Você está na página 1de 89

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE


INSTITUTO DE NUTRIÇÃO JOSUÉ DE CASTRO
GRADUAÇÃO EM GASTRONOMIA

JULIANA FÉRES CASTELO

O BOLO DE ANIVERSÁRIO NA VIDA DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL:


comensalidade e acessibilidade

RIO DE JANEIRO
2021
JULIANA FÉRES CASTELO

O BOLO DE ANIVERSÁRIO NA VIDA DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL:


comensalidade e acessibilidade

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso


de Graduação em Gastronomia do Instituto de Nutrição
Josué de Castro do Centro de Ciências da Saúde da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos
requisitos necessários à obtenção do grau de bacharel em
Gastronomia.
Orientadora: Profª MS Verônica de Andrade Mattoso

RIO DE JANEIRO
2021
O BOLO DE ANIVERSÁRIO NA VIDA DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL:
COMENSALIDADE E ACESSIBILIDADE

Juliana Féres Castelo

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO APRESENTADO AO CURSO DE


GRADUAÇÃO EM GASTRONOMIA DO INSTITUTO DE NUTRIÇÃO JOSUÉ DE
CASTRO DO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DA UNIVERSIDADE FEDERAL
DO RIO DE JANEIRO, COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS À
OBTENÇÃO DO GRAU DE BACHAREL EM GASTRONOMIA

Examinada por:

_________________________________________
Profa. Msc Verônica de Andrade Mattoso (Orientadora)
Profa. Assistente do Curso de Bacharelado em Gastronomia
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

__________________________________________
Profa. Msc Joyce Tarsia Garcia Cafiero
Profa. Assistente do Curso de Bacharelado em Gastronomia
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

_____________________________________________
Profa. Drª Ana Fátima Berquó Carneiro Ferreira
Professora Titular (aposentada)
Instituto Benjamin Constant (IBC)

RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL


Junho, 2021
一 Eis o meu segredo. É muito simples: só
se vê bem com o coração. O essencial é invisível
aos olhos.
一 O essencial é invisível aos olhos 一
repetiu o principezinho, para não se esquecer.
一 Foi o tempo que perdeste com tua rosa
que a fez tão importante.
E, deitado na relva, ele chorou.
一 Foi o tempo que perdi com minha
rosa… 一 repetiu ele, para não se esquecer.
一 Os homens esqueceram essa verdade
一 disse ainda a raposa. 一 Mas tu não deves
esquecer. Tu te tornas eternamente responsável
por aquilo que cativas. Tu és responsável pela tua
rosa…
一 Eu sou responsável pela minha rosa…
一 repetiu o principezinho, para não se esquecer.
O Pequeno Príncipe por Antoine
Saint-Exupéry, 2002, p. 72 - 74.
AGRADECIMENTOS

À minha família por me ensinar desde pequena a comensalidade. Em


especial, minha mãe, minha melhor amiga, que sempre me incentiva a fazer o meu
melhor e fazer o que amo (e por me fazer companhia para ver todos os bolos das
festas). À minha irmã, caçula de espírito, a minha maior torcedora, saiba que o
sentimento é recíproco, você é a pessoa mais inteligente que conheço. A meu pai
por sempre querer o melhor para mim.
A todos os professores que participaram direta ou indiretamente da minha
educação e moldaram meu senso crítico.
À professora Verônica Mattoso, orientadora e companheira de caminhada
acadêmica, não existiria esse trabalho sem você. Obrigada por compartilhar comigo
seu amor por acessibilidade e por lecionar, todos seus discentes (filhotes) se sentem
acolhidos.
À professora Maria Ciléa Garcia Mafra, sua leveza para lidar com palavras e
alunos me encantava, espero que mesmo com minhas inseguranças na escrita te
orgulhe com esse documento. O bolo de aniversário que fiz para você ainda é um
dos meus favoritos.
Ao meu namorado e sua família, que já fazem parte do meu coração, e me
apoiam incondicionalmente, tanto nos estudos quanto nas produções “malucas” na
cozinha.
Aos meus amigos, a paciência de escutar todos os meus problemas de
pesquisa e reclamações enquanto estava fazendo o trabalho.
Por fim, agradeço aos participantes e aos colaboradores da pesquisa,
obrigada por dividirem comigo um pouco de suas histórias e experiências!
RESUMO

CASTELO, Juliana Féres. O BOLO DE ANIVERSÁRIO NA VIDA DE PESSOAS


COM DEFICIÊNCIA VISUAL: comensalidade e acessibilidade. Orientadora:
Verônica de Andrade Mattoso. 2021. 89 f. Trabalho de Conclusão de Curso
(Bacharelado em Gastronomia) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro, 2021.

O bolo de aniversário como símbolo de um ritual que perpassa gerações e

culturas, constitui importante fonte de estudos dentro da Gastronomia e sobre a

história das civilizações. O presente trabalho teve como objetivo conhecer a

relevância do “bolo de aniversário” para pessoas com deficiência visual. A pesquisa

envolveu revisão da literatura, aplicação de formulário online e entrevista projetiva

realizada pelo aplicativo WhatsApp, respeitando os protocolos de distanciamento

social devido à pandemia do novo Coronavírus. A pesquisa oportunizou observar os

aspectos da comensalidade no rito de passagem “aniversário” e o elemento

gastronômico a este associado, o bolo; conhecer o lugar do bolo de aniversário na

vida de pessoas com deficiência visual; além de identificar o potencial informativo da

audiodescrição para a promoção do acesso a pessoas com deficiência visual ao

elemento gastronômico “bolo de aniversário”. As opiniões, histórias e memórias

sobre o bolo de aniversário e as experiências pessoais com seus aniversários e a

preparação das festas para entes queridos demonstraram a relevância do bolo de

aniversário na vida de pessoas com deficiência visual. Elas evidenciaram também

que não somente a audiodescrição como outros recursos de Tecnologia Assistiva

devem ser empregados para a promoção de seu conhecimento e identificação, tanto

imagética quanto pessoal, em relação a diversos produtos, e principalmente ao bolo,

elemento tão importante para o ritual de aniversário.

Palavras-chave: Acessibilidade em Gastronomia. Audiodescrição. Bolo de


Aniversário. Comensalidade. Pessoas com Deficiência Visual.
ABSTRACT

CASTELO, Juliana Féres. O BOLO DE ANIVERSÁRIO NA VIDA DE PESSOAS


COM DEFICIÊNCIA VISUAL: comensalidade e acessibilidade. Orientadora:
Verônica de Andrade Mattoso. 2021. 89 f. Trabalho de Conclusão de Curso
(Bacharelado em Gastronomia) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro, 2021.

The birthday cake as a symbol of a ritual that goes through generations and

cultures, is an important source of studies within Gastronomy and on the history of

civilizations. The present work aimed to know the relevance of the "birthday cake" for

people with visual impairment. The research involved a literature review, application

of an online form and a projective interview conducted by the WhatsApp app,

respecting the protocols of social distancing due to the new Coronavirus pandemic.

The research made it possible to observe the aspects of commensality in the

“anniversary” ritual of passage and the gastronomic element associated with it, the

cake; to know the place of the birthday cake in the lives of visually impaired people;

in addition to identifying the informative potential of audio description to promote

access for people with visual impairments to the gastronomic element “birthday

cake”. Opinions, stories and memories about the birthday cake and personal

experiences with their birthdays and the preparation of parties for loved ones

demonstrated the relevance of the birthday cake in the lives of people with visual

impairments. They also showed that not only audio description but other Assistive

Technology resources should be used to promote their knowledge and identification,

both imagery and personal, in relation to various products, and especially the cake,

an element so important for the birthday ritual.

Key-words: Accessibility in Gastronomy. Audio Description. Birthday Cake.


Commensality. Visually Impaired People.
SUMÁRIO

1. Introdução 10

1.1. Justificativa 11

1.2. Objetivos 12

1.2.1: Objetivo Geral 12

1.2.2: Objetivos Específicos 12

2. Metodologia 14

2.1. Escolhas metodológicas 14

2.2. Técnicas e Instrumentos de pesquisa 16

2.3 Procedimentos Metodológicos 17

2.3.1: Pesquisa Bibliográfica 17

2.3.2: Levantamento de Campo 17

2.3.2.1: Primeira etapa do Levantamento de Campo 17

2.3.2.2: Segunda etapa do Levantamento de Campo 18

3. Pressupostos Teóricos, Conceituais e Documentais 22

3.1 Primeiro se come com os olhos (?) 22

3.2 Comida, Afeto e Comensalidade 23

3.3 O Aniversário e o bolo 25

3.3.1 O Bolo de Aniversário 27

3.4 Acessibilidade em Gastronomia 29

3.4.1 Pessoas com deficiência visual 31

3.4.2 Acessibilidade 32
3.4.3 Tecnologia Assistiva 33

3.5 Audiodescrição (AD) 34

3.5.1 Potencial Informativo da AD 36

4. Resultados e Discussões 39

5. Considerações 62

Referências 64

APÊNDICES 68

APÊNDICE A 69

APÊNDICE B 70

APÊNDICE C 76

APÊNDICE D 84

APÊNDICE E 85

APÊNDICE F 87

APÊNDICE G 89
10

1. Introdução

O rito de passagem “Aniversário” tem no bolo o seu elemento gastronômico


simbólico. Independente do tamanho da reunião, o ritual de celebração engloba
colocar o bolo no centro do grupo, cantar os parabéns, a salva de palmas e a
partilha: esta é a maneira de celebrar mais um ano de vida. Os aniversários
conectam passado e presente e estabelecem uma ligação com o futuro, com
renovações e possibilidades infinitas (MENDONÇA, 2018; SIROTA, 2004).
O rito de aniversário remonta à Antiguidade e no período contemporâneo a
este é imputada grande importância e reconhecimento surpreendentes (SIROTA,
2008). Celebrar é algo inerente ao ser humano; é uma forma de estabelecer ritos de
passagem, como o começo de uma nova idade e dessa forma foi inserido nas
culturas dos mais diversos povos (MENDONÇA, 2018). Cada cultura tem seus
elementos principais e simbólicos para essa comemoração que, com o tempo, foram
se adaptando e modificando com a modernidade (MENDONÇA, 2018).
A Gastronomia é a ciência que rege tudo o que relaciona o ser humano ao ato
alimentar pela perspectiva cultural e tem como objetivo zelar pela manutenção dos
homens ao propiciar o melhor da comida (BRILLAT-SAVARIN, 2002). Acessibilidade
é direito das pessoas com deficiência e das pessoas com mobilidade reduzida
(BRASIL, 2015) para que, rompidas as barreiras de diversos aspectos, possam viver
a vida em igualdade com as demais pessoas. A Acessibilidade em Gastronomia
conecta os dois campos ao propor o acesso equânime dessas pessoas tanto à
Gastronomia como ciência quanto aos produtos e culturas gastronômicos.
Atualmente, no Brasil, há 6,5 milhões de pessoas com deficiência visual. Se
“primeiro a gente come com os olhos” e se comida é cultura e afeto, de que modo é
possível favorecer a este grupo específico o acesso aos aspectos simbólicos de um
bolo de aniversário?
A disciplina Acessibilidade em Gastronomia do Curso de Graduação em
Gastronomia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (U.F.R.J) instiga os
estudantes a realizar pesquisas sobre a temática. De acordo com Mattoso (2019,
p.565), “em um mundo feito por quem vê e para quem vê, ainda que do total de
pessoas com deficiência no Brasil o maior percentual seja de pessoas com
deficiência visual, a realidade de um cotidiano cego é desconhecido da maioria”.
11

A hipótese que deu origem à pesquisa para realização deste Trabalho de


Conclusão de Curso é a de que o inacesso ao conhecimento sobre recursos de
Tecnologia Assistiva é impeditivo para que pessoas com deficiência visual
compreendam a relevância e possam desfrutar dos aspectos simbólicos inerentes
ao elemento gastronômico “bolo de aniversário”. Assim, a pergunta de partida é:
qual a relevância do elemento gastronômico “bolo de aniversário” na vida de
pessoas com deficiência visual?

1.1. Justificativa

A vontade de pesquisar sobre esse tema surgiu pelo amor da autora por bolos
e comemorações, e nada mais une tão bem esses itens quanto as festas de
aniversário, sendo o bolo o destaque no evento. Há também diversas frases de
efeito utilizadas pelos familiares da pesquisadora como: “Fica, vai ter bolo!”; “Só vou
embora depois do bolo!”; “Aha! Uhu! Ô, Aniversariante vou comer seu bolo!” que a
marcaram desde tenra idade.
Ao participar de atividades extensionistas na U.F.R.J que envolveram
gastronomia e acessibilidade, tanto pelo carinho com os estudos nesta área quanto
pela pura curiosidade e interesse pelo desconhecido, surgiram diversas questões e,
consequentemente, o interesse pela pesquisa. Com isso, a escolha de fazer
entrevistas com pessoas com deficiência visual, pensando no “Nada sobre nós, sem
nós” (SASSAKI, 2007) para elucidar as questões da pesquisadora.
Diferente da maioria das pesquisas sobre o rito de passagem “Aniversário”
que abordam como a comemoração surgiu, a ideia neste TCC é evidenciar a
importância desse rito social e o elemento simbólico “bolo” para as pessoas com
deficiência visual. De acordo com o referencial escolhido, a importância dos eventos
para as pessoas é pouco representada. Ademais, observando a situação atual
devido à pandemia do novo Coronavírus, é possível perceber que, de todas as
comemorações, os aniversários continuaram sendo festejados, mesmo que em
menor escala (CÉSAR, 2020).
Segundo Mattoso et al. (2018) desde o segundo período de 2016, a U.F.R.J.
foi a primeira entre as Instituições Federais de Ensino Superior do país a ofertar a
disciplina “Acessibilidade em Gastronomia” – e ainda única até o momento de
conclusão deste TCC – promovendo o interesse e ampliação dos estudos e
12

pesquisas que relacionem Gastronomia e Acessibilidade, destacando a importância


de pesquisas interdisciplinares. Este documento é mais um fruto destes estudos,
desenvolvido a partir dos objetivos a seguir.

1.2. Objetivos:

1.2.1: Objetivo Geral:


Conhecer a relevância do “bolo de aniversário” para pessoas com deficiência
visual.

1.2.2: Objetivos Específicos:


● Observar os aspectos da comensalidade no rito de passagem
aniversário e o elemento gastronômico a este associado: o bolo;
● Investigar o lugar do bolo de aniversário na vida de pessoas com
deficiência visual;
● Conhecer o potencial informativo da audiodescrição para a promoção
do acesso a pessoas com deficiência visual ao elemento gastronômico “bolo de
aniversário”.

Dessa forma, além deste capítulo que aborda a Introdução deste documento,
suas justificativas e seus objetivos, o TCC foi assim desenvolvido.
O capítulo 2 apresenta a Metodologia. Para verificar o estado da arte,
iniciou-se um levantamento de dados bibliográficos na Base Minerva, no Portal de
Periódicos, na Springer Link e na Cambridge Core e não foram identificadas
pesquisas com a abordagem específica deste TCC relacionando o bolo de
aniversário a pessoas com deficiência visual. Entretanto, foram conhecidos os
estudos de Mattoso (2012, 2016, 2018, 2019) relacionados à Audiodescrição e à
Acessibilidade em Gastronomia e de Lopes (2018) sobre a audiodescrição para
acessibilidade à Educação Alimentar e Nutricional, apropriados como pressupostos
teóricos. Outras escolhas metodológicas levaram à definição de técnicas,
instrumentos e procedimentos, os quais foram fundamentados a partir da premissa
“Nada Sobre Nós, Sem Nós” de Sassaki (2007), na proposta de Pesquisa-COM de
Kastrup e Moraes (2010) e na Escuta Sensível de René Barbier (2002), o que
acarretou um documento para todos, elaborado COM pessoas com deficiência
13

visual. Para as entrevistas projetivas, a autora apropriou-se da audiodescrição como


elemento metodológico para traduzir fotografias de bolos de aniversários em
palavras.
Assim, o Capítulo 3 reuniu os pressupostos teóricos, conceitos, definições,
documentos e noções que nortearam o percurso investigativo: “Primeiro se come
com os olhos (?)”; Comida, Afeto e Comensalidade; O Aniversário e o bolo;
Acessibilidade em Gastronomia, Pessoas com deficiência visual, Tecnologia
Assistiva, Audiodescrição (AD) e o Potencial Informativo da AD.
No Capítulo 4 foram apresentados os Resultados e Discussões: as respostas
foram analisadas em conexão com o referencial teórico elaborado.
Esta pesquisa tem seu desfecho no Capítulo 5 com as Considerações, por
meio das quais a autora revê a hipótese em relação aos resultados obtidos e propõe
sugestões para pesquisas futuras.
Como anfitriã do ritual de aprendizado que se revela nas próximas páginas, a
autora do TCC convida leitores e leitoras a degustar este documento e experimentar
o doce sabor das descobertas que a pesquisa possibilitou.
14

2. Metodologia

A investigação empreendida para este Trabalho de Conclusão de Curso na


abordagem da Acessibilidade em Gastronomia com ênfase na relevância da
comensalidade mostrou necessária a fundamentação em Mirian Goldenberg (2004)
associada à pesquisa qualitativa. Para a autora, a pesquisa qualitativa não se
prende a dados numéricos, mas sim com os estudos de um grupo e na
compreensão de sua realidade, no caso desta pesquisa, um grupo de pessoas com
deficiência visual:
A pesquisa qualitativa é útil para identificar conceitos e variáveis relevantes
de situações que podem ser estudadas quantitativamente. É inegável a
riqueza que pode ser explorar os casos desviantes da "média" que ficam
obscurecidos nos relatórios estatísticos. Também é evidente o valor da
pesquisa qualitativa para estudar questões difíceis de quantificar, como
sentimentos, motivações, crenças e atitudes individuais. (GOLDENBERG,
2004, p. 63)

2.1. Escolhas metodológicas

A partir dos objetivos dessa investigação, tanto a Pesquisa Bibliográfica


quanto o Levantamento de Campo tiveram caráter exploratório. Para Gil (2008), as
pesquisas exploratórias possuem principalmente a finalidade de apresentar, explicar
e alterar noções e ideias, com base em problemas específicos ou hipóteses de
pesquisa para estudos futuros. Dentre os tipos de pesquisa, este modelo apresenta
menor rigor para preparação, envolve normalmente levantamento bibliográfico e
documental e entrevistas não padronizadas (GIL, 2008):
Pesquisas exploratórias são desenvolvidas com o objetivo de proporcionar
visão geral, de tipo aproximativo, acerca de determinado fato. Este tipo de
pesquisa é realizado especialmente quando o tema escolhido é pouco
explorado e torna-se difícil sobre ele formular hipóteses precisas e
operacionalizáveis. Muitas vezes as pesquisas exploratórias constituem a
primeira etapa de uma investigação mais ampla. Quando o tema escolhido é
bastante genérico, tornam-se necessários seu esclarecimento e delimitação,
o que exige revisão da literatura, discussão com especialistas e outros
procedimentos. O produto final deste processo passa a ser um problema
mais esclarecido, passível de investigação mediante procedimentos mais
sistematizados. (GIL, 2008, p. 27)

A técnica da Escuta Sensível proposta por René Barbier tem o intuito de


conhecer e aceitar incondicionalmente o outro; o pesquisador “não julga, não mede,
não compara” (BARBIER, 2002, p. 1). Contudo, ele analisa, sem se apropriar ou se
identificar com as opiniões dos participantes da pesquisa, tanto o que é falado
15

quanto o que é criado. “A escuta sensível afirma a congruência do pesquisador. Ele


transmite suas emoções, seu imaginário, suas interrogações, seus ressentimentos.
Ele é “presente” isto é, consistente” (BARBIER, 2002, p. 1). A Escuta Sensível
destaca o "escutar-ver” nas Ciências Humanas e, apoiado na empatia, permite ao
pesquisador descobrir o universo afetivo, a imaginação e o intelecto do outro, para
depois entender a partir de suas ações, conduta, ideias e símbolos:

É exatamente neste ponto que Barbier referencia a "escuta sensível" muito


mais a uma “arte” do que a uma "ciência", pois, segundo o autor "toda
ciência procura circunscrever seu universo e impor seus modelos de
referência, até que se prove o contrário. (MATTOSO, 2019, p. 584)

Para Cancherini (2010) a escuta sensível de Barbier (2002), como um


instrumento metodológico, propõe uma situação onde o pesquisador, de forma
consciente avalia a situação do sujeito de pesquisa, e, principalmente procura ouvi-lo
com muita atenção:
Recomendou também sensibilidade ao reconhecer que há momentos em
que não existe o conhecido no qual se apoiar. A sensibilidade na educação,
à qual se refere Barbier (1998, p.183), permite aprimorar a percepção,
desembaraçar-se de preconceitos e, fundamentalmente, compreender.
(CANCHERINI, 2010, p. 7)

O método de Pesquisa-COM (KASTRUP; MORAES, 2010) propõe no campo


da acessibilidade um modelo de pesquisa com a participação de pessoas com
deficiências não como receptoras dos estudos, mas principalmente como
colaboradoras. É uma proposta de fazer COM essas pessoas, representantes da
população-alvo da pesquisa. A Pesquisa-COM tem o intuito de unir o conhecimento,
propor uma relação de percepções pessoais com o mundo, incluindo diferenças e
desafios de uma pesquisa específica, de uma pesquisa que se faz COM o outro.
Trazendo complementaridade à proposta de Kastrup e Moraes, toda a
metodologia para a elaboração deste TCC fundamentou-se ainda na premissa “Nada
sobre nós, sem nós” (SASSAKI, 2007): em todas as etapas, a pesquisadora contou
com o apoio de pessoas cegas e de pessoas com baixa visão com conhecimento
específico nos elementos necessários para estruturação deste Trabalho, desde as
escolhas metodológicas à seleção dos bolos de aniversário a serem audiodescritos,
a elaboração do formulário, a estruturação dos roteiros de audiodescrição, a análise
dos QRCodes e à divulgação da pesquisa.
16

Foram quatro os colaboradores participantes da estrutura metodológica desta


pesquisa. Na abordagem da Gastronomia, as colaboradoras foram Gabrielle
Rodrigues e Tatiane Canuto, colegas da faculdade de Gastronomia, com limitações
visuais: Gabrielle é monocular e Tatiane tem uma patologia visual chamada
Ceratocone. As futuras gastrônomas, além de conhecedoras dos aspectos que
envolvem os eixos da Gastronomia da UFRJ - quais sejam, gestão, práticas e
hospitalidade - têm um olhar minucioso ao elemento gastronômico objeto desta
pesquisa: o bolo de aniversário. A Tatiane, inclusive, é cake designer há muitos anos
e, portanto, conhece as inovações mercadológicas do segmento. Aparecida Leite e
Márcio Felipe foram convidados a participar por sua expertise em acessibilidade
comunicacional e recursos de Tecnologia Assistiva. A proximidade com ambos se
deu pela participação em conjunto em disciplinas, projetos de extensão e eventos.
Ela, audiodescritora consultora; e ele, consultor na área de Recursos de Tecnologia
Assistiva. A participação dos quatro colaboradores em todas as etapas da pesquisa
oportunizou efetivar-se, na prática, a Pesquisa-COM.

2.2. Técnicas e Instrumentos de pesquisa

Para verificar o estado da arte, realizou-se um levantamento de dados


bibliográficos na Base Minerva, no Portal de Periódicos, na Springer Link e na
Cambridge Core e não foram identificadas pesquisas com a abordagem específica
deste TCC relacionando o bolo de aniversário a pessoas com deficiência visual.
Entretanto, foram conhecidos os estudos de Mattoso (2012, 2016, 2018, 2019)
relacionados à Audiodescrição e à Acessibilidade em Gastronomia e de Lopes
(2018) sobre a audiodescrição para acessibilidade à Educação Alimentar e
Nutricional, apropriados como pressupostos teóricos.
O Levantamento de Campo foi estruturado em duas etapas. Para a primeira,
foi escolhido o modelo de formulário online estruturado no Google Forms. A escolha
para a aplicação do formulário foi interessante, tanto pelo aspecto de manter o
distanciamento social durante a pandemia, quanto pela possibilidade de aproximar o
contato virtual com os participantes, através de perguntas mais específicas.
Para Gil (2002), o formulário, enquanto instrumento para coleta de dados, é a
mais fácil para obtenção de respostas diretas, referentes a gênero, idade, profissão,
estado civil, número de filhos. Já as perguntas referentes a sentimentos são mais
17

complexas e podem apresentar dificuldades para serem respondidas


adequadamente. Esse foi justamente o motivo para a estruturação desta pesquisa
em duas etapas: “Há que se considerar, entretanto, que, em virtude de suas
características, o formulário tem alcance limitado, não possibilitando a obtenção de
dados com maior profundidade.” (GIL, 2002, p. 119)
Para a segunda etapa do Levantamento de Campo, portanto, utilizou-se a
técnica de entrevistas projetivas a partir de Goldenberg (2004) e de Batista, Mattos e
Nascimento (2017). De acordo com os autores, nesta modalidade de entrevista,
pesquisadores se utilizam de dispositivos visuais para motivar os entrevistados a
recordar momentos e eliciar reflexões. Considerando o objetivo principal desta
investigação, qual seja, o de conhecer a relevância do bolo de aniversário na vida de
pessoas com deficiência visual (cegas e com baixa visão), a pesquisadora se
apropriou da audiodescrição (AD) como elemento metodológico, mediador de
acessibilidade comunicacional.

2.3 Procedimentos Metodológicos

2.3.1: Pesquisa Bibliográfica

A revisão de literatura permitiu reunir pressupostos teóricos, conceitos,


definições, documentos e noções que nortearam o percurso investigativo: “Primeiro
se come com os olhos (?)”; Comida, Afeto e Comensalidade; O Aniversário e o bolo;
Acessibilidade em Gastronomia, Pessoas com deficiência visual, Tecnologia
Assistiva, Audiodescrição (AD) e o Potencial Informativo da AD.

2.3.2: Levantamento de Campo

2.3.2.1: Primeira etapa do Levantamento de Campo

O Levantamento de Campo foi estruturado em duas etapas. A primeira teve


início no dia 20 de abril de 2021. Por meio do aplicativo "WhatsApp" para celular foi
feita a divulgação do formulário (APÊNDICE A) com o título “Formulário Pesquisa
para TCC da Gastronomia UFRJ” e para tal foi elaborado um texto (APÊNDICE B) e
um áudio, visando melhor favorecer a compreensão da população de pesquisa deste
18

trabalho: pessoas com deficiência visual. Nesse dia, três colaboradores com
deficiência visual auxiliaram tanto na elaboração do formulário quanto na divulgação.
Foram eles: Márcio Felipe, Aparecida Leite e Gabriele Rodrigues.
Os formulários foram divulgados aleatoriamente por WhatsApp.
Ao longo do dia, foram contabilizadas 16 respostas, de pessoas com
deficiência visual com idades entre 18 e 58 anos e apenas uma pessoa não quis
participar da segunda etapa. No dia 21 de abril de 2021 foram recebidas 11
respostas, porém uma delas era repetida. No próximo dia, 22 de abril, foram
recebidas três respostas.
A ideia inicial era a de encerrar o formulário e começar a segunda etapa de
entrevistas pelo WhatsApp no dia 23 de abril. Contudo, foi necessário manter o
formulário aberto pois algumas pessoas que gostariam participar se comunicaram
informando sua dificuldade de preenchimento. Assim, para que pudessem fazê-lo, o
formulário permaneceu aberto então nos dias 23 e 24 de Abril. Até dia 2 de maio,
mais oito pessoas responderam.
No total, foram obtidas 35 respostas, sendo que uma pessoa não quis
participar da segunda etapa e houve uma resposta repetida.
O formulário da primeira etapa foi subdividido em seções. A 1ª: Dados
Pessoais; a 2ª: Informações sobre Aniversário; a 3ª: Informações Relativas ao Bolo
de Aniversário; a 4ª: Informações Relativas ao Sentimento; e a 5a Seção foi sobre
audiodescrição de bolos. A última seção trazia a pergunta mais importante para a
continuidade da pesquisa: se os participantes estariam interessados em conhecer as
audiodescrições e, se positivo, que informassem um número de celular com acesso
ao aplicativo “Whatsapp”.

2.3.2.2: Segunda etapa do Levantamento de Campo

A segunda etapa do Levantamento de Campo foi estruturada a partir do


modelo de entrevista projetiva com perguntas padronizadas e respostas abertas.
Para tanto, foi utilizada a audiodescrição de fotografias de bolos de aniversário.
Para a produção das audiodescrições foram escolhidos dois bolos de
aniversário. Um destes foi produzido pela colega de faculdade, cake designer e
consultora Tatiane Canuto e o segundo pela autora deste Trabalho, Juliana Feres
Castelo. Os roteiros de audiodescrição (APENDICE C) foram elaborados com a
19

parceria da orientadora Verônica Mattoso e da consultora em audiodescrição


Aparecida Leite, os quais demandaram pesquisas sobre os temas e elementos dos
bolos para estruturação das Notas Introdutórias.
Finalizados os roteiros, fundamentados na Escuta Sensível de Barbier, as três
envolvidas no processo da AD com o apoio de Márcio Felipe perceberam a
relevância de que os roteiros fossem narrados pela autora deste TCC: ainda que
sem experiência na área de narração, ao trazer na sua voz o produto de seu
trabalho, a pesquisadora naturalmente disponibilizaria aos participantes documentos
capazes de eliciar maior confiabilidade na pesquisa desenvolvida, além de despertar
nela o gosto por ver-se efetivar, por seu intermédio, a acessibilidade comunicional.
Para conhecimento, seguem os QRCodes para acessar os áudios:

QRCode Audiodescrição Bolo Castelo


20

QRCode Audiodescrição Bolo Baby Shark

A princípio foi criado um grupo no aplicativo WhatsApp, onde só a


pesquisadora/administradora poderia mandar mensagens e os participantes
deveriam responder no privado, para manter, ao máximo, a privacidade de cada um
deles. Os documentos foram disponibilizados neste grupo.
O primeiro contato foi no dia 23 de abril de 2021(APÊNDICE D) objetivando
incluir todos os participantes que até aquele momento haviam respondido o
formulário e para especificar que aquele grupo era apenas para divulgar o material e
que todos poderiam deixar de participar da segunda etapa sem nenhuma
penalidade.
No dia 27 de Abril de 2021 foi enviado no grupo um texto com os detalhes da
pesquisa, como data limite, sigilo de documentos e em seguida o número de contato
para recebermos as respostas e depois as fotos dos bolos, as audiosdescrições e as
três perguntas por escrito (APÊNDICE E).
No dia 29 de Abril, das 33 pessoas que haviam concordado em participar,
apenas oito (8) haviam respondido.
21

O contato com o grupo foi retomado por meio do envio de um texto


principalmente para lembrar que as respostas seriam aceitas até o dia 1° de Maio
(APÊNDICE F).
No dia 1° de Maio, com apenas mais quatro (4) respostas – isto é, totalizando
12 – uma participante entrou em contato para pedir que as informações e as
perguntas fossem enviadas por áudio, pois seu leitor de telas estava com problemas.
Assim, foi decidido que seria melhor enviar então as perguntas diretamente para
cada participante que ainda não havia respondido (APÊNDICE 7). As respostas
foram aceitas até o domingo, dia 2 de Maio, quando então mais oito (8) participantes
responderam, perfazendo um total de 20 respostas. Os resultados da pesquisa bem
como a análise serão conhecidos no capítulo 4.

Dando continuidade ao Desenvolvimento deste TCC, no próximo capítulo (3)


serão apresentados os Pressupostos Teóricos, Conceituais e Documentais que
nortearam a realização desta investigação.
22

3. Pressupostos Teóricos, Conceituais e Documentais

3.1 Primeiro se come com os olhos (?)

Na hipótese de que seja verdadeira a expressão popular “Primeiro se come


com os olhos”, qual seria então o primeiro sentido que a comida desperta em
pessoas com deficiência visual?
“Imagens são comida. Os olhos querem comer, querem ser boca. A tristeza
dos olhos é que eles não podem comer tudo o que veem”, afirma Alves (2011, p. 38
apud DOMICIANO, 2015). Assim, o visual e o sentido da visão, além de ganhar
protagonismo como elementos de grande relevância na absorção da comida, ainda
trazem a ideia melancólica de que a visão, por não poder obter o objeto
contemplado, sofre.
Ademais, para Domiciano (2015) “comer com os olhos, olhar para comer,
olhos e boca, visão e paladar se juntam aos demais sentidos para construir e
reconstruir a realidade e a nós mesmos” (p. 29), pois, “somos nutridos por comidas e
por imagens que nos formam fisiologicamente e culturalmente” (p. 26). Assim, a
união destes dois sentidos, visão e paladar, representa o princípio desta experiência
complexa que é comer, o que possibilita, junto dos outros sentidos, sair da própria
realidade a partir da comida e ainda crer que as imagens nutrem até
fisiologicamente.
Rodrigues (2012) ressalta que se alimentar não é apenas saciedade
fisiológica; envolve o prazer de comer e o prazer à mesa. Portanto, afirmar que
primeiro se come com os olhos, parece um sentimento particular em relação ao
consumo dos alimentos, pois cada pessoa vai experienciar o prazer de comer de
maneira diferente. Para a autora, a comida é cultura, uma vez que é possível
apresentar detalhes e características da identidade humana; e é um dos
instrumentos mais eficientes para comunicá-la (MONTANARI, 2004). “Cada cultura
determina o que comer, como comer, quanto comer, com quem comer e aonde
comer” (ADAMOSKI, et al, 2013, p. 103).
Montanari (2004) não descarta a ligação entre comida e a natureza, mas
exalta que, para a humanidade, de modo geral, mesmo alimentos não processados,
in natura, passam por uma “transformação”: procedimentos culturais desde o plantio
até a apresentação para o consumo. Partindo do princípio que cultura é um produto
23

desenvolvido e mantido pelo ser humano, comida é a representação da cultura a


partir do momento em que é produzida, já que não é utilizada quando simplesmente
encontrada na natureza, como para outros animais. A humanidade utiliza fogo,
tecnologias e técnicas culinárias que empregam sentimento e valor ao alimento; e o
consumo, o ato alimentar, apesar de rotineiro, não é simples; existem critérios,
características culturais e preferências que determinam essa ação:

Pode-se dizer que ao observar-se a alimentação de um grupo de pessoas


em determinada realidade, é possível traçar uma relação direta entre os
hábitos alimentares e o cotidiano. As refeições passam a ser um espelho da
rotina de determinada época, assim como do contexto social dela. Elas têm
a função não somente de demarcar a divisão do tempo, mas também de
representar as dinâmicas sociais quando considerados os rituais existentes
à mesa.“ (BORGES, 2010, p.2)

Rodrigues (2012) acrescenta que a comida, em sua função primordial, é um


dos requisitos para a sobrevivência do ser humano. Todavia, ultrapassa essa função:
a alimentação reúne outros fatores como prazer e sentimentos; e está inserida na
hospitalidade, principalmente quando é compartilhada ou envolve sociabilidade,
convivialidade, e pode, em algumas circunstâncias, ser utilizada para demonstração
de poder. Para Domiciano (2015) o consumo de alimentos ultrapassando a
necessidade fisiológica, engloba as histórias que contamos sobre nós mesmos como
indivíduos e sujeitos. Refletindo a partir de Franco (2004, p.24): “A humanidade é
mais conservadora em matéria de cozinha do que em qualquer outro campo da
cultura”.

3.2 Comida, Afeto e Comensalidade

A possibilidade de escolher o que comer e a vastidão de modos de preparo e


consumo dos alimentos que em um primeiro momento poderiam parecer situações
simples, aos poucos foram desdobrando-se em reflexões sobre culturas, costumes,
gostos, educação, histórias e, principalmente, revelaram a relação de afeto com a
comida. “Assim, o trabalho de cozinhar diariamente para outras pessoas é um
trabalho diretamente responsável pela manutenção da vida, e pode estar,
justamente por isso, também carregado de afeto” (DOMICIANO, 2015, p.93).
Para Adamoski et al (2013) o que é comido, quando, por qual grupo, por qual
motivo... tudo é determinado a partir da cultura. É esta que transforma o alimento em
24

comida. A representatividade da comida é tanta que é até possível classificar:


comida de criança, comida de domingo, comida de festa, porque comida carrega
propósito, sentimento e afeto. “Nas recentes pesquisas, o alimento (bebida e
comida) passa a carregar sentimentos e relações culturais. Tudo é levado em conta:
desde o alimento em si, até o espaço aonde é consumido.” (ADAMOSKI, et al, 2013,
p. 103)
De acordo com Domiciano (2015) é importante destacar que a relação entre
as práticas alimentares pode representar expressões ou demonstrações de afeto,
entre pessoas de uma família ou para pessoas de convivência, amigos e até mesmo
dentro de um grupo mais amplo. “No âmbito da subjetividade, destaco os alimentos
como catalisadores de momentos de confraternização social, integração e
compartilhamento” (DOMICIANO, 2015, p.96).
Nieble (2010) afirma que mesmo na época dos grandes banquetes públicos,
nada podia ser comparado com as grandes celebrações dos Imperadores. Os
eventos mais comemorados eram o nascimento de uma criança, a celebração dos
17 anos de um jovem e os casamentos eram momentos onde a alimentação fazia
parte do enredo e da vida social, pois através da comida é possível demonstrar
sentimento. Atualmente, desde as comemorações de aniversário, até casamentos,
independente do tamanho do evento, a comunidade deve agir em conjunto, para
partilhar o alimento, respeitar os seus códigos e simbologias.
Comensalidade é uma das referências mais antigas da união familiar para a
humanidade: significa comer e beber juntos (BOFF, 2008). Para Boutaud (2011),
receber e acolher remetem à ideia de dividir à mesa uma refeição com outra pessoa.
Esse ato de partilhar comida passa de uma tarefa diária banal para um ritual,
carregado de sentimento: essa troca é a comensalidade. Além disso, o comensal,
em sua forma mais simplória, é o hóspede, pois a comensalidade e a hospitalidade
são altamente interligadas (BORGES, 2010):
O comensal, segundo seu significado etimológico, é aquele que come à
mesa com outro ou com outros. Historicamente, a comensalidade
apresenta-se como momento real e simbólico de integração entre as
pessoas e está ligada à própria existência e constituição da sociedade
(RODRIGUES, 2012, p.87).

Segundo Visser (1998), comensalidade está ligada a eventos:


Os rituais estão aí para facilitar passagens difíceis. [...] Comemorações a
rigor, por motivos de uniões, marcando transições e lembranças, quase
sempre exigem comida, com toda a cortesia ritual implícita na refeição - a
prova de que todos sabemos como se deve comer. Comemos sempre que a
25

vida se torna dramática: em casamentos, nascimentos, funerais, na partida


e na volta para casa ou em qualquer momento que um grupo decide que
vale a pena assinalar (VISSER, 1998, p. 22).

Para Nieble (2010) comensalidade é a divisão de comida entre duas ou mais


pessoas. A despeito das variações nas formas de produzir e compartilhar o alimento,
contempla mais do que necessidade de se alimentar, relacionando comida e
conexão entre as pessoas, conforme corrobora Rodrigues (2012, p.93):
Os alimentos também deixam de ser apenas uma necessidade de
sobrevivência com a descoberta do prazer de comer e do prazer da mesa.
Esses prazeres são compartilhados através da comensalidade e
possibilitam o exercício da sociabilidade. (RODRIGUES, 2012, p.93)

De acordo com Borges (2010), desde a antiguidade, é evidente que para a


continuação da vida em sociedade, a mesa é bem mais do que um simples local de
apoio; é também lugar de comunicação e assim um espaço para a hospitalidade. Ao
longo dos anos, mesmo com as mudanças das interações sociais e até diferentes
ritos de passagem se iniciando e outros se encerrando, a sociedade adapta e
mantém a comensalidade para compor a nova realidade:
Nas recepções, a dimensão da sociabilidade e a convivialidade exercida
através dela é um dos fatores determinantes para a percepção da qualidade
e importância daquele evento para aqueles que dele participam. A visão do
comensal de uma refeição como situação inesquecível está diretamente
associada às emoções, simbologias e sentimentos envolvidos neste evento.
Neste sentido destaca-se que compreendida como um gesto de
compensação, a hospitalidade envolve a transposição de um espaço
estabelecendo um ritual de acolhimento (RODRIGUES, 2012, p.95).

Dessa forma, segundo Borges (2010), a comensalidade, suas formas de ser


demonstrada e as atividades entre pessoas e seus relacionamentos, a sociabilidade
e o equilíbrio nas relações sociais, demonstram a necessidade de locais para
receber e oferecer hospitalidade, da mesma forma que são relevantes as mesas de
casa, ou públicas, ou privadas, as quais são oferecidas aos comensais.

3.3 O Aniversário e o bolo

O aniversário é um ritual conhecido desde a Antiguidade e no período


contemporâneo a este é imputada grande importância e reconhecimento
surpreendentes. Entretanto, Sirota (2008) destaca: um ritual não é criado a partir do
nada; aparece em função das referências sociais. A autora aponta diferenças na
maneira com que as celebrações marcaram as gerações e destaca que na
26

atualidade as crianças têm mais festas do que os adultos: “No século passado era o
ancião que era festejado[...] É principalmente em torno deles que estava organizado
o cerimonial familiar de aniversário” (SIROTA, 2008, p.34). E era importante que as
crianças oferecessem para os mais velhos presentes pequenos, feitos por elas,
fosse um buquê de flores ou textos e poesia para serem recitados em nome dos
seus avós.
De acordo com Mendonça (2018), aniversários possivelmente começaram a
ser celebrados no Egito Antigo, aproximadamente em 3000 a.C., envolviam uma
homenagem aos deuses ou faraós e o calendário continha uma sequência de
aniversários, acontecimentos nas vidas dos deuses. Além disso, para os egípcios, o
dia em que as pessoas nasciam poderia prever o futuro delas. A autora traça uma
linha do tempo que passa pelos gregos, romanos, até a época da ascensão cristã,
quando a comemoração se dissipou por conta de ligações com deuses pagãos.
Contudo, é importante ressaltar que, de acordo com Mendonça (2018), há
estudos que conectam outros grupos ao início das comemorações de aniversário,
como ligações com a magia de povos pagãos e o momento do aniversário traria
coisas boas e/ou ruins para o aniversariante. Como também nem sempre a
celebração do aniversário foi voltada para a passagem de tempo e envelhecimento
das pessoas: era um marco no tempo, mas não especificamente de um ser humano.
Para a autora, celebrar é algo intrínseco ao ser humano: é uma maneira de
estabelecer ritos de passagem, como o começo de uma nova idade e dessa forma
foi inserido nas culturas. Os aniversários conectam passado e presente e
estabelecem uma ligação com o futuro, com renovações e possibilidades diferentes.
Cada cultura tem seus elementos principais e simbólicos para essa comemoração:
os mais emblemáticos são os convites, velas e o bolo que com o tempo foram se
adaptando e modificando com a modernidade, mas continuam presentes:
Já o bolo e as velas, elementos emblemáticos que não podem faltar em tal
comemoração, carregam a função de centralizar a atenção ao
aniversariante, geralmente com aspectos estéticos que o representem, seja
um tema que goste, sua cor favorita, ou como é tradicionalmente mais
usado, velas como indicação da sua idade. Para compor o cardápio da
festa, os doces estão comumente presentes nas comemorações de
aniversário. (MENDONÇA, 2018, p.17)

Para as crianças, a celebração de seus aniversários é a união das pessoas


que ela mais gosta, em conjunto a sua imaginação e esperanças em relação ao seu
27

dia, aquele em que sua vida será mais do que comemorada. “Expectativas sobre a
alegria, celebrações, presentes e abraços” (MENDONÇA, 2018, p.11).
Para compor o cardápio das festas, a mesa de doces sempre é muito
especial. No Brasil, o docinho brigadeiro faz parte da comemoração como um dos
elementos principais da festa. Além disso, um dos rituais que marcam a festa é o
esperado momento do “Parabéns”, com a música "Parabéns para você". A versão
em português foi originalmente composta com o título "Parabéns a você" por Bertha
Celeste e a junção de música animada seguida por doces é sempre muito
bem-vinda (MENDONÇA, 2018).
Anteriormente à pandemia devido ao novo Coronavírus, no Brasil, as festas
de aniversário ganharam diferentes proporções: houve um aumento nos tamanhos
das festas, sendo grandes eventos, com impacto econômico e empresas
especializadas para realizar os desejos do aniversariante e sua família: “os
elementos e símbolos que vimos anteriormente vão ganhando forma dentro da
celebração, o bolo, as bolas, os doces, se tornam então um componente estético
para melhor compor um cenário.” (MENDONÇA, 2018, p.33). Com a pandemia, a
produção das festas teve que se adaptar para escalas menores, mas manteve a
importância dos detalhes, principalmente decoração, bolo e doces temáticos
(CÉSAR, 2020).

3.3.1 O Bolo de Aniversário

“A encarnação do rito em um objeto: o bolo de aniversário” (SIROTA, 2008,


p.38). Bolos de aniversários são mágicos. Talvez seja pela união de pessoas...
talvez a celebração... ou talvez os doces... Mas, não há melhor descrição do
momento do “Parabéns” do que:
O bolo de aniversário deve ser vestido com traje formal para representar o
momento central do ritual. Ele não entra em cena até que todos os
convidados estejam recolhidos, é adornado com velas que serão apagadas
pelo feliz destinatário após uma canção de celebração, seguida de
aplausos. Na sequência, uma ação será compartilhada com cada um dos
presentes, todo o bolo apresentado é cortado na frente do grupo em partes
iguais por um mestre de cerimônias designado, que os oferecerá de acordo
com uma ordem de precedência. Este bolo acontece em um lanche que
sempre inclui dois outros itens, bebidas açucaradas e doces ilimitados.
(SIROTA, 2004, p. 55) (tradução nossa)

A comemoração de aniversários tem como objeto central o bolo. Mesmo que


haja outros símbolos para esta tipologia de evento, o bolo é imprescindível para
28

qualquer aniversário. Ainda que em pequenas reuniões, o ritual de colocar o bolo no


centro do grupo, cantar os parabéns, a salva de palmas, depois o aniversariante
apaga as velas e o momento mais esperado chega: a partilha do bolo. Esta é a
forma como mais um ano de vida é celebrado (MENDONÇA, 2018; SIROTA, 2004).
De acordo com Sirota (2008), ao longo dos anos, o bolo de aniversário se
tornou um bolo específico; e, as etapas da vida, os diferentes rituais, foram sendo
comemorados com doces específicos:
O bolo de aniversário, glorioso objeto efêmero, ele sozinho, simboliza o
ritual no imaginário social da infância contemporânea, o momento central
eletivo da infância. Os bolos de aniversários, incontornáveis do ritual se
tornam assim ao mesmo tempo objetos comerciais e de modos de
expressão e de exposição de si (SANTOS, 2013. p. 90).

O bolo de aniversário é o elemento central do evento. Independente do


tamanho, formato, tipo de festa, o bolo, por si só, identifica e possibilita a
comemoração da passagem de tempo e marca a vida das pessoas. Para Sirota
(2004, p. 54): “O bolo de aniversário sozinho simboliza no imaginário social a
celebração contemporânea do ritual de aniversário” (tradução nossa). E para
Santos:
Mesmo em comemorações mais simples, ele sempre está presente e o
ritual de “bater o parabéns”, apagar a vela e cortar o bolo é o que muitas
vezes define o sentido da comemoração, sendo especial as pessoas
escolhidas para comer o primeiro pedaço (SANTOS, 2013, p. 89).

De acordo com Mendonça (2018), o aniversário para crianças é o dia em que


suas vontades se realizam. Elas recebem presentes, têm a reunião com os amigos e
todos comemoram sua vida, a colocando como centro das atenções. Esse rito de
passagem, ainda que todo ser vivo passe por ele, durante a infância pode ser
vivenciado de uma maneira lúdica e, graças à ingenuidade, esse dia se torna mais
especial. “Momento central, momento eletivo da infância, já contém todos os
prazeres supostos e esperados […]” (SIROTA, 2004, p. 54) (tradução nossa).
Em diferentes culturas, os aniversários e os bolos ganham representações
singulares. De todo modo, o bolo é um elemento muito importante, especialmente no
imaginário infantil. A autora Marcilene da Costa (2012) fez uma pesquisa com
moradores de uma comunidade quilombola na Amazônia, e, após oficina de
desenhos com tema “comida”, a maioria dos desenhos das crianças eram bolos de
aniversário com velas coloridas e vários confeitos. A próxima etapa com as crianças,
de perguntas e respostas, revelou que o bolo, por ser um desejo pouco realizado,
apenas em festas, o elemento que representava para eles seus aniversários,
29

ganhou um sentimento muito mais especial e também marca a diferença entre


gerações: crianças almejando esse objeto e adultos nem sempre comemorando os
seus anos de vida.
Esse evento depende de muitas etapas: preparação, manutenção e o
pós-evento. Participar dessas fases é algo extraordinário: depende de um trabalho
social particular, exigindo capacidades práticas e abrange diversos simbolismos
pessoais e detalhes que identificam o aniversariante, porque é mediante a
comemoração dos aniversários que as pessoas podem se identificar socialmente
(SANTOS, 2013):
Saído da cozinha doméstica, tornado objeto comercial, o bolo de aniversário
se padronizou como produto específico, vendido em supermercados, ou
seja, tornou-se objeto de catálogo. Produzido profissionalmente, às vezes
mesmo de maneira industrial, ele deve, entretanto ser individualizado e
corresponder ao gosto de cada criança (SIROTA, 2008, p.37).

Segundo Sirota (2008) a repartição do bolo de aniversário, é o momento


central desse rito de passagem, com uma ordem de acontecimentos específicos e
os elementos culturais de celebração que são capazes de construir a identidade
pessoal dos indivíduos desde a infância.

3.4 Acessibilidade em Gastronomia

Gastronomia é a ciência que rege tudo o que relaciona o ser humano ao ato
alimentar e tem como objetivo zelar pela manutenção dos homens ao propiciar o
melhor da comida. Por meio de princípios e regras, oferece base a todos aqueles
que ou procuram ou produzem coisas que podem ser transformadas em comida. A
gastronomia movimenta cultivadores, viticultores, pescadores, caçadores,
cozinheiros, pesquisadores, qualquer que seja o título ou a qualificação.
(BRILLAT-SAVARIN, 2002).
Os estudos da Gastronomia no Brasil são recentes. Os de nível superior se
iniciaram em instituições particulares em 1999, e, nas Instituições Federais de
Ensino Superior (IFES), em 2005. O Curso de Graduação em Gastronomia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) foi implantado em 2011 e a primeira
turma de gastrônomos se formou em 2015.
Em 2016, como Trabalho de Conclusão do Curso de Especialização em
Acessibilidade Cultural da UFRJ, Mattoso (2016a) desenvolveu pesquisa para
30

destacar a relevância dos estudos da acessibilidade nos cursos de Graduação em


Gastronomia. Para tanto, buscou conhecer o interesse pela temática por duas
populações distintas e complementares: 1) os alunos do Curso de Graduação em
Gastronomia da UFRJ (usuários da Gastronomia como ciência) e 2) pessoas com
deficiência visual (usuários da Gastronomia como ciência e como produto cultural).
O resultado apontou o interesse dos estudantes pelos estudos da acessibilidade;
destacou o deletério inacesso a pessoas com deficiência visual a momentos de
comensalidade, em casa e fora de casa, nos cafés, bares, restaurantes e eventos; e
evidenciou que, para estas pessoas, as principais barreiras a serem
enfrentadas/rompidas neste segmento são as de ordem atitudinal e comunicacional.
A partir da pesquisa, Mattoso propôs a criação da disciplina Acessibilidade em
Gastronomia (2016b) na UFRJ, a qual, a partir da aprovação e implantação como
eletiva no Curso de Bacharelado em Gastronomia onde Mattoso é docente, se torna
a primeira – e até o momento a única dentre as IFES – a dedicar estudos sobre a
temática. Acessibilidade em Gastronomia é, portanto, oportunizar uma Gastronomia
para Todos por meio do acesso aos prazeres da mesa, às informações sobre a
ciência da Gastronomia, à cultura gastronômica, e, dessa forma, potencializar a
inclusão sociocultural e colaborar para melhoria na qualidade de vida de todos os
envolvidos no processo, sejam os gastrônomos, sejam os clientes-comensais.
Se a proposta é a de incluir, importante o contraponto conceitual. Excluir
alguém somente por possuir determinadas características as quais não podem ser
alteradas, parece uma atitude de seres irracionais. Todavia, é o homem, este ser
racional, quem pratica esse absurdo constantemente. A falta de acesso estrutural e
informativo para pessoas com deficiência possibilita afirmar que a exclusão ocorre
com frequência para esse grupo:
Parece incontestável afirmar que pessoas com deficiências têm direito ao
acesso livre a qualquer local, desde que sejam eliminadas as barreiras
arquitetônicas, atitudinais e [...] no caso da pessoa com deficiência visual,
as barreiras comunicacionais (BERQUÓ, 2011, p.27).

Para Bessone (2011), exclusão pode trazer muitos significados. De acordo


com Le Petit Robert, a exclusão é “ação de expulsar alguém do lugar onde
anteriormente ele ocupava um espaço, ou de privá-lo de alguns direitos”, mas
também “é o fato de manter alguém afastado, impedir-lhe o acesso” (p. 1089). Os
significados, em maioria, são negativos e de privação de direitos, como ir e vir,
acesso à informação e a dados. A autora também traz a oposição entre exclusão e
31

inclusão como palavras e atos que só se afirmam ante a existência da outra. Desse
modo, é possível concluir que se existem propostas de inclusão de pessoas com
deficiência em determinado segmento, certamente ali, anteriormente, houve ou há a
exclusão.

Mas, quem são, quantas são e quais as características de pessoas com


deficiência visual hoje no Brasil e no Rio de Janeiro?

3.4.1 Pessoas com deficiência visual

De acordo com o último Censo ocorrido no Brasil, em 2010, realizado pelo


Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2011), a população total à
época era composta por 195,7 milhões de brasileiros dos quais 23,9%
autodeclararam ter algum tipo de deficiência. Eram 45,6 milhões de pessoas, quase
¼ de toda a população. Proporcionalmente, de cada quatro brasileiros, um teria
algum tipo de deficiência. No Estado do Rio de Janeiro, da população total de
15.989.929 pessoas, 3.900.870 são pessoas com algum tipo de deficiência.
As deficiências são classificadas como de ordem sensorial (visão, audição,
olfato, paladar e tato), intelectual, motora e física. Das deficiências autodeclaradas, a
visual é a de maior incidência (3,5%), seguida da motora (2,3%), intelectual (1,4%) e
auditiva (1,1%). Ou seja, do total de pessoas com deficiência no Brasil, 18,8%
apresentam algum tipo de deficiência visual, representando 6.585.308 brasileiros:
528.624 são cegos e 6.056.684 têm baixa visão ou visão subnormal. Além destes,
29.211.482 pessoas declararam possuir alguma dificuldade permanente de
enxergar, mesmo com o uso de óculos ou lentes.
No Estado do Rio de Janeiro, das quase quatro milhões de pessoas com
deficiência, as que têm deficiência visual somam 536.592, sendo 53.178 cegos,
483.414 com baixa visão. Além destas, 2.533.069 declararam ter alguma dificuldade
permanente de enxergar, ainda que com uso de óculos. Ou seja, no Estado do Rio
de Janeiro, 3.069.661 pessoas tem algum problema de visão.
Na cidade do Rio de Janeiro, 197.887 pessoas têm deficiência visual: 23.594
cegos e 174.293 com baixa visão; 1.028.826 declararam-se com dificuldade
permanente de enxergar ainda que com o uso de óculos. Isto é, na cidade do Rio de
Janeiro, 1.226.713 pessoas tem algum problema de visão.
32

A terminologia utilizada pelo IBGE para o Censo 2010 caracterizou a


deficiência visual como incapacidade visual (mesmo com o uso de óculos ou lentes
de contato, se a pessoa usá-los) e dividiu a população em:
“incapaz de enxergar (pessoa se declara totalmente cega), grande
dificuldade permanente de enxergar (pessoa declara ter grande dificuldade
permanente de enxergar, ainda que usando óculos ou lentes de contato); ou
alguma dificuldade permanente de enxergar (pessoa declara ter alguma
dificuldade de enxergar, ainda que usando óculos ou lentes de contato)”
(IBGE, 2011).

3.4.2 Acessibilidade

O início dos anos 2000 marca o momento em que a legislação brasileira


começou a dedicar atenção à acessibilidade, criando leis específicas sobre o tema.
Desde então outras surgiram, todas no intuito de assegurar a igualdade para
pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida. “Conferir tratamento diferente não
se refere a privilégios, mas a disponibilizar condições exigidas pelas peculiaridades
de cada indivíduo visando à garantia da igualdade” (BERQUÓ, 2011, p.26).
Na Lei 13.146 de 2015, o Art. 53. assegura que acessibilidade é um direito às
pessoas com deficiência e às pessoas com mobilidade reduzida, de forma que
possam viver de maneira independente e usufruir de seus direitos de cidadania e de
participação social (BRASIL, 2015). O Art. 3º apresenta os incisos sobre
acessibilidade, desenho universal, tecnologia assistiva ou ajuda técnica, e os
diferentes tipos de barreiras.
I - acessibilidade: possibilidade e condição de alcance para utilização, com
segurança e autonomia, de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos,
edificações, transportes, informação e comunicação, inclusive seus
sistemas e tecnologias, bem como de outros serviços e instalações abertos
ao público, de uso público ou privados de uso coletivo, tanto na zona urbana
como na rural, por pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida;
(BRASIL, 2015)

No intuito de garantir acessibilidade para todos, foi criado o conceito de


desenho universal, assim definido pela Norma NBR 16.452 da Associação Brasileira
de Normas Técnicas:
3.12. Desenho universal: forma de conceber produtos, meios de
comunicação, serviços e ambientes para serem utilizados de forma segura
e autônoma, o maior tempo possível, sem a necessidade de adaptação ou
readaptação, beneficiando pessoas de todas as idades e capacidades. O
conceito de desenho universal tem como pressupostos:  a) equiparação nas
possibilidades de uso;  b) flexibilidade no uso;  c) uso simples e intuitivo;  d)
informação perceptível (comunica eficazmente a informação necessária);  e)
tolerância para o erro;  f) dimensão e espaço para o uso e interação; e  g)
esforço físico mínimo.(ABNT, 2016, p.2)
33

Para Sassaki, acessibilidade e inclusão estão diretamente relacionadas e,


segundo os estudos de Mattoso, o autor supracitado traz a ideia de paradigma de
sociedade, onde a inclusão passa pelos sistemas sociais comuns e são adequados
de acordo com as particularidades de cada ser humano. Além disso, ambos os
autores trazem o conceito de acessibilidade sob o aspecto de qualidade de vida, um
facilitador para atividades humanas, e, se for de acordo com o Desenho Universal, é
possível beneficiar todas as pessoas, com ou sem deficiências.
Segundo a NBR 16.452 de 2016, a acessibilidade possibilita que pessoas
com deficiência ou mobilidade reduzida possam utilizar, “com segurança e
independência, espaços públicos e privados, seus mobiliários, edificações, como
também transportes, informação e comunicação, incluindo tecnologias, mesmo em
zonas urbanas ou rurais”. Essa Normativa também traz o conceito de acessibilidade
à informação e à comunicação, que são oportunidades de uso, conhecimento e
completo acesso à serviços e informações, incluindo sistemas de tecnologias e
produtos, sendo garantido a retirada de obstáculos ou barreiras que impeçam o uso
pleno e o acesso a todas informações, levando em consideração os ideais do
Desenho Universal (ABNT, 2016).
Importante destacar que o Brasil é considerado um dos países com as leis de
amparo às pessoas com deficiência mais bem definidas em todo o mundo.
Entretanto, infelizmente, é também assinalado como um dos países onde as leis não
são cumpridas (MATTOSO, 2016).

3.4.3 Tecnologia Assistiva

Em seus estudos desenvolvidos em 2018, Rita Lopes destaca a Tecnologia


Assistiva como uma área de conhecimento interdisciplinar que tem por objetivo
oferecer produtos, recursos, métodos, serviços, planos e práticas para promover o
envolvimento de pessoas com deficiências – sejam estas sensoriais, motoras, físicas
ou intelectuais – nas mais diversas atividades. Para a autora, ainda que os recursos
de Tecnologia Assistiva sejam pensados e estruturados para atender usuários com
deficiências, acabam por beneficiar todas as pessoas.
Conforme a Lei Nº 10.098 de 2000, o estado deve promover a eliminação de
barreiras na comunicação e estabelecer procedimentos e alterações técnicas para
34

tornar acessíveis os sistemas de comunicação e sinalização para as pessoas com


deficiências sensoriais e com dificuldade de comunicação, para garantir-lhes os
direitos de acesso à informação, à comunicação, ao trabalho, à educação, ao
transporte, à cultura, ao esporte e ao lazer (BRASIL, 2000).
A Norma Técnica Brasileira 15599 estabelece a comunicação na prestação de
serviços e determina que hotéis e restaurantes tenham a responsabilidade de treinar
os seus funcionários para a comunicação com pessoas com deficiências,
principalmente no que diz respeito aos serviços de quarto, restaurante e recepção
(ABNT, 2008). Neste sentido, Berquó aponta a relevância das Tecnologias da
Informação e da Comunicação na vida de pessoas com deficiências:
As tecnologias de informação e comunicação (TIC‘s) invadiram de tal forma
o quotidiano das pessoas que se torna praticamente inimaginável nossa
vivência sem elas. O uso das tecnologias vem se tornando importante meio
de inclusão e interação no mundo, contribuindo para minimizar e diminuir as
barreiras enfrentadas pelas pessoas com deficiência, com grande impacto
na qualidade de vida dessas pessoas, dando-lhes condições de usufruir de
seus direitos de cidadãos. (BERQUÓ, 2011, p. 90)

Ademais, importante destacar o pensamento de Sassaki (2007) quanto à


premissa “Nada sobre nós sem nós” (p. 8), cuja ideia original surgiu na África no final
dos anos 1980, a qual demonstra a importância da participação de pessoas com
deficiências na tomada de decisões que digam respeito e tenham impacto sobre
suas vidas, dentre as quais a produção de recursos de Tecnologia Assistivas, por
exemplo: “A semente consistia na ideia de que as pessoas com deficiência poderiam
ser participantes, ou seja, geradoras de bens ou serviços, e não meras receptoras.”
(SASSAKI, 2007, p. 9).

3.5 Audiodescrição (AD)1

A audiodescrição é um recurso de acessibilidade comunicacional que pode


ser compreendido como a tradução de imagens em palavras. Por meio de técnicas
voltadas para elaboração de uma narrativa a ser descrita em áudio, o intuito é o de
ampliar a compreensão de imagens estáticas ou em movimento, prioritariamente
para pessoas privadas do sentido da visão; entretanto, favorece o acesso também a

1
Cabe mencionar que nos estudos da AD no Brasil, o termo aparece grafado de duas formas:
“áudio-descrição” e “audiodescrição”. A NBR 16452 de 2016 apresenta “audiodescrição”. Em respeito
aos pesquisadores citados, foram mantidas suas escolhas de grafia. A autora deste TCC adota a
palavra conforme a NBR de 2016.
35

idosos, disléxicos, analfabetos e pessoas com deficiência intelectual. A Norma


Técnica Brasileira 16452 aponta que a abreviatura se dá por meio das letras
maiúsculas “A” e “D” justapostas, podendo ser utilizada para identificar se o recurso
de audiodescrição está disponível em determinada mídia ou evento (ABNT, 2016).
A mesma NBR 16452 destaca que para a execução da audiodescrição devem
ser consideradas suas diretrizes, as quais estabelecem, dentre outros aspectos, que
todas as informações necessárias devem ser agregadas, no intuito de manter a
qualidade da AD, a qual pode conter, por exemplo, uma Nota Introdutória para
melhor favorecer a compreensão do produto audiodescrito, a qual deve preceder
qualquer produção:
As notas introdutórias devem conter:  a) descrição do ambiente e da
localização de recursos e serviços disponíveis;  b) detalhamento e
complementação dos procedimentos de segurança para situações de
emergência;  c) breve explicação sobre o processo e a relevância da
audiodescrição;  d) créditos e patrocinadores;  e) características físicas dos
personagens, papéis que desempenham, vestimentas, quaisquer gestos ou
maneirismos que usem repetidamente durante o evento;  f) cenários;  g)
definição de estilos e terminologias usados na performance;  h) descrição da
audiência, bem como registro de presença de autoridades, pessoas
famosas e conhecidas da comunidade (ABNT, 2016, p.4)

Além disso, todas as audiodescrições devem ser elaboradas por meio de um


roteiro, o qual, deve ser estruturado com a participação dos seguintes profissionais:

3.4 audiodescritor consultor: profissional que realiza a revisão e adequação


do roteiro e da narração da audiodescrição com formação técnica
adequada. Convém que seja um profissional com deficiência visual;
3.5 audiodescritor narrador: profissional que realiza a narração do roteiro da
audiodescrição;
3.6 audiodescritor roteirista: profissional que elabora o roteiro da
audiodescrição, com formação técnica adequada (ABNT, 2016, p.2)

A Normativa destaca ainda que a disponibilização de audiodescrições não


substitui outros recursos de acessibilidade comunicacional e de Tecnologia Assistiva
os quais, ao serem explorados, ampliam o potencial de apreensão de informações
pelas pessoas com deficiência, como, materiais táteis ou dispositivos impressos em
braile ou em caracteres ampliados (ABNT, 2016).
Cabe ressaltar que a Lei Nº 13.146, em seu Art. 73, dá responsabilidade ao
poder público, de forma direta ou com parcerias com organizações da sociedade
civil, para promover a formação de tradutores e intérpretes da Língua Brasileira de
Sinais (Libras), de guias intérpretes e de profissionais habilitados em Braille,
audiodescrição, estenotipia e legendagem.
36

Segundo Mattoso (2012), a técnica da audiodescrição foi proposta pela


primeira vez no ano de 1975, nos Estados Unidos, como resultado da dissertação de
mestrado do pesquisador Gregory Frazier. No Brasil, os estudos científicos
abordando a AD começaram nos anos 2000 e, em 2008, ganharam difusão por meio
da Revista Brasileira de Tradução Visual. Em 2009, foi apresentada a primeira
dissertação de Mestrado sobre audiodescrição na Universidade Federal da Bahia.
Em 2011, foi lançado o livro “Audiodescrição: Transformando Imagens em Palavras”,
o primeiro a tratar especificamente do tema. No mesmo ano, foram defendidas duas
dissertações de Mestrado: a de Flavia Oliveira Machado com o título “Acessibilidade
na televisão digital: estudo para uma política de audiodescrição na televisão
brasileira”, na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho; e a de Ana
Fátima Berquó intitulada “Dedos de Ver: informação especial no museu e inclusão
social da pessoa com deficiência visual” na Universidade Federal do Estado do Rio
de Janeiro, com um capítulo dedicado à AD. Em 2012, foi a vez de Mattoso defender
sua dissertação de Mestrado sobre o potencial informativo da audiodescrição
aplicada a obras de artes visuais bidimensionais, cuja pesquisa fora desenvolvida
por meio da parceria interinstitucional entre a Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ) e o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia
(IBICT).

3.5.1 Potencial Informativo da AD

Tanto para Mattoso (2012) quanto para Lopes (2018), a audiodescrição é um


recurso de Tecnologia Assistiva que pode ser compreendido como a tradução de
imagens em palavras, com descrições claras e objetivas dos elementos apreendidos
pelo sentido da visão:
Quando falamos em áudio-descrição, estamos diante de dois grupos
distintos de produtos a serem áudio-descritos e, consequentemente, a
técnica da áudio-descrição aplicada a obras de artes visuais bidimensionais
pode ser considerada como uma das formas de representação do objeto
artístico. (MATTOSO, 2012, p. 52)

Para Santos (2015), a audiodescrição vem sendo difundida aos poucos, mas
já vem ganhando espaço, podendo ser encontrada em casas de espetáculos,
aplicada a filmes, peças e exposições em museus. “Neste sentido, AD vem sendo
37

estudada em diferentes situações a fim de contribuir para o acesso e inclusão da


pessoa cega aos seus direitos humanos.” (LOPES, 2018, p. 21)
Para Mattoso (2019), o potencial informativo da audiodescrição para pessoas
com deficiência visual tem um aspecto singular. Para a autora, esse grupo acessa a
informação através de um “escutar” atento, mais seleto e com foco nos detalhes e
em cada palavra dita. Mattoso conecta essa ideia com o conceito de “Escuta
Sensível” de René Barbier, como se o conceito criado por esse autor francês se
conectasse perfeitamente com a percepção dela em relação às pessoas com
deficiência visual, o que é corroborado pelo pensamento de Berquó:
A audiodescrição, este importante recurso de Tecnologia Assistiva, contribui
para a inclusão social da pessoa com deficiência visual e é uma maneira de
promover acessibilidade aos meios de comunicação e informação,
necessário na quebra da barreira comunicacional por ventura existente.
(BERQUÓ, 2011, p. 90)

A Normativa 16452 traz a diferenciação entre obras bidimensionais (fotos,


pinturas, cartazes, desenhos) e obras tridimensionais (esculturas, artefatos,
instalações) e quais aspectos específicos de cada modalidade devem ser levados
em conta em relação à audiodescrição. A primeira tem a recomendação de
diferenciar os planos e a relação entre estes; para a segunda recomenda-se que
seja descrito por completo a peça, todos seus cantos e lados, com o intuito de
evidenciar todas as suas perspectivas (ABNT, 2016).
Ao propor a aplicabilidade da AD a obras de artes visuais bidimensionais,
Mattoso (2012) aponta o potencial deste modelo para a expansão de diversas áreas
do conhecimento para todas as pessoas, com ou sem deficiências, e também para
os audiodescritores. A autora traz a ideia de que, como “uma técnica de tradução
intersemiótica [...]” (2012, p. 51) onde as imagens são traduzidas em palavras, a
transformação de um produto imagético para um elemento em texto escrito que
também pode ser transformado em áudio ou em Braille, amplia o interesse e a oferta
aos dados produzidos para diversos públicos.
Para Berquó (2011), o audiodescritor traz “a leveza da audiodescrição, de sua
clareza lingüística e da acessibilidade que dá a outro registro de imagem, a arte da
fotografia.” (p. 88)
Na pesquisa de Mattoso (2012), a autora discorre sobre a importância dos
estudos em Informação em Arte e sua contribuição para a audiodescrição aplicada
às imagens estáticas. Na produção do documento, ao dar destaque para essa
38

modalidade de AD, fica nítida a diferença entre a aplicabilidade a produtos estáticos


e a produtos de imagens em movimento, os quais motivaram a proposição da
audiodescrição, inicialmente desenvolvida para produtos fílmicos e televisivos.
Em sua dissertação, Mattoso (2012) diferencia “a possibilidade de informar”,
“a potência de informar” e “o poder de informar” que a audiodescrição tem. O
primeiro é referente a audiodescrição como recurso voltado para informação e é o
meio que as pessoas podem se informar. O segundo, “a potência de informar” é
quando a audiodescrição é uma parte integrada do procedimento informativo e é a
partir dela que se pode modificar estruturas cognitivas, aumentar o aprendizado e
mudar vidas. O terceiro, “o poder de informar” é no momento em que a
audiodescrição é utilizada como um mecanismo que motiva, é um meio para
transformação de indivíduos, a reunião de conhecimentos e habilidades com o
propósito de disseminar, através do acesso à informação, potencializar a inclusão
cultural, educacional e social, movimentando as pessoas para que se apropriem
deste recurso e descubram suas capacidades, e por fim, o empoderamento de cada
um.
Após elencar e conectar os conceitos acima à abordagem da comensalidade
e da acessibilidade, a autora deste Trabalho de Conclusão de Curso revisita a
pergunta que deu origem a este tópico de referenciais teóricos e amplia o
questionamento: se o bolo de aniversário como elemento central de um ritual de
celebração é capaz de construir a identidade de um indivíduo, qual a relevância
deste na vida de pessoas com deficiência visual e de que modo podem ser apropriar
dos elementos decorativos que os destacam e os distinguem? As respostas
integram os resultados da pesquisa de campo empreendida e serão conhecidas no
próximo capítulo.
39

4. Resultados e Discussões

As respostas dos formulários e das entrevistas serão apresentadas neste


capítulo e a partir do princípio de que compreender está conectado com a existência
humana, sob abordagem qualitativa e exploratória serão analisados os dados:

O reconhecimento da especificidade das ciências sociais conduz à


elaboração de um método que permita o tratamento da subjetividade e da
singularidade dos fenômenos sociais. Com estes pressupostos básicos, a
representatividade dos dados na pesquisa qualitativa em ciências sociais
está relacionada à sua capacidade de possibilitar a compreensão do
significado e a "descrição densa" dos fenómenos estudados em seus
contextos e não à sua expressividade numérica. A quantidade é, então,
substituída pela intensidade, pela imersão profunda—através da
observação participante por um período longo de tempo, das entrevistas em
profundidade, da análise de diferentes fontes que possam ser cruzadas —
que atinge níveis de compreensão que não podem ser alcançados através
de uma pesquisa quantitativa. O pesquisador qualitativo buscará casos
exemplares que possam ser reveladores da cultura em que estão inseridos.
O número de pessoas é menos importante do que a teimosia em enxergar a
questão sob várias perspectivas. (GOLDENBERG, 2004, p. 50)

As respostas ao formulário que constituiu a primeira etapa da pesquisa


geraram os seguintes dados organizados e apresentados em gráficos:

O gráfico anterior, no formato de pizza, representa a pergunta “1.1: Qual a sua


nacionalidade?”. Do total de participantes, apenas um não tinha nacionalidade
Brasileira: é de Angola.
40

O gráfico a seguir, também em formato de pizza, contém as informações


sobre a naturalidade dos participantes: variaram bastante, sendo 24,2% natural do
Estado do Rio de Janeiro. As outras respostas foram: Angola, Sergipe, Bahia,
“mateense”, “santacruzense”, São Paulo, Medianeira Paraná, Rio Branco,
Prudentino, Cascavel Paraná, Amapá, Acre, Alagoas, Rio Grande do Norte,
“Paulistana”, Ceará e Minas Gerais. Algumas pessoas repetiram a resposta
“Brasileiro” (15,2%):

As próximas perguntas foram sobre o país, estado e cidade em que os


participantes residem atualmente, pois é possível relacionar o local com a cultura
alimentar. Para Adamoski et al (2013) o que é comido, quando, por qual grupo, tudo
é determinado a partir da cultura; a cultura sendo uma característica inerente à
humanidade, o local no qual as relações são estabelecidas pode influenciar suas
culturas alimentares. Os gráficos a seguir são no formato de pizza: a maioria dos
participantes mora no Brasil, representando 97,1%; e apenas um mora em Portugal.
41

Na pergunta sobre qual estado e cidade, a maioria mora no Rio de Janeiro –


RJ (mais de 30% dos participantes). Os outros estados são: Bahia, Espírito Santo,
Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Acre, Paraná, Minas Gerais, Alagoas, Amapá e
São Paulo. Brasil foi mencionado também.
42

A maioria mora na cidade do Rio de Janeiro (30,3%). As demais cidades são:


Lisboa, Salvador, Vila Velha, Santa Cruz do Sul, Belo Horizonte, Contagem,
Florianópolis, Ibiúna, Epitaciolândia, Presidente Prudente, Diadema, Cascavel,
Macapá, Rio Branco, Maceió, Amapá, São Paulo, Niterói, Guarulhos e Pouso Alegre.

A pergunta seguinte foi sobre o gênero do participante e no intuito de ser uma


pesquisa inclusiva, a resposta foi aberta e a maioria respondeu masculino e
feminino; apenas um participante respondeu “etero”. No gráfico em formato de pizza
é possível identificar que mais de 60% dos participantes são mulheres e 35% são
homens.
43

Foi feita uma pergunta sobre a idade dos participantes, pois para Sirota
(2008) há diferenças na maneira com que as celebrações marcaram as gerações e
destaca que na atualidade as crianças têm mais festas do que os adultos. O gráfico
em formato de pizza representando todas as respostas demonstra que as idades
dos participantes variaram bastante, com participantes entre 18 e 70 anos.
44

Na próxima pergunta, sobre estado civil, há um gráfico em forma de pizza,


caracterizando que a maioria dos participantes eram solteiros (43%), os
participantes casados representam 25%, em união estável e divorciados têm a
mesma porcentagem de 15% cada grupo.

Na pergunta sobre filhos, foi possível criar um gráfico com barras verticais.
Dos 34 participantes, 16 marcaram que tinham filhos. Desse grupo, agora
representado por um gráfico de pizza, 47% tem 1 filho, 35% tem 2 filhos e 17% tem
3 filhos. Essa pergunta foi considerada pertinente pois filhos podem impactar na
visão das pessoas sobre a celebração de aniversários e a importância do bolo. De
acordo com Mendonça (2018) para as crianças, a celebração de seus aniversários é
a união das pessoas que ela mais gosta, em conjunto a sua imaginação e
esperanças em relação ao seu dia, aquele em que sua vida será mais do que
comemorada.
45

Para conhecer um pouco mais sobre os participantes, a próxima pergunta é


sobre profissão. O gráfico criado foi no formato de pizza e as respostas foram
diversas, mas foi possível destacar que a resposta mais frequente foi de professores
46

(12,5 %). Também responderam: aposentado, administrativo, técnico, historiadora,


agente administrativo, terapeuta ocupacional, analista de sistemas, orientador de
qualidade, assistente de qualidade, operadora de telemarketing, massoterapeuta,
chefe de cozinha, do lar, jornalista, socióloga, técnica judiciária, auxiliar de vendas,
autônoma, servidor público, técnico em assuntos educacionais, advogado e
estudante.

A pergunta seguinte é para saber com quem os participantes moram: se é


sozinho, ou com família, ou com amigos. No gráfico em formato de pizza, mais de
70% dos participantes moram com a família, mais de 20% mora sozinho e dois
participantes deram respostas diferentes sobre morar com a mãe (somos eu e minha
mãe; com minha mãe).
47

A pergunta seguinte é sobre nível de escolaridade. O gráfico em formato de


pizza informa que a maior parte dos participantes (23%) têm Ensino Superior
completo; 20% têm pós-graduação completo; 20% têm ensino médio completo; 14%
têm Ensino Superior incompleto; 11% têm Ensino Médio incompleto e 8% tem pós-
graduação incompleto.
48

A próxima pergunta foi sobre a tipologia de deficiência visual, com um gráfico


em barras verticais. Foi possível identificar que 15 participantes ficaram cegos, 8
nasceram cegos, 4 nasceram com baixa visão, 4 tornaram-se baixa visão e 4
participantes responderam por extenso sobre suas deficiências: “Nasci baixa visão e
depois fiquei cega”; “nasci enchergando de um olho só e bem pouco. Depois perdí
tudo”; “Nasci com visão normal, porém depois de alguns problemas genéticos,
houve a perda da visão, enxergando como baixa visão só de um dos olhos. E depois
de mais um tempo, acabei perdendo-a por completo.”; “Perdi a visão com o tempo.”.

A pergunta seguinte foi sugerida pelo colaborador Márcio Felipe e é sobre a


condição de Daltonismo, para incluir as pessoas com baixa visão e suas percepções
de cor, caso elas tenham mudado. Com isso, foi produzido um gráfico em formato de
pizza indicando que dois dos participantes, representando 6% da pesquisa, têm
daltonismo.
49

Na próxima pergunta começa a 2a Seção, Informações sobre Aniversário. O


gráfico em barras verticais correspondente à pergunta sobre a comemoração de
aniversário em família demonstra que 18 participantes marcaram “Sim, celebramos
bastante, cada detalhe é importante.”; 15 participantes marcaram “Sim,
comemoramos, mas nada demais.”; e 1 participante marcou “Não, não damos
importância”. Segundo Sirota (2008) um ritual não é criado a partir do nada, aparece
em função das referências sociais; então, se as famílias comemoram seus
aniversários é mais provável que quando adultos, as pessoas procurem participar
desse ritual.
50

A pergunta seguinte é sobre o costume de comemorar o próprio aniversário,


representada por um gráfico de barras verticais: 23 participantes marcaram “Sim,
com pequenas reuniões”; 6 marcaram “Sim, com grandes festas”; e 5 marcaram
“Não tenho esse costume”. Para Santos (2013), independente do tamanho do
evento, o bolo de aniversário sempre está presente; é o que define o sentido da
comemoração. Contudo, é importante informar que anteriormente à pandemia
devido ao novo Coronavírus, no Brasil, houve um aumento nos tamanhos das festas,
sendo eventos maiores, com impacto econômico e empresas especializadas para
realizar os desejos do aniversariante e sua família (MENDONÇA, 2018). Com a
pandemia, a produção das festas teve que se adaptar para escalas menores, mas
manteve a importância dos detalhes, principalmente decoração, bolo e doces
temáticos (CÉSAR, 2020).

A próxima pergunta é para os participantes que são pais e é em relação ao


costume de comemorar o aniversário dos filhos. Em um gráfico de barras verticais
estão as proporções das respostas: 10 participantes marcaram que “Sim, com
pequenas reuniões.”; 6 marcaram “Sim, com grandes festas.”; 1 marcou “Não tenho
51

esse costume.”; e 15 marcaram “Não tenho filhos.”. Prosseguindo a reflexão sobre a


importância do evento de aniversário para as crianças pela perspectiva de seus pais,
o aniversário para crianças é o dia em que suas vontades se realizam, recebem
presentes, têm a reunião com os amigos e todos comemoram sua vida; durante a
infância, o aniversário é vivenciado de maneira lúdica e, graças à ingenuidade, esse
dia se torna mais especial. (MENDONÇA, 2018).

Na próxima pergunta começa a 3a Seção: sobre Bolos de Aniversário. A


primeira pergunta é para saber se os participantes gostam de bolo de aniversário.
Em um gráfico de barras verticais é possível ver que mais de 20 participantes acham
que “Sim, melhor parte do evento.” e 10 participantes marcaram “Sim, mas prefiro
outros doces”. Para compreender os participantes e sua relação com o bolo, é
importante saber se eles gostam de bolo; apesar de subjetiva, qualquer
possibilidade de escolher o que comer e a vastidão de modos de preparo e consumo
dos alimentos é uma questão pessoal, depende de cultura, costumes, educação,
histórias e, revela a relação de afeto com a comida. (DOMICIANO, 2015, p.93).
52

O gráfico a seguir é formado por barras verticais e corresponde à pergunta


“3.2: Se você gosta de bolo, qual é sua parte favorita dele?”. Mais de 20
participantes marcaram “Os sabores, da massa, do recheio, da cobertura.” e 12
participantes marcaram “O sabor e a estética são importantes para mim.”. O bolo de
aniversário é o elemento central do evento e independente do tamanho, formato, tipo
de festa, o bolo, por si só, identifica e possibilita a comemoração da passagem de
tempo e marca a vida das pessoas. (SIROTA, 2004)
53

Na próxima pergunta, a intenção é saber se os participantes acham que o


bolo é um destaque do evento “aniversário”. No gráfico de barras abaixo, foram 30
respostas que “Sim” eles acham que é um dos destaques e 4 respostas que “Não”.
Para Sirota (2004, p. 54): “O bolo de aniversário sozinho simboliza no imaginário
social a celebração contemporânea do ritual de aniversário” (tradução nossa). Não
só o bolo, mas também o momento de repartição dele, é característico desse rito de
passagem, e são capazes de construir a identidade pessoal dos indivíduos desde a
infância.

O próximo gráfico em barras corresponde à primeira pergunta da 4a Seção,


relativa ao sentimento dos participantes. Nesta pergunta o objetivo é saber se eles
têm um bolo de aniversário favorito. Apesar de existirem diversas culturas, os
aniversários e os bolos ganham representações singulares. Sendo o bolo um
elemento muito importante, especialmente no imaginário infantil, era esperado que a
maioria das pessoas tivesse um bolo de aniversário favorito, principalmente vindo da
infância (MENDONÇA, 2018). Das respostas, mais de 20 participantes marcaram
que “Não, não tenho um bolo de aniversário favorito.”; mais de 10 marcaram que
54

“Sim, marcou minha festa, foi super importante para mim.”; e 1 marcou que “Sim,
mas não foi tão importante para mim.”.

A pergunta seguinte sobre o bolo de aniversário e o impacto das


comemorações ao longo dos anos foi fundamentada nas pesquisas de Mattoso. De
acordo com os estudos dela, é danoso o inacesso a momentos de comensalidade às
pessoas com deficiência visual, o que pode gerar sérios prejuízos à sua saúde física
e psicológica. Como o ritual do aniversário é tão rico quanto aos aspectos da
comensalidade, com momentos de união e partilha, é importante conhecer qual sua
relação com seus bolos de aniversários. As respostas estão representadas em um
gráfico de barras azuis: 20 participantes marcaram “Fico super feliz em escolher e
decidir cada detalhe.”; 6 participantes marcaram “Sei que é uma parte da
comemoração de aniversário, mas não gosto de escolher.”; 6 marcaram “Não me
importo, deixo que outras pessoas escolham para mim.”; e 1 marcou “Não me
importo, normalmente nem tenho bolo de aniversário.”.
55

A 5a Seção começa na próxima pergunta, agora para saber se os


participantes conhecem o recurso de audiodescrição. O gráfico em formato de pizza
demonstra que 100% dos participantes conhecem esse recurso. Sabendo-se que os
participantes conheciam o recurso, a ideia era apresentar, na prática, fotografias de
bolos audiodescritas.
56

A pergunta seguinte é a última do formulário. No termo de compromisso é


estabelecido que essa seria uma pesquisa em duas etapas, o formulário sendo a
primeira e um contato pelo aplicativo “WhatsApp”, a segunda. No intuito de que mais
uma vez manifestassem interesse na participação nas duas etapas, com a próxima
pergunta o interesse era saber se eles gostariam de conhecer a audiodescrição de
alguns bolos. Somente uma das pessoas que respondeu o formulário marcou que
“Não” e não deixou um número de celular para contato. Foi surpreendente a
resposta negativa, pois na introdução do formulário foi estabelecido que haveria uma
segunda etapa e ao chegar no final do documento e não ter a curiosidade de
conhecer a audiodescrição dos bolos foi inesperado.

A segunda etapa da pesquisa foi estruturada por meio de uma entrevista


projetiva, feita por meio do aplicativo “WhatsApp” e teve respostas muito
interessantes, considerando-se os aspectos destacados por Mattoso em relação à
uma Gastronomia que se desdobre em comensalidade para todos:

Muito mais do que o ato de comer junto, que promova sociabilidade e


conviviabilidade equânines, para que todas as pessoas, com ou sem
deficiência, tenham acesso e possam fruir os, dos e nos momentos à mesa,
repletos de ricas trocas, plenos de elementos simbólicos representativos de
hábitos e costumes traduzidos em rituais gastronômicos que validam a
57

identidade dos mais diversos povos em torno do mundo; momento que


desdobra-se em elemento comunicador, que revela a “comida como cultura”
e ratifica o pensamento de Savarin: “o homem é aquilo que come!”
(MATTOSO, 2016, p. 21)

A pergunta de número 1 foi “O que representa para você a oportunidade de


conhecer os bolos de aniversário apresentados por meio da audiodescrição?”.
As respostas foram sobre a representação de igualdade de acesso à
informação e ao conhecimento sobre bolos, os sabores e a apresentação,
evidenciando que a audiodescrição representa a possibilidade de uma sensação
próxima ou semelhante a que pessoas sem deficiências sentem diante da comida,
quando o sentido da visão as permite desejar aquele alimento antes de prová-lo,
remetendo, portanto, à questão que motivou a realização desta pesquisa: primeiro
se come com os olhos?
Para os participantes a audiodescrição significa independência,
empoderamento, poder de escolha sobre aquilo que irá comer, sobre de que modo
decorar um bolo e a aparência final de um produto tão importante nos seus
aniversários. De acordo com as respostas, a audiodescrição dos bolos escolhidos
demonstrou maior relevância, pois eram produtos ricos em detalhes e a sua
apresentação por meio de áudio foi ainda mais significativa. Representou também
uma novidade, positiva, bastante interessante. Mas talvez, por serem tantas
informações, possa se tornar uma atividade cansativa para as pessoas com
deficiência visual durante o processo de escolha de seus bolos em uma confeitaria.
As lacunas informacionais/comunicacionais, de acordo com Mattoso (2016),
alteram os momentos de comensalidade vivenciados pelas pessoas com deficiência
visual, sobretudo fora de casa. As barreiras atitudinais/comunicacionais que são
geradas pela falta de acessibilidade, têm a capacidade de impedir que pessoas com
deficiência ou com mobilidade reduzida possam usufruir plenamente de momentos
de comensalidade. Sendo o ritual do aniversário um destes momentos e seus bolos
de aniversário um objeto desconhecido, é possível que seja irrelevante como
símbolo da festa. Entretanto, as respostas indicaram que a audiodescrição altera
positivamente sua relação com os bolos de aniversário, abrindo caminhos e
descobrindo novos detalhes desse objeto tão marcante no imaginário individual e
coletivo.
58

Das respostas recebidas, vale ressaltar algumas delas:


A audiodescrição pra mim é sempre uma ampliação e costuma preencher
as lacunas que a minha visão sendo subnormal produz na formação da
imagem, presencialmente, ela serve como um guia que vai levando os meus
olhos para os detalhes, para as minúcias e esclarecendo dúvidas que se
apresentam diante de mim a partir da formação imperfeita que eu tenho da
imagem;

Porque até os meus dezesseis anos o bolo pra mim era um amontoado de
massa, né? Que era posto de vários sabores, não entendia nada, né?
Porque eu não podia me aproximar muito do bolo, devido que poderia é é
provocar um acidente, né? Não me deixavam também, né? Porque
geralmente os espaços eram com escadas, com desnível né? E eu poderia,
de repente, por a mão no bolo e coisa assim. Isso, era que me falavam.
Então, pra mim, eu não tinha noção que era um bolo, que era uma o que
tava dizendo na imagem, na decoração,[...];

Porque normalmente quando eu vou a festas e a minha irmã está presente,


eu acabo tendo noção do cenário, mesa, né? E inclusive do bolo, porque ela
realmente descreve. Porém, quando eu não estou com ela, isso passa
normalmente, a gente até fica curiosa querendo saber o desenho do bolo, o
tema. E nem sempre você sabe o tema do bolo, nem, nem sempre te diz
tudo, né?;

[...] mas isso me encheu os olhos e encheu minha boca d'água também;

Para mim, a audiodescrição, em bolos de aniversário, representa uma


oportunidade grande de tá incluída numa festa, pessoas com deficiência
visual normalmente vão a festas e ficam um bocado perdidas e o bolo de
aniversário eu acho que é um tema importante numa festa e deve ser
descrito,[...];

Eu, inclusive, quando vou a algum aniversário, casamento, qualquer festa


que tenha bolo, se o bolo demorar muito a sair, se eu tiver que sair antes de
cortar o bolo, eu, com certeza, saio muito injuriado.

Em seguida, foi a pergunta número 2 “Você considera importantes as Notas


Introdutórias?” e as respostas foram mais sucintas que a anterior. Um tópico foi
surpreendente: não era esperada a expressão de irrelevância na contextualização
do tema dos bolos. Ainda que tenha sido somente em uma resposta, há que se
considerar e refletir. A resposta da maioria foi que sim, muito importante, que foi
muito legal saber a origem dos temas e compreender o significado por trás da
decoração dos bolos. Também foi destacada a importância das Notas Introdutórias
para compreensão geral da audiodescrição. Além disso, a importância de informar
os materiais utilizados tanto para compreensão estética, por exemplo dos telhados
cônicos do Castelo que eram casquinhas de sorvete, como também para saber se
os produtos utilizados, se podem causar alguma reação alérgica ou intolerância.
Alguns participantes alertaram que o texto ficou um pouco grande e que eram muitas
59

informações, sugerindo que alguns detalhes poderiam ser dispensáveis,


dependendo do público.
As Notas Introdutórias fazem parte do roteiro de audiodescrição. Segundo a
ABNT (2016) as notas devem conter diversos detalhes e descrever desde o
ambiente até o produto em foco, sendo uma imagem estática ou em movimento.
Todavia, apesar das diretrizes estabelecidas, havia, por parte da pesquisadora, o
interesse em conhecer a opinião das pessoas com deficiência visual, pois a
audiodescrição é um produto geralmente voltado para este público; afinal, qual é o
sentido de se fazer algo se não for agregar valor e informação para seu
público-alvo?

Algumas das respostas da segunda pergunta devem ser destacadas:


Eu gostei de saber as informações e a origem dos bolos que foram
descritos. Porém, acho que fica um texto muito grande. Por isso, penso que,
em alguns casos, pode ser dispensada essa informação;

Sim, bastante. O bolo é a vedete da festa, não só uma festa de aniversário,


de casamento, de formatura, mas, sobretudo nas festas de aniversário a
esmagadora maioria são bolos e festas infantis. E as festas infantis
costumam ser temáticas. Mesmo adultos, eu particularmente sou uma
dessas, por vezes fazem festas temáticas. As festas de casamento, elas
têm um conceito, hoje em dia, sobretudo, as festas têm conceitos, a moda
tem conceito e porque não a gastronomia? E as proêmias são justamente o
espaço onde isso vai poder ser passado, o conceito que envolve aquele
bolo que não deixa de ser uma obra de arte. Então, elas são muito
necessárias. Embora, hoje em dia, a gente viva um momento de excesso de
informação, é preciso discernir as que são necessárias e as que são
excedentes. Nesse caso, eu acho que essas informações não são meras
informações, mas são conhecimento. E até podem ser mesmo cultura. Acho
muito importante sim;

É legal conhecer a história de cada bolo, porém não é necessário.

Além disso, para Sassaki e Mattoso o conceito de acessibilidade sob o


aspecto de qualidade de vida é um facilitador para atividades humanas, e, se for
feito de acordo com o Desenho Universal, é possível beneficiar todas as pessoas,
com ou sem deficiências. Portanto, sendo uma ferramenta geralmente de baixo
custo de produção, seria interessante que a audiodescrição fosse oferecida nas
vendas de bolos e, quem sabe um dia, na venda de todo e qualquer produto.
Por fim, a pergunta número 3: "Como um elemento de acessibilidade
comunicacional, a audiodescrição deve ser incorporada ao processo de
comercialização de bolos de aniversários?”
60

Após observar todas as respostas, de todas as perguntas, essa foi a que teve
maior repercussão. Porque a maioria dos participantes demonstrou interesse, como
era esperado, mas ao mesmo tempo uma preocupação com a audiodescrição e
todas suas minúcias, demandando tempo e dinheiro para produção. Além disso,
como seria importante e interessante mais objetos e lugares serem audiodescritos
para promoção da inclusão para todos.
Como dito anteriormente, as respostas, majoritariamente, foram que sim, a
audiodescrição deve ser incorporada no processo de comercialização de bolos e
propaganda dos produtos, pois é uma ótima ferramenta, proporciona o acesso,
especialmente, se for feita segundo suas diretrizes. A oferta de produtos
audiodescritos auxiliará na contratação de serviços, porém, alguns participantes
alertaram que a audiodescrição ainda é um produto muito novo e que deve ser
difundido antes de proposto dessa forma. Como na pergunta anterior, houve a
preocupação com o tempo das pessoas e foi destacado que, sim, é interessante,
mas para bolos mais complexos.
No aspecto mercadológico, atrair mais um grupo de consumidores para ser
considerado seu público de vendas é, na maioria das vezes, uma boa estratégia.
Assim, oferecer a audiodescrição pode ser um processo de baixo custo e de alto
retorno. Cabe destacar que essa pesquisa, de caráter qualitativo, apresenta indícios
em diversas abordagens, por meio dos dados obtidos e indícios podem nortear
ações e estratégias futuras, mas, jamais devem ser vistos como verdades absolutas.

A seguir, algumas das respostas da última pergunta da entrevista que


precisam ser destacadas:
Penso que sim, deve ser incorporada, pois vai auxiliar muito aos deficientes
visuais quando forem contratar esse serviço. É muito importante para nós,
mesmo não vendo, sabermos como é o bolo da nossa festa ou da festa do
nosso amigo ou familiar.;

Porém, fazendo um link com a última pergunta, quando se trata de, por
exemplo, um catálogo ou um site no momento de aquisição de um bolo, ou
de qualquer outro produto, que eu não esteja diante, com ele diante de mim
que eu não possa chegar mais perto, focar aqui, ali, tentar buscar os
detalhes, essa audiodescrição ela vai funcionar como um guia muito mais
abrangente na formação mesmo da imagem, que, por vezes, as fotos e os
flyers, enfim, os catálogos, não permitem a menor noção de profundidade, de
ângulo, às vezes até de cor. Então, nesse caso, eu acho extremamente mais
importante ainda, porque presencialmente, ela vai funcionar como essa
ampliação, vai fazer com que eu desfrute melhor, possa admirar mais aquele
bolo. Mas em se tratando de um catálogo, de um site, ela vai viabilizar essa
criação imagética, essa formação de imagem, que, por vezes, ela sequer se
61

inicia nesses veículos. E isso, é claro, é que pode fazer com que eu venha a
me interessar ou não pelo produto. No caso, querer ou não comprar este ou
aquele bolo;

Podia ter uma plataforma onde teria o nome dos bolos e áudio descrição de
cada um, dessa forma facilitaria a escolha dando a liberdade da pessoa ouvir
quantas vezes for necessário, com calma, E depois de ter escolhido bolo
entrar em contato com quem está vendendo aquele bolo;

Olha, pra mim, realmente, é importante, mas eu não acho que isso é,
sinceramente, não é uma coisa que eu vejo assim, tão possível, porque tem
tantas coisas importantes que seria muito bom ter audiodescrição pra gente,
né? E não tem. [...] É importante, mas aos olhos de quem? [...] A
audiodescrição vai onerar mais gastos lá, né?[...] Já é uma coisa que eu num,
eu obrigatório, eu acho que não, sabe? Mas, com certeza, eu daria a
preferência a comprar, a adquirir um bolo que tivesse, né? Que me
oferecesse lá na descrição, tá bom?;

Eu tenho certeza que se esse fato acontecer, a procura e a comercialização


aumentará bastante, porque isso nos dá independência, nos dá autonomia
pra escolher aquilo que queremos e saber passo a passo, né? Os detalhes
daquele bolo, todas as informações.
62

5. Considerações

Refletindo acerca do tema “Acessibilidade em Gastronomia”, a autora deste


Trabalho de Conclusão de Curso foi instigada a conhecer a relevância do “bolo de
aniversário” como elemento simbólico na vida de pessoas com deficiência visual. A
partir dos resultados é possível afirmar que sim: o bolo de aniversário é relevante no
ritual “festa de aniversário” para aquelas pessoas.
A princípio, a hipótese era a de que o inacesso ao conhecimento sobre
recursos de Tecnologia Assistiva seria impeditivo para que pessoas com deficiência
visual compreendessem a relevância e pudessem desfrutar dos aspectos simbólicos
inerentes ao elemento gastronômico “bolo de aniversário”. Porém foi descoberto que
todos os participantes tinham conhecimento do recurso de Tecnologia Assistiva
denominado audiodescrição, mas não voltada para bolos; este é o fato novo
revelado pela pesquisa. A relação do bolo de aniversário e seu simbolismo na
celebração anual pelo nascimento de alguém sempre foi relevante; o que aquelas
pessoas sentiam falta era dos destaques estéticos do elemento “bolo de
aniversário”, agora, por meio desta pesquisa, a elas revelados pela audiodescrição.
Um dos motivadores para esta pesquisa foram, sem dúvida, os estudos sobre
acessibilidade e os questionamentos levantados a partir da expressão popular
“primeiro se come com os olhos”(?). Porque além de acreditar que a visão não é o
primeiro sentido que a comida desperta, a autora fica indignada com o fato de que
as pessoas se utilizam desta frase trazendo tanta verdade em si e ao mesmo tempo
sequer se preocupam com os aspectos da acessibilidade. Como é possível uma
pessoa acreditar que um sentido influencia tanto em sua alimentação e ao mesmo
tempo não estuda e não produz audiodescrições de suas comidas favoritas?
A pesquisa atendeu aos seus objetivos: a revisão bibliográfica proporcionou
respostas em relação aos aspectos da comensalidade no rito de passagem
“aniversário” e o elemento gastronômico a este associado, o bolo. Também foi
investigado o lugar do bolo de aniversário na vida de pessoas com deficiência visual,
compreendendo que o bolo faz parte da vida delas, de formas diferentes, sendo os
sabores marcantes, em conjunto com a expectativa de seus companheiros de vida
os apresentarem por meio de descrições e até escolhas planejadas com auxílio de
confeiteiros que descrevem seus produtos. Ademais, os estudos sobre o potencial
informativo da audiodescrição para a promoção do acesso a pessoas com
63

deficiência visual ao elemento gastronômico “bolo de aniversário” foram positivos


para compreensão estética das produções em açúcar como também para um
recorte mercadológico, ampliando a possibilidade de participação de um público-
alvo que, minimamente por direito, deveria ser contemplado e respeitado como
consumidor.
O Levantamento de Campo, desenvolvido por meio de formulário online e
entrevista projetiva, com caráter exploratório e qualitativo, e técnicas de Escuta
Sensível e Pesquisa-COM promoveu resultados para além dos que foram
objetivados. Todavia, certamente serão necessárias novas investigações que unam
acessibilidade e gastronomia, em especial voltadas para o segmento da confeitaria.
Por fim, essa pesquisa é apenas um “pontapé inicial”. Pesquisar sobre
acessibilidade é propor o acesso a todos e isso deve ser desenvolvido e aprimorado
constantemente. Os estudos sobre Acessibilidade em Gastronomia estão apenas
começando: serão necessárias mais monografias, dissertações e teses para
aprofundar conhecimentos sobre o tema. Sugere-se então pesquisas que envolvam
outros recursos de Tecnologia Assistiva, com produtos táteis que ampliem a
percepção das pessoas com deficiência visual a produtos gastronômicos, por
exemplo.
64

Referências

ADAMOSKI, Tiago Manika, et al. Comer Para Lembrar: A Alimentação E A


Preservação Da Identidade Étnica Polonesa Nas Colônias Murici E Mergulhão. CAD.
Est. Pes. Tur. Curitiba, v. 2, p. 80-106, jan./dez. 2013

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15599 –


Acessibilidade – Comunicação na Prestação de Serviços. Rio de Janeiro: ABNT,
2008

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 16452 –


Acessibilidade na comunicação — Audiodescrição. Rio de Janeiro: ABNT, 2016.

BARBIER, René. Escuta sensível na formação de profissionais de saúde. In:


CONFERÊNCIA NA ESCOLA SUPERIOR DE CIÊNCIAS DA SAÚDE, 2002, Brasília.
Anais. Brasília: FEPECS, 2002. p. 1-17.

BATISTA, Eraldo Carlos. MATOS, Luís Alberto Lourenço. NASCIMENTO,


Alessandra Bertasi. A entrevista como técnica de investigação na pesquisa
qualitativa. Revista Interdisciplinar Científica Aplicada, Blumenau, v.11, n.3, p.23-38,
TRI III 2017. ISSN 1980-7031

BERQUÓ, Ana Fátima. Dedos de Ver: informação especial no museu e a inclusão


social da pessoa com deficiência visual. 2011. 151 f. Dissertação (Mestrado) -
Centro de Ciências Humanas e Sociais, Museu de Astronomia e Ciências Afins,
Universidade Federal do Estado Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2011

BESSONE, Magali. Exclusão: excluído e marginalizado. In: MONTANDON, Alain. O


livro da Hospitalidade: acolhida do estrangeiro na história e nas culturas. São
Paulo: Editora Senac, 2011. p. 1089-1102. Tradução de Marcos Bagno e Lea
Zylberlicht.

BOFF, Leonardo. Comensalidade: refazer a humanidade. América Latina En


Movimiento, [S.L.], 17 abr. 2008. Disponível em:
https://www.alainet.org/pt/articulo/127031. Acesso em: 10 abr. 2021.

BORGES, Ana Marta de Brito. Comensalidade: a mesa como espaço de


comunicação e hospitalidade. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos
Interdisciplinares da Comunicação: XXXIII Congresso Brasileiro de Ciências da
Comunicação, Caxias do Sul, p. 13, set. 2010.

BOUTAUD, Jean Jacques. Comensalidade: Compartilhar a Mesa. In: MONTANDON,


Alain. O livro da Hospitalidade: acolhida do estrangeiro na história e nas culturas.
São Paulo: Editora Senac, 2011. p. 1213-1230. Tradução de Marcos Bagno e Lea
Zylberlicht.

BRASIL, 2000. Lei no 10.098, de 19 de novembro de 2000. Estabelece normas


gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras
de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências.
65

BRASIL, 2015. Lei no 13.146, de 06 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de


Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência),
destinada a assegurar e a promover, em condições de igualdade, o exercício dos
direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua
inclusão social e cidadania.

BRILLAT-SAVARIN, Jean Anthelme. The physiology of taste. 10. ed. [S.L.]:


Merchant Books, 2002. Tradução para o inglês: Fayette Robinson.

CANCHERINI, Ângela. A escuta sensível como possibilidade metodológica. In:


IV SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE PESQUISA E ESTUDOS QUALITATIVOS, 4,
2010, Rio Claro. Anais. São Paulo: SIPEQ, 2010

CÉSAR, Luiza. Aniversário na quarentena: veja como 8 famílias comemoraram a


data. Crescer, [S.I.], 11 abr. 2020. Disponível em:
https://revistacrescer.globo.com/Criancas/noticia/2020/04/aniversario-na-quarentena-
veja-como-8-familias-comemoraram-data.html. Acesso em: 02 out. 2020.

DA COSTA, Marcilene Silva. Mandioca é comida de quilombola? Representações e


práticas alimentares em uma comunidade quilombola da Amazônia brasileira.
Amazônica-Revista de Antropologia, v. 3, n. 2, p. 408-428, 2012.

DOMICIANO, Gabriela Silva. COMER COM OS OLHOS: diálogos possíveis entre


visão e paladar. 2015. 105 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Faculdade de Artes
Visuais, Programa de Pós-Graduação em Arte e Cultura Visual, Universidade
Federal de Goiás, Goiânia, 2015.

FRANCO, Ariovaldo. De Caçador a Gourmet: uma história da gastronomia. 3. ed.


São Paulo: Senac São Paulo, 2004.

GIL, Antônio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 4. ed. São Paulo:
Editora Atlas S.A, 2002.

GIL, Antônio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 6. ed. São Paulo:
Editora Atlas S.A., 2008.

GOLDENBERG, Mirian. A arte de pesquisar: como fazer pesquisa qualitativa em


ciências sociais. 8. ed. Rio de Janeiro: Editora Record, 2004.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE) (2011) –


Censo 2010. Disponivel em: http://www.censo2010.ibge.gov.br/. Acesso em: 07 de
nov. 2020.

KASTRUP, Virgina; MORAES, Marcia. (orgs). Exercícios de ver e não ver: arte e
pesquisa com pessoas com deficiência visual. Rio de Janeiro: Nau, 2010. 288 p.

LOPES, Cleide Rita Nunes. Contribuições da audio-descrição para


acessibilidade a educação alimentar e nutricional: enfoque na construção de um
cardapio inclusivo para pessoa cega. 2018. 40 f. TCC (Graduação) - Curso de
Nutrição, Universidade Federal de Pernambuco,, Vitória de Santo Antão, 2018.
66

MATTOSO, Verônica de Andrade. Ora, direis, ouvir imagens? um ohar sobre o


potencial informativo da áudio-descrição aplicada a obras de artes visuais
bidimensionais como representação sonora da informação em arte para pessoas
com deficiência visual. 2012. 187 f. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de
Administração e Ciências Contábeis, Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e
Tecnologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2012.

MATTOSO, V. A. Proposta de criação da disciplina eletiva “Acessibilidade em


Gastronomia”. Instituto de Nutrição Josué de Castro, Universidade Federal do Rio
de Janeiro, Rio de Janeiro, 2016.

MATTOSO, Verônica de Andrade et al. “Acessibilidade em Gastronomia” da


Universidade Federal do Rio de Janeiro: desconstruindo o inacesso ao
conhecimento e à comensalidade. In: I SIMPÓSIO SAÚDE E EDUCAÇÃO:
SABERES E PRÁTICAS, 1., 2018, Rio de Janeiro. Anais [...] . Rio de Janeiro:
Instituto Benjamin Constant, 2018. p. 1-7.

MATTOSO, Verônica de Andrade. “No seu lugar” para perceber a acessibilidade


comunicacional: relato de experiência de elaboração de uma dinâmica de
sensibilização. In: SALLES, Raquel Bellini; PASSOS, Aline Araújo; LAGE, Juliana
Gomes. Direito, vulnerabilidade e pessoas com deficiência - Rio de Janeiro:
Processos, 2019. p. 563 - 599.

MENDONÇA, Lays Salgado de. SIMBOLOGIA DAS CELEBRAÇÕES DE


ANIVERSÁRIO: uma perspectiva do design sobre festas infantis. 2018. 55 f. TCC
(Graduação) - Curso de Bacharelado em Design, Centro Acadêmico do Agreste,
Universidade Federal de Pernambuco, Caruaru, 2018.

MONTANARI, Massimo. Comida Como Cultura. São Paulo: Editora Senac, 2004.
207 p.

NIEBLE, Bruna Delchiaro. Comensalidade através dos tempos. Contribuciones A


Las Ciencias Sociales, [S.L.], fev. 2010.

RODRIGUES, Heloisa de Almeida Fernandes. “Alimentação como fonte de


sociabilidade e de hospitalidade”. In: SINAIS - Revista Eletrônica. Ciências Sociais.
Vitória: CCHN, UFES, Edição n.12, v.1, Dezembro 2012. pp. 85 – 100.

SAINT-EXUPÉRY, Antoine de. O Pequeno Prìncipe. 48. ed. Rio de Janeiro: Agir,
2002. 96 p. Com aquarelas do autor. Tradução de Dom Marcos Barbosa.

SANTOS, Núbia de Oliveira. Quando “menos” é “mais”: a criança e seu


aniversário. 2013. 265 f. Tese (Doutorado) - Faculdade de Educação, Centro de
Educação e Humanidades, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro, 2013.

SANTOS, Larissa Nascimento dos. A implantação da audiodescrição como


ferramenta do desenho universal em meios de hospedagem. Revista Campo do
Saber. Volume 1 - Número 1 - jan/jun de 2015. p. 74 - 87.
67

SASSAKI, Romeu Kazumi. Nada sobre nós, sem nós: Da integração à inclusão –
Parte 1. Revista Nacional de Reabilitação, ano X, n. 57, jul./ago. 2007, p. 8-16.

SIROTA, Régine. Le gâteau d'anniversaire. De la célébration de l'enfant à son


inscription sociale. Revista La lettre de l'enfance et de l'adolescence. 2004/1, n.
55. p. 53-66.

SIROTA, Régine. Les Délices de L'anniversaire. Une Mise en Représentation de


L'enfance. Revista Eletrônica de Educação, v. 2, n. 2, p. 4-31, 2008. Tradução
original do Francês: Rosária Cristina Costa Ribeiro; Revisão Técnica: Anete
Abramowicz.

VISSER, Margaret. O Ritual do Jantar: as origens, a evolução, excentricidades e


significado das boas maneiras à mesa/ Margaret Visser; tradução Sandra Coutinho –
Rio de Janeiro: Campus, 1998. 430p.
68

APÊNDICES
69

APÊNDICE A

Texto e áudio para divulgação do link do formulário:


Olá, meu nome é Juliana Castelo, sou graduanda em Gastronomia na
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Estou concluindo meu curso e produzindo
um trabalho sob orientação da professora Verônica Mattoso. Na minha pesquisa eu
quero conhecer a opinião de pessoas com deficiência visual sobre o elemento
gastronômico bolo de aniversário, para isso desenvolvi um formulário e conto com a
participação de vocês. Um abraço!

QRCode Audio para divulgação do link do formulário de pesquisa


70

APÊNDICE B

Formulário Google: encaminhado aos participantes em duas datas distintas. A


primeira vez no dia 20 de abril. Em não tendo ocorrido o número de respostas
considerado razoável para a pesquisa, a segunda data de encaminhamento foi no
dia 02 de maio.

Formulário Pesquisa para TCC da Gastronomia UFRJ:


TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Prezado(a) Participante:

Você está sendo convidado(a) a participar de forma voluntária de uma pesquisa


acadêmica com duas etapas: a primeira é um questionário com perguntas abertas e
fechadas e a segunda um contato pelo aplicativo Whatsapp através do número da
pesquisa, para respostas abertas através da função de áudio.
Antes de concordar em participar, é muito importante que você leia este
documento até o final e compreenda as informações e instruções neste contidas.
Todas as suas dúvidas devem ser respondidas antes que você decida participar.
Importante destacar também que você tem o direito de desistir de participar da
pesquisa a qualquer momento, sem qualquer prejuízo. Atenção: depois de responder
as perguntas, não esqueça de clicar em ENVIAR para encaminhar o formulário
respondido.

Título provisório do estudo: O bolo de aniversário na vida de pessoas com


deficiência visual: acessibilidade e comensalidade
Objetivo do estudo: Conhecer a relevância do “bolo de aniversário” para
pessoas com deficiência visual.
Instituição/Departamento: Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ),
Instituto de Nutrição Josué de Castro, Curso de Bacharelado em Gastronomia
Pesquisador responsável: Juliana Féres Castelo

Você poderá esclarecer quaisquer dúvidas sobre o estudo ou algum dado


relacionado à pesquisa por meio de contato com a pesquisadora e aluna do Curso
71

de Bacharelado em Gastronomia da UFRJ, Juliana Féres Castelo (email:


juliana.feres.castelo@gmail.com ou pelo celular 21 975587818), ou com a
professora orientadora Verônica de Andrade Mattoso (e-mail:
veronicamattoso@uol.com.br ou pelo celular 21 97028-3570).

Riscos. A participação na pesquisa não representa qualquer risco de ordem


física ou psicológica para você.
Sigilo. As informações concedidas por você serão confidenciais e de
conhecimento apenas dos pesquisadores responsáveis. Os sujeitos da pesquisa não
serão identificados em nenhum momento, mesmo quando os resultados desta
pesquisa forem divulgados.

Divulgação. Os resultados da pesquisa podem ser amplamente divulgados


pelos pesquisadores responsáveis em quaisquer meios, acadêmicos ou não.

AGRADECEMOS A SUA PARTICIPAÇÃO!

CONSENTIMENTO (*Resposta Obrigatória)

( ) Concordo em participar voluntariamente deste estudo, ciente de que poderei


retirar meu consentimento a qualquer momento, sem penalidades ou prejuízos. Para
tanto, respondo as perguntas do questionário que se segue.

ITEM 1: DADOS PESSOAIS


1.1 Qual a sua nacionalidade?
Brasileira
Outro:_______________________________________

1.2 Qual a sua Naturalidade:


RESPOSTA ABERTA
Márcio: Mudar para regiões?

1.3 Hoje, em qual país você mora?


RESPOSTA ABERTA
72

1.4 Hoje, em qual estado você mora?


RESPOSTA ABERTA

1.5: Hoje, em qual cidade você mora?


RESPOSTA ABERTA

1.6 Qual o seu gênero:


RESPOSTA ABERTA

1.7: Qual a sua idade:


RESPOSTA ABERTA

1.8:Qual seu estado civil:


( ) Solteiro
( ) Casado
( ) União Estável
( ) Divorciado
( ) Viúvo

1.9: Filhos?
( ) Sim
( ) Não
Caso tenha, quantos filhos?
RESPOSTA ABERTA

1.10: Qual a sua profissão?


RESPOSTA ABERTA

1.11: Com quem você mora?


( ) Família
( ) Sozinho
( ) Amigos
( ) Outros:______________________
73

1.12: Escolaridade:
( ) Fundamental incompleto
( ) Fundamental Completo
( ) Ensino Médio incompleto
( ) Ensino Médio Completo
( ) Superior incompleto
( ) Superior Completo
( ) Pós-Graduação incompleto
( ) Pós-Graduação Completo

1.13: Quanto à DEFICIÊNCIA VISUAL, você é uma pessoa que: *Resposta


Obrigatória
( ) nasceu cega
( ) ficou cega
( ) nasceu com visão monocular
( ) ficou monocular
( ) nasceu com baixa visão
( ) tornou-se baixa visão
( ) nasceu surdocega
( ) ficou surdocega

1.14: Você é uma pessoa com Daltonismo?


( )Sim.
( )Não.

ITEM 2: INFORMAÇÕES SOBRE ANIVERSÁRIO

2.1: Aniversário é um ritual comemorado em sua família?


( )Sim, celebramos bastante, cada detalhe é importante.
( )Sim, comemoramos, mas nada demais.
( )Não, não damos importância.
74

2.2: Você tem o costume de comemorar o seu aniversário? *Resposta


Obrigatória

( )Sim, com grandes festas.


( )Sim, com pequenas reuniões.
( )Não tenho esse costume.

2.3: Se você tem filhos, costuma comemorar os aniversários deles?


( )Sim, com grandes festas.
( )Sim, com pequenas reuniões.
( )Não tenho esse costume.
( ) Não tenho filhos.

ITEM 3: INFORMAÇÕES RELATIVAS AO BOLO DE ANIVERSÁRIO

3.1: Você gosta de bolo de aniversário?


( )Sim, melhor parte do evento.
( )Sim, mas prefiro outros doces.
( )Não, é indiferente para mim.

3.2: Se você gosta de bolo, qual é sua parte favorita dele?


( )Os sabores, da massa, do recheio, da cobertura.
( )A estética, as decorações.
( )O sabor e a estética são importantes para mim.

3.3: Você considera o bolo um dos destaques do evento?*Resposta Obrigatória

( )Sim.
( )Não.

ITEM 4: INFORMAÇÕES RELATIVAS AO SENTIMENTO

4.1: Você tem um bolo de aniversário favorito? *Resposta Obrigatória


( )Sim, marcou minha festa, foi super importante para mim.
75

( )Sim, mas não foi tão importante para mim.


( )Não, não tenho um bolo de aniversário favorito.

4.2: Como o bolo do seu aniversário impacta em suas comemorações ao longo


dos anos?
( )Fico super feliz em escolher e decidir cada detalhe.
( )Sei que é uma parte da comemoração de aniversário, mas não gosto de
escolher.
( )Não me importo, deixo que outras pessoas escolham para mim.
( )Não me importo, normalmente nem tenho bolo de aniversário.

ITEM 5: AUDIODESCRIÇÃO DE BOLOS

5.1: Você conhece o recurso de audiodescrição?


( ) Sim.
( ) Não.

5.2: Gostaria de conhecer a audiodescrição de alguns bolos?


*Resposta Obrigatória
( ) Sim.
( ) Não.

5.3: Se positivo, vamos à segunda etapa da pesquisa. Qual é seu número de


celular com acesso ao aplicativo Whatsapp? Você poderá responder em áudio.
Respostas serão transcritas; as vozes não serão identificadas.
RESPOSTA ABERTA

ENVIAR
Resposta automática ao final do formulário:
Sua resposta foi registrada. Entraremos em contato pelo Whatsapp da
pesquisa no dia 23 de Abril de 2021 para a segunda etapa. As respostas serão
aceitas até o final do dia 25 de Abril de 2021, então teremos o final de semana
inteiro para nos comunicar, até lá!
76

APÊNDICE C

Audiodescrições: elementos de mediação para entrevistas projetivas


77

Audiodescrição de fotografia do Bolo Castelo do aniversário do Sergio


Obra: Bolo artístico esculpido em forma de castelo medieval
Cake designer: Juliana Feres Castelo
Ano: 2019
Fotografia: Acervo Juliana Feres Castelo

Notas Introdutórias
A Família Castelo, de origem portuguesa, tem por tradição celebrar
aniversários e, desde menina, Juliana se encantou pelos bolos e pelo ritual do
“Parabéns pra você”! Ao longo dos estudos no curso de Graduação em Gastronomia
na Universidade Federal do Rio de Janeiro (U.F.R.J.), foi natural a decisão por
tornar-se confeiteira. Não tardou, começaram a chegar as encomendas da família,
dentre as quais a que foi feita pela tia para celebrar o aniversário do marido: um
castelo. Elemento da arquitetura medieval, os castelos de moradia eram residências
fortificadas construídas com muralhas e torres para proteger famílias nobres dos
ataques inimigos. Simbolizam força, autoridade e proteção.
O modelo elaborado pela confeiteira Juliana Feres Castelo para o tio tem
aspecto impenetrável. Composto por uma fortaleza – denominação da parte
estrutural do castelo – e cinco torres, evidencia a “torre de menagem” – torre central
78

de observação – a qual permitia visão ampla dos arredores e onde, tradicionalmente,


ostentava-se outro elemento simbólico dos cavaleiros medievais: a bandeira
vermelha. Todo o castelo tem “coroamento de ameias” – aberturas no parapeito das
muralhas por onde era possível observar os inimigos e destes se defender.
A obra de arte esculpida em forma de “Bolo Castelo” demandou pesquisa,
desenhos, esboços e planejamento de logística de transporte prévios. A delícia foi
composta por massa de baunilha, recheio de creme de manteiga sabor chocolate
com geleia de maracujá e cobertura de chocolate. Os telhados das torres foram
elaborados com casquinhas de sorvete recheadas com os mesmos elementos
anteriores.

Fim das Notas Introdutórias

Audiodescrição da foto

Fotografia. Em ambiente de parede e piso claros, sobre superfície de vidro,


bolo artístico esculpido em formato de castelo medieval sobre tábua retangular
branca de 40 centímetros de comprimento por 30 centímetros de largura, em
diagonal. O bolo está posicionado mais ao fundo da tábua. A fortaleza é um bolo
retangular com 25 centímetros de comprimento, 20 centímetros de largura e 15
centímetros de altura.
As cinco torres são bolos cilíndricos de 15 centímetros de altura por 6
centímetros de diâmetro. Quatro destes estão dispostos um em cada vértice da
fortaleza. A “torre de menagem” é o quinto bolo cilíndrico que, por estar sobreposto
ao topo da fortaleza, está a 30 centímetros da base, com o dobro da altura das
demais torres.
Decorados com pasta americana na cor cinza chumbo marmorizado, fortaleza
e torres têm muralhas em placas quadradas e retangulares e “ameias”
representadas por cubos intercalados.
As quatro torres dos vértices têm telhados cônicos pretos lisos com uma
esfera preta no topo. Sobre a “torre de menagem”, centralizada, uma bandeira
triangular vermelha horizontal afixada em haste de madeira, tem a ponta voltada
para a direita. Na parte frontal do bolo, um portão marrom escuro rajado de preto.
79

O caminho de acesso tem círculos de tamanhos irregulares marmorizados em


branco e cinza claro. Da borda da tábua até o bolo, em todo o contorno do castelo,
farelos comestíveis na cor terra misturam-se a flocos de coco tonalizados de verde.

Fim da audiodescrição

Equipe de Audiodescrição:
Aparecida Leite, Juliana Castelo e Verônica Mattoso
Narração: Juliana Castelo
80

Audiodescrição de fotografia do bolo temático “Baby Shark” do aniversário do


Heitor
Obra: Bolo artístico de quatro andares infantil temático “Baby Shark”
Cake designer: Tatiane Canuto – Doce Maria Bolos
Ano: 2020
Fotografia: Acervo Doce Maria Bolos

Notas Introdutórias

De acordo com matéria publicada pela BBC News e reproduzida pela revista
Época Negócios em novembro de 2020 no Brasil, Baby Shark (em português,
Tubarão Bebê) é o título de uma canção infantil criada por uma empresa sul-coreana
cujo vídeo, publicizado em 2015, viralizou na internet e, em quatro anos, subiu ao
pódio como o mais visto da história do YouTube.
81

A música já foi tocada mais de sete bilhões de vezes na plataforma. O


sucesso estrondoso é interpretado por uma cantora de dez anos.
O vídeo é um desenho animado de uma família de cinco tubarõezinhos
coloridos no fundo do mar – o Baby Shark, a Mammy Shark, o Daddy Shark, a
GranMa Shark e o GranPa Shark – e destaca uma coreografia de fácil apreensão
interpretada por um menino e uma menina de traços orientais.
Um episódio ocorrido em outubro de 2019, no Líbano, impulsionou ainda mais
o sucesso de Baby Shark. A mãe de um bebê de 15 meses, em meio a um protesto
antigoverno na capital Beirute, com a criança no banco do passageiro de seu carro,
é surpreendida pela ação de manifestantes: na tentativa de tranquilizar a criança,
eles circundaram o carro cantando o refrão “Baby Shark Doo Doo Doo Doo Doo
Doo” e dançando a coreografia. O vídeo deste episódio, com o bebê de olhos
arregalados diante da cena, também viralizou e se tornou um símbolo de esperança
em meio aos protestos.
A responsável pela elaboração do bolo produzido em janeiro de 2020 e que
será audiodescrito a seguir é Tatiane Canuto, cake designer, estudante do Curso de
Graduação em Gastronomia da U.F.R.J, proprietária da empresa Doce Maria Bolos,
no Rio de Janeiro. Ela conta que, atualmente, Baby Shark encabeça a lista dos
temas preferidos nas celebrações infantis.
Sobre o estilo “bolo artístico de andares”, Tati esclarece algumas
curiosidades. O processo criativo começa com o desenho da proposta, seguido de
planejamento minucioso que envolve, principalmente, logística de transporte. Para
manter a firmeza dos bolos sobrepostos são utilizados "banquinhos" de P.E.A.D -
Polietileno de Alta Densidade - e tubinhos plásticos, próprios para confeitaria. Para
deixar todo mundo com água na boca, ela explica que a massa desse bolo era de
baunilha com três camadas de recheios – duas de coco e a do meio de brigadeiro –
e fina cobertura de chocolate ao leite.

Fim das Notas Introdutórias

Audiodescrição da foto

Fotografia. Em ambiente com parede clara, bolo artístico de quatro andares


sobre superfície branca. Composto por três bolos cilíndricos de 10 centímetros de
82

altura cada e diâmetros proporcionais de 25, 20 e 15 centímetros; e um aquário


redondo de vidro de alta densidade com 12 centímetros de altura e 10 centímetros
de diâmetro; é decorado em pasta americana na cor azul acqua e tem detalhes
coloridos sobrepostos, os quais representam elementos do fundo do mar.
Sobre tábua redonda com 30 centímetros de diâmetro e borda branca sinuosa
com um centímetro de espessura, o primeiro andar é o bolo de 25 cm de diâmetro
com a lateral decorada por oito faixas onduladas horizontais sobrepostas em
desalinho. Neste bolo, os detalhes também foram produzidos em pasta americana.
Um cavalo marinho vermelho marca o centro deste primeiro bolo e, à esquerda, dois
peixinhos de cor azul escuro – um sobre a sétima e a oitava faixas e o outro entre a
quinta e a sexta – e uma alga verde entre as terceira e quarta faixas; à direita, um
peixinho amarelo sobre a quarta e quinta faixas e um na cor laranja na oitava faixa.
O espaço entre a borda da tábua e o primeiro bolo é preenchido por farelos
comestíveis na cor areia e tem, à esquerda, um grupo de cinco conchinhas
amarelas, dois caramujinhos na cor laranja, uma pequena alga verde e um grupo de
conchinhas na cor laranja; à direita, bem abaixo do peixinho amarelo, um
caramujinho azul escuro e um grupo de cinco conchinhas roxas.
O segundo andar é o bolo de 20 cm de diâmetro com cobertura lisa no topo e
lateral, na qual estão dispostos, um coral amarelo à esquerda e um vermelho à
direita. Ao centro, estão aplicados quatro tubarõezinhos estilizados e desenhados de
frente em papel de arroz, respectivamente, nas cores vermelho, azul escuro, laranja
e magenta na parte de cima do focinho e nas barbatanas dorsal – no topo da cabeça
–, peitorais – uma de cada lado do tronco – e caudal, levemente inclinada para a
direita. Da metade do focinho para baixo, o tronco é branco. Próximo do coral
amarelo está o tubarãozinho vermelho; a cabeça ultrapassa um pouco o bolo; tem
cílios longos; e a boca vermelha em semicírculo exibe a arcada superior; e usa um
pincinê de armação branca na ponta do focinho. O tubarãozinho azul escuro tem
duas bolhas de cor azul acqua bem suave debaixo da barbatana esquerda; a boca
destaca as arcadas superior e inferior completas. O tubarãozinho na cor laranja
representa o Baby Shark: é menor, tem a cabeça mais arredondada; a boca
vermelha exibe a arcada superior com pequeninos dentes e tem um pequeno
triângulo no peito. O tubarãozinho magenta está bem próximo do coral vermelho;
tem duas bolhas de cor azul acqua bem suave ao lado da barbatana direita; tem
cílios longos; e a boca destaca as arcadas superior e inferior completas. O espaço
83

entre a borda do primeiro bolo e a base do segundo também é preenchido por


farelos comestíveis na cor areia e tem, à esquerda, um grupo de conchinhas e uma
concha maior na cor azul escuro, um grupo de conchinhas na cor laranja sobre
conchinhas roxas; ao centro um caramujinho cor de rosa; e, à direita, um grupo de
conchinhas verdes junto a outro na cor laranja, além de uma concha cor de rosa e
uma alga verde.
O terceiro andar do bolo artístico é composto pelo aquário de vidro, disposto
com a borda virada pra baixo sobre o segundo bolo. No centro, a escultura em 3D do
Baby Shark amarelinho, em pasta americana, iluminada por pequenas lâmpadas
LED que contornam a borda na parte interna do aquário.
O quarto andar é o bolo com 15 centímetros de diâmetro. Também tem
cobertura lisa e uma faixa estreita ondulada contorna a base. Aplicado levemente
para a esquerda, o quinto tubarãozinho de papel de arroz, verde claro, tem
sobrancelhas espessas e um bigodão branco; a cabeça ultrapassa um pouco o bolo;
a boca aberta exibe dentes somente na arcada superior; à esquerda, um coral
amarelo; e, à direita, três bolhas grandes de tamanhos diferentes na cor azul acqua
suave.
O topo do bolo é composto pelos seguintes elementos em pasta americana:
uma vela em formato de número um, na cor azul acqua suave com três conchinhas
na cor laranja e algas verdes. Na base da vela, em 3D, o Baby Shark amarelo. Ao
centro, uma escultura de um menino de pele clara, cabelos e olhos pretos, usa
óculos de mergulho na cor azul acqua médio e segura uma placa azul acqua suave
com inscrição em azul acqua médio: Heitor. À direita da placa, Mammy Shark em cor
de rosa claro; e, sobre a barbatana dorsal dela e sustentado pela barbatana peitoral
direita dele, paira o Daddy Shark em azul acqua médio.

Fim da audiodescrição

Equipe de Audiodescrição:
Aparecida Leite, Juliana Castelo e Verônica Mattoso

Narração: Juliana Castelo


84

APÊNDICE D

Texto do áudio encaminhado aos participantes da pesquisa no dia 23 de Abril:

Olá, aqui é Juliana Castelo e eu gostaria de agradecer a participação de todos


na pesquisa até agora. Conforme combinado, estamos entrando em contato hoje,
dia 23 de abril e em breve teremos mais detalhes sobre a pesquisa. Como vocês
concordaram em participar da segunda etapa, esse grupo é para todos receberem
os dados ao mesmo tempo, porém, no intuito de manter a privacidade de todos,
somente eu irei mandar mensagem por aqui. Qualquer dúvida, entrem em contato
comigo pelo número da pesquisa (21) 97520-8755. Muito obrigada!
85

APÊNDICE E

Orientações para a segunda etapa da pesquisa:


Entrevista projetiva
86

Orientações para a segunda etapa da pesquisa: a entrevista projetiva

Olá!

Eu, Juliana Castelo, e minha orientadora, a Profª Verônica Mattoso, queremos


agradecer mais uma vez pelo seu interesse em participar da minha pesquisa para o
Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Gastronomia da U.F.R.J sobre a
relevância do bolo de aniversário para pessoas com deficiência visual.
Para esta segunda etapa da pesquisa, que será toda realizada pelo
Whatsapp, seguem algumas orientações.
Assim que terminar de ler este texto, você deve adicionar em seu aparelho
celular o contato disponibilizado logo abaixo, assim denominado: Pesquisa T.C.C
Gastronomia U.F.R.J.
Na sequencia, estaremos enviando duas audiodescrições de bolos e suas
respectivas fotos. Depois de ouvi-las, pedimos que você responda a três perguntas.
Suas respostas podem ser escritas ou em áudio. Se preferir enviar por áudio,
pedimos que atente para o tempo: no máximo, três minutos para cada resposta. As
respostas serão aceitas até o dia 1° de Maio, sábado.
Sigilo: todos os documentos referentes à pesquisa são de sigilo acadêmico e
científico. Portanto, nenhum dos documentos enviados pode ser compartilhado.
Assim que a pesquisa se encerrar, excluiremos o grupo.
Mais uma vez, muito obrigada!

Contato da pesquisa. (ou da pesquisadora)


87

APÊNDICE F

Segunda etapa da pesquisa: Roteiro semiestruturado para entrevista projetiva


88

Roteiro semiestruturado para entrevista projetiva:

Agora, vamos às perguntas, então?

Pergunta 1: O que representa para você a oportunidade de conhecer os bolos


de aniversário apresentados por meio da audiodescrição?

Pergunta 2: Você considera importantes as Notas Introdutórias?

Pergunta 3: Como um elemento de acessibilidade comunicacional, a


audiodescrição deve ser incorporada ao processo de comercialização de bolos de
aniversários?

Lembramos que suas respostas podem ser escritas ou em áudio. Se preferir


enviar por áudio, pedimos que atente para o tempo: no máximo, três minutos para
cada resposta.

As respostas serão aceitas até o dia 1° de Maio, sábado.

Obrigada!
89

APÊNDICE G

Texto encaminhado aos participantes no dia 29 de abril de 2021

Boa noite! Muito obrigada pela participação de todos até o momento. Conto
com as respostas de todos! Só lembrando que as respostas serão aceitas até
sábado, dia primeiro de Maio. Obrigada!

Você também pode gostar