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QUEBRANDO A BANCA – RETA FINAL DPE/CE1


Olááá, pessoal!! Hoje vamos revisar um tema IMPORTANTÍSSIMO em Direito Constitucional, mas, que, na
verdade, refere-se aos Direitos Humanos! Vamos falar sobre a estrutura dos sistemas internacional e interamericano
de proteção dos direitos humanos.

Olha como constou no edital de vocês:

5.3. O sistema internacional de proteção e promoção dos Direitos Humanos: Declarações e Tratados da
Organização das Nações Unidas e da Organização dos Estados Americanos. 5.4. Órgãos e mecanismos
de monitoramento e proteção internacional dos Direitos Humanos: sistemas da Organização das Nações
Unidas e da Organização dos Estados Americanos: estrutura, competência, funcionamento e documentos
produzidos. 5.5 Jurisprudência da corte interamericana de direitos humanos: casos contenciosos e
opiniões consultivas. 5.7. Comissão interamericana de Direitos Humanos: relatórios de casos, medidas
cautelares, relatórios anuais e relatoria para a liberdade de expressão.

Bora lá!

SISTEMA INTERNACIONAL DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

O sistema onusiano tem um corpo jurídico nuclear identificado pela doutrina como a “Carta Internacional de
Direitos Humanos” (International Bill of Rights), que inclui:

- Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) de 1948;

- Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos de 1966; e

- Pacto Internacional de Direitos Sociais, Econômicos e Culturais de 1966.

Vamos conferir uma tabelinha com as principais informações sobre o PIDCP e o PIDESC!

1  Por Michelle Mendes.

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Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos

• Direito à vida.

• Direito de não ser submetido à tortura, a penas ou tratamentos cruéis, nem a experiên-
cias médicas ou científicas sem seu livre consentimento.

• Direito à liberdade e à segurança pessoais e de não ser preso ou encarcerado

• arbitrariamente, nem privado de liberdade, salvo pelos motivos previstos em lei.

• Direito de que toda pessoa privada de liberdade seja tratada com humanidade e res-
peito à dignidade da pessoa humana.

• Direito de não ser preso apenas por não poder cumprir com uma obrigação contratual.

• Direito à livre circulação, direito de sair livremente de qualquer país e de não ser priva-
do arbitrariamente de entrar em seu próprio país.

• Garantias processuais.

• Direito de não ser condenado por atos ou omissões que não constituam delito de
acordo com o direito nacional ou internacional, irretroatividade da lei penal mais gra-
Principais direi- vosa e a retroatividade da lei penal mais benéfica ao réu.
tos garantidos
• Direito ao reconhecimento da personalidade jurídica.

• Direito a não ser alvo de ingerências arbitrárias ou ilegais em sua vida privada, em sua
família, em seu domicílio ou em sua correspondência, nem de ofensas ilegais às suas
honra e reputação.

• Liberdade de pensamento, de consciência e de religião.

• Direito de reunião.

• Direito de associação pacífica.

• Direito de contrair casamento e constituir família.

• Direitos específicos das crianças (direito de não sofrer discriminação alguma; direito
às medidas de proteção por parte de sua família, da sociedade e do Estado que sua
condição de menor requerer; direito de adquirir uma nacionalidade).

• Direito de participação política.

• Direito à igualdade.

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• Relatórios sobre as medidas adotadas para tornar efetivos os direitos civis e políticos
Mecanismo de ao Comitê de Direitos Humanos.
monitoramento
do Pacto
• Comunicações interestatais, que são submetidas ao exame do Comitê.
Primeiro Proto-
• Mecanismo de petição individual ao Comitê.
colo Facultativo
• Objetivo de abolir a pena de morte.
Segundo Proto-
colo Facultativo • Brasil fez reserva para assegurar a possibilidade de aplicação da pena de morte em
caso de guerra declarada.

Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais


Direitos econômicos, sociais e culturais são de realização progressiva, o que não exclui a obrigatoriedade de
sua realização pelo Estado e a sua exigibilidade pela via judicial.
• Direito ao trabalho

• Direito ao gozo de condições de trabalho equitativas e satisfatórias

• Direito de toda pessoa à previdência social

• Direito de toda pessoa fundar sindicatos e filiar-se àqueles de sua escolha

• Direito de greve
Principais
direitos ga- • Direito à proteção e assistência familiar, especialmente a mães e crianças
rantidos
• Direito a um nível adequado de vida (incluindo alimentação, vestimenta, moradia)

• Direito à saúde física e mental

• Direito à educação

• Direito de participar da vida cultural, desfrutar o processo científico e suas apli-


cações, bem como beneficiar-se da proteção de interesses morais e materiais
decorrentes de toda a produção científica, literária ou artística de que seja autor.

• Relatórios periódicos ao Conselho Econômico e Social*

Mecanismo de
monitoramento * Diversamente do PIDCP, o PIDESC não criou o seu comitê, atribuindo ao Conselho
do Pacto Econômico e social a competência para monitoramento dos direitos econômicos, sociais
e culturais. Em 1985, o Conselho Econômico e Social criou o Comitê de Direitos Econô-
micos, Sociais e Culturais, atual responsável pelo recebimento dos relatórios periódicos.

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• Comunicação individual ou no interesse de indivíduos ou grupos de indivíduos


Mecanismo de
efetivação dos • Procedimento interestatal
direitos revistos
no Protocolo • Procedimento de investigação
Facultativo
• Medidas provisórias (cautelares)

Para além desse núcleo duro, o sistema onusiano é integrado ainda por uma série de outros tratados multi-
laterais firmados entre os Estados.

A apuração das violações de direitos humanos no âmbito da Organização das Nações Unidas é complexa e
pode se dar na área convencional, originada por acordos internacionais, elaborados sob a égide da ONU, e na
área extraconvencional, originada de resoluções da Organização das Nações Unidas (ONU) e de seus órgãos,
editadas a partir de interpretação da Carta da Organização das Nações Unidas e seus dispositivos relativos à pro-
teção dos direitos humanos.

Aqui, nós vamos tratar apenas dos mecanismos convencionais!

O sistema convencional possui, segundo a doutrina, três subespécies:

- Não contencioso: manifesta-se a partir de técnicas de solução de controvérsias do Direito Internacional


clássico, tais como os bons ofícios e a conciliação.

- Quase judicial: abrange a responsabilização iniciada por petições de Estados e ainda por petições de
particulares contra Estados.

- Sistema judicial ou contencioso: a responsabilidade internacional do Estado por violação de direitos hu-
manos é estabelecida através de um processo judicial, perante a Corte Internacional de Justiça.

Vamos ver um a um!

Mecanismo convencional não contencioso:

O principal mecanismo não contencioso, com relevância para fins de prova, é o sistema de relatórios perió-
dicos. Através deles, os Estados, ao ratificar tratados, comprometem-se a enviar informes, nos quais devem constar
as ações que realizaram para respeitar e garantir os direitos mencionados nesses tratados.

Essa obrigação está prevista, por exemplo, na Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discrimi-
nação Racial, no Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, no Pacto Internacional de Direitos Econômicos, So-
ciais e Culturais Políticos, na Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a Mulher,
na Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanas ou Degradantes, na Convenção
de Direitos da Criança, na Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, entre outros.

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Em cada uma dessas convenções, foi criado um comitê de controle dos relatórios periódicos (os chamados
“treaty bodies”). Assim é que, por exemplo, o Comitê de Direitos Humanos zela pelo cumprimento do PIDCP e
seus dois protocolos facultativos ou o Comitê sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais zela pelo cumpri-
mento do PIDESC e seu protocolo facultativo.

Os relatórios enviados pelos Estados são avaliados pelo Comitê, buscando-se um diálogo construtivo em prol
do aprimoramento da proteção dos direitos humanos. Os Comitês podem buscar, ainda, informações de outros
órgãos internacionais, como a Organização Mundial de Saúde, a UNESCO, entre outros. Pode, também, receber
informes alternativos de organizações não governamentais, também chamados de “relatórios sombra” ou “sha-
dow reports”.

Mecanismo convencional quase judicial:

Os mecanismos convencionais quase judiciais são voltados à apuração da responsabilidade internacional


do Estado, instituídos por convenções internacionais, agindo repressivamente, com a constatação de violação de
direitos humanos protegidos e que acarretam a condenação do Estado na reparação dos danos produzidos.

Esses mecanismos são conduzidos pelos Comitês instituídos pelas várias Convenções Internacionais da Or-
ganização das Nações Unidas (os treaty bodies, como mencionamos), que produzem ao final uma deliberação
internacional sobre a violação dos direitos humanos protegidos, com a fixação de determinada reparação.

Diz-se que esse mecanismo é quase judicial, porque os Comitês não são órgãos judiciais propriamente ditos
e os textos das convenções não se referem às suas decisões como “sentenças”.

Os mecanismos quase judiciais podem ser acionados por petições de Estados, chamadas de demandas inte-
restatais, ou de particulares contra Estados, as chamadas demandas individuais.

Tratados do Sistema Onusiano que admitem petições individuais aos Comitês:

- PIDCP, através do seu Primeiro Protocolo Facultativo;

- Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial;

- Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a Mulher;

- Convenção Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes;

- Convenção sobre os Direitos da Criança, através do seu Terceiro Protocolo Facultativo;

- PIDESC, através do seu Protocolo Facultativo;

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- Convenção Internacional para a Proteção de Todas as Pessoas contra o Desaparecimento Forçado;

- Convenção Internacional sobre a Proteção dos Direitos de Todos os Trabalhadores Migrantes e dos Mem-
bros das suas Famílias;

- Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, através do seu Protocolo Faculta-
tivo;

#JÁCAIU

FCC – 2021 – DPE/GO


Constitui mecanismo convencional estabelecido, de forma expressa, em tratado que prevê um sistema de peti-
ções individuais disposto em protocolo opcional, o Comitê:
A) sobre Trabalhadores Migrantes.
B) sobre Desaparecimentos Forçados.
C) de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais.
D) sobre Eliminação da Discriminação Racial.
E) de Direitos Humanos.
GABARITO: E.

É importante saber que o Brasil reconhece a competência dos seguintes Comitês para receber petições indi-
viduais das vítimas:

- Comitê para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher;

- Comitê para a Eliminação da Discriminação Racial;

- Comitê contra a Tortura;

- Comitê dos Direitos das Pessoas com Deficiência;

- Comitê de Direitos Humanos.

Mecanismo convencional judicial:

O mecanismo judicial se refere à apuração de violações de direitos humanos perante a Corte Internacional de
Justiça (CIJ), o órgão judicial da ONU, tendo reconhecida sua competência para todos os litígios que as partes lhe
submetam, em especial os temas previstos na Carta das Nações Unidas e nos tratados e convenções internacionais
vigentes.

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Somente pode ser provocada por Estados e não por indivíduos. Além disso, a jurisdição da Corte depende
da adesão facultativa dos Estados.

SISTEMA INTERAMERICANO DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

O sistema interamericano tem como documento jurídico principal a Convenção Americana de Direitos Hu-
manos, também denominada Pacto de San José da Costa Rica, cidade onde foi assinada, em 1969. Apenas Estados
membros da Organização dos Estados Americanos podem aderir à Convenção Americana.

Antes dela, a OEA tinha um importante instrumento de proteção: a Declaração Americana dos Direitos e
Deveres do Homem, assinada em abril de 1948, antes mesmo da Declaração Universal de Direitos Humanos, de
dezembro de 1948.

#NÃOCONFUNDA:

- Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem: assinada em abril de 1948, na Nona Conferência
Internacional Americana, em Bogotá.
- Declaração Universal de Direitos Humanos: assinada em proclamada pela Assembleia Geral das Nações
Unidas em Paris, em 10 de dezembro de 1948, por meio da Resolução 217 A (III).
- Convenção Americana de Direitos Humanos: assinada durante a Conferência Especializada Interamericana
de Direitos Humanos, em 22 de novembro de 1969, na cidade de San José da Costa Rica.

Atualmente, a proteção dos Direitos Humanos no sistema interamericano é formada em essência por 4 di-
plomas:

1. Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem (1948);

2. Carta da Organização dos Estados Americanos (1948);

3. Convenção Americana de DH (1969);

4. Protocolo de San Salvador (1988).

A Convenção Americana assegura um extenso catálogo de direitos civis e políticos similar ao previsto pelo
Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos. Vamos conferir esse catálogo:

- direito à personalidade jurídica;

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- direito à vida;

- direito à integridade pessoal;

- direito a não ser submetido à escravidão;

- direito à liberdade;

- direito a garantias judiciais;

- direito à compensação em caso de erro judiciário;

- direito à honra e à dignidade;

- direito à privacidade;

- direito à liberdade de consciência e religião;

- direito à liberdade de pensamento e expressão;

- direito à resposta;

- direito à liberdade de associação;

- direito à proteção da família;

- direito ao nome;

- direito de proteção à criança;

- direito à nacionalidade;

- direito de propriedade;

- direito de circulação e residência;

- direito à liberdade de movimento e residência;

- direito de participar do governo;

- direito à igualdade perante a lei;

- direito à proteção judicial.

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Esse rol de direitos não é fechado, uma vez que o artigo 31 da CADH autoriza expressamente o reconheci-
mento de outros no regime de proteção da Convenção.

Além disso, a CADH não se preocupa apenas em estabelecer direitos. Ela reconhece, ainda, deveres
atribuídos a toda pessoa. Em seu artigo 32, define que toda pessoa tem deveres para com a família, a
comunidade e a humanidade e que os direitos de cada pessoa são limitados pelos direitos dos demais, pela
segurança de todos e pelas justas exigências do bem comum, numa sociedade democrática.

É possível notar, assim, o caráter mais individualista da Convenção Americana, que não enuncia de
forma específica qualquer direito social, cultural ou econômico, limitando-se a determinar aos Estados que
alcancem, progressivamente, a plena realização desses direitos, mediante a adoção de medidas legislativas
e outras que se mostrem apropriadas.

Foi só em 1988 que a Assembleia-Geral da Organização dos Estados Americanos adotou um Protocolo Adi-
cional à Convenção Americana, tratando especificamente dos direitos sociais, econômicos e culturais, o chamado
Protocolo de San Salvador.

Os Estados-parte da CADH têm não apenas o dever de respeitar, mas também o de assegurar os direitos nela
previstos, assumindo, assim, obrigações positivas e negativas perante o sistema interamericano.

Nesse sentido, especial atenção deve ser dada à chamada “cláusula federal”, segundo a qual, é o estado
como um todo que possui personalidade jurídica de Direito Internacional, não podendo alegar óbice relacionado
à divisão de competências internas para se eximir de sua responsabilidade. No caso brasileiro, por exemplo, não
poderia o Brasil alegar não ter responsabilidade sobre um ato de um Estado-membro ou município da Federação
brasileira, sendo o Estado Nacional quem assume a responsabilidade. Vamos ver a importância disso, depois, no
Caso Ximenes Lopes vs. Brasil.

Para assegurar a efetividade da CADH, foram estabelecidos dois órgãos: a Corte Interamericana de Direitos
Humanos (Corte IDH) e a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH). Vamos tratar de cada um deles!

Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH):

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos foi criada em 1960, como um órgão, na estrutura da OEA,
voltado para a proteção e promoção dos direitos humanos. Oito anos depois, com o Protocolo de Buenos Aires,
que emendou a Carta da OEA, a Comissão passou a ser órgão principal da OEA, incorporando-se à sua estrutura
permanente.

A competência da Comissão Interamericana de Direitos Humanos alcança todos os Estados partes da Con-
venção Americana, em relação à CADH, e todos os Estados membros da Organização dos Estados Americanos, em
relação aos direitos consagrados na Declaração Americana de 1948.

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Ela é composta por sete membros, que deverão ser pessoas de alta autoridade moral e de reconhecimento
saber em matéria de direitos humanos, eleitos a título pessoal, pela Assembleia-Geral da organização, de uma lista
de candidatos propostos pelos governos dos Estados-Membros.

Cada Estado pode propor até três candidatos, nacionais seus ou de qualquer outro Estado-Membro da orga-
nização dos Estados Americanos. Quando for proposta uma lista de três candidatos, pelo menos um deles deverá
ser nacional de Estado diferente do proponente.

Os membros da Comissão serão eleitos por quatro anos e só poderão ser reeleitos uma vez. Além disso, não
pode fazer parte da Comissão mais de um nacional de um mesmo Estado.

Vamos sistematizar isso tudo numa tabelinha, pra ficar mais fácil na hora da revisão:

COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS

MEMBROS Sete

ELEIÇÃO A título pessoal, pela Assembleia-Geral da OEA

Cada Estado pode indicar até 3 candidatos, sendo


INDICAÇÃO pelo menos um nacional de outro Estado que não o
do proponente.

MANDATO 4 anos, admitida uma reeleição.

E quais são as funções da CIDH?

A Comissão tem a função principal de promover a observância e a defesa dos direitos humanos e, no exer-
cício do seu mandato, tem as seguintes atribuições:

a) estimular a consciência dos direitos humanos nos povos da América;

b) formular recomendações aos governos dos Estados-Membros, quando o considerar conveniente, no


sentido de que adotem medidas progressivas em prol dos direitos humanos no âmbito de suas leis internas e seus
preceitos constitucionais, bem como disposições apropriadas para promover o devido respeito a esses direitos;

c) preparar os estudos ou relatórios que considerar convenientes ao desempenho de suas funções;

d) solicitar aos governos dos Estados-Membros que lhe proporcionem informações sobre as medidas que
adotarem em matéria de direitos humanos;

e) atender às consultas que, por meio da Secretaria-Geral da Organização dos Estados Americanos, lhe
formularem os Estados-Membros sobre questões relacionadas com os direitos humanos e, dentro de suas possibi-
lidades, prestar-lhes o assessoramento que eles lhe solicitarem;

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f ) atuar com respeito às petições e outras comunicações, no exercício de sua autoridade;

g) apresentar um relatório anual a Assembleia-Geral da Organização dos Estados Americanos.

A doutrina vai esclarecer que a CIDH exerce função:

a) conciliadora, entre um Governo e grupos sociais que vejam violados os direitos de seus membros;

b) assessora, aconselhando os Governos a adotar medidas adequadas para promover os direitos humanos;

c) crítica, ao informar sobre a situação dos direitos humanos em um Estado membro da OEA, depois de ter
ciência dos argumentos e das observações do Governo interessado, quando persistirem essas violações;

d) legitimadora, quando um suposto Governo, em decorrência do resultado do informe da Comissão acerca


de uma visita ou de um exame, decide reparar as falhas de seus processos internos e sanar as violações;

e) promotora, ao efetuar estudos sobre temas de direitos humanos, a fim de promover seu respeito;

f ) protetora, quando além das atividades anteriores, intervém em casos urgentes para solicitar ao Governo,
contra o qual se tenha apresentado uma queixa, que suspenda sua ação e informe sobre os atos praticados.

Outra função IMPORTANTÍSSIMA da CIDH é o recebimento de petições noticiando violações de direitos


humanos. Segundo o art. 44 da CADH, qualquer pessoa ou grupo de pessoas, ou entidade não governamental
legalmente reconhecida em um ou mais Estados-Membros da Organização, pode apresentar à Comissão petições
que contenham denúncias ou queixas de violação da Convenção por um Estado-Parte.

A própria CADH estabelece alguns requisitos de admissibilidade dessas petições:

a) que hajam sido interpostos e esgotados os recursos da jurisdição interna, de acordo com os princípios de
direito internacional geralmente reconhecidos;

b) que seja apresentada dentro do prazo de seis meses, a partir da data em que o presumido prejudicado
em seus direitos tenha sido notificado da decisão definitiva;

c) que a matéria da petição ou comunicação não esteja pendente de outro processo de solução internacio-
nal; e

d) que a petição contenha o nome, a nacionalidade, a profissão, o domicílio e a assinatura da pessoa ou


pessoas ou do representante legal da entidade que submeter a petição.

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Os dois primeiros requisitos, no entanto, poderão ser dispensados se:

a) não existir, na legislação interna do Estado de que se tratar, o devido processo legal para a proteção do
direito ou direitos que se alegue tenha sido violados;

b) não se houver permitido ao presumido prejudicado em seus direitos o acesso aos recursos da jurisdição
interna, ou houver sido ele impedido de esgotá-los; e

c) houver demora injustificada na decisão sobre os mencionados recursos.

MUITA atenção com o tema da admissibilidade das petições, que é um dos que mais caem!

#JÁCAIU

CESPE – DPE/PI – 2022


Considerando a ordem jurídica internacional e a proteção contra violações de direitos humanos, assinale a opção
correta.
A) O esgotamento dos recursos internos é regra absoluta de admissibilidade de denúncias apresentadas à Co-
missão Interamericana de Direitos Humanos.
B) Ao sujeitar-se à jurisdição da Corte Interamericana de Direitos Humanos, o Brasil fragiliza os mecanismos de
proteção contra as violações de direitos humanos, haja vista as dificuldades ainda existentes para interação ins-
titucional entre regimes normativos complementares.
C) As normas imperativas de direito internacional geral podem ser derrogadas pela superveniência de norma de
direito internacional de qualquer natureza, desde que esta tenha como fundamento convenção internacional.
D) Sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos produzirá, somente após a correspondente homolo-
gação pelo órgão judicial interno, autoridade de coisa julgada internacional, com eficácia vinculante e direta aos
órgãos da administração pública.
E) Os tratados de direitos humanos incorporam obrigações de caráter objetivo que transcendem o primado do
pacta sunt servanda e da reciprocidade estatal para incorporar a noção de garantia coletiva e interesse público
superior.
GABARITO: E.
FUNDEP – 2019 – DPE/MG
De acordo com a Convenção Americana sobre Direitos Humanos e o Regulamento da Comissão Interamericana
de Direitos Humanos, com a finalidade de decidir quanto à admissibilidade do assunto, a Comissão Interamerica-
na de Direitos Humanos verificará se foram interpostos e esgotados os recursos da jurisdição interna, de acordo
com os princípios de Direito Internacional geralmente reconhecidos.

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O assunto será admitido quando presentes uma das hipóteses a seguir, exceto:
A) Houver atraso injustificado na decisão sobre os mencionados recursos.
B) Não existir, na legislação interna do Estado, o devido processo legal para a proteção do direito ou dos direitos
que se alegue tenham sido violados.
C) Os recursos previstos na legislação interna do Estado não possuírem efeito suspensivo para impedir a violação
do direito ou dos direitos que se alegue tenham sido violados.
D) Não se tenha permitido, ao suposto lesado em seus direitos, o acesso aos recursos da jurisdição interna, ou
houver sido ele impedido de esgotá-los.
GABARITO: A.
FCC – 2018 – DPE/AP
Sobre as condições da admissibilidade da petição individual à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, é
INCORRETO afirmar:
Alternativas
A) O esgotamento dos recursos locais ou internos não admite, em hipótese alguma, a sua dispensa.
B) A apresentação da petição deve ocorrer dentro do prazo de seis meses, a partir da data em que o presumido
prejudicado em seus direitos tenha sido notificado da decisão definitiva, podendo tal condição ser relativizada,
por exemplo, se não existir ou for garantido, na legislação interna do Estado Parte, o devido processo legal para
a proteção do direito ou direitos que se alegue tenham sido violados.
C) A ausência de litispendência internacional objetiva impedir o uso simultâneo de dois mecanismos internacio-
nais de proteção de direitos humanos.
D) A ausência de coisa julgada internacional objetiva impedir o uso sucessivo de dois mecanismos internacionais
de proteção de direitos humanos.
E) O esgotamento dos recursos internos visa respeitar a soberania estatal, reconhecendo o caráter subsidiário
da jurisdição internacional.
GABARITO: A.

Se a CIDH reconhecer a admissibilidade da petição, em seguida, solicitará informações ao governo denuncia-


do. Recebidas às informações, ou transcorrido o prazo fixado sem que sejam elas recebidas, a Comissão verificará
se existem ou subsistem os motivos da petição ou comunicação. No caso de não existirem ou não subsistirem,
mandará arquivar o expediente. Poderá também declarar a inadmissibilidade ou a improcedência da petição ou
comunicação, com base em informação ou prova superveniente.

Contudo, se o expediente não for arquivado, a Comissão realizará, com o conhecimento das partes, um
exame acurado do assunto e, se necessário, realizará uma investigação dos fatos. A partir das informações colhidas
nessa fase, a CIDH procurará buscar uma solução amistosa entre as partes.

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Em casos graves e urgentes, porém, a CIDH pode, desde logo, fazer uma investigação, mediante prévio
consentimento do Estado em cujo território de alegue haver sido cometido à violação, tão somente com a apre-
sentação de uma petição ou comunicação que reúna todos os requisitos formais de admissibilidade.

Se alcançada a solução amistosa, a Comissão elaborará um informe que será transmitido ao peticionário e
aos Estados partes da Convenção, sendo comunicado posteriormente à Secretaria da Organização dos Estados
Americanos para publicação. Vamos relembrar os casos brasileiros em que houve a solução amistosa:

Caso José Pereira vs. Brasil: José Pereira, trabalhador rural, foi morto quando tentou escapar, em 1989, da
Fazenda Espírito Santo, para onde tinha sido atraído com falsas promessas sobre condições de trabalho. Foi a
primeira vez que o Brasil celebrou, no âmbito da CIDH, um acordo de solução amistosa.
Caso dos Meninos Emasculados do Maranhão vs. Brasil: trata-se do caso de omissão da Justiça do Mara-
nhão em apurar e punir os envolvidos em vinte e oito homicídios de crianças e adolescentes, tendo a maioria
dos corpos sido encontrada com os órgãos genitais mutilados. Pela primeira vez, o Estado brasileiro celebrou um
acordo de solução amistosa na CIDH após a admissibilidade do caso e antes da deliberação final.
Fazenda Ubá vs. Brasil: refere-se a fatos ocorridos em 13 de junho de 1985 em detrimento de oito trabalhadores
rurais, entre eles uma mulher grávida, que foram supostamente assassinados na área da fazenda Ubá, município
de São João de Araguaia, Estado do Pará, por um grupo de homens armados durante um processo de desaloja-
mento rural. O Estado brasileiro reconheceu sua responsabilidade internacional pela violação dos direitos à vida,
à proteção e às garantias judiciais e no âmbito da obrigação de garantir e respeitar os direitos, consagrados na
Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem e na Convenção Americana sobre Direitos Humanos.
Márcio Lapoente da Silveira vs. Brasil: Márcio Lapoente da Silveira, cadete da Primeira Companhia do Curso
de Formação da Academia Militar de Agulhas Negras do Exército Brasileiro teve a sua morte como consequência
de ter sido supostamente submetido a maus-tratos físicos excessivos por funcionários militares. O Estado brasi-
leiro reconheceu a sua responsabilidade e se obrigou a uma série de medidas de reparação.

Entretanto, se não for alcançada qualquer solução amistosa, a Comissão redigirá um relatório, apresentando
os fatos e as conclusões pertinentes ao caso e, eventualmente, recomendações ao Estado-parte.

Quando um relatório sobre o mérito é aprovado em conformidade com o artigo 50 da Convenção America-
na sobre Direitos Humanos, ele é confidencial e a Comissão o notifica apenas às partes (Estado e peticionário). Os
relatórios substantivos aprovados poderão ser publicados posteriormente, se a Comissão decidir, em conformidade
com o artigo 51 (3) da Convenção Americana sobre Direitos Humanos.

Esse relatório é encaminhado ao Estado-parte, que tem o prazo de 3 meses para dar cumprimento às reco-
mendações feitas. Durante esse período de 3 meses, o caso pode ser solucionado pelas partes ou encaminhado à
Corte Interamericana de Direitos Humanos.

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QUEBRANDO A BANCA

Se no prazo de três meses, a partir da remessa aos Estados interessados do relatório da Comissão, o assunto
não houver sido solucionado ou submetido à decisão da Corte pela Comissão ou pelo Estado interessado, acei-
tando sua competência, a Comissão poderá emitir, pelo voto da maioria absoluta dos seus membros, sua opinião
e conclusões sobre a questão submetida à sua consideração.

A Comissão fará as recomendações pertinentes e fixará um prazo dentro do qual o Estado deve tomar as
medidas que lhe competirem para remediar a situação examinada.

Transcorrido o prazo fixado, a Comissão decidirá, pelo voto da maioria absoluta dos seus membros, se o
Estado tomou ou não medidas adequadas e se publica ou não seu relatório.

Não se esqueçam que, no sistema interamericano, apenas a Comissão Interamericana e os Estados-partes


podem submeter um caso à Corte Interamericana. As vítimas só podem peticionar diretamente à CIDH.

Pra encerrar, vamos conferir outros casos importantes do Brasil na CIDH:

Caso Maria da Penha Fernandes vs. Brasil: Maria da Penha representa a história de uma geração de mulheres
em relacionamentos abusivos. Em 1983, esse ciclo de violência culminou com uma tentativa de homicídio por
parte de seu então marido, que, além de ter disparado um revólver contra ela enquanto dormia, ainda tentou
eletrocutá-la durante o banho, após ter alta do hospital. Esse caso não chegou à Corte IDH. Em 1998, a CIDH
recebeu a denúncia apresentada pela vítima e, em 2001 declarou o Estado brasileiro responsável pela violação
do direito à proteção judicial, reconhecendo que a tolerância do Brasil com a violência doméstica era sistemática.
O Caso Maria da Penha representa a primeira vez que a CIDH (e não a Corte) aplicou a Convenção de Belém do
Pará. Entre as recomendações da CIDH cumpridas pelo Estado brasileiro, destaca-se a promulgação da Lei Maria
da Penha (Lei 11.340/2006), que gerou uma verdadeira revolução no tratamento da violência de gênero no Brasil.
Simone André Diniz vs. Brasil: Simone André Diniz tomou conhecimento de um anúncio de emprego publi-
cado por Gisele Mota no jornal A Folha de São Paulo. Entre os requisitos para preencher a vaga, de empregada
doméstica, a contratante indicava que desejava uma pessoa de cor branca. Inconformada com o anúncio dis-
criminatório, Simone apresentou notitia criminis, por meio da Subcomissão do Negro da Comissão de Direitos
Humanos da OAB/SP, a partir da qual foi instaurado inquérito policial para apurar eventual ocorrência do crime
previsto no art. 20 da Lei 7.716/1989. O caso, no entanto, foi arquivado sob a alegação de que não haveria justa
causa para o oferecimento da denúncia. A Comissão reconheceu a responsabilidade internacional do Brasil,
chamando atenção ao governo brasileiro quanto ao racismo institucional que permeava o caso, ou seja, ao con-
junto de normas, práticas e comportamentos discriminatórios reiterados adotados por organizações públicas ou
privadas contra membros de grupos raciais ou étnicos, gerando-lhes uma situação de desvantagem no acesso a
benefícios gerados pelo Estado e por demais instituições e organizações. O Caso Simone André Diniz representa
a primeira vez que um país-membro da OEA foi responsabilizado na CIDH por racismo e se tornou paradigmá-
tico por apontar o problema do racismo institucional.

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QUEBRANDO A BANCA

#OLHAOGANCHO:

O crime de injúria racial, espécie do gênero racismo, é imprescritível.


HC 154248/DF, relator Min. Edson Fachin, julgamento em 28.10.2021

#JÁCAIU

FGV – 2021 – DPE/RJ


No caso Simone André Diniz, uma empregada doméstica teve recusada a sua candidatura ao emprego por ser
negra. O caso levado à justiça brasileira foi arquivado. Ao analisar o tema, a Comissão Interamericana de Direitos
Humanos entendeu que:
A) o caso não configura violação de direitos humanos, na medida em que sua apuração seguiu o que preceitua
a legislação brasileira. Houve instauração de inquérito policial, e o arquivamento se deu pela autoridade judiciária
competente com base em parecer do Ministério Público, após terem sido ouvidos os depoimentos das pessoas
envolvidas;
B) o fato de não ter sido aberta ação penal para apuração de denúncia de discriminação racial viola o direito à
não discriminação e ao acesso à justiça;
C) o Estado brasileiro assumiu oficialmente a existência do racismo e não pode ser condenado com base em um
caso isolado, pois isso macularia uma série de iniciativas que vêm sendo tomadas para superação do racismo,
como a Lei nº 7.716/1989, a Lei nº 10.639/2003, o Estatuto da Igualdade Racial, a criação de Secretarias de Pro-
moção da Igualdade Racial em todos os níveis da federação, etc.;
D) toda vítima de violação de direitos humanos deve ter assegurada uma investigação diligente e imparcial. A
vulnerabilidade das vítimas exige que o caso seja apurado/processado a partir da presunção relativa de ocor-
rência da violação;
E) o reconhecimento da dimensão do problema racial no Brasil não admite violação de normas processuais,
como a que impede recurso da sentença que determina o arquivamento do inquérito policial.
GABARITO: B.

Caso Wallace de Almeida vs. Brasil: O caso envolve a morte de Wallace de Almeida, jovem, negro, à época
com dezoito anos de idade, assassinado por policiais militares, no dia 13 de setembro de 1998. Além de o caso
ter tramitado anos sem conclusão, alegava-se que a morte era permeada por fatores raciais e sociais, sendo
negros e pobres vítimas recorrentes desse tipo de supostas execuções extrajudiciais. A Comissão Interamericana
concluiu que houve uma violação do direito à vida, à integridade pessoal, às garantias judiciais, à igualdade e à
proteção judicial consagrados, respectivamente, nos artigos 4, 5, 8, 24 e 25 da Convenção Americana. A Comis-
são concluiu igualmente que também foram violadas as obrigações impostas pela Convenção Americana em
seu artigo 1(1), de respeito e garantia dos direitos nela consagrados; em seu artigo 2, que estabelece o dever de
adotar disposições de direito interno a fim de tornar efetivos os direitos previstos no referido instrumento; e em

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seu artigo 28, relativamente à obrigação tanto do Estado Federal como do estado do Rio de Janeiro de cumprir
as disposições contidas na Convenção. Entre as recomendações, a CIDH determinou ao Estado Brasileiro adotar
e instrumentar medidas adequadas dirigidas aos funcionários da justiça e da polícia, a fim de evitar ações que
impliquem discriminação racial nas operações policiais, nas investigações, no processo ou na sentença penal.
Caso Carandiru: se refere, em síntese, à morte de 111 presos (dos quais 84 processados mas ainda não conde-
nados) e a lesões graves sofridas por outros internos durante a repressão de um motim de detentos, ações su-
postamente praticadas pela Polícia Militar de São Paulo em 2 de outubro de 1992. A CIDH afirmou que o Estado
tem o direito e o dever de debelar um motim de presos. Na sua subjugação devem ser adotadas estratégias e
ações indispensáveis para sufocá-lo com o mínimo de dano à vida e à integridade física dos reclusos e o mínimo
de risco para as forças policiais. A ação da polícia, conforme se acha descrita na petição e foi confirmada pelas
investigações oficiais e o parecer de peritos, foi efetuada com absoluto desprezo pela vida dos detentos, de-
monstrando-se uma atitude retaliativa e punitiva, absolutamente contrária às garantias que a ação policial deve
oferecer. Da análise dos documentos, a CIDH constatou, ainda que não apenas se deixou de prestar aos feridos
adequada assistência como vários foram depois arbitrariamente executados, o que é confirmado pela proporção
mínima de feridos graves em relação a mortos.
Caso Luiza Melinho vs. Brasil: o Estado brasileiro violou os direitos humanos da vítima ao lhe haver negado
a realização de uma cirurgia de afirmação sexual através do sistema público de saúde e negado a pagar-lhe a
realização da cirurgia em um hospital particular, pois isto a havia impedido de ter uma vida digna e havia posto
em risco sua vida e integridade física. Além disso, os peticionários afirmam que o Estado violou os direitos da
suposta vítima ao lhe haver negado acesso a recursos efetivos para garantir seus direitos.

#OLHAOGANCHO:

i) O transgênero tem direito fundamental subjetivo à alteração de seu prenome e de sua classificação de gênero
no registro civil, não se exigindo, para tanto, nada além da manifestação da vontade do indivíduo, o qual poderá
exercer tal faculdade tanto pela via judicial como diretamente pela via administrativa. ii) Essa alteração deve ser
averbada à margem no assento de nascimento, sendo vedada a inclusão do termo ‘transexual’. iii) Nas certidões
do registro não constará nenhuma observação sobre a origem do ato, sendo vedada a expedição de certidão
de inteiro teor, salvo a requerimento do próprio interessado ou por determinação judicial. iv) Efetuando-se o
procedimento pela via judicial, caberá ao magistrado determinar, de ofício ou a requerimento do interessado,
a expedição de mandados específicos para a alteração dos demais registros nos órgãos públicos ou privados
pertinentes, os quais deverão preservar o sigilo sobre a origem dos atos.
(RE 670422, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 15/08/2018, PROCESSO ELETRÔNICO
DJe-051 DIVULG 09-03-2020 PUBLIC 10-03-2020)

Corte Interamericana de Direitos Humanos:

Ao contrário da Comissão Interamericana, a Corte é uma instituição judicial autônoma, que não integra a
estrutura da OEA, mas sim da Convenção Americana de Direitos Humanos, da qual é órgão de fiscalização.

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QUEBRANDO A BANCA

Ela é composta por sete juízes nacionais de Estados membros da OEA, eleitos a título pessoal pelos Estados
partes da Convenção, para mandatos de 6 anos, permitida uma reeleição, na Assembleia geral da OEA, apenas
pelos Estados partes da Convenção. A Convenção proíbe que haja dois juízes da mesma nacionalidade.

Os juízes da Corte serão eleitos, em votação secreta e pelo voto da maioria absoluta dos Estados-Partes na
Convenção, na Assembleia-Geral da Organização, de uma lista de candidatos propostos pelos mesmos Estados.
Cada um dos Estados-Partes pode propor até três candidatos, nacionais do Estado que os propuser ou de qualquer
outro Estado-Membro da Organização dos Estados Americanos. Quando se propuser uma lista de três candidatos,
pelo menos um deles deverá ser nacional de Estado diferente do proponente.

O juiz que for nacional de algum dos Estados-Partes no caso submetido à Corte conservará o seu direito de
conhecer o mesmo. Nesse caso, o outro Estado-Parte no caso poderá designar uma pessoa de sua escolha para
integrar a Corte na qualidade de juiz ad hoc.

Além disso, se, dentre os juízos chamados a conhecer do caso, nenhuma for da nacionalidade dos Estados
partes, cada um destes poderá designar um juiz ad hoc.

#OLHAOGANCHO:

Na OC 20/2009, a Corte restringiu tal possibilidade a demandas originadas de comunicações interestatais, não
sendo possível em demandas iniciadas a pedido das vítimas.

A Corte Interamericana apresenta competência consultiva, relativa à interpretação das disposições da Con-
venção Americana, assim como das disposições de tratados concernentes à proteção dos direitos humanos nos Es-
tados Americanos, e contenciosa, de caráter jurisdicional, referente à solução de controvérsias que se apresentem
acerca da interpretação ou aplicação da própria Convenção.

No plano consultivo, qualquer membro da OEA — parte ou não da Convenção — pode solicitar o parecer
da Corte relativamente à interpretação da Convenção ou de qualquer outro tratado relativo à proteção dos direitos
humanos aplicável aos Estados americanos. Vamos relembrar rapidamente o teor das opiniões consultivas:

A competência consultiva da Corte IDH pode ser exercida sobre qualquer tratado internacio-
OC nal de direitos humanos aplicáveis aos Estados americanos (ex. Convenção 169 da OIT sobre
01/82 povos indígenas e tribais), podendo se abster de fazê-lo, desde que motivadamente, se en-
tender se tratar de questão que excede os limites de sua função consultiva.

OC O Estado que denunciar a CADH fica submetido aos seus efeitos por um ano, até que se con-
02/82 solide sua retirada por completo (cláusula de pré-aviso – art. 78 da CADH).

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QUEBRANDO A BANCA

Para os Estados que não aboliram a pena de morte quando da entrada em vigor da CADH
nesses Estados, não é possível cominar essa pena a outros crimes. Ex.: Brasil não pode criar
OC pena de morte, salvo nas hipóteses do Código Penal Militar. Não é possível que Estados que
03/83 já tenham abolido a pena de morte voltem a estabelecê-la. A pena de morte só é possível
para os crimes definidos no momento da ratificação da CADH (para a maioria dos Estados,
em crimes de guerra).

A exigência de formação obrigatória dos jornalistas é inconvencional, por violação ao art. 13


OC
da CADH, causando uma restrição desproporcional à liberdade de expressão. Nesse sentido,
05/85
STF, RE 511.961.

OC A palavra “lei” no art. 30 da CADH significa qualquer norma jurídica de caráter geral emanada
06/86 pelo Poder Legislativo democraticamente eleito.

OC O direito de resposta e de ratificação deve ser reconhecido pelos Estados, independentemen-


07/86 te de legislação interna que regule o assunto. Nesse sentido, STF, ADPF 130.

Os procedimentos e remédios previstos no art. 25 da CADH não podem ser suspensos, nem
OC
em períodos de exceção, pois indispensáveis à proteção dos direitos humanos básicos. Assim,
08/87
não é possível, por exemplo, a incomunicabilidade do preso.

OC As garantias estabelecidas no art. 27 da CADH (habeas corpus e seus consectários) são indis-
09/87 pensáveis e insuscetíveis de suspensão.

A Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem (DADDH) deve ser considerada
OC tratado internacional para fins do art. 64 da CADH, podendo a Corte IDH emitir pareceres
10/89 consultivos sobre ela, desde que dentro dos limites de sua competência e conexos com a
CADH.

Se o requerente for impedido de utilizar os recursos internos necessários para proteger um


OC direito garantido pela CADH – por razões de miserabilidade ou por temor do advogado em
11/90 representá-lo legalmente –, o requisito do esgotamento dos recursos internos pode ser
excepcionado.

A CIDH pode qualificar uma norma como violadora ou não de obrigações da CADH, mas não
OC poderia determinar se tal norma é compatível ou não com o ordenamento interno do país.
13/93 No momento em que determinada petição é declarada inadmissível pela CIDH, não cabem
mais pronunciamentos sobre o mérito da petição.

Um Estado, ao editar uma lei que contrarie as obrigações internacionais por ele assumidas ao
aderir à CADH, viola a Convenção e gera a responsabilidade internacional do Estado. O cum-
OC primento de um diploma inconvencional por parte dos funcionários e agentes do Estado gera
14/94 a responsabilidade internacional do próprio Estado, inclusive se tal ato se constituir em crime
internacional, caso em que tais agentes ou funcionários podem responder internacionalmente
(perante o Tribunal Penal Internacional, por exemplo).

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QUEBRANDO A BANCA

A CIDH, no exercício das funções conferidas pelo art. 51 da CADH, não está autorizada a mo-
dificar os dados dos informes transmitidos a um Estado, salvo em circunstâncias excepcionais,
OC
não sendo possível, em hipótese alguma, a emissão de terceiro informe. É possível que Estado
15/97
solicitante de OC desista de obter tal opinião, o que não vincula, porém, a Corte IDH – ou seja,
mesmo que desista da OC, a Corte pode julgá-la.

O direito à informação sobre assistência consular (art. 36.1, “b”, da Convenção de Viena sobre
Relações Consulares), derivado do devido processo legal, está integrado à proteção interna-
OC
cional dos direitos humanos e deve ser garantido aos estrangeiros sem qualquer dilação. A
16/99
imposição de pena de morte sem observância desse direito atenta contra os direitos humanos
e acarreta a responsabilidade internacional do Estado.

As obrigações de proteção dos direitos das crianças devem ser consideradas como obriga-
OC ções erga omnes, devendo os Estados prezar pela preservação dos direitos materiais e pro-
17/97 cessuais da criança em todas e quaisquer circunstâncias, não se admitindo discricionariedade
do Estado na proteção dos menores de 18 anos.

A não discriminação e a igualdade são princípios básicos indispensáveis à proteção inter-


OC
nacional dos direitos humanos, normas de jus cogens e devem ser aplicados para todos os
18/03
indivíduos, independentemente de origem ou status migratório.

A CIDH é órgão autônomo do sistema interamericano de direitos humanos, possui indepen-


OC dência e autonomia no exercício de suas funções e está limitada aos preceitos da CADH e ao
19/05 controle de legalidade da própria Corte IDH quanto aos assuntos que estejam em tramitação
na jurisdição contenciosa da Corte.

A possibilidade de o Estado indicar um juiz ad hoc para compor os quadros da Corte IDH
quando não houver um juiz de sua nacionalidade se restringe aos casos contenciosos inte-
restatais, não sendo possível a sua aplicação em favor dos Estados nos casos originados de
OC
petições individuais, sob pena de comprometimento da imparcialidade do julgamento e da
20/09
paridade de armas no processo perante a Corte IDH. Além disso, o juiz nacional do Estado
demandado não deve participar da audiência de casos contenciosos decorrentes de petições
individuais.

Os Estados devem observar e respeitar os direitos dos menores de dezoito anos em situação
de migração, levando em consideração os princípios da condição peculiar em desenvolvimen-
to, a sua proteção e o princípio do superior interesse da criança, devendo também respeitar
OC os maiores de dezoito anos que estejam nessa situação de migração com crianças e adoles-
21/14 centes (ex. pais e filhos). A privação da liberdade de crianças migrantes só pode ser imposta
em casos excepcionais, devendo ser observado o princípio do non refoulement em situações
de migração envolvendo menores de 18 anos. Entendeu ainda que é possível a utilização de
opiniões consultivas como normas paramétricas para o controle de convencionalidade.

Pessoas jurídicas não podem acessar o Sistema Interamericano de Direitos Humanos, que foi
idealizado para a proteção de indivíduos e seus direitos. Exceções: comunidades indígenas,
OC 22/16
sindicatos e federações sindicais (estas duas últimas com base no art. 8 do Protocolo de San
Salvador).

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QUEBRANDO A BANCA

É dever dos Estados respeitar e garantir os direitos humanos de todas as pessoas sujeitas à sua
jurisdição, mas também, excepcionalmente, em casos que ultrapassam seus limites territoriais
(danos transfronteiriços). Gera-se o dever de supervisionar e fiscalizar atividades que possam
OC 23/17 gerar dano ambiental (princípios da prevenção e precaução), bem como de mitigar danos
ambientais já ocorridos. Deve-se notificar outros Estados potencialmente ameaçados de da-
nos ambientais causados dentro de um Estado, bem como garantir acesso à informação, à
participação e à justiça pela população quanto a políticas referentes ao meio ambiente.

A mudança de nome, a adequação da imagem, assim como a retificação à menção do sexo


ou gênero, nos registros e nos documentos de identidade, para que estes estejam de acordo
com a identidade de gênero autopercebida, é um direito protegido pelos arts. 18, 3º, 7.1 e
11.2, todos da CADH. Consequentemente, em conformidade com a obrigação de respeitar e
garantir os direitos sem discriminação (artigos 1.1 e 24 da CADH), e com o dever de adotar as
OC 24/17 disposições de direito interno (artigo 2º da Convenção), os Estados estão obrigados a reco-
nhecer, regular e estabelecer os procedimentos adequados para esse fim, seja administrativa,
seja judicialmente. Também devem ser protegidos todos os direitos patrimoniais que derivam
do vínculo familiar protegido entre pessoas do mesmo sexo, garantindo-se o acesso a todas
as figuras já existentes nos ordenamentos jurídicos internos, para assegurar a proteção de
todos os direitos das famílias conformadas por casais do mesmo sexo.

O direito de buscar e receber asilo no âmbito do sistema interamericano é configurado como


um direito humano de buscar e receber proteção internacional em território estrangeiro, mas
o asilo diplomático não é protegido pela CADH ou pela DADDH, devendo ser regulado pelas
relações interestatais. O princípio do non refoulement pode ser exercido por qualquer pessoa
OC 25/18
estrangeira, mesmo aquelas em busca de proteção internacional, em face dos Estados, impli-
cando não somente na proibição da devolução ao país de origem, mas em outras obrigações
do Estado receptor, como a proibição de prisão arbitrária e o respeito ao devido processo
legal.

Efeitos jurídicos em matéria de direitos humanos gerados pela saída de um Estado da Con-
venção Americana sobre Direitos Humanos (CADH) e da Carta da Organização dos Estados
Americanos (OEA). As obrigações contidas nos artigos 78 da CADH e 143 da Carta da OEA
continuam intactas até a denúncia efetiva ocorrer; a retirada não possui efeito retroativo,
OC 26/20 mantendo o poder de a Corte IDH se pronunciar sobre atos iniciados no período de vigência
do tratado ou antes da denúncia efetiva e continuados no tempo; permanece incólume o
dever de cumprir com obrigações estipuladas pelos respectivos órgão de monitoramento.
Em qualquer caso, normas consuetudinárias, derivadas de princípios gerais e as pertinentes
aos jus cogens continuam a vincular o Estado em virtude do direito internacional geral (§175).

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A liberdade sindical deve garantir aos trabalhadores e às trabalhadoras públicos e privados, o


que inclui que estes gozem do direito de criação e afiliação às organizações que considerarem
convenientes, a uma adequada proteção do emprego contra todo ato de coação direta ou
indireta que tenda a comprometer o exercício da liberdade sindical, e a desenvolver ativida-
des sindicais. o direito à negociação coletiva constitui um componente essencial da liberdade
sindical, na medida que compreende os meios necessários para que os trabalhadores e as
OC 27/21
trabalhadoras se encontrem em condições de defender e promover seus interesses, pelo que
os Estados devem abster-se de intervir nos processos de negociação. No que diz respeito
ao direito de greve, salientou que é um dos direitos fundamentais dos trabalhadores e das
trabalhadoras e de suas organizações, porque constitui um meio legítimo de defesa de seus
interesses econômicos, sociais e profissionais, pelo que os Estados devem proteger o exercício
deste direito através da lei.

A reeleição presidencial indefinida não constitui um direito autônomo protegido pela Con-
venção Americana sobre Direitos Humanos ou pelo corpus iuris do Direito Internacional dos
Direitos Humanos; A proibição da reeleição por tempo indeterminado é compatível com a
Convenção Americana sobre Direitos Humanos, a Declaração Americana dos Direitos e Deve-
OC 28/21
res do Homem e a Carta Democrática Interamericana; A permissão da reeleição presidencial
por tempo indeterminado é contrária aos princípios de uma democracia representativa e,
portanto, às obrigações estabelecidas na Convenção Americana sobre Direitos Humanos e na
Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem.

Toda Estado-Parte, pode, no momento do depósito do seu instrumento de ratificação desta Convenção ou
de adesão a ela, ou em qualquer momento posterior, declarar que reconhece como obrigatória, de pleno direito
e sem convenção especial, a competência da Corte em todos os casos relativos à interpretação ou aplicação desta
Convenção.

Sendo assim, no plano contencioso, a competência da Corte para o julgamento de casos é, por sua vez, li-
mitada aos Estados partes da Convenção que reconheçam tal jurisdição expressamente. O Estado deve reconhecer
a jurisdição contenciosa por declaração específica para todo e qualquer caso (art. 62 da Convenção) ou mesmo
para somente um caso específico.

Apesar de ter ratificado e incorporado internamente a Convenção Americana de Direitos Humanos em 1992,
foi somente em 1998 que o Brasil reconheceu a jurisdição contenciosa obrigatória da Corte Interamericana de Di-
reitos Humanos.

Na Corte, somente Estados que tenham reconhecido a sua jurisdição e a Comissão podem denunciar outros
Estados. Assim, os indivíduos dependem da Comissão ou de outro Estado (actio popularis) para que seus reclamos
cheguem à Corte IDH. No polo passivo, também, somente poderá figurar um Estado parte da CADH. A Corte IDH
não julga indivíduos.

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QUEBRANDO A BANCA

#OLHAOGANCHO:

Sistema Jus Standi: permite que a vítima ou seus parentes tenham acesso direto ao Tribunal Internacional, um
direito de postulação autônomo perante a Corte Internacional de Direitos Humanos. Não é admitido pela Corte
IDH. É admitido pela Corte Europeia de Direitos Humanos.
Sistema Locus Standi: direito de ser ouvido autonomamente no processo perante o Tribunal internacional,
desde que o caso já tenha sido aceito pela jurisdição da Corte.

Isso não significa, no entanto, que as vítimas não participem do processo perante a Corte. Depois de notifi-
cado o escrito de submissão do caso, conforme o artigo 39 do Regulamento da Corte, as supostas vítimas ou seus
representantes poderão apresentar de forma autônoma o seu Escrito de Petições, Argumentos e Provas (EPAP) e
continuarão atuando dessa forma durante todo o processo.

Além disso, em qualquer fase do processo, sempre que se tratar de casos de extrema gravidade e urgência
e quando for necessário para evitar danos irreparáveis às pessoas, a Corte, ex officio, poderá ordenar as medidas
provisórias que considerar pertinentes. Nos casos contenciosos que se encontrem em conhecimento da Corte, as
vítimas ou as supostas vítimas, ou seus representantes, poderão apresentar diretamente àquela uma petição de
medidas provisórias, as quais deverão ter relação com o objeto do caso.

#OLHAOGANCHO:

Em relação ao Brasil, a Corte adotou, entre 2002 e 2017, 37 medidas provisórias a pedido da Comissão IDH em
8 situações emergenciais, a saber: 1) Caso da Penitenciária de Urso Branco (Porto Velho/RO – já arquivado
pela Comissão); 2) Caso das crianças e adolescentes privados de liberdade no “Complexo do Tatuapé” da
FEBEM (São Paulo – Capital); 3) Caso das pessoas privadas de liberdade na Penitenciária “Dr. Sebastião Martins
Silveira” (Araraquara/São Paulo); 4) Caso do Centro Penitenciário de Curado Prof. Aníbal Bruno (Recife/PE);
5) Caso do Complexo de Pedrinhas (São Luís/MA); 6) Caso Gomes Lund e outros (Guerrilha do Araguaia)
e 7) Caso da Unidade de Internação Socioeducativa (Cariacica/ES) e 8) Caso do Instituto Penal Plácido de
Sá Carvalho (Gericinó/RJ).

#NÃOCONFUNDA

MEDIDAS CAUTELARES MEDIDAS PROVISÓRIAS


Emitidas pela CIDH. Emitidas pela Corte IDH.
Pressupõem risco de dano irreparável em situa- Pressupõem risco de dano irreparável em caso de extrema
ção de gravidade e urgência. gravidade e urgência.

Têm força vinculante, já que possuem previsão convencio-


Não têm força vinculante.
nal (art. 63 da CADH).

Podem ser aplicadas a todos os Estados mem- Somente podem ser aplicadas aos Estados que aderiram à
bros da OEA. CADH e reconheceram a competência da Corte.

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QUEBRANDO A BANCA

Em casos de supostas vítimas sem representação legal devidamente credenciada, o Tribunal poderá designar
um Defensor Interamericano de ofício que as represente durante a tramitação do caso.

DEFENSOR PÚBLICO INTERAMERICANO


1) Indicação de 2 defensores públicos por cada país membro da AIDEF, com comprovada
formação em Direitos Humanos e comprometidos a cumprir as obrigações do Regulamento
Unificado. No Brasil, o processo interno é realizado pela ANADEP e pelo CONDEGE.
2) Formalização da candidatura dos defensores públicos firmada por escrito pela autoridade
PROCEDI- máxima institucional ou associativa da respectiva Defensoria Pública nacional.
MENTO DE
ESCOLHA 3) Avaliação pelo Comitê Executivo da AIDEF dos antecedentes de cada candidato em até
30 dias, criando uma lista com até 21 integrantes. Haverá uma lista de substitutos em caso
de vacância.
4) Eleição dos DPIs pelo Conselho Executivo do DPI, para um mandato de 3 anos, possível
recondução para o período consecutivo.

a) Nos casos em trâmite na CIDH, até que seja emitido o informe final previsto no art. 51 da
CADH, no caso de não ser remetido à Corte IDH;
HIPÓTESES b) Se o caso for submetido à Corte IDH, ou se a assistência do DPI se iniciar somente no
EM QUE O procedimento perante a Corte, até que seja emitida a sentença final;
MANDATO
DO DPI PODE c) Durante o tempo que se estenda a execução da sentença de mérito, reparações e custas
SE ESTENDER da Corte IDH.
(art. 17) OBS: na execução da sentença no âmbito interno, o DPI já não terá legitimidade. Entende
Caio Paiva que a execução do item “c” acima se refere à execução internacional, perante a
própria Corte IDH.

CRITÉRIOS
Para cada caso em particular, são designados 3 DPIs, sendo 2 titulares e 1 substituto. Um
OBJETIVOS
dos DPIs não deve ser nacional do Estado denunciado; os restantes devem sim, salvo se não
PARA DESIG-
estiverem autorizados para demandar contra o próprio Estado ou não houver na lista de DPIs
NAÇÃO DO
um nacional desse Estado.
DPI

a) a índole de direitos violados;


CRITÉRIOS
SUBJETIVOS b) as circunstâncias do caso;
PARA DESIG- c) a formação curricular e acadêmica do DPI;
NAÇÃO DO
DPI d) sua experiência em intervenções ou litígios que guardem relação com a índole dos direitos
violados e das circunstâncias do caso.

PROCEDI- a) Aceitação da representação da(s) vítima(s) presumidas pela AIDEF;


MENTO PARA b) Secretaria Executiva envia, em 24h, nomes dos 3 DPIs à Coordenação Geral;
DESIGNAÇÃO
DOS DPIs QUE c) Coordenação Geral comunica, em um dia, ao Comitê Executivo a indicação dos nomes dos
ATUARÃO EM DPIs, devendo o Comitê responder em até 2 dias por decisão da maioria simples. A indicação
UM CASO ES- estará aceita tacitamente se não houver tal resposta.
PECÍFICO d) Finalmente, será comunicada à CIDH ou Corte IDH a indicação dos DPIs designados.

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São previstos nos Acordos de Entendimento entre AIDEF e tais órgãos:


a) Corte IDH: a vítima deve carecer de recursos econômicos OU de representação legal (pri-
meira cláusula), de modo que pode haver a atuação de defensor público interamericano para
vítima que possua recursos econômicos, mas esteja sem representação legal.
b) CIDH: a vítima deve carecer de recursos econômicos E de representação legal (primeira
cláusula).
REQUISITOS
Requisitos do Regulamento Unificado:
PARA ATUA-
ÇÃO DO DPI 1) Que o caso tenha certa complexidade para a presumida vítima, seja em seus aspectos
NA CIDH E fáticos ou jurídicos, ou que se refira a matérias novas para a proteção dos direitos humanos
NA CORTE na região;
IDH 2) Que o caso envolva possíveis violações a direitos humanos de especial interesse para a
AIDEF, tais como os direitos à vida, à integridade pessoal, à liberdade pessoal, às garantias e
proteção judiciais, entre outras;
3) Que o caso envolva uma ou mais presumidas vítimas que pertençam a um grupo em situ-
ação de vulnerabilidade, tais como pessoas privadas de liberdade, vítimas de violência insti-
tucional, vítimas de violência de gênero, crianças e adolescentes, povos originários, pessoas
com deficiência, migrantes e/ou refugiados, entre outros.

1) DPI Natural: é possível que um DPI atue por mais de 6 anos num só caso. Isso pode
acontecer se, mesmo transcorrido esse tempo, o processo ainda estiver em trâmite perante
a CorteIDH. Nesse sentido, o art. 24 do Regulamento Unificado.
2) Recusa pela AIDEF de designação de DPI: os arts. 1.2, 14.1 e 22.1 do Regulamento Uni-
ficado permitem que a AIDEF não aceite designar DPIs para atuar perante um caso no SIDH,
o que prestigia a autonomia funcional da Defensoria Pública.
3) Recusa pela vítima de designação de DPI: no Acordo de Entendimento AIDEF-CIDH e
OBSERVA-
no primeiro caso julgado pela CorteIDH com atuação de DPIs (Sebastian Furlan vs. Argenti-
ÇÕES
na), deixou-se claro que a vítima deve dar seu expresso consentimento para que seja defen-
dida por DPI, podendo inclusive optar por sua autodefesa.
4) Atuação do DPI quando vítima já é assistida pela DP nacional: não é possível, pois o
DPI só atua quando não há representação legal da vítima.
5) DPI x DP Nacional: a atuação do DPI é subsidiária em relação à DP nacional. Nesse sen-
tido, o Acordo de Entendimento AIDEF-Corte IDH estabelece que a existência desse acordo
não impede que cada DP nacional leve casos ao SIDH.

O Secretário notificará a apresentação do caso ao Estado demandado, que exporá por escrito sua posição
sobre o caso submetido à Corte e, quando corresponda, ao escrito de petições, argumentos e provas, dentro do
prazo improrrogável de dois meses contado a partir do recebimento desse último escrito e de seus anexos.

O processo perante a Corte IDH pode ser abreviado em três situações:

- solução amistosa;

- desistência por parte das vítimas;

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- reconhecimento total ou parcial do pedido.

As supostas vítimas ou seus representantes, o Estado demandado e, se for o caso, o Estado demandante
terão a oportunidade de apresentar alegações finais escritas no prazo que determine a Presidência.

A sentença conterá: a. o nome de quem presidir a Corte e dos demais Juízes que a proferiram, do Secretário
e do Secretário Adjunto; b. a identificação dos intervenientes no processo e seus representantes; c. uma relação dos
atos do procedimento; d. a determinação dos fatos; e. as conclusões da Comissão, das vítimas ou seus representan-
tes, do Estado demandado e, se for o caso, do Estado demandante; f. os fundamentos de direito; g. a decisão sobre
o caso; h. o pronunciamento sobre as reparações e as custas, se procede; i. o resultado da votação; j. a indicação
sobre qual é a versão autêntica da sentença.

A sentença da Corte IDH é definitiva e inapelável. Em caso de divergência sobre o sentido ou alcance da
sentença, cabe à parte (vítima ou Estado) ou ainda à Comissão interpor recurso ou pedido de interpretação, seme-
lhante aos nossos embargos de declaração.

JURISPRUDÊNCIA DA CORTE INTERAMERICANA

Vamos começar estudando os principais casos da Corte IDH envolvendo Estados estrangeiros, selecionados
a partir dos assuntos que consideramos mais relevantes:

1. Liberdade de expressão

Olmedo Bustos e outros vs. Chile (Caso “A última tentação de Cristo”):

Na década de 80, o Conselho de Qualificação Cinematográfica do Estado do Chile proibiu, com fundamento
em artigos da sua Constituição, a exibição do filme “A Última Tentação de Cristo”. Segundo os peticionários, que
pediram a censura do filme ao Conselho, ele atentava contra os princípios cristãos e contra a honra de Jesus Cristo.

O caso chegou à CIDH, que, sem obter uma solução consensual, submeteu a demanda à Corte Interame-
ricana. Após o processamento do caso, a Corte IDH responsabilizou o Estado do Chile por ter violado o direito à
liberdade de pensamento e expressão, previsto no art. 12 da CADH. Segundo a Corte IDH, o direito à liberdade de
expressão compreende não apenas a liberdade de se expressar (dimensão individual), mas também a liberdade de
buscar e disseminar informações (dimensão social).

Palamara Iribarne vs. Chile:

Palamara, ex-militar chileno, escreveu um livro sobre inteligência militar, sendo proibido de publicá-lo pelas
autoridades do país. Ao tentar resistir à arbitrariedade que estava sofrendo, ele foi denunciado e condenado pelo
crime de desacato.

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Esse caso se notabilizou por representar um precedente importante da Corte IDH contra as denominadas
leis de desacato, que servem, em muitos países, como instrumento para inibir o direito à liberdade de expressão.

#OLHAOGANCHO:

Chilling effect: consiste em uma autocensura promovida pelo emissor da mensagem que, com receio da re-
provação popular, de políticas sancionatórias, responsabilização, deixa de veicular suas opiniões, causando um
efeito resfriador do debate.

#OLHAOGANCHO2:

DIREITO CONSTITUCIONAL E PENAL. ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL. CRIME


DE DESACATO. ART. 331 DO CP. CONFORMIDADE COM A CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS HU-
MANOS. RECEPÇÃO PELA CONSTITUIÇÃO DE 1988. 1. Trata-se de arguição de descumprimento de preceito
fundamental em que se questiona a conformidade com a Convenção Americana de Direitos Humanos, bem
como a recepção pela Constituição de 1988, do art. 331 do Código Penal, que tipifica o crime de desacato. 2.
De acordo com a jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos e do Supremo Tribunal
Federal, a liberdade de expressão não é um direito absoluto e, em casos de grave abuso, faz-se legítima
a utilização do direito penal para a proteção de outros interesses e direitos relevantes. 3. A diversidade
de regime jurídico – inclusive penal – existente entre agentes públicos e particulares é uma via de mão dupla:
as consequências previstas para as condutas típicas são diversas não somente quando os agentes públicos são
autores dos delitos, mas, de igual modo, quando deles são vítimas. 4. A criminalização do desacato não con-
figura tratamento privilegiado ao agente estatal, mas proteção da função pública por ele exercida. 5.
Dado que os agentes públicos em geral estão mais expostos ao escrutínio e à crítica dos cidadãos, deles se exige
maior tolerância à reprovação e à insatisfação, limitando-se o crime de desacato a casos graves e evidentes de
menosprezo à função pública. 6. Arguição de descumprimento de preceito fundamental julgada improcedente.
Fixação da seguinte tese: “Foi recepcionada pela Constituição de 1988 a norma do art. 331 do Código
Penal, que tipifica o crime de desacato”.
(ADPF 496, Relator(a): ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 22/06/2020, PROCESSO ELETRÔNICO
DJe-235 DIVULG 23-09-2020 PUBLIC 24-09-2020).
HABEAS CORPUS. RECEBIMENTO DA DENÚNCIA. VIOLAÇÃO DO ART. 306 DO CÓDIGO DE TRÂNSITO E DOS
ARTS. 330 E 331 DO CÓDIGO PENAL. PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. MANUTENÇÃO DA TI-
PIFICAÇÃO DO CRIME DE DESACATO NO ORDENAMENTO JURÍDICO. DIREITOS HUMANOS. PACTO DE SÃO
JOSÉ DA COSTA RICA (PSJCR). DIREITO À LIBERDADE DE EXPRESSÃO QUE NÃO SE REVELA ABSOLUTO. CON-
TROLE DE CONVENCIONALIDADE. INEXISTÊNCIA DE DECISÃO PROFERIDA PELA CORTE (IDH). ATOS
EXPEDIDOS PELA COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS (CIDH). AUSÊNCIA DE FORÇA
VINCULANTE. TESTE TRIPARTITE. VETORES DE HERMENÊUTICA DOS DIREITOS TUTELADOS NA CONVENÇÃO
AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. POSSIBILIDADE DE RESTRIÇÃO. PREENCHIMENTO DAS CONDIÇÕES
ANTEVISTAS NO ART. 13.2. DO PSJCR. SOBERANIA DO ESTADO. TEORIA DA MARGEM DE APRECIAÇÃO NA-

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CIONAL (MARGIN OF APPRECIATION). INCOLUMIDADE DO CRIME DE DESACATO PELO ORDENAMENTO JU-


RÍDICO PÁTRIO, NOS TERMOS EM QUE ENTALHADO NO ART. 331 DO CÓDIGO PENAL. INAPLICABILIDADE, IN
CASU, DO PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO TÃO LOGO QUANDO DO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA. WRIT NÃO
CONHECIDO.
1. O Brasil é signatário da Convenção Americana de Direitos Humanos (CADH), denominada Pacto de São José
da Costa Rica, sendo promulgada por intermédio do Decreto n. 678/1992, passando, desde então, a figurar com
observância obrigatória e integral do Estado. 2. Quanto à natureza jurídica das regras decorrentes de tratados de
direitos humanos, firmou-se o entendimento de que, ao serem incorporadas antes da Emenda Constitucional n.
45/2004, portanto, sem a observância do rito estabelecido pelo art. 5º, § 3º, da CRFB, exprimem status de nor-
ma supralegal, o que, a rigor, produz efeito paralisante sobre as demais normas que compõem o ordenamento
jurídico, à exceção da Magna Carta. Precedentes. 3. De acordo com o art. 41 do Pacto de São José da Costa
Rica, as funções da Comissão Interamericana de Direitos Humanos não ostentam caráter decisório, mas
tão somente instrutório ou cooperativo. Desta feita, depreende-se que a CIDH não possui função jurisdicional.
4. A Corte Internacional de Direitos Humanos (IDH), por sua vez, é uma instituição judiciária autônoma cujo ob-
jetivo é a aplicação e a interpretação da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, possuindo atribuição
jurisdicional e consultiva, de acordo com o art. 2º do seu respectivo Estatuto. 5. As deliberações internacionais
de direitos humanos decorrentes dos processos de responsabilidade internacional do Estado podem resultar em:
recomendação; decisões quase judiciais e decisão judicial. A primeira revela-se ausente de qualquer caráter vin-
culante, ostentando mero caráter “moral”, podendo resultar dos mais diversos órgãos internacionais. Os demais
institutos, porém, situam-se no âmbito do controle, propriamente dito, da observância dos direitos humanos. 6.
Com efeito, as recomendações expedidas pela CIDH não possuem força vinculante, mas tão somente
“poder de embaraço” ou “mobilização da vergonha”. 7. Embora a Comissão Interamericana de Direitos
Humanos já tenha se pronunciado sobre o tema “leis de desacato”, não há precedente da Corte rela-
cionada ao crime de desacato atrelado ao Brasil. 8. Ademais, a Corte Interamericana de Direitos Humanos
se posicionou acerca da liberdade de expressão, rechaçando tratar-se de direito absoluto, como demonstrado
no Marco Jurídico Interamericano sobre o Direito à Liberdade de Expressão. 9. Teste tripartite. Exige-se o preen-
chimento cumulativo de específicas condições emanadas do art. 13.2. da CADH, para que se admita eventual
restrição do direito à liberdade de expressão. Em se tratando de limitação oriunda da norma penal, soma-se a
este rol a estrita observância do princípio da legalidade. 10. Os vetores de hermenêutica dos Direitos tutelados na
CADH encontram assento no art. 29 do Pacto de São José da Costa Rica, ao passo que o alcance das restrições
se situa no dispositivo subsequente. Sob o prisma de ambos os instrumentos de interpretação, não se vislumbra
qualquer transgressão do Direito à Liberdade de Expressão pelo teor do art. 331 do Código Penal. 11. Norma que
incorpora o preenchimento de todos os requisitos exigidos para que se admita a restrição ao direito de liberda-
de de expressão, tendo em vista que, além ser objeto de previsão legal com acepção precisa e clara, revela-se
essencial, proporcional e idônea a resguardar a moral pública e, por conseguinte, a própria ordem pública. 12.
A CIDH e a Corte Interamericana têm perfilhado o entendimento de que o exercício dos direitos humanos deve
ser feito em respeito aos demais direitos, de modo que, no processo de harmonização, o Estado desempenha
um papel crucial mediante o estabelecimento das responsabilidades ulteriores necessárias para alcançar tal
equilíbrio exercendo o juízo de entre a liberdade de expressão manifestada e o direito eventualmente em con-

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flito. 13. Controle de convencionalidade, que, na espécie, revela-se difuso, tendo por finalidade, de acordo com
a doutrina, “compatibilizar verticalmente as normas domésticas (as espécies de leis, lato sensu, vigentes no país)
com os tratados internacionais de direitos humanos ratificados pelo Estado e em vigor no território nacional.” 14.
Para que a produção normativa doméstica possa ter validade e, por conseguinte, eficácia, exige-se uma dupla
compatibilidade vertical material. 15. Ainda que existisse decisão da Corte (IDH) sobre a preservação dos direitos
humanos, essa circunstância, por si só, não seria suficiente a elidir a deliberação do Brasil acerca da aplicação de
eventual julgado no seu âmbito doméstico, tudo isso por força da soberania que é inerente ao Estado. Aplicação
da Teoria da Margem de Apreciação Nacional (margin of appreciation). 16. O desacato é especial forma
de injúria, caracterizado como uma ofensa à honra e ao prestígio dos órgãos que integram a Administração Pú-
blica. Apontamentos da doutrina alienígena. 17. O processo de circunspeção evolutiva da norma penal teve por
fim seu efetivo e concreto ajuste à proteção da condição de funcionário público e, por via reflexa, em seu maior
espectro, a honra lato sensu da Administração Pública. 18. Preenchimento das condições antevistas no art. 13.2.
do Pacto de São José da Costa Rica, de modo a acolher, de forma patente e em sua plenitude, a incolumidade
do crime de desacato pelo ordenamento jurídico pátrio, nos termos em que entalhado no art. 331 do Código
Penal. 19. Voltando-se às nuances que deram ensejo à impetração, deve ser mantido o acórdão vergastado em
sua integralidade, visto que inaplicável o princípio da consunção tão logo quando do recebimento da denúncia,
considerando que os delitos apontados foram, primo ictu oculi, violadores de tipos penais distintos e originários
de condutas autônomas. 20. Habeas Corpus não conhecido.
(HC 379269 / MS. Relator(a) Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA. Relator(a) p/ Acórdão
Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO. Órgão Julgador: S3 - TERCEIRA SEÇÃO. Data do Julgamento:
24/05/2017. Data da Publicação/Fonte: DJe 30/06/2017).

2. Acesso à justiça e garantias judiciais #APOSTACICLOS

Goiburú e outros vs. Paraguai: o caso versa sobre uma série de desaparecimentos forçados perpetrados
pelos agentes do Estado do Paraguai durante a conhecida “Operação Condor”. Ele é importante já que a Corte
reconheceu o acesso à justiça como norma de jus cogens.

Castillo Petruzzi e outros vs. Equador:

Jaime Francisco Castillo Petruzzi e outras pessoas foram detidos nos anos 90 por agentes da Direção Nacio-
nal contra o Terrorismo (DINCOTE), investigados e condenados pelo crime de traição à pátria, com a cominação de
pena de prisão perpétua.

A CIDH, ao submeter o caso à Corte, afirmou que as vítimas não foram processadas e julgadas por um tri-
bunal competente, independente e imparcial, mas sim por um tribunal “sem rosto”, pertencente à Justiça Militar.

Esse caso representa o primeiro precedente em que se afirmou o entendimento atualmente predominante
no sistema interamericano de proteção de direitos humanos a respeito da impossibilidade de a Justiça Militar julgar
civis.

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#LINKMENTAL Ampliação da competência da Justiça Militar com a Lei n. 13.491/17.

Velásquez Rodrigues vs. Honduras: o caso trata do desaparecimento forçado do estudante Velásquez
Rodríguez, detido de forma violenta e sem ordem judicial por integrantes da Direção Nacional de Investigação
das Forças Armadas de Honduras, os quais lhe submeteram a interrogatório mediante tortura sob a acusação de
supostos crimes políticos. No julgamento, a Corte IDH considerou que a efetivação da audiência de custódia é um
importante mecanismo para a prevenção dos desaparecimentos forçados.

Cabrera García e Montiel Flores vs. México: o caso envolveu a prisão em condições degradantes, a viola-
ção do devido processo posteriormente à prisão, e a falha na investigação e punição dos agentes responsáveis por
toda esta situação e também pela tortura ocorrida. Ele se destaca porque a Corte IDH reconheceu que o direito de
defesa deve ser exercido desde o momento em que uma pessoa é apontada como possível autora de um delito.

Caso Ruano Torres vs. El Salvador:

O caso trata da prisão de Ruano Torres, jovem que, supostamente, teria se envolvido no sequestro de um
senhor de nome Marroquín. A Polícia chegou até ele através de informações prestadas por um colaborador, que
afirmou que Ruano era conhecido por El Chopo e era o responsável pelo delito. Um dos principais pontos desse
caso diz respeito à importância e à extensão do direito de defesa, considerado pela Corte IDH um componente
central do devido processo legal e uma garantia mínima a todo acusado.

Para a Corte, a CADH não condiciona o direito à assistência jurídica gratuita no processo penal à hipossuficiência
financeira, bastando a inatividade do acusado para nomear advogado. Afirmou-se, também nesse julgamento,
que a defesa técnica prestada pela Defensoria Pública não deve ser concebida apenas como uma formalidade
processual, exigindo-se, ao contrário, que o defensor público atue de forma diligente em favor do acusado. Para
tanto, é preciso que o defensor seja dotado de garantias suficientes para uma atuação eficiente e em posição de
igualdade de armas com a acusação.

Loayza Tamayo vs. Peru:

Trata-se do caso de Maria Elena Loayza Tamayo, peruana, professora, presa na década de 90 no Peru, depois
de ter sido delatada como suposta integrante do Grupo Sendero Luminoso, considerado subversivo pelo regime
peruano. Não havia ordem judicial de prisão expedida contra a vítima e Loayza permaneceu presa e incomunicável
por dez dias, tendo sido submetida a torturas e a tratamentos cruéis.

A família, ao saber da prisão, foi impedida de impetrar um habeas corpus em seu favor, pois o Decreto-Lei
25.659 proibia essa ação de garantia nos casos relacionados com o crime de terrorismo, como o que Loayza era
acusada.

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A Corte IDH concluiu que o Estado peruano violou, entre outros direitos e garantias, a) o direito à liberdade
pessoal e à proteção judicial quando prendeu e manteve a prisão de Loayza, inclusive após a absolvição pela Justiça
Militar, impedindo-a de utilizar qualquer ação de garantia (habeas corpus, por exemplo); b) o direito à integridade
pessoal; c) a garantia do non bis in idem, ressaltando que a CADH possui um tratamento mais benéfico para o acu-
sado do que o oferecido por outros tratados internacionais, já que utiliza a expressão “os mesmos fatos”, diferente,
por exemplo, do PIDCP, que utiliza o termo “o mesmo delito”.

#OLHAOGANCHO:

Opinião Consultiva 08/1987: o habeas corpus não pode ser suspenso porque constitui uma garantia judicial in-
dispensável para a proteção dos direitos e liberdades protegidos pela CADH.

Tibi vs. Equador:

O caso envolve a prisão ilegal de Daniel Tibi feita pela polícia equatoriana, sem ordem judicial e com base
apenas na declaração de um suposto coautor no crime de tráfico de drogas. Tibi foi transferido para uma prisão,
onde ficou recolhido por vinte e oito meses, foi torturado e obrigado a confessar sua participação num caso de
narcotráfico, tendo, ainda, seus bens sido apreendidos e não devolvidos quando de sua liberação, em janeiro de
1998.

Após o processamento do caso, a Corte IDH considerou a prisão de Tibi ilegal, pois realizada sem ordem ju-
dicial ou situação de flagrância. Nesse caso, houve expressa menção à expressão guantanamização do processo
penal para designar um movimento de autoritarismo e de arbitrariedade que propõe a derrogação ou a suspensão
de direitos e garantias no marco da luta contra crimes graves. Também foi considerado violado o direito à audiência
de custódia, previsto no art. 7.5 da CADH.

3. Discriminação de gênero

Presídio Miguel Castro Castro vs. Peru:

Na década de 90, o Estado peruano executou uma operação chamada “Remoção 1”, a pretexto de realizar
o traslado de aproximadamente 90 mulheres presas no estabelecimento penal Miguel Castro Castro para centros
penitenciários femininos.

A operação foi extremamente violenta e desastrosa, gerando a morte de dezenas de presos. Três das mulhe-
res detidas no estabelecimento penal “Miguel Castro Castro” estavam grávidas.

Esse é o primeiro caso de aplicação da Convenção de Belém do Pará pela Corte IDH e também o primeiro
caso sobre violência de gênero contra a mulher.

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González e outras vs. México (Caso Campo Algodonero):

Em Ciudad Juárez, no México, registrou-se, na década de 90, uma série de feminicídios, que acabaram não
sendo propriamente investigados. Consta da denúncia apresentada pela CIDH, que funcionários do Estado teriam
agido com indiferença em relação às mortes, inclusive fazendo comentários discriminatórios sobre o compor-
tamento sexual das vítimas, deduzindo que poderiam não estar desaparecidas, mas sim em companhia de seus
namorados ou outros parceiros.

Anos depois, foram encontrados, numa plantação de algodão, os corpos das vítimas, que apresentavam
sinais de violência sexual.

O Caso “Campo Algodoeiro” representa o primeiro precedente da Corte IDH em que este tribunal analisou
um caso envolvendo situação de violência estrutural de gênero, sendo reconhecida, ainda, a necessidade de se
designar a morte decorrente de discriminação de gênero como feminicídio.

Atala Riffo e crianças vs. Chile:

O caso trata sobre a perda da guarda das filhas Karen Atala Riffo em virtude de sua orientação sexual. O ex-
-marido, ao saber que Atala Riffo passaria a residir com a sua companheira, pediu em juízo a custódia das crianças,
sob o pretexto de que a convivência com o casal poderia expor suas filhas a discriminação e lhes causar confusão
psicológica.

A Corte IDH ressaltou que a orientação sexual e a identidade de gênero das pessoas são categorias protegi-
das pela Convenção Americana e não poderiam ser utilizadas como argumento discriminatório para a tomada de
decisão em processos de guarda.

#OLHAOGANCHO:

OC 24/16: o governo da Costa Rica pleiteou que esta interpretasse as garantias estabelecidas pela Convenção
Americana sobre Direitos Humanos (CADH), com relação ao reconhecimento da mudança de nome de acordo
com a identidade de gênero e também sobre o reconhecimento dos direitos econômicos derivados de união de
pessoas do mesmo sexo. A Corte decidiu de forma unânime que:
A mudança de nome e, em geral, a adequação dos registros públicos e dos documentos de identidade para que
estes sejam conforme a identidade de gênero autopercebida constitui um direito protegido pelos artigos 3°, 7.1,
11.2 e 18 da Convenção Americana, em relação com o 1.1 e 24 do mesmo instrumento, pelo que os Estados estão
obrigados a reconhecer, regular e estabelecer os procedimentos adequados para tais fins, nos termos estabele-
cidos nos pars. 85 a 116.
Os Estados devem garantir que as pessoas interessadas na retificação da anotação do gênero ou, se este for o
caso, às menções do sexo, em mudar seu nome, adequar sua imagem nos registros e/ou nos documentos de
identidade, em conformidade com a sua identidade de gênero autopercebida, possam recorrer a um procedi-

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mento ou um trâmite: a) enfocado na adequação integral da identidade de gênero autopercebida; b) baseado


unicamente no consentimento livre e informado do requerente, sem exigir requisitos como certificações médicas
e/ou psicológicas ou outras que possam ser irrazoáveis ou patológicas; c) deve ser confidencial. Além disso, mu-
danças, correções ou adequações nos registros e nos documentos de identidade não devem refletir mudanças
de acordo com a identidade de gênero; d) deve ser expedito e, na medida do possível, deve ser gratuito, e; e)
não deve exigir a acreditação de operações cirúrgicas e/ou hormonais. O procedimento que melhor se adapta
a estes elementos é o procedimento ou trâmite materialmente administrativo ou cartorial. Os Estados podem
fornecer, ao mesmo tempo, um canal administrativo que permita a eleição da pessoa, nos termos estabelecidos
nos pars. 117 a 161.
A Convenção Americana, em virtude do direito à proteção da vida privada e familiar (artigo 11.2), assim como o
direito à proteção da família (artigo 17), protege o vínculo familiar que possa derivar de uma relação de um casal
do mesmo sexo, nos termos estabelecidos nos pars. 173 a 199.
O Estado deve reconhecer e garantir todos os direitos que se derivam de um vínculo familiar entre pessoas do
mesmo sexo, em conformidade com as disposições dos artigos 11.2 e 17.1 da Convenção Americana e nos termos
estabelecidos nos pars. 200 a 218.

4. Controle de convencionalidade

Almonacid Arellano e outros vs. Chile:

O caso versa sobre a execução extrajudicial do Sr. Luis Alfredo Almonacid Arellano, militante da esquerda
chilena e integrante do Partido Comunista, por agentes do Estado do Chile no período ditatorial. Esse caso é im-
portantíssimo porque inaugura a doutrina do controle de convencionalidade no âmbito do sistema interamericano.

Lembrando: o controle de convencionalidade consiste no processo de verificação da compatibilidade de


uma norma interna em face de uma norma internacional de proteção dos direitos humanos. Esse exame é feito
não apenas em relação aos tratados, mas também à jurisprudência internacional e a outras fontes do Direito Inter-
nacional dos Direitos Humanos, como o costume internacional e as normas soft law. O fundamento normativo do
controle de convencionalidade se encontra principalmente nos artigos 1.1, 2º e 29 da CADH.

Gelman vs. Uruguai:

Maria Cláudia Garcia, grávida, e seu marido Marcelo Ariel Gelman foram presos juntamente com outros
amigos e familiares durante a Operação Condor, na cidade de Buenos Aires, Argentina. A Sra. Maria Cláudia Garcia
estava grávida de sete meses no momento da sua prisão. Durante a prisão, a filha do casal nasceu e foi subtraída
e entregue a um policial uruguaio e a sua esposa, que registraram a criança como própria filha.

Processado o caso, a Corte Interamericana declarou a responsabilidade do Uruguai pelo desaparecimento


forçado da sra. Maria Cláudia e pela lesão à personalidade jurídica da sua filha.

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A importância desse caso reside no fato de que a Corte IDH avançou em sua jurisprudência sobre o controle
de convencionalidade, afirmando que é dever de toda e qualquer autoridade pública a realização do controle de
convencionalidade.

Trabalhadores Demitidos do Congresso vs. Peru: nesse precedente, a Corte decidiu que o controle de
convencionalidade deveria ser realizado de ofício pelos juízes independente de comunicação ou pedido da parte
para que o faça.

Vamos, agora, aos principais casos envolvendo o Brasil na Corte IDH:

1. Ximenes Lopes vs. Brasil

Ximenes Lopes, pessoa com deficiência, foi admitido na Casa de Repouso Guararapes, como paciente do
Sistema Único de Saúde (SUS), em perfeito estado físico, em outubro de 1999. Alguns dias depois de seu ingresso,
ele veio a óbito sem qualquer tipo de assistência médica.

Após o processamento do caso, a Corte IDH concluiu que o Estado violou: a) os direitos à vida e à integri-
dade pessoal de Ximenes Lopes (CADH, arts. 4.1, 5.1 e 5.2); b) o direito à integridade pessoal de seus familiares,
vitimados por diversos problemas de saúde decorrentes do estado de tristeza e angústia ocasionado no contexto
dos fatos narrados; e c) os direitos às garantias judiciais e à proteção judicial consagrados nos arts. 8.1 e 25.1 da
CADH, em razão da ineficiência em investigar e punir os responsáveis pelos maus-tratos e óbito da vítima.

O Caso Ximenes Lopes foi a primeira condenação sofrida pelo Brasil na Corte IDH.

Nesse caso, não obstante a casa de repouso fosse uma unidade de saúde privada, foi admitida a responsa-
bilidade internacional brasileira. Afirmou a Corte IDH que “(...) a responsabilidade estatal também pode gerar-se
por atos de particulares em princípio não atribuíveis ao Estado”, avançando para dizer que “As obrigações erga
omnes que têm os Estados de respeitar e garantir as normas de proteção, e de assegurar a efetividade dos direitos,
projetam seus efeitos para além da relação entre seus agentes e as pessoas submetidas à sua jurisdição, pois se
manifestam na obrigação positiva do Estado de adotar as medidas necessárias para assegurar a efetiva proteção
dos direitos humanos nas relações interindividuais”.

A Corte IDH considerou, ainda, que a sujeição, como medida de contenção que restringe a autonomia indi-
vidual, é uma das formas mais agressivas a que se pode submeter o paciente em tratamento psiquiátrico, de modo
que, para não violar o direito à integridade pessoal (CADH, art. 5°), deve ser empregada como medida de último
recurso e sempre com a estrita finalidade de proteger o paciente, médicos ou terceiros.

2. Trabalhadores da Fazenda Brasil Verde vs. Brasil

No final da década de 80, a Polícia Federal recebeu uma série de denúncias de trabalho escravo em inúme-
ras fazendas na região do município de Sapucaia, no estado do Pará, entre as quais estava a Fazenda Brasil Verde.

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Foram verificadas inúmeras irregularidades e uma situação degradante para os trabalhadores do local. Após o
processamento do caso, a Corte Interamericana condenou o Estado brasileiro pela violação dos direitos a não ser
submetido à escravidão e à proteção judicial.

Trata-se da primeira condenação do Brasil na jurisdição contenciosa da Corte Interamericana pela existência
de trabalho escravo em seu território.

Um dos pontos mais importantes foi o reconhecimento da proibição de trabalho escravo como norma de jus
cogens e como obrigação erga omnes, entendimento que consagra a proibição absoluta pelo Direito Internacional
dos Direitos Humanos da escravidão.

O Tribunal Interamericano reconheceu, ainda, a existência de uma discriminação estrutural histórica, em


razão do contexto no qual ocorreram as violações de direitos humanos das vítimas, em sua maior parte, pessoas
extremamente vulneráveis em termos econômicos.

3. Favela Nova Brasília vs. Brasil #APOSTACICLOS

Em 19 de maio de 2015, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos submeteu à Corte o caso Cosme
Rosa Genoveva, Evandro de Oliveira e outros contra a República Federativa do Brasil. Ele se refere às falhas e à
demora na investigação e punição dos responsáveis pelas supostas execuções, tortura e violência sexual no âmbito
das incursões policiais feitas pela Polícia Civil do Rio de Janeiro nos anos de 1994 e 1995 na Favela Nova Brasília.

Esse caso é MUITO importante. Então vamos nos deter um pouco mais nele.

Garantia de investigação por um órgão independente: a Corte considera que o elemento essencial de uma
investigação penal sobre uma morte decorrente de intervenção policial é a garantia de que o órgão investiga-
dor seja independente dos funcionários envolvidos no incidente. Essa independência implica a ausência de
relação institucional ou hierárquica, bem como sua independência na prática. Nesse sentido, nas hipóteses
de supostos crimes graves em que prima facie apareçam como possíveis acusados membros da polícia, a inves-
tigação deve ser atribuída a um órgão independente e diferente da força policial envolvida no incidente, como
uma autoridade judicial ou o Ministério Público, assistido por pessoal policial, técnicos em criminalística e pessoal
administrativo, alheios ao órgão de segurança a que pertençam o possível acusado ou acusados.

#OLHAOGANCHO:

ADPF das Favelas (ADPF 635): a ADPF 635, também conhecida como ADPF das Favelas, foi ajuizada pelo PSB
(Partido Socialista Brasileiro) a fim de que sejam reconhecidas e sanadas as graves lesões a preceitos fundamen-
tais da Constituição praticadas pelo Estado do Rio de Janeiro na elaboração e implementação de sua política
de segurança pública, notadamente no que tange à excessiva e crescente letalidade da atuação policial, voltada
sobretudo contra a população pobre e negra de comunidades. Na análise da medida cautelar nessa ação, o STF
consignou na ementa que: “A Corte Interamericana de Direitos Humanos, no caso Favela Nova Brasília, reco-

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nheceu que há omissão relevante do Estado do Rio de Janeiro no que tange à elaboração de um plano
para a redução da letalidade dos agentes de segurança. Ademais, em decisão datada de 22 de novembro de
2019, em processo de acompanhamento das decisões já tomadas por ela, conforme previsão constante do art.
69 de seu regimento interno, a Corte fez novamente consignar a mora do Estado brasileiro relativamente
à ordem proferida.”.

Autos de resistência: no Brasil, tornou-se uma prática habitual o uso da expressão “auto de resistência” para
se referir às mortes decorrentes de intervenção policial, o que, em muitos casos, funciona como meio para dar as-
pecto de legalidade às execuções sumárias praticadas pelas forças de segurança. Quando uma morte é classificada
com esses “autos de resistência”, raramente é investigada com diligência. Na verdade, a prática, nesses casos, é no
sentido de criminalizar a vítima, buscando-se, na investigação, encontrar indícios de conduta criminosa por parte
da vítima para justificar a ação policial.

Violência sexual contra a mulher: a Corte estabeleceu que, além das obrigações genéricas estabelecidas
nos artigos 8 e 25 da Convenção Americana, os Estados possuem obrigações específicas constantes do tratado
interamericano específico, a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher
(Convenção de Belém do Pará), o que reforça o seu dever de investigar de modo diligente as violações de direitos
humanos sofridas por vítimas mulheres. A Corte reconheceu que o estupro de uma mulher que se encontra detida
ou sob a custódia de um agente do Estado é um ato especialmente grave e reprovável, levando em conta a vulne-
rabilidade da vítima e o abuso de poder que pratica o agente.

#OLHAOGANCHO2 Novos desdobramentos da APDF das Favelas:

O Estado do Rio de Janeiro deve elaborar, no prazo máximo de 90 dias, um plano para redução da letali-
dade policial e controle das violações aos direitos humanos pelas forças de segurança, que apresente me-
didas objetivas, cronogramas específicos e previsão dos recursos necessários para a sua implementação. Nesse
mesmo sentido, até que plano mais abrangente seja formulado, o emprego e a fiscalização da legalidade
do uso da força devem ser feitos à luz dos “Princípios Básicos sobre a Utilização da Força e de Armas de
Fogo pelos Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei”, com todos os desdobramentos daí derivados.
Desse modo, cabe às forças de segurança a análise, diante das situações concretas, da proporcionalidade e da
excepcionalidade do uso da força, servindo os princípios como guias para o exame das justificativas apresen-
tadas a fortiori. Portanto, o uso da força letal por agentes de Estado só se justifica quando, ressalvada a
ineficácia da elevação gradativa do nível da força empregada para neutralizar a situação de risco ou de
violência, exauridos os demais meios, inclusive os de armas não-letais, e necessário para proteger a vida
ou prevenir um dano sério, decorrente de uma ameaça concreta e iminente.
Ademais, nos termos do art. 227 da Constituição Federal, é imperiosa a necessidade de dar prioridade
absoluta às investigações de incidentes que tenham como vítimas crianças ou adolescentes. Além disso,
a fim de resguardar o direito à vida, deve-se reconhecer a obrigatoriedade de disponibilização de ambulân-
cias em operações policiais previamente planejadas em que haja a possibilidade de confrontos armados. De
igual modo, no caso de buscas domiciliares por parte das forças de segurança do Estado do Rio de Janeiro,

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devem ser observadas as seguintes diretrizes constitucionais, sob pena de responsabilidade: (i) a diligência, no
caso específico de cumprimento de mandado judicial, deve ser realizada somente durante o dia, vedando-se,
assim, o ingresso forçado a domicílios à noite; (ii) a diligência, quando feita sem mandado judicial, pode ter
por base denúncia anônima; (iii) a diligência deve ser justificada e detalhada por meio da elaboração de auto
circunstanciado, que deverá instruir eventual auto de prisão em flagrante ou de apreensão de adolescente por
ato infracional e ser remetido ao juízo da audiência de custódia para viabilizar o controle judicial posterior; e (iv)
a diligência deve ser realizada nos estritos limites dos fins excepcionais a que se destina. Por fim, o Estado do Rio
de Janeiro deve, no prazo máximo de 180 dias, instalar equipamentos de GPS e sistemas de gravação de áudio e
vídeo nas viaturas policiais e nas fardas dos agentes de segurança, com o posterior armazenamento digital dos
respectivos arquivos.
ADPF 635 MC-ED/RJ, relator Min. Edson Fachin, julgamento em 2 e 3.2.2022.

4. Empregados da Fábrica de Fogos de Santo Antônio de Jesus e seus familiares vs. Brasil2

O caso diz respeito à explosão de uma fábrica de fogos de artifício em Santo Antônio de Jesus, na Bahia,
ocorrida no final de 1998, em que faleceram 60 pessoas, sendo a maior parte mulheres negras e crianças em si-
tuação de vulnerabilidade econômica e social. Ele foi submetido à jurisdição da Corte IDH pela CIDH em 2018 e o
Brasil condenado em 2020.

A Corte concluiu que o Estado foi responsável pela violação do direito à proteção judicial (art. 25), do dever
de devida diligência e da garantia judicial ao prazo razoável (art. 8.1), dos direitos à vida e da criança (arts. 4.1 e
19), dos direitos à integridade pessoal e da criança (arts. 5.1 e 19), dos direitos da criança, à igual proteção da lei, à
proibição de discriminação e ao trabalho (arts. 19, 24 e 26).

Reconheceu-se que as relações de trabalho na fábrica de fogos eram marcadas por uma intensa precariza-
ção, subordinação e exclusão do trabalho formal, dos direitos trabalhistas e da cidadania. As trabalhadoras desse
setor, como regra, eram mulheres que não concluíram o ensino fundamental e começaram a trabalhar na indústria
ainda crianças. A produção de fogos de artifício no município se caracterizava por um elevado grau de informali-
dade, clandestinidade, utilização de mão de obra infantil e trabalho de mulheres, essencialmente artesanal e com
baixíssimo grau de incorporação tecnológica.

Novamente, a Corte estabeleceu que a obrigação de garantia do direito à vida e à integridade pessoal se
projeta para além da relação entre os agentes estatais e as pessoas submetidas a sua jurisdição, e abarca
o dever de prevenir, na esfera privada, que terceiros violem os bens jurídicos protegidos. A realização de
uma atividade especialmente perigosa deve ser feita sob a supervisão e fiscalização do Estado, que passa a ter
responsabilidade internacional quando falha em seus deveres.

O caso em comento é importante, não só porque é a condenação mais recente do Brasil na Corte IDH, mas
também porque reforça a tendência de se possibilitar a justiciabilidade direta dos DESCA (direitos econômicos,
sociais, culturais e ambientais), por meio do artigo 26 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos.

2  #CAIU na DPE/TO!

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Reconheceu-se que o direito a condições equitativas e satisfatórias de trabalho, previsto no artigo 7º


do Protocolo de San Salvador, impõe ao Estado determinadas obrigações, as quais incluem aspectos de exi-
gibilidade imediata, bem como aspectos que apresentam caráter progressivo. Em relação às primeiras (obrigações
de exigibilidade imediata), os Estados devem garantir que esse direito seja exercido sem discriminação, além de
adotar medidas eficazes para sua plena realização. Quanto às segundas (obrigações de caráter progressivo), a
realização progressiva significa que cabe aos Estados Partes a obrigação concreta e constante de avançar o mais
expedita e eficazmente possível para a plena efetividade desse direito, na medida dos recursos disponíveis, por via
legislativa ou outros meios apropriados. Do mesmo modo, impõe-se a obrigação de não regressividade frente à
realização dos direitos alcançados.

#LINKMENTAL #DEOLHONAJURIS:

O STF, ao decidir um RE com repercussão geral, a respeito do reconhecimento da responsabilidade civil do Mu-
nicípio de São Paulo em virtude da explosão ocorrida em loja de fogos de artifício, fixou a seguinte tese: “Para
que fique caracterizada a responsabilidade civil do Estado por danos decorrentes do comércio de fogos de
artifício, é necessário que exista a violação de um dever jurídico específico de agir, que ocorrerá quando
for concedida a licença para funcionamento sem as cautelas legais ou quando for de conhecimento do
poder público eventuais irregularidades praticadas pelo particular”.
(RE 136861, Relator(a): EDSON FACHIN, Relator(a) p/ Acórdão: ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal Pleno, julgado
em 11/03/2020, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-201 DIVULG 12-08-2020 PUBLIC
13-08-2020)

5. Instituto Penal Plácido de Sá Carvalho

Pessoal, esse caso ainda não foi definitivamente julgado pela Corte IDH, mas, pela sua importância, va-
mos falar sobre ele aqui, já que a Corte determinou o cumprimento de medidas provisórias por parte do Estado
Brasileiro.

A Defensoria Pública do Rio de Janeiro levou esse caso à CIDH, denunciando as péssimas condições humani-
tárias do Instituto Penal Plácido de Sá Carvalho (IPPSC). À época, mais de 70 presos haviam morrido em virtude de
problemas de saúde decorrentes da superlotação. As medidas determinadas pela Comissão não foram cumpridas
e o caso foi levado à Corte IDH, que impôs o cumprimento de medidas provisórias.

A Corte considerou que o aprisionamento em contexto de superpopulação carcerária consiste em


tratamento cruel, desumano ou degradante e viola, portanto, os arts. 5.2 e 5.6 da CADH. Reconheceu que
toda privação de liberdade, ainda que a título preventivo ou cautelar, implica necessariamente uma cota de dor ou
aflição inevitável. No entanto, quando as condições do estabelecimento se deterioram até dar lugar a uma pena
degradante, o conteúdo aflitivo da pena ou da privação de liberdade preventiva aumenta numa medida que se
torna ilícita ou antijurídica.

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Nesse cenário, afiguram-se duas soluções: que se proceda à direta liberação dos presos ou que, de algum
modo, seja determinada uma diminuição da população penal, em geral mediante um cálculo de tempo de pena
ou de privação de liberdade, que abrevie o tempo real, atendendo ao maior conteúdo aflitivo, decorrente da
superpopulação penal. A Corte adotou a segunda alternativa em relação ao IPPSC.

#DEOLHONAJURIS:

Considerando essa decisão da Corte, o STJ determinou o cômputo da pena em dobro em relação a todo o
período cumprido pelo condenado no Instituto Penal Plácido de Sá Carvalho (IPPSC) e não somente a
partir do momento em que houve a imposição da medida provisória pela Corte IDH.
“Hipótese concernente ao notório caso do Instituto Penal Plácido de Sá Carvalho no Rio de Janeiro (IPPSC), ob-
jeto de inúmeras Inspeções que culminaram com a Resolução da Corte IDH de 22/11/2018, que, ao reconhecer
referido Instituto inadequado para a execução de penas, especialmente em razão de os presos se acharem em
situação degradante e desumana, determinou que se computasse “em dobro cada dia de privação de liberdade
cumprido no IPPSC, para todas as pessoas ali alojadas, que não sejam acusadas de crimes contra a vida ou a in-
tegridade física, ou de crimes sexuais, ou não tenham sido por eles condenadas, nos termos dos Considerandos
115 a 130 da presente Resolução”.
A sentença da Corte IDH produz autoridade de coisa julgada internacional, com eficácia vinculante e
direta às partes. Todos os órgãos e poderes internos do país encontram-se obrigados a cumprir a sen-
tença. Na hipótese, as instâncias inferiores ao diferirem os efeitos da decisão para o momento em que o Estado
Brasileiro tomou ciência da decisão proferida pela Corte Interamericana, deixando com isso de computar parte
do período em que o recorrente teria cumprido pena em situação considerada degradante, deixaram de dar
cumprimento a tal mandamento, levando em conta que as sentenças da Corte possuem eficácia imediata para
os Estados Partes e efeito meramente declaratório.
Não se mostra possível que a determinação de cômputo em dobro tenha seus efeitos modulados como
se o recorrente tivesse cumprido parte da pena em condições aceitáveis até a notificação e a partir
de então tal estado de fato tivesse se modificado. Em realidade, o substrato fático que deu origem ao
reconhecimento da situação degradante já perdurara anteriormente, até para que pudesse ser objeto de
reconhecimento, devendo, por tal razão, incidir sobre todo o período de cumprimento da pena.”
(AgRg no RHC 136.961/RJ, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, QUINTA TURMA, julgado em 15/06/2021, DJe
21/06/2021)

6. Márcia Barbosa de Souza e Outros vs. Brasil

#ATENÇÃO! Esse tema é uma #APOSTACICLOS, em razão de ter sido a última condenação do Brasil na
Corte IDH (sentença de 07 de setembro de 2021)!

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Em 7 de setembro de 2021, a Corte Interamericana de Direitos Humanos proferiu sentença mediante


a qual declarou a responsabilidade internacional da República Federativa do Brasil pelas violações dos
direitos às garantias judiciais, à igualdade perante a lei e à proteção judicial, com relação às obrigações
de respeitar e garantir direitos sem discriminação e ao dever de adotar disposições de direito interno e
com a obrigação de atuar com a devida diligência para prevenir, investigar e sancionar a violência contra
a mulher, em prejuízo de M.B.S e S.R.S., mãe e pai de Márcia Barbosa de Souza. Isso, como consequência da
aplicação indevida da imunidade parlamentar em benefício do principal responsável pelo homicídio da
senhora Barbosa de Souza, da falta de devida diligência nas investigações realizadas sobre os fatos, do ca-
ráter discriminatório em razão de gênero de tais investigações, assim como da violação do prazo razoável.

Por conseguinte, declarou-se o Estado responsável pelas violações dos artigos 8.1, 24 e 25 da Convenção
Americana sobre Direitos Humanos, em relação aos artigos 1.1 e 2 do mesmo instrumento e do artigo 7.b
da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher.

Ademais, o Tribunal declarou o Estado responsável pela violação do direito à integridade pessoal, reco-
nhecido pelo artigo 5.1 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, com relação ao artigo 1.1 do
mesmo instrumento, em prejuízo de M.B.S e S.R.S.

#OLHAOGANCHO
No que tange ao tema de violência contra a mulher, destaca-se as Recomendações Gerais n. 333 e 35 do CE-
DAW. Na primeira, o Comitê examina as obrigações dos Estados partes para assegurar que as mulheres tenham
acesso à justiça. Essas obrigações incluem a proteção dos direitos das mulheres contra todas as formas de dis-
criminação com vistas a empoderá-las como indivíduos e titulares de direitos. O efetivo acesso à justiça otimiza
o potencial emancipatório e transformador do direito e abarca a justiciabilidade, disponibilidade, acessibilidade,
boa qualidade, provisão de remédios para as vítimas e a prestação de contas dos sistemas de justiça. Na segun-
da, o objetivo foi fornecer aos Estados Partes novas orientações destinadas a acelerar a eliminação da violência
de gênero contra as mulheres, vez que apesar notáveis avanços, a violência de gênero contra as mulheres con-
tinua generalizada e com altos níveis de impunidade.

Por hoje, ficamos por aqui, pessoal! Bons estudos!!

3  A referida Recomendação consta no espelho da segunda fase da DPE/RR, cuja banca examinadora é a FCC.

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