutura de análise macroeconômica


A análise macroeconômica contempla alguns temas essenciais: atividade
econômica, desemprego, inflação e flutuações de curto prazo relativas aos
ciclos de negócios. Partiremos, portanto, para a elucidação de cada uma
dessas variáveis. Logo após, desdobraremos o escopo de atuação do
governo por meio das políticas macroeconômicas, apresentando as
principais formas de intervenção governamental nas variáveis vistas.

1.1.1 Atividade econômica


Você já deve ter ouvido falar a respeito do Produto Interno Bruto (PIB). O PIB
é a variável comumente adotada para mensurar o crescimento econômico
de um país. Mas você já parou para refletir sobre o que essa taxa de
crescimento quer dizer?

O PIB de um país mede o valor de mercado de todas as transações de bens


e serviços finais de uma economia em um determinado período do ano.
Usualmente, o PIB pode ser medido por meio de diferentes óticas:
SAIBA MAIS

Além da categorização a respeito dos bens, existe outra  forma  de


 classificá-los,   mas  de acordo com a proximidade do mercado consumidor
final. Pesquise e reflita a respeito dessa categorização de bens.

Ótica da produção: somatório da receita gerada aos produtores de bens


finais localizados no país pela venda de produtos finais na economia.
Nessa ótica, desconsidera-se o valor gerado pelo consumo
intermediário;
Ótica da despesa: somatório dos gastos dos agentes econômicos com a
aquisição de bens na economia. Portanto, é a soma do consumo das

famílias (despesas da sociedade civil com bens e serviços finais), dos gastos
do governo, dos gastos com investimentos por parte das empresas e, por
fim, do saldo da balança comercial, que nada mais é do que a diferença
entre o valor gerado pelas exportações nacionais e o valor gasto com as
importações;

Ótica da renda: somatório da renda gerada pelos fatores de produção


dentro do sistema econômico, ou seja, salários, aluguéis e lucros.

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No Brasil, o PIB é divulgado trimestralmente pelo Instituto Brasileiro de


Geografia e Estatística (IBGE). Entre no Sistema das Contas Trimestrais
Nacionais (SCTN), disponível no site: <http://www.sidra.ibge.gov.br/> e
faça uma análise das séries estatísticas do PIB nacional nas três óticas
descritas.
Mas, afinal, se o PIB pode ser mensurado por meio dessas três óticas,
estaríamos assumindo que os valores apresentados por cada uma deveria
ser equivalente? Isso seria possível? A resposta é sim!

Para que possamos entender esse raciocínio, é importante voltarmos ao


Fluxo Circular da Renda. Conforme visto, toda a produção de bens finais é
vendida no mercado de bens finais. Nesse sentido, podemos inferir que o
valor da produção de bens finais (ótica da produção) deverá ter como
contrapartida um gasto com essa produção (ótica da despesa). Ao mesmo
tempo, essa despesa só é possível de ser realizada na medida em que esses
agentes receberam uma renda, representada pela remuneração dos fatores
de produção (ótica da renda) no Fluxo Circular da Renda.

Mas qual a importância do PIB para a descrição e a análise do contexto


econômico de um país? De maneira geral, o PIB serve como uma medida de
evolução do processo de satisfação das necessidades de um país, ou seja,
quando o PIB apresenta uma taxa de crescimento, isso pode ser resultado
de um maior volume de necessidades sendo satisfeitas; nesse contexto,
podemos afirmar que mais riqueza está sendo gerada nesse país. Mas para
que possamos chegar a essa conclusão, é muito importante distinguir o PIB
Nominal e o PIB Real:

PIB Nominal: medido a preços correntes. Isso significa que sua


mensuração se dá por meio da contabilização dos preços no ano
corrente de análise;
PIB Real: PIB Nominal corrigido pela inflação, sendo calculado a preços
constantes. Para tanto, deve-se fixar um ano e deflacionar os demais.

Imagine uma economia que produz apenas batatas, roupas e carros,


conforme apresentado na tabela a seguir:
Tabela 1 – PIB Nominal vs. PIB Real
Fonte: Adaptado de GIANNETTI DA FONSECA, 2011, p. 247.
Note que o PIB Nominal saltou de $ 23,2 milhões em 2013 para $ 26,46
milhões em 2014, uma taxa de crescimento de aproximadamente 14,05%.
No entanto, será que a população sentiria essa suposta elevação da riqueza
gerada?

Como já discutido, a renda gerada para as empresas por meio das vendas de
bens e serviços servirá para o pagamento dos fatores de produção (salário,
aluguel e lucros), os quais retornarão à economia por meio do consumo dos
bens e serviços. As empresas que comercializam os bens dessa economia
obtiveram ganhos de receita que foram, na realidade, resultado do aumento
dos preços (observe que as quantidades produzidas nos dois anos foram
iguais). Nesse sentido, a população irá gastar mais com sua cesta de
consumo. Portanto, para saber se houve algum ganho real de bem-estar, é
preciso analisar o comportamento do PIB Real, cujo ano-base será 2013.
Assim, vamos calcular o PIB Real de 2014, considerando os preços
estabelecidos no ano- base.

Quando calculamos o PIB dos dois anos com os preços fixados em 2013,
observamos um resultado diferente: o crescimento do PIB no período foi
nulo (0%), o que nos remete à ideia de que a atividade econômica desse país
está estagnada. Por que isso aconteceu?

A riqueza gerada por uma economia refere-se ao número de necessidades


humanas que são satisfeitas por um determinado período de tempo, dada
uma certa quantidade de fatores de produção disponíveis. A tabela mostra
que, de 2013 para 2014, as quantidades produzidas de todos os bens não
sofreram alteração. Isso significa que, ao longo de um ano inteiro, essa
economia foi incapaz de elevar sua capacidade de satisfação de
necessidades. Portanto, o resultado real foi um crescimento de 0%. Assim,
aquele crescimento de 14,05% deveu-se à elevação dos preços (ler tópico
1.1.3) de 14,05%, na medida em que o PIB Real não apresentou variação de
um ano para outro.

Segue, portanto, que o PIB Real é calculado da seguinte forma:

PIB Real = [PIB Nominal/Deflator]*100 , onde o deflator é o número índice


de inflação (você pode utilizar o IPCA para deflacionar o PIB Nominal
brasileiro). Não se esqueça de que o ano- base do indicador de inflação tem
de ser o mesmo do PIB Real.
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Com base na fórmula do PIB Real apresentada, você saberia calcular qual foi
a taxa de inflação de 2014 em relação a 2013?

1.1.2 Desemprego
A taxa de desemprego de uma economia é dada pela divisão do número de
desempregados pelo total da população disponível no mercado de trabalho.
De maneira geral, a Teoria Econômica distingue o desemprego por meio de
três categorias: friccional, cíclico e estrutural.

O desemprego friccional é aquele que decorre de um processo natural de


busca por emprego. Imagine que você esteja empregado em um setor
comercial, mas seu sonho é trabalhar na área financeira. Depois de finalizar
o processo de qualificação na área financeira, você resolve largar seu atual
emprego para perseguir seu sonho. Enquanto não encontra um novo
emprego, sua condição é de desempregado, mas note que essa situação foi
perseguida por você mesmo, de modo que podemos classificá-la como
“desemprego voluntário”. Naturalmente, esse tipo de desemprego não tende
a ser preocupante, na medida em que reflete um desejo do próprio agente
que oferta trabalho no mercado de trabalho.

O desemprego cíclico é caracterizado pela evolução do desemprego em cada


fase do ciclo econômico, sendo o tipo de desemprego que mais preocupa os
economistas. Em momentos de crescimento do PIB, as empresas tendem a
contratar maior número de funcionários para que consigam efetivar seus
planos de crescimento. Em momentos de crise, no entanto, as empresas
costumam iniciar processos de demissão, visando adequar sua estrutura
produtiva a um cenário de vendas reduzidas. Existe, portanto, uma parcela
do desemprego que é resultado direto da atividade econômica; em
momentos de crescimento, as taxas de desemprego cíclico tendem a cair, ao
passo que, em momentos de retração, começam a apresentar indicadores
cada vez mais elevados.

Por fim, temos o desemprego estrutural, que é resultado do


desenvolvimento tecnológico. Esse tipo de desemprego surge quando uma
tecnologia torna obsoleto um determinado tipo de trabalho. Foi justamente
essa a razão da redução dos empregos gerados por dois setores econômicos
ao longo das últimas décadas: automobilístico e bancário. O processo de
automação em ambos os segmentos substituiu parte expressiva da mão de
obra por máquinas. No setor automobilístico, a automação inseriu robôs na
linha de montagem, causando demissões em massa nas montadoras. Já o
setor bancário reduziu a demanda por serviços na agência, o que ocasionou
demissões ao instalar caixas eletrônicos, bem como os serviços feitos via
internet.

1.1.3 Inflação
A inflação se refere ao movimento de elevação dos níveis de preços gerais
de uma economia. Sua mensuração se dá através de números-índices, que
lhes permitirão calcular uma variação percentual para cada período de
análise. Usualmente, os indicadores de inflação são divididos de acordo com
a cesta de bens que os constitui:

Índice de Preços ao Consumidor: calculados a partir de uma cesta de


bens consumida pela população. Como exemplo, é possível citar o
índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do IBGE;
Índices de Preços ao Produtor: calculados a partir de cestas compostas
por matérias- primas. Como exemplo, é possível citar o Índice de Preços
ao Produtor Amplo (IPA), da FGV.

Mas, ao analisar de uma maneira prática, como a elevação de preços tende a


afetar as decisões econômicas dos agentes de mercado?

Situação 1: Como a inflação afeta a decisão do consumidor?

Você está em um estágio cuja remuneração mensal é de R$ 800,00. Como


você é estudioso, mas também gosta de se divertir nas horas vagas, gasta
seu salário integralmente na aquisição de livros e com atividades de lazer,
como cinema e shows. Neste primeiro ano em que esteve empregado, a
média de preço do livro era de R$ 50,00 e dos gastos relativos a cada hora
de lazer era, na média, de R$ 35,00. Dadas as suas preferências, ao final do
mês você costumava gastar seu salário comprando 9 livros (R$ 450,00) e 10
horas de lazer (R$ 350,00). Ao completar um ano no trabalho, seu chefe lhe
chamou para uma reunião e anunciou um reajuste salarial de 5%, de modo
que seu rendimento agora é de R$ 840,00. Será que você aumentou sua
capacidade de compra? Para responder a essa pergunta, não basta olhar
para a forma como seu rendimento evoluiu no ano. Você também deverá
questionar a maneira como os preços dos bens que você adquire evoluiu.

Se, por exemplo, o preço do livro foi para R$ 60,00 e o da hora de lazer foi
para R$ 42,00, note que agora você deverá adquirir menores quantidades
dos dois bens: a aquisição de 9 livros lhe custaria agora R$ 540,00, enquanto
a mesma quantidade de horas de lazer lhe exigiria um montante de R$
420,00. Nesse sentido, para manter a mesma capacidade de compra, você
deveria estar ganhando R$ 960,00, e não R$ 840,00.

Por que isso aconteceu? Perceba que os preços das mercadorias que
costuma adquirir evoluíram em 10%, ao passo que seu rendimento cresceu
apenas 5%. Essa relação entre preços e renda determina o poder de compra
do consumidor. Em processos inflacionários, os rendimentos podem crescer
em menor velocidade quando comparados à evolução dos preços, de modo
que, na prática, se observa uma menor capacidade de compra. Portanto, um
dos principais resultados de processos inflacionários pode ser a corrosão do
poder de compra dos indivíduos, o que resulta em uma redução do bem-
estar.

Situação 2: Como a inflação afeta a decisão das firmas?

Imagine que você atue na área de compras de insumos de uma empresa.


Antes de realizar os contratos de compra com seus principais fornecedores,
é absolutamente relevante que você avalie a proposta realizada de
pagamento de acordo com a sua expectativa quanto à inflação. Por quê?

Se você acredita que o preço do insumo que está negociando vá sofrer uma
elevação de preço de cerca de 15% em 12 meses, e o seu fornecedor está
disposto a fechar o contrato a preços presentes para pagamento em duas
parcelas, uma à vista e outra ao final de 12 meses, você tende a aceitar a
proposta. Isso porque, mesmo exigindo 50% do pagamento no ato da
assinatura do contrato, ao final do período você deveria pagar 15% a mais
pelo restante da compra. Logo, as expectativas quanto à inflação são muito
importantes para diversos tipos de decisões no nível da firma.

1.1.4 Flutuações de curto prazo relativas aos ciclos de


negócios
Os ciclos que os negócios encontram têm relação direta com as fases do
crescimento econômico, ou seja, estão ligados ao comportamento do PIB
Real. Mais do que isso, a fase na qual se encontra a economia tende a “puxar
e ser puxada” pelo comportamento das demais variáveis macroeconômicas,
como desemprego e inflação. Por isso, mensurar e prever de maneira
correta os ciclos econômicos nos quais as empresas se inserem é de
extrema importância para a tomada de decisão.

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DORNBUSCH, R.; FISCHER, S. (1991): “O ciclo de negócios é um padrão mais


ou menos regular de expansão (recuperação) e de contração (recessão) da
atividade econômica em torno de uma trajetória tendencial de crescimento”.

MANKIW, G. (2009): “Flutuações da atividade econômica, medidas pelo


número de pessoas empregadas ou pela produção de bens e serviços”.

O comportamento do PIB Real não segue uma tendência linear de


crescimento, apresentando flutuações ao longo do tempo, o que caracteriza
períodos de crescimento econômico seguidos de estagnação e/ou recessão.
Apesar das flutuações, as economias tendem a apresentar uma tendência
de crescimento entre um ciclo e outro, que representa os avanços
econômicos que temos ao longo do tempo. Dessa forma, se formos
representar o fenômeno dos ciclos dos negócios, encontraremos algo
conforme se segue:
Figura 1 – Ciclos econômicos.
Fonte: DORNBUSCH, R.; FISCHER, S., 1991, p. 17.
Dessa forma, saber identificar a fase do ciclo na qual se encontra o negócio é
extremamente importante tanto para os decisores quanto para os
formuladores de política econômica. Em relação a estes últimos, o
diagnóstico correto permite a formulação e a implementação de políticas
macroeconômicas adequadas como forma de acentuar os resultados da
economia em fases de crescimento, bem como atenuar e combater as
implicações das recessões.

1.2 Instrumentos de política


macroeconômica
Conforme já discutido, o Estado pode tomar uma série de medidas visando
ajustar o desempenho da economia a seus objetivos de curto e longo prazo
através da formulação e da implementação de políticas econômicas, as quais
se dividem de acordo com seu escopo de atuação: fiscal, monetária, externa
e de renda. Discutiremos, a seguir, os principais instrumentos de cada uma
delas, pontuando seus objetivos quanto à correção das flutuações
econômicas.

1.2.1 Política fiscal


Você deve lembrar que alguns anos atrás o governo federal concedeu uma
série de benefícios fiscais, como a redução do IPI (Imposto Sobre os
Produtos Industrializados) em setores que vendiam bens de consumo
duráveis, como automóveis, geladeiras e fogões. É possível que você
também já tenha percebido que, em algumas fases, o governo inicia uma
série de obras de infraestrutura.

Mas, afinal de contas, qual a relação dessas medidas com os objetivos de


política econômica?

Quando o governo pretende estimular a atividade econômica por meio dos


instrumentos fiscais, tende a elevar seus gastos e reduzir os impostos,
caracterizando uma política fiscal expansionista.

Voltando aos exemplos apresentados, quando o governo reduziu o IPI,


permitiu que os produtos beneficiados fossem vendidos a preços mais
baixos. A redução de preço, por sua vez, eleva a demanda por esses bens.
Essa elevação da demanda dos bens exige, em contrapartida, uma maior
disponibilidade de renda para o consumo. Nesse sentido, esse tipo de
medida tem maior efeito quando conjugada a uma maior massa salarial. É
justamente nesse ponto que inserimos na análise a segunda medida
apresentada: elevação dos gastos públicos. Quando o governo executa
obras de infraestrutura, gera empregos diretos e indiretos. Ao gerar
emprego, eleva a renda disponível na economia, que será gasta em bens e
serviços. Dessa forma, a maneira pela qual o governo executa seus gastos e
estrutura sua forma de arrecadação determina o tipo de política fiscal, a
qual está submissa aos objetivos de desempenho econômico.

Assim, os dois principais instrumentos de Política Fiscal são a Política de


Gastos e a Política Tributária, os quais apresentam diferentes tendências
para cada objetivo fiscal: expansão ou contração da atividade econômica.

Tabela 2 – Expansão econômica X Contração econômica


Fonte: Autor.
Quando a economia se encontra em um ciclo recessivo, a atividade
econômica pode ser estimulada pelo governo com uma política fiscal
expansionista. Até então, esse tipo de ação parece até óbvia. Mas se
observarmos a política fiscal contracionista, nos perguntamos: por que
reduzir os gastos do governo e elevar impostos se isso tende a desestimular
o crescimento econômico? Quando e por que o governo deve perseguir a
desaceleração econômica?
Para tanto, devemos nos ater aos possíveis efeitos de uma política fiscal
expansionista nos cofres públicos e na inflação.

Ao estimular a demanda em uma economia, há uma tendência natural de


elevação de preços, ainda mais quando os investimentos privados não
acompanham esse movimento. Quando a inflação começa a se acelerar,
uma das formas de frear esse processo é desestimular o consumo dos bens
para que não se tenha mais pressão por parte do mercado consumidor.
Nesse sentido, uma política fiscal contracionista pode visar controlar algum
processo inflacionário que tenha se instalado na economia.

Por outro lado, a política fiscal expansionista, ao mesmo tempo em que


eleva os gastos do governo, reduz sua arrecadação, ocasionando um déficit
público. O déficit público é resultado de uma situação em que o governo
gasta mais do que arrecada. Assim como você pode eventualmente gastar
mais do que a renda que tem disponível, o governo também pode. Mas essa
situação não se sustenta no longo prazo. Nesse sentido, uma política fiscal
contracionista tem como um dos seus objetivos o ajuste das contas públicas.

1.2.2 Política monetária


Já vimos no fluxo circular da renda que toda compra de bens e serviços exige
como contrapartida um pagamento. Na medida em que temos a moeda
como meio de troca, toda transação exige um estoque de moeda para ser
efetivado. É justamente nesse sentido que surge a política monetária, que
estabelece a forma de atuação do governo sobre a quantidade de moeda
disponível na economia.

O Banco Central (BACEN) é a instituição responsável pelo controle da oferta


de moeda na economia. Nesse sentido, é ele quem formula e executa as
ações das políticas monetárias por meio dos seguintes instrumentos:
recolhimento dos compulsórios (depósitos que os bancos comerciais são
obrigados a realizar junto ao BACEN), operações de open market (compra e
venda de títulos públicos) e políticas de redesconto (empréstimos do BACEN
aos bancos comerciais).

Para que os agentes econômicos respondam de maneira desejada em cada


um desses instrumentos apresentados, o BACEN utiliza a taxa de juros como
sinalizador. Por exemplo, quando há elevação da taxa, o retorno dos títulos
públicos fica mais atrativo. Os agentes econômicos compram esses títulos,
entregando ao BACEN (vendedor do título) a moeda que estava em
circulação. Dessa forma, o BACEN consegue reduzir a quantidade de moeda
em circulação, o que tende a frear os processos inflacionários.

Assim como a política fiscal, a política monetária pode ser dividida de acordo
com o seu fim:

Política monetária contracionista: elevação da taxa de juros com


redução da quantidade de moeda circulante na economia;
Política monetária expansionista: redução da taxa de juros com
elevação da moeda circulante na economia.

1.2.3 Política externa


A política externa estabelece a forma como o governo controla as variáveis
relativas ao setor externo da economia, e é dividida em dois escopos:
cambial e comercial.

1.2.3.1 Política cambial


A política cambial refere-se a como o governo administra o valor da sua
moeda em comparação a outras, ou seja, sua taxa de câmbio. O valor da
taxa de câmbio tem uma relação direta com os fundamentos do mercado de
câmbio, ou, em outras palavras, com a oferta e demanda por moeda
estrangeira.

A forma como é realizado esse controle depende do regime de câmbio


existente:

Regime de Câmbio Fixo: nesse tipo de regime, o BACEN se compromete


a manter fixa a taxa de câmbio. Para tanto, deverá utilizar as reservas
internacionais para manter fixo o preço da moeda;
Regime de Câmbio Flutuante: nesse caso, o BACEN não atua no
mercado de câmbio, assim a taxa flutua de acordo com a interação
entre oferta e demanda de moeda estrangeira.

De maneira geral, a vantagem de um Regime de Câmbio Fixo se assenta no


fato de haver redução das incertezas e dos movimentos especulativos no
mercado de câmbio. Por sua vez, um Regime de Câmbio Fixo pode levar as
reservas internacionais a níveis preocupantes, resultando em desequilíbrios
ao balanço de pagamentos. Já o Regime de Câmbio Flutuante tem como
vantagem o equilíbrio do balanço de pagamentos, ao passo que traz maiores
incertezas quanto aos contratos firmados em moeda estrangeira e à
possibilidade de especulação.

1.2.3.2 Política comercial


O governo também pode atuar nas relações externas por meio de políticas
que visem alterar os fluxos de mercadorias entre o seu país e os demais, ou
seja, pode estabelecer instrumentos que estimulem e/ou desincentivem
importações e exportações.

As exportações referem-se ao fluxo de mercadorias produzidas


internamente e que são vendidas para países estrangeiros. Portanto,
quando deseja estimular a venda de produtos ao exterior, costuma
estabelecer incentivos fiscais (como redução dos impostos que incidem
sobre as mercadorias a serem exportadas) e creditícios (como as taxas de
juros subsidiadas).

Já as importações são os bens comprados por um país que foram


produzidos em outro. As políticas que visam incentivar a entrada de
produtos importados em um país podem ter como objetivo, por exemplo, a
modernização de um parque fabril. Nesses casos, o governo tende a reduzir
impostos sobre os produtos importados que pretende beneficiar. No
entanto, muitas vezes a intenção do governo está no estímulo à indústria
local, fazendo-lhe tomar medidas que coíbam a entrada de importados.
Como exemplo, temos a imposição de barreiras que podem ter natureza
tarifária (impostos) e quantitativas (cotas de importação).

1.2.4 Políticas de renda


As políticas de renda constituem-se por meio da atuação direta do governo
sobre as rendas (em especial, salários e aluguéis). O instrumento de atuação
se dá através do controle e do congelamento desses rendimentos.

Dessa forma, o estabelecimento de um salário mínimo a ser praticado em


uma economia está no âmbito da política nacional de renda. Também temos
as políticas de congelamento de preços, comumente empregadas nos
planos econômicos anti-inflacionários.
2. Contabilidade Social
No primeiro item deste Capítulo, discutimos os agregados macroeconômicos
e a forma como o governo atua sobre eles. Abordamos as principais
variáveis da Teoria Macroeconômica e os instrumentos de política
econômica. Esses agregados, por sua vez, são medidas que resultam de um
sistema de mensuração criado no âmbito da Contabilidade Social.
Detalharemos, a seguir, esse processo de mensuração da atividade
econômica.

2.1 Medida do Produto e da Renda Nacional


A atividade econômica de um país pode ser mensurada de diversas formas.
Por exemplo, o número de falências e concordatas em um determinado
período pode servir de termômetro do desempenho da economia. Em fases
de crescimento econômico, as firmas costumam ter maior facilidade de
operação, uma vez que encontram mais facilmente demanda, diminuindo o
número de pedidos de falência. Quando a economia está em recessão,
ocorre o oposto: as empresas de economia tendem a enfrentar demanda
retraída, o que eleva essa taxa. Outro instrumento auxiliar seria o consumo
de energia: em momentos de expansão econômica, as fábricas costumam
operar com maior utilização de sua capacidade produtiva, ao passo que em
momentos de retração, elas tendem a deixar mais máquinas ociosas,
utilizando, portanto, menos energia.

Todas essas medidas, contudo, são apenas instrumentos auxiliares que dão
“dicas” a respeito do comportamento da atividade econômica. Na prática,
conforme já vimos inicialmente, precisamos entender o processo de
mensuração do Produto Nacional e da Renda Nacional. Para tanto,
imaginemos uma economia que produza apenas dois tipos de bens:
alimentos e vestuário, tendo os seus resultados apresentados na tabela a
seguir:
Tabela 3 – Valor total da produção e total de renda gerada
Fonte: Adaptado de GIANNETTI DA FONSECA, 2011, p. 237.
Observe que a tabela apresentada não contempla a mensuração dos
insumos intermediários. Por exemplo, para fabricar alimentos, foi necessário
utilizar sementes, defensivos, entre outros insumos. Da mesma forma, para
produzir vestuário, é necessário utilizar fibras, tecidos etc. Por que, ao expor
o processo de Mensuração do Produto e da Renda Nacional, não
contabilizamos as transações intermediárias, ou seja, as transações que se
referem à compra de insumos e que ocorrem entre empresas? A resposta
para essa pergunta é muito mais simples do que se imagina, pois o valor
dessas transações já está “embutido” no preço final dos produtos vendidos
ao mercado consumidor. Nesse sentido, se contabilizássemos esse tipo de
transação no produto nacional, enfrentaríamos um problema de “dupla
contagem”.

Isso quer dizer que as transações intermediárias nunca deverão ser


contabilizadas? Não. Para fazermos isso, precisamos nos ater ao processo de
mensuração do Valor Adicionado, ou seja, a discriminação do quanto cada
insumo adiciona valor ao produto final.

2.1.1 Valor adicionado


Para compreender o processo de mensuração do Valor adicionado, vamos
abordar um exemplo ainda mais simplificado. Imaginemos que nossa
economia produza apenas um bem final: livro.

Seu processo de fabricação envolve a combinação de tinta e papel, os quais


originam-se de corantes e madeira, respectivamente. Vamos supor que a
madeira é extraída diretamente da natureza, ao passo que o corante estava
acumulado em estoques, ou seja, havia sido produzido em um momento
anterior ao período no qual queremos mensurar a atividade.
Tabela  4  – Valor adicionado
Fonte: GIANNETTI DA FONSECA, 2011, p. 239.
Nessa tabela, temos discriminado o valor das vendas de cada estágio da
produção (1), com os custos inerentes a cada um (2). Como estabelecemos
que a madeira é extraída diretamente da natureza, não atribuímos custo a
essa etapa. Como o corante estava estocado, também não foi atribuído
custo algum. As tintas, por sua vez, apresentam os custos de produção
relativos à compra do corante para sua fabricação, e o papel, da madeira.
Assim, temos que o somatório do valor da produção de bens é de $ 490 mil;
desse valor, $ 290 mil referiram-se à aquisição de matérias-primas, de modo
que o Valor adicionado à produção totalizou $ 200 mil.

Ao considerarmos, portanto, a produção de intermediários no cálculo do


produto e renda dessa economia, teremos:

Tabela 5 – Contas de Produto e Renda


Fonte: GIANNETTI DA FONSECA, 2011, p. 239 e 240.
A contabilização da produção leva em consideração o  valor gerado pela
venda dos livros  e dos bens intermediários, os quais devem ser subtraídos.
A  descrição da  renda estabelece o detalhamento da remuneração em todas
as atividades, as quais devem bater com o Valor adicionado à produção de
livros.

2.1.2 Despesa nacional


Todavia, conforme apresentado no início deste Capítulo, a identidade entre
Produto Nacional e Renda Nacional também é válida para a despesa
nacional. Quando o sistema econômico é composto de famílias, empresas,
governo e também realiza transações comerciais com o cenário externo,
vamos caracterizar a despesa nacional através da soma dos gastos de cada
um desses agentes com o produto nacional:

DN = C + I + G + (X-M) , onde:

C = despesas das famílias com bens de consumo; I = Despesas das empresas


com investimentos; G = gastos do governo; X = exportações e M =
importações.

2.1.3 Poupança e investimento


Até então, supomos que as famílias gastam sua renda disponível na
aquisição de bens de consumo. Mas e se elas decidirem poupar parte de sua
renda para cobrir emergências que possam surgir em algum momento
futuro?

Também estabelecemos que as empresas produziam somente bens de


consumo. Excluímos da análise a fabricação de máquinas e equipamentos,
indispensáveis para a produção desses tipos de bens. Como devemos tratar
esses eventos na mensuração da atividade econômica? Bom, é justamente
através deles que surgem os conceitos Poupança e Investimento.

A poupança é a parcela da renda que não é gasta em consumo no período


analisado, ou seja, refere-se ao montante gerado pelo pagamento dos
fatores de produção (salários, juros, aluguéis e lucros) às famílias que não foi
destinado ao consumo de bens.

S = RN –  C , onde:

S = poupança; RN = renda nacional; C = consumo agregado.


O investimento refere-se a toda alocação de recurso que visa aumentar a
capacidade de produção das empresas inseridas no sistema econômico.
Nesse sentido, envolve a aquisição de máquinas e equipamentos (bens de
capital) e a variação de estoques de produtos não consumidos.

I = Investimento em bens de capital + Variação de estoques

É importante lembrar que essa definição não contempla investimentos em


aplicações financeiras, pois esses não aumentam a capacidade física de
produção das empresas. Da mesma forma, a aquisição de maquinários
usados também não deve entrar na contabilização, pois se de um lado está
elevando a capacidade de produção de quem compra, de outro, alguém está
se desfazendo desta, ou seja, alguém realizou um “desinvestimento”. Nesse
caso, incorreríamos no mesmo erro de dupla contagem discutido
anteriormente.

Como todo equipamento tem uma vida útil, chega um dado momento que a
empresa que o utiliza precisa substituí-lo. Toda reposição de um maquinário
já obsoleto não eleva a capacidade de produção, mas a mantém. Nesse
sentido, ao inserirmos na análise o conceito de depreciação, cria-se uma
nova medida do Produto Nacional, o Produto Nacional Líquido (PNL):

PNL = PNB – Depreciação , onde PNB é o Produto Nacional Bruto.

2.1.4 Produto Nacional e Produto Interno


A globalização dos mercados acentuou o processo de internacionalização
das empresas, ao mesmo tempo que permitiu uma maior rede de interações
entre os agentes econômicos que não se situam nas mesmas fronteiras.
Portanto, é absolutamente importante distinguir a origem dos fatores de
produção no processo de geração do produto da economia.

Por exemplo, imagine uma empresa brasileira que tenha uma filial localizada
na França. Nesse caso, temos um capital nacional sendo empregado em
outro país, mas que pode remeter lucros para cá. Ao mesmo tempo, temos
muitas empresas estrangeiras operando em território nacional; para fabricar
os produtos, utilizam mão de obra e matéria-prima daqui, mas remetem
seus lucros para as matrizes. Por meio desses dois exemplos, podemos
desenhar um fluxo de capital que não respeita fronteiras: rendas geradas
em outros países são constantemente remetidas para cá, assim como
empresas de capital estrangeiro remetem rendas geradas internamente.
Delimitamos que a diferença entre esses dois movimentos (entrada e saída
de capital), que decorrem de transferências externas, caracteriza a Renda
Líquida dos Fatores Externos (RLFE):

RLFE = Renda recebida do exterior – Renda enviada ao exterior

Se considerarmos esses movimentos no Processo de Mensuração do


Produto, temos o Produto Nacional Bruto, mas se desconsiderarmos esse
fluxo da análise, chegamos ao Produto Interno Bruto (PIB):

PIB = PNB – RLFE

SAIBA MAIS

MANKIW, N.G. (2009): “Produto Nacional Bruto (PNB) é a renda total dos
residentes permanentes de um país. Difere do PIB por incluir a renda que
nossos cidadãos ganham no exterior e por excluir a renda que os
estrangeiros ganham aqui. Por exemplo, quando um cidadão do Canadá
trabalha temporariamente nos Estados Unidos, sua produção é parte do PIB
americano, mas não é parte do PNB americano (sua produção é parte do
PNB canadense). Para a maioria dos países, incluindo os Estados Unidos, os
residentes domésticos são responsáveis pela maior parte da produção
interna, de modo que o PIB e o PNB são muito próximos.”

VASCONCELLOS, M. A. S; GARCIA, M. E (1998, p. 104): “O Produto Interno


Bruto (PIB)

é o somatório de todos os bens e serviços finais produzidos dentro do


território nacional num dado período, valorizados a preço de mercado, sem
levar em consideração se os fatores de produção são de propriedade de
residentes ou não residentes.”
2.2 Teoria da Determinação da Renda
Na discussão a respeito dos ciclos econômicos, vimos que os agregados
macroeconômicos apresentam comportamentos distintos em cada uma de
suas fases. Assim, apesar de o produto nacional apresentar uma tendência e
crescimento ao longo dos anos, no curto prazo desvios ocorrem: há fases
em que o produto nacional tende a elevar-se acima da média, e outras em
que podemos observar queda do produto real.

Vimos também que a política fiscal atua diretamente sobre esses


movimentos. John Maynard Keynes foi o principal responsável por mostrar o
papel da política fiscal na condução da economia ao pleno emprego, ou seja,
a importância da política fiscal na correção das flutuações de curto prazo do
produto nacional.

Mas para que possamos entender de fato as implicações dessas medidas


sobre a inflação, vamos discorrer sobre a Teoria de Determinação da Renda
tendo como ponto de partida o modelo keynesiano básico.

2.2.1 Oferta agregada, demanda agregada e equilíbrio


Antes de detalharmos o modelo, faz-se necessário estabelecer algumas
hipóteses que moldarão as nossas variáveis de análise.

Keynes acreditava que a economia vive flutuações de curto prazo, ou seja, o


nível do produto nacional é dado em uma situação em que há desemprego e
outros recursos produtivos ociosos. Nesse sentido, discutiremos a seguir o
impacto dessa suposição para o formato da curva de oferta agregada.

2.2.1.1 Oferta agregada


A principal implicação dessa suposição refere-se ao fato de que os
produtores (ofertantes) nessa economia, ao produzirem sempre com
capacidade ociosa e em um cenário de desemprego, quando há um choque
positivo de demanda, podem elevar sua produção sem haver qualquer
necessidade de elevação de preços.

Para entender o que isso quer dizer, imagine que você é um fabricante de
ventiladores e que o verão tem apresentado temperaturas muito elevadas, o
que impulsiona a demanda acima da sua expectativa. Tendo em vista que
possui algumas máquinas ociosas no processo produtivo, e que há
desemprego na economia, você consegue elevar sua produção sem ter que
elevar os preços dos ventiladores.

No entanto, se essa economia alcança o pleno emprego dos recursos, torna-


se impossível aumentar a produção, mesmo com elevações no nível de
preços, pois todos os insumos disponíveis para a produção já estão
devidamente alocados em estruturas produtivas.

Se formos representar a oferta agregada dessa economia, considerando os


dois cenários expostos, teremos a seguinte situação:

Figura 2 – Curva de oferta agregada.


Fonte: Adaptado de LANZANA; VASCONCELLOS, 2011, p. 256.
Isso significa que a economia, ao esgotar a utilização dos seus recursos
disponíveis, alcançou a sua capacidade máxima de produção para sempre?
Ou seja, toda a economia tem um limite de possibilidades de crescimento?

Em um cenário de curto prazo, é bastante razoável imaginar que haja tal


limite. Contudo, quando expandimos o horizonte temporal da análise,
percebemos que esse limite é possível de ser alterado. Para que possamos
compreender tal processo, voltemos ao conceito da Curva de Possibilidades
de Produção (CPP).

Cada ponto ao longo da CPP representava diferentes combinações de


alocações de insumos para a produção de bens em uma economia. Fazendo
um paralelo com os conceitos vistos agora, a CPP representa o nível de
oferta agregada da economia mediante a utilização plena de todos os
recursos produtivos. Isso significa que cada um dos eventos que podem
deslocar a CPP deslocam também a Curva de Oferta Agregada.

Por exemplo, uma elevação da produtividade em uma economia significa


que, para um mesmo nível de emprego de recursos, tem-se uma maior
quantidade de bens sendo gerados. Um dos eventos mais comuns capazes
de elevar a produtividade é o progresso tecnológico.
2.2.1.2 Demanda agregada
A curva de demanda agregada representa o quanto o total de consumidores
dessa economia demandarão para cada nível de preços possível, ou seja, a
curva de demanda agregada reflete o nível de despesa que essa economia
alcança para diferentes níveis de preços. Como já havíamos caracterizado
anteriormente, a despesa dos agentes em um sistema econômico é dada
por:

DA = C + I + G + (X – M) , onde:

DA = demanda agregada; C = consumo das famílias; I = investimento


realizado pelas empresas; G = gastos do governo; (X – M) = demanda líquida
do setor externo.

Na medida em que elevações de preços reduzem o poder de compra dos


agentes do sistema econômico, dizemos que a curva de demanda agregada
é negativamente inclinada:

Figura 3 – Demanda agregada.


Fonte: LANZANA, A.E. T; VASCONCELLOS, M.A.S., 2011, p. 257.
2.2.1.3 Equilíbrio
Como já havíamos determinado que Despesas são exatamente iguais ao
Produto em uma economia, o equilíbrio macroeconômico de curto prazo se
dá no ponto em que a Demanda Agregada se iguala à Oferta Agregada (DA =
OA).
Figura 4 – Equilíbrio macroeconômicoFigura 4 – Equilíbio macroecoômico.
Fonte: LANZANA, A. E. T; VASCONCELLOS, M. A. S., 2011, p. 257.
Ao observar esse gráfico, quando se enfrenta um cenário de desemprego
(segmento horizontal da curva de oferta agregada), uma política fiscal
expansionista que eleve os gastos do governo desloca a curva de demanda
agregada para a direita (DA0  DA1). Esse deslocamento gera um novo ponto
de equilíbrio, que permite a elevação da renda nacional sem qualquer
alteração do nível de preços.

Assim, chega-se à conclusão de que, mediante cenários de desemprego, é


possível elevar a renda de equilíbrio dessa economia sem haver qualquer
tipo de pressão inflacionária. Dessa forma, conforme já discutido, para se
elevar o produto sem pressões inflacionárias no longo prazo, é
imprescindível elevar a produtividade do trabalho por meio do
desenvolvimento tecnológico.

SAIBA MAIS

Keynes foi um grande defensor da política fiscal como instrumento de


correção dos ciclos econômicos. Discuta o significado de sua famosa frase,
que resume suas conclusões a respeito do debate com os economistas
clássicos: “No longo prazo estaremos todos mortos”.
2.2.1.4 Determinantes dos agregados macroeconômicos
O consumo agregado de um país no mercado de bens e serviços é
influenciado por diversos fatores, como disponibilidade de crédito,
expectativas quanto à renda futura etc. No entanto, existe um fator que
diversos estudos apontaram como sendo absolutamente fundamental no
processo de determinação do nível de consumo em uma economia: renda
disponível para aquisição de bens.

Na medida em que existe governo em um sistema econômico, supomos que


a renda disponível se caracterizará como a renda livre de impostos que
poderá ser destinada para aquisição de bens. Nesse sentido:

C = ƒ(Y ) , onde
d

C = consumo agregado; Yd = renda nacional disponível.

Yd  = Y –  T , onde

Y = renda nacional; T = tributos.

Dado que existe um nível de consumo de sobrevivência, supõe-se que há


uma parcela do consumo que será independente do nível de renda
disponível, a qual chamaremos de “consumo autônomo”. Por outro lado, ao
assumir a existência de poupança na economia, supomos que nem todo
acréscimo de renda é gasto integralmente em consumo. Surge então o
conceito de Propensão Marginal a Consumir, o que nos permite chegar à
seguinte função de consumo agregado:

C = a + b(Y , onde:
d

C = consumo agregado, a = consumo autônomo, b = propensão marginal a


consumir e Yd = renda disponível.

Como estabelecemos a existência de poupança por parte dos agentes


econômicos, vamos precisar conceituar a poupança agregada: montante da
renda nacional disponível que não foi gasto em consumo. Reflete, portanto,
o consumo abdicado no presente para poder ser efetivado no futuro.

S = Y  - C , onde
d

S = poupança agregada; Y = renda disponível; C = consumo agregado.


d
Da mesma forma que para montar a função de consumo tivemos que
estabelecer um coeficiente no qual cada renda gerada se traduzia em
consumo (propensão marginal a consumir), precisamos adotar o mesmo
procedimento para a poupança. Como a renda disponível ou é gasta em
consumo ou é poupada para consumo futuro, temos que a propensão
marginal a poupar é:

S = Yd – (a + bYd )

S = Y d – a − bY d

S =– a + (1 − b)Yd , onde

(1 – b) = propensão marginal a poupar.

Vamos entender essa relação entre propensão marginal a poupar e


consumir através de um exemplo prático. Diversos estudos apontam que
países menos desenvolvidos tendem a apresentar menores níveis de
propensão marginal a poupar. Isso ocorre, pois a renda gerada neles é
menor do que em países desenvolvidos. Nesse sentido, as pessoas não têm
um hábito de formação de poupança.

Imaginemos que no Brasil, em média, a cada R$ 100 de renda gerada, R$ 15


são poupados e o restante, R$ 85,00, são gastos. Nesse sentido, 15% da
renda gerada se transforma em poupança, ao passo que 85% é gasta no
consumo de bens. Logo, a propensão marginal a consumir é igual a 0,85, ao
passo que a propensão marginal a poupar é igual a 0,15.

Por fim, vamos discorrer sobre o investimento agregado , caracterizado


por um  estoque  de capital que é revertido na aquisição de bens que sejam
capazes de elevar a capacidade de produção das firmas. Como o
investimento agregado é resultado da decisão das firmas, independe do
nível de renda disponível. Seus determinantes referem-se à rentabilidade
esperada com a aquisição do ativo e à taxa de juros do mercado.

Para saber se vale a pena investir em um determinado maquinário, o decisor


compara a rentabilidade esperada com a taxa de juros:

Se a taxa de juros superar a rentabilidade, significa que o custo será


maior do que o retorno, logo, não investe;
Se a taxa de juros foi inferior à rentabilidade, significa que o custo é
menor do que o retorno, compensando investir.
2.3 Introdução à Teoria Monetária
Todo sistema econômico está ancorado em relações de trocas. Adam Smith
já anunciava essa característica quando creditou ao homem uma tendência
à realização de trocas e barganhas. Essa tendência aos processos de
negociação é apontada por Heilbroner (1980):

[...] As comunidades têm negociado entre si desde, pelo menos, a


última Idade Glacial. Temos provas de que caçadores de mamutes das
estepes russas obtiveram em troca conchas mediterrâneas, o mesmo
acontecendo com os caçadores do Cro-Magnon dos vales centrais da
França. De fato, nas charnecas da Pomerânia, no Nordeste da
Alemanha, arqueólogos encontraram uma caixa de carvalho repleta
com os restos de suas alças de couro originais, na qual havia uma
adaga, uma cabeça de foice e uma agulha, tudo de fabricação da
Idade do Bronze. De acordo com as conjecturas dos especialistas, era
muito provável que isso fosse o mostruário de um protótipo de
vendedor ambulante, um representante itinerante que recolhia
encomendas para a produção especializada de sua comunidade.
(HEILBRONER, 1980, p. 39).

Quando a sociedade se organiza de maneira rudimentar, tendo a produção


uma característica de subsistência, as trocas ocorrem apenas em função do
excedente gerado. Quando se tem esse tipo de relação de troca, há a
necessidade de coincidir desejos; se você deseja adquirir batatas, mas só
tem um excedente de milho, precisará encontrar alguém que esteja disposto
a trocar batatas por milho.

Quando as sociedades vão aumentando seus desejos de consumo através


da descoberta/ desenvolvimento de novos bens, foi se intensificando a
necessidade de criar algum intermediário para as trocas. Foi nesse contexto
que surgiu a moeda.

No decorrer da história, a moeda evoluiu bastante:


Fonte: Adaptado de TROSTER, 2011, p. 277-278.
Por meio desse processo de evolução, define-se que a moeda deve cumprir
três funções básicas:

1. Meio de troca: permite que as trocas ocorram de maneira ágil dentro de


um sistema econômico. Foi justamente o desenvolvimento dessa
função da moeda que permitiu a especialização e a divisão do trabalho.
2. Unidade de conta: permite que se comparem os valores das
mercadorias, tendo uma base monetária comum. O desenvolvimento
dessa função permite que a moeda seja utilizada para fins puramente
contábeis.
3. Reserva de valor: assegura a possibilidade de abdicar do consumo
presente para realizá-lo futuramente. Ou seja, permite que o seu
detentor mantenha o seu poder de compra quando a estoca.

A unidade monetária de cada país é definida por lei. No Brasil, temos o Real,
representado simbolicamente por “R$”; nos Estados Unidos, o dólar (US$);
na Inglaterra, a Libra Esterlina (£) etc.

SAIBA MAIS

Assista ao filme A ascenção do dinheiro, baseado no livro do professor


Ferguson, de Harvard. Produzido em 2008, conta de maneira muito
interessante os impactos do dinheiro na nossa sociedade. Foi vencedor do
prêmio Emmy de melhor documentário de 2009.

2.3.1 Agregados monetários no Brasil


Quando analisamos a moeda na Teoria Macroeconômica,
privilegiaremos sua função de meio de troca. Nesse sentido, vamos
caracterizar os meios de pagamento da economia brasileira.

O Papel Moeda em Poder do Público (PMPP) é definido como o montante de


dinheiro que está disponível ao setor privado não bancário e que pode ser
convertido imediatamente em transações (mais elevado grau de liquidez¹).
Se somá-los ao dinheiro que está no caixa dos bancos, chegamos ao
montante de Papel Moeda Emitido (PME).

PME = PMPP + caixa dos bancos

O Banco Central (BACEN) obriga os bancos comerciais a manterem uma


reserva de moeda no próprio Banco Central, dando origem à nossa Base
Monetária:

Base Monetária = PME + reservas dos bancos junto ao BACEN

Você deve estar se perguntando onde entra na contabilização do estoque de


moeda o dinheiro que não está no caixa dos bancos, ou que não está em
circulação na economia. Seria esse o caso do dinheiro aplicado em títulos
financeiros? Dado que aplicações financeiras não têm o mesmo grau de
liquidez do papel moeda, criam-se diferentes agregados monetários,
ordenados de acordo com o grau de liquidez (onde M1 tem o maior grau de
liquidez, e M4 o menor):
Fonte: Adaptado de TROSTER, 2011, p. 282.

2.3.2 Oferta de moeda na economia


No Brasil cabe exclusivamente ao BACEN a condução da política monetária.
Como vimos anteriormente, a política monetária atua diretamente no
controle da oferta de moeda na economia. Ou seja, o BACEN tem a função
de manter a liquidez da economia, de modo a permitir que o fluxo real de
trocas dentro do sistema econômico encontre a sua contrapartida
monetária.

Apesar do monopólio na emissão de moeda por parte do BACEN, os bancos


comerciais atuam ativamente na criação de moeda em um sistema
econômico. Para que possamos compreender como isso ocorre, é
importante entender alguns mecanismos de atuação dos bancos.

Quando você realiza um depósito em conta corrente, o dinheiro depositado


não fica parado, pois o banco sabe que as pessoas não costumam resgatá-lo
integralmente em poucas horas ou dias. Nesse sentido, o banco pega o seu
depósito e o transforma em crédito para outra pessoa, por meio de linhas
de empréstimo. Mas essa conversão não se dá em seu valor integral, pois o
banco sabe que, apesar de não resgatar integralmente o dinheiro, os saques
ocorrem ao longo de um determinado período. Nesse sentido, eles mantêm
uma parcela do depósito em cofres. Esse valor guardado deverá ser
revertido para as operações de caixa dos bancos comerciais, e é definido
como o somatório das reservas técnicas, compulsórias e voluntárias junto ao
BACEN.

Para ilustrar esse efeito de criação de moeda, imaginemos um depósito


inicial de $ 100,00 em uma economia cuja porcentagem de reserva dos
bancos comerciais sobre os depósitos à vista é de 20%. Isso significa que
desse depósito inicial de $ 100,00, $ 20,00 ficam em poder do banco e os $
80,00 restantes viram empréstimo. Quem tomou esses $ 80,00 emprestados
realiza algum pagamento que tende a virar um novo depósito, o que, por
sua vez, gera um novo empréstimo, conforme apresentado na tabela a
seguir:
Fonte: Adaptado de VASCONCELLOS; GARCIA, 1998, p. 139.
Pelos dados apresentados, observa-se que, com uma necessidade de
reserva de 20%, a cada $ 100,00 depositados, geram-se $ 500,00 em
circulação. Assim, é possível descrever esse efeito multiplicador da moeda
como:

m = 1/r , onde:

m = efeito multiplicador bancário; r = porcentagem de reserva dos bancos


comerciais sobre os depósitos à vista.

Esse multiplicador não leva em consideração a possibilidade de o público


reter moeda e não realizar integralmente os depósitos. Se considerarmos o
total emitido de moeda em uma economia, nem tudo se converte em
depósitos, ou seja, uma parcela se mantém em poder do público, outra nos
cofres das firmas. Assim, são agregadas na análise algumas variáveis, de
modo a se chegar em um multiplicador da base monetária :

m  = M/B , onde:

M = saldo dos meios de pagamentos (moeda em poder do público + saldo


dos depósitos à vista).

B = saldo da base monetária (saldo da moeda em poder público + total das


reservas bancárias).

Resta-nos, portanto, entender, o que leva as pessoas a reterem moeda, ou


seja, manter a moeda em mãos sem aplicá-la em algum título financeiro que
lhe renda alguma remuneração (juros).

SAIBA MAIS
Como os compulsórios foram utilizados para fazer face aos efeitos no
Brasil, da crise internacional de 2008 (Crise do Subprime)?

Ao contrário de outras economias, como os EUA e a maioria dos países


europeus, o sistema bancário brasileiro encontrava-se bem capitalizado por
ocasião da eclosão da crise internacional de 2008, e sem exposição aos
papéis lastreados em hipotecas subprime do mercado imobiliário norte-
americano. Naqueles países, a rápida deterioração dos indicadores de
solvência dos bancos motivou a adoção de medidas emergenciais de
contenção da crise, mediante o uso, em grande escala, de recursos fiscais. Já
no caso do Brasil, as medidas adotadas pelo Governo e pelo Banco Central
do Brasil para mitigar os efeitos da crise sobre o sistema bancário doméstico
visaram, principalmente, compensar a expressiva diminuição da liquidez nos
mercados financeiros, tanto no país, como no exterior, e não envolveram
recursos fiscais. Nesse sentido, a existência de confortável volume de
depósitos compulsórios – recursos que, vale lembrar, pertencem aos
próprios bancos – permitiu ao BCB injetar liquidez rapidamente no sistema
bancário brasileiro, contribuindo para a normalização das condições de
crédito na economia. Inicialmente, foram liberados recursos recolhidos
relativamente à Exigibilidade Adicional, ao que se seguiu a liberação de
valores do Compulsório sobre Recursos a Prazo. Contudo, verificou-se que
tais recursos ficaram “empoçados” nos grandes bancos. A estratégia então
adotada foi a de liberação seletiva de recursos, que deveriam ser
direcionados à aquisição de ativos ou à realização de depósitos de/em
bancos pequenos e médios.

Os recursos, a serem recolhidos em espécie e sem remuneração, foram


liberados para aplicação em instituições com Patrimônio de Referência de
até R$ 7 bilhões e que não fizessem parte dos conglomerados dos
aplicadores. Para evitar a concentração, cada banco poderia aplicar somente
20% de tais recursos em uma mesma instituição.

O conjunto de medidas relacionadas aos compulsórios ocasionou a redução


do montante agregado recolhido, de pouco mais de R$ 250 bilhões para
cerca de R$ 180 bilhões.
Fonte: BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2015, p. 5-6.

2.3.3 Demanda por moeda


A demanda por moeda se constitui como o estoque de moeda que não está
em poder das instituições financeiras, ou seja, o que está nas mãos do
público ou nos depósitos à vista em bancos.

Diversos estudos apontam três principais determinantes da demanda por


moeda:

a. Necessidade de realizar transações: as transações do dia a dia, como


gastos com alimentação, locomoção, lazer etc. Quanto maior a renda,
maior tende a ser o volume retido de moeda;
b. Precaução: muitas pessoas e empresas retêm uma certa quantia de
dinheiro para cobrir despesas imprevistas que podem vir a surgir, como
um pneu furado, atraso no recebimento de algum valor devido etc. A
demanda por moeda por precaução também tem relação positiva com
o nível de renda;
c. Especulação: a necessidade de aproveitar alguma oportunidade de
aplicação financeira faz com que os investidores costumem deixar
disponível um montante de moeda que tenha liquidez imediata. Nesse
caso, a demanda por moeda responde mais à taxa de juros: quanto
maior a taxa, mais onerosa é a retenção, uma vez que as aplicações
tendem a trazer retornos mais elevados.

2.3.4 Taxa de juros nominal e real


Assim como já vimos que a inflação pode corroer o poder de compra da
população, ela tem um papel relevante nas decisões relativas a
investimentos. Nesse caso, é de suma importância distinguir a taxa de juros
nominal da taxa de juros real.
Taxa de juros nominal: “[...] mede o preço pago ao poupador por suas
decisões de poupar, ou seja, de transferir o consumo presente para o
consumo futuro.” (VASCONCELLOS; GARCIA, 1998, p. 143).
Taxa de juros real: “[...] mede o retorno de uma aplicação em termos de
quantidades de bens, isto é, já descontada a taxa de inflação.”
(VASCONCELLOS; GARCIA, 1998, p. 143).

Para entender de maneira clara os dois conceitos, imaginemos um mês que


apresentou uma inflação de 1,2%. Nesse mesmo mês, a taxa de juros
nominal foi de 10%. Qual deverá ser a taxa real de inflação?

Para realizar esse cálculo, precisamos estabelecer a fórmula da taxa de juros


real:

r = [(1+i)/(1+π)] – 1 , onde:

r = taxa de juros real; i = taxa de juros nominal; π = taxa de inflação. No


exemplo apresentado, temos:

i = 0,1; π = 0,012

Aplicando a fórmula:

r = [(1+0,1)/(1+0,012)] – 1 r = (1,1/1,012) – 1

r = 0,087

Portanto, a taxa de juros real do período foi de 8,7%.

2.3.5 Interligando o lado real da economia com o lado


monetário
Na medida em que toda transação que compõe o lado real da economia
exige uma contrapartida monetária, chega-se à conclusão de que o produto
nacional precisa ter uma correspondência com o total de meios de
pagamento da economia. Por que não afirmamos de uma vez que eles
precisam se igualar?

Porque a moeda não fica parada. Uma mesma unidade monetária pode ser
a base de mais de uma transação. Imagine que você saque uma parcela do
seu salário e vá realizar compras. O dinheiro que você utiliza servirá como
troco de alguma outra venda. Esse troco será utilizado em outra transação, e
assim por diante. Então, para que se possa estabelecer essa
correspondência, faz-se necessária a elucidação de mais um termo:
velocidade-renda da moeda.

“A velocidade-renda da moeda é o número de vezes em que o estoque de


moeda passa de mão em mão, criando renda.” (VASCONCELLOS; GARCIA,
1998, p. 144).

Seu cálculo é dado por meio da divisão do PIB nominal pelo saldo dos meios
de pagamento (M): V = PIB nominal/M

Agora, sim, é possível realizar a ligação entre os lados real e monetário de


uma economia, equação construída no âmbito da Teoria Quantitativa da
Moeda:

MV = Py, onde

M = saldo dos meios de pagamento; V = velocidade-renda da moeda; P =


nível geral de preços; y = PIB real.

2.3.6 Efeitos reais das políticas monetárias


Finalmente estamos aptos a entender como a alteração da oferta de moeda
pode impactar a atividade econômica e a inflação em uma economia. Para
tanto, vamos entender o impacto de uma política monetária mediante dois
cenários: pleno emprego e desemprego.

Cenário de pleno emprego: quando há pleno emprego, expansões da


demanda agregada não são acompanhadas pela elevação da oferta no curto
prazo, o que se traduz em inflação. Nesse sentido, quando há inflação, em
termos de política monetária, o desejo do Banco Central se traduz no
combate da inflação. Para tanto, ele deverá reduzir o estoque de moeda
disponível como forma de desacelerar o processo inflacionário.
M V P y
=
(queda) (constante) queda (constante)

Fonte: VASCONCELLOS; GARCIA (1998).


Cenário de desemprego: quando há desemprego, é possível expandir o
produto nacional sem gerar pressões inflacionárias. Nesse sentido, a
autoridade monetária pode agir de modo a estimular o crescimento do PIB
real elevando a quantidade de moeda na economia.
V P y
fracM (aumenta10%) =
(constante) (contante) aumenta10

Fonte: VASCONCELLOS; GARCIA (1998).

2.4 Inflação
A inflação é a elevação generalizada dos preços dos bens em uma economia.
Quando existente em níveis elevados e por longos períodos de tempo,
constitui-se numa ameaça ao valor real da moeda. Mas seus efeitos vão
muito além do que foi discutido até aqui. E o diagnóstico correto de suas
causas é a base para a condução de políticas fiscais e monetárias assertivas.
Este Capítulo, portanto, tem o intuito de aprofundar as causas e os efeitos
de processos inflacionários na economia.

2.4.1 Causas da inflação


Em linhas gerais, a literatura econômica aponta para três principais causas
de processos inflacionários: excesso de demanda, elevação de custos e
tendência inercial de elevação de preços.

Como a demanda pode exercer influência sobre os preços?

Segundo o fundamento de mercado para que haja elevações nos preços dos
bens, qualquer nível de preço que estabeleça uma procura maior que a
oferta, ou seja, qualquer nível de preço que esteja abaixo do preço de
equilíbrio, tende a puxar os preços para cima. Mas esse evento se refere a
um mercado específico, e não à economia como um todo.

Quando a economia está aquecida, o consumo costuma ser a variável que


responde mais facilmente a esse cenário. Nesse sentido, a demanda
agregada tende a deslocar-se positivamente em uma velocidade mais rápida
do que a oferta agregada. Isso ocorre, pois a elevação da oferta agregada
exige a realização de investimentos, que costumam ter um prazo maior para
efetivação. O raciocínio é simples: para comprar, basta ter o rendimento à
disposição. Para se realizar o investimento, mesmo com o recurso financeiro
em mãos, é necessário um período de tempo para que a decisão se
transforme em uma maior capacidade de produção.

Isso posto, em cenários de crescimento econômico, quando o consumo


cresce a taxas mais aceleradas do que os investimentos, há uma tendência
natural para processos inflacionários. Nesses casos, a forma mais prudente
de controle são desestímulos à demanda agregada, os quais ocorrem por
meio de políticas monetária e/ou fiscal restritivas.

Como os custos exercem influência sobre os preços?

As empresas tendem a repassar elevações de seus custos de produção ao


preço que praticam nos mercados. Nesse sentido, qualquer elevação de
custo pode se traduzir em inflação. E quanto mais essencial for o insumo
para diferentes cadeias produtivas, maior tende a ser a pressão
inflacionária.

Por exemplo, qual dos choques apresentados a seguir tende a causar maior
pressão inflacionária? Imaginemos que as plantações de laranja na Flórida
sejam afetadas severamente pelos furacões em uma determinada safra, o
que fará com que o preço da laranja no mercado internacional sofra
pressões positivas. Essa elevação do preço da laranja irá alterar os custos de
produção da indústria de suco de laranja. No entanto, na economia como
um todo, na medida em que o extrato/suco de laranja não é um insumo
essencial, a maioria das cadeias produtivas não sofre impactos diretos desse
aumento.

Contudo, quando os países da OPEP decidem elevar os preços do petróleo


de maneira artificial, o impacto inflacionário é muito maior. Isso ocorre, pois
o petróleo é matéria-prima essencial para uma grande quantidade de
cadeias produtivas. Mas, sobretudo, o principal impacto para a economia
ocorre por alterar os preços dos combustíveis. Como a distribuição de bens
depende do deslocamento dos produtos, qualquer aumento no preço do
petróleo tende a reverberar como pressão nos custos relativos à logística,
gerando pressões inflacionárias significativas.

Mas um dos exemplos mais discutidos a respeito da inflação de custos


refere-se aos impactos de elevações do salário mínimo. Quando as
elevações do salário mínimo superam os ganhos de produtividade da mão
de obra, há uma tendência para instauração de processos inflacionários.
Naturalmente, na medida em que grande parte dos fenômenos causadores
de inflação de custos não é tipicamente econômica, seu combate por meio
de política econômica é mais complicado. Como remediar os efeitos de
desastres naturais? Como lidar com decisões que foram tomadas em um
âmbito político?

Nessas situações, o governo costuma atuar por meio das políticas de renda,
fixando/congelando os preços. Mas essas medidas não se sustentam no
longo prazo, podendo, inclusive, acentuar a inflação quando retiradas. Foi o
que aconteceu em alguns planos econômicos de combate à inflação.

Como a inércia pode exercer influência na inflação?

Em economias caracterizadas historicamente por indicadores elevados de


inflação, ocorre o que alguns autores chamam de “memória inflacionária”.
Com o processo persistente de inflação, os ofertantes acabam por elevar
seus preços mesmo quando não há fundamento para tanto (seja por
pressão de demanda ou de custos).

O combate a esse tipo de inflação também é bastante complicado, na


medida em que deve atacar as expectativas dos agentes econômicos.
Enquanto os agentes não tiverem segurança de que o poder de compra
estará assegurado, haverá repasses contínuos das expectativas elevadas de
inflação para o preço do bem.

SAIBA MAIS

Você já deve ter ouvido falar a respeito do processo inflacionário que foi
resolvido com a implementação do Plano Real. Mas quais foram as razões de
tamanho sucesso?

Muitos autores argumentam que o sucesso do plano estava no diagnóstico


correto das causas da inflação, o que permitiu a configuração de um rol de
medidas certeiras. Segue uma análise de Luque e Vasconcellos (2011) a
respeito do sucesso do Plano Real:

Em 1994, no governo Itamar Franco, tendo como ministro da Fazenda


Fernando Henrique Cardoso, implementou-se o Plano Real . Este, por
sua vez, representou um avanço em relação aos planos anteriores,
reconhecendo que as principais causas da inflação brasileira estavam
no desequilíbrio do setor público e nos mecanismos de indexação [...].
Após a reforma monetária inicial, a política anti-inflacionária
concentrou-se nas chamadas âncoras monetária e cambial. A âncora
monetária consistiu no estabelecimento da taxa de juros e da taxa do
compulsório sobre os depósitos à vista relativamente elevadas, para
controlar a demanda agregada. A âncora cambial consistiu na
valorização do real associada ao regime de câmbio fixo. Ao tornar o
real relativamente valorizado em relação às moedas estrangeiras, em
particular ao dólar, as importações tornaram-se mais baratas,
aumentou-se a concorrência com produtos produzidos brasileiros,
ancorando-se os preços internos. Nesse aspecto, deve-se considerar
que contribuiu para esse resultado a abertura comercial iniciada
timidamente no governo Sarney, e incrementada no governo Collor de
Mello, através de redução das tarifas de importação e de barreiras
alfandegárias. (LUQUE; VASCONCELLOS, 2011, p. 325-326).

Alguns autores questionam o sucesso do Plano na medida em que o regime


de câmbio ocasionou uma crise no Balanço de Pagamentos brasileiro em
1999. A partir dessa crise, passou-se a se adotar um regime de câmbio
flutuante atrelado a um regime de metas de inflação. No entanto, não há
como negar o sucesso do Plano na resolução do problema crônico de
inflação brasileira.

Síntese
Neste Capítulo, você entrou em contato com as principais variáveis e
problemas da macroeconomia. Ao aprofundar os tópicos, entendeu como o
governo costuma combater os efeitos danosos de cada etapa dos ciclos
econômicos.

Nesse sentido, compreendeu os atores envolvidos, os instrumentos e


resultados esperados de cada tipo de política econômica, seja ela fiscal,
monetária, externa ou de renda.

Percebeu que nem sempre se deve procurar estimular a economia,


principalmente quando esta enfrenta um processo inflacionário. Por isso,
enfrentamos tantas dificuldades no nosso atual cenário econômico: como
conjugar o combate à inflação com a atividade econômica desaquecida, na
medida em que políticas anti-inflacionárias tendem a desaquecer a atividade
econômica?

Apesar de algumas dúvidas perdurarem, você com certeza está mais


preparado para analisar o cenário da tomada de decisões, podendo diminuir
o risco inerente a cada uma delas.

Referências Bibliográficas
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