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Apresentação
Nesta aula, conheceremos a amebas que causam patologia no homem. Veremos que a Aameba intestinal (Entamoeba
histolytica) é o agente etiológico da amebíase, importante problema de saúde pública que leva ao óbito anualmente cerca
de 100.000 pessoas, constituindo a segunda causa de mortes por parasitoses. Apesar da alta mortalidade, muitos casos
de infecções assintomáticas são registrados.
Estudaremos também as amebas patogênicas de vida livre: Naegleria fowleri (agente etiológico da Meningoencefalite
amebiana primária), Balamuthia mandrilaris e várias espécies do gênero Acanthamoeba (que causam encefalite amebiana
granulomatosa no homem).
Objetivos
Identi car os diferentes aspectos siopatológicos por meio dos mecanismos da ação parasitária que in uenciam as
respostas do hospedeiro;
Reconhecer os principais métodos parasitológicos para o diagnóstico laboratorial da parasitose, além de exames
laboratoriais complementares;
Descrever os tratamentos farmacológicos e pro laxia para as patologias causadas por amebas.
Amebíase intestinal
A amebíase é uma patologia causada pelo agente etiológico Entamoeba histolytica.
Trata-se de um importante problema de saúde pública, sendo a segunda causa de morte por parasitose. Embora, a amebíase
possa evoluir para uma infecção assintomática, todos os anos 100.000 pessoas vão a óbito.
O seu habitat é o intestino grosso e, ocasionalmente, penetra na mucosa e produz ulcerações intestinais ou em outras regiões.
Veja como as amebas1 que vivem no intestino do homem são classi cadas:
Reino: Protista
Sub-reino: Protozoa
Filo: Sarcomastigophora
Família: Entamoebidae
Nesta aula, veremos as espécies do gênero Entamoeba, que vivem no intestino grosso do homem. Vamos lá!
Espécies do gênero Entamoeba
Temos os seguintes grupos:
Grupo coli
E. coli (homem)
E. gallinarum (aves)
Grupo histolytica
E. histolytica (homem)
E. hartmanni (homem)
Citoplasma
Ectoplasma (claro e uniforme) e endoplasma (granuloso e vacuolizado, às vezes, com
presença de hemácias).
Núcleo
Cromatina delicada, uniforme e na aderida à membrana nuclear, e Cariossomo pequeno e
centralmente localizado.
Pré-cisto
Cistos jovens
Possuem um núcleo e um vacúolo de glicogênio volumoso.
Cistos maduros
Possuem de 1 a 4 núcleos, cariossomo pequeno e central e apresenta mcitoplasma - corpos
cromatoides (bastão)
Metacisto
Forma multinucleada
1. Ingestão de cistos;
4. pré-cisto;
5. Cisto;
6. Fezes formadas;
8. Fezes diarreicas;
9. Ciclo patológico na parede intestinal; (10) Amebíase extraintestinal (Fígado, Pulmão, Cérebro, Pele).
Em seguida, o metacisto sofre sucessivas divisões nucleares e citoplasmáticas, dando origem a 4 e depois 8
trofozoítos, chamados trofozoítos. Esses trofozoítos migram para o intestino grosso onde se colonizam.
Em geral, cam aderidos à mucosa do intestino, vivendo como um comensal, alimentando-se de detritos e de
bactérias.
Sob certas circunstâncias, ainda não muito bem conhecidas, podem desprender da parede e, na luz do intestino
grosso, principalmente no cólon, sofrer a ação da desidratação, eliminar substâncias nutritivas presentes no
citoplasma, transformando-se em pré-cisto.
Em seguida, secretam uma membrana cística e se transformam em cistos, inicialmente mononucleados. Por meio de
divisões nucleares sucessivas, se transformam em cistos tetranucleados, que são eliminados com as fezes normais
ou formados.
Em situações que não estão bem conhecidas ainda, o equilíbrio parasito-hospedeiro pode ser rompido e os trofozoítos
invadem a submucosa intestinal, multiplicando-se ativamente no interior das úlceras e podem, através da circulação
porta, atingir outros órgãos, como o fígado e, posteriormente, pulmão, rim, cérebro ou pele, causando a amebíase
extraintestinal.
Acanthamoeba
Naegleria
Comensais
Formas assintomáticas
Formas assintomáticas ou infecção assintomática da amebíase (80 - 90% dos parasitados são completamente
assintomáticos) – a infecção é detectada pelo encontro de cistos no exame de fezes.
Formas sintomáticas
Colites disentéricas: cólicas intestinais, evacuações mucossanguinolentas, 8 a 10 vezes por dia (cólicas, hemorragia),
prostração, frequentes perfurações no intestino.
Manifestações clínicas na amebíase extraintestinal: Embora rara em nosso meio, a amebíase extraintestinal tem sido
relatada (casos de abscessos hepáticos amebianos) na Região Amazônica, principalmente no Pará e Amazonas.
Amebíase hepática: O abscesso amebiano no fígado é a forma mais comum da amebíase extraintestinal. Pode ser
encontrado em todos os grupos de idade, com predominância em adultos com 20 a 60 anos; sendo mais frequente em
homens do que em mulheres. Caracteriza-se por: tríade no abcesso amebiano: dor, febre e hepatomegalia; lesões difusas
nos hepatócitos. Provas de função hepática: discreta alteração, com aumento de fosfatase alcalina. Hemograma: discreta
leucocitose sem eosino lia.
Ulcerações típicas na amebíase hepática:
Patogenicidade da cepa.
Para con rmar o quadro de amebíase intetinal faz-se o exame Parasitológico de Fezes (EPF), buscando nas fezes cisto (fezes
formadas) ou trofozoítos (fezes diarreicas).
(Fonte: pixabay).
Já para con rmar o quadro de amebíase extraintestinal se o paciente apresentar abscesso hepático (tríade - dor, febre e
hepatomegalia), faz-se necessária a indicação de exames por imagem:
Raio-X
Ultrassonogra a
Tomogra a computadorizada
Ressonância magnética
Atenção
A eliminação de cistos é intermitente e irregular. Deve-se coletar amostras em conservantes (10% formol ou SAF) em
dias alternados por 1 semana.
Elisa
Hemaglutinação indireta
Contraimunoeletroforese
Combate às moscas. .
Comentário
Segundo a OMS: “Onde houver pequenos recursos nanceiros para serem aplicados em saúde pública, todos eles devem
ser dirigidos para o saneamento básico”.
Outro gênero de ameba de vida livre que pode causar a encefalite granulomatosa crônica, em aidéticos ou imunode cientes, é a
Acanthamoeba, que também pode causar ceratites (em usuários de lentes de contato).
As amebas de vida livre são frequentemente encontradas no solo e nas águas de lagos e rios.
Placa de aviso sobre a existência de Naegleris fowleri no rio. Fonte: Shutterstock.
As formas trofozoíticas são ativas e alimenta-se de bactérias. Os cistos são encontrados no solo seco ou na poeira.
O desencistamento ocorre quando os cistos entram em ambiente úmido. As formas ageladas movem-se ativamente na água
e, ao entrarem em contato com a mucosa nasal, transformam-se em trofozoítos ativos.
(Fonte: Shutterstock).
O primeiro caso de meningoencefalite por Naegleria diagnosticado pós-mortem ocorreu na Austrália, em 1967. No Brasil, o
primeiro caso de meningoencafalite amebiana foi diagnosticado em 1970.
A Naegleria fowleri é causadora de meningoencefalite amebiana primária (MAP), que é uma infecção fulminante que pode
levar a morte de 3 a 7 dias.
(Fonte: Shutterstock).
Apesar de Naegleria fowleri ser isolada em lugares com temperatura acima de 30°C (termofílica), os cistos podem sobreviver a
4°C por, pelo menos, 12 meses, com retenção da virulência quando da excistação dos trofozoítos.
Na distribuição mundial, esses protozoários habitam solo e águas mornas (lagos, piscinas térmicas e rios). A cloração da
água não elimina cepas patogênicas de N.fowleria.
O número de infecções é pequeno em relação à quantidade de exposição do hospedeiro. O risco de infecção estimado é de 1
caso entre 2,6 milhões de exposições à Naegleria fowleri. Já foram descritos 200 casos.
Principais meios de transmissão: Água (cistos ou trofozoítos) e poeira (cistos). A dose infectante ainda é desconhecida.
Meios de transmissão
Como esse espaço é bem vascularizado, torna-se uma rota de disseminação dos trofozoítos para outras áreas do
Sistema Nervoso Central.
Naegleria fowleri secreta uma proteína com atividade mucinolítica e citolítica, (Nfa-1) de 37-kd, localizada nos
pseudópodes.
Como os trofozoítos de N. fowleri possuem atividade neurotró ca, essa proteína facilita a invasão da mucosa,
submucosa dos plexos nervosos e bulbo olfatório, e nalmente invade a lâmina cribiforme até atingir o espaço
subaracnóideo.
O início dos sinais clínicos e sintomas variam de 2 a 3 dias, podendo chegar até de 7 a 14 dias. Porém, após a
instalação da doença, a MAP progride rapidamente e quase sempre é fatal.
Vejamos, a seguir, a patologia, a sintomatologia, o diagnóstico e o tratamento da Naegleria fowleri:
Patologia
Trofozoítos podem ser encontrados nos axônios não mielinizados dos nervos olfatórios e mucosa nasal.
Sintomatologia
Rigidez da nuca;
Letargia e coma;
É necessário fazer pesquisa e/ou cultura de amebas no líquor cefalorraquidiano e tomogra a computadorizada do
cérebro: Real Time PCR.
Encontra-se em desenvolvimento no sentido de monitorar o processo de ampli cação em tempo real por meio da
hibridização de sondas marcadas com uorescência, visando como alvo a sequência MpC15 – que é única para Naegleria
fowleri (MADAROVA et al., 2009).
Tratamento
Esgotos;
Piscinas;
Lentes de contato;
Máquinas de diálise;
Ventilação;
Garganta;
Narinas;
Pele;
Tecido pulmonar ;
A resistência dos cistos a extremos de temperatura, desinfecção e dessecação contam para a presença predominante
deste organismo no meio ambiente.
Formas morfológicas
Acanthamoeba sp
São ativos em ambiente úmidos e aquosos, onde se dividem por divisão binária.
Cistos
Balamuthia mandrilaris
Trofozoítos
O parasita entra através de lesões na pele, trato respiratório superior ou por meio da inalação de cistos, espalhando-se
no organismo via hematogênica até o Sistema Nervoso Central.
Imunode ciência
Diabetes
Tumores
Má nutrição
Lúpus eritramatoso
Alcoolismo
Infecção oportunista
Encefalite Amebiana Granulomatosa (GAE)
Os sintomas incluem:
Mudança de humor
Perda de coordenação
Febre
Visão dupla;
Sensibilidade à luz
Problemas neurológicos
Visão borrada
Sensibilidade a luz
Lacrimação excessiva
Úlceras de córneas associada ao uso de lentes de contato
Se não tratada, pode haver perfuração da córnea, diminuição ou perda de visão e até retirada do olho.
Devido à similaridade de sintomas com outras infecções oculares, um diagnóstico precoce torna-se essencial para o
tratamento efetivo da ceratite por Acanthamoeba.
A maioria das pessoas já entrou em contato com este organismo durante suas vidas e de 50 a 100% das pessoas
sadias possuem anticorpos contra Acanthamoeba.
Estudos já demonstraram que estas amebas podem ser cultivadas em faringes de pessoas sadias.
Há 1300 casos de ceratite por Acanthamoeba descritos no mundo. A maioria das pessoas infectadas eram usuárias
de lentes de contato.
Portadores de AIDS
Pacientes com câncer recebendo quimioterapia e fazendo uso de esteroides antiin amatórios
Para ceratite: pesquisa de trofozoítos e cistos no estroma e raspado de córnea, corados com hematoxilina e eosina
ou técnicas de imuno uorescência.
Cultura de amebas com ágar nutriente e salina de Page contendo Escherichia coli, Enterobacter aerogines ou
bactérias Gran-negativas.
Amphotericina-B;
Rifampicina;
Sulfametoxazol – trimetroprina;
Cetoconazol;
Fluconazol;
Albendazol.
Ceratite
Isotianato de propamidina;
Dibromopropamidina;
Polimixina B;
Miconazol;
Neomicina;
Os casos que não respondem à terapia por drogas podem ser tratados por ceratoplastia.
Atividade
1. O que é um parasito oportunista?
2. Um paciente do sexo masculino com 58 anos, HIV positivo, dá entrada no hospital com fortes dores de cabeça e enrijecimento
de nuca. Dentre os protozoários estudados até agora, quais parasitas oportunistas estariam envolvidos? Qual a forma
morfológica deste parasita envolvida na transmissão?
3. Qual a importância de diferentes metodologias coprológicas para a identi cação adequada do parasitismo causado por
amebas de vida livre? Justi que.
Notas
1
Amebas
Ameba indica “aquilo que muda ou não tem forma”, emitem pseudópodes.
Referências
CIMERMAN, B.; FRANCO, M. A. Atlas de Parasitologia. Artrópodes, Protozoários e Helmintos. São Paulo, Editora Atheneu, 2001.
DE CARLI, G.A. Parasitologia Clínica. Seleção de Métodos e Técnicas de Laboratório para o Diagnóstico das Parasitoses
Humanas. São Paulo, Editora Atheneu, 2001.
MADAROVÁ, L.; TRNKOVÁ, K.; FEIKOVÁ, S.; KLEMENT, C.; OBERNAUEROVÁ, M. A real-time PCR diagnostic method for
detection of Naegleria fowleri. Experimental Parasitology. Vol.126, N. 1, 2009.
NEVES, D.P. Parasitologia Humana. 12. ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2011.
REY, L. Bases da Parasitologia Médica. 3. ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara-Koogan, 2009.
SILVA, Reinaldo José da et al. Atlas de parasitologia humana. São Paulo: Cultura Acadêmica: Universidade Estadual Paulista,
2009.
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