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UBERLÂNDIA
2023
UBERLÂNDIA
2023
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INTRODUÇÃO
E. histolytica (patogênica)
E. dispar (coloniza o cólon de maneira inofensiva, o mais comum)
E. moshkovskii (menos comum, patogenicidade incerta)
E. bangladeshi (menos comuns, patogenicidade incerta)
A cada ano em todo o mundo, estima-se que 50 milhões de pessoas desenvolvam colite
amebiana ou doença extraintestinal, e até 100.000 morrem. (Shirley DT; Farr L,
Watanabe,2018)
A infecção por E. histolytica, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), é uma
das principais causas de morte por protozoário no mundo, acometendo cerca de 10% da
população mundial. Esse dado reflete a capacidade do parasito de invadir os tecidos e causar o
adoecimento humano. A amebíase foi descrita pela primeira vez há mais de 130 anos, na
Rússia, por Lösch, e desde então muitos estudos têm sido realizados para melhor
compreensão do parasito e da fisiopatologia da doença (Chaves; Filho; KCarrero et al., 2019)
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Existem sete espécies de amebas que vivem em simbiose com o organismo humano, mas
somente a E. histolytica exerce ação patogênica no homem. Ela é um protozoário pertencente
ao reino Protozoa, conforme apresentado no Quadro 18.1, no qual estão listadas as espécies
do gênero Entamoeba. (Diamante LS, Clark CG,2017)
As espécies de ameba se diferenciam pelo número de núcleos presentes nos cistos, pelo
tamanho dos trofozoítos e pelas inclusões citoplasmáticas dos protozoários; à exceção de E.
histolytica, E. dispar e E. moshkovskii, que se diferenciam pelo quadro clínico apresentado
pelo paciente, sendo que a confirmação da espécie relacionada à infecção é determinada
através de ensaios imunoenzimáticos. (Medeiros, 2015; Kanter et al., 2018).
Os trofozoítos são uninucleados e possuem uma dupla camada na sua membrana externa,
onde é encontrado o glicocálix. Eles são extremamente móveis e, por não contarem com
mitocôndrias, a energia necessária para o seu metabolismo é proveniente de reação
anaeróbica. Os cistos são estruturas redondas, com quatro núcleos e inertes, e o processo de
encistamento é ativo, ou seja, com consumo de energia. (Andrade; Andrade Jr.,2011).
IMUNOLOGIA E PATOLOGIA
Amebíase é uma infecção causada por Entamoeba histolytica. É adquirida por transmissão
fecal-oral. A infecção costuma ser assintomática, mas sintomas que variam de diarreia leve e
disenteria grave podem ocorrer. Infecções extraintestinais incluem abscessos no fígado. O
diagnóstico é pela identificação de E. histolytica em amostras de fezes e confirmado com
imunoensaios que detectam antígeno nas fezes, ou por testes sorológicos se há suspeita de
doença extraintestinal. O tratamento da doença sintomática é feito com metronidazol ou
tinidazol, seguido por paromomicina ou outro fármaco ativo contra cistos na luz do cólon.
Fisiopatologia da amebíase
Entamoeba spp existem em 2 formas:
Trofozoíto
Cisto
A infecção provocada pela cepa invasiva pode cursar com quadro assintomático em cerca de
10 a 40% dos casos de infecção. No entanto, acredita-se que, em um período de um ano, essa
cepa seja capaz de causar a síndrome da amebíase invasiva. O contrário acontece com a cepa
não patogênica, que representa a maior parte dos casos na população e cursa em 90% das
vezes com quadro assintomático. Um dos fatores que diferencia a cepa patogênica da não
patogênica e que, por isso, influencia seu mecanismo patológico, é a presença da lectina de
aderência, encontrada na superfície da cepa patogênica. Trata-se de uma adesina essencial
para a função citolítica, de aderência e reconhecimento da E. histolytica, pela célula-alvo.
Além disso, essa molécula constitui importante marcador laboratorial no diagnóstico da
doença (Andrade; Pinto; Oliveira, et al,2005).
Ao entrar em contato com a superfície epitelial intestinal, a lectina é inibida pela galactose ali
presente, estimulando uma resposta T supressora, inibindo a formação de uma resposta celular
efetiva e favorecendo o braço humoral Th2 (imunoglobulina G [IgG]-específica) (ver
Capítulo 2, Interações entre Patógenos e Hospedeiros Humanos | O Sistema Imune e seus
“Papéis” nas Enfermidades Parasitárias), podendo ocorrer a amebíase aguda. Entretanto,
considerando o estímulo contínuo da imunidade celular e humoral, o processo invasivo pode
ser limitado, posteriormente. O contato do agente etiológico (por meio da lectina) com a
superfície epitelial leva à citólise, processo no qual as membranas epiteliais são destruídas e,
os restos celulares fagocitados pela E. histolytica, mais precisamente pelos seus trofozoítos,
dando início a um processo de ulceração. Ocorre, então, um afastamento das células,
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formando um espaço intercelular denominado foco de adesão. (Haque R, Huston CD, Hughes
M, et al. 2003)
Tamanho – 12 a 20 µm
Coloração: Kinyon
ASPECTOS CLÍNICOS
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A doença pode manifestar-se de maneira aguda (amebíase aguda) ou crônica (colite crônica)
(Andrade; Pinto; Oliveira, 2002; Chacín-Bonilla, 2013; The Medical Letter, 2013).
Inicialmente, nas lesões intestinais, os trofozoítos infectam o epitélio da superfície mucosa;
entretanto, com a reação inflamatória, tais formas evolutivas podem alcançar níveis mais
profundos do tecido conjuntivo e suas glândulas. Esse processo de lesão progressiva produz
áreas de necrose e úlceras distribuídas ao longo da parede intestinal, sendo mais comumente
encontradas na região cecal, no sigmoide e no reto, caracterizando a colite crônica. (Haque R,
Huston CD, Hughes M, et al. 2003)
A amebíase não costuma cursar com febre, e os sintomas que aparecem com maior frequência
são: disenteria, enterorragia, tenesmo, dor abdominal em cólica, perda de peso, anorexia,
náuseas, vômitos e mal-estar geral. É importante ressaltar que o início da doença é de caráter
insidioso, podendo apresentar um padrão agudo, sendo esse menos comum. O período de
incubação varia de 7 dias a 4 meses. A colite não disentérica é uma das apresentações mais
comuns da doença, manifestando-se de maneira mais leve, diferentemente da colite
disentérica que se apresenta de maneira mais intensa, com número de evacuações superior
(podendo chegar a 10 por dia). A amebíase intestinal, se não tratada, pode cursar com
complicações como perfuração intestinal, peritonite, apendicite e hemorragias (Andrade;
Pinto; Oliveira, 2002; Chacín-Bonilla, 2013; The Medical Letter, 2013; Haque et al., 2003;
Hinrichsen, 2005).
A principal diferença entre estas duas espécies residem, no entanto, no facto de uma ser
patogênica (Entamoeba histolytica) e a outra (Entamoeba coli)viver como um comensal do
intestino, não causando doença. Entamoeba histolytica é causadora no ser humano, da doença
conhecida como disenteria amebiana. (Haque R, Huston CD, et al. 2003).
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
A colite causada pela amebíase deve ser diferenciada daquela decorrente de outros agentes,
tais como Shygella e Campylobacter, além das alterações produzidas por Schistosoma
mansoni ou outros helmintos. Na maioria das vezes, o exame parasitológico de fezes é
suficiente para essa diferenciação. Abscessos hepáticos causados por trofozoítos são
confundidos, clinicamente, com abscessos piogênicos e tumorações hepáticas; porém, nesses
casos, a sorologia para amebíase corrobora o diagnóstico da protozoonose. Em caso de lesão
pulmonar, a broncopneumonia deve ser considerada no diagnóstico diferencial (Chacín-
Bonilla, 2013; Hinrichsen, 2005).
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DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
A pesquisa de trofozoítos e cistos nas fezes continua sendo o método mais empregado para o
diagnóstico. Contudo, para aumentar a sensibilidade do exame, é preconizada a coleta
múltipla de fezes, ou seja, obtenção de material fecal em pelo menos 3 dias diferentes. Casos
as fezes estejam líquidas, o método direto é o mais recomendado para a observação de
trofozoítos, que permanecem viáveis entre 15 e 30 minutos, enquanto os cistos são mais
frequentemente identificados nas fezes formadas. Os testes sorológicos por ELISA indireto
não são indicados, principalmente em áreas endêmicas, visto que não são capazes de
diferenciar infecção atual de infecção pregressa. O ELISA direto ou o “sanduíche” empregam
anticorpos monoclonais anti-GIAP e são úteis na busca por coproantígenos específicos de E.
histolytica em amostras fecais. A reação em cadeia da polimerase (PCR) também pode ser
usada para o diagnóstico da infecção, por pesquisa do DNA do parasito em amostra de fezes.
Essas duas técnicas permitem a diferenciação do complexo E. histolytica/dispar. O teste de
hemaglutinação indireta, quando disponível, pode ser bastante útil, e a biopsia da borda de
úlcera, por meio da retossigmoidoscopia/colonoscopia, deverá ser avaliada quanto à
necessidade. Para diagnóstico de amebíase extraintestinal, exames sorológicos e de imagem
podem confirmar os casos de abcesso hepático, além de outros exames que podem ser
solicitados para avaliação do paciente, entre os quais: análise bioquímica do fígado – tais
como dosagem de bilirrubinas, fosfatase alcalina, gamaglutamil transpeptidase e
aminotransferases – e hemograma. Nesses casos, a associação com a clínica do paciente é
essencial . Um quadro clínico típico – associado à E. histolytica presente no exame
parasitológico de fezes, juntamente com teste sorológico positivo e boa resposta terapêutica
específica – oferece um diagnóstico seguro de amebíase. (Póvoa et al., 2000).
Exames de imagem, como a telerradiografia de tórax, podem ser utilizados para visualizar a
existência de atelectasias, derrame pleural e outras lesões da amebíase pleuropulmonar.
Ultrassonografia e tomografia computadorizada de abdome podem ser úteis para identificação
e diferenciação mais detalhada da lesão hepática, podendo também ser indicadas nos casos em
que a drenagem cirúrgica seja necessária. . (Sanuki J, Asai T, et al 1997.)
TRATAMENTO
alcançar essas regiões (a excreção biliar garante essa característica). Para as formas não
invasivas, fármacos que alcancem o lúmen intestinal podem ser utilizados como monoterapia.
As infecções intraluminais podem também ser tratadas com fármacos como: etofamida
(adultos: 100 a 200 mg, 5 vezes ao dia, por 3 dias; ou 500 mg, 2 vezes ao dia, por 3 dias; as
crianças deverão receber metade da dose); teclozana (adultos: 1,5 g, em dose única – ou
fracionada em três tomadas, ao longo das 24 horas; crianças: 50 mg, 3 vezes ao dia, por 5
dias). Liu CJ, Hung CC, et al. 2001).
Já os pacientes com doença invasiva devem ser tratados com associação dos fármacos de ação
intraluminal e tissular. Assim, para esses doentes, acrescenta-se um derivado nitroimidazólico
(metronidazol, tinidazol, ornidazol, secnidazol ou nitazoxanida), o qual se é absorvido melhor
por via oral (Andrade; Pinto, et al, 2002)
REFERÊNCIAS:
Andrade; Andrade Jr., 2005; Andrade; Pinto; Oliveira, 2002; Chacín-Bonilla, 2013; Haque et
al., 2003).
Andrade; Pinto; Oliveira, 2002; The Medical Letter, 2013; Haque et al., 2003; Hinrichsen,
2005).
Chaves; Filho; Dantas, 2010; The Medical Letter, 2013; Ferreira; Lala, 2008; Garcia;
Gutiérrez-Kobeh; Vancell, 2015; Graffeo et al., 2014; Carrero et al., 2019
Diamante LS, Clark CG. Uma redescrição de Entamoeba histolytica Schaudinn, 1903
(alterado Walker, 1911) separando-a de Entamoeba dispar Brumpt, 1925. J Eukaryot
Microbiol. 1993;40(3):340-344. doi:10.1111/j.1550-7408.1993.tb04926.x
Póvoa et al., 2000; Andrade; Andrade Jr., 2005; Andrade; Pinto; Oliveira, 2002; Biscegli et
al., 2009; Graffeo et al., 2014; Hinrichsen, 2005.
RAVIDIN, J. I., 1994. Diagnosis of invasive amebiasis - Time to end morphology era. Gut,
35:1018-1021.
SALLES, J. M.; SALLES, M.; SALLES, J. M.; BICHARA, C. N.; PÓVOA, M. M. &
MACHADO, R. L. D., 1998. Monografia de Amebíase (J. M. Salles, ed.), pp. 1-12, Săo
Paulo: Rhodia.
Shirley DT, Farr L, Watanabe K. Entamoeba histolytica: um papel central na saúde pública
global. Trends Parasitol. 2018;34(11):935-946. doi:10.1016/j.pt.2018.08.009
WALSH, J. A., 1986. Amebiasis in the world. Archivos de Investigación Médica, 17 (Sup.
1):385-389.
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