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Módulo: Mecanismo de

Regulação, Agressão e Defesa


I _PARASITOLOGIA 1

Amebíases
Entamoeba histolytica
Profa. Dra. Renata Tonhosolo
Prof. Dr. Marcelo A. Corral
Protozoários Cavitários
Protozoários Intestinais
Amebíases
Entamoeba histolytica
Amebas de vida livre
potencialmente patogênicas
(Anfizóicos)
Acanthamoeba ssp.
Naegleria ssp.
Amebas
Protozoários com inúmeros habitats:
Vida livre Vários gêneros e espécies
Água doce, mar, solo, areia.
Parasitas Entamoeba histolytica.

Comensais Entamoeba coli, E. dispar,


E. hartmanni, E. gengivalis,
Endolimax nana,
Iodamoeba bütschlii.
Vida livre
eventualmente Acanthamoeba ssp.,
parasitas Naegleria ssp.
Amebas
Supergrupo Grupo Subgrupo Ex. gêneros
Filo Sarcomastigophora
Subfilo Sarcodina
Gênero Entamoeba
Amoebozoa Acanthamoebidae -- Acanthamoeba
Entamoeba -- Entamoeba
Espécies parasitas
Mastigamoebidae homem
-- Endolimax
E. histolytica
E. coli
Excavata Heterolobosea E. dispar
Vahlkampfiidae Intestino
Naegleria
E. hartmanni

E. gengivalis Cavidade bucal


patogênica
Trofozoítos são circundados por halo claro, resultante de
citólise → origem do nome“histolytica”.
Epidemiologia
• 500 milhões infectados, 1% formas invasivas.
• Óbito anual 100.000 pessoas.
• Regiões tropicais/subtropicais: i) condições precárias
de higiene, ii) estado nutricional deficiente.
• Áreas endêmicas: Índia, Bangladesh, África,
Tailândia. Américas: México e Colômbia.
Brasil: AM, PA, BA, PB.
Epidemiologia
Cosmopolita → varia de acordo com a região 5 a 50%
pessoas infectadas.
Região Infecção Doença Mortes/ano

África 85 milhões 10 milhões 10-30 mil


Ásia 300 milhões 20-30 milhões 25-50 mil

Europa 20 milhões 100 mil Mínima

Américas 95 milhões 10 milhões 10-30 mil

Totais 650 milhões 40-50 milhões 40-110 mil

4ª mais importante doença parasitária em


óbitos/mundo!
E. histolytica X E. dispar
E. histolytica
• Espécie patogênica (nem sempre).
• Potencial invasivo.
• Virulência dependente:
– cepa;
- resposta do hospedeiro.

E. dispar
• Espécie geralmente não patogênica.
• Pode causar formas intestinais graves (mais
frequente → África).
• Brasil → portadores assintomáticos.

E. moshkovskii: ? comum Austrália.


E. histolytica X E. dispar
◼ E. histolytica e E. dispar eram consideradas
única espécie.
◼ Foram diferenciadas por marcadores:
◼ bioquímicos: perfis isoenzimas;

◼ imunológicos: anticorpos monoclonais


contra proteínas de superfície;
◼ genotípicos: vários genes e

◼ clínicos.

Quando não tem confirmação de espécie,


refere-se: E. histolytica/E. dispar.
Amebas
Eucariotos peculiares, não tem:
Mitocôndria (Mitossoma/Cripton), Aparelho
de Golgi, RE e Microtúbulos.
Trofozoíto E. histolytica
• 1 núcleo, pleomórfico (variado).
• Citoplasma: ectoplasma e endoplasma.
• Ingestão: pinocitose/fagocitose:bactérias/
hemáceas (forma invasiva).
• Multiplicação: divisão binária simples.
• Aeróbico facultativo → microaerófila.
• Ativo → pseudópodes.

hemácias

Núcleo
Cariossoma
Cistos E. histolytica
• Forma de resistência (esférico
ou oval).
• Eliminado nas fezes.
• Parede cística (quitina). V
• 1-4 núcleos (N); Vacúolos de
N
glicogênio (V). Corpos
cromatóides (CC) → agregados CC
de ribossomos
N

Cisto jovem cisto maduro


4 núcleos
METACÍSTO
➢emerge do cisto no intestino delgado.
➢divisões → 8 trofozoítos mononucleados.
E. histolytica
Mecanismos de transmissão
Forma infectante → CISTOS.

• Ingestão de cistos (Oro-fecal):


Direta: pessoa → pessoa;
Indireta: água ou alimentos
contaminados.

Trofozoítas → destruídos no estômago.


E. histolytica
Mecanismos de transmissão

CISTOS
• viáveis por até ~30 dias no meio exterior;
• resiste pH ácido, enzimas digestivas, pH
alcalino (devido a parede de quitina);
• Desencistamento → intestino delgado;
• Reprodução/Encistamento → intestino grosso.
E. histolytica Ciclo
de vida
Formas do
Parasita:
• Cisto
• Trofozoíto

CICLO
MONOXÊNICO
E. histolytica
Desencistamento
Intestino delgado
• 37°C → anaerobiose;
Estômago
• 1 cisto → 4 núcleos;
• ÷ núcleos → 8 amebas;
• Alimentam/crescem →
Fase TROFOZOÍTICA.

Habitat trofozoíto Encistamento


→ luz intestino grosso → final intestino grosso
CICLO
Entamoeba

Ficam aderidos a Indivíduos ingerem cistos


mucosa → comensal maduros (alimento ou água)

Migram intestino
grosso Estômago (suco
gástrico)

Intestino
4–8 trofozoítos delgado
metacísticos

METACISTO Desincistamento
sofre divisões (saída metacisto)
Amebíase - Formas clínicas
- Forma assintomática (90%):
→depende genótipo e da resposta individual.
- Forma intestinal (não invasiva):
- dores abdominais (cólicas) e
- diarreias (pode ficar crônica).
- Forma intestinal invasiva:
- colite amebiana aguda, disenteria grave
(fezes líquidas).
- úlceras intestinais, abscessos.
- Forma extra-intestinal:
- fígado (mais comum, sem pus), pulmão,
cérebro e cutânea (região perianal/vaginal).
Evolução infecções E. histolytica/E. dispar

Assintomático

Não Portador
infectado
Sintomas leves

Ingestão
Cistos Disenteria grave
Óbito

Necrose amebiana
Infectado Disenteria Óbito
CICLO NÃO-
PATOGÊNICO

Trofozoítos
Eliminados nas
desprendem-se
fezes
da parede

Tetranucleados
Caem luz
(Cistos
intestino grosso
maduros)

Transformam-se
PRECISTOS e CISTO
mononucleados
CICLO
PATOGÊNICO

Fígado → pulmão → TROFOZOÍTOS na


cérebro ou pele forma invasiva ou
virulenta

TROFOZOÍTOS
Circulação invadem mucosa
porta intestinal

Multiplicam-se
interior úlceras
E. histolytica
Amebíase intestinal
- diarreias
- colites
- úlceras
- perfurações:
Forma intestinal
peritonite
apendicite
- Amebomas →bloqueio
intestinal

- Aguda → fulminante

Forma intestinal
invasiva
Amebíase → Patogenia

Amebíase intestinal
Fase (geralmente) não patogênica

Forma invasiva
Fase patogênica???
Maior número casos em homens!
E. histolytica
Mecanismos de invasão
- Adesão;
- Destruição tecidual e
- Dispersão ameboide.

extra-intestinal
E. histolytica
Mecanismos de invasão
1. Adesão às células do epitélio intestinal.

2. Destruição tecidual (origem do nome → histolytica):


- ação enzimas (proteases/mucopolissacaridases).
- formação de úlcera típica.

3. Dispersão trofozoíta cai na circulação e atinge o


fígado via sistema porta.

4. Abscessos, necrose e até obstrução do sistema porta


→ pode levar ao óbito!

5. Dispersão para outros órgãos.


E. histolytica
Mecanismos de invasão
Proteína formadora de poros → “Amebapore“
Provoca CITÓLISE.
E. histolytica

Fatores líticos

1. mecanismos dependentes de contato


- liberação peptídeos ativos - “amebapores”
- atividade citolítica.

2. mecanismos independentes de contato


- liberação de colagenase e proteases.
- degradação matriz extra-celular.
E. histolytica
Forma invasiva →Forma
Patologia
Amebíase
extra-intestinal

4ºcérebro
RARO
3ºpulmão

2ºfígado

5ºPele 1ºIntestino
Perianal/vaginal
Patologia Amebíase
Forma extra-intestinal

Invasão Trofozoíto
luz intestino

Amebíase hepática
Disfunção
microcirculação, resposta
imune exacerbada → Fígado
necrose. Trofozoíto
parede intestino
- abscessos no fígado.
- podem levar à morte!
E. histolytica
Necrose amebiana
Pus chocolate

Amebíase extra-
intestinal é
causada
exclusivamente
por
E. histolytica.
EVOLUÇÃO DA PATOGENIA

Invasão dos TROFOZOÍTOS virulentos mucosa →


através regiões intraglandulares.

Multiplicam-se e penetram tecidos → forma de


microulcerações → escassa reação inflamatória.

Submucosa, amebas podem migrar.

Lesões amebianas mais frequentes no ceco e região reto.

Úlceras podem estender-se para intestino grosso.

Circulação porta → fígado → formando “necrose” →


pulmão direito, raramente o cérebro, pele, região
anal/vaginal.
E. histolytica
RelaçãoAmebíase
Parasita-Hospedeiro
Mecanismos de defesa do hospedeiro
1. Camada Mucosa (mucinas): gel aderente,
previne adesão às células epiteliais e facilita a
eliminação do parasita.

2. Glicosidases produzidas pelas bactérias da


microbiota intestinal e proteases do lúmen
degradam a lectina da E. histolyica.

3. Resposta Imune.
E. histolytica
RelaçãoAmebíase
Parasita-Hospedeiro
Fatores de Virulência do parasita
• Mata/fagocita células hospedeiro;
• Morte celular (apoptose) células hospedeiro →
limita inflamação facilita evasão da reposta imune;
• Moléculas membrana trofozoíta → Lectina
(Gal/GalNAc, Lectina de adesão passível de inibição
por galactose e N-acetil-galactosamina) → forte
adesão;
• Glicolipídeos: Lipofosfoglicanas (LPG) →
quantidade relacionada com a virulência e
• Fatores líticos.
Diagnóstico
Quadro de diarreias: excluir outras fontes de
sintomas comuns (Escherichia coli, rotavírus).
Clínico → diarreia/síndrome do cólon irritável.

Parasitológico de fezes (método de rotina)


- cistos em fezes sólidas (diferenciar amebas não
patogênicas) e
- trofozoítas em fezes líquidas.

Diagnóstico imunológico
- ELISA para detecção de antígeno nas fezes.
- ELISA para detecção Acs IgG soro → amebíase invasiva.

Diagnóstico Molecular
- PCR (distingue espécies).
Diagnóstico

Problema...
Diagnóstico diferencial amebas
patogênicas
e não patogênicas

E. histolytica x E. coli
E. histolytica x E. dispar
E. histolytica x E. coli
Diagnóstico diferencial
E. histolytica x E. dispar
Diagnóstico diferencial

• Marcadores genotípicos (sequências de


DNA) distinguem duas espécies →
método PCR.

• Anticorpos monoclonais → ELISA.


Tratamento Ação nos trofozoítas,
restrita luz intestinal; sem
Formas intestinais efeitos colaterais e podem
ser quimioprofiláticos.
Medicamento Adulto Criança
Dicloracetamidas

SECNIDAZOL 2g, VO, dose única 30mg/kg/dia, VO


(inibe a síntese de DNA)

METRONIDAZOL 500mg, VO, 3x/dia, 35mg/kg/dia, VO,


(inibe a síntese de DNA) 5 dias 5 dias

TINIDAZOL 2g, VO, 2 dias

TECLOZAM 1,5g, VO, dose única 15mg/kg/dia, VO,


(formas leves ou 5 dias
assintomáticas)
Tratamento
Formas teciduais graves
Medicamento Adulto Criança

METRONIDAZOL 750mg, VO, 50mg/kg/dia,


3x/dia, 10 dias VO, 10 dias

TINIDAZOL 50mg/kg/dia, 50mg/kg/dia,


VO, 2-3 dias
Profilaxia e Controle
1. Saneamento básico;
2. Educação sanitária;
3. Tratamento de água;
4. Controle de alimentos (lavar frutas e verduras);
5. Tratamento das fontes de infecção e
6. Cuidados com higiene pessoal (lavar as mãos).

Vacinas (experimentais)
• Trofozoítas (via oral).
• Cistos (impedir encistamento).
Identificação e tratamento dos PORTADORES
ASSINTOMÁTICOS → estratégia potencial
de controle, porém de difícil implementação
em áreas de alta endemicidade!
Amebíase como
doença oportunista
Amebíase como doença oportunista
Amebas encontradas no solo e na água, bacteriófagas.
Parasitas facultativos em vertebrados.
(Anfizóicos)

Família
Família Vahlkamphidae Família Hartmannellidae
Leptomyxiidae
Gênero Naegleria Gênero Acanthamoeba
Gênero Balamuthia

Úlcera de
Meningoencefalite córnea Encefalite
amebiana primária Ceratite amebiana
granulomatosa
Infecção cutânea crônica
IMUNODEPRIMIDOS
Amebas de vida livre
Trofozoítos fagocitam e digerem
microorganismos.
Cosmopolita: solo, água (rios, lagos,
piscinas, água encanada). Cistos
estáveis por 8 meses TA.

Mecanismos de transmissão
Naegleria fowleri Acanthamoeba ssp.

Contato com água, Contato com água, uso de


contaminação via epitélio lentes de contato.
neurolfatório (indivíduos Contaminação local, via epitélio
sadios). olfatório, via hematogênica.

Temperatura, dose infectante, imunidade de mucosa, imunodeficiência


Acanthamoeba ssp.
Encefalite Amebiana
Granulomatosa (EAG)
e Ceratites (CA)

A. culbertsoni
A. polyphaga
A. hatchetti
A. castellanii
Acanthamoeba spp.
Ameba de vida livre potencialmente patogênica

cistos

trofozoítos
Acanthamoeba spp
Infecção ocular
(ceratites)
Acanthamoeba ssp.

Pacientes com imunodepressão

Infecção cutânea crônica

Encefalite
amebiana
granulomatosa
Endossimbiontes – Legionella e outras bactérias
Amebíase como doença oportunista
Meningoencefalite
amebiana primária

Família Vahlkamphidae
Gênero Naegleria
N.gruberi
Naegleria fowleri
N. lovaniensis Termofílica
N. australiensis
Patogenia
Naegleria
➢ Meningoencefalite amebiana primária → jovens.
➢ Doença rara, porém fulminante!
➢ Meningoencefalite necrotizante hemorrágica.
➢ Mecanismos de invasão: adesão, proteína formadora
de poros, fosfolipase, outras proteases.

Diagnóstico
➢ Exame do LCR: hemorrágico, neutrófilos, glicose
normal ou baixa, proteína elevada.
➢ Pesquisa de trofozoítos.
➢ Ceratite → raspado de córnea e cultura.
➢ Exame direto.
➢ Cultura.
Naegleria fowleri Acantamoeba ssp.
Doenças Meningoencefalite Encefalite amebiana granulomatosa
causadas amebiana primária (MAP). (EAG) e Ceratites (CA).
Epidemiologia Piscinas aquecidas. Água, solo úmido e ar.
Acomete jovens EAG: imunodepremidos.
imunocompetentes. CA: usuários lentes contato.
Casos ligados a banhos em
coleções de água.
Quadro Entrada: epitélio neuro- EAG: pele, pulmões e epitélio neuro-
clínico olfatório → Início súbito. olfatório → Insidioso. Evolução crônica
Doença aguda de evolução → coma e morte 30 dias (ENCEFALITE
rápida para coma e morte GRANULOMATOSA).
em 4 a 6 dias. CA: lesão córnea, úlcera, evolução lenta
→ perfuração córnea.
DiagnósticoQuadro clínico, técnicas EAG: Post mortem → Sorologia.
imuno-histoquímicas e CA: achado de amebas raspado córnea.
achado amebas.
Tratamento Anfotericina B associada EAG: pentamidina etc.
miconazol. CA: propamidina.
No. Casos Cerca de 200. EAG: 200 e CA: > 3.000
estimados
Literatura
♣ de Carli GA (2007). Parasitologia Clínica 2 ed.
♣ Markell´s & Voge´s Medical Parasitology.
♣ Rey L (2006). Parasitologia 4 ed.
♣ Ferreira MU (2003). Fundamentos Biológicos da
Parasitologia Humana.
♣ Ferreira UM (2012). Parasitologia Contemporânea.
♣ Cox, FEG (1993). Modern Parasitology 2 ed.
♣ Levine, ND (1985). Veterinary Protozoology.
♣ Mehlhorn, H (2008). Encyclopedia of Parasitology.
♣ Site da UCLA: Parasite course
(http://164.67.60.203/parasite_course-
old/default.asp?)
♣ Samuel Stanley Jr.: Amoebiasis, Lancet 361, 1025
Links de interesse

♣Organização Mundial de Saúde

♣Programa Especial para Pesquisa e


Treinamento em Doenças Tropicais

♣Identificação e Diagnóstico de Parasitas – CDC

♣Sociedade Brasileira de Protozoologia

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