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Para os alunos, a grande motivação deste livro, para que estudem com a satisfação

de quem compreende...
À família e aos amigos, pelas muitas e Longas horas de convivência a que me
escusei, para que este trabalho se pudesse fazer.

Antônio José Morgado

Aos meus filhotes Rui, Ana e Sara: não me canso de elogiar o vosso sorriso
encantador.
À Laura, pelo amor, companheirismo e apoio.
Ãos meus pais, irmãos, cunhadas e sobrinhos.
À minha Madrinha, que é uma referência da Microeconomia para mim.

FICHA TÉCNICA Paulo Ferreira

Titulo: Princípios de Microeconomia


Autores: Antônio José Morgado
Paulo Ferreira
Editor: Letras e Conceitos, Lda.
geral.letraseconceitos(Dgmailcom
Capo:

Fevereiro de 2016

Paginação: Luis Pamplona


Impressão e acobamento: ACD Print, S.A.
Depósito legol n.º 407542/16
ISBN: 978-989-8823-17-5

& reprodução,total ou parcial, desta obra, por fotocópia ou qualquer outro meio, mecânico ou
electrônico, sem prévia autorização do autor, é ilícita e passível de procedimento judicial contra o
infractor,
Índice Geral
Índice de Tabelas 13
Índice de Figuras 15
Prefácio os

CAPÍTULO 1
O que é a Economia? o?

14.1 Afinal de contas, o que é a Economia? o9


4.2 Microeconomia vs. Macroeconomia so
4.3 Mas é “Economia” ou “economia”? 34
1.4 Postulados da racionalidade e do equilíbrio 38
4.5 Ostrês problemas da organização económica 41

Apêndice ao Capítulo 1. A Matemática ao servico


da Economia 48
A.1.1 Variações absolutas e variações relativas 48
A1.2 Funções e derivadas SU
B.1.3 Máximos e mínimos de uma função os
A.1.4 Teorema da função implícita 56

Questões de revisão 57

CAPÍTULO 2
A escolha e o custo de oportunidade 59

2.1 À escassez e o custo da escolha 61


2.2 Avaliação do custo de oportunidade de uma escolha 63
2.3 O valor de uma escolha e o conceito de benefício
marginal 67
2.4 Atomada de decisões racionais 69 4.4 Das curvas individuais às curvas de mercado 118
Questões de revisão 79 4.5 O equilibrio de mercado 120
4,6 Determinação do excedente económico 1283
CAPÍTULO 3 4.7 Alterações ao equilibrio 127
Fronteira das possibilidades de produção 75 4.8 Intervenções sobre o equilíbrio de mercado 130
; s. Ai 133
3.1. Do conceito de possibilidade de produção à
pi Tê :
fronteira das possibilidades de produção 77 Se REGA NI NE
3.2 O custo de oportunidade na FPP 79 Questões de revisão 136
3.3 Pontos abaixo e acima da FPP 85
3.4 A dinâmica da FPP 86 CAPÍTULO 5
Elasticidades 139
Apêndice ao Capítulo 3. Da FPP às teorias das
vantagens absolutas e comparativas 89 Se Deusa apsimnnas A
o 5.2 Diferentes tipos de elasticidade 142
A.3.1 O comércio internacional e as teorias das
5.2.1 Elasticidad direct 142
vantagens absolutas e comparativas 89
A.3.2 — ni Preco a
A utilização da FPP para sigigaida 5.2.2 Elasticidade procura-rendimento 150
vantagens do comércio internacional 94 5.2.3 Elasticidade procura-preço cruzada 152
Questões de revisão amis 5.2.4 Elasticidade preço da oferta 153
5.2.5 Elasticidades da procura e tipo de bens:

CAPÍTULO 4
RN anã es 5.8 a
Elasticidade e despesa total o
155
5.4 Elasticidade, intervenção do Estado e impostos 160
4.1 Ainteracção de agentes económicos e a “mão 5.4.1. Impostos específicos 183
invisível” de Adam Smith 105 : 5.4.2 Impostos ad valorem 168
4.2 Lei da procura: intenções de compra e seus
5.4.3 Impostos mistos 169
determinantes
107 5.4.4 Subsídios 170
4.2.1 Excepções à lei da procura 112 5.4.5 Casos particulares 172
4.3 Lei da oferta: intenções de produção/venda e
seus determinantes 114 Questões de revisão 173
8
9

aa
CAPÍTULO 6 dad Rendimentos à escala 248
Teoria do consumidor 175
Questões de revisão 244
6.1 As possibilidades de consumo e a restrição
orçamental 177
CAPÍTULO 8
6.2 O conceito de preço relativo de um bem 180 Teoria do produtor (óptica dos custos) o47
6.3 Axiomática de preferências e as curvas de
indiferença 182 8.1 Análise de curto prazo: dedução da curva de
custos a partir da curva de produto total eso
6.4 Taxa marginal de substituição 185
Custo médio e custo marginal: a geometria dos
6.5 Curvas de indiferença e função utilidade 190
custos os4
6.65 Escolha óptima 195
8.3 Análise de longo prazo: relação entre custos
6.7 Análise de estática comparada: efeitos de médios de longo prazo e as curvas de curto prazo 260
alterações de preço e de rendimento 199
8.4 A relação entre custos e lucro: o lucro económico
6.8 Curva de Engel: bens normais e bens inferiores 201 e o lucro contabilístico e64
6.9 A curva da procura individual ºUS Economias de escala: relação com a estrutura de
6.10 Efeito substituição e efeito rendimento 205 uma indústria cB6
6.10.1 Casos especiais cia Questões de revisão obS
Questões de revisão 215
Apêndice matemático 2/0

CAPÍTULO 7 CAPÍTULO 9
Teoria do produtor na óptica da produção 219 277
Mercados

7.1 A função de produção e os factores produtivos oo1


9.1 Definição de mercado e diferentes tipos de
7.2 Produto total, marginal e médio ces mercados 2/9
7.3 A decisão óptima do produtor com um factor Concorrência perfeita 281
variável eos 9,2.1 Pressupostos da concorrência perfeita so
7.4 Isoquanta e isocusto 231
9.2.2 A solução de curto prazo da empresa em
7.5 Taxa marginal de substituição técnica e a decisão concorrência perfeita os4
do produtor a longo prazo 236
9.2.3 A análise de longo prazo e a estabilidade
7.6 Resolução do problema do produtor 240 da solução da concorrência perfeita e90
10 11
9.3 Por que falha a concorrência perfeita? 294 Índice de Tabelas
9.4 Monopólio c9B
9.4.1 A solução da empresa em monopólio 297 Tabela 2.1 - Dados do exemplo 3 66
9.4.2 Monopólio natural 301 Tabela 2.2 — Benefício marginal e custo marginal 69
9.5 A situação da concorrência perfeita vs. a situação Tabela 2.3 — O exemplo 1 revisitado 70
do monopólio SU Tabela 3.1 - As diferentes possibilidades de produção
Questões de revisão 309 numa economia 78
Tabela 3.2 — Taxa marginal de transformação de Y em X B2
CAPÍTULO 10 Tabela 3.3 — Taxa marginal de transformação de Xem Y 83
Regulação 311 | Tabela 3.4 — Exemplo de custos relativos constantes 84
= a ; x Tabela A.3.1 — Teoria das vantagens absolutas 9o
10.1 Regulação económica, tipos de regulação e os
seus objectivos 315 Tabela A.3.2 — Teoria das vantagens absolutas sem solução
10.2 Teorias econômicas da regulação 318 pr PC o
Tabela A.3.3 — Custo de oportunidade segundo a teoria das
10,2.1 Teoria do interesse público 318
vantagens comparativas 93
10.2.2 Teoria do interesse privado Soa . . .
Tabela A.3.4 — Número de horas para produzir uma unidade
10.3 Regulação da concorrência geo4 de cada bem em cada país 95

10.3.1 O que é a regulação da concorrência? 324 Tabela A.3.5 — Custos de oportunidade (custos relativos) 96
10.3.2 As origens .históricas da lei da Tabela 4.1 — Resumo dos efeitos de alteração casteris
concorrência 326 paribus da procura e da oferta 129
Questões de revisão Sos | Tabela 5.1 — Elasticidade e tipo de bens 155
| Tabela 5.2 — Variação no excedente económico após
imposto 168
| Tabela 8.1 - Output, custos fixos, custos variáveis e
custos totais 2so
| Tabela 8.2 - CFM, CVM, CTM e Gg. Os valores
sombreados correspondem a mínimos 256

12 13
Índice de Figuras
Figura 1.1 — O triângulo da Economia 30
Figura 1.2 — O fluxo circular de rendimento e outputs do
Mercado as
Figura A.1.1 — Duas rectas com declives simétricos, be -b 50
Figura A.1.2 - Declive de uma recta e tangente de um
ângulo 91
Figura A.1.3 - Valor médio de Y numa curva 51
Figura A.1.4 — Obtenção da expressão de uma recta se
Figura A.1.5 — Declive de uma curva 5d
Figura A.1.6 — Declive numa parábola 53
Figura A.1.7 — Taxa de variação média como a tangente de
uma curva (Teorema de Lagrange) s4
Figura 2.1 — O triângulo da Economia e a racionalidade 71
Figura 3.1 — As diferentes possibilidades de produção
numa economia hipotética 79
Figura 3.2 — Taxa marginal de transformação crescente 8o
Figura 3.3 - FPP linear 84
Figura 3.4 — Pontos abaixo e acima da FPP 85
Figura 3.5 — O efeito da melhoria tecnológica na FPP 87
Figura 3.6 — O efeito da melhoria tecnológica na FPP
apenas num dos bens 88
Figura A.3.1 — FPP em cada um dos países ga
Figura A.3.2 — Fronteira de possibilidades de consumo
para o país A após comércio internacional
[a tracejado) 97
Figura A.3.3 — Fronteira de possibilidades de consumo para
o país B após comércio internacional (a
tracejado) 97

15
Figura A.3.4 -— Óptimo de produção considerando uma FPP Figura 4.15 — Uma contracção da procura faz reduzir o
côncava e ganhos de comércio 99 preço e a quantidade de equilíbrio, reduzindo
Figura 4.1 — Uma curva da procura e um movimento ao o excedente económico 128
longo da curva 109 Figura 4.16 — Contracção simultânea da procura e da
Figura 4.2 — Alteração da procura de bens relacionados oferta tem um efeito no preço que não é
com as máquinas de café para cápsulas, generalizável 129
dada uma variação do seu preço 110 Figura 4.17 — Efeito da fixação de um preço máximo 133
Figura 4.3 — Expansão da procura 111 Figura 4.18 — Efeito da fixação de um preço mínimo 135
Figura 4.4 — Excepções à lei da procura 113 Figura 5.1 — Comportamento da elasticidade ao longo de
Figura 4.5 — ma curva da oferta e um movimento ao uma curva de procuralinear 146
longo da curva 116 Figura 5.2 — Elasticidade relativa em diferentes curvas de
Figura 4.6 — Expansão da oferta 117 pEbeura 147
Figura 4.7 - Movimentações da curva da oferta 118 Figura 5.3 - Curvas de procura com elasticidades
Figura 4.8 — Procura e oferta de mercado, por exiramas 148
agregação das procuras e ofertas individuais 119 Figura 5.4 — Elasticidade e despesa total do consumidor 158
Figura 4.9 — Equilibrio de mercado. Ao preço P*, Figura 5.5 - Exemplo e generalização do efeito de um
a quantidade oferecida e a quantidade imposto específico de valor |, de cujo valor, lp
procurada são iguais a Q* 121 recai sobre os consumidores e |, recai sobre

Figura 4.10 — Duas situações de desequilíbrio [os dois os produtores, distorcendo a quantidade
lados da figura são independentes) 122 transaccionada de (Opara (5, 164
Figura 4.11 - Um equilíbrio de mercado com curvas de Figura 5.6 — À incidência económica de um imposto
procura e oferta lineares 129 indirecto é independente da incidência legal 157

Figura 4.12 — Excedente do consumidor [€35) e do Figura 5.7 — Receita fiscal e perda pura genericamente

produtor (€28) para a 30º unidade, ao resultantes de um imposto específico de valor | 158
preco de equilibrio €50 por unidade. 124 Figura 5.8 — Incidência económica de um imposto ad
Figura 4.13 — Excedente económico; XS representa o valorem à taxa t 169
excedente do produtor e XD representa o Figura 5.9 — Incidência económica de um imposto misto,
excedente do consumidor 125 com componente específica T e componente
Figura 4.14 — Uma contracção da oferta faz subir o ad valorem à taxa t 170
preço e reduzir a quantidade de equilíbrio, Figura 5.10 — Incidência económica de um subsídio
reduzindo o excedente económico 128 específico à produção no valor v 171

17
Figura 5.11 — À perda pura de um subsídio à produção é Figura 6.15 — Escolha óptima 196
uma parte da despesa do Estado 171
Figura 6.16 — Via de expansão do rendimento 199
Figura 5.12 — O lancamento de um imposto indirecto num
Figura 6.17 — Via preço-consumo eo
mercado em que a procura é perfeitamente
rígida não tem efeitos distorcionários 172 Figura 6.18 — Curva de Engel para um bem normal e01

Figura 5.13 — O lançamento de uma imposto num mercado Figura 6.19 — Curva de Engel quando X é um bem inferior elo
em que a oferta é perfeitamente rígida não Figura 6.20 — Dedução gráfica da curva de procura
tem efeitos distorcionários 173 individual para o bem X eos
Figura 6.1 — Possibilidades de consumo 178 Figura 6.21 — Aumento do preço do bem X e respectivo
Figura 6.2 — Alteração da restrição orçamental perante efeito na quantidade consumida eos
uma variação ceasteris paribus dos preços 180 Figura 6.22 — Efeito substituição e efeito rendimento num
Figura 6.3 — Alteração da restrição orçamental perante bem normal 207
uma variação ceeteris paribus do orçamento Figura 6.23 — Efeito substituição à Slutsky 209
para consumo 180
Figura 6.24 — Efeito substituição (à Hicks] quando X é um
Figura 6.4 — Desejabilidade (monotonia forte das bem inferior 211
preferências] 183
Figura 6.25 - Bem de Giffen elo
Figura 6.5 — Preferências bem comportadas 184
Figura 6.26 — Escolha óptima quando os bens são
Figura 6.6 — Intransitividade de preferências 184 substitutos perfeitos e13
Figura 6.7 — Taxa marginal de substituição 185 Figura 6.27 — Perante um aumento do preço do bem X, a
Figura 8.8 — Taxa marginal de substituição | 188 redução do consumo de X deve-se apenas a
Figura 6.9 — Taxa marginal de substituição decrescente ao efeito substituição. e14
longo de uma curva de indiferença convexa 189 Figura 6.28 — Escolha óptima quando Y e X são
Figura 6.10 — Em relação a Y, no painel 1, o consumidor complementares perfeitos 214
valoriza uma unidade adicional de X mais do Figura 6.29 — Dado um aumento de preço, o efeito
que no painel 2 189 substituição é zero, pelo que a redução no
Figura 6.11 — Casos particulares de curvas de indiferença 190 consumo é apenas devida a efeito rendimento ois
Figura 6.12 — Utilidade total e utilidade marginal 192 Figura 7.1 — Representação gráfica da função de produção ooo
Figura 6.13 — Ordenação de cabazes usando funções Figura 7.2 — Representação gráfica do produto médio e
utilidade 193 do produto marginal oo?
Figura 6.14 - TMS decrescente, recorrendo à 1º Lei de Figura 7.3 — Identificação das três etapas do processo
Gossen 195 produtiva o2B
18 19
Figura 7.4 — Identificação de uma isoquanta eso Figura 8.7 — Dedução geométrica das curvas de custo
Figura 7.5 - Mapa de isoquantas ess marginal e custo médio cos

Figura 7.6 - Representação de um isocusto os4 Figura 8.8 — Esquematização do modelo da teoria do

Figura 7.7 — Efeito do aumento do preço do factor trabalho og4 produtor 261

Figura 7.8 — Efeito de um aumento em ambos os factores


Figura 8.9 — Curvas de custo médio e custo marginal a
de produção , 235 curto prazo para dois níveis diferentes de
capital K, < K, 261
Figura 7.9 -— Efeito de um aumento no orçamento 2do
Figura 8.10 — O aumento de produção para Q,, a curto
Figura 7.10 — TMST decrescente em valor absoluto 297
prazo, iria obrigar à utilização de K,, ou seja,
Figura 7.11 — Isoquanta de factores substitutos perfeitos iria obrigar a estar no ponto H, em vez de
(à esquerda) e de factores complementares ser no ponto F, que é a escolha óptima para
perfeitos [à direita) 238 aquela produção. Assim, os custos a curto
Figura 7.12 — Óptimo para a empresa esa prazo são sempre maiores ou iguais aos
Figura 7.13 — Diferença de abordagem dos problemas: do custos a longo prazo dba
lado esquerdo um problema de minimização Figura 8.11 — A curva de custo médio a longo prazo é
do custo (dual) e do lado direito um problema o contorno inferior de todas as curvas de
de maximização da produção (primal) odo custo médio a curto prazo associadas a
Figura 8.1 - Relação entre as variáveis no modelo de todos os níveis de capital possíveis 2B3
produção e custos a curto prazo 291 Figura 8.12 — À esquerda, empresa com lucro, à direita
Figura s.2 — Obtenção da curva de custos variáveis empresa com prejuízo 265
por transformação de valores da curva de Figura 8.13 — Economias e deseconomias de escala;
produto total cos Qeme corresponde à escala mínima eficiente 267
Figura 8.3 — À esquerda, andamento da curva de produto Figura 8.14 — À esquerda, um mercado onde a EME é
total com as 3 fases do processo produtivo muito grande em relação à dimensão da
e, à direita, a correspondente curva de procura; à direita, um mercado onde a
custos variáveis os4 EME tem uma dimensão muito reduzida em

Figura 8.4 - Custos totais, custos variáveis e custos fixos os4 relação à procura 267

Figura a.5 - CTM, CVM e Emg oD7/ Figura 98,1 — Diferentes estruturas de mercado 281

Figura 8.5 - O declive da tangente a CT no ponto Q1 é Figura 9.2 — Procura dirigida a cada empresa eB3
medido por tgo, enquanto que o declive da Figura 9.3 — Preço de mercado que identifica duas
recta que passa no ponto de coordenadas quantidades, sendo Q, a que maximiza o
(Q,, CVo) é medido por tges ess lucro oB6

20 21
Figura 8.4 — Situação que configura o encerramento da
empresa 287

Figura 9.5 — Situação de prejuízo sem encerramento da


empresa 288
Prefácio
Figura 9.6 — Oferta da empresa a curto prazo 288

Figura 9.7 — Lucro numa empresa concorrencial 289


Este livro foi escrito com dois objectivos primordiais: por um lado,ser um Livro
Figura 9.8 — Limiar de encerramento e de rentabilidade
no curto prazo 289 introdutório e, por outro, constituir uma ponte para a mais fácil compreensão de
bibliografia mais avançada.
Figura 9.9 - Curva da oferta de uma empresa
concorrencial no longo prazo e91
Neste volume, os alunos encontrarão o programa completo de uma unidade
Figura 9.10 — Situação de lucro numa empresa curricular tradicional de Introdução à Microeconomia, mas também serão
concorrencial na transição para longo prazo 291 confrontados com elementos que vão para além desse programa, o que faz deste

Figura 9.11 — Situação de prejuízo numa empresa livro uma referência bibliográfica adequada para cursos de licenciaturas na área
concorrencial na transição para longo prazo oSo das ciências socioempresariais em cujos curricula exista apenas uma, ou mesmo
duas unidades curriculares de Microeconomia.
Figura 9.12 - Mercado concorrencial como maximizador
do bem-estar 293
Foi uma opção dos autores não incluir nas temáticas abordadas questões mais
Figura 9.13 — Solução da empresa monopolista 298
avançadas como sejam: falhas de mercado e problemas de informação, escolhas
Figura 9.14 — Possibilidade de lucro ou prejuízo num em contexto de incerteza, Economia' do bem-estar, equilíbrio geral, outras
monopolista 2a estruturas de mercado que não a concorrência perfeita e o monopólio, entre

Figura 9.15 — O óptimo do monopolista e a elasticidade da outros temas, que serão objecto de estudo noutro volume complementar a este,
procura 301
304 Este livro é composto por dez capítulos. No Capítulo 1 abordam-se os conceitos
Figura 9.16 - EME e monopólio natural
essenciais da Economia e apresentam-se as problemáticas de base, bem como
Figura 9.17 — Inviabilidade de P=Cmg na presença de a metodologia utilizada nesta ciência social. O Capítulo 2 trata do conceito de
economias de escala 305
custo de oportunidade, fundamental para a compreensão da noção de custo
Figura 9.18 - Perda de excedente económico do económico. O Capítulo 3 introduz o modelo da fronteira das possibilidades de
monopólio em relação à concorrência produção, como ilustração do conceito de eficiência na produção e fazendo uma
perfeita 307
breve incursão na teoria do comércio internacional. No Capítulo 4 tratam-se das
curvas de procura e oferta assim como do equilibrio Marshalliano. O Capítulo 5
aborda as elasticidades da procura e da oferta e a forma como se relacionam com
o equilíbrio de mercado e com as alterações a esse equilibrio, nomeadamente
na sequência de intervenção governamental. O Capítulo 6 aborda a teoria do

es
consumidor e o comportamento racional, subjacente à curva de procura individual.
Os Capítulos 7 e 8 tratam do problema do produtor, a partir de duas perspectivas
diferentes: primeiro na óptica da produção e depois na óptica dos custos, a partir
das quais se deduz a oferta individual em contexto concorrencial. O Capítulo 9
aborda os mercados e a escolha óptima das empresas, especificamente nos casos
da concorrência perfeita e do monopólio. O Capitulo 10, o último deste livro,
trata da regulação económica e da motivação para aintervenção do Estado nos
mercados, dando especial atenção à defesa da concorrência.

A abordagem dos diferentes conceitos é feita dando referência a exemplos


práticos, sempre que possível, com o objectivo de levar o leitor à compreensão
intuitiva das problemáticas, mesmo em situações um pouco mais exigentes do
ponto de vista formal.

Em todos os capítulos é fornecida uma lista de conceitos-chave cujo significado o


leitor deve conseguir explicar após a leitura. No final de cada capitulo também o
desafiamos a recordar os conceitos fundamentais, respondendo a um conjunto de
questões de revisão. As respostas poderão ser consultadas no Livro de exercícios
complementar, onde também se poderão encontrar problemas resolvidos e
questões de escolha múltipla.

Os Autores

aa
O que é a Economia?

14.1. Afinal de contas, o que é a Economia? eo


4.2 Microeconomia vs. Macroeconomia So
4.3 Mas é “Economia” ou “economia”? S4
1.4. Postulados da racionalidade e do equilíbrio 38
1.5 Ústrês problemas da organização económica 41

Apêndice ao Capítulo 1. A Matemática ao servico


da Economia 48
A.1.1 Variações absolutas e variações relativas 48
A.1.2 Funções e derivadas so
A.1.3 Máximos e mínimos de uma função So
A.1.4 Teorema da função implícita 56

Questões de revisão 57

27
CONCEITOS-CHAVE 1.1 Afinal de contas, o que é a
Economia?
ceeteris paribus funções do Estado

i
Economia icroeconomia
Mic Para um economista, explicar o que é a Economia é algo que
nem sempre é
eficiência necessidades fácil. Pode-se começar pela forma tradicional de recorrer à origem etimológica
escolhas i i
postulado da racionalidade da palavra.Assim,recorrendo ao grego, pode dividir-se a palavra em algo como
oikos + nomos o que,literalmente, se traduz como gestão da casa. Mas
a Economia
falácia da composição postulado do equilíbrio é muito mais do que gerir uma casa. Sem prejuízo de confundir mais quem está a
começar a ler o livro, é possível desde já afirmar que a Economia tem
falácia post-hoc a ver com
racuERos tudo o que nos rodeia.
falha de mercado escassez
Seria muito interessante andar pelas ruas e perguntar às pessoas o
que acham
que é a Economia. Mas a verdade é que se calhar podemos ter essa ideia mesmo
sem esse périplo. Ao longo dos anos, quando falamos com outras pessoas
e nos
apresentamos como economistas, há diversas reacções interessantes, algumas
das quais bem comuns: “Tem que me ensinar a poupar dinheiro”; “Também
gostava de saber investir em acções e ganhar dinheiro”: “A Economia nunca
acerta nas previsões nem funciona na vida real”

Estas são apenas algumas das expressões que os economistas ouvem com
frequência por um simples motivo: porque as pessoas não estão informada
s
sobre o que é a Economia e qual o papel que um economista pode ter. Entendem
um economista como alguém que estudou vários anos, muito provavelmente
que veste fato e gravata, que talvez trabalhe num gabinete qualquer, rodeado de
números e mais números (outro dos estereótipos que se observam facilmente)
.
E que, além disso, ganha de certeza muito dinheiro,

Apesar de esta última situação poder ser interessante, pelo menos para
os dois
autores do livro, que são economistas, qualquer uma destes chavões
está longe

28 ag
Cap. 1 - O que é a Economia? 1,1 Afinal de contas, o que é a Economia?

de ser realidade. E o principal motivo pelo qual isso não é verdade é que a por exemplo por Maslow, em diferentes grupos.) O objectivo das pessoas será,
Economia é algo com que todas as pessoas convivem diariamente. Sim, leu bem obviamente, a satisfação dessas necessidades. No entanto, os consumidores têm
a última frase: todos e diariamente não são palavras utilizadas de forma abusiva. recursos que são escassos e, como tal, não conseguem satisfazer todas essas
O que,claro, não faz de todas as pessoas economistas. necessidades.

Mas voltando à questão inicial: afinal o que é a Economia? Espalhadas em outros Perante a coexistência destas necessidades ilimitadas e destes recursos
manuais ou na internet encontram-se as mais diversas definições. Entre as escassos, e desde que existam alternativas, os agentes têm que fazer escolhas.
definições mais identificadas está uma de Paul Samuelson.t) Na edição original E é no resultado deste processo de escolha que se centra o objecto de estudo
do seu livro, identifica a Economia como o “estudo de como as pessoas decidem da Economia: porque a escolha tem consequências. Por um lado, como é óbvio,
empregar recursos escassos, que poderiam ter utilizações alternativas, para o benefício por se ter efectuado essa escolha. Por outro lado, à conseguência
produzir bens variados e para os distribuir para consumo, agora ou no futuro, de ter desistido de algo. E aquilo de que se desiste é tratado pelos economistas
entre as várias pessoas ou grupos da sociedade”, de forma especial e conhecido como custo de oportunidade. Este conceito
é resumido também de forma simples numa expressão muito famosa entre
Esta definição assenta num esquema como o representado na Figura 1.1. economistas: “Não há almoços grátis”. Ao contrário do que se possa pensar, não
está relacionado necessariamente com o pagamento de uma refeição. No entanto,
Necessidades Recursos para já fica a chamada de atenção para esta expressão que, em conjunto com o
ilimitadas escassos
conceito de custo de oportunidade, será explorada de forma mais aprofundada
no próximo capítulo.

Mas falta ainda esclarecer um aspecto em particular: o facto de se ter identificado


Figura 1.1 O triângulo
anteriormente que a Economia tinha a ver com tudo o que nos rodeia. Alfred
da Economia
Marshall, outro proeminente economista, indica que “a Economia é o estudo da
humanidade nos assuntos correntes da vida”w E se isso continua a ser uma
surpresa para o leitor, o objectivo é que deixe de ser.

Escolha (alternativas)
Esta afirmação deriva directamente da Figura 1,1: na realidade, quando
analisamos o triângulo, não nos estamos a referir a actividades específicas. De
facto, em inúmeras actividades do nosso quotidiano, caímos dentro daquele
Esse triângulo de certo modo resume a forma como podemos olhar para a
Economia. Numa sociedade, os agentes têm necessidades que são ilimitadas. E um
m Abraham Maslow (1908-1970), psicólogo americano, é reconhecido por ter identificado
facto que as pessoas têm um vasto conjunto de necessidades que são divididas,
uma
pirâmide de necessidades que veio a ser conhecida como a Pirâmide de Maslom, estratificando-as
de
acordo com a sua importância.
m Alfred Marshall (1842-1924), economista britânico, é considerado como um dos fundadores da
ei Paul Samuelson (1915-2009), economista, natural dos EUA, foi laureado com o Nobel da Economia. Responsável por trazer à luz as ideias por detrás das curvas da procura e da oferta, tem no
Economia em 1970. Faleceu em 2009 aos 94 anos de idade. Professor no MIT, tem no seu manual de seu Livro Principles ofEconomics de 1890 a sua obra fundamentalDeve-se a Marshall a representação
Economia (com primeira edição em 1948) uma obra de referência para todos os alunos que estudam gráfica do equilibrio de mercado, cuja imagem é por vezes referida como cruz Mershaltiana, matéria
aquela disciplina. que será analisada no Capítulo 4.

30 31
4.2 Microeconomia vs. Macroeconomia
Cap. 1-0 que é a Economia?

triângulo. Como tal, sempre que tomamos decisões, estamos dentro do objecto a Economia como estudando o comportamento individual e colectivo dos seus

de estudo da Economia. E é por isso que a Economia está relacionada com tudo: agentes. Com base nessa definição, é possivel distinguir então aqueles que são

quando um aluno decide ficar na cama e faltar a uma aula tomou uma decisão os dois principais ramos da Economia,

(dorme mais mas perde matéria); quando uma empresa decide contratar um
trabalhador toma uma decisão (passa a poder produzir mais e tem um custo Um dos focos do estudo da Microeconomia é o comportamento individual dos
agentes económicos, nomeadamente o comportamento do consumidor e do
associado): quando um jogador de futebol decide rematar à baliza ê tomada
produtor. Do lado do consumidor, o seu objectivo é maximizar a utilidade de
uma decisão (se marcar golo o benefício será superior ao custo; caso contrário
consumir um conjunto de bens, tendo em conta a sua restrição orçamental. Por
pode levar uma reprimenda bem grande...); até quando você decide não fazer
nada pode ser objecto de estudo da Economia... Se ainda não estã totalmente seu turno, o produtor tem como objectivo maximizar o seu lucro ou, perante
algumas condições pré-determinadas, maximizar a produção ou minimizar o seu
convencido, fique a saber que alguns economistas escrevem sobre coisas que
geralmente não se associam à Economia: relação entre professores e lutadores custo. Estes problemas são estudados nos Capítulos 6, 7 e 8.

de sumo, pipocas e cinema, traficantes de droga ou até a escolha dos nomes dos
filhos. Pesquise em livrarias e provavelmente ficará surpreendido! Além das teorias do consumidor e do produtor, a Microeconomia estuda também
a forma como os mercados se comportam,a partir da interacção dos diferentes
agentes. Esses mercados podem ter diferentes características, dependendo do
Uma outra questão que é importante esclarecer é uma afirmação que por vezes
surge: a Economia como o estudo dos fenómenos económicos. Ao contrário número de agentes ou do tipo de bens em causa, entre outras. Este tipo de

do que se possa pensar, na sua génese, não existem fenómenos económicos. análise é feita no Capítulo 9. De facto,a interacção entre os diferentes agentes é
um elemento fundamental de algumas das estruturas de mercado estudadas em
Provavelmente as pessoas associam estes (supostos) fenómenos a questões que
Economia, sendo por exemplo explorada na teoria dos jogos.t%
são preocupações da Economia e a problemáticas estudadas por economistas:
desemprego, inflação ou crescimento económico serão alguns dos exemplos
(lá está, o estereótipo dos números...). Mas a realidade é que a Economia estuda No âmbito da Microeconomia é também possível analisar o comportamento dos
agentes em mercados especificos (por exemplo, no mercado de trabalho) ou o
muito mais do que isso e pode analisar qualquer fenómeno da sociedade, desde
comportamento dos agentes em contexto de incerteza. Este tipo de tópicos é,
que isso implique escolhas. É por isso que a Economia estuda fenómenossociais,
no entanto, mais avançado, não sendo por isso abordado neste livro de carácter
pois é este o tipo de fenómenos que nos rodeia. Que não são estudados apenas
pela Economia mas também por outras ciências. Sim, porque a Economia é uma mais introdutório.

Ciência que estuda o comportamento individual e o comportamento colectivo,


Em contraposição com a Microeconomia surge a Macroeconomia, o ramo da
pela análise da interacção entre agentes económicos.
Economia que estuda o comportamento das economias como um todo. Temas
como a determinação do rendimento, a contabilização da actividade de um país
ou a análise de agregados como o Produto Interno Bruto, desemprego ou inflação

4.2 Microeconomia vs. Macroeconomia são problemastípicos estudados pela Macroeconomia.

O título deste Livro é “Principios de Microeconomia”. E se há micro é porque “1 Por estar fora do âmbito introdutório da Economia, deixamos a análise da teoria dos jogos para
também há macro. A definição apresentada no final da secção anterior identifica ser analisada num próximo Livro sobre Microeconomia avançada.

se
Cap. 1- O que é a Economia? 1.3 Mas é “Economia” ou “economia”?

Convém deixar também neste momento outra ressalva: a divisão entre Psicologia a forma como o desemprego afecta as pessoas; a Sociologia a forma
Microeconomia e Macroeconomia é uma divisão tipica mas que deixa espaço como pode levar à exclusão social. Este é também o motivo pelo qual a análise
para a existência de disciplinas mais específicas na área da Economia: Economia de determinadas situações e a tomada de determinadas decisões, até de carácter
Internacional, Economia Monetária, Economia Financeira, Economia Industrial, político, envolvem equipas multidisciplinares: até porque os fenómenos sociais
Economia da Informação, Economia do Trabalho, Economia Agricola são apenas dizem respeito a pessoas e situações que podem ser complexas.
algumas dessas disciplinas. Além disso, elas também podem ser divididas nas
suas próprias componentes microeconómicas e macrbeconómicas. As ciências sociais têm uma particularidade em relação às ciências exactas:
enquanto os fenómenos naturais ocorrem mediante situações controladas, no
caso do comportamento das pessoas isso pode não acontecer. No entanto, ao
contrário do que se possa pensar, isso não retira carácter científico à Economia
1.3 Mas é “Economia” ou “economia”? (ou outras ciências sociais). Nem isso nem o facto de, na generalidade dos casos,
não se utilizar o laboratório para fazer experiências.

Anteriormente foi identificada a Economia como sendo uma Ciência. Se nos Uma Ciência não é caracterizada por se poder fazer ou não experimentação,
lembrarmos dos tempos de escola, a maior parte de nós teve disciplinas como até pela definição de Ciência: um conjunto de conhecimentos rigorosos e
Ciências Naturais, Físico-Química ou disciplinas análogas. Na altura faziam-se sistemáticos, que permite identificar um corpo comum de conceitos e teorias,
algumas experiências laboratoriais que tinham passos definidos: formulação que utilizam uma Linguagem própria e que têm no método científico a sua base.
do problema, experimentação, observação, registo de dados e conclusões. E é este método que pode diferir. No caso da Economia é o pensamento dedutivo,
Essas conclusões são padronizadas: por exemplo a agua congela a O graus baseado no trinómio hipótese-tese-demonstração que lhe dá o carácter cientifico.
centígrados e evapora a 100 graus. Estamos no âmbito das ciências exactas, onde
a experimentação é, de facto, o método adequado para esse conjunto de Ciências Uma das ferramentas que a Economia utiliza é a análise estatística. Juntar
a que chamamosciências exactas. Estatística e Economia permite criar uma disciplina que se chama Econometria
(que curiosamente não costuma ser muito do agrado dos estudantes...). Essa
Depois há um outro conjunto de ciências que se preocupam com fenômenos Econometria permite analisar matematicamente os dados que são obtidos pelos
que não são naturais mas sim com fenómenos sociais e são esses mesmos que economistas, construindo modelos económicos que podem ajudar a validar
a Economia estuda. Mas não só a Economia: História, Demografia, Psicologia, teorias económicas. Inclusivamente, a Econometria hoje não é mais um mero
Sociologia - todas elas estudam os mesmos fenómenos, ainda que com instrumento de trabalho, é um objecto de estudo e fonte de investigação em si
abordagens diferenciadas. É por isso que não há fenómenos económicos! mesmo, com autores que estão em constante busca pelo aperfeiçoamento dessas
técnicas, ou seja, as próprias ferramentas econométricas são alvo de estudo da
Considere-se por exemplo o desemprego. À Economia, de facto, preocupa-se com Econometria.
os efeitos do desemprego, por exemplo pelo facto de estarem a ser desperdiçados
recursos que podiam ser úteis para o aumento da produção da economia. Mas Jã agora, fica a ressalva para o facto de que mesmo em Economia é possivel que
este é um problema que também é analisado pelas outras ciências: por exemplo, se faça experimentação. Não envolve tubos de ensaio, é certo, mas há situações
a História analisa a forma como o desemprego evoluiu ao longo do tempo; em que é possivel efectuar essa experimentação. Não sendo propriamente
a Demografia a forma como o desemprego é diferente em distintas zonas; a usual ter um laboratório para efectuar experiências controladas em Economia, a

sa gs
Cap. 1 - O que é a Economia? 1.3 Mas é “Economia” ou “economia!

Economia Experimental é um ramo desta ciência que tem vindo a tentar resolver tudo o resto se mantenha constante. Esta questão, que parece um pormenor e que
esta questão. os economistas identificam também pela expressão caeteris paribus, é essencial
para que não se cometam erros de interpretação, porque a realidade é muito
É então o método científico que permite ter rigor na Economia que, assim, pode complexa e há muitas variáveis relacionadas umas com as outras. Imaginemos
ser considerada como ciência e formular, por exemplo, teorias económicas. Mas que há um aumento de preços e que, ao mesmo tempo, aumenta o rendimento
para se ser economista, como profissional em qualquer outra ciência, é necessário disponível para consumo. Se o aumento do rendimento compensar o aumento
ter um conjunto de conhecimentos e utilizar uma linguagem própria, para se dos preços, permitindo aumentar o poder de compra, à partida as intenções de
evitar cair em determinados erros. consumo irão aumentar. Uma análise desatenta poderia conduzir à conclusão
errada que o aumento do preço levaria ao aumento do consumo, quando na
Voltemos ao exemplo da água e ao facto de a mesma ferver a 100 graus verdade isso acontece porque há mais do que uma variável a sofrer alterações.
centígrados. À verdade é que isso depende. Do quê? Da pureza da água. Se Não isolar convenientemente os acontecimentos é um dos erros mais comuns
não tivermos o cuidado de assumir isso podemos cair nalgum erro (basta, por que pode acontecer na análise económica.
exemplo, que tenhamos água salgada e a temperatura exacta já não será essa).
Da mesma forma se não tivermos alguns cuidados a fazer análises económicas Mas engane-se quem pensa que estes são os únicos tipos de enganos em Economia.
então poderemos cair em determinados erros uma vez que as conclusões da Podemos genericamenteclassificar os erros de raciocínio dedutivo, ditos falácias, em
Economia são baseadas em determinadas hipóteses. dois grandestipos: a falácia da composição e a falácia post-hoc (que até pode estar
relacionada com o não reconhecimento do efeito ceeteris paribus).
Uma das primeiras questões a ter em conta é o estatuto estatístico das leis
econômicas. Isso significa assumir que determinadas afirmações feitas em A falácia da composição é um erro que acontece quando se assume que o que
Economia são de elementos que se esperam acontecer na maior parte dos casos. é verdade para uma parte de uma realidade é também verdade para o todo. Um
Teoricamente é possível deduzir um determinada relação entre variáveis sendo exemplo típico em Economia está relacionado com a agricultura: se um agricultor
expectavel que essa relação se verifique quando estiverem cumpridas todas as tiver um bom ano agricola, vai ver o seu rendimento aumentar. No entanto, se
hipóteses de base. Uma dessas hipóteses é a que diz respeito ao comportamento todos os agricultores tiverem um bom ano agricola, muito provavelmente isso
padrão dos indivíduos, podendo alguns não corresponder a esses comportamento fará uma pressão descendente muito grande nos preços de forma que acabam
padrão, eventualmente porque hã determinadas hipóteses que não se verificam, todospor ficar pior (esta situação está relacionada com a alteração de equilíbrios
podendo por isso existir efeitos que não são observáveis. A utilização de um de mercado, que serão analisados no Capitulo 4, assim como com o conceito de
exemplo pode ajudar a perceber essa situação. Apesar de ainda ser cedo para elasticidade, que será abordado no Capítulo 5).
abordar os motivos, é do senso comum que quando o preço de um bem aumenta,
a quantidade procurada vai diminuir. Ainda assim poderá ocorrer que alguém não Por seu tumo a falácia post-hoc acontece quando se atribui um nexo de
reaja dessa forma se o preço de um produto aumentar. causalidade entre dois acontecimentos quando na realidade o que têm em
comum é apenas o facto de serem acontecimentos contemporâneos. Suponha
Utiliza-se ainda o caso da procura para perceber outra ferramenta fundamental que no primeiro teste da disciplina chega atrasado mas mesmo assim tira uma
utilizada pelos economistas. Além do facto de que esperamos que o aumento grande nota. Assumir que essa nota se deveu ao atraso será provavelmente
do preço faça diminuir a quantidade procurada para a generalidade dos irracional, Talvez tenha acontecido porque estudou até demasiado tarde e não
consumidores, é fundamental perceber que esse é o impacto esperado desde que conseguiu acordar à hora planeada. Além disso, a realidade é muito complexa,

36
Cap. 1 - O que é a Economia? 1.4 Postulados da racionalidade e do equilibrio

havendo uma série de factores que podem concorrer para o mesmo fim. Como comportamentos por vezes podem ser complexos e/ou imprevisíveis. Isto não
tal, é relevante realçar a importância de realizar estudos de estática comparada significa que as teorias económicas não fazem sentido, pelo contrário, Obriga
para, através da metodologia caeteris paribus, se conseguir impor alguma ordem à isso sim, a quem esteja a fazer e a interpretar analises, a perceber que hã
complexidade da teia de relações que existe entre as diferentes variáveis. pressupostos que têm que ser levados em Linha de conta. E há dois pressupostos
fundamentais que são utilizados na análise econômica: os postulados (ou
Outro potencial problema das análises econômicas tem a vercoma subjectividade. princípios) da racionalidade e do equilíbrio.
Esta situação pode estar relacionada com o facto de se estar a falar de uma
ciência social, que trabalha com pessoas e que, por isso pode implicar juízos Para compreender o funcionamento destes postulados, pensemos num
de valor. É por isso necessário distinguir entre Economia positiva e Economia supermercado e nas suas filas de caixa, em hora movimentada. De acordo com
normativa. Essa distinção é feita de acordo com o tipo de afirmações que são o postulado da racionalidade, os clientes presentes no supermercado são...
efectuadas. Está-se no âmbito da Economia positiva quando a análise se foca racionais. Suponhamos que isso significa que o seu objectivo passa por ser
em factos propriamente ditos, assente em metodologia científica. Numa análise atendido o mais depressa possivel. Como tal, no momento em que se dirige
normativa estão subjacentes juízos de valor. Por exemplo, ao se afirmar que para a caixa, cada cliente procura uma fila que tenha menos clientes. De certo
“o salário minimo em Portugal é de 505 euros” está-se no âmbito da Economia modo é o que acontece na generalidade dos casos, havendo um certo equilibrio
positiva. A afirmação de que “o salário minimo em Portugal é de apenas 505 euros” nas diferentes filas. Não quer dizer que todos os clientes façam exactamente o
cai no âmbito da Economia normativa. Tratando-se este de um Livro académico, mesmo. Na realidade pode existir algum cliente que não tenha muita pressa, que
obviamente as análises são feitas no âmbito da Economia positiva. esteja acompanhado e à conversa e que não esteja preocupado com o tempo. Ou
até, por que não, alguém que queira ir a uma caixa especifica para ser atendido
Recapitulando, e até com o objectivo de responder à questão que dá O nome a por alguém especial. Repete-se algo que já foi referido anteriormente: este é um
esta secção: a Economia é uma Ciência porque tem objecto de estudo, assim como princípio que se aplica à generalidade das pessoas.
método e terminologia próprios, de modo a poder validar as suas teorias. É o tal
conjunto de conhecimentos sistemáticos e rigorosos, dai que se escreva com Assumindo então que todos os agentes são racionais, hã um equilíbrio no
maiúscula. Ao contrário da forma como se escreve no caso de estarmos a falar, grupo. E, assim, se todos tiverem este raciocínio, as pessoas serão atendidas o
por exemplo, do que acontece à economia portuguesa, ou de quando falamos de mais depressa possível e despachar-se-ão mais rapidamente. Este é o princípio
economia doméstica. Ou seja, quando é utilizada como um substantivo, referindo- de Adam Smith, pai da Economia, quando indica que se cada um dos agentes
se a um conjunto de indivíduos organizados em sociedade. prosseguir os seus próprios objectivos, o bem-estar geral é maximizado.) No
caso do supermercado, se todos procurarem ser atendidos de acordo com a regra
definida anteriormente, verifica-se um equilibrio, que é uma situação a partir da
qual ninguém tem incentivos a alterar o seu comportamento.
1.4 Postulados da racionalidade e do
equilíbrio
8 Adam Smith (1725-1790), economista escocês, é considerado como o pai da Economia pelo
seu importante papel na definição da forma como os agentes podem contribuir para o estímulo da
Sendo uma ciência social, a Economia estuda o comportamento dos agentes
actividade econômica. Autor de várias obras, tem no livro An Inguiry into the Noture and Couses of the
económicos. Alguns desses agentes económicos são pessoas, pelo que os seus Wealth of Nations (1776) a principal referência.

=
38 as
1.5 Os três problemas da organização econômica
Cap. 1-0 que é a Economia?

assim, orientar os clientes para a fila mais conveniente. De certo modo isso até é
O problema é que em Economia há (quase) sempre um “mas”... Acima já foram
feito nos supermercados: nas diversas superfícies comerciais há soluções para todos
identificadas algumas situações em que pode não se verificar a racionalidade dos
os gostos - caixas automáticas (e para estas umas com pagamentos automáticos
agentes. Mas podem existir outros problemas. Por exemplo, mesmo que haja um
e outras em dinheiro), caixas para pessoas com um número limitado de produtos,
equilibrio nas filas, pode haver pessoas que tenham mais produtos para passar na
caixas prioritárias, entre outras possíveis soluções. O Estado (leia-se, a gestão das
caixa do que outras (atrasando quem tomou essa fila); a velocidade dos operadores
empresas) de certo modo orienta os clientes desta forma. Mas mesmo assim hã
de caixa pode não ser a mesma; podem existir problemas com a passagem dos
problemas que não se conseguem resolver: o tal cliente que esta à conversa e que
códigos de barras nalguns produtos; a velocidade com que se fazem os pagamentos
não se preocupa com o tempo,o cliente que escolhe semprea caixa mais demorada
também difere entre clientes. E eventualmente o leitor pode encontrar algumas
ou outras situações que podem ocorrer, algumas das quais nem são previsíveis.
outras situações que motivem que as filas não andem tão rapidamente como se
previa. Chamemosa estas situações falhas existentes nas filas dos supermercados.
Para resolver essas situações só mesmo um fiscal que obrigasse as pessoas a
cumprir de acordo com o que todos os outros quereriam. Só que isso teria custos:
A identificação por este nome não é ingénua. A verdade é que Adam Smith tem
por um lado, o custo de pagar a alguém só para fazer isso; por outro o custo
razão: se os agentes se comportarem de forma racional, e na ausência das falhas
de potencial perda de clientes que, não estando preocupados com o tempo,
apresentadas anteriormente, há um equilíbrio na economia. É a sua famosa mão
talvez ficassem aborrecidos por os mandarem apressar-se. Com este exemplo se
invisivel que quiará o mercado para uma situação de equilíbrio (assunto que
mostra que, perante determinadas falhas,a intervenção de terceiros pode não ser
se visitará no Capítulo 4). Mas isso obriga a que se verifiquem determinados
eficiente, pois teria custos maiores. No fundo, o benefício líquido não era superior
pressupostos que dão origem âquilo que os economistas identificam como
ao custo líquido desta intervenção. E como se verá em capítulos posteriores, esta
situação de concorrência perfeita (situação esta que será abordada no livro
questão é de extrema importância.
no Capítulo 9). À questão que pode originar a ocorrência de problemas é que
podem existir falhas de mercado. E, num supermercado, algumas dessas falhas
Conclui-se então que assumir os postulados da racionalidade e do equilíbrio ajudam
estão identificadas no paragrafo anterior. Significa isto que,para que os sistemas
os economistas a retirar conclusões sobre os seus modelos. Só que há casos em
equilibrem, a racionalidade pode não ser suficiente.
que isso não é suficiente, por existirem falhas de mercado. Perante essas falhas, que
fazem com que os mercados sejam imperfeitos, há a possibilidade de intervenção
Não se pense, no entanto, que assim não é possivel alcançar o equilíbrio, As
do Estado,de forma a corrigir alguns desses problemas, sendo que a decisão dessa
falhas de mercado existem, mas pode haver alguém que tenha como papel
intervenção deve ser ponderada de acordo com os beneficios e os custos associados.
intervir perante essas falhas, para as corrigir. Em Economia esse papel cabe ao
Estado, como entidade que tem como objectivo preocupar-se com o bem-estar
geral, À questão em causa é que há determinadas falhas para as quais não se
justifica a intervenção do Estado, porque provavelmente essa intervenção seria
irrealista ou ainda traria mais problemas.
1.5 Os três problemas da organização
económica
Imagine novamente a situação no supermercado. Para garantir que tudo funciona
de forma correcta, teria que haver alguém que contasse o número de produtos que
A resolução de determinados problemas, nomeadamente os que foram
as pessoas levavam nos carrinhos, saber qual o tempo médio de atendimento de
identificados na secção anterior, está de certo modo relacionada com a forma
cada um dos operadores, saber de antemão o modo de pagamento das pessoas e,

40
Cap. 1 - O que é a Economia? 4.5 Os três problemas da organização econômic;

Domo se resolvem os três problemas fundamentais da organização económica. aumento da procura, então o preço desse produto aumentará. Isto acontece com
25 são, genericamente o que produzir, como produzir e para qualquer tipo de produto, inclusivamente um produto especial que é o trabalho.
Do Dodo & dierença estã na forma como as diferentes economias se Por exemplo, se ao mesmo tempo todas as empresas decidirem criar sites na
qua para resolver estes problemas. internet, haverá uma procura por serviços de web designers, aumentando o seu
salário.
= es moDema estã relacionado com as coisas que são efectivamente
025. por exemplo, produzimos mais produtos alimentares, mais carros, Este sistema de mercado pode ser representado por um fluxo semelhante ao
==> serviços ou mais de outra qualquer coisa? E dentro de cada um destes

q
da Figura 1.2. Considerando a existência de famílias e empresas, a interacção
Dos, produziremos para o público em geral ou para algum nicho de mercado?
entre estes dois tipos de agentes é feita a partir de dois mercados diferentes: o
Du devemos produzir um pouco de cada? E em que quantidades? mercado de bens e o mercado de factores. Em cada um desses mercados podem-
se distinguir dois diferentes tipos de fluxos: um fluxo real (onde se movimentam
Dar resposta a todas estas questões implica entrar também com a segunda
bens e serviços e representado pelas setas a cheio) e um fluxo financeiro (que
questão: como produzir aquilo que foi decidido. Deverá ser feito com tecnologias
representa o pagamento do fluxo real sendo estes representados por setas a
mais intensivas em trabalho ou em capital? Deverá ser feito por empresas de
tracejado).
pequena, média ou grande dimensão? E com que tipo de matérias-primas?

-——
Despesa 4 er E E a Receitas
E para quem se destinam os produtos? Para todos? Para quem tiver dinheiro?
4
E quem não tiver dinheiro mas estiver interessado em comprar algo ou necessitar

mp
/ Bens e Serviços Output: Bens e *
de o fazer? É este o terceiro problema. f (comprados) Serviços (vendidos) N
/ k

—e
A resposta a estas três questões é também ela tripartida, uma vez que a forma
como se resolve estes problemas pode ser ditada pelo mercado, pelo Estado ou
remos| mp|)
b !
de uma forma mista. ' /
N CCom Terra Inputs s

-—
Rendimento 4

Dsé =
O mercado, como uma estrutura que conjuga interesses de potenciais vendedores
2] “Salário, Rendas,
e potenciais compradores, é uma das formas de resolver estes problemas. De
acordo com o mercado, os agentes actuam de forma livre sem que ninguém
interfira nas suas decisões. De certo modo, aquilo que Adam Smith referia como Figura 1,2 O fluxo circular de rendimento e outputs do Mercado

a mão invisivel. E, deste modo, as empresas produzem aquilo que der mais Lucro,
utilizando as tecnologias que forem mais eficientes e produzindo para quem O mercado de bens e serviços é aquele onde as empresas vendem os seus
possa comprar esses produtos.
produtos e serviços recebendo as receitas dessas vendas. Obviamente os produtos
são vendidos às famílias, sendo que estas efectuam despesa para os adquirir.
Do mercado sai informação para todos os agentes, informação essa que serve
para sinalizar o seu comportamento. Essa informação, que é fundamental, é 0
No entanto, para que as empresas possam produzir, é necessário que utilizem
preço. Por exemplo,se a oferta é relativamente fixa e por qualquer motivo há um
factores de produção. Esses factores de produção são, genericamente, o trabalho
42
Cap. 1 - O que é a Economia? 1.5 Os três problemas da organização econômica

e o capital.isEsses factores podem ser fornecidos pelas famílias que exigem, em Quando se fala em eficiência, genericamente os economistas referem-se ao

troca, o pagamento de uma contrapartida: o salário para remunerar o trabalho, conceito de eficiência de Pareto,” que não é mais do que uma situação em que
as rendas para remunerar a propriedade, os juros para remunerar o capital não é possivel aumentar o bem-estar de um agente económico sem prejudicar
financeiro e o Lucro para remunerar o capital fixo que é investido nas empresas pelo menos outro. É umasituação em que não é possível explorar os recursos de
(no Capitulo 7 abordar-se-ão estes aspectos com mais pormenor. uma melhor forma. Se pensarmos na analogia de uma economia com uma tarte,
a equidade preocupa-se com a forma como a tarte é dividida por quem a há-de

Não havendo qualquer entrave, estes fluxos funcionam de forma perfeita através comer. A eficiência preocupa-se com o tamanho da tarte. Uma tarte maior dará
do mercado, conduzindo a uma situação eficiente. O problema está quando fatias maiores para todos. No entanto, uma vez cortadas as fatias, pode haver
há entraves à perfeição: as falhas de mercado que já foram identificadas sempre indivíduos insatisfeitos com o tamanho da fatia que lhes coube. Se um
anteriormente. agente económico puder melhorar com outra repartição, sem piorar ninguém,
então existirá uma melhoria no sentido de Pareto. Se não for possivel haver este
Se o mercado é uma das formas de resolver os três problemas da organização movimento, então a repartição é eficiente, por muito que desagrade a alguns.Isto
económica, e sem qualquer tipo de intervenção externa, no outro extremo existe motiva, no entanto, outro conceito de eficiência, baseado na chamada melhoria
a forma de resolver os mesmos problemas a partir de uma economia dirigida. de Kaldor-Hickst8a partir de uma situação que já é eficiente no sentido de Pareto,
Neste caso é o Estado que decide, por sua iniciativa, 0 qué, como e para quem Ela acontece quando ao melhorar a situação de um indivíduo o seu aumento de
produzir. À questão que se coloca agora é a de quais os motivos que justificam a bem-estar é suficiente para compensar a perda de bem-estar de outro ou outros.
intervenção do Estado numa economia. Para perceber esses motivos analisam-se
agora as funções do Estado: promover a equidade, a estabilidade e a eficiência. A promoção da eficiência é talvez aquela que pode levar a um maior número
de intervenções do Estado. Como referido anteriormente, verificando-se
A equidade refere-se à garantia de uma melhor distribuição dos recursos, determinados pressupostos, espera-se que o mercado conduza à eficiência
através de processos de redistribuição. Geralmente essa função é colocada em económica, enquanto a existência de falhas pode obrigar à intervenção estatal.
prática através do sistema fiscal, pela cobrança de impostos e taxas e pela sua A questão é que existem diversas falhas que podem ocorrer.
redistribuição com subsídios e outros apoios sociais.
Uma dessas falhas é a possível falta de informação aos consumidores. O Estado
A promoção da estabilidade, diz respeito à estabilidade macroeconômica. pode intervir, por exemplo, garantindo que as empresas prestem essa informação.
É do interesse de todos os países terem bons desempenhos económicos, Isso acontece, por exemplo, na obrigatoriedade da informação a colocar nos
nomeadamente em termos de crescimento. No entanto é também importante rótulos.
que haja estabilidade, no sentido de existir alguma previsibilidade em relação ao
futuro. Essa estabilidade e previsibilidade reduz a incerteza, situação que pode
Pr Wilfried Pareto (1848-1923) sociólogo e economista de origem italiana, cujo trabalho levou ao
conduzir, por exemplo, à realização de mais e melhores negócios.
conceito de eficiência e ao desenvolvimento da teoria da utilidade.
&8 Sir John Richard Hicks (1904 - 1989) foi um economista britânico, Prémio Nobel de 1972. A ele
se deve o desenvolvimento do Modelo I5-LM da Macroeconomia, mas também a teoria ordinal da
utilidade, tendo demonstrado a irrelevância da mensurabilidade da utilidade para medir o valor
ty Alguns autores consideram os recursos naturais/terra como um factor de produção (por exemplo, dos bens. Estes últimos contributos do seu trabalho serão utilizados no Capitulo 6. Nicholas Kaldor
nas empresas agricolas). A consideração de mais este factor não acrescenta nada ao modelo, como se (1908-1986) economista de origem húngara, desenvolveu um trabalho de relevo na área da teoria do
verá no Capítulo 7, podendo estes elementos incorporar o factor capital, crescimento económico, nomeadamente no pós-guerra.

44 45
Cap. 1 - O que é a Economia? 1.5 Os três problemas da organização económica

Outra falha de mercado muito importante é a existência de externalidades, uma Existem outras falhas de mercado, como a existência de custos de transacção ou

vez que a sua existência faz com que os mercados não atinjam o óptimo social. a existência de falhas organizacionais, situações que podem conduzir a preços de
Uma externalidade verifica-se em situações em que alguém provoca um efeito a mercado superiores aos preços eficientes. Um outro problema, até relacionado
terceiros que não estejam a participar directamente num mercado, podendo esses com os custos de transacção,esta ligado à necessidade que os agentes podem ter
efeitos ser positivos ou negativos. Por exemplo, uma empresa que dedique parte em procurar informação relevante sobre os mercados (o que conduz a incorrerem
das suas receitas à investigação e desenvolvimento para obter produtos inovadores em custos), a existência de custos de negociação ou eventualmente até a
permite que, quando essa investigação “der frutos, haja desenvolvimento das comportamento estratégico de negociação por parte de determinados agentes.
sociedades. Neste caso está-se na presença de uma externalidade positiva. Pelo Ainda que nalguns casos possa ser mais difícil a intervenção estatal nestes
contrário, se o efeito for adverso, então a externalidade é negativa. Isso acontece, problemas, são falhas que podem também afectar o normal funcionamento de
por exemplo, em situações em que as pessoas provoquem muito barulho uma economia de mercado. Mesmo assim há exemplos de intervenção neste
(importunando, por exemplo, os vizinhos) ou noutros casos comuns do nosso âmbito, como a limitação ao pagamento de comissões em determinadas situações.
quotidiano, como o acto de conduzir (que provoca poluição, afectando todos os
que nos rodeiam e não só quem anda de carro). Estas são algumas das possíveis razões para a intervenção do Estado numa
economia sendo que, no limite, a totalidade das decisões por parte dos Estados
Em termos teóricos as externalidades podem ser tratadas premiando as dá origem às economias dirigidas, como referido anteriormente. Falaremos
externalidades positivas e sancionando as externalidades negativas. É o que brevemente sobre as falhas de mercado, bem como a sua relevância para a
acontece, no contexto dos exemplos acima, com a concessão de patentes para as regulação, no contexto do Capítulo 10.
empresas que fazem investigação e desenvolvimento (a patente não é mais do
que um monopólio autorizado, uma vez que se considera que permite desenvolver Olhando para as diferentes economias do mundo será muito difícil encontrar
a sociedade) ou com a taxação, em forma de imposto, a carros mais poluentes. uma economia que funcione apenas pelo mercado Livre, assim como será muito
difícil encontrar uma que seja totalmente dirigida, em que o Estado se substitui
O Estado tem também um papel importante no fornecimento de um tipo de aos agentes económicos privados no fornecimento de alguns bens e serviços ou
bens especiais a que se dá o nome de bens públicos. Estes bens apresentam dirige totalmente a forma coma as entidades privadas o podem fazer. É provável
simultaneamente duas caracteristicas que os diferenciam: são bens de consumo que ao primeiro caso se associem economias como os EUA ou a União Europeia
não exclusivo e de consumo não rival.Isso significa que quando alguém consome enquanto no segundo caso isso possa acontecer em países como Cuba, Venezuela
não exclui terceiros desse consumo e, por esse motivo, as pessoas não rivalizam ou Coreia do Norte. Mas, provavelmente, em nenhum deles os sistemas são
por esses bens não querendo por isso paga-los. Às estradas, a defesa nacional, a totalmente puros. O que de facto acontece é uma situação de uma economia
iluminação pública ou a segurança são apenas alguns desses exemplos: qualquer mista, com o funcionamento do mercado em diversas situações, frequentemente
consumidor ao usufruir desses bens não exclui os outros de o consumir e, como vigiado pelo Estado enquanto regulador, verificando-se essa actuação quando se
tal, não está disponível para pagar um preço por eles. Se o Estado fornecer esses entenda que existam razões que obriguem à sua intervenção. O que difere nos
bens, imporá o seu financiamento através da cobrança de impostos. Esta situação vários países será o peso da mão do Estado nas economias.
é muito diferente, por exemplo, da do consumo de uma maçã: quando alguém
consome uma maçã faz com que mais ninguém a possa consumir, ao mesmo
tempo que estã interessado em pagar por ela. Neste caso está-se na presença de
um bem privado. O fornecimento privado de um bem público seria ineficiente.

as 47
Cap. 1 - O que é a Economia? Apêndice ao Capítulo 1, A Matemática ao serviço da Economi

Apêndice ao Capítulo 1. A Matemática da variável, em rigor deverá ser chamada de taxa de variação, uma vez que pode

ao servico da Economia também tomar valores negativos ou nulos.

Apropósito de variações absolutas e relativas, é importante esclarecer umerro que


Economia e Matemática estão muito interligadas, sendo este o momento para rever é facilmente encontrado na comunicação social. Por exemplo, supondo que num
alguns conceitos que podem ser importantes ao longo do livro. São apresentadas determinado mês a taxa de desemprego foi de 13,1% e no mês seguinte 13,5%
quatro secções: a primeira aborda as variações absolutas e relativas de variáveis; isso não significa um aumento de 0,4%. As unidades de medida das taxas são,
a segunda, questões relacionadas com funções e derivadas; a terceira mostra efectivamente, as percentagens. Por esse motivo,a diferença absoluta entre duas
a forma como é possível calcular os mínimos ou máximos de uma função; e a taxas é dada por pontos percentuais. Assim, a variação na taxa de desemprego
quarta que apresenta o teorema da função implícita, que tem várias possíveis anteriormente identificada é uma variação de 0,4 pontos percentuais. Em termos
utilizações ao nível da Economia. relativos, aplicando a fórmula da taxa de variação, significa um aumento de
3,05% na taxa de desemprego.

Supondo agora que, ao longo de um determinado período de tempo, se tem o


A.1.1 Variações absolutas e variações relativas comportamento de uma variável, por exemplo, entre o ano 0 e o ano t, Um indicador
que pode ser útil para analisar a evolução da variável é a taxa de variação média.
Amplamenteutilizada em Economia e, por vezes, até no quotidiano, é a diferença
entre variações absolutas e variações relativas. Sabendo o valor de uma variável Ao contrário do que à primeira vista se possa pensar, a taxa de variação média
em dois momentos do tempo, digamos V, e V.., a sua variação absoluta é dada não é dada pela média aritmética das taxas de variação,visto que os processos
pela diferença entre os dois momentos. Assim, se V, - V.; for positivo significa em causa são multiplicativos e não aditivos. Assim, a fórmula da taxa de variação
que a variável aumentou; se a diferença for negativa, a variável diminui; se a média é dada por:
diferença for nula a variável não se alterou, O resultado da variação absoluta é
14
medido na unidade da variável original,
TvM= EM —1/x100,
m

No entanto, porque as variações absolutas podem ser pouco informativas, é


comum utilizar medidas de variação relativa sendo a taxa de variação a medida
Por exemplo, se uma determinada variável cresceu 2% num ano e 3% no ano
utilizada. Essa taxa mede a variação percentual da variável em relação ao seu
ponto de origem. Formalmente tem-se então: seguinte, a taxa média de variação entre estes dois períodos não é exactamente
igual a 2,5% mas sim a 2,4988%. Aquilo que para variações de pequena
V-y V dimensão até resulta em diferentes negligenciáveis, se os valores forem grandes
tv=| LE |x100= — -1/|x100.
Vt1 as diferenças são mais significativas.
E

Além disso, deve o Leitor também estar atento ao facto de que, se num determinado
Esta taxa de variação é medida em percentagem e por vezes é chamada de taxa
ano um variavel crescer, por exemplo, 2% e no ano seguinte a mesma variável
de crescimento. Apesar de, em caso positivo, identificar o crescimento percentual
decrescer 2%, a taxa de variação entre os dois anos não é igual a zero. Não se

as 48

TT"
Cap. 1 - O que é a Economia? Apêndice ao Capítulo 1, A Matemática ao serviço da Economi

esqueça que os 2% de decréscimo incidem sobre o valor que já teve o acréscimo ponto de coordenadas (Xos%) da Figura A.1.3, pode calcular-se a média de Y
de 2%. Na realidade, a taxa de variação entre os dois anos é igual a -0,04%. nesse ponto, ou seja — Este valor médio é, portanto, igual ao declive da recta
que sai da origem e descreve o ângulo o com o eixo das abcissas, pelo que
o
% =tgo:, como se irá fazer no Capítulo 9 para a derivação geométrica dos custos
médios, por exemplo.
A.1.2 Funções e derivadas

Considere-se a função Y = f(X),ou seja, Y depende (ou é função) da variável X.


Em Economia, muitas vezes as funções são rectas do tipo Y=0+bX, em que
a é a ordenada na origem e b é o declive da recta, Este declive representa a
alteração ocorrida em Y quando X aumenta uma unidade. Os dois painéis da
Figura A.1.2 Declive de uma recta
Figura A.1.1 mostram em termos genéricos duas rectas: à esquerda uma recta
e tangente de um ângulo
com declive positivo b (quando X aumenta, Y também aumenta) e à direita com
declive negativo -b (quando X aumenta, Y diminui).

Y Y

Y
cf>=

=
Figura 4.1.3 Valor médio de Y

numa curva

Figura A.1.1 Duas rectas com declives simétricos,b e -b

Relembrando a trigonometria, o declive de uma recta pode ser identificado com

Y
a tangente do ângulo que a recta faz com o eixo das abcissas, como identificado

na Figura A.1.2. Formalmente, é possivel escrever:

——
Pode ser importante obter, a partir de informação fornecida por um gráfico,a
ho
— = tg ” expressão de uma recta. Para tal é suficiente ter a informação de dois pontos.
Xo Supondo que se tem a informação da Figura A.1.4, com os pares de pontos (0,41)
e (x2,0). A partir desta informação é possível escrever a expressão da recta dada
Esta técnica pode ser utilizada para, em qualquer curva, calcular-se o valor médio por Y=y, p=) A

da variável dependente por unidade da variável independente. Por exemplo, no (x; -0)

50 51
Cap. 1-0 que é a Economia? Apêndice ao Capítulo 1, A Matemática ao serviço da Economia

O declive de uma recta mede a relação da variação de Y por variação unitária A Figura A,1.6 mostra a forma como o declive varia numa curva, no caso uma
de X e tem a particularidade de ser constante, independentemente do ponto em parábola com a concavidade virada para baixo: no ponto A o declive é positivo
que se estiver. No entanto, caso se esteja na presença de uma curva, esse declive (uma vez que a tangente é positivamente inclinada), no ponto B o declive é
é variável e é dado pelo declive da tangente à curva num determinado ponto. nulo (correspondendo ao extremo da função) enquanto no ponto Co declive é
negativo.
4

Figura A,1,4 Obtenção da


expressão de uma recta
Figura A.1.6 Declive numa

parabola

0 X X

Considere-se a Figura A.1.5 e a curva que está desenhada. Para saber qual o declive
da curva num determinado ponto, como por exemplo o ponto À, é necessário
traçar a recta tangente a esse ponto (recorde-se que uma tangente de uma curva Um conceito relacionado com o declive de uma curva é o conceito de taxa de
num ponto é uma recta que apenas toca a curva sem a cruzar).Tendo essa recta, variação média (TVM) entre dois pontos. Apesar de ter o mesmo nome de um
o processo de cálculo do seu declive é igual ao identificado anteriormente (neste conceito atrás identificado, o objectivo desta é diferente daquele pelo qual se
caso, dado por b). A esse valor chama-se derivada da função num ponto. utiliza a taxa de variação média que já foi abordada anteriormente: enquanto
no primeiro caso se pretende medir a variação média de uma variável entre dois
Y 4
momentos do tempo, neste caso pretende-se medir a taxa de variação média
entre dois pontos numa função

Conhecendo a expressão de uma função dada por Y=jX),a taxa de variação


Figura 4.1.5 Declive de uma média entre os pontos q e b é dada pela expressão:
curva

Mago fofo a
e b-a AX

A Figura A.1.7 permite ilustrar a relação entre TVM e derivada, conhecida como
Teorema de Lagrange, ou Teorema do valor intermédio.

5a
Cap. 1-0 que é a Economia? Apêndice ao Capitulo 1. A Matemática ao servico da Economia

la
18

f(b) irtia,
ay

Figura A.1.7 Taxa de variação


Na realidade, o valor da derivada parcial num ponto corresponde à variação
média como a tangente de uma
fla) da variável dependente devido a uma variação infinitesimal de uma variável
curva (Teorema de Lagrange)
independente mantendo todas as outras constantes, ou seja ceeteris paribus.

Den mem
Mt

=
A.1.3 Máximos e mínimos de uma função
mu

Dada uma TVM entre dois pontos a e b, existirá um ponto c intermédio onde a
Em Economia é comum encontrarem-se problemas de maximização ou de
derivada é igual à TVM.
minimização. São exemplos dos primeiros a maximização da utilidade ou
do lucro (problemas que poderá encontrar nos Capítulos 6 e 9). No caso dos
Formalmente, pode escrever-se:
problemas de minimização, a minimização do custo é um dos exemplos que

Hoj-st)
3 ce[ab]:Mg)=""=198 ,
surge em Economia (podera encontrar problemas deste género no Capítulo 1).

Independentemente do tipo de problema, a forma de o resolver é a mesma. Assim,

em que f(X) representa a derivada de Y em relação a X. se a função objectivo for Y= f(X), a optimização é feita calculando a primeira
derivada e igualando a zero. Formalmente tem-se então: f(X)=0.
Quando os pontos a e b são próximos,a taxa de variação média tende a coincidir
com a derivada nesse ponto, sendo que o cálculo da derivada num ponto permite À resolução da equação anterior pode conduzir, em alguns casos, a que se tenham

calcular o declive da recta tangente nesse ponto. Formalmente tem-se: vários pontos em que a derivada de X seja igual a zero, Esses pontos são conhecidos
com extremosrelativos da função. Como tal, há que depois garantir se os pontos
Fibj-Fla) extremos são máximos ou mínimos.Esseteste é feito com a segunda derivada. Assim,
mit
a
=ET
q b-q
ro). deverá fazer-se então o cálculo de f'(X) e substituir o valor de X na função obtida.
Desse modo obtém-se o tipo de concavidade da função: se o valor for positivo,a
É frequente usar-se também a notação: concavidade é virada para cima e está-se na presença de um mínimo; caso o valor
seja negativo, a concavidade é virada para baixo e o ponto em causa é um máximo.
d x|j=—,
df
Pula Se eventualmente o valor for nulo,isso indica a existência de um ponto de inflexão.

ou, no caso de a função ter várias variáveis, como por exemplo f(xy). as É frequente chamar condição de primeira ordema f(X)=0 e condição de segunda

derivadas parciais em ordem a cada uma das variáveis relevantes: ordem (de máximo ou de mínimo, respectivamente) a f(X)<0 ea Flw>O.

54 55
Cap. 1 - O que é a Economia?
Questões de revisão

Considere-se, coma exemplo, a função dada por Y =X" — 4X" +2X +6.. Pretende-se
9F

calcular os extremos desta função. Seguindo o procedimento indicado tem-se então:


ar DX,
0X dF
Y=0>53X-8X+2=0. oY

Chega-se então à conclusão que esta função tem dois extremos relativos: X, Utilizando a função identificada inicialmente e que é iguala Y =2Xº .A derivada
= 0,2792 e X, = 2,3874. Para saber se estamos nã presença de minimos ou de Y em relação a X é iguala Y =6Xº.Se se escrever a função na forma implícita,
máximos, tem que se calcular a segunda derivada, que neste caso é dada por ou seja, Y-2Xº=0, e considerando que as existem vários pontos em que a

y=6X-8 Substituindo X, e X; na segunda derivada obtém-se, respectivamente, função se verifica (como, por exemplo, o ponto Y = 2,X = 1), como as derivadas
Y,=-6,3248 e Y, = 6,5244. Como tal, pode concluir-se que o primeiro ponto é um em relação a Y e X são continuas, então é possível escrever:
máximo relativo e o segundo ponto um minimo relativo..
FWX)=Y—2Xº
SE
DM. DX 6X ey?
oX gr 1
A.1.4 Teorema da função implícita ay

Uma função do tipo Y=j(X) chama-se função explicita, na medida em que se


escreve Y explicitamente em função de X. É o que acontece, por exemplo, com a
função Y=2Xº, Para qualquer função deste género é fácil obter a derivada, tal Questões de revisão
como identificado na Secção A.1,2. Além disso, qualquer função assim definida
pode ser reescrita, colocando ambas as variáveis do mesmo lado da equação.
No exemplo apresentado, é possivel escrever-se Y-2Xº=0, ou seja F(Y,X)=0. 1. Defina o conceito de Economia, tendo em conta as noções de necessidades

Então, podemos reinterpretar a equação Y-2Xº =D como a determinação de um ilimitadas, recursos escassos e escolha.

zero da função F(YX) que tem, então, implícita a relação Y=f(2). 2. Comente a afirmação: “A Economia estuda os problemas económicos das
pessoas e dos países”.
No entanto, existem casos em que F(,X)=0 não permite que obter uma função
explicita do tipo Y=Jf(X) (ou, alternativamente, X= f)), sendo que, de forma 3. Discuta os postulados da racionalidade e do equilíbrio.
directa, não se consegue calcular a derivada de Y em relação a X (ou de X em 4. Distinga e relacione os conceitos: variação absoluta, variação média,
relação a Y). Nestes casos, a utilização do teorema da função implícita permite o variação relativa.
cálculo dessa derivada.

Assim, dada uma determinada função implícita na fórmula F(F,X)=0, se: |) essa
função possuir derivadas continuas em relação a cada uma das variáveis Y e X;
ii) se existir um ponto (Y, X) que satisfaça a equação e com uma derivada em
ordem a Y não nula, então é possivel calcular a derivada de Y em ordem a X como:

56
57
À escolha e o custo
de oportunidade

2.1 A escassez e 0 custo da escolha 61


2.2 Avaliação do custo de oportunidade de uma escolha 63
2.3 O valor de uma escolha e o conceito de benefício
marginal 67
2.4 Atomada de decisões racionais 59

Questões de revisão 73

39
CONCEITOS-CHAVE 2.1 A escassez e o custo da escolha
benefício bruto escassez
benefício marginal escolha Tal como foi já referido no Capítulo 1, a vida num mundo de escassez leva a
que todos os agentes económicos tenham de fazer escolhas: um recurso, ao
custo económico excedente ser utilizado para um determinado fim, deixou de ser utilizado para outro fim

custo marginal racionalidade alternativo. Esse é, aliás, o objecto de estudo da Economia enquanto ciência:
analisar a forma como as sociedades se organizam, utilizando recursos escassos,
custo de oportunidade passíveis de usos alternativos, para produzir bens e serviços que satisfaçam
necessidades virtualmente ilimitadas.

Se vivêssemos num mundo sem escassez, não seria necessário fazer escolhas:
tudo existiria abundantemente e sem restrições. Mas no mundo em que vivemos
enfrentamos restrições impostas pela escassez: o tempo é um recurso escasso,
já que apenas dispomos de 24h por dia para utilizar de formas alternativas - se
gastamos o tempo de uma determinada forma, não o podemos gastar de outra,
até porque não se pode recuperar o tempo que já se utilizou; uma empresa
não pode produzir uma quantidade indeterminadamente grande de um bem,
já que o que produz (output) depende da quantidade de factores de produção
(inputs) que utiliza, que por sua vez, ao serem empregues numa certa actividade,
deixam de poder ser utilizados noutra, tal como se verá no Capítulo 3 no modelo
da fronteira das possibilidades de produção. Todos os agentes económicos são,
portanto, obrigados a fazer escolhas.

Ao escolher trabalhar em casa até tarde em vez de ir descansar, ao optar por ir


a um jantar de família em vez de ir assistir ao jogo de futebol do seu clube, ao
adquirir um bilhete para o teatro, observa-se desde logo a opção individual por
uma determinada utilização do tempo. Um empresário, ao decidir dedicar-se à
produção de têxteis, ou decidir dedicar-se à exploração de um estabelecimento
hoteleiro, está a optar por utilizar certos recursos e não outros. Importa, pois,

60 61
Cap. 2- A escolha e o custo de oportunidade 2.2 Avaliação do custo de oportunidade de uma escolhi

responder a duas questões fundamentais: (i) como avaliar o custo de efectuar que foram recusadas em favor da opção escolhida. Assim, o custo de escolher
uma determinada escolha? (ii) se as escolhas têm custos, qual o critério a seguir ir ao teatro deve ser contabilizado pelo valor da melhor alternativa recusada.
para tomar a melhor decisão? É ao custo avaliado dessa forma que se chama custo de oportunidade de uma
escolha.
Há que ter em atenção que olhar para a despesa efectuada com uma certa
opção não é a forma correcta de fazer a avaliação do custo da escolha: O O custo de oportunidade existe como consequência da escassez: num mundo
facto de se poder apanhar banhos-de-sol na práia sem pagar, não significa sem escassez, não existiriam alternativas que deixariam de ser escolhidas,

que a escolha dessa actividade não tenha um custo para o veraneante. Na porque não seria necessário fazer uma opção em detrimento de outra, pelo que
verdade tem um custo, mas não se traduz numa despesa efectiva. Quanto não existiria um custo de oportunidade da escolha. Se avaliarmos o custo de
mais não seja, a deslocação à praia significa um dispêndio de tempo que oportunidade de ir ao teatro olhando para o valor da utilização alternativa do
podia ser utilizado a trabalhar, gerando um rendimento, ou, se for uma praia tempo,é facil perceber que, se o tempo não fosse escasso, não seria necessário
pequena ou congestionada, a deslocação à praia pode significar uma redução pensar nessa utilização alternativa, já que esse recurso não se esgotaria.
do espaço de lazer de outra pessoa, ou pode até ter um impacto ambiental
não negligenciável, o que significa que o custo que decorre de uma escolha Em resumo: um recurso que se esgote, é um recurso escasso. Toda a utilização
pode não dizer respeito apenas ao próprio, mas pode reflectir-se em terceiros de um recurso tem um custo económico, que se designa custo de oportunidade,
ou na sociedade como um todo.(y Efectivamente, todas as escolhas têm um porque corresponde ao valor da oportunidade de utilização do recurso na melhor
custo económico, não necessariamente monetário, seja para o próprio seja alternativa de que se prescindiu, já que a escassez obriga a que se faça escolhas,
para outros, 0 que levou Milton Friedman a referir-se à expressão “there is no optando por uma utilização em detrimento de outras.
such thing as a free lunch"e)

Considere-se o exemplo em que alguém decide ir ao teatro. O preço que


eventualmente o espectador tenha pago pelo bilhete não é uma forma correcia 2.2 Avaliação do custo de oportunidade
de avaliar o custo da sua escolha, porque o preço do bilhete estara relacionado de uma escolha
com o custo de montar o espectáculo. O que importa aqui perceber é como
avaliar o custo do ponto de vista do espectador, ou seja, o custo da utilização
dos recursos que decidiu despender para assistir a uma peça de teatro, como por Como descrito acima, o cálculo do custo de oportunidade de uma escolha
exemplo o tempo que vai dedicar a essa actividade. faz-se contabilizando o valor da melhor alternativa recusada. Vejamos alguns
exemplos:
Os exemplos anteriores pretendem esclarecer que, para avaliar o custo de uma
escolha, devemos olhar para o valor das alternativas de utilização dos recursos Exemplo 1

ty Quando uma acção tem efeitos sobre terceiros, diz-se que existe uma externalidade. Falaremos O Paulo dispõe de €70 que lhe foram oferecidos como presente de aniversário
brevemente neste assunto no Capitulo 10, para ir a um espectáculo. Admitamos que ele não pretende utilizar esses €70
e Milton Friedman, economista, natural dos EUA, foi prémio Nobel da Economia em 1976. Faleceu
para outro fim e que esse valor corresponde ao máximo que ele pagaria por
em 2006 aos 94 anos de idade. Uma das suas obras mais importantes é “A Theory of the Consumption
Function"(1957), onde estabelece as bases para a “teoria do rendimento permanente”, um bilhete, ou seja, é o valor que corresponde à sua disponibilidade a pagar.

62 B3
Cap. 2 = A escolha e o custo de oportunidade 2.2 Avaliação do custo de oportunidade de uma escolha

Ele gostaria de ir ver a ópera de Verdi “Macbeth" (bilhetes a €50), mas também custo explicito e constitui um custo contabilístico.(9 Neste exemplo, esses custos

gostaria deir assistir à 2º Sinfonia de Mahler (bilhetes a €55). Não tem dinheiro correspondem ao valor de €15.000. Do ponto de vista da contabilidade, o atelier

para ir ver os dois espectáculos, de que gosta igualmente, logo tera de optar tratar-se-ja de um negócio lucrativo, se as receitas fossem superiores a esse

por um deles e decide ir ver “Macbeth”. Qual o custo de oportunidade da sua valor.
escolha?
Mas será que basta haver rendimentos no valor de €15.000 para que o António

Ao optar pela ópera, o Paulo prescinde da alternativa, ir assistir à sinfonia. Ao tenha incentivo em desistir do seu emprego na fundação para ir abrir um

contabilizar o valor de que disporia ao ir assistir à sinfonia, obtém-se o custo de atelier?

oportunidade da sua escolha. Como os bilhetes para a sinfonia custam €55 e,no
máximo, ele pagaria €70,a ida à sinfonia dar-lhe-ia um excedente no valor de Na verdade, há um custo adicional que não corresponde a uma despesa: se o

€15 e, ao mesmo tempo, ele não gastaria os €50 do bilhete de ópera. Assim, a Antônio optar pela abertura do atelier, deixa de auferir o seu salário anual de

valorização a dar à alternativa recusada corresponde a €65, ou seja, €50 que nao €20.000. Trata-se de um valor relevante a ter em conta na sua decisão.

gastaria adicionados dos €15 de excedente, se escolhesse a sinfonia.


Com efeito,faria sentido o António abandonar o seu actual trabalho se o atelier

Exemplo 2 lhe permitisse obter o valor de €20.000, para além dos €15.000 de rendimento
que cobriria os gastos. Ou seja, o novo negócio teria de gerar um rendimento

O António está a ponderar abrir um atelier de conservação e restauro de Livros. superior ao custo de oportunidade,isto é, €35.000.

Actualmente, trabalha como conservador/restaurador numa fundação, onde


aufere um rendimento anual Líquido de €20.000. Se ele decidir abrir o atelier Portanto, há que considerar o valor €35.000 como mínimo para o rendimento

e trabalhar por conta própria abandonando a Fundação, terá uma despesa a obter para tornar o negócio economicamente viável/lucrativo, dado o valor

anual com gastos operacionais (renda, depreciações do equipamento, matérias- atribuído pelo António aos recursos que estã a utilizar, nomeadamente, o custo

primas, contribuições obrigatórias, etc.) no valor de €15.000. Qual o custo de de oportunidade do seu tempo.

oportunidade da abertura do atelier?


O custo de oportunidade de uma escolha corresponde, portanto, ao valor que se

Para calcular o custo de oportunidade de abertura do atelier, há que considerar obteria na melhor alternativa recusada. Vejamos outro exemplo.

o valor de que ele disporia se permanecesse no actual posto de trabalho. Assim,


teria o valor do seu rendimento Liquido de €20.000 e não teria a despesa de Exemplo 3

€15.000 associada ao funcionamento do atelier, pelo que o custo de oportunidade


ascende a €35.000. A Maria doutorou-se em Economia, mas não conseguiu uma colocação efectiva a
tempo integral numa universidade. Trabalha a 50% em duas universidades, onde

Este exemplo, além de permitir ilustrar o conceito de custo de oportunidade,


aufere um salário mensal Liquido de €900 em cada uma, mas tem de se descolar

permite também ilustrar a diferença face ao conceito de custo contabilístico. entre duas cidades, o que acarreta uma despesa em combustível de cerca de

Um custo contabilístico será aquele que normalmente surge numa conta de 81 Existem, evidentemente, custos contabilísticos que não são despesas efectivas, como é o caso da
demonstração de resultados: tudo o que envolve uma despesa efectiva é um depreciação do equipamento.Voltaremos a esta questão no Capítulo 8.

54
Cap. 2 - À escolha e o custo de oportunidade 2.3 O valor de uma escolha e o conceito de benefício marginal

£200 mensais. Surgem-lhe duas propostas de trabalho. Uma das propostas veio Calculando o custo de oportunidade desta forma, podemos fazer coincidir o custo
de uma universidade no Norte do país, onde teria um contrato a tempointegral e de oportunidade com o custo económicot% de uma actividade, que corresponde
ganharia um salário Líquido de €2.000, mas teria de procurar alojamento, Levando à despesa efectuada (uma componente do custo contabilistico) adicionada do
ao pagamento de uma renda de casa de €500. À outra proposta veio do Instituto excedente que se poderia obter na melhor alternativa recusada.
Politécnico da cidade a meio caminho dos Locais onde trabalha agora, onde teria
também um contrato a tempo integral e receberia um salário liquido de €1.750,
mas com despesas de transporte de apenas €50.
2.3 O valor de uma escolha e o conceito
Suponhamos que a Maria optou por aceitar o contrato que lhe foi oferecido pelo de benefício marginal
Instituto Politécnico. Qual é o custo de oportunidade da sua escolha?

Para responder, atente-se no Tabela 2.1: Para além de uma escolha ter um custo de oportunidade, ela tem também um
determinado valor. Quanto vale uma escolha? Uma forma de responder a esta
opções Vencimento Despesas Excedente questão passa pela contabilização do benefício bruto que se vai obter com essa
(A) (B) (A-B) Tabela 2.1 escolha.
Contrato actual — €1.800 | €200 | €1.600 Dados do

inhesónde | CM | 60 | Hom aa No contexto do exemplo 2 da Secção 2.2, facilmente se compreende que o


Politécnico €1,750 €50 €1.700
benefício bruto decorrente da abertura do atelier corresponderia à facturação que
o Antônio iria ter, mas no exemplo 1 o que seria o benefício bruto que resultaria
Ão calcular o custo de oportunidade de escolher o contrato oferecido pelo de ir à ópera? Como se trata, nesse caso, do benefício do consumo, podemos
Instituto Politécnico, a Maria deve olhar para o valor que poderia ter na melhor contabiliza-lo pelo máximo que o João pagaria pelo bilhete, no exemplo €70, que
alternativa sacrificada, ou seja, aquela que lhe daria maior excedente: o contrato é o dinheiro de que dispõe para gastar num bilhete. Vamos admitir que ninguém
actual. Entre o Instituto Politécnico e o contrato actual, a oferta da Universidade pagará por um bemy/serviço mais do que a valorização que dá a esse bem/serviço,
não é relevante, já que é claramente a pior opção das três. portanto podemos admitir que esse valor corresponde à disponibilidade a pagar.
Assim, o valor que o João atribui à ida à ópera corresponde à sua disponibilidade
Então, o custo de oportunidade da escolha do contrato oferecido pelo Instituto a pagar por um bilhete, e esse será o seu benefício bruto.
Politécnico será o excedente que tem na melhor alternativa recusada, o contrato
actual, ou seja, €1.600, acrescido da despesa que não teria se nele continuasse Em geral, e simplificando sem perda de generalidade, vamos admitir que o
em vez de ir para o Politécnico, €50. Portanto, o custo de oportunidade da sua benefício bruto associado a uma opção de consumo corresponde à disponibilidade
escolha é €1.650.

Em suma: 4 Em bom rigor, O custo económico deve ser qualificado como custo privado ou custo social,
consoante existam ou não externalidades. Dado o carácter introdutório deste livro, essa distinção
não será feita.
custo de oportunidade de uma escolha = excedente na melhor alternativa + 51 Como iremos ver no Capítulo 4 e, depois, no Capitulo 6, a disponibilidade a pagar depende de
despesa associada à escolha efectuada inúmeros factores, como sejam o rendimento disponível e as preferências individuais.

=
5B
Cap. 2 = A escolha e o custo de oportunidade 2.4 A tomada de decisões racionais

a pagar e, analogamente, que o benefício bruto de uma opção de produção de de resposta bastante complexa, porque há aspectos de avaliação muito dificil e
um bem/serviço, corresponde à receita que resultará da venda.(% subjectiva, como sejam aqueles relativos ao impacto na paisagem e ecossistema.

Quando se comparam várias opções, é também conveniente analisar o valor do


beneficio adicional que uma escolha traz em relação a outra, ou seja qual o
acréscimo de bem-estar que um agente económico tem numa opção em relação 2.4 A tomada de decisões racionais
a outra. À esse valor chamamos beneficio marginal. Vejamos um exemplo.

A Maria pondera mudar de emprego. No emprego que tem aufere €1.000 por mês Tendo em atenção a escolha da Maria no exemplo da secção anterior, a sua
e se mudar de empregador, para fazer o mesmo trabalho, passa a auferir €1.200 escolha de mudança de emprego será racional se os custos adicionais não
mensais. O benefício bruto do seu emprego actual é, portanto, €1.000; o benefício ultrapassarem os benefícios adicionais. Em geral:
bruto da mudança é €1.200, pelo que a mudança gerará um benefício adicional
de €200/mensais. Esse será o valor que terá adicionalmente em relação ao que já Decisão Racional é aquela em que os benefícios marginais são maiores ou iguais
tinha e trata-se, portanto, do valor incremental da escolha, ou benefício marginal. aos custos marginais. Bmg > Cmg

Em gue condições, podemos, então, dizer que a Maria deve mudar de emprego? Vejamos outro exemplo.
Suponhamos que o novo emprego, apesar de lhe dar um benefício marginal de
€200, é mais distante de casa, o que lhe aumenta os custos de transporte em À Paula é proprietária de uma empresa de mudanças. Quer decidir a quantidade
€50. Tudo o resto constante, ainda lhe valerã a pena mudar, já que o benefício de pessoal que há-de contratar, em função do número de transportes diários que
adicional (marginal) compensa o custo adicional (marginal). Claro que se fosse quer fazer. Os custos dependem do combustível e da mão-de-obra, enquanto
um emprego que lhe desse menos satisfação e de que gostasse menos,isso iria os benefícios dependem directamente dos fretes realizados, do modo ilustrado
fazer inflacionar os custos adicionais e reduzir a diferença face à vantagem de na Tabela 2.2, Por exemplo, se a empresa fizer 4 fretes, terá um benefício bruto
€200 que decorre da mudança. de 212 e um custo total de 105. A contratação de um quinto frete permite-lhe
aumentar o seu rendimento para 224 ao mesmo tempo que o custo passa para
Se, ponderando custos adicionais com beneficios adicionais a balança pendesse 112. Isto significa um benefício adicional (marginal) de 12 e um custo adicional
para o lado dos custos, então não valeria a pena mudar. Esta observação leva-nos (marginal) de 7. A restante tabela mantém o mesmo raciocínio.
ao conceito de escolha racional que discutiremos na secção seguinte.

Nº Benefício | Benefício Custo Custo


Devemos, no entanto, ter em atenção que, quer do lado dos benefícios marginais, fretes Bruto | Marginal Total Marginal
quer do lado dos custos marginais, podem haver factores de difícil valorização Tabela 2.2 0) | (B (Bmg=4)) “O (Cmg= 1)
e, portanto, contabilização. Quando se pondera construir uma barragem quais os Benefício marginal e custo 4 | 242º | - [105 -
sia : E esa papai
custos & benefícios a ter em atenção numa análise deste tipo? É uma pergunta
5 12 [| 12 |10,
7 8 o 12 | 138 16
6 Estas valorizações estão na base do conceito de excedente econômico, que depois será visto no
Capítulo 4.

68 69
Cap. 2 - A escolha e o custo de oportunidade 2.4 A tomada de decisões racionais

Decisão Racional
A decisão racional será fazer 6 transportes diários, já que nesse caso, o benefício custo de oportunidade da escolha < benefício bruto da escolha
marginal é ainda superior ao custo marginal, mas se fizer 7,a situação inverte-se:
o custo adicional do 7º transporte supera o benefício adicional, pelo que não é Logo, toda a decisão racional é tal que o seu custo de oportunidade é inferior ao
racional fazê-lo. respectivo benefício bruto.

A Paula deve, portanto, aumentar a quantidade de serviço que presta enquanto o Sumarizando e ligando ao que já se disse no Capítulo 1, podemos então afirmar
benefício marginal de mais uma unidade compensar O respectivo custo marginal, que a escassez obriga a que se façam escolhas, o que leva a que elas tenham um
por unidade. custo de oportunidade. Mas o facto de se fazer uma escolha tem um benefício
inerente e é isso que leva a que a escolha se efectue, desde que o benefício
Este princípio pode ser utilizado retomando o exemplo 1 da Secção 2.1.0 Paulo que se obtém compense o respectivo custo de oportunidade. Então, é possivel
ponderava a escolha entre ir à ópera qu ir assistir a uma sinfonia, espectáculos levantar-se a seguinte questão: se tudo tem um custo, porque é que escolhemos?
de que gosta igualmente. Porque o beneficio é maior... Este conceito de racionalidade estã ilustrado na
Figura 2.1, que completa a imagem do triângulo da Economia da Figura 1.1:
Os valores relevantes estão na tabela 2.3,
Necessidades Recursos
ilimitadas escassos
Benefício RIR Custo Entes
Espectáculo Bruto Marginal Total Marginal
(Bmo) (Cmg) Tabela 2,3
dps 70 sq O exemplo 1 revisitado

Sinfonia 70 | 0 55 5

Comparando o benefício marginal de ir assistir à sinfonia com o respectivo custo


marginal, observa-se que o valor adicional para o preço não é compensado por
Figura 2.1 O triângulo da
uma maior satisfação adicional, pelo que não será racional escolher ir assistir à Economia e a racionalidade Escolha(alternativas)

sinfonia, sendo preferivel ir à Ópera.

Qual a relação entre esta metodologia de aferição de racionalidade e o conceito


de Custo de Oportunidade? Utilizemos, novamente, o exemplo relativo à escolha
do Paulo, que acabámos de ver. Dizemos que ir assistir à ópera é uma decisão
racional porque:
Custo de
Benefício Racionalidade
Oportunidade
Bmg <Cmg «+ 70-70<55-50 <570-55+50<70.

Ou seja, 0 custo de oportunidade de ir à ópera é inferior ao benefício bruto que O conceito de racionalidade ja estava presente no exemplo 2 da Secção 2.2: 0
advém da sua escolha, portanto: António pondera abrir um atelier de conservação e restauro de livros, mas tem um

70
Questões de revisão
Cap. 2 - À escolha e o custo de oportunidade

custo de oportunidade de €55 000. Assim, só se obtiver uma receita superior a esse Questões de revisão
valor, valerá a pena abandonar o seu emprego na fundação e abrir o atelier. Essa
receita corresponderia ao benefício bruto decorrente da opção de abrir o atelier.
1. Explique por que razão o custo de oportunidade de estudar Economia
não se pode contabilizar apenas através da despesa efectuada com as
Ao ter feito aquela descrição no exemplo 2, implicitamente, estávamos a falar
propinas pagas.
do conceito de decisão racional: uma escolha será uma decisão racional se o
benefício bruto a ela associada for superior ao respectivo custo de oportunidade. 2. Num mundo sem escassez as escolhas teriam custo de oportunidade?
Então, uma decisão será racional se gerar um lucro económico, considerando Explique.
este como a diferença entre benefício bruto e custo de oportunidade.
5. Noque consiste uma escolha racional? Apresentetrês critérios equivalentes
de avaliação da racionalidade de uma escolha.
No exemplo 1,o custo de oportunidade de escolher ir assistir à ópera "Macbeth”
corresponde a €65. Será uma decisão racional se o benefício bruto for superior. 4. Entre várias alternativas, a que se deve escolher é a que der um maior
Esse benefício bruto corresponderá a €70. que é o máximo que o João pagaria excedente. Comente.
pelo bilhete, pelo que a sua decisão é racional.
5. Uma escolha produtiva é eficiente se os recursos não tiverem um maior
valor numa utilização alternativa. Explique porquê.
É também importante chamar a atenção parao facto de que o critério de aferição
de racionalidade nas escolhas usando o conceito de custo de oportunidade é 6. Para se saber que quantidade de pão produzir diariamente numa padaria,
ainda equivalente à comparação simples de excedentes: ir à ópera dá ao Paulo nao basta comparar custos totais com receitas totais de vendas. Comente.
um excedente de €20, enquanto ir assistir à Sinfonia lhe dá um excedente de
€15, pelo que ir à ópera é a decisão racional, ou seja:

70-55+50<70€>70-55<70-50.

Em suma, os três critérios de escolha racional são equivalentes entre si, da


seguinte forma, dada a escolha entre uma opção À e uma opção B mutuamente
exclusivas:

Cmg, <Bmg, > Cmg, >Bmg, &


«e Custo de oportunidade, <Beneficio bruto, e»
«> Excedente, <Excedente, .

Qualquer um dos três critérios pode ser utilizado para aferir a racionalidade de
uma escolha. O critério a escolher depende do contexto e/ou da facilidade de
cálculo em função da informação disponível.

73
Fe
Fronteira das
possibilidades de
produção

3.1 Do conceito de possibilidade de produção à fronteira


das possibilidades de produção 77
3.2 O custo de oportunidade na FPP 79
3.3 Pontos abaixo e acima da FPP 85
3.4 A dinâmica da FPP 85

Apêndice ao Capítulo 3, Da FPP às teorias das


vantagens absolutas e comparativas 89
A.3.1 O comércio internacional & as teorias das
vantagens absolutas e comparativas 89
A.3.2 A utilização da FPP para explicar as
vantagens do comércio internacional 94

Questões de revisão 100

75
CONCEITOS-CHAVE 3.1 Do conceito de pitas
de produção à fronteira das
custo de oportunidade na possibilidades de produção
possibilidades de produção
produção
taxa marginal de transformação
custos relativos constantes CIMT) Recordando o que foi abordado no primeiro capítulo do livro, a Economia
preocupa-se com a forma como os agentes escolhem, perante situações de
custos relativos crescentes teoria das vantagens absolutas
escassez. Neste capítulo, começa a tratar-se do primeiro problema da Economia:
fronteira das possibilidades de teoria das vantagens o que produzir? Deve uma economia produzir bens alimentares ou armamento
produção (FPP) comparativas bélico (uma imagem tantas vezes utilizada para ilustrar o conceito que vai
ser desenvolvido ao longo deste capítulo)?Ou deverá produzir estes dois
tipos de produtos? E em que quantidades? Essa escolha resulta num custo de
oportunidade, conceito que foi amplamente explorado no capítulo anterior,
tendo sido inclusivamente referido que era possivel aplicar esse conceito ao
nivel da produção.

Considerem-se então a totalidade dos agentes económicos produtivos de um


país assim como todos os recursos disponíveis para a produção. Supondo ainda
que nessa economia é possivel produzir apenas dois tipos de bens, bem X e
bem Y, é possivel explorar a análise gráfica do problema, sendo perfeitamente
generalizável para n bens ou para problemas específicos. Neste contexto pode
por exemplo discutir-se a problemática da produção de bens alimentares e
armamento. Ou então, no caso de uma empresa dedicada à pecuária, a escolha
entre animais para produção de carne ou para produção de leite. Este tipo de
estudo permite também utilizar bens compósitos na análise e fazer a comparação,
por exemplo, entre bens essenciais e bens de luxo,

ty “Every gun that is made, every warship launched, every rocket fired signifies, in the final sense, a
theft from those who hunger and are not fed, those who are cold and are not clothed, This world in
armsis not spending money alone. lt is spending the sweat of its laborers, the genius of its scientists,
the hopes cf its children” Eisenhower, D. (1953). “The Chance for Peace” discurso para 0 American
Society of Newspaper Editors, 16 de Abril de 1953.

75 77
Cap. 3 = Fronteira das possibilidades de producão 3.2 O custo de oportunidade na FPP

Analisando todos os recursos disponíveis nessa economia, chegou-se à conclusão significa que não haja desemprego - apenas que, como referido anteriormente,
de que as diferentes possibilidades de produção podem ser descritas na Tabela os recursos estão a ser utilizados da melhor forma possivel, () Como tal, qualquer
3.1. De acordo com essa informação, se todos os recursos forem utilizados para ponto que não esteja sobre a FPP não tem estas propriedades. À forma comoisto
produzir unidades de Y,então o máximo que se consegue produzir são 30 unidades, se relaciona com a eficiência e o custo de oportunidade é o que se vai ver na
situação correspondente à possibilidade de produção A. No sentido oposto, se a secção seguinte.

economia apenas se dedicar à produção de X, então conseguem produzir-se na


totalidade 10 unidades desse bem, correspondendo à possibilidade de produção
F. Qualquer uma das restantes combinações identificadas na tabela permite
produzir ambos os produtos, ainda que com quantidades que são diferentes.
Graficamente é possivel representar todas as possibilidades de produção num
referencial cartesiano. Assumindo por conveniência que seja possível unir
todos os pontos, o que significaria que é possível produzir também noutras Figura 3.1 As diferentes
combinações produtivas que não estão descritas na tabela, consegue desenhar-se possibilidades de produção numa
economia hipotética
a Figura 3.1.6) Essa figura representa a fronteira das possibilidades de produção
(FPP) e identifica todas as diferentes combinações de quantidades máximas de
produção que é possivel obter numa economia, partindo do pressuposto de que
todos os recursos estão a ser utilizados de forma eficiente, com uma determinada
tecnologia. Significa isto que, com a mesma tecnologia e os mesmos recursos,
não é possivel produzir mais.

Postibininade de Bem X BemY


produção

- DEE | ap Tabela 3.1 3.2 O custo de oportunidade na FPP


B As diferentes possibilidades

€ de produção numa
neEa cabana

A Figura 3.1, depois de construída, permite observar que a FPP é representada


E
F
por uma curva que é negativamente inclinada. Esse declive negativo está
relacionada com o facto de que, para produzir mais uma unidade de um bem (por
exemplo, o bem X) é necessário abdicar de uma certa quantidade do outro bem
Subjacente à construção da FPP está implícita a verificação da eficiência de
Pareto.Isto é o mesmo que dizer que a economia em causa está na sua situação
de pleno emprego. Convém no entanto deixar o alerta que este conceito de
st Nestas circunstâncias, o desemprego corresponderia a recursos que não podem ser utilizados,
pleno emprego, mais associado à Macroeconomia do que à Microeconomia, não
pelo que não são relevantes na análise da FPP. Na verdade, os pontos da FPP correspondem à
produção potencial de uma determinada economia. Reforça-se a importância de compreender a FPP
m Neste caso admite-se também que as unidades são continuas, na medida em que se obtêm uma como uma curva com pontos contingentes numa dada tecnologia de produção e que, de alguma

curva continua que representaas infinitas possibilidades de produção entre cada ponto apresentado. forma, sendo os recursosfixos numa determinada dotação, são perfeitamente móveis entre sectores.

78 79
Cap. 3 = Fronteira das possibilidades de produção 3.2 O custo de oportunidade na FPP

(o bem Y), assumindo que se mantém como pressuposto que os recursos estão a por CO, corresponde à TMT de Y em X. Assim, se se definir TMT,, como a taxa
ser utilizados na sua totalidade. marginal de transformação de Y em X, é possível escrever a seguinte relação:

Este não é mais do que o conceito de custo de oportunidade aplicado à FPP. CO, =1MT,, =-4L.
f O AX
Por exemplo, o ponto A indica que a economia está a produzir apenas unidades
do bem Y. Para produzir algo de X, mesmo que em pequena quantidade, tem
que se abdicar de algumas unidades do bem Y. Em termos formais é então A expressão anterior permite calcular a TMT em termos discretos. Caso se tenha

possível definir o custo de oportunidade de produzir mais uma unidade do a expressão algébrica para a FPP,o cálculo da TMT (ou do custo de oportunidade)

bem X como: pode ser feito em termos infinitesimais, recorrendo ao conceito de derivada, ou
seja:
co, =,
AX

em que CO, designa o custo de oportunidade desse bem e À significa a variação


do bem. Por exemplo, quando se passa do ponto À para o ponto B da FPP, para ATMT é, por isso, o declive da FPP num determinado ponto,tal como identificado

produzir mais 2 unidades de X, abdicam-se também de duas unidades de Y pelo no Apêndice ao Capítulo 1.

que em média cada unidade a mais de X custa 1 unidade de Y. À passagem do


ponto B para o ponto C já implica um custo de 2 unidades de Y por cada unidade É possível que a expressão algébrica de uma função não esteja na forma Y=f(9.

de X produzida a mais. Este custo de oportunidade implica a verificação da Além disso, é também possivel que não seja simples colocar a função nesta forma.

eficiência de Pareto, como definida no primeiro capítulo: não é possível aumentar Nestes casos, se se tiver a função genérica F como função de Ye X, isto é F(VM),

a produção de um produto/sector sem reduzir a produção do outro, uma vez que perante determinadas condições é possível utilizar o teorema da função implicita,

se desviam recursos entre actividades produtivas. tal como definido no Apêndice ao Capítulo 1, e assim obter a expressão da
derivada de Y em ordem a X. Numa situação deste género,seria possivel escrever:

É fundamental perceber que o custo de oportunidade é um custo relativo, uma


vez que não é contabilizado em unidades monetárias mas sim expresso em 9F
produção perdida do outro produto. CO, =TMT,x a
aY
O custo de oportunidade, quando aplicado à FPP é também conhecido como taxa
marginal de transformação (TMT): a quantidade que uma economia está disposta A partir dos dados originalmente identificados para os bens X e Y, é então
a desistir de um determinado bem para a transformar em mais uma unidade do possível calcular a TMT para todos os pontos anteriormente identificados, sendo
outro bem, no pressuposto de se continuar a utilizar os recursos da forma mais que os respectivos valores constam da última coluna da Tabela 3.2. A TMT é
eficiente possível. equivalente ao custo de oportunidade e implica que, mantendo a eficiência, se
tem que abdicar de algo para produzir mais uma unidade de outro bem. Neste
É importante que se retenha neste conceito, para evitar confusões futuras. O custo caso, para produzir uma unidade adicional de X, é sempre necessário abdicar de
de oportunidade de mais uma unidade de X, que foi identificado anteriormente alguma parte de Y (ceeteris paribus).

80 81
Cap. 3 - Fronteira das possibilidades de produção 3.2 O custo de oportunidade na FPP

Da mesma forma que a TMT de Y em X foi definida, também é possível definir essa
Ri de BemX BemY TMT,x
taxa de forma inversa, ou seja, medindo as quantidades que se têm que desistir de
A 0 30 - X para obter uma unidade adicional de Y. Formalmente é possível escrever:
B e2 28 1 Tabela 3.2 Taxa marginal de
o c . 4 24 2 transformação de Y em X
CO, =TMT,y = 4X = 1,
D 6 18 5 CON My

o 0 O 5 podendo também neste caso fazer-se o cálculo da derivada, caso se tenha a


expressão algébrica. O resultado dessa TMT pode ser consultado na última
Olhando para os resultados da TMT na Tabela 3.2 facilmente se chega à conclusão coluna da Tabela 3.5.
que a TMT é crescente: isso significa que, à medida que se aumenta a produção
de X, o quantitativo que se vai desistindo de Y é cada vez maior. Isso acontece Um leitor menos atento poderá rapidamente chegar à conclusão que neste
porque os recursos que vão sendo dedicados a Y se vão tornando cada vez mais caso a TMT é decrescente. No entanto é fundamental perceber que a última
escassos e especializados, o que os torna cada vez mais valiosos. Logo, a troca coluna apresenta valores que são decrescentes apenas pela forma como a tabela
de Y por X também é ela própria cada vez mais valiosa. Em termos gráficos é está construída. Na realidade, a TMT,, define a razão de troca de X por Y, 0 que
possível identificar essa situação na Figura 3.2: 0 mesmo aumento de produção representa a deslocação sucessiva, em termos gráficos, entre diversos pontos
no bem X (identificado pelas setas horizontais) resulta numa descida do bem Y no sentido de F para À, na Figura 3.1.0 olhar para a tabela, é possível concluir
que é sempre maior (identificada pelas setas a tracejado verticais). que essa é a movimentação de pontos de baixo para cima, ou seja, no sentido em
que deve ser feita a evolução da TMT em valores absolutos. O que, obviamente,
BemY
permite retirar a conclusão que os custos relativos são crescentes.
4

Possibilidade de
50 4 produião | Bem X Bem TMTox TMTar

à 0 30 - 1
25 + Tabela 3:3 Taxa marginal : : q o q verem a eu

de transformação de X Cc 4 24 2 É 0,33
20 +| Figura 3.2 Taxa marginal de
transformação crescente
155 B A lie
scoreEI a po
10 F 10 0 5 —
co —[4----—————

5 +

A FPP que foi apresentada anteriormente caracteriza-se por ser côncava e, como
tal, apresentar custos relativos crescentes. No entanto, é possível ter um caso
particular em que os custos relativos são constantes.

Esta situação é conhecida em Economia coma a lei dos custos relativos crescentes. Considere-se um indivíduo que tem durante um dia 10h para utilizar na produção
Em termos da FPP implica que a mesma seja côncava. de dois produtos A e B. Para produzir uma unidade do produto A, o indivíduo

83
Cap. 3 - Fronteira das possibilidades de produção 3.3 Pontos abaixo e acima da FPP

gasta 2h enquanto para o produto B demora 1h a produzir uma unidade. Se Representando a TMT o declive da FPP num determinado ponto, e uma vez que
o indivíduo se dedicar apenas ao produto À então produzirá 5 unidades desse a FPP em causa é linear, a mesma tem declive constante. Neste caso particular,
bem, não podendo produzir nada de B. Pelo contrário, se apenas se dedicar à aplicando os conceitos que ja foram apresentados anteriormente, o custo de
produção de B, irá produzir 10 unidades no total. Considerando que o indivíduo oportunidade do produto B é igual a 0,5 e o custo de oportunidade do produto
não se cansa (ou seja, é igualmente eficiente na produção de ambos os produtos A é igual a 2, independentemente do local onde se estiver na FPP Isso significa
quer trabalhe pouco ou muito das 10h disponíveis), é possível identificar várias que por cada unidade a mais de B que é produzida se tem que abdicar de meia
possibilidades de produção, que constam da informação presente na Tabela 3.4, unidade de A. Pelo contrário, aumentar a produção de A em mais 1 unidade
significa ter que desistir de 2 unidades do produto B. Deixa-se ao leitor mais
Possibilidade de curioso a possibilidade de confirmar esses cálculos.
produção Produto A | Produto B

Sms uau
Tabela 3.4 Exemplo de custos
relativos constantes
3.3 Pontos abaixo e acima da FPP

+ FPP representa a totalidade de pontos que resultam em possibilidades de


produção com a utilização plena dos recursos disponíveis. No entanto é possível
Assumindo-se a possibilidade de divisibilidade de tempo nas tarefas de ambas
zensar em situações que uma economia possa não estar exactamente sobre a
as actividades, então o conjunto de possibilidades é infinito, correspondendo
FPP. Considere-se a FPP original para os bens X e Y, assim como os pontos W e
a qualquer combinação linear das duas actividades. Neste caso a FPP pode
Z. No ponto W produzem-se 4 unidades de X e 10 de Y enquanto no ponto Z as
ser descrita pela Figura 3.5, notando-se o facto de ser linear. Essa linearidade
reflecte-se na TMT que é constante. croduções de X e Y são,respectivamente, 8 e 25.

Produto B Qualquer ponto abaixo da FPP é um ponto em que não se verifica a utilização
eficiente dos recursos, no sentido de Pareto, sendo possivel produzir mais de um
sem sem que se abdique de qualquer quantitativo do outro. Por exemplo, partindo
co ponto W é possível aumentar a quantidade produzida de X sem abdicar de
nenhuma unidade de Y, caminhando no sentido do ponto E. Pelo mesmo motivo é
Dossível aumentar a quantidade de Y sem perder unidades de X, caminhando na
Figura 3.3 FPP linear cirecção do ponto €. Inclusivamente é possivel aumentar a produção de ambos
os bens, caminhando na direcção do ponto D.

“inda que também se possa caminhar na direcção de qualquer um dos outros


pontos da FPP (neste caso os pontos À, B ou F), situação que implicaria o aumento
ce um bem mas a diminuição de outro, essas situações não podem ser entendidas
Produto A
como um custo de oportunidade na medida em que não existe uma troca entre

B4 85
Cap. 3 - Fronteira das possibilidades de produção 3.4 A dinâmica da FPP

ambos os produtos. Na realidade,para se se medir o custo de oportunidade é Esta evolução pode caracterizar-se de diversos modos. Considere-se que há uma
necessário que se verifique a eficiência de Pareto. No âmbito da FPP, a eficiência melhoria tecnológica que permite que seja possível produzir mais dos dois bens,
de Pareto significa que para aumentar a produção de um produto é necessário usando os mesmos recursos. Basicamente isso significa que há uma deslocação
reduzir a produção de outro. E no caso descrito anteriormente seria possível da FPP para fora, como por exemplo na Figura 3.5.
aumentar a produção de ambos os produtos simultaneamente.
Bem Y

Bem Y

30 +

257)
Figura 3.5 O efeito da melhoria
20 7 Figura 3.4 Pontos abaixo tecnológica na FPP
e acima da FPP
15)

107

5
E
I T I I 1
Bem X
2 4 6 8 10 Bem X
A deslocação da FPP da Figura 3.5 significa que a melhoria tecnológica tem um
Considere-se agora o ponto Z que está fora da FPP. Esse ponto não é possível de igual efeito em ambos os produtos. No entanto a deslocação não tem que ser
alcançar considerando a tecnologia actual, ou seja, caeteris paribus. Para que esse paralela. Por exemplo, se a melhoria tecnológica tiver um maior impacto no bem
ponto seja alcançável é necessário algo mudar sendo que essa mudança se pode X,a deslocação será mais pronunciada nesse eixo. No limite, se a melhoria for
dever a questões relacionadas com a tecnologia ou com os recursos, o que nos direccionada apenas para esse bem, o efeito será o descrito na Figura 3.6.
leva à próxima secção.
A melhoria tecnológica é um dos factores que pode fazer deslocar a FPP, ainda
que não seja o único. Qualquer elemento que tenha impacto na tecnologia ou
atê nos recursos pode gerar o mesmo efeito: aumento dos recursos,investimento
em unidades produtivas ou melhoria dos recursos (por exemplo, formação para
3.4 A dinâmica da FPP
o factor trabalho) podem ser outros motivos para os movimentos anteriormente
identificados.

A FPP representa o conjunto das possibilidades de produção numa economia


que utiliza de forma eficiente a totalidade dos seus recursos. Num determinado Do mesmo modo que pode ocorrer uma melhoria da situação produtiva de uma
momento,é possivel que se entenda a FPP como uma fotografia da capacidade economia também pode acontecer que ocorra o inverso: um conflito ou uma
de produção de um país podendo a mesma evoluir ao longo do tempo. catastrofe natural são situações que podem implicar uma contracção da FPP,

86 87
Cah. = Fronteira das possiiticiadocia produção Apêndice ao Capítulo 3. Da FPP às teorias das vantagens absolutas e comparativas

podendo também neste caso o efeito ser genericamente maior num sector de
actividade em relação aos restantes.
Apêndice ao Capítulo 3. Da FPP às
teorias das vantagens absolutas e
imo comparativas

A.3.1 O comércio internacional e as teorias das


i .6 O efeito d Lhori .
Piqui, 4.6 (Oieteito dá mena
tecnológica na FPP apenas num
vantagens absolutas e comparativas
dos bens

4 FPP é um instrumento intuitivo que permite perceber algumas questões


importantes ligadas às decisões económicas e pode ser utilizada também no
z ambito do comércio internacional, para explicar as vantagens globais que daí
resultam em relação a uma situação em que o mercado tem as suas fronteiras
ara fechadas. À inclusão destes modelos neste apêndice, ao invés de deixar no corpo
detexto do capítulo, deve-se ao facto de esta ser uma temática que fica na fronteira
entre a Microeconomia e a Economia Internacional (eventualmente mais do lado
desta). Como tal, no sentido de não tornar a análise da FPP demasiado complexa,
até pelo facto de nos pressupostos do modelo serem identificados conceitos que
ainda não foram explicados até ao momento, preferiu-se esta solução. Deixa-
se ao leitor que necessite de aprofundar esses conceitos a oportunidade de
consultar bibliografia mais avançada e no âmbito com a Economia Internacional.

Antes de se fazer a relação entre FPP e comércio internacional, que será descrita
na próxima secção, é necessário compreender os primeiros modelos que surgiram
para explicar este tipo de comércio. Estes modelos, devidos principalmente
aos contributos de Adam Smith e David Ricardo,!4 são identificados como os
modelos clássicos do comércio internacional. Para perceber o surgimento destes
modelos é essencial, tal como em outras tantas disciplinas, compreender a sua

“David Ricardo (1772-1823) foi um economista britânico, de ascendência portuguesa. Um dos


seus maiores contributos para a teoria económica é a teoria das vantagens comparativas que, de
forma breve, defende a especialização nas actividades em que um pais for mais competitivo, Além de
escrever sobre Economia, dedicou-se a actividades nos mercados financeiros e também à política. À
sua obra mais referenciada é o livro On the Principles of Politica! Economy and Taxotion (1817).

BB
Cap. 3 - Fronteira das possibilidades de produção Apêndice ao Capítulo 3. Da FPP às teorias das vantagens absolutas e comparativas

contextualização histórica. Estes modelos têm a particularidade de se oporem ao - cada país tem uma dotação factorial (neste caso de trabalho) que é fixa;
pensamento mercantilista que defendia o proteccionismo.
- o factor de produção utilizado é homogéneo para os diferentes produtos
considerados;
De uma forma breve, a corrente mercantilista identifica a acumulação de metais
monetários (ouro e prata) como factores de aumento da riqueza de um país. - verificação da situação de pleno emprego;
Como tal defendiam fortemente o aumento das exportações e a diminuição
- rendimentos constantes à escala;
das importações, uma vez que isso significaria uma entrada Líquida de metais
preciosos. Nesse sentido, medidas como a subsidiação das exportações e a - ausência de barreiras ao comércio internacional (tarifas ou custos de
penalização das importações (recorrendo,por exemplo, a tarifas) eram defendidas transporte, entre outros).
por esta corrente. Esta forma de pensar surge do pressuposto que o comércio
internacional era um jogo de soma nula, ou seja, para alguém ganhar (país Ateoria classica do comércio internacional baseia-se na teoria do valor trabalho
exportador) alguém teria que perder (pais importador). E os modelos que são que considera ser o trabalho o único factor de produção e que numa economia
explicados em seguida acabam por contrapor esta ideia, identificando vantagens fechada os bens trocam-se uns pelos outros atendendo às quantidades relativas
mútuas do comércio internacional, sendo o conceito de especialização o que está de trabalho que incorporam. Note-se que a teoria do valor trabalho é uma
por detrás destes modelos. Tanto o modelo das vantagens absolutas de Adam simplificação da realidade por várias razões: o trabalho não é homogéneo (por
Smith como das vantagens comparativas de David Ricardo tentam explicar as exemplo, os conhecimentos de um produtor de vinho e de um produtor de têxteis
condições para a especialização internacional e as vantagens que surgem do não são os mesmos, pelo que na prática nem sempre é possível considerar
comércio internacional para que se possam definir políticas económicas mais esta mobilidade)t%. Além disso, o trabalho não é o único factor de produção

direccionadas para o liberalismo do que para o proteccionismo, (usualmente os bens são produzidos por uma variedade de combinações de
trabalho e bens de capital).
Ambos os modelos consideram a existência de apenas dois países e também os
seguintes pressupostos: De acordo com a teoria das vantagens absolutas de Adam Smith, é vantajoso para
os países a especialização no produto em que tiverem uma vantagem absoluta
- mercados concorrenciais tanto ao nível do produto, como ao nivel do factor na sua produção. Essa vantagem absoluta é determinada pela produtividade do
trabalho (o que implica que os bens produzidos nos diferentes países factor trabalho.
são homogêneos e que o factor trabalho também é homogêneo — este
conceito de homogeneidade, associado ao produto, será reintroduzido no O exemplo de Adam Smith é tradicionalmente utilizado e compara a situação
Capítulo 9); de Portugal com a de Inglaterra em relação aos têxteis e ao vinho. Considerando
que em Inglaterra se demora 1h a produzir um metro de têxteis e 4h a produzir
- trabalho é o factor de produção relevante para a determinação do custo
um barril de vinho e que em Portugal os tempos são respectivamente 2h e 3h, é
de produção dos produtos;
possível resumir essa informação na Tabela À.3,1,
- as tecnologias diferem entre os países;

- custos de produção constantes;

- mobilidade factorial dentro do país mas imobilidade entre países; e» Autilização destas duas actividades como exemplo vai ser compreendida adiante.

90
Cap. 3 - Fronteira das possibilidades de produção Apêndice ao Capítulo 3. Da FPP às teorias das vantagens absolutas e comparativas

[o Têmeis | Vinho então identificar que Inglaterra tem uma vantagem comparativa na produção
Tabela 4.5.1 Teoria das vantagens de têxteis, uma vez que o custo de oportunidade dos têxteis é mais baixo do
Inglaterra | 1 hora/metro 4 horas/barril
ae ny a absolutas
Portugal | 2 horas/metro 5 horas/barril que o da produção de vinho. Do mesmo modo, Portugal tem uma vantagem
comparativa na produção de vinho,pois o custo de oportunidade é menor do que
De acordo com Adam Smith, cada pais deve especializar-se no produto em o de produzir mais um metro de têxteis. O padrão de especialização será feito
que tiver vantagem absoluta. Neste caso os ingleses especializar-se-iam nos de acordo com a vantagem comparativa, sendo Portugal exportador de vinho e
têxteis (porque em comparação com Portugal são mais eficientes) enquanto os inglaterra exportadora de têxteis.
portugueses se especializariam no vinho (pois demoram menos a produzi-lo).
Ambos os países ficariam a ganhar com essa especialização, na medida em que Tabela 4.3.3 Custo de Têxteis Vinho
oportunidade segundo a teoria das Inglaterra 0,853 La
fariam transitar os recursos utilizados no produto sem vantagem absoluta para o a sc oco j ; o apenl anaue ai e
que tivessem desvantagem absoluta. Isso promoveria a exportação do primeiro
tipo de produto e a importação do segundo, ganhando ambas as economias com
Os custos de oportunidade identificados anteriormente são os preços em autarcia,
o comércio internacional.
sto é,0s preços de transacção em cada um dospaises se os mercados estiverem
fechados. No entanto,a especialização será melhor para todos.Por exemplo, um
A questão é que a teoria de Adam Smith não consegue explicar determinados
padrões de comércio, nomeadamente situações em que nas condições anteriores produtor de vinho em Portugal tem um custo de 0,889 metros de tecido para
produzir esse bem mas consegue vendê-lo mais caro em Inglaterra, onde o custo
um pais tenha vantagem absoluta em ambos os bens. Numa situação como
pode ascender aos 1,2. Aplicando o mesmo raciocínio, o preço dos têxteis estará
a descrita na Tabela A.3.2 não hã explicação para a existência de comércio
entre 0,835 e 1,125 barris de vinho. Estes preços são identificados como termos
internacional, de acordo com a teoria das vantagens absolutas, uma vez que
ce trocals,
Portugal apresenta vantagem absoluta em ambos os bens.

Têxteis Vinho
Com a aplicação destes termos de troca é possivel verificar que ambos os paises
Tabela 4.3.2 Teoria das vantagens
Inglaterra 10 horas/metro 12 horas/barril absolutas sem solução para O sem a ganhar com a abertura das fronteiras, ainda que os ganhos não tenham
Portugal 9 horas/metro & horas/barril comércio internacional que ser igualmente distribuídos entre ambos os países.

Asolução para o problema apresentado anteriormente esta numa forma diferente “o que diz respeito ao factor produtivo (neste caso o trabalho), face à situação

de olhar para o problema e identificar que o importante são as vantagens nicial é possivel verificar que Portugal demora 8 horas a produzir um barril de
comparativas e não as vantagens absolutas. Esta solução foi avançada por David “nho e 9 horas a produzir um metro de tecido. Ao se especializar na produção de

Ricardo e consiste tão só em calcular, para cada país, o custo de oportunidade de “nho ganha-se uma hora nesse processo. No caso dos ingleses, a especialização

um bem em relação ao outro.

Se em Portugal se demoram 9 horas para produzir um metro de tecido e 8 * Também no âmbito da teoria das vantagens absolutas é possivel calcular os termos de troca, O
horas para produzir um barril de vinho, então 1 metro de tecido custa 9/8 barris =cocínio a aplicar é o mesmo, tendo-se optado apenas pela apresentação do conceito no âmbito
225 vantagens comparativas. Deixa-se ao leitor mais curioso a oportunidade de comprovar que,para
enquanto 1 barril de vinho custa 8/9 metros de tecido. Aplicando o mesmo
2 250 apresentado na Tabela 3,5,0 preço relativo do vinho estará entre 1,5 e 4 metros de tecido e o
raciocínio ao caso inglês é possível preencher a Tabela 4.3.3. Essa tabela permite >eço relativo dos têxteis entre 0,25 e 0,667 barris de vinho.

sa 93

oo
Cap. 3 - Fronteira das possibilidades de produção Apêndice ao Capítulo 3. Da FPP às teorias das vantagens absolutas e comparativas

permite ganhar duas horas (a diferença de tempoentre o que demoram a produzir dotação de 4.000 horas. À Tabela 4.3.4 mostra o número de horas que demora a
o bem em que são menoseficientes e aquele em que são mais eficientes). produzir uma unidade de cada um dos produtos, em ambos os paises. Isso permite
identificar as FPP de cada um dos países, como se pode ver na Figura A.3.1. Os
A mesma análise de ganhos pode ser aplicada ao consumo,partindo da noção pontos sobre os eixos calculam-se dividindo o total de horas disponiveis pelo
do custo de oportunidade (ou preço relativo). Em Portugal, a produção de um tempo que se demora a produzir uma unidade de cada um dos bens. As FPP são
metro de tecido faz perder 0,889 barris de vinho. Ou seja, por cada barril de vinho lineares na medida em que os custos de oportunidade são constantes.
que se produz a mais ganha-se 0,111 metros de tecido. Já no caso dos ingleses,
como produzir um barril de vinho implica desistir de 0,833 metros de tecido, o Tabela 4.3.4 Número de horas para Bem X BemY
produzir uma unidade de cada bem
comércio internacional permite ganhar 0,167 barris por cada metro de tecido Pais À 4 horas/un. 5 horas/un

produzido. em cada país Pais B [5 horasfun. |8horas/un.

Ateoria das vantagens comparativas acaba por ser muito intuitiva mas não deixa País A Í
Bem Y Bem Y Rain
de ter algumas Limitações. Ao Longo do tempo foram sendo construídos modelos
e teorias que levantavam alguns pressupostos, até porque continuava sem se 500
400 400
conseguir explicar todos os padrões verificados no comércio internacional.
500 300
Sendo situações mais realistas permitem obter conclusões mais robustas, pois
200 200
aproximam-se da realidade. No entanto as análises vao-se tornando também elas
100 100
mais complexas, Assim, partindo da análise original, é possivel obter extensões
1 T T T T T T T T e

para vários bens, vários países, com utilização de moeda ou com a introdução
EM ee ANAGAGES
SooocooBemkx
a ooco0o00000 6B em X

de custos de transporte. O modelo de Heckscher-Ohlin e o Teorema de Stolper-


Samuelson são dois exemplos de avanços na área da Economia Internacional Figura A.3.1 FPP em cada um dos países

que ajudam a explicar melhor os padrões de comércio internacional. Este tipo de


à FPP da Figura 4.3.1 fornece informação de interesse. Em primeiro lugar é
análise está claramente além do âmbito desteLivro.
possivel identificar que o país B consegue fornecer mais unidades de cada um
dos produtos do que o país A. No entanto, este aspecto em particular não diz
nada sobre a eficiência de ambos os paises, uma vez que o país B também tem

A.3.2 A utilização da FPP para explicar as vantagens ao seu dispor mais recursos do que o país A: na realidade o dobro. Apesar disso,

do comércio internacional esse país não consegue produzir o dobro dos bens quando comparado com o pais
à. Isso significa que o pais A apresenta vantagem absoluta em ambos os bens
conclusao que também pode ser obtida a partir da comparação do número de
horas que cada país necessita para produzir uma unidade de cada um dos bens).
A partir da teoria das vantagens comparativas de David Ricardo, utiliza-se agora
o conceito da FPP para explicar as vantagens do comércio internacional.
Além disso, o declive da FPP também é informativo: o declive da recta do pais
+ é iguala -0,8 e o da recta do país B é igual a -0,625. Isso significa que o custo
Considerem-se então dois países (A e B) que produzem apenas dois bens (X e Y).O
de oportunidade de produzir uma unidade de X é mais baixo para o país B do
país À tem disponíveis 2.000 horas de trabalho enquanto o pais B apresenta uma

g4 95
Apêndice ao Capítulo 3. Da FPP às teorias das vantagens absolutas e comparativas
Cap. 3 - Fronteira das possibilidades de produção

Pais À
que para o país A, ou seja, o pais B tem vantagem comparativa na produção de BemY +
X. Aplicando os cálculos identificados na secção anterior, é possível calcular os
Figura A.5.2
custos de oportunidade para cada um dos bens em cada um dospaíses, estando
Fronteira de
os mesmospresentes na Tabela A.3.5. Comprova-se o que em termos gráficosjá
possibilidades de
tinha sido apresentado: o país B tem vantagem comparativa na produção do bem
consumo para o pais
X (na medida em que é mais barato produzir aí do que no país A). Inversamente,
A após comércio
o país A terá vantagem comparativa na produção dobem Y. Sendo assim, o país A
internacional
especializar-se-á na produção de bem Y, que terá um preço relativo no mercado
(a tracejado)
internacional entre 1,25 e 1,6 enquanto o pais B vai especializar-se no bem X
que terá um preço entre 0,625 e 0,8. T | I I I T l
100 200 500 400 500 600 700 Bem X

Bem X BemY
Pais B
(em relação a Y) (em relação a X) Tabela 4.3.5 Custos de
Pais A 0,8 1,25 oportunidade (custos relativos)
País B 0,625 1,6

As FPP da Figura A.3.1 têm a particularidade de, em autarcia (isto é, no caso de Figura A.3.3 Fronteirade 2007]
o mercado interno estar fechado) coincidirem com a curva de possibilidades de possibilidades de consumo. AQOA

consumo. Isso significa que é impossível a um país consumir fora dessa recta.() para o pais B após comércio
300
No entanto, a abertura ao comércio internacional permite obter ganhos para internacional (a tracejado)
ambos os países. 2004

100-
Considere-se agora a situação do país A. Ao se especializar na produção do bem Y,
T I I l I T T I -
irá produzir 400 unidades desse bem. No mercadointernacional consegue vender 100 200 300 400 500 600 700 800 BemX
essas 400 unidades ao preço máximo de 1,6. Assim, no limite, as possibilidades
de consumo do país A no bem X estender-se-ão a 640 (400"1,6). A nova fronteira * partir do exemplo identificado é possivel demonstrar as vantagens do
das possibilidades de consumo é a representada pela Linha a tracejado na Figura comércio internacional, pelo facto de estender as possibilidades de consumo
AS. zos indivíduos de um país. O cenário apresentado nas Figuras 4.3.2 e A.3.3 é 0
cenário de maximização dos ganhos, assumindo que os preços atinjam o valor
O mesmo raciocínio pode ser aplicado ao país B que, especializando-se na mais alto possível. No entanto, qualquer que seja o cenário, a situação de ambos
produção de X, pode vender as 600 unidades que produzirá ao preço máximo de os países ficará sempre melhor pois os preços minimos serão sempre iguais ao
0,8 pelo que pode estender as possibilidades de consumo desse bem a 640,tal custo de oportunidade do pais com a desvantagem comparativa para esse bem.
como apresentado na Figura A.3.3. + determinação do preço internacional de equilíbrio da negociação internacional
gos países, é feita em função do que estão dispostos a pagar/receber, a partir do
7 A identificação do ponto óptimo de consumo implica a identificação das preferências do
consumidor. Estes tópicos não são abordados neste capitulo, sendo introduzidos no Capítulo 6.
seu custo de oportunidade.

97
96

TT
Cap. 3 - Fronteira das possibilidades de produção Apêndice ao Capítulo 3. Da FPP às teorias das vantagens absolutas e comparativas

Até aqui considerou-se a possibilidade dos custos relativos serem constantes, X e aumentar a de Y. O raciocínio inverso pode ser feito em qualquer ponto de
derivado do facto de se terem FPP que são rectas. No entanto é possível transpor produção à esquerda de E, onde o custo e oportunidade de mais uma unidade de
alguns elementos para o caso de se terem custos relativos não constantes. X é inferior ao seu valor relativo de mercado, pelo que valerá a pena aumentar
X e reduzir Y. O único ponto em que não há vantagens em alterar X e Y dado o
Considere-se então uma FPP côncava, como indicada no início do capítulo. À FPP valor de troca no mercado é, justamente, o ponto de tangência E, onde existe
identifica todas as combinações possíveis de pontos assumindo que os recursos precisamente igualdade entre TMT e preço relativo do bem X
estão a ser utilizados de forma eficiente. No entanto em momento algum foi
identificado qual dos pontos da FPP é o ponto de produção óptimo. Assim, considerando uma FPP com custos relativos crescentes e um rácio de
preços internacional dado pela expressão - , O Óptimo de produção pode ser
y
Considerando uma FPP côncava, o ponto óptimo é dado quando o declive da FPP identificado na Figura A,3.4 pelo ponto E,.
dado pela TMT, é igual ao declive de uma recta que diga respeito à relação dos
preços. Esses preços relativos representam, para uma determinada economia, a O ponto óptimo de consumo tanto pode ser esse mesmo ponto E, como qualquer
forma como é possivel trocar o bem X pelo bem Y no mercado internacional (por ponto ao longo da recta de preços, como por exemplo o ponto E, na Figura A.3.4:
exemplo, num procedimento semelhante ao identificado na Tabela 4.3.5). O rácio se a produção ocorrer no ponto E, a economia pode vender o montante AY para
e representa o valor relativo do bem X: se = 2 isso significa que o bem X tem comprar o montante 4X. O triângulo sombreado é o triângulo das vantagens do
um valor de mercado igual ao dobro do valor do bem Y, pelo que é necessário comércio internacional, que faz com que as possibilidades de consumo deixem
entregar duas unidades do bem Y para obter uma unidade adicional do bem X.ts de coincidir com a FPP e se alarguem para além desse espaço em função do
que os consumidores desejarem. Esse ponto exacto de consumo dependerá das
Atente-se na Figura A.3.4. Dado os valores relativos de X e de Y no mercado, preferências dos consumidores, assunto que só abordaremos no Capítulo 6,e sem
como encontrar o ponto óptimo de produção? Como não há mecanismo de regressar a este contexto, que deixamos na esfera da Economia Internacional.
financiamento, a produção e venda de X e de Y têm de se autofinanciar, ou seja
o que se adquirir de Y tem de ser compensado pelas vendas de X e vice-versa:
Bem Y

Ay =,
AX+HpAV=06-DL Ds
Ê Í AX p,

A expressão anterior significa então que a TMT tem de ser igual ao valor relativo
Figura A.3.4 Óptimo de produção
dos bens no mercado, o que acontece exactamente no ponto E..
considerando uma FPP côncava & AY

ganhos de comércio
Repare-se que num ponto à direita de E, o declive da FPP é superior ao da recta
de preços, o que significa que uma unidade adicional de X tem um custo de
oportunidade superior ao valor que essa unidade tem no mercado (em relação
a Y) pelo que é vantajoso para a economia reduzir a quantidade produzida de

1 Voltaremos a falar no conceito de preço relativo no contexto do Capítulo 6.

ss

o.
Cap. 3 - Fronteira das possibilidades de produção

Questões de revisão

1. Discuta a concavidade da fronteira de possibilidades de produção.

2. Discuta o conceito de eficiência de Pareto tendo em conta a fronteira de


possibilidades de produção.

3. Distinga os conceitos de vantagem absoluta e vantagem comparativa.

100
Procura e oferta

39.1 A interacção de agentes económicos e a “mão


invisível” de Adam Smith 105
ae Lei da procura: intenções de compra e seus
determinantes 107
4.2.1 Excepções à lei da procura 112
4.3 Lei da oferta: intenções de produção/venda e seus
determinantes 114
4.4 Das curvas individuais às curvas de mercado 118
4.5 O equilíbrio de mercado 120
4.6 Determinação do excedente económico 123
4.7 Alterações ao equilibrio 127
4.8 Intervenções sobre o equilibrio de mercado 130
4.8.1 Preços máximos 133
4.8.2 Precos mínimos 134

Questões de revisão 1985

103
CONCEITOS-CHAVE 4.14 A interacção de agentes económicos
e a “mão invisível” de Adam Smith
agregação de curvas Lei da oferta
Os agentes económicos tomam decisões com base em critérios de racionalidade,
bens complementares mercado
tal como visto nos capítulos anteriores. O conceito de escolha racional, tratado
bens de Giffen oferta “o Capítulo 2, diz respeito ao comportamento individual. Mas uma economia é
composta por inúmeros indivíduos que, não só tomam decisões individualmente,
bens de Veblen perda pura
como interagem entre si. O local privilegiado para tal encontro é o mercado,
bens inferiores preço de equilibrio onde as trocas se realizam.

bens ordinários preço de reserva


Os mercados são essenciais ao funcionamento das economias, já que ninguém
bens normais preço máximo = auto-suficiente: há milênios que o Homem percebeu que era eficiente dividir
tarefas numa sociedade, havendo algumas pessoas a produzir uns bens com o seu
bens substitutos preço mínimo
«balho, outras a produzir outros, para que depois se encontrassem no mercado
equilíbrio procura = fizessem trocas, para que cada um pudesse ter aquilo de que necessitava,
sroduzindo apenas o que fazia melhor, ou que lhe seria mais fácil ou natural
excedente do consumidor quantidade de equilíbrio
“azer. Verificou-se que essa situação, não só permitia que cada um procurasse
excedente do produtor quantidade procurada explorar os seus próprios interesses, como em simultâneo a sociedade ficava
melhor do que numa situação em que cada um tentasse ser auto-suficiente: há
excedente económico quantidade oferecida
mais variedade de bens, produzidos com mais qualidade e a um menor custo,já
excesso de procura variáveis endógenas sue cada um produz o que faz melhor.

excesso de oferta variáveis exógenas


“a verdade, se cada um fizer o que é melhor para si, promoveo interesse de toda
lei da procura = sociedade, como se fosse guiado por uma mão invisível a atingir um fim que
"ão fazia parte das suas intenções”. t) É assim que Adam Smith descreve,no final
do séc. XVIII, o mecanismo eficiente de interacção nos mercados: recorrendo à
metafora da mão invisível, o facto de cada agente económico procurar atingir os

Adam Smith"Riqueza das Nações” Livro IVCap. Il,vol. 1 p.758 da 4º edição da tradução portuguesa
“= Fundação Calouste Gulbenkian,

104 105
Cap. 4 - Procura e oferta 4.2 Lei da procura: intenções de compra e seus determinantes

seus próprios interesses faz com que a sociedade como um todo fique beneficiada, não tendo relevância para a sua decisão racional quaisquer outros interesses que
já que cada um tenta explorar aquilo em que tem vantagem, promovendo a “ão os seus. Admitiremos também que não ha qualquer assimetria de informação
eficiência na utilização de recursos. = que a informação é completa, ou seja, quando um consumidor decide adquirir
“ma dada quantidade de um bem ao preço do mercado, ele tem exactamente a
Ateoria das vantagens comparativas, já referida no Apêndice ao Capítulo 3, pode mesma informação, acerca do bem e dos preços praticados, que todos os outros
ser utilizada para o comércio internacional, mas também pode ser utilizada para agentes económicos têm (seja do lado da procura, seja do lado da oferta) e essa
explicar por que razão determinado indivíduo se dedica a uma actividade e não nformação é exaustiva, ou seja, não há mais nada a saber, nem fica nenhuma
a outra: na verdade, tudo se resume à exploração de vantagens comparativas, informação deixada ao acaso.(2)
mesmo ao nível individual, e talvez seja essa a principal razão para a existência
de trocas num mercado. Observamos, portanto, que cada individuo explora a sua
vantagem comparativa, ou seja, escolhe racionalmente no sentido explorado no
Capitulo 2 e, assim, promove um maior bem-estar social e uma maior eficiência. 4.2 Lei da procura: intenções de
compra e seus determinantes
Os mercados funcionam com o encontro de duas partes: por um lado aqueles
que querem comprar, por outro aqueles que querem vender. Admitindo um
comportamento individual racional, todos os indivíduos que pretendem adquirir “m consumidor racional não irá adquirir um bem cujo preço ultrapasse a sua
um certo bem irão decidir racionalmente que quantidade adquirir a um dado =sponibilidade a pagar. É fácil admitir, portanto, que o consumidor poderá
preço. Da mesma forma, em função do preço a que um bem se consegue vender, sempre retirar um excedente não negativo das suas decisões de compra. Esse
assim irão os produtores decidir que quantidade irão fornecer a esse preço. excedente resultará da diferença entre o preço de mercado e o máximo que
> consumidor estaria disposto a pagar por uma dada quantidade, valor que se
O comportamento racional dos consumidores será resumido através da sesigna preço de reserva.
procura de mercado, enquanto o comportamento racional dos produtores será
representado pela oferta de mercado. Assim, a procura de mercado será capaz de maginemos que o João pretende comprar um novo par de ténis. Digamos que
relacionar a quantidade óptima que os consumidores querem adquirir a um dado =ie está disposto a pagar €60 por um par da sua marca de eleição, valor que
preço ou, inversamente, qual o preço máximo que pagariam para adquirir uma sepende do rendimento que ele tem disponível e das suas preferências. Como
certa quantidade. A oferta de mercado será, por seu lado, capaz de relacionar a consumidor racional, ele irá procurar uma loja onde consiga fazer a compra por
quantidade óptima a produzir dado um certo preço de venda ou, inversamente, menos do que que esse valor ou, no máximo, por €60, valor que corresponde ao
qual o preço minimo que os produtores estariam dispostos a receber para sreço de reserva. Se encontrar uma loja onde possa fazer a compra por €50,por
produzir uma certa quantidade. exemplo, ficará com um excedente de €1O que pode utilizar para adquirir outros
bens ou serviços.
Nas secções que se seguem, explorar-se-ã com mais algum detalhe no que
consiste cada um destes dois lados de um mercado. Teremos sempre implícita
a hipótese de que o mercado funciona concorrencialmente, ou seja, hã muitos » Nofundoestamos a admitir que os indivíduos não enfrentam qualquer tipo de incerteza nas suas

indivíduos do lado da procura e muitos indivíduos do lado da oferta, sendo que secisões, pelo que não enfrentam risco. Por outro lado, não há falhas de informação. O tratamento das
iões de escolha em contexto de incerteza e comportamentos face ao risco, bem como os efeitos
cada um age individualmente, procurando satisfazer os seus próprios interesses,
“= falhas de informação, estão fora do âmbito deste Livro.

106 107
Cap. 4 - Procura e oferta 4.2 Lei da procura: intenções de compra e seus determinantes

Esta hipótese de que o consumidor quer sempre obter um excedente não as intenções de compra, em especial: 0 respectivo preço, o rendimento, os preços
negativo das suas decisões de consumo, leva-nos a que se possa dizer que se de bens relacionados, por substituição ou por complementaridade, e preferências.
um bem ficar mais caro, o consumidor tende a comprar menos, já que o preço
se aproximará do máximo que ele está disposto a pagar, pelo que a redução de 4 representação da função procura no sistema de eixos Quantidade-Preço,
excedente o desincentiva do consumo. Este comportamento permite observar a cermite obter a curva da procura, ou procura. À Figura 4.1 ilustra uma curva de
lei da procura: quanto maior o preço de um bem, menor a quantidade procurada procura genérica.(
desse mesmo bem, tudo o resto constante.t)
Podemos interpretar a curva da procura como a quantidade óptima a comprar,
Vários factores influenciam o valor do preço de reserva, ou seja, a disponibilidade dado o preço unitário, contingente nos valores do rendimento, preferências, preços
a pagar por uma certa quantidade de um bem. O rendimento do consumidor e o de outros bens, etc.; se fixarmos um preço, Lemos a quantidade correspondente
grau de satisfação que uma unidade adicional do bem acrescenta, são factores na vertical, ou seja, dado o preço P, os consumidores querem adquirir O.
primordiais: tudo o resto constante, se o consumidor puder dispor de mais
rendimento, poderá estar disposto a pagar mais por uma unidade adicional do Podemos também interpretar a curva da procura (neste caso chama-se procura
bem, tal como o fará, se sentir que essa unidade adicional lhe dá maior satisfação, inversa) como o preço máximo que o consumidor está disposto a pagar (P,) para
como no caso em que decide comprar margarina vegetal porque descobre que é adquirir uma dada quantidade de um bem (Q,).
menos prejudicial à saúde do que a manteiga.

Os preços de bens relacionados são também relevantes para as decisões de


consumo. Por exemplo, se as máquinas de café em cápsula ficarem muito mais
caras, é natural observar uma redução do consumo de cápsulas e o aumento
do consumo de café moído para cafeteira. As capsulas e as máquinas de café Figura 4.1 Uma E,
são bens complementares, já que são consumidos em simultâneo para satisfazer curva da procura € um
movimento ao Longo E,
uma necessidade, enquanto as cápsulas e o café moído são bens substitutos, já
da curva
que se oferecem como alternativas para satisfazer a mesma necessidade.

Assim sendo, podemos concluir que o preço de bens ligados por relações de
substituição ou de complementaridade influenciam as decisões de compra uns
Q
dos outros.
Definição:
É importante deixar claro que umaalteração do preço de um bem (mantendo
Em geral, definimos função procura como sendo a relação funcional entre
zudo o resto constante) leva a uma alteração da quantidade procurada desse
quantidade óptima a adquirir de um dado bem e todos os factores que determinam
mesmo bem ao longo da mesma curva de procura, como acontece na Figura 4.1:
ao reduzir o preço de P, para P, assiste-se a um correspondente aumento da
8 No Capitulo & aprofundaremos os efeitos subjacentes à lei da procura, nomeadamente o efeito
substituição e o efeito rendimento sobre a quantidade procurada, que decorrem de umaalteração de preço. quantidade procurada de O, para O,.
1 No Capítulo 6 abordaremos as questões relacionadas com as preferências de consumo e a forma
como influenciam as decisões de compra. O preço no eixo vertical é uma tradição desde Marshall (1890) “Principles of Economics”.

o.
Cap. 4 = Procura e oferta 4.2 Lei da procura: intenções de compra e seus determinantes

A curva de procura só se altera se houver uma variação de algum factor que =usando a interpretação da procura inversa, para adquirir uma certa quantidade

afecte a relação entre preço e quantidade procurada. Neste contexto podemos =. os consumidores estão dispostos a pagar mais (P,).

definir como variáveis exógenas todas aquelas que influenciam a relação entre
preço e quantidade procurada, ou seja todas as variáveis que afectam a posição
da curva da procura. Iremos considerar objectivamente como variáveis exógenas,
neste contexto, o rendimento, as preferências e os preços de bens relacionados.

Aumento de Preço:
Sempre que um bem se torna mais caro, o consumidor tende a procurar
alternativas, pelo que aumentará a procura de bens substitutos e reduzirá o
Figura 4.3
consumo de bens complementares. Expansão da procura P,

Aumento de rendimento
Parafraseando o exemplo anterior:o aumento do preço das máquinas de café para
cápsulas tenderá a levar à redução da procura de cápsulas (bem complementar)
e a um aumento da procura de café moído para cafeteira (bem substituto). Este
efeito é ilustrado pela Figura 4.2.

Nes
O, Q,

Podemos dizer que todos os bens cuja procura se expande após um aumento
zo rendimento casteris paribus, se designam bens normais. Há, no entanto, uma
categoria de bens cuja procura diminui quando existe um aumento do rendimento:
sesignam-se bens inferiores e tratam-se de bens que os consumidores procuram
suando se sentem mais pobres, o que resulta em menor poder de compra. É o
caso de alguns produtos em segunda mão(s ou bens de baixa qualidade. Pelo
Q | Q contrário, a sua procura diminuirá quando os consumidores se sentem mais ricos,
Expansão da Procura de café moido Contracção da Procura de café em cápsulas
selo que poderão substituir esses bens por outros de maior qualidade.
Figura 4.2 Alteração da procura de bens relacionados com as máquinas de café para cápsulas,
dada uma variação do seu preço Assim, a Figura 4.3, que ilustra o efeito do aumento do rendimento na procura
de bens normais, podemos dizer também que ilustra o efeito da redução de
Em geral, o aumento do preço de um bem, tudo o resto constante, levará a uma sendimento na procura de bens inferiores.
redução da sua quantidade procurada, a uma expansão da procura de bens
substitutos e à contracção da procura de bens complementares. Os efeitos sobre a procura ilustrados pelas Figuras 4.2 e 4.3 correspondem a

Aumento de rendimento: uma alteração da procura, já que a curva se desloca no gráfico, o que é sempre
Um aumento do rendimento, tudo o resto constante, levará a uma expansão da
procura de bens normais: na Figura 4.3, para o mesmo preço (P,),0s consumidores = Exceptuam-se, evidentemente, antiguidades e bens coleccionaveis, que vão ganhando valor à

quererão adquirir mais quantidade (Q,) porque têm mais orçamento disponível, medida que o tempo passa.

110
Cap. 4 - Procura e oferta 4.2 Lei da procura: intenções de compra e seus determinantes

um efeito causado por variações nas variáveis exógenas. Por seu lado, o efeito Os bens de Veblen são bens de luxo que sinalizam um certo status social e que
ilustrado pela Figura 4.1 corresponde a uma alteração da quantidade procurada, so os muito abastados conseguem adquirir. Nesses casos, a partir de certo nível
já que a procura é a mesma e observa-se apenas um movimento ao longo da de preços, a quantidade procurada começa a aumentar, mesmo que os preços
curva, que decorre de uma variação de preço, que é uma variável endógena a sejam superiores, já que a partir desse nível de preços o bem começa a ganhar
este modelo. Em geral, a alteração de variáveis exógenas leva a deslocações das características de bem de luxo, mas será certamente comprado apenas pelos
curvas no quadrante (O,P), enquanto a alteração de variáveis endógenas (aquelas consumidores com maior poder de compra. Pensemos no caso de acessórios de
que estão representadas nos eixos) leva a um móvimento ao longo da mesma moda de certa marca, que antes de a marca ser bem conhecida, ela observa a
curva. «ei da procura, mas que depois de a marca começar a ser usada por estrelas de
cinema ou pelos mais ricos, ela passa a ser um símbolo de status, o seu preço
sobe, mas também se vende mais.

4.2.1 EXCEPÇÕES À LEI DA PROCURA

Sempre que a lei da procura é verificada, ou seja, sempre que um maior preço
está associado a uma menor quantidade procurada, tudo o resto constante,diz-se
que estamos perante a procura de bens ordinários. Há, porém, alguns bens para
os quais a lei da procura é violada, pelo menos numa certa região de preços.
Tratam-se dos bens de Giffenm e dos bens de Veblen.ts

Em ambos os casos, ilustrados na Figura 4.4, um maior preço está associado a


Bem de Giffen Bem de Veblen
uma maior quantidade procurada num certo intervalo de preços: no caso dos
bens Giffen só até um certo nível de preços P, (a partir do qual a procura se Figura 4,4 Excepções à lei da procura
comporta como a de um bem ordinário); no caso dos bens de Veblen, a partir de
um certo nível de preços P,.
Os bens de Giffen, pelo contrário, são bens inferiores, de carácter essencial, que
apenas os consumidores com menos rendimento consomem e que, mesmo que
wo Robert Giffen (1837-1910) economista de nacionalidade britânica, notabilizou-se como
jornalista da área financeira e estatistica. Ficou associado ao “bem de Giffen' pela referência de fiquem mais caros, esses consumidores consomem ainda mais, porque já nem
Marshall na sua obra “Principles of Economics” (1895): As Mr. Giffen has pointed out, a rise in the price conseguem ter dinheiro para os substituir por outros melhores. Então a procura
of bread makes so large a drain on the resources of the poorer labouring families and raises so much the
de bens de Giffen será positivamente inclinada, mas quando o preço é P, os
marginal utility of money to them, that they are forced to curtail their consumption of meat and the more
expensiveforinaceous foods: ond, bread being still the cheapestfood which they con get and will take, they
consumidores despendem todo o seu orçamento neste bem e não compram
consume more, and not less of it. absolutamente mais nada. Caso o preço suba acima desse nível de preços, a
tm Thorstein Bunde Veblen (L857 - 1929) economista americano, que se notabilizou com a obra “The
procura volta a ter um declive negativo porque, com o mesmo rendimento, os
Theory of the Leisure Class” (1899) onde estuda 0 comportamento social de grupos de indivíduos que
se dedicam a uma vida ociosa e que têm como desejo serem reconhecidos como melhores do que as
consumidores simplesmente vão cortando no consumo e ficam com a necessidade
outros, daí se associar a Veblen os bens que sinalizam siotus, por satisfazer. No Capítulo 6, voltaremos a falar neste tipo de bem.

113

To
Cap. 4 - Procura e oferta 4.3 Lei da oferta: intenções de produção/venda e seus determinantes

4.3 Lei da oferta: intenções = = mínimo que um produtor estã disposto a receber para produzir mais uma
de producção/venda e seus Se de um bem, seja crescente à medida que se produzem mais unidades.
determinantes
o Paulo poderia estar disposto a receber €2 por um pote se soubesse
= =ão precisava de fazer mais do que 5 potes por hora. Mas se lhe for feita
Um produtor racional não irá vender um bem a um preço que seja inferior 2º == grande encomenda para completar num curto espaço de tempo,ele terá de
custo de produção.(É fácil admitir, portanto, que o produtor poderá sempr= smentar a quantidade de potes que faz por hora,o que obviamente fará aumentar
retirar um excedente não negativo das suas decisões de venda. Esse excedert= = = imo que ele está disposto a receber para produzir mais quantidade.
resultará da diferença entre o preço de mercado e o minimo que o produtos
estaria disposto a receber por uma dada quantidade. Esse mínimo dependerá dos =» Hipótese de que o custo marginal de produção é crescente, porque à medida
custos de produção e, por conseguinte, de todos os factores que influenciam os = = quantidade produzida aumenta, aumenta também o custo de oportunidade
custos de produção.t10) e silização dos recursos, leva a que exista, em geral, uma relação positiva entre
»=ntidade oferecida de um bem e o respectivo preço de venda, conhecida por
Imaginemos que o Paulo é oleiro e produz potes de barro. Os potes nascem e vs oferta: quanto maior é o preço de venda, maior é a quantidade oferecida,
do seu trabalho, utilizando o barro que ele próprio extrai dos seus terrenos eso resto constante.
adjacentes à olaria e utilizando um forno de lenha, que ele também recolh= Definição:
Sem nos preocuparmos com a disponibilidade de matérias-primas (barro, águ=. à» geral, definimos função oferta como sendo a relação funcional entre
lenha para o forno), é fácil imaginar que quanto mais cansado o Paulo estiver s=stidade óptima a oferecer de um dado bem e todos os factores que
menos potes consegue fazer por hora. Então, se ele se esforçar por fazer sempr= ="=rminam as intenções de venda, em especial: o respectivo preço, a tecnologia
o mesmo número de potes por hora, é lógico que quanto mais potes faz, maior == produção e os preços dos factores de produção.
é o seu esforço para produzir mais um pote, pelo que maior será o custo de
produzir um pote adicional por hora. » relação entre quantidade oferecida e preço, chamamos curva de oferta, ou

mesta, e representa-se graficamente no mesmo sistema de eixos Quantidade-


Este exemplo muito simples ilustra um princípio que será discutido mais tardes Peço onde se representa a procura, conforme ilustra a Figura 4.5.
nos capitulos relativos à teoria do produtor: quanto maior é a produção, maior
é o custo de produzir mais uma unidade, já que o custo de oportunidade dos Posemosinterpretar a curva da oferta como a quantidade óptima a produzir, dado
recursos vai aumentando. Neste caso, o recurso é o trabalho, mas o cansaço faz = preço unitário de venda, contingente nos custos de produção, na tecnologia,
com que a utilização desse recurso tenha um custo de oportunidade cada vez == disponibilidade de recursos etc.: se fixarmos um preço, lemos a quantidade
maior - o valor do descanso! O facto de o custo de produção de cada unidade correspondente na vertical, isto é, dado o preço P, os produtores querem produzir
adicional, ou seja, o custo marginal de produção, tender a ser crescente, faz com 2. Podemos também interpretar a curva da oferta como o preço mínimo que o
s-odutor está disposto a receber (P,) para produzir uma dada quantidade de um
1 Não faremos distinção, a este nível, entre produtores e vendedores, admitiremos portanto, que o
sem (On).
produtor vende directamente ao consumidor. Admitir a existência de intermediários iria complicar o
modelo sem acrescentar nada de relevante à teoria apresentada,
ao A forma como se relacionam os custos de produção e o preço minimo a que o produtor esta E importante deixar claro que uma alteração do preço de um bem (mantendo
disposto a vender, depende do tipo de mercado, conforme se verá no Capitulo 9. “do o resto constante) leva a uma alteração da quantidade oferecida desse
114
115
Cap. 4 - Procura e oferta 4.3 Lei da oferta: intenções de produção/venda e seus determinantes

mesmo bem ao Longo da mesma curva de oferta, como acontece na Figura 4.5: 2u podemos ver que para a mesma quantidade Q,o preço exigido pelo vendedor
ao reduzir o preço de P, para P, assiste-se a uma correspondente redução da cesceu de P, para P,.

quantidade oferecida de O, para O..

Figura 4.5 Uma curva da oferta Figura 4.6 Expansão da oferta p


e um movimento zo longo da
curva

2 que poderia estar na origem de uma expansão da oferta? No nosso exemplo,

A curva de oferta só se altera se houver uma variação de algum factor que o que poderia levar o Paulo a baixar o preço a que está disposto a vender uma
afecte a relação entre preço e quantidade oferecida. À semelhança do que certa quantidade ou, equivalentemente, o que fará com que ele esteja disposto a
fizemos em relação à procura, iremos separar estas variáveis intervenientes na sender mais quantidade ao mesmo preço? Há vários factores que poderão levar a

função oferta entre variáveis endógenas e variáveis exógenas. Neste modelo, este efeito. Um progresso tecnológico, no sentido em que os mesmos factores de

as variáveis endógenas são a quantidade oferecida e o preço de venda, sendo zrodução produzem mais quantidade, pode levar a este resultado. Uma redução

todas as restantes variáveis exógenas: o preço dos factores de produção, a cos custos de produção, terá também o mesmoefeito.
tecnologia, etc., ou seja todos os factores que influenciam as decisões de venda
e que não são explicados neste modelo. As variaveis endógenas são, portanto, maginemos também que a quantidade de potes de barro que são produzidos

aquelas que aparecem descritas nos eixos onde se faz a representação gráfica “a olaria do Paulo é resultado do seu próprio trabalho, mas também do trabalho
da oferta. dos seus empregados. É lógico que, se eles exigirem um salário horário maior,
= Paulo vai ter de subir o preço de venda de cada pote, ou seja, para a mesma

Assim, sempre que se observar uma variação do preço de venda de um bem, o que suantidade vendida, vai ter de cobrar um preço mais alto, para compensar o

se altera é a quantidade oferecida, havendo um movimento ao longo da curva. sumento do custo de um factor de produção: o trabalho.Isto corresponde a uma

Sempre que se alterar uma variável exógena, observa-se uma movimentação da contracção da oferta, conforme ilustrado na Figura 4.7. O mesmo acontece se

curva da oferta, ou seja, a relação entre preço de venda e quantidade oferecida aualquer outro recurso utilizado na produção se tornar mais caro ou mais raro.

altera-se sempre que se alterar uma variável exógena. Se estivéssemos a falar da produção de um bem agricola, um ano com um clima
adverso iria também ter um efeito de contracção da oferta: cada unidade ficaria

A Figura 4.6 ilustra uma expansão da oferta, que pode ser lida de duas formas: mais cara, ou equivalentemente, para o mesmo preço haveria menos quantidade
para o mesmo preço P,, a quantidade oferecida aumenta, passando de Q, para o, = oferecer.

116
A4
e a.p festa
4.4 Das curvas individuais às curvas de mercado
ap. = Procura e 0)

* Figura 4.8 ilustra a relação entre as curvas de procura e oferta individuais e


=s curvas de mercado. No fundo,a figura mostra o processo de agregação das
=as individuais que se costuma designar como soma horizontal: para cada
=eço, somam-se as quantidades procuradas por todos os consumidores para se
=5<er a quantidade procurada no mercado, bem como também se somam todas
= quantidades oferecidas por todos os produtores a cada preço, para se obter a
“espectiva quantidade oferecida no mercado.

Q Q
Contracção da oferta Expansão da oferta

Figura 4.7 Movimentações da curva da oferta

4.4 Das curvas individuais às curvas de


mercado

Se admitirmos que as curvas de procura e de oferta apresentadas nas secções


anteriores correspondem a comportamentos individuais, esses comportamentos
são transversais a toda a economia. Quando falamos em procura de mercado e em '

0=0,+0,+...
oferta de mercado, referimo-nos ao comportamento colectivo de consumidores =
produtores activos num certo mercado. tt) Fura 4.8 Procura e oferta de mercado, por agregação das procuras e ofertas individuais

Se a procura individual representa a quantidade óptima a consumir por um


pe nel superior da Figura 4.8 pode ler-se da seguinte forma: ao preço P,
consumidor a um dado preço, a procura de mercado representará o somatório “»osumidor 1 quer comprar Q, unidades, o consumidor 2 quer comprar O,
das quantidades óptimas a consumir de um dado bem, àquele preço, por todos Waces, etc... O que significa que, a esse preço, no mercado os consumidores
os consumidores que estão activos no mercado em causa. Da mesma forma, se 2 = comprar Q unidades, valor igual ao total das unidades adquiridas por
oferta individual representa a quantidade óptima a oferecer por um produtor > =s consumidores,
um dado preço, a oferta de mercado representará o somatório das quantidades
óptimas a oferecer de um dado bem, aquele preço, por todos os produtores t inferior da Figura 4.8 tem uma leitura semelhante, mas relativa à oferta
activos no mercado em análise. ter-se de forma independente da secção superior: ao preço P, o produtor
vender Q, unidades, o produtor 2 quer vender O, unidades, etc... pelo
uy Neste contexto, associamos um mercado diferente a um bem diferente, por razões pedagóg <=»
= esse preço, no mercado surge uma quantidade Q, que é igual ao total das
Ha, no entanto,critérios rigorosos para a definição do âmbito de um mercado,quer do ponto de v =»
do produto, quer do ponto de vista geográfico, que estão fora do âmbito deste Livro, produzidas por cada um dos produtores.

118 ns
Cap. 4 - Procura e oferta
4.5 O equilibrio de mercado

4.5 O equilíbrio de mercado »conscientemente para que o mercado automaticamente se equilibre, desde
(num Mercado Concorrencial) 2e não existam falhas no seu funcionamento.

p
Em geral, uma situação de equilíbrio é um estado a partir do qual nenhum agente
económico tem incentivo a sair, ou seja, não tem qualquer benefício decorrente
de uma alteração de comportamento.
Figura 4.9 Equilibrio de
mercado. Ao preço P*,a
Em particular, numa situação de equilibrio de mercado, nem quem compra (o quantidade oferecida e a
quantidade procurada são p!
consumidor) nem quem vende (chamemos-lhe produtor) beneficia de uma
iguais a Q*
alteração das decisões tomadas acerca das quantidades transaccionadas a
um dado preço. Tal como referido no final da Secção 4.1, vamos admitir que o
mercado funciona concorrencialmente.
o" Q
Este equilíbrio é único, ou seja, tudo o resto constante (o que neste contexto
O equilibrio de mercado refere-se a uma situação atingida colectivamente, em
que,ao preço de equilibrio, a quantidade oferecida é igual à quantidade procurada, sgnifica não existir nenhuma alteração na procura nem na oferta) qualquer
outro preço não permitiria um equilibrio, porque produtores e consumidores
pelo que consumidores e produtores compram e vendem na quantidade que
“riam querer alterar as suas decisões.
desejam, sem haver consumidores que querem adquirir o bem ou o serviço e
já não o conseguem (excesso de procura) nem produtores que queiram vender
Jm excesso de procura significa que o preço é demasiado baixo e que os
mais unidades, mas não são bem sucedidos nos seus intentos (excesso de oferta
consumidores querem comprar mais do que aquilo que os produtores estão
e conseguente acumulação de existências).
dispostos a oferecer. Assim, os produtorestêm incentivo a aumentar o preço, o que
faz diminuir a quantidade procurada e aumentar a quantidade oferecida.O excesso
Graficamente, esse ponto ocorre no cruzamento: da curva da procura de
de procura, por via da concorrência que se faz sentir entre os consumidores para
mercado com a curva de oferta de mercado, conforme ilustrado na Figura 4.9.
Quantitativamente, isso consiste em resolver o seguinte sistema de equações: adquirir o bem, tende a pressionar os preços no sentido ascendente, até que se
atinja o equilíbrio em que a quantidade procurada e oferecida são iguais. Esta
situação é representada no painel esquerdo da Figura 4.10.
D: O,=f(P) f'<0
Ss: 0, =9(P) 9'>0 Quando há um excesso de oferta, como aquele representado no painel da direita
0,=0,
da Figura 4.10,0 preço é demasiado alto, o que quer dizer que os produtores não
conseguiriam escoar todo o produto que estão dispostos a colocar no mercado ao
Em condições ideais, ou seja, na ausência de falhas de mercado, o equilibrio preço P, já que a esse preço os consumidores procuram muito menos quantidade
concorrencial atinge-se automaticamente, por via do comportamento racional e do que aquela que os produtores quereriam vender. À solução para cativar mais

autônomo dos agentes económicos, daí que seja frequente evocar a metáfora da consumidores é descer o preço. Um excesso de oferta tende a fazer com que os
“mão invisivel” de Adam Smith, a que já nos referimos acima, para o ilustrar: cada preços desçam, aumentando a quantidade procurada até ao valor de equilíbrio,

agente econômico, na prossecução dos seus objectivos individuais, contribui em que é igual à quantidade oferecida.

120
121
4.6 Determinação do excedente econômico
Cap. 4 - Procura e oferta

Por exemplo, admita-se que o mercado de potes de faiança é representado por


«m modelo linear tal que:

D: 0,=200-2P
S: Q,=-25+25P

Zesolvendo O, = O; obteremos um ponto de equilíbrio com as coordenadas


2=100,P = 50, onde o preço está expresso em unidades monetárias por unidade
Excesso de Procura: O, > Os Excesso de Oferta: Q, > O, “sica do bem. Neste equilíbrio, poderiamos dizer, então, que se transaccionam
100 unidades do bem a €50 cada uma (admitindo que a unidade monetária é o
Figura 4.10 Duas situações de desequilíbrio (os dois lados da figura são independentes)
Euro). Graficamente, o equilibrio encontra-se no ponto E da Figura 4,11,

Portanto, qualquer outro preço acima ou abaixo do equilíbrio é um preço instável


Deixamos ao cuidado do leitor verificar que, por exemplo, com um preço de €25
e haverá incentivo a que o mesmo se altere até que O, = Os.No entanto,
se observa um excesso de procura no valor de 112,5 unidades e que, ao preço
o equilíbrio não é permanente e alterar-se-á sempre que uma das variáveis
£50, existe excesso de oferta no valor de 45 unidades do bem.
exógenas se altere, levando a movimentos da procura e/ou da oferta, como se

verá na secção seguinte.

Admitamos daqui em diante que, por mera conveniência matemática, as curvas


de procura e de oferta num mercado podem ser representadas por rectas. Então,
um modelo para o equilíbrio de mercado pode ser constituído pelas equações Figura 4.11 Um equilibrio
que representam a oferta e a procura, bem como pela condição de que, ao preço de mercado com curvas de
de equilibrio, as quantidades oferecida (Q.) e procurada (Qs) são iguais: procura e oferta lineares

D: O,=0+bP, b<0Q
S: Qe=c+dP,d>0
100 200
0, Os

Resolvendo o problema com quaisquer valores para os parâmetros q, D, c, d,


obtém-se sempre um equilíbrio tal que:
4.6 Determinação do excedente
sqabi=cd poóco,
a E económico
a

Quando primeiro referimos a lei da procura e a lei da oferta, dissemos que


uy Se nada impedir que isso aconteça. Como iremos ver na Secção 4.8, através de regulação de
“m consumidor racional, bem como um produtor racional, iriam tentar extrair
preços, o Estado pode fazer com que o mercado não atinja o equilíbrio automaticamente.

123
Cap. 4 - Procura e oferta 4.5 Determinação do excedente
económico

excedente das suas decisões de compra e de venda: um consumidor nunca recebem o minimo que estão dispo
stos a receber para produzirem essa
mesma
compraria uma quantidade a um preço que fosse superior à sua HspeniiauEe unidade.
a pagar por essa quantidade; um produtor nunca venderia uma quantidade a um
preço que fosse inferior ao minimo que estão dispostos a receber para cai Podemos, então, observar que sendo o
preço de mercado um valor único pago
por
essa quantidade, valor que depende directamente dos custos de produção. unidade, os consumidores obtêm um
excedente porque valorizam cada unida
de
mais do que o valor correspondente
ao preço de transacção. À valorizaçã
o de
Pensando na curva da procura como representando'as disponibilidades as pagar uma unidade adicional vai diminuindo
à medida que os consumidores adquirem
por cada unidade, e pensando na curva da oferta como representando o minimo mais quantidade, o que está na base
da lei da procura. Da mesma forma
, os
que os produtores estão dispostos a receber por cada unidade produaida; é facil produtores obtêm um excedente por unida
de, já que vendem sempre ao mesmo
verificar que, dado um preço unitário de transacção, quer os consumidores, quer preço (€50, no exemplo) mas se produ
zissem menos, teriam menos custos
e,
os produtores, irão ter um excedente. portanto, estariam até dispostos a receb
er menos pelas unidades que já tinham
produzido antes de chegar à 100º.
Na Figura 4.12, que pode representar o mercado de potes de faiança que o Paulo
produz, o equilibrio é encontrado no ponto de coordenadas (100, 50), ou seja, são AFigura 4.13 representa o excedente do consu
midor e o excedente do produtor para
transaccionados 100 potes a um preço unitário de €50. O Paulo é apenas um dos todas as unidades transaccionadas e não apenas
para a 30º, como na Figura 4.12.
produtores que fornece o mercado. Admitindo que o bem é infinitamente divisív
el, os excedentes correspondem aos
valores das áreas coloridas indicadas por XD
(para o consumidor) e por XS (para o
produtor). A sua soma corresponde ao que
normalmente se designa por excedente
económico, que representa o valor económico
das trocas realizadas, avaliado em
100 unidades monetárias. Calculados para o merca
do, estes excedentes são colectivos,
Figura 4.12 Excedente OU seja, são para o conjunto de consumidores
e para o conjunto de produtores num
o do consumidor (E35) e dado mercado.À forma como se dividem individual
do produtor (€28) para a mente não é aqui relevante.
501
30º unidade, ao preço de
equilibrio €50 por unidade.
22
10

30 100 200 o Figura 4.13 Excedente


económico; X5 representa o
excedente do produtor e XD
Tome-se uma quantidade arbitrária, 30. Em relação a essa quantidade, o representa o excedente do
consumidor estava disposto a pagar €85 e o produtor estava disposto a vender, consumidor

no mínimo, por €22, o que quer dizer que, na 30º unidade, os epmsuranas têm
um excedente de €35 e os produtores têm um excedente de €28 em pelapo ao
preço unitário de venda €50. Em relação ao ponto de equilíbrio, na 100º união,
o excedente de produtores e de consumidores é zero, ou seja, os consumidores 20.

pagam o máximo que estão dispostos a pagar pela 100º unidade e os produtores “4 No Capitulo 6 voltaremos às razões a
isso subjacentes,

124
125
Cap. 4 - Procura e oferta 4.7 Alterações ao equilibrio

No caso do exemplo da Figura 4.12, simplesmente recorrendo ao cálculo da área


4.7 Alterações ao equilíbrio
dos triângulos homólogos aos da Figura 4.13, é fácil calcular que XD = €2.500 e
que XS = €2.000. Assim, o excedente económico totaliza €4.500.

Os mecanismos automáticos de mercado que levam à existência de um equilíbrio, Sempre que observamos uma alteração de uma variável exógena, observa-se
conhecidos também como forças de mercado, geram umasituação que é eficiente, uma alteração do ponto de equilíbrio e, com isso, uma alteração do valor do
no sentido em que não é possível encontrar outro ponto em que ambas as partes excedente económico.
do mercado saiam beneficiadas. Essa situação de eficiência tem aqui uma medida
objectiva: um mercado é eficiente se maximizar o excedente económico. 8 se descreveu nas secções anteriores como a curva da procura, enquanto
relação entre preço e quantidade óptima a consumir, depende de um conjunto
As condições que levam ao excedente económico máximo consistem no conjunto de variáveis que afectam as escolhas dos consumidores e, em particular, a sua
de hipóteses que formam o paradigma Neoclássico: “isponibilidade a pagar que, no fundo, é a informação que está implícita na
procura. Essas variáveis, que se designam exógenas são, fundamentalmente, o
- Os agentes económicos são racionais e escolhem pontos que maximizam
“endimento disponivel, os preços de bens relacionados e as preferências.
o seu bem-estar;

- Os agentes económicos agem de forma independente, na posse de Por seu lado, a curva da oferta, enquanto relação entre preço e quantidade óptima a
informação completa. produzir, depende de um conjunto de variáveis que afectam as escolhas de produção,
em particular, os custos de produção,informação que está implicita na oferta. Essas
Nestas condições, que grosso modo correspondem à descrição de um mercado «ariáveis são, fundamentalmente, os preços dos factores produtivos e matérias-
concorrencial, os mercados automaticamente geram equilíbrios eficientes, onde rimas, bem como também a tecnologia de produção, que determina a quantidade
o excedente económico é máximo e qualquer política que leve a uma alteração e recursos que se despendem para produzir uma certa quantidade de um bem.
do preço de mercado (e consequentemente uma alteração nas quantidades
transaccionadas) levará a uma redução do excedente económico, ou seja, fica-se * Figura 4.14 representa o efeito de uma contracção da oferta, que poderá
numa situação que é pior do que a de não-intervenção. > poteticamente ter origem num aumento dos preços dos factores de produção,
> numa redução de recursos disponíveis. Observa-se que o novo equilíbrio
Assim, apenas em situações em que, por alguma razão,(% o mercado não atinge =corre num preço superior e numa quantidade inferior, em relação ao equilíbrio
automaticamente eficiência, se justifica economicamente uma intervenção cicial, onde o preço e a quantidade eram P*e Q*. (valores iniciais)
governamental para corrigir a situação. Outras intervenções terão outras
justificações, como veremos mais a frente. “= verdade, após a contracção da oferta, com a sua passagem da curva S para
* curva S,, se O preço se mantivesse em P*, a quantidade oferecida seria Q,,
O facto de um equilíbrio ser eficiente e, por definição,estável, não quer dizer que enquanto a quantidade procurada continuaria a ser Q*, a um nível superior ao
esse equilíbrio não se altere. Alterar-se-à sempre que algum dos pressupostos “ve a oferta estava disposta a colocar no mercado. Essa situação de excesso
subjacentes à procura ou à oferta se alterar. É o que veremos na secção seguinte. >= procura, faria pressão para que o preço suba, o que acaba por acontecer: o
»eço sobe até P, no novo equilibrio, preço ao qual a quantidade procurada é
«us Tipicamente, falhas de mercado, “=vamente igual a quantidade oferecida, ou seja Q,.

126 127
Cap. 4 - Procura e oferta 4.7 Alterações ao equilibrio

A Tabela 4.1 resume o efeito sobre o preço e sobre a quantidade


de equilíbrio que
decorre de uma alteração da procura ou da oferta, separadamente.
Convidamos o
teitor a fazer os gráficos ilustrativos que correspondem a cada caso.

Figura 4.14 Uma contracção


da oferta faz subir o preço Situação Sentido da Alteração na Alteração
e reduzir a quantidade Tabela 4.1 Resumo S deslocação quantidade no preço
de equilíbrio, reduzindo o dos efeitosade
alterid de Aumento da procura || pn
Direita aumenta aumenta
mim Ro mm iemmim
excedente económico : S
poribus da procura e da
Redução da procura Esquerda diminui diminui
Lane na E NR
ofertaAumentodaoféria| Direta|. aumenta |diminui,
Redução da oferta | Esquerda diminui aumenta

=e uma contracção da procura Leva a uma redução de preço e se uma contracçã


o
“a oferta Leva a uma subida de preço, quando se observam ambos os fenómenos
A Figura 4.15 mostra o efeito de uma contracção da procura, que pode ter
em simultâneo, o efeito sobre o preço não é generalizável. A Figura 4.16 ilustra
tido origem numa redução do rendimento disponível, Da mesma forma que se
«ma contracção da oferta simultânea a uma contracção da procura, O efeito final
verificou para o caso anterior, verifica-se que, após a contracção da procura: se 0
do preço é incerto e depende da magnitude das alterações observadas, podendo
preço se mantivesse igual, iria haver um excesso de oferta, o que pressionaria O
“var quer a Um aumento, quer a uma redução de preço.
preço no sentido descendente. No novo equilíbrio, o preço é inferior, bem como
a quantidade transaccionada.

p|
Figura 4.15 Uma contracção
da procura faz reduzir o
preço e a quantidade de
equilibrio, reduzindo o
excedente econômico

Figura 4.16 Contracção simultânea da procura e da oferta tem um efeito no preço


que não é
generalizável

Q
»= secção anterior referiu-se brevemente o que nos diz a teoria Neoclássica:
Quando há contracções da procura ou da oferta, o excedente sRsmnniEs tende a »s mercados descentralizados, que funcionam livremente, são eficientes, Esse
diminuir, já que há uma redução da quantidade transaccionada. E das transacções “esultado vem do facto de, nessas circunstâncias, e na ausência de falhas
de
que resulta o excedente económico, já que representa O valor SanaRNEs das mercado, o excedente económico ser máximo. Portanto, qualquer medida de
trocas realizadas. Se há menos transacções, perante uma redução da quantidace Do“tica que intervenha num mercado concorrencial que funciona bem livremente,
de equilíbrio, o excedente económico naturalmente reduz-se. “= ter um custo económicoigual ao excedente económico que se perde em relação

128 129
Cap. 4 - Procura e oferta 4.8 Intervenções sobre o equilíbrio de mercado

ao máximo potencial. A secção seguinte trata, justamente, o efeito econômico de fazer a análise em paralelo com a análise das elasticidades. Admite-se que

uma forma de intervenção sobre os mercados: regulação de preços. as análises feitas ocorrem em mercados que funcionariam eficientemente na
ausência de intervenção.

Quando se fala em regulação de preços, referimo-nos à actuação do Estado

4.8 Intervenções sobre o equilíbrio de influenciando o preço de transacção de um certo bem ou serviço. Mas se, como
mercado ' vimos, o mecanismo de formação de um preço é automático e eficiente, por que
razão quer o Estado intrometer-se nesse mecanismo? Se,através da influência
das forças de mercado, automaticamente os mercados se ajustam para que

Quando o Estado intervém sobre um mercado, normalmente a sua actuação é não haja nem excesso de procura, nem excesso de oferta, qual o objectivo da

pautada pela tentativa de corrigir uma falha de mercado, ou seja, o mercado intromissão do Estado neste processo?

automaticamente não atinge o excedente económico máximo. Esta é tipicamente


a Situação em que existem externalidades e/ou assimetrias de informação, O Estado, no seu papel regulador, por razões éticas e morais, pode determinar
assunto que trataremos brevemente no Capítulo 10, introduzindo a teoria que um determinado preço de equilíbrio é demasiado baixo para garantir a

económica da regulação. subsistência dos agentes económicos do lado da oferta. Então, nesse caso,
&xa um preço mínimo, o que significa que os agentes económicos não podem
No entanto, o Estado também pode intervir num mercado que funciona iransaccionar o bem ou o serviço a um preço inferior a esse valor. Um sistema

adequadamente. É o que acontece quando se decidem lançar impostos sobre «egulatório deste tipo é de todos bem conhecido no mercado de trabalho: os
as transacções, como é o caso do IVA, cujo objectivo é obter receitas fiscais para agentes económicos do lado da oferta são os trabalhadores, que vendem a sua
financiar programas de despesa pública do interesse dos governos. Por exemplo, força de trabalho, enquanto os agentes económicos do lado da procura são,

o governo pode querer atribuir um subsídio à produção de azeitona, porque se genericamente, as empresas que criam postos de trabalho, adquirindo força de

considera ser um sector estratégico. Mas, para isso, é preciso financiar a política, «abalho como factor de produção. O preço de transacção nesse mercado chama-

recorrendo aos impostos. Trataremos deste assunto no Capítulo 5. se salário, e está regulado pelo salário mínimo,fruto do processo negocial em
que estão envolvidas as forças sindicais.

Para além de impostos, o Estado pode também decidir manipular directamente


os preços dos mercados, estabelecendo preços mínimos e preços máximos: o Da mesma forma, o Estado pode considerar que o preço de equilíbrio de um

mercado de trabalho, onde os trabalhadores oferecem trabalho e os empregadores sem é demasiado alto e que os consumidores estão a ser explorados. Então,

procuram mão-de-obra, é regulado por um preço mínimo, a que se chamasalário nesse caso, fixa um preço máximo, o que quer dizer que o bem ou serviço em

minimo; o mercado de habitação para arrendamento é parcialmente regulado causa não pode ser vendido a um preço superior a esse preço máximo. Durante
por preços máximos, daí resultando as rendas condicionadas ou as rendas sociais cecadas essa foi a realidade, por exemplo, no mercado dos cereais. Portugal

que muitas familias ainda pagam. sempre foi um país deficitário em cereais e, para evitar subidas de preço que
encarecessem o pão, o mercado era regulado por preços máximos. Ao longo

O objectivo desta secção é analisar os efeitos económicosda utilização de preços zo Séc. XIX, especialmente durante a Regeneração, e durante todo o Séc. XX,

máximos e preços minimos nos mercados, ou seja, da regulação de preços. À >os conturbados tempos da 1º República, ou mesmo durante o Estado Novo,

análise dos impostos é deixada para o próximo capítulo, por ser interessante sempre foi preocupação dos governos garantir o pão, sendo até esse o tema

130 131
Cap. 4 - Procura e oferta 4.8 Intervenções sobre o equilibrio de mercado

de campanhas políticas de grande importância. Durante o Estado Novo o preço 4.8.1 PREÇOS MÁXIMOS
do trigo era totalmente controlado pelo Estado: era o Estado que comprava a
totalidade da produção nacional, que a armazenava em silos espalhados por
todas as cidades do país, e que ia libertando trigo para o mercado à medida das Jm mercado sujeito a um preço máximo, verá o seu preço sempre abaixo do
necessidades e em função do preço que os governos achavam adequado. sreço de equilibrio. Não faria sentido fixar um preço maximo acima do equilíbrio,
porque nesse caso a política não teria qualquer efeito: naturalmente, o equilibrio
A prestação de serviços públicos é outra situação em que os preços são jà estava abaixo do preço regulado... Na presença de um preço máximo, como
regulados, mas essa é uma situação em que o mercado não iria funcionar ele só tem relevância abaixo do preço de equilíbrio, existirá sempre excesso de
concorrencialmente, o que inviabilizaria a actuação das forças de mercado para procura, ou seja, o mercado não se equilibra automaticamente: haverá sempre
levar a uma formação de preço de equilibrio. Na verdade, dada a dimensão da consumidores que querem adquirir o bem e não conseguem, já que quem o
procura e tendo em consideração as características tecnológicas do sector, bem adquire não é necessariamente quem mais o valoriza, é quem chega primeiro.
como os avultados investimentos em infra-estruturas necessárias à prestação do Como já vimos, numa situação em que há excesso de procura, e não podendo o
serviço, o mercado não teria condições para sustentar empresas investidoras e preço subir, será necessário encontrar sistemas de racionamento, formar-se-ão
aguentar a pressão concorrencial nos preços.Foi por esta razão, durante décadas, filas de espera e pode até formar-se um mercado negro: quem compra ao preço
que o Estado substituiu a iniciativa privada na produção e fornecimento de máximo fixado pode tentar revender a um preço mais alto aos consumidores que
energia em Portugal, por exemplo, garantindo assim que os preços de venda não chegaram a tempo e que estão ainda dispostos a pagar pelo bem.
eram razoáveis e suportáveis por todos, não ultrapassando um certo valor por
unidade. Quando o sector foi privatizado, o Estado continuou a regular as tarifas, O gráfico da Figura 4.17 ilustra o efeito da fixação de um preço máximo. Sem
fixando valores máximos. Apenas no decorrer dos últimos anos, e até ao final do intervenção, automaticamente seriam transaccionadas Q* unidades, sendo
ano de 2015, se tem assistido à extinção das regulaçõessobre o preço da energia atingido o preço unitário P*. Uma vez fixado o preço máximo P,.., Os produtores
em baixa tensão que, no fundo, é a que chega a todos os consumidores. Este não colocarão no mercado mais do que O, unidades do bem, valor dado pela
processo de Liberalização do mercado da energia só foi possível devido a uma curva da oferta. Por essa quantidade, os consumidores estariam dispostos a pagar
evolução que demorou várias décadas e que permitiu que o mercado funcionasse P,.Ão preço máximo, os consumidores iriam querer adquirir O; unidades, havendo,
livremente, Sem isso, o Estado teria de intervir e regular os preços.t15)
portanto excesso de procura. Por se transaccionarem Q, unidades, há perda de
excedente económico em relação à situação de mercado Livre. Essa redução de
Sendo legitimável a intervenção do Estado no sistema automático de formação
de preços num mercado concorrencial, há que analisar se essa intervenção só
traz vantagens ou se também acarreta desvantagens. Na verdade, a existência de Perda pura
preçosregulados provoca distorções nos mercados e,por conseguinte, perdas de
excedente económico, como vamosver de seguida.
Figura 4.17 Efeito da fixação de
um preço máximo

ts Na verdade, o mercado da energia pode ter caracteristicas de monopólio natural, Como veremos
no Capítulo 9, isso é motivação para regulação económica nesse sector.

132 133
Cap. 4 - Procura e oferta 4.8 Intervenções sobre o equilibrio de mercado

excedente econômico designa-se perda pura, ja que é excedente económico que =inimo regulado. Então, um mercado sujeito a um preço mínimo, verá o seu
simplesmente desaparece devido à redução das transacções no mercado.t:6Esse =reço sempre acima do preço de equilíbrio, o que significa que existirá sempre
valor está identificado pelo triângulo sombreado na figura entre O, e O". Conclui- excesso de oferta: haverá sempre produtores que queriam vender o bem, mas
se, portanto, que a fixação de um preço máximo reduz o excedente económico. = não há consumidores dispostos a adquirir mais quantidade ao preço mínimo
estabelecido. Haverá acumulação de stocks e desaproveitamento de recursos
Através do gráfico podemos ver que o excedente do produtor (o triângulo empreques na produção que não é vendida.
XS) diminuiu em relação à situação de mercado” livre e que o excedente do
consumidor (o trapézio XD) inclui agora uma parte do excedente que era do O gráfico da Figura 4.18 ilustra o efeito da fixação de um preço mínimo. Sem
produtor antes da fixação do preço máximo. ntervenção, automaticamente seriam transaccionadas Q* unidades, sendo
atingido o preço unitário P*, Uma vez fixado o preço mínimo P,., Os consumidores
Hã muitos exemplos registados de fixação de preços máximos ao longo dos anos. não comprarão mais do que O, unidades do bem, valor dado pela curva da
Frequentementefoi essa a política seguida em período de guerra para evitar a subida procura, Por essa quantidade, os produtores estariam dispostos a praticar 0 preço
de preço de bens essenciais, como o pão,o leite, o açúcar, etc., perante uma redução ?,. Ao preço mínimo, os produtores iriam querer vender O; unidades, havendo,
da oferta por paragem,total ou parcial, dos processos produtivos. Por exemplo, todos portanto excesso de oferta. Por se transaccionarem OQ, unidades, há perda de
os portugueses nascidos nos anos 40 tinham um carimbo na sua cédula pessoal que excedente económico em relação a situação de mercado livre, à semelhança da
dava à sua familia acesso a uma quantidade adicional de leite, de açúcar, de farinha, situação anterior. Essa perda pura está identificada pelo triângulo sombreado
etc., em relação a outras famílias sem filhos, ou com filhos já criados.Tratava-se dos na figura entre O, e Q*. Conclui-se, portanto, que a fixação de um preço minimo
esquemas de racionamento impostos pelo Estado durante a 2º? Guerra Mundial, para reduz o excedente económico.
controlar o excesso de procura que se teria verificado nesse periodo, como resultado
do congelamento dos preços,” e para evitar fenómenos de açambarcamento por
parte daqueles que chegassem primeiro à fila de espera.

Figura 4.18 Efeito da fixação


de um preço minimo

4.8.2 PREÇOS MÍNIMOS

Q
A fixação de um preço mínimo não faria sentido se esse preço se fixasse abaixo
do preço de equilíbrio, já que naturalmente o equilibrio iria estar acima desse Através do gráfico podemos também ver que o excedente do consumidor
(triângulo XD) diminuiu em relação à situação de mercado livre e que o

us É frequente utilizar a denominação anglo-saxônica deadweight loss, para designar a perda de excedente do produtor (trapézio XS5) inclui agora uma parte do excedente que
excedente econômico. A traduçao em português para esse termo não é unânime e designações como era do consumidor antes da fixação do preço mínimo.
“carga excedente” e “peso marto” já têm sido usadas. Do nosso ponto de vista, a designação “perda
pura" é a que transmite melhor o conceito subjacente à terminotogia anglo-saxônica.
um O congelamento de preços na sequência de uma contracção da oferta actua como um preço Consideremos como exemplo o mercado de trabalho. Neste contexto, pensemos
máximo. que a quantidade corresponde a horas de trabalho, pelo que o preço será o salário

135
Questões de revisão
Cap. 4 - Procura e oferta

por hora. Admitamos que todos os trabalhadores neste mercado têm a mesma 3. Repita a questão anterior e estude as variações que se observam no
formação, as mesmas competências, a mesma produtividade, enfim, as mesmas excedente econômico.
caracteristicas psicotécnicas. Aqui vigora um preço mínimo, a que se chama à: A fixação de um preço minimo podé hão aumentar o excedênte do
salário mínimo. Está fixado de forma a garantir que aqueles trabalhadores (que produtor. Comente.

estão do lado da oferta) tenham uma rentabilidade que lhes garanta padrões de
vida admissíveis. Esta regulação vai provacar um excesso de oferta a que, neste 5. A frase seguinte tem um erro conceptual. Identifique-o: 'A fixação de um
contexto, se chama desemprego:há trabalhadores, que correspondem a um total limite máximo para as rendas levou a uma redução da oferta de casas
de (O, - 0,) horas de trabalho, que estão ainda dispostos a fornecer os seus para alugar”.
serviços, mas não conseguem encontrar quem lhes dê trabalho (empresas do 6. Quando há preços regulados, quem adquire um bem não é necessariamente

lado da procura).(1Como resultado, haverá trabalhadores que estão dispostos quem mais o valoriza. Explique.

a ser contratados em condições precárias, eventualmente sem recibos, ficando


activos na economia não registada, ou dispostos a trabalhar sem protecção
social, não descontando para a segurança social, etc.

Questões de revisão

1. Explique no que consiste o paradigma Neoclássico.

2. Apresente o conceito de equilíbrio de mercado e mostre o que acontece


ao preço de equilíbrio e à quantidade sempre que se verifica:

- Expansão da oferta
- Expansão da procura
- Contracção da oferta
- Contracção da procura
- Expansão da oferta simultânea com uma contracção da procura
— Expansão da oferta simultânea com uma expansão da procura
- Contracção da oferta simultânea com uma expansão da procura
- Contracção da procura e da oferta em simultâneo.

um Na ausência da hipótese de que todos os trabalhadores, neste mercado, são exactamente iguais,
o desemprego poderia ter outras razões, que não excesso de oferta provocado pelo preço minimo

137
136
Elasticidades

5.1 Oque éa elasticidade? 141


5.2 Diferentes tipos de elasticidade 142
5.2.1 Elasticidade procura-preço directa 142
5.2.2 Elasticidade procura-rendimento 150
5.2.3 Elasticidade procura-preço cruzada 152
5.2.4 Elasticidade preço da oferta 1583
5.2.5 Elasticidades da procura e tipo de bens:
resumo 155
5.3 Elasticidade e despesa total 155
5.4 Elasticidade, intervenção do Estado e impostos 160
5.4.1 Impostos específicos 163
5.4.2 Impostos ad valorem 168
5.4.3 Impostos mistos 169
5.4.4 Subsídios 170
5.4.5 Casos particulares 172

Questões de revisão 178

139
CONCEITOS-CHAVE 5.1 O que é a elasticidade?

bem de Giffen elasticidade procura-rendimento * elasticidade é um importante conceito da Economia que pode recorrer ao

bem de procura ordinária imposto ad valorem =29so comum para que se perceba a intuição que lhe dá origem. Acha que não é
possível? Pegue num qualquer elástico (que pode ser o elástico que utilizamos
bem inferior imposto especifico sera não perdermos as folhas de papel, um elástico de cabelo ou, no Limite, o

incidência econômica *stico de uma peça de roupa) e puxe. Depois segure umafolha de papel e puxe
bem normal
===Dém. Qual é o mais elástico? A resposta é... o elástico. Qual o motivo? Reage
bem superior ou de luxo incidência Legal =='s ao puxão que deu.
elasticidade perda pura de excedente
económico/de política ém Economia, a elasticidade não é mais do que isto: o impacto numa variável
elasticidade preço da oferta
económica =etivado pela alteração de outra variável, com ambas as alterações a serem

elasticidade procura-preço medidas em percentagem. Formalmente, identificando os pontos (X,, Y,) como
procura de elasticidade unitária
cruzada »erentes a uma situação inicial e (X,, Y)) como a situação final, então a
procura elástica =ssticidade de Y em relação a X, definida como E,, pode escrever-se como:
elasticidade procura-preço
directa procura rígida

ES
La Y

[a
- Variação %Y — Y, <H
MN Av .
a variação WX X-X AX AXY,

>
Xi 1

Caso se tenha a variável Y como função de X, ou seja, Y = f(X), é possível reescrever


= expressão anterior como:

Qu os
S|
= |
Ew=

sendo Ye X os valores referentes ao ponto em que se pretende avaliar a


siasticidade.

Esta é a base do conceito de elasticidade que é utilizado em Economia para definir


= medida de sensibilidade entre diferentes variáveis. Neste capítulo analisam-se

140 141
Cap. 5 - Elasticidades 5.2 Diferentes tipos de elasticidade

directamente quatro diferentes elasticidades:a elasticidade procura-preço directa = fórmula para calcular a elasticidade procura-preço directa (E,;) num ponto

(que relaciona a variação da quantidade procurada de um bem com a variação como

do seu preço), a elasticidade procura-rendimento (que mede a forma como a


aq
quantidade procurada varia face a uma variação do rendimento), a elasticidade Ep = OS

O fo
preço-cruzada (que mede a forma como a quantidade procurada de um bem varia oP
em função da variação do preço de outro bem) e a elasticidade preço da oferta
(a forma como a quantidade oferecida reage a uma variação do preço do próprio Considerando a curva da procura dada por Q=20 - 2P e o ponto
em que
bem). No entanto a elasticidade pode ser aplicada a qualquer relação entre duas * é iguala 4 e Q igual a 12. É possível aplicar a fórmula anterior e obter o
variáveis, inclusivamente em tópicos que serão abordados adiante neste livro: «alor da elasticidade nesse ponto, sendo o mesmo igual a -0,67. Isso significa
pode ser utilizada no âmbito da teoria do consumidor (medindo, por exemplo, a sue nesse ponto, se O preço aumentar 1%, a quantidade procurada diminuirá
forma como a utilidade de um consumidor aumenta com a variação do consumo =proximadamente 0,67%. A elasticidade é uma medida relativa, não tem uma

de um bem) ou no âmbito da teoria do produtor (analisando, por exemplo, como «nidade de medida específica.

se altera a quantidade produzida face à variação dos quantitativos de factores de


produção que são utilizados). + fórmula anterior só pode ser aplicada caso se tenha a função procura.
No caso
ce se ter informação em termos discretos de preços e quantidades a fórmula
a
=tilizar seria

5.º Diferentes tipos de elasticidade AQ


6-2AP 1

R,
Como referido no final da secção anterior, são agora apresentados diferentes
tipos de elasticidade: procura-preço directa, procura-rendimento, procura-preço
sendo AQ e AP respectivamente as variações das quantidades e dos preços
e Q, e
cruzada e preço da oferta. Além do cálculo e da interpretação, são apresentados
>, as quantidades e preços iniciais.) Considerando uma situação inicial em que
diferentes aspectos que são considerados importantes. No final é apresentado
quantidades e preços são iguais a 12 e 4 e numa situação final em que
os seus
um resumo das diferentes tipologias associadas às elasticidades.

Alguns autores discutem utilização desta fórmula identificando que pode ser
discutível o valor
= utilizar no denominador da variação percentual uma vez que, se
se utilizar o valor final em vez do
“ator inicial (ou seja, Y, e P,emvezdeY, e P,),as resultados podem ser dispares.
5.2.1 ELASTICIDADE PROCURA-PRECO DIRECTA = a utilização do conceito de elasticidade no ponto médio ou elasticidade
Nesse caso, defende-
no arco, dada por
— dO AP.
(0.+0:)/2/ (P, +2)/2
Ee

A elasticidade procura-preço directa mede a sensibilidade do consumidor face a De facto, esta forma de calcular a elasticidade permite reduzir a diferença dos cálculos
consoante
se utilize os valores iniciais ou finais mas em termos rigorosos não permite interpretar
variações de preço, pelo que é a variação percentual da quantidade procurada a variação
sercentual da quantidade em função da variação percentual do preço, excepto para
variações muito
em resposta a uma variação percentual do preço desse bem. Tal como definido sequenas do preço, em que as diferenças entre as várias abordagens serão negligenciáve
is. Para
anteriormente, tendo a função procura dada por O =f(P), então é possivel escrever “ecordar como se calcula a variação percentual de uma variável regresse ao
Apêndice ao Capitulo 1.

142 143
Cap. 5 - Elasticidades 5.2 Diferentes tipos de elasticidade

Bem de procura com elasticidade unitária


valores são iguais a 2 e 9,0 cálculo da elasticidade permite chegar ao valor de consequência. O outro caso dá-se quando a variação percentual da quantidade
-0,67. Na realidade o valor é igual ao do exemplo anterior uma vez que ambos srocurada é igual à variação percentual do preço (por exemplo, uma situação em
os pontos se referem à curva de procura identificada sendo o ponto de partida 3ue se O preço variar 1%,a quantidade procurada varia também nessa proporção).
exactamente igual ao ponto para o qual se calculou a elasticidade procura-preço.

Epp —ma questão importante sobre este conceito e que por vezes gera alguns enganos
É importante que nos retenhamos na elasticidade procura-preço directa porque = o facto de a elasticidade numa recta não ser constante. Na realidade, o que é
ela permite identificar vários elementosimportantes. constante numa recta é o seu declive, Recordando a fórmula da elasticidade
procura-preço directa, o declive da recta corresponde ao primeiro factor da
Em primeiro lugar, como se pode verificar com os exemplos anteriormente =asticidade e, na fórmula, apenas esse factor é constante.
identificados,a Epp é negativa, fruto da relação entre preço e quantidade procurada.
Na realidade deveria dizer-se que, em geral, esta elasticidade é negativa. Como Considerando novamente a curva da procura dada por Q = 20 - 2P e os três
visto no Capítulo 4, aquando da identificação da procura, a generalidade dos bens seguintes pontos (P, 0) dados por (8,4), (5, 10) e (2, 16) e aplicando a fórmula da
apresenta uma curva de procura com declive negativo, pelo que a primeira parte *asticidade, obtêm-se para cada um desses pontosos valores (absolutos) de 4,
da expressão da elasticidade (a que se refere o declive da curva) é negativa. Como +. e 0,25. Ou seja, dependendo do ponto em que se esteja, a procura pode ser
os níveis de preço e quantidade são positivos, então a elasticidade terá que ser =astica, de elasticidade unitária ou rigida. E isto é verdade para qualquer curva
negativa nesses casos (e está-se na presença de um bem ordinário). No entanto, == procura que seja representada por uma recta com declive negativo. Assim,é
nos casos que representam excepções à lei da procura, identificados como bens possível representar genericamente o comportamento de um bem em termos
de Giffen e bens de Veblen, em que preço e quantidade procurada apresentam ce elasticidade ao longo de uma curva de procura desse género como na Figura
uma relação de variação positiva, então a elasticidade será também ela positiva. 51. Na parte superior da recta a procura é elástica enquanto na parte inferior
procura tem um comportamento de maior rigidez. Por fim, no meio da recta
Considerando agora os bens de procura ordinária, onde o sinal da elasticidade verifica-se o ponto em que a elasticidade é unitária.l)
é negativo, é possivel (e mais fácil) fazer a comparação dessas elasticidades
em valor absoluto, Num certo intervalo de preços, um bem terá uma procura “pesar de todas as procuras lineares verificarem os três tipos de elasticidade, o
tanto mais elástica quanto maior for a reacção da sua quantidade procurada ceclive da procura é importante para definir a elasticidade relativa da curva da
em relação a uma mesma variação do preço, ou seja, quanto maior for o valor »rocura, comparando-a com outras curvas. Analisa-se essa questão na Figura 5.2.
absoluto da elasticidade. Sendo assim é possivel identificar três diferentes tipos “essa figura estão representadas três curvas de procura: Q = 30 - P (painel à
de bens, quanto à sua elasticidade: bens de procura elástica, bens de procura esquerda), Q = 30 - 2P (painel central) e Q = 30 - 3P (painel à direita). Para todas
inelastica (ou rígida) e bens de procura com elasticidade unitária. =as se considera a situação inicial relativa ao ponto em que a elasticidade é
onitária, ou seja, o ponto central da curva (e que está representado em todas elas
Um bem tem procura elástica quanto a quantidade procurada varia mais em
termos percentuais do que a variação do preço. O que acontece, por exemplo,se
Os extremos de uma procura linear identificam pontos especificos em relação à elasticidade.
o preço de um bem variar 1% e, em consequência, a quantidade procurada variar * medida que o preço se aproxima do seu limite máximo (o ponto em que a procura cruza 0 eixo

2%. Por seu turno, um bem de procura inelástica é aquele em que a quantidade «estical), a elasticidade vai aumentando. Nesse ponto especifico a elasticidade será infinita, na
medida em que o aumento do preço fará com que o consumidor desista totalmente da compra desse
procurada varia menos do que o preço, em termos percentuais. Um exemplo é
sem. No ponto que coincide com o eixo horizontal, a elasticidade é nula. Existem curvas de procura
a situação em que, se o preço variar 1%, a quantidade procurada varie 0,5% em === representam cada uma destas situações, sendo descritas ainda nesta secção do livro,

144 145
Cap. 5 = Elasticidades
5.2 Diferentes tipos de elasticidade

por um ponto desenhado a cheio). O que se demonstra graficamente é que, face a


um impacto igual no preço (no caso a mesma descida), 0 impacto na quantidade
é maior na curva do painel mais à direita, ou seja, com declive igual a -3. Portanto,
quanto maior for o declive da curva da procura, tendencialmente maior será a
15+..
sua elasticidade. Obviamente a procura será tanto mais rigida quando menorfor
o seu declive. 6
— is
50 O 30 O

Figura 5.2 Elasticidade relativa em diferentes curvas de procura

Existem ainda mais duas situações em que a elasticidade não depende do nível
do preço de um bem, estando elas relacionadas com dois tipos de comportamento
Figura 5.1 Comportamento da extremosda curva da procura, casos em que se podemter curvas de procura horizontais
elasticidade ao longo de uma curva
>u verticais. Esta situação tem também implicações ao nível da elasticidade.
de procura linear

“ma curva de procura vertical indica que, independentemente do preço


do produto, o consumidor estará interessado em comprar sempre a mesma
quantidade do bem. Estar-se-á na presença de um bem essencial sem substitutos,
cor exemplo um medicamento sem o qual o consumidor não sobrevive e para
Q > qual não tem alternativas de consumo. Não será dificil intuir que o bem é de
procura perfeitamente rígida, ou seja, mesmo que o bem aumente muito de preço,
Se é um facto que as procuras que são representadas por rectas apresentam
= quantidade consumida não se altera. No caso de uma diminuição do preço,
declives constantes, o que implica que a elasticidade varie ao Longo da procura, é
continuará a consumir também as mesmas unidades, sobrando mais rendimento,
também possível encontrar curvas de procura que tenham elasticidade constante.
nesse caso, para Os restantes consumos. O declive da curva da procura é, nesse
Uma dessas curvas é dada pela expressão genérica O = aP“ que, apesar de
caso, igual a zero e a procura é a representada na Figura 5.3 pela recta vertical.
representar uma curva, tem uma elasticidade que é constante.(s

No sentido oposto está a procura horizontal da Figura 5.3. Essa procura


caracteriza-se pelo facto de que um consumidor ou conjunto de consumidores
apenas está disposto a pagar um determinado preço pelo bem sendo que o
8 Convém não esquecer que o declive da curva da procura é dada pela derivada de Q em relação a sumento do seu preço implica, necessariamente, que deixe de consumir esse
P mas que em termos gráficos se convencionou que a representação feita ao contrário, ou seja, com
Sem.€) Isso pode estar relacionado, por exemplo, com a facilidade em substituir
o preço no eixo vertical e a quantidade no eixo horizontal. Deste modo, uma curva de procura terá um
declive que será tanto maior quanto mais horizontal for a sua representação gráfica, no referencial esse produto por outro.
considerado. O declive da curva representada numa procura não é mais do que o declive da procura
inversa (matematicamente, o inverso do declive da curva da procura). * Poderá o leitor estranhar que se tenha falado apenas da situação referente ao aumento do
& Deixa-se a demonstração para o leitor mais curioso, até pelo facto de que a mesma é explorada
sreço. Tendo uma procura completamente horizontal, uma diminuição do preço também provoca
no livro de exercicios complementar a este livro de texto.
oma diminuição completa da procura pelo bem sendo esta conclusão relativamente contra-intuitiva.

146 147
Cap. 5 - Elasticidades 5.2 Diferentes tipos de elasticidade

P Procura vertical essenciais à vida, são muito importantes para as pessoas que deles têm dependência
Procura perfeitamenterígida = que, mesmo que o preço aumente, dificilmente conseguem reduzir muito as
quantidades procuradas.

Figura 5.3 Curvas de procura Outro determinante deste tipo de elasticidade é o tempo que uma pessoa leva
com elasticidades extremas a ajustar o seu comportamento face a uma variação do preço: se o consumidor
Procura horizontal
Procura infinitamente elástica tem tempo para ajustar esse comportamento, então a procura terã uma maior
elasticidade. Considere-se o exemplo dos combustíveis. Se for apanhado de surpresa
por um aumento do preço e tiver que ir nesse momento para o trabalho, não há
Q grande alternativa a não ser abastecer, No entanto, se souber dessa alteraçãoe tiver
que se deslocar para o trabalho apenas daqui a dois ou três dias, podera combinar
A identificação das curvas de procura extremas levantou um pouco o véu sobre com algum colega um transporte conjunto, Poderá também começar a pensar em
alguns factores que podem ter influência na elasticidade procura-preço directa alterar os hábitos de condução ou, no limite, mais a médio ou longo prazo, adquirir
de um bem: desde logo a necessidade do bem ou a sua maior ou menor facilidade «m veículo que seja mais eficiente. Ou seja, quanto mais tempotiver para ajustar O
de substituição. comportamento, mais elástica é a procura de um determinado bem. Obviamente este
determinante está também relacionado com o grau de necessidade do bem.
Quanto mais essencial for um bem, mais rígido é o comportamento do consumidor
em relação a uma possivel variação do preço. Já foi identificado o exemplo de > peso que um determinado bem tem no total da despesa de consumo pode
um medicamento essencial à vida mas podem utilizar-se outros exemplos de ser também importante para explicar a elasticidade de um bem: quanto mais
produtos com elasticidade relativamente reduzida: os alimentos que compõem relevante for esse bem no total do orçamento, maior tenderá a ser a elasticidade
a base da alimentação ou a electricidade são outros dois exemplos. Obviamente
cois as pessoas começam a preocupar-se com o seu padrão de gastos.
que o contrário sucederá com bens que sejam facilmente substituídos por outros. Claramente a troca por outro bem só pode acontecer se houver disponibilidade
Por exemplo, se o leitor for um apaixonado por iogurtes e for indiferente perante “= outros bens. O exemplo da carne fresca pode ser utilizado neste âmbito.
as diferentes marcas, então se a marca que o leitor compra decidir aumentar Considere-se uma família que gasta, digamos, 20% do seu rendimento em carne.
muito o preço, o mais provável é trocá-la por outra marca que seja mais barata.
e a carne aumentar de preço, devido ao peso que exerce no orçamento muito
Em todo o caso, o bem genérico “iogurte” terá uma procura menos elástica do provavelmente haverá uma deslocação para outro tipo de bens (por exemplo,
que o “iogurte da marca Xº. conservas).

Também osprodutos que provocam dependência apresentam procuras relativamente Por detrás de qualquer um destes determinantes estão implícitas as preferências
rígidas: tabaco, bebidas alcoólicas ou jogo são exemplos de produtos que não sendo dos consumidores e, claro, tem que ser analisada a relatividade dessas
referências. Por exemplo, aquilo que é absolutamente necessário para um
No entanto, essa situação será convenientemente explicada no âmbito da concorrência perfeita, no consumidor pode ser completamenteirrelevante para outro. Aquilo que para um
Capítulo 9. Na altura o leitor perceberá que a descida do preço numa procura horizontal é inviável consumidor são dois bens exactamente iguais, para outro consumidor podem
porque ela não é propriamente uma curva de procura de um consumidor mas sim a procura dirigida
ser bens completamente diferentes até por questões que podem ser mais ou
a Uma empresa e que, devido a determinados pressupostos, não é possivel a essa empresa baixar o
preço do bem. menos difíceis de explicar: lealdade a uma marca, historial com um fornecedor

148 149
Cap. 5 - Elasticidades 3.2 Diferentes tipos de elasticidade

No Capítulo 4, aquando da identificação dos determinantes da procura,


ou influência por uma determinada publicidade são apenas alguns exemplos que
foi referido o rendimento como um dos seus principais determinantes.
podem ser utilizados.(9
Distinguiram-se também dois tipos de bens: 05 bens normais e os inferiores, Os
=ens normais são aqueles que, quando o rendimento aumenta, o consumidor
Tudo isto faz com que as avaliações possam ser relativas e até considerar-se O
tem tendência a aumentar a sua procura. Como tal, o primeiro quociente
mesmo bem como sendo diferente. Considere um bilhete para assistir ao jogo de
ca fórmula da elasticidade procura-rendimento é positivo. Como M e O são
futebol entre Benfica e Penafiel. Será que a elasticidade é a mesma se o jogo for à
:ambém positivos, então esta elasticidade para os bens normais será também
20º jornada ou à 32º jornada, a 3 jornadas do fim e podendo decidir o título? Será
positiva.
que o adepto fervoroso do Benfica, que tem folga orçamental, não considerará
essencial ir festejar o título com 65.000 adeptos? E o Gil Vicente-Benfica, a 4
“esmo com uma elasticidade procura-rendimento positiva, é possível distinguir
jornadas do fim, terá a mesma elasticidade que o Gil Vicente-Arouca? E será que
duas situações distintas: valores de elasticidade inferiores ou iguais à unidade e
isso pode influenciar as empresas a determinar os seus preços? Ainda que este
«=iores superiores à unidade.
aspecto apenas seja analisado mais à frente neste capítulo, a verdade é que se
pode desde já dizer que estes são elementos a ter em conta pelas empresas na
“o primeiro caso têm-se situações em que, quando o rendimento aumenta 1%,
determinação do preço dos seus produtos.E, claro, a importância dos jogos, o
= quantidade procurada aumenta menos do que essa proporção (ou no limite,
momento em que os mesmos são jogados, o adversário, o campo (havendo mais
=sactamente 1%). No segundo caso, face a um aumento de 1% no rendimento,
ou menos lotação): tudo isso influencia a elasticidade da procura dos bilhetes.
= quantidade procurada aumenta mas mais do que 1%. Estes casos particulares
são identificados pelos economistas como bens superiores (ou de luxo) e
»ormalmente estão associados ao consumo de bens que não são essenciais ou

5.2.2 ELASTICIDADE PROCURA-RENDIMENTO 2 são, inclusivamente, supérfluos.

*=r seu turno, os bens inferiores são aqueles que, face a um aumento do
Compreender o conceito de elasticidade permite estendê-lo facilmente = »engimento, o consumidor vai procurar menos. Foi identificado anteriormente
utilização da relação entre quaisquer duas variáveis. Assim, é facil concluir que ==s são bens que são geralmente substituídos por outros de melhor qualidade.
a elasticidade procura-rendimento (que identificamos por £,) mede a variação ==, sendo o tal primeiro elemento negativo, então a elasticidade procura-
percentual na quantidade procurada motivada por uma alteração percentual no »escimento para estes bens será também negativa.
rendimento do consumidor, tudo o resto constante. Formalmente, pode calcular
se o valor dessa elasticidade como

E, -90M.
* + limite poderá pensar-se numa situação de consumo em que independentemente de se ter
aM O
=" ou menor rendimento, o consumo do bem não sofre alterações. inclusivamente identificando
em que M é o rendimento do consumidor. > =semplo já utilizado anteriormente, no âmbito da elasticidade procura-preço directa, é possivel
752" num determinado medicamento para um doente crónico, sem o qual o doente não sobreviverá,
= =-mento do rendimento não conduzirá o doente a consumir mais unidades desse medicamento,
(e Este tipo de questões tem também uma abordagem económica, no âmbito da análise 02»
es que a diminuição do rendimento também não poderá alterar esse consumo. Como tal, nesse
mercados e da forma como as empresasutilizam o seu poder de mercado. O tratamento dos mercadss
articular, a que até podemos associar uma elasticidade procura-preço directa que é nula, a
é feito no Capítulo 9 do Livro. No entanto, as questões relacionadas com O aproveitamento do pose
Ds cade procura-rendimento também será nula.
de mercado são mais complexas e estão fora do âmbito deste livro.

150 151
Cap. 5 - Elasticidades 5.2 Diferentestipos de elasticidade

5.2.3 ELASTICIDADE PROCURA-PREÇO CRUZADA »rocura-preço cruzada entre as pilhas e os ratos sem fio será negativa, enquanto
2=e será positiva entre ratos sem fio e ratos com ligação porfio.

Associado à procura está ainda um terceiro conceito de elasticidade: elasticidade == ainda uma terceira hipótese que é a da não existência de relação entre dois
procura-preço cruzada. Esta elasticidade mede a forma como varia a quantidade »ers. De facto, se dois bens forem independentes, o aumento do preço de um não
procurada de um bem (em termos percentuais) face a uma variação do preço “="5 impacto na quantidade procurada de outro,pelo que a elasticidade procura-
de um outro bem (também ela medida em termos percentuais). Identificando a »=ço cruzada será nula. Por exemplo, o aumento do preço das pilhas não tem
elasticidade procura-preço cruzada de X em relação a Y por E,, é possível definir ="=tto na procura de manteiga.
formalmente esta elasticidade como:
* elasticidade procura-preço cruzada é ainda um critério frequentemente
== .izado para definir o âmbito do mercado de um produto: bens substitutos
com elasticidade procura-preço cruzada muito elevada fazem parte do mesmo
mercado e as empresas que os produzem podem concorrer mais ferozmente entre
O sinal da elasticidade é também ele dado pela primeira parte da fórmula, que » Obviamente, manteiga e pilhas estão em mercadosseparados e independentes.
representa a derivada da quantidade procurada de X em relação ao preço deY.No
fundo, essa componente mede a forma como se relacionam essas duas variáveis
e, consequentemente, a forma como os dois bens em causa se relacionam.
5.2.4 ELASTICIDADE PREÇO DA OFERTA
Para compreender totalmente esta elasticidade, utilizam-se vários exemplos.
Considere-se inicialmente o exemplo da manteiga e da margarina, que
são substitutos próximos. Se o preço da manteiga aumentar, sabe-se que = + siasticidade preço da oferta (E.) tem uma interpretação que não difere das
quantidade procurada de manteiga tenderá a diminuir, pelos motivos que foram “estantes: é a reacção da quantidade oferecida ao aumento percentual do preço
apresentados no Capítulo 4. No entanto, esta elasticidade mostra o efeito do 2= produto e pode ser definida formalmente como:
aumento do preço da manteiga na quantidade procurada de margarina. Neste
caso, estando a falar de bens substitutos, se o preço da manteiga aumenta, ag”
E; =

O |m
então a procura de margarina deverá aumentar (considerando que tudo o resto º Pp
se mantém constante). Nesse caso, a elasticidade procura-preço cruzada serz
positiva. »='s uma vez, O sinal da elasticidade depende do sinal do primeiro factor da
“mula que neste caso não é mais do que o declive da curva da oferta. Como
Se esta elasticidade é positiva para os bens substitutos, facilmente se conclui que =ss3 curva tem um declive positivo (consequência da lei da oferta), então a
será negativa para os bens complementares. Importa no entanto compreender ==sticidade preço da oferta será positiva.
esse raciocínio. Como tal, considere-se o exemplo da procura de ratos de
computador sem fios, que funcionam com pilhas.Se o preço destes ratos aumentar embém neste caso é possível comparar a elasticidade relativa da oferta para
então aumenta a procura de ratos com fios (que é substituto dos ratos sem fios, Wersos bens e utilizar termos semelhantes aos identificados na elasticidade
e diminui a procura de pilhas, que é bem complementar. Portanto, a elasticidade »rocura-preço directa: um bem terá oferta inelástica se a elasticidade for inferior

152 153
5.3 Elasticidade e despesa total
Cap. 5 - Elasticidades

a 1 e será elástica se esse valor superar a unidade. Por fim, terá elasticidade 5.2.5 ELASTICIDADES DA PROCURAE TIPO DE
unitária se o valor for exactamente igual à unidade. BENS: RESUMO

Tal como a procura, a curva da oferta pode apresentar duas situações extremas:
ser vertical ou horizontal, podendo a elasticidade tomar valores extremos Pest breve secção resume-se a informação sobre a forma como se podem

nestes casos. A oferta é perfeitamente rígida se a curva da oferta for vertical Wocar os bens, sendo que essa informação pode ser obtida através das
e perfeitamente elástica se a oferta for horizontal. Também a oferta é sentes elasticidades. À consulta da Tabela 5.1 permite obter essas conclusões
tendencialmente mais rígida no caso de curvas que sejam mais verticais.
Elasticidade Valor da elasticidade Tipo de bem
Epx<0 ordinário
É também importante identificar diferentes determinantes da elasticidade preço E. | Ea SS ii
a : dai
da oferta. Por exemplo, uma empresa que tenha produtos em stock à partida Elasticidade procura-preço| BR grass cu MEitenoude Veblen
terá uma elasticidade que é maior quando comparada com uma empresa que directa (Es) | Eol>1procura elástica
não tenha essa capacidade. Isso significa que mesmo que o preço aumente,= abaipodbi
empresa que tenha stock conseguirá fornecer o produto mais rapidamente, um= k ERrERREro a ra AEE do procuracom elasticidade unitária
vez que não tem que produzir mais quantidade. Também a disponibilidade ou Eissticidade procura- cassar,
a >
rendimento (E) ts E pr cmNOMAL
não de factores de produção pode afectar a elasticidade uma vez que influenciz | > :
pecÉE, Ê superioroudeluxo
directamente a capacidade produtiva. Na realidade, outros elementos que é | EosRSA = substitut
;
;influenciem s s
essa capacidade produtiva podem ser relevantes: ter uma melhor
Essticidade procura-preço E e ciasEm PE I E a Ereis

sta di cruzada (E) un essaEq E0 complementar es


E
tecnologia, ter mobilidade factorial, ter um processo de produção mais simples
e fetais E
ss aà ço peiosavos ARpndentes
E e
podem permitir à empresa responder de forma mais ou menos rápida e, assim. Es:
E ssticidade preço da em
ps > 1entre oferta
E qa
elástica
ate

ter um comportamento mais ou menos rigido em termos de produção, à medica


oferta (Ep) Ra | ofertainelástic
oferta com elasticidade unitária À
ques progptiniétiia:
Tabela 5.1 Elasticidade e tipo de bens
De resto, tal como na elasticidade procura-preço directa, também no caso da
oferta o tempo que a empresa tenha para responder a estímulos externos =
importante para determinar a elasticidade. Por exemplo, a curto prazo ums
empresa pode não conseguir reafectar por completo os seus recursos para sº
poder adaptar a diferentes condições de mercado. Neste caso apresenta ums 3 Elasticidade e despesa total
oferta mais rígida. Com o passar do tempo é possível que essas adaptações seja”
mais fáceis o que, tendencialmente, fará com que a oferta a longo prazo se»
mais elástica. tº cer o comportamento da elasticidade é importante para os diferentes
“es, tanto para as empresas como para os consumidores, uma vez que existe
relação entre a elasticidade procura-preço directa e a despesa total que
»>osumidor faz na aquisição desse bem. Para compreender essa relação é
e Estas intuições são exploradas de forma mais aprofundada nos Capítulos 7 e 8 destelivro. ente entender o significado desta elasticidade em particular.

154 155
Cap. 5 - Elasticidades 5.3 Elasticidade e despesa total

Considere-se a despesa total inicial de um consumidor (DT,) dada pelo produto “o importante como obter este resultado
matematicamente é perceber a
do preço pela quantidade adquirida, ou seja: == intuição. A procura ser inelástica significa
que, quando o preço aumenta, a
s-antidade procurada diminui numa quantidade perce
ntualmente menor do que
Dr, =PQ. = variação percentual do preço. Isso significa que
o consumidor não consegue
“e=gir com as quantidades ao aumento do preço, ou seja,
é pouco sensível à
Sabe-se ainda que uma variação do preço (4P) conduzirá a uma variação da sanação de preço (por várias razões), pelo que vai necess
ariamente gastar mais.
quantidade procurada (40). É possivel então identificar a despesa total no 2 significa que o efeito preço compensa o efeito
quantidade, uma vez que após
momento após a variação do preço (DT,) dada por: > =umento do preço, a despesa aumenta na zona
de procura rígida. Tal como,
»-=s,a fórmula já tinha referido.
DT; =[P+ AP)(0+ AQ) =PQ+PAQ+QAP+APAQ.
*2'cando o mesmo raciocinio, obtém-se uma conclu
são contrária no caso de
Tendo a despesa calculada para dois momentos, é possivel calcular a diferença == procura elástica: quando o preço aumenta,a quanti
dade procurada diminui
entre essas duas despesas, ou seja, =»='s do que percentualmente em relação ao aumen
to do preço. Como tal a
= cespesa do consumidor vai diminuir, uma vez que
este consegue deixar de
ADT =DT,-DT, =PO+PAQ+QAP+ APAQ-PQ = PAQ+QAP + APAQ. =>mprar o suficiente para compensar o aumento do preço.
Portanto, neste caso é
» «feito de redução da quantidade PAQ que domina.
Neste caso Epp (em módulo)
Caso se considere uma variação infinitesimal do preço, então AP será próxima de * superior à unidade,pelo que o resultado de ql1-Eu|] será
negativo e, assim,
zero, acontecendo o mesmo com AQ. Logicamente também APAQ será próxima
,
* cespesa total tem um sinal contrário ao da variação do preço.
de zero. Neste caso, e por aproximação, é então possível escrever
= sinda possivel identificar a terceira situação: o caso em que a
procura tem
ADT =PAQ+OAP. e=sticidade unitária. Neste caso, [E] =1 permite identificar
que, face a uma
san ação infinitesimal do preço, a despesa não tem qualquer
tipo de alteração, e
Na fórmula anterior PAQ refere-se ao efeito quantidade e OAP ao efeito preço. “orresponde à situação de despesa máxima,
efeitos esses que apresentam sinal contrário. Dividindo tudo por AP, e fazendo
sucessivos arranjos, é possivel escrever a expressão Estas três situações permitem relacionar o comportamento
da elasticidade
procura-preço directa ao longo de uma procura com
o comportamento da
ADI. 230. 0-0]1+B00 .0f1scyp]-O[1-Fod] “espesa. Para ilustrar essa relação utiliza-se uma procura linear,
sendo possível
»ster então a Figura 5.4, De resto, a figura mostra exactamente
tudo O que foi
cescrito anteriormente.
A partir desta expressão é possível relacionar o comportamento da despesa d=
um consumidor com a elasticidade procura-preço directa. começa por se analisar a situação em que a procura é inelástic
a, representada
»=.a parte da procura mais à direita no painel superior. Nessas circunstâ
ncias, um
No caso de um bem ter procura inelástica, o valor de Esp (em módulo) é inferior = *omento do preço, que representa uma deslocação da direita para
a esquerda na
unidade, logo a despesa total tem um comportamento de igual sinal à variação »ocura, conduz a um aumento da despesa do consumidor, tal
como identificado
do preço. Isto é, se o preço aumentar, a despesa também aumenta, anteriormente (neste caso, o efeito preço é superior ao
efeito quantidade). Pelo

156 157
Cap. 5 - Elasticidades 5.3 Elasticidade e despesa total

contrário, quando a procura é elástica (ou seja, na parte à esquerda da procura, no à partir daqui é possível utilizar exemplos da vida real para ver como as
painel superior), um aumento do preço faria decrescer a despesa do consumidor: empresas se podem comportar, de modo a poder aumentar a sua receita, de
o efeito quantidade supera o efeito preço. Na situação em que a procura tem acordo como o tipo de produto que colocam no mercado.E retorna-se ao futebol
elasticidade unitária, tinha-se verificado que uma (pequena) variação no preço para exemplificar.
não teria impacto na despesa do consumidor, sendo esse ponto referente ao
máximo da despesa do consumidor (os efeitos quantidade e preço igualam-se). Na já distante época de 1999/2000, o campeonato nacional decidiu-se na última
jornada. Porto e Sporting tinham os mesmos pontose, na altura, jogavam ambos
Esta relação entre elasticidade de despesa de consumo permite fazera associação fora de casa: o Porto viajou a Barcelos para defrontar o Gil Vicente e o Sporting
directa com a receita que as empresas têm (que, como é óbvio, são despesas a Paranhos para jogar com o Salgueiros.
do consumidor). Esta associação é ainda mais notória no caso do monopólio,
estrutura de mercado que será analisada no Capítulo 9. Para Os apaixonados por esses clubes, o jogo teve um carácter fundamental, por
'sso a procura pelos bilhetes para esses encontros era muito rígida. Com intuito
de aumentar a receita de bilheteira, olhando para a Figura 5.4 é simples perceber
aque as direcções de ambos os clubes teriam que aumentar o preço dos bilhetes.
Sem surpresa foi o que na realidade aconteceu.É por isso que, também no âmbito
do futebol, há equipas que por vezes decidem mudar a localização dos seus jogos
zara estádios maiores ou, noutros casos, equipas que decidem montar bancadas
adicionais para a visita dos clubes chamados grandes.

Jm outro exemplo com bens de procura inelástica é o dos combustiveis. Para


muitas pessoas o combustível é um bem essencial, Também neste caso a procura
é inelástica e, para aumentar as receitas, as empresas devem aumentar os preços.
Q

DN
Figura 5.4 Elasticidade e despesa total
do consumidor Em produtos de procura elástica, o comportamento deve ser o contrário. E na
DT
realidade, se O leitor atender à maioria dos produtos aos quais as grandes
superfícies fazem promoções, são produtos que são de procura elástica: nesse
caso, a diminuição dos preços será o motor do aumento das receitas das empresas.
*tém disso, como as grandes superfícies vendem centenas de produtos, muitas
vezes os consumidores são atraídos por essas promoções, gastando ainda noutros
produtos.

Contudo, é conveniente perceber que não se pode cair na tentação de dizer que
o objectivo das empresas é o de aumentar ou diminuir os preços (consoante
a procura seja inelástica ou elástica) de modo a que a receita seja máxima.

em
fundamental perceber que o objectivo das empresas não é maximizar a

158 159
5.4 Elasticidade, intervenção do Estado e impostos
Cap. 5 - Elasticidades

receita, mas sim maximizar o lucro. Nos capítulos referentes ao comportamento “este ponto é também importante perceber que a elasticidade pode ser um
das empresas e dos mercados esta situação será explorada em maior detalhe. =emento importante ao nível da eficácia de uma política fiscal. Por exemplo,
mas fica já a indicação de que as empresas só maximizam o lucro no ponto == o objectivo do Ministro das Finanças for aumentar a receita fiscal, de acordo
em que a sua receita é máxima no caso de terem custos que são constantes, com a relação entre elasticidade e receita, já sabe que só o deve fazer em

independentemente do nível de produção.Isto só acontece em situações muito s=odutos com procura inelástica. É aliás este o motivo pelo qual em momentos
particulares, uma vez que, regra geral, a produção de mais unidades conduzirá “= necessidade, os impostos são colocados em produtos com procura inelástica.

a custos que também serão maiores. No entanto alguns exemplos há em que o *=:embrando os últimos anos em Portugal, com intervenção externa, além do
nível de custos é independente da quantidade consumida pelos consumidores. somento generalizado dos impostos, os produtos mais afectados pelo aumento

Curiosamente os jogos de futebol podem ser um caso que se aproxima desta “= carga fiscal foram produtos como os combustíveis, o tabaco ou as bebidas
situação assim comoo transporte aéreo, em que o custo adicional de mais um »<oólicas.
passageiro é aproximadamente zero, até que se encha avião.
= mportante perceber um outro elemento relacionado com esta questão: quando
» Estado decide colocar um imposto sobre um determinado produto, quem é o
ssente que suporta uma maior parte do imposto - o consumidor ou o produtor?

5.4 Elasticidade, intervenção do Estado » resposta a esta pergunta é dada pela determinação da incidência económica
e impostos ==> 'mposto e, como muitas vezes em Economia, neste caso a resposta também é
sende. E depende das elasticidades.

No Capítulo 4, após identificação do equilíbrio de mercado, foram apresentadas » anteriormente se fez referência aos impostos indirectos. São impostos
várias situações de intervenção do Estado em relação aos efeitos da imposição »e rectos aqueles que incidem sobre as transacções de bens e serviços, como

de preços mínimos ou preços máximos. > “A (por oposição aos impostos directos que incidem sobre os rendimentos,
mo é o caso do IRS). Aqui trataremos dos efeitos económicos do lançamento

Além dessas intervenções, o Estado pode actuar no mercado lançando impostos E “= 'mpostos indirectos. O estudo dos efeitos do lançamento de impostos directos

subsídios, com efeitos também ao nível do equilibrio, Quando o Estado intervém “> normalmente no âmbito da Macroeconomia.

sobre um mercado, normalmente a sua actuação é pautada pela tentativa de


corrigir uma falha de mercado, causada por externalidades ou por assimetrias de “orsidera-se nesta análise a possibilidade de dois tipos diferentes de impostos:
informação.Isso acontece fundamentalmente se o mercado não atingir de forma =s impostos específicos e os impostos ad valorem. No primeiro caso está-se na

automática o excedente económico máximo, tal como se discutirá no Capítulo 10 »»=sença de um imposto por unidade vendida (ou seja, independente do nível de
==[0) enquanto o imposto ad valorem é aplicado através de uma determinada

No entanto, o Estado também pode intervir num mercado que funciona === sobre o preço sem imposto. O Imposto Sobre Veículos é um imposto
adequadamente. É o que pode acontecer quando se decidem lançar impostos específico: trata-se de um adicional sobre o preço, tabelado em função do tipo

sobre as transacções, chamados de impostos indirectos, como é o caso do IVA, cujo “= veiculo, da sua cilindrada, das emissões de CO,, do ano de fabrico e do tipo de

objectivo é obter receitas fiscais para financiar programas de despesa pública do m»mbustivel que consome. Por seu turno, o IVA é um exemplo de um imposto ad

interesse dos governos. Será este o contexto da análise que a seguir se apresenta, ou == sem, que consiste num adicional, aplicado sobre o preço final de venda, à taxa

seja, na ausência da intervenção do Estado os mercadosfuncionam adequadamente De 15% (taxa normal), 15% (taxa intermédia) ou 6% (taxa reduzida). Por exemplo,

160 151
Cap. 5 - Elasticidades 3.4 Elasticidade, intervenção do Estado & impostos

um electrodoméstico que esteja à venda por €100 sem IVA, terá um preço final 2 que nos vai preocupar fundamentalmente nesta secção não é a incidência

de €123.69 =oal dos impostos indirectos, mas sim a sua incidência económica, ou seja,
>s impactos dos impostos no bem-estar do consumidor e do produtor, medido
Podemos ainda considerar impostos mistos, que têm uma vertente de imposto >sio excedente económico. Veremos também que a incidência económica é

especifico e uma vertente de imposto ad valorem. scependente da incidência Legal de um imposto. Isto significa que os efeitos
=conómicos de um imposto são independentes de quem faz a cobrança e entrega

Em geral, os impostos indirectos fazem com que o preço que o consumidor paga 2a receita fiscal ao Estado.

e que determina as suas decisões de compra, P,, seja superior ao preço que o
produtor arrecada e que determina as suas decisões de produção, P.. A diferença ando se calcula o equilibrio de mercado na presença de um imposto,é preciso

entre esses valores é o valor do imposto, ou seja, na presença de impostos “er em atenção que, para além das condições habituais, há uma separação entre
indirectos no montante |, observamos que P, = P. +. »"eço na produção e preço no consumo,devido ao imposto. Assim:

- (Caso se trate de um imposto específico, ! = T , valor fixo.


D: Q=f(P) f'<o
- Caso se trate de um imposto ad valorem, | = t.P; sendo t a taxa de 5: O=9(P;) 9'>0 ,
imposto
0,=0,

— Caso de trate de um imposto misto, /=T +t.P, em que T é a componente P=P,+!

de imposto específico e t.P, a componente ad valorem à taxa t.

O Estado decide quem tem a responsabilidade Legal de entregar a receita fiscalao


sistema tributario. Essa decisão define a incidência legal do imposto. Pensemos 5.4.1 IMPOSTOS ESPECÍFICOS
no IVA. O consumidor final paga por um bem um preço que inclui o IVA. O valor
é, então, recolhido pelo vendedor e entregue ao Estado.Isto significa que, no
caso do IVA, a incidência legal é sobre o vendedor, que na verdade recolhe o “ensideremos o exemplo da Secção 4.5, em que o equilíbrio de mercado consistia
valor do imposto. Se a incidência legal fosse sobre o consumidor, o preço a pagar => transacção de 100 unidades (potes de faiança) a um preço unitário de €50, a
seria sempre o preço sem IVA e, depois, o consumidor teria de preencher umz partir de curvas de procura e oferta lineares. Vamos supor que o Governo decide
declaração para o sistema tributário onde dissesse qual a sua despesa portipo =nçar nesse mercado um imposto especifico de €5 por pote. Então o modelo
de bem, para que depois lhe fosse cobrado o imposto correspondente. Esse seriz sera enunciado da seguinte forma:
um sistema muito mais inconveniente do que aquele que existe.
D: 0,=200-2P,
5: 0,=-)5+058
A=P+5AG=0,

m Convém não esquecer que um imposto como o IVA é sempre calculado sobre o preço sem IVA, Do
seja, se Pfor o preço sem IVA, o preço final a pagar pelo consumidor será 1,23P e o imposto é 0,737
* solução do problema, resolvendo o sistema de equações, permite obter:
enquanto que se Pforo preço final, o preço sem IVA será P/1,23 e 0.23(P/1,23) é o valor do imposts
admitindo que o IVA é aplicado à taxa de 235, 2 =52,78,P,=47,18 e 0,=0,=94,45.

162 163
Cap. 5 - Elasticidades 5.4 Elasticidade, intervenção do Estado ii

Uma vez que o preço no consumo difere do preço na produção, o novo equilíbrio sescrita pela curva S. Mas não existe qualquer contracção da oferta, pelo que
é composto por esses dois preços, mas continua a verificar-se a igualdade entre » oráfico da Figura 5.5 é qualitativamente diferente daquele apresentado,por
as quantidades procurada e oferecida. Consideremos que a incidência legal do »»emplo, na Figura 4.14, no capítulo anterior.
imposto é sobre a produção, ou seja, é o vendedor que tem de recolher o valor
da receita fiscal para a entregar ao Estado. Graficamente, podemosinterpretar == Figura 5.5 está também representada a incidência económica do imposto, ou
a diferença entre os preços de equilibrio no consumo e na produção como uma »= 2,2 forma como o imposto se reparte pela sociedade. A incidência económica
visão distorcida da oferta que os consumidores têm, fazendo com que o equilíbrio “2 cula-se tendo como ponto de referência o equilíbrio de mercado antes de
passe do ponto E para o ponto F, conforme ilustrado na Figura 5.5, já que os posto. Assim, como antes de imposto o preço unitário era €50 e como depois do
produtores estão, no fundo, a cobrar 0 impostoe, por isso, a fazer subir os preços. oosto, o consumidor tem de pagar €52,78, dizemos que a incidência económica
== imposto sobre os consumidores é de €2,78 por unidade transaccionada. Pela
m=sma lógica, sendo o preço na produção €47,78 após o imposto e sendo €50
s"*=s de imposto, dizemos que o imposto recai em €2,22 sobre a produção. Ou
3, |5=2,78 e |;=2,22,sendo que [, +l, =/. Portanto, a totalidade do imposto
>= unidade transaccionada tem de ser igual à soma das incidências económicas
==5re o consumo e sobre a produção.
Q
94,45
convém ficar claro que, apesar de o imposto poder legalmente ser recolhido pelo
Figura 5.5 Exemplo e generalização do efeito de um imposto especifico de valor |, de cujo
»endedor, acrescentando-o ao preço na produção para obter o preço no consumo,
valor,|, recai sobre os consumidores e |; recai sobre os produtores, distorcendo a quantidade
transaccionada de Q, para O, > mposto tanto recai no consumo como na produção,já que há uma redução
“= quantidade transaccionada, O imposto, por fazer reduzir a quantidade de
==nsacções, recai em ambos os lados do mercado e altera as decisões de compra
É um erro frequente dizer que, após o imposto, a oferta sofre uma contracção = venda, daí que digamos que os impostosindirectos são, em geral, distorcionários.
da curva S para a curva S, conforme ilustrado nos gráficos da Figura 5.5. Na
verdade, a oferta não sofre qualquer contracção. A oferta continua a ser a curva = respeito da incidência de um imposto indirecto, Lembremo-nos da atenção que a
S, no sentido em que é essa a função que relaciona preço e quantidade óptima comunicação social dedicou ao impacto do aumento do IVA na restauração: apesar
a produzir. O que se passa é que, aos olhos do consumidor, a oferta é S,, visão do 2= o IVA ser um imposto sobre o consumo, houve mais protestos por parte dos
mercado distorcida pela presença do imposto, daí que o equilíbrio após imposto »sentes económicos dedicados à restauração e à hotelaria, que viram o seu volume
se calcule em referência a essa curva, no ponto F. À distância na vertical entre S >= negócios reduzir-se, do que por parte do consumidor, que se adaptou ao novo
e S, corresponde ao valor do imposto. Como se trata de um imposto especifico, 2 =stema fiscal e alterou as suas decisões de consumo. Este exemplo mostra bem
distância é constante e iguala |, daí que S, seja paralela a S. =“e um imposto sobre as transacções tanto afecta o lado do consumo como o lado
“= produção. Para além disso, o exemplo mostra que quem tem mais dificuldade
Como se admite que, Legalmente, é o produtor a ter a responsabilidade de =madaptar-se e em mudar as suas decisões sofrerá mais com o imposto.
recolher o imposto sobre as transacções e a entregá-lo ao Estado, o imposto é
acrescentado ao preço na produção para obter o preço pago pelo consumidor. “= realidade, o imposto tem maior incidência económica sobre o lado do mercado
Assim, não é de estranhar que o consumidor veja a oferta S, no lugar da oferta com menor elasticidade. Pensando no sector da restauração e da hotelaria, é fácil

164 165
Cap. 5 - Elasticidades
5.4 Elasticidade, intervenção do Estado e impostos

perceber que o lado da oferta tem muito mais dificuldade de adaptação do que o “= storção criada no mercado devido ao imposto, pelo que o gráfico da Figura 5.6
lado da procura, pelo que quaisquer alterações nos padrões de consumo têm um * qualitativamente diferente do apresentado na Figura 4.15 do capítulo anterior.
impacto importante no volume de vendas. Nesse caso, a distorção nas escolhas
dos agentes económicos que o aumento do imposto causou, pesou mais no lado A
P
da oferta do que no lado da procura, já que os consumidores simplesmente
5
procuraram alternativas de consumo, enquanto os hoteleiros com determinada
capacidade instalada não se conseguiram adaptar a'curto prazo.
Figura 5.6 A incidência P,
=conómica de um imposto . Ca '
Em geral, para qualquer tipo de imposto indirecto (específico, ad valorem ou rdirecto é independente da IH Pl E =maAh --+-26. E
incidência Legal Ii. ' |
misto) verifica-se a igualdade: apo Seas E 1 D
P, E
| E 1 ' D,
dsE q Q

No exemplo numérico apresentado na Figura 5.5, se calcularmos os rácios * incidência legal de um imposto diz, portanto, respeito à responsabilidade de
referidos, observamos que &=1,25. Este é também o valor do rácio das entrega do valor do imposto ao Estado. À incidência económica diz respeito à
elasticidades por ordem inversa, calculadas no ponto de equilibrio antes de “2sma como o impostorecai sobre a sociedade. Concluímos aqui que a incidência
imposto (ponto E). Deixamos ao cuidado do Leitor verificar que, nesse ponto =conómica é independente da incidência Legal do imposto. A incidência legal

Es =1,25 e que E=1, pelo que se verifica a igualdade entre os rácios e =zenas influencia a forma como o gráfico é desenhado.
confirma-se a conclusão de que o lado do mercado com um comportamento mais
rígido, sofre uma maior incidência económica do imposto, devido à sua maior * oistorção provocada pelo imposto tem um custo económico que pode ser
dificuldade de adaptação a alterações de preços. seliado pela perda de excedente que resulta da redução de transacções após
> 'mposto. À essa perda de excedente económico chamamos perda pura do
É curioso verificar que o mesmo ponto de equilíbrio após impostoiria ser obtidc postotio), já que é excedente económico que, simplesmente, desaparece. A
se fosse o consumidor a ter a responsabilidade Legal de entregar o imposto 30 «eceita fiscal do estado é oriunda de excedente de consumidor e de excedente
Estado. Nesse caso, 0 consumidor pagaria ao produtor o preço P,, mas teria ds “= orodutor antes de imposto, conforme ilustra a Figura 5.7.

entregar às Finanças, directamente, o valor | do imposto, ficando o preço, nz


prática P,. Nesse caso, seria o produtor a ter uma visão distorcida da procur= >> exemplo que temos vindo a apresentar, a receita fiscal ascende a
conforme ilustra a Figura 5.6 num caso geral. Na presença de um imposto que 55 94,45=€472,24.. Essa carga fiscal é oriunda do excedente do consumidor,
recaia legalmente sobre o consumidor, o equilíbrio de mercado passa do pontes »o valor |, x0=€262,56 (rectângulo 1 na Figura 5.7) e oriunda do excedente do
E para o ponto F. Neste caso, sendo os produtoresa ter uma visão distorcida dz »odutor em €209,68=/, x OQ (rectângulo 2 na Figura 5.7).A perda pura ascende
procura, torna-se para eles relevante a curva D, e não a curva D. » €153,88, valor da redução de excedente económico; uma parte correspondia
» excedente do consumidor (triângulo A no gráfico da Figura 5.7) e outra
À semelhança da situação em que o imposto recai Legalmente sobre o produtor
não há qualquer contracção da curva de procura: trata-se apenas de ums
» “ver nota 17 do Capítulo 4,

166
167
Cap. 5 - Elasticidades 5.4 Elasticidade, intervenção do Estado e impostos

correspondia a excedente do produtor (triângulo B no gráfico da Figura 5.7). >= ponto de vista algébrico, encontrar a solução de equilibrio de mercado usando
antes de imposto. A Tabela 5.2 resume toda esta informação. =” imposto ad valorem é muito semelhante ao processo de encontrar a solução
>="ante o lançamento de um imposto específico.

+emitindo que a incidência legal do imposto é sobre o produtor, graficamente a


= “erença está no aspecto da oferta distorcida aos olhos do consumidor: em vez
Figura 5,7 Receita fiscal e
= Receita Fiscal == ser paralela à oferta, à distância do imposto, sofre uma rotação. A distância
perda pura genericamente
p- Perda Pura de resultantes de um imposto eve S,eS é, como antes, o valor do imposto, só que como o imposto é “sobre
Ro específico de valor | = valor”, quanto maior o preço, maior o imposto, logo quanto mais para cima no
s=fico se está, maior a distância entre S, e S, distância essa que é sempre igual
| Q Õ, 2 > 2. Pode ver-se esta situação na Figura 5.8.
1

Excedente antes Excedente após Imposto Perda Total


de imposto imposto (1) pago (2) Pura (3) (1)+(2)+(3)
Consumidor 2.500 2.229,85 262,56 El | 2.500

Erodutar a uub ERRO |ME |ab amo ec


Total | 4.500 401401 | 47224 13,88 4.500 a
valorem à taxa É
Tabela 5.2 Variação no excedente econômico após imposto

5.4.2 IMPOSTOS AD VALOREM

Voltemos ao exemplo que temos vindo a tratar e imaginemos que, em vez de um


5.4.3 IMPOSTOS MISTOS
imposto específico, passamos a ter um imposto ad valorem à taxa de 10%. Para se
encontrar o novo equilíbrio de mercado, basta resolver o sistema de equações:
-m imposto misto tem uma componente específica e uma componente ad
D: 0,=200-2P, »siorem. O valor do imposto será, então, |=T +t.P. em que T é a componente de
S: 0,=-25+2,5P, mposto específico e t.P, a componente ad valorem à taxa t.
P=P+018 n 0,=0,
“oltando ao exemplo que temos vindo a utilizar, se o imposto aplicado sobre
Fica ao cuidado do leitor verificar que no novo ponto de equilíbrio a incidência > mercado tivesse uma parte especifica, no valor de €5 por unidade do bem
económica do imposto é /,=2,66 e |,=2,15, levando a P,=52,66, P.=47,87 “ansaccionado, acrescido de um adicional de 10%, então para encontrar o novo
e 0,=0.=94,68. souilíbrio de mercado, teríamos de resolver o seguinte problema:

168 169
Cap. 5 - Elasticidades
5.4 Elasticidade, intervenção do Estado e imp: ostos

D: 0,=200-2P, tanto os produtores como os consumidores, já que a quantidade transaccionadavai


S: O =-25+2,5A. aumentar, aumentando o excedente económico para ambos os lados do mercado.
P=5+P,+0,1P, À 0,=0,
S
A
Pp
Fica também ao cuidado do leitor verificar que no novo ponto de equilíbrio a
incidência económica do imposto é [,=5,32 e |,=4,26, levando a P,=55,32, &
(DS V :
P,=45,75 e 0,=0,=89,36. Figura 5.10 Incidência vip | Is
económica de um subsídio , Ú 1 !
específico à produção no valorv P, “1 da na, a
Graficamente, observamos uma rotação no declive da oferta com a distorção do
imposto (S;), devido à componente ad valorem, mas também a uma deslocação e q D
na vertical, correspondente à componente de imposto específico. A análise do
impacto do imposto em termos de excedente econômico em nada difere dos
% O Q
casos anteriores. O exemplo genérico pode ser consultado na Figura 5.9.

“om o subsídio, o Estado passa a ter uma despesa. Neste caso, essa despesa será
“2. Uma parte dessa despesa permite aumentar o excedente do consumidor em
relação ao ponto sem intervenção (zona B na Figura 5.11) e outra parte permite
Figura 5.9 Incidência
zumentar o excedente do produtor (zona À na Figura 5.11). Há, no entanto, uma
económica de um imposto
misto, com componente sarte da despesa do Estado que não se transforma em excedente económico
especifica T e componente ad = que consiste na perda pura da politica, por se estar a distorcer as decisões
valorem à taxa t
cptimas. Em geral, a atribuição de um subsídio prende-se com critérios éticos,
políticos e morais, já que do ponto de vista de eficiência económica há um
sesperdício que corresponde à perda pura,identificado na Figura 5.11 como a
area dotriângulo mais escuro entre O, e Q,.

5
R
5.4.4 SUBSÍDIOS P

si
Pp, E
nc cccccoao

Figura 5.11 A perda pura de


O tratamento algébrico relativo a um subsídio é idêntico ao de um imposto: Y)'p.- band
em subsídio à produção é uma a E
basta encarar o subsídio como se fosse um imposto de sinal negativo. À Figura parte da despesa do Estado Ps
4
ESA Se MENgue Sa Ee

1D/pemremereeeo
5.10 representa o efeito de um subsídio específico à produção de valor v.

ho ser atribuído o subsídio, aos olhos do consumidor, cada unidade do produto fica


mais barata num montante idêntico ao do subsídio. Esse subsídio vai beneficiar

o
170
171
Cap. 5 - Elasticidades Questões de revisão

5.4.5 CASOS PARTICULARES quantidade oferecida é sempre a mesma. Pode tratar-se, por exemplo, da oferta
se uma obra de arte. Como as obras de arte são únicas e irrepetíveis,a quantidade
oferecida não depende do preço. De um ponto de vista puramente conceptual,
Nem sempre um imposto indirecto ou um subsídio tem efeitos distorcionários, = tributação de transacções de obras de arte é, portanto, eficiente, ja que não
isto é, afectando as quantidades de equilíbrio. A distorção só surge quando se gera qualquer distorção: a perda de excedente do produtor corresponde à receita
altera a quantidade transaccionada, ou seja, quando as decisões dos agentes &scal e não existe perda pura (ver Figura 5.13).
económicos se modificam perante a intervenção do estado. Há situações em
que o lançamento de um imposto não tem efeitos distorcionários. Um dos casos
em que isso acontece surge quando a lei da procura não se aplica e a procura
é vertical, ou seja, os consumidores adquirem sempre a mesma quantidade Figura 5.13 O lançamento de
independentemente do preço. Trata-se uma situação de um bem essencial sem um imposto num mercado em
que a oferta é perfeitamente
qualquer possibilidade de substituição. Significa que a procura tem elasticidade
rigida não tem efeitos
igual a zero (ou seja, é totalmente rígida). distorcionários

Neste caso, se for lançado um imposto, ele será totalmente suportado pelo

oY
consumidor e não existirá qualquer perda de excedente económico, já que a
redução de excedente de consumidor corresponde à receita fiscal do imposto. A
Figura 5.12 ilustra esta situação.
Questões de revisão
Por muito que seja eticamente condenável tributar as transacções de um bem
essencial sem possibilidade de substituição, é eficiente fazê-lo, já que é um
1. Comente a seguinte afirmação: “A elasticidade procura-preço directa é
imposto que não gera distorções nas decisões dos agentes econômicos.
sempre negativa”

2. Qual o motivo para que numa procura linear, a elasticidade procura-preço


directa não seja sempre constante?

Figura 5.12 O lançamento 3, “Se uma empresa quiser aumentar as suas receitas, deve aumentar o preço
de um imposto indirecto num do produto que vende.” Comente esta afirmação.
mercado em que a procura é
perfeitamente rigida não tem 4. Discuta a seguinte afirmação: “Quando um governo promove o aumento
efeitos distorcionários do imposto sobre o tabaco, esse imposto incide apenas sobre o produtor,
pois é este quem entrega o imposto ao Estado”.

Q 5. Comente a afirmação: se não existirem falhas de mercado, quanto maior


a elasticidade da procura ou da oferta, maior a perda de excedente

O mesmo se pode dizer acerca da tributação das transacções de um bem que econômico causada pela intervenção do Estado, seja lançando um imposto

tenha uma oferta que não é influenciada pelo preço: seja qual for o preço, a indirecto, seja regulando um preço.

172 173
Teoria do consumidor

6.1 As possibilidades de consumo e a restrição


orçamental 177
6.2 O conceito de preço relativo de um bem 180
6.3 Axiomática de preferências e as curvas de
indiferença 182
6.4 Taxa marginal de substituição 185
6.5 Curvas de indiferença e função utilidade 190
6.6 Escolha óptima 195
6.7 Análise de estática comparada: efeitos de alterações
de preço e de rendimento 199
6.8 Curva de Engel: bens normais e bens inferiores e01
6.9 A curva da procura individual eos
6.10 Efeito substituição e efeito rendimento eos
6.10.1 Casos especiais o13

Questões de revisão 215

175
* teoria do consumidor pretende, basicamente, responder a duas questões
fundamentais: por um lado formalizar a escolha óptima de consumo e, por

CONCEITOS-CHAVE outro, analisar como sealtera a escolha óptima perante variações de preços e
rendimento disponivel para o consumo.

curva de Engel Leis de Gossen Como o objectivo é analisar o comportamento do consumidor, vamos sempre
curva preço-consumo monotonia de preferências considerar que os preços de mercado e o rendimento disponível são variáveis
=xógenas, que determinam as escolhas de consumo, mas que não explicamos
curva de procura individual possibilidades de consumo reste modelo.

curva de indiferença preço relativo de um bem


Para formalizar o conceito de escolha óptima, hã que ter em atenção que é
desejabilidade do consumo racionalidade necessário conjugar dois elementos essenciais: por um lado, reconhecer que o
efeito rendimento restrição orçamental consumidor enfrenta restrições às suas escolhas, impostas pelas variáveis exógenas
= por outro, que o consumidor escolhe em função das suas preferências. É, pois,
efeito substituição de Hicks taxa marginal de substituição necessário formalizar ambos os elementos: restrições ao consumo e preferências.
efeito substituição de Slutsky transitividade de preferências Comecemos pelas restrições ao consumo,recorrendo a um exemplo.

escolha óptima utilidade marginal

função utilidade via de expansão do rendimento


8.1 As possibilidades de consumo e a
restrição orçamental

maginemos que o Paulo é um consumidor que tem €100 para gastar em bens
=imentares (Y, vendidos a peso) e em horas de lazer (X). No país do Paulo, cada
*g de bens alimentares custa €5, enquanto cada hora de lazer custa€10. Se tem
£:00 para gastar nesses dois bens, no máximo poderia adquirir 20kg de bens
=)mentares se não adquirir horas de lazer, ou então poderia adquirir 10h de
actividades de lazer, se não precisasse de gastar dinheiro em alimentação.

Esses dois pontos (X,Y) de coordenadas (0,20) e (10,0) são dois cabazes de
consumo possiveis. Existem muitos outros, desde que o Paulo, na sua aquisição,
»ão gaste mais de €100. Por outras palavras, podemos definir o conjunto de

176 177
Cap. 6 - Teoria do consumidor
6.1 As possibilidades de consumo e a restrição orçamental

cabazes (X,Y) compostos por X horas de lazer e por Y kg de bens alimentares,tais


orçamental desloca-se: um aumento dos preços e/ou uma redução do rendimento
que a despesa de consumo não ultrapasse €100, ou seja:
*az contrair o espaço das possibilidades de consumo, enquanto uma redução de
preços e/ou um aumento do rendimento faz expandir esse espaço. No entanto,
10x+5y <100
uma alteração ceeteris paribus do rendimento Leva a uma deslocação paralela da
restrição orçamental, enquanto uma alteração de preços faz alterar o seu declive.
Esta condição define o conjunto das possibilidades de consumo, que é delimitado
“Mas porquê? Pensemos num aumento do rendimento: a deslocação é paralela,
superiormente pela recta da restrição orçamerital.A restrição orçamental é o conjunto
porque para os mesmos preços o consumidor pode comprar mais de ambos os
de cabazes de consumo que esgotam o orçamento disponível. A figura representa,
sens.(b Para além disso, o declive é Em o que não depende de M. Se estivermos a
a sombreado, o conjunto das possibilidades de consumo,e a restrição orçamental
“alar de um aumento de preços de apenas um dos bens mantendo o rendimento
constante, vai observar-se uma redução de as . Então, com o mesmo rendimento
pode comprar-se menos quantidade do bem cujo preço aumentou (caso não se
comprasse nada do outro) e, necessariamente, haverã uma alteração do declive
E - No entanto, se os preçosse alterarem na mesma proporção (ambos duplicam,
10X+5y=100
por exemplo) o declive é o mesmo e assiste-se a uma redução do espaço
Figura 6.1 Possibilidades de orçamental semelhante à de uma redução do rendimento. Para evitar confusões,
consumo
E frequente fazer-se uma análise de estática comparada, ou seja, varia apenas
uma variável de cada vez, mantendo tudo o resto constante, como veremos na
Secção 6.8. Estas diferentes alterações podem ser analisadas nas Figuras 6.2 € 6.3.

Estes conceitos estão a ser discutidos num contexto em que se considera a despesa
2º consumo com apenas dois bens para que haja facilidade na representação
Em termos genéricos, se M representar o orçamento disponível para consumo, a
gráfica. Tudo o que se verá neste capítulo não perde generalidade por se utilizar
restrição orçamental tem declive = e terá a expressão: esse contexto simplificador. A generalização para n bens é imediata, no entanto
r

a restrição orçamental deixaria de ser uma recta e passaria a ser um hiperplano:


pX+py=Mey=M By.
Pp, Py PMPA. +PX=M.

A quantidade máxima que o consumidor pode adquirir do bem Y será dada,


Sendo a análise matemática semelhante em tudo aquilo que se fará neste capítulo, a
então, por ê e a quantidade máxima que pode adquirir do bem X será S . Estes
representação gráfica deixaria de serviável, pelo que se optará sempre por apresentar
valores, no fundo, representam o poder de compra ou o rendimento real: o
= teoria do consumidor admitindo que o orçamento M é utilizado para consumir
e =r são a quantidade máxima que se pode comprar de cada bem dado um
apenas dois bens. Pode, no entanto, ser convenienteutilizar bens compósitos, ou seja,
rendimento (nominal) M.
“m bem genérico que representa um conjunto de bens. É o caso, por exemplo, do
estudo da escolha óptima de consumoentre bens alimentares e actividadesde lazer.
Sempre que há uma alteração das variáveis exógenas (neste contexto, isso
significa alteração de preços dos bens e/ou alteração do rendimento) a restrição
» Se estivermosa falar de um bem normalVoltaremos a este assunto na Secção 6.8.

178
179
Cap. 6 - Teoria do consumidor 6.2 O conceito de preço relativo de um bem

Continuamos a ter duas variáveis endógenas, o que permite uma análise gráfica 2 preço relativo 10/5, ou seja 2. Isso significa que o bem X tem um valor igual
viável, mas estamosa falar de um grande conjunto de bens e serviços. zo dobro do valor do bem Y, pelo que, caso se tratasse de um mercado de troca
recta, sem moeda, seria necessário ter duas unidades do bem Y para dar em
YA
oca de uma unidade do bem X.

+ssim sendo, o preço relativo do bem X representa a taxa à qual os bens se trocam
»o mercado. No exemplo, no mercado troca-se 2kg de bens alimentares por 1h de
Figura 6.2 Alteração da
PX+PY=M restrição orçamental perante =zer. No fundo, este preço relativo é o valor de troca dos bens um pelo outro.
uma variação cacteris paribus
dos preços
O valor de troca é, no entanto, diferente do valor atribuído pelo consumidor
z mais uma unidade de um bem, o que por vezes se designa como o valor de
«50. À diferença pode ser significativa. Considera-se que foi Adam Smith quem
mortalizou o que veio a ser conhecido como o paradoxo do valor, que apresenta
stamente a diferença entre esses dois conceitos da seguinte forma:

Às coisas que têm o maior valor de uso têm, em geral, pouco ou nenhum valor
de troca; e, pelo contrário, as que têm o maior valor de troca têm, geralmente,
pouco ou nenhum valor de uso. Nada é mais útil do que a água: mas com ela
Figura 6.5 Alteração da restrição praticamente nada pode comprar-se:(...) Pelo contrário, um diamante não tem
orçamental perante uma variação
praticamente qualquer valor de uso; no entanto, pode normalmente obter-se
cesteris poribus do orçamento parz
consumo grande quantidade de outros bens em troca dele.t)

Efectivamente, um copo de água pode ter um valor de uso bastante maior do


2ue um diamante, em especial no meio do deserto do Sahara, mas o preço de
mercado de um diamante é muito maior do que o da água. O exemplo tem a
»rtude de ilustrar bem que o valor relativo de um bem no mercado pode diferir
muito do valor desse mesmo bem do ponto de vista de satisfação (utilidade)
que advém do seu consumo. Ambos os pontos de vista têm de ser levados em
6.2 O conceito de preco relativo de um conta na escolha óptima do consumidor. O valor relativo de um bem no mercado
bem está, como se viu, implícito na restrição orçamental. O valor relativo de um bem
que resulta do seu consumo ou da possibilidade do seu consumo depende das
características individuais do consumidor, em especial, resulta da sua estrutura
O declive da restrição orçamental, em valor absoluto, é dado por ne .À esse valor de preferências, assunto a que nos vamos dedicar nas próximas secções.
chamamospreço relativo do bem X e representa a relação entre o valor do bem X
o
e o valor do bem Y no mercado. No exemplo acima, o Paulo enfrenta no mercado 2 In Smith, A. (1999) “Riqueza das Nações” FCG, 4º edição Vol. |, pi17.

181
6.3 Axiomática de preferências e as curvas de indiferença
Cap. 6 - Teoria do consumidor

os não preferidos. Na Figura 6,4, essa curva está identificada com |, e contém,
6.3 Axiomática de preferências e as cortanto, todos os cabazes que são indiferentes ao cabaz À, isto é, que dão ao
curvas de indiferença consumidor exactamente a mesma satisfação.

O axioma de desejabilidade leva a que as curvas de indiferença sejam


A axiomática de preferências permite obter um sistema de ordenação de cabazes
negativamente inclinadas, já que em relação ao cabaz À, todos os cabazes
de consumo e está subjacente à avaliação que o consumidor faz do consumo
diferentes têm de estar necessariamente localizados nos quadrantes 2 e 4.
de um bem. É importante frisar que este sistema é independente da dimensão
do espaço das possibilidades de consumo, ou seja, um consumidor é capaz de
ordenar vários cabazes de consumo em função das suas preferências, mesmo que
não os possa comprar porque não tem dinheiro para isso.
Quadrante 1:
conjunto dos cabazes
Em geral, podemos dizer que dois cabazes dizem-se indiferentes se derem preferidos a À
ao consumidor a mesma satisfação de consumo. No espaço (X,Y), ao conjunto Figura 6.4 Desejabilidade (dão maior satisfação)
(monotonia forte das
de cabazes indiferentes entre si chama-se curva de indiferença. Às curvas de
preferências)
indiferença são construidas tendo por base a axiomática de preferências, pelo
que terão um conjunto de propriedades que advém desse conjunto de axiomas.
Vejamos os três axiomas essenciais para a construção deste corpo teórico. Quadrante 4 e

Desejabilidade (ou não saciedade): o consumo é desejável, ou seja, consumir mais


quantidade dá maior satisfação ao consumidor.Na Figura 6.4, considere-se
o cabaz A. Este axioma corresponde a dizer que os cabazes pertencentes ao Esta divisão de espaços, entre cabazes preferidos e indiferentes, pode ser feita
quadrante 1 são os cabazes preferidos ao cabaz À, ja que são os que contêm mais em relação a qualquer cabaz, o que nos leva ao 2º axioma:
quantidade de ambos os bens.
Completude: as preferências são completas, ou seja, em qualquer ponto do
Este axioma leva também a que os cabazes indiferentes ao cabaz À estejam espaço existe um cabaz que pertence a uma curva de indiferença, o que
localizados nos quadrantes 2 e 4: 05 cabazes indiferentes não podem ter mais de quer dizer que o consumidor consegue sempre ordenar cabazes em função
ambos os bens, nem menos de ambos os bens. das suas preferências, identificando os que são indiferentes e os que são
preferidos.
Definindo curva de indiferença como o conjunto dos cabazes indiferentes entre
si, fica traçada uma fronteira entre o espaço de cabazes preferidos ao cabaz À e Na Figura 6.5, é possivel ordenar os cabazes apresentados, em função de um mapa
de curvas de indiferença apresentado: os cabazes, ordenados por preferência, do
pior para o melhor, serão: A (indiferente a B), F, C, D, G, E. Outro consumidor, que
m Pode acontecer que um consumidor se confronte com um mal econômico, em vez de ser um bem.
Nesse caso, o consumidor prefere os cabazes que contenham menos do mal econômico. Um mal
tivesse preferências que se pudessem exprimir por outras curvas de indiferença,
económico é, por exemplo, água poluída numa praia. A bem da simplicidade da exposição a este nível, teria uma ordenação diferente.
não nos iremos focar nessa problemática.

182 183
& - Teoria do consumidor 6.4 Taxa marginal de substituição

Quanto mais alta for a curva de indiferença onde um cabaz se localize, maior 2 2E cruzamento de curvas de indiferença leva, portanto, a incoerência na
satisfação que resulta do consumo e,portanto, maior o bem-estar do consumidor ="denação de cabazes. Podemos dizer que a transitividade obriga a que as
Na linguagem da secção seguinte, diremos que se trata de maior utilidade. curvas de indiferença não se cruzem, enquanto a desejabilidade leva a que
sejam negativamente inclinadas e a completude garante que qualquer cabaz de
consumo tem a ele associado uma curva de indiferença.

Sentido de aumento “ara além destes três axiomas, é ainda importante considerarmos as hipóteses
da satisfação
seguintes, por razões de simplicidade técnica e sem perda de generalidade:
Figura 6.5 Preferências bem
comportadas Continuidade do espaço de consumo: em qualquer vizinhança de um cabaz
“= consumo, existe sempre outro, que pode ser preferido, indiferente ou não
s-eferido.

independência entre consumidores: cada consumidor faz as suas escolhas de


consumo independentemente das escolhas dos outros. Admitimos, portanto, que
Transitividade, pode ser ilustrada com base no exemplo da figura 6.5: se Ce =s consumidores não são mutuamente influenciáveis.
preferido a Fe se F é preferido a A, necessariamente C é preferido a A. Esta
coerência na relação de ordem mantém-se enquanto as curvas de indiferença informação perfeita: os consumidores, nas suas decisões de consumo, têm
não se cruzarem. Se duas curvas de indiferença se cruzarem, as preferências não =formação total sobre o produto e não enfrentam incerteza, nem quanto aos
são transitivas. Vejamos na Figura 6.6: verificamos que À e B são indiferentes ="=ços, nem quanto ao seu rendimento.(4
entre sie que Ae € são também indiferentes entre si. Então, por transitividade, &
deveria ser indiferente a C. No entanto, tal não acontece, porque B e C não estão Em geral, diz-se que se o consumidor tiver preferências completas e transitivas,
na mesma curva de indiferença. “em preferências racionais. Na próxima secção admitiremos que as preferências
sém as características aqui enunciadas e falaremos de alguns casos especiais.

6.4 Taxa marginal de substituição


B Figura 6.6 Intransitividade
A de preferências
Todos os cabazes que pertencem à mesma curva de indiferença são cabazes
2ue dão ao consumidor o mesmo grau de bem-estar. Ao longo de uma curva de

» Questões relacionadas com assimetria de informação e decisões em contexto de incerteza estão


=="a além do âmbito deste Livro,

184
185
Cap. 6 - Teoria do consumidor 6.4 Taxa marginal de substituição

4 TMS, no fundo, é o reflexo do valor relativo que o consumidor atribui a


indiferença, os cabazes que a compõem têm sempre mais de um bem e menosdo um bem.
Obviamente que esse valor depende do grau de satisfação da necessida
outro,pois se tivessem mais de ambos os bens seriam necessariamente melhores de que esse
Sem fornece, ou seja, da distância ao ponto de saciedade. É fácil aceitar que, quanto
e se tivessem menos de ambos os bens seriam necessariamente piores.(6
mais próximo um consumidor se encontra do seu ponto de saciedade, menos
valor
atribuirá a uma unidade adicional do bem. A proximidade ao ponto de saciedade
Se ao longo de uma curva de indiferença, o consumidor, de ponto para ponto,
não tem de ser avaliada em termos de unidades já consumidas, mas sim, em termos
tem mais de um bem e menosdo outro e mantém o mesmo grau de satisfação,
de unidades prontamente disponíveis para consumo. Por exemplo, um consumid
isto significa que está disposto a trocar um bem por outro a uma determinada or
atribui menos valor a uma tablete de chocolate se tiver uma prateleira
taxa. A essa taxa chama-se taxa marginal de substituição (TMS) no consumo, cheia de
chocolates na despensa, do que numa situação em que já esgotou o seu guloso
e é decrescente ao longo de uma curva de indiferença convexa. Vejamos um
pecúlio e quer renovar as suas reservas... Ou, o valor atribuído a um copo de água
exemplo (Figura 6.7).
será muito inferior numa situação em que existe água canalizada prontame
nte
y A disponível numa torneira em relação a uma situação em que o mesmo consumid
or
esteja no meio do deserto e Longe de um poço de água potável O que é important
e
para a valorização relativa de um bem não é apenas aquilo que já se consumiu, mas
Ay cromo
2 que potencialmente está disponível para consumir, sem custos adicionais.
Figura 6.7 Taxa marginal de
psi substituição
É portanto,fácil, aceitar que quanto mais quantidade de um bem o consumid
or
15 | oa si : cispõe, menor é o valor que atribui a uma unidade adicional e, por conseguin
te,
menor a disponibilidade a pagar por essa unidade, dado o rendimento.

15 20 30 x
Essa observação está implícita no exemplo anterior. Imaginemos que
o
consumidor se localiza no cabaz B. Se passar para o cabaz C, está
Na figura apresentada, os cabazes À, B e C são indiferentes entre si. Imaginemos disposto a
prescindir de 5 unidades do bem Y para ter mais 10 do bem X e ficar indiferente
que um consumidor se situa no cabaz A. Ao deslocar-se para o cabaz B, esta .
sto significa que a TMS passou a ser 0.5, ou seja, por cada unidade adicional de
disposto a prescindir de 15 unidades de Y para ter mais 5 de X. Isso significa que
*, o consumidor está apenas disposto a oferecer meia unidade de Y
valoriza o bem X três vezes mais do que Y, já que está disposto a prescindir de 5 para ficar
ndiferente. O que aconteceu em relação à situação em que o mesmo consumid
unidade de Y por cada unidade adicional de X, ou seja: or
passava do ponto À para o ponto B? As preferências alteraram-se? Nada disso!
2 que aconteceu é que, ao passar do ponto B para o ponto €, o consumido
r
“'spõe de muito menos quantidade do bem Y do que na situação em que estava
o ponto A. Portanto, está disposto a dar muito menos do bem Y em troca de
A esse valor chamamos taxa marginal de substituição de Y por X e representa mais uma unidade do bem X quando passa para Cdo que no caso anterior:
o bem
a taxa à qual o consumidor está disposto a trocar o bem Y por uma unidade
de que se dispõe em menor quantidade vai ficando mais valioso.
adicional do bem Xe ficar indiferente entre os dois cabazes, isto é,a sua satisfação
de consumo não sofre alterações. Quanto maior a disponibilidade de um bem, menor o valor que o
consumidor
atribui a uma unidade adicional, O inverso é verdadeiro. Esta observaç
(8 Aesta propriedade também se chama monotonia forte das preferências. ão leva a

185 187
Cap. & = Teoria do consumidor 6.4 Taxa marginal de substituição

que a TMS,, seja decrescente ao longo e uma curva de indiferença convexa, à disposto a trocar uma certa quantidade de Y por apenas um pouco de X e mesmo
medida que aumenta a disponibilidade do bem X e se reduz a disponibilidade assim, ficando indiferente, como mostra o painel 1 da figura, por comparação ao
do bem Y. Por outras palavras, o valor relativo que o consumidor atribui ao bem painel 2, onde a variação de X é maior.
X é cada vez menor à medida que dispõe de mais quantidade desse bem e, em
compensação, menos do bem Y, v 4

Podemos ainda interpretar a TMS comosendo o declive da curva de indiferença


num ponto. Regressemosao gráfico da Figura 6.8 na passagem do ponto A para
sa . Figura 6.9 Taxa marginal
«
o ponto C. Entre estes dois pontos, a TMS é igual a 1.53, ou seja, em média, o de substituição decrescente
consumidor está disposto a prescindir de 1.3 unidades do bem Y para ter mais ao longa de uma curva de
uma unidade do bem X. Esse valor, na verdade, corresponde a tgo, ou seja, indiferença convexa
o declive da recta que contém os cabazes À e €C. Recorrendo ao Teorema de
Lagrange, comojá visto no apêndice do Capítulo 1, sabemos que há-de haver um
ponto intermédio em que há uma recta paralela a essa que é tangente à curva,
pelo que podemos interpretar a TMS como o declive da curva de indiferença X
nesse ponto. O facto de observarmos a TMS decrescente pode ser verificado por
as rectas tangentes à curva de indiferença serem cada vez menosinclinadas, ou
seja, o declive da curva de indiferença é cada vez menor à medida que X aumenta
e Y diminui (Figura 6.9).

Y A


*

A*
35 va
AY Figura 6.8 Taxa marginal de
substituição
Y c
15 AX | Painel 1 i
Painel 2

| Figura 6.10 Em relação a Y, no painel 1, o consumidor valoriza uma unidade adicional de X mais
! a do que no painel 2
15 30 X

Curvas de indiferença mais horizontais ou mais verticais revelam uma maior ou Casos especiais de preferências pôem desafios à interpretação da TMS.
menorpreferência pelo bem X em relação a Y.À Figura 6.10 mostra, para a mesma
variação em Y, quanto o consumidor está disposto a alterar na quantidade do Um exemplo diz respeito a curvas de indiferença lineares.Ao Longo de uma curva de
bem X e ficar indiferente. Quanto mais vertical for a curva de indiferença, maior indiferença Linear, o consumidor está disposto a trocar um bem pelo outro sempre
a TMS, ou seja, mais o consumidor valoriza X em relação a Y num ponto, estando à mesma taxa, que é aquela dada pelo declive da curva de indiferença. Esse será

188 189
Cap. 6 - Teoria do consumidor
6.5 Curvas de indiferença e função utilidade

o caso de bens que sejam substitutos perfeitos: o consumidor é completamente quanto maior a satisfação, maior a utilidade. No entanto, e como já
visto, à
indiferente entre ter apenas de um bem, ou apenas do outro, ou cabazes que se medida que um consumidor vai sentindo que tem mais quantidade disponív
el
repartam entre os dois bens, desde que a quantidade total seja a mesma. de um bem, valoriza-o relativamente menos,0 que quer dizer que a utilidade
cresce com a quantidade consumida, mas cresce cada vez menos: uma unidade
Outro exemplo, diz respeito às curvas de indiferença para bens perfeitamente adicional de um bem aumenta utilidade cada vez menos, à medida que se vai
complementares: de nada serve ao consumidor ter mais de um bem sem ter mais consumindo mais, já que o ponto de saciedade estará mais próximo. A
partir
do outro. O seu bem-estar só aumenta se os cabazes'tiverem mais dos dois bens. desse ponto, deixa de ser verdade que o consumo é desejável.
Neste caso, a TMS ou é zero ou é infinita, ou não está definida, dependendo do
ponto em que se está (preferências de Leontief). Ambos os tipos de bens estão Jma função utilidade é uma formalização matemática que descreve a satisfação
,
representadosna Figura 6.11. ou bem-estar, que decorre do consumo de uma certa quantidade
de um bem.
Qualquer funçãoutilidade tem de ter um conjunto de características que
a tornam
Y1 Y adequada a esse propósito. Uma funçãoutilidade que descreva preferências
bem
comportadas tem de verificar as seguintes propriedades:(9
Sentido de aumento Sentido de aumento
da satisfação - Ser não-negativa: VYx >0, u(x) >0
da satisfação

- Ser não-decrescente: Vx >0, (x) >0

- Crescer a taxas decrescentes, ou seja, ser côncava: Yx>0, ur(x)< 0

2 gráfico da Figura 6.12 ilustra o aspecto típico de uma função utilidade


e da sua
“unção derivada.
X X

*
Ye Xsão substitutos perfeitos Ye X sab complementos perfeitos
* variação da utilidade observada quando se consome mais uma
unidade
Figura 6.11 Casos particulares de curvas de indiferença “o bem, chama-se utilidade marginal (Umg). Calcular a utilidade marginal,
matematicamente, corresponde ao cálculo da derivada da utilidade num
ponto,
É agora necessário formalizar um pouco mais o conceito de curva de indiferença. *ambém recorrendo ao Teorema de Lagrange como fizemosna dedução da TMS,
= conforme ilustrado pela variação Ax e AU no mesmo gráfico, ou seja:

AU tgo = U(xo) :
Umg= Ne
6.5 Curvas de indiferença e funcão
utilidade
* Os casos especiais de preferências entre substitutos perfeitos e complement
os perfeitos
=zem algumas complicações matemáticas que não serão aqui exploradas, bem
como casos de
»=*erências quase lineares ou funções utilidade não convexas, i.e., com
Na secção anterior, falou-se no conceito de satisfação que advém do consumo a possibilidade de U"=0, ou
mesmopreferências que são representadas por funções de utilidade convexas, em que o
óptimo do
de um certo cabaz de bens. Em geral, ao grau de satisfação, chamamosutilidade: “ensumidor é uma solução de canto, ou seja, acontece sobre 05 eixos.

190
191
Cap. 6 - Teoria do consumidor 6.5 Curvas de indiferença e função utilidade

Ds cabazes que tem de ordenar são A=(3,2), 8=(4,4), C=(2,3). É fácil de ver
U
que u(A)=U(C)=2,45, u(g)=4 , Logo os cabazes B e C são indiferentes, mas o
c=5az B é preferido a ambos, porque tem maior utilidade. Isto quer dizer que os
au] Pá |
id] c=bazes À e € estão na mesma curva de indiferença e que o cabaz B está numa
Ax 1
cova de indiferença acima, (9 tal como ilustrado no gráfico da Figura 6.13.
Figura 6.12 Utilidade total e
Ur, utilidade marginal

Ux)

Figura 6.13 Ordenação


de cabazes usando funções
utilidade
A utilidade marginal é, portanto, decrescente, facto que ficou conhecido nz 257

literatura como 41º Lei de Gossen:) quanto maior a quantidade consumida


menor a utilidade marginal,

Uma função utilidade deve ser vista como uma transcrição matemática de uma
certa ordenação de cabazes de consumo em função das preferências, que são Esta mesma ordenação é aquela que se obtém com a função Ulxy)=>y, ou
especificas a cada consumidor. Considerando dois cabazes A e B, como os dz com a função U(x,y)=logx+logy , pelo que qualquer destas funções utilidade
Figura 6.5, dois cabazes serão indiferentes se u(A)=u(s) . Nessa figura, o cabaz - cescreve as mesmas preferências.(10)
é preferido a À, Logo u(F)>u(A) . Qualquer função que preserve esta ordenação
representa as preferências descritas nesse gráfico, sendo que cada curva de E por esta razão que, do ponto de vista da ordenação de cabazes de consumo,
indiferença está associada a um nível da função utilidade: quanto mais alta = = valor da função u(x,y) é irrelevante e não tem qualquer interpretação: o
curva de indiferença, maior o nível da utilidade que o consumidor consegue obter sue é importante é a ordem pela qual os cabazes de consumo se colocam
«tilizando a função como métrica. A esta abordagem chama-se ordinal, por
Como exemplo, consideremos que o consumidor tem de ordenar, em função
das suas preferências, cabazes de consumo que contêm tabletes de chocolate
=s'omas da teoria das preferências e por facilitarem muito o estudo analítico da escolha óptima do
(X) e pacotes de biscoitos (Y). Admitamos que as suas preferências podem ser consumidor,
expressas pela função utilidade (8 u(x,y)= x yoo = As curvas de indiferença representadas são, na verdade, curvas de nível da função utilidade
«zada para 0 exemplo.
= Na verdade, dada qualquer função utilidade Ulx,y) com as caracteristicas descritas no início
ss Secção 6.5, qualquer outra função que dela possa ser obtida por composição, ou seja fu).
1) Hermann Heinrich Gossen (1810 - 1858), notabilizou-se com a sua obra “Desenvolvimento das =presenta as mesmas preferências, desde que a função f() seja uma transformação contínua e
Leis de Trocas Entre os Homens" de 1854, onde estabeleceu as implicações teóricas dos princípios =onótona crescente. No exemplo,utilizou-se para transformação da funçãoutilidade ule, y= xfiyos
gerais do conceito da utilidade marginal. = funções f (x)=2" É(x)= logx , ambas continuas e monótonas crescentes. É de notar que essa
mm Todas as funções do tipo ulx,y=ex"y" designam-se funções utilidade Cobb-Douglas e são =ansformação f () não deve alterar o facto de ul) ser côncava, O que Leva a convexidade das curvas
particularmente convenientes por representarem preferências bem comportadas, que verificam cs ce indiferença.

192 193
Cap. 6 - Teoria do consumidor 6.6 Escolha óptima

oposição à cardinal, que está preocupada com o valor da função utilidade em espaço das possibilidades de consumo. Dado o conjunto de cabazes disponíveis
si. Aqui iremos sempre seguir a abordagem ordinal, porque a cardinal não tem para consumo, em função do orçamento que o consumidor tem para gastar e em
relevância para a determinação da escolha óptima de consumo tal como = *onção dos preços de mercado de cada bem, qual é o cabaz que o consumidor
iremos apresentar. prefere adquirir? É a resposta a essa questão que se obterá na próxima secção.

IR 1D-
É necessário estabelecer agora a relação que existe entre o conceito de utilidade
marginal e o de taxa marginal de substituição no consumo. É preciso ter em
atenção que, ao longo de uma curva de indiferença, por definição de curva de
indiferença, a utilidade não se altera, ou seja AU=0 . Por definição de diferencia!
da função, vem:
Figura 6.14 TMS decrescente, recorrendo à 1º Lei de Gossen

AU(x,y)=AxUmg, +AyUmg,

AU(x,y)=0+ AS UM, Ts
Ax Umg, mo
68.6 Escolha óptima
sendo Umg, Es, Pode, então, concluir-se, que a TMS do bem Y pelo bem X é
igual ao rácio das respectivas utilidades marginais por ordem contrária.
>ado o conjunto das possibilidades de consumo,criado pela restrição orçamental,
Na Secção 6.4, concluímos que a TMS é decrescente à medida que o consumo aval o cabaz que representa a escolha óptima? Admitindo que o consumo é
do bem X aumenta e se reduz o consumo do bem Y, mantendo o consumidor = cesejável, 0 consumidor deverá adquirir o cabaz que lhe dá a maior utilidade, ou
escolha de cabazes que lhe são indiferentes. Interpretâmos esse resultado como seja, que se localiza na curva de indiferença mais alta possível, dado o conjunto
sendo uma consequência do facto de o consumidor valorizar mais o bem de == cabazes que estão ao seu alcance com o orçamento que tem para gastar.
que dispõe relativamente menos. Essa conclusão pode agora estudar-se ao nível
do conceito de utilidade marginal e como consequência da 1º Lei de Gossen: “sejamos a Figura 6.15, onde estão representados vários cabazes de consumo
o consumidor tem uma utilidade marginal decrescente, ou seja, quanto maior = a restrição orçamental do consumidor que tem €100 para gastar em bens
a quantidade de um bem à disposição do consumidor, menor o acréscimo de =imentares (Y, vendidos a €5/kg) e em lazer (X, que custa €10/h), vista na
utilidade que a disponibilização de uma unidade adicional lhe dá. Secção 6.1. Na figura, o cabaz F é preferido a todos os outros, porque estã na
corva de indiferença mais alta, mas não pode ser consumido, porque está fora
Então, ao longo de uma curva de indiferença, em que o consumidor escolhe *=s possibilidades de consumo, constituindo uma despesa superior a €100.
cabazes com mais unidades de X e menos de Y, é facil concluir que Umg, diminu às cabazes A e C esgotam o orçamento, mas não podem ser escolhas óptimas,
e que Umg, aumenta, logo, o rácio E terá de diminuir. Esta conclusão estã porque há um cabaz que é indiferente, o cabaz B, que pertence ao espaço das
Fe:

representada no esquema da Figura 6.14: cossibilidades de consumo, e que não esgota o orçamento. No entanto, o cabaz
também não pode ser escolha óptima, porque há um cabaz preferido, o cabaz
um

É necessário, agora, conjugar a modelização de preferências feita pela função >, que está dentro das possibilidades de consumo e localizado numa curva de
utilidade, que respeita os axiomas da teoria das preferências, com o conceito de ndiferença superior, logo o cabaz D é preferido a B.

194 195
Cap. 6 - Teoria do consumidor 6.6 Escolha óptima

Em geral, podemos dizer que um cabaz não é escolha óptima enquanto existirem bens é tal que a última unidade consumida tem uma utilidade marginal por
cabazes preferidos a esse dentro das possibilidades de consumo. Então, a unidade monetária igual entre todos os bens. Vejamos um exemplo.
escolha óptima tem de recair no cabaz E: não existe outro cabaz preferido a E
que pertença ao conjunto das possibilidades de consumo. Na verdade, todos os Consideremos novamente que a forma de um consumidor ordenar os cabazes
cabazes indiferentes a E já estão fora desse conjunto. de consumo de acordo com as suas preferências pode ser descrita pela função
utilidade U(x,y)= xº*yº* e que a restrição orçamental é 10x +5y=100.

Por diferenciação, Umg, = “2


dx
=0,5x"*yº*
A
e Umg,ro = =0,5xºyº5,
ay y + P
pelo que,
que
nesta função utilidade, a TMS é sempre igual a:

TMSçé St My
Figura 6.15 Escolha óptima =D5,,05

Umg, 0,5xºy x
us

Ui<Z=3=U4 Então, o ponto de escolha óptima para este consumidor tem de sertal que
-
Ê
10
A
x

Quais as características do cabaz de escolha óptima? Desde logo, está Localizado


num ponto de tangência entre a curva de indiferença e a restrição orçamental,
>u seja,no cabaz óptimo de consumo,vão ser adquiridas duas vezes mais unidades
o que significa que, nesse ponto, a curva de indiferença e a restrição orçamental
do bem Y do que do bem X. Há infinitos cabazes com estas características, por
têm o mesmo declive. Sendo a TMS o declive da curva de indiferença num ponto,
exemplo,os pontos (2,4),(3,6),etc...mas apenas um respeita a restrição orçamental.
e sendo o rácio de preços de mercado o declive da restrição orçamental, o ponto
Entao o cabaz Óptimo tem de obedecer simultaneamente às condições:
E é tal que:

y=2x
10x+5y = 100
TMS,x= Umg, = Es
Umg, py
» solução deste sistema de equações é o ponto x=5,y=10, ou seja, O
consumidor adquire 10kg de bens alimentares e 5h de lazer, gastando €100.
Assim, no ponto de escolha óptima, o consumidor está disposto a trocar um bem
Essas são, portanto, as coordenadas do ponto E da Figura 6.15.
pelo outro à mesma taxa de troca que se observa no mercado, ou seja, a taxa
marginal de substituição do bem Y pelo bem X é igual ao preço relativo do bem
Dutra forma de chegar a esta solução será ter em atenção que o consumidor
X. Por outras palavras, 0 consumidor escolhe X e Y em quantidades tais que a suz
»enta encontrar o ponto que maximiza a sua utilidade, respeitando ainda a
valorização relativa é igual aquela que surge no mercado.
“estrição orçamental, ou seja:
Um, — Uma,
Alternativamente, essa condição pode ser escrita como , O que &
Px M
max U(x,y) = 08y0s
conhecido na literatura como 2º Lei de Gossen: a quantidade óptima dos vários

196 197
Cap. & - Teoria do consumidor
6.7 Análise de estática comparada: efeitos de alterações de preço e de rendimento

s0:10x+5y=100.
6.7 Análise de estática comparada:
Para resolver o problema, basta incorporar a restrição orçamental na função U e efeitos de alterações de preco e de
maximizar em ordem à variável que sobra. rendimento

Por exemplo, resolvendo a restrição orçamental em ordem a y, substituindo na


função U e maximizando, vem: Tendo cumprido o primeiro objectivo proposto para a teoria do consumidor,
“ormalizar a escolha óptima de consumo, dados os preços de mercado e o
10x+5y=100€»y=20-2x orçamento disponível para o consumo, é preciso ainda encontrar respostas para

u(x)=xº*(20-2x)" =(20x-25º) o segundo objectivo: analisar como a escolha óptima de consumo se altera
us

quando hã variações nos preços de mercado e/ou no rendimento.


20-4x)
U'= 0,5(20-4x)(20x 2x)* —Os( “amos fazer a análise utilizando estática comparada, ou seja: quando admitirmos
V20x— 2x?
U'=06520-4x=0420x-2x] 2065 x=5. uma variação do rendimento, analisamos os seus efeitos considerando que os
preços de mercado estão constantes; quando admitirmos uma variação num
Assim sendo, com x=5, necessariamente y=20-2x ,ouseja y=10.4% preço, analisamos os seus efeitos considerando que os restantes preços de
mercado estão constantes, bem como o rendimento.
As formas alternativas de cálculo do ponto de escolha óptima devem ser
utilizadas em função da facilidade algébrica das funções envolvidas. + Figura 6.16 mostra os pontos de escolha óptima de consumo para três níveis
de rendimento sucessivamente maiores. O cálculo da escolha óptima pode ser
Voltemos à 2º Lei de Gossen: no ponto de escolha óptima, o consumidor está “eito para qualquer nível de rendimento. A representação gráfica desse conjunto
disposto a trocar um bem pelo outro à mesma taxa de troca que se observa no de pontos é a via de expansão do rendimento,que é apresentada por uma
mercado, ou seja, a taxa marginal de substituição do bem Y pelo bem X é igual ao
preço relativo do bem X. No nosso exemplo, o preço relativo do bem X é iguala 2, ou Aumento de M

seja, para adquirir mais uma unidade do bem X, o consumidor tem de dar em troca
duas unidades do bem Y. Esse tem de ser precisamente o valor da TMS no óptimo,
ou seja, o consumidor tem de ter quantidades dos bens X e Y disponíveis tais que
está disposto a trocar duas unidades de Y por uma adicional de X e ficar indiferente:
Figura 6.16 Via de expansão
se estiver num ponto em que TMS >2, tem um cabaz com demasiada quantidade do rendimento
de Y, pelo que deve reduzir Y e aumentar X para que a TMS se reduza,tal como visto
anteriormente e esquematizado na Figura 6.14.Se TMS for inferior a 2, é demasiado
baixa, pelo que deve reduzir X e aumentar Y para atingir o óptimo. “4 Via de Expansão
2e do Rendimento

um Foi estabelecida a condição de 1º ordem tr=0). Bastaria agora verificar que se cumpre a
condição de 2º ordem para um máximo, ou seja, que no ponto x=5 U”<0,o que significa que se
encontrou um máximo da função U, como se queria, e não um minimo.
= Esta curva é também conhecida como linha consumo-rendimento.

198
199
Cap. 6 - Teoria do consumidor &.B Curva de Engel: bens normais e bensinferiores

linha irregular para ilustrar o facto de este lugar geométrico não ter uma forma 6.8 Curva de Engel: bens normais e
genericamente definida, ou seja, não tem de ser linear, nem uma função côncava bens inferiores
ou convexa; parte da origem, porque no caso de termos M=0,a escolha óptima
será evidentemente X=Y=0.

à via de expansão do rendimento, como vimos, permite encontrar todos os


Na figura, 0 maior rendimento está associado a maior quantidade consumida, quer do pontos de escolha óptima para diferentes níveis de rendimento. As combinações
bem X, quer do bem Y,o que faz com a via de expansão tenha um percurso crescente, de pontos de escolha óptima de X e rendimento (X,M) podem ser representadas
mas não tem de ser necessariamente assim, conforme se verá na Secção 6.8. noutro sistema de eixos em que o rendimento está no eixo das ordenadas e
a quantidade óptima consumida do bem X está em abcissas. Unindo todos os
Outro exercício interessante de estática comparada é fazer alterar um preço, contos, é possível encontrar a curva de Engel, conjunto de todos os pontos de
mantendo tudo o resto constante. À Figura 6.17 mostra diversos pontos de escolha óptima para um dado rendimento.
escolha óptima quando o preço do bem X se reduz. Esse cálculo pode também
ser feito seja qual for o nível de preço: quanto menor, mais horizontal é a recta Se a curva de Engel for crescente, então estamos perante um bem normal, ou
da restrição orçamental. O conjunto de todos os pontos de escolha óptima para seja, é um bem cujo consumo aumentará se um consumidor dispuser de maior
diferentes níveis de um preço, ceteris paribus, permite traçar a via preço-consumo, rendimento (Figura 6.18).
que parte da ordenada na origem da restrição orçamental. Nesse ponto, onde
X=0, esgota-se o rendimento em Y, e será o ponto de escolha óptima quanto a Aumento de M

restrição orçamental é vertical, ou seja, quando o >0 e em simultâneo Pp, =+e=.


Nessa situação, todo 0 orçamento é gasto na aquisição do bem Y.

No exemplo do gráfico da Figura 6.17, preços do bem X sucessivamente menores


(tudo o resto constante) estão associados a quantidades consumidas sucessivamente
maiores. É nesta conclusão acerca da escolha óptima de consumo que está o
fundamento da lei da procura. Voltaremosa este assunto na Secção 6.11.

Figura 6.18 Curva de Engel


para um bem normal

: >, Curva de Engel


Via Preço-Consumo Figura 6.17 Via preço-consumo Vo 14 | BemX
--"(Offer Curve)

Redução de P,

200 201
Cap. 6 - Teoria do consumidor
6.9 A curva da procura individual

Pode, no entanto, acontecer que dado um maior rendimento o consumidor decida sio exemplo da Figura 6.19, a partir do nível M, o consumidor sente que já tem

COnEnREERDS E nao aoUm coro Dem Ness Condilo estos perante um rendimento suficiente para reduzir o consumo do bem X e procurar um substituto
bem inferior, como já vimos na Secção 4.2.1. Os bens inferiores são tipicamente se maior qualidade, ou de uma marca mais cara, por exemplo.
produtos de menor qualidade que, quando um consumidor se sente mais rico,
decide consumir menos porque os substitui por bens de maior qualidade.
Enquadra-se nesta categoria bens como produtos adquiridos em segunda mão,
ou alguns produtos de marca branca, adquiridos quando o consumidor sente que 8.9 A curva da procura individual
não tem poder de compra para procurar alternativas de uma certa marca que

pondo E Tal como a curva de Engel resulta da projecção da via de expansão do rendimento
para o quadrante (X,M), pode deduzir-se graficamente a projecção da via preço-
Para um bem Inferior a curva-de Engel passa a ser decrescente apartir de consumo para o quadrante (X,P). A via preço-consumo representa todos os pontos
certo nivel de rendimento, ou seja, aquele nível a partir do qual o consumidor se escolha óptima para diferentes níveis de um preço, mantendo tudo o resto
se sente suficientemente rico para reduzir o consumo do bem em análise e constante. Então, pode fazer-se a representação gráfica de todos os pontos de
assar a consumir a i i à i E E pi Eaã
P umaraliarmativa que-anterlormente não fazia parte-das suas escolha óptima no espaço onde são representados os vários níveis de preço do bem
ossibilidades de consumo. : : ; : E é
R * no eixo das ordenadas e, no eixo das abcissas, as escolhas óptimas de consumo
PETS sara esse bem, dado os diferentes valores para o preço. À essa curva, chamamos
curva de procura individual do bem X. Podemos então dizer agora que a curva de
procura é o conjunto de todas as escolhas óptimas de consumo para todosos níveis

Expansão
Rendimento,”
se

Treo -Nia Preço-Consumo


> Figura 6.19 Curva de Engel A COD, (Offer Curve)
quando X é um bem inferior
Figura 6.20 Dedução gráfica 1 p—
da curva de procura individual Pp à ) ' .
para o bem X * ! ' Redução de P,
Loo. 0aMo é 1 Í f
tá Curva de Engel qu | '
7 ê E Meca , 1
A PR does Bem 1 (inferior) RR '
0 Voa
Kisame 1Pa Cu q! ,!
ne Ed smmaed tree

|
EA eita 14 PsProcura individual do bem X

ER

e 1
202 202
Cap. & - Teoria do consumidor 6.10 Efeito substituição e efeito rendimento

de preço do mesmo bem, mantendo constantes as preferências, o rendimento e o A lei da procura, que enunciámos nesse capítulo, diz-nos que, se o preço de um
preço dos outros bens nos quais o consumidor gasta o seu orçamento. bem aumentar, a quantidade procurada vai diminuir, mantendo tudo O resto
constante. Isso é aqui bem presente na inclinação negativa da procura individual
Voltemos ao exemplo que vimos na Secção 6.6. Nesse exemplo, Ufx,y)=>"º e, por consequência, estará presente na procura de mercado.
e tinhamos como restrição orçamental 10x+5y=100. Podemos utilizar este
exemplo para ver como deduzir a equação da curva de Engel e a equação da curva Neste contexto, podemos apresentar duas justificações para se observar uma
da procura do bem X para este consumidor: basta resolver o problema usando uma redução da quantidade procurada quando o preço aumenta caeteris paribus. Por
incógnita M em vez do valor 100 para o rendimento e obter-se-á a curva de Engel. um lado, o consumidor vai satisfazer a sua necessidade com bens substitutos,
Se seguirmos a mesma estratégia usando p, em vez do valor 10 para o preço do daí reduzir a quantidade de um bem que fica mais caro - a esse comportamento
bem X, obter-se-á a curva da procura do bem X. Vamos utilizar a 2º Lei de Gossen, chamámos efeito substituição. Por outro lado, o consumidor vai sentir-se mais
ou seja, 0 facto de, no óptimo, a TMS serigual ao preçorelativo do bem X. Vejamos: pobre, já que com o mesmo rendimento pode comprar menos bens, o que o fará
retrair-se no consumo de um bem normal - ao que chamamosefeito rendimento
Dedução da curva de Engel do bem X: decorrente da subida de preço.

Essas duas forças que actuam sobre a quantidade procurada após uma variação
fa 2 espe
10x+5y=M 10x+10x=M 20 de preço, estão subjacentes à Lei da procura e vamos agora ver como isolar esses
dois efeitos, utilizando o conceito de escolha óptima de consumo.
Dedução da curva de procura do bem X:

peze e = ex=-100
xp, +5y =100 xp, +10x=100 10+p,
6.10 Efeito substituição e efeito
rendimento
Este exemplo torna os cálculos bastante simples e mostra-nos uma curva de
Engel linear, crescente, que parte da origem dos eixos. O bem X é, portanto, um
bem normal.
Vamos admitir que o preço do bem X aumenta. Nessas circunstâncias, a restrição
orçamental roda para a esquerda, conforme mostra a Figura 6.21. A escolha
A curva de procura directa, em que se tem a quantidade em função do preço, é
óptima passa do ponto E para o ponto F e o consumidor fica pior, porque o seu
hiperbólica, decrescente, Usando a notação do Capítulo 4, seria algo como O ==.
cabaz de consumo situa-se num nível inferior de utilidade. Observamos uma
redução da quantidade consumida do bem X.
Tal como se viu no Capítulo 4, a curva de procura de mercado (procura
Marshalliana) é obtida por agregação horizontal das várias curvas de procura O objectivo nesta secção, é compreender como repartir essa variação da
individuais, somando todas as quantidades procuradas a um dado preço. É pois, quantidade na parte respeitante a efeito substituição (ES) e na parte respeitante
natural, que as curvas de procura de mercado herdem as propriedades das curvas a efeito rendimento (ER), ou seja:
de procura individuais e sejam parametrizadas naquilo que está subjacente às
escolhas individuais, como aqui se vê. Ax=ES+ER.

204 205
6.10 Efeito substituição e efeito rendimento
Cap. 6 - Teoria do consumidor

utilidade do mesmo valor. À equação da curva de indiferença que contém o cabaz


E é tal que 450 = 0505 de onde se deduz que qualquer cabaz indiferente a E
pertence à hipérbole y=*.,

As,

Figura 6.21 Aumento do preço


do bem X e respectivo efeito na
quantidade consumida

Figura 6.22 Efeito substituição N HEM


= e efeito rendimento num bem
Aumento
normal
de FP;


tata
Para conseguir encontrar a parte correspondente ao efeito substituição, temos H h Y

de admitir um cenário hipotético no qual o consumidor não sente a desutilidade Efeito Efeito
Aumento X
Rendimento Substituição
de P,
da redução do poder de compra decorrente do aumento de preço. Então, nessas
circunstâncias, quaisquer alterações feitas ao consumo são apenas devido a
efeito substituição. 'maginemos que passamos a ter p, = 15. Então, para encontrar o ponto F:

É preciso, então, encontrar a resposta à questão: qual seria a escolha óptima. 1Ms=L-15=3 x=3(3)
aos novos preços, se o consumidor não sentisse a desutilidade de redução do
x 576 :
15x+5y=100 y=10
rendimento real?

E para encontrar o ponto A, admitimos TMS igual ao novo rácio de preços e


Temosduas formas de responder a esta questão. Uma delas é através da determinação
obriga-se a que o cabaz À pertença à curva de indiferença do cabaz E:
de um cabaz indiferente à escolha óptima inicial e que seja o óptimo com os novos
preços.Esse cabaz é o ponto A na Figura 6.22. Esse ponto À é tal que TMS = E Maior
vo
do que antes, porque p, aumentou e a restrição orçamental fica mais inclinada, = ee
x <
pra
também u(4) Es u(E) =, porque o cabaz À é indiferente ao cabaz E, y=59/ y=..
X

Retomemos o exemplo da Secção 6.6. O ponto E é tal que:


Quando o preço do bem X era 10, a escolha óptima era x=5. Quando o preço
sumenta para 15, observa-se uma redução de X para 3.(5), ou seja uma redução
y=2x
»º montante Ax =—1,67 . Esta redução é o total do efeito substituição e do efeito
10x+5y=100 -
rendimento. (13

De onde se obteve a escolha óptima x=5, y=10. Verificamos ainda que


u(g)=50.. Então, qualquer cabaz indiferente ao ponto E terá de ter ums = Ovalor das coordenadas para y não são relevantes, já que o objectivo é analisar Ax.

206 207
Cap. 6 - Teoria do consumidor 6.10 Efeito substituição e efeito rendimento

Caso o consumidor, aos novos preços, não sentisse a desutilidade de redução do orçamental). Como o consumidor gastaria nesse ponto o mesmo que gastaria
poder de compra, reduziria X apenas para o valor 4.08, ou seja a redução de 5 no ponto E, as diferenças observadas são apenas devido a efeito substituição.
para 4.08 deve-se a efeito substituição. No entanto, o consumidor sente-se mais Vejamos agora a dedução analítica.
pobre, o que o leva a restringir o consumo ainda mais até chegar a x=3(.
Então podemos dizer que:

ES=-0,92=4,08-5
Ax=— = E
x ==1,67=ES+ER ER=-0,75=3/(3)-4,08

Figura 6.23 Efeito substituição


Como,pelo facto de se sentir mais pobre, o consumidor reduz o consumo do bem a Slutsky

X, podemos dizer que o bem X é um bem normal.

O efeito substituição assim calculado designa-se Hicksiano, em homenagem a


Efeito Efeito Herança x
Hicks: o ponto de separação do efeito substituição foi encontrado como o ponto Rendimento Substituição Aumento
de P,
óptimo que, aos novos preços,é indiferente ao inicial.

A outra forma de cálculo possível é devida a Slutskyti4 e procede-se encontrando O cabaz inicial, ponto E, aos novos preços, custaria €125. Então, usando a

o ponto óptimo cuja despesa de consumo é igual à despesa de consumo do metodologia de Slutsky, o ponto A de separação entre efeito substituição e efeito
cabaz inicial pagando os novos preços. O objectivo é o mesmo: para determinar «endimento é a escolha óptima quando TMS =3 e quando a despesa de consumo

o efeito substituição deve encontrar-se um ponto de escolha óptima tal que = 125,0u seja:
o consumidor não sinta a desutilidade de perda de poder de compra. Se, de
acordo com Hicks, isso equivaleria a manter utilidade, de acordo com Slutsky. tug=! =15 3 x=41(6)
isso consegue-se tornando possível a compra o mesmo cabaz E aos novos preços. x 5 se
15x+5y=125 dE ma
Com os novos preços, o cabaz E tem uma despesa de €125. Se o consumidor
tivesse esse montante para gastar, a escolha óptima seria o cabaz À, que faz
justamente a separação do efeito substituição à Slutsky. Graficamente é possive. ES=-0,8(3)=4,1(6)-5
Então: Ax=-1.67=ES+
consultar esta representação na Figura 6.25. ER e ER=-0,8(3)=3.(3)-4,1(6
) |
Na Figura 6.253,05 pontos À e E estão na restrição orçamental associada à despesz
de €125:0 ponto À é a escolha óptima com uma despesa idêntica à do cabzz
= de notar que o efeito substituição, seja à Hicks ou à Slutsky, depende da
inicial pagando os novos preços (o que está implícito no declive da restrição
existência de bens substitutos: qualquer alteração na quantidade consumida,
sevido a variações de preço, em bens que não têm alternativas, deve-se
ts Eugen E. Slutsky (1880 - 1948) nascido na actual Ucrânia, foi quem formalizou a separação
entre efeito substituição e efeito rendimento pela primeira vez. Devido a isso, a formalização de
= mplesmente à presença de efeito rendimento. Nessa situação, se o bem for
Ax=ES+ER designa-se, normalmente, Equação de Slutsky. >ormal, a redução do consumo devido ao aumento de preço é apenas devido ao

208 209
Cap. 6 - Teoria do consumidor
8.10 Efeito substituição e efeito rendimento

facto de o consumidor se sentir mais p pobre, não Pora


porque vai p procurar alternativas. :
Normalmente, o efeito Serra
substituição .
é dominante, pelo que o efeito total de um
plo,
Por exemplo, a reduçaão g
das viagens em tempo
p de férias porque
porq as viagens
g zumento de preço éz uma redução
E E
da quantidade procurada.
ficaram mais caras: sendo um bem sem substitutos, o consumidor opta por viajar
menos, devido ao efeito rendimento, e passa mais tempo de férias em casa. No entanto, caso se trate de um bem inferior com poucos substitutos e com um
zeso muito grande no orçamento (o que só poderia acontecer se o orçamento
Se a dimensão do efeito substituição depende do número de alternativas de sara consumo fosse muito baixo) o efeito rendimento pode ser mais forte do que
consumo que um bem tenha, é o peso da despesa tom um bem no orçamento
o efeito substituição, gerando um aumento da quantidade procurada quando q
que influencia a dimensão do efeito rendimento quando um preço aumenta.Por 2reço aumenta, e não uma redução,Trata-se de uma violação da lei da procura
exemplo, é de esperar que um aumento do preço das esferográficas em €0.15
sue é conhecida na literatura como bem de Giffen, já referida no contexto do
tenha um efeito rendimento proporcionalmente menor do que o efeito associado
Capitulo 4.
a um aumento do mesmo montante no preço do pão.

Em geral, quanto maior o peso da despesa com um bem no orçamento, maior o


efeito rendimento que advém de uma alteração do poder de compra quando o
preço varia. Nunca é demais frisar que o efeito rendimento é uma consequência
de uma alteração de preços quando o rendimento (nominal) está fixo. O efeito
rendimento não é uma consequência de uma alteração do orçamento disponível Figura 6.24 Efeito substituição
para consumo. (3 Hicks) quando X é um bem
inferior

Está ainda por responder uma questão: como é o efeito rendimento se o bem X
for um bem inferior? Nesse caso, o efeito rendimento decorrente de um aumento f : +
Eleitd
Subsêtuição Rs
Auiménto x
de preço, que se traduz numa redução do rendimento real, induz a um aumento
= 5 tus
do consumo, não a uma redução... Efeito Rendimento der

Então isto significa que, quando o bem X é um bem inferior, o efeito rendimento
i ari efei ituição: reço in E ; gi ;
actua em sentido contrário ao efeito substituição: se o aumento de preço induz > registo de bens de Giffen é, felizmente, raro. A notícia de um fenómeno dessa
uma redução de consumo porque se procuram alternativas, esse efeito ficz srdem não é, normalmente, ; algo de bom para uma economia: :o contexto tem de
atenuado, porq
porque o consumidor se sente mais p pobre e até as alternativas pode 5 ; ; .
p ser o de um aumento de preço para um bem inferior, que é essencial, com poucos
ter dificuldade em adquirir. > nenhuns substitutos viáveis e que pesa bastante no orçamento. Ora, um
contexto em que um bem inferior é um bem essencial com poucos substitutos
Essa é a situação retratada na Figura 6.24, utilizando a metodologia de Hicks »ão será certamente uma situação desejável.
para ter um gráfico mais simples: se o consumidor não sentisse a redução de
poder de compra ap ós 0 aum ento do preço do bem X compraria o cabaz À, mas
p i ;
*s evidências . . .
para a existência de um bem de Giffen remontam ao período da
o facto de se sentir mais pobre leva-o para o cabaz F, reduzindo o consumo de srande fome da Irlanda entre 1845 e 1849, também a época das grandesvagas
X menos do que na situação em que não sente a alteração de poder de compra.
>= emigração para o continente americano. Nesse período, o míldio contaminou
210
211
Cap. 6 - Teoria do consumidor 6.10 Efeito substituição e efeito rendimento

as plantações de batata em larga escala. Estima-se que cerca de um terço da 6.10.1 CASOS ESPECIAIS
população dependia dessa produção para sobreviver. Não havendo batata, a
população foi Levada a consumir mais pão, o que elevou o seu preço de forma
sistemática. Em consequência, o consumo de pão, em vez de diminuir, aumentou Nos casos especiais em que os bens são substitutos perfeitos ou complementares
principalmente em famílias pobres: não existia outro bem acessível capaz de perfeitos, a identificação do efeito substituição e do efeito rendimento faz-se
substituir o pão. Desta forma, uma maior despesa com o consumo de pão levou mais facilmente recorrendo à metodologia de Slutsky.
a uma redução do consumo de outros produtos alimentares, o que obrigou
os mais pobres a consumir mais pão para sobreviver. Esta foi, precisamente, Quando os bens são substitutos perfeitos, a escolha óptima ocorre sempre
num
a descrição feita por Giffen e que ficou registada na literatura económica por canto ou então é indeterminada, situação em que as curvas de indiferença
são
Alfred Marshall. oaralelas à restrição orçamental. Se as curvas de indiferença forem mais verticais
so que a restrição orçamental, a escolha óptima ocorre sobre o eixo horizontal
,
Graficamente, a situação do bem de Giffen (bem X), exige que se tenham curvas caso contrário, ocorrerá sobre o eixo vertical, conforme ilustra a Figura 6.26.
de indiferença bastante deitadas, revelando pouca valorização (em termos de
A h.
utilidade) por uma unidade adicional do bem X e para que o efeito substituição
seja totalmente compensado pelo efeito rendimento, conforme mostra a Figura
6.25.
Sentido de aumento
da satisfação

R.O.

f Curvas de Indiferença
Escolha óptima
Figura 6.25 Bem de Giffen
1 HAM)
Eleito!
Substituição

[a Figura 6.26 Escolha óptima quando os bens são substitutos perfeitos


Pad X
4 1 esco
Efeito Aumento de P,
Rendimento À
* Figura 6.27 exibe o isolamento do efeito substituição e do efeito rendimento
>srante um aumento de preço do bem X: se este bem se tornar significativamente
O facto de o cabaz de escolha óptima após o aumento de preços (F) se situar mais caro, tudo o resto constante, o consumidor opta por o substituir totalmente
à direita do cabaz inicial (E) traduz a inversão da procura. Se os consumidores zelo bem Y, passando do pontoE para o ponto F.
apenas se adaptassem à alteração do preço relativo sem sentirem a perda de
poder de compra, passariam para o ponto A. Porém, a passagem desse ponto para -sando a metodologia de Slutsky, caso fosse possível adquirir, aos novos preços,
o ponto de escolha final ilustra a compensação do efeito substituição pelo efeito > mesmo cabaz E, o óptimo ocorreria no ponto A, pelo que o efeito da alteração
rendimento. “e preço é simplesmente efeito substituição e o efeito rendimento é iguala zero.

a12
213
uestões de de revisão
Questões revisãi
Cap. 6 - Teoria do consumidor

A Figura 6.28 ilustra a escolha óptima no caso de bens perfeitamente à Figura 6.29 exibe o efeito de um aumento de preço. A redução observada
no consumo do bem X resulta apenas de efeito rendimento, sendo o efeito
complementares. A determinação deste ponto tem complicações matemáticas
substituição igual a zero, o que é muito natural já que os bens são perfeitamente
que não interessa aqui explorar pelo facto de, nesse ponto, a TMS não estar
complementares: caso houvesse a possibilidade de, aos novos preços, adquirir o
bem definida, já que a curva de indiferença não é diferenciável. Devido a isso,
cabaz inicial E, essa continuaria a ser a escolha óptima, pelo que a redução do
deixamos apenas a exploração gráfica do problema.
consumo devido ao aumento de preço é apenas devida a efeito rendimento.

“Aim $1

Sentido de aumento
da satisfação

Figura 6.29 Dado um aumento


de preço, o efeito substituição
Figura 6.27 Perante um é zero, pelo que a redução no
aumento do preço do bem consumo é apenas devida a
X,a redução do consumo de efeito rendimento
FIM) * deve-se apenas a efeito
' substituição. o

X
Aumento de P,
ELF M)

Aumento de P,
Questões de revisão

1. Apresente as formas em que a restrição orçamental se pode alterar e as


sentido de aumento
da satisfação
respectivas causas.

Escolha óptima 2. Preferências racionais são aquelas que são completas e transitivas. Dé um
EBM) exemplo de preferências que não observem estas propriedades.

3. Explique a relação entre a 1º Lei de Gossen e o facto de a taxa marginal


de substituição ser decrescente, ao Longo de uma curva de indiferença.

x x 4. Apresente as modificações necessárias à 2º Lei de Gossen para o caso em

Figura 6.28 Escolha óptima quando Y e X são complementares perfeitos que o consumidor tem apenas um bem disponível.

214 215
Cap. 6 - Teoria do consumidor

5. No caso em que o consumidor escolhe entre dois bens substitutos


perfeitos, ele prefere consumir apenas um deles quando a taxa marginal
de substituição é diferente do rácio de preços de mercado. Se o preço de
um dos bens subir apenas ligeiramente, o efeito substituição de Slutsky
pode ser igual a zero. Explique como.

6. Explique a diferença entre o efeito substituição de Slutsky e o efeito de


substituição de Hicks quando há uma variação de preço de um bem.

7. Relacione a lei da procura com o efeito substituição e o efeito rendimento


para um bem normal.

216
Teoria do produtor na
óptica da produção

7.1. A função de produção e os factores produtivos oo


7.2 Produto total, marginal e médio eos
7.3 A decisão óptima do produtor com um factor variável 229
7.4 Isoquanta e isocusto 291
7.5 Taxa marginal de substituição técnica e a decisão do
produtor a longo prazo 236
7.6 Resolução do problema do produtor eso
7.7 Rendimentos à escala 243

Questões de revisão o44

219
7.1 A função de producão e os factores
CONCEITOS-CHAVE produtivos

curto prazo microeconómico Lei dos rendimentos marginais


. decrescentes +s empresas são organizações, cujo objectivo é a obtenção de lucro através da
etapas de produção longo prazo microeconómico venda de bens ou serviços que podem ser por si produzidos. À forma como essa
o
factores de produção “produçãoé feita difere de empresa para empresa, mas pode ser genericamente
produto marginal entendida como um processo em que a empresa recebeos inputs e os transforma,
factores de produção fixos sdi de modo a obter o seu ouipuí,utilizando uma determinada tecnologia. O conjunto
factores de produção variáveis preso Besio de inputs da empresa é identificado em economia como e
produto total «ão desde as matérias-primas aos equipamentosque são utilizados, mas também
função de produção E , por exemplo, ao trabalho que é desenvolvido pelas pessoas. Como tal, é possível
rendimentos à escala
isocusto distinguir entre os diferentes factores de produção.
taxa marginal de substituição
isoquantas técnica (TMST) o factorED um desses factores, sendo composto pelas pessoas queestão
afectas ao processo produtivo. Um outro factor muito importante é capital. No
entanto é importante perceber nesta fase que o capital não é considerado como
2 investimento financeiro que é feito nas empresas. Como factor de produção, o
capital diz respeito a todos os elementos que são utilizados durante o processo
produtivo de modo a que se consigam produzir os diferentes bens ou serviços:
são as matérias-primas, as máquinas, os equipamentos,as instalações, os terrenos
agricolas, etc.)

Cada empresa deve então saber, a partir de uma determinada quantidade de


factores quanto é que consegue na realidade produzir. A esta relação entre
orodução e quantidade de factor os economistas chamam deprodução:
3 forma como é possível combinar os factores de produção de modo a obter um

* Alguns autores consideram a terra e/ou os recursos naturais como outros factores de produção.
sem perda de generalidade, os mesmos podem ser considerados comocapital. Como tal, distinguimos
apenas entre factores trabalho e capital, até porque adiante é ideal a utilização de apenas dois
“ectores para que se faça uma análise gráfica inteligivel.

ee0 221
Cap. 7 - Teoria do produtor na óptica da produção 7.2 Produto total, marginal e médio

determinado output. Admitindo que a empresa está a actuar de forma eficiente. exemplos deste tipo de factores algumas matérias-primas e subsidiárias ou as
aquantidade corresponde ao máximo que é possível obter com os embalagens numa unidade industrial. Além dos materiais que são utilizados, 0
recursos em causa. “actor trabalho é o mais importante factor variável uma vez que sem ele nada se
oroduz. Além disso, pelas próprias caracteristicas, o factor trabalho é de rápida
Além dos factores produtivos, a função de produção depende também do estaco alteração mesmo a curto prazo, ao contrário do que pode acontecer com o factor
da tecnologia utilizada. Por exemplo, dependendo de elementos como a inovação capital,
tecnológica, é possível ter até dentro da mesma actividade económica umz
empresa que utilize de forma mais intensiva o factor trabalho e uma outra ma's É a distinção entre curto e longo prazo que permite diferenciar entre factores
intensiva no factor capital. Deste modo, é natural que a quantidade produzida de &xos e variáveis, em termos microeconómicos. Enquanto na macroeconomia
ambas as empresas seja também ela diferente. esta distinção é feita de acordo com a definição dos horizontes temporais
considera-se curto prazo um horizonte temporal inferior a um ano é Longo prazo,
Identificando-se'O)como 0
GB eabalo com
“ependendo dos autores, horizontes superiores a três ou cinco anos), no caso da
possível escrever de forma genérica a função ds microeconomia se estiver
produção como: = taborar com factores fixos. Isso significa, na prática, que a empresa não tem
“otal capacidade para fazer ajustamentos em todos os seus factores de modo a
O=HAKL).
“esponder a eventuais situações do mercado. Pelo contrário, se todos os factores
“orem variáveis, a empresa pode ajustar esses factores, considerando-se que a
Esta definição de função de produção chama desde Logo a atenção para o facio
de a mesma poder evoluir ao longo do tempo, com aspectos como a inovação
tecnológica. Evossívela partirdeum exemplosimples, ilustrar que em termos microeconómicos
= curto e longo prazo são independentes dos horizontes temporais. Por exemplo,
Uma outra questão fundamental é a distinção entre factores de produção fixos = enquanto 1 mês pode ser curto prazo para uma empresa do sector aeronáutico
variáveis, distinção essa que vai ser fundamental para compreender alguns dos «ma vez que são empresas com factores fixos - nomeadamente o capital), para
conceitos que serão apresentados adiante. «ma empresa que produza tapetes de Arraiolos à mão provavelmente será longo
"zo, pois basta à empresa contratar mais unidades de trabalho, sendo esse um

Um considerado se 2 alteração da s-+ “=ctor de produção que é mais facilmente adaptável em horizontes temporais
quantidade for demorada e, portanto, estará na empresa quer seja ou não Eurtos.
utilizado na produção. Um equipamento que tenha sido adquirido por um=
empresa ou um edifício que esteja ao seu dispor são exemplos de factores fixos
no curto prazo. À permanência deste tipo de factores implicará custos à empresz
mesmo que esta não produza. 7.2 Produto total, marginal e médio

Este tipo de factor contrapõe com o aqueles cuz

quantidade utilizada se altera rapidamente e que quanto maior for o nível cs -onsidere-se agora que todos os factores de produção de uma empresa são fixos
produção, maiores serão as quantidades destes factores que são utilizadas, São excepto o factor trabalho, o que implica que se está numasituação de curto prazo.

2ep 2es
Cap. 7 = Teoria do produtor na óptica da produção 7.2 Produto total, marginal e médio

Neste momento pode colocar-se a questão: se se aumentar consecutivamente o


número de unidades de trabalho, qual vai ser a resposta da quantidade produzida
na empresa?
300

Uma primeira resposta intuitiva será a de que a produção deverá aumentar. Figura 7.1 Representação S 200 sm
gráfica da função de produção
Ainda que seja isso que se espera, essa situação pode não ocorrer a partir de
determinada altura. Para ajudar a explicar este e outros conceitos, recorre-se a 100

uma função de produção específica dada por:

Q= "AL +sU+60L.
2 médio não é mais do que o produto por unidade de factor (no caso
utilizado, o produto por unidade de trabalho). Como qualquer média, não significa
Graficamente é possível representar esta função na Figura 7.1. Num largo
que todas as unidades de trabalho produzam o mesmo.
intervalo de output, o comportamento é na realidade o esperado, com a produção
a aumentar à medida que a quantidade de trabalho também aumenta. No entanto
essa situação deixa de ocorrer a partir de determinado momento. Calculando
o máximo da função, esse valor obtém-se quando L é aproximadamente igual PM = Produto
a 7,844 sendo que a partir daí o valor da produção começa a decrescer,(9:(8 Quantidade de factor
Esse decréscimo pode estar relacionado com um certo congestionamento do
factor capital. Um exemplo concreto é uma situação onde a contratação de mais
unidades de trabalho não só não acrescentam nada à produção como podem
também, em casos extremos, vir a diminuir esse valor (por exemplo devido ao pm, =2.
L
facto de irem atrapalhar aquilo que outros já estarão a fazer).

Este cálculo é generalizável para qualquer outro factor de produção.


Ao nível da teoria da produção, há outros dois conceitos fundamentais: o ds
produto médio e o de produto marginal. Os conceitos também são conhecidos
No que diz respeito ao marginal este significa a variação da
como produtividade média e produtividade marginal.
cuantidade produzida que é obtida por se utilizar mais uma unidade de factor (no
caso em particular, por se contratar mais uma unidade de trabalho). Formalmente
= possivel escrever:
————
Pmo= AProduto
(3 Relembrando o Apêndice ao Capitulo 1, o máximo de uma função é obtido calculando o valor cs
AQuantidade de factor '
derivada da função e igualando a zero. À confirmação de ser máximaé feita recorrendo ao calculo ds
segunda derivada e consequente calculo do sinal da concavidade.
(8) Se L se referir ao número de trabalhadores, obviamente o seu valor não poderá ser não inte's
No entanto, é possivel utilizar referindo-se a outro tipo de unidades, nomeadamente 0 número 2º
horas de trabalho, por exemplo. Nesse caso, L pode tomar um qualquer valor, mesmo não inteiro. escrever

ee4 2es
7.2 Produto total, marginal e médio
Cap. 7 - Teoria do produtor na óptica da produção

A
Pm 9, O
AL

Também este cálculo é generalizável para outros factores de produção.


Figura 7.2 Representação
gráfica do produto médicedo &
EE
b----- Pmgl

produto marginal
Adeterminação do produto marginal, numa situação em que a função de produção
está tabelada, por exemplo, significa que, significa que o seu cálculo pode ser
feito através da diferença dos valores tal como descrito na fórmula anterior. No
entanto, caso a função seja contínua, deve utilizar-se o cálculo diferencial. Neste
caso, tem-se então que:
É também importante compreender o comportamento do produto marginal. Esta
“unção vai tomar o valor máximo no ponto da inflexão da curva do produto total,
[o
Pmg, 9 ==. com Q função contínua
al >u seja, no ponto em que a produção deixa de crescer a valores crescentes (isto
=, o produto marginal aumenta) e passa a crescer mas a valores decrescentes
'sto é, o produto marginal diminui). Neste exemplo isso acontece no caso em
A partir da função identificada inicialmente, é possível então escrever as funções
que L iguala 2/9. Além disso, o produto marginal é igual a zero no ponto em que
de produto médio e produto marginal do trabalho do seguinte modo:
2 produto total é máximo: isso significa que, nessa situação, qualquer variação
nfinitesimal da quantidade de factor não vai afectar a quantidade de produto.

PM, = SL +5L+60 e Pmg, = SÉ +10L +60. Quando o produto decresce com o aumento da quantidade de factor, o produto
marginal torna-se negativo.

A representação gráfica destas funções pode ser consultada na Figura 7.2. Dest=
figura, realce para algumas questões que são possíveis de observar. À análise O facto de o produto marginal ser decrescente é aquilo a que os economistas

individual do produto médio e do produto marginal permite identificar que arm «eAR + nesco
numa primeira fase ambos crescem, atingindo um valor máximo e decrescendo zumenta a quantidade de um factor, mantendo os restantes factores fixos, a

em seguida. Além disso, as curvas interceptam-se e evidenciam uma relação produção aumenta mas a um ritmo cada vez menor. É por isso que a curva do
que existe sempre que se calcula o valor médio ou o valor marginal para ums produto marginal é negativamente inclinada a partir de certo ponto. No entanto,

determinada variável: sempre que o valor marginal está acima do médio, = = fundamental perceber que isso não significa que o produto está a decrescer: o

média sobe (é o que acontece até ao ponto em que as curvas se intersectam): que acontece é que o produto aumenta mas a ritmos que são cada vez menores.

pelo contrário, quando o valor marginal está abaixo do médio, a média desce * produção só começa a decrescer quando o produto marginal for negativo (no

(verificando-se esta situação, neste caso, após a intersecção).Neste caso isso caso exemplificado isso só acontece a partir da sétima unidade de trabalho que

acontece quando o valor de L é igual a 10/35. a empresa contrata).

4) Uma forma simples de perceberesta situação é a utilização de uma analogia com a média de um + Lei dos rendimentos marginais decrescentes é um conceito associado ao curto
aluno do ensino superior. Considerando um aluno com média de 15 valores, se a sua última nota (=
prazo em termos microeconómicos por ter implícita a existência de factores
nota marginal) for superior, então a média vai aumentar. Caso a última nota conhecida seja inferior =
fxos.
média, então a média desce. Obviamente, se a nota for igual à média, esta manter-se-á.

226 227
Cap. 7 - Teoria do produtor na óptica da produção 7.3 A decisão óptima do produtor com um factor variável

Além da relação anteriormente definida entre produto médio e marginal, que 7.3 A decisão óptima do produtor com
deriva das propriedades matemáticas das funções, há ainda mais uma relação um factor variável
que é fundamental compreender, de onde resulta a identificação das três etapas
do processo produtivo.

À primeira etapa vai até ao ponto em que produto marginal e produto médio Observando as três etapas do processo produtivo, facilmente se conclui que
são iguais. À segunda etapa de produção começa nesse ponto e vai até ao um produtor racional não irá produzir na etapa Ill porque estará a desperdiçar
ponto em que o produto marginal é nulo (ou seja, quando o produto total é recursos. Sendo ainda prematuro identificar o ponto onde o produtor maximizará
máximo) sendo que a partir daí se está na terceira etapa de produção.) De o seu lucro, já que esse será o seu objectivo último, podemosjá adiantar que essa
acordo com o exemplo que tem sido utilizado, a Figura 7.5 identifica essas maximização ocorrera na etapa|I, como se verá no Capítulo 9.
etapas de produção.
Considere, por agora, que o produtor sabe o comportamento do seu factor
variável, neste caso o comportamento de Pmg,. Como se teve oportunidade
ce ver em capítulos anteriores, em Economia a tomada de decisão óptima por
parte de um agente é feita quando o benefício marginal iguala o custo marginal.
Figura 7.3 Identificação Considerando uma empresa com uma quantidade de factor capital fixa e o
das três etapas do processo
:rabalho como sendo o factor variável, a última unidade de trabalho é o elemento
produtivo
que vai permitir fazer a análise referida, Essa unidade de trabalho pode referir-se
2 contratação de trabalhadores mas também ao número de horas de trabalho
contratadas adicionalmente.
-40

mporta então fazer a análise em relação à última unidade de trabalho contratada.


Numa situação em que se pretende maximizar o Lucro, a empresa deve estar na
mtuitivamente poder-se-ia dizer que o benefício dessa contratação será o que
etapa de produção ll. Por um lado, a etapa Ill é uma zona em que o acréscimo
essa unidade de trabalho adiciona ao produto, ou seja, 0 quantitativo identificado
do factor variável (neste caso o trabalho) conduz a uma descida do nível de
sor Pmg,. Contudo, não é totalmente correcto fazer esta afirmação. Na realidade,
produção. Como tal esta situação é prejudicial para o funcionamento da empresa.
2 benefício do produtor é o valor que ele consegue obter no mercado com esse
No caso da etapa de produção |, o aumento do factor trabalho adiciona mais
sroduto marginal. Assim, considerando P como o preço do produto, o benefício
ao produto total do que a média das unidades anteriores. Por esse motivo, a
2a contratação da última unidade de trabalho é dado por PPmg,. Note-se que
empresa terá um nível de Lucro maior se utilizar mais unidades do factor variável
> preço do produto é determinado no mercado, não tendo a empresa qualquer
do que as correspondentes ao final da etapa de produção |.
zoder para influenciar esse preço. Essa é, aliás, uma característica dos mercados
concorrenciais, que será vista no Capítulo 9 deste Livro, assumindo-se neste
capitulo essa hipótese.
6) O ponto quedivide a primeira e a segunda etapa do processo produtivo é identificado na Literaturz
por diversos nomes, entre os quais óptimo técnico ou limiar de viabilidade. Esta identificação esta
relacionada com a análise de custos, sendo abordada de forma mais pormenorizada nos Capítulos & Tem-se então que o valor da produtividade marginal é o benefício da contratação
po. 22 última unidade de trabalho, sendo que há que identificar qual é então o custo

228 229
Cap. 7 = Teoria do produtor na óptica da produção
7.4 Isoquanta e isocusto

dessa contratação. Esse custo não é mais do que aquilo que a empresa tem que
onidade de trabalho contratada representa um custo para a empresa que
pagar pela sua contratação, ou seja, o seu salário (representado por w, do termo
= superior ao benefício que a empresa consegue obter pela sua contratação,
anglo-saxónico wage). Portanto o óptimo ocorre quando RPmg, = w.!9)
zelo que para chegar ao óptimo a empresa teria que reduzir o factor trabalho.
“azendo a segunda análise, será necessário à empresa fazer aumentar o valor de
É importante que nos retenhamos neste ponto por uns momentos, para evitar
?mg, O que, verificando-se a lei dos rendimentos decrescentes, apenas é possível
algumas confusões. A identificação desta condição pode levar à conclusão errada
«eduzindo a quantidade contratada de trabalho.
de que a empresa não tem lucro, visto que identifica uma situação em que o
benefício iguala o custo. Esta última afirmação não está totalmente correcta.
Note-se que esta análise apenas pode ser feita considerando um factor variável
De facto verifica-se que o benefício iguala o custo, ou seja, o lucro é nulo, mas
= o(s) restante(s) fixo(s). Naturalmente, se o factor considerado for outro, o tipo
apenas no caso da última unidade de trabalho contratada. Todas as unidades de
ce análise é o mesmo. Por exemplo, se o factor variável em causa for o capital
trabalho contratadas anteriormente estão a permitir à empresa ter lucro. Nota
*) o óptimo ocorre quando P.Pmg, = r, sendo r a taxa de juro (o preço do capital).
para o facto de que existem nas frases anteriores duas palavras em itálico visto
que a responsabilidade não é da última unidade de trabalho contratada em si
De reforçar que toda a análise feita nesta secção, na medida em que considera
mas sim da tecnologia utilizada e do facto de a mesma comprovar a existência
= existência de factores fixos, é feita no âmbito do curto prazo microeconómico.
da lei dos rendimentos decrescentes.

Perante a situação identificada anteriormente,é possivel verificar duas situações


diferentes de desequilíbrio, ou seja, PPmg, > w ou RPmg, < w.
7.4 Isoquanta e isocusto
Considere-se inicialmente a situação em que PPmg, > w. Isto significa que a
última unidade de trabalho contratada está a dar um benefício liquido à empresa
* teoria do produtor tem muitas semelhanças e analogias com a teoria
que é superior ao seu custo. De acordo com o que foi explicado anteriormente,
do consumidor analisada no Capítulo 6. Ainda que as análises tenham na
a empresa deverá contratar mais factor trabalho, até chegar ao equilíbrio. É
cénese problemáticas diferentes, as parecenças são muitas e tanto maiores
possivel fazer esta interpretação de outro modo: uma vez que tanto P como w são
se se considerar uma empresa como estando no longo prazo em termos
definidos pelo mercado, o óptimo só pode verificar-se quando o valor de Pmg, se
microeconómicos, ou seja, quando todos os factores são variáveis. É este tipo de
reduzir. Assumindo que se verifica a Lei dos rendimentos marginais decrescentes,
análise, a longo prazo, que é utilizada nesta secção.
situação que é coerente com o óptimo da empresa, isso só pode acontecer se se
contratarem mais unidades de trabalho.
“m produtor, conhecedor da sua tecnologia, sabe que pode utilizar diferentes
combinações de trabalho e de capital para obter o seu produto. Suponha que
Obviamente, a situação inversa acaba por ter uma explicação semelhante. No
as possibilidades de produção A e B são identificadas, sendo que no primeiro
caso de se verificar a situação oposta (RPmg, < w), isso significa que a última
caso a empresa utiliza muito capital e pouco trabalho e que, no segundo caso,
acontece a situação inversa. O produtor conclui que ambas as combinações

(61 Assume-se nestas circunstâncias que a empresa consegue contratar todas as unidades de permitem chegar à mesma quantidade de produto (01) e identifica, ainda,
trabalho à mesma taxa salarial,isto é, a determinação do salario é, tal como o preço do bem, exógena todas as combinações de factores que permitem alcançar essa quantidade de
a empresa.
oroduto, unindo finalmente esses pontos. Esta situação, descrita na Figura 7.4,
230
231
Cap. 7 = Teoria do produtor na óptica da produção 7.4 Isoquanta e isocusto

é a identificação de uma isoquanta: o conjunto de diferentes combinações de “actor de produção) enquanto,utilizando apenas trabalho, consegue utilizar 20

factores de produção que permitem alcançar o mesmo nível de produto. unidades. Além disso, é possível utilizar várias combinações lineares dos factores
que tenham o mesmo custo. Por exemplo, 9 unidades de Ke 2 de L ou 5 unidades
de K e 10 de L, entre infinitas outras combinações (considerando que é possível
fazer a divisibilidade dos factores). Genericamente, a função de isocusto é então
cada por C = rK + wL. Considerando K no eixo vertical e L no eixo horizontal, o
isocusto cruza O eixo vertical no ponto C/r e o eixo horizontal no ponto C/w
tendo ainda declive —*.P) Ou seja, é possível identificar umarecta de isocusto
genérica como a da Figura 7.6.
Figura 74 Identificação de uma
isoquanta

sentido de aumento da produção

Figura 7.5 Mapa de isoquantas

Tal como o consumidor não tem apenas uma curva de indiferença, também o
produtor não tem apenas uma isoquanta, podendo-se identificar um mapa de
isoquantas como o da Figura 7.5 que apresentam a mesma particularidade de,
quanto mais afastadas da origem, maior é o nível de produção que se obtém
(ou seja, O > O? > O! > 09%, No entanto, ao contrário do que acontece com os A recta da Figura 7.6 representa um determinado valor para o custo, sendo

níveis de utilidade nas curvas de indiferença do consumidor, que não têm um possivel que este seja alterado. Por um lado a posição da recta, nomeadamente a
intersecção com cada um dos eixos, depende do valor dos preços dos factores. Por
significado cardinal, os níveis associados às isogquantas têm-no: trata-se do
exemplo, a variação do preço de um dos factores, faz alterar o posicionamento
volume de produção.
nesse eixo. Considere-se 0 caso em que o salário aumenta de w, para w,. Em

Além do conceito de isoquanta é também importante definir o conceito de termos práticos isso significa que, se a empresa utilizar apenas esse factor, e
perante o mesmo orçamento, terá menos possibilidades de adquirir unidades
isocusto, que se refere às diferentes combinações de factores que geram o
mesmo custo à empresa.
de trabalho. No fundo o que acontece é uma contracção da isocusto no eixo
horizontal, como se pode ver na Figura 7.7, tornando-se a isocusto mais inclinada

O conceito em si é muito semelhante ao da restrição orçamental do consumidor,


(o rácio w/r é maior).
Considere-se uma situação em que uma empresa tem um orçamento de €10.000.
Supondo que o custo unitário do capital (r) é igual a €1.000 e o custo de cada
unidade de trabalho (w) é igual a €500, a empresa sabe que o máximo que 7) Esta inclinação não é mais do que o preço relativo dos bens, neste caso aplicado ao mercado de
factores de produção.
consegue utilizar de capital é 10 unidades (no caso de utilizar apenas esse

ese 233
Cap. 7 = Teoria do produtor na óptica da produção iii o souaêo

K
+ É 4

Cfr rg

Figura 7.6 Representação de Figura 7.8 Efeito de um Cfr,


lo um isocusto aumento em ambos osfactores
Inclinação de produção
Wir
Aw> Ar

CAw L Chw, Cm, L

K Há ainda a situação particular da possibilidade de variação do preço dosfactores


na mesma proporção. Nesse caso, a deslocação da isocusto é uma deslocação
Cr caralela (para cima no caso da descida dos preços e para baixo no caso do
seu aumento). A alteração é qualitativamente semelhante a uma variação no
orçamento propriamente dito. Por exemplo, se por qualquer motivo uma empresa
Figura 7.7 Efeito do aumento
dqpragatosfacinestindiai “ver um maior orçamento num determinado momento isso implica uma recta de
'socusto mais à direita da anterior (ver Figura 7.9). Isso significa que curvas de
'socusto mais Longe da origem significam custos maiores para a empresa, ao
contrário de isocustos que estejam localizadas mais próximo da origem.
Aumento de w

Ciw, Cimo L K
€4r
A alteração da configuração da isocusto pode ocorrer devido a variação de um
ou do outro preço. Se ao contrário do indicado anteriormente a variação for Cyr
no sentido da diminuição do preço do factor, então a curva alarga-se no eixo
correspondente a esse factor. Mas nada obriga a que a alteração seja apenas Figura 7.9 Efeito de um aumento ACà
no preço de um factor; pode ocorrer simultaneamente uma variação no preço no orçamento
de ambos os factores. Nesse caso movimentam-se as intersecções em ambos
os eixos e, se a alteração não for na mesma proporção, também a inclinação dz
isocusto se altera. Por exemplo, considerando um aumento de ambos os preços
mas maior no factor trabalho, então a alteração da isocusto é semelhante =
representada na Figura 7.8. Cm Civ LL

234 a
Cap. 7 = Teoria do produtor na óptica da produção 7.5 Taxa marginal de substituição técnica e a decisão do produtor a longo prazo

7.5 Taxa marginal de substituição


técnica e a decisão do produtor a
longo prazo

Figura 7.10 TMS5T decrescente


Na secção anterior foram identificadas algumas semelhanças entre a teoria do
em valor absoluto
consumidor e a teoria do produtor, nomeadamente entre as curvas de indiferença
e as isoquantas assim como entre a restrição orçamental e o isocusto. Estas
semelhanças conduzem também a situações parecidas que serão identificadas
nesta secção.

Y
Uma outra dessas parecenças é a taxa marginal de substituição técnica (TMST).
Esta taxa mostra a forma como a empresa pode fazer a troca entre os dois
factores de produção considerando que se mantém o mesmo nivel de produção, ATMST só pode utilizar-se quando os factores são substitutos, sendo esta a relação
isto é, que a empresa está a passar de um ponto da isoquanta para outro. existente no caso das isoquantas apresentadas anteriormente. Uma outra possível
configuração gráfica para as isoquantas é serem lineares. Nesse caso os factores
Formalmente é possível apresentar a TMST como: são substitutos perfeitos.A TMST continua a ser negativa mas tem a particularidade
de ser constante. É também possível existirem situações em que os factores de
TMST, MK DK PMI produção sejam complementares perfeitos (onde a utilização dos factores para a
AL OL Pmg, produção é feita em proporções constantes e utilizando simultaneamente ambos
os factores), situação onde não havendo substituibilidade, não faz sentido calcular
Havendo substituibilidade entre factores, a TMST tem a particularidade de ser a TMST.A Figura 7.11 exemplifica isoquantas deste tipo (à esquerda substitutos
sempre negativa uma vez que, no pressuposto de se manter a mesma produção perfeitos e à direita complementares perfeitos).
(ou seja, de estar numa mesma isoquanta), se um dos factores produtivos
aumentar obrigatoriamente a utilização do outro terá que diminuir. No entanto, Um exemplo de factores de produção substitutos perfeitos pode ser encontrado

e perante a configuração das isoquantas apresentadas anteriormente, há ainda numa empresa que utilize um sistema de aquecimento para edifício, sendo que

uma característica adicional, nomeadamente o facto de a TMST ser decrescente o combustível a utilizar pode ser gás natural ou fuel-óleo. À empresa optará pelo

em valor absoluto. Isso significa que à medida que se utilizam mais unidades de combustível que for relativamente mais barato,isto é, aquele que permite ter um

um dos factores de produção (neste caso o trabalho), o outro factor tem cada vez custo menor ponderando o preço e a eficiência do combustível em causa. Por

maior valor relativo, pelo que tem que se desistir de cada vez menos unidades seu turno, um exemplo de factores de produção perfeitamente complementares
desse factor (capital). Esta situação pode ser consultada na Figura 7.10 onde se pode ser encontrado numa empresa industrial que trabalhe com 5 turnos diários
verifica que à medida que aumentamos o factor L sempre no mesmo valor, se e em que, numa determinada secção, cada máquina existente na secção necessite
desiste de cada vez menos unidades de K, mantendo-se a mesma produção.Isso de um operário fabril. Isso significa que por cada máquina que exista na secção
significa que a isoquanta é convexa. terão que existir três trabalhadores.

236 237
7.5 Taxa marginal de substituição técnica e a decisão do produtor a longo prazo
Cap. 7 = Teoria do produtor na óptica da produção

Pmg, -w
Pmge

Aumento da produção Aumento da produção

Figura 7.12 Óptimo para a


empresa
Figura 7.11 Isoquanta de factores substitutos perfeitos (à esquerda) e de factores complementares
perfeitos (à direita)

Além da interpretação identificada anteriormente, a TMST também pode ser


interpretada como o declive da isoquanta num determinado ponto, com uma
interpretação semelhante à da TMS feita no capítulo anterior. Porque as intuições
Chama-se a atenção neste ponto para uma situação em particular. Até aqui
são semelhantes não se repete exaustivamente esse raciocínio neste capítulo.
apresentou-se o problema do produtor como tendo identificado a quantidade
= produzir sendo que, posteriormente, pretende minimizar o custo de produção
Sendo assim, identificando uma empresa qual a quantidade que vai produzir
dessa quantidade. Ou seja, como referido anteriormente, encontrar o custo mais
(por exemplo, identificando o número de encomendas que tem ou a quantidade
baixo em relação à isoquanta que pretende alcançar. No entanto o problema do
de produtos que pensa conseguir vender), conhecendo também as diferentes
orodutor pode ser visto de outro prisma. Na realidade, hã situações em que as
combinações que lhe permitem alcançar o mesmo nível de produção (isoquanta).
empresas têm um determinado orçamento para gastar e, nesse caso, o objectivo
qual deve ser então a escolha óptima de uma empresa? Perante este cenário,
zode passar por produzir o máximo que é possível (assumindo que consegue
claramente a empresa pretende utilizar a combinação que lhe minimiza o custo,
escoar o produto). Nesse caso o problema é diferente uma vez que a empresa
ou seja,o ponto de tangência entre a isoquanta que pretende alcançar e a isocusto
sretende chegar à isoquanta mais alta possível que seja coerente com o orçamento
situada o mais abaixo possível. À Figura 7.12 ilustra essa decisão face a uma
que tem. No entanto, a solução é qualitativamente semelhante uma vez que passa
determinada isoquanta de quantidade de produção O, sendo o equilíbrio o ponto
:=mbém pela tangência entre uma isoquanta e uma isocusto, ou seja, igualando
E. Este equilíbrio é único. Na isocusto mais abaixo a empresa não conseguirê
os declives de ambas. Estas duas soluções, dual e primal, serão abordadas na
satisfazer as suas encomendas sendo que na isocusto mais alta, como a empresa
secção seguinte. Há ainda uma terceira forma de se abordar o problema que passa
produz a mesma quantidade Q (por estar na mesma isoquanta), ela apresenta um
cela maximização livre do lucro, sendo a mesmaincluída no Capítulo 9.
custo que é superior.

Sendo que o equilíbrio é dado pela igualdade da TMST com o rácio dos preços, é
Formalmente o equilíbrio é dado pela tangência da isoquanta com o isocusto, ou
Ema, Pra,
possivel ter duas situações distintas de desequilíbrio: > ou <*. Para
seja, quando os declives são iguais: o que significa que a TMST é igual ao rácio Ping Pg
c=da uma delas é possivel analisar o desequilíbrio de duas formas diferentes.
dos preços dos factores de produção. De outra forma, é o mesmo queter:
239
238
Cap. 7 = Teoria do produtor na óptica da produção 7.6 Resolução do problema do produtor

Uma vez que os valores de w e r são definidos no mercado dos factores de Num determinado mês, a empresa em causa recebeu um total de encomendas de
produção, o primeiro caso de desequilíbrio só é resolvido se o rácio em causa 100 unidades pretendendo o gestor saber qual a combinação óptima de factores
diminuir. Isso obriga a que diminua o valor de Pmg, e/ou aumente o valor que deve usar, de modo a minimizar o custo de produzir aquelas 100 unidades. O
de Pmg,. Como identificado em situações anteriores, de acordo com a lei dos que se pretende é uma solução semelhante à anteriormente descrita na Figura
rendimentos decrescentes isso só pode acontecer se se aumentar a utilização 7.12, em que se sabe que Q é igual a 100 e pretende-se ter o custo mais baixo
do factor trabalho e/ou se diminuir a utilização do factor capital. Mas esta possivel. No fundo pretende-se saber o ponto E.
interpretação pode ser feita de outra forma.
Formalmente, o problema resolve-se do seguinte modo:
Essa mesma situação de desequilíbrio significa que o declive da isoquanta é
superior ao declive do isocusto. Graficamente, e recorrendo à Figura 7.12, é Min C=wL+rK

uma situação como a do ponto A que já havia sido identificada como sendo de sa. DK 100
desequilíbrio (porque seria possível produzir o mesmo com um custo menor.
A solução óptima ocorre quando se verifica TMST=w/r, ou seja:
Olhando para o gráfico, para alcançar o óptimo a empresa teria que se movimentar
do ponto À para o ponto E o que não é mais do que aumentar a utilização de Le
diminuir a utilização de K. O4L0KE 10
==" K=L.
O21KO 5
Obviamente a situação em que se verifica RnaE configura um cenário oposto:
Uma vez que tem que se cumprir a restrição da produção ser iguala 100 unidades,
para voltar ao equilíbrio é necessário que aumente o produto marginal de L e/ou
então o óptimo encontra-se substituindo K=L nessa restrição. Assim, o resultado
que diminua o produto marginal de K. Isso só pode ocorrer reduzindo a utilização
óptimo é dado por K=L = 678,6 o que equivale a um custo total de 10.179 u.m..
do factor trabalho e aumentando a utilização do factor capital. Por outro lado,
Esta é a solução da abordagem dual ao problema do produtor. À abordagem
se o rácio das produtividades marginais for inferior ao rácio dos preços isso
apresentada a seguir designa-se problema primal.
significa que o declive da isoquanta é inferior ao da isocusto, o que identifica
como estando presente num ponto como o ponto B da Figura 7.12 onde, com o
Considere agora que no mês seguinte ficou definido que a empresa poderia gastar
objectivo de se dirigir para o óptimo, a empresa terá que diminuir a utilização do
um total de 12.000 u.m. Nesse mês as encomendas não estavam limitadas mas
factor trabalho e aumentar a do factor capital.
sabe-se que aquilo que for produzido tem capacidade para ser escoado. Como
tal,o objectivo da empresa é o de maximizar a quantidade produzida cumprindo
o orçamento em causa, Ou seja:

7.6 Resolução do problema do produtor


Max Q=21*K
sa. 12.000=10L+5K
Para ilustrar o que foi referenciado na Secção 7.5, utiliza-se um exemplo
concreto. Considere-se então uma empresa com uma função de produção dada Do processo de maximização sabe-se que a condição é igual à do problema
por Q = 2124Kº2 Sabe-se ainda que o custo de cada unidade de capital é igual a anterior, ou seja, TMST=w/r, pelo que obviamente também se cumpre esta
5 um.e o custo de cada unidade de trabalho é igual a 10 u.m.. condição com K = L (uma vez que nenhum dos elementos do problema se

e40 241
Cap. 7 - Teoria do produtor na óptica da produção
7.7 Rendimentos à escala

alterou). Neste caso, como a condição a cumprir é a do custo, substitui-se K = L


em 12.000 = 5L+ 10K pelo que se obtém valores de Le K iguais a 800. Neste caso
7.7 Rendimentos à escala
o nivel de produção Q vai ser igual a 110,58 o que é coerente com o resultado
anterior, uma vez que, aumentando o orçamento em relação ao custo identificado
Neste capitulo foi analisado um conceito importante da teoria do produtor que
anteriormente, a empresa sabe que pode produzir mais.
é o conceito de Lei dos rendimentos marginais decrescentes. Relembrando este
conceito, o mesmo indica que, à medida que uma empresa aumenta a quantidade
A Figura 7.13 ilustra a diferença de abordagem dos dois problemas anteriores.
de um factor de produção, mantendo os outros constantes, a produção aumenta
No primeiro caso a empresa tem um nível de produção fixo, e o seu objectivo
mas a um ritmo cada vez menor. Relembra-se este conceito porque por vezes o
prende-se em atingir o isocusto mais baixo possível, ou seja, o custo mais baixo
mesmo é confundido com um outro: o conceito de rendimentos à escala.
que seja coerente com o nível de produção Q = 100. É o que está identificado no
painel do lado esquerdo, com as setas a tracejado a identificarem que o objectivo
Enquanto no caso da lei dos rendimentos marginais decrescentes se faz variar
da empresa é ter a isocusto mais abaixo possível.
apenas um dos factores de produção, no caso dos rendimentos à escala temos
que todos os factores de produção variam na mesma proporção. Assim, enquanto
Pelo contrário, no segundo problema o que se tem é um custo pré-definido iguala
o conceito de rendimentos marginais decrescentes é um conceito de curto prazo,
12.000 u.m. pelo que nessa situação a empresa quer produzir o máximo possivel,
o de rendimentos à escala é um conceito de longo prazo.
ou seja, encontrar a isoquanta mais afastada da origem e que seja compatível
com o custo definido (painel à direita da Figura 7.13).
O tipo de rendimentos à escala de uma função pode ser analisado recorrendo
K K ao conceito de homogeneidade de uma função. Uma função é homogénea de
grau b se for possivel escrever f(aX)=a”f(X), ou seja, se se multiplicar as
variáveis da função por uma constante a e for possível colocar essa função como
proporcional à função original, a função é homogénea. O tipo de rendimentos à
escala estã então relacionado com o grau de homogeneidade b: se b for inferior
a 1 a função apresenta rendimentos decrescentes à escala significando que a
produção aumenta proporcionalmente menos do que o aumento dos factores;
se b for superior a 1 a função apresenta rendimentos crescentes à escala, ou
seja, face ao aumento na mesma proporção dos factores a produção aumenta
mais do que essa proporção; se b for igual a 1 significa que a produção aumenta
na mesma proporção que o aumento dos factores, apresentando a função de
Figura 7.13 Diferença de abordagem dos problemas: do lado esquerdo um problema de
produção rendimentos constantes à escala nesse caso.
minimização do custo (dual) e do lado direito um problema de maximização da produção (primal)

Para exemplificar o conceito, considera-se a função de produção apresentada na


Note que, no caso de se pretender maximizar a produção Q com um orçamento
secção anterior: Q = 2194Kº2, Fazendo a homogeneidade tem-se:t8)
igual a 10.179 u.m., a solução teria que ser, necessariamente, Q=100. Este é um
resultado que é explicado pela dualidade na teoria do produtor, temática esta que,
(8 A função em causa é uma função de Cobb-Douglas. Genericamente, qualquer função de Cobb-
estando fora do âmbito introdutório da Microeconomia, fará parte de outro volume.
Douglas pode ser escrita como O = AL“KÊ sendo homogénea de grau 0:+B. No caso destas funções,

ado
2483
Cap. 7 = Teoria do produtor na óptica da produção

OlaL,ak)= 2a) (ak)? = 201!02K = 0º D1ºKO? =Q(L,X)

Neste caso a função de produção é homogénea de grau 0,6. Isso significa que,
quando os factores de produção aumentarem todos numa proporção, a produção
cresce mas apenas 0,6 vezes essa proporção, pelo que a função apresenta
rendimentos decrescentes à escala.

A questão dos rendimentos à escala é importante uma vez que tem implicações
directas nos custos da empresa. Por exemplo, uma empresa que exiba rendimentos
crescentes à escala terá economias de escala na função custos (isto é, custos
médios de longo prazo que são decrescentes). Quanto mais extensas forem essas
economias de escala, menor será o número de empresas que serão viáveis numa
indústria, dada uma procura de dimensão fixa. Estes elementos apresentados no
próximo capítulo.

Questões de revisão

1. Distinga lei dos rendimentos marginais decrescentes de rendimentos à


escala,

2. Distinga entre curto e longo prazo em Microeconomia.

3. Comose relacionam o produto médio e o produto marginal?

4. “A Lei dos rendimentos marginais decrescentes significa que a quantidade


produzida está a descer” Comente esta afirmação.

5. Relacione a monotonia da taxa marginal de substituição técnica com a


convexidade das isoquantas.

6. Relacione o sinal da taxa marginal de substituição técnica com o declive


das isoquantas.

pode somar-se directamente os expoentes, que representam as elasticidades da produção em ordem


a cada um dos factores, para se saber o tipo de rendimentos à escala.

244
Teoria do produtor
(Óptica dos custos)

8.1 Análise de curto prazo: dedução da curva de custos


a partir da curva de produto total 250
8.2 Custo médio e custo marginal: a geometria dos
custos 054
8.3 Análise de longo prazo: relação entre custos médios
de longo prazo e as curvas de curto prazo 260
8.4 A relação entre custos e lucro: o lucro económico e
o lucro contabilístico 264
8.5 Economias de escala: relação com a estrutura de
uma indústria 266

Questões de revisão 269

Apêndice matemático 2/0

247
Foi objectivo do Capítulo 7 focar nos fundamentos da relação entre inputs e output,
ou seja, na forma como os vários factores de produção originam um determina
do
CONCEITOS-CHAVE produto final. À forma de o fazer é construindo um modelo de tecnologia, recorrendo
a
uma função de produção. A análise de produção pode ser feita num horizonte a curto
prazo e num horizonte de longo prazo, sendo a diferença entre eles determina
custo afundado custo médio da
pela velocidade de contratação dos vários factores de produção: os factores
de
custos de curto prazo custo total contratação mais lenta, são fixos no curto prazo (no sentido em que não decorre
tempo suficiente para alterar a sua quantidade utilizada no processo produtivo)
custos de longo prazo custo variável e
variáveis a longo prazo, enquantoos factores de contratação mais rápida são sempre
custo contabilístico economias de escala variáveis (no sentido em que em qualquer momento se pode alterar rapidamen
te a
quantidade utilizada no processo produtivo). Admitimos, sem perda de generalidade,
custo económico escala mínima eficiente
que a curto prazo O trabalho é um factor variável e que o capital é um factor fixo.
À
custo fixo função custos ongo prazo, quer o trabalho, quer o capital são factores variáveis.

custo marginal Lucro econômico


*ssim, se o funcionamento do mercado levar a uma exigência de um aumento na
santidade produzida de um certo bem, a curto prazo o produtor não pode
fazer
vais do que contratar mais trabalho, enquanto a longo prazo, ou seja, se for dado um
seríodo de temposuficiente para satisfazer a procura, o produtor pode escolher qual
= melhor combinação de capital e de trabalho que geram a quantidade pretendida
=º custo mínimo.Esta é, justamente, a abordagem dual para o processo de escolha
“otima dos inputs para produzir um certo output visto na Secção 7,6.

* quantidade óptima de output a produzir vai depender da procura e


da estrutura
“= mercado que o produtor enfrentará, admitindo que o objectivo individual(y
* ter um lucro que seja o máximo possivel, como se verá no Capítulo 9. A
ma como essa quantidade se vai produzir, dependerá das características da
“ecologia da unidade produtiva (empresa, produtor, etc.) o que, por sua vez, dita
* cuantidade de factores de produção que serão necessários, decisão essa que
“== diferente a curto ou a longo prazo,

— = importante não esquecer que, em todos os Casos, seja no consumo,


seja na produção, as
= 5=s óptimas são feitas individual e autonomamente, mas o mercado conjuga
o comportamento
== woe é daí que o equilibrio se gera.

e48
249
8.1 Análise de curto prazo; dedução da curva de custos a partir da curva de produto total
Cap. 8 - Teoria do produtor [óptica dos custos]

custo existe mesmo que não se produza. Então, se cada unidade de capital tiver
O objectivo deste capitulo é compreender qual a relação entre quantidade
am custo de, digamos 10 u.m, podemosdizer que CF =50 um.
produzida e custos de produção, o que será feito nas duas perspectivas jz
utilizadas: a curto e a longo prazo.
*o custo com o trabalho, chamaremos custo variável (CV), já que é um custo
ce aquisição do factor variável e depende da quantidade de produto que se
pretenda obter. Se não houver, produção, L=0 e consequentemente CV=0.

8.1 Análise de curto prazo: dedução da “as admitamos que cada unidade de trabalho tem um custo de 20 um. Então. 1

curva de custos a partir da curva CV=20L No entanto, o que é importante é a relação entre o custo variável e
2 quantidade produzida, ou seja: Q é determinado por L e L determina CV, mas
de produto total
nteressa encontrar a relação entre Q e CV. Chamaremos função custo à relação
entre essa produção e o custo total dos factores (CT), ou seja, o total dos custos,
“xos e variáveis:
Como se viu, uma função de produção é um modelo de tecnologia que relacior=
a quantidade de factores de produção (admitamos que são apenas capital =
trabalho) com a quantidade máxima de output que deles é possível obter. Est= c(o)=cr=cr+cv(0).
definição tem implícito, portanto, o conceito de eficiência de Pareto, já que, com
a mesma quantidade de inputs não é possivel obter mais output. Admitimos
* Figura 8.1 esquematiza estas relações.
pois, que não existe desperdício no processo produtivo. Em geral, a função o=
produção é da forma 0=f(k,L) com 0>0.
a QN

A curto prazo, a quantidade de capital é constante,pelo que a função passa a se


apenas uma relação entre a quantidade de trabalho e a quantidade produzics, | Custo
relação essa conhecida por curva de produto total, cujas características foram > Fixo
Figura 8.1 Relação entre
estudadas nas Secções 7.1 e 7.2. =s variáveis no modelo de Rincão dá 4
srodução e custos a curto eo > [0] Custo Total
Consideremos a curva de produto total utilizada como exemplo nessas secções prazo

|| > Custo |
Q=-3P+5P+60L, Variável

Podemos admitir que esta expressão é o resultado de uma função de produção L E

mais genérica, como flk)=-30 +KLP +12KL emque K=5 a curto prazo.Entso.
podemos dizer que com 5 unidades de capital e com L unidades de trabalhe. +
representa a produção máxima que é possível obter com esses inputs. “== perceber como se passa da curva de produto total para a função custos,
sente-se à Tabela 8.1. Nesse quadro, estão calculados alguns valores (4<1<9)
Ao custo de aquisição do capital, chamaremos custo fixo (CF), já que será o cus »="z OS custos variáveis e para os custos totais, a partir da curva de produto total
em que se incorre com a aquisição das unidades de capital (factor fixo). Esse. “> exemplo referido. Por exemplo, se forem utilizadas 6 unidades de trabalho, o

251
250
Cap. & - Teoria do produtor [óptica dos custos) 8.1 Análise de curto prazo: dedução da curva de custos a partir da curva de produto total

output obtido será de 378 unidades, a que corresponde um custo variável de 120 total, pelo que se vê que o andamento da curva de custos variáveis reproduz o
unidades monetárias, admitindo que cada unidade de trabalho recebe um salário andamento da curva de produto total, quase como se fosse uma imagem em
igual a 20 u.m. Se o custo de capital for 50 u.m., então o custo total que resulta espelho.
da produção das 378 unidades de produto será igual a 170 um.

L Q CF Cu | CT=CF+CV
4. [272 50 80 50
45 |30291| 50|90
Se E 140
ares
ra o
E6 378 50 | “420 170 . Tabela se CUnatos o o z + f 8 L 0 io 200 300 | 400 500 Q

65 395,28 50 130 | 180


PAST [e head custos variáveis e custos totais

7 |40715| S0 140| 190


75 [41484
CEMEDS 50 | 150 200

"85 |41066 | 50
oMEI 170
a | 220
o

Figura 8.2 Obtenção da curva de custos variáveis por transformação de valores da curva de
A relação entre a coluna Q e a coluna CV é a função custos variaveis. A relação produto total

entre O e a coluna CT é a função custos totais. O gráfico da Figura 8.2 ilustra


estas funções. Ao desenhar a curva de custos variáveis, é frequente descartar a zona que sofre
uma inflexão para a esquerda, marcada com uma sombra no gráfico, porque é
Os gráficos da Figura 8.2 lêem-se a partir do canto superior esquerdo, onde a que corresponde à etapa Ill do processo produtivo, onde a produção não é
observamos a curva de produto total. No eixo vertical lê-se a quantidade de eficiente, como já viu no Capítulo 7. No nosso exemplo, isso acontece para L>8,
output. Tomando um valor, por exemplo, 0=578 conforme assinalado pela linha ou seja depois do máximo da curva de produto total (que ocorre na produção de
tracejada, podemos ver que o valor L=6 correspondente, lido no eixo horizontal, Y=416 aproximadamente).
pode ser transferido para o gráfico imediatamente abaixo, para o associar nesse
quadrante ao valor do custo variável, ou seja, 120, lido no eixo vertical. O valor Os gráficos da Figura 8.3 exibem os comportamentos estilizados de uma curva
do output, 0=378 pode ser transferido para o gráfico do canto superior direito de produto total e de uma curva de custos variáveis.
para fazer uma rotação do eixo e passa-lo para o gráfico no canto inferior direito,
onde se pode associar imediatamente esse valor 0=378 ao custo variável A diferença entre o custo variável e o custo total é uma constante igual ao
CV=120, construindo um ponto do gráfico do custo variável, representado no custo fixo, seja qual for a quantidade produzida, ilustração feita na Figura
canto inferior direito. Utilizando este processo para todos os pontos, podemos 8.4, descartando a zona correspondente aos custos na etapa Ill do processo
construir o gráfico do custo variável, ponto a ponto, a partir da curva de produto produtivo.

253
Cap. 8 = Teoria do produtor (óptica dos custos)
8.2 Custo médio e custo marginal: a geometria dos custos

cym= EV,
Q

Por seu turno, define-se custo total médio, ou simplesmente custo médio, como
o custo total por unidade produzida, ou seja:

CIM=
L, Da

Finalmente, será o custo fixo médio (CFM).


Figura 8.3 À esquerda, andamento da curva de produto total com as 3 fases do processo produtivo
e,à direita, a correspondente curva de custos variáveis
Por definição de custo total, CT =CF+CV , é sempre verdade que, dado um certo
output O:

CTM =CFM+CVM.

Como o custo fixo, por definição, é constante, é também verdade que CFM se
Figura 8.4 Custos totais, custos vai reduzindo à medida que aumenta a quantidade produzida: uma empresa
variáveis e custos fixos que tenha feito um grande investimento em capital, terá interesse em produzir
uma grande quantidade, porque isso vai fazer reduzir o custo por unidade
produzida. Não será rentável, portanto, fazer um grande investimentoinicial em
a instalações para depois produzir uma quantidade pequena. Imaginemos uma
Os 7 Q linha de montagem de automóveis: só vale a pena investir na construção da
É fábrica, se o objectivo for produzir uma grande quantidade, porque se produzisse
poucas unidades, cada uma teria um custo médio enorme e seria difícil encontrar
consumidores dispostos a pagar um preço unitário que permitisse à empresa

8.2 Custo médio e custo marginal: a obter lucro com o negócio. Como CFM se vai reduzindo,para grandes quantidades
geometria dos custos produzidas o valor de CTM aproximar-se-á do valor de CVM.

Falta ainda definir o custo marginal, que não é mais do que o custo adicional de
À semelhança da análise feita no Capítulo 7, é bastante importante distinguir produzir mais uma unidade do produto:
entre os conceitos de custo médio e de custo marginal,já que serão fundamentais
para o estudo da escolha óptima do produtor. Gmg=ha

Define-se custo variável médio como o custo variável por unidade produzida, ou Como CT =CF+CV,o custo marginal depende apenas da variação de CV,já que CF
seja: é constante e não se altera com O, logo ACT =ACY porque ACF=0 e, portanto:

254 255
Cap. 8 = Teoria do produtor [óptica dos custos) 8.2 Custo médio e custo marginal: a geometria dos custos

a diferença entre os custos variável médio e total médio é sempre


mg AC ACV ACT j
decrescente e iqual ao custo fixo médio;
AO AQ AQ
- os custos variável médio e total médio e o custo marginal, à medida que
Voltando ao exemplo que temos estado a utilizar como ilustração, a Tabela 8.2 OQ aumenta, primeiro são decrescentes e depois são crescentes;
inclui os valores dos custos médios e do custo marginal. Cada um dos valores
- os custos variável médio e total médio são decrescentes enguanto o custo
dos custos médios esta calculado como.o custo respectivo dividido pelo output
marginal lhes for inferior;
correspondente, enquanto o custo marginal se obtém pela variação no custo
total dividido pela variação correspondente no output, linha após Linha. = os custos variável médio e total médio são crescentes quando o custo
marginal lhes é superior;

- os mínimos dos custos variável médio e total médio ocorrem quando o


custo marginal já é crescente;

l.Es
A Figura 8.5 está construída a partir dos valores da Tabela 8.2 e completa a
0,2985 Figura 8.2, exibindo os custos variáveis médios, totais médios e custos marginais.
50,00 100,00 1 02949| 0,5899| 0,
o
hs
“o
E
“o
RO 0,2442 0,2930
0,2091 | 0,2928
|EA
30291 | 01651| 0,2971
331,25 041509
356,47 + CUM

ae|o Figura 8.5 CTM, CVM e Cmg -=CTM


—tmo
395,28 | 130,00| 18000 |01265| 05289| 0,4554 | 05787
140,00 | 190,00 | 01226|03433 0,4660 | 0,8020
150,00 200,00 | 0,1205 0,35616 0,4821 1,4097

"160,00 210,00 0,1202 0,3846 05048 8,6486


Tabela 8.2 CFM, CVM, CTM e Cmg. Os valores sombreados correspondem a mínimos
000 SO 10000 150,00 200,00 25000 300,00 350,00 400,00 450,00

A relação entre valor médio e valor marginal é análoga aquela já discutida entre
Observando a Figura 8.5, pode concluir-se sem perda de generalidade que todas
produto médio e produto marginal no Capítulo 7. Atentando na Tabela 8.2, pode
as curvas têm a forma de U, sendo que CVM e CTM têm um mínimo quando se
ainda observar-se que:t?
cruzam com Cmg, o que está de acordo com as conclusões já retiradas acima.

Recordando o apêndice do Capítulo 1, não podemos esquecer que,para variações


infinitesimais no output, o custo marginal coincide com a derivada da função custo;
a O apêndice matemático no final deste capitulo contém todas as demonstrações.

256 257
8 - Teoria do produtor [óptica dos custos) 8.2 Custo médio e custo marginal: a geometria dos custos

A Figura 8.7 ilustra este processo, no painel da esquerda para o custo marginal e,
Cmg = A€ | É.
no painel da direita, para os custos médios, obtendo curvas com o comportamento
40 1950 2
típico.

Geometricamente,isto significa que o custo marginal num ponto é igual ao cr


declive da recta tangente ao gráfico da função custos nesse ponto. Devemos
também, relembrar, que o custo médio-num ponto. corresponde ao declive da
recta quesai da origem e vai até ao ponto correspondente no gráfico da função
custo. À Figura 8.6 ilustra estes pontos.

Figura 8.6 O declive da


tangente a CT no ponto Q1 é
medido por tgc, enquanto que
o declive da recta que passa no
ponto de coordenadas (O, CVi)
é medido por too

q 00
Figura 8.7 Dedução geométrica das curvas de custo marginal e custo médio

Da observação da figura, podemos dizer então que:


Dando atenção ao painel da esquerda, podemos observar que as tangentes (a
tracejado) à curva de custo total,à medida de Q aumenta, vão-se tornando
Cra(o.) ==;
9CT (0,)=tga,
)= menos inclinadas até ao ponto O, que é o ponto de inflexão da curva. À partir
desse ponto, as tangentes têm um declive crescente. Então, a curva de custo
marginal, que representa a função derivada do custo total, é decrescente até ao
cvm(a:)= E =tgo ponto O, após o que se torna crescente.

Este mesmo exercício pode ser feito no painel da direita em relação aos declives
Esta interpretação geométrica permite desenhar as formas genéricas dos gráficos
das rectas que partem da origem dos eixos (a tracejado) até um ponto da curva
das funções custo marginal e custo médio, a partir do gráfico da função custo de custo variável: o seu declive vai diminuindo até ao ponto Q,, após o qual os
total: para desenhar o custo marginal, basta ver se aumenta ou diminui o declive
declives vão aumentando. Então, a curva de custo variável médio começa por ser
das tangentes à curva de custo variável, à medida que variamos Q;para desenhar
o gráfico dos custos médios, basta ver se aumenta ou diminui o declive das rectas 1 Estas tangentes são paralelas às tangentes à curva de custo variável, porque a diferença é uma
que partem da origem até um ponto da função, à medida que variamos O, constante igual ao custo fixo.

258 259
Cap. 8 - Teoria do produtor (áptica dos custos] 8.3 Análise de longo prazo: relação entre custos médios de longo prazo e as curvas de curto prazo

decrescente, para depois se tornar crescente a partir do seu mínimo, que ocorre curvas de custo médio e custo marginal se desloquem para a direita e para baixo,
no ponto Os. Nesse ponto, a recta que sai da origem é tangente à curva de custos como ilustra genericamente a Figura 8.9. Esse resultado é generalizável, mas a
variáveis, pelo que é o ponto onde o custo variável médio coincide com o custo demonstração matemática está para além dos objectivos deste Livro.
marginal. O mesmo comportamento se verifica para o custo total médio, mas 0
seu mínimo ocorre mais à direita, já que o ponto Q,, onde a tangente à curva de Curto Prazo
custo total passa na origem, corresponde a um nivel de output superior. (K Fixo)

Procura de
No Capítulo 9,no contexto de concorrência perfeita, iremos dedicar mais atenção L=argmin E Trabalho no
Eae Sa: 0=0" => Mercado de
ao significado dos pontos O, e Q,. Esses pontos são fulcrais para a qualificação Factores.
do Lucro que uma empresa pode obter, em função do preço de equilíbrio do
mercado onde actua.
Estrutura de
Mercado do [>| O'=argmaxn
Produto

8.3 Análise de longo prazo: relação Procura de K


entre custos médios de longo prazo rr
(K,Lj=argmin €
Sa: 0=0"
= edeLno
Mercado de
e as curvas de curto prazo Factores

Longo Prazo
(K variável)
A longo prazo todos os custos são variáveis. É esta característica que define esse
horizonte cronológico.Isto significa que, como se viu nas Secções 7.5 e 7.6, dada a
Figura 8.8 Esquematização do modelo da teoria do produtor
quantidade óptima de output a produzir, o produtor pode escolher a combinação
de capital e de trabalho que lhe minimiza os custos de produção, A quantidade
Como se relaciona a curva de custo médio a Longo prazo com as curvas de curto
óptima de output a produzir depende das condições de mercado onde o produtor
prazo para diferentes níveis de capital? A curva de custo médio a longo prazo
se insere. À Figura 8.8 esquematiza esta sequência de relações no modelo de
deve corresponder ao custo médio da escolha óptima de capital e de trabalho
teoria do produtor, para uma quantidade oferecida Q* e um lucro 1.
para produzir uma certa quantidade de output.

Uma vez que, a longo prazo,a estrutura de capital está disponivel para a escolha
CM
do produtor, já sabemos que ele vai escolher a situação que gera os custos
minimos.
Figura 8.9 Curvas de custo
médio e custo marginal a
É necessário, no entanto, primeiro saber como se alteram as curvas de custo a curto prazo para dois níveis
diferentes de capital k, < K;
curto prazo quando a quantidade de capital aumenta. Deixamos como exercício
ao leitor verificar que, no exemplo em que se construiram as Tabelas 8.1 e 8.2,0
aumento da quantidade de capital de K=5 para um valor superior, faz com que as

260 251
Cap. 8 - Teoria do produtor [óptica dos custos)
8.3 Análise de longo prazo: relação entre custos médios de longo prazo e as curvas de curto prazo

Admitamos que o objectivo é aumentar a quantidade de output de um valor hipotético


médio sofrem um arrastamento para a direita e para baixo, conforme ilustra a
Q, para Q,. Como vimos na Secção 7.6, a escolha óptima do produtor a longo prazo
Figura 8.11. Então, a curva de custo médio de longo prazo corresponderá ao
para produzir Q, consiste em determinar K e L de forma a obter custos mínimos, ou
contorno inferior de todas estas curvas, marcado com um traço mais grosso na
seja, atingir o ponto E na isoquanta associada ao nível Q,, escolhendo optimamente
figura. Ao longo da curva CM,, para qualquer nível de output, o custo a longo
Ke L, conforme ilustra a Figura 8.10, reproduzida a partir da Figura 7.12.
prazo é sempre menor ou igual do que o custo a curto prazo para os vários níveis
de capital instalado.

Figura 8.10 O aumento de CM


produção para Ô,,a curto prazo,
iria obrigar à utilização de K,, Figura 8.11 A curva de custo
ou seja, iria obrigar a estar médio a longo prazo é o
no ponto H, em vez de ser no contornoinferior de todas as CM(K)
ponto F, que é a escolha óptima curvas de custo médio a curto CMK)
para aquela produção. Assim, os prazo associadas a todos os R
custos a curto prazo são sempre níveis de capital possíveis CM
maiores ou iguais aos custos a
longo prazo

Em qualquer ponto da curva de custo médio a longo prazo, seja qual for o valor
de outpui O, o valor do custo médio diz respeito à escolha óptima dos factores
Caso se quisesse aumentar Q, a curto prazo, mantendo K fixo em K,, ou seja, 0
de produção, no sentido da Secção 7.6, isto é, dados os custos unitários dos
capital que já era utilizado, a produção seria aumentada à custa da contratação
factores, (9 são cumpridas todas as condições seguintes:
de mais trabalho, o que iria colocar o produtor no ponto H da Figura 8.10. Caso
pudesse escolher optimamente, a longo prazo, o produtor escolheria colocar-se
no ponto F para produzir Q,. No ponto H, os custos totais são superiores aos do
Mao)
ponto F, porque a recta isocusto que inclui a escolha óptima (F) está abaixo da
recta isocusto que inclui o ponto de produção H. Então, se o custo total em F é (K Tale ? = argmin(tk + wi)
inferior ao custo total em H e, em ambos os pontos, a produção é a mesma, isto
Sa: fkt)=o"
significa que o custo médio no ponto H será superior ao custo médio no ponto
F. Então, o custo médio na escolha óptima a longo prazo é sempre menor ou
igual ao custo médio da produção do mesmo output usando o capital disponível O valor de Q*, quantidade óptima a produzir que deve maximizar o lucro,
a curto prazo, sem fazer o aumento de capital que seria necessário para produzir dependerá da estrutura de mercado, como se verá no Capítulo 9.
O, optimamente. Concluímos então que, a longo prazo, os custos médios são
menores ou iguais aos custos médios de curto prazo.

Se juntarmos esta informação ao facto ilustrado pela Figura 8.9, podemos 4 Admitindo custos dos factores, r e w, constantes. Isto significa que admitimos que o produtor não

imaginar que, para um contínuo de valores possíveis para K, as curvas de custo contrata capital e trabalho em quantidadestais que afectem os respectivos preços de transacção, O
que é equivalente a supor que o mercado de factores funciona em concorrência perfeita.

asa
263
8.4 A relação entre custos e lucro: o lucro econômico e o lucro contabilistico
Cap. 8 = Teoria do produtor (óptica dos custos)

8.4 A relação entre custos e lucro:


o lucro económico e o lucro EM

contabilístico

Retomando a Figura 8.8, ficamos a saber que as condições de mercado


determinarão o preço a que a empresa vai vender a sua produção e, por conseguinte,
a quantidade óptima a produzir, assunto sobre o qual nos debruçaremos no O" o
Capítulo 9. Admitindo que, para um determinado preço Pa produção óptima é Q*,
Figura 8.12 À esquerda, empresa com lucro,à direita empresa com prejuízo
a empresa terá Um certo custo que decorre da tecnologia utilizada e do preço dos
factores de produção. A receita das vendas subtraída dos custos totais, permite
Em geral, o custo de um factor de produção será igual ao valor da sua melhor
obter o lucro x =RT —CT .:5 Tendo em atenção que RT=PQ e que CM=T
utilização alternativa, Este custo pode ser de dois tipos:
podemos escrever o Lucro como:
— um custo explícito, que consiste numa despesa e, portanto, num pagamento
7=RT-CT=Q(P-CTM). efectivo

= um custo implícito, que não leva a um pagamento efectivo.


A partir desta expressão, consegue perceber-se que a empresa terá lucro se
o preço for superior ao custo médio de produção e prejuízo caso contrário. Um custo de oportunidade pode consistir num custo explícito, como seja o salário
Graficamente, o valor da expressão x corresponde à área sombreada na Figura do exemplo dado, mas também pode ser um custo implícito que não corresponde
8.12 e pode ser positivo ou negativo, tal como ilustrado. a uma despesa, como seja o custo implícito do capital.

O lucro calculado desta forma é o lucro económico, e é a diferença entre O custo implícito do capital, ou renda implícita, é o valor da melhor utilização
receitas totais e custos totais. Não nos podemos esquecer que estes custos são alternativa de determinado capital utilizado numa actividade produtiva.
compostos pelos custos dos factores de produção, que correspondem aos custos Consideremos um proprietário rural que utiliza o seu terreno para plantar
de oportunidade da sua utilização: por exemplo,o salário pago aos trabalhadores oliveiras. O terreno está na família há várias gerações, pelo que não existe
deve compensá-los do valor por eles atribuido à melhor utilização alternativa uma despesa com a aquisição propriamente dita. No entanto, existe um custo
do seu tempo, que eventualmente corresponderá à utilidade decorrente de de oportunidade da sua utilização que corresponde a um custo de capital. Esse
actividades de lazer. Claro que o salário pago pelas empresas será idêntico ao custo de oportunidade é o valor que o proprietário receberia caso alugasse 0
minimo que os trabalhadores estarão dispostos a receber para que trabalhar não terreno para um outro fim que não o da plantação do olival. Este custo implícito
seja uma escolha irracional. Então, em equilíbrio, esse salário será exactamente é contabilizado nos custos económicos, mas não corresponde a uma despesa
igual ao custo de oportunidade do trabalho.t8 efectiva.

Quando se calcula o lucro económico, a que sempre nos referiremos quando


8 É frequente utilizar a letra x para simbolizar o lucro económico.
falarmos genericamente em Lucro, leva-se em consideração, no lado dos custos,
8 Admitimos, mais uma vez, um ambiente concorrencial no mercado de factores.

264 265
Cap. 8 = Teoria do produtor (óptica dos custos)
8.5 Economias de escala: relação com a estrutura de uma indústria

todos os custos explícitos e implícitos em que se incorre numa actividade


longo prazo decrescentes, ou seja, que exibem economias de escala, em certas
produtiva e, globalmente, chamamos-lhes custos totais.
condições.m

Esta abordagem difere de outras abordagens ao cálculo do lucro, como seja a


CM
abordagem contabilística, onde, para calcular o lucro, se têm apenas em conta
Economias de Escala 8 Deseconomias de Escala
os custos explícitos, ou seja, aqueles que envolvem directamente uma despesa. Figura 8.13 Economias '
1
Também se considera do lado dos custos alguns custos implícitos, como seja a & deseconomias '
'
'
de escala; '
depreciação dos activos fixos, mas estão longe de considerar todos os custos de '
Os; Corresponde à 1
4
oportunidade de utilização dos recursos. escala minima eficiente 1
'
'

Assim sendo, podemos concluir que um lucro econômico será sempre menor ou rue

iguala um lucro contabilístico presente numa conta de demonstração de resultados.


À extensão das economias de escala determina a dimensão da escala mínima
eficiente, ou seja, o montante de output que minimiza os custos médios a longo
prazo: Qu
8.5 Economias de escala: relação com a
estrutura de uma indústria À dimensão da escala mínima eficiente depende da tecnologia e é fulcral para
a determinação do número de empresas viáveis num mercado e, portanto, para
a intensidade da concorrência que se vai verificar. Quanto maior a extensão das
Na Secção 8.3 concluímos que os custos médios de longo prazo têm um formato economias de escala, isto é, quanto maior a dimensão de output até ao qual
em U. Ao seu mínimo chama-se escala mínima eficiente. Enquanto os custos os custos médios decrescem em relação à dimensão da procura, menor será o
médios forem decrescentes a longo prazo, dizemos que existem economias número de empresas que estão activas num mercado.
de escala. Quando os custos médios são crescentes a longo prazo, dizemos
que existem deseconomias de escala. Este conceito está relacionado com o de
A
rendimentos à escala na função de produção, mas não é a mesma coisa e não
podem ser confundidos. D
|
|
O conceito de rendimentos à escala diz respeito ao efeito na quantidade | M D
produzida que decorre de uma variação de todos os inputs em simultâneo e nz CM,,
mesma proporção. Por seu turno, o conceito de economias de escala diz respeito
Ouve o Ou Q
ao comportamento do custo médio de Longo prazo quando a produção aumenta.
conforme ilustrado na Figura 8.13. Figura 8.14 À esquerda, um mercado onde a EME é muito grande em relação à dimensão da
procura; à direita, um mercado onde a EME tem uma dimensão muito reduzida em relação à
procura
São, portanto, coisas diferentes. Demonstra-se, no entanto, que tecnologias que
exibam rendimentos crescentes à escala dão origem a funções custo médio de
A demonstração é fornecida no Apêndice deste capítulo.

266
267
Cap. 8 - Teoria do produtor [áptica dos custos) Questões de revisão

A Figura 8.14 mostra duas situações opostas em relação à dimensão da EME: à produzir uma grande quantidade para que o custo médio decresça o suficiente para
esquerda, a quantidade de output associada à escala mínima eficiente é muito ser um valor aceitável e que eventualmente possa gerar lucro, o que não dá espaço
elevada proporcionalmente à procura. Isto significa que os custos médios estão a para haver muitas empresas no mercado, em especial se a procura não for de grandes
diminuir até valores muito elevados de produção e não faz sentido ter empresas dimensões. Pode até dar-se o caso de este tipo de barreiras à entrada no mercado,
que produzam em pequena escala: do ponto de vista dos custos de produção, conhecido como barreiras estruturais ou naturais, levem a que só uma empresa seja
fica mais barato ter poucas empresas, ou até uma só empresa, a abastecer viável: dada a dimensão da procura, a extensão das economias de escala pode Levar
todo o mercado, do que ter a quantidade que o mercado exige dispersa por a queseja eficiente ter apenas uma única empresa.(9
muitas empresas, em que cada uma tem custos mais elevados por produzir uma
quantidade menor. Em situações deste tipo, tendencialmente os mercados têm
pouca concorrência e há poucas empresas activas.
Questões de revisão
O lado direito da Figura 8.14 mostra uma situação contrária, em que as economias
de escala são negligenciáveis. Neste contexto, não vale a pena uma empresa
1. Relacione o andamento da curva de custos totais com o da curva de
produzir uma quantidade muito grande: quanto mais produzir, mais elevados
produto total.
serão os custos médios. É um contexto em que a produção que a procura exige
se deve dispersar por um maior número de empresas. Será, provavelmente, um 2. Explique qual a diferença entre uma análise de curto prazo e uma análise
mercado onde a concorrência é feroz. de Longo prazo.

3. Argumente que os custos de longo prazo são sempre menores ou iguais aos
Há muitos factores que determinam o grau de concorrência num mercado: o
custos de curto prazo para uma produzir uma certa quantidade de output.
número de empresas activas, as características do produto, o tipo de variáveis
estratégicas, etc., pelo que não são apenas as economias de escala as responsáveis 4. Relacione o andamento da curva de custos médios com o da curva de
pelo número de empresas activas, mas têm um papel importante na imposição custos marginais.
de barreiras à entrada de empresas num mercado.
5. A extensão das economias de escala na produção de energia hidroeléctrica
são as mesmas em qualquer parte do mundo que utilize a mesma tecnologia.
Quando existem extensas economias de escala, as tecnologias tipicamente exigem
No entanto, para produzir uma quantidade para uma pequena cidade é natural
grandes investimentos em capital. Se esses investimentos em capital forem em
ter apenas uma central enquanto para obter a energia necessária para uma
activos específicos a uma actividade, então os custos respectivos designam-se custos
grande cidade podem ser necessárias várias centrais. Explique.
afundados. Um activo específico a uma actividade não tem valor em utilizações
alternativas, ou tem apenas um valor residual, isto é, um activo específico só tem 6. Explique o conceito de custo afundado.
valor para a actividade para o qual foi concebido. É o caso do investimento em
equipamentos para uma central hidroeléctrica, ou o investimento em infra-estruturas
de telecomunicações. Os respectivos custos de investimento são custos afundados, e É o caso do monopólio natural. À dimensão da procura em conjugação com a extensão das
economias de escala pode levar a subaditividade de custos na indústria: é mais barato ter apenas
no sentido em que são irrecuperáveis caso a actividade termine. A necessidade de
uma empresa a produzir para a procura existente do que ter mais do que uma. Este é o factor
fazer este tipo de investimentos é dissuasora da entrada no mercado e quanto maior que determina um monopólio natural e não apenas a extensão das economias de escala, como
o custo do investimento, mais extensas serão as economias de escala: será preciso erradamente por vezes se diz. Regressaremos a este assunto no Capitulo 9.

268 269
Cap. 8 - Teoria do produtor [óptica dos custos) Apêndice matemático

Apêndice matemático !

cor=|feng cm) = (3)

Apresentamos aqui as demonstrações das propriedades dos custos discutidas ao


Mas, no ponto em que o custo médio cruza o custo marginal, o custo marginal já
longo do Capítulo 8.
é crescente, pelo que a expressão (3) assume um valor positivo, o que mostra que
quando Cmg=CM o custo médio atinge um mínimo.
Propriedade 1: (i) Se os custos médios são decrescentes, então os custos marginais
são inferiores aos custos médios; (ii) se os custos médios são crescentes, então
Propriedade 2: O output onde o custo marginal é mínimo, é produzida com a
os custos marginais são superiores aos custos médios; (iii) os custos médios são
quantidade de input em que o produto marginal atinge um máximo, ou seja:
iguais aos custos marginais no seu mínimo.

Demonstração: O, =argmin Cmg AL, =argmax Pmng=>0,= fis) i

(i) Os custos médios são decrescentes se a sua derivada for negativa: CM' <0 Demonstração:

Então, calculando a derivada dos custos médios, vem: Sendo Cmg=T e Pmg =a por definição de custo marginal e de produto
marginal, vem que:

0 d0 dQ Pmg

Cmg'=0 o -wBTS -0e»Pmg'=0 :


Logo de (1), CM'<0 «> Cmg-CM<0 = Cmg<CM.
Pmg'

(ii) Da mesma forma, de (1), os custos médios são crescentes se a sua derivada for Ou seja, 0 extremo do custo marginal (em relação a Q) coincide com o extremo
positiva, caso em que, obviamente: (mg -CM>06 Cmg>CM . do produto marginal (em relação a L). Tratam-se de respectivamente de mínimo
e máximo, porque:

(iii) Os custos médios, no seu extremo, são tais que CM'=0, mas usando a
igualdade (1), isso é o mesmo que dizer Cmg = CM Trata-se de um mínimo do Cm » =MSPmg?
-2PmgPmg' 4
(4)
4 Pmg
custo médio, porque CM” >0

orr=[itera-co)] =Jlera-orifemerom)
!

fg
Como no extremo Pmg'=0 a expressão (4) simplifica para

Cm r- mPmorng?Pg” “
(3)
9 Pmg* Pmg
No extremo, CM'=0 e Cmg=CM, pelo que a expressão (2) se simplifica para:

270 271
Cap. 8 - Taoria do produtor [óptica dos custos] Apêndice matemático

Como o produto marginal é uma função côncava, Pmg” <0, Logo necessariamente Propriedade 4: Na presença de factores com custos constantes (concorrência

a expressão (5) é positiva e Cmg” >0 no extremo, pelo que a quantidade de input perfeita no mercado dosfactores) a presença de rendimentos crescentes à escala

que gera um máximo no produto marginal é a necessária para produzir uma na função de produção está associada à presença de economias de escala.
quantidade de output que gera um custo marginal mínimo.
Demonstração:
Propriedade 3: O output onde o custo variável médio é mínimo, é produzida com
a quantidade de input em que o produto médio atinge um máximo,ou seja: Define-se rendimentos à escala como homogeneidade de grau superior a 1 na
função de produção, ou seja, para qualquer constante a >0:

O, =argmin CVM AL, =argmax PM =0, = f (1).


Fox at)> of (kt).
Por outras palavras, 0 output que corresponde ao Início da etapa Il do processo
produtivo (óptimo técnico) é aquele que minimiza os custos variáveis médios Define-se economias de escala como custos médios decrescentes a Longo prazo,
(Limiar de encerramento). ou seja, um aumento de OQ faz diminuir o custo médio.

Demonstração: Ora, o custo de produzir flok,oL) será Clok,at)=r(0:x) + w(ot), admitindo


preços de factores constantes, ou seja, que a quantidade de factores contratados
Usando a 3º parte da propriedade 1, pretende demonstrar-se que não influencia o respectivo preço unitário, o que é uma hipótese de mercado de
factores perfeitamente concorrencial. Nestas condições, Clok,at)= ac(k,L).
Pmg = PM es Cmg = CVM .
Então, o custo médio, que é calculado como M=s vem
Basta utilizar as definições de cada um dos conceitos necessários para ver que:

Clokat) eC(k,L)
aL Flakat) Foxot)
5190/10
woL wL
Se a função de produção exibir rendimentos crescentes à escala, então verifica-
O 0
se que flok,ot)>of(KsL) e observa-se que:
o[mt) wL

dv) oc(kL) oc(kL) Cc,


NDA.
0 OQ flok,at) af(kt) Q
13, 86V CY
do 0
Ou seja, o aumento de K e L na mesma proporção o, ao fazer aumentar Q mais
e Umg=CVM .
do que proporcionalmente (rendimentos crescentes à escala), vai fazer com

e7e 273
Cap. 8 - Teoria do produtor [óptica dos custos)

que o CM decresça, porque o custo total aumenta na mesma proporção que


K e L. Então, isso significa que existem economias de escala na presença de
rendimentos crescentes à escala.

Da mesma forma se conclui que:

- Na presença de rendimentos decrescentes à escala, CM exibe


deseconomias de escala;

- Na presença de rendimentos constantes à escala, CM,, é constante.


Mercados

9.1 Definição de mercado e diferentes tipos de


mercados 279
9.2 Concorrência perfeita 281
9.2.1 Pressupostos da concorrência perfeita cBo
9.2.2 A solução de curto prazo da empresa em
concorrência perfeita 284
9.2.3 A análise de longo prazo e a estabilidade da
solução da concorrência perfeita 290
9.3 Por que falha a concorrência perfeita? 294
9.4 Monopólio 296
8.4.1 A solução da empresa em monopólio 297
9.4.2 Monopólio natural 301
8.5 A situação da concorrência perfeita vs. a situação
do monopólio 306

Questões de revisão 309

277
9.1 Definição de mercado e diferentes
CONCEITOS-CHAVE
tipos de mercados
atomicidade dos agentes mercado
Em termos económicos, um mercado é um qualquer arranjo onde seja possivel
concorrência monopolística monopólio
confrontar os interesses dos compradores e dos vendedores. No fundo, existe
concorrência perfeita monopólio natural mercado desde que haja simultaneamente procura e oferta de um determina
do
bem ou serviço sendo que da actuação dos diferentes agentes no mercado, se
escala mínima eficiente oligopólio
fixa o preço e a quantidade que serão transaccionadas.
falha de mercado perda de bem-estar do
monopólio É importante desde já esclarecer que o mercado não tem que ser um local físico
e
Limiar de encerramento
existem vários exemplos de mercados que podem serutilizados para exemplific
subaditividade de custos ar
limiar de rentabilidade esta situação: desde o mercado de capitais (um dos primeiros mercados
a
desenvolver-se desta forma) até aos produtos em segunda mão, existe uma
panóplia muito grande de exemplos que podem ser utilizados. Na realidade
as
novas tecnologias permitiram desmaterializar por completo o conceito de mercado.

É possível classificar os mercados em diferentes categorias, dependendo de vários


factores, entre os quais a pressão competitiva imposta pelos seus agentes.
Uma
das variáveis fundamentais para identificar a pressão competitiva é o número de
empresas. Nao sendo a única variável, ela permite fazer a primeira aproximação
a diferentes mercados.

O expoente máximo da competitividade entre empresas é identificado pelos


economistas como um mercado de concorrência perfeita. Neste mercado
existem muitas empresas sem capacidade para se diferenciarem, o que significa
que não têm poder de mercado. Todos os mercados que não apresentem as

* Estas não são as únicas características da situação de concorrência perfeita, sendo explicadas
na
próxima secção. Também as possíveis diferenças ao nível das imperfeições de mercado serão
tratadas
neste capítulo.

278 279
Cap. 9 - Mercados
9.2 Concorrência perfeita

caracteristicas deste são considerados como tendo concorrência imperfeita,


5 ns Au
devido ao poder que as empresas têm para influenciar o preço de mercado. E s ea E
o o ms «D
= o EO EM
[=] 9 a E
E E=)) S o o
o = EE [= e
O extremo da ausência de competitividade é a situação em que apenas existe uma = Õ Ge SU
O E A E

empresa a fornecer um bem ou serviço. Essa situação, conhecida como monopólio, é

a-
uma situação em que há geralmente um grande poder de mercado por parte dessa

EEE a
E

E
empresa. À medida que a pressão competitiva no mercado aumenta, ou seja, em

aE
5 EE
LEÉ
[a Éq

dis
que existem mais algumas empresas, passa-se para uma situação de oligopólio. Esta

-e
é uma estrutura de mercado caracterizada fundamentalmente pela existência de

E
-
poucas empresas que se comportam estrategicamente, com ou sem diferenciação
de produto. Modelos como os de Cournot, Stackelber ou Bertrand, comummente
Figura 9.1 Diferentes estruturas de mercado
utilizados em Microeconomia, consideram o produto homogéneo.À existência de um
grande número de empresas sem comportamento estratégico, ainda que com alguma
Este livro vai abordar, pormenorizadamente, a forma como as empresas em
capacidade de diferenciação dos produtos oferecidos, configura um mercado que é
concorrência perfeita e em monopólio se devem comportar quando têm como
conhecido como de concorrência monopolística. Todos estes modelos específicos,
objectivo maximizar o seu lucro. No entanto, é fundamental perceber que a
e que são utilizados em Economia Industrial para a análise de diversos problemas,
determinada altura, e devido a diversos motivos, é possível que as empresas possam
estão para além do âmbito destelivro.
estar interessadas em ter um comportamento que difira do da optimização do lucro.
Isso pode acontecer, por exemplo, numa situação em que as empresas tenham
A Figura 9.1 permite identificar de forma genérica as quatro estruturas de mercado
uma determinada encomenda que queiram satisfazer. Produzir uma quantidade
referidas anteriormente, organizadas da esquerda para a direita por ordem crescente
diferente do óptimo obrigará as empresas a abdicar de parte do seu lucro mas
de competitividade: começa-se na situação de monopólio e termina-se na situação
pode ser importante, por exemplo, para o cumprimento de determinados objectivos
de concorrência perfeita.) A maior competitividade resulta tendencialmente num
estratégicos (no caso, poder garantir uma maior quota de mercado no futuro).
poder de mercado (capacidade da empresa fazer subir o seu preço sem perder
clientes) que é cada vez menor por parte das empresas mas que, note-se, não é
Quanto as estruturas de mercado de oligopólio e concorrência monopolística
a única variável relevante para explicar o preço de mercado.) Reforça-se ainda o
são temáticas mais avançadas e que, por isso, estão fora do âmbito deste livro de
facto de que o oligopólio pode ter presente a caracteristica da homogeneidade do
carácter introdutório.
produto, apesar de a imagem sugerir a sua diferenciação.

em Na realidade é possivel também identificar outras duas diferentes estruturas de mercado:


monopsónio e oligopsónio. Estas duas estruturas estão relacionadas com o número de compradores:
no monopsónio existe apenas um comprador do bem enquanto no oligopsónio existem poucas
compradores do produto que é vendido neste mercado, estando geralmente associadas ao mercado 9.2 Concorrência perfeita
de factores. Estas estruturas de mercado estão fora do ambito introdutório deste livro.
Por exemplo, o modelo de Bertrand identifica que, mesmo na presença de apenas duas empresas
e com produto homogéneo, havendo umasituação de concorrência em preços é suficiente a existência
de duas empresas para que o poder de mercado na definição do preço se perca. Tal como osrestantes Geralmente à concorrência perfeita é uma estrutura de mercado identificada por
modelos de oligopólio, este modelo não é abordado neste Livro introdutório.
ter muitas empresas a vender os seus produtos. No entanto, esta não é a única

280
281
Cap. 8 - Mercados 3.2 Concorrência perfeita

Esta situação tem implicações directas para as empresas. Independentemente da


característica deste mercado.As diferentes características da concorrência perfeita
curva da procura de mercado, como definido no Capítulo 4, a procura dirigida a
são: atomicidade dos agentes, homogeneidade do produto,informação perfeita,
Cada uma das empresasé totalmente horizontal, ou seja, é infinitamente elástica,
mobilidade factorial e livre entrada e saída de empresas. Estas características são
discutidas na próxima secção, prosseguindo-se com a identificação da solução da
como pode ser visto na Figura 9.2. Isso significa que a empresa é obrigada a
vender ao preço identificado. Qualquer subida de preço faz com que as pessoas
empresa de concorrência perfeita assim como a identificação da estabilidade
deixem de procurar o produto nessa empresa, passando para a concorrência
deste mercado numasituação de longo prazo,
(convém relembrar todos os restantes pressupostos da concorrência perfeita),
sendo que uma situação em que a empresa baixa o preço vai provocar prejuízos
(como será analisado adiante).

9.2.1 PRESSUPOSTOS DA CONCORRÊNCIA


PERFEITA

Jã foi identificado anteriormente que concorrência perfeita uma estrutura de


mercado onde existem muitas empresas a vender os seus produtos. No entanto, além
de ter muitas empresas, é necessário também que existam muitos compradores. Esta
Figura 9,2 Procura dirigida a
“característica e conhecida entre os economistas comodos cada empresa
mas não é a única característica dos mercados de concorrência perfeita. Uma outra
característica fundamental desta estrutura de mercado é homogeneidade
ou seja, todos os produtos/serviços que são oferecidos pelas diferentes empresas são
iguais, não havendo qualquer tipo de diferenciação entre eles. Além disso, nestes
mercados existeperfeita (isto significa que todos os agentes
têm informação total sobre os produtos, a sua qualidade e preço),por

toal (s
empresas têm acesso as formas mais eficientes de produzir assim como aosrestantes
factores de produção disponíveis) ede(a À grande questão está no facto de que, na realidade, será muito dificil encontrar

inexistência de barreiras à entrada ou saída significa que qualquer agente económico um mercado que funcione exactamente em concorrência perfeita, dada a

pode abrir e fechar uma empresa sem custos adicionais, em qualquer momento). exigência dos pressupostos. Ainda assim, haverá mercados que se aproximam
desta estrutura, sendo o mercado dos produtos hortícolas um possível exemplo:

Ainda que exigentes (como mais à frente se verá), a coexistência destas cinco há muitos produtores e consumidores; o produto é relativamente homogéneo:
ainda que não conhecendo o preço dos produtos em todos os locais de venda as
condições tem consequências na forma como as empresas se comportam,
nomeadamente no facto de o preço que a empresa enfrenta para o seu produto pessoas terão uma noção aproximada dos preços; as tecnologias de produção
são relativamente conhecidas; as barreiras à entrada e saída das empresas não
ser exógeno,Isso significa que nenhum agente tem dimensão suficiente para
são muito significativas. Apesar disso, haverá motivos para que a concorrência
alterar as condições do mercado. Por outras palavras, nenhuma empresa tem
perfeita não se verifique na... perfeição. Isso será explorado mais à frente.
poder de mercado sobre o preço.

282 283
Cap. 9 = Mercados 9.2 Concorrência perfeita

9.2.2 A SOLUÇÃO DE CURTO PRAZO DA EMPRESA benefício da última unidade produzida é superior ao custo de produção dessa
EM CONCORRÊNCIA PERFEITA unidade. Significa que a empresa pode produzir mais unidades, até ao ponto em
que a igualdade se verifica. Obviamente no caso de P<Cmg o comportamento é
o contrário, OU seja, a empresa está a produzir uma quantidade tal que o custo
No capitulo anterior analisou-se o comportamento dos custos de uma empresa, de produção supera o rendimento que a empresa obtém com a última unidade
distinguindo as situações de curto e longo prazo, estando associado ao primeiro produzida. No sentido de maximizar o lucro a empresa deve reduzir a produção.

caso a utilização de factores fixos, e assim, também a existência de custos fixos.


Identificando Q como a quantidade produzida por uma empresa, P o preço de Nota para um facto importante, e que já foi relevado noutros capítulos: ter uma

venda (que é igual, independentemente das unidades vendidas) e sabendo que situação em que o benefício marginal iguala o custo marginal não significa
os custos totais da empresa são descritos em função da quantidade, o problema necessariamente que o lucro seja igual a zero. O que significa é que o lucro da
da maximização do lucro (7) numa empresa é dado por: última unidade é igual a zero, sendo que as unidades anteriores podem garantir
lucro positivo à empresa e as posteriores um lucro negativo. Por exemplo, é
Max m=P.Q-CT(Q)=RT(Q)—CT(O)- perfeitamente possível ter uma situação em que P<Cmg e ter um lucro positivo.
O que acontece é que esse lucro pode ser maior.
Como qualquer problema de maximização com uma variável (neste caso a
quantidade), a solução obtém-se calculando a primeira derivada e igualando a Verificou-se então que o óptimo numa empresa competitiva é dado pela igualdade

zero, ou seja: entre preço e custo marginal. No entanto, essa igualdade não é necessariamente
suficiente para identificar o comportamento óptimo da empresa.

MM 0 PIO), ST) o us pmg-Crig=06> RO = mg 5


0 dQ dQ Considere-se a informação presente a Figura 9.3 em que se tem presente uma
tradicional curva de custos marginais, como identificada no capítulo anterior. Além
Tal como em outras situações, isso significa que uma empresa num mercado da informação do custo, sabe-se também que o preço de mercado é o preço P
concorrencial maximiza o seu lucro, quando a última unidade produzida dentificado também na figura. Nesse caso, existem duas diferentes quantidades
lhe dá um benefício (receita marginal) que é igual ao custo (custo marginal). que possibilitam a igualdade entre preço e custo marginal: O, e Q,. No ponto
A particularidade desta situação é que o benefício marginal de uma empresa referente à primeira quantidade, a produção de mais uma unidade fará com que
concorrencial é exactamente igual ao preço, dado que todas as unidades da o custo marginal decresça, pelo que nesse caso passará a verificar-se a situação
empresa são vendidas ao mesmo valor, pelo facto de que a empresa não tem 2>Cmg. Como tal, a empresa deve continuar a produzir até ao ponto O,.
poder de mercado. Deste modo, é então possível escrever a situação de óptimo
de uma empresa concorrencial, identificada como a sua curva da oferta, como: Formalmente esta situação pode ser analisada recorrendo à condição de segunda
ordem, do problema da maximização do lucro. Recordando, a condição de primeira
P=Cmg. ardem indicava que m=0e>Rmg-Cmg=0. No caso da concorrência perfeita a
receita marginal é igual ao preço, ou seja, é equivalente escrever a condição
Numa qualquer situação de diferença entre preço e custo marginal, hã margem anterior como P=Cmg = 0.A condição de segunda ordem será então free Cmg”.
para a empresa alterar o seu comportamento, de modo a aumentar os seus Fara ser um ponto de máximo, a condição de segunda ordem exige que a 2º
lucros. Por exemplo, se se verificar que P>Cmg, então isso significa que o derivada seja menor que zero, isto é — Cmg' <0 e» Cmg'>0 . Como tal comprova-

284 285
Cap. 9 - Mercados
9,2 Concorrência perfeita

se que 0 óptimo só se pode verificar na parte ascendente do custo marginal, pelo mais do que a diferença entre custos e receitas). Nesta
situação, a empresa não
que a oferta terá que ser, necessariamente, positivamente inclinada. Consegue sequer cobrir os custos variáveis, pelo que
a decisão deve passar por
encerrar as portas. Atente-se, no entanto, ao facto
de que a decisão da empresa
Custos Cmg em fechar as portas não significa que não tem custos. Havend
o diferença entre
custostotais e variáveis, isso significa que a empresa suport
a custos fixos. Assim,
numa situação de encerramento da empresa, a mesma
enfrentará um prejuízo
igual ao custo fixo.

Figura 9.3 Preço de mercado que


Custos Cmg Custos Crmg
identifica duas quantidades, sendo t CTM CIM
O, a que maximiza o lucro
CVM CRF CVM

Q, Q, Q O Q
Figura 9.4 Situação que configura o encerramento da empresa

No entanto, mesmo que se tenha identificado a situação em que P = Emg e


que isso corresponda a um ponto na parte ascendente da curva dos ari É fundamental nesta altura perceber que a decisão da
empresa produzir ou não,
marginais, a solução da empresa pode ser diferente da quantidade rar não está relacionada com o facto deter prejuízo. Considere-se agora
a informação
simplesmente pelo facto de que essa situação pode não ser deselaivel para a presente na Figura 9.5. A estrutura de custos considerada foi a mesma,
a diferença
empresa. Para identificar esta situação, recorre-se à abordagem gráfica em está no preço de mercado que agora é superior ao anterio
r e permite à empresa
que são representadas, além da curva de custos marginais, as curvas de custos estar acima da sua curva de CVM. Ainda assim, apesar
dessa situação, a receita
variáveis médios e custos totais médios. Relembra-se que, havendo diferença continua a ser menor do que o custo, pelo que a empresa
continua a ter prejuizo,
entre estes tipos de custos, isso significa que a empresa está sujeita a custos No entanto, neste caso a empresa consegue cobrir todos
os custos variáveis (o
fixos, estando-se por isso a fazer uma análise de curto prazo. preço está acima da curva dos CVM) e ainda parte dos custos
fixos (a diferença
entre CTM e CVM).
Considere-se a situação presente na Figura 9.4. A empresa tem uma estrutura
de custos definida, sendo que o preço de mercado está abaixo do custo variável Produza ou não, a empresa tem que enfrentar sempre os custos
fixos inerentes
médio (CVM). Ao preço P, a empresa tem uma receita que é igual ao produto P"Q a actividade, então neste caso fica melhor produzindo e tendo
prejuizo, pois
(representado na figura pelo rectângulo mais escuro, no painel da esquerda). No se decidisse fechar as portas teria que enfrentar um prejuízo maior,
igual à
entanto, o custo unitário da empresa (CTM) é maior do que o preço, pelo que cotalidade de CF.
o custo é representado por CTM'O, identificando uma área maior (na figura, o
rectângulo mais claro, a partir da origem, no painel da esquerda). Como as Para verificar esta situação, atente-se à fórmula do lucro que
é possível ser escrita
empresa tem o prejuízo que é identificado no painel da direita da figura (não como 1 = O(P - CVM) - CF. Desde logo fica claro que para que
a empresa seja
286
287
9.2 Concorrência perfeita
Cap. 9 - Mercados

Obviamente que existe a possibilidade de uma empresa concorrencial ter lucro,


viável é necessário que P > CVM. Caso contrário, a parcela dada por O(P - CVM)
bastando para tal que o preço seja superior ao custo total médio. Essa situação pode
será negativa e vai reforçar o valor negativo do custo fixo. Claramente é mais
ser vista na Figura 9,7. Nesse caso, o rectângulo da receita é superior ao do custo que
vantajoso para a empresa fechar as portas.
a empresa tem, na produção de O unidades, pelo que a empresa apresenta lucro.
Custos Cmg Custos Cmg
Custos Cmg Custas Cmg
CTM CTM
CTM
cv CM = CVM P
p /
CYM CTM

Q Q Q Q

Figura 9.5 Situação de prejuizo sem encerramento da empresa


Figura 9.7 Lucro numa empresa concorrencial

Deste modo é possivel identificar a curva da oferta individual de uma empresa


Nestas condições é possível então identificar dois pontos importantes para a
no curto prazo como:
empresa e que em Economia são chamados de limiar de encerramento e limiar
de rentabilidade. O primeiro é o preço mínimo que tem que se verificar para que
—]P=Cmg, se Pzmin CVM
0,se P < min CVM a empresa não feche a sua actividade, sendo o preço que corresponde ao mínimo
do CVM. O segundo é o nível de preço a partir do qual a empresa consegue
ter lucro no mercado, ou seja, O preço que corresponde ao mínimo de CTM.
Graficamente, a oferta da empresa a curto prazo pode ser representada pelz Graficamente esses pontos estão identificados na Figura 9.8.
Figura 9.6: para níveis de preços inferiores ao custovariável médio a oferta da
empresa é nula, sendo que para preços superiores a oferta coincide com a curva Custos Cma
dos custos marginais, CTM

Pp Cmg
CTM Figura 9.8 Limiar de
encerramento e de
rentabilidade no curto prazo
Limiar de encerramento

JO press=-e
Figura 9.6 Oferta da empresa
a curto prazo

Q;

10
É importante referir neste ponto duas coisas importantes. Em primeiro lugar, a
àrea abaixo do custo marginal até uma determinada quantidade corresponde

289
288
Cap. 9 = Mercados
9.2 Concorrência perfeita

ao custo variável dessa quantidade. Em segundo lugar, como a área acima da


oferta e abaixo do preço corresponde ao excedente do produtor, este excedente P Cmg
é igual à receita menos os custos variáveis, que é exactamente igual a dizer CTM=CVM
que o excedente do produtor é igual ao lucro mais o custo fixo. Assim, uma
empresa só é viável se o excedente do produtor for maior ou igual a zero, o que Figura 9.9 Curva da oferta de
corresponde necessariamente à segunda etapa do processo produtivo, uma vez uma empresa concorrencial no
longo prazo
que já se demonstrou no Capítulo 8 que o mínimo.dos custos variáveis médios
corresponde ao óptimo técnico.

9.2.3 A ANÁLISE DE LONGO PRAZO E A Esta situação faz também com que,a longo prazo, não haja distinção entre Limiar
ESTABILIDADE DA SOLUÇÃO DA de encerramento e limiar de rentabilidade.
CONCORRÊNCIA PERFEITA
No entanto há mais questõesrelacionadas com o longo prazo que são importantes
reter, quando se analisa um mercado concorrencial. Considere-se agora a situação
Até esta altura foi analisada a situação de uma empresa no curto prazo, isto é, descrita pela Figura 9.10, em que o preço de mercado é superior ao custo médio
considerando a existência de custos fixos. Quando a empresa consegue ajustar da empresa. Isso significa que a empresa apresenta lucro.
totalmente a sua capacidade produtiva, significando que não existem custos
fixos (e que os custos totais são, simultaneamente, os variáveis), ha umaligeira Custos
Cmg
alteração na análise que foi feita anteriormente. Essa alteração prende-se com
o facto de haver só uma curva de custos médios que é relevante para analisar
a situação da empresa. Neste caso, qualquer ponto acima do mínimo do custo
total médio faz com que a empresa tenha lucro, enquanto qualquer ponto abaixo Figura 9.10 Situação de lucro
numa empresa concorrencial na
desse mínimo faz com que a empresa decida não produzir. As alterações da curva
transição para longo prazo
da oferta de longo prazo estão presentes na Figura 9.9.44

Formalmente tem-se então:

o= P=Cmg, se Pzmin CM
O,seP < min CM .
Relembrando que a concorrência perfeita tem como pressupostos a livre entrada
e saída de empresas no mercado, o facto de haver lucros faz com que haja
4 Por uma questão pedagógica, apresenta-se nesta figura CTM = CVM para que o leitor não esqueça
que,a longo prazo, estes conceitos são iguais uma vez que não há custosfixos. Posteriormente, e uma interessados em entrar no mercado. Quando isso acontece, a oferta de mercado
vez que se está a fazer a análise de longo prazo,utilizar-se-á apenas a notação CM, referindo-se aos (composta pela soma das ofertas individuais) vai aumentar. Perante uma mesma
custos médios.
procura, o preço tem tendência a baixar.

290
291
Cap. 9 = Mercados 9.2 Concorrência perfeita

Considere-se agora que a oferta aumentou tanto que o preço de mercado se situará É ainda possível relacionar o equilíbrio individual com o equilíbrio de mercado,

abaixo do custo médio, como consta da Figura 9.11. Esta situação configura um onde o excedente económico é maximizado, garantindo um mercado que é

cenário totalmente oposto ao anterior: perante a ocorrência de prejuízos, haverá eficiente. Atente-se na Figura 9.12. No painel superior tem-se a situação de curto

empresas que vão sair do mercado e,assim, reduzir a oferta total disponivel. Como prazo, onde está descrita à esquerda a curva de oferta da empresa i e, à direita,

tal, e assumindo que a procura se mantém, o preço terá tendência a aumentar. a oferta de mercado que resulta da soma das ofertas individuais (como visto no
Capitulo 4). Ocorrendo o equilíbrio entre oferta e procura, como se pode verificar
Custos cm no painel do lado direito, o excedente social, dado pela soma dos excedentes do
consumidor e do produtor, é maximizado.

Figura 9.11 Situação de


O painel inferior da Figura 9.12 mostra a situação a longo prazo. O equilíbrio
prejuizo numa empresa ocorre quando o preço é igual ao custo marginal e ao mínimo dos custos médios,
concorrencial na transição para como foi referido anteriormente, tornando a curva da oferta da indústria
longo prazo
concorrencial totalmente horizontal. Uma vez que o equilíbrio de mercado é
dado também na igualdade entre oferta e procura, o bem-estar social também é
maximizado, com a particularidade de, nessa situação, o excedente reverter
Q totalmente para o consumidor. À oferta de mercado horizontal é consequência da

Foram apresentadas duas situações distintas mas que permitem aoleitor facilmente |
identificar que, no longoprazo,o equilíbrio do mercado concorrencial tenderá para o Empresa i
ponto em que as empresas não tenham lucro ou prejuízo, ou seja, as empresas ficarão Mercado

sobre o limiar de rentabilidade (que a Longo prazo é igual ao Limiar de encerramento).


O que implica que os Lucros das empresas, num mercado concorrencial, sejam nulos.

É nesta altura essencial perceber um elemento muito importante e que geralmente


levanta algumas questões: se a longo prazo o mercado concorrencial apresenta
lucros nulos, o que é que norteia uma pessoa a querer abrir uma empresa? A
+ qr 2, h q ao, Q
CM P
resposta já deve ser conhecida do leitor: o lucro a que se refere anteriormente é Cm
p É Mercado em equilíbrio
o lucro económico das empresas, que já desconta o custo de oportunidade. O que Cada Empresa
significa que o Lucro contabilístico das empresas é positivo. O que a dinâmica desta CMLP
situação de longo prazo identifica é que, enquanto o lucro económico for positivo,
CmgLP,
há incentivo para que haja novos empresários; pelo contrário, o Lucro económico ser
negativo significa que a melhor alternativa possível à manutenção da empresa dara
ao empresário um rendimento superior ao da empresa. Como tal, a longo prazo o e

equilíbrio ocorre quandoo fluxo de empresas pára, ou seja, não entram nem saem
Q TO,a o
mais empresas, o que significa que o lucro económico é nulo. Figura 9.12 Mercado concorrencial como maximizador do bem-estar

292 293
Cap. 9 = Mercados 9.3 Por que falha a concorrência perfeita?

perfeita mobilidade factorial, permitindo à empresa a longo prazo qualquer Outro pressuposto da concorrência perfeita é o facto de que todas as empresas
adaptação a eventuais movimentações da procura. têm acesso às melhores tecnologias para produzir o bem ou serviço em causa.
E a verdade é que isto nem sempre acontece, Por exemplo, muitas empresas
investem milhares de euros em actividades de investigação e desenvolvimento,
para descobrirem novas tecnologias de produção. Essas novas tecnologias podem
9.3 Por que falha a concorrência manter-se em segredo (sendo que as empresas terão, nesse caso, a capacidade
perfeita? da sua utilização única) ou podem ser patenteadas. A patente, que passa pela
divulgação dessas tecnologias, acaba por tornar a empresa monopolista durante
O tempo em que a patente vigora.
Na Secção 9.2.1 foram apresentadas as diferentes condições para que se verifique
um mercado de concorrência perfeita. No entanto foi também identificado que A mobilidade factorial é outro pressuposto que é difícil de verificar. Basta pensar
essas condições são demasiado rigorosas. Mesmo num mercado relativamente que o factor trabalho é essencial para a produção dos mais diversos bens e
próximo do deste tipo de estrutura (foi dado o exemplo dos produtos hortícolas), serviços e nem todas as empresas têm acesso aos melhores recursos. O facto de
hã pressupostos que falham e que podem conduzir a um mercado de concorrência existirem empresas que detenham recursos que são melhores, pode permitir-lhe
imperfeita. A questão é que as imperfeições podem ser maiores ou menores, sendo ter ganhos de eficiência e produtividade e, assim, ter algum poder de mercado.
que no limite a estrutura de mercado que se verifica é a do monopólio.
Por outro lado, a existência de informação perfeita também é difícil de se
Nesta primeira fase analisam-se possíveis falhas nas diferentes premissas da verificar. Considerando o exemplo dos produtos hortícolas, apesar de as pessoas
concorrência e que podem conduzir a situações de concorrência imperfeita, terem uma noção do preço dos bens em causa, provavelmente não saberão o
preço exacto de todos os bens em todos os pontos de venda. E se por um lado
À primeira premissa apresentada foi a da atomicidade dos agentes, isto é, é possível que as pessoas tenham informação sobre esses preços na internet,
a existência de muitos compradores e vendedores. Apesar de poder haver também é verdade que nem todos os preços estão disponíveis. Esta questão está
mercados com poucos compradores, é mais comum a falha da concorrência relacionada com a assimetria da informação, temática essa que é extremamente
perfeita pela existência de poucas empresas. E fundamentalmente essas falhas Útil mas, ao mesmo tempo, complexa, pelo que não está no âmbito deste Livro.
estão relacionadas com a existência de barreiras à entrada.
Por fim,a homogeneidade dos bens também é difícil de se verificar na totalidade.
As barreiras à entrada são elementos que fazem com que os mercados não possam Numa prateleira de um qualquer supermercado existem muitas vezes dezenas
ser totalmente concorrenciais. Essas barreiras podem ser naturais ou legais. Por de bens para satisfazer as mesmas necessidades, sendo que nem todos são
exemplo, uma barreira natural são os elevados custos de instalação. Se para uma iguais. As diferenças podem existir na composição, no sabor ou simplesmente
determinada actividade empresarial, os custos de instalação forem muito elevados. na marca. Mesmo em mercados como os produtos hortícolas, onde o impacto
isso pode desincentivar a entrada de novas empresas no mercado. Quanto às de uma marca não é algo tão notório, podem existir diferenças. Por exemplo,
barreiras legais, as mesmas são impostas pelo próprio governo, que geralmente algumas pessoas consideram que os produtos nacionais são diferentes dos
obriga à aquisição de licenças para poder entrar em determinados mercados (por estrangeiros; outras preferem produtos biológicos. Estes ou outros factores
exemplo, o que acontece com as operadoras de telecomunicações). Tanto num caso tornam os produtos diferenciados o que pode fazer com que as empresas
como no outro, esta a violar-se o pressuposto da livre entrada e saída de empresas. tenham poder de mercado.

294 295
Cap. 9 - Mercados
9.4 Monopálio

Como referido anteriormente, as imperfeições podem ser maiores ou menores, modelos mais avançados e que consideram monopolistas com discrimin
ação de
Logo no início do capítulo, a Figura 9.1 apresenta as diferentes estruturas de preços, mas que não são abordados neste livro.
mercado. Perto da concorrência perfeita está a concorrência monopolística que
tem como particularidade ter produtos que são diferenciados. Essa diferenciação
pode ser real ou aparente (por exemplo, ao nivel da marca ou da publicidade)
mas garante à empresa capacidade para ter um preço acima do custo marginal, 9.4.1 A SOLUÇÃO DA EMPRESA EM MONOPÓLIO
uma vez que tem clientes que são fidelizados.

Com uma menor competitividade, esta o oligopólio: uma estrutura de mercado que A forma de resolver o problema do monopolista é semelhante à do problema
tem poucas empresas. Este menor número de empresas pode estar relacionado com da concorrência, uma vez que se pretende maximizar o lucro. A diferença
as barreiras à entrada que foram identificadas anteriormente ou à necessidade de ter fundamental está no facto de que a empresa monopolista não vende cada
uma licença para poder funcionar no mercado. São vários os modelos que estudam unidade ao mesmo preço mas sim em função da procura. Considerando então a
situações de oligopólio, no entanto estão fora do âmbito deste livro.(5 procura inversa como função da quantidade, ou seja, P(0), será possível escrever
a receita total como RT(Q) = P(Q).Q. Deste mado, é possível escrever o problema
No limite da concorrência imperfeita existirá apenas uma empresa a funcionar da maximização do lucro como:
no mercado, estando-se na presença de um monopólio. De entre as razões para a
concorrência imperfeita que foram apresentadas anteriormente estão possiveis Max m=RT(Q)-CT(Q).
razões do monopólio, no caso de fazerem com que exista apenas uma empresa
no mercado.Esta situação é analisada já na próxima secção. Tal como anteriormente, a maximização do Lucro obtém-se igualando a primeira
derivada a zero, ou seja:

dr =0 e» Rmg-Cmg=0 e» Rmg=Cmg.
9.4 Monopólio
Apesar de este ser o óptimo da empresa é possivel, por qualguer motivo, que
a
Esta secção trata da problemática do monopólio em duas partes: uma primeira empresa não esteja no óptimo. No caso de se ter Rmg>Cmg, o benefício da última
que aborda a solução da empresa monopolista (que será comparada, na secção unidade produzida é superior ao seu custo. Neste caso, a empresa devera colocar
seguinte, com a solução da concorrência perfeita) e uma segunda que trata de um no mercado mais unidades, até que a igualdade se verifique. Opostamen
te, se
caso particular de monopólio, conhecido como monopólio natural. Existem ainda Rmg<Cmg, então o custo da última unidadeé superior ao benefício. Obviament
e,
para maximizar o lucro a empresa deverá reduzir o nível de produção.

es Apesar de o número de empresas ser um determinante fundamental da intensidade dz


concorrência num mercado e de um número pequeno de operadores do lado da oferta poder Graficamente a solução da empresa monopolista é representada pela Figura 9.13.
configurar situações de poder de mercado por parte das empresas, existem também situações em Considerando uma procura Linear, como a representada, a recta da receita marginal
que mesmo com poucas empresas (no limite duas) ha possibilidade de as mesmas terem esse poder
apresenta uma inclinação que é igual ao dobro do declive procura. É possível
de mercado, em função de determinadas condições. Um dos modelos que aborda esta questão é o
modelo de Bertrand que, no entanto, não é tratado no livro. Vd. nota 5, demonstrar esta situação,partindo de uma procura inversa dada porP=a-bO, então

296
297
9.4 Monopólio
Cap. 9 - Mercados

situações distintas. No lado esquerdo uma situação em que a empresa apresenta


a receita total é dada pelo produto P*O, ou seja, RT = aQ — bQ2, A receita marginal
lucro, uma vez que a quantidade de equilíbrio intersecta o custo total médio
obtém-se derivando em ordem à quantidade, ou seja, Rmg = a — 2bQ, comprovando-
abaixo da curva da procura (garantindo que o preço recebido pela venda do
se que a receita marginal tem o dobro do declive de uma procura linear.
produto está acima do custo de produção). No entanto, do lado direito está uma
situação oposta, com uma curva de custos totais médios situada mais acima.
Identificando-se então na figura a curva dos custos marginais, a quantidade de
Nesse caso, a quantidade de equilíbrio do monopólio cruza os custos totais
equilíbrio é dada pela igualdade entre receita e custo marginal. No entanto, o preço
médios acima do preço, pelo que o custo é superior à receita que a empresa tem
não é aquele que resulta do encontro dessas duas curvas mas sim o que a procura
com a venda do seu produto. Logo, a empresa tem prejuízo e, no caso de não ter
está disposta a pagar pela quantidade que o monopolista está disposto a vender.
custosfixos, como seria o caso a longo prazo, então deve encerrar. Esta situação
mostra que, na realidade, o monopolista também pode ter prejuízos.
Cmg
P Pp

CTM

Figura 9.13 Solução da


empresa monopolista

2]

o
Rmg Figura 9.14 Possibilidade de lucro ou prejuizo num monopolista

Uma primeira questão pertinente é o facto de que em monopólio não existe


Um outro equívoco que por vezes ocorre é o de se dizer que o monopolista pode
propriamente uma curva de oferta, dado não existir uma função oferta, no
escolher o preço de venda que quiser. A questão é que o monopolista, mesmo
sentido de relação entre quantidade óptima e preço. Isso ocorre porque a que tenha poder de mercado, enfrenta uma curva de procura. Decidir colocar um
mesma quantidade óptima pode estar associada a preços diferentes, consoante preço maior que o de equilíbrio conduzirá certamente à redução da quantidade
as alterações na procura, ou seja, a oferta passa a ser endógena em relação à procurada e, consequentemente, a não estar ao nivel maximizador do lucro.
procura, não se movimentando as curvas isoladamente, como acontece no caso
da concorrência perfeita. Independentemente da estrutura de mercado considerada até ao momento,
a solução encontrada ocorre quando Rmg = Cmg. No âmbito da concorrência
Uma outra questão que importa esclarecer nesta altura tem a ver com a perfeita identificou-se a particularidade da receita marginal ser igual ao preço,
lucratividade do monopólio. Um normal equivoco é referir que o monopólio pelo facto de que todas as unidades são sempre vendidas ao preço de mercado
é garantia de lucro para a empresa. No entanto, esse lucro depende do (Logo, P = Cmg).
comportamento da curva de custos totais médios. À Figura 9.14 mostra duas

es8 299
Cap. 9 - Mercados
8,4 Monopólio

Considerando que a receita total é dada por RT =PQ,a mesma pode variar por P
4

alteração do preço ou por alteração da quantidade. Considerando variações


infinitesimais representadas por dP e dQ, é possível então escrever:

dP.
Rmg=PdQ+dP.O=|P+-Q ap Q
|dO=PI+—S|.
grudar dio | ga 2 rs

Dentro do parêntesis recto está uma expressão que será familiar ao leitor.
Retornando ao Capitulo 5, é possivel relembrar o conceito de elasticidade
procura-preço directa que não é mais do que o inverso da segunda parcela que Figura 9.15 O óptimo do o
está nesse parêntesis. Como tal, é possivel reescrever a receita marginal como; monopolista e a elasticidade da p
procura

Rmg=P tel j=pjt- 2.


Es EE]

Logo, no ponto de maximização do lucro tem-se:

pib =Cmg.
pp
Q
Esta expressão permite identificar duas situações diferentes.
A segunda situação que esta formulação revela é o facto de que no óptimo do
monopólio, e ao contrário da situação de concorrência perfeita, o preço é superior
Por um lado, esta situação mostra que o monopolista opera sempre na zona
à receita marginal, Como IE,,| é superior à unidade, a parte entre parêntesis
elástica da procura, De facto, se a procura for inelástica, Es <1,a parte que está
rectos será necessariamente inferior à unidade. Multiplicado pelo preço garante-
entre parêntesis rectos será negativa e nunca será possivel ter a igualdade entre
se então que Rmg < P (como, aliás, se esperava).
receita marginal e custo marginal. Apenas um valor de [2 >1 isto é, quando a
procura é elástica, garante que a receita marginal seja positiva.tA Figura 9.15
recupera a informação da elasticidade procura-preço directa e permite identificar
exactamente essa situação.
9.4.2 MONOPÓLIO NATURAL

(e Note-se o facto de que esta situação é totalmente coerente com a solução da concorrência
perfeita. Recorde-se que nesse caso a procura dirigida a cada empresa é perfeitamente elástica, pelo Existe um caso muito particular de monopólio identificado pelos economistas como
que nesse caso o valor de [E,,| é infinito. Substituindo na fórmula tem-se então que P = Cmg. monopólio natural. Este tipo de monopólio surge normalmente numa actividade

301
Cap. 9 - Mercados 9.4 Monopólio

que tem associado um grande investimento, cujo custo é afundado, mas que - custos de produção com uma só empresa: c(g)=0º +B;
apresenta custos marginais que são relativamente baixos. O exemplo típico que — custos de produção com duas empresas iguais: c(a,)+ c(g,)= (8) +26;
pode ser utilizado é o da distribuição de agua canalizada e saneamento básico
onde é justificável que apenas uma empresa seja a fornecedora do serviço porque Hã subaditividade de custos se:
o investimento a efectuar, por exemplo numa nova rede de distribuição, tornaria
a actividade demasiado onerosa. Esta situação leva a que seja eficiente, do ponto 2

de vista dos custos, ter apenas uma empresa e não duas a fornecer o serviço, À qa) +28 0<28.
esta situação chama-se subaditividade de custos e é, em última análise, condição
necessária e suficiente para a existência de um monopólio natural. Formalmente,
existe subaditividade de custos se a produção de uma dada quantidade Q tiver um Então, desde que o mercado exija uma quantidade inferiora (28 dada atecnologia

custo menor com uma empresa do que com duas a fornecer 0,+0,=0,ouseja: de produção,é eficiente ter apenas uma empresa, porque os custos são menores.
Note-se que este valor até ao qual a produção se faz em monopólio natural

elasc(a)+c(a) está para além da escala minima eficiente (EME), o que significa que a produção
em monopólio natural pode surgir já quando se esgotaram as economias de
escala. Por conseguinte, associar o monopólio natural à existência de economias
Esta situação surge justamente devido à necessidade de fazer investimentos
de escala é um erro. Um monopólio natural pode subsistir mesmo já depois de
em infra-estruturas. Vejamos o exemplo que se segue. Uma empresa do sector
esgotadas as economias de escala, mas a procura não é suficientemente grande
energético, para produzir, precisa de investir o valor B numa barragem para a sua
para viabilizar a existência de mais empresas no mercado.
rede de distribuição. Os custos de produção de uma quantidade Q são expressos
pela função c(o)=0" +8. Isto significa que:
A figura 9.16 apresenta duas curvas de custo médio de produção de uma
quantidade O: cm(o, n= 1) representa os custos de produção com apenas uma
Cmg(0)=20,e cM(0)=0+2. empresa no sector, e cm(o, n=2) representa os custos de produção com duas
empresas no sector, tendo havido duplicação do investimento em infra-estruturas
Os custos médios têm um minimo no ponto em que Cmg=CM ,ou seja O= VB, (o tal valor B do exemplo).
que não é mais do que a Escala Mínima Eficiente.

Se a quantidade a produzir for inferior a Q,,. a produção faz-se em monopólio


Imaginemos que a quantidade Q, em vez de ser totalmente produzida por uma natural, porque é mais barato, ou seja, é eficiente em custos. Ao nível de preços
empresa, é produzida em duas, a empresa 1 e a empresa 2, sendo que 0,+0,=0. P*,se a procura for D, ou D, a produção faz-se em monopólio natural, mas se a
Cada uma delas tem de investir o montante B, construindo a sua própria barragem procura for D;, já estão esgotadas as economias de escala, porque a produção
e rede de distribuição. Então, os custos de produzir a quantidade total O serão: correspondente a P* já está acima de Q,. Se a procura for D;, deixa de ser
eficiente ter apenas uma empresa.
c(a)+c(o;)= 0 +0/+28.,

Se passarmos agora a pensar no sector da produção de energia eléctrica, digamos

Para simplificar os cálculos admitamos que 0,=0, =2, ou seja as empresas que é eficiente haver produção apenas por uma empresa se a procura for pequena

repartem o mercado igualmente entre elas. Então temos: (como por exemplo num pequeno país), mas se a procura for grande,já pode valer a

303
Cap. 9 - Mercados
9.4 Monopólio

pena ter várias empresas a produzir, cada uma com a sua infra-estrutura. A tecnologia do que a quantidade Q,. O óptimo do monopolista, em que Rmg=Cmog, ocorreria
de produção de energia eléctrica é a mesma em todo o mundo,pelo que a extensão numa quantidade ainda menor do que Q, e para um preço muito mais alto do
das economias deescala, ou seja, a dimensão de Q,,, »é igual em Portugal e na China. que o valor de CM,. Se houvesse mais do que uma empresa, elas teriam de
Mas na China é eficiente ter a produção espalhada por várias empresas, certamente repartir o mercado entre si, pelo que cada uma iria produzir certamente menos
mais do que em Portugal, porque a dimensão da procura é muito diferente. do que Q,, o que iria fazer subir os custos médios e, consequentemente, os
preços de venda.
CMQn 1)

CM(Gn=2) Figura 9.16 EME e monopólio


natural
Figura 9.17 Inviabilidade de
P=Cmg na presença de economias
DL jD2 D3 de escala

| Qu Om 2

Neste contexto, não deixa também de haver um tradeoff, uma vez que, se é
verdade que a existência de mais empresas pode conduzir a preços mais baixos
por via da concorrência, neste caso a garantia da produção a um preço mais Ora, considerando que os exemplos de monopólios naturais estão em muitos
baixo apenas pode ser obtida caso exista apenas uma empresa no mercado. Na casos relacionados com o fornecimento de serviços públicos (tendo sido
realidade, no caso do monopólio natural, a alternativa é a inexistência de um inclusivamente apresentado o problema da distribuição da água canalizada e
mercado viável, sendo que a procura não ficaria satisfeita. produção de energia eléctrica), a solução geralmente passa pela intervenção do
Estado no sentido de corrigir o problema ético dos preços altos. Essa intervenção
A Figura 9.17 permite auxiliar na compreensão desta situação. Considerando uma pode ser feita com o Estado a chamar a si a responsabilidade de fornecer o bem/
determinada curva de procura e uma estrutura de custos que apresente um custo serviço em causa ou tendo qualquer tipo de actividade regulatória no sentido
marginal e um custo total médio como a apresentada na figura, em que a dimensão de tentar fazer com que o produto ou serviço possa ser distribuído a um custo
da procura não excede a dimensão das economias de escala, a possibilidade da mais baixo (por exemplo, subsidiando de algum modo o produtor ou regulando
empresa fornecer o produto de modo a ter um preço igual ao custo marginal (ou preços). No Capítulo 10 discutiremos com mais detalhe o papel do Estado
seja, com P, e Q,) conduziria a que houvesse necessariamente um prejuízo (pois o enquanto regulador.
preço praticado está abaixo da curva de custos médios). Isto significa que a situação
normalmente designada de “15 best, ou seja aquela em que P=Cmg,não viável. O que é curioso nesta situação do monopólio natural, é que a sua existência
é eficiente! E isso pode ver-se de duas formas: por um lado, a produção fica
Alternativamente, e pelo menos de modo a conseguir cobrir os custos,a empresa mais barata por causa da questão dos custos de investimento para início de
terá que vender a um preço superior a CM, mas isso obriga a produzir menos actividade, situação a que podemos chamar eficiência de custos e, por outro, a

304
305
Cap. 9 - Mercados 9.5 A situação da concorrência perfeita vs. a situação do monopálio

alternativa era não haver mercado. Se a regulação que o Estado venha a fazer no disponíveis e a um preço maior), ao passo que há neste caso excedente do
sentido de reduzir os preços para beneficiar o consumidor, levar a que os seus produtor: apesar de colocar menos unidades no mercado do que na concorrência
ganhos compensem as perdas do monopolista (por vender mais barato), então perfeita, fá-lo a um preço maior e também superior ao preço que está disposto
haverá um ganho de eficiência no sentido de Kaldor-Hicks, já que a sociedade, a vender cada uma das unidades (custo marginal). No entanto, a soma dos
como um todo, melhorará. excedentes é menor que o excedente social da concorrência perfeita (que
pertencia totalmente ao consumidor) e isso é possível ver na Figura 9.18, uma
vez que há um triângulo branco que, comparando a situação da concorrência
perfeita com a de monopólio deixa de existir: é a chamada perda de eficiência
9.5 A situação da concorrência perfeita ou perda de bem-estar do monopólio.
vs. a situação do monopólio

Nas secções anteriores analisaram-se isoladamente as situações de concorrência


perfeita e de monopólio. Recorrendo aos conceitos de excedente do consumidor
e de excedente do produtor, já abordados em capítulos anteriores, é possível
demonstrar que a situação de concorrência perfeita é melhor, em termos de bem-
per S mg
estar social (e de eficiência) do que a situação de monopólio. Para analisar esta
questão recorre-se à Figura 9.18.
o” Q o! N
Considera-se então uma determinada curva de procura e uma curva da oferta
Rmg
que no longo prazo da concorrência perfeita é horizontal. Sabe-se que num
mercado concorrencial o equilíbrio é dado pela igualdade entre procura e oferta, Figura 9.18 Perda de excedente econômico do monopólio em relação à concorrência perfeita

obtendo-se então os níveis de quantidades e preço dados, respectivamente, por


Oc e Pc” (painel da esquerda da Figura 9.18). Perante uma oferta horizontal, Apesar de inequívoca, há que reflectir um pouco sobre esta questão da perda de
apenas existe excedente do consumidor, que é obtido da forma tradicional. Esse bem-estar do monopólio. Isto porque é um erro dizer que todos os monopólios
excedente corresponde à área do triângulo cinzento claro. são maus. Por um lado, como foi referido anteriormente, as empresas têm a
particularidade de poder pedir patentes. Estas patentes resultam dos processos
Para a situação do monopólio, identificada no painel direito da Figura 9.18,
de investigação e desenvolvimento das empresas, em actividades que muitas
considera-se uma curva de custo marginal horizontal, na mesma posição que a vezes significam investimentos de milhares de euros.Se não se der a possibilidade
oferta da concorrência perfeita. No caso do mercado monopolista, a quantidade às empresas de poderem patentear essas inovações, deixa de haver incentivo às
óptima (OM) obtém-se igualando as curvas de receita e custo marginal, sendo actividades de I&D e isso pode ser prejudicial ao desenvolvimento da própria
o preço (PM) aquele que a procura estiver disposta a pagar pela quantidade sociedade. Neste caso, a autorização do monopólio é o custo para que a sociedade
disponibilizada. Sendo a quantidade de monopólio menor (porque a receita se possa desenvolver. O custo de oportunidade provavelmente seria menor. Por
marginal é mais inclinada), o preço do monopólio será necessariamente maior.
outro lado, o exemplo identificado na secção anterior também mostra que hã
Isso faz reduzir o excedente do consumidor (uma vez que tem menos unidades
circunstâncias em que um monopólio pode ser a situação mais eficiente.

306 S07
Cap. 9 - Mercados Questões de revisão

Para além de comparar excedentes económicos, em qualquer mercado pode Questões de revisão
verificar-se qual a sua aproximação ao mercado concorrencial através do cálculo
de uma medida conhecida por índice de Lerner:
O que significa o facto de, no longo prazo, a procura dirigida às empresas
em concorrência perfeita ser horizontal?
L ra
P
Comente a seguinte afirmação: “Uma empresa, em concorrência perfeita,
só produz se tiver Lucro”,
Quanto maior o valor do índice maior o afastamento do preço em relação à
Distinga entre Limiar de rentabilidade e Limiar de encerramento.
situação de concorrência perfeita, em que o seu valor é zero. No caso específico do
monopólio, como Rmg=Cmg e como Amg = (1-2) vem que L= 1/[EpA ,O que Partindo do equilíbrio de longo prazo de um mercado concorrencial,
permite concluir que em casos em que a procura é muito elástica, o monopolista discuta o conceito de lucro económico nulo.
terá muito pouco poder para fazer subir o preço.
Discuta a seguinte afirmação: “Uma vez que um monopolista actua
sozinho no mercado, pode decidir o preço do seu produto. Além disso tem
Ainda que, com um monopólio, nos colocamos no extremo oposto ao da situação
garantidamente lucro”.
de excedente econômico máximo presente num mercado de concorrência
perfeita, a sociedade pode ganhar com a existência de monopólios, porque a Qual o motivo para o bem-estar social de uma situação de monopólio ser
alternativa seria não existir fornecimento de um determinado bem ou serviço. inferior ao de uma situação de concorrência perfeita?
Esta é claramente a situação de um monopólio natural ou de produtos que,
Qual a diferença entre monopólio natural e um monopólio de uma empresa
para serem produzidos,foi preciso fazer investigação, como no caso da indústria
que tem uma tecnologia de produção única protegida por patente?
farmacêutica. À alternativa seria esses produtos nunca existirem. Concluímos,
portanto, que o funcionamento concorrencial de um mercado nem sempre é Considere um mercado de automóveis usados. Qual o motivo para este
viável, porque nem sempre essas forças levam a uma situação de bem-estar social mercado poder estar longe de ser considerado um mercado concorrencial?
máximo.t% Neste contexto, a Regulação Económica assume especial relevância,
como se verá no Capítulo 10.

m Abba Ptachya Lerner (1903-1982), economista de origem moldava que se notabilizou pelos seus
debates com Keynes. O seu trabalho deu contributos importantes ao nível de teorias de Economia
Internacional, Macroeconomia, bem como acerca do funcionamento de mercados.
ty Curiosamente hã uma situação de monopólio que pode maximizar o bem-estar social,
nomeadamente se o monopolista puder fazer discriminação perfeita de preços. Ainda que este seja
um modelo que não é abordado no livro, devido ao seu carácter não introdutório (tal como outros
modelos que identificam a possibilidade de um monopolista discriminar os clientes em função do
preço), esta situação de monopólio é caracterizada pelo facto de o produtor se apropriar de todo
o excedente do consumidor. Esta situação não deixa de ser eficiente, uma vez que só é possivel
melhorar a situação do consumidor à custa do bem-estar do produtor. Mais uma vez fica no ar o
tradeoff entre eficiência e equidade.

308 309
Regulação

10.1 Regulação económica, tipos de regulação e os seus


objectivos 315
10.2 Teorias económicas da regulação 318
10.2.1 Teoria do interesse público 318
10.2.2 Teoria do interesse privado sed
10.3 Regulação da concorrência go4
10.3.1 O que é a regulação da concorrência? go4
10.3.2 As origens históricas da lei da concorrência 326

Questões de revisão 328

311
Como temos estado a ver, o equilíbrio de um mercado concorrencial maximiza o
bem-estar conjunto das empresas e dos consumidores, medido pelo excedente

CONCEITOS-CHAVE económico, já que:

— As empresas escolhem optimamente, dados os preços dos factores;


bens públicos monopólio natural — Dadaatecnologia,a produção é feita com os menores custos (maximizando
externalidades regulação da concorrência o lucro);

eficiência alocativa regulação económica — Os consumidores vêem as suas necessidades satisfeitas, adquirindo o que
mais valorizam.
eficiência de custos teoria do interesse público

falhas de mercado teoria do interesse privado Estas conclusões enquadram-se no paradigma Neoclássico: uma economia
descentralizada, em que as forças de mercado actuam sem restrições, atinge um
equilíbrio que é eficiente no sentido de Pareto, no qual o excedente económico
é máximo, não há desperdício de recursos e está-se na fronteira eficiente, ou
seja, com os mesmos recursos não é possível produzir mais.No equilíbrio de
um mercado concorrencial, em que todas as hipóteses que 0 caracterizam estão
verificadas, a última unidade produzida é tal que P=Cmg, o que significa que
os consumidores pagam exactamente o preço de custo e esse é o valor que lhe
atribuem. Também é frequente designar esta situação como uma de eficiência
alocativa, porque a quantidade produzida é tal que o benefício marginal social é
igual ao custo marginal social.

No entanto, hã mercados que não funcionam desta forma e, automaticamente,


não maximizam o excedente económico. Tipicamente é o que acontece quando
se fornecem bens ou serviços públicos, quando há externalidades ou quando há
problemas de informação,situações que podem acontecer isoladamente ou em
conjunto e são conhecidas como falhas de mercado. Outra situação em que o
funcionamento Livre do mercado não permite maximizar o excedente económico
surge quando as empresas têm poder de mercado para subir o preço e reduzir
a quantidade transaccionada, poder esse que normalmente tem origem em

m No fundo, admitimos que a economia está a produzir num ponto sobre a fronteira das
possibilidades de produção, conforme se viu no Capítulo 3.

s12 313
10.1 Regulação económica, tipos de regulação e os seus objectivos
Cap. 10 - Regulação

aumentar a concorrência e/ou liberalizar a comercialização do seu fornecimento.


barreiras à entrada de novas empresas. Discutiremos brevemente estas questões
Tem vindo a ser consensual que a concorrência neste sector afinal é viável e,
ao longo deste capítulo.
assim, presumivelmente desejável, quer ao nível da geração de energia, quer ao
nível da venda a retalho.
Sempre que uma empresa da indústria farmacêutica regista uma patente(?) sobre
um produto que desenvolveu para o tratamento de certa patologia, passa a ter
Energia, telecomunicações, transportes, águas, correios, são exemplos de sectores
um monopólio na produção e comercialização desse fármaco. Este é o caso de
de actividade em que as empresas estão sujeitas a vários graus de regulação
um monopólio legal. Uma situação diferente é a do monopólio natural, que surge
económica: o estado intervém restringindo as decisões das empresas que neles
quando, num sector de actividade, é mais barato ter um só produtor do que ter vários:
operam. 6)
uma só empresa consegue satisfazer a procura com custos unitáriosmenores do
que várias empresas. Seja qual for o tipo de monopólio, esta é uma situação em que
Mas o que é, então, a regulação económica?
o excedente econômico não é maximizado, como vimos no Capítulo 9.

Dependendo da dimensão da procura de mercado, o monopólio natural é o caso


típico de indústrias que envolvem redes - telecomunicações, energia eléctrica,
distribuição de gás natural, etc. - em que os efeitos de rede e/ou economias de
10.1 Regulação económica, tipos de
escala, criam circunstâncias que, sob os padrões tecnológicos presentes, limitam
regulacão e os seus objectivos
as perspectivas de uma concorrência eficaz.

Em geral, regulação define-se como o estabelecimento e implementação de um


Durante décadas, um fornecimento permanente de energia eléctrica, sem falhas
conjunto de normas que materializam a intervenção do Estado, cuja actuação
e eficiente,foi algo pensado como incompatível com os mercados concorrenciais,
tem poder coercivo. No caso especial da regulação econômica, ela é feita com
pelo que se tem utilizado fortemente a regulação para gerir a produção e
o objectivo genérico de alterar a afectação de recursos que resultaria do Livre
comercialização neste sector.(4
funcionamento de um mercado e, portanto o bem-estar social. A regulação
económica pode ser transversal, abrangendo todos os sectores de actividade,
No entanto, como noutras indústrias de rede, o sector da electricidade tem
como seja aquela relativa ao ambiente ou à concorrência, mas também pode
estado em reestruturação e a regulação tem vindo a ser revista, no sentido de
ser sectorial, se for respeitante a um único sector, como seja a regulação

2 O direito de patente ou de propriedade industrial aplica-se a novas descobertas ou invenções e do fornecimento de serviços públicos, como a água, a electricidade ou as
dá ao seu detentor direitos exclusivos de propriedade e usufruto dos benefícios que decorrem dessa telecomunicações.
descoberta ou invenção durante um certo período de tempo, normalmente 25 anos. Entende-se que
essa é a forma de compensar o investimento em investigação e de incentivar a que mais investigação
se faça. Um conceito relacionado é o de direitos de autor ou propriedade intelectual. Se a patente diz A regulação econômica faz-se para que se atinja um conjunto de objectivos
respeito a criações relativas à função ou acção de um invento ou descoberta, o direito de autor diz gerais. Podemosidentificar os seguintes:
respeito ao conhecimento e à sua forma, interpretação, ou mesmo à estética de uma criação, seja ela
artistica,literária ou cientifica,
8 Isto écustos médios.
6 Nas últimas décadas, muitos destes sectores têm visto uma redução das restrições impostas
4 No sector da energia eléctrica, para além da questão das economias de escala, põe-se o problema
pela regulação ao nivel de decisões de preços, selecção de produtos, investimentos, publicidade,
de haver características de serviço público, uma situação que gera problemas especificos, como
qualidade de produtos, entrada e saida do mercado.
veremos brevemente neste capítulo.

315
314
Cap. 10 - Regulação 10,1 Regulação econômica, tipos de regulação e os seus objectivos

- Promover o bem-estar social e, em especial, o dos consumidores, já que que já tratámos no Capítulo 4. Os exemplos são vários, como seja o salário mínimo,
nenhum consumidor, individualmente, tem poder ou informação suficientes que é um preço mínimo no mercado de trabalho, ou as rendas condicionadas
para garantir que os seus direitos estejam protegidos, nomeadamente em no mercado de imóveis, que funcionam como uma forma de encontrar preços
relação à universalidade e igualdade de acesso a todos os bense serviços máximos. Este assunto já foi discutido e não vamos aqui elaborar novamente
essenciais, garantindo que o fornecimento de bens e serviços é feito em sobre ele. Os efeitos directos da actuação do Estado nos mercados não se
segurança; resumem, no entanto, aos preços e podem fazer-se sentir sobre outras vertentes,
como sejam a qualidade e variedade dos produtos, assim como também o número
- Promover eficiência: existe eficiência estática se o funcionamento das
de fornecedores de um bem ou de um serviço, etc. Os exemplos são inúmeros:
empresas se aproxima o mais possível da fronteira eficiente; existe
o número de prestadores de serviços de telecomunicações móveis depende do
eficiência dinâmica, se actuar a força induzida pela concorrência no
número de licenças de utilização do espectro radioeléctrico, que são atribuídas
sentido de expandir a fronteira eficiente ou expandi-la de forma mais
pelo Estado.t% Isto significa que o Estado impõe barreiras Legais à entrada no
rápida, através da inovação;
mercado, não permitindo que o número de empresas activas aumente livremente.
- Promover a liberdade económica, prevenindo comportamentos O Estado impõe também padrões de qualidade aos produtos e aos serviços, com
oportunistas que limitem a Liberdade de acções entre os intervenientes o objectivo de dar segurança ao consumidor, o que é um dos objectivos principais
numa relação de mercado; da regulação económica, como iremos ver de seguida.

- Defender as pequenas empresas, evitando que haja posições dominantes


Os efeitos indirectos da regulação decorrem da alteração dos incentivos ao
de agentes económicos com mais poder financeiro, protegendo assim a
comportamento dos participantes no mercado, sejam eles as empresas ou os
liberdade de iniciativa e investimento;
consumidores, na sequência da imposição de restrições à sua actuação, o que
- Estabilidade e sustentabilidade de políticas, já que a forma como acaba por influenciar o resultado final do funcionamento do mercado. Pensemos
a actividade económica é regida, ou seja, as escolhas dos agentes no caso dos mercados regulados por um preço máximo, como é o caso do
económicos, não pode depender do ciclo político. mercado de imóveis para arrendamento: a degradação do parque habitacional
nas zonas mais antigas das cidades está normalmente associada a prédios
Estes objectivos genéricos podem ser atingidos pela alteração dos equilíbrios alugados há décadas, em regimes contratuais sem termo certo, em que as rendas
de mercado, se houver entendimento, por parte das forças políticas, que há um estão impedidas de subir acima de um certo montante. À degradação patrimonial
afastamento em relação a situação desejável, de eficiência e de equidade.Estes acaba por ter efeitos no funcionamento do mercado, fazendo subir as rendas dos
são objectivos que, frequentemente, estão em conflito e é preciso encontrar prédios recuperados nos centros históricos, cujo aluguer funciona em mercado
uma situação de compromisso, que pode ser mais ou menos influenciada por livre.
questões ideológicas.

Podemos identificar duas ordens de efeitos que decorrem da regulação


económica: os efeitos directos e os efeitos indirectos. 8 O espectro radioeléctrico é uma faixa da atmosfera que é utilizada para a emissão de ondas de
rádio. Trata-se de um recurso escasso, que é gerido pelo Estado, e qualquer entidade/empresa que
actue na area das telecomunicações só pode emitir em certa frequência autorizada. Sem esta gestão,
Os efeitos directos verificam-se sobre as variáveis que o Estado pretende
todas as comunicações, que vão desde as emissões aéreas das estações de rádio e de televisão aos
influenciar. Um caso é o efeito da fixação de preços mínimos e preços máximos, sinais de telemóvel, poderiam sofrer interferências.

316 317
Cap. 10 - Regulação
10.2 Teorias económicas da regulacão

10.2 Teorias económicas da regulação O exemplo típico de uma externalidade negativa é a poluição gerada pela
actividade industrial, que reduz o bem-estar de toda a sociedade e cujos custos
não são considerados por aquela actividade. Consequentemente, não se atinge
As razões objectivas pelas quais o Estado intervém no funcionamento dos mercados uma situação eficiente, porque os custos marginais considerados pela indústria
estão consubstanciadas nas teorias económicas da regulação. Estas teorias fornecem são inferiores aos custos marginais da sociedade, que levam em Linha de conta
explicações para a existência de regulação. Podemos identificar duas fundamentais: os efeitos negativos da poluição. Nestas circunstâncias, o Estado é levado a
intervir com regulação sobre o ambiente e sobre a actividade económica, no
— Teoria do interesse público
sentido de alterar os incentivos ao comportamento do sector produtivo para que
- Teoria do interesse privado se reduzam as emissões poluentes. Tal é o caso de multas impostas a quem polui
e impostos sobre produtos mais poluentes, para que haja moderação no seu
Vejamos cada uma. consumo.

Se no caso das externalidades negativas a actuação do Estado surge no sentido


de dissuadir ou reduzir os níveis das actividades que as provocam, no caso das
externalidades positivas deve-se, pelo contrário, incentivar ao desenvolvimento
10.2.1 TEORIA DO INTERESSE PÚBLICO da actividade: é o caso da produção de conhecimento a partir de investigação.
Uma vez feita uma descoberta, ela pode ser utilizada por toda a gente. Isto
significa que a actividade de investigação beneficia o próprio, mas também
Ateoria do interesse público justifica a existência de regulação com o afastamento
terceiros, daí ter uma externalidade positiva. Para que haja incentivo a investir
do funcionamento dos mercados em relação ao paradigma neoclássico, devido
na produção de conhecimento, o Estado cria instrumentos como patentes e
a existência de poder de mercado por parte das empresas em contexto de
direitos de autor, ou atribui prémios e bolsas de estudo, apoiando projectos de
concorrência imperfeita ou mesmo ausência de concorrência, bem como
investigação considerados de interesse para a sociedade.
também em virtude da presença de falhas de mercado, nomeadamente devido
ao fornecimento de bens ou serviços públicos, à presença de externalidades ou
Osbens ouserviços públicos são definidos por um conjunto detrês características:
a assimetria de informação.
(i) são fornecidos na mesma quantidade a todos os consumidores que deles
usufruem, já que o seu consumo é indivisível; (ii) não existe rivalidade no
Não sendo objectivo deste capítulo estudar as falhas de mercado e a forma de as
consumo; (iii) não há possibilidade de exclusão. Um exemplo é a iluminação
ultrapassar, apresentamos brevemente cada uma delas, bem como a intervenção
pública: a quantidade consumida é igual para todos, o facto de um consumidor
que o Estado, enquanto regulador, pode ter.
usufruir dela não impede que outro o faça em simultâneo e não se pode
impedir ninguém de usufruir deste serviço. Um bem ou um serviço com estas
Diz-se que existe uma externalidade, quando no decorrer da sua actividade
caracteristicas gera problemas no financiamento da sua produção, já que cada
económica normal, um agente econômico (consumidor ou produtor) influencia
consumidor, individualmente, tem incentivo a não contribuir, porque sabe que
(positivamente ou negativamente), involuntariamente, variáveis reais que afectam
não pode ser impedido de o utilizar. Isto leva a que as entidades privadas não
os níveis de bem-estar de outro agente económico (utilidade do consumidor,
consigam financiar a provisão de um bem público nas quantidades socialmente
Lucro do produtor) e não existe um mecanismo de compensação.
desejáveis, pelo que o Estado é chamado a intervir, ou fornecendo o bem ou

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319
Cap. 10 - Regulação 10.2 Teorias económicas da regulação

serviço (Estado assume o papel de produtor) ou regulando as actividades presença de extensas economias de escala, leva cada empresa a estar interessada
económicas para que esse bem seja produzido nas quantidades adequadas, ja em produzir uma grande quantidade, para reduzir os custos médios, o que pode
que o mercado concorrencial não o consegue fazer automaticamente. conduzir a um monopólio natural na presença de subaditividade de custos, como
se viu no Capitulo 9. Sem regulação, um monopolista cobrará um preço igual ao
Quando existem problemas de assimetria de informação, cada um dos lados máximo que o consumidor está disposto a pagar, o que para um sector relacionado

do mercado possui uma quantidade de informação diferente acerca do bem com um serviço público é altamente condenável do pontode vista ético, pelo que o

que está a ser transaccionado, sendo que quem vende tem habitualmente Estado é Levado a regular os preços, para proteger os interesses dos consumidores.

mais informação do que quem compra. Para evitar que os consumidores se Em geral, se o mercado for monopólio natural, a entrada de mais de uma empresa

retraiam nas suas decisões, o Estado regula para que haja sistemas de garantia levará à ineficiência de custos, pelo que a regulação de preços é necessária para
de qualidade que sinalizem as características ocultas que o consumidor não evitar a ineficiência alocativa, quer dizer, perda de excedente económico.
conhece. Toda a regulação sobre o sector da produção acerca da segurança
dos produtos colocados no mercado, desde bens alimentares, a brinquedos ou Consideremos o exemplo do sector da energia eléctrica. Devido às características
a electrodomésticos, prende-se com a possibilidade de haver assimetria de de monopólio natural, o Estado assumiu durante décadas a posição de produtor.
informação e tem invariavelmente o objectivo de proteger o consumidor. Para viabilizar a concorrência, começou por haver separação entre a produção
de energia/transporte em alta tensão e a comercialização de energia em baixa

As situações de concorrência imperfeita ou mesmo de monopólio (ausência de tensão. Se a concorrência na produção é mais difícil devido às barreiras à
concorrência) devem-se essencialmente à existência de barreiras à entrada nos entrada, a comercialização pode ser feita em regime concorrencial, desde que
mercados, que desincentivam a constituição de empresas e, consequentemente, os comercializadores tenham acesso à infra-estrutura instalada e garantam o

limitam a concorrência, tendo como efeito directo o poder de mercado e a serviço público. Enquanto não foi possível a total abertura à concorrência na

consequente subida de preços e redução das quantidades transaccionadas. comercialização de energia, as tarifas pagas pelo consumidor estavam reguladas
O estudo aprofundado das barreiras à entrada nos mercados está fora do âmbito para que se mantivessem em níveis aceitáveis. A partir do momento em que há
deste livro, mas podemos pensar nos sectores de actividade em que ha custos concorrência, as próprias forças de mercado encarregar-se-ão disso e o Estado
afundados significativos, como ja referido no Capítulo 8. apenas tem de regular a questão do acesso das empresas à rede instalada e a
verificação de fornecimento do serviço público com um certo padrão de qualidade.
Num sector como o da produção e distribuição de energia eléctrica, ou num sector
como o das telecomunicações, é necessário fazer grandes investimentos em Em suma, neste contexto, o Estado tem sempre três opções de política.
infra-estruturas, investimentos estes que constituem custos afundados. À partida,
esta necessidade de investimento limita naturalmente a entrada de empresas: a A primeira é não intervir. Se o poder de mercado não for muito elevado, ou seja,

se for limitada a capacidade de vender continuadamente a um preço superior


m Durante décadas o Estado teve este papel nas áreas de interesse econômico geral, sendo os bens ao custo marginal, e se a ineficiência de custos não for muito grave, não intervir
e serviços fornecidos por empresas nacionalizadas. São os casos do abastecimento de água, gás e
pode ser a melhor opção, já que a intervenção num mercado pode envolver perda
electricidade, telecomunicações, serviço de saúde, transporte colectivo, etc., enfim todos os bens e
serviços que satisfazem necessidades básicas e cuja existência é essencial, Nos últimos 20 a 50 anos, de excedente económico, devido a erros de política.
até por imposição do Direito Comunitário, tem havido uma separação progressiva do Estado produtor
e do Estado regulador, tendo aquelas actividades sido total ou parcialmente privatizadas, mas sob
A segunda opção surge frequentemente no contexto de provimento de bens
forte regulação, justamente para garantir um fornecimento destes bens em níveis de quantidade e
qualidade adequados, dada a sua natureza de bens/serviços públicos. e serviços públicos, controlando directamente a produção, constituindo uma

320 321
10.2 Teorias económicas da regulação
Cap. 10 - Regulação

seu favor. As empresas procuram regulação porque podem beneficiar dela de


empresa pública. Esta foi a via mais popular no continente Europeu durante
décadas. À criação do mercado único europeu e a abertura à livre concorrência várias formas, como sejam a atribuição de subsídios, a limitação a entrada no

em igualdade de oportunidades, acabou por levar a que os sectores empresariais mercado pela criação de barreiras legais à entrada para reduzir concorrência,

dos Estados fossem sendo progressivamente desmantelados. recorrendo a esquemas de Licenças, alvarás, etc, ou esquemas regulatórios de
preços para eliminar concorrência em preços numa indústria.

A terceira opção é regular, isto é, separar o Estado regulador do Estado produtor,


privatizando para repor os incentivos à gestão eficaz, e regular para impedir a Os políticos estão disponíveis para regular em troca de conseguir poder político
e de o manter: as empresas, ao patrocinar campanhas eleitorais, esperam obter
exploração do poder de mercado. Se pensarmos no fornecimento de serviços
públicos e se, na verdade, para níveis relevantes de output, são minimizados os benefícios em troca, que se podem materializar em regulação específica.
Segundo Stigler, este comportamento justifica o facto de alguma regulação ser
custos de produção com uma única empresa, há justificação para regular preços e
destinada a alguns sectores de actividade e não necessariamente a corrigir falhas
entrada no mercado, mas também regular para garantir que os níveis adequados
de serviço público sejam fornecidos. de mercado. Peltzman,(2 também no contexto da Escola de Chicago, refere a
importância dos grupos de interesse. Segundo este autor, se no mercado existir
muita concorrência, a indústria vai procurar regulação de forma a limitá-la. Por
seu lado, se no mercado existir poder de monopólio, a conveniência e procura de
10.2.2 TEORIA DO INTERESSE PRIVADO regulação é atribuída aos consumidores, que também se congregam em grupos de
interesse. Na verdade,individualmente os agentes económicos não têm poder, mas
a situação é claramente diferente quando se congregam em grupos de influência.
A teoria do interesse privado, justifica a existência de regulação com dois
fenómenos distintos: (i) clientelismo, havendo procura de regulação por quem
A outra vertente da teoria do interesse privado para a existência de regulação
beneficie dela e oferta de regulação por um governo cuja actuação é financiada
prende-se com as falhas do Estado, no sentido em que os agentes políticos têm
por grupos de interesse, gerando aquilo a que Stiglert% chamou captura do
objectivos individuais que são diferentes dos objectivos da sociedade que neles
regulador, (ii) falhas do Estado, porque os políticos são, antes de serem políticos,
votou. Esses objectivos individuais dos politicos fundem-se com os objectivos
indivíduos com os seus próprios interesses, interesses esses que podem ser
dos grupos de interesse. Para contrariar este efeito, os eleitores juntam-se
diferentes dos interesses públicos.t%
também em grupos de influência, tt) em função das suas preferências (partidos,
uniões, sindicatos) para monitorizar, informar e influenciar a política, mobilizando
Ateoria da captura do regulador, devida a Stigler, 19) baseia-se na observação de
votantes e recursos dos respectivos membros.
que o regulador fica refém de grupos de interesse e, portanto, deve regular em

um Stigler (ib.) The industry which seeks regulation must be prepared to pay with the two things a
im George ). Stigler (1911-1991) ganhou o Prémio Nobel de Economia em 1982 pelos seus
party needs: votes and resources”
contributos para o estudo dos processos de mercado e estrutura das indústrias. Integra-se na Linha
au Sam Peltzman tem produzido investigação, desde a 2º metade dos anos 60, sobre as relações
de pensamento económico comummente designado por “Escola de Chicago”.
entre o sector público e o sector privado. Ficou conhecido pelo “Efeito Peltzman” de compensação do
e Teoria normalmente designada por “falhas do estado” devido a problemas de assimetria
risco, no seu artigo de 1975 “The Effects ofAutomobile Safety Regulation”, onde refere que a regulação
de informação que geram conflitos de interesses vulgarmente conhecidos como problemas
em segurança automóvel não teve qualquer efeito, porque as pessoas passaram a ter comportamentos
“principal-agent”na literatura anglo-saxônica e que surgem em relações de delegação de poder, como
mais arriscados.
é o caso dos eleitores nos políticos eleitos para os governar.
ts Já que individualmente não têm incentivo a fazer este esforço de verificação e monitorização, o
no “Regulation is acquired by the industry and is designed and operated primarily for its benefit” in
que na literatura anglo-saxónica é conhecido como enforcement.
Stigler (1971) “The Theory of Economic Regulation” Bell Journal of Economics and Management2(1)

seo ses
Cap. 10 - Regulação
10.3 Regulação da concorrência

No contexto do fornecimento de serviços públicos, energia, telecomunicações, de forma a que se reduza o bem-estar social, Este tipo de regulação torna-se
água, saúde, etc... podemos invocar a teoria do interesse público para justificar necessária, porque mesmo em mercados que funcionam concorrencialmente, as
a regulação nestes sectores: não só a necessidade de grandes investimentos em forças de mercado poderiam não Levar ao resultado eficiente, já que as empresas
infra-estruturas pode Levar a situações propícias a monopólios naturais, pelo que é podem comportar-se estrategicamente, podem criar ou fortalecer posições
necessário regular preços, mas também a característica de serviço público faz com dominantes, ou até monopólios, através de concentrações de empresas ou
que os agentes económicos privados não tenham incentivo em fornecer os serviços podem efectuar acções que aumentem os lucros e reduzam o bem-estar social
num nível de quantidade e qualidade que seja desejável socialmente, devido a um como sejam actividades de conluio, ou comportamentos predatórios.
problema de financiamento. Este facto não exclui que, em cada sector, não existam
grupos de interesse que tentem influenciar determinada regulação em seu favor, Por várias vezes, as gasolineiras foram acusadas de práticas concertadas/conluio
para manter os preços do combustível mais elevados, ou mesmo “pactos de
Nestas áreas, a regulação faz-se, não só por Legislação específica, como também não agressão” para evitar que se entre numa guerra de preços, extremamente
por entidades reguladoras independentes, como sejam a ERSE (energia), ANACOM destruidora dos lucros. Estetipo de práticas reduzemo bem-estar social, porque são
(telecomunicações) e a ERS (saúde), que verificam a aplicação da legislação actividades monopolizantes: as várias empresas, em conjunto, tentam aproximar-
com o objectivo de garantir a protecção dos consumidores e a protecção dos se do comportamento monopolista, o que reduz o excedente económico, como
seus interesses, promovendo uma provisão eficiente de serviço, com qualidade, já sabemos. Outro tipo de acções, conhecidas como predatórias, destinam-se a
sustentável e permanente. Esta regulação tem também por objectivo promover eliminar empresas concorrentes e podem ser encetadas pelas empresas com
uma concorrência efectiva onde é possível, ou proteger os interesses dos posição dominante no mercado. Uma guerra de preços pode, justamente, ser
consumidores onde não é viável ter concorrência efectiva, o que tem limitado considerada uma prática predatória se esses preços forem fixados abaixo do
a subida dos preços que as empresas dominantes podem cobrar, de forma a valor de custo. As empresas com menor capacidade de financiamento vêem-se
promover eficiência e justiça. forçadasa fechar as portas, podendo as remanescentes explorar um maior poder
de mercado ex post. Em suma, as empresas de mercados que podem funcionar
concorrencialmente, podem iniciar práticas que prejudicam a concorrência, com
o objectivo de aumentar o lucro individual.
10.3 Regulação da concorrência
A grande diferença entre regulação económica e política de concorrência gira em
torno do contexto de aplicação de cada uma delas. A regulação económica aplica-
10.3.1 O QUE É A REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA? se a sectores onde as forças concorrenciais não funcionariam sem problemas, como
sejam os casos de falhas de mercado (fornecimento de bens públicos, externalidades
e assimetrias de informação), monopólios naturais, indústrias em transição de
Massimo Mottaus define regulação da concorrência como um conjunto de monopólios Legais para mercadosliberalizados ou indústrias de rede. A regulação
políticas e leis que garantem que a concorrência no mercado não é restringida económica tem uma actuação forte, continuada, a médio e a Longo prazo, regulando
preços, escolhas de produtos, padrões de qualidade, etc. A política de concorrência
aplica-se a sectores onde as condições estruturais permitem a concorrência e
114 Massimo Motta (2004) “Competition Policy: Theory and Practice”. Motta é professor na Universitat
Pompeu Fabra de Barcelona e tem desenvolvido um importante trabalho na área da Economia pretende, genericamente,verificar a Legalidade das acções das empresas,intervindo
Industrial e politica de concorrência. ex post sancionando, se for caso disso, ou intervindo ex ante, condicionando

god
sas
10.3 Regulação da concorrência
Cap. 10 - Regulação

Em relação ao continente europeu e, em especial, nos países da União Europeia,


comportamentos, como seja nas situações em que há fiscalização preventiva de
não é extemporâneo afirmar que a construção da regulação da concorrência se
concentração de empresas pela Autoridade da Concorrência, a entidade reguladora
deu a par com a construção do mercado único. A uniformização deste tipo de
independente que tem por missão aplicar a Lei da Concorrência.
regulação entre estados membros é fulcral para que as relações comerciais se
façam com justiça, equidade e igualdade de oportunidades. O Tratado da União
Europeia aborda os assuntos da concorrência no sentido de proibir o conluio e a
concertação de empresas, bem como o abuso de posição dominante. Todas as leis
10.3.2 AS ORIGENS HISTÓRICAS DÁ LEI DA
nacionais reflectem, de alguma forma, estas normas.
CONCORRÊNCIA
Em Portugal não existiu uma Lei de Concorrência até 1983 e, quando surgiu, teve
por objectivo proteger a economia da concorrência excessiva, como acontece
A primeira legislação que teve por objectivos evitar práticas de monopolização foi
em guerras de preços e dumping. A actual lei foi delineada em 2003 (com as
publicada nos EUA em 1890 e é conhecida por Sherman Act. Era umalei Anti-Trust,
alterações subsequentes), ano em que foi criada a Autoridade da Concorrência,
ou seja, proibia os acordos de fixação de preços (trust agreements) e acordos de
com o objectivo de promover a concorrência, o bem-estar dos consumidores e
partilha de mercados, mas não proibia as fusões de empresas: um monopólio não
um nível de inovação adequado (Vd. estatutos da Autoridade da Concorrência). É
era ilegal em si, apenas erailegal se se provasse que era constituído com o objectivo
função da Autoridade da Concorrência aplicar a lei, fiscalizar o seu cumprimento
de controlar o mercado através de práticas injustas, explorando o consumidor e
e sancionar o seu incumprimento. À política de concorrência deve defender a
evitando a concorrência. Em consequência, a Lei Sherman gerou a maior onda de
concorrência e não os concorrentes.
fusões da história dos EUA,já que os Trust Agreements foram proibidospela lei.

São práticas proibidas pela Lei da Concorrência, entre outras:


Em resposta, surgiu em 1914 o Clayton Act, com o objectivo de estender a
Legislação antitrust para incluir as operações de concentração de empresas Fixação de preços/conluio/cartelização(1s)

I
(fusões e aquisições). Passaram, também, a ser proibidas práticas de restrição da
Limitações de produção
concorrência tais como a discriminação de preços, contratos de exclusividade,
práticas de venda ligada de produtos (tie-in), etc. Repartição de mercados

Discriminação de preços
Estas duas leis são a origem e a inspiração para muita da legislação de protecção
da concorrência que existe por todo o mundo. Na Europa, até recentemente, =
generalidade dos paises não tinha uma política de concorrência, gerindo-se apenas
us Um cartel é um consórcio de empresas formado com o objectivo de controlar um mercado.
pelos respectivos Códigos Comerciais. Exceptuam-se os casos do Reino Unido =
Basicamente, um conjunto de empresas actua como uma só, construindo na pratica um monopólio
da Alemanha. No Reino Unido a 1º lei de defesa da concorrência foi aprovada no lugar de um mercado que poderia funcionar concorrencialmente. O cartelé o aspecto mais formal

em 1948 - Monopolies and Restrictive Practices Act - com o objectivo de impedir da prática de conluio, que pode nas suas formas mais tênues ser um comportamento tácito, ou seja,
as empresas individualmente (e sem combinarem entre si) optam por não se agredir através de
ou controlar as pressões para subida de preços associadas ao abuso de poder
descidas de preços para roubar clientes, mantendo os preços altos, justamente porque entendem que
de mercado. Na Alemanha, a regulação dos cartéis data de 1923 e foi motivada assim obtêm maiores proventos, O leitor mais curioso pode visitar a página web da Autoridade da
pela hiperinflação que se fazia sentir na época. Em 1957 surgiu a primeira Lei que Concorrência, onde encontrará uma grande quantidade de informação sobre os processos em estudo
relacionados com estas práticas estratégicas.
efectivamente protege a concorrência e proíbe práticas anticompetitivas.

326 Se?
Cap. 10 - Regulação Questões de revisão

- Recusa de compra/venda - O fornecimento privado de um bem público é semprei


neficiente. Explique

- Abuso de posição dominante - Apresente genericamente a teoria do interesse público


para a existência
de regulação económica,
- Concentrações de empresas (excepto se não prejudicarem a concorrência)
- Em que consiste o fenómeno de clientelismo? Em
que medida pode
São objectivos da Lei da Concorrência: afectar a regulação económica?

Explique no que consiste a política de defesa da concorr


Proteger o bem-estar do consumidor e o bem-estar social ência e qual a
justificação para a sua existência.
- Defender as menores empresas
- Apresente brevemente as principais práticas lesivas
da concorrência que
- Promovera integração de mercados (em linha com a União Europeia) são proibidas pela lei.

— Garantir a liberdade económica

- Combater a inflação

= Garantir a justiça e a equidade

É de notar que a política de concorrência não deve estar preocupada com a


existência de monopólios por si só, mas sim com práticas monopolizantes que
distorcem o processo concorrencial, isto é, as práticas lesivas da concorrência.
Quando os mercados já são monopólios e não for possível que o mercado
funcione concorrencialmente, então deve o Estado usar a regulação econômica,
se tal for adequado, como já vimos. A política de concorrência não se preocupa
com a existência de poder de mercado, mas sim com a manutenção de um poder
de mercado “suficientemente elevado”, até porque a existência de poder de
mercado ajuda a inovação: é a possibilidade de contemplar poder de mercado,e
consequentemente um maior Lucro, que leva as empresas a procurar tecnologias
mais eficientes e a melhorar e diversificar os seus produtos.

Questões de revisão

1. Por que razão um mercado onde exista uma externalidade positiva não
maximiza o excedente económico? E se for uma externalidade negativa?

s2s 329

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