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EBOOK

PROBLEMAS E MAIS PROBLEMAS


NO LABORATÓRIO

Será que seu Forno


está Calibrado?
P R O F. D R .
JOHNSON FONSECA

Possui graduação em Odontologia pelo Centro Universitário de Lavras


(1998), Mestrado (2001) e Doutorado (2005) em Materiais Dentários
pela FOP - UNICAMP. Atualmente é professor no Curso de
Odontologia do Centro Universitário de Lavras, lecionando nas
Disciplinas de Clínica Integrada (I,II,III e IV), Odontologia Pré-Clinica (I
e II). Tem experiência na área de Odontologia, com ênfase em
Materiais Odontológicos, atuando principalmente nos seguintes
temas: endodontia, cor e dinâmica de luz, teste de dureza, cerâmica
odontológica, fundição e retrobturação. Atua como palestrante e
consultor de empresas do setor Odontológico em eventos e
Congressos.
Problemas e mais problemas no Laboratório
Será que seu forno está Calibrado???

Quando temos problemas no uso de forno, tanto para cerâmicas


quanto blocos de revestimento, geralmente buscamos os causas em
variados pontos. E começa a busca pelo culpado: pincel, revestimento,
material para padrão, calor, frio e mais um monte que você conhece bem.
Mas poucas vezes paramos para pensar se o próprio equipamento está
devidamente calibrado. Isso mesmo!
A causa pode estar no seu equipamento! Mas calma… não quer dizer
que terá que trocá-lo como primeira opção.
Qualquer forno apresenta a possibilidade de exibir diferenças entre a
temperatura que está sendo mostrada no visor e a temperatura real que
está dentro do forno, por fatores diversos, como os listados no quadro a
seguir:

FATORES QUE AFETAM A PRECISÃO DE FORNOS


1) Qualidade da resistência
2) Qualidade e espessura do isolante térmico
3) Oxidação de fiação
4) Vedação do forno em relação ao meio externo
5) Tipo de sensor (termopar) usado
6) Oscilações elétricas
7) Desgastes naturais por tempo de uso que afetam, em
especial, o isolamento e o termopar.

Já aproveitando, você sabe o que é um TERMOPAR??? É um


dispositivo que fica dentro da mufla e é responsável por converter
temperatura em sinais elétricos e assim possibilitar a medição e exibição
da mesma em um display.

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Será que seu Forno está Calibrado?
Figura 1: Termopar de uso industrial. Os tipos de metais usados na ponta da
sonda determinam a precisão e indicação de uso deste dispositivo.

Figura 2: Fundo de um forno para anéis de revestimento, mostrando o duto de


saída de gases (furo maior, à esquerda) e a ponta do termopar na região central da
foto.

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Será que seu Forno está Calibrado?
Hoje, somente fornos para cerâmica mais avançados exibem sistemas
que monitoram em tempo real esta diferença e se “auto-calibram”. Mas
que problemas podemos ter com o erro na temperatura??? Vamos pensar
em 03 situações de uso:

1) FORNO PARA BLOCO DE REVESTIMENTO:


Normalmente os blocos de revestimento são um pouco mais
tolerantes em relação à pequenas diferenças de temperatura entre a que
está no display e a que está no interior da câmara do forno. Como estes
fornos tem contato com substâncias mais agressivas no seu uso diário, a
chance de perder a precisão é também maior com o passar do tempo. Daí
podem surgir grandes diferenças entre a temperatura desejada e a real,
com possíveis problemas como:
• Fraturas de blocos
• Degradação do revestimento e grande reação entre metal e
revestimento (haja broca e jato para limpar!!!).
• Trincas nas bordas de próteses mais delgadas, como copings e
componentes calcináveis para implantes
• Maior fragilidade do bloco de revestimento em temperaturas acima
de 800ºC.

Figura 3 e 4: Excesso de reação entre revestimento e liga metálica fundida,


causada pela temperatura muito alta em um forno não calibrado. Além do trabalho
para limpeza, acarreta também perda de precisão, pois esta camada também fica na
parte interna e exige usinagem para remoção.

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Será que seu Forno está Calibrado?
2) FORNO PARA “QUEIMA" DE CERÂMICAS:
Aqui a situação se complica!!! As cerâmicas são extremamente
sensíveis à diferenças de temperatura. Erros acima de 5 a 10ºC em
relação à temperatura indicada pelo fabricante já podem ser suficientes
para trazer problemas estéticos e outros, como:
• Cerâmica com queima acima da temperatura ideal: superfície
com aspecto muito liso, com perda de texturas e desenhos anatômicos.
Pode ocorre inclusive alterações de contatos oclusais.
• Cerâmica com queima abaixo da temperatura: aspecto fosco,
opaco, sem brilho e com possibilidade de menor resistência mecânica e
fraturas. Pode ainda haver deficiência na união entre opaco, liga metálica
e cerâmica

3) FORNO PARA PRENSAGEM DE CERÂMICAS:


Neste tipo de forno os erros tem sido comuns e trazido um
problema que acaba com o dia de qualquer TPD: a comumente chamada
CAMADA DE REAÇÃO. Vamos aproveitar para esclarecer que este não é o
nome mais correto! Veja no quadro a seguir o motivo:

CAMADA DE REAÇÃO NÃO!!!


Na verdade não ocorre uma reação química direta entre a
cerâmica prensada e a superfície do revestimento. Essa camada é, na
verdade, formada pela INFILTRAÇÃO da cerâmica aquecida e que
ficou muito fluida, nas porosidade microscópicas do revestimento.
Imagine se tivermos uma superfície de cimento bem porosa e
grosseira. E se sobre ela derramássemos uma calda de acúcar bem
quente. Esta calda iria entrar em cada porosidade do cimento e ficaria
muito grudada. Mas não houve reação química, apesar de formar
uma nova camada superficial.

Assim, o mais correto é chamamos de:


CAMADA DE INFITRAÇÃO

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Será que seu Forno está Calibrado?
Figura 5 e 6: Camada de reação… ou melhor, CAMADA DE INFILTRAÇÃO entre
cerâmica prensada (dissilicato de lítio) e revestimento. Tanto o forno de anéis
quanto o forno de injeção estavam não calibrados, gerando temperaturas muito
mais latas que a ideal. O resultado??? As imagens falam por si!!!

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Será que seu Forno está Calibrado?
• Temperatura abaixo da recomendada: pode causar deficiência
no escoamento, com ocorrência de falhas de preenchimento. Como o
escoamento é dificultado, pode até mesmo causar trincas e fraturas
completas do bloco
• Temperatura acima da recomendada: causa intensa reação
entre a cerâmica prensada e o revestimento, com formação de camada de
reação de difícil remoção e que pode alterar a adaptação original.

MÉTODO DE CALIBRAÇÃO
OK… problemas discutidos, que tal irmos para a solução? A resolução
é saber se há diferença entre a temperatura mostrada no visor e a
temperatura real que ocorre no interior da mufla. Para isso, há a
possibilidade de verificação em serviços autorizados do fabricante, com
equipamentos específicos. Mas vamos combinar que nem sempre é fácil
e barato o envio destes equipamentos tão sensíveis e com frete caro
devido ao volume e peso. E agora???
Outra solução é o uso de KITS DE CALIBRAÇÃO. Estes kits permitem
que você verifique qual a real temperatura no interior do forno. Um dos
mais comuns era aquele que trazia pedaços de fios de prata. Como se
sabe a temperatura de fusão da prata pura (961,8ºC), regulava-se o forno
para esta temperatura. Se o fio colocado no interior derretesse, estava
tudo ok! Será? O problema é que qualquer temperatura acima da citada
também derreteria o fio de prata. Com isso, só se identificava problemas
em que a temperatura dentro do forno estivesse menor que a
temperatura regulada.
A opção atualmente com maior precisão é um kit fornecido pela
empresa nacional VRC, que permite saber com grande exatidão qual a
temperatura atingida no interior do forno. O Kit completo é composto por
um paquímetro e pastilhas de calibração. Mas caso já tenha o
paquímetro, pode comprar somente as reposições das pastilhas.

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Será que seu Forno está Calibrado?
Figura 7 e 8: Kit de Calibração VRC
A seguir você terá as formas de usar em fornos para anéis ou em
fornos de cerâmicas (“queima" somente ou “queima”+prensagem):

MATERIAL NECESSÁRIO:
• Paquímetro digital em milímetros (mm), com mostrador que
marque duas casas decimais (Exemplo: 5,86mm)
• Manta refratária como as usadas em inlays, onlays e facetas de
cerâmica
• Pastilhas de calibração VRC
• Tabela comparativa de medidas (fornecida pela VRC) - ATENÇÃO:
confira se a tabela é para o mesmo lote que está gravado nas
pastilhas (VER Figura 7)

Figura 9: É MUITO importante que você verifique se a tabela que esta usando
contém o mesmo número do lote que está gravado na pastilha! Cada tabela é
calibrada para um determinado lote de material.

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Será que seu Forno está Calibrado?
CALIBRAÇÃO EM FORNOS PARA ANÉIS

ETAPA 1:
Coloca-se a pastilha sobre uma manta refratária, no interior do forno
frio, bem centralizada.

ETAPA 2:
O forno é ligado e regulado para 930º, com velocidade de
aquecimento alta ou máxima (20 a 30ºC por minuto). Atingida a
temperatura, deve ser mantida por 20 minutos. Finalidade este prazo,
desliga-se o forno e deixa-se que a pastilha resfrie naturalmente no seu
interior.

DICA: Faça este procedimento ao fim da tarde. Com isso, o


resfriamento ocorre durante a noite e não ocupa o forno no
horário de trabalho. Neste forno que usei, o ciclo todo
(aquecimento até 930ºC + manutenção por 20 minutos) demorou
cerca de 1h40.

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Será que seu Forno está Calibrado?
ETAPA 3:
Após o resfriamento total da pastilha, deve-se medir o seu diâmetro
externo com o uso do paquímetro digital com precisão de pelo menos
duas casas depois do ponto (precisão de décimo de milímetro). No kit
completo, este paquímetro já está incluído. Observe na imagem, qual
parte do paquímetro usar (parte mais larga das hastes de medição).

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Será que seu Forno está Calibrado?
ETAPA 4:
Comparar a medida obtida com a tabela fornecida com o kit. Lá estará
qual a temperatura atingida dentro da mufla.

ETAPA 5:
Veja se houve diferença diferença entre as temperaturas. Olhe o que
ocorreu nas imagens que foram mostradas:

Temperatura padrão de calibração e


ajustada no forno para o teste 930ºC
Resultado do teste, obtido na tabela 960ºC
Diferença entre os valores +30ºC

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Será que seu Forno está Calibrado?
CALIBRAÇÃO EM FORNOS PARA CERÂMICAS:
Caso deseje usar em forno de cerâmica (de queima e/ou prensagem),
faça como descrito para os fornos para blocos de revestimento, porém
com as seguintes observações:
• O aquecimento deve ser feito SEM vácuo
• Use velocidade de aquecimento de 30ºC por minuto
• Ao final do ciclo, abra manualmente a mufla (cerca de uns 2
centímetros somente) e desligue o forno, para resfriamento natural.

E AGORA??? COMO CALIBRO MEU FORNO???


Na verdade, por questões práticas, não há necessidade de mudar a
regulagem do forno. Você só deve corrigir quando for fazer os programas
ou ciclos. Por exemplo, no caso mostrado nas fotos, o forno foi regulado
para 930ºC mas a temperatura no interior do forno atingiu 960º. Com
isso, sei que este meu forno está atingido 30ºC a mais do que os valores
que regulo no display. Assim, caso eu queira então regular o forno para
800ºC, por exemplo, eu colocarei no display 770ºC. Como a mufla atinge
30ºC a mais, terei os 800º que necessito.
Em alguns fornos, o fabricante consegue (à distância), lhe orientar
a entra na programação principal e “informar" ao forno o quanto ele está
errando. Aí ocorre o ajuste e a diferença entre temperatura ajustada e real
deixa de existir. Entre em contato e solicite informações com o fabricante
sobre essa possibilidade.
Pense bem… qual o custo de próteses perdidas por erros nestas
temperaturas? Com toda certeza o erro em uma só prótese (e todo tempo
que gastou para confeccioná-la) é bem maior que o valor de um kit
destes.
Recomendo que este tipo de testes seja feito no mínimo uma vez
por semestre. Mas se o seu fluxo de trabalho é muito intenso, seria bom
fazê-lo de 3 em 3 meses ou sempre que notar problemas no uso destes
fornos ou alterações nas próteses que não estavam ocorrendo.

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Será que seu Forno está Calibrado?
AGRADECIMENTO:
Agradeço ao Eng. Felipe Fregoni e a empresa VRC, por disponibilizar o material e assim possibilitar o
teste e material para esta publicação.

Fjohnson.fonseca Ijohnsonfonseca

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