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Pelotas, 2014.
Lauro Corrêa Barbosa
Monografia apresentada ao
Curso de Bacharelado em
Museologia da Universidade
Federal de Pelotas, como
requisito parcial à obtenção do
título de Bacharel em
Museologia.
Pelotas, 2014.
2
Banca examinadora:
3
Dedico esse trabalho aos
meus maiores sorrisos,
minhas avós, que me fazem
seguir em busca da segunda
estrela à direita.
4
Agradecimentos
5
parte de mim. A confiança, risadas, conversas e histórias que criamos
construíram esse trabalho e minha vida. E agradeço por me fazerem sentir em
casa em um novo lugar.
6
7
“I take it off, I put it on
1
Eu tiro, eu coloco/ Me sinto viva, quando me transformo/ Mas esse amor não é material/
Agora leve-o e me anime/ Suba o fecho, não pode ficar errado/ Porque seu novo visual é
imaterial. (Lady Gaga – Fashion!)
8
Resumo
9
Lista de Figuras
Ilustração 10: Vestido de Led, criado por Hussein Chalayan em 2007 ........................... 42
Ilustração 18: Material de divulgação da exposição "Com que roupa eu vou?" ............ 51
Ilustração 20: Armário para acervo têxtil, do Museu Julio de Castilhos .......................... 53
10
Ilustração 27:Vestido de Maria Paula Spohr ........................................................................ 68
Ilustração 30: Capa original dos vestidos, usadas em algumas peças ........................... 70
Ilustração 33: Cabides onde é acondicionado o acervo têxtil da coleção Rui ............................ 74
11
Lista de Tabelas
Tabela 1: Tabela criada pelo autor, a partir das informações do Instituto Canadense de
Conservação
Tabela 2: Tabela criada pelo autor, a partir das informações de Rita Andrade
12
Sumário
Introdução ................................................................................................................................... 14
Capítulo 1 - Moda: Arte, História e Cultura................................................................................. 19
1.1 Moda e Sociedade (s): Potencialidades e relevância da moda como patrimônio ................ 20
1.2 A Moda como um registro .................................................................................................... 27
Capítulo 2 - Coleções passadas e patrimônio atual .................................................................... 33
2.1 Nova passarela: o Museu ...................................................................................................... 33
2.2 A moda é moda no museu? .................................................................................................. 44
Capítulo 3 - “Rui é Rui!”- Rui Spohr e a Moda como patrimônios do Rio Grande do Sul............ 55
3.1 Rui Spohr: Um patrimônio gaúcho ........................................................................................ 55
3.2 Potencialidades museal e musealização do acervo da Maison Rui Spohr ............................ 63
3.2.1 Conservação preventiva aplicada ao acervo Rui Spohr ................................................. 72
3.2.2 Documentação museológica aplicada ao acervo Rui Spohr .......................................... 76
Aspectos Conclusivos .................................................................................................................. 83
Referências Bibliográficas ........................................................................................................... 88
Apêndices .................................................................................................................................... 92
13
Introdução
14
menosprezados pelos mesmos. Ou como Coco Chanel, que foi peça
fundamental da revolução feminista de 1920, onde trocou roupas
desconfortáveis como os espartilhos, por roupas mais confortáveis como
terninhos e Cardigans. Estes são alguns exemplos de como a moda pode
apontar muitos fenômenos socioeconômicos e artísticos. Assim a indumentária
presente no acervo de muitos museus, pode acarretar em estudos sobre as
interfaces entre memória coletiva, moda e sociedade. Conforme Sant’anna
(2008, p.8): quanto mais compreendemos os objetos em seu contexto original
(e também enquanto indicadores de memória), mais mergulhamos na produção
de conhecimento sobre os complexos meios que a moda se insere em
realidades específicas. ”
Rui hoje, com 84 anos, foi o primeiro brasileiro a estudar moda em Paris,
em 1951. Atualmente, ele continua trabalhando, e possui em seu ateliê um
acervo com grande parte de sua obra. São em média 500 roupas que ele
mantém em seus cabides, e algumas peças são identificadas pelo ano em que
foram feitas e por quem as usou (muitas das identificações se perderam, por
não se trata de um acervo museológico, assim muitas peças ainda são
usadas). Também há nesse acervo: chapéus, máquinas de costura, moldes,
tesouras, tecidos, fotografias, fitas em VHS, documentos da Maison e muitas
revistas de moda.
15
da moda. Sua esposa e uma funcionária trabalham, há alguns anos, na
catalogação de todo o material. Pensam na possibilidade de abrir uma
fundação com o nome de Rui, para preservar o acervo e estimular a formação
de novos estilistas. Mas por falta de incentivo para a criação de uma fundação
e de instituições interessadas em adquirir o acervo, a ideia mantém-se apenas
como um projeto.
Para a realização desse trabalho foi feita uma revisão bibliográfica sobre
os temas moda e musealização da moda, além de autores que trabalhassem
com a documentação e conservação dessa tipologia de acervo. Autores como
Lipovetsky (2009) e Svendsen (1970) ajudaram a compreender como o
fenômeno da moda ocorre e apresentam a importância desse fenômeno para a
sociedade atual e para compreender as sociedades passadas. Sant’Anna
(2008) e Norogrado (2012) apresentam discussões sobre a moda nos museus,
discutindo como ela é trabalhada e trazendo ideias de como poderia ser
trabalhada. Esses autores, juntamente com Bruno (2006) e Paula (2006), que
16
trabalham mais especificamente com a conservação e preservação dos
têxteis/moda, ajudaram nas reflexões de como aplicar os conhecimentos da
museologia ao acervo Rui Spohr.
17
instituição museológica e antes disso, analisar e propor maneiras de conservar,
pesquisar e comunicar mesmo não sendo uma coleção institucionalizada.
18
Capítulo 1 - Moda: Arte, História e Cultura.
2
People for the Ethical Treatment of Animals – organização não governamental que luta pelos direitos
dos animais, é contra a utilização de peles de animais em roupas e desfiles.
19
1.1 Moda e Sociedade (s): Potencialidades e relevância da moda como
patrimônio
20
existe por existir um público, uma aceitação, que mesmo em pequena escala
usufrui desse fenômeno.
21
classes, que estavam sendo desmanchadas por causa do capitalismo mercantil que
estava aumentando o poder aquisitivo da burguesia.
22
Inglaterra elas foram refinadas, e dessa forma o vestuário dos trabalhadores
ganhou uma versão em seda e conquistou a classe alta.
3
Ilustração 1: Sans Culotte
3
Disponível em: <pt.wikipedia.org>. Acesso em>2014-07-11
23
Junto com essa filosofia vinha à moda, os punks viviam e se vestiam de
forma desleixada, jeans rasgado, camisetas de bandas e jaquetas velhas, para
o frio, mesmo homens usavam meias calça e seguiam de bermuda e jeans
velho. Ainda hoje existem punks, mas o jeans rasgado é visto com mais
frequência. No ano de 2013 uma exposição realizada em Nova Iorque no
Metropolitan Museum of Art (MET), trouxe a exposição “Punk: Chaos to
Couture”, onde é abordado o tema do punk na moda. No final da exposição
existia uma loja, onde era possível comprar uma camiseta da marca Givenchy,
feita a partir de grafites feitos no banheiro do CBGB, um famoso clube de
Londres, onde bandas de punk se formaram4.
5
Ilustração 2: Movimento Punk de Londres
4
Reportagem feita sobre a exposição, do dia 06/05/2013. Disponível em:
<www.veja.abril.com.br> . Acesso em 13 de julho de 2014.
5
Disponível em : < pasarela360.com>. Acesso em: 2014-07-11
24
A moda se utilizar de novas culturas e criar novas referências, é um dos
principais fatores de ser um fenômeno mutável. Sobre essas novas modas o
autor Svendsen afirma:
25
produzir coleções de sapatos antigas, e Fendi fez o mesmo com
bolsas. (SVENDSEN, 1970, p.38).
A visão da moda como cíclica torna ela algo passível à reciclagem. E por
isso é dificilmente tratada como algo que possa se tornar patrimônio, mas o
que deve ser analisado principalmente é o poder de interpretações que a moda
permite.
26
1.2 A Moda como um registro
27
moda de massa absorveu elementos do vestuário militar e fetichista, e essas
roupas passaram a ser usadas também por pessoas cuja identidade não
corresponde de maneira alguma à origem delas" (SVENDSEN, 1970, p.71).
Mesmo com essa divergência entre a roupa e a imagem que ela passa,
usada como documento até mesmo essa dualidade pode gerar conhecimento.
Com a II Guerra Mundial a alta costura entrou em crise, em 1947 o
renascimento do pós-guerra foi marcado pelo new look de Christian Dior. A
criação ia contra as privações do período da guerra e apresenta a feminilidade.
6
Ilustração 3: New Loor, de Dior, 1947
6
Disponível em: < pasarela360.com>. Acesso em 2014-07-11
28
Iorque também causaram influencias na moda, o temor de uma guerra trouxe
as passarelas novamente o estilo militar, em uma nova leitura.
8
Ilustração 4: Desfile-protesto de Zuzu Angel, em 1971
7
Reportagem feita sobre o vestido de Zuzu Angel, do dia 10 de julho de 2014. Disponível em
<ela.oglobo.globo.com >. Acesso em: 4 de julho de 2014.
8
Disponível em: < mulher.uol.com.br>. Acesso em: 2014-07-11
29
Alexander McQueen tornam-se tão centrais" (SVENDSEN, 1970, p.114). A
moda passa a ser mais que apenas roupa, começa a se afirmar como arte.
10
Ilustração 5: Desfile Alexander McQueen, de 2010
9
Reportagem sobre os desfiles de Alexander McQueen, de 29/07/2010. Disponível em <gnt.globo.com>.
Acesso em: 01 de junho de 2014
10
Disponível em: < revistamarieclaire.globo.com>. Acesso em: 2014-07-11
30
passava a mensagem de que: “se não lutarmos por nossos direitos, muito em
breve vamos ter tantos direitos quanto a carne em nossos ossos.”11
12
Ilustração 6: Vestido de carne usado por Lady Gaga em 2010
11
Entrevista dada por Lady Gaga no programa Ellen DeGeneres, de 13/02/2011. Disponivel em
<youtube.com>. Acesso em 02 de junho de 2014.
12
Disponível em: < abril.com.br>. Acesso em: 2014-07-11
31
é movida a partir de fatos históricos, esses fatos se utilizam da moda como seu
símbolos representativos.
32
Capítulo 2 - Coleções passadas e patrimônio atual
Será utilizado como estudo de caso dois museus da região sul, o Museu
da Baronesa da cidade de Pelotas/RS e o Museu Júlio de Castilhos em Porto
Alegre/RS, que nos últimos anos tiveram exposições temporárias sobre moda
para analisar se a moda realmente está sendo trabalhada nessas instituições e
como elas conservam informações e as peças dessa tipologia de acervo.
33
essas peças estão vestidos de Maria Antonietta e o famoso vestido feito por
Givenchy usado por Audrey Hepburn no filme Bonequinha de Luxo.
13
Ilustração 7: Fachada do Musée Galliera de Paris
13
Disponível em: < en.wikipedia.org>. Acesso em: 2014-07-11
34
Segundo o ICOM (Comitê Internacional de Museus) museu é: “uma
instituição permanente, sem fins lucrativos, a serviço da sociedade e do seu
desenvolvimento, aberta ao público e que adquire, conserva, investiga, difunde
e expõe os testemunhos materiais do homem e do seu entorno, para educação
e deleite da sociedade”. Segundo essa definição de museu, a principal
diferença entre moda e museu se cria: o conceito de permanência, que é
fundamental ao museu, é totalmente o oposto da moda. A moda é conhecida
como algo passageiro, e talvez por isso seja tratada como algo banal.
35
objetos musealizados, ou nas palavras de Pomian (1984) os objetos no museu
tornam-se semióforos, perdem sua utilidade e passam a representar o invisível,
são dotados de um significado; não sendo manipulados, mas expostos ao
olhar, ou seja, o valor dos objetos transcende a materialidade e encontra-se em
seus significados. Esse processo dá ao objeto o status de patrimônio, de
documento e dessa forma agrega ao mesmo um sistema de documentação e
nele são aplicadas atividades de conservação que visam sua preservação para
a posteridade.
36
independente da forma de aquisição, até o seu descarte. Para isso é
necessário que as informações sejam claras e as mais completas possíveis,
além de cuidados com as terminologias usadas que podem causar perda de
informações. (CÂNDIDO,2006,p 49)
37
dos processos de deteriorioração dos objetos” (PAULA,1994, p. 301), se
utilizando de técnicas menos intervencionistas.
Tabela 1: Tabela criada pelo autor, a partir das informações do Instituto Canadense de
14
Conservação
14
Fonte consultada no site: http://www.cci-icc.gc.ca/resources-ressources/agentsofdeterioration-
agentsdedeterioration/index-fra.aspx
38
Pragas Infestações ou epidemias de insetos e limpeza ou falta de
manutenção no edifício.
Alguns exemplos são o vestido Mondrian, criado por Yves Saint Laurent
em 1965, o vestido com a silhueta tubo com estampa na parte frontal relembra
o quadro “Composição com Vermelho, Amarelo e Azul” do artista Piet
Mondrian, feito em 1921. O vestido desenhado por William Travilla, para
Marilyn Monroe no filme “O Pecado Mora ao Lado”, de crepe braço. O vestido
de cristais e luzes de led Hussein Chalayan em seu desfile de 2007 ou mesmo
39
o vestido Rosa-Shocking de Elsa Schiaparelli, de 1947 que traduzia a
expressão feminista da época. Todos esses vestidos trazem consigo
dificuldades de conservação e também catalogação de informações.
15
Ilustração 8: Vestido Mondrian de Yves Saint Laurent, em 1965
15
Disponível em: < lounge.obviousmag.org>. Acesso em: 2014-07-11
40
16
Ilustração 9:Vestido Rosa-shocking de Elsa Schiaparelli, em 1947
16
Disponível em: < pinsndls.com>. Acesso em: 2014-07-11
41
17
Ilustração 10: Vestido de Led, criado por Hussein Chalayan em 2007
18
Ilustração 11:Cena do filme "O Pecado Mora ao Lado"
17
Disponível em: < www.dezeen.com>. Acesso em: 2014-07-11
18
Disponível em: < www.telegraph.co.uk>. Acesso em: 2014-07-11
42
Os cuidados que os profissionais de museus devem ter ao manter a
temperatura e umidade de uma reserva técnica e manusear o acervo
corretamente, por exemplo, em relação ao acervo têxtil, também deve se
estender a como acondicionar diferentes materiais presentes em uma mesma
peça e como salvaguardar informações que vão além da peça de roupa, além
do estilistas ou de quem as usou.
O que não deve ser esquecido é que a moda não existe sem um corpo,
é necessário considerar o contexto em que a roupa é analisada. Dentro dos
museus acontece uma seleção para que a roupa se torne parte do acervo, fora
do seu papel de algo “vestível” ela receberá novas interpretações, que só serão
possíveis a partir dos resgates e novas conexões feitos pelas instituições. Isso
deve ser considerado na hora da documentação e também na hora da
exposição, para uma melhor compreensão do visitante. A utilização de acervos
como pinturas, fotografias, livros e revistas ajudam na compreensão do acervo
de moda. Informações presentes em outras peças do acervo pode ajudar na
criação do conhecimento e na hora de considerar o contexto das roupas. Como
analisam Albuquerque e Delgado:
43
fonte de pesquisas, para trabalhos acadêmicos visando uma maior
interdisciplinaridade.
44
No Museu de História, a roupa pode narrar o costume de uma
época, de um povo ou de uma religião. No Museu de Arte
surge, ora como suporte para o artista, ora como própria
arte[...] E por fim, no Museu de Moda, que abriga e explora
todos os aspectos dos vestíveis, a roupa atua como: objeto de
pesquisa de materiais e técnicas de construção; discursos de
comportamento; diálogo entre criador e criatura; estandarte de
movimentos artísticos, musicais, entre outros desdobramentos
da vida cotidiana. (SILVA, 2007)
19
Ilustração 12: Vestido criado por Salvador Dali, de 1949
19
Disponível em: < www.irenebrination.typepad.com>. Acesso em: 2014-07-11
45
elegantes, mas os grandes momentos, as grandes estruturas, os pontos de
inflexões organizacionais, estéticas, sociológicas, que determinam o percurso
plurissecular da moda” (LIPOVEDSKY, 2009). Fatos são retratados a partir da
moda, porém a moda segue não sendo retratada. Ao entrar no museu a roupa
perde seu sentido de uso e passa ser uma fonte de memória, porém apenas
memórias de pessoas e fatos aleatórios mostram uma comodidade das
instituições. A busca de novos questionamentos e visões mostra que o museu
não é alheio ao seu tempo/espaço, não deixa seu acervo virar “coisa de
museu”.
46
20
Ilustração 13: Imagem da exposição "Fashion Passion" , em 2004
20
Disponível em: < madonnaonline.com.br>. Acesso em: 2014-07-11
47
21
Ilustração 14: Fachada do Museu da Baronesa
21
Disponível em: < www.pelotas.rs.gov.br>. Acesso em: 2014-07-11
48
22
Ilustração 15: Exposição de longa duração do Museu da Baronesa
23
Ilustração 16: Legenda da exposição "História da Moda no Museu da Baronesa"
22
Fonte: Autor
23
Fonte: Autor
49
festa e casamento, peças de carnaval, chapéus, sapatos, e acessórios. Em
suas exposições de longa duração são representados o gabinete e o quarto de
Júlio de Castilhos, uma sala é dedicada aos indígenas e outra dedicada ao
período missioneiro.
24
Ilustração 17: Fachada do Museu Julio de Castilhos
24
Disponível em: < joelsantana13.blogspot.com>. Acesso em: 2014-07-11
50
25
Ilustração 18: Material de divulgação da exposição "Com que roupa eu vou?"
25
Fonte: Autor
51
Além de expor, essa tipologia de acervo também merece uma atenção especial
nas reservas técnicas dos museus. Que vão desde sua documentação até as
ações de conservação preventiva.
Nas duas instituições grande parte do acervo têxtil está nas reservas
técnicas e pela dificuldade de adquirir materiais “adequados” por falta de verba,
se utilizam de soluções acessíveis e que ajudam na preservação do acervo. No
MB o acervo têxtil foi transferido para uma segunda reserva técnica com menos
umidade. Ele está disposto em araras onde as peças são penduradas em
cabides acolchoados e forrados com TNT. Por cima das araras também é
colocado TNT para proteger as peças da luminosidade.
26
Ilustração 19: Reserva Técnica do Museu da Baronesa
26
Fonte: Autor
52
ali estão, com seu número de tombo e coleção, assim facilitando a localização
dessas peças e buchas com folhas de louro são penduradas nas portas dos
armários para afastar insetos.
27
Ilustração 20: Armário para acervo têxtil, do Museu Julio de Castilhos
27
Fonte: Autor
28
O Donato é um software criado e adotado no Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, para
catalogação e gerenciamento de informações de seu acervo. Com função de atender as necessidades de
trabalho da instituição. (SCHMITT, 2011)
53
por ser em meio digital permite um número maior de campos, que apesar de
alguns serem mais detalhados são semelhantes aos campos do MB.
Independente das instituições, a forma com que cada uma trabalha com
a moda é muito mais clara a partir de suas exposições. Nota-se que no Museu
da Baronesa encontra-se uma flexibilidade, e até mesmo uma liberdade poética
de tratar desse assunto por ser um museu de costumes. A utilização das
informações recorrentes da exposição “Memória da Moda no Museu da
Baronesa” representa uma busca de compreender esse fenômeno da moda e
aplicá-lo ao seu acervo e exposições.
54
Capítulo 3 - “Rui é Rui!”- Rui Spohr e a Moda como patrimônios
do Rio Grande do Sul
55
colocar o chapéu. Em Novo Hamburgo não se usava
chapéu, mas na capital o chapéu era obrigatório para
quem seguia a moda. (SPOHR-VIEGAS-FARIA,1997,
p.173 apud NORONHA, 2013, p. 62)
56
criações de alta-costura de possíveis cópias. Em 1950 era uma das únicas
instituições do mundo voltadas ao ensino da moda, através de aulas de história
da moda, desenho corte e costura e tinha ainda a possibilidade de presenciar
desfiles de grandes costureiros. Rui foi o primeiro brasileiro a ter acesso a esse
ensino.
Qual não foi a minha surpresa quando, anos depois, aquela que
hoje é minha mulher - pessoa tremendamente técnica, filha de
engenheiro, adora números, adora minúcias, é perfeccionista
nos mínimos detalhes - aproveitaria todo esse material que eu
trouxe para o Brasil. Com base nele, e principalmente na
experiência que tive com aquela tecnologia, Dóris e eu
montamos nosso método de corte, a nossa maneira de
trabalhar. Março de 1960 marcou o início de nosso atendimento
com base na alta-costura, na verdadeira técnica do moulage.
(SPOHR e VIEGAS-FARIA, 1997, p. 136 apud NOGRADO,
2013, p. 61)
Ao passar sua visão sobre a moda, Rui encontra espaço para divulgar-
se também como criador. A relevância de suas opiniões torna Rui uma espécie
de pedagogo do bom gosto. Em relato, Rui mostra que mesmo antes de sua
ida a Paris, o espaço que recebe como jornalista o faz estimular o bom gosto:
58
Rui busca uma linha sem excessos e enfeites, cada detalhe deveria ter
uma razão de ser e essa busca irá ser chamada de "sofisticada originalidade
do simples" que faz parte da identidade do estilista como criador. Seu trabalho
como jornalista e os desfiles/eventos ajudaram em sua divulgação, porém seu
talento se fez fundamental para sua aceitação, como a expressão popular: “Rui
é Rui.”
29
Ilustração 21: Criação de Rui para coleção inverno, de 1971
29
Fonte: NORONHA, 2013
59
Rui associa seu trabalho a outros criadores, para assim formar sua
identidade. O francês Hubert de Givenchy também teve grande influência em
seus trabalhos:
30
Ilustração 22: Rui e manequin de 1958
30
Fonte: NORONHA, 2013
60
31
Ilustração 23: Criação de Rui, de 1964
31
Fonte: NORONHA, 2013
61
atrações musicais e até concursos de misses. Grandes nomes da moda
nacional criavam peças a partir de tecidos sintéticos da empresa que haviam
sidos estampados por importantes artistas plásticos nacionais. Rui foi
convidado a participar dos desfiles das edições de 1962, 1963 e 1964. Em suas
memórias Rui comenta esses eventos:
62
um momento em que está se buscando uma moda legitimamente brasileira.
"Se, localmente, Rui atua como importante intérprete das tendências
internacionais, nacionalmente, suas criações encarnam uma 'estética do frio'"
(NORONHA, 2013, p. 76). Mesmo se afastando da imagem tradicional do
Brasil, Rui reforça a diversidade nacional e se reforça como gaúcho.
32
Informações do site de Rui Spohr< www.rui.net.br>. Acesso em: Junho de 2014
33
Informações obtidas através de visitas feitas na Maison Rui Spohr
63
34
Ilustração 24:Rui Spohr em seu antigo atelier
Muito sobre a vida e carreira de Rui está guardado nesse acervo, mas
existem relíquias fundamentais para compreender a moda. Existem fitas VHS
de desfiles da época de Rui em Paris e documentários sobre moda. Existe uma
infinidade de revistas de moda, as edições da Vogue francesa, que começam
em 1960, além de exemplares raros que datam 1890, nesses fascículos é
possível aprender técnicas de costura, bordado e tricô. As revistas atualmente
veem sendo digitalizadas por uma estudante de moda que trabalha
voluntariamente no acervo.
34
Disponível em: < revistadonna.clicrbs.com.br >. Acesso em: 2014-07-11
64
35
Ilustração 25: Revista de moda da década de 1890, presente no acervo de Rui
35
Fonte: Acervo Rui Spohr
65
suas criações é possível conhecer a moda do Rio Grande do Sul. Todo esse
acervo está disponível para pesquisa, e a Maison abre espaço para estudantes
de moda realizarem estagio na Maison. Sobre seu acervo e o interesse de
pesquisar em seu acervo Rui declara:
Esse estudo será focado no acervo têxtil da Maison, e dentro dele foi
escolhida a coleção Noivas. A coleção foi escolhida por ser uma das marcas do
estilista e por conter exemplares de diferentes períodos, esses vestuários
também possuem informações em diversas plataformas, como fotografias
croquis e reportagens. Três vestidos compõem essa coleção: um de 1984
usado por Débora Nelmann Apelbann, um de 1982 usado por Maria Paula
Spohr e outro de 2013 usado por Letícia Keemann.
36
Entrevista realizada por Rui para a revista Donna, no dia 23/11/2013. Disponível em
<revistadonna.clicrbs.com.br>. Acesso em: 01 de julho de 2014.
66
O vestido da noiva Débora Nelmann Apelbann (vestido 1) é composto
por duas peças, feito em crepe georgette bordado em bastidor com paetês
transparentes e prata e com miçangas. O vestido é composto por um casaco
com decote nas costas e manga longa e por baixo vem um vestido com saia
longa, reta e bordada presa a um dorso liso de crepe branco.
37
Ilustração 26: Vestido de Débora Nelmann Apelbann
O segundo vestido usado pela filha de Rui, Maria Paula Spohr (vestido
2), é de cintura baixa e mangas bufantes, com bordados no corpo e com renda
valenciana franzida nas mangas e na saia que é levemente franzida.
37
Fonte: Autor
67
38
Ilustração 27:Vestido de Maria Paula Spohr
39
Ilustração 28: Vestido de Leticia Keemann
38
Fonte: Autor
39
Fonte: Autor
68
Ao analisar esses vestidos é possível notar as mudanças que ocorrem
na moda em quase três décadas. No caso do vestido 1 as ombreiras mostram
umas das características do seu período, os anos de 1980. Mas em relação ao
vestido 2, que também é dos anos de 1980, é possível analisar que as
individualidades também fazem parte da moda. O terceiro vestido carrega
consigo a mulher dos anos 2000, um vestido de noiva curto no período dos
vestidos anteriores seria algo inimaginável.
40
Ilustração 29: Ficha de identificação do acervo Rui
40
Fonte: Autor
69
41
Ilustração 30: Capa original dos vestidos, usadas em algumas peças
41
Fonte: Autor
70
42
Ilustração 31: Croqui do vestido 1
43
Ilustração 32: Foto da noiva Maria Paula Spohr
42
Fonte: Autor
43
Fonte: Autor
71
Esse acervo traz consigo, além de informações intrínsecas, algumas
informações extrínsecas à materialidade do vestido, que fazem parte da
memória do objeto e são relevantes na pesquisa sobre moda. Com base nessa
reflexão será proposta a ficha para o acervo da Maison e também analisando
as condições em que esse acervo está sendo guardado, serão passadas
informações sobre conservação preventiva que poderão ser adotadas pela
Maison a fim de preservar o acervo.
72
composta por um museólogo, conservador/restaurador ou alguém com
formação para o trabalho com patrimônio e sua conservação. Utilizando as
palavras de Maria Cristina Oliveira Bruno:
Vemos que o estudo da moda e dos tecidos deve ser visto de forma
interdisciplinar e dessa forma não somente na compreensão de sua
historicidade ou filosofia. O aprendizado de técnicas de conservação preventiva
possibilita estudos futuros da moda, abrindo novas visões e perspectivas.
Nesse sentido esse trabalho ao analisar como é guardado e como poderia ser
melhorado o ambiente onde esse acervo está acondicionado, visa à
interdisciplinaridade em favor desse patrimônio.
O acervo têxtil Rui está em uma mesma sala, com três araras e
penduradas por cabides, assim como em grande parte das instituições museais
como é o caso dos museus analisados anteriormente. Podemos observar essa
escolha nas palavras de Catherine C. Mclean:
73
44
Ilustração 33: Cabides onde é acondicionado o acervo têxtil da coleção Rui
Uma solução é trocar as capas plásticas por capas de TNT (tecido não
tecido) que deve ser branco para não manchar a peça, e esse tecido “dispensa
os cuidados de lavagem em água neutra sem adição de químicos para eliminar
resíduos de amido como o algodão cru e é mais leve, estável e de fácil
manuseio.” (SANTOS, 2006, p. 97)
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Fonte: Autor
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utilizada no Museu da Baronesa, esse material não absorve tanta umidade
como outras espumas. Por cima desse acolchoado deve ser usado também o
TNT branco para forrar, sem deixar marcas de costura em contato com a peça.
Essas medidas protegem as peças de dobras, vincos, forçamentos das
costuras dentro outros danos na peça.
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verificado para não soltar as cerdas no acervo, após cada higienização o pincel
deve ser lavado com água e sabão e deixado secar totalmente para ser usado
novamente. Uma forma mais rápida de se tirar a poeira é com aspirador de pó,
para isso “a peça deve ser coberta com tecido fino branco, sendo necessário
evitar que o tubo do aspirador seja passado diretamente sobre a peça”
(TEIXEIRA, 2012, p 55). A utilização desse tecido evita que o aspirador
danifique os vestidos, no caso especifico dos vestidos de noiva analisados que
possuem muitos detalhes, essa prática os protege.
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deveria adotar um sistema mais completo de inventário, com a colaboração de
um profissional museólogo.
Cada peça deve ter um número, mesmo vestidos com duas peças, as
duas possuirão a mesma numeração e cada uma será diferenciada por uma
letra minúscula ao final do código. No caso do vestido de noiva de duas peças
citado anteriormente, o casaco receberia a numeração crs001a e o vestido de
baixo crs001b.
Essa numeração deve ser feita na peça, de maneira com que não
danifique o acervo. Um pedaço de linho lavado com o número escrito com
caneta ou bordado, costurado na parte de dentro do traje em algum lugar de
fácil localização e se possível padronizado. Deve ser costurado com agulha
sem ponta com um fio de seda para não causar danos à peça.
Tabela 2: Tabela criada pelo autor, a partir das informações de Rita Andrade
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registro e etc.. Comece com uma descrição mais geral para depois
registrar sistematicamente os detalhes. O registro de
alterações das peças pode indicar sinais do tempo ou
interferências sociais e culturais, é iminente aprender a
conhecer a biografia cultural especifica das coisas. Além
de considerar motivos, estampas, padrões têxteis, cor,
textura e etc.
Com base nesse “roteiro” de análise de uma peça, foi criada uma ficha
de inventário (completa no apêndice). A ficha no inicio possui um campo onde
deve ser inserida a foto da peça para mais facilmente serem identificadas as
informações. No campo “coleções” irá a que coleção a peça pertence, para isso
pode seguir a divisão feita pela Maison até então: tear; inverno; verão; gala;
noivas; debutantes e peças para desfiles e ensaios fotográficos. No campo
“peça” deve ser informada o nome usual do traje vestido, casaco, saia e etc.
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Ilustração 34: Fragmento da ficha proposta
O campo seguinte da descrição deve ser iniciado pelo mais geral até o
mais específico, de forma que, mesmo se não tivesse a fotografia, fosse
possível imaginar como seria a peça. Seguindo no exemplo da imagem acima,
sua descrição poderia ser: vestido de noiva, com mangas bufantes de renda
franzida, saia de renda franzida com armação, bordado de flores no corpo do
vestido, peça na cor branca.
O campo da medição não tem campos definidos, pois para cada peça de
roupa existe uma medição específica. Como na Maison existem peças
variadas, as medições de uma calça não seriam as mesmas de uma saia.
Sugere-se que seja criada uma tabela, com as informações que devem estar
presentes em cada tipo de peça. Por exemplo, para uma calça altura do
gancho, comprimento lateral, altura do joelho e altura do quadril ou de uma saia
onde a altura do gancho não seria necessária.
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Fonte: Autor
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utilizado um sapato ou algum acessório presente no acervo também deve ser
colocado nesse campo
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Ilustração 35: Fragmento da ficha proposta
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Ilustração 36: Detalhe do vestido 1
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Ilustração 37: Detalhe do vestido 1
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Fonte: Autor
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Fonte: Autor
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No histórico da peça vão informações mais detalhadas sobre quem usou
e criou a peça, detalhes sobre sua origem, etc. E no campo histórico de
usos/exposições vão informações sobre locais e eventos em que a peça foi
usada, no caso do vestido de 2013 deve ser informado que ele foi usado no
“Mostra Noivas 2013” no Barra shopping Sul na cidade de Porto Alegre, entre
outros.
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Aspectos Conclusivos
Para isso foi necessário analisar a moda como fonte de pesquisa e como
fenômeno social, visto que as criações da moda são reflexos de ideologias e
mudanças sociais. E, além disso, foi necessário discorrer sobre a história de
vida do estilista Rui Spohr, para assim ser compreendida a importância do
estilista para a moda gaúcha e dessa forma suas criações serem consideradas
um patrimônio.
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serem exploradas pelos museus e diversas formas de leitura pelos visitantes.
Essa reflexão é nas palavras de Svendsen (1970) uma semântica instável, de
forma com que a moda é diretamente relacionada ao seu contexto, e sobre isso
o autor segue:
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Bruno (2006, p.131) afirma que a ação da museologia faz um "balanço sobre
as áreas temáticas que têm sido contempladas e outras que estão relegadas a
um cenário marginal, dificultando a atuação das instituições museológicas"
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Entrevista realizada por Rui para a revista Donna, no dia 23/11/2013. Disponível em
<revistadonna.clicrbs.com.br>. Acesso em: 01 de julho de 2014.
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da documentação museológica. Assim preservando o intrínseco e o extrínseco
das peças do acervo. Para isso, além de bibliografia especializada em como
documentar e preservar acervos têxteis, as análises em instituições museais
que tenham trabalhado com moda foram fundamentais para descobrir de forma
prática maneiras de trabalhar com esse tipo de acervo.
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Rui, ele é um gerador de conhecimento e fonte de pesquisa, e isso é uma das
formas de se compreender a importância desse acervo. E a aplicação da
musealização nesse acervo é um meio de preservá-lo, afinal patrimônio é algo
que seja relevante para a sociedade, independente de ser uma coleção
museológica ou particular.
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Referências Bibliográficas
HELD, Maria Sílvia Barros; RAMOS, Júlia Baruque. A arte, o design, e a moda
hoje: interrelações. Disponível em:
88
www.coloquiomoda.com..br/anais/anais/8Coloqio-de-Moda-
2012/GTOS/COMUNICACAO-ORAL/103567-A-Arte-O-Design-e-a-Moda-hohe-
Interrelacoes.pdf
89
PERALES, Isabel Alvarado. Aspectos da documentação: coleção têstil e
vestuário. Tecidos e sua conservação no Brasil: museus e coleções. São
Paulo: Museu Paulista da USP, 2006. p.: 90-95
PULS, Lourdes Maria. Desenho de moda: uma análise sob o ponto de vista da
relação espaço-tempo no contexto educacional. Modapalavra E-periódico, Ano
2, n. 4. Ago- Dez 2009, pp. 17-23.
SVENDSEN, Lars 1970 – Moda: uma filosofia / Lars Svendsen; tradução Maria
Luiza X. de A. Borges. – Rio de Janeiro: Zahar, 2010.
90
TEIXEIRA, Lia Canola. Conservação preventiva de acervos/ Lia Canola Teixeira,
Vanilde Rohling Ghizoni- Florianópolis: FCC, 2012.
VIANA, Fausto; NEIRA, Luz Garcia.. Principios gerais de conservação têxteis. Revista
CPC. São Paulo, n.10, p. 206-233, maio/out 2010.
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Apêndices
Ficha proposta para o Acervo Rui Sphor, Questionário aplicado no Maison Rui
Sphor e Questionário aplicado nos Museus da Baronesa/ Pelotas e Júlio de
Castilhos/ Porto Alegre.
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Questionário para o Maison Rui Spohr:
1. Quando foi iniciado o acervo?
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Pesquisa e análise nas instituições: Museu da Baronesa (Pelotas – RS) e
Museu Júlio de Castilhos (Porto Alegre – RS)
3. Como é documentada?
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