Você está na página 1de 51

0

UM LIVRO
MENOR AINDA
PARA ENTENDER
O MERCADO
O Método Simplificações para observação gráfica

ADMIR CLEMENTE WETLER JÚNIOR


MESTRE EM ECONOMIA PELA UFRGS
CORECON 1729

1
SUMÁRIO

DO COMEÇO 3

SIMPLIFICAÇÕES 9

Tudo o demais constante… ceteris paribus 10

Aspectos Econômicos 10

DOS CANDLESTICKS À RETA DE TENDÊNCIA 12

A RETA ESTIMADA MÓVEL 22

O problema da curva 26

OPERANDO SIMPLIFICAÇÕES 30

Observando a robustez de uma tendência 30

Alguns exemplos 32

Divergência entre gráficos aproximados e de distanciamento 33

Comparando ações 36

ANÁLISE DINÂMICA 40

O uso das médias móveis 40

FATORES ESPECULATIVOS 46

Coerência e incoerência do mercado 46

FECHAMENTO 49

2
DO COMEÇO

Resolvi fazer esse pequeno livro para fazer o método Simplificações andar e
chegar em mãos que consigam fazê-lo ganhar espaço no cenário dos
investimentos em ações. Acredito que ele tenha potencial pra isso.

Estou animado com a ideia de ser investidor em bolsa e gostaria de contribuir


para que a gente crie um entorno de pessoas investidoras. Isso no fim é um
caminho para se construir um ambiente de maior empregabilidade e virtude
para essa nossa nação maltrapilha.

Quando pensamos em bolsa de valores é comum lembrarmos do painel de


cotação dos preços das ações com as informações em verde ou vermelho de
movimentos de altas e baixas e ao lado a informação da variação percentual de
cada papel. Olhando para essa imagem que mistura elementos de cores,
números e papéis, ficamos naquele primeiro instante com um verdadeiro “e
agora José?” em mãos. O que fazer a partir daí? Devo vender, comprar, esperar
por quais papéis? E pronto, nesse ínterim se criou um universo inteiro de
conhecimentos e teorias, mas não houve luz em tudo que se descobriu.

Digo isso pensando nos recursos da análise gráfica, que hoje encontram-se
bastante vinculados à análise técnica que obsersa os papéis a partir da
observação gráfica dos candlesticks, os gráficos de ‘velas’ que representam as
oscilações de preços experimentadas num dado intervalo de tempo.

Recentemente houve uma enxurrada de novos entrantes nos investimentos em

3
ações através dessa via e isso tem suscitado muitos questionamentos quanto à
sua eficácia na formação do perfil do investidor pessoa física brasileiro. Estudos
tem que apesar do sucesso em atrair esses novos investidores, a falta de
sucesso encerrada através do uso dessas ferramentas também tem alargado a
porta de saída e fazendo com que o investimento para muitos seja algo
meramente momentâneo - o que definitivamente não é desejável para qualquer
das partes que pensarmos.

A Fundação Getúlio Vargas volta e meia produz trabalhos de pesquisa testando


a eficácia das ferramentas de análise técnica para aplicação no mercado
financeiro - o lado grafista dos invetidores. Num recente estudo uma
preocupação com o processo de popularização da bolsa associado à
multiplicação de investidores que entraram pelo caminho das práticas de day
trade a conclusão que se chegou colocou em cheque novamente esse
instrumental quanto à sua capacidade de gerar valor e crescimento patrimonial
para esse novo investidor.

Dos quase 20.000 CPF’s de novos entrantes na bolsa verificados nesse estudo
(de 2014 a 2017) somente 13 pessoas conseguiram obter lucros significativos,
com uma taxa de desistência maior que 80% para o primeiro ano de atuação e
uma perda relativa de capacidade de boas escolhas - denunciando que o tempo
também não é agente habilitador e que forneça aumento da capacidade de
tomar decisão desses novos traders. Esse número tão pequeno de vencedores
tem resultado equivalente ao que o acaso produz entre os ganhadores de
aposta. Na prática, algumas pessoas terão se dado bem não pela eficácia da
ferramenta, mas pelas coincidências que favoreceram esse sucesso. Em outras
palavras, as ferramentas de análise técnica a que se atribui o feito não é
exatamente a causa do sucesso obtido.

4
Mas como ficam os economistas-raiz nessa história? Abandonaremos a
‘cachaça’ dos gráficos e voaremos com as asas dos nossos irmãos contadores
e administradores? Nós que nos acostumamos em estudar cálculo diferencial
integral, econometria e a matemática densa, por essa conjuntura devemos
abandonar a perspectiva de análise gráfica para tomada de decisões de
investimento em ações? Nesse trabalho quero mostrar a guisa de discussão e
iniciação, a proposta de um instrumental que pode se delinear de maior ajuda e
com um teor mais ponderado no que diz respeito à análise gráfica.

No fim das contas, a oportunização que veio das facilidades criadas para se
investir em papéis se trata de um importante mecanismo para a alavancagem
empresarial e significativa para se gerar um tempo mais virtuoso para a
economia brasileira, no qual os recursos de poupança disponíveis se tornam
mais diretamente em investimento no setor produtivo por vias da própria
iniciativa privada - um nível de amadurecimento desejável e já consolidado em
países desenvolvidos.

Fiquei 10 anos da minha vida imbuído da docência para cursos de graduação


de administração e contabilidade, dividindo cadeiras que iam do quantitativo ao
qualitativo, como estatística e matemática aplicada, e gestão ambiental,
macroeconomia e desenvolvimento regional na outra ponta. Em matéria de
mercado de capitais, também sou fruto dessa leva de popularização recente e
comecei meus estudos inclusive pelo caminho mais comum das técnicas de day
trade em contratos de mini índice. Engolfos de alta, topos e fundos duplos,
cunhas, bandeiras e xícaras foram meus primeiros passos nessa seara.

Gráficos! Muitos! Funções, limites, derivadas, teorema fundamental do cálculo.


A derivada da reta tangente é o limite da derivada da reta secante… esse é o
cenário de guerra nas trincheiras do curso de economia. É daí de se aprende o

5
instrumental básico para o que posteriormente viraria ferramentas aplicadas em
problemas de otimização. Maximização de lucros, minimização de custos. Em
Macroeconomia, os coeficientes das funções atuando como medidas dos
multiplicadores dos gastos governamentais, dos meios de pagamento. Em
Microeconomia, a derivação como o caminho para se encontrar o equilíbrio de
mercado. Eis que te digo: era tiro para todos os lados.

A defesa e construção maior a se fazer aqui é de apresentar novas bases para


a observação gráfica de maneira a se ter uma alternativa mais ponderada e
baseada em elementos com validação acadêmica. Também, de apontar para
essas ferramentas não no sentido de se ter nelas um esgotamento e um
processo de análise fechado para a tomada de decisão, mas uma componente
acessória que deve ser somada à leitura macroeconômica, às questões
sociopolíticas correntes e à análise dos fundamentos da empresa.

Fato é que existe muito conteúdo disponível no que diz respeito a todos os
demais assuntos, mas, com a derrocada e a verificação empírica da falibilidade
da análise técnica baseada na observação dos padrões gráficos dos
candlesticks fica-se aberta uma lacuna, como que se a observação gráfica
como um todo fosse sem utilidade - o que não parece ser prudente.

Pela análise gráfica é possível se enxergar no horizonte de tempo o


comportamento e o caminho dos preços que um papel tem feito. Em algumas
circunstâncias, ter de fato posições bastante conclusivas quanto ao destino de
uma ação. Cito aqui os exemplos das BDR’s de grande liquidez, como a Tesla,
a Apple, a Amazon, cujo crescimento exponencial tem sido persistente e
sustentável ao longo dos últimos anos - a leitura gráfica somada às perspectivas
de conjuntura parecem sinalizar a continuidade dos bons tempos para esses
papéis, haja vista a possibilidade ainda existente de ampliação de mercado para

6
essas empresas em escala global.

Simplificações é uma metodologia ainda nascente que pode ser acessória às


finanças quantitativas e tem importância ao implementar dois elementos de
atualização, considerando aspectos de derivação e tangência, bem como de um
instrumental estatístico simples, mas mais pertinente ao julgamento e uso como
vem se fazendo ao movimento dos preços das ações com o conhecimento de
séries temporais.

Esses dois elementos são: o princípio da otimização que vem da tangência


variar ao longo dos gráficos e ser nula nos máximos e mínimos - propriedade
vinda das ferramentas de cálculo diferencial e pensamento marginalista
econômico e, uma segunda ferramenta - enxergando o Beta, uma medida da
inclinação de uma reta de tendência, de uma forma dinâmica tal como se faz
com o princípio das médias móveis.

Uma confissão sobre o ‘motorista’: não sou PhD em econometria. Lecionei


estatística para alunos de graduação e me ative ali ao raciocício de retas de
tendência que as regressões lineares simples obtem. Fui aluno do Eduardo
Pontual na UFRGS e só passei com a ajuda guerra do Túlio Chiarini.

Digo isso porque esse escrito parece muito mais ser de caráter provocativo, de
alerta e start para obras maiores, do que um tratado final sobre essa linha de
pensamento. E eu espero mesmo que grandes nomes e notáveis possam surfar
esse caminho que eu de forma simples tenho tentado promover. Na verdade
essas obras maiores já existem, mas não foram popularizadas.

Um exemplo disso é a abordagem das Finanças Quantitativas. Esse


instrumental se aproxima da metodologia do Simplificações, mas possui uma
densidade maior no trato estatístico complexo e na linguagem de programação.

7
Todavia, tal instrumental hoje se encontra num patamar de amadurecimento
bem maior.

Na conta, o que cabe dizer é que o método Simplificações tenha alguma


contribuição a fazer a título do que se deve procurar ao observar ações. O
mecanismo diferencial que identifica topos e fundos, bem como pré visualiza
sua chegada acaba por ser um ponto importante e utilizável para essa linha de
atuação analítica das aplicações.

Talvez o objetivo de fato seja promover maior amplificação e apontar um


caminho para quem pretenda explorar esse universo rico e poderoso da
observação gráfica das ações.

8
SIMPLIFICAÇÕES

O que tenho chamado de Simplifações afinal? Quando penso no termo


simplificações penso que ele é a condensação/compactação de um conjunto
muito profundo de conhecimentos da compreensão gráfica e estatística trazido
para um nível prático e uma compreensão mais direta para a tomada de decisão.

A ideia é que na prática diária que fazemos nossas coisas, não costumamos
entrar em pormenores e parar o tempo para calcular especificidades. Em se
tratando de investimento em ações, isso traduzido em palavras significa dizer
para aqueles que tem o perfil de investimento de longo prazo, que a
preocupação maior a se identificar são as tendências relativas a cada papel e a
visualização/atualização do cenário econômico e político bem como seus
reflexos no movimento de preços.

Sobre esse último, os preços, vale pensar que se trata de uma função que
guarda dependência com N variáveis, com maior e menor grau de afetação
sobre ele. As condições macroeconômicas como o câmbio, a taxa de juros, as
políticas adotadas por cada governo, o perfil de gestão e orientação ideológica
destes, tudo irá culminar na configuração de tendências de alta e baixa nos
preços dos papéis:

Preço da Ação = f(oferta, procura, taxa de juros, taxa de câmbio, preço


de produtos complementares, preços dos produtos concorrentes,
quadro político dominante, desempenho da economia mundial…)

9
Tudo o demais constante… ceteris paribus

É um termo muito comum na linguagem econômica a ideia do ceteris paribus.


Significa o isolamento das demais variáveis que afetam o preço e considerar
especificamente um fator. Pensando em termos da relação preço x tempo esse
isolamento não parece algo factível. Uma série temporal mostra o reflexo do
movimento de todo o cenário ou do efeito do cenário vivido para aquele preço
ou aquela empresa. O tempo não é fator primário de influência, ele é só o
intervalo em que se verificam os preços.

Assim, se dissermos que uma ação está com tendência de alta não significa
que o tempo é o fator gerador dessa alta e sim o cenário vivenciado é que está
criando a condição favorável para isso. A caixa preta da função e das variáveis
que orientam a força ou a fraqueza de uma empresa não pode ser
desconsiderada.

Quanto mais vocẽ for capaz de capturar os elementos que fazem uma empresa
performar e a correlação que o preço guarda com a conjuntura, mais você terá
condições de identificar possíveis movimentos de alta e valorização de sua
carteira. Visto dessa forma, a formação de uma carteira com perfil de
valorização requer ao investidor um bom entendimento sobre os rumos,
tendencias de evolução rápida ou lenta e uma boa visão de futuro construída.
Investir bem é ler bem, entender história, entender comportamentos, entender
dos processos sociopolíticos e da geoeconomia atual.

Aspectos Econômicos

A função do preço de uma ação: uma consequência de conjuntura. Adam Smith

10
destacando os fatores diretos: oferta e procura: mundo mecanicista newtoniano
enxergado por Smith e toda a linhagem clássica.

Quando assistimos no tempo o que acontece na bolsa de valores se trata do


movimento de duas grandes forças: a oferta e a procura. A bolsa de valores é
um mercado em que se negociam títulos e o intervalo de tempo denuncia a
dinâmica equilibrista à qual sintetiza o resultado final dessa intereção de
interesses conflitantes entre a oferta e a procura, cujas leis de constituição
tomam caminhos exatamente opostos.

É interessante notar o dinamismo em que esse movimento equilibrista ocorre e


que, na prática, isso não signifique um valor exato a se chegar. O que
percebemos é um continoum oscilante que vai traduzindo para aquele e aquele
tempo o resultado final das negociações verificadas. Fato é que existe alguma
lógica por trás de todo movimento de preços, mesmo que essa lógica seja a
especulação1: elemento nada incomum nesse cenário.

1 Por especulação podemos introduzir aqui o fator de antecipação de eventos


que ainda não aconteceram, mas que foram noticiados ou sabidos. Também, aí
num nível mais agressivo do componente do mercado, por razões intencionais e
de maneira voluntária - quando grandes players realizam movimentos com
vistas a um fim e provocam pelo seu grau de significância no cenário como um
todo um movimento ‘artificial’ no preço de um papel.

11
DOS CANDLESTICKS À RETA DE TENDÊNCIA

Apesar de não fazermos uso das práticas de análise técnica, vamos partir dela
para se construir nossa metodologia e ferramenta básica. Dos candles à reta de
tendência é uma sessão que procura mostrar passo a passo como transformar
o ambiente gráfico típico da análise técnica para um ambiente ao qual se pode
verificar as retas de tendência para o preço dos papéis.

A tomada de decisão a partir dos gráficos tem sido feita através da técnica de
observação dos candlesticks de modo que, dependendo da maneira como vão
se dispondo esses candles no tempo vai gerando um padrão visual que uma
vez reconhecido, permitiria se saber para onde iria o próximo candle(preço)
ainda a se formar. Abaixo o conceito de como é formado o candlestick:

O tempo é o primeiro fator que compõe o candle. Ele pode ser delimitado de
acordo com a necessidade em intervalos que podem ser de um minuto, 5, 15 …
até chegarmos aos gráficos de candles diários, semanais e mensais. Cada
candle intẽo possuirá quatro informações sobre aquele intervalo de tempo
considerado: o preço de abertura, fechamento, o valor máximo e o valor mínimo
negociado. Quem delimita a caixa desse candle são os preços de abertura e
fechamento, enquanto que o pavio representa os intervalos mínimos e máximos
de oscilação que chegaram a ocorrer naquele período.

12
Os candlesticks recebem coloração verde caso o preço de abertura seja menor
que o preço de fechamento e vermelho em caso contrário. Essas colorações
objetivam apontar para um movimento comprador e vendedor que o papel está
passando - naquele sentido econômico de identificar a pressão sobre os preços
que faz com que ele cresça ou caia. No caso, movimentos de alta de preços
serão observados com a presença persistente de candles verdes e movimentos
de queda, de vermelhos: leis da oferta e da procura - a preferência pelo maior e
do menor preço, respectivamente.

Dessa maneira, acaba sendo possível se chegar a diversos padrões visuais


desses candles, como traz a figura adiante:

13
Variações visuais do candlestick: 1) somente a caixa - as
oscilações no período se deram entre os valores de
abertura e fechamento; 2) Houve negociações abaixo do
preço de formação da caixa; 3) candle com maior
patamar de oscilação e caixa pequena; 4) preço de
abertura igual ao preço de fechamento, mas com forte
oscilação no período e 5) preço de abertura igual ao de
fechamento (candle típico nas ações de baixa liquidez e
volume de negociação)

Temos então a figura gráfica com essas “velas” ao qual dá suporte à análise
técnica para dar suporte a decisões:

14
Ocorre que, e aí já encaminhando a adaptação para um dos elementos
didáticos de base dessa proposição, os candles nada mais são do que
intervalos de oscilação dos preços daquele papel em um dado instante sendo o
ponto médio dessa oscilação o ponto que melhor resume ou expressa o valor
daquele papel para aquele intervalo de tempo. E é por essa adaptação dos
candles para seus respectivos pontos médios que é possível se construir um
diagrama de dispersão que possibilita o uso da técnicas de estatística de
regressão linear.

15
Etapa 1 - Adapatação dos candles aos seus pontos médios

16
É essa adaptação simplificadora que consiste essa metodologia e essa
proposta: começar a observar o gráfico sob o olhar das oscilações e
tendências que ocorrem a partir do movimento médio dos preços dos
papéis. Mas para isso, construir os elementos que trazem o julgamento sobre
um papel uma vez que, para pensar em nos termos do Nassim Taleb, o
investidor buy and hold não está preocupado em surfar a onda de um candle
gigante somente.

Exemplo em BIDI4

A primeira etapa da nossa metodologia consiste na transformação dos


candlesticks para o mapa de dispersão. Isso acontece convertendo cada candle
na sua representação em termos de pontos médios. Para exemplificar, foram
tomados os preços do mercado fracionário do Banco Inter referente ao ano de
2019, em peridicidade mensal. A tabela a seguir expressa esses valores e o
respetivo ponto médio:

17
A seguir, o diagrama de dispersão mostra em representação gráfica esses
dados de ponto médio de cada mês:

18
Os meses estão enumerados no eixo horizontal e temos no eixo vertical o nível
de preços correspondente. Esse gráfico é facilmente obtido utilizando
programas de planilhas e permite a obtenção de duas informações importantes:
a identificação de um possível padrão de comportamento do papel no tempo e 2)
a reta de tendência que passa entremeando os pontos dessa dispersão de tal
maneira a identificar a tragetória/tendência que resume o comportamento dessa
ação (nas configurações gráficas é possível pedir a reta de regressão estimada
e ela aparece no corpo do gráfico obtido).

BIDI4 = 5,5408 + 1,1012.tempo

Essa é a equação de regressão (usando o termo da estatística) que calcula na


forma de uma função polinomial do primeiro grau a reta que estima o preço de
uma ação considerando aquele conjunto de dados expressos na dispersão. O
valor de 5,5408 expressa a condição inicial, ou seja, o valor médio calculado
para o instante zero e o valor de 1,1012 que multiplica o tempo, o componente
da variação que ocorrerá a medida que o tempo avança - também chamado,
dentre muitos nomes, de taxa de variação no preço da ação BIDI4, nesse caso,
tomados mês a mês.

Essa taxa possui relevância maior porque expressa justamente a tendência.


Seu valor positivo mostra uma estimativa ou uma lógica provável de
crescimento no preço do papel. O valor negativo denota uma sequência
vendedora do mercado o qual se teria uma tendência de queda no preço do
papel.

Essa consideração temporal é uma componente importante para se operar na


análise gráfica. A verificação aproximada te entrega o pormenor, mas a
observação mais longíncua te permite verificar a tendência de forma mais

19
completa.

No estudo, também inferimos o mês de janeiro de 2020 para o mesmo papel.


Temos no gráfico abaixo esse registro:

Note que a condição inicial para BIDI4 em janeiro de 2020 já se encontrava em


16,43, o que domenstra o bom desempenho que essa ação experimentou no
ano de 2019. A taxa de variação, por sua vez, agora com o valor de 0,1225
expressa a perspectiva de variação de preços considerando agora uma
temporalidade diária - aí tomando como mapa de dispersão os valores de ponto
médio dos 20 pregões observados em janeiro.

É preciso deduzirmos aqui o que esse tipo de exercício promove:

- a medida de crescimento ou queda no preço do papel a partir dos coeficientes


estimados

20
- a comparabilidade entre os papéis em sua trajetória

A medida percentual da variação no preço do papel pode ser feita através da


divisão entre o coeficiente de variação e a condição inicial:

Variação (%) percentual = (Coef de Variação/Condiçao Inicial) x 100 (%)

Para o caso de BIDI4:

Variação (%) BIDI4 = (1,1012/5,5408) x 100 (%)


Variação (%) BIDI4 = 0,1987 x 100 (%)
Variação (%) BIDI4 = 19,87% de acréscimo mensal

Ao se implementar esse mesmo tipo de métrica para os mais diferentes papéis,


temos como resultado final um parâmetro da perspectiva de variação percentual
estimada para essa ou aquela ação e assim, identificar os papéis como
melhores expectativas de valorização.

Como primeiro ponto então e sob esse arcabouço, Simplificações é uma


ferramenta que compara através da identificação da tendência e a medida
dessa tendência, com a comparação estática dos mais diversos papéis que se
pretenda comparar.

Todavia, partiremos agora para uma construção B desse raciocício e considerar


o horizonte dinâmico das oscilações de preço e da própria tendência. Quem nos
dará esse entendimento será o princípio da tangência advindo do cálculo
diferencial e que é o pano de fundo do raciocínio marginalista dos economistas.

21
A RETA ESTIMADA MÓVEL

Um dos poréns que existem no trato estatístico das ações vem da dificuldade de
enquadramento no instrumental de análise de séries temporais. Nessa linha de
pensamento a principal lógica percebida é a força que o componente aleatório
possui em comparação com o elemento de tendência e de sazonalidade. Essa
força da componente aleatória credita maior valor para os elementos que estão
fora do radar do tempo e pelo qual a análise ao longo do caminho temporal não
seria eficaz.

O principal ponto em que faço aqui a defesa quanto ao instrumental do


Simplificações está numa mudança de uma perspectiva estática para uma
perspectiva mais dinâmica da medida de variação e tendência. Assim como a
ferramenta de uso corriqueiro que é a média móvel, a reta de tendência pode
ser pensada em termos mais dinâmicos, de forma muito semelhante ao
funcionamento da média móvel.

Para isso, tudo o que precisa ser percebido ou considerado é o aspecto


tangencial e como funcionam as funções contínuas em seu aspecto tangencial.
Esse princípio vem lá do cálculo diferencial e pode ser facilmente entendido ao
observarmos o movimento circular:

22
A tangência no movimento circular é única em cada ponto

Essa afirmação se trata da própria dinâmica do movimento tangencial. A reta de


tendência que foi verificada na primeira etapa no exemplo de BIDI4 agora ganha
uma característica de verificação de tendência ponto a ponto. Isso é feito pelo
abandono dos dados mais antigos e absorção de dados mais recentes.

Sendo um pouco insistente e fazendo a correlação mais explicitamemte, temos


nessas retas de tangência o elemento de movimento da reta de tendência. Ou
seja, enxergamos a tendência em seu aspecto de mudança contínua.

E ocorre que essa tangência que acontece ponto a ponto possui um padrão
comportamental. Quando estudamos funções contínuas dessa natureza vemos
que: os gráficos quando observados em seu aspecto de tangência/tendência
ficam mais fáceis de se compreender e demonstram melhor os pontos de
tomada de decisão.

23
Visualmente o ponto a ser percebido é o seguinte:

Esse é o espelhamento da tangência ao longo de uma curva contínua. Ponto a


ponto pode-se perceber que há uma mudança na inclinação dessas retas
tangenciais. Elas possuem características crescentes, descrescentes ou neutras
- essa última destacada na cor amarela pela sua peculiaridade notável: a
otimização.

Em pontos de máximos e mínimos, a tangência é sempre horizontal (e nula)

Na observação dessas funções curvas, que tipificam oscilações ao logo do


tempo, o que se percebe é esse instante mágico, calculável e instrumental que
é a identificação dos momentos de inclinação nula que podem significar
máximos e mínimos e denotarem reversões de tendência de crescimento ou
decrescimento.

24
Voltando novamente ao movimento circular e fazendo o paralelo com nosso
assunto tema que é o investimento em ações, essa angulação que resulta da
inclinação que uma determinada reta possui, tem relação com o nível de
variação horizointal e vertical que ocorre. De fato, o valor da taxa de variação
que verificamos lá no nosso modelo estático e reta de tendência será
exatamente o valor da tangência e será obtida pela divisão entre o nível de
variação dos preços observada e o intervalo de tempo transcorrido.

Tangente β = Coeficiente de Variação

Portanto, o aspecto de inclinação é um fator importante para se considerar no


que diz respeito à verificação da tendência. As inclinações verificadas na figura
acima estão demonstrando um nível de tendência de valorização acentuada
para a ação no círculo menor inferior e uma valorização tímida no círculo menor
de cima.

25
A nível dinâmico, está aí expresso o elemento a ser considerado no ponto a
ponto de uma curva: a mudança que ocorre nas inclinações tangenciais.

O problema da curva

“Tudo bem, ‘Lobão’, mas uma pergunta: onde está a curva? Nos gráficos que
vemos das ações o que temos são candlesticks ou linhas que fazem um zigue-
zague estranho em que não podemos trabalhar com esse cálculo tangencial.”

Isso é uma verdade num primeiro momento quando consideramos puramente a


observação dos candles e dos gráficos de linha. Todavia, as plataformas
gráficas possuem ferramentas às quais nos entregam facilmente um horizonte
curvo das oscilações de preço: os indicadores. O mais comum, embora não
ideial é a Média Móvel, indicador amplamente configurável e que pega a média
dos preços de abertura ou fechamento anteriores e vai sendo atualizada a
pedida que novos momentos vão sendo observados.

Um outro indicador seria o indicador de pontos médios - esse mais condizente


com a proposta dessa metodologia (embora por se tratarem de médias isso não
represente tanta diferença).

26
O gráfico faz o acompanhamento da ação do grupo Magazine Luíza durante o
primeiro semestre de 2020 considerando o critério dos pontos médios de forma
muito semelhante à que se faz uma média móvel - somente com a diferença de
se calcular a média não com o preço de abertura ou fechamento, mas do ponto
médio calculado pra cada instante.

O gráfico exposto faz uma tomada diária desse papel e a linha de ponto médio
branca traz o ponto médio móvel de 20 pregões enquanto que a linha escura, o
ponto médio móvel de 5 dias. Repare que por possuir menos dados o nível de
oscilação e sensibilidade de curtíssimo prazo para o ponto médio móvel de 5
dias é mais intenso. Na linha de ponto médio de 20 pregões há mais suavidade
e, a curva e essa visualização ondulatória fica plenamente percebida.

Esse gráfico entrega a maneira pela qual se pode montar um set de ferramentas
gráficas para visualizar essa série de princípios aqui construídos baseados em

27
tendência e tangência. Por se tratar de uma média de preços e por ser mais
popular, podemos considerar a utilização da média móvel no lugar do ponto
médio móvel, haja vista a proximidade que estes terão em termos de valor -
ambos traduzem o comportamento médio do preço do papel.

Essa característica cíclica nos coloca diante da compreensão de que a


oscilação possui momentos distintos e mostram que tipo de movimento está
ocorrendo com o papel. O que se observaria a partir de então seria essa
componente tangencial no qual são identificados os pontos de máximo e
mínimo locais que vão denunciando os melhores pontos de entrada e saída de
um papel e o aspecto curvo oscilatório segundo 4 padrões gráficos distintos:

28
As oscilações dos preços das ações passam por esses quatro momentos que
representam suas condições e expectativas de valorização e desvalorização.
Um decrescimento a taxas decrescentes por exemplo é menos preocupante que
um decrescimento a taxas crescentes. No primeiro há uma expectativa de
reversão e isso vai se desenhando ao longo do caminho. No segundo a única
expectativa visível é de mais queda no preço do papel.

De forma semelhante, um crescimento a taxas crescentes é mais desejado que


um a taxas decrescentes, sendo esse segundo tipo de crescimento um
crescimento ao qual se deva guardar um alerta quanto ao momento de reversão
dessa tendência de alta. Tal momento representa a ruptura de um ciclo de
valorização e o ponto que otimiza os ganhos auferidos por aquela carteira de
ações.

29
OPERANDO SIMPLIFICAÇÕES

Observando a robustez de uma tendência

Uma vez conhecido a proposta de abordagem que estamos propondo iremos


nessa sessão verificar os elementos de observação para a tendência estática
de um papel, ou seja, a verificação da expectativa imediata para um dado papel.
O que é importante não perder de vista para esse tipo de observação é a
verificação do comportamento mais abrangente do papel.

Poderíamos pensar em 5 níveis de observação, sendo que, para uma análise


de tendência de uma ação, o nível de cenário de aplicações nacional, setorial e
a observação do próprio papel em gráficos quinzenais ou mensais, já
permitiriam uma visualização um pouco mais estruturada do nível de solidez ou
robustez de uma tendência percebida.

As perguntas a se fazer ao se ter a impressão de tendência é:


1. A nível conjuntural - Será que a conjuntura nacional acompanha a tendênicia?
2. A nível setorial - as demais empresas do setor estão com o mesmo sentido
gráfico?
3. A empresa em si - em observações de tempo mais distantes a tendência se
mantém?

Via de regra a tendência será tanto mais robusta quanto maior for a
convergência destes três aspectos.

O primeiro e o quinto nível que poderímos considerar também são o nível


30
internacional, mais abrangente que a conjuntura nacional e envolveria a
percepção do desempenho dos índices e conjutura macroeconômica de outros
países e um nível mais aproximado com relação ao preço de um papel, com
gráficos diários ou mesmo de intervalos mais curtos de tempo.

Digo que esses dois níveis podem ser considerados de forma secundária
porque a observação para o cenário nacional já absorve em grande parte os
movimentos e efeitos da economia global.

A segunda dispensa se deve ao fato de estarmos mais preocupados em a


identificação de uma tragetória e não de momentos de oscilação de um papel, o
que nos faz dispensar a verificação mais detalhada e do intraday de uma ação.
Isso também tem ancoragem nos princípios de menos informação e menos
intervenção apontados por Nassim Taleb. Boa parte do problema das
operações de day trade é ser caracteristicamente marcado pelo
intervencionismo excessivo.

Mas cabe aqui um cuidado e observação, existem papéis que se correlacionam


de modo inverso com o índice Bovespa, o que quer dizer na prática que existem
atividades econômicas que costumam se beneficar de cenários adversos na
economia sendo que, cenários positivos não signifique o contrário. A empresa
não irá mal dado um bom cenário na economia, mas sua performance a nível de
empresa e valorização se beneficia de momentos de exitação e baixa
expectativa do mercado.

31
Alguns exemplos

IBOV VS (JHSF3, AMAZON E MGLU3) - Semelhança entre o IBOV e o papel

IBOV

JHSF3 AMZO34 MGLU3

Esse instante de crise acaba por ser um momento de bastante revelação para o
comportamento dos papéis porque amplifica a reação que ora estaria velada e
menos perceptiva no olhar gráfico. A reação do papel por ser mais abrupta
acaba por mostrar melhor qual o tipo de correlação que aquela dada ação teve
frente àquele instante de crise.

Claro que a temática e o caráter de atuação de cada setor tem uma grau de
importância relevante. Mas tomemos esses três papéis. Repare que os três
possuem uma revalação com as vendas no varejo, sendo a JHSF um grupo que
é detentor de uma rede de Shopings (dentre outros investimentos), a Amazon

32
se referindo a um BDR, grosso modo, uma ação internacional negociada por
aqui desse grande grupo de e-commerce mundial e a MGLU3, o grupo
Magazzine Luíza.

O gráfico da JHSF3 possui um comportamento muito semelhante ao índice


Bovespa. Sofreu bastante no período mais extremo da crise e foi retomando
valor até que essas novas preocupações ocorridas um ano depois trouxesse
igualmente ao IBOV um novo período de queda e lateralização.

Por se tratar de uma proximidade com o possuir ações extrangeiras sem se


requerer que se abra conta em corretoras internacionais e as preocupações
decorrentes, a BDR da Amazon se mostrou com um caminho utilizado por
muitos investidores para aquele momento: correr para títulos com algum
atrelamento internacional de economias mais confiáveis.

O Magazzine Luiza por sua vez, embora tenha sofrido no imediato e guardado
semelhança com o Ibovespa soube se aproveitar bastante da especificade
desse momento de políticas de afastamento social para fazer incrementos
robustos em sua poĺítioca de vendas virtuais se tornando em pouco tempo uma
referência muito forte para as opções de compras no varejo a nível virtual no
território nacional - com um sistema diferenciado de utilização da rede de lojas e
estratégias de marketing digital bem sucedidas.

Divergência entre gráficos aproximados e de distanciamento

A confirmação e congruência entre as tendências de proximidade e de


distanciamento é um importante ponto a ser verificado. O exemplo a seguir
ilustra bem esse ponto tomando como base os dados de Magazzine Luiza em

33
termos diários e mensal.

MGLU3 MGLU3
(diário) (mensal)

Já sabemos que esse papel passou de pasagem pela crise decorrente da


pandemia e rapidamente conseguiu fazer um movimento de valorização
bastante acentuado e embora nos úlitmos dois meses em que se tem
observado nessa análise a ação esteja apresentando queda, pode-se dizer que
o papel ainda guarda uma tendência de alta quando pensado numa
temporalidade mensal.

Ocorre que, se pegarmos unicamente o gráfico diário de forma oposta diríamos


que a tendência desse papel é de queda. Obviamente, daqui por diante não
temos como dizer o que será, porém, o que podemos concluir sobre esse papel?
Que existe uma divergência entre a tendência diária e a tendência de mais
longo prazo.

E qual é o perigo ou o operacional dessa constatação? Bom, o perigo se refere


à possibilidade de julgar ou pensar amplificar os limites dessa tendência de
queda para um horizonte mais que pontual. Isso seria justamente o reciocínio
oposto ao que os dados estão dizendo, Via de regra, o que eles estão ainda
dizendo é que esse papel tende a crescer.

Pensando um pouco mais a respeito e aplicando esse princípio para as


operações de day trade, isso teria como consequência o aumento da

34
probabilidade de errar posiçoes em que se aposte na queda do papel, haja visto
que sob uma tendência de alta as probabilidades de ocorrerem momentos de
crescimento no preço do papel são mais prováveis.

35
Comparando ações

CSNA3 com USIM5

Nesse comparativo há uma proposta importante ao se colocar frente a frente


duas empresas de um mesmo setor e peceber aqui o comportamento padrão de
se perceber que o caminho de tendência costuma se manter em nível setorial.

36
As empresas e gestores são qualificados, existe alguma, mas nem tanta
margem para se diferenciar no curto prazo e os playeres estão atentos às açeõs
que os seus concorrentes estão fazendo - o que justifica, além das condiçoes
de cenário, que essas empresas estejam numa mesma trajetória de variação.

Mas o que vem depois disso é a comparação das valorizações auferidas por
cada uma empresa. No nosso modelo de simplificação as retas de regressão
calculadas entregam os seguintes resultados para essas empresas.

O crescimento percentual mensal para CSNA3 é de 20,29% enquanto que para


USIM5 de 9,42%. O que significa que por exemplo, na confecção de uma
carteira enxuta onde se pretenda selecionar somente a de maior valorização de
cada setor, a Siderúrgica Nacional representaria a escolha mais interessante,
haja vista para a formação de uma carteira com maior perspectiva de
valorização - ao menos no entorno imediato em que esses dados são aferidos e
considerando sempre as conjunturas que envolvem esses papéis.

37
CVCB3 E AZUL4

Duas empresas bastante afetadas pela pandemia foram a Azul Linhas Aéreas e
a CVC. Os revezes advindos das ações de distanciamento necessários
paralizou a atividade turística como um todo e o ano de 2020 foi de bastante
dificuldade para essas empresas.

38
Todavia, um olhar mais aproximado e calculando a tendência resultante para
essas duas companhias mostra que o efeito da crise foi um pouco menos
acentuado na Azul S/A( -3,65% ao mês para CVC e -3,25% ao mês para
AZUL4). Isso se deveu à não especificidade de atuação da companhia - que
conseguiu migrar suas ações e focar no tráfego de encomendas e logística.

Posteriormente, medidas de governos como o Alemão e Francês, que


realizaram compras das ações das companhias aéreas nacionais, como que
salvaguardando essas companhias de algum colapso haja vista se tratar o
transporte aéreo uma questão primordial; abriu caminho para que houvessem
outras compras governamentais desses papéis - ao que se viu o governo
Português comprando cotas de participação em AZUL4 e mesmo os rumores de
compra por parte do governo brasileiro também produziram efeitos de suavizar
o movimento de queda desse papel e mesmo inferir em um movimento de
recuperação.

39
ANÁLISE DINÂMICA

O uso das médias móveis

Nesse momento gostaria de mostrar a transição para um setup mais de acordo


com a proposição dessa metologia fazendo uso de indicadores de médias
móveis que trazem um conjunto bastante interessante para a análise das ações.
Trata-se de um set de ferramentas enxuto, mas que, se pensado à luz do que já
foi visto aqui, é sufiente para entender os momentos interessantes dos papéis e
identificar dinamicamente sua tendência.

Analisar a tendência de forma dinâmica significa atualizar ponto a ponto as


condições de tangência, nesse caso, a partir da visualização dos pontos de
máximo e mínimos locais contidos nas médias móveis.

Existem algumas coisas a serem ditas sobre as médias móveis quanto a


diferença do cálculo destas no cenário de bolsa de valores e também no
concernente ao uso para fins estatísticos como sendo mais apropriado o valor
dos pontos médios do que as médias móveis.

Essa primeira observação se explica porque o cálculo da média móvel no trato


de séries temporais consideram valores anteriores e posteriores ao tempo t para
se extrair a média. Ocorre que, para o trato de investimento, não temos ou não
devemos fazer uso de um instrumental que dependa de qualquer valor futuro
ainda não realizado. Infelizmente ou felizmente, o retrovisor é tudo o que temos
para considerar quanto às decisões do tempo t.

40
A segunda observação, embora numa amostra de preços de abertura,
fechamento, ou pontos médios se aproximem de um mesmo valor quando se
trata de uma média, metodologicamente vale destacar que o ponto médio é
quem mais se aproxima e viabiliza a adaptação para o modelo que iremos
propor, o qual abandona a perspectiva das oscilações dos candles e captura o
elemento médio do movimento dos preços.

Um fato que contribui bastante para essa identificação consiste em se utilizar de


duas médias móveis, colocando uma mais orientada para os movimentos
mensais e outra mais sensível aos eventos mais corriqueiros. Nesse exemplo

41
que segue temos as ações da empresa WEG para o ano de 2021 na versão
padrão dos candles e posteriormente com o uso das médias móveis de 20 dias
e de 5 dias.

Na adaptação feita tornando invisível os candles no TradingView2 temos a


média móvel em formato de área na coloração amarela correspondendo a de 5
dias e a área escura representando a média móvel de 20 pregões. Ao fazer isso
estamos aqui capturando a informação mais longíncua do tempo e conjugando
com os fatores mais presentes do curtíssimo prazo.

A média móvel de 20 (M20) possui maior suavidade e expressa bem a ideia de


oscilação e flutuação do mercado, mas com uma visualização bastante
aproximada do raciocínio que fizemos das funções contínuas, sendo fácil
identificar os pontos de reversão de tendência e a própria tendência em si.

Pode-se notar também o papel acessório que a média movél de 5 períodos tem.
Ela funciona como norteadora do caminho resultante para a média móvel de 20
períodos - como que se ela determinasse a força e a continuação dos
movimentos ascendentes ou descendentes da M20.

Ainda, como elemento instrumental, temos o efeito visual do cruzamento das


médias móveis como instantes que denunciam topos e fundos do gráfico em
geral - instantes estes que representam reversões de movimentos de tendência.

Para o gráfico de WEG podemos identificar isso ocorrendo ao final de 2020 e no


início de fevereiro de 2021. No primeiro instante a média móvel de 5 dias
ultrapassa a M20 e isso inicia um movimento de alta do papel. Em fevereiro
temos o efeito reverso, com a M5 cruzando novamente a M20 e a partir daí a

2 www.tradingview.com

42
evidenciação de um movimento de queda no preço do papel.

Sob esse olhar também é possível perceber o atual momento do papel, com
uma desaceleração do movimento de queda e uma presenta lateralização.
Poderíamos assim complementar essas observações com a análise dos
fundamentos dessa ação, além de buscar uma visualização gráfica num
horizonte temporal mais amplo - isso nos daria uma boa visão dos rumos
prómixos dessa ação:

Isto feito, o que percebemos é que a ação vinha experimentando uma tendência
de alta mas que todavia se encontra num instante em que esse crescimento não
tem encontrado o mesmo ímpeto que se encontrava. Em termos dessa
abordagem, temos um crescimento a taxas decrescentes.

Cabe perceber que para a análise mais ampliada, com a utilização de candles
mensais, foi-se pensado a média móvel de 12 períodos e a média móvel de 3

43
períodos - pensando que existam fluxos informativos significativos nesses dois
intervalos de tempo.

Em termos de seus fundamentus, nota-se uma relação preço/lucro bastante alta,


mesmo considerando que o mercado se disponha a antecipar em preço e
credibilidade o bom desempenho dessa empresa. Essa relação preço lucro
expressa o tempo que seria necessário para se retornar na forma de lucros
(caso fossem 100% distribuidos para os sócios) o valor pago por aquela ação -
E estamos falando aqui de 65 anos de espera.

44
Se pegarmos a série histórica dessa relação preço/lucro para WEGE3 temos
que esses últimos meses a ação tem estado consideravelmente acima de suas
bandas de negociação:

WEGE3
Relação Preço/Lucro anual

Fonte: Plataforma Pense Rico. Em 29/03/2021

Portanto, aqui também espelhado uma ideia de caminho a se percorrer para se


analisar um papel: sua componente imediata pela visualização das médias
móveis, sua visualização mais longíncua, seus fundamentos e o histórico
desses fundamentus - para saber se os números vem sendo próximos o
coerentes ao longo do tempo.

45
FATORES ESPECULATIVOS

Coerência e incoerência do mercado

Nesse momento é importante trabalhar um fato que o horizonte gráfico não


consegue ter completude: o fator especulativo. Como sabemos, as ações dos
agentes em seu comportamento racional nem sempre produz resultados
condizentes com uma base real. A especulação justamente se caracteriza pelo
fenômeno do descolamento entre os fatores abstratos (o preço da ação) e os
seus fundamentos (o desempenho da empresa de fato).

Nesse contexto especulativo porém é comum ou pelo menos se tornou comum


algum nível normal de antecipação quanto às espectativas futuras. O mercado
costuma trazer e precificar as ações até o limite do campo de visão que se pode
ter quanto ao papel.

Porém, em alguns instantes e para alguns papéis especificamente, essa


componente de antecipação constroi uma série de emaranhados que acabam
resultando em movimentos abruptos e bastante desproporcionais à realidade
imediata daquele papel ou momento econômico. É preciso então ter em mente
que a especulação é uma figurinha marcada e bem presente no cenário do
investimento em ações.

A boa notícia contudo é que os elementos especulativos não tem força no


médio e longo prazo apesar de sim, ter uma força consideral na curta e

46
curtíssima temporalidade. No final, como bem diriam os economistas clássicos,
todo efeito nominal (especulativo) acaba se curvando à economia em seu lado
real, ou seja, ao final de algum tempo aquilo que aconteceu e acontece
prevalece sobre as conjecturas do que pode vir a acontecer.

Na experiência brasileira imediata temos o caso da MGLU3 tipificando o


exposto. A empresa vinha experiementado uma exponencialidade interessante
até aqui e nem mesmo a pandemia foi elemento que fez com que esse ciclo de
valorização do papel fosse impedido por muito tempo.

No momento o papel tem repetido (como a economia no geral) os momentos


instáveis e de queda que ocorram pós carnaval de 2020. Mas a pergunta que
fica é: isso se trataria de uma sazonalidade que garantiria uma posterior

47
sequencia de valorização? E acredito que exista de imediato uma resposta pra
isso.

A verdade é que nem o mundo, nem o Brasil, nem a empresa Magazzine Luiza
são os mesmos de 2020. Para o ano de 2021 a nível nacional por exemplo
temos as contas públicas assoreadas pós políticas de enfrentamento à crise e o
Estado já com dificuldades de ser protagonista nesse ínterim. A nível da
empresa, novos players tem ganhado força no cenário nacional como a Amazon,
o Mercado Livre, as Lojas Americanas, etc.; tornando maior o desafio de
prosseguir crescendo - pelo menos aos seus patamares exponenciais.

E é quando vamos visitar os fundamentos dessa empresa que percebemos


melhor do que se trata a questão: com uma relação preço/lucro maior de 326,
tal ação por mais que se tenha grandes expectativas quanto ao seu horizonte
de crescimento, já se encontra bastante precificada e antecipada e assim se
tornado na visão do investidor uma ação cara.

O ponto é que informações como essa são pontos cegos da visualização gráfica
e que é importante ter em mente o nível de complementação e importância que
ambos possuem para se analisar os papéis.

48
FECHAMENTO

O que fica então desse pequeno livreto para entender o mercado? Diria que
uma alternativa mais coerente para a observação gráfica reposicionando seus
limites e tornando mais realistas quanto às expectativas que se pode ter sobre
essa observação.

Também, fica o registro de ferramentas para estudo das tendências e a


comparação das trajetórias de valorização das ações e, sobretudo, a análise
dinâmica da tendência/tangência que permite a atualização constante das
espectativas dos papéis e, fazendo uso das médias móveis, a vinculação do
instrumental estatístico com esses critérios de tangência para identificação de
instantes ótimos de compra e de venda das posições que tivermos e o
descortinamento do movimento cíclico do mercado.

Na prática, a menos que seja de interesse maior calcular os coeficientes e as


retas de tendência, a prática diária dessa metodologia requer sobretudo o
endendimento do movimento cíclico e do momento de cada papel. A
perspectiva tangencial é a versão mais completa e final dessa metodologia.

Sobre essa visualização dinâmica e atualização constante, temos portanto essa


nova referência:

49
Na média móvel de 20 períodos vamos percebendo a oscilação curva do
mercado. Instantes de crescimento ascentuado ou brandos, momenos de queda
brusca ou declividades suaves. E nisso, ponto a ponto, orientar-se para a
tendência e a chegada aos momentos de decisão.

Acessoriamente, ter na média móvel de 5 períodos a visualização e a


confirmação do que conhecemos como força vendedora e força compradora.
Em conjecturas em que se tenha a M5 acima da M20 e puxando o movimento
de alta da ação ou em momentos que, contrariamente, a queda nos preços
verificadas no imediato pela média móvel de 5 comece a trazer a M20 para
baixo também.

E assim, simplificações. Uma alternativa sensata e um horizonte possível para


uma análise gráfica coerente e rica em seus potenciais efeitos na sua tomada
de decisão, meu caríssimo investidor.

50

Você também pode gostar