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Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”

FCHS - Faculdade de Ciências Humanas e Sociais/ Campus de


Franca

Dossiê: Governo Bolsonaro - Agricultura familiar e a


reforma agrária

Organização: NATRA
Autores(as) e Pesquisadores(as):
Agatha Yasmin Roncoleta Trigo - 5°/História
Alice Tomazzetti da Silveira - 2º /Relações Internacionais
Aline Fernanda Schiavon Mota - 2º/Relações Internacionais
Beatriz da Silva Pinto - 1°/História
Gabriela Pereira Resende - 2°/História
Isabella Barra Nova Uehara - 2°/Direito
Letícia Alves Pimenta - 3°/Serviço Social
Lívia Vitório Dutra - 3º/Relações Internacionais
Lucas Costa Mignoli Ferreira da Silva - 3º/Direito
Luiza Bucci Peruque - 3º/História

Orientadoras:
Drª Fernanda Mello Sant’Anna
Profª Drª Onilda Alves do Carmo

Franca
2022
SUMÁRIO

RESUMO…………………………………..…………………………………..…………... 3
MOTIVAÇÃO…………………………………………..…………………………………… 4
APRESENTAÇÃO…………………………………..…………………………………….. 4
METODOLOGIA…………………………………..……………………………………….. 6
INTRODUÇÃO……………………………………….……………………………………. 7
I. CONTEXTO GERAL DA QUESTÃO AGRÁRIA PRÉ GOVERNO BOLSONARO.. 7
1. Governo Lula: uma breve contextualização…………………………………………... 7
1. 1. Governo Dilma- Temer…………………………………..…………………………. 8
2. Reforma agrária de mercado………………………………………………………… 11
II. CONTEXTO GERAL QUESTÃO AGRÁRIA DURANTE O GOVERNO
BOLSONARO…………………………………..………………………………………… 14
III. POLÍTICAS CONTRA A REFORMA AGRÁRIA E O (DES)GOVERNO
BOLSONARO…………………………………..………………………………………… 16
1. Políticas de reforma agrária………………………………………………………….. 16
2. Regularização da grilagem…………………………………………………………… 18
3. Questão ambiental…………………………………..………………………………… 22
3.1. Desmonte do IBAMA, INCRA, MDA……………………………………………….. 22
3.2. Índice de desmatamento……………………………………………………………. 27
3.3. Intoxicação dos povos originários………………………………………………….. 29
3.4. Avanço das empresas do capital financeiro sobre as terras e águas…………...31
4. Apoio à agricultura familiar e à reforma agrária……………………………………... 42
CONSIDERAÇÕES FINAIS…………………………………………………………….. 45
REFERÊNCIAS…………………………………..………………………………………. 46
RESUMO
A contribuição e a proposição deste trabalho é trazer à luz alguns dos
principais retrocessos na política agrária do atual Governo Federal, que durante
seus 3 anos e meio de atividade em mandato executou o desmonte de direitos
garantidos pela constituição, através de revogações, projetos de leis e emendas
constitucionais. Em realce, o dossiê prioriza elencar ações de sucateamento das
políticas públicas previstas por programas em prol da reforma agrária e soberania
alimentar. Ademais, objetiva apontar o desmatamento histórico dos biomas do Brasil
e o descaso do governo Bolsonaro com a questão ambiental.
Assim sendo, o objetivo central do trabalho é apresentar o desmonte das
políticas para o campo que privilegiam o agronegócio, bem como discorrer sobre
como a ausência destas políticas e a falta de incentivo para agricultura familiar estão
relacionadas com o retorno do Brasil para a linha do mapa da fome. Também, visa
elucidar a maneira com que o presidente Jair Bolsonaro (PL) difundiu, de modo
calunioso, o Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) como inimigo e
sublinhou seu governo como aquele que mais desorganizou a luta pela terra no país.
Palavras-chave: reforma agrária; agricultura familiar; soberania alimentar; MST
(Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra); questão ambiental

ABSTRACT
The purpose of this paper is to denounce the current Brazilian federal
government that during its 3 and a half years in office dismantled a set of rights
provided by the constitution, through repeals, bills and constitutional amendments.
The dossier aims to list the actions that led to the precariousness of public policy in
favor of agrarian reform and food sovereignty. Furthermore, it aims to point out the
historical logging of Brazil’s biomes and the government's disregard for the
environment.
Therefore, the principal aim of this work is to demonstrate the correlation
between the absence of incentives for family farming in favor of agribusiness, and
Brazil's return to the UN Hunger Map. The dossier also aims to elucidate the way in
which President Jair Bolsonaro categorized, improperly, MST (Movimento de
Trabalhadores Rurais Sem Terra) as an enemy to be fought, showing that Bolsonaro
mandate is the one that most disorganized the struggle for land in the country.
Keywords: agrarian reform; family farming; food sovereignty; MST (Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra); environmental impact.
MOTIVAÇÃO
O presente dossiê desenvolvido pelo NATRA - Núcleo Agrário Terra e Raiz,
tem como motivação identificar e apresentar documentações sobre ações que
impactam a agricultura familiar e reforma agrária durante o Governo Bolsonaro
(2019-2022). Isto é, interessa-se aqui coletar as perspectivas de políticas públicas e
da questão socioambiental brasileira, com a finalidade de investigar as
consequências da gestão federal dos últimos quatro anos sob a presidência de Jair
Bolsonaro sobre a Agricultura Familiar e Reforma Agrária. Conforme indicam as
palavras da direção nacional do Movimento Sem Terra (MST), “O verdadeiro objetivo
do governo Bolsonaro é desestruturar a Reforma Agrária”1, essa investigação se faz
necessária para entender a conjuntura da questão agrária no país para os caminhos
da luta camponesa nos próximos anos.

APRESENTAÇÃO
O Núcleo Agrário Terra e Raiz/NATRA é um grupo de extensão da
UNESP/Franca que atua junto aos acampamentos e assentamentos rurais na região
de Ribeirão Preto/SP. É coordenado pela professora doutora Fernanda Sant'Anna,
do departamento de Relações Internacionais. Desde 1997, o grupo busca em suas
atividades favorecer a emancipação social, cultural e política dos sujeitos do campo
para que assim, possam somar à luta pela democratização da terra e pela reforma
agrária. O NATRA acredita que a luta pela terra é fundamental contra as
problemáticas advindas das históricas e tradicionais desigualdades produzidas pela
lógica do capital e, portanto, pautas como a reforma agrária, soberania alimentar,
função social da terra, educação popular e agroecologia são indissociáveis para a
superação de tais problemas.
O grupo tem um caráter interdisciplinar, pois possui integrantes dos quatro
cursos do campus: Serviço Social, História, Direito e Relações Internacionais. Dessa
forma, a extensão acredita na educação como um ato político de transformação
social e, devido a isso, busca em suas oficinas abordar, de forma participativa,
temas que envolvem a realidade dos alunos e o contexto atual da sociedade
brasileira.

1
Palavras de Alexandre Conceição, da direção nacional do MST, para a coletiva de imprensa
realizada pelo movimento no dia 31/05/2022 em Brasília - DF.
Para viabilizar seus projetos, o grupo é dividido em dois coletivos: o Coletivo
de Produção e o Coletivo de Educação. O Coletivo de Produção atualmente possui
duas frentes principais: a primeira é a atuação direta com os produtores do
assentamento 17 de Abril “Fazenda Boa sorte” em Restinga, SP e, a segunda é na
área de segurança e soberania alimentar por meio do Fórum Regional de Segurança
Alimentar e Nutricional (FRSSAN), da Comissão Regional de Segurança Alimentar
Nutricional e Sustentável (CRSANS) e do Conselho Municipal de Segurança
Alimentar e Nutricional Sustentável de Franca (COMSEA-Franca).
Durante a pandemia da COVID-19, o grupo foi responsável pelo Projeto
Cestas Verdes que, a partir de uma articulação entre a universidade pública,
entidades populares e pequenos produtores - Associação Vale do Sapucaí do
assentamento 17 de Abril e Cooperativa das Agricultoras e Agricultores Familiares
Orgânicos de Claraval e Região (Cooperorgânica) -, levou alimentos in natura junto
de panfletos socioeducativos na linguagem da educação popular para a população
desprotegida socialmente. Foi um projeto piloto na área de Segurança Alimentar e
Nutricional que hoje lutamos para transformá-lo em política pública, pois garante
alimentação saudável e fortalece a agricultura familiar da região.
Atualmente, além da atuação junto à prefeitura, o coletivo realiza oficinas em
hortas urbanas da cidade de Franca e compõe o Espaço Agroecológico, que é o
escoamento, dentro da Universidade, da produção de alimentos advindos do
assentamento 17 de abril (Restinga - SP). Nesse espaço acontecem
simultaneamente rodas de conversas com temas pertinentes ao que a extensão
executa.
O Coletivo de Educação, por sua vez, desde 2015 realiza suas atividades no
Assentamento 17 de Abril, na escola Leonor Mendes de Barros, onde trabalha com
uma perspectiva de educação do campo em suas oficinas junto às crianças. Este
trabalho busca fortalecer a identidade campesina e os saberes do campo por meio
de pautas da agroecologia, diversidade (racial, de gênero e sexualidade), identidade
de campo e sobretudo a questão agrária. Além destas, são trabalhadas em conjunto
com as crianças o conteúdo das Rádios Camponesas, inspiradas nas do MST
(Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra), pelas quais o grupo objetiva
fortalecer essas temáticas desenvolvidas dentro das oficinas.
Ao decorrer dos anos dentro da escola, o grupo de extensão foi construindo
um maior vínculo com as professoras que compõem o corpo pedagógico. Em 2019,
foi organizado pelas estagiárias de Serviço Social do Natra, o curso de extensão
universitária na modalidade de difusão de conhecimentos tendo como foco a
Educação do Campo. Este foi curso foi uma parceria com o professor José Henrique
Néspoli, que é professor na licenciatura em educação do campo da Universidade
Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) e contou ainda nas aulas de professores da
UNESP, com os assessores e pessoas dos movimentos sociais. Este proporcionou
uma maior aproximação com as professoras da escola e contribuiu para que no ano
seguinte a diretora, junto com o corpo pedagógico, deliberasse pela implementação
da disciplina de Educação do Campo no contraturno das aulas e, um dos conteúdos
previstos seriam exatamente as oficinas do Natra de fortalecimento da identidade
camponesa (NATRA, 2021).2
A relevância do grupo apresenta-se a partir do contexto histórico e tradicional
brasileiro de concentração fundiária e desigualdade social que intensifica cada vez
mais a necessidade da construção de projetos que viabilizem a implantação de
políticas públicas para o campo, de modo particular a realização da reforma agrária.
Diante disso, o NATRA como grupo de extensão tem a responsabilidade de propor e
desenvolver um diálogo permanente entre a comunidade e universidade pública,
segundo o tripé universitário: ensino, pesquisa e extensão. Realizando assim, a
discussão da questão agrária, da agroecologia e educação popular dentro do
campus.
Por isso, os principais objetivos deste grupo de extensão são: democratizar a
identidade camponesa dos moradores do campo, promover em conjunto a
agroecologia nos espaços universitários e na comunidade, e, para além disso,
estimular a formação política dos membros por meio de atividades e reflexão em que
participam adultos e crianças, fomentando assim o diálogo entre o rural e o urbano.
Para isso, utiliza-se da proposta metodológica do educador Paulo Freire, visando a
aquisição de conhecimento, por meio do exercício permanente de construção da
horizontalidade e respeito, baseando-se no diálogo entre educadores e educandos.

METODOLOGIA

O desenvolvimento do trabalho teve apoio na análise qualitativa dos dados


provenientes de fontes secundárias de pesquisas sobre artigos, Decretos, Portarias
2
NATRA. Dossiê: Educação do Campo. Franca/SP: Unesp. 2021
e Leis, publicados durante o governo estudado, nos principais jornais nacionais,
jornais e as manifestações de movimentos sociais que trabalham com a questão
agrária. Tais pesquisas foram levantadas de forma coletiva e diária, sendo esta
descritiva, documental e bibliográfica.

INTRODUÇÃO
Esse dossiê foi pensado a partir do panorama dos esvaziamentos e
fragilidades políticas que protegem produtores rurais e suas atividades, assim
como, frente a necessidade de mobilização para questionar e remodelar os
desmontes dentro do recorte temático escolhido pelo grupo de extensão ocorridos
no Governo Bolsonaro.
Neste dossiê há o levantamento de ocorrências desse (des)governo, no qual
houve negligência em face das obrigações governamentais com políticas públicas
voltadas para reforma agrária e soberania alimentar - escopo do trabalho -;
derrubada de diversos direitos humanos, incluindo a sua dirigência genocida
durante pandemia da COVID-19. De maneira que, se o país já assistia ao discurso
neoliberal que se fortaleceu nos últimos anos, com a posse de Bolsonaro, houve a
perda substancial de direitos historicamente assegurados3. Ademais, o discurso
neoliberal, acompanhado das ideologias conservadoras hegemônicas, resulta em
desmontes de políticas públicas que afetam diretamente os pequenos agricultores e
a reforma agrária por completo, através da manutenção do modelo de propriedade
privada liberal predominante no Brasil.

I.CONTEXTO GERAL DA QUESTÃO AGRÁRIA PRÉ GOVERNO BOLSONARO


A questão agrária é um dos componentes que estrutura o modo de produção
brasileiro. Ela está na raiz da lógica do modelo de desenvolvimento econômico e
social do país, e, portanto, a forma como ela se organiza, determina as relações no
campo. Daí a necessidade de retomar, brevemente, como foi tratada a questão
agrária nos governos imediatamente anteriores ao governo Bolsonaro.

3
OLIVEIRA. Wallace. Direitos reconhecidos na Constituição estão sendo destruídos pelo
Governo Federal. Brasil de Fato. Belo Horizonte/MG. 01/05/2022. Disponível em
<https://www.brasildefato.com.br/2022/05/01/direitos-reconhecidos-na-constituicao-estao-sendo-destr
uidos-pelo-governo-federal> Acesso 14 de novembro de 2022
1. Governo Lula: uma breve contextualização

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva desenvolveu um ambiente favorável


para o debate sobre a reforma agrária; o tema foi pontuado desde suas campanhas
eleitorais. Já à frente do governo, no ano de 2003 foi aprovado o II Plano Nacional
de Reforma Agrária (PNRA). Neste Plano, definiu-se que, em 2006, teriam 400 mil
famílias assentadas. No entanto, durante o primeiro mandato do governo Lula
(2002-2006) essas propostas não foram cumpridas. No documento analisado4 é
justificado que o ocorrido é devido aos acordos que o então presidente estabeleceu,
que ia tanto de encontro com alguns interesses dos trabalhadores sem-terra quanto
com os do agronegócio, demonstrando um perfil consensualista. No segundo
governo Lula (2007-2010) os objetivos colocados pelo II PNRA também não foram
totalmente alcançados. Para FIORINI (2014) o governo Lula não realizou um Projeto
de Reforma Agrária, propriamente dita e sim uma política de assentamento.
Além disso, é importante pontuar também que, de acordo com MORAIS
(2022)no primeiro mandato do governo Lula teve-se como pauta a extinção da fome
no Brasil e juntamente disso, o apoio da agricultura familiar, uma vez que esse tipo
de agricultura abastece a mesa da maior parte da população brasileira. Um exemplo
disto, é a lei n° 11.947 que está em uso desde 2009, onde torna obrigatório que no
mínimo 30% dos recursos da alimentação escolar devem ser comprados
diretamente de agricultores familiares locais.5

1. 1. Governo Dilma- Temer

O governo de Dilma Rousseff (2011-2016) é muito criticado na questão


agrária, pois como mostra a reportagem6 de 2013, o então governo teria o pior índice

4
FIORINI, Vanessa. A QUESTÃO AGRÁRIA NO GOVERNO LULA E AS AÇÕES DO MOVIMENTO
DOS TRABALHADORES SEM TERRA (MST). 2014. TCC (Graduação em Serviço Social) -
Universidade Federal de Santa Catarina, [S. l.], 2015. Disponível em:
<https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/133023/TCC%20VANESSA%20FIORINI.pdf?
sequence=1&isAllowed=y>. Acesso em: 10 nov. 2022.
5
PAULINO, Giselle.“O alimento de cada dia da Agricultura Familiar à merenda escolar.” MST, 28
June 2012, <
https://mst.org.br/2012/06/28/o-alimento-de-cada-dia-da-agricultura-familiar-a-merenda-escolar/ >.
Acesso em 16 de Novembro de 2022.
6
PACHECO, Iris. “Governo Dilma abandonou a Reforma Agrária”, afirma Alexandre Conceição.”
MST, 28/08/2013. Disponível em:
<https://mst.org.br/2013/08/28/governo-dilma-abandonou-a-reforma-agraria-afirma-alexandre-conceic
ao/> . Acesso 10 de Novembro de 2022.
de desapropriação de terra dos últimos 20 anos (contando a partir daquela época).
O governo de Dilma estreitou os laços com o agronegócio, onde colocou
significativos investimentos financeiros.
Desta forma, é possível notar que o Plano Nacional da Reforma Agrária foi
de certa forma esquecido durante o tempo, e com o intuito de agradar tanto os
latifundiários quanto os trabalhadores sem-terra, o governo de Dilma Rousseff e
somente em 2015, no Palácio do Planalto, diante de lideranças dos movimentos
sociais e ministros, ela assinou 21 decretos. Contudo, estes decretos eram de
desapropriação, totalizando 35 mil hectares destinados a assentamentos. Além destes
decretos, ela assinou quatro decretos definindo territórios quilombolas. Contudo, em seu
governo não houve nenhuma desapropriação, de nenhum hectare de terra destinado à
Reforma Agrária. Este foi o pior resultado em mais de 20 anos.7
Quinze de maio de 2016 o até então vice-presidente da república assume o
cargo da presidência através do impeachment de Dilma Rousseff, no mesmo dia
publica a Medida Provisória nº 726/2016 que reduziu de 32 para 23 o número de
ministérios e secretarias, entre estes, estão o Ministério do Desenvolvimento Agrário,
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, a Secretaria da
Agricultura Familiar (SAF), Secretaria de Reordenamento Agrário (SRA), Secretária
de Desenvolvimento Territorial (SDT), e Secretaria de Regularização Fundiária da
Amazônia Legal, responsável pelo programa “Amazônia Legal” (DECRETO Nº
8.865, DE 29 DE SETEMBRO DE 2016)8 a realocação destas secretarias e
ministérios em outras pastas é um meio de desmantelamento de políticas criadas
durante os governos do PT que visava uma fortificação da agricultura familiar, sendo
inclusive referências internacionais ao combate à fome9.
Os cortes orçamentários nos programas de reforma agrária principalmente em
relação a agricultura familiar foram significativos no ano de 2016, o PAA (Programa
7
INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL.“O que o governo Dilma fez (e não fez) pelas Unidades de
Conservação?” Instituto Socioambiental, 7 June 2016, <
https://site-antigo.socioambiental.org/pt-br/noticias-socioambientais/o-que-o-governo-dilma-fez-e-nao-f
ez-pelas-unidades-de-conservacao >. Acesso em 16 de Novembro de 2022.
8
BRASIL. Decreto n.° 8.865, de 29 de setembro de 2016. Transfere a secretaria especial de
agricultura familiar e do desenvolvimento agrário para a casa civil da presidência da república e
dispõe sobre a vinculação do instituto nacional de colonização e reforma agrária - INCRA.Diário
Oficial da União. Brasília, DF, n° 189. p. 10. 30 set 2016. Seção 1. Disponível em:
<https://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?data=30/09/2016&jornal=1&pagina=10&to
talArquivos=200>
9
G1, N. P.; BRASÍLIA. Lula leva título de “Campeão Mundial na Luta Contra Fome” pela ONU.
Disponível em:
<http://g1.globo.com/politica/noticia/2010/05/lula-leva-titulo-de-campeao-mundial-na-luta-contra-fome-
pela-onu.html>. Acesso em: 14 nov. 2022.
de Aquisição de Alimentos) que visa comprar os alimentos do agricultor familiar para
alimentar pessoas em situação de vulnerabilidade teve uma redução de R$ 478
milhões para R$ 294 milhões que diminuiu em mais da metade as famílias
contempladas por esse programa (FIANBRASIL, 2017)10.
No ano de 2017 o governo Temer não assentou nenhuma família dando
continuidade ao processo de desmonte da reforma agrária, a falta de assentados
neste ano após o pior números de assentados no ano de 2016 de 1.686 famílias.
comparados ao ano de 2012 que levava a marca assentando somente 23.075
famílias, dados fornecidos pelo INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária) (UOL 2018)11 . Um dos pontos que culminou na falta de assentados em
2017 foi o TCU (Tribunal de Contas da União) ter suspendido no ano de 2016 a
concessão de benefícios do Programa Nacional de Reforma Agrária por possível
irregularidade no INCRA no cadastro dos assentados embasado no Acórdão
775/2016 (TCU, 2016)12 após o INCRA esclarecer e sanar os indícios de
irregularidades constatados pelo tribunal já havia sido aprovado LEI Nº 13.465, DE
11 DE JULHO DE 2017 que interferia diretamente no cadastro de assentados e na
própria lei de reforma agrária (LEI Nº 8.629/1993).
A LEI Nº 13.465/2017 altera a regularização fundiária, com regras menos
rígidas sobre regularização em terras da União na chamada Amazônia Legal e em
outros territórios, em suma a lei facilita que grandes porções de terra que pertencem
à União possam ser entregues a reforma agrária, e a longo prazo considerando a
falta de incentivos citados acima a agricultura familiar e a dificuldade de retomada do
imóvel pelo poder público em caso de descumpirmento, levaria a uma privatização
em massa de terras públicas ao invés de uma redistribuição de terras improdutivas.
Entidades ligadas ao meio ambiente chegaram a enviar a carta
“Inconstitucionalidade da Lei 13.465 de 11 de julho de 2017: Terras, Florestas e

10
FIAN BRASIL. Corte no Programa de Aquisição de Alimentos ameaça famílias do Semiárido.
25/08/2017. Disponível em:
<https://fianbrasil.org.br/corte-no-programa-de-aquisicao-de-alimentos-ameaca-familias-do-semiarido/
>. Acesso em: 13 nov. 2022.
11
MADEIRO, Carlos. Governo não assenta famílias em 2017, e reforma agrária tem freio inédito
no país.UOL. Atalaia/AL: 06/03/2018. Disponível em:
<https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2018/03/06/governo-nao-assenta-familias-em-20
17-e-reforma-agraria-tem-freio-inedito-no-pais.htm>. Acesso em: 13 nov. 2022.
12
UNIÃO, T. DE C. DA. TCU suspende concessão de benefícios da reforma agrária | Portal TCU.
Disponível em:
<https://portal.tcu.gov.br/imprensa/noticias/tcu-suspende-concessao-de-beneficios-da-reforma-agraria.
htm>. Acesso em: 13 nov. 2022.
Águas Federais em Risco”13 ao procurador-geral da República pedindo que
tencionasse uma ação no Supremo Tribunal Federal contra a norma, assinaram a
carta 61 entidades, entre elas o Greenpeace Brasil e a Fundação SOS Mata
Atlântica (CONJUR, 2017)14.
O governo também trouxe novamente ao debate a estrangeirização de terras,
o PL 2963/2019, que após ser aprovado pelo plenário no ano de 2021, foi
encaminhado à Câmara dos Deputados, visando que terras fossem vendidas para
compradores estrangeiros, revogando a Lei No 5.709, DE 7 DE OUTUBRO DE 1971.
que regulamenta a compra de terras por estrangeiros que residem no Brasil ou
pessoa jurídica estrangeira autorizada a funcionar no país.
O orçamento previsto de 2018 fez um corte de quase 80% para a obtenção
de terras e a educação do campo quando comparado com o ano de 201715. No ano
de 2018 realizou-se a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF-IBGE)16 que
constatou que cerca de 36.6% da população passava por algum nível de
insegurança alimentar sendo que 5.8% chegavam a passar fome usando como
comparativo o ano de 2013, a última vez até então em que o tema tinha sido
apurado pelo IBGE durante o governo Dilma, 22.9% da população sofria em algum
grau de insegurança alimentar e 4.2% chegavam a passar fome (2013)17

2. Reforma agrária de mercado

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, o presidente dos Estados Unidos decidiu
por criar em 1944 o Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD)
ou Banco Mundial com a proposta de, a priori, ajudar com investimentos em países

13
JANOT, R. Inconstitucionalidade da Lei 13.465 de 11 de julho de 2017: Terras, Florestas e
Águas Federais em Risco. Brasília: 20 jul. 2017 [s.n.]. Disponível em:
<https://www.conjur.com.br/dl/carta-janot-lei.pdf>. Acesso em: 13 nov. 2022.
14
REVISTA CONSULTOR JURÍDICO. Lei da regularização fundiária privatiza terras públicas,
dizem entidades. 20/07/2017. Disponível em:
<https://www.conjur.com.br/2017-jul-30/lei-regularizacao-fundiaria-privatiza-terras-publicas-dizem-enti
dades>. Acesso em: 13 nov. 2022.
15
MST. Dados da Reforma Agrária no governo Temer são mais que falha. É um projeto de
aniquilamento. 07/03/20218 Disponível em:
<https://mst.org.br/2018/03/07/dados-da-reforma-agraria-no-governo-temer-sao-mais-que-falha-e-um-
projeto-de-aniquilamento/>. Acesso em: 13 nov. 2022.
16
IBGE. Pesquisa de Orçamentos Familiares Perfil das despesas no Brasil Indicadores de
Qualidade de vida. [s.l: s.n.]. Disponível em: <
https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101886.pdf>. Acesso em: 13 nov. 2022.
17
OLHE PARA A FOME. Disponível em: <https://olheparaafome.com.br/>. Acesso em: 13 nov. 2022
atingidos pela guerra a desenvolver sua agricultura e indústria. Assim, permitindo
uma reconstrução do país e, por consequência, alimentando os ideais capitalistas
para evitar qualquer tipo de ideologia divergente. Após a Segunda Guerra e início da
Guerra Fria, o papel de difundir o capitalismo em países da América Latina, Ásia e
África se tornou um dos focos do Banco Mundial, investindo e criando dívidas a
longo prazo com esses países sob a aposta de desenvolvimento, missão social e
alívio da pobreza.
Neste contexto, é observado um dos meios fomentados pelo Banco Mundial
como forma de acabar com a desigualdade e conflitos no campo a Reforma Agrária
de Mercado, que em tese com auxílio de empréstimos feitos com o Banco Mundial o
governo custearia a compra de terras e financiaria aos trabalhadores sem terra para
que assim tivessem o direito a terra como sua propriedade. Porém essa proposta
apresenta falhas, de maneira que será evidenciado pelo exemplo do Brasil, para
apontar algumas delas.
Posto isso, no governo do Fernando Henrique Cardoso - que durou de 1995
até 2002 - foi implementado quatro políticas de Reforma Agrária de Mercado, sendo
a mais abrangente o “Fundo de Terras e da Reforma Agrária - Banco da Terra”
instituído pela LEI COMPLEMENTAR Nº 93, DE 4 DE FEVEREIRO DE 1998. Com a
aprovação desta lei o Banco Mundial manifestou seu interesse em apoiar
financeiramente esse programa, contudo, por meio de um empréstimo que deveria
servir a um segmento de agricultores mais pobres sem terra. A partir disso,
desenvolveu-se outro programa: o Crédito Fundiário de Combate à Pobreza Rural,
criado em 2001.
Desde o início do projetos de Reforma Agrária de Mercado entidades sociais
ligadas à reforma agrária se colocaram contrárias, a Confederação Nacional dos
Trabalhadores na Agricultura (CONTAG) em 1996 já fazia duras críticas ao projeto
elaborado inicialmente. Além do Fórum de Reforma Agrária ter encaminhado dois
pedidos de inspeção em 1998 e 1999, questionando o projeto e possíveis
irregularidades em documentos e laudos técnicos a respeito das terras que seriam
ofertadas a compra diante de laudos redigidos, após a venda da terra sem
considerar a produtividade e qualidade do solo. Em razão dessas irregularidades,
terras improdutivas, que seriam expropriadas pela reforma agrária foram compradas
para servirem ao projeto de Reforma Agrária de mercado.
Em 2003, durante o Governo Lula (PT), levando em conta os indícios de
irregularidades, o Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA) realizou uma
investigação do Banco da Terra, suspendendo a sua execução. Ao passo que
desenvolveu outro projeto, que estipulou novos parâmetros para a regularização das
terras, ampliando os itens financiáveis e reformulando as condições de
financiamento. Não obstante, a lógica permaneceu a mesma do antigo Banco da
Terra, o Programa Nacional de Crédito Fundiário que tinha como meta financiar a
compra de terras para famílias sem-terra. Atualmente, os projetos de financiamento
de terras ainda vigoram, mesmo que haja críticas de entidades relacionadas ao
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), para além das dívidas que
foram criadas,ainda no governo FHC, com o Banco Mundial.
A Reforma Agrária de Mercado, para além do que foi supracitado, traz uma
questão a longo prazo:o fato de a maioria das áreas ofertadas serem em terras de
solo ruim, o que requer muito trabalho para recuperá-lo. Como também em áreas de
conflitos agrários. Desse modo, esse modelo de Reforma Agrária de Mercado,
coloca em risco a luta dos trabalhadores que há anos, estão se organizando para ter
acesso à terra.
A luta pela Reforma Agrária é, não só ter acesso à terra, mas também por
condições dignas de trabalho, moradia, saneamento básico, assistência técnica,
crédito rural, escolas, hospitais, creches, produção e comercialização agrícola
permitindo assim, não só o acesso, mas também um meio de permanência nessas
terras. Isto a chamada Reforma Agrária de Mercado não abarca (CARDOSO DE
MOURA, 2020; SAUER, 2010)18.

18
ARDOSO DE MOURA, A. . O BANCO MUNDIAL E A REFORMA AGRÁRIA DE MERCADO NO
NORTE DE MINAS. Revista Desenvolvimento Social, [S. l.], v. 18, n. 1, p. 5–19, 2020. Disponível em:
https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/rds/article/view/1831. Acesso em: 14 nov. 2022.
SAUER, Sérgio. "Reforma agrária de mercado' no Brasil: um sonho que se tornou dívida". In:
Estudos Sociedade e Agricultura, vol. 18, nº 1, abril, 2010, p. 98-125.
Terra Brasil - Programa Nacional de Crédito Fundiário. Disponível em:
<https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/agricultura-familiar/credito>.
II. CONTEXTO GERAL QUESTÃO AGRÁRIA DURANTE O GOVERNO
BOLSONARO

Assim, como já foi supracitado, ainda que o Brasil tenha presenciado


governos progressistas, os quais, mesmo que dentro de uma lógica reformista
garantiram políticas públicas essenciais para construção da reforma agrária e de
desenvolvimento da agricultura familiar. A partir do golpe
político/parlamentar/midiático sofrido pela ex-presidente Dilma Rousseff (PT), por
conseguinte, da alteração de mandato para Michel Temer (MDB) foi dada partida
oficialmente ao espectro do ultraneoliberalismo, da perda constante de direitos
historicamente assegurados.
Não obstante, em um período cronologicamente curto, o Governo Bolsonaro
obteve uma expressiva destruição a respeito da reforma agrária e da agricultura
familiar. Se no Governo Temer (2016-2018) foi perdido o MDA (Ministério do
Desenvolvimento Agrário - após a revogação da Lei n. 10. 683, 28 de maio de 2003 -
e transferidas suas competências para o MDS (Ministério de Desenvolvimento
Sustentável), resultando em um retrocesso para a Reforma Agrário no país , haja
visto que o MDA era responsável pelas políticas públicas vinculadas ao
fortalecimento do campesinato e da agricultura familiar. Durante o atual Governo
Federal foi tratado como meta oficial o sucateamento do INCRA (Instituto Nacional
de Reforma Agrária), por meio, em primeiro lugar, da sua transferência da Casa Civil
da Presidência para o Ministério da Agricultura (que foi entregue para a bancada
ruralista19). Como pelos inúmeros cortes de verbas, que culminaram na suspensão
de atividades em maio/2022. À vista disso, o atual presidente Jair Bolsonaro revogou
mediante ao decreto 10.252 o PRONERA20 (Programa Nacional de Educação para
Assentados da Reforma Agrária e Quilombolas), de maneira que essa ação
representou uma perda para os trabalhadores campesinos, porque esse projeto foi

19
BRAGON, Ranier. Incra suspende as atividades no governo Bolsonaro por falta de verba.
Folha de São Paulo: Brasília. 2022. Disponível em:
<https://www1.folha.uol.com.br/poder/2022/05/incra-suspende-atividades-no-governo-bolsonaro-por-f
alta-de-verba.shtml> Acesso 13 de novembro de 2022
20
O Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera) apresenta e apoia projetos de
ensino voltados ao desenvolvimento das áreas de reforma agrária. A política pública é direcionada a
jovens e adultos moradores de assentamentos criados ou reconhecidos pelo Incra, quilombolas,
trabalhadores acampados cadastrados na autarquia, professores e educadores que exerçam
atividades educacionais voltadas às famílias beneficiárias, além de pessoas atendidas pelo Programa
Nacional de Crédito Fundiário (PNCF).
responsável não só pela alfabetização desse grupo, assim como, a entrada de uma
geração de trabalhadores rurais sem terra na universidade. No entanto, o
PRONERA não foi o único programa direcionado para reforma agrária e agricultura
familiar que sofreu com o (des) governo de Bolsonaro, o PAA (Programa de
Aquisição de Alimentos)21 e o PNAE22 (Programa Nacional de Alimentação Escolar)
também foram acometidos pelo sucateamentos com cortes, em setembro de 2022,
Jair Bolsonaro vetou o reajuste de 34% na verba repassada para o PNAE, a
despeito desse reajuste está previsto pela Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO)
para 2023. Além disso, o PAA obteve um corte de 70% em relação a 2018,
Embora sejam bastante os efeitos da linha do atual Governo Federal, no que
tange a agricultura familiar e segurança alimentar houve também um processo ultra
destrutivo à preservação ambiental. Assim, Institutos essenciais para preservação
da ecologia do país como INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), IMBA
(Instituto Brasileiro de Meio Ambiente), INCRA (Instituto Nacional de Reforma
Agrária) sofreram assim com os que defendem a reforma agrária e a soberania
alimentar cortes e desestruturações - que serão exploradas ao longo do trabalho.

21
O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), criado pelo art. 19 da Lei nº 10.696, de 02 de julho
de 2003, possui duas finalidades básicas: promover o acesso à alimentação e incentivar a agricultura
familiar
22
O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) oferece alimentação escolar e ações de
educação alimentar e nutricional a estudantes de todas as etapas da educação básica pública.
III. POLÍTICAS CONTRA A REFORMA AGRÁRIA E O (DES)GOVERNO
BOLSONARO
O processo de desmantelamento das políticas públicas de reforma agrária no
Brasil se remonta desde o período anterior ao Governo Bolsonaro, como apontado
por Alexandre Conceição, dirigente nacional do MST: “Em 2016, com o golpe
[impeachment de Dilma Rousseff], houve total paralisia. Com a entrada do Bolsonaro
houve um regresso total, um verdadeiro desmonte do programa nacional de reforma
agrária”23. No período em que Jair Bolsonaro esteve no poder, a caracterização do
regresso dentro das políticas de regulamentação fundiária agrária, estabilidade de
produção da agricultura familiar e segurança dos pequenos produtores assentados
permeia tanto o esvaziamento do orçamento destinado à programas que fomentam
a preferência pela distribuição de alimentos para a agricultura familiar, que é
responsável por mais de 70%24 da distribuição de alimentos para o mercado interno
brasileiro. Visamos nos debruçar sobre as iniciativas que que afrontam na frente
financeira, orçamentária, legislativa e jurídica por parte do Governo Bolsonaro em
contribuição à descontinuidade e regresso da situação da regulamentação fundiária
para a reforma agrária em solo brasileiro.

1. Políticas de reforma agrária


Desde antes do Governo Bolsonaro, já durante a gestão de Michel Temer à
frente do executivo no Governo Federal. A articulação da “Bancada Ruralista”, na
qual orientou 87 de seu 92 representantes para votarem favoravelmente ao
impeachment de Dilma Rousseff (FARIAS, 2021), assim viabilizando a entrada de
Temer, seria o resultado dialético de diversas negociações com este setor do
Congresso Federal para que se iniciasse uma “contrarreforma” das políticas sociais
implementadas durante os governos que transitaram pela administração federal na
última década no sentido da Reforma Agrária (MOREIRA; MORO, 2019) objetivando
favorecer o setor agrícola-empresarial, em detrimento da agricultura familiar.

23
BRAGON, Ranier; Em dois anos, Bolsonaro esvaziou órgãos que cuidam de questões
ambientais, indígenas e agrárias. Folha de São Paulo; Brasília - DF; 2020. Disponível em:
<https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2020/12/em-dois-anos-bolsonaro-promove-desmonte-no-me
io-ambiente-funai-e-reforma-agraria.shtml> Acesso em 14 nov. 2022
24
ARAGÃO, Érica; Ações de Bolsonaro contra reforma agrária e agricultura familiar impactam
seu bolso. CONTRAF; Brasília - DF; 2021. Disponível em:
<https://contrafbrasil.org.br/noticias/acoes-de-bolsonaro-contra-reforma-agraria-e-agricultura-familiar-i
mpactam-seu-bo-edf7/> Acesso em 14 nov. 2022.
Este desmonte passa a se institucionalizar, entre outras medidas, na
nomeação de um membro da bancada ruralista, que defende os interesses do
agronegócio para o ministério da Agricultura e concomitantemente extinguindo o
Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), o incorporando como parte do
Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) e posteriormente o rebaixando a pasta
a uma Secretaria do Ministério da Casa Civil por meio do Decreto Presidencial
Nº8780/1625, deixando assim o INCRA sobre responsabilidade deste ministério e
com seu orçamento subordinado a esta pasta. E juntamente ao crescente desmonte
orçamentário dos programas de fomento à produção já citados neste documento, no
âmbito legislativo, pela promulgação da Medida Provisória Nº759/16, que favoreceu
a mercantilização de áreas destinadas à reforma agrária, favorecendo práticas de
titulação, grilagem e alienação de terras que originalmente teriam como destino a
produção de alimentos para famílias assentadas, mas que agora estariam sob
ameaça de serem vendidas ou arrendadas ao agronegócio, graças a falta de
incentivo e estabilidade para iniciativas de agricultura familiar (SANTOS et al., 2021).
Na esteira da contrarreforma promovida pelo Governo Temer, Jair Bolsonaro
se elege com o apoio da mesma bancada ruralista que tinha seus interesses
atendidos por Michel Temer. Apoio este justificado pelas medidas prometidas em sua
campanha, e posteriormente concretizadas, que iam de acordo com o agronegócio,
como por exemplo: flexibilização pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância
Sanitária) do marco legal para avaliação de riscos à saúde vinculados a agrotóxicos;
a flexibilização de regras para posse de armas em regiões rurais do país; o aumento
excepcional de focos de fogo no arco do desmatamento na região amazônica; o
congelamento da reforma agrária e da demarcação de terras indígenas e
quilombolas e a multiplicação de atos infralegais com objetivo de flexibilizar a
legislação ambiental (FARIAS, 2021). Soma-se a efetivação de medidas que
beneficiam o agronegócio uma postura abertamente antagônica aos movimentos
sociais que encampam lutas pela regulamentação fundiária agrária e urbana, sendo
que enquanto pré-candidato a presidência, chegou a caracterizar estes movimentos
- entre outros adjetivos - como terroristas e marginais (RIBEIRO, 2018).

25
BRASIL. Decreto Nº8780: Transfere a Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do
Desenvolvimento Agrário para a Casa Civil da Presidência da República. Diário Oficial da União, P.1;
30 Mai. 2016; Brasilia - DF. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/decreto/d8780.htm> Acesso em 14 nov.
2022.
Os resultados deste novo paradigma sobre as políticas públicas de reforma
agrária se tornaram notáveis na dinâmica e cotidiano do ambiente camponês. Com o
INCRA tendo seu orçamento operacional comprometido ao ponto de não conseguir
executar suas atribuições e se mostrar inerte em relação à desapropriação de terras
que não cumprem com sua função social, a fiscalização das que estão em processo
de titulação e regularização para os assentados e melhoria dos assentamentos já
estabelecidos, enquanto discursos e ações do Governo que fomentaram fazendeiros
a se armarem e expandirem a fronteira agrária com mais liberdade desencadearam
em uma escalada de conflitos e o aumento quantitativo da violência no campo
durante a gestão de Jair Bolsonaro frente ao Poder Executivo Federal.
Segundo relatório da Comissão Pastoral da Terra (CPT), apontam que o
número de conflitos no campo escalou: foram 4.214 nos últimos três anos, alta de
11,5% em relação aos três anos anteriores, com um total de 109 mortes (PITOMBO;
SASSINE, 2022), sendo grande parte destes conflitos promovidos por empresários,
fazendeiros, grileiros, ou mesmo o próprio governo (BEZERRA; DIAS, 2022).
Em síntese, pode se afirmar que a política de reforma agrária durante o
Governo Bolsonaro migrou de um desmonte em curso que se instituiu após o golpe
que retirou a ex-presidente Dilma Rousseff do poder. Rumando a uma postura em
que institucionalmente, o Estado Brasileiro se omitiu ou agiu ativamente para que os
órgãos competentes dentro da administração para a efetivação da reforma agrária
não pudessem exercer seu dever constitucional, e que encontrou no seu Chefe de
Estado um porta-voz do antagonismo à qualquer implementação de política pública
voltada a reforma agrária pela sua estagnação e pelo fomento indireto do conflito
político, jurídico, e em seu extremo, chegando ao ponto do conflito bélico contra
movimentos sociais que cobrassem o cumprimento Constitucional das Políticas de
Reforma Agrária26.

2. Regularização da grilagem

Define-se a grilagem, de acordo com o IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental


da Amazônia), como a prática de legalização do domínio da terra através de

26
BRASIL. Constituição, Art. 184. Brasília - DF; 1988. Disponível em:
<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm> Acesso em 14 Nov.
2022.
documentos falsos, uma prática bem antiga e que recebe tal nome pelo uso de grilos
colocados em gavetas ou caixas junto aos documentos pretendidos para que estes
parecessem envelhecidos já que os papéis ficariam amarelados e com buracos. No
entanto tal prática é feita sob graves ameaças, lesão corporal e assassinato de
posseiros e/ou povos indígenas que ocupam a terra de interesse dos grileiros, para
isso, juntamento com o envolvimento do Poder Público, se utilizam de diversos
mecanismos, como: falsificação de documentos de propriedade de terras,
negociações fraudulentas, chantagens e corrupções.27
No cenário brasileiro, a grilagem, classificada segundo a historiadora Márcia
Motta como um fenômeno secular e arraigado28, tem um percurso histórico que
remonta desde a instituição da Lei de Terras, em 1850, que favoreceu a oficialização
dos latifúndios frente às pequenas propriedades, ao proibir a aquisição de terras
devolutas29 por outro meio se não o da compra. Dessa forma, os latifundiários que
buscam frequentemente falsear títulos de terras, as quais já são ocupadas por
pequenos produtores, povos indígenas e quilombolas, intensificam os conflitos no
campo. Num recorte contemporâneo, Segundo os dados organizados pelo geógrafo
Ariovaldo Umbelino de Oliveira, apresentados nos gráficos a seguir, houve uma
crescente de casos de famílias (de camponeses posseiros, de sem terra, de
quilombolas, e de indígenas) envolvidas em conflitos de terra durante o período de
2014 a 2019.
É possível relacionar esses dados de conflito com a regularização da
grilagem no contexto da política brasileira desde o governo Dilma até o governo
Bolsonaro. Isto é, nesse período, a Medida Provisória 759 instituída pela
ex-presidenta Dilma Rousseff, no ano de 2016, se desdobrou, no ano de 2017,
durante o governo de Michel Temer, na Lei nº 13.465 que

dispõe sobre a regularização fundiária rural e urbana, sobre a liquidação de


créditos concedidos aos assentados da reforma agrária e sobre a
regularização fundiária no âmbito da Amazônia Legal; institui mecanismos

27
IPAM. A Grilagem de Terras Públicas na Amazônia Brasileira. Brasília: MMA, 2006. p. 18 apud
TRANSPARÊNCIA INTERNACIONAL - BRASIL. Governança fundiária frágil, fraude e corrupção: um
terreno fértil para a grilagem de terras. [SI]. 2021.
28
Expressão retirada do artigo “A resolução eufemística da grilagem”, de Francisco Octávio
Bittencourt de Sousa
29
Terras devolutas referem-se a terras públicas que em nenhum momento integraram o patrimônio de
um particular, mesmo irregularmente sob sua posse, sendo também terras que historicamente foram
transferidas ao Poder Público, ainda quando sesmarias. Terra devoluta é referente ao conceito de
terra devolvida.
para aprimorar a eficiência dos procedimentos de alienação de imóveis da
União; e dá outras providências (BRASIL, 2017).30

Ou seja, essa lei implica na facilidade para latifundiários grileiros


regularizarem suas terras, destruindo a luta histórica do campo pela Reforma
Agrária. Não obstante, paralelo ao aumento de conflitos de famílias no campo,
observa-se que a regularização da grilagem tem continuidade no governo
bolsonarista, conforme aponta o artigo “Agenda política da terra no governo
Bolsonaro”, por meio de tentativas de “mercantilização dos territórios, expressa em
atos como as Medidas Provisórias 901 e 910, de 2019.” (SAUER; TUBINO; LEITE;
2020, p. 298). Percebe-se portanto, que os recordes de conflito no campo são
acompanhados da regularização da grilagem, dificultando a Reforma Agrária
desrespeitando os territórios dos pequenos agricultores, dos indígenas e dos
quilombolas, e toda sua cultura e história ligadas à terra.
GRÁFICO 1

Fonte: OLIVEIRA, A. U. DE; UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. FACULDADE DE FILOSOFIA,


LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS (EDS.). A grilagem de terras na formação territorial brasileira. [s.l.]
Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, 2021.

30
BRASIL. Lei n° 13.465, de 11 de julho de 2017. dispõe sobre a regularização fundiária rural e
urbana, sobre a liquidação de créditos concedidos aos assentados da reforma agrária e sobre a
regularização fundiária no âmbito da Amazônia Legal; institui mecanismos para aprimorar a eficiência
dos procedimentos de alienação de imóveis da União; e dá outras providências. Secretaria-Geral,
subchefia para assuntos jurídicos. Brasília. 11/07/2017. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13465.htm>. Acesso em: 15/11/2022
GRÁFICO 2

Fonte: OLIVEIRA, A. U. DE; UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. FACULDADE DE FILOSOFIA,


LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS (EDS.). A grilagem de terras na formação territorial brasileira. [s.l.]
Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, 2021.

GRÁFICO 3

Fonte:OLIVEIRA, A. U. DE; UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. FACULDADE DE FILOSOFIA,


LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS (EDS.). A grilagem de terras na formação territorial brasileira. [s.l.]
Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, 2021.
GRÁFICO 4

Fonte: OLIVEIRA, A. U. DE; UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. FACULDADE DE FILOSOFIA,


LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS (EDS.). A grilagem de terras na formação territorial brasileira. [s.l.]
Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, 2021.

3. Questão ambiental

Hoje vivemos a mais forte contradição no processo de dominação e


devastação do meio ambiente que se intensifica a cada ano, e debater a questão
ambiental e como está sendo esse processo se faz necessária a partir da denúncia
que torna-se parte importante para um desenvolvimento exploratório de toda
humanidade, que hoje, conforme o conservadorismo ganha espaço, afirma-se contra
os camponeses, povos originários e grupos sociais, que mantém firme sua relação
profunda na sustentabilidade e vão contra a apropriação maléfica da natureza.

3.1. Desmonte do IBAMA, INCRA, MDA

Houve em 2016 a extinção do Ministério do Desenvolvimento Agrário e as


políticas públicas que garantem a efetiva atividade da agricultura familiar sofreram
diversos cortes em sua quantia orçamentária. Segundo a CONTAG (2016):

A extinção do MDA é um ato cruel que golpeia milhões de homens,


mulheres e jovens da agricultura familiar, acampados e assentados de
reforma agrária, quilombolas, extrativistas e comunidades tradicionais
que vivem nas regiões rurais e tinham, neste Ministério, a âncora
para apresentar suas demandas específicas e resolver seus
problemas econômicos e sociais (CONTAG, 2016).31

Esse desmonte reflete atualmente a política de descaso do governo Bolsonaro uma


vez que o MDA passou a ser alocado ao Ministério da agricultura, pecuária e
abastecimento (MAPA), que vem sofrendo hoje um crescente processo de
sucateamento nas suas ações. De acordo com Sistema Integrado de Orçamento e
Planejamento do Governo federal (SIOP), o orçamento do Ministério do
desenvolvimento agrário, no primeiro ano em que foi transferido para a secretaria
(2017), sofreu uma abrupta restrição: entre os anos de 2016 a 2017 foram
2.954.225.623 bilhões de reais a menos, enquanto no ano de 2018, o montante caiu
para apenas 944.991.300, tendo mais uma queda significativa de 3.151.230.602,
comparado ao ano de 2016, a partir de um cálculo com base no Orçamento do
Ministério do Desenvolvimento Agrário de 2000 a 2018.
Tendo em vista esses dados, explicita-se que a agricultura familiar é deixada
de lado a cada ano, ao passo que o agronegócio sobe em suas avaliações.
Analisando os indicativos, durante o governo Bolsonaro, o uso de novos agrotóxicos
bateu recorde de 1,5 aprovados por dia, até o meio do ano (2022) foram aprovados
166 novos agrotóxicos no país. O pacote de veneno, presente na PL 6299/2002, o
qual, de acordo com a Agência Câmara de Notícias, fixa prazo para a obtenção de
registro de agrotóxicos no Brasil, centraliza no Ministério da Agricultura as tarefas de
fiscalização e análise desses produtos para uso agropecuário, prevendo a
concessão de registro temporário se o prazo não for cumprido. Tal lei foi aprovada
pela Câmara dos deputados em 9 de fevereiro de 2002.
É de conhecimento público que diversas políticas públicas, principalmente
voltadas para a agricultura familiar, sofrem, desde 2016, um processo de
sucateamento para a ascensão do governo Bolsonaro em 2018, mascarado por
ajustes fiscais que favoreciam os setores especulativos da dívida pública e enchiam
os bolsos da bancada ruralista que tomavam todas as decisões. Com a extinção do
MDA, que foi criado a partir de lutas sociais e mobilização popular, perde-se um
importante veículo de oportunidades e iniciativas do fortalecimento da agricultura
familiar e o apoio aos pequenos produtores, sendo acompanhada pela enorme

31
FETAPE. O que perde o Brasil com o fim do MDA. 19/05/2016. Disponível em:
<https://www.fetape.org.br/noticias-detalhe/o-que-perde-o-brasil-com-o-fim-do-mda/5368#.Y3HER3b
MLIU>. Acessado em: 13 nov. 2022
desarticulação da política de desenvolvimento territorial e participação social, como,
por exemplo, dos colegiados territoriais. Vale ressaltar que a Secretaria de
Agricultura Familiar e Cooperativismo (SAF) foi criada em 2 de janeiro de 2019, pelo
Decreto n° 9.667, com a transferência das competências da Secretaria Especial da
Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário (Sead), até então da Casa Civil
da Presidência da República, para o Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA). Salienta-se que em 22 de março de 2019, o secretário do
MAPA deu seu aval para a liberação de investimentos e aquisição de terras por
estrangeiros, afirmando que “não dá para um país considerado do Novo Mundo, com
tantas fronteiras agrícolas ainda virgens, dizer que vai fechar as portas para aqueles
que queiram vir aqui investir”.
Esta tendência pode se ampliar no caso de aprovação do PL 6299/2002,
conhecido como Pacote do Veneno e aprovado em comissão especial na Câmara
dos Deputados em 2018. Este projeto prevê a facilitação das aprovações de novos
agrotóxicos, passando a responsabilidade para o ministério da agricultura.
Com relação ao desmonte do INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária), criado em 1970 e responsável pela formulação e execução da política
fundiária nacional, no governo Bolsonaro houve a redução no número de
assentamentos e políticas de reforma agrária, além do cumprimento da função social
32
da terra definido na última Assembleia Nacional Constituinte, retirando atribuições
históricas do INCRA. Isto se deu com a publicação do Decreto 10.252, em 2020 que
aprova a Estrutura Regimental e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão
e das Funções de Confiança do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
- Incra, e remaneja cargos em comissão e funções de confiança revogado pelo
DECRETO Nº 11.232, DE 10/10/2022, que Aprova a Estrutura Regimental e o
Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão e das Funções de Confiança do
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA e remaneja e
transforma cargos em comissão e funções de confiança. Na 80ª Proposta de
Emenda à Constituição (PEC) de 2019, de autoria do senador Flávio Bolsonaro
(PSL-RJ), de acordo com o Observatório do agronegócio no Brasil, a PEC de
Bolsonaro propõe que apenas um desses pontos passe a ser considerado para dar

32
A função social consiste na utilização da propriedade, urbana ou rural, em consonância com os
objetivos sociais de uma determinada cidade. A função social impõe limites ao direito de
propriedade, para garantir que o exercício deste direito não seja prejudicial ao bem coletivo
à propriedade status de função social. Na prática, uma fazenda produtora de soja
que mantenha trabalhadores escravizados será considerada cumpridora da função
social por apresentar um dos requisitos básicos: ser produtiva. Além da questão
trabalhista, a norma pode causar danos irreversíveis ao meio ambiente. “Os
ruralistas querem colocar o plantio de soja na área toda, na beira do rio, no topo do
morro”, diz Prioste. 33
O INCRA, responsável por fazer essa fiscalização fica sobre um entrave, pois
se tornará quase impossível manter suas diretrizes. Segue abaixo proposta de
emenda:

fonte:
https://deolhonosruralistas.com.br/2019/06/06/flavio-bolsonaro-propoe-emenda-contra-a-funcao-social
-da-terra/

Neste sentido, o governo Bolsonaro promoveu também o desmonte de outro


órgão de vital importância às políticas ambientais. De acordo com o site do Governo
Federal, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (Ibama) é uma autarquia federal dotada de personalidade jurídica de

33
INSTITUTO HUMANITAS UNISINOS. Flávio Bolsonaro propõe emenda contra a função social
da terra. 07/06/2019. Disponível em:
<https://www.ihu.unisinos.br/categorias/589851-flavio-bolsonaro-propoe-emenda-contra-a-funcao-soci
al-da-terra> Acesso em 14 nov. 2022
direito público, autonomia administrativa e financeira, vinculada ao Ministério do
Meio Ambiente (MMA), conforme Art. 2º da Lei nº 7.735, de 22 de fevereiro de 1989.
O Instituto possui papel fundamental na preservação ambiental brasileira uma
vez que é responsável pela fiscalização desde a criação de animais silvestres até
atividades que podem poluir e contaminar o meio ambiente.
Contudo, durante o governo de Jair Bolsonaro (2019-2022), o Ibama sofreu
uma série de ataques, tendo seu potencial drasticamente reduzido. Em abril de
2021, após se comprometer a aumentar o orçamento destinado à fiscalização
ambiental, Bolsonaro publicou veto de R $240 milhões no montante geral dedicado
ao Ministério do Meio Ambiente (MMA), representando R $19,4 milhões a menos no
orçamento do Ibama. As ações promovidas pelo Instituto mais afetadas foram o
controle e fiscalização ambiental, com corte de R $11,6 milhões. Ainda quanto a
2021, no que tange aos gastos discricionários, despesas sobre as quais o gestor
possui maior liberdade de decisão, o ano contou com apenas 57% do valor gasto em
2008.
Conjuntamente, o governo promoveu a diminuição da execução dos
orçamentos socioambientais. Segundo o Portal PlenaMata34 e o Observatório do
Clima, em anos anteriores ao Governo Bolsonaro a execução do orçamento para a
fiscalização variou de 86% a 92%, enquanto, em comparação, no ano de 2020, o
uso da verba ficou restrito a apenas 41% do orçamento. Já em 2021, ano no qual
892 mil hectares localizados em unidades de conservação federais foram destruídos
pelo fogo, cerca de 30% dos recursos destinados à prevenção e controle de
incêndios florestais deixaram de ser utilizados pelo governo.
Além dos cortes orçamentários, o governo de Bolsonaro foi amplamente
criticado no que se refere ao tratamento dado aos servidores do Ibama. Um dos
primeiros atos do presidente após sua posse foi o afastamento de José Augusto
Morelli, servidor público que o multou por pesca irregular em Angra dos Reis (RJ) em
2012. No aniversário de 33 anos do Ibama, Nicélio da Silva, presidente do Asibama,
afirmou, em entrevista ao G1, que: “Nesse governo todo é só perseguição aos

34
CHAVES, Leandro. Bolsonaro cortou orçamento do Ibama, ICMBio e Inpe, órgãos-chave para o
combate ao desmatamento. INFOAMAZONIA. 30/10/2022. Disponível em:
<https://infoamazonia.org/2022/10/25/bolsonaro-cortou-orcamento-do-ibama-icmbio-e-inpe-orgaos-ch
ave-para-combate-ao-desmatamento/> Acesso em 14 nov 2022.
servidores e ações que estão começando a brotar em desastres ecológicos.
Queremos mostrar para a sociedade que estamos aqui a favor do meio ambiente.”35

3.2. Índice de desmatamento

São múltiplos os projetos e estratégias que desmatam, devastam e


contaminam o meio ambiente, sendo eles a pecuária, monocultura, mineração e
garimpo. Todos estes inseridos na lógica do agronegócio. Como bem pontuado
acima a devastação da natureza não é algo exclusivo do (des)governo atual,
contudo, desde o golpeachment de 2016, contra a presidente Dilma Rousseff, os
índices de desmatamento apresentaram uma alarmante crescente, indo contra a
maré do acordo de Paris, preocupando inclusive órgãos internacionais como a ONU.
De acordo com o Deter (Sistema de Detecção de Desmatamentos em Tempo
Real) desenvolvido em 2004 pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) -
que inclusive sofre desmonte pelo atual governo - o desmatamento alcançou índices
recorde nos anos referentes ao exercício de Jair Bolsonaro no poder, sofrendo um
aumento de 68,8%36 em relação aos anos anteriores, média estipulada pelo
Observatório do Clima, uma rede que atua desde 2002.37 Desde a posse de
Bolsonaro, o desmatamento no Brasil atingiu cerca de 42 mil quilômetros quadrados
de matas nativas de todos os biomas, de acordo com a investigação citada.
Além disso, os dados sobre o índice de desmatamento correspondentes ao
governo Bolsonaro também evidenciam o desmonte do Ibama, apresentado no
tópico acima. Uma vez que o Instituto é um dos principais responsáveis pela
fiscalização e autuação de crimes ambientais (entre eles a derrubada ilegal de
árvores), os ataques sofridos por este impactam diretamente a degradação dos
biomas brasileiros, com destaque ao desmate.
De acordo com pesquisadores do Projeto Mapbiomas, o período de 2019 a
2021 se destaca pelos baixos níveis das ações de combate ao desmatamento no

35
ORTIZ, Brenda. No aniversário de 33 anos do Ibama, servidores fazem ato para denunciar
‘desmonte‘ e pedir defesa do instituto. G1, [S. l.], p. SI, 22 fev. 2022. Disponível em:
<https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/2022/02/22/no-aniversario-de-33-anos-do-ibama-servid
ores-fazem-ato-para-denunciar-desmonte-e-pedir-defesa-do-instituto.ghtml>. Acesso em: 13 nov.
2022.
36
OBSERVATÓRIO DO CLIMA. Desmatamento cresce sem controle em 2021.SI. 12/08/2021
Disponível em: Deforestation grows unchecked in 2021. Acesso em: 12 nov. 2022.
37
O Observatório do Clima é uma rede atuante desde 2002 e conta com 66 órgãos não
governamentais e movimentos sociais. Para mais informações acesse: Observatório do Clima.
nível federal. O Ibama, em conjunto ao ICMBio, atingiu apenas, até maio de 2021,
2,4% dos desmatamentos e 10,5% da área desmatada identificada durante tais
anos, apesar do desmatamento ter atingido a maior taxa dos últimos 15 anos.
Outro fator importante à análise desta problemática é a motivação de
tamanha devastação. Ainda segundo dados do Mapbiomas, o maior responsável
pelo desmatamento durante os três primeiros anos da presidência de Bolsonaro é a
agropecuária, em especial, a produção latifundiária de soja e o aumento das áreas
de pastagem. Este cenário se agrava quando se recorda que estas duas atividades
não contribuem para o fim da crise da fome e insegurança alimentar que se instalou
no país durante o mesmo período. Pelo contrário, são grandes responsáveis pela
intensificação da contaminação por agrotóxicos e da violência no campo.
O Fundo Amazônia, iniciativa pioneira criada com objetivo de financiar ações
de redução de emissões provenientes da degradação florestal e do desmatamento,
também sofreu com a política anti-ambiental do governo Bolsonaro. O projeto foi
criado por meio do Decreto 6.527, em 2008, no governo Lula. Desde sua
instauração até 2018, o Fundo injetou mais de R $1 bilhão em 103 projetos de
órgãos públicos e organizações não-governamentais, recursos voltados para ações
de combate ao desmatamento e a incêndios. Apesar dos avanços conquistados
através da iniciativa, a Controladoria Geral da União (CGU), em elaboração de
relatório, aponta que a gestão do Ministério do Meio Ambiente do governo Bolsonaro
colocou em risco a continuidade do Fundo Amazônia, pois extinguiu unilateralmente,
os colegiados que compunham a sua base. O Ministério do Meio Ambiente, entre
2019 e 2021, deixou de apresentar a proposta de recriação do Comitê Orientador do
Fundo Amazônia (COFA) e o Comitê Técnico do Fundo Amazônia (CTFA),
impactando negativamente as políticas de preservação da Amazônia Legal.
Sobre esta série de medidas descritas no relatório da CGU38, a
diretora-executiva da Rede Nacional Pró Unidades de Conservação, Angela
Kuczach, afirmou que estas sintetizam o desmonte do governo federal das políticas
ambientais na região amazônica e revelam um "plano concreto" para impedir que os
projetos financiados pelo fundo avançassem e tivessem uma boa gestão.

38
G1. Relatório da CGU aponta que Ministério do Meio Ambiente colocou em risco continuidade do
Fundo Amazônia, que tem R$ 3,2 bilhões paralisados. Disponível em:
<https://g1.globo.com/meio-ambiente/noticia/2022/06/30/relatorio-da-cgu-aponta-que-ministerio-do-m
eio-ambiente-colocou-em-risco-continuidade-do-fundo-amazonia-que-tem-r-32-bilhoes-paralisados.gh
tml>. Acesso em: 16 nov. 2022.
Simultaneamente à escalada dos índices de desmatamento, o governo
Bolsonaro também é responsável pelo aumento de outras atividades prejudiciais ao
meio ambiente. Em relatório produzido pelos institutos Igarapé, Centro Soberania e
Clima e Fórum Brasileiro de Segurança Pública, aponta-se que a mineração ilegal
aumentou quase 500% em terras indígenas e 300% em unidades de conservação,
impactando profundamente o bem-estar dos povos originários.39

3.3. Intoxicação dos povos originários

O agronegócio não coloca comida na mesa, invés disso reparte o meio


ambiente em troca de capital financeiro estrangeiro, como veremos adiante, e sem
nenhuma preocupação acerca de como se dão os meios para que o
desenvolvimento e progresso se realizem, custando a morte e adoecimento de
diversas populações ribeirinhas, extrativistas, quilombolas, agricultores e
principalmente indígenas.
Uma investigação realizada pelo Repórter Brasil aponta denúncias de
indígenas da etnia Munduruku que sofrem com a contaminação de mercúrio utilizado
nas atividades de garimpo ilegal no Rio Tapajós. A liderança indígena Alessandra
Korap Munduruku anos antes já iniciara seu processo de buscar meios para
investigar a taxa de contaminação das comunidades Munduruku que vivem no Alto e
Médio Vale dos Tapajós, após observar o adoecimento em 2016 do parceiro Cássio
Freire Beda, indigenista que viveu alguns anos no Vale.
As pesquisas feitas em mulheres do Alto Tapajós em 2019 e concluída em
2020, realizada por Jennings (neurologista da Sesai) juntamente com a Universidade
Federal do Oeste do Pará, apontam que 99% dos indígenas examinados (109
moradores) apresentavam níveis de mercúrio no sangue acima do que se é
considerado seguro pela OMS, alguns inclusive com níveis cerca de 15 vezes acima
do considerado seguro (REPÓRTER BRASIL, 2021). Os especialistas apontam os
riscos elevados principalmente porque a pesquisa realizada tinha um recorte de
mulheres em idade fértil. Para se ter um mapeamento que nos ofereça a dimensão
da contaminação a estimativa é que os garimpos ilegais despejam cerca de 7

39
Governança e capacidades institucionais da segurança pública na Amazônia [livro eletrônico] /
coordenação Renato Sérgio de Lima. -- São Paulo : Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2022.
PDF.
milhões de toneladas de rejeitos, a maioria sendo de mercúrio, no Rio Tapajós por
ano, o que acaba infectando os peixes utilizados na culinária Munduruku além de
deixar o Rio inutilizável.40
Os sintomas de infecção por mercúrio são bem sutis especialmente em
adultos, por ser uma contaminação silenciosa, às vezes só percebe-se a gravidade
quando o quadro de contaminação já está muito elevado, causando diversos danos
de saúde, principalmente neurológicos, afetando a mobilidade, a fala e provocando
confusão mental e até casos de depressão, também podendo causar cegueira e
morte. É crítica a situação da contaminação de mulheres visto que a intoxicação por
mercúrio é facilmente passada durante a gestação, sendo assim, a contaminação
pela substância é um caso de saúde pública, afinal a intoxicação das comunidades
Munduruku do Vale dos Tapajós não é um caso isolado, seus parentes Yanomami
sofrem dos mesmos ataques pelo garimpo ilegal na floresta amazônica, como
aponta a reportagem.
Além do adoecimento físico e mental a contaminação de águas gera diversos
prejuízos culturais que desrespeitam a ancestralidade de diversas etnias deixando a
fauna e a flora em estado de “coma”. Como afirma o relatório realizado por
indígenas da etnia Pataxó:

Possuímos relação sagrada com os rios e Txopai, “o pai das águas” (...)
Antes do rompimento, quase que diariamente tomavamos banho de
purificação nas águas do Paraopeba, reverenciando Txopai em um ritual
sagrado de fortalecimento do espírito. No mês de outubro, realizávamos a
Festa das Águas, reunindo os parentes em um dos mais importantes rituais
de nossa cultura, realizado para celebrar a chegada das chuvas e agradecer
ao protetor das águas, Txopai, e a Niamissu (Deus), pela fartura dos
alimentos. Não podemos mais utilizar as águas do Rio Paraopeba para
banho, lazer e cultivos, (...) causando efeitos irreversíveis para reprodução
de nossas práticas na dimensão cosmológica e de bem-viver (AMAZON
WATCH, 2021).41

40
REPÓRTER BRASIL. “As mulheres Munduruku estão envenenadas por mercúrio e temos
provas”, denuncia líder indígena. 19/02/2021. Disponível em: 'As mulheres Munduruku estão
envenenadas por mercúrio e temos provas', denuncia líder indígena. Acesso em: 11 nov.
41
AMAZON WATCH. Relatório Preliminar de Violações de Direitos Humanos do Povo Pataxó
Hã-Hã-Hãe e Pataxó da Aldeia Naô Xohã. Aldeia Naô Xohã: Cacique Arakuã e Vice-Cacique
Sucupira. Agosto/ 2021. n.p. Disponível em: Relatório Preliminar de Violações de Direitos Humanos
do Povo Pataxó Hã-Hã-Hãe e Pataxó da Aldeia Naô Xohã. Acesso em 9 nov. 2022.
Ou seja, a contaminação das águas pelos rejeitos da mineração não causa
apenas malefícios para a saúde física, mas também mental, dos povos originários.
Afinal para a maioria das nações indígenas a natureza ocupa um lugar central em
suas vidas, não como simples recurso, mas como elemento de ancestralidade,
também como sujeito, transcendendo a noção ocidental de natureza como objeto
inanimado. 42

3.4. Avanço das empresas do capital financeiro sobre as terras e águas

A atuação do capital financeiro como conjunto de práticas de incentivo


monetário realizado por grandes corporações internacionais à empresas brasileiras
é um dos pilares que sustentam o desmatamento, poluição de rios, mares, aquíferos
e solos, intoxicação por agrotóxicos de comunidades quilombolas e indígenas além
de, como visto anteriormente, encorajar a prática das grilagens.
Nos últimos anos, especialmente após a posse de Jair Bolsonaro, pudemos
observar o crescimento no interesse de mineradoras e do garimpo ilegal em avançar
sobre territórios indígenas, causando para a população autóctone ainda mais
prejuízos à sua existência e à preservação da natureza. A instrumentalização
institucional para alcançar os fins de interesse neoliberal de exploração da natureza
são notórios através do PL 191/2020.
O PL 191/2020 prevê retirar a autodeterminação de povos indígenas
autorizando que hidrelétricas sejam construídas em seus territórios sem a
autorização das populações que vivem no local, permitindo também o avanço do
garimpo e da mineração, inclusive se constituindo como uma ementa que altera a
Constituição preocupando especialistas que preveem, caso o projeto seja aprovado,
um desmatamento de 160km² da floresta na Amazônia, o que seria equivalente a
área geográfica da Inglaterra, ou oito cidades de São Paulo.

Um projeto que contradiz a Constituição brasileira e o direito


internacionalmente reconhecido à autodeterminação dos povos indígenas
garantido pela Convenção 169 da OIT. Segundo pesquisadores, a
aprovação do PL 191/2020 pode causar a perda de 160 mil km² de floresta

42
KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. p.
10
na Amazônia, área maior que a superfície da Inglaterra (APIB; AMAZON
WATCH, 2022).43

Durante a pandemia do SARSCOV-2, popularmente conhecido como


covid-19, temos não só um, mas diversos exemplos da manipulação do Poder
Público em prol de legitimar a invasão de territórios indígenas, incentivando que haja
mudanças legislativas para desregulamentação do que temos até agora em relação
à questão agrária. Um desses exemplos é o ex-ministro do meio ambiente, que
nunca defendeu a natureza, Ricardo Salles, afirmando que devem se aproveitar da
distração da imprensa com a pandemia para “passar a boiada”, ou seja, aprovar,
modificar e/ou encaminhar o máximo possível de medidas legislativas que buscam
desregulamentar as conquistas históricas desse país, provocando enorme
retrocesso aos direitos dos povos da floresta e à natureza.44
Os prejuízos causados à natureza são intrínsecos à humanidade, como alerta
Krenak, o advento da modernidade mesclado à colonização e aprofundado pelo
capitalismo e a lógica neoliberal buscam separar natureza de cultura, ou seja,
natureza de humanidade e, com isso, procuram meios para extorquir os bens
naturais como se estes fossem recursos e assim explorar a “casta” da humanidade
que ainda se enxerga como parte da natureza.

Enquanto isso, a humanidade vai sendo deslocada de uma maneira tão


absoluta desse organismo que é a terra. Os únicos núcleos que ainda
consideram que precisam ficar agarrados nessa terra são aqueles que
ficaram meio esquecidos pelas bordas do planeta, nas margens dos rios,
nas beiras dos oceanos, na África, na Ásia ou na América Latina. São
caiçaras, índios, quilombolas, aborígenes — a sub-humanidade. Porque tem
uma humanidade, vamos dizer, bacana. E tem uma camada mais bruta,
rústica, orgânica, uma sub-humanidade, uma gente que fica agarrada na
terra. Parece que eles querem comer terra, mamar na terra, dormir deitados
sobre a terra, envoltos na terra. A organicidade dessa gente é uma coisa
que incomoda, tanto que as corporações têm criado cada vez mais

43
APIB. AMAZON WATCH. Cumplicidade na Destruição IV: como mineradoras e investidores
internacionais contribuem para a violação dos direitos indígenas e ameaçam o futuro da Amazônia.
2022. p. 6.
44
ALESSI, GIL. Salles vê “oportunidade” com coronavírus para “passar de boiada” desregulação da
proteção ao meio ambiente. El País, [S. l.], 23 maio de 2020. Disponível em: Salles vê “oportunidade”
com coronavírus para “passar de boiada” desregulação da proteção ao meio ambiente | Atualidade |
EL PAÍS Brasil. Acesso em: 8 nov. 2022.
mecanismos para separar esses filhotes da terra de sua mãe (KRENAK,
2019).45

Proveniente desse pensamento dicotômico que cria-se um imaginário de


exploração em prol do desenvolvimento, identificando os povos da floresta como
malfeitores da nação e como motivo de retrocesso para o desenvolvimentismo e
progresso, instituindo uma guerra sem fim àqueles que dependem da terra para sua
existência, seja física ou cultural, afinal, o território possui outros sentidos para além
do que o Ocidente estigmatizou, sentidos ancestrais inclusive, que não devem, ou
pelo menos não deveriam, ser deslegitimados.
Como bem pontuado acerca de tais prejuízos, a mineração foi identificada
pelo relatório da ONG Global Witness como a atividade que mais mata ativistas no
mundo, demonstrando como além de perigosa e prejudicial para natureza, o risco
também é letal àqueles que lutam e resistem:

Em 2020 revelou que, dos 227 defensores que perderam suas vidas, 17
foram mortos em função de conflitos relacionados à mineração. A
mineração é um dos setores mais letais para ativistas em todo o planeta, ao
lado da extração madeireira, da construção de barragens e do agronegócio.
As comunidades na América Latina são as que mais sofrem, com quase
75% de todos os assassinatos registrados no mundo. O Brasil é o quarto
colocado geral, com 20 mortes em 2020 (GLOBAL WITNESS apud APIB;
AMAZON WATCH, 2022).46

É indispensável a necessidade de identificar os responsáveis pela devastação


da natureza e daqueles que vivem, lutam e resistem junto a ela, para isso iremos
apontar algumas das maiores mineradoras brasileiras e as respectivas corporações
que financiam tal destruição. Sendo elas: a Vale, Anglo American, Belo Sun,
Potássio do Brasil e Grupo Minsur. Estas têm seus principais credores no Norte
Global, sendo assim listamos algumas das principais Instituições Financeiras por
trás do capital financeiro aplicado às empresas ligadas à mineração no Brasil:

45
KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. p.
11-12.
46
APIB. AMAZON WATCH. Cumplicidade na Destruição IV: como mineradoras e investidores
internacionais contribuem para a violação dos direitos indígenas e ameaçam o futuro da Amazônia.
2022. p. 28.
Capital Group (USA), BlackRock (USA) e Vanguard (EAU), além da PREVI e do
banco Bradesco, sendo de profunda importância

ressaltar a participação de instituições financeiras brasileiras na lista dos


cinco maiores financiadores. O fundo de pensão brasileiro PREVI (Caixa de
Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil) é o responsável pelos
mais altos investimentos nestas mineradoras, com mais de USD 7.4 bilhões,
seguido pelo banco Bradesco, com quase USD 4,4 bilhões (APIB; AMAZON
WATCH, 2022).47

As corporações credoras possuem diversas formas de investir


financeiramente em empresas, através de empréstimos, subscrições, ações e títulos.
A APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) juntamente com a Amazon
Watch (ONG sediada em Oakland, Califórnia/EUA) contribuíram nos últimos anos
com relatórios, intitulados como “Cumplicidade na Destruição” onde denunciam o
avanço das empresas do capital financeiro sobre a natureza no Brasil, com destaque
à floresta amazônica, constantemente ameaçada nacional e internacionalmente. Por
isso, utilizaremos de alguns gráficos e tabelas organizados pelos mesmos a fim de
aprimorar e acessibilizar o entendimento.48 A começar pela tabela 1, em que são
apontados os 5 principais credores e investidores citados acima.
TABELA 1 - TOP 5 FINANCIADORES DE MINERADORAS

Fonte: Profundo Research and Advice. Complicity in Destruction IV - Financial Links. Nov. 2021.

47
Ibid. p. 59.
48
APIB. AMAZON WATCH. Cumplicidade na Destruição IV: como mineradoras e investidores
internacionais contribuem para a violação dos direitos indígenas e ameaçam o futuro da Amazônia.
2022. p. 60-67.
TABELA 2 - VALOR DE EMPRÉSTIMOS E SUBSCRIÇÕES RECEBIDOS POR
MINERADORAS

Fonte: Profundo Research and Advice. Complicity in Destruction IV - Financial Links. Nov. 2021.
TABELA 3 - VALOR DOS INVESTIMENTOS EM TÍTULOS E AÇÕES

Fonte: Profundo Research and Advice. Complicity in Destruction IV - Financial Links. Nov. 2021.

TABELA 4 - 20 MAIORES CREDORES DE EMPRÉSTIMOS E SUBSCRIÇÕES À


MINERADORAS

Fonte: Profundo Research and Advice. Complicity in Destruction IV - Financial Links. Nov. 2021.
TABELA 5 - AS 20 MAIORES INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS QUE CONTRIBUEM
PARA EMPRÉSTIMOS À MINERADORAS.

Fonte: Profundo Research and Advice. Complicity in Destruction IV - Financial Links. Nov. 2021.
TABELA 6 - AS 20 MAIORES INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS QUE CONTRIBUEM
PARA SUBSCRIÇÕES À MINERADORAS.

Fonte: Profundo Research and Advice. Complicity in Destruction IV - Financial Links. Nov. 2021.
TABELA 7 - PRINCIPAIS DETENTORES DE AÇÕES DE MINERADORAS

Fonte: Profundo Research and Advice. Complicity in Destruction IV - Financial Links. Nov. 2021.
TABELA 8 - PRINCIPAIS DETENTORES DE TÍTULOS DE MINERADORAS

Fonte: Profundo Research and Advice. Complicity in Destruction IV - Financial Links. Nov. 2021.
TABELA 9 - 20 MAIORES INVESTIDORES EM AÇÕES E TÍTULOS ÀS
MINERADORAS

Fonte: Profundo Research and Advice. Complicity in Destruction IV - Financial Links. Nov. 2021.

Como demonstrado os valores exorbitantes recebidos por empresas que não


só destroem a natureza, mas também tudo que se identifique como parte dela, ou
seja, todos grupos sociais humanos que resistem à perda de seu vínculo com a
natureza e rejeitam uma forma de organização que se constitui através do exercício
de poder do capital que precifica a natureza como simples recurso e objetifica
sujeitos que não querem se adequar a esta organização que é o capitalismo. Nos
atentamos aos exemplos de investimentos de capital financeiro às mineradoras, mas
estas não são um caso isolado, a pecuária, extração madeireira e monoculturas, o
advento do agronegócio no geral é uma rede complexa e interligada a diversos
meios de exploração do meio ambiente, financiados por capital financeiro nacional e
internacional.
Dessa forma não só o capital nacional é responsável por essa política de
extinção, sendo realmente uma cumplicidade para se destruir a natureza, por isso as
estratégias de luta precisam superar tal advento da globalização, freando e
combatendo o discurso desenvolvimentista para que não só a natureza ou grupos
marginalizados que sofrem cotidianamente sejam “aliviados”, a pauta do que
chamam de Antropoceno, mas que poderia ser lido como Capitaloceno,49 é uma
causa que compete a todos indivíduos, ou pelo menos deveria. Em combate ao
capitalismo, ao colonialismo, à renda concentrada nas mãos de milionários e
bilionários. Em prol de uma reforma agrária que revolucione a política de terras no
Brasil, combatendo corrupções como são a grilagem e afins.
Para evitar novos crimes ambientais como Mariana e Brumadinho que
acontecem cotidianamente, mas que só tomam forma quando viram manchete de
tragédias, que não são desastres e sim projetos, em respeito aos males já causados
e com esperança de construir um mundo mais comunitário, deixamos tais palavras:

Eu fico imaginando depois que acabar tudo, o barulho, e vier o silêncio (...)
Porque agora tem movimento. Movimenta daqui, movimento dali. Mas na
hora que o silêncio vier, ai que vai ser duro. Na hora que se der conta dos
estragos que fizeram por aí. Todo lado que você andar pela região, você vai
ver marca de alguma coisa. Toda hora você vai estar lembrando. O
problema vai ser quando vier o silêncio (TROCATE; COELHO, 2020).50

Assim como disse Cleiton Cândido da Silva, morador da comunidade do


Córrego do Feijão: que a vida não caia no esquecimento e que as mortes não sejam
apenas mais números, que o silêncio não marque sua presença, pois a memória e a
luta é a nossa maior arma contra àqueles que buscam nos destruir assim como o
fazem com a natureza. Não nos enganemos.

4. Apoio à agricultura familiar e à reforma agrária

49
O conceito Antropoceno foi desenvolvido durante o século XX por Paul Crutzen e Eugene F. Stomer
para identificar uma era geológica em que os humanos deixam sua pegada de destruição pelo
planeta,a única era geológica constituída a partir do homem, já Jason W. Moore conceitua
Capitaloceno através da recusa da proposição do capitalismo como sistema econômico e social, ao
invés disso o autor o entende como uma forma de organização e de exercício do poder do capital
sobre a natureza. Portanto, Capitaloceno seria referente ao padrão histórico do advento da
modernidade enquanto “Era do Capital”. Em oposição a uma leitura ocidental e antropocênica,
desresponsabilizando a humanidade, afinal o homem cria o capitalismo, mas nem todos podem ser
responsabilizados por deixar um rastro de destruição pelo planeta conscientemente.
MOORE, Jason W. (org.). Antropoceno ou Capitaloceno?: Natureza, história e a crise do
capitalismo. São Paulo: Elefante, 2022. p. 20-21.
50
TROCATE, Charles; COELHO, Tádzio. Quando vier o silêncio: o problema mineral brasileiro. São
Paulo: Expressão Popular. 2020. p. 21-22.
Pode-se dizer que com relação ao apoio aos pequenos agricultores e à
reforma agrária, o governo Bolsonaro quase que esvazia o fomento à agricultura
familiar, quase zera a criação de assentamentos, ao passo que se esforça em
renovar documentos provisórios de titulação de territórios criados em governos
passados. Em entrevista, o presidente afirma que foram entregues cerca de 400 mil
títulos de terra para agricultores “para pacificar o campo” (referenciar)
Todavia, a realidade mostra-se outra: 370 mil títulos foram contabilizados pelo
Sistema de Informações de Projetos de Reforma Agrária (Sipra), do próprio governo
federal. Destes, 88% não são títulos definitivos, mas sim, provisórios. Entende-se
que existem 2 tipos de títulos para beneficiários da reforma agrária: o Título de
Domínio (TD), o qual dá a propriedade da terra ao assentado, que pagará por ela
após sua posse e poderá vender posteriormente, e a Concessão de Direito de
Real de Uso (CDRU), pelo qual possibilita o uso gratuito e direito definitivo do uso
dela pela família, mas a terra continua propriedade do Estado.
Já os Contratos de Concessão de Uso (CCU), que correspondem aos 88%
supracitados, não são necessariamente concessão de territórios, uma vez que
apenas informam que existe um vínculo da família camponesa com o Incra.
Considera-se que a CCU é uma espécie de RG dos assentados, um documento
administrativo, mas que não tem nenhum valor em cartório e, portanto, não é um
título definitivo (referenciar). Dessa forma, o governo Bolsonaro encarregou-se de
renovar os documentos registrados no Incra em governos anteriores, contabilizando,
assim, 9.228 pessoas que alcançaram essa condição durante a gestão atual, dentre
cerca de 1,3 milhão de famílias assentadas hoje no país. (referenciar)
É importante ressaltar, além dos pontos já citados, que essa regularização
fundiária do governo atual prevê critérios que, além de não garantirem territórios aos
assentados, dificultam o acesso destes às terras, pois se estendem ao cônjuge
companheiro: ambos devem ser brasileiros natos ou naturalizados, não proprietários
de imóveis rurais e usufruir efetivamente do imóvel. Além desses requisitos, estão a
comprovação da ocupação e uso da terra de forma pacífica anterior a 22 de julho de
2008. Também é necessário apresentar a inscrição no Cadastro Ambiental Rural
(CAR).
Esse processo de regularização fundiária é a chamada reforma agrária de
mercado, a qual teve seu início com o Governo Temer. Antes dele, a lei previa que
os títulos definitivos só poderiam ser entregues pelo Incra aos assentados na
medida em que o governo garantisse anteriormente políticas de fomento que
dessem àquele território autonomia produtiva, isto é, infraestrutura, educação,
saneamento básico, acesso à crédito, assistência técnica, entre outras políticas.
Essa organização impedia que as terras voltassem rápido ao mercado e gerassem
reconcentração fundiária.
Todavia, em 2016, Michel Temer aprovou a Lei 13.465, que deu ao governo o
prazo de 15 anos depois da criação do assentamento para implementar essas
políticas estruturantes. Isso formou ao governo Bolsonaro o ambiente propício para
a entrega massiva de documentos de titulação, ao mesmo tempo em que paralisou
as políticas de fomento à reforma agrária, resultando em reduções orçamentárias no
INCRA, diminuição do número de seus servidores, suspensão de vistorias e uma
maior desistência de desapropriações. O Incra então se tornou um grande balcão de
negócios: a reforma agrária de mercado incentiva os representantes de empresas a
conhecerem as terras tituladas para que arrendem e futuramente comprem as terras
dos assentados que não conseguiram produzir. Percebe-se, pois, que o
endividamento das famílias agricultoras interessa aos grandes bancos, tradings e
latifundiários.
Em relação à reforma agrária, é importante pontuar que apesar de alguns
governos terem aprovado políticas que auxiliam o processo, como por exemplo o
Plano Nacional de Reforma Agrária, sem a organização política dos “sem-terras” a
discussão sobre a reforma agrária não teria se desenvolvido51.
Pois como aponta João Pedro Stédile, militante do MST, em uma entrevista52,
a Reforma Agrária no Brasil significa resolver o complexo problema agrário que
existe na sociedade, frutos dos mecanismos da colonização. De maneira
simplificada, esta reforma levaria à dissolução dos latifúndios e a desapropriação
das grandes propriedades de terras improdutivas.
A má divisão de terras é problematizada pelo autor Caio Prado Júnior, onde
ele informa:

51
SABOURIN, Eric. Reforma agrária no Brasil: considerações sobre os debates atuais. Estudos
Sociedade e Agricultura, vol. 16, núm. 2, outubro, 2008, pp. 151-184 <
https://www.redalyc.org/pdf/5999/599964694001.pdf >. Acesso em 10 Novembro de 2022.
52
STÉDILE, João Pedro. Reforma agrária e o MST. Crítica Marxista, São Paulo, Xamã, v.1, n.5,
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Acesso em 10 de Novembro de 2022.
Acima de 30 milhões de brasileiros, ou seja mais da metade da população
do País, dependem necessariamente para o seu sustento - uma vez que
não lhes é dada outra alternativa, nem ela é possível nas atuais condições
do País - da utilização da terra. Doutro lado, por força da grande
concentração da propriedade fundiária que caracteriza a economia agrária
brasileira, bem como das demais circunstâncias econômicas, sociais e
políticas que direta ou indiretamente derivam de tal concentração, a
utilização da terra se faz predominantemente e de maneira acentuada, em
benefício de uma reduzida minoria (PRADO JR., 1979).53

Como é apresentado acima, mais da metade da população necessitam das


terras para sobreviver, mas esses espaços estão concentrados na mão de uma
pequena minoria. O autor também defende que esta concentração de terra coloca
milhares de pessoas em uma situação de miséria.
Para demonstrar com dados a sua tese, Júnior utiliza o recenseamento de
1950 que juntamente com a Comissão Nacional de Política Agrária, pontua que os
pequenos e médios produtores que juntos representam 91% do total, ocupam
apenas 25% da área recenseada. Enquanto os grandes produtores, que são apenas
9%, ocupam 75% da área. Dessa forma, deixa nítido uma das desigualdades deste
país.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

À luz da gestão das políticas públicas durante o governo de Jair Bolsonaro,


este dossiê fez possível uma análise e queixa da desestruturação promovida
durante o corrente mandato presidencial no que diz respeito à agricultura familiar e à
reforma agrária, e, consequentemente, à soberania alimentar da população
brasileira e às políticas de preservação ambiental e de garantia dos direitos dos
povos originários.
Para além disso, ao analisar a política agrária como um todo ao longo do
governo Bolsonaro, conclui-se que houve, sobretudo, um desmonte de direitos
garantidos constitucionalmente por meio de revogações, decretos, portarias, projetos
de leis e emendas constitucionais.
Desse modo, ao expor o sucateamento das políticas públicas previstas por
programas em prol das causas e dos direitos do campo, o dossiê escancara
tamanha priorização que o atual governo confere ao agronegócio, o que, não

53
Prado Júnior, Caio. A questão agrária no Brasil. Brasiliense, 1979. p. 15-17
obstante, está diretamente relacionado a volta do Brasil para a linha do mapa da
fome. Isto ocorre uma vez que, ao exclusivamente incentivar o agronegócio, há o
negligenciamento da agricultura familiar, esta que é responsável por alimentar, em
grande proporção, os brasileiros.
Sintomático, também, da desestruturação da Reforma Agrária orquestrada
pelo atual presidente são os frequentes ataques aos grupos que lutam por terra e
pelos direitos no campo, como o MST, frequentemente alvo de calúnias realizadas
pelo presidente da República.
Portanto, observa-se que, em consequência do fortalecimento do
neoliberalismo e do seu discurso nos últimos anos, houve o retrocesso das
conquistas da luta socioambiental e da política agrária no Brasil, intensificado no
governo atual. Isso se evidencia, como abordado pelo dossiê, através do desmonte
das políticas públicas referentes à Reforma Agrária e que garantem os direitos e
proteção dos pequenos produtores rurais e suas atividades, fruto da luta camponesa
brasileira.

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a título oneroso, assim para empresas particulares, como para o estabelecimento de
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