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Organizadores:

Dr. Guilherme Barroso L. de Freitas


MSc. Renan Monteiro do Nascimento
CARDIOLOGIA
TEORIA E PRÁTICA
Volume 01

Organizadores:

Dr. Guilherme Barroso Langoni de Freitas


MSc. Renan Monteiro do Nascimento
MSc. Guilherme Augusto G. Martins

Editora Pasteur
2021 by Editora Pasteur
Copyright © Editora Pasteur

Editor Chefe:

Dr Guilherme Barroso Langoni de Freitas

Corpo Editorial:

Dr. Alaércio Aparecido de Oliveira GDr. Guilherme Barroso Langoni de Freitas


Dra. Aldenora Maria Ximenes Rodrigues Dra. Hanan Khaled Sleiman
Bruna Milla Kaminski MSc. Juliane Cristina de Almeida Paganini
Dr. Daniel Brustolin Ludwig Dr. Lucas Villas Boas Hoelz
Dr. Durinézio José de Almeida MSc. Lyslian Joelma Alves Moreira
Dr. Everton Dias Dra. Márcia Astrês Fernandes
Dr. Fábio Solon Tajra Dr. Otávio Luiz Gusso Maioli
Francisco Tiago dos Santos Silva Júnior Dr. Paulo Alex Bezerra Sales
Dra. Gabriela Dantas Carvalho MSc. Raul Sousa Andreza
Dr. Geison Eduardo Cambri MSc. Renan Monteiro do Nascimento
MSc. Guilherme Augusto G. Martins Dra. Teresa Leal

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Editora Pasteur, PR, Brasil)

FR862c FREITAS, Guilherme Barroso Langoni de.


Cardiologia Teoria e Pratica / Guilherme Barroso Langoni de
Freitas- 1 ed. 1 vol - Irati: Pasteur, 2021.
1 livro digital; 467 p.; il.

Modo de acesso: Internet


https://doi.org/10.29327/537583
978-65-86700-34-3
1. Medicina 2. Cardiologia 3. Ciências da Saúde
I. Título.

CDD 610
CDU 61
413 | P á g i n a
INTRODUÇÃO Segundo a IV Diretriz Brasileira Sobre
Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose,
A aterosclerose e suas complicações as dislipidemias podem ser classificadas em 4
cardiovasculares são as maiores causas de subtipos: Hipercolesterolemia isolada,
morte e invalidez nos países ocidentais hipertrigliceridemia isolada, hiperlipidemia
(LAURENTI, 1986). No Brasil, segundo mista e hipoalfalipoproteinemia (FALUDI,
dados do Ministério da Saúde (2019), cerca de 2017).
300 mil indivíduos por ano sofrem Infarto Diversos fatores protetores ao
Agudo do Miocárdio (IAM), ocorrendo óbito desenvolvimento da dislipidemia vêm sendo
em 30% desses casos. Dados da Organização estudados. Destaca-se a ação dos ácidos
Mundial da Saúde (2019), revelou que o graxos poliinsaturados como o ômega-3,
número de mortes por doenças cardíacas ômega-6 e ômega-9, presentes em produtos
aumentou de mais de 2 milhões desde o ano vegetais, como na semente de linhaça dourada,
2000 para quase 9 milhões em 2019, e em óleos animais como os extraídos de
representando 16% do total de mortes por salmão ou de sardinha.
todas as causas (Organização Pan-Americana Os efeitos predominantes do ômega-3 são
da Saúde, 2020). considerados benéficos na prevenção de
Essa doença consiste em um processo doenças cardiovasculares, mentais e declínio
crônico, progressivo e sistêmico, sendo cognitivo (SHAHIDI et. al., 2018), além de
caracterizada por uma resposta inflamatória e atuar na amenização de doenças inflamatórias,
fibroproliferativa da parede arterial frente a incluindo obesidade, diabetes e síndrome
estímulos patológicos impostos à superfície metabólica (CAPARROS et al., 2017).
endotelial, como o acúmulo de partículas de No caso do Ômega-6, sua maior
lipoproteínas de baixa densidade (LDL) na concentração no organismo foi inversamente
camada íntima. As lesões ateromatosas podem associada à obesidade, resistência à insulina e
acometer diferentes territórios arteriais, sendo hipertensão arterial (KAIKKONEN et al.,
responsáveis por 95% das coronariopatias 2021). Já o Ômega-9 atua como adjuvante na
(JALDIN et al., 2006). redução do colesterol total e do LDL e no
Dentre os fatores de risco para o aumento do HDL, além de ajudar na inibição
desenvolvimento da aterosclerose estão: da agregação plaquetária (CANDELA et al.,
obesidade, tabagismo, hipertensão arterial 2011).
sistêmica, sedentarismo, Diabetes Mellitus Produtos naturais como o óleo de peixe
(DM) e a hipercolesterolemia (SANTOS et al., rico em Ômega-3, a semente de linhaça rica
1998). em fibras alimentares e Ômega-3 e Ômega-6 e
A etiologia pode ser primária, geralmente formulações comerciais, como é o caso do
causada por anormalidade genéticas e/ou Prevelip®, medicamento composto por uma
enzimáticas, ou secundária, quando combinação de óleos de peixe e linhaça rico
determinada por condições como DM, em ômegas-3, 6, e 9, são produtos que correm
hipotireoidismo, obesidade, estilo de vida como meios dietéticos de suplementar os
sedentário e maus hábitos alimentares níveis desses ácidos graxos poli-insaturados, e,
(LAURENTI, 1986). consequentemente, obter uma maior proteção
às doenças cardiovasculares.

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Sendo assim, o objetivo do presente estudo diariamente 10 g de ração para cada 100 g de
foi avaliar os efeitos no processo peso do animal, da sua dieta específica e água
aterosclerótico da suplementação de óleo de ad libido.
peixe, semente de linhaça dourada e Prevelip® Os ratos do grupo 01 foram alimentados
em animais recebendo dieta com ração comercial comum (Nuvilab®). Os
hipercolesterolêmica no processo animais do grupo 02 foram alimentados com
aterosclerótico através da avaliação do ganho dieta comestível hipercolesterolêmica
ponderal, níveis de triglicerídeos, LDL e HDL, contendo para cada 150 g de ração, 12,5 g
o grau e número de lesões ateroscleróticas gema de ovo desidratada (Mizumoto
presentes. Alimentos®) e 13,5 ml de óleo de milho
(Liza®). Além da dieta hipercolesterolêmica,
MÉTODO os grupos 03, 04 e 05 receberam
respectivamente óleo de peixe rico em ômega-
Aspectos gerais, delineamento de grupos 3 (Biogel®) na quantidade de 1,0 g/kg de peso
e alocação de animais por dia, sementes de linhaça dourada trituradas
(ricas em fibras e ômega-3 e 9) na quantidade
O estudo consistiu-se em um ensaio de 8,0 g/kg de peso por dia e Prevelip®
experimental, randomizado e controlado com (formulação comercial contendo óleo de peixe
duração de 90 dias, utilizando o modelo e óleo de linhaça) na quantidade de 1,0 g/kg de
experimental Rattus novergicus albinus da peso por dia. As dietas dos grupos 02, 03, 04 e
linhagem Wistar. Foram utilizados 40 animais 05 foram preparadas semanalmente, na quantia
(20 machos e 20 fêmeas) com 05 meses de de 16 kg por vez, misturando-se manualmente
vida, randomizados em 5 grupos de 8 animais os ingredientes de cada dieta com 7 g/kg de
(4 machos e 4 fêmeas), e alocados em duplas ração de gel de confeiteiro (Mix®) no intuito
do mesmo gênero: de tornar a consistência das rações preparadas
Grupo 01: dieta com ração comercial mais próximas à ração comercial. A seguir, a
comum (grupo controle negativo) massa foi submetida à peletização manual com
Grupo 02: dieta com suplementação formas plástico e posterior secagem natural.
hipercolesterolêmica (grupo controle positivo) Controle do peso, eutanásia e coleta de
Grupo 03: dieta hipercolesterolêmica material biológico
com óleo de peixe (Biogel®)
Grupo 04: dieta hipercolesterolêmica Os animais foram pesados três vezes por
com semente de linhaça dourada. semana, em dias alternados, do T0 ao T90. No
Grupo 05: dieta hipercolesterolêmica T90 todos os animais foram anestesiados com
com Prevelip® injeção intraperitoneal de cloridrato de
ketamina associado com cloridrato de xilazina.
Preparação da ração Após jejum de 12 horas realizou-se coleta de
0,8ml de sangue por punção cardíaca para a
No período entre o nascimento até o tempo análise das concentrações séricas de
zero (T0) do experimento, os animais triglicerídeos, LDL e HDL. Foi utilizado os
receberam água e ração comum para a espécie. métodos de enzima imunoensaio para a análise
A partir do T0 até o último dia do experimento das concentrações de LDL e HDL e de
(T90), cada grupo passou a receber
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calorimetria para a análise de triglicerídeos das alterações histológicas de acordo com a
amostras coletadas. classificação padronizada pelo comitê de
Após a coleta de sangue, os animais foram lesões vasculares da American Heart
eutanasiados com dose letal de anestésico. A Association (STARY et al., 1994) em:
seguir, procedeu-se a laparotomia xifo-púbica,
para dissecção e ressecção dos segmentos macrófagos isolados (células espumosas);
arteriais. Foram retiradas as artérias: aorta
torácica, aorta abdominal, porção final da aorta visualização de acúmulo de lipídios
abdominal e bifurcação das artérias ilíacas, intracelular;
artérias renais e artérias carótidas (Figura
44.1A-B). As peças foram imersas em solução alterações do tipo II além da presença de
de formaldeído a 10% para estudo histológico. pequenos reservatórios de lipídios;

Figura 44.1 Ilustração dos segmentos arteriais


das alterações encontradas no tipo II além da
removidos
presença de núcleo lipídico extracelular;

presença de centro lipídico e camada fibrótica,


ou múltiplos núcleos de lipídios e camadas
fibróticas, ou principalmente calcificadas, ou
principalmente fibróticas;
cada): hematoma-
hemorragia, trombo e defeitos de superfície.

Figura 44.2. Ilustração dos segmentos arteriais


removidos.

Legenda: Fotografias do pós-operatório dos segmentos


arteriais removidos. Peça contendo as artérias carótidas
e aorta abdominal.

Análise histopatológica

Após individualizados, cada segmento


vascular foi subdividido em fragmentos. De
cada bloco, retiraram-se 10 cortes histológicos
escalonados, que então foram corados com Legenda: Fotografia do pós-operatório dos segmentos
Hematoxilina e Eosina (HE). arteriais removidos. Peça contendo as artérias aorta
abdominal, renais e ilíacas.
O conteúdo das lâminas de cada segmento
arterial de cada animal foi avaliado por um
As lesões Tipos 1 e 2 são consideradas
médico patologista sem conhecimento prévio
iniciais, as do tipo 3 intermediárias e as dos
da divisão dos grupos, o qual avaliou o grau de
Tipos 4, 5 e 6 avançadas. No caso de terem
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sido encontradas lesões ateroscleróticas de facilidade de obtenção, de alocação e de
diferentes graus em dois ou mais cortes da cuidados desses animais. A definição da
mesma peça, foi considerado o grau de lesão duração do experimento foi feita avaliando o
mais alto e caso não fossem encontradas tempo necessário para a indução de um estado
lesões, foi considerado o grau de lesão tipo 0. de hipercolesterolemia associado ao
Após a leitura do patologista, os resultados desenvolvimento de lesões ateroscleróticas,
foram anotados pelos autores nas fichas de optando-se então pelo período de 3 meses. Na
análise microscópica de cada animal, onde fase inicial do estudo houve a morte de 1 rato
registrou-se, por segmento estudado, a do Grupo 1, sobrando 39 ratos para análise.
presença de lesão vascular de acordo com a A decisão de estudar os segmentos
classificação da American Heart Association. vasculares escolhidos se baseou na maior
facilidade de retirada do material visto se
Análise Estatística tratarem de vasos de grande e médio calibre
e na prevalência de acometimentos dos
Os resultados de variáveis quantitativas mesmos sítios nos humanos
foram descritos por médias, medianas, valores (DEPARTAMENTO DE ATEROSCLEROSE
mínimos, valores máximos e desvios padrões, DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE
e de variáveis qualitativas por frequências e CARDIOLOGIA, 2007; JALDIN et al., 2006;
percentuais. Para a comparação de dois grupos PRIM et al., 2011).
em relação às variáveis quantitativas foi
considerado o teste não-paramétrico de Peso
MannWhitney e para comparação de mais de
dois grupos foi utilizado o teste não- A média do peso final nos Grupos 1 ao 5
paramétrico de Kruskal-Wallis. Para avaliação foi respectivamente, 322,7 g, 348 g, 343,6 g,
da associação entre duas variáveis qualitativas 344,8 g e 338 g (p = 0,933). O ganho de peso
dicotômicas foi considerado o teste exato de durante o estudo em cada grupo foi
Fisher. A correlação entre duas variáveis respectivamente, 11,16%, 18,2%, 17,58%,
21,19% e 15,27%.
quantitativas foi analisada estimando-se o
Durante todos os tempos do estudo, a
coeficiente de correlação de Spearman.
média de peso dos machos se mostrou maior
Valores de p<0,05 indicaram significância
quando comparado à média das fêmeas, sendo
estatística. Os dados foram analisados com o o ganho de peso dos machos significativo nos
programa computacional Statistica v.8.0. grupos 3 e 5 (p = 0,029), e quando avaliado o
ganho ponderal total (desde o T0 até T90)
RESULTADOS E DISCUSSÃO houve um aumento superior no gênero
masculino de todos os grupos (p=0,029),
O estudo tomou como base a espécie ilustrado no Gráfico 44.1. Entretanto, ao
estudar o ganho de peso entre os grupos, a
Rattus novergicus da linhagem Wistar pela
diferença se mostrou insignificante.

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Gráfico 44.1 Gráfico do ganho de peso ao longo do experimento por gênero

Concluindo, foi encontrada diferença masculino quando comparado ao feminino no


significativa apenas quando comparando grupo 4.
machos e fêmeas do mesmo grupo, sendo Ao correlacionar os dados de peso (no
significativo nos grupos com dieta T90) com o perfil lipídico, observou-se que o
suplementada com óleo de peixe (Grupo 3) e grupo 1 apresentou maiores níveis de LDL
Prevelip® (Grupo 5), o que levanta a hipótese quanto maior o peso do animal (p = 0,007), e
de que cada suplementação afeta de forma no grupo 4 maiores níveis de triglicerídeos
diferente os gêneros. quanto maior o peso do animal (p = 0,035).
Concluindo a análise do perfil lipídico,
Perfil lipídico salienta-se que o estudo dos níveis de HDL
reconhecido como fator protetor para o
O nível de HDL se mostrou superior no desenvolvimento de processos
grupo 3 (38,8 mg/dl) quando comparado aos cardiovasculares (DEPARTAMENTO DE
grupos 4 (29,3 mg/dl) e 5 (30,1 mg/dl), e o
ATEROSCLEROSE DA SOCIEDADE
grupo 2 (45,8 mg/dl) apresentou maiores
BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2007)
níveis que os grupos 1 (35,7 mg/dl), 4 e 5,
conforme demonstrado na Tabela 44.1. mostrou diferenças entre os grupos. Os
Na análise dos níveis de triglicerídeos e maiores níveis de HDL foram encontrados na
LDL não foi encontrada nenhuma diferença parcela que recebeu apenas a dieta
significativa em sua redução, assim como hipercolesterolêmica (grupo 2) e associada ao
entre os gêneros nos grupos 1, 2 e 5. Já no óleo de peixe (grupo 3) em comparação aos
grupo 3, os valores de LDL nos machos se grupos que receberam suplementação com
apresentaram superiores aos das fêmeas, assim semente de linhaça dourada e Prevelip®.
como os níveis de triglicerídeos do sexo

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Tabela 44.1 Comparação dos níveis de HDL entre os grupos

Legenda: Média maior do nível de HDL no grupo 2 (dieta hipercolesterolêmica) quando comparado ao 1, 4 e 5
(verificando-se relevância com p = 0,026, p < 0,001 e p = 0,001 respectivamente) e no grupo 3 (submetidos à
suplementação com óleo de peixe) quando comparado aos grupos 4 e 5 (com p=0,004 e p = 0,020 respectivamente).
N, número da amostra estudada; Média, valor médio do HDL no grupo em questão.

Lesões ateroscleróticas Figura 44.3 Imagem de artéria com lesão inicial tipo 1

De todas as regiões vasculares estudadas, a


que apresentou maior número de lesões
independentemente do grau foi a aorta
abdominal (22,72% das lesões), que em
conjunto com os segmentos aorta torácica e
bifurcação da aorta abdominal em artérias
ilíacas, representaram 50% das lesões. As
carótidas foram o sítio de 31,81% das lesões,
seguido das artérias renais com 18,19% das
lesões ateroscleróticas, sendo a artéria renal Legenda: Na seta demonstra-se célula espumosa na
esquerda o segmento menos afetado (6,06% camada intimal do vaso. Coloração HE. Aumento de 40
das lesões) vezes

Ao avaliar o grau das lesões, 95,5% se


Figura 44.4 Imagem de artéria com lesão inicial tipo 2
apresentaram como lesões iniciais (Figura
44.3-4) e 4,5% como intermediárias (Figura
44.5), não havendo lesões de grau avançado.
Quando comparado os dados entre os
grupos, constatou-se diferença significativa
apenas no segmento da aorta abdominal, onde
nenhum animal do grupo 1 apresentou lesão e
62,5% dos animais dos grupos 4 e 5 foram
afetados (p=0,026). Uma vez analisado os
gêneros dos ratos, o único resultado relevante
se mostrou entre os sexos do grupo 3, no qual
a totalidade dos machos apresentou algum tipo Legenda: Na seta demonstra-se macrófago com
depósito intracelular de gordura. Coloração HE.
de dano na bifurcação das artérias ilíacas, em Aumento de 40 vezes.
contraste com a ausência de fêmeas com esse
sítio lesionado (p = 0,029).
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Figura 44.5 Imagem de artéria com lesão intermediária outras correlações não apresentaram
tipo 3
significância.
Contrastando os gêneros de cada grupo, as
fêmeas do grupo 2 apresentaram mais
territórios acometidos (32,1%) que os machos
(0%) (p = 0,029), ao contrário do grupo 3
onde os machos apresentaram mais órgãos
afetados (57,1%) que as fêmeas (10,7%)
(p = 0,029). Avaliando apenas os sexos
femininos dos grupos em relação ao total de
segmentos vasculares afetados por indivíduo,
Legenda: Presença de depósito gorduroso difuso no constatou-se que no grupo 3 as fêmeas
espaço intercelular da camada íntima. Coloração HE. apresentaram menos segmentos arteriais
Aumento de 40 vezes.
acometidos (10,7%) que nos grupos 2 (32,1%),
4 (35,7%) e 5 (35,7%), como demonstrado na
A correlação do peso e perfil lipídico com
Tabela 44.2.
as variáveis de lesões ateroscleróticas
Na avaliação somente do sexo masculino
mostraram dados relevantes no grupo 3, onde
dos grupos em relação ao total de segmentos
os maiores níveis de LDL corresponderam à
vasculares acometidos por animal, notou-se
presença de lesão em aorta abdominal
que no grupo 3 os animais apresentaram maior
(p=0,036) e o maior peso, em conjunto com os
número de lesões que os demais grupos, e o
maiores níveis de LDL, se associaram à
grupo 2 apresentou menor número de lesões
presença de lesão em bifurcação da aorta
que os demais grupos, observado na Tabela
abdominal em ilíacas (p=0,029). Ademais,
44.3.

Tabela 44.2 Comparação do número de segmentos afetados das fêmeas nos grupos

Legenda: Teste não-paramétrico de Kruskal-Wallis, com relevância em valores de p < 0,05. Houve relevância
estatística na comparação dos Grupos 3 e 2 (p = 0,049), Grupos 3 e 4 (p = 0,019) e dos Grupos 3 e 5 (p = 0,036). N,
número da amostra estudada; Média, porcentagem média de segmentos arteriais acometidos nas fêmeas por grupo.

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Tabela 44.3 Comparação do número de segmentos afetados dos machos nos grupos

Legenda: Teste não-paramétrico de Kruskal-Wallis, com relevância em valores de p < 0,05. Houve relevância
estatística quando comparados os Grupos 3 e 1 (p = 0,010), Grupos 3 e 2 (p < 0,001), Grupos 3 e 4 (p < 0,001) e
Grupos 3 e 5 (p = 0,015). N, número da amostra estudada; Média, porcentagem média de segmentos arteriais
acometidos nos machos por grupo.

Comparando o número total de lesões e a proveniente da gema de ovo (JALDIN et al.,


porcentagem de segmentos acometidos por 2006). Tais resultados foram diferentes aos
animal com as demais variantes do estudo, obtidos por Prim (2011) que encontrou em sua
demonstrou-se que: maioria lesões intermediárias após
Nos grupos 2 e 4, o número de lesões e administração da dieta hipercolesterolêmica
a porcentagem de segmentos lesionados foi padrão contendo 1% de colesterol.
maior em animais com menor peso, podendo Em relação a aterosclerose, não foi
estar relacionado ao fato de que os indivíduos encontrada diferença significativa entre os
com menor peso foram as fêmeas; grupos em relação ao número total de
No grupo 3, o número de lesões e a segmentos vasculares afetados por animal e
porcentagem de segmentos lesionados foi entre os tipos de lesões encontrados em cada
maior nos animais com maior peso no T90, grupo, corroborando com os dados da
maior ganho de peso no T90 e maiores níveis literatura (JALDIN et al., 2006; PRIM et al.,
de LDL; 2011).
No grupo 5, o número de lesões e a Resultados significativos foram
porcentagem de segmentos lesionados foi encontrados quando comparando indivíduos
maior nos indivíduos com menores níveis de do mesmo gênero entre os grupos, de forma
HDL. que para as fêmeas o óleo de peixe se mostrou
A análise do padrão de lesões nos como fator protetor em relação ao número de
segmentos vasculares no estudo entrou em segmentos vasculares afetados por animal,
consenso com a literatura, mostrando como apresentando valores próximos aos do grupo
principal sítio acometido a aorta abdominal controle. Na avaliação dos machos, o óleo de
(JALDIN et al., 2006; PRIM et al., 2011). peixe atuou como fator de risco para o
Quando observado o tipo de lesão, os aparecimento de lesões ateroscleróticas por
resultados apontaram para outra concordância apresentar uma maior quantidade de lesões por
com a literatura, prevalecendo lesões iniciais animal quando comparados aos Grupos 1
no caso de dieta contendo 0,15% de colesterol
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(p = 0,010), 2 (p < 0,001), 4 (p < 0,001) e 5 fêmeas, a suplementação dietética com óleo de
(p = 0,015). peixe se mostrou um fator protetor em relação
ao número de segmentos afetados por animal
CONCLUSÃO quando comparado aos grupos com dieta
hipercolesterolêmica e suplementada com
semente de linhaça dourada e Prevelip®. Já
Os resultados demonstraram que os para os machos, o ômega-3 mostrou-se como
machos apresentaram maior ganho de peso fator de risco, com maior número de
durante o estudo. Os níveis de HDL foram segmentos vasculares acometidos comparado
maiores no grupo com dieta suplementada com aos demais grupos. Poderia ser de interesse
óleo de peixe em relação aos grupos científico a realização de mais estudos para
suplementados com linhaça dourada e avaliar as diferenças entre a suplementação de
Prevelip®. As lesões ateroscleróticas ácidos graxos poli-insaturados entre os
verificadas encontravam-se em sua maioria gêneros, visto a observação de diferenças
ainda em estágio inicial. O segmento vascular significativas importantes no presente estudo,
mais acometido foi a aorta abdominal. Para as mesmo que em uma amostra de 4 animais.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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