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As circunstâncias da institucionalização da Saúde Coletiva na

Universidade Federal de Mato Grosso - 20 anos do ISC/UFMT


Marta Gislene Pignatti 1
Maria Angélica dos Santos Spinelli 2

O tempo histórico é a irreversibilidade dos acontecimentos sociais [...] (Heller, 1992, p.3)

Este ensaio procura resgatar a circunstância histórica da institucio-


nalização da Saúde Coletiva na Universidade Federal de Mato Grosso,
entendendo circunstância como “unidade de forças produtivas, estrutura
social e formas de pensamento, ou seja, um complexo que contém inúme-
ras posições teleológicas, a resultante objetiva de tais posições teleológicas”
(HELLER, 1992) é filosoficamente o conjunto das especulações que se
aplicam às noções de finalidade e às causas finais.
A Saúde Coletiva, considerada como um campo interdisciplinar do
conhecimento e de práticas (PAIM; ALMEIDA FILHO, 1998), traz, no
seu bojo, a necessidade de pensar saúde como um processo biológico e
social, que compõe visões e abordagens múltiplas e complementares para 33
desvendar a realidade dos fenômenos. Tarefa árdua para a construção de
um pensamento integrado e complexo aproximando-se dos nexos entre
natureza e sociedade, entre posições teleológicas e ações objetivas concretas.
Neste sentido, o corpus de pesquisadores, constituído no interior do
campo ideológico de esquerda sofreu as influências do campo intelectual
do grupo de agentes que o produziu (BOURDIEU, 2007).
Assim, a tessitura do campo intelectual em Saúde Coletiva comporta
relações e incorporação de diversas ideologias, de perspectivas políticas,
de pesquisa e de intervenção social na saúde, dada pelas incorporações de
várias correntes de pensamento, cuja hegemonia na década de 1970 foi
originária da corrente marxista latino-americana (GARCIA, 1983).

1 Doutora em Saúde Coletiva, Professora Associada III do Instituto de Saúde Coletiva – UFMT.
2 Doutora em Saúde Coletiva. Professora Associada do Instituto de Saúde Coletiva – UFMT.

S
Sumário
A dimensão social do processo saúde doença como resultante do
processo produtivo e da posição de classe, produzindo e reproduzindo
doenças, leva a um posicionamento político em relação às mudanças
sociais e à busca da equidade em saúde.
No plano científico, o campo intelectual da Saúde Coletiva é revestido
da busca do poder simbólico pelo conhecimento, atravessado por posições de
grupos lotados em Universidades tradicionais de formação, como Faculdade
de Saúde Pública - Universidade de São Paulo (FSP-USP); Escola Nacional
de Saúde Pública - Fiocruz (ENSP-FIOCRUZ); Universidade de Campinas
(UNICAMP); Universidades Federais do Rio Grande do Sul e da Bahia e
outras, que tiveram programas de pós-graduação stricto sensu na modalidade
doutorado como motor da produção científica e foram formadoras dos
quadros de doutores do Instituto de Saúde Coletiva da UFMT.
A intelectualidade de esquerda, tomada aqui no sentido atribuído por Sader
(1995), ou seja, pessoas que se posicionam contra a desigualdade social, encontram
na construção do campo de atuação da Saúde Coletiva canais de possibilidades
concretas de militância para as mudanças sociais em prol da equidade em saúde.
O milagre econômico brasileiro, na década de 1970, resultou numa
agudização da desigualdade e iniquidade social em saúde, levando a
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sociedade civil a se organizar em diversos movimentos reivindicatórios.
O movimento da reforma sanitária nasce nesse contexto, tendo o Centro
Brasileiro de Estudos da Saúde (CEBES) e posteriormente a Associação
Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (ABRASCO) como seus
principais articuladores nacionais (NUNES, 1994).
O processo de redemocratização da sociedade brasileira, após a ditadura
militar (1964-1984), trouxe esperança para os grupos de esquerda no processo
de interferência nos rumos da Política Nacional de Saúde, institucionalizadas
na Constituição Federal de 1988, ao estabelecer a Saúde como Direito de
todos e dever do Estado, numa perspectiva social-democrática (TEIXEIRA,
1989; BRASIL, 1988).
No período militar, em que pese à organização social urbana com os
principais grupos de resistência à ditadura militar e de apoio à redemocratização
do país, ao governo importava desbravar e ocupar as terras rumo à Amazônia
brasileira, sendo o Centro Oeste e o estado de Mato Grosso considerados
estratégicos nesta jornada nacionalista.
Os Planos e Programas governamentais induziram a um movimento
interno de redistribuição da população pelo território desde a década de
1930, intensificado na década de 1970, pelos projetos de colonização
privada ou pública governamental. Nessa perspectiva, foram criados o

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Sumário
Instituto Nacional de Reforma Agrária (INCRA), os Planos de Integração
Nacional, os polos de colonização: Poloamazônia e Polonoroeste e
construídas as Rodovias Transamazônica, Cuiabá-Santarém e Perimetral
Norte (FIGUEIREDO, 1993).
O Polonoroeste (Programa para Desenvolvimento Integrado do Noroeste) foi
iniciado em 1981, abrangendo Rondônia e parte de Mato Grosso, o que totalizava
uma área de 410.000 km2. Além da pavimentação da BR 364, esse programa
tinha como objetivo beneficiar cerca de 30.000 famílias que já haviam colonizado
o noroeste do país e criar condições para assentar outras 15.000. Captou recursos
do Banco Mundial, que condicionou o empréstimo ao cumprimento de metas
sociais e ecológicas, como reorganização fundiária e proteção ao meio ambiente e
às comunidades indígenas (FIGUEIREDO, 1993).
As possibilidades de “enriquecimento rápido”, advindas da doação de
terras e da exploração das riquezas minerais (ouro em aluvião), trouxeram
para o território de Mato Grosso os excluídos urbanos: pequenos proprietários
do Sul e Sudeste e os nordestinos fugidos da seca para aqui se tornarem os
“amansadores da terra”. Fossem aventureiros, fossem empresas colonizadoras
estatais e privadas que, no ímpeto da exploração dos recursos naturais e
a garantia de sobrevivência, depararam-se com a explosão de doenças,
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principalmente a malária e com a ausência de serviços de saúde no interior do
estado (MORENO, 2007; MEIRELLES, 1984).
A Universidade Federal de Mato Grosso, criada na década de 1970, fez parte
da jornada nacionalista e expansão da fronteira econômica para contribuir com
o “desenvolvimento socioeconômico e cultural da região” (BRASIL, 1970).
Assim, no processo de institucionalização, a criação da UFMT inseriu-se nesse
momento de universalidade, tendo por conteúdo os sistemas de normas que
orientam a socialização e a ideologia e, conforme Lourau (1996), o instituído.
A ordem institucional foi realizada de forma gradativa e a UFMT inicialmente
reconhecida como Universidade da Selva, atingiu importante significado para
a formação de mão de obra de nível superior e passou a ser referência regional
em ensino, pesquisa e extensão. Foi na expansão de cursos de graduação e pós-
graduação lato e stricto sensu, onde se inseriu o embrião da Saúde Coletiva e
posteriormente o Instituto de Saúde Coletiva (UFMT, 1985).
Alguns aspectos da particularidade da institucionalização da Saúde Coletiva
no âmbito da Universidade Federal de Mato Grosso, tomando o momento como
“instituinte” em suas diversas manifestações, ou seja, como campo de conhecimento,
movimento social e práticas inseridas na realidade regional, contextualizados de
maneira geral nas circunstâncias econômicas e políticas do Estado de Mato Grosso
serão abordados neste ensaio de forma cronológica por décadas.

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A institucionalização da Saúde Coletiva enquanto campo interdisciplinar
de conhecimento, movimento social e práticas na UFMT

Saúde Coletiva na década de 1980

No contexto da Universidade Federal de Mato Grosso, o embrião do


Instituto de Saúde Coletiva foi o Núcleo de Desenvolvimento em Saúde (NDS),
aninhado no âmbito do então Centro de Ciências Biológicas e da Saúde. O NDS
reunia professores dos Departamentos de Medicina, Enfermagem e Nutrição
que tiveram papel importante na formação de especialistas em Saúde Pública
em seus 11 cursos oferecidos até 1992, em parceria com a ENSP-FIOCRUZ.
A institucionalização formal do Núcleo ocorreu em 1984, após o
desenvolvimento do projeto de pesquisa interdisciplinar na área da saúde
denominado “Diagnóstico de Saúde e Epidemiologia das Principais Doenças
do Polonoroeste – MT (CNPq-UFMT – SES/MT). Do ponto de vista do
campo de conhecimento interdisciplinar, o Projeto Polonoroeste tornou-se o
espaço agregador de docentes estudantes de diversos Departamentos da UFMT
e possibilitou o diálogo mais estreito com outras Universidades do país (USP,
36 UNICAMP, UNB, UFPel, UFR).
O desenvolvimento da pesquisa e a realização de seminários temáticos com
participantes da UFMT e das Universidades acima citadas fizeram dessas experiências
um momento efervescente de produção e debate do conhecimento sobre a realidade
mato-grossense e seus ecossistemas: pantanal, cerrado e floresta amazônica. A
formação através da integração teoria e prática e a produção de monografias
de estudantes e bolsistas dos cursos de especialização permitiu que muitos deles,
posteriormente, ingressassem na UFMT, como docentes ou técnicos.
Destaca-se, também, neste seu primeiro período de institucionalização, a
articulação do NDS com o movimento sanitário nacional, principalmente no
tocante à assessoria na elaboração da Constituição Estadual e de Leis Orgânicas
Municipais (MEIRELLES, 1984), e a sua contribuição para a sociedade mato-
grossense. Isso porque para além dos cursos de formação de sanitaristas, três dos
docentes participantes do NDS foram atuar através de mandatos eletivos de vereador
e deputado e no exercício executivo, da Secretaria Municipal de Saúde de Cuiabá.
Salienta-se, ainda, nessa década de 1980, o papel articulador do professor
Severino Márcio Pereira Meirelles (in memoriam), um dos poucos doutores na
área de Saúde Pública à época, responsável pela disciplina Saúde da Comunidade
do Departamento da Medicina da UFMT, que atuou como Coordenador
do Polonoroeste e posteriormente do NDS e, também, como idealizador do
programa de pós-graduação stricto sensu em Saúde e Ambiente.

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Sumário
A formação profissional no campo da Saúde Coletiva ocorria basicamente
sob duas modalidades: por meio de disciplinas inseridas nos currículos de
diversos cursos da área de Saúde e áreas correlatas como Medicina, Enfermagem,
Nutrição e Engenharia Sanitária e, em um sentido mais pleno, no âmbito da
pós-graduação, principalmente do lato sensu.
A experiência em ensino, serviço e pesquisa em Saúde Pública foi
compartilhada no Centro de Saúde Escola do Bairro Grande Terceiro em
Cuiabá. Este modelo de trabalho também utilizado pela Faculdade de Saúde
Pública da Universidade de São Paulo, teve a influência da forma de organização
dos serviços de saúde, da escola norte-americana de formação médica.
O Centro de Saúde Escola (CSE) foi criado em 1982, para atender as
práticas de Saúde Pública dos cursos de Medicina, Enfermagem e Nutrição e
Serviço Social e gerenciado inicialmente por médicos sanitaristas, então lotados
no Departamento de Medicina da UFMT. Aquelas práticas concentravam-se na
assistência médica na área de clínica geral, ginecologia e pediatria, que basicamente
atendia a população através dos Programas como Atenção à Saúde Integral da
Mulher, Atenção à Saúde da Criança e do Adolescente, Atenção à Saúde do Idoso,
numa perspectiva interdisciplinar e na promoção e prevenção à saúde.
Do trabalho com idosos originou o primeiro grupo de terceira idade
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em Cuiabá, que atuou na Constituinte Estadual de 1989, ao elaborar um
documento de Proteção ao Idoso. Destaca-se, também, a participação dos
grupos organizados da comunidade na gestão do CSE, modelo este adotado
posteriormente pelos serviços de saúde municipais (UFMT, 1992).
Estrategicamente também foram estruturados, no âmbito das práticas em Saúde
Pública/Coletiva, os Internatos Rurais de Saúde em municípios do interior do
estado, com atuação em áreas urbanas e rurais. Os Internatos foram desenvolvidos,
inicialmente, com os estudantes de medicina e enfermagem, na perspectiva de
contribuir com a interiorização dos futuros profissionais de saúde. Os docentes
atuaram como assessores nas Secretarias Municipais de Saúde quando estas faziam a
implementação de sistemas e de serviços de saúde em seus municípios.
Com a reestruturação administrativa da Universidade Federal de Mato Grosso e
a criação do Instituto de Saúde Coletiva, em 1992, os profissionais da área de Saúde
Pública ligados ao ensino médico, de enfermagem e de nutrição migraram para
o recém-criado Departamento de Saúde Coletiva. O DSC, o NDS, o Centro de
Saúde Escola e a coordenação de programas de pós-graduação, juntos, compuseram
a estrutura formal inicial do Instituto de Saúde Coletiva. Sua Congregação contava
com a participação dos movimentos sociais na área da saúde.
Salienta-se que, ao final desse período, houve investimento institucional
para a formação e capacitação do quadro docente em Cursos de Doutorado

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e Mestrado. Dos trinta profissionais que migraram para o Departamento de
Saúde Coletiva, cinco deles estavam afastados para a conclusão do Doutorado
(USP, UNICAMP, dois na ENSP e um no ISC/UFMT), sete possuíam o título
de mestre, sete eram mestrandos (FMUSP, USP-RP, ENSP, UNICAMP, dois no
ISC/UFMT) e 10 eram especialistas (Planejamento, Epidemiologia e Educação
em Saúde). Dois docentes já doutores integraram o Departamento de Saúde
Coletiva: um originário da área de Botânica e outro, da Medicina Comunitária,
que inclusive assumiu a primeira direção do ISC (UFMT, 1992).
No primeiro ano da criação do Instituto foram oferecidos Cursos de
Especialização em Saúde Pública, Saúde e Ambiente e Enfermagem e Medicina do
Trabalho. No entanto, para a institucionalização do Instituto de Saúde Coletiva
como unidade acadêmica era necessária a criação de um curso de formação
stricto sensu, para além dos cursos lato sensu, tradicionalmente oferecidos.
Debates internos foram realizados com a participação de pesquisadores externos,
tendo a perspectiva da incorporação de diversas áreas do conhecimento para além
das tradicionais do campo, necessárias ao pensamento complexo para o estudo dos
fenômenos relacionados à questão ambiental e impactos na Saúde Humana.
A estratégia utilizada e articulada por Meirelles foi a de criar um curso
interdepartamental em Saúde e Ambiente, congregando doutores de diversas
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áreas do conhecimento e atuantes na Universidade Federal de Mato Grosso.

Anos noventa: saúde e ambiente na pós-graduação stricto sensu


Além de intensos conflitos sociais entre grupos indígenas, posseiros, pequenos
proprietários e os grandes latifundiários em Mato Grosso, a expansão dos negócios
capitalistas no campo gerou um intenso processo de urbanização e exploração
dos recursos naturais. Tais condições exacerbaram a exclusão social e provocaram
a poluição provenientes de diversas origens: rios, desmatamentos, queimadas e
capitalização da exploração das riquezas do subsolo de forma predatória (HOGAN
et al., 2000).
As reformas estruturais introduzidas em 1990, com a abertura comercial,
privatização e desregulamentação da economia, impactaram positivamente o
agronegócio. Os impostos à exportação e o controle de preços foram eliminados e
os mercados agrícolas ficaram expostos à competição internacional. A viabilidade
econômica da agricultura de exportação encontrava-se no estabelecimento de uma
infraestrutura de escoamento e armazenagem da produção (BECKER, 2006). Para
Figueiredo (1993), a ocupação capitalista nas regiões de fronteira implicou não só
em mudanças econômicas e sociais, mas também em formas de produção mais
agressivas ao meio ambiente do que aquelas adotadas pelas populações tradicionais.

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Sumário
No cenário internacional, a questão ambiental foi se tornando palco de
intensos debates, desde a retomada de teses neo-malthusianas nos anos 1970,
até a perspectiva sustentabilista nos anos 1990, de subordinar o crescimento
econômico à capacidade de suporte dos ecossistemas naturais, por meio da
polissemia do desenvolvimento sustentável.
O governo brasileiro, então, estabeleceu políticas para minimizar os
efeitos da degradação e poluição ambiental e incluiu, posteriormente,
políticas que contemplavam a relação entre ambiente e saúde humana,
induzidas externamente pelo Banco Mundial e internamente, pela pressão das
organizações da sociedade civil (PIGNATTI, 2005).
O fato de o Brasil sediar a Conferência Mundial sobre Meio Ambiente
(ECO - 92) mobilizou os profissionais de Saúde a ressignificar as abordagens
clássicas em que o ambiente era considerado parte da tríade ecológica das
doenças transmissíveis, tal como incorporado pela Medicina Preventiva e
Social3, sob uma forma a-histórica como denominou Arouca (2003).
O recém-criado Instituto de Saúde Coletiva da UFMT apresentou uma proposta
pioneira no Brasil, o Programa de Mestrado e de Doutorado em Saúde e Ambiente
(1993), concebidos de forma interdisciplinar e interdepartamental. Visou titular e
formar docentes e profissionais atuantes nas áreas de saúde e ambiental. Comunidade
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em geral, de grande importância para o cenário da Amazônia, região esta, na década de
1980, sob intensa pressão política e econômica (PIGNATTI; MARTINS, 1999).
As áreas de concentração do Programa de Pós Graduação em Saúde e
Ambiente estavam relacionadas com as seguintes disciplinas: Etnobotânica,
Epidemiologia e Processo Saúde-Doença, Farmacologia, Química ambiental
e Saúde e Sociedade. Embora sediado no Instituto de Saúde Coletiva e
reconhecidos pela CAPES na área de Saúde Coletiva, o Programa de Pós
Graduação não possuía nos seus quadros de docentes doutores suficientes
oriundos do Departamento de Saúde Coletiva, por isso contou com a parceria
de professores de outras unidades da UFMT e externos, convidados pela área.
Na década de 1990, dos cinco docentes do DSC da UFMT em capacitação
para doutorado, somente um retornou com doutoramento, que foi realizado
no Departamento de Medicina Preventiva e Social da Universidade de
Campinas, UNICAMP-SP (1998), abriu a linha de pesquisa em Políticas de
Saúde e passou a orientar dissertações de mestrado nessa temática.

3 A Medicina Preventiva e Social adotou a História Natural da Doença como forma de compreender e
de intervir sobre as doenças infecciosas. O foco dessa abordagem se restringia aos aspectos biológicos
da doença, do individuo e do ambiente. Não considerava, na analise, as dimensões sociais, culturais e
econômicas que envolvem os processos de saúde e de adoecimento.

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No âmbito de atuação nas ações diretas relacionadas à implantação do SUS em
Mato Grosso, a formação acadêmica de três docentes foi interrompida para serem
cedidos pelo ISC para assunção de cargos de direção superior junto a diferentes
instâncias administrativas do SUS estadual, inclusive a gestão da Secretaria de
Saúde do Estado de Mato Grosso no governo Dante de Oliveira (1995-2002).
Registra-se a tensão entre os interesses da academia, de expansão da pós-
graduação e a condução da política estadual de saúde, nesta fase decisiva para
a implantação do Sistema Único de Saúde em Mato Grosso, marcada pela
disputa por profissionais qualificados. Nesse contexto, ganhou a gestão da
SES por ser capaz de imprimir políticas pioneiras para a definição do SUS
estadual. No âmbito do Instituto, essa situação implicou em docentes cedidos
e no retardamento da abertura de novas linhas de pesquisa na pós-graduação
stricto sensu (UFMT, 1995; DUARTE et al., 2012).
Por iniciativa da Associação de Universidades da Amazônia (UNAMAZ) e do
International Development Research Center (IDRC) do Canadá foi desenvolvido
um projeto sobre a “Avaliação de impactos sobre a saúde e ambiente na Amazônia”.
Com participação de pesquisadores vinculados ao Curso, esse projeto resultou,
em 1992, na formulação de um Programa Regional que tinha por objetivo,
estabelecer uma rede entre os oito países do Tratado de Cooperação Amazônica
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(TCA) para contribuir com o estudo e a prevenção dos impactos negativos na
Saúde e no Ambiente das populações amazônicas, mediante a formação de
pesquisadores e profissionais nessa temática e cooperação científico-tecnológica
entre os membros (PIGNATTI; MARTINS, 1999).
A inclusão do Instituto de Saúde Coletiva – como um Centro Nacional
de Referência no Brasil – propiciou não só intercâmbios do ISC com
instituições canadenses, mas também a oferta pelo referido Instituto de
diversos cursos de capacitação, especialização em Avaliação de Impacto em
Saúde e Ambiente e a organização de três Simpósios sobre Saúde e Ambiente
na Região Amazônica (1996, 1998, 2000).
A produção de pesquisas oriundas das dissertações e teses dos cursos de
especialização e mestrado do ISC/UFMT foi publicada na revista “Saúde e
Ambiente”, organizada e editada pelo Instituto de Saúde Coletiva, que priorizava
artigos temáticos sobre os efeitos ambientais da queimada, da contaminação por
mercúrio e agrotóxicos, entre outros, na saúde humana (UFMT, 2000).
Editada no período de 1998 a 2002, essa revista de circulação bimestral,
foi extinta próxima a atingir a pontuação Qualis. Concomitantemente,
aconteceu o descredenciamento do curso de Mestrado do Programa de Pós
Graduação em Saúde e Ambiente, pela CAPES, a mesma instituição de
pesquisa que, paradoxalmente, titulou no período compreendido entre 1993

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Sumário
a 2002, cerca de 130 mestres, dentre estes professores da UFMT. Dos seis
doutorandos matriculados no Programa, quatro concluíram seus estudos
em outras instituições. Os avaliadores da área de Saúde Coletiva da CAPES
alegaram que os cursos oferecidos pelo ISC/UFMT haviam se distanciado do
eixo da Saúde Coletiva, entre outras questões (UFMT, 2001).
No âmbito geral das universidades públicas federais, durante o governo de
Fernando Henrique Cardoso, o MEC restringiu o financiamento direto para o
desenvolvimento de pesquisas e de cursos. Como alternativas frente a tais restrições,
foram criadas o que foi chamado de Fundação de Apoio, para buscar recursos de
fontes públicas e privadas para financiar atividades de ensino e pesquisa. Entre
outras medidas, uma das mais cruéis desse período, foi a de concentrar em Centros
de Excelência do Sul e do Sudeste, os financiamentos às pesquisas. Por articulação
da Associação Nacional dos Docentes do Ensino Superior (ANDES) e outros, esse
projeto foi parcialmente implantado, com continuidade e menor ênfase durante o
governo Lula (ANDES, 2006; D’INCAO, 2001).
A partir de 1990, os Conselhos de Saúde integraram o arcabouço jurídico do
Sistema Único de Saúde (SUS). Os Conselhos são instâncias deliberativas (dos níveis
federal, estadual e municipal de governo), suas atribuições estão definidas em lei e são
compostos por representações governamentais, não-governamentais e de usuários
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do SUS. A representação dos usuários (50%) é paritária aos demais segmentos.
No Estado de Mato Grosso, o Conselho Estadual de Saúde foi estabelecido em
1992, após intensos conflitos entre governantes executivos estaduais, representantes
no poder legislativo, entidades representativas de classes profissionais, usuários e
movimentos populares. No decorrer dessa década, o Conselho Estadual ganhou
força política, enquanto o Conselho Municipal tornava-se dependente da perspectiva
político-ideológica partidária dos Secretários de Saúde (SOARES, 2012). Registram-
se oscilações e conflitos estabelecidos devidos aos interesses das forças políticas.
No âmbito da Reforma do Estado, (1995) visando o ajuste fiscal e o alcance
de maior eficiência das políticas sociais, o governo incentivou a formação de
ONGs (Organizações Não Governamentais), organizações da sociedade civil
com fins públicos, para a execução dos serviços e ou programas sociais, que
depois foram transformadas em OSCIPS (Organização Civil Pública), por
decreto presidencial. Muitas dessas organizações tornaram-se braços do governo
para a execução de suas políticas governamentais (PIGNATTI, 2005).
Os movimentos sociais na área da saúde se institucionalizam. Nessa década, em
Mato Grosso, o Movimento Popular de Saúde (MOPS) ligado à Pastoral da Saúde da
igreja católica e o Grupo de Saúde Popular (GSP), passaram a entidade jurídica, não
governamental, de caráter filantrópico e com a finalidade de realizar ações de assessoria
e de articulação entre serviços de saúde e movimentos sociais (SOARES, 2012).

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Os ideólogos da Reforma Sanitária, lotados no Ministério da Saúde,
passaram a ser executores das políticas de implementação e consolidação do SUS,
por meio das Normas Operacionais Básicas (NOBS) e outras regulamentações
que fortaleceram o processo de municipalização da Saúde (SCATENA;
TANAKA, 2001;). Dos municípios brasileiros, 99% haviam se habilitado em
uma das formas de gestão dos sistemas municipais de saúde, propostas pela
NOB 1996, ao final de 2000 (LEVCOVITZ; LIMA; MACHADO, 2003).
Consequentemente, o Ministério divulgou editais públicos para formação e
capacitação de profissionais de saúde. Foi neste contexto, que o ISC buscou
recursos para a execução de cursos de Especialização em consonância com a
implementação das Políticas de Saúde no Estado de Mato Grosso.
Com o processo de municipalização e descentralização das ações de Saúde no
SUS, as práticas ligadas ao ensino no campo da Saúde Coletiva, em disciplinas
e estágios dos cursos de graduação em Medicina, Enfermagem e Nutrição da
UFMT, que na década anterior, eram realizadas no Centro de Saúde Escola
passaram a serem feitas na rede municipal de Serviços de Saúde.
No final dessa década, o Internato Rural, um estágio realizado pelos
formandos em Medicina, passou a ser realizado em parceria com a Secretaria
de Estado da Saúde e o Consórcio Intermunicipal de Saúde do Teles Pires e
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contribuiu para a construção da Estratégia da Saúde da Família, em Sorriso
(NEVES; SPINELLI, 2008). Mais tarde, os convênios foram celebrados
diretamente com os municípios mato-grossenses (UFMT, 2010b).

Anos dois mil: saúde coletiva na pós-graduação e graduação

O crescimento econômico do Estado de Mato Grosso, decorrente do


modelo exportador de grãos, atinge seu auge na década de 2000 e, no mesmo
nível, a voracidade do agronegócio em diversificar seus investimentos, para
além da concentração fundiária.
No ano de 2010, o estado de Mato Grosso foi apontado pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE, 2010) como o maior produtor de soja (15 milhões
de toneladas) e algodão em pluma (1,1 milhão de toneladas), o segundo maior
produtor de arroz (1,7 milhão de toneladas), o quinto produtor de cana-de-açúcar e
o sétimo de milho, além de responder pelo maior rebanho de corte nacional.
No período compreendido entre 2002 a 2010, no contexto do governo
estadual de Blairo Maggi, um dos maiores produtores individuais de soja da
América Latina, os ruralistas se impuseram em todas as esferas da administração
pública estadual. No caso da Saúde, tomaram assento nos principais cargos

S Saúde, Trabalho e Cidadania em Mato Grosso


Sumário
públicos, os administradores das empresas privadas havendo uma ruptura
no papel da Secretaria de Estado da Saúde, como indutora das políticas de
saúde compromissadas com o SUS e, consequentemente, o esvaziamento do
papel do Conselho Estadual de Saúde. Neste período, não houve expansão
de hospitais públicos, permanecendo a predominância do setor privado na
esfera da assistência hospitalar. Construiu-se assim, um terreno fértil para a
propositura de modelo privado de gestão dos hospitais públicos por meio das
Organizações Sociais (OSs), pelo governo seguinte de Sinval Barbosa (2010-
2014). Em que pese à expansão de equipes de Saúde da Família e Atenção
Básica nos municípios do Estado de Mato Grosso, este programa não tem
conseguido, romper com o modelo biomédico, e não tem alcançado os índices
de resolutividade esperada nessa esfera de atenção.
Na Universidade Federal de Mato Grosso, ganham visibilidade e
importância estratégica os cursos de pós-graduação stricto sensu nas áreas de
agronomia, veterinária e economia, subsidiando em parte o desenvolvimento
de tecnologias para o agronegócio. Na área da Saúde são criados cursos de pós-
graduação sticto sensu em Enfermagem, Nutrição e Ciências da Saúde, sendo
este último nas modalidades de mestrado e doutorado (UFMT, 2012). Neste
contexto, o ISC formula novo projeto de pós-graduação stricto sensu em Saúde
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Coletiva, contemplando as áreas básicas do campo: Epidemiologia, Políticas
e Planejamento em Saúde e Ciências Sociais em Saúde. Os investimentos
na capacitação dos docentes e na área de pesquisa em Saúde e Ambiente
foram reestruturados após alguns anos, em Grupos de pesquisas e linhas de
concentração atendendo a estrutura do novo Curso de Mestrado.
Destaca-se, nessa década (2000-2010), a inserção de pesquisadores do ISC
em projeto interdisciplinar coordenado pela área de Ecologia da UFMT, no
Programa Ecológico de Longa Duração – PELD Pantanal (UFMT/CNPq) no
período de 2003-2011, com o subprojeto 19: Vigilância e Promoção da Saúde
da população do entorno da Reserva Particular do Patrimônio Natural - RPPN
do Serviço da Indústria e Comércio – SESC - Pantanal (PIGNATTI, 2011).
Visando o escoamento da produção agrícola mato-grossense, os planos do
governo Lula (2002-2010) priorizaram a melhoria da estrutura viária na região
produtora. Ao compatibilizar com essa ação do governo, o Edital DECIT/CNPq
induzia a relacionar pesquisa com o mote do desenvolvimento sustentável e
oferecia financiamento de pesquisas com questões relacionadas à Saúde, na área de
influência da BR-163. Esse Edital permitiu a realização de pesquisas mais amplas,
desenvolvidas no período de 2007 a 2009, que contemplaram diversas linhas de
concentração do Mestrado de Saúde do ISC/UFMT e alimentaram três grupos
de pesquisa desse Instituto, a saber: Grupo de nutrição e insegurança alimentar;

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Universidade Federal de Mato Grosso - 20 anos do ISC/UFMT Sumário
Grupo de políticas e avaliação de programas de saúde com ênfase na Atenção
Básica e Grupo de estudos ambientais e Saúde do Trabalhador (UFMT, 2009a).
Com o retorno de professores Doutores ao magistério, outras linhas de pesquisas
foram sendo paulatinamente incorporadas em projetos individuais ou coletivos.
Salienta-se, também, a participação de pesquisadores e docentes do ISC
na execução de Projetos nas áreas de Avaliação e monitoramento de impactos
na saúde e doenças endêmicas na região atingida pela barragem da Usina
Hidrelétrica de Manso (1999 a 2005) e no programa de Assistência à Saúde
Indígena (2003-2008), todos em Convênios com a Fundação Uniselva.
No tocante ao NDS, novas formas de assessoria aos serviços foram sendo
implementadas, através de convênios tríplices: Ministério da Saúde, Instituto de
Saúde Coletiva e Conselho de Secretarias Municipais de Saúde de Mato Grosso
(COSEMS/MT). A Fundação Uniselva vem atuando, até os dias atuais, como
executora financeira. O ISC tem contado com a cooperação de técnicos dos Serviços
estaduais e municipais de saúde, via convênios, na execução dos novos projetos. Por
essa forma, foram desenvolvidos Cursos de Desenvolvimento Gerencial do SUS
(CDG-SUS), seis cursos de Especialização em Gestão de Sistema e de Serviços de
Saúde e um curso de Especialização em Políticas de Saúde (UFMT, 2010b).
A discussão sobre a formação na graduação em Saúde Coletiva começou a ter
44
ressonância interna a partir da participação de docentes em Fóruns Nacionais da
Saúde (BOSI; PAIM, 2010) e da consolidação do Mestrado em Saúde Coletiva.
Nesse processo, a construção de um perfil didático pedagógico foi compreendida
como derivada de vários elementos nos quais se incluíam: a) a necessidade de
articulação entre ensino, realidade social e saúde regional; b) a articulação desse novo
profissional com as demais profissões da área da saúde; e c) a interdisciplinaridade,
como mediadora na intervenção dos problemas de saúde das populações em suas
realidades sociais e econômicas, pautada no paradigma sanitário. Esses elementos,
construtores de um modelo valorizador da integração setorial, profissional e
comunitária, passaram a exigir novos saberes e práticas em saúde, o uso de metodologias
diferenciadas e instrumentos de ação orientados por uma visão ampliada de saúde e
o resgate da universalidade, equidade e integralidade (UFMT, 2009b).
Tendo em vista esse paradigma, a identificação e a análise das fragilidades, dos
problemas e das necessidades dos diferentes grupos atuarem com fundamentos
do planejamento e da implantação de ações em saúde e com princípios pautados
em uma consciência político-ideológico-sanitária entre profissionais e usuários
dos serviços de saúde (CASTELLANOS, 1995), é que foi elaborado o Projeto
Pedagógico do Curso de Graduação em Saúde Coletiva.
Corroborou com esta perspectiva, o MEC, em 2001, ao aprovar as Diretrizes
Curriculares Nacionais para os cursos da área da Saúde, recomendando a articulação

S Saúde, Trabalho e Cidadania em Mato Grosso


Sumário
entre as políticas do Ministério da Saúde e o Ministério da Educação. Segundo
essa proposta, a formação dos profissionais de saúde deve sempre contemplar
as necessidades sociais de saúde, com ênfase no SUS e atender as competências
relacionadas com as novas funções da Saúde Pública (BOSI; PAIM, 2010).
Com base no acima exposto, conclui-se que a graduação em Saúde Coletiva
implica a antecipação da formação do “sanitarista”, cujo perfil contempla um
conjunto de competências gerais relacionadas à área de saúde. Sua formação
deve então receber tanto a contribuição das Ciências Sociais em Saúde para
fazer a análise crítica das questões econômicas sociais relacionadas ao processo
saúde-doença-cuidado, quanto o compromisso com as ações emanadas pela
Reforma Sanitária e pelos princípios do Sistema Único de Saúde.
No tocante à especificidade técnica, espera-se que os graduados, imbuídos
pela postura ética em Saúde Coletiva, sejam capazes de: analisar e monitorar
a situação de saúde; fazer planos, programação, gestão e avaliação de sistemas
e serviços de saúde; estabelecer ações para promoção da saúde e prevenção de
riscos e agravos à saúde; e gerenciar os processos de trabalho coletivo em saúde.
Sobre o mercado de trabalho para o profissional graduado em Saúde Coletiva,
espera-se a inserção desses egressos no âmbito político-gerencial e no técnico-
assistencial em Saúde. Espera-se, ainda, que os profissionais de Saúde Coletiva
45
possam se responsabilizar pelas práticas de formulação de políticas, gestão,
planejamento e avaliação de sistemas e serviços de saúde. Conta-se, inclusive, com a
contribuição deles para o fortalecimento das ações de promoção da saúde e das ações
de vigilância ambiental, sanitária e epidemiológica e de outras ações estratégicas, para
a consolidação do processo de mudança do modelo de atenção (UFMT, 2009b).
O Projeto do Curso de Graduação em Saúde Coletiva do ISC/UFMT
foi aprovado no ano de 2009. O novo Curso de Graduação tem entrada
semestral e funcionamento noturno para atender prioritariamente o estudante
trabalhador. A sua primeira turma foi iniciada no primeiro semestre de 2010.
A responsabilidade institucional com a formação e inserção destes profissionais
no mercado de trabalho se fazem imperativas.

Desafios e perspectivas futuras do ISC

Do ponto de vista da manutenção dos programas de graduação, pós-


graduação sticto sensu e lato sensu, das pesquisas e extensão – a colonização
dos espaços públicos de saúde pelo poder e dinheiro rompe com o sentido da
produção acadêmica, de formar pesquisadores críticos e comprometidos com
a saúde e a qualidade de vida da população.

As circunstâncias da institucionalização da Saúde Coletiva na S


Universidade Federal de Mato Grosso - 20 anos do ISC/UFMT Sumário
As dificuldades para a manutenção dos Cursos de pós-graduação stricto
sensu, pontuados principalmente pelo número de publicações do corpo
docente permanente, produzem e reproduzem uma esquizofrenia institucional
coletiva na busca não mais da produção do conhecimento, mas na reprodução
do mesmo (CASTIEL; SOUZA-VALERO; RED, 2007).
Assim, o Instituto de Saúde Coletiva, que nasceu no ideário da Reforma
Sanitária Brasileira, tomou-a como referência para a implementação do SUS no
Estado de Mato Grosso e a produção de pesquisas acadêmicas comprometidas
com as mudanças sociais. Paulatinamente se transforma e se institucionaliza
nos preceitos das Políticas Educacionais, de Pesquisa e de Saúde ditadas para
a formação de profissionais e pesquisadores no campo.
Como partícipes da Reforma Sanitária Brasileira, docentes do Instituto
de Saúde Coletiva guardam o compromisso com a defesa do SUS e do
meio ambiente. A exemplo disso, em 2011, o ISC atuou como um dos
organizadores do Fórum Nacional contra o Uso de Agrotóxicos e pela Vida. E
junto com os profissionais de saúde, com o Sindicato dos Médicos participou
da discussão sobre e contra as Organizações Sociais de Saúde (OSs) na gestão
dos hospitais públicos de Mato Grosso. Ao reativarem o núcleo do Centro de
Estudos Brasileiro de Saúde (CEBES)4 regional reiniciam, de forma ainda que
46
incipiente, a defesa dos serviços públicos e da qualidade de vida.
Os novos ventos trazidos com a renovação dos quadros de docentes e
a formação de novos sanitaristas quiçá ressignifiquem o propósito da
esquerda de busca da equidade social em saúde e o cumprimento da Missão
institucional do ISC, de: “Garantir a formação de profissionais e a produção
de conhecimento científico no campo da saúde coletiva, por meio do ensino,
pesquisa e extensão, visando a qualidade de vida da população.”

Agradecimentos aos que escreveram parte desta história e formaram


o ISC em 1992

Docentes: Ângelo Figueiredo, Benedito de Figueiredo (in memoriam); Edna


Massae Yoko, Elias Nogueira Peres, Elisete Duarte, Enelinda Scalla, Erotides
Botelho, Gilney Viana, Janil de Azevedo, Joana D’Arc Almeida, Joana D’Arc
Silva, João Henrique Scatena, José Rondon, Júlio S. Müller Neto, Lenir Vaz

4 Centro Brasileiro de Estudos de Saúde, criado em 1976, na 32º Reunião Anual da Sociedade Brasileira para
o Progresso da Ciência, visando a democratização e reconstrução do pensamento em saúde (PAIM, 2008).

S Saúde, Trabalho e Cidadania em Mato Grosso


Sumário
Guimarães, Márcia Lotufo, Maria Angélica dos Santos Spinelli, Maria Clara
Weiss, Maria Helena Rosa, Maria Sílvia Martins, Maria Virgínia Ventura,
Maria Yolanda e Silva, Mário Favalesca, Marta Gislene Pignatti, Nagib Sadi
(in memoriam), Ricardo Rodrigues (in memoriam), Rubens Apoitia, Sérgio
Henrique Allemand Motta, Severino Márcio Meirelles (in memoriam),
Vicentina Santana, Waldir Bertúlio e Wanderlei Pignati.
Técnicos: Delma Perpétua, Hailton Pinho, José Tomé (in memoriam),
Jurema Morbec e Nina Rosa Ferreira Soares.

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S Saúde, Trabalho e Cidadania em Mato Grosso


Sumário

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