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de saúde privadas
Orientadora: Prof.ª Doutora Filipa Catarina Vasconcelos da Silva Pinto Marto Carvalho
Júri:
Presidente:
Prof. Doutor Rui Miguel Bettencourt Melo
Vogais:
Prof.ª Doutora Filipa Catarina Vasconcelos da Silva Pinto Marto Carvalho
Prof.ª Doutora Maria Celeste Rodrigues Jacinto
2020
Agradecimentos
Em primeiro lugar gostaria de agradecer à professora Filipa Carvalho, pela paciência,
pela ajuda e acompanhamento constante ao longo de toda a dissertação.
Ao Dr. José Mesquita, por se mostrar sempre disponível em ajudar em tudo o que fosse
necessário e pela flexibilidade na gestão trabalho/faculdade.
Aos meus pais, que sem eles não teria sido possível fazer esta caminhada em direção à
concretização de mais um objetivo.
Aos meus avós, aos que partiram e aos que felizmente continuam a fazer a minha vida
mais preenchida.
III
Resumo
Os hospitais acarretam vários riscos para os profissionais derivados das diversas
atividades realizadas. Torna-se necessário identificar os perigos e avaliar os riscos a que
estes estão sujeitos de forma a prevenir a ocorrência de acidentes de trabalho e criar locais
de trabalho seguros. Foi realizada neste estudo, uma análise e investigação dos acidentes
de trabalho ocorridos, em unidades de saúde privadas, nos anos de 2017 e 2018.
Por fim, foram propostas algumas medidas para prevenir a ocorrência de acidentes de
trabalho nestas unidades.
IV
Abstract
Hospitals present various risks for professionals derived from the various activities
carried out. It is necessary to identify the hazards and assess the risks to which they are
subjected in order to prevent accidents at work and create safe workplaces. This study
consists in an analysis and investigation of work accidents occurred in private health units
in the years 2017 and 2018.
The RIAAT method was used – Registration, Investigation and Analysis of Work
Accidents, the study integrated the reclassification of 443 work accidents and the in-depth
investigation of 52 accidents, from the analysis of information related to the application
of semi-structured interviews that allowed obtaining the direct contribution of the victims
and service managers (head).
The results of the investigation allowed: a) to characterize the most relevant causes
(immediate, human, organizational and management) of work accidents, b) to
characterize the most common type of accident and c) to compare the typology of
accidents in the variables (Deviation, Material Diversion Agent, Contact, Contact
Material Agent, Type of Injury, Part of the Affected Body and Lost Days, with known
reference standards (Sector of Activity - Q , second, CAE 3rd rev.).
Finally, some measures were proposed to prevent the occurrence of work accidents in
these units.
Keywords: Work Accidents; RIAAT method; Analysis of Work Accidents; Private health
units; Prevention; Safety; Influencing factors; Type accident; Correction proposals;
Hospitals.
V
Índice
AGRADECIMENTOS............................................................................................................................. III
RESUMO ...................................................................................................................................................IV
ABSTRACT ................................................................................................................................................ V
ÍNDICE ......................................................................................................................................................VI
I. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 1
3. ETAPAS ....................................................................................................................................... 39
4. AMOSTRA .................................................................................................................................. 40
VI
1.4. DADOS RELATIVOS ÀS CONSEQUÊNCIAS DO AT ....................................................... 62
V. DISCUSSÃO .................................................................................................................................... 79
BIBLIOGRAFIA ....................................................................................................................................... 87
VII
Índice de Figuras
Figura 1 - Modelos de Acidentes de Trabalho ................................................................. 8
VIII
Figura 20- Distribuição de Acidentes de Trabalho, no setor Q, segundo a natureza da lesão
(N=17 540), em 2017................................................................................... 32
Figura 22- Nº de ATs em 2015, 2016 e 2017. Gráfico A: Totalidade de ATs; Gráfico B:
Nº de ATs no Setor Q .................................................................................. 33
IX
Figura 40- Distribuição de AT segundo o contacto (N=443) ......................................... 59
X
Índice de Tabelas
Tabela 1 - Conceitos e definições das variáveis utilizadas na investigação das causas
e consequências dos acidentes ....................................................................... 6
Tabela 2- Acidentes de trabalho ocorridos em 2017 e 2018 nas unidades em estudo ... 41
XI
I. Introdução
A investigação dos acidentes de trabalho é uma técnica de segurança que visa descobrir
as causas que levaram à ocorrência dos acidentes em questão. Apesar da análise dos
acidentes de trabalho constituir uma obrigação legal (artigo 73º-B da Lei nº 3/2014 de
28/01) se o processo for inconsequente terá um impacto reduzido no seio das
organizações. Deste modo, só uma investigação aprofundada se evidencia como elemento
diferenciador capaz de auxiliar as organizações na identificação das reais prioridades de
intervenção em matéria de Segurança e Saúde no Trabalho nomeadamente para a
conceção e implementação de medidas preventivas adequadas, com o objetivo de
prevenir a ocorrência de acidentes semelhantes.
1
• verificar se a sinistralidade laboral está ou não sob controlo;
• avaliar o impacto da implementação de medidas de segurança;
• caracterizar a tipologia de acidente de trabalho mais comum;
• comparar a tipologia dos acidentes de trabalho por unidades hospitalares
organizadas em função tipo/dimensão da unidade (Hospital/Clínica), procurando
evidenciar as similitudes/diferenças e respetivas áreas prioritárias de intervenção;
• comparar a tipologia dos acidentes nas variáveis (Desvio, Agente material de
Desvio, Contacto, Agente material de Contacto, Tipo de lesão, Parte do Corpo
Atingida e Dias perdidos, com padrões de referência conhecidos (Sector de
atividade – Q, segundo, CAE 3ª rev.) e, finalmente,
• disseminar boas práticas de trabalho através da utilização plena do método
RIAAT – registo, Investigação e Análise de Acidente de Trabalho.
2
organizacionais e de gestão. Para estes dois últimos fatores estão identificadas
medidas que poderiam ter prevenido a ocorrência dos acidentes analisados.
• No quinto capítulo é apresentada a discussão dos resultados obtidos os quais são
confrontados com padrões de referência nacional e com os resultados obtidos nos
estudos de diversos autores.
• No sexto, e último capítulo, é apresentada a conclusão do estudo que engloba
sugestões de melhoria para a empresa, através da aplicação do método RIAAT.
3
II. Enquadramento Teórico
Neste capítulo pretende-se fazer um enquadramento teórico sobre a temática do estudo,
com o objetivo de perceber a importância da investigação e análise de acidentes de
trabalho, conhecer os principais modelos existentes na literatura, e os métodos que deram
origem ao método RIAAT. Pretende-se ainda, conhecer os principais riscos existentes em
contexto hospitalar e conhecer os índices estatísticos de outros estudos relativos às causas
e consequências de acidentes de trabalho, e ainda, salientar os dados obtidos sobre
acidentes de trabalho em 2017, pelo Gabinete de Estratégia e Planeamento (GEP), no
setor Q, relativo a atividades de saúde humana e apoio social.
1. ACIDENTES DE TRABALHO
Para além da segurança e saúde no trabalho ser importante para as empresas, constitui
uma obrigação legal e social. É valorizado pelas empresas o facto de a SST prevenir
lesões e doenças dos trabalhadores, sendo também um elemento fundamental no êxito de
uma empresa (EU-OSHA, 2008).
4
Nas últimas décadas, o peso dos acidentes na mortalidade assumiu tal relevância, que a
Organização Mundial da Saúde (OMS) e a União Europeia (UE) atribuíram um papel
ativo na sua prevenção e na promoção da segurança (DGS, 2010).
De forma a contrariar estes números, a prevenção tem de assumir um papel ativo nas
organizações, de forma contínua e englobando toda a organização e todos os
trabalhadores; para tal, será necessário que tenha em consideração todos os
condicionantes da conceção e organização da produção e do trabalho, das técnicas e
tecnologias, da envolvente institucional, administrativa, económica, social e política. Dito
de outra forma, uma abordagem integrada que tenha em conta todos os aspetos
relacionados com o trabalho, e não acreditar que os acidentes de trabalho se ficam a dever
ao acaso, ou que são fruto da fatalidade, pois tal conceção implica aceitar que é impossível
preveni-los (Lima, 2004).
5
Na Tabela 1 apresentam-se os conceitos de algumas variáveis comuns na investigação
das causas e consequências dos acidentes. A seleção das variáveis apresentadas prende-
se com o facto de estas fazerem parte integrante do processo RIAAT e da análise dos
acidentes de trabalho divulgados pelo GEP (2019) sendo, por isso, abordadas ao longo
do estudo.
Tabela 1 - Conceitos e definições das variáveis utilizadas na investigação das causas e consequências dos acidentes
(fonte: Eurostat, 2013)
Conceito e definições
Contacto – modalidade da Modo como o sinistrado foi lesionado pelo agente material que
lesão provocou essa mesma lesão.
Agente material associado Ferramenta ou objeto com que o sinistrado entrou em contacto,
ao contacto – modalidade ou a modalidade psicológica da lesão.
da lesão
6
2. CAUSALIDADE DE ACIDENTES DE TRABALHO
Para analisar a causalidade dos acidentes de trabalho foram, ao longo dos anos,
desenvolvidos diversos modelos e métodos. Estes modelos e métodos não têm o mesmo
significado, embora às vezes esteja confusa esta informação na literatura.
A Figura 1 ilustra os modelos teóricos de causalidade, que irão ser abordados de seguida,
organizados segundo a classificação de Hollnagel.
7
Teoria do Dominó (1931)
Transferência de Energia (1973)
Modelos Sequenciais Perda de Controlo (1974)
Desvios (1984)
Evolução dos Acidentes e das Barreiras Funcionais (1991)
Incubação de Acidentes de Trabalho (1978)
Modelos Epidemiológicos
Acidentes Organizacionais (1997)
Acidentes Normais (1984)
Modelos Sistémicos
Sistemas sociotécnicos (1997)
Como referido por Hollnagel (2004), o modelo sequencial de acidentes tem uma
suposição clara sobre causalidade, onde é possível identificar as ligações causa-efeito que
propagam os efeitos do evento inesperado. O objetivo de uma análise de acidentes de
trabalho é, portanto, identificar essas ligações causa-efeito, indicando uma direção de
raciocínio que vai desde o acidente às causas subjacentes conforme ilustrado na Erro! A o
rigem da referência não foi encontrada..
8
(Fonte: adaptado de Hollnagel, 2004)
Nas primeiras versões dos modelos sequenciais os acidentes eram vistos como resultado
de uma causa única. Esta era uma visão muito simplista dos acidentes, visto que
considerava apenas um único fator explicativo para a ocorrência destes eventos. Contudo,
os modelos sequenciais mais recentes contemplam a possibilidade de alguns acidentes
poderem derivar de uma complexa interação e sequência de fatores (Areosa, 2012).
Segundo esta teoria, o acidente e a lesão seriam causados pela ocorrência de diversos
eventos encadeados no tempo: (1) personalidade com predisposição para acidentes; (2)
atos inseguros; (3) condições inseguras; (4) acidente; e (5) lesão (Heinrich, 1980, citado
por Iida, 1991).
9
De acordo com esta teoria, um acidente seria causado pela sequência de eventos acima
enumerados. Assim um trabalhador com características negativas de personalidade
(valentia, agressividade, teimosia, irresponsabilidade, etc.), tenderia a cometer atos
inseguros. Se estes atos encontrassem condições inseguras, resultariam em acidentes,
provocando lesões no trabalhador. A prevenção de acidentes deveria ser realizada pela
eliminação de uma das “peças do dominó”, para interromper a cadeia de transmissão de
eventos causadores de lesão (1980, Heinrich, citado por Iida, 1991).
A teoria da transferência de energia foi desenvolvida por Gibson e William Haddon Jr,
em 1973. Raouf (1998, citado por Correa & Cardoso Junior, 2007) descreve esta teoria
da seguinte forma: os trabalhadores sofrem lesões e os equipamentos sofrem danos devido
a uma mudança de energia, e para cada mudança de energia existe uma fonte, um caminho
e um recetor. Esta teoria é útil para determinar as causas da lesão e para a avaliar energias
perigosas e métodos de controlo
Neste modelo, uma pessoa ou objeto entra em contacto com uma energia prejudicial. Isso
significa que as barreiras não forneceram proteção suficiente. A energia prejudicial pode
assumir muitas formas, como um objeto a uma altura (da qual pode cair) ou a voltagem
elétrica, ou seja, energias no sentido tradicional. Uma parte essencial do modelo é o
conceito de barreira, que impede que a energia entre em contacto com a pessoa e cause
ferimentos (Harms-Ringdahl, 2001).
Bird (1974, citado por Jacinto et al., 2011) propôs a primeira atualização da teoria do
dominó, desenvolvendo uma nova teoria – Perda de controlo.
10
de gestão, os profissionais podem não receber conhecimento ou formação
suficiente, o que é o principal motivo da ‘perda de controlo’.
O modelo dos Desvios foi introduzido na Suécia por Urban Kjellén no final da década
de 1970, este modelo foi adaptado durante a década de 1980 por Harms-Ringdahl. Este
conceito envolve qualquer evento anormal que ‘se desvia’ da ‘norma’ estabelecida, ou
seja, do seu procedimento normal e planeado. A procura de ‘desvios’ pode ser feita para
funções técnicas, humanas e organizacionais, com base nas atividades de trabalho. A ideia
fundamental é que os ‘desvios’ da norma podem constituir ou representar um perigo
(Jacinto et al., 2011).
Svenson, (1991, citado por Hollnagel, 2004) descreveu a evolução que levou a um
acidente como uma cadeia ou sequência de falhas, mau funcionamento e erros. Este
modelo representou o desenvolvimento de um acidente como uma sequência de etapas
pertencentes aos fatores humanos/sistema organizacional ou ao sistema técnico. Cada
etapa representava a falha ou mau funcionamento de um componente ou uma função
realizada incorretamente dentro de cada sistema, e as barreiras, ditas funcionais, foram
usadas para indicar como o desenvolvimento do acidente poderia ser interrompido.
Os modelos sequenciais resultam bem para um acidente causado por erros humanos ou
falha de componentes de um sistema, mas não podem descrever de forma abrangente as
causas de acidente num sistema sociotécnico complexo. Além disso, nestes modelos, a
visão multifacetada complexa dos fatores humanos não está representada. Assim, nos
modelos de análise sequencial de acidentes, é difícil analisar as consequências
relacionadas com fatores humanos, como a desconsideração da ética da engenharia,
resultando numa lacuna nos modelos sequenciais (Haghighattalab, Chen, Fan, &
Mohammadi, 2019).
11
Na teoria epidemiológica o acidente resulta da interação entre hospedeiro (pessoa), agente
(ferramentas, sistemas tecnológicos, etc.) e ambiente de trabalho (físico e social) (Correa
& Cardoso Junior, 2007).
Estes modelos diferem dos modelos sequencias de acidente em quatro aspetos principais
- desvio de desempenho, condições ambientais, barreiras e condições latentes (Hollnagel,
2004):
• A noção de um ato inseguro que muitas vezes era tratado como sinónimo de “erro
humano”, foi gradualmente substituída pela noção de desvio de desempenho.
• O conceito de condições ambientais foi utilizado como forma de tornar a análise
mais aberta, estas existem tanto para humanos como para tecnologia.
• As barreiras impedem a ocorrência de consequências inesperadas e podem
interromper o desenvolvimento do acidente em última instância.
• As condições latentes que se trataram do conceito mais importante, no início eram
designadas de falhas latentes. As condições latentes estão presentes no sistema
bem antes do início de uma sequência de acidentes, e podem ser atribuídas a
processos organizacionais, design, construção, procedimentos, manutenção,
formação ou comunicação.
12
Os modelos epidemiológicos são importantes porque fornecem uma base para discussão
da complexidade dos acidentes, que superam as limitações dos modelos sequenciais
(Hollnagel, 2004).
O modelo epidemiológico dos acidentes também foi, em parte, adaptado para explicar os
acidentes organizacionais. Reason sugeriu que as condições nos sistemas técnicos ou
organizações com tecnologias complexas poderiam ser vistas como uma analogia a
agentes patogénicos no corpo humano, os quais seriam ativados por fatores
locais/ambientais com capacidade para violar ou contornar o sistema imunitário (as
barreiras ou proteções) que por sua vez provocariam a doença (o acidente). Por si só os
designados agentes patogénicos não teriam capacidade para desencadear o acidente, visto
que necessitam que estejam criadas condições locais adequadas para eles poderem atuar.
Esta analogia foi designada pelo autor como a “metáfora do agente patogénico residente”,
onde está implícito que não existem sistemas completamente autoimunes aos acidentes
(Areosa, 2010).
13
imprudência, e assim as medidas preventivas são dirigidas no sentido de se restringir a
variabilidade indesejável do comportamento humano. Na aproximação do sistema
considera-se que os humanos falham e os erros são esperados, mesmo nas melhores
organizações. A ideia central é a dos sistemas de defesa, ou seja, toda tecnologia perigosa
possui barreiras e salvaguardas. Quando um evento adverso ocorre o importante não é
quem cometeu o erro, mas sim perceber como e porque as defesas falharam (Correa &
Cardoso Junior, 2007).
14
(Fonte: adaptado de Reason, 2000)
15
envolvidas. Concentra-se em questões importantes, como a maneira como os objetivos e
valores são comunicados, como as atividades operacionais são monitorizadas por meio
de relatórios de incidentes aos reguladores e como os limites da operação segura são
identificados e comunicados. Este modelo incorpora a dinâmica competitiva e o ambiente
comercialmente agressivo em que muitas empresas atuam atualmente (Jacinto et al.,
2011).
16
3. ALGUNS MÉTODOS DE INVESTIGAÇÃO DE ACIDENTES DE
TRABALHO
O método WAIT (Work Accidents Investigation Technique), foi desenvolvido para o uso
dos acidentes de trabalho na indústria, pelos autores Jacinto e Aspinwall em 2002.
17
1. A crença de que todas as ações erróneas humanas ocorrem num contexto específico
e que esse contexto pode ser descrito como uma combinação de indivíduos, fatores
tecnológicos e organizacionais;
2. A necessidade de fazer uma distinção clara entre o que pode ser observado e o que
pode ser inferido a partir das observações.
O método possui nove etapas sequencias agrupadas em dois estágios principais, de acordo
com a Figura 7:
A técnica faz uma distinção clara entre eventos observáveis e descobertas inferidas. O
primeiro estágio – a investigação básica – geralmente lida com os elementos observáveis
do sistema. O método também permite que o processo seja realizado por uma única
pessoa, se necessário, que é a prática atual na maioria das empresas. Por outro lado,
durante o segundo estágio – a análise aprofundada – a colaboração de uma equipa é
altamente recomendada, pois será necessário fazer suposições e deduções, em relação a
possíveis relações de causa-efeito num nível superior da organização (Jacinto &
Aspinwall, 2003).
O método 3CA (Control Change Causa Analysis), desenvolvido por John Kingston em
2001 (Kingston, 2002), teve como objetivo apoiar os supervisores a analisar as causas
principais dos incidentes. Oito anos depois, foi publicada uma nova versão do 3CA
(formulário B) (Kingston, Koornneef, Frei, & Schallier, 2009). E, em 2010 foi publicado
o formulário C (Kingston, Koornneef, Frei, & Schallier, 2010) onde se solicita ao
utilizador que veja as coisas do ponto de vista das pessoas envolvidas, e inova na
perspetiva de ajudar o analista a evitar problemas associados ao “raciocínio contra
factual”. A análise do 3CA foi projetada para ajudar o analista a: examinar
18
minuciosamente um evento significativo sob várias perspetivas e registar os seus
pensamento, ideias e perguntas.
Antes de se iniciar a análise, é necessário que as pessoas certas sejam envolvidas, pois
uma abordagem em equipa geralmente é mais eficaz, e torna-se essencial fazer anotações
durante a discussão de forma a que outras pessoas possam entender a análise. O processo
3CA deve ser iniciado assim que existirem dados básicos sobre o que aconteceu, seguindo
a seguinte lógica (Kingston et al., 2010):
19
O método MORT (Management Oversight and Risk Tree), desenvolvido por Johnson em
1980, é um procedimento analítico abrangente que fornece um método disciplinado para
determinar as causas e fatores contribuintes de acidentes graves. Este método foi
elaborado para: impedir omissões e erros de gestão; resultar na identificação, avaliação e
encaminhamento de riscos residuais para níveis de gestão adequados para ação apropriada
e para otimizar a alocação de recursos disponíveis para o programa e esforço individual
de controlo de riscos (Knox & Eicher, 1992).
“Para cada ramo principal e consequentes ramificações, existe uma lista muito completa
de perguntas chave que vão servindo de guião à tarefa de investigação e análise” (Jacinto,
2005).
20
(Fonte: Jacinto, 2005)
21
4. ACIDENTES DE TRABALHO EM CONTEXTO HOSPITALAR
São variados os riscos a que estes profissionais estão sujeitos, como mencionado acima,
nomeadamente:
Risco Biológico:
22
cuidados aos pacientes ou seus fluidos corporais também podem ser vítimas de acidentes
biológicos, tais como trabalhadores de limpeza, lavandaria, manutenção e recolha de lixo
(Silva, Almeida, Paula, & Villar, 2009).
Riscos Físicos:
“Na área hospitalar, os riscos inerentes às radiações ionizantes são um dos mais graves
problemas para os profissionais. Em Portugal existem cerca de 11.000 trabalhadores que
se expõem, de forma sistemática, às radiações ionizantes, sendo a larga maioria, cerca de
82%, pertencente ao setor da saúde” (Filipe, 2012).
Riscos Químicos:
Riscos Psicossociais:
23
insegurança laboral, a intensificação do trabalho e as fortes exigências emocionais no
trabalho.
“Um estudo que envolveu 22.000 trabalhadores de 130 profissões distintas concluiu que,
entre as 27 profissões caracterizadas como sendo aquelas que estavam mais associadas
ao stresse, sete pertenciam ao setor da saúde”. De entre todos os riscos, a síndrome de
burnout (esgotamento físico e mental) é um dos que afetam mais profissionais desta área,
cerca de 25% (Filipe, 2012).
24
Infeções, lesões lombares, danos por quedas, acidentes com substâncias químicas ou com
corto-perfurantes contaminados ou lesões por exposições excessivas a radiações
ionizantes são as consequências para os profissionais de saúde, agravadas pela pressão
contemporânea para que as tarefas sejam realizadas o mais rápido possível e com uma
ajuda cada vez mais precária. Indubitavelmente, todas estas condições contribuem para
um agravamento dos riscos profissionais nas instituições de saúde (DSP, 2010).
Segundo Martins et al. (2012), num estudo sobre acidentes de trabalho e as suas
repercussões num hospital ao Norte de Portugal, a principal causa de acidentes foi a
picada de agulha (45,7%) e a lesão mais prevalente verificou-se nos membros superiores
(43,2%), sendo as feridas o tipo de lesão mais frequente (32,6%).
“Num estudo realizado em 26 unidades de saúde da área de Paris, refere que a principal
causa de baixa ao trabalho são as lesões músculo-esqueléticas que afetam 16% dos
trabalhadores. Em Inglaterra, Stubbs (1983), numa amostra de 3921 enfermeiros do
Serviço Nacional de Saúde, menciona que 43,1% sofreram de lombalgia de esforço e 17%
destes tiveram de aceder a baixa” (citado por Silva, 2008).
25
Por outro lado, em Portugal, num estudo realizado por Ferreira (2005, citado por Silva,
2008) envolvendo uma amostra de 288 enfermeiros de um Hospital Central da zona
Norte, distribuídos por 3 serviços distintos, nomeadamente, Medicina, Cirurgia e
Cuidados Intensivos, verificou-se uma prevalência de 52% de acidentes de serviço, sendo
o tipo mais referenciado a picada acidental (41% dos registos) seguido da lombalgia de
esforço (24,7%). De acordo com a mesma fonte, no que diz respeito às causas que
provocaram o acidente a mais expressiva foi a mobilização de doentes (26,9%).
26
Os gráficos seguintes pretendem esquematizar a estatística de acidentes de trabalho não
mortais do Gabinete de Estratégia e Planeamento (GEP), relativos a 2017, no setor de
atividade económica de Atividades de saúde humana e apoio social (GEP, 2019). Estes
dados são relativos a “Portugal e Estrangeiro”, pois não existem dados relativos aos
Agentes Materiais (Desvio e Contacto) no “Continente”.
Segundo o GEP, em 2017, ocorreram 209 390 acidentes de trabalho, dos quais 17 540
(8,38%) dizem respeito a acidentes de trabalho ocorridos no setor em estudo (GEP, 2019).
Verifica-se que segundo o GEP, no setor Q, o sexo feminino é o mais visado por sinistros
laborais com 83% (Figura 11).
17%
83%
Homens Mulheres
Figura 11- Acidentes de trabalho, no setor Q, segundo o sexo do sinistrado (N=17540), em 2017
Relativamente ao escalão etário, é possível verificar que o grupo dos 45 aos 54 anos é o
mais visado por sinistros laborais (28,0%), seguido pelos grupos dos 35 aos 44 anos e o
dos 25 aos 34 anos, com respetivamente, 24,0% e 23,0% (Figura 12), sendo estas,
também, as faixas etárias que incluem a maior parte da população ativa.
27
Figura 12- Distribuição de Acidentes de trabalho, no setor Q, segundo o escalão etário (N=17540), em 2017
Figura 13- Distribuição de Acidentes de trabalho, no setor Q, segundo a atividade física (N=17 540), em 2017
28
de transporte, equipamento manuseado, ferramenta manual, objeto ou animal (Figura 14).
Figura 14- Distribuição de Acidentes de trabalho, no setor Q, segundo o desvio (N=17 540), em 2017
Verifica-se que a maior percentagem de agente material do desvio diz respeito a “nenhum
agente material/nenhuma informação” com cerca de 38%, seguindo-se de “organismos
vivos e seres humanos” com cerca 21%, de “ferramentas manuais – não motorizadas”
com cerca de 14% e ainda de “Edifícios, superfícies – ao nível do solo” com cerca de
6,4% (Figura 15).
29
Figura 15- Distribuição de Acidentes de trabalho, no setor Q, segundo o agente material do desvio (N=17 540), em
2017
Figura 16- Distribuição de Acidentes de trabalho, no setor Q, segundo o contacto (N=17 540), em 2017
Segundo o agente material do contacto verifica-se que o mais visado foi “edifícios,
superfícies – ao nível do solo” com 22,3%, seguindo-se de “organismos vivos e seres
humanos” com 19,1%, “nenhum agente material ou nenhuma informação” com 16,1% e
“Ferramentas manuais – não motorizadas” com 15,7% (Figura 17).
30
Figura 17- Distribuição de Acidentes de trabalho, no setor Q, segundo o agente material do contacto (N=17 540),
em 2017
Segundo o escalão de dias perdidos, verificou-se que 19,6% dos acidentes tiveram 30 a
365 dias de ausência ao trabalho, 14,6% tiveram 7 a 13 dias de ausência ao trabalho,
sendo que a maior percentagem (44,6%) de acidentes de trabalho não tiveram ausência
ao trabalho (Figura 18).
Figura 18- Distribuição de trabalho, no setor Q, segundo o escalão de dias perdidos (N=17 540), em 2017
A natureza de lesão mais referenciada, pelo GEP, foram as feridas e lesões superficiais
(48,8%), destacam-se ainda as deslocações, entorses e distensões (29,3%) (Figura 19).
31
Figura 19- Distribuição de Acidentes de Trabalho, no setor Q, segundo a natureza da lesão (N=17 540), em 2017
Figura 20- Distribuição de Acidentes de Trabalho, no setor Q, segundo a parte do corpo atingida (N=17 540), em
2017
32
que 9,0% dos acidentes de trabalho no setor de atividades humanas e apoio social são
responsáveis pela totalidade de acidentes de trabalho.
Figura 21- Nº de ATs em 2015, 2016 e 2017. Gráfico A: Totalidade de ATs; Gráfico B: Nº de ATs no Setor Q
33
III. Metodologia
A escolha do processo RIAAT como a ferramenta utilizada para a análise e investigação
dos acidentes de trabalho em estudo prendeu-se com o facto de esta ter começado a ser
utilizada na empresa, onde a autora do trabalho se encontra a desenvolver atividade como
Técnica de Higiene e Segurança no Trabalho, no início de 2018. Pessoalmente, o facto
de ter começado a trabalhar com o processo RIAAT despertou-me ainda mais interesse
de o compreender melhor e aplicá-lo corretamente de forma a promover uma melhoria
contínua nas organizações, através da aprendizagem organizacional que se obtém
aquando a resolução do plano de ação extraído da análise e investigação de acidentes de
trabalho, tornando-se desta maneira uma medida preventiva de segurança.
O processo RIAAT tem como objetivo promover boas práticas relacionadas com
acidentes de trabalho, que combina uma metodologia estruturada e um protocolo do tipo
“impresso-padrão” (Jacinto, Soares, Fialho, & Silva, 2010).
34
Estado da
Arte
(Teoria)
RIAAT
Estado da
Arte Legislação
(Prática)
Este método foi desenvolvido tendo por base o modelo teórico de causalidade de Reason.
Ilustra-se na Figura 23 as quatro partes sequenciais da estrutura do processo RIAAT: o
registo dos dados, a investigação e análise do acidente, a implementação do plano de ação
com as propostas corretivas e por fim, a aprendizagem organizacional.
35
proposto por Reason, que diz respeito à legislação de SST com o objetivo de encontrar
possíveis problemas legais. A Figura 24 resume-se da seguinte forma (Jacinto et al.,
2010):
A Parte III do processo tem como objetivo “corrigir e melhorar” através da verificação
da avaliação de riscos e do estabelecimento de um plano de ação adequado e praticável.
36
Este plano de ação contempla a identificação do nível de prioridade (Curto prazo: <1mês;
Médio Prazo: 1 a 6 meses; e Longo Prazo: >6 meses), as medidas corretivas/de melhoria,
os responsáveis pela implementação das medidas e o custo estimado da mesma.
37
2. APRESENTAÇÃO DAS UNIDADES EM ESTUDO
O presente estudo foi realizado em hospitais privados e clínicas de saúde privadas, que
se inserem na Classificação das Atividades Económicas na secção Q, subclasse 861.
Fazendo a autora deste trabalho parte da equipa, é responsável pela segurança dos
trabalhadores em dois hospitais de média dimensão e duas clínicas de saúde.
No entanto, um dos grandes obstáculos para o serviço de saúde ocupacional tem a ver
com o facto do mesmo não ter qualquer acesso ao número total de trabalhadores em cada
unidade nem, ao respetivo número de horas-homem trabalhadas (NhHT),
impossibilitando o cálculo dos índices de sinistralidade. No relatório único apenas
existem dados dos números de colaboradores referentes a trabalhadores com contrato com
a unidade, no entanto, verifica-se que a grande maioria dos acidentes são referentes a
prestadores de serviços.
A dificuldade de se obter, por parte dos Recursos Humanos, dados credíveis sobre as
variáveis indispensáveis ao cálculo dos índices de sinistralidade prende-se com a
existência de um grande número de trabalhadores com contrato de prestação e também
com a grande rotatividade de profissionais, nestas organizações de saúde.
38
3. ETAPAS
Numa última etapa, foi realizada a análise e discussão dos resultados obtidos.
39
Figura 25- Etapas do estudo
4. AMOSTRA
Foi feita a análise de acidentes de trabalho relativos aos anos de 2017 e 2018, em oito
hospitais, oito clínicas e um instituto de saúde.
40
Figura 26- Classificação das unidades
Na totalidade, ocorreram 555 acidentes de trabalho nas unidades, sendo que 112
ocorreram fora das instalações (in itinere, domicílio ou eventos da empresa) e 443
ocorreram nas instalações (Tabela 2). Neste estudo apenas vão ser tratados os acidentes
de trabalho ocorridos nas instalações (N=443), pois são aqueles que são possíveis de
implementar medidas para a prevenção de acidentes de trabalho.
Tabela 2- Acidentes de trabalho ocorridos em 2017 e 2018 nas unidades em estudo
2017 196 45
2018 247 67
41
Tabela 3- Número de AT por unidade
Nº Nº Nº
Classif. Classif. Classif.
AT AT AT
Hospital H 2 Clínica E 1
Instituto A 18 Clínica F 3
total 18
5. TRATAMENTO DE DADOS
Para o tratamento dos dados recorreu-se ao programa informático Statistical Package for
the Social Sciences (SPSS ©) (version 26). Foi realizada estatística descritiva recorrendo
a parâmetros de localização (Frequência, Médias, Medianas ou percentagens) e de
dispersão (amplitude e desvio padrão), estatística inferencial e, foi ainda aplicado o
princípio de Pareto com o objetivo de identificar as causas/consequências responsáveis
por aproximadamente 80% dos acidentes de trabalho. A utilização do princípio de Pareto
pareceu-nos adequada pois permite definir melhor o problema ao identificar as principais
causas/consequências (em função da variável em estudo).
42
Relativamente à Parte I do RIAAT a análise dos dados incidiu sobre as variáveis: sexo
do sinistrado, escalão etário, categoria profissional, local do AT, escalão de dias perdidos,
atividade física, desvio, agente material do desvio, contacto, agente material do contacto,
natureza da lesão e parte do corpo atingida.
43
IV. Resultados
Neste capítulo apresentam-se os resultados da aplicação do processo RIAAT, dividindo
os resultados em duas partes:
As variáveis - idade, dias perdidos, tipo de lesão e parte do corpo atingida - foram
classificadas segundo a metodologia adotada pelo GEP de modo a possibilitar uma
comparação entre os resultados obtidos e padrões de referência.
Tal como referido no ponto 4 do capítulo III, apenas irão ser analisados os acidentes de
trabalho que ocorreram no interior das instalações de saúde.
44
1. PARTE I – REGISTO DOS ACIDENTES DE TRABALHO
A idade permite caracterizar os sinistrados, como se verifica na Figura 27, a maioria dos
sinistrados encontra-se no escalão etário dos 25 aos 34 anos (29,6%), sendo que não difere
muito das faixas etárias dos 35 aos 44 anos (26,0%) e dos 45 aos 54 anos (24,4%).
Estas três faixas etárias foram, também as mais referenciadas pelo GEP (GEP, 2019).
(Figura 12).
45
1.1.2. Sexo do sinistrado
Figura 28- Distribuição de AT segundo o sexo do sinistrado e por classificação de unidade (N=443)
46
(~19%) como as categorias profissionais com predominância relevante na ocorrência de
acidentes de trabalho.
Todavia, de acordo com o teste Kruscal-Wallis, verificou-se que não existem diferenças
significativas entre as classes de unidade hospitalar no que respeita à variável categoria
profissional, k=1,174 e p>0,05.
47
1.2.DADOS RELATIVOS ÀS CARACTERÍSTICAS DO LOCAL DE
TRABALHO, DAS CONDIÇÕES E DA ATIVIDADE EM SI
48
De acordo com o teste Kruscal-Wallis, verificou-se que existem diferenças significativas
entre as classes de unidade hospitalar no que respeita à variável serviço/local de
ocorrência, k=11,108 e p<0,05.
49
Figura 31- Distribuição de AT segundo a modalidade de horário de trabalho (N=443)
50
Figura 32- Distribuição de AT segundo o intervalo-hora de ocorrência (N=443)
51
• Dentro do código 40-Manipulação de objetos, 47% corresponde ao subcódigo 41-
Pegar à mão, agarrar, prender, manter na mão, colocar (num plano horizontal);
• Dentro do código 60-Movimento, 54% corresponde ao subcódigo 61-Andar,
correr, subir, descer, etc., e
• Dentro do código 50-Transporte manual, 47% corresponde ao subcódigo 52-
Transportar horizontalmente (puxar, empurrar um objeto) e 34% com o subcódigo
51-Tansportar verticalmente (levantar, baixar um objeto).
52
Verifica-se que os dados em estudo diferem dos dados publicados pelo GEP (2019), para
o setor Q, onde o código 60-Movimento foi o mais visado e onde o código 40-
Manipulação de objetos apenas foi responsável por 11% dos acidentes de trabalho (Figura
34). Todavia, quando se comparam os gráficos de Pareto relativos à distribuição de
acidentes, segundo a atividade física no sector Q (Figura 13) e nas Unidades em estudo
(Figura 33) percebe-se que, apesar da ordem poder variar, as 4 principais atividades
físicas especificas, responsáveis por 80% dos acidentes, são as mesmas, o que nos permite
afirmar que os resultados obtidos, neste estudo, são equiparados aos padrões de referência
utilizados.
Figura 34- Diferenças entre os dados em estudo e os dados do GEP na distribuição de AT segundo a atividade física
1.3.1. Desvio
53
• Dentro do código 70-Movimentos do corpo sujeitos a constrangimentos, 34%
correspondem ao subcódigo 72-Empurrar ou puxar um objeto, 24% correspondem
ao subcódigo 71-Levantar ou carregar um objeto, 20% ao subcódigo 75-Caminhar
pesadamente, passo em falso ou escorregamento (sem queda) e 14% ao subcódigo
74-Entorce, rotação, virando-se;
• Dentro do código 40-Perda de controlo de máquina, meio de transporte,
equipamento manuseado, ferramenta manual, objeto, 45% correspondem ao
subcódigo 41-Perda, total ou parcial, de controlo de objeto.
54
Figura 35- Distribuição de AT segundo o desvio (N=443)
A análise obtida dos acidentes de trabalho em estudo, no que diz respeito aos
acontecimentos desviantes mais relevantes, difere dos dados publicados pelo GEP (2019),
para o sector Q, como representado na Figura 36. No entanto, quando se comparam os
gráficos de Pareto relativos à distribuição de acidentes, segundo a variável desvio, no
sector Q (Figura 14) e nas Unidades em estudo (Figura 35) percebe-se que, apesar da
ordem poder variar existem, pelo menos, 2 acontecimentos desviantes comuns,
55
responsáveis por 80% dos acidentes; tais resultados revelam uma ténua equiparação aos
padrões de referência utilizados.
Figura 36- Diferenças entre os dados em estudo e os dados do GEP na distribuição de AT segundo o Desvio
56
• Dentro do código 17.00-Equip. de escritório e pessoais, material de desporto,
armas, equip. doméstico, 74% correspondem ao subcódigo 17.01-Mobiliário.
A análise obtida dos acidentes de trabalho em estudo, no que diz respeito aos agentes
materiais do desvio mais relevantes, difere dos dados publicados pelo GEP (2019), como
57
representado na Figura 38. Quando se comparam os gráficos de Pareto relativos à
distribuição de acidentes, segundo a a variável agente material do desvio, no sector Q
(Figura 15) e nas Unidades em estudo (Figura 37) percebe-se que, apesar da ordem poder
variar existem, pelo menos, 2 agentes materiais desviantes comuns, responsáveis por 80%
dos acidentes; tais resultados revelam uma ténua equiparação aos padrões de referencia
utilizados.
Figura 38- Diferenças entre os dados em estudo e os dados do GEP na distribuição de AT segundo o agente material
do desvio
1.3.3. Contacto
58
• Dentro do código 30-Esmagamento em movimento vertical/horizontal
sobre/contra objeto imóvel, verifica-se que 81% correspondem ao subcódigo 31-
Movimentos verticais, esmagamento sobre, contra (resultados de quedas).
59
A análise obtida dos acidentes de trabalho em estudo, no que diz respeito à variável
contacto, difere dos dados do GEP (2019) como representado na Figura 40. Todavia,
quando se comparam os gráficos de Pareto relativos à distribuição de acidentes, segundo
o contacto no sector Q (Figura 16) e nas Unidades em estudo (Figura 39) percebe-se que,
apesar da ordem poder variar, os 3 principais contactos, responsáveis por 80% dos
acidentes, são os mesmos, o que nos permite afirmar que os resultados obtidos, neste
estudo, são equiparados aos padrões de referência utilizados.
Figura 40- Diferenças entre os dados em estudo e os dados do GEP na distribuição de AT segundo o contacto
60
Relativamente à análise de acordo com a classificação das unidades (I, II e III), verifica-
se que em todas as classes de unidade hospitalar a maior predominância do agente
material do contacto também diz respeito aos agentes materiais identificados nos dados
globais.
A análise obtida dos acidentes de trabalho em estudo, no que diz respeito à variável agente
material do contacto, difere dos dados publicados pelo GEP (2019) conforme apresentado
na Figura 42. Porém, quando comparados os gráficos de Pareto relativos à distribuição
de acidentes, segundo o agente material do contacto no sector Q (Figura 17) e nas
Unidades em estudo (Figura 41) percebe-se que, apesar da ordem poder variar, os 4
principais agentes materiais do contacto responsáveis por 80% dos acidentes, são os
mesmos, o que nos permite afirmar que os resultados obtidos, neste estudo, são
equiparados aos padrões de referência utilizados.
61
Figura 42- Diferenças entre os dados em estudo e os dados do GEP na distribuição de AT segundo o agente material
do contacto
62
Figura 43- Distribuição de AT segundo a natureza da lesão (N=443)
Quando comparamos os dados dos acidentes de trabalho em estudo, no que diz respeito
à variável natureza da lesão “conhecida”, verificamos que os resultados são semelhantes
aos dados publicados pelo GEP (2019), para o sector Q (Figura 19), conforme
apresentado na Figura 44, o que nos permite afirmar, mais uma vez, que os resultados
obtidos, neste estudo, são equiparados aos padrões de referência utilizados.
Figura 44- Diferenças entre os dados em estudo e os dados do GEP na distribuição de AT segundo a natureza da
lesão
63
1.4.2. Parte do corpo atingida
Quando comparamos os dados dos acidentes de trabalho em estudo, no que diz respeito
à variável “parte do corpo atingida”, verificamos que os resultados são semelhantes aos
dados publicados pelo GEP (2019), para o sector Q (Figura 20) conforme apresentado na
Figura 46.
64
Figura 45- Distribuição de AT segundo a parte do corpo atingida (N=443)
Figura 46- Diferenças entre os dados em estudo e os dados do GEP na distribuição de AT segundo a parte do corpo
atingida
65
escalões de dias perdidos, os “sem dias de ausência” (63%) e as ausências compreendidas
entre “30 a 365 dias” (11%).
Relativamente à análise de acordo com a classificação das unidades (I, II e III), verifica-
se que nas classes de unidade hospitalar pertencentes à classificação I, o escalão de dias
perdidos também diz respeito aos escalões identificados, nos dados globais. No entanto,
nas classes de unidade hospitalar pertencentes às classificações II e III, o escalão “7 a 13
dias” apresenta uma maior percentagem que o escalão “30 a 365 dias”, o que sugere que
os acidentes ocorridos em unidades mais pequenas são, geralmente, de menor gravidade.
66
Quando se comparam os gráficos de Pareto relativos à distribuição de acidentes, segundo
o “escalão de dias perdidos” no sector Q (Figura 18) e nas Unidades em estudo (Figura
47) percebe-se que os resultados obtidos, neste estudo, são equiparados aos padrões de
referência utilizados. Esta equivalência é ainda verificada na proporção relativa de cada
variável, conforme apresentado na Figura 48.
Figura 48- Diferenças entre os dados em estudo e os dados do GEP na distribuição de AT segundo o escalão de dias
perdidos
Na Tabela 4, verifica-se que na variável contacto, o código 50- Contacto com Agente
material cortante, afiado, áspero” representa o fator mais presente no total de acidentes
ocorridos (com ~33% dos registos (N=145)). No entanto, não se verifica na sua grande
maioria (91% dos casos) a ocorrência de dias de ausência ao trabalho; esta situação
representa o caso das “picadas acidentais”, que são notificadas, mas, no entanto, não
originam, na sua maioria, dias de trabalho perdidos. Em contrapartida, e por análise da
mesma tabela é possível observar que o código 70- Constrangimento físico do corpo,
constrangimento psíquico é a segunda variável do contacto que mais contribuiu para o
número de acidente ocorridos (com ~27% dos registos (N=120)) e a variável com maior
registo de dias perdidos (~61% dos casos reportados e representando ~44% dos acidentes
que originaram dias perdidos); importa referir que estas situações estão ligadas à
movimentação manual de doentes e movimentação de cargas/objetos.
67
Tabela 4- Relação entre a variável contacto e o escalão de dias perdidos
Não existe nas unidades de saúde analisadas uma tipologia de acidente muito bem
definida. No entanto, com base na análise global da Parte I, verifica-se que no período
em análise é possível destacar dois acidentes “típicos” considerando que existem, pelo
menos 2 “contactos” com uma proporção muito equilibrada. Assim o Acidente típico
poderá ser descrito como o que aconteceu:
§ a uma mulher (83%), na faixa etária dos 25-34 anos (~30%), auxiliar de ação
médica (37%), enquanto manipulava objetos (38%), no período das 9 às 11h59
(28%), no Internamento (19%).
§ onde a vítima terá sofrido um acidente do Tipo I associado ao “contacto com
agente material cortante, afiado, áspero” (33%) ou então um acidente do Tipo II
associado a “constrangimentos físicos do corpo” (27%). Estas duas modalidades
de acidentes foram possivelmente causadas por movimentos indevidos do corpo,
quer tenham sido “sem constrangimento físico” (26,2%), quer “movimentos com
constrangimento físico” (25,5%), ou ainda causados pela “perda de controlo” de
objetos (23%). Esta última causa estará mais relacionada com o acidente Tipo I
que envolve o contacto com “agentes materiais cortantes, afiados ou ásperos”.
§ ocasionando sobretudo, “feridas e lesões superficiais” (47%) nas “extremidades
superiores” (56,4%), em particular nos “dedos” (57%) não originando contudo, o
afastamento do trabalhador do seu local de trabalho (63%).
68
Tabela 5 - Definição do acidente-tipo
Acidente-Tipo
69
2. PARTE II – ANÁLISE E INVESTIGAÇÃO APROFUNDADA DE AT
De acordo com a parte II do processo RIAAT foram considerados nesta fase da análise
as falhas humanas, os fatores individuais contributivos, os fatores do local de trabalho e
os fatores organizacionais e de gestão.
A análise das falhas humanas tem como objetivo encontrar e analisar quaisquer ações
humanas erróneas que causaram ou contribuíram/facilitaram para a ocorrência do
acidente.
A análise das falhas humanas foi realizada segundo: o tipo de erro – deslizes (falhas de
atenção), lapsos (falhas de memória) ou enganos (ações intencionais); e o tipo de
violações. Quando nenhuma das opções era aplicável, a opção “não se aplica” é
selecionada para caracterizar esta variável.
70
Verifica-se que 65% das falhas humanas dizem respeito a deslizes, ou seja, falhas de
atenção, dos quais 74% foram da responsabilidade do próprio sinistrado.
A Tabela 6 permite relacionar as falhas humanas com a antiguidade nas funções. Nesta
tabela foram excluídas destes dados as falhas humanas cometidas por terceiros e o
acidente de trabalho onde não foi identificada falha humana, ou seja, será considerado
um N=34.
Tabela 6 - Distribuição de AT segundo as falhas humanas identificadas e a antiguidade nas funções (N=34).
N % N % N % N % N % N
Da análise à Tabela 6, é possível observar que 60% dos deslizes (falhas de atenção) dizem
respeito a trabalhadores com mais de 5 anos nas funções, podendo estas estar relacionadas
com a realização de tarefas em modo automático. Os deslizes mais visados pelos sinistros
prendem-se com as atividades de colocação de agulhas nos contentores de corto-
perfurantes originando picadas e a perda de controlo de ferramentas médicas (curetas,
agulhas, cateteres) que originam cortes, golpes e picadas, verificou-se a falta de atenção
na realização das atividades executadas. As perdas de controlo de ferramentas
representam cerca de 32% dos deslizes identificados.
Os Enganos com 17% das ocorrências dos AT analisados, estão associados à aplicação
de más regras, situações onde os colaboradores realizam atividades de movimentação
manual de cargas/doentes adotando procedimentos errados.
O objetivo da análise dos fatores individuais contributivos é perceber quais os fatores que
influenciaram o comportamento ou contribuíram para as falhas humanas, podendo tratar-
se de fatores temporários, fatores permanentes ou outros fatores não incluídos na tabela
71
de classificação. Quando nenhuma das opções era aplicável, a opção “não se aplica” é
selecionada para caracterizar esta variável.
É possível verificar da análise à Figura 50, os fatores temporários que estiveram presentes
em 80% dos acidentes ocorridos, onde:
72
desviou a sua atenção para outra coisa, a tarefa pode ficar incompleta ou ocorrer perda de
orientação.
A análise dos fatores do local de trabalho tem como objetivo identificar quais os fatores
do local de trabalho que, direta ou indiretamente, contribuíram de forma negativa para a
ocorrência do acidente.
A análise dos fatores do local de trabalho foi realizada segundo: o ambiente físico de
trabalho/meio envolvente, os equipamentos ou ferramentas, a tarefa e trabalho, a
competência (habilitação profissional, formação e experiência), a informação e
comunicação, e o ambiente externo (condições climatéricas ou fenómenos naturais).
Quando nenhuma das opções era aplicável, a opção “não se aplica” é selecionada para
caracterizar esta variável.
Verifica-se, a partir da análise da Figura 52, os fatores do local de trabalho que estiveram
presentes em 80% dos acidentes ocorridos, onde:
73
objetos pequenos e cortantes o que pode afetar o equilíbrio/estabilidade do
sinistrado e 20% estão relacionados com tarefas muito exigentes.
A análise dos fatores organizacionais e de gestão tem como objetivo perceber quais os
fatores organizacionais e de gestão que influenciaram os acontecimentos e as condições
de trabalho insatisfatórias.
74
A análise dos fatores organizacionais foi realizada segundo: a gestão de topo
(empresarial), procedimentos e regras, fatores técnicos, formação e competência, e
fatores específicos de segurança (SST). Quando nenhuma das opções era aplicável, a
opção “não se aplica” é selecionada para caracterizar esta variável.
• O código 00-Sem informação ou não aplicável que representa 50% dos acidentes
analisados, onde não se verificou a contribuição de fatores organizacionais e de
gestão para a ocorrência do acidente.
• O código 20-Procedimentos e regras que representa 27% dos acidentes analisados.
Destes, 92,9% deveram-se à aplicação de procedimentos incorretos e más práticas
de trabalho. Relativamente à aplicação de procedimentos incorretos, verificou-se
em grande maioria situações onde o material corto-perfurante era colocado em
locais inadequados (ex. mesa de trabalho e sacos do lixo), devendo estes ser
depositados em contentores próprios para corto-perfurantes, logo após a sua
utilização, pelo próprio utilizador. Relativamente à aplicação de más práticas de
trabalho foram identificadas situações onde os profissionais adotavam práticas
incorretas na movimentação manual de doentes, sem auxílio de colega e sem
atenção nas posturas/movimentos que aplicavam para a realização da atividade.
75
para a ocorrência destes acidentes de trabalho. E, o código 40-Formação e competência
(com 10% dos registos), onde a política de formação e a identificação de necessidades
específicas de formação foram os fatores organizacionais e de gestão identificados.
76
1.5. PROPOSTAS DE CORREÇÃO
77
Tabela 8- Proposta de correção para os fatores Organizacionais e de Gestão identificados
Falta de sensibilização aos profissionais para a Sensibilizar para a utilização dos EPIs
Organizacionais e de gestão
78
V. Discussão
As organizações, cada vez mais, têm dois grandes objetivos: aumentar a produtividade e
reduzir custos, o que muitas vezes se reflete negativamente nas condições de trabalho que
são proporcionadas aos profissionais. O ritmo de trabalho intenso, a exigência das tarefas,
a rotatividade e o trabalho por turnos, que se verifica em muitas organizações contribuem
para o aumento do número de acidentes de trabalho.
Neste estudo, como expectável, as unidades de grande dimensão tiveram maior número
de acidentes de trabalho, seguindo-se das unidades de média e pequena dimensão devido
ao maior número de trabalhadores e serviços existentes nas mesmas.
Conforme apresentado na revisão sistemática, Ferreira (2005, citado por Silva, 2008)
aponta como o tipo de acidente mais frequente as picadas acidentais, o que vai de encontro
aos resultados apresentados, onde a variável de contacto mais frequente foi o “contacto
com agente material cortante, afiado, áspero” (81%). Sendo que, desta variável de
contacto identificada, o agente material mais visado foi justamente as agulhas e seringas
(61%). Também, a ACSS, identificou que o tipo de instituição onde se registou maior
número de acidentes de trabalho foram os Hospitais, o internamento foi identificado como
o serviço onde existe maior número de acidentes de trabalho, o sexo feminino foi o mais
visado, a picada de agulha foi a ação com mais peso que resultou em lesão, resultados
estes que se mostram semelhantes aos resultados apresentados.
Por sua vez, quando comparadas as variáveis do estudo com as variáveis de padrões de
referência (GEP, 2019), verifica-se que os principais fatores associados às variáveis
identificadas, que foram responsáveis por 80% dos acidentes de trabalho, são semelhantes
entre si embora a sua ordem possa variar. Estes resultados revelam equiparação aos
padrões de referência utilizados.
79
Através da análise aprofundada efetuada, verificamos que os deslizes, são as falhas
humanas mais cometidas pelos profissionais.
Relativamente aos fatores do local de trabalho, embora na maioria dos acidentes não se
tenha verificado a contribuição destes fatores, existe ainda uma contribuição de 25% no
que se refere ao ambiente físico e meio envolvente e 19% no que se refere a tarefas e
trabalho. Para estas situações deverão ser alertados os profissionais, em ações de
formação ou conversas informais para a importância de garantir que colocam os materiais
corto-perfurantes, logo após a sua utilização, nos contentores disponibilizados para o
efeito, assim como todos os equipamentos utilizados em local adequado e definido para
tal. Importa referir que a colocação/arrumação destes materiais/equipamentos deverá
realizar-se pelo próprio. Deverá ainda existir supervisão pelos responsáveis de serviço
que garantam que os mesmos cumprem com o estipulado.
No que se refere aos fatores organizacionais, na maioria dos acidentes não se verificou a
contribuição destes fatores. No entanto, 27% dos acidentes ocorridos devem-se à
aplicação de procedimentos incorretos e más práticas de trabalho. Importa aqui, reforçar
as regras e procedimentos estabelecidos com regularidade de forma a garantir o
cumprimento dos mesmos.
80
e se forem empregues cuidados no manuseamento de materiais perfuro-cortantes”
(Mendes & Areosa, 2014).
A citação acima referida assim como as medidas propostas para prevenir a ocorrência de
acidentes de trabalho, incidem sobretudo na importância de realização de ações de
formação assim como treino em situação real. Deverá ser prioridade nestas organizações
que exista um plano de ações de sensibilização no que se refere aos perigos existentes nos
locais de trabalho e aos riscos a que os profissionais estão sujeitos. Estas ações de
sensibilização deverão ser complementadas de forma programada com formações,
essencialmente, sobre riscos biológicos, riscos químicos e formações no âmbito de
ergonomia que incluam os riscos da movimentação manual de cargas e movimentação
manual de doentes assim como a adoção de posturas corretas para a realização das
diversas tarefas executadas.
É realizado, pelo Serviço de Saúde Ocupacional, um plano de ação para todos os acidentes
de trabalho e enviado para a respetiva chefia. Este plano de ação permite que as chefias
tenham conhecimento das medidas a implementar, dos responsáveis pela implementação
das medidas propostas assim como os prazos estipulados para a implementação das
medidas. No entanto, é importante realçar que não são só os trabalhadores que devem ser
sensibilizados para as questões da segurança. Deverá a direção das unidades em estudo
atribuir responsabilidades aos responsáveis de serviço para garantir que as medidas
propostas são efetivamente implementadas com o objetivo de criar locais de trabalho
seguros e, por sua vez, reduzirmos o número de acidentes de trabalho.
Importa referir, que durante a análise aprofundada dos acidentes de trabalhos não foram
identificados incumprimentos legais que possam ter contribuído para a ocorrência dos
acidentes. No entanto, foram identificados incumprimentos legais nas avaliações de
riscos que devem ser alvo de intervenção.
81
VI. Conclusões
As instituições hospitalares apresentam inúmeros riscos associados à saúde ocupacional,
devido à variedade de tarefas desempenhadas pelos profissionais. Estes profissionais
estão sujeitos a riscos biológicos, químicos, físicos, psicossociais, riscos no âmbito da
ergonomia entre outros.
Neste estudo foi utilizado o método RIAAT que permitiu evidenciar as causas imediatas,
humanas, organizacionais e de gestão mais relevantes nos acidentes de trabalho ocorridos
entre 2017 e 2018, assim como caracterizar a tipologia de acidente mais comum.
Após a análise dos dados relativos à parte I do RIAAT podemos dizer que não existe, nas
unidades de saúde estudadas, uma tipologia de acidente muito bem definida, contudo, no
82
período em análise, é possível destacar não um mas dois acidentes “típicos” considerando
que existem, pelo menos 2 “contactos” com uma proporção muito equilibrada. Assim,
o(s) Acidente(s)-Tipo poderá ser descrito como “o que aconteceu a uma mulher, na faixa
etária dos 25-34 anos, auxiliar de ação médica, enquanto manipulava objetos, no período
das 9 às 11h59, no Internamento; onde a vítima terá sofrido de um acidente do Tipo I
associado ao “contacto com agente material cortante, afiado, áspero” (33%) ou então um
acidente do Tipo II associado a “constrangimentos físicos do corpo” (27%). Estas duas
modalidades de acidentes foram possivelmente causadas por “movimentos indevidos do
corpo”, quer tenham sido “sem constrangimento físico” (26,2%), quer movimentos “com
constrangimento físico” (25,5%), ou ainda causados pela “perda de controlo” de objetos
(23%). Esta última causa estará mais relacionada com o acidente Tipo I que envolve o
contacto com “agentes materiais cortantes, afiados ou ásperos”; estes acidentes
ocasionaram sobretudo, “feridas e lesões superficiais” (47%) nas “extremidades
superiores” (56,4%), em particular nos “dedos” (57%) não originando, contudo, o
afastamento do trabalhador do seu local de trabalho (63%).
83
trabalho. No que diz respeito aos fatores organizacionais, na maioria dos acidentes não
se verificou a contribuição destes fatores, no entanto, 27% dos acidentes ocorridos
devem-se à aplicação de procedimentos incorretos e más práticas de trabalho.
Foi ainda possível, comparar a tipologia dos acidentes nas variáveis (Desvio, Agente
material de Desvio, Contacto, Agente material de Contacto, Tipo de lesão, Parte do Corpo
Atingida e Dias perdidos, com padrões de referência conhecidos (Sector de atividade –
Q, segundo, CAE 3ª rev.), tendo-se verificado um comportamento globalmente
semelhante nas variáveis: atividade física, contacto, agente material do contacto, natureza
da lesão, parte do corpo atingida e escalão de dias perdidos. Nas variáveis desvio e agente
material do desvio, os resultados revelam uma ténue equiparação aos padrões de
referencia utilizados.
84
De salientar, ainda, que inicialmente estava previsto verificar se a sinistralidade laboral
estava ou não sob controlo e avaliar o impacto da (não) implementação de medidas de
segurança; contudo, estes dois objetivos requerem o uso de gráficos/cartas de controlo
que por sua vez necessitam de dados para cálculo da taxa de frequência, dados estes que
não foram fornecidos pelos Recursos Humanos, nomeadamente as horas-homem
trabalhadas e o número total de trabalhadores, impossibilitando a concretização desses
objetivos.
A aplicação do método RIAAT foi importante para a realização deste estudo, pois
permitiu uma recolha inicial dos dados sobre os acidentes, a sua codificação e
interpretação, a identificação das causas e dos fatores que contribuíram para a ocorrência
dos acidentes, possibilitando, deste modo, o desenvolvimento de estratégias de
prevenção.
85
No contexto hospitalar, este método apresentou-se muito útil, pois sendo bastante
diversificados os acidentes de trabalho aqui ocorridos, as variáveis pré-definidas no
método RIAAT facilitaram a análise dos mesmos.
86
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90
Apêndice A – Participação de Sinistro de acidente de trabalho
91
92
Apêndice B – Guião de Entrevista
93
Apêndice C - Glossário de Termos e Acrónimos
Tipos de Erros
Violações
Normalmente envolvem “ir por atalhos”, seguindo o
caminho mais curto ou mais fácil para executar uma
Violações de tarefa. Estes atalhos podem tornar-se atitudes habituais
Rotina das pessoas, particularmente em ambientes de trabalho
permissivos que toleram comportamentos de risco e não
Ações
há́ sansões para o incumprimento.
deliberadas.
Podem também usar-se os termos: “pelo gozo” ou “pela
Desrespeito por
emoção” de o fazer. Refletem o facto das ações
Violações de regras,
humanas satisfazerem uma variedade de motivações
otimização procedimentos
diferentes, algumas delas não relacionadas com aspetos
ou normas de
funcionais da tarefa.
segurança pré-
O incumprimento é visto como essencial para conseguir
estabelecidas
fazer o trabalho. Têm origem em situações particulares
Violações de trabalho. Tipicamente são provocadas por fraquezas
necessárias organizacionais (e.g., pressa, falta de pessoal,
equipamentos que não está disponível, ou ainda
trabalho em condições atmosféricas extremas).
(Fonte: adaptado de Jacinto, 2005)
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