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CENTRO UNIVERSITÁRIO INGÁ – UNINGÁ

MEDICINA VETERINÁRIA

PARASITOLOGIA

Eurytrematose Pancreática Bovina, causada por


Eurytrema pancreaticum

Março, 2018

Maringá – Paraná
Introdução

Diariamente estamos em contato direto ou indireto com parasitas que


podem estar presentes em nosso organismo ou no meio externo como no solo,
água, ou ambiente. Os parasitas, assim como o próprio nome diz, são
organismos que necessitam de outro organismo para sobreviver, se alimentar,
se reproduzir, ou seja, para realizar o seu ciclo de vida podendo causar danos
ao hospedeiros no qual citamos que essa relação parasitária é desarmônica,
ou essa relação pode ser harmônica, onde o parasita não causa danos ao
hospedeiro.

O ciclo de vida dos parasitas são classificados em monoxeno e


heteróxeno. Quando parasita tem uma predileção por única espécie de
organismo, normalmente estes parasitas são os monóxenos que realizam todo
o seu ciclo de vida em apenas uma espécie. E também tem os parasitas que
realizam seu ciclo de vida em diversos hospedeiros diferentes podendo até
obter o homem como hospedeiro definitivo, neste caso chamamos o seu ciclo
de vida de heteróxeno. Essa informação é de extrema importância porque
muitos desses parasitas podem causar doenças ou acometer a injúrias. E
também possuem uma grande importância socioeconômica, uma vez que estes
parasitas podem acometer animais de produção voltados para consumo
humano, podendo causar a condenação parcial ou total de carcaça, ou até
mesmo o descarte ou inutilização de produtos de origem animal.

Em abatedouros por exemplo, é comum existir relatos da presença de


Fasciola, Cisticercose, Eurytremia entre muitos outros parasitas, onde muitas
destas espécies utilizam o bovino como hospedeiro intermediário (para realizar
certo período do seu ciclo de vida) e também utilizam o ser humano como
hospedeiro definitivo, onde se instala em determinados órgãos e tecidos,
podendo causar injúrias e doenças.

Eurytrema pancreaticum

São trematódeos ovais, vermelho-amarronzados, com formato de folha


e medindo ao redor de 8-16 × 5-8,5 mm. O corpo é espesso; os trematódeos
jovens possuem espinhos, em geral ausentes no verme adulto. A ventosa bucal
é maior do que a ventosa ventral; a faringe e o esôfago são curtos. Os
testículos situam-se, horizontalmente, logo atrás da ventosa ventral. Possuem
um saco cirro tubular. O útero ocupa toda a parte posterior do corpo.
Hospedeiros

Os primeiros hospedeiros intermediários de E. pancreaticum podem ser


espécies de caramujos terrestres do gênero Bradybaena. Após serem
ingeridos, os ovos do trematódeo eclodem no tubo digestivo do molusco e lá
iniciam o seu desenvolvimento. A espécie de caramujo terrestre, Bradybaena
similaris, Férussac, (1821), foi descrita no Brasil como o primeiro hospedeiro
intermediário de E. pancreaticum (RAGUSA; CAMPOS, 1976).

Após a saída do ovo, a larva penetra na parede do tubo digestivo do


caramujo, onde se desenvolve em esporocisto-mãe ao produzir uma formação
semelhante a uma massa arredondada, fixada à superfície externa da parede
intestinal do molusco. Os esporocistos-mãe crescem, e no seu interior muitos
esporocistos-filhos se desenvolvem. O desenvolvimento no interior do molusco
completasse em 90 dias após a infecção sob temperatura de 26ºC, enquanto
em condições ambientais pode levar de 250 a 350 dias.
Os esporocistos-filhos, quando se tornam alongados, abandonam o
esporocisto-mãe e migram da superfície externa do trato digestivo à abertura
respiratória. Os esporocistos são eliminados pelo molusco através da abertura
respiratória e chegam ao ambiente. Estes, por sua vez, contêm centenas de
cercárias e sua morfologia é distinta para cada espécie de parasito. A
emergência dos esporocistos filhos normalmente ocorre horas antes do
amanhecer (ITAGAKI; CHINONE, 1982).

Segundo Basch (1966), os hospedeiros definitivos adquirem a infecção


ao ingerir as esperanças infectadas juntas com as pastagens. Estudos
realizados por Chinone e Itagaki (1976), Sakamoto et al. (1980) e Chinone;
Fukase e Itagaki (1984) demonstraram que as metacercárias são liberadas dos
cistos no duodeno e migram para os ductos pancreáticos.

Nome científico Eurytrema pancreaticum


Nome comum Trematódeo do pâncreas
Predileção Ductos pancreáticos, ductos biliares e duodeno
Filo Platelmintos
Classe Trematoda
Família Dicrocoeliidae
Tabela 01 – Taxonomia do Eurytrema pancreaticum

Um dos problemas enfrentados na bovinocultura de corte e leite, são


os endo e ectoparasitas que interferem diretamente no desenvolvimento, no
rendimento dos animais, causando grandes prejuízos em toda a sua cadeia
produtiva.

As espécies do gênero Eurytrema (LOOSS, 1907), chamam a atenção


pelos índices que são observados em pâncreas de bovinos abatidos em
matadouros frigoríficos nos diversos estados brasileiros (BRANT, 1962;
AZEVEDO et al., 2000; YAMAMURA, 2005).

Destas espécies se destacam, Eurytrema pancreaticum e Eurytrema


coelomaticum (GIARD; BILLET, 1892) que são parasitas comuns de ductos
pancreáticos, ocasionalmente ductos biliares e raramente intestino delgado de
ruminantes. O primeiro tem sido descrito em bovinos, caprinos, ovinos,
bubalinos, suínos, camelídeos, cervídeos e homem, enquanto que o segundo
ocorre em bovinos, caprinos, ovinos, bubalinos, leporinos e camelídeos
(MATTOS JÚNIOR; VIANNA, 1987).

A Eurytrematose, é uma endoparasitose que causa lesões


caracterizadas por pancreatite intersticial fibrosante e obliteração (destruição
total ou parcial dos ductos pancreáticos), ela ocasiona injúrias em graus
variados, assim como na função excretora do pâncreas citado acima. Portanto
podemos afirmar que os processos digestivos e metabólicos dependentes das
funções pancreáticas podem ser alterados e os animais portadores destas
lesões pancreáticas, podem apresentar diminuição na digestibilidade e
conseqüentemente, na assimilação de alimentos. A Perda de elementos
protéicos e lipídicos pelas fezes também poderão ocorrer e refletir em
alterações séricas, hematológicas e fecais muito antes dos animais
demonstrarem sinais clínicos aparentes. (GASTE, 1991).

Patogenia e Patologia

Basch (1966) estudou a biologia de E. pancreaticum, também fez


observações sobre a patologia e registrou alterações microscópicas e
macroscópicas e ainda fez correlações entre o tamanho e a coloração dos
parasitos e as condições dos órgãos parasitados. Verificou que havia
correlação positiva e significativa entre o número de parasitos e o peso de
pâncreas parasitado com E. pancreaticum, ou seja, à medida que aumenta o
número de parasitos aumenta também o peso do pâncreas.
Basch, também avaliou os aspectos microscópicos do pâncreas do
bovino parasitado por E.pancreaticum e evidenciaram um quadro de
pancreatite fibrosante crônica, caracterizado por exuberante fibroplasia que
substituía extensas áreas do parênquima pancreático e por copiosos infiltrados
celulares inflamatórios do tipo mononuclear, distribuídos de forma difusa ou em
focos pelo tecido glandular, ora entre os ácidos, ora ao redor dos ductos
pancreáticos. Foram observados ainda, degeneração pancreática; calcificação
distrófica e ossificação membranosa metaplásica; atrofia de ácnos pancreáticos
por compressão fibrosa e presença de ovos de Eurytrema spp. houve também
comprometimento do pâncreas endócrino com a redução de números e
dimensões das ilhotas de Langerhans. Os resultados mostraram que o parasito
causa alterações nas células acinares e nos casos mais extremos havia a
ausência destas células, decorrente da destruição acarretada pela fibrose.

Diagnóstico

O diagnóstico da eurytrematose bovina é realizado principalmente por


exame coproparasitológico, porém este método é pouco utilizado na pratica
clínica, sendo a parasitose muitas vezes somente diagnosticada durante a
necropsia ou exame post-mortem. As técnicas coproparasitológicas para
pesquisa de ovos de trematódeos encontradas na literatura dão especial
referência a F. hepatica, Schistosoma mansoni e Paramphistomun spp..
As técnicas de diagnóstico, como as de exames coproparasitológico e
a IDR, são importantes ferramentas no diagnóstico da euritrematose bovina,
porém são necessários mais estudos para aperfeiçoar estas técnicas, bem
como estudos epidemiológicos para estabelecer medidas de controle de
hospedeiros intermediários, pois esta enfermidade causa importantes perdas
econômicas para a bovinocultura.

Controle Terapêutico

O combate destes trematódeos com os anti-helmínticos, normalmente


utilizados em bovinos parecem ser ineficazes no tratamento. Sendo ainda
desconhecidas drogas anti-helmínticas capazes de combater o parasitismo por
Eurytrema. Muitos autores realizaram estudos in vivo em ruminantes, testando
algumas drogas visando observar a eficácia anti-helmíntica das mesmas,
principalmente contra trematódeos. (KUKHARENKO), testou drogas como
hexacloroparaxilol, hexide, hexacloroetano, cyazide, sulfeno e clorofos, sendo
estas drogas ineficazes contra o Eurytrema spp. Drogas como o bithionol,
bithionol sulfóxido, thiabendazole e piperazina, também se mostraram
ineficazes no controle da eurytrematose.
O nitroxinile e o praziquantel mostraram-se eficazes contra a
eurytrematose, baseando-se na diminuição de ovos eliminados pelas fezes,
bem como presença de parasitos com suas estruturas deformadas. Em estudo
realizado avaliando-se duas drogas, o praziquantel e o triclabendazole, sobre a
forma adulta do parasito. O triclabendazole mostrou-se ineficaz no controle do
trematódeo, sendo o praziquantel a droga de eleição, pois mostrou ter alguma
atividade sobre a diminuição da motilidade das formas adultas do parasito.

Considerações finais

Os trematódeos do gênero Eurytrema, estão presentes em grande


parte do mundo. Nos ruminantes estes parasitos raramente são diagnosticados
através de técnicas coproparasitologicos, sendo comumente identificados
apenas no momento do abate, na inspeção post mortem. Estes parasitos
podem causar grandes prejuízos econômicos em relação a produção de carne
e leite e o combate com antihelmínticos mostraram-se ineficazes, favorecendo
a sua proliferação. As técnicas biomoleculares mostraram-se eficazes na
caracterização da espécie de Eurytrema, demostrando-se ser um método mais
confiável quando comparada as técnicas de caracterização morfológica. Além
de possibilitar estudos através da filogenia, o que poderá trazer maiores
informações sobre este gênero.
Referências

1. AZEVEDO, J. R.; MANNIGEL, R. C.; BORBA,T. R.; BARBIÉRI, A.


W.; OLIVEIRA, D. C. L.; HEADLEY,S. A.; JANEIRO, V. Prevalence and
geographical distribution of bovine eurytrematosis in cattle
slaughtered in Northern Paraná, Brazil. Maringá: CESUMAR, 2000;
2. BRANT, P. C. Freqüência de algumas parasitoses em
carcaças e vísceras de bovinos abatidos em Belo Horizonte. Arquivo
Brasileiro de Medicina Veterinaria e Zootecnia, Belo Horizonte, v.14,
p.127-132, 1962.
3. GASTE, L. Avaliações laboratoriais em bovinos infectados e
não infectados pelo Eurytrema coelomaticum. 1991. Tese
(Doutorado em Medicina Veterinária- Área: Clínica)- Faculdade de
Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Estadual Paulista
“Julio de Mesquita Filho”, Botucatu.
4. GIARD, A.; BILLET, A. Sur quelques trematodes parasites dês
boeufs du Tonkin. C.R. Social Biology, Madison, v.4, p.613-615, 1892.
5. JANSON, J. Note explicative dês objects exposés par l’Ecole
Agricole et Forestére de Komaba. Paris, 1889.
6. MATTOS JÚNIOR, D. G.; VIANNA, S. S., O Eurytrema
coelomaticum (Trematoda: Dicrocoeliidae) no Brasil. Arquivos
Fluminenses de Medicina Veterinaria, Rio de Janeiro, v.2, n.1, p.3-7,
1987.
7. http://publicacoes.unifran.br/index.php/investigacao/article/view/15
66; acesso em 12/03/2019 às 11:10h;

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