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Débora Stefan Diêz

Diarreia crônica por Tritrichomonas foetus em gatos

São Paulo/SP
2015
Débora Stefan Diêz

Diarreia crônica por Tritrichomonas foetus em gatos

Monografia apresentada como requisito para


conclusão do Curso de Pós-Graduação,
Especialização em Clínica Médica de Felinos, do
Centro de Estudos Superiores de Maceió, da
Fundação Educacional Jayme de Altavila,
orientada pelo Prof. Dr. Pedro Horta.

São Paulo/SP
2015
Débora Stefan Diêz

Diarreia crônica por Tritrichomonas foetus em gatos

Monografia apresentada como requisito para


conclusão do Curso de Pós-Graduação,
Especialização em Clínica Médica de Felinos, do
Centro de Estudos Superiores de Maceió, da
Fundação Educacional Jayme de Altavila,
orientada pelo Prof. Dr. Pedro Horta.

São Paulo/SP, _______ de __________________ de 20___

– Orientador –

São Paulo/SP
2015
Resumo

Tritrichomonas foetus é um protozoário flagelado que coloniza o íleo, ceco e cólon, causando
colite e diarreia crônica de intestino grosso em gatos. Normalmente são afetados gatos com
menos de um ano de idade, sem predisposição racial, oriundos de coletividades como
criatórios ou colônias. O sinal clínico predominante é diarreia de intestino grosso crônica ou
intermitente. A consistência das fezes varia de pastosa a semilíquida, com presença de muco
e/ou sangue. O diagnóstico baseia-se na identificação do agente na amostra fecal, no
esfregaço direto, em cultura de fezes em meios que promovam o crescimento de T. foetus, ou
por reação em cadeia da polimerase (PCR) do DNA extraído de uma amostra fecal simples. A
droga mais efetiva é o ronidazol, sendo o efeito adverso mais importante a neurotoxicidade.

Palavras-chave: T. foetus, intestino grosso, ronidazol.


Listas de Tabelas e Ilustrações

Lista de Tabelas:

Tab.1: Diferenças entre diarreia de intestino delgado e de intestino grosso ....................... 11

Lista de Ilustrações:

Fig. 1. - Trofozoíto de Tritrichomonas foetus mostrando os três flagelos anteriores e a


membrana ondulante ao longo do corpo piriforme ............................................................... 8
Fig. 2. - Trofozoítos de T. foetus e de Giardia ...................................................................... 8
Fig. 3. - Aspecto típico da diarreia causada por T. Foetus .................................................. 10
Fig. 4. - Proctite leve e acúmulo de fezes em um gato filhote afetado ................................ 11
Lista de Abreviaturas: siglas, símbolos e acrônimos.

µm Micrômetro
kg Quilograma
ml Mililitros
mg Miligramas
Sumário

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 6
1. Revisão de literatura ....................................................................................................... 7
1.1. Sinais clínicos ......................................................................................................... 10
1.2. Diagnóstico............................................................................................................. 13
1.3. Tratamento ............................................................................................................ 14
CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 17
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 18
6

INTRODUÇÃO

O Tritrichomonas foetus é um protozoário recentemente reconhecido como um


importante agente causador de diarreia crônica de intestino grosso e colite em gatos. Sendo a
diarreia crônica um achado comum em gatos, principalmente filhotes provenientes de gatis,
abrigos e que vivem em colônias, são feitos tratamentos convencionais com vermífugos de
amplo espectro, usado o antibiótico metronidazol devido à suspeita de Giardíase, troca de
alimentação pensando-se numa intolerância alimentar, mas todos sem sucesso. Portanto, esses
gatos devem ser testados para T. foetus e não se faz teste para esse parasita na rotina clínica.

O objetivo desse trabalho foi descrever esse agente, como se manifesta, seu modo de
transmissão, os sinais clínicos de diarreia de intestino grosso causados por ele, como
diagnosticar e tratar, além de prevenção e controle da doença.
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1. Revisão de literatura

Tritrichomonas foetus é um protozoário flagelado que coloniza o íleo, ceco e cólon,


causando colite e diarreia crônica de intestino grosso em gatos (LIM et al., 2012). O
trofozoíto de T. foetus tem 3-5 µm de largura e 10-26 µm de comprimento (JAVINSKY,
2012; SCORZA; LAPPIN, 2011). Possui três flagelos anteriores e uma membrana ondulante
ao longo do corpo piriforme e se caracteriza por seu movimento progressivo (ESTEBAN,
2010) (Figura 1). Reproduz-se por fissão binária (ESTEBAN, 2010; GRUFFYD-JONES,
2013; SCORZA; LAPPIN, 2011). Ao contrário da maioria dos outros parasitas, T. foetus não
forma cistos e sobrevive somente por três dias do lado de fora do corpo, nas fezes
(GRUFFYD-JONES, 2013; JAVINSKY, 2012; SCORZA; LAPPIN, 2011).

Em comparação com Giardia, trofozoítos T. foetus são em forma de pêra e os da


Giardia não possuem uma membrana ondulante, têm um núcleo e uma ventosa ventral
(PHARM, 2009) (Figura 2).

T. foetus é também agente causador de tritrichomoníase em bovinos, doença venérea


do gado associada com endometrites e infertilidade, embora existam significantes diferenças
biológicas e moleculares entre organismos isolados de felinos e bovinos (BELL, 2010;
MILKEN, 2008). O Tritrichomonas foetus de gatos domésticos e do gado são geneticamente
distintos, com base em dados de sequências disponíveis. O genótipo do gato não foi isolado a
partir do gado (SLAPETA et al., 2010).
8

Figura 1. Trofozoíto de Tritrichomonas foetus mostrando os três flagelos anteriores e a


membrana ondulante ao longo do corpo piriforme.
(Fonte: http://www.dierenkliniekwilhelminapark.nl/dierinfo/kat/tritrichomonas.html. Acesso
em 24 de fevereiro de 2014)

Figura 2. Trofozoítos de T. foetus (esquerda) e de Giardia (direita) respectivamente.


9

São mais afetados gatos filhotes, com menos de um ano de idade, sem predisposição
racial, geralmente em coletividades como criatórios ou colônias (ESTEBAN, 2010). Também
pode ocorrer em gatos adultos que vivem em coletividade, com condição corporal pobre, em
ambientes onde a infecção não foi diagnosticada ou tratada (ESTEBAN, 2010; GRUFFYD-
JONES, 2013).

Gatos infectados podem ter diarreia persistente por dois anos e também ficar
infectados por toda vida, embora possa ocorrer resolução espontânea (LIM et al., 2012).

A transmissão da infecção de gato para gato é por via oro-fecal (BELL, 2010), pela
ingestão do trofozoíto, o que pode ocorrer na lambedura dos pelos contaminados com o
parasita (JAVINSKY, 2012). Um gato pode ser infectado através da utilização de uma caixa
de areia compartilhada com outro infectado (JAVINSKY, 2012).

Após a infecção, T. foetus coloniza o íleo distal e cólon, resultando na eliminação de


trofozoítos infectantes 2 a 7 dias depois (JAVINSKY, 2012).

A coinfecção com outros parasitas intestinais é frequente, sendo Giardia spp (BELL,
2010; ESTEBAN, 2010; GRUFFYD-JONES, 2013; JAVINSKY, 2012; LIM et al., 2012;
TOLBERT; GOOKIN, 2009; XENOULIS et al., 2013) e coccídios como Isospora spp os
mais habituais (ESTEBAN, 2010). O número aumentado de T. foetus e o aumento da
gravidade da diarreia foram associados à coinfecção com Cryptosporidium spp (JAVINSKY,
2012; SCORZA; LAPPIN, 2011).

Gatos com histórico recente de diarreia refratária, adultos com infecção por Isospora
spp. e vivendo em instalações pequenas apresentam maior probabilidade de serem infectados
por T. foetus (SCORZA; LAPPIN, 2011).

Doenças sistêmicas ou entéricas devem ser excluídas em gatos com infecção por T.
foetus pois, caso tenham outra doença concomitante (como infecções com os vírus da
imunodeficiência felina e da leucemia felina) podem desenvolver sinais clínicos sistêmicos
como anorexia, depressão, vômito e/ou perda de peso (GOOKIN, 2003; XENOULIS et al.,
2013).

Há diversos mecanismos pelos quais T. Foetus causa diarreia. Estes incluem alterações
da população bacteriana da flora normal do gato, aumento na concentração de citocinas no
local da inflamação, produção de enzimas, e injúria direta na mucosa. O resultado dessa
10

injúria é colite plasmocítica-linfocitária e neutrofílica (JAVINSKY, 2012). Não se sabe se a


imunossupressão predispõe à infecção crônica por T. foetus (SCORZA; LAPPIN, 2011).

É provável que as condições de superlotação e falta de higiene sejam as principais


responsáveis pela suscetibilidade à infeção em vez de diferenças genéticas no sistema imune
(ESTEBAN, 2010).

1.1. Sinais clínicos

Os sinais clínicos podem variar de infecções assintomáticas à diarreia crônica


incurável (SCORZA; LAPPIN, 2011). O sinal clínico predominante é diarreia de intestino
grosso crônica ou intermitente (ESTEBAN, 2010; SCORZA; LAPPIN, 2011). A consistência
das fezes varia de pastosa a semilíquida, com presença de muco e/ou sangue (ESTEBAN,
2010; SCORZA; LAPPIN, 2011) (Figura 3). A frequência da defecação está aumentada e
constantemente apresentam proctite (o ânus se torna edemaciado) (Figura 4) e incontinência
fecal (ESTEBAN, 2010; SCORZA; LAPPIN, 2011). Embora a diarreia possa persistir, a
maior parte dos gatos acometidos mantém boa condição corporal e de saúde (SCORZA;
LAPPIN, 2011).

Figura 3. Aspecto típico da diarreia causada por T. Foetus.


11

Figura 4. Proctite leve e acúmulo de fezes em um gato filhote afetado.

Sinais clínicos Diarreia Diarreia


Intestino Delgado Intestino Grosso
Frequência Normal ou Aumentada Geralmente muito
aumentada
Volume fecal Geralmente aumentado Normal, Aumentado ou
Diminuído
Urgência Ausente Presente
Tenesmo Ausente Presente
Muco Ausente Geralmente presente
Consistência Completamente perdida Perdida a formada
Sangue Às vezes e digerida Às vezes e fresca
Perda de peso Frequente Raro
Vômito/Sinais sistêmicos Frequente Raro

Tabela 1: Diferenças entre diarreia de intestino delgado e de intestino grosso

(Fonte: http://www.gattos.net/biblioteca.html. Acesso em: 24 de fevereiro de 2014).


12

Os diagnósticos diferenciais para diarréia crônica incluem doenças infecciosas, tais


como vírus da imunodeficiência felina (FIV), vírus da leucemia felina (FeLV), nematóides
intestinais, coccidia, Cryptospordium, Giardia, Tritrichomonas foetus, Campylobacter e
Salmonella. Etiologias não infecciosas incluem distúrbios má digestão como insuficiência
pancreática exócrina ou doenças de má absorção como enterite linfocítica plasmocítica,
linfoma gastrointestinal, e intolerância alimentar (PHARM, 2009).

Giardia spp., parasitas protozoários flagelados, constituem uma causa importante e


provavelmente não-dignosticada de doença do intestino delgado em gatos. Giardia spp.
vivem livremente no lúmen do intestino delgado e são móveis (RUAUX et al., 2004). As
fezes ficam mucóides e possuem forte odor, e há evidências de esteatorréia como
consequência de má absorção (TREES, 2004). Para diagnóstico, pode-se realizar ELISA (por
exemplo, SNAP® Giardia de IDEXX) (ESTEBAN, 2010).

A doença intestinal inflamatória (DII) acomete animais de todas as idades, embora


seja mais representativa em gatos com média idade de, aproximadamente, 8 anos. O vômito é
o sintoma mais consistente, podendo representar o único alerta à doença. A diarreia é
considerada, em seguida, a apresentação clínica de maior expressão, ocorrendo, comumente,
em estágios mais avançados da doença. O diagnóstico da DII ocorre por exclusão, isto é, deve
ser considerado em situações em que o agente etiológico não tenha sido identificado (RECHE
JUNIOR et al., 2015).

Os linfomas podem mimetizar um grande número de doenças neoplásicas e não


neoplásicas. Assim, deve-se excluir a possibilidade de outros distúrbios digestivos, como os
originados pela presença de processos infecciosos e parasitários, hipertireoidismo, peritonite
infecciosa felina, neoplasias intestinais não linfóides, enterite granulomatosa, reações de
sensibilidade ou intolerância alimentar, outros tumores de células intestinais (p. ex., o
mastocitoma) e, sobretudo, as infiltrações inflamatórias intestinais. O animal com linfoma
alimentar pode apresentar anorexia, perda de peso progressiva, vômito e diarreia crônica
(RECHE JUNIOR et al., 2015).
13

1.2. Diagnóstico

A infecção por T. foetus é diagnosticada tendo por base a identificação do agente na


amostra fecal, após cultura de fezes em meios que promovam o crescimento de T. foetus, ou
por reação em cadeia da polimerase (PCR) de DNA extraído de uma amostra fecal simples
(GOOKIN, 2003; TOLBERT; GOOKIN, 2009).

O diagnóstico pode ser feito através de esfregaço direto das fezes de todos os gatos
com diarreia do intestino grosso, de modo a avaliar a presença de trofozoítos de T. foetus,
utilizando uma pequena amostra de muco ou fezes misturada solução salina sobre uma lâmina
de microscopia (JAVINSKY, 2012). Aproximadamente 10 ml de solução salina são injetadas
com sonda no cólon e suavemente aspirada (ESTEBAN, 2010; JAVINSKY, 2012;
TOLBERT; GOOKIN, 2009). Com a colocação de uma lamínula, a amostra pode ser
examinada por microscopia de luz, em aumento de 200x (vezes), identificando-se os
trofozoítos, que têm tamanho similar à Giardia, mas podem ser diferenciados pela presença de
membrana ondulante, um único núcleo, motilidade rápida e ausência de superfície côncava
(TOLBERT; GOOKIN, 2009).

As amostras de fezes devem ser sempre frescas, livres de contaminação e não devem
ser refrigeradas, pois os trofozoítos de T. foetus não sobrevivem a temperaturas baixas
(ESTEBAN, 2010; TOLBERT; GOOKIN, 2009).

Caso haja suspeita de infecção por T. foetus após avaliação diagnóstica inicial, é
possível a realização de cultura utilizando um sistema disponível comercialmente (In
PouchTF®, BioMed Diagnostics, Inc, White City, OR). O meio utilizado não favorece o
crescimento de Giardia spp. ou Pentatrichomonas hominis, sendo que resultados positivos
provavelmente estão relacionados com infecção por T. foetus (SCORZA; LAPPIN, 2011).
Porém a cultura do agente necessita de meio específico e demora dias para se tornar positiva
(GOOKIN, 2003).

Outra alternativa é que essa solução pode ser sedimentada por centrifugação e
submetida à análise por PCR (ESTEBAN, 2010; TOLBERT; GOOKIN, 2009). Diversos
testes baseados em PCR, específicos para T. foetus, também estão disponíveis comercialmente
(SCORZA; LAPPIN, 2011). Tais testes são recomendados para a avaliação de amostras
diagnosticadas como negativas por microscopia e cultura fecal, além da confirmação de que
os organismos cultivados ou observados microscopicamente são T. foetus (SCORZA;
14

LAPPIN, 2011). A amostra fecal pretendida para análise por PCR deve ser colhida por swab
retal, para não interferir no resultado (BELL, 2010). A PCR é específica pra T. foetus e não
amplifica o DNA de Giardia ou P. hominis (SCORZA; LAPPIN, 2011).

Segundo Carrasco et al. (2014) em dois casos de gatos com diarreia crônica, o
diagnóstico foi realizado por meio de duas técnicas, o exame direto das fezes e a técnica de
PCR em tempo real, porém somente um animal apresentou resultado positivo por ambas as
técnicas. Isso provavelmente ocorreu devido à diferença de sensibilidade do exame direto
(14%) quando comparado com o PCR (95%). Portanto a técnica de escolha para o diagnóstico
é o PCR.

Nenhum teste de diagnóstico disponível tem 100% de sensibilidade para a detecção da


infecção. Se o resultado é positivo, o gato é considerado infectado com T. foetus. Contudo, se
o resultado é negativo, a possibilidade de infecção não pode ser excluída, particularmente nos
casos com um alto índice de suspeita. Nesses casos, deve-se considerar a repetição do teste
(TOLBERT; GOOKIN, 2009).

Nos casos em que se fazem biópsias de cólon, a histopatologia de gatos afetados por T.
foetus mostra uma colite linfoplasmocítica e/ou neutrofílica que, em alguns casos, chega a
afetar a lâmina própria (ESTEBAN, 2010).

1.3.Tratamento

Para Esteban (2010), uma vez atribuída que a causa da diarreia seja por T. Foetus o
tratamento dependerá de três fatores, que são a presença de coinfecções, a persistência e
gravidade da diarreia, e a presença de enfermidades não infecciosas concomitantes. É
essencial tratar qualquer outra infecção intestinal. As coinfecções frequentemente vão agravar
a sintomatologia e aumentar o número de trichomonas excretados. Sendo a Giardia spp uma
das mais frequentes, deve ser tratada (ESTEBAN, 2010; JAVINSKY, 2012).

A droga mais efetiva para o tratamento de T. foetus em gatos é o ronidazol e a dose é


30 mg/kg uma vez ao dia durante 14 dias (BELL, 2010; CARRASCO, 2014; ESTEBAN,
2010; GRUFFYD-JONES, 2013; JAVINSKY, 2012; LIM et al., 2010; LIM et al., 2012;
TOLBERT; GOOKIN, 2009). O ronidazol é um antibiótico da mesma família que o
metronidazol, um nitroimidazol (ESTEBAN, 2010). Essa droga é rápida e completamente
15

absorvida pelo trato gastrointestinal e tem uma meia-vida longa. Por esse motivo pode
predispor alguns gatos à neurotoxicidade (CARRASCO, 2014; ESTEBAN, 2010;
JAVINSKY, 2012; PALMERO, 2014; TOLBERT; GOOKIN, 2009; XENOULIS et al.,
2013). Os sinais incluem letargia, inapetência, ataxia e convulsões (TOLBERT; GOOKIN,
2009). Nesse caso deve-se suspender a droga e os gatos devem ser retestados para T. foetus
(TOLBERT; GOOKIN, 2009).

Uma questão chave é quando a infecção é identificada num grupo de gatos, se todos
devem ser tratados ou só os que estão com diarreia (GRUFFYD-JONES, 2013). Uma
abordagem razoável é tratar somente os gatos que mostram sintomas e que são positivos na
amostra fecal (GRUFFYD-JONES, 2013). Em coletividades não se recomenda o tratamento
massivo, por causa da toxicidade do ronidazol, onde os gatos infectados deverão ser isolados
(ESTEBAN, 2010).

Segundo Scorza (2011), a administração de tinidazol a 30 mg/kg via oral por 14 dias
suprimiu a liberação de T. foetus a níveis indetectáveis em dois de quatro gatos durante um
período de 33 semanas pós-tratamento. Entretanto, esse fármaco é atualmente considerado
inferior ao ronidazol porque as infecções não foram eliminadas. Assim como para Esteban
(2010), o metronidazol e o tinidazol (outro nitroimidazol) não são efetivos no tratamento da
tricomoníase felina como tampouco é o fembendazol.

O metronidazol tem sido usado muitas vezes como escolha inicial contra a
tricomoníase intestinal felina, mas os parasitas não foram eliminados e a diarreia volta após o
término da medicação (LIM et al., 2010; LIM et al., 2012).

A maioria dos gatos com infecção mostra uma melhora significativa na consistência
das fezes durante o curso do tratamento com ronidazol. Em alguns casos, a diarreia pode
persistir por algumas semanas, devido à inflamação no cólon provocada pelo íntimo contato
do protozoário com a mucosa (ESTEBAN, 2010).

Deve-se realizar um PCR no final do tratamento com ronidazol pois é frequente a


reinfecção (PALMERO, 2014). Para comprovar a erradicação da infecção recomenda-se
realizar um PCR em 2 semanas e outro 20 semanas mais tarde (ESTEBAN, 2010).

Caso a diarreia persista por mais de 14 dias após o tratamento, o gato deve ser
retestado para T. foetus. Se o resultado for negativo, deve-se considerar outras causas de
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diarreia, como infecção concorrente ou intolerância dietética (ESTEBAN, 2010; JAVINSKY,


2012; TOLBERT; GOOKIN, 2009).

Como prevenção da tricomoníase, deve-se evitar colocar filhotes em ambientes super


populosos já que são mais suscetíveis à infecção, por causa do estresse e imaturidade
imunológica (SCORZA, 2011).

Gatos positivos nos testes devem ser isolados dos outros durante o tratamento
(JAVINSKY, 2012).

Limpeza diária das bandejas e desinfecção com produtos que contenham amônia são
recomendados para controle do ambiente (PALMERO, 2014).
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CONCLUSÃO

Gatos jovens que vivem em gatis ou abrigos, com quadro de diarreia crônica de
intestino grosso, devem ser testados para T. foetus. Para o diagnóstico o método mais
confiável é o PCR, onde o DNA de T. foetus é extraído de amostras fecais. O ronidazol se
mostrou a droga mais eficaz para o tratamento.
18

REFERÊNCIAS

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