Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Introdução
Os dois autores refletem sobre a questão dos dispositivos, das suas utilizações e do seu
poder na ordem das sociedades.
De seguida, estas duas teorias são comparadas uma com a outra, são postos “frente a
frente” os dois autores e podemos, através desta parte, perceber a posição dos dois autores de
uma forma sucinta sobre os dispositivos e a técnica destes.
Os dispositivos nestas teorias servem para refletir a técnica do ser humano através das
suas criações e do seu poder de invenção, ao criar ideias e produções complexas, que podem
impactar de forma positiva ou negativa a ordem e a forma de operar das sociedades.
Por último, são elaboradas algumas conclusões finais sobre estas teorias.
Teoria de Simondon
A cultura trata o objeto técnico como o homem trata o estrangeiro quando se deixa
levar pela xenofobia primitiva. O misoneísmo orientado contra as máquinas é menos um ódio
pela novidade do que uma recusa da realidade estrangeira. Ora, esse ser estrangeiro é ainda
humano, e a cultura completa é aquilo que permite descobrir o estrangeiro como humano,
afirma Simondon.
O autor ainda acredita e afirma, nos seus estudos, que a cultura é desequilibrada
porque ela reconhece certos objetos, como o objeto estético, e lhes atribui cidadania no mundo
das significações, e ao mesmo tempo rechaça outros objetos, em particular os objetos técnicos,
no mundo sem estrutura daquilo que não possui significações, mas apenas um uso, uma função
útil.
Numa das partes de um dos seus documentos, Simondon ainda refere que “a presença
do homem às máquinas é uma invenção perpetuada. Isso que reside nas máquinas é algo da
realidade humana, do gesto humano fixado e cristalizado em estruturas que funcionam.” Essas
estruturas precisam ser sustentadas no curso de seu funcionamento, e a maior perfeição
coincide com a maior abertura, com a maior liberdade de funcionamento. As máquinas de
calcular modernas não são puros autômatos; elas são seres técnicos que, acima de seus
automatismos de adição (ou de decisão pelo funcionamento de basculadores elementares),
possuem possibilidades muito vastas de comutação de circuitos, que permitem codificar o
funcionamento da máquina restringindo sua margem de indeterminação.
Teoria de Agamben
Gregorio Agamben acredita que os dispositivos com que lidamos atualmente são
extensões de uma forma de pensar capitalista, que em vez de refletir a produção através de
uma ideia de um sujeito, reflete todo um processo que pode ser desempenhado depois de
utilizado.
O autor faz ainda uma espécie de comparação da posição perante os dispositivos atuais
com a teologia e a forma de os perceber, referindo este que se considerarmos a genealogia
teológica dos dispositivos que acabamos de delinear, a qual os conecta ao paradigma cristão da
oikonomia, isto é, do governo divino do mundo, veremos que os dispositivos modernos
apresentam, porém, uma diferen- ça em relação aos tradicionais, o que torna particularmente
problemática a sua profanação.
Simondon vs Agamben
Agamben reflete sobre esta temática e afirma que a posição de quase “culto” sobre tais
criações pode tomar o lugar de atuais cultos, posição esta consideravelmente exagerada
quando comparada com o ponto de vista de Simondon que admira e ainda exemplifica com
uma calculadora, demonstrando que tal instrumento é imperativo para determinadas situações
e que possui um poder aumentado devido aos seus processos e cálculos, chegando mesma a
atribuir o adjetivo de “inteligente” a tal criação.
A posição dos dois autores de todo não indica que estes não reconhecem a importância
de tais instrumentos na sociedade. Os dois pontos de vista apenas ficam marcados por uma
maior abertura à questão de Simondon e uma maior preocupação sobre a ordem das
sociedades e do poder exercido dos respetivos governos sobre tais conjuntos.
Conclusão
Depois de analisadas as duas posições sobre tal problemática, podemos verificar que os
dois autores expressam pontos de vista distintos um do outro. Enquanto Simondon reconhece
e admira tais criações e tal técnica demonstrada, Agamben demonstra também uma
preocupação sobre o impacto na sociedade que advém de tais criações.