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O tempo histórico é a irreversibilidade dos acontecimentos sociais [...] (Heller, 1992, p.3)
1 Doutora em Saúde Coletiva, Professora Associada III do Instituto de Saúde Coletiva – UFMT.
2 Doutora em Saúde Coletiva. Professora Associada do Instituto de Saúde Coletiva – UFMT.
S
Sumário
A dimensão social do processo saúde doença como resultante do
processo produtivo e da posição de classe, produzindo e reproduzindo
doenças, leva a um posicionamento político em relação às mudanças
sociais e à busca da equidade em saúde.
No plano científico, o campo intelectual da Saúde Coletiva é revestido
da busca do poder simbólico pelo conhecimento, atravessado por posições de
grupos lotados em Universidades tradicionais de formação, como Faculdade
de Saúde Pública - Universidade de São Paulo (FSP-USP); Escola Nacional
de Saúde Pública - Fiocruz (ENSP-FIOCRUZ); Universidade de Campinas
(UNICAMP); Universidades Federais do Rio Grande do Sul e da Bahia e
outras, que tiveram programas de pós-graduação stricto sensu na modalidade
doutorado como motor da produção científica e foram formadoras dos
quadros de doutores do Instituto de Saúde Coletiva da UFMT.
A intelectualidade de esquerda, tomada aqui no sentido atribuído por Sader
(1995), ou seja, pessoas que se posicionam contra a desigualdade social, encontram
na construção do campo de atuação da Saúde Coletiva canais de possibilidades
concretas de militância para as mudanças sociais em prol da equidade em saúde.
O milagre econômico brasileiro, na década de 1970, resultou numa
agudização da desigualdade e iniquidade social em saúde, levando a
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sociedade civil a se organizar em diversos movimentos reivindicatórios.
O movimento da reforma sanitária nasce nesse contexto, tendo o Centro
Brasileiro de Estudos da Saúde (CEBES) e posteriormente a Associação
Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (ABRASCO) como seus
principais articuladores nacionais (NUNES, 1994).
O processo de redemocratização da sociedade brasileira, após a ditadura
militar (1964-1984), trouxe esperança para os grupos de esquerda no processo
de interferência nos rumos da Política Nacional de Saúde, institucionalizadas
na Constituição Federal de 1988, ao estabelecer a Saúde como Direito de
todos e dever do Estado, numa perspectiva social-democrática (TEIXEIRA,
1989; BRASIL, 1988).
No período militar, em que pese à organização social urbana com os
principais grupos de resistência à ditadura militar e de apoio à redemocratização
do país, ao governo importava desbravar e ocupar as terras rumo à Amazônia
brasileira, sendo o Centro Oeste e o estado de Mato Grosso considerados
estratégicos nesta jornada nacionalista.
Os Planos e Programas governamentais induziram a um movimento
interno de redistribuição da população pelo território desde a década de
1930, intensificado na década de 1970, pelos projetos de colonização
privada ou pública governamental. Nessa perspectiva, foram criados o
3 A Medicina Preventiva e Social adotou a História Natural da Doença como forma de compreender e
de intervir sobre as doenças infecciosas. O foco dessa abordagem se restringia aos aspectos biológicos
da doença, do individuo e do ambiente. Não considerava, na analise, as dimensões sociais, culturais e
econômicas que envolvem os processos de saúde e de adoecimento.
4 Centro Brasileiro de Estudos de Saúde, criado em 1976, na 32º Reunião Anual da Sociedade Brasileira para
o Progresso da Ciência, visando a democratização e reconstrução do pensamento em saúde (PAIM, 2008).
Referências
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