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A Matemática da Babilônia

Article · October 2020

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Samara Ortiz
Federal University of Santa Catarina
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A Matemática da Babilônia
Samara Ortiz∗
23 de outubro de 2020

Resumo
Localizada entre os Rios Tigre e Eufrates, a cidade da Babilônia era a mais conhecida
e desenvolvida da região da Mesopotâmia. Por este motivo, é que se diz matemática da
Babilônia para se referir à matemática da região da Mesopotâmia. A contagem de ovelhas
e grãos caracteriza os primeiros vestı́gios da matemática da região, com uso de tokens e
tabletes de argila para o auxı́lio de tais contagens. As marcações feitas na argila para
controle do rebanho continham dois sı́mbolos, um que se referia ao 1 e outro para o 10.
Com estes dois sı́mbolos e utilizando o sistema sexagesimal, os babilônicos expressavam
quantidades e desenvolveram várias metodologias para resolver problemas algébricos e
geométricos. Existem muitas semelhanças na matemática utilizada atualmente com a
matemática da Babilônia, evidenciando a sua influência e persistência ao longo da história.
Apesar de ser um material descoberto há vários anos, ainda se tem muitas pesquisas e
debates sobre a tradução e interpretação do conteúdos dos tabletes. Deste modo, os
vestı́gios da matemática da Babilônia apresentam possibilidade de inspiração para novos
rumos na matemática atual e no campo do ensino da matemática.

1 Introdução
A Babilônia é a cidade mais conhecida da região da Mesopotâmia. Ela é considerada,
por vários historiadores, como sendo o berço da civilização devido aos avanços sociais,
econômicos, polı́ticos e culturais (SOUSA, 2020). Por volta do século XVIII Antes da
Era Comum - AEC, o rei babilônico Hamurábi instituiu o Primeiro Império Babilônico.
Assim, ele expandiu seu domı́nio para além do Golfo Pérsico, transformando a cidade em
um dos mais prósperos e importantes centros urbanos de toda a Antiguidade (SILVA,
2006; SOUSA, 2020).
Esta é a razão pela qual diz-se Babilônia ao invés de Mesopotâmia. A matemática
da Babilônia engloba todas as tradições matemáticas dos povos mesopotâmicos desde o
quinto milênio AEC. Os registros matemáticos e de escrita mais antigos que se tem conhe-
cimento são originários da civilização que se desenvolveu entre os rios Tigre e Eufrates, ou
seja, a Babilônia. Historiadores consideram a Babilônia como o marco inicial da história
da nossa cultura (SANTOS u. a., 2008).

PhD em Engenharia Quı́mica, Licencianda do Curso de Matemática da Universidade Federal de Santa
Catarina. Contato: samaraeq@gmail.com

1
Apesar de toda essa importância na construção da nossa história, a matemática ba-
bilônica só passou a ser devidamente apreciada e estudada nos últimos 30 anos. Exis-
tem em torno de 400 tabletes ou fragmentos de tabletes catalogados, porém, apenas um
apresenta-se intacto, sendo este, do tamanho de uma mão. A maior parte dos tabletes
catalogados datam de 1700 AEC, sendo que alguns datam dos três últimos séculos AEC
(AABOE, 2013).
Na Figura 1 tem-se o mapa da região da Babilônia, destacando o Rio Tigre e o Rio
Eufrates, região onde ficava a cidade da Babilônia propriamente dita (SANTOS u. a.,
2008).

Figura 1: Mapa da Babilônia com os Rios Tigre e Eufrates realçados.

2 Do uso de Tokens aos Tabletes


Os tokens eram utilizados para contagem e seu formato evoluiu ao longo de milhares
de anos, sendo inicialmente mais simples e depois em formato mais elaborado, contendo
marcações. Cada formato de token era usado para contar alguma mercadoria especı́fica,
por exemplo, um dado formato era para contar ovelhas, outro formato para contar grãos
e assim por diante. Isso caracteriza uma contagem concreta, pois se utiliza uma forma
numérica especı́fica para cada categoria a ser contada (SWETZ, 2012).
Por volta de 3300 AEC, os tokens às vezes eram armazenados em invólucros ocos de
argila, sendo que cada invólucro completo representava uma determinada quantidade do
que se estava contando, considerando o tipo de token que estava sendo utilizado. Por
exemplo, um invólucro completo com o token que se utilizava para contar ovelhas poderia
corresponder a 10 ovelhas. Assim, contando-se os invólucros, era possı́vel administrar um
rebanho (ROQUE, 2015).
Na Figura 2 tem-se um invólucro e alguns tokens, sendo que cada disco representava
“um rebanho” (talvez 10 animais), o grande cone e os pequenos cones representavam, res-
pectivamente, uma grande medida de grão e pequenas medidas de grão (SWETZ, 2012).

2
Figura 2: Invólucro de argila e diferentes tipos de tokens.

Com o tempo, este sistema se tornou trabalhoso, visto que os rebanhos já eram mai-
ores e passou-se a contar mais objetos distintos. Assim, iniciou-se a marcação em tábuas
de argila, chamadas de tabletes, marcando a transformação dos tokens tridimensionais em
sinais bidimensionais. Os tabletes constituem os primeiros registros da história da escrita
cuneiforme. Na Figura 3 tem-se uma foto de um tablete babilônico original (AABOE,
2013).

Figura 3: Foto de um tablete babilônico original.

Para representar quantidades, os babilônicos inventaram um sistema cuneiforme de


sı́mbolos com representação para 1 e para 10. Na Figura 4 tem-se a representação de 1
até 59 utilizando os sı́mbolos de 1 e de 10 de forma posicional (GUELLI, 2004).

3
Figura 4: Representação cuneiforme dos números com os sı́mbolos de 1 e de 10.

A notação posicional permitiu representar qualquer inteiro, por maior que fosse, apenas
com dois sı́mbolos. Esta notação possui o mesmo prı́ncipio que assegura a forma numeral
que utilizamos atualmente (BOYER, 1974).

3 O Sistema Numérico Babilônico


3.1 Representação Sexagesimal
O sistema cuneiforme de sı́mbolos continha representação para 1 e para 10. Consi-
derando o sistema sexagesimal, ou seja, de base 60, para representar o número 3733 na
matemática da Babilônia, terı́a-se a simbologia conforme Figura 5 (SANTOS u. a., 2008).

Figura 5: Representação sexagesimal do número 3733.

Tem-se que o primeiro sı́mbolo se referente ao 1. Na sequência, após um espaço, tem-se


dois sı́mbolos referentes ao 1, ou seja, 2. E novamente após um espaço, tem-se um sı́mbolo
referente ao 10 e três sı́mbolos referentes ao 1, que totaliza 13.
Ou seja, no sistema sexagesimal, 3733 = 3600 + 120 + 13 = 1 × 602 + 2 × 601 + 13 × 600 .
Por não conter representação para o zero, pode parecer ambı́guo, se comparado com o
sistema de contagem que se utiliza atualmente. Porém, os historiadores argumentam que,
no contexto daquela civilização e pela ordem de grandeza das quantidades, o sistema por
eles adotado, com apenas dois sı́mbolos, era eficaz (ROQUE, 2015).

4
Por volta de 300 AEC, com o desenvolvimento econômico, a ordem de grandeza das
quantidades aumentou, o que fez com que o sistema se tornasse, por vezes, ambı́guo.
Assim, surgiu um sı́mbolo para o vazio entre os numerais, mas ainda não era o zero, pois
não se aplicava à direita. Consistia de duas cunhas oblı́quas para marcar o lugar que
faltasse um numeral, como pode ser visualizado na Figura 6 (BOYER, 1974; ROQUE,
2015).

Figura 6: Simbologia para indicar espaço vazio entre numerais.

Pela tradução e adaptação, tem-se que o número simbolizado na Figura 6 é: 1 × 602 +
0 × 601 + 45 × 600 = 3600 + 0 + 45 = 3645.

3.2 Tabela de Multiplicação


Na Figura 7, tem-se a frente de um tablete, o qual acredita-se ser uma tabela de
multiplicação de 9, sendo que na primeira coluna tem-se os números de 1 a 10 e na
segunda coluna teria-se o respectivo resultado da multiplicação por 9 (AABOE, 2013).

Figura 7: Tablete contendo provável tabuada de 9.

Na primeira coluna, é possı́vel traduzir de 1 a 10, conforme sı́mbolos já discutidos no


item anterior. Já na segunda coluna, tem-se 9, 18, 27, 36, 45 e 54, seguindo a ordem
de multiplicação por 9. Após o 54, tem-se, o que seria traduzido para 1, 3 no sistema

5
sexagesimal. Adaptando para o sistema numérico atual, tem-se que 1, 3 = 1×60+3×600 =
60 + 3 = 63, o que corresponde a 7 × 9. Aplicando o mesmo raciocı́nio nas linhas seguintes
presentes na frente deste tablete, é possı́vel afirmar com um certo grau de certeza que
esta placa realmente correspondia à tabuada de 9.
Porém, no verso do tabelete, o qual não foi incluı́do por sua imagem apresentar-se em
baixa qualidade, as traduções apresentam-se um tanto controversas. Os historiadores não
sabem se isso se deve ao fato de não ser uma tabuada de 9 nesse tablete ou se as marcas
eram referentes à algum outro assunto iniciado logo após a tabuada de 9 (AABOE, 2013).

3.3 Tabela de Recı́procos para a Divisão


Os escribas da Babilônia antiga frequentemente recorriam às tabelas disponı́veis para
efetuar seus cálculos. Os babilônicos dividiam dois números com base na tabela dos
recı́procos. Na Figura 8 tem-se a transcrição de parte de um tablete de recı́procos no
sistema sexagesimal, sendo que na segunda coluna tem-se o recı́proco do respectivo número
da primeira coluna. Percebe-se que o produto dos elementos de cada linha resulta em 60
(BOYER, 1974; AABOE, 2013).

Figura 8: Transcrição de um tablete de recı́procos.

O tablete apresenta números recı́procos que são os inversos dos inteiros. Na sexta
7 30
linha, por exemplo, tem-se que o recı́proco de 8 é ( 60 + 602 = 0, 125). Percebe-se que estão

faltando algumas linhas, como o recı́proco do 7 e do 11, pois estes eram considerados
como sendo irregulares, já que eram sexagesimais infinitos, ou seja, eram decompostos
em primos diferentes de 2, 3 e 5. Lembrando que o conceito de infinito era desconhecido
pelos babilônios (BOYER, 1974; AABOE, 2013).
Para se dividir um número por outro, então, se procurava na tabela o recı́proco do
denominador e multiplicava-se pelo numerador (AABOE, 2013).
Exemplo: 160 dividido por 8: o recı́proco de 8 é 0, 125, que multiplicado por 160 resulta
em 20.
Com base no tablete de recı́procos no sistema sexagesimal, separa-se a parte inteira da
parte fracionária por um ponto e vı́rgula. Caso não tenho o ponto e vı́rgula, interpreta-se
como sendo apenas a parte fracionária (AABOE, 2013).
Exemplos:
30
1, 25; 30 = 1 × 601 + 25 × 600 + 1 = 85, 5
60

6
26 2040 1560 2040
1, 20; 26, 2040 = 1 × 601 + 20 × 600 + 1
+ 2
= 80 + + = 81
60 60 3600 3600

4 A Álgebra
4.1 Equações do 1o grau e do 2o grau
A álgebra que era praticada pelos babilônios se caracterizava pela aparente falta de
fórmulas. As técnicas empregadas para a solução de equações do 1o e 2o grau eram basi-
camente discursivas (RICIERE, 1991). Alguns tabletes traduzidos continham resoluções
de equações, como a Placa BM 13200, que descrevia a resolução de uma equação do 1o
grau. Na Placa BM 13901, tem-se a descrição da resolução de uma equação do 2o grau.
O “BM”que precede o código de catálogo das placas se refere ao Museu Britânico (British
Museum), local onde as placas se encontram (ROQUE, 2015; SIMON, 2017).
Exemplo traduzido da Placa BM 13200 (RICIERE, 1991): “Encontrei duas
pedras iguais de massa desconhecida. Quando subtraı́ 3 minas, restaram 17 minas. Qual
é a massa de uma das pedras? Resolução: Some 3 com 17 e divida o resultado por 2.”
Aplicando para o método atualmente utilizado:
20
2x − 3 = 17 ⇒ 2x = 17 + 3 ⇒ x = = 10
2
Exemplo traduzido da Placa BM 13901 (ROQUE, 2015; SANTOS u. a., 2008):
“Adicionei a superfı́cie e o lado do meu quadrado e obtive 0, 45. Qual é o lado?”
Adaptação do problema para a matemática atual:
x2 + x = 0, 45
Adaptando com os coeficientes:
Ax2 + Bx = C
A tradução dos procedimentos descritos no tablete pelo escriba para a resolução, com
a respectiva representação no sistema sexagesimal e interpretação adaptada para a ma-
temática atual, podem ser visualizada na Tabela 1 (ROQUE, 2015).

Tabela 1: Descrição dos procedimentos para resolução de equação do segundo grau.


Descrição feita pelo escriba Representação no sistema sexagesimal Adaptação para termos atuais

Tome 1 0, 60 B

B
Quebre 1 na metade 0, 30
2
 2
B
Multiplique 0, 30 por 0, 30 0, 15
2
 2
B
Some 0, 15 a 0, 45 0, 60 +C
2
s 2
B
1 é a raiz de 1 0, 60 +C
2
s 2
B B
Subtraia 0, 30 de 1 0, 30 +C −
2 2

7
Assim, pelos procedimentos descritos, o lado do quadrado é 0, 30, obtido na última
etapa. Deve-se levar em consideração que não se tinha noção do conceito de número
negativo. Sendo A = 1, podemos considerar o A multiplicando inicialmente o C, e após
reestruturação, multiplicando também o denominador. Reescrevendo o resultado final
obtido com a adaptação para os termos atuais, tem-se:

s 
2 √
B B −B + B 2 + 4· A· C
+ A· C − =
2 2 2· A

Sendo assim, a solução obtida pelos babilônios era bem próxima da que temos pela
fórmula de Bhaskara, comprovando a base histórica para a matemática utilizada atual-
mente (ROQUE, 2015).

4.2 Raiz Quadrada não exata


Os Babilônicos desenvolveram um método de aproximação para determinar a raiz √
qua-
drada de um√número que √ não possui raiz
√ exata. Por exemplo, para determinar a 10,
sabia-se que 9 = 3 e 16 = 4, logo a 10 estaria entre 3 e 4. Assim, o valor da raiz
era determinado por aproximação, de acordo com a seguinte metodologia (BOYER, 1974;
SIMON, 2017):

a = 10 (valor que se quer determinar a raiz)


a1 = 3 (valor inteiro da raiz de a)

a 10
b1 = = = 3, 33333
a1 3
a1 + b 1 3 + 3, 33333
a2 = = = 3, 166667
2 2
a 10
b2 = = = 3, 157895
a2 3, 166667
a2 + b 2 3, 166667 + 3, 157895
a3 = = = 3, 162281
2 2

Assim, comparando: √
Pelo método babilônico:
√ 10 = 3, 162281
Pela calculadora: 10 = 3, 162278

Ou seja, o método por eles desenvolvido possui relativa precisão matemática, pois foi
apresentar discordância na quinta casa decimal. Como naquela época a precisão necessária
era a que se podia medir e ainda não se tinha noção do conceito de infinito, o método
cumpria seu papel (SIMON, 2017).

8
5 A Trigonometria
5.1 Diagonal de um Quadrado
O tablete YBC 7289 data entre 1800 e 1600 AEC. O “YBC” que precede o código de
catálogo do tablete se refere à Coleção Babilônica de Yale (Yale Babylonian Collection).
Na Figura 9 tem-se o tablete YBC 7289 e sua tradução, cuja interpretação é a de se tratar
de um quadrado de lado a = 30 e com diagonal c = 42, 25, 35, sendo b = 1, 24, 51, 10 a
medida da metade da diagonal (AABOE, 2013; REZENDE und NOGUEIRA, 2013).

Figura 9: Tablete YBC 7289 e sua tradução.

Ao se introduzir ponto e vı́rgula e vı́rgulas nos locais apropriados, observa-se que:


24 51 10
b = 1; 24, 51, 10 = 1 × 600 + 1
+ 2 + 3 = 1, 414212963
60 60 60
42 25 35
c = 42, 25, 35 = 1 + 2 + 3 = 0, 707106
60 60 60

O valor de b obtido, é uma excelente aproximação de 2, que na calculadora resulta
em 1, 41421356, divergindo apenas na sexta casa decimal. Pode-se concluir pela tradução
que c = a· b, uma vez que o sistema é sexagesimal e multiplicar por 30 significa dividir
por 2.
Considerando um triângulo retângulo, no qual a diagnonal c é a hipotenusa, tem-se
que os catetos possuem comprimento a. Assim, terı́a-se, pelo Teorema de Pitágoras:

c2 = 2· a2 ⇒ c = a 2 ⇒ c = a· b

Ou seja, como se sabe


√ atualmente, a medida da diagonal do quadrado é obtida pelo
lado do quadrado vezes 2, e isto coincide com a tradução feita do tablete em questão
(AABOE, 2013; MANSFIELD und WILDBERGER, 2017).

9
5.2 A Primeira Tabela Trigonométrica do Mundo
Plimpton 322 é um tablete de argila parcialmente quebrado, que mede cerca de (13×9)
2
cm de área escrita e 2 centı́metros de espessura. Plimpton se refere à Coleção George
Arthur Plimpton, nomeada em homenagem ao principal contribuinte da Biblioteca da
Universidade de Colombia (MANSFIELD und WILDBERGER, 2017).
Este tablete contém 15 linhas e 3 colunas com conteúdo aritmético um tanto compli-
cado, sendo traduzidos como ternos de números pitagóricos, ou seja, uma solução com
números inteiros positivos que satisfazem x2 + y 2 = z 2 , considerando x, y e z para cada
uma das três colunas (AABOE, 2013; CASTRO, 2017). O tablete Plimpton 322 pode ser
visualizado na Figura 10.

Figura 10: Tablete Plimpton 322.

Acredita-se que este tablete tenha sido escrito por volta de 1800 AEC. Atualmente,
muitos estudiosos ainda discutem sobre o conteúdo exato deste tablete. Os pesquisadores
já concordam que se trata de conteúdo de trignometria, porém, ainda se tem muitas
discussões sobre o propósito do conteúdos ali presente.
Uma interpretação é que o tablete Plimpton 322 seja algo que pode ser considerado
como a “Tabela de acordes de Ptolomeu”para aquela época. Seria como um tipo diferente
de tabela trigonométrica, na qual se lista triângulos retângulos com lado longo 1, lado
curto exato β e diagonal exata δ. Nesta interpretação, não se fala em ângulo, logo não
traz valores de seno e cosseno, mas sim, a medida dos lados. E, onde se teria a relação
entre o seno e o cosseno (tangente), tem-se a relação entre os lados β e δ (MANSFIELD
und WILDBERGER, 2017).

6 Considerações Finais
Mesmo se tratando de tabletes descobertos há muitos anos, ainda não se sabe ao certo
sobre todo o seu conteúdo. Muitos pesquisadores propõem interpretações para os sı́mbolos
marcados na argila daquela época. Ainda se discute sobre algumas traduções e as teorias
estão constantemente sendo debatidas.
A matemática da Babilônia pode ser observada na matemática que utilizamos atual-
mente, como foi possı́vel perceber as similaridades no decorrer do presente artigo. Ainda

10
se tem muito o que descobrir sobre o significado das traduções de alguns tabletes, o que
dá à matemática da Babilônia, apesar de ter origem antiga, um toque de originalidade e
novidade a cada descoberta.
A tradução e entendimento do conteúdo dos tabletes que já se tem conhecimento do
conteúdo, é um tanto confuso, pelo fato de não existir o zero e pelo sistema da época ser
sexagesimal. Assim, para acompanhar o raciocı́nio expressado pelos sı́mbolos é necessário
estar atento para não se ter interpretações equivocadas.
Com a interpretação apresentada com base nos referenciais teóricos, é possı́vel perceber
que os babilônicos foram fonte de inspiração para o que hoje conhecemos como Fórmula
de Bhaskara e Teorema de Pitágoras. Percebe-se que o material descoberto da Babilônia
apresenta possibilidades históricas e matemáticas de interpretação e aplicação, podendo
inspirar novos rumos na matemática atual e no campo do ensino da matemática.

Referências
[AABOE 2013] AABOE, A: Episódios da História Antiga da Matemática. In: Rio de Janeiro:
Sociedade Brasileira de Matemática (2013)

[BOYER 1974] BOYER, C B.: História da Matemática. In: Editora Blucher (1974)

[CASTRO 2017] CASTRO, F: Inscrições feitas na Babilônia há 3,7 mil anos mudam história da
Matemática. In: Estado de S. Paulo (2017). – URL <https://ciencia.estadao.com.br/noticias/
geral,inscricoes-feitas-na-babilonia-ha-3-7-mil-anos-mudam-historia-da-matematica,
70001949533>

[GUELLI 2004] GUELLI, O: Contando a Historia da Matemática: a invenção dos números. In: São
Paulo: Editora Ática, 7a impressão (2004)

[MANSFIELD und WILDBERGER 2017] MANSFIELD, D F. ; WILDBERGER, N J.: Plimpton


322 is Babylonian exact sexagesimal trigonometry. In: Historia Mathematica (2017)

[REZENDE und NOGUEIRA 2013] REZENDE, V ; NOGUEIRA, C M I.: Indicativos de números


irracionais nas Antigas Civilizações: Egito, Babilônia e Grécia. In: Revista NUPEM: Campo Mourão
(2013)

[RICIERE 1991] RICIERE, A P.: Arqueologia Matemática: A origem da Matemática nas civilizações
antigas. In: São Paulo: Parma (1991)

[ROQUE 2015] ROQUE, T M.: A matemática na Babilônia. In: PROFMAT (2015). – URL
<https://www.youtube.com/watch?v=n7rJgCxbRQ>

[SANTOS u. a. 2008] SANTOS, C P. ; NETO, J P. ; SILVA, J N.: Babilónia - Ur. In: Edimpresa:
Norprint (2008)

[SILVA 2006] SILVA, T F.: Babilônia. In: InfoEscola (2006). – URL <https://www.infoescola.
com/civilizacoes-antigas/babilonia/>

[SIMON 2017] SIMON, F O.: História da Matemática - Aula 02 - Egito e Babilônia. In: UNIVESP
(2017). – URL <https://www.youtube.com/watch?v=N0DN_yyZok4>

[SOUSA 2020] SOUSA, R G.: Babilônia. In: História do Mundo (2020). – URL <https://www.
historiadomundo.com.br/babilonia>

[SWETZ 2012] SWETZ, F J.: Mathematical Treasure: Mesopotamian Accounting To-


kens. In: Converge (2012). – URL <https://www.maa.org/press/periodicals/convergence/
mathematical-treasure-mesopotamian-accounting-tokens>

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