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Teoria de Simondon vs Teoria de Agamben

Introdução

O presente documento pretende explicitar os assuntos estudados nas teorias de


Simondon e de Agamben, teorias estas relativas aos dispositivos.

Os dois autores refletem sobre a questão dos dispositivos, das suas utilizações e do seu
poder na ordem das sociedades.

No presente documento primeiro é analisada a teoria de Simondon sobre esta questão


e é apresentada a sua opinião e as suas tomadas de posição sobre tais criações do ser humano.

Em segundo lugar, é apresentada a teoria de Agamben, os seus pontos de vista e


preocupações sobre a posição da sociedade sobre tais criações.

De seguida, estas duas teorias são comparadas uma com a outra, são postos “frente a
frente” os dois autores e podemos, através desta parte, perceber a posição dos dois autores de
uma forma sucinta sobre os dispositivos e a técnica destes.

Os dispositivos nestas teorias servem para refletir a técnica do ser humano através das
suas criações e do seu poder de invenção, ao criar ideias e produções complexas, que podem
impactar de forma positiva ou negativa a ordem e a forma de operar das sociedades.

Por último, são elaboradas algumas conclusões finais sobre estas teorias.
Teoria de Simondon

Simondon centra o seu estudo na intenção de suscitar uma tomada de consciência do


sentido dos objetos técnicos. Este acredita que a oposição entre a cultura e a técnica e entre o
homem e a máquina é falsa e sem fundamentos que suportem esta tomada de posição. Esta
posição apenas esconde a ignorância ou o ressentimento sobre o assunto, e mascara uma
realidade rica em esforços humanos e em forças naturais atrás de um humanismo fácil.

A cultura trata o objeto técnico como o homem trata o estrangeiro quando se deixa
levar pela xenofobia primitiva. O misoneísmo orientado contra as máquinas é menos um ódio
pela novidade do que uma recusa da realidade estrangeira. Ora, esse ser estrangeiro é ainda
humano, e a cultura completa é aquilo que permite descobrir o estrangeiro como humano,
afirma Simondon.

O autor ainda acredita e afirma, nos seus estudos, que a cultura é desequilibrada
porque ela reconhece certos objetos, como o objeto estético, e lhes atribui cidadania no mundo
das significações, e ao mesmo tempo rechaça outros objetos, em particular os objetos técnicos,
no mundo sem estrutura daquilo que não possui significações, mas apenas um uso, uma função
útil.

Numa das partes de um dos seus documentos, Simondon ainda refere que “a presença
do homem às máquinas é uma invenção perpetuada. Isso que reside nas máquinas é algo da
realidade humana, do gesto humano fixado e cristalizado em estruturas que funcionam.” Essas
estruturas precisam ser sustentadas no curso de seu funcionamento, e a maior perfeição
coincide com a maior abertura, com a maior liberdade de funcionamento. As máquinas de
calcular modernas não são puros autômatos; elas são seres técnicos que, acima de seus
automatismos de adição (ou de decisão pelo funcionamento de basculadores elementares),
possuem possibilidades muito vastas de comutação de circuitos, que permitem codificar o
funcionamento da máquina restringindo sua margem de indeterminação.
Teoria de Agamben

Gregorio Agamben acredita que os dispositivos com que lidamos atualmente são
extensões de uma forma de pensar capitalista, que em vez de refletir a produção através de
uma ideia de um sujeito, reflete todo um processo que pode ser desempenhado depois de
utilizado.

O autor ainda acredita que quanto mais os dispositivos se difundem e disseminam o


seu poder em cada âmbito da vida, tanto mais o governo se encontra diante de um elemento
inapreensível, que parece fugir de sua apreensão quanto mais docilmente a esta se submete.
Agamben, num dos seus documentos, ainda refere que “no lugar do anunciado fim da história,
assiste-se, com efeito, ao incessante girar em vão da máquina, que, numa espécie de
desmedida paródia da oikonomia teológica, assumiu sobre si a herança de um governo
providencial do mundo que, ao invés de salvá-lo, o conduz - fiel, nisso, à originária vocação
escatológica da providência - à catástrofe.”

O autor faz ainda uma espécie de comparação da posição perante os dispositivos atuais
com a teologia e a forma de os perceber, referindo este que se considerarmos a genealogia
teológica dos dispositivos que acabamos de delinear, a qual os conecta ao paradigma cristão da
oikonomia, isto é, do governo divino do mundo, veremos que os dispositivos modernos
apresentam, porém, uma diferen- ça em relação aos tradicionais, o que torna particularmente
problemática a sua profanação.
Simondon vs Agamben

Os dois autores acabam por ter pontos de vista consideravelmente diferentes um do


outro no que toca à forma como os dispositivos na atualidade devem de ser percebidos e
recebidos, mostrando alguns receios em relação a esta temática.

Enquanto Simondon explicita a sua opinião através sobre os dispositivos mostrando a


sua admiração sobre tais criações e sobre o seu enorme espetro, Agamben mostra-se
preocupado em como tais produções podem interromper uma ordem governamental correta e
ordeira, mostrando que tal admiração pode criar graves problemas morais nas sociedades
atuais.

Agamben reflete sobre esta temática e afirma que a posição de quase “culto” sobre tais
criações pode tomar o lugar de atuais cultos, posição esta consideravelmente exagerada
quando comparada com o ponto de vista de Simondon que admira e ainda exemplifica com
uma calculadora, demonstrando que tal instrumento é imperativo para determinadas situações
e que possui um poder aumentado devido aos seus processos e cálculos, chegando mesma a
atribuir o adjetivo de “inteligente” a tal criação.

A posição dos dois autores de todo não indica que estes não reconhecem a importância
de tais instrumentos na sociedade. Os dois pontos de vista apenas ficam marcados por uma
maior abertura à questão de Simondon e uma maior preocupação sobre a ordem das
sociedades e do poder exercido dos respetivos governos sobre tais conjuntos.
Conclusão

Resumindo este documento, podemos refletir sobre a técnica do ser humano


demonstrada através de criações inúmeras, que impactam a atualidade do ser humano.

Depois de analisadas as duas posições sobre tal problemática, podemos verificar que os
dois autores expressam pontos de vista distintos um do outro. Enquanto Simondon reconhece
e admira tais criações e tal técnica demonstrada, Agamben demonstra também uma
preocupação sobre o impacto na sociedade que advém de tais criações.

Depois desta análise, podemos pegar no exemplo do smartphone e do seu papel na


atualidade. Após o surgimento de tais ferramentas, o dia a dia de cada um de nós que pertence
à sua determinada sociedade vê o seu quotidiano impactado com o constante uso de tal
criação. O “telemóvel inteligente” torna-se fundamental em certas atividades ordinárias do
quotidiano de cada um e a falta de tal instrumento pode interromper a ordem da sociedade de
uma forma preocupante. Esta é a posição de Agamben e é esta posição que tanto transmite
preocupação sobre o papel que a técnica desenvolve no dia a dia através de tais criações. No
entanto reconhecemos que estas ferramentas são quase como criações independentes, que
muitas das vezes tomam decisões que nós pedimos para tomar por nós, e que representam o
avanço da forma como o ser humano pensa e como reflete os seus ensinamentos e técnicas.
Podemos mesmo dizer que cada um de nós que possui um destes instrumentos o admira
devido à sua facilidade de uso e ao seu comodismo provocado nas nossas vidas. Esta última
expressa o ponto de vista de Simondon que admira profundamente tais criações e acredita que
estas são fundamentais para o desenrolar das nossas vidas e atividades associadas.

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