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Investigação e Análise de Acidentes de Trabalho em unidades

de saúde privadas

Dissertação elaborada com vista à obtenção do Grau de Mestre em Ergonomia

Orientadora: Prof.ª Doutora Filipa Catarina Vasconcelos da Silva Pinto Marto Carvalho

Júri:
Presidente:
Prof. Doutor Rui Miguel Bettencourt Melo
Vogais:
Prof.ª Doutora Filipa Catarina Vasconcelos da Silva Pinto Marto Carvalho
Prof.ª Doutora Maria Celeste Rodrigues Jacinto

Vitória Gameiro de Oliveira

2020
Agradecimentos
Em primeiro lugar gostaria de agradecer à professora Filipa Carvalho, pela paciência,
pela ajuda e acompanhamento constante ao longo de toda a dissertação.

Ao Dr. José Mesquita, por se mostrar sempre disponível em ajudar em tudo o que fosse
necessário e pela flexibilidade na gestão trabalho/faculdade.

Aos meus pais, que sem eles não teria sido possível fazer esta caminhada em direção à
concretização de mais um objetivo.

Ao meu namorado pela compreensão e por estar sempre presente.

Aos meus avós, aos que partiram e aos que felizmente continuam a fazer a minha vida
mais preenchida.

E à minha irmã por me permitir que a chateasse de vez em quando.

Agradeço ainda a todos os meus colegas de trabalho e de faculdade pela partilha de


conhecimentos e experiências que nos vão fazendo crescer todos os dias um bocado mais.

III
Resumo
Os hospitais acarretam vários riscos para os profissionais derivados das diversas
atividades realizadas. Torna-se necessário identificar os perigos e avaliar os riscos a que
estes estão sujeitos de forma a prevenir a ocorrência de acidentes de trabalho e criar locais
de trabalho seguros. Foi realizada neste estudo, uma análise e investigação dos acidentes
de trabalho ocorridos, em unidades de saúde privadas, nos anos de 2017 e 2018.

Recorreu-se ao método RIAAT – Registo, Investigação e Análise de Acidentes de


Trabalho, o estudo integrou a reclassificação de 443 acidentes de trabalho e a investigação
aprofundada de 52 acidentes, a partir da análise da informação referente à aplicação das
entrevistas semiestruturadas que permitiram obter o contributo direto dos sinistrados e
responsáveis de serviço (chefia).

Os resultados da investigação permitiram: a) caracterizar as causas (imediatas, humanas,


organizacionais e de gestão) mais relevantes dos acidentes de trabalho, b) caracterizar a
tipologia de acidente mais comum e c) comparar a tipologia dos acidentes nas variáveis
(Desvio, Agente material de Desvio, Contacto, Agente material de Contacto, Tipo de
lesão, Parte do Corpo Atingida e Dias perdidos, com padrões de referência conhecidos
(Sector de atividade – Q, segundo, CAE 3ª rev.).

Por fim, foram propostas algumas medidas para prevenir a ocorrência de acidentes de
trabalho nestas unidades.

Palavras Chave: Acidentes de Trabalho; Método RIAAT; Análise de Acidentes de


Trabalho; Unidades de saúde privadas; Prevenção; Segurança; Fatores influenciadores;
Acidente-tipo; Propostas de correção; Hospitais.

IV
Abstract
Hospitals present various risks for professionals derived from the various activities
carried out. It is necessary to identify the hazards and assess the risks to which they are
subjected in order to prevent accidents at work and create safe workplaces. This study
consists in an analysis and investigation of work accidents occurred in private health units
in the years 2017 and 2018.

The RIAAT method was used – Registration, Investigation and Analysis of Work
Accidents, the study integrated the reclassification of 443 work accidents and the in-depth
investigation of 52 accidents, from the analysis of information related to the application
of semi-structured interviews that allowed obtaining the direct contribution of the victims
and service managers (head).

The results of the investigation allowed: a) to characterize the most relevant causes
(immediate, human, organizational and management) of work accidents, b) to
characterize the most common type of accident and c) to compare the typology of
accidents in the variables (Deviation, Material Diversion Agent, Contact, Contact
Material Agent, Type of Injury, Part of the Affected Body and Lost Days, with known
reference standards (Sector of Activity - Q , second, CAE 3rd rev.).

Finally, some measures were proposed to prevent the occurrence of work accidents in
these units.

Keywords: Work Accidents; RIAAT method; Analysis of Work Accidents; Private health
units; Prevention; Safety; Influencing factors; Type accident; Correction proposals;
Hospitals.

V
Índice
AGRADECIMENTOS............................................................................................................................. III

RESUMO ...................................................................................................................................................IV

ABSTRACT ................................................................................................................................................ V

ÍNDICE ......................................................................................................................................................VI

ÍNDICE DE FIGURAS ......................................................................................................................... VIII

ÍNDICE DE TABELAS ............................................................................................................................XI

I. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 1

II. ENQUADRAMENTO TEÓRICO ................................................................................................... 4

1. ACIDENTES DE TRABALHO ................................................................................................... 4

2. CAUSALIDADE DE ACIDENTES DE TRABALHO .............................................................. 7

3. ALGUNS MÉTODOS DE INVESTIGAÇÃO DE ACIDENTES DE TRABALHO ............. 17

4. ACIDENTES DE TRABALHO EM CONTEXTO HOSPITALAR ....................................... 22

4.1. CARACTERIZAÇÃO GERAL ............................................................................................. 22

4.2. CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS FREQUENTES ................................................................ 24

4.3. REVISÃO SISTEMÁTICA ................................................................................................... 25

III. METODOLOGIA ....................................................................................................................... 34

1. RIAAT (REGISTO, INVESTIGAÇÃO E ANÁLISE DE ACIDENTES DE


TRABALHO) .............................................................................................................................. 34

2. APRESENTAÇÃO DAS UNIDADES EM ESTUDO .............................................................. 38

3. ETAPAS ....................................................................................................................................... 39

4. AMOSTRA .................................................................................................................................. 40

5. TRATAMENTO DE DADOS .................................................................................................... 42

IV. RESULTADOS ........................................................................................................................... 44

1. PARTE I – REGISTO DOS ACIDENTES DE TRABALHO ................................................. 45

1.1. DADOS RELATIVOS AO SINISTRADO............................................................................. 45

1.2. DADOS RELATIVOS ÀS CARACTERÍSTICAS DO LOCAL DE TRABALHO, DAS


CONDIÇÕES E DA ATIVIDADE EM SI ............................................................................. 48

1.3. DADOS RELATIVOS ÀS CAUSAS IMEDIATAS DO AT ................................................... 53

VI
1.4. DADOS RELATIVOS ÀS CONSEQUÊNCIAS DO AT ....................................................... 62

1.5. ACIDENTE TIPO ................................................................................................................ 68

2. PARTE II – ANÁLISE E INVESTIGAÇÃO APROFUNDADA DE AT ............................... 70

1.1. FALHAS HUMANAS........................................................................................................... 70

1.2. FATORES INDIVIDUAIS CONTRIBUTIVOS .................................................................... 71

1.3. FATORES DO LOCAL DE TRABALHO ............................................................................ 73

1.4. FATORES ORGANIZACIONAIS E DE GESTÃO............................................................... 74

1.5. PROPOSTAS DE CORREÇÃO ........................................................................................... 77

V. DISCUSSÃO .................................................................................................................................... 79

VI. CONCLUSÕES ........................................................................................................................... 82

BIBLIOGRAFIA ....................................................................................................................................... 87

APÊNDICE A – PARTICIPAÇÃO DE SINISTRO DE ACIDENTE DE TRABALHO ................... 91

APÊNDICE B – GUIÃO DE ENTREVISTA ......................................................................................... 93

APÊNDICE C - GLOSSÁRIO DE TERMOS E ACRÓNIMOS .......................................................... 94

VII
Índice de Figuras
Figura 1 - Modelos de Acidentes de Trabalho ................................................................. 8

Figura 2 - Modelo sequencial de acidentes ...................................................................... 9

Figura 4 - Teoria do "Dominó"......................................................................................... 9

Figura 5- Modelo epidemiológico dos acidentes ............................................................ 12

Figura 6- Modelo do Queijo Suíço ................................................................................. 15

Figura 7- Métodos de Acidentes de Trabalho de base ao desenvolvimento do RIAAT. 17

Figura 8- Esquema sobre as etapas do método WAIT ................................................... 18

Figura 9- Esquema da sequência de análise do 3CA ...................................................... 19

Figura 10 – Ramos principais do diagrama lógico ......................................................... 20

Figura 11- Topo da árvore MORT ................................................................................. 21

Figura 12- Acidentes de trabalho, no setor Q, segundo o sexo do sinistrado (N=17540),


em 2017 ....................................................................................................... 27

Figura 13- Distribuição de Acidentes de trabalho, no setor Q, segundo o escalão etário


(N=17540), em 2017.................................................................................... 28

Figura 14- Distribuição de Acidentes de trabalho, no setor Q, segundo a atividade física


(N=17 540), em 2017................................................................................... 28

Figura 15- Distribuição de Acidentes de trabalho, no setor Q, segundo o desvio


(N=17 540), em 2017................................................................................... 29

Figura 16- Distribuição de Acidentes de trabalho, no setor Q, segundo o agente material


do desvio (N=17 540), em 2017 .................................................................. 30

Figura 17- Distribuição de Acidentes de trabalho, no setor Q, segundo o contacto


(N=17 540), em 2017................................................................................... 30

Figura 18- Distribuição de Acidentes de trabalho, no setor Q, segundo o agente material


do contacto (N=17 540), em 2017 ............................................................... 31

Figura 19- Distribuição de trabalho, no setor Q, segundo o escalão de dias perdidos


(N=17 540), em 2017................................................................................... 31

VIII
Figura 20- Distribuição de Acidentes de Trabalho, no setor Q, segundo a natureza da lesão
(N=17 540), em 2017................................................................................... 32

Figura 21- Distribuição de Acidentes de Trabalho, no setor Q, segundo a parte do corpo


atingida (N=17 540), em 2017 ..................................................................... 32

Figura 22- Nº de ATs em 2015, 2016 e 2017. Gráfico A: Totalidade de ATs; Gráfico B:
Nº de ATs no Setor Q .................................................................................. 33

Figura 23- Principais domínios do desenvolvimento do método RIAAT ...................... 35

Figura 24- Processo RIAAT ........................................................................................... 35

Figura 25- Modelo de acidente subjacente à Parte II do RIAAT ................................... 36

Figura 26- Etapas do estudo ........................................................................................... 40

Figura 27- Classificação das unidades............................................................................ 41

Figura 28- Distribuição de AT segundo o escalão etário (N=443)................................. 45

Figura 29- Distribuição de AT segundo o sexo do sinistrado e por classificação de unidade


(N=443) ....................................................................................................... 46

Figura 30- Distribuição de AT segundo a categoria profissional (N=443) .................... 47

Figura 31- Distribuição de AT segundo o serviço/local da ocorrência (N=443) ........... 48

Figura 32- Distribuição de AT segundo a modalidade de horário de trabalho (N=443) 50

Figura 33- Distribuição de AT segundo o intervalo-hora de ocorrência (N=443) ......... 51

Figura 34- Distribuição de AT segundo a atividade física (N=443) .............................. 52

Figura 35- Diferenças entre os dados em estudo e os dados do GEP na distribuição de AT


segundo a atividade física ............................................................................ 53

Figura 36- Distribuição de AT segundo o desvio (N=443) ............................................ 55

Figura 37- Diferenças entre os dados em estudo e os dados do GEP na distribuição de AT


segundo o Desvio......................................................................................... 56

Figura 38 - Distribuição de AT segundo o agente material do desvio (N=443) ............ 57

Figura 39- Diferenças entre os dados em estudo e os dados do GEP na distribuição de AT


segundo o agente material do desvio ........................................................... 58

IX
Figura 40- Distribuição de AT segundo o contacto (N=443) ......................................... 59

Figura 41- Diferenças entre os dados em estudo e os dados do GEP na distribuição de AT


segundo o contacto ...................................................................................... 60

Figura 42- Distribuição de AT segundo agente material do contacto (N=443) ............. 61

Figura 43- Diferenças entre os dados em estudo e os dados do GEP na distribuição de AT


segundo o agente material do contacto ........................................................ 62

Figura 44- Distribuição de AT segundo a natureza da lesão (N=443) ........................... 63

Figura 45- Diferenças entre os dados em estudo e os dados do GEP na distribuição de AT


segundo a natureza da lesão ......................................................................... 63

Figura 46- Distribuição de AT segundo a parte do corpo atingida (N=443) .................. 65

Figura 47- Diferenças entre os dados em estudo e os dados do GEP na distribuição de AT


segundo a parte do corpo atingida ............................................................... 65

Figura 48- Distribuição de AT segundo o escalão de dias perdidos (N=443) ................ 66

Figura 49- Diferenças entre os dados em estudo e os dados do GEP na distribuição de AT


segundo o escalão de dias perdidos ............................................................. 67

Figura 50- Distribuição de AT segundo as falhas humanas identificadas (N=52) ......... 70

Figura 51- Distribuição de AT segundo os fatores individuais contributivos identificados


(N=52) ......................................................................................................... 72

Figura 52- Distribuição de AT segundo os fatores do local de trabalho identificados


(N=52) ......................................................................................................... 73

Figura 53- Distribuição de AT segundo os fatores organizacionais e de gestão


identificados (N=52) .................................................................................... 75

X
Índice de Tabelas
Tabela 1 - Conceitos e definições das variáveis utilizadas na investigação das causas
e consequências dos acidentes ....................................................................... 6

Tabela 2- Acidentes de trabalho ocorridos em 2017 e 2018 nas unidades em estudo ... 41

Tabela 3- Número de AT por unidade ............................................................................ 42

Tabela 4- Correlação entre a variável contacto e o escalão de dias perdidos ................. 68

Tabela 5 - Definição de acidente-tipo............................................................................. 69

Tabela 6 - Distribuição de AT segundo as falhas humanas identificadas e a


antiguidade nas funções (N=34). ................................................................. 71

XI
I. Introdução
A investigação dos acidentes de trabalho é uma técnica de segurança que visa descobrir
as causas que levaram à ocorrência dos acidentes em questão. Apesar da análise dos
acidentes de trabalho constituir uma obrigação legal (artigo 73º-B da Lei nº 3/2014 de
28/01) se o processo for inconsequente terá um impacto reduzido no seio das
organizações. Deste modo, só uma investigação aprofundada se evidencia como elemento
diferenciador capaz de auxiliar as organizações na identificação das reais prioridades de
intervenção em matéria de Segurança e Saúde no Trabalho nomeadamente para a
conceção e implementação de medidas preventivas adequadas, com o objetivo de
prevenir a ocorrência de acidentes semelhantes.

Reconhecendo a importância atribuída à Análise e Investigação dos Acidentes de


Trabalho (AT), o presente estudo realizado no âmbito do mestrado de Ergonomia da
Faculdade de Motricidade Humana para obtenção do grau de mestre em Ergonomia
pretende avaliar os AT ocorridos em diferentes unidades de saúde recorrendo para o efeito
ao método RIAAT (Registo, Investigação e Análise de Acidentes de Trabalho) (Jacinto,
Soares, Tiago, & Silva, 2011) utilizado pela organização, onde a autora deste estudo se
encontra desenvolver a atividade profissional enquanto Ergonomista, mas que por
questões de confidencialidade não será identificada.

Para além do interesse pessoal em perceber como os acidentes de trabalho influenciam as


organizações e de perceber como estes podem ser evitados/prevenidos, a temática
apresentada no estudo surgiu da necessidade de o tema apresentar-se como uma mais
valia nestas organizações. Porque será que cada vez mais assistimos a um aumento destes
acidentes de trabalho? Existe uma preocupação interna na gestão da segurança das
organizações? Será percetível os custos, para a organização e para os trabalhadores
(motivação, desempenho, etc.), associados à ocorrência de acidentes de trabalho?

Deste modo, partindo da Análise e Investigação dos acidentes de trabalho ocorridos


traçaram-se como objetivos específicos deste estudo:

• caracterizar as causas (imediatas, humanas, organizacionais e de gestão) mais


relevantes dos acidentes de trabalho ocorridos, em unidade de saúde privadas,
entre 2017 e 2018;

1
• verificar se a sinistralidade laboral está ou não sob controlo;
• avaliar o impacto da implementação de medidas de segurança;
• caracterizar a tipologia de acidente de trabalho mais comum;
• comparar a tipologia dos acidentes de trabalho por unidades hospitalares
organizadas em função tipo/dimensão da unidade (Hospital/Clínica), procurando
evidenciar as similitudes/diferenças e respetivas áreas prioritárias de intervenção;
• comparar a tipologia dos acidentes nas variáveis (Desvio, Agente material de
Desvio, Contacto, Agente material de Contacto, Tipo de lesão, Parte do Corpo
Atingida e Dias perdidos, com padrões de referência conhecidos (Sector de
atividade – Q, segundo, CAE 3ª rev.) e, finalmente,
• disseminar boas práticas de trabalho através da utilização plena do método
RIAAT – registo, Investigação e Análise de Acidente de Trabalho.

Esta dissertação é composta por 6 capítulos e 3 apêndices, organizados da seguinte forma:

• No primeiro capítulo apresenta-se uma breve introdução do estudo, a organização


da dissertação e os objetivos específicos do estudo;
• No segundo capítulo é feito um enquadramento teórico da temática em estudo,
onde são abordados tópicos sobre acidentes de trabalho, conceitos e definições
utilizados na análise e investigação de acidentes de trabalho, causalidade de
acidentes de trabalho onde se apresenta alguns modelos e métodos de análise do
dos acidentes de trabalho, acidentes de trabalho em contexto hospitalar que
contém uma caracterização geral destes acidentes, as causas e consequências mais
frequentes e uma revisão sistemática.
• No terceiro capítulo é abordada a metodologia, onde se faz uma explicação do
método utilizado no estudo, as etapas inerentes a este, a definição da amostra e o
tratamento de dados.
• No quarto capítulo, apresentam-se os resultados do estudo que integra a Parte I do
RIAAT (o registo dos acidentes de trabalho), onde se podem observa os dados
relativos ao sinistrado, às características do local de trabalho, das condições da
atividade em si, às causas imediatas do acidente, às consequências do acidente e
é definido o acidente tipo. Este capítulo integra ainda, a Parte II do RIAAT, a
análise aprofundada dos acidentes onde se identificam as falhas humanas, os
fatores individuais contributivos, os fatores do local de trabalho, e os fatores

2
organizacionais e de gestão. Para estes dois últimos fatores estão identificadas
medidas que poderiam ter prevenido a ocorrência dos acidentes analisados.
• No quinto capítulo é apresentada a discussão dos resultados obtidos os quais são
confrontados com padrões de referência nacional e com os resultados obtidos nos
estudos de diversos autores.
• No sexto, e último capítulo, é apresentada a conclusão do estudo que engloba
sugestões de melhoria para a empresa, através da aplicação do método RIAAT.

3
II. Enquadramento Teórico
Neste capítulo pretende-se fazer um enquadramento teórico sobre a temática do estudo,
com o objetivo de perceber a importância da investigação e análise de acidentes de
trabalho, conhecer os principais modelos existentes na literatura, e os métodos que deram
origem ao método RIAAT. Pretende-se ainda, conhecer os principais riscos existentes em
contexto hospitalar e conhecer os índices estatísticos de outros estudos relativos às causas
e consequências de acidentes de trabalho, e ainda, salientar os dados obtidos sobre
acidentes de trabalho em 2017, pelo Gabinete de Estratégia e Planeamento (GEP), no
setor Q, relativo a atividades de saúde humana e apoio social.

1. ACIDENTES DE TRABALHO

Verifica-se que, atualmente, um número crescente de países dá maior prioridade à


Segurança e Saúde no Trabalho (SST) e previne acidentes e problemas de saúde apesar
das pressões económicas para reduzir essas medidas. Existe um maior reconhecimento
que os acidentes de trabalho e problemas de saúde podem ter um grande impacto na
produtividade, competitividade e reputação de empresas, bem como na subsistência dos
indivíduos e nas suas famílias, embora globalmente ainda seja difícil obter números
precisos para essas questões ocupacionais (ILO, 2014).

Para além da segurança e saúde no trabalho ser importante para as empresas, constitui
uma obrigação legal e social. É valorizado pelas empresas o facto de a SST prevenir
lesões e doenças dos trabalhadores, sendo também um elemento fundamental no êxito de
uma empresa (EU-OSHA, 2008).

Segundo o Decreto-Lei n.º 98/2009, de 4 de Setembro, um acidente de trabalho é “aquele


que se verifique no local e tempo de trabalho e produza direta ou indiretamente lesão
corporal, perturbação funcional ou doença de que resulte redução na capacidade de
trabalho ou de ganho ou a morte. São também considerados acidentes de trabalho os
acidentes de viagem, de transporte ou de circulação, nos quais os trabalhadores ficam
lesionados e que ocorrem por causa ou no decurso do trabalho, isto é, quando exercem
uma atividade económica, ou estão a trabalhar, ou realizam tarefas para o empregador”
(ACT, 2015).

4
Nas últimas décadas, o peso dos acidentes na mortalidade assumiu tal relevância, que a
Organização Mundial da Saúde (OMS) e a União Europeia (UE) atribuíram um papel
ativo na sua prevenção e na promoção da segurança (DGS, 2010).

Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), todos os anos, 2,78 milhões de


trabalhadores morrem devido a acidente de trabalho e doenças profissionais (2,4 milhões
dos quais devido a doenças) e 374 milhões de trabalhadores são vítimas de acidentes de
trabalho não fatais (OIT, 2019).

Os acidentes de trabalho e as doenças profissionais afetam significativamente (a curto e


longo prazo) os trabalhadores e as suas famílias, não só a nível económico, mas também
a nível do seu bem-estar físico e emocional. Estes podem ter grandes consequências sobre
as empresas, desde afetar a sua produtividade, desencadear potenciais perturbações nos
processos de produção, a prejudicar a sua competitividade e reputação nas cadeias de
abastecimento afetando a economia e a sociedade (OIT, 2019).

De forma a contrariar estes números, a prevenção tem de assumir um papel ativo nas
organizações, de forma contínua e englobando toda a organização e todos os
trabalhadores; para tal, será necessário que tenha em consideração todos os
condicionantes da conceção e organização da produção e do trabalho, das técnicas e
tecnologias, da envolvente institucional, administrativa, económica, social e política. Dito
de outra forma, uma abordagem integrada que tenha em conta todos os aspetos
relacionados com o trabalho, e não acreditar que os acidentes de trabalho se ficam a dever
ao acaso, ou que são fruto da fatalidade, pois tal conceção implica aceitar que é impossível
preveni-los (Lima, 2004).

Segundo o Decreto-Lei n.º 102/2009, de 10 de Setembro, após a ocorrência de um


acidente de trabalho, o empregador é responsável pela sua investigação, competindo ao
Serviço de Saúde e Segurança do Trabalho/Serviços de Saúde Ocupacional (SST/SSO) a
implementação da análise epidemiológica do acidente de trabalho. O objetivo da
investigação de acidentes de trabalho consiste em encontrar as causas que contribuíram,
direta ou indiretamente, para a sua ocorrência visando prevenir outras situações similares.

A etiologia dos acidentes abrange um longo ciclo de processamento de informações, um


registo vital do evento, uma investigação e análise das suas causas e fatores subjacentes
e, ainda, atividades que garantam a aprendizagem organizacional coletiva, para que as
lições pertinentes sejam identificadas e transmitidas a outras pessoas.

5
Na Tabela 1 apresentam-se os conceitos de algumas variáveis comuns na investigação
das causas e consequências dos acidentes. A seleção das variáveis apresentadas prende-
se com o facto de estas fazerem parte integrante do processo RIAAT e da análise dos
acidentes de trabalho divulgados pelo GEP (2019) sendo, por isso, abordadas ao longo
do estudo.
Tabela 1 - Conceitos e definições das variáveis utilizadas na investigação das causas e consequências dos acidentes
(fonte: Eurostat, 2013)

Conceito e definições

Dias de trabalho perdidos São contabilizados os dias de ausência ao trabalho no mínimo


de um dia até um ano, e ainda aqueles que, embora não resultem
em perda de trabalho, comportam despesas para as entidades
responsáveis.

Tipo de local É o local onde aconteceu o acidente, pode ser o posto de


trabalho, qualquer local da organização onde se encontrava ou,
pode ser qualquer outro local que a pessoa se encontre (por
razões de trabalho) no momento do acidente.

Atividade física específica A atividade precisa que o sinistrado estava a realizar no


da vítima momento do acidente.

Desvio Acontecimento que provoca o acidente; descreve o que se


sucedeu de anormal.

Agente material associado Ferramenta ou objeto associados à anormalidade do processo.


ao desvio

Contacto – modalidade da Modo como o sinistrado foi lesionado pelo agente material que
lesão provocou essa mesma lesão.

Agente material associado Ferramenta ou objeto com que o sinistrado entrou em contacto,
ao contacto – modalidade ou a modalidade psicológica da lesão.
da lesão

Natureza da lesão Consequências físicas para o sinistrado (tipo de lesão).

Parte do corpo atingida Parte do corpo que sofreu a lesão.

6
2. CAUSALIDADE DE ACIDENTES DE TRABALHO

Para analisar a causalidade dos acidentes de trabalho foram, ao longo dos anos,
desenvolvidos diversos modelos e métodos. Estes modelos e métodos não têm o mesmo
significado, embora às vezes esteja confusa esta informação na literatura.

“Um modelo de causalidade é uma “teoria” que tenta explicar os mecanismos de


causalidade dos acidentes; está situado a um nível relativamente abstrato. Em
contrapartida, um método (ou técnica) é algo palpável e concreto que se utiliza para
atingir um fim específico: é uma ferramenta prática de trabalho” (Jacinto, 2005).

Neste subcapítulo serão explicados os principais modelos de acidentes de trabalho


existentes e as suas respetivas teorias com o objetivo de explicar os mecanismos de
causalidade destes acidentes.

2.1. MODELOS DE ACIDENTES DE TRABALHO

A aplicação de um modelo é essencial para a reflexão acerca de como os sistemas podem


funcionar mal, ou seja, para a reflexão sobre os acidentes. Uma distinção fundamental é
se os acidentes se devem a disfunções (malfunctions) específicas ou ‘mecanismos de
erro’, ou a coincidências infelizes (Hollnagel, 2003).

Um modelo de análise de causas de acidentes a partir do qual se consiga identificar, isolar


e eliminar os vários fatores causais ou potenciais para a ocorrência do acidente tem sido
objeto de estudo de especialistas de diferentes áreas, coexistindo uma diversidade de
teorias (Silva, 2004).

Hollnagel (2004), classificou os modelos de acidentes de trabalho em três grupos:


Modelos Sequenciais, Modelos Epidemiológicos e Modelos Sistémicos.

A Figura 1 ilustra os modelos teóricos de causalidade, que irão ser abordados de seguida,
organizados segundo a classificação de Hollnagel.

7
Teoria do Dominó (1931)
Transferência de Energia (1973)
Modelos Sequenciais Perda de Controlo (1974)
Desvios (1984)
Evolução dos Acidentes e das Barreiras Funcionais (1991)
Incubação de Acidentes de Trabalho (1978)
Modelos Epidemiológicos
Acidentes Organizacionais (1997)
Acidentes Normais (1984)
Modelos Sistémicos
Sistemas sociotécnicos (1997)

Fonte: Hollnagel (2004).

Figura 1 - Modelos de Acidentes de Trabalho

2.1.1. Modelo Sequencial de Acidentes

O modelo sequencial de acidentes incorpora as principais características de um acidente


- evento inesperado e não intencional – que origina um resultado indesejado. De acordo
com este modelo um acidente pode ocorrer quando o sistema está a funcionar
normalmente, onde um evento repentino e inesperado inicia uma sequência de
consequências, onde o último é o acidente (Hollnagel, 2004).

Como referido por Hollnagel (2004), o modelo sequencial de acidentes tem uma
suposição clara sobre causalidade, onde é possível identificar as ligações causa-efeito que
propagam os efeitos do evento inesperado. O objetivo de uma análise de acidentes de
trabalho é, portanto, identificar essas ligações causa-efeito, indicando uma direção de
raciocínio que vai desde o acidente às causas subjacentes conforme ilustrado na Erro! A o
rigem da referência não foi encontrada..

8
(Fonte: adaptado de Hollnagel, 2004)

Figura 2 - Modelo sequencial de acidentes

Este tipo de modelo descreve acidentes como resultados de sequência de eventos


claramente distinguíveis que ocorrem numa ordem específica (Hollnagel, 2003).

Nas primeiras versões dos modelos sequenciais os acidentes eram vistos como resultado
de uma causa única. Esta era uma visão muito simplista dos acidentes, visto que
considerava apenas um único fator explicativo para a ocorrência destes eventos. Contudo,
os modelos sequenciais mais recentes contemplam a possibilidade de alguns acidentes
poderem derivar de uma complexa interação e sequência de fatores (Areosa, 2012).

O modelo de Heinrich, desenvolvido em 1931, é um exemplo de um modelo sequencial


de acidentes, também designado por teoria do “Dominó”.

Segundo esta teoria, o acidente e a lesão seriam causados pela ocorrência de diversos
eventos encadeados no tempo: (1) personalidade com predisposição para acidentes; (2)
atos inseguros; (3) condições inseguras; (4) acidente; e (5) lesão (Heinrich, 1980, citado
por Iida, 1991).

(Fonte: adaptado de Heinrich, 1931)

Figura 3 - Teoria do "Dominó"

9
De acordo com esta teoria, um acidente seria causado pela sequência de eventos acima
enumerados. Assim um trabalhador com características negativas de personalidade
(valentia, agressividade, teimosia, irresponsabilidade, etc.), tenderia a cometer atos
inseguros. Se estes atos encontrassem condições inseguras, resultariam em acidentes,
provocando lesões no trabalhador. A prevenção de acidentes deveria ser realizada pela
eliminação de uma das “peças do dominó”, para interromper a cadeia de transmissão de
eventos causadores de lesão (1980, Heinrich, citado por Iida, 1991).

A teoria da transferência de energia foi desenvolvida por Gibson e William Haddon Jr,
em 1973. Raouf (1998, citado por Correa & Cardoso Junior, 2007) descreve esta teoria
da seguinte forma: os trabalhadores sofrem lesões e os equipamentos sofrem danos devido
a uma mudança de energia, e para cada mudança de energia existe uma fonte, um caminho
e um recetor. Esta teoria é útil para determinar as causas da lesão e para a avaliar energias
perigosas e métodos de controlo

Neste modelo, uma pessoa ou objeto entra em contacto com uma energia prejudicial. Isso
significa que as barreiras não forneceram proteção suficiente. A energia prejudicial pode
assumir muitas formas, como um objeto a uma altura (da qual pode cair) ou a voltagem
elétrica, ou seja, energias no sentido tradicional. Uma parte essencial do modelo é o
conceito de barreira, que impede que a energia entre em contacto com a pessoa e cause
ferimentos (Harms-Ringdahl, 2001).

Bird (1974, citado por Jacinto et al., 2011) propôs a primeira atualização da teoria do
dominó, desenvolvendo uma nova teoria – Perda de controlo.

A teoria da Perda de Controlo inclui cinco categorias, que melhoram principalmente os


dois primeiros dominós da teoria de Heinrich, que são (Fu et al., 2019):

• Fatores pessoais, fatores de trabalho/sistema, que são diferentes da ‘culpa da


pessoa’ da teoria do dominó. Neste modelo, os fatores pessoais podem incluir falta
de conhecimentos sobre segurança, motivações comportamentais incorretas,
defeitos físicos e psicológicos. Os fatores do trabalho/sistema são principalmente
fatores de gestão, incluindo falhas nos procedimentos operacionais, problemas
nos equipamentos e ambiente de trabalho perigoso.
• Fatores de gestão. Neste modelo, Bird e Germain acreditam que a causa raiz de
um acidente é a ‘perda de controlo’, ou seja, problemas de gestão. Devido à falta

10
de gestão, os profissionais podem não receber conhecimento ou formação
suficiente, o que é o principal motivo da ‘perda de controlo’.

O modelo dos Desvios foi introduzido na Suécia por Urban Kjellén no final da década
de 1970, este modelo foi adaptado durante a década de 1980 por Harms-Ringdahl. Este
conceito envolve qualquer evento anormal que ‘se desvia’ da ‘norma’ estabelecida, ou
seja, do seu procedimento normal e planeado. A procura de ‘desvios’ pode ser feita para
funções técnicas, humanas e organizacionais, com base nas atividades de trabalho. A ideia
fundamental é que os ‘desvios’ da norma podem constituir ou representar um perigo
(Jacinto et al., 2011).

Um outro exemplo de um modelo sequencial de acidentes é o modelo da Evolução dos


Acidentes e das Barreiras Funcionais (EABF) exposto por Svenson em 1991.

Svenson, (1991, citado por Hollnagel, 2004) descreveu a evolução que levou a um
acidente como uma cadeia ou sequência de falhas, mau funcionamento e erros. Este
modelo representou o desenvolvimento de um acidente como uma sequência de etapas
pertencentes aos fatores humanos/sistema organizacional ou ao sistema técnico. Cada
etapa representava a falha ou mau funcionamento de um componente ou uma função
realizada incorretamente dentro de cada sistema, e as barreiras, ditas funcionais, foram
usadas para indicar como o desenvolvimento do acidente poderia ser interrompido.

Os modelos sequenciais resultam bem para um acidente causado por erros humanos ou
falha de componentes de um sistema, mas não podem descrever de forma abrangente as
causas de acidente num sistema sociotécnico complexo. Além disso, nestes modelos, a
visão multifacetada complexa dos fatores humanos não está representada. Assim, nos
modelos de análise sequencial de acidentes, é difícil analisar as consequências
relacionadas com fatores humanos, como a desconsideração da ética da engenharia,
resultando numa lacuna nos modelos sequenciais (Haghighattalab, Chen, Fan, &
Mohammadi, 2019).

2.1.2. Modelos Epidemiológicos de Acidentes

Os modelos epidemiológicos, como o nome indica, descrevem um acidente em analogia


com a propagação de uma doença, ou seja, como resultado de uma combinação de fatores,
alguns que se manifestam e outros latentes (Hollnagel, 2004).

11
Na teoria epidemiológica o acidente resulta da interação entre hospedeiro (pessoa), agente
(ferramentas, sistemas tecnológicos, etc.) e ambiente de trabalho (físico e social) (Correa
& Cardoso Junior, 2007).

Estes modelos diferem dos modelos sequencias de acidente em quatro aspetos principais
- desvio de desempenho, condições ambientais, barreiras e condições latentes (Hollnagel,
2004):

• A noção de um ato inseguro que muitas vezes era tratado como sinónimo de “erro
humano”, foi gradualmente substituída pela noção de desvio de desempenho.
• O conceito de condições ambientais foi utilizado como forma de tornar a análise
mais aberta, estas existem tanto para humanos como para tecnologia.
• As barreiras impedem a ocorrência de consequências inesperadas e podem
interromper o desenvolvimento do acidente em última instância.
• As condições latentes que se trataram do conceito mais importante, no início eram
designadas de falhas latentes. As condições latentes estão presentes no sistema
bem antes do início de uma sequência de acidentes, e podem ser atribuídas a
processos organizacionais, design, construção, procedimentos, manutenção,
formação ou comunicação.

(Fonte: adaptado de Hollnagel, 2004)

Figura 4- Modelo epidemiológico dos acidentes

12
Os modelos epidemiológicos são importantes porque fornecem uma base para discussão
da complexidade dos acidentes, que superam as limitações dos modelos sequenciais
(Hollnagel, 2004).

Enquadra-se nos Modelos Epidemiológicos de acidentes, o Modelo de Incubação de


Acidentes. Trata-se de um modelo desenvolvido por Turner em 1978; aborda a
multicausalidade dos acidentes e define um acidente como o resultado de uma
combinação de acontecimentos indesejados. O acidente está em “incubação”, devido às
más práticas de segurança latentes na organização, até à aparição de uma ocorrência que
o desencadeie (Jacinto et al., 2011).

O modelo epidemiológico dos acidentes também foi, em parte, adaptado para explicar os
acidentes organizacionais. Reason sugeriu que as condições nos sistemas técnicos ou
organizações com tecnologias complexas poderiam ser vistas como uma analogia a
agentes patogénicos no corpo humano, os quais seriam ativados por fatores
locais/ambientais com capacidade para violar ou contornar o sistema imunitário (as
barreiras ou proteções) que por sua vez provocariam a doença (o acidente). Por si só os
designados agentes patogénicos não teriam capacidade para desencadear o acidente, visto
que necessitam que estejam criadas condições locais adequadas para eles poderem atuar.
Esta analogia foi designada pelo autor como a “metáfora do agente patogénico residente”,
onde está implícito que não existem sistemas completamente autoimunes aos acidentes
(Areosa, 2010).

Os acidentes organizacionais ocorrem devido a uma conjunção adversa de diversos


fatores, onde, normalmente, cada um deles não é suficiente para violar as defesas
(barreiras) e, por consequência, provocar o acidente; contudo a sua articulação e interação
permitem gerar condições para o evento/acidente se efetivar (Areosa, 2010).

Como exemplos de modelo de acidentes organizacionais pode-se destacar o tão


conhecido Modelo do “Queijo Suíço”, de Reason, que considera barreiras. Segundo
Reason, os erros podem ser estudados sob dois pontos de vista: aproximação pessoal e
aproximação do sistema, cada qual possuindo um modelo próprio de causa dos erros e,
consequentemente, cada um apresenta uma filosofia diferente no processo de gestão.

A aproximação pessoal foca os atos inseguros – erros e violações de procedimentos. Neste


ponto de vista os atos inseguros surgem de processos mentais anormais, tais como
esquecimentos, desatenção, baixa motivação, falta de cuidado, negligência e

13
imprudência, e assim as medidas preventivas são dirigidas no sentido de se restringir a
variabilidade indesejável do comportamento humano. Na aproximação do sistema
considera-se que os humanos falham e os erros são esperados, mesmo nas melhores
organizações. A ideia central é a dos sistemas de defesa, ou seja, toda tecnologia perigosa
possui barreiras e salvaguardas. Quando um evento adverso ocorre o importante não é
quem cometeu o erro, mas sim perceber como e porque as defesas falharam (Correa &
Cardoso Junior, 2007).

Segundo Reason, defesas, barreiras e salvaguardas ocupam uma posição-chave na


abordagem do sistema. Os sistemas de alta tecnologia têm muitas camadas defensivas:
algumas são projetadas, outras contam com pessoas, e outras dependem de procedimentos
e controlos administrativos. A sua função é proteger possíveis vítimas contra os riscos
locais. Elas fazem isso de maneira muito eficaz, mas há sempre fraquezas. Num mundo
ideal, cada camada defensiva estaria intacta. Na realidade, são como fatias de queijo
suíço, com muitos buracos – embora diferentemente do queijo, esses buracos estejam
continuamente a abrir, a fechar e a mudar de local. A presença de buracos em qualquer
“fatia” normalmente não causa um mau resultado. Geralmente, isso pode acontecer
apenas quando os buracos em muitas camadas se alinham momentaneamente para
permitir uma trajetória de oportunidade de acidente – conduzindo a riscos. Estes
“buracos” nas defesas surgem por dois motivos: falhas ativas e falhas latentes (Reason,
2000).

“As falhas ativas são prontamente identificadas e correspondem, geralmente, às causas


imediatas de uma cadeia de eventos de acidentes. Por outro lado, as falhas latentes são
difíceis de detetar, pois estão ocultas na organização (ex. design inadequado,
procedimentos de manutenção inadequados ou decisões incorretas de gestão), este tipo
de falhas podem permanecer inativas no sistema por longo tempo, até serem revelados
por falhas ativas” (Jacinto, 2003).

14
(Fonte: adaptado de Reason, 2000)

Figura 5- Modelo do Queijo Suíço

2.1.3. Modelos Sistémicos de Acidentes

Os Modelos Sistémicos de Acidentes, são modelos que se esforçam por descrever o


desempenho característico ao nível do sistema como um todo, e não ao nível de
“mecanismos” de causa-efeito específicos ou mesmo de fatores epidemiológicos. Em vez
de usar uma decomposição estrutural do sistema em componentes e funções associadas,
a visão sistémica considera acidentes como fenómenos emergentes, que também são
‘normais’ ou ‘naturais’ no sentido de serem algo que deve ser esperado. Os modelos
sistémicos são, por um lado, estruturalmente mais simples que os modelos
epidemiológicos, mas, por outro lado, funcionalmente mais complexos (Hollnagel, 2004).

Um exemplo de um Modelo Sistémico de Acidentes é a Teoria dos acidentes normais,


desenvolvido por Charles Perrow em 1984. Esta teoria analisa o lado social do risco
tecnológico. Perrow argumenta que a “abordagem de engenharia” tradicional para
garantir a segurança, ao gerar mais avisos e salvaguardas, falha porque a complexidade
dos sistemas torna inevitáveis as falhas. Ele enfatiza que as precauções técnicas (típicas)
podem ajudar na criação de novas categorias de acidentes (novos riscos), adicionando
mais complexidade ao sistema (Jacinto et al., 2011).

Também o Modelo de Sistemas Sociotécnicos, desenvolvido por Rasmussen em 1997,


é um exemplo de modelo sistémico de acidentes. Este modelo segue uma abordagem de
sistemas dinâmicos, apresentando uma estrutura multinível de um sistema sociotécnico,
variando do local de trabalho, à administração, reguladores e governo. A estrutura está
relacionada com o fluxo de informações em torno dos vários decisores e partes

15
envolvidas. Concentra-se em questões importantes, como a maneira como os objetivos e
valores são comunicados, como as atividades operacionais são monitorizadas por meio
de relatórios de incidentes aos reguladores e como os limites da operação segura são
identificados e comunicados. Este modelo incorpora a dinâmica competitiva e o ambiente
comercialmente agressivo em que muitas empresas atuam atualmente (Jacinto et al.,
2011).

O sistema sociotécnico envolvido na gestão de riscos inclui vários níveis, desde a


legislação, a gestão e planeamento do trabalho, até à operação do trabalho. Atualmente,
este sistema é enfatizado por um ritmo acelerado de mudanças tecnológicas, por ambiente
competitivo e por mudanças nas práticas regulatórias e pressão do público (Rasmussen,
1997).

16
3. ALGUNS MÉTODOS DE INVESTIGAÇÃO DE ACIDENTES DE
TRABALHO

Uma investigação de acidentes é uma tentativa de descobrir como o acidente aconteceu e


porque aconteceu. Uma investigação deve, preferencialmente, ser realizada de maneira
sistemática e racional, para que o relato do acidente não seja influenciado por suposições
prematuras ou hipóteses de “animais de estimação”, nem invoque causas psicológicas ou
organizacionais. Para garantir isso, pesquisadores de fatores humanos e profissionais
preocupados com a segurança desenvolveram ao longo dos anos um conjunto de métodos
de análise de acidentes e sistemas de classificação. Todos os métodos implicam
necessariamente um modelo de acidente, ou seja, um entendimento mutuamente acordado
e muitas vezes tácito de como os acidentes acontecem (Hollnagel, 2004).

De seguida, serão apresentados apenas os métodos de investigação de acidentes de


trabalho, conforme apresentado na Figura 7, que deram suporte para a elaboração do
método RIAAT, de forma a perceber melhor o método aplicado neste estudo.

Figura 6- Métodos de Acidentes de Trabalho de base ao desenvolvimento do RIAAT.

O método WAIT (Work Accidents Investigation Technique), foi desenvolvido para o uso
dos acidentes de trabalho na indústria, pelos autores Jacinto e Aspinwall em 2002.

O WAIT segue o modelo de acidentes organizacionais e os conceitos vinculados de falhas


ativas e condições latentes, como subdimensões de fatores causais. Também distingue
entre o termo causa, como “o que faz a diferença”, e o termo condições, como “os fatores
que estão sempre presentes – quer em situação de ocorrência do acidente quer em situação
normal (ausência de acidente). A técnica WAIT segue dois princípios (Jacinto &
Aspinwall, 2003):

17
1. A crença de que todas as ações erróneas humanas ocorrem num contexto específico
e que esse contexto pode ser descrito como uma combinação de indivíduos, fatores
tecnológicos e organizacionais;
2. A necessidade de fazer uma distinção clara entre o que pode ser observado e o que
pode ser inferido a partir das observações.

O método possui nove etapas sequencias agrupadas em dois estágios principais, de acordo
com a Figura 7:

Figura 7- Esquema sobre as etapas do método WAIT

A técnica faz uma distinção clara entre eventos observáveis e descobertas inferidas. O
primeiro estágio – a investigação básica – geralmente lida com os elementos observáveis
do sistema. O método também permite que o processo seja realizado por uma única
pessoa, se necessário, que é a prática atual na maioria das empresas. Por outro lado,
durante o segundo estágio – a análise aprofundada – a colaboração de uma equipa é
altamente recomendada, pois será necessário fazer suposições e deduções, em relação a
possíveis relações de causa-efeito num nível superior da organização (Jacinto &
Aspinwall, 2003).

O método 3CA (Control Change Causa Analysis), desenvolvido por John Kingston em
2001 (Kingston, 2002), teve como objetivo apoiar os supervisores a analisar as causas
principais dos incidentes. Oito anos depois, foi publicada uma nova versão do 3CA
(formulário B) (Kingston, Koornneef, Frei, & Schallier, 2009). E, em 2010 foi publicado
o formulário C (Kingston, Koornneef, Frei, & Schallier, 2010) onde se solicita ao
utilizador que veja as coisas do ponto de vista das pessoas envolvidas, e inova na
perspetiva de ajudar o analista a evitar problemas associados ao “raciocínio contra
factual”. A análise do 3CA foi projetada para ajudar o analista a: examinar

18
minuciosamente um evento significativo sob várias perspetivas e registar os seus
pensamento, ideias e perguntas.

Antes de se iniciar a análise, é necessário que as pessoas certas sejam envolvidas, pois
uma abordagem em equipa geralmente é mais eficaz, e torna-se essencial fazer anotações
durante a discussão de forma a que outras pessoas possam entender a análise. O processo
3CA deve ser iniciado assim que existirem dados básicos sobre o que aconteceu, seguindo
a seguinte lógica (Kingston et al., 2010):

1. Identificação de todos os eventos significativos na sequência do acidente, e


seleção do evento significativo a analisar primeiro.
2. Descrição de:
i. Evento significativo (intervenientes e o que foi feito);
ii. O que o interveniente realmente fez;
iii. Desempenho esperado;
iv. Padrão/referência que justifica a expectativa.
3. Explicação das diferenças entre o desempenho real e o esperado, em termos de
intervenientes, da cultura, organização e de sistemas de gestão, através da
descrição de:
i. Lógica original, onde se deve perceber porque fazia sentido fazer
o trabalho dessa maneira;
ii. Padrões culturais e fatores organizacionais;
iii. Sistemas, onde deve ser identificado cada sistema relevante para o
evento significativo.

(Fonte: adaptado de Kingston et al. 2009)

Figura 8- Esquema da sequência de análise do 3CA

19
O método MORT (Management Oversight and Risk Tree), desenvolvido por Johnson em
1980, é um procedimento analítico abrangente que fornece um método disciplinado para
determinar as causas e fatores contribuintes de acidentes graves. Este método foi
elaborado para: impedir omissões e erros de gestão; resultar na identificação, avaliação e
encaminhamento de riscos residuais para níveis de gestão adequados para ação apropriada
e para otimizar a alocação de recursos disponíveis para o programa e esforço individual
de controlo de riscos (Knox & Eicher, 1992).

O MORT antes de explorar a alternativa do “risco assumido”, começa por procurar o


caminho da “falha ou omissão”. Grande parte do esforço, neste método, é orientado na
identificação de barreiras e/ou controlos inadequados. “O diagrama lógico, com o
acidente no “topo” da árvore de falhas começa com 3 ramos principais e pré-definidos”,
como apresentado na Figura 9 (Jacinto, 2005):

(Fonte: Jacinto, 2005)

Figura 9 – Ramos principais do diagrama lógico

O topo da árvore de um diagrama de MORT está representado na Figura 10.

“Para cada ramo principal e consequentes ramificações, existe uma lista muito completa
de perguntas chave que vão servindo de guião à tarefa de investigação e análise” (Jacinto,
2005).

20
(Fonte: Jacinto, 2005)

Figura 10- Topo da árvore MORT

O método RIAAT, foi o método escolhido para a análise de acidentes de trabalho em


estudo, pelo que será explicado detalhadamente mais à frente, no ponto 1 do capítulo III.

21
4. ACIDENTES DE TRABALHO EM CONTEXTO HOSPITALAR

4.1. CARACTERIZAÇÃO GERAL

Os hospitais apresentam-se como estruturas complexas, devido à sua dimensão, à


diversidade de instalações e equipamentos, e à especificidade dos seus serviços. Os
profissionais desempenham uma grande variedade de tarefas clínicas e não clínicas
fazendo com que o ambiente hospitalar seja prodígio em riscos associados à saúde
ocupacional. Também, a exposição a riscos químicos, físicos, mecânicos, biológicos,
entre outros, faz com que os profissionais sejam sujeitos a acidentes de trabalho de
diversas naturezas. Foram totalizados, de acordo com as estatísticas de 2007, 5063
acidentes nas instituições que integram o Ministério da Saúde Português, dos quais 4593
ocorreram em Hospitais (Nunes, Santos, Lourenço, & Silva, 2012).

De forma a garantir ambientes seguros e saudáveis nos estabelecimentos de saúde torna-


se necessário prevenir os riscos profissionais associados ao manuseamento de
equipamentos perigosos, à exposição a agentes infeciosos, a fatores de natureza física,
entre outros (DSP, 2010).

Assim, como se torna necessário minimizar os efeitos na saúde dos trabalhadores, da


exposição à diversidade de fatores de risco profissionais (de natureza química, física,
biológica e psicossocial), que advêm das suas condições de trabalho, das atividades por
estes realizadas, dos equipamentos técnicos disponíveis e das substâncias/materiais
manuseados/utilizados, nos estabelecimentos de saúde. (DSP, 2010).

São variados os riscos a que estes profissionais estão sujeitos, como mencionado acima,
nomeadamente:

Risco Biológico:

Relativamente aos riscos biológicos, um dos maiores riscos associa-se ao contacto do


trabalhador com microrganismos (principalmente vírus e bactérias) ou material
infectocontagioso, os quais podem ser os fatores causais de doenças como tuberculose,
hepatite, rubéola, herpes, escabiose e SIDA (Silva, 2008) ou, mais recentemente, o tão
falado SARS-CoV-2.

De acordo com investigações de acidentes ocupacionais com material biológico entre


profissionais de saúde verifica-se que os que cuidam diretamente de pacientes são os que
mais estão expostos. Outras categorias profissionais não envolvidas diretamente com

22
cuidados aos pacientes ou seus fluidos corporais também podem ser vítimas de acidentes
biológicos, tais como trabalhadores de limpeza, lavandaria, manutenção e recolha de lixo
(Silva, Almeida, Paula, & Villar, 2009).

Riscos Físicos:

Relativamente aos riscos físicos, destaca-se a exposição às radiações ionizantes e não


ionizantes, às temperaturas extremas, às vibrações, à iluminação e ao ruído.

“Na área hospitalar, os riscos inerentes às radiações ionizantes são um dos mais graves
problemas para os profissionais. Em Portugal existem cerca de 11.000 trabalhadores que
se expõem, de forma sistemática, às radiações ionizantes, sendo a larga maioria, cerca de
82%, pertencente ao setor da saúde” (Filipe, 2012).

Riscos Químicos:

Os riscos químicos têm origem no manuseio de diversas substâncias químicas e também


pela administração de medicamentos que podem provocar desde simples alergias até
importantes neoplasias (Xelegati & Robazzi, 2003).

“O número de trabalhadores de instituições de saúde expostos à ação de produtos


irritantes ou sensibilizantes da pele é muito elevado, abrangendo quase todos os
profissionais, setores e serviços, desde as enfermarias, farmácias, laboratórios, até às
cozinhas e restantes, serviços de apoio e manutenção” (Filipe, 2012).

Riscos Psicossociais:

Nas últimas décadas, enfatizou-se a natureza instável do trabalho e as novas formas de


risco que podem afetar negativamente a saúde e segurança dos trabalhadores – os riscos
psicossociais – que, foram definidos em termos de interações entre o conteúdo de
trabalho, organização e gestão do trabalho, e outras condições ambientais e
organizacionais, e as competências e necessidades dos trabalhadores. Questões como
stress relacionado com o trabalho, bullying e assédios estão agora a receber atenção a
nível global e foram feitos esforços para enfrentá-los nos locais de trabalho (Leka &
Kortum, 2008).

São fatores de risco psicossociais: o conteúdo do trabalho, a carga e ritmo de trabalho, o


horário de trabalho, o controlo no trabalho, o ambiente e equipamentos, a cultura e função
organizacional, as relações interpessoais no trabalho, o papel na organização, o
desenvolvimento da carreira, a interação trabalho-casa, novas formas de contratação e

23
insegurança laboral, a intensificação do trabalho e as fortes exigências emocionais no
trabalho.

“Um estudo que envolveu 22.000 trabalhadores de 130 profissões distintas concluiu que,
entre as 27 profissões caracterizadas como sendo aquelas que estavam mais associadas
ao stresse, sete pertenciam ao setor da saúde”. De entre todos os riscos, a síndrome de
burnout (esgotamento físico e mental) é um dos que afetam mais profissionais desta área,
cerca de 25% (Filipe, 2012).

Riscos no âmbito da Ergonomia:

Os riscos no âmbito da Ergonomia associam-se, entre outros, à exposição a esforços


físicos, a posturas incorretas, tarefas repetitivas e monótonas, trabalhos por turnos e
noturnos e manipulação manual de cargas.

“A utilização da Ergonomia e da sua abordagem sistémica e integrada das situações de


trabalho em meio hospitalar ou em outras unidades de saúde, assume um contributo
decisivo para as organizações de saúde e, por consequência para todos os envolvidos,
incluindo as administrações hospitalares, os gestores operacionais e, naturalmente, os
profissionais de saúde, os doentes e seus acompanhantes” (Uva, Sousa, & Serranheira,
2010).

“Na perspetiva da Ergonomia, a atividade de trabalho pode ser transformada de modo a


diminuir os efeitos negativos sob a saúde dos trabalhadores e aumentar a segurança dos
doentes através de modificações de espaços, processos, circuitos, organização temporal,
equipamentos e meios de trabalho a ainda através de formação e informação sobre o
trabalhador” (Serranheira, Cotrim, Rodrigues, Nunes, & Sousa-Uva, 2012).

4.2. CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS FREQUENTES

A dor, o sofrimento e a morte que os trabalhadores de saúde presenciam, associada à


complexidade de determinados atos técnicos, ao grau de responsabilidade e rapidez
inerente a certas decisões, ao regime de trabalho, à frequente mobilização de doentes e
equipamentos pesados, à deficiente qualidade de muitas instalações e equipamentos, à
precaridade dos vínculos laborais, à pressão e exigências de trabalho e às relações
competitivas dos ambientes de trabalho são fatores que constituem agressão permanente
à saúde mental e física desses trabalhadores, expondo-os mais frequentemente a acidentes
(Martins, Silva, & Correia, 2012).

24
Infeções, lesões lombares, danos por quedas, acidentes com substâncias químicas ou com
corto-perfurantes contaminados ou lesões por exposições excessivas a radiações
ionizantes são as consequências para os profissionais de saúde, agravadas pela pressão
contemporânea para que as tarefas sejam realizadas o mais rápido possível e com uma
ajuda cada vez mais precária. Indubitavelmente, todas estas condições contribuem para
um agravamento dos riscos profissionais nas instituições de saúde (DSP, 2010).

A síndrome de bournout é uma consequência dos fatores de stress, com que os


profissionais de saúde convivem atualmente, no seu dia-a-dia de trabalho, e que aumenta
a probabilidade de ocorrência de situações indesejadas. De facto, quer o excesso de carga
de trabalho, quer a confrontação diária com problemas de difícil resolução, conduzem,
por vezes, a uma exaustão profissional, com um quadro de fadiga física e mental que pode
levar a uma deteorização da sua capacidade para prevenir eventos adversos.

Segundo Martins et al. (2012), num estudo sobre acidentes de trabalho e as suas
repercussões num hospital ao Norte de Portugal, a principal causa de acidentes foi a
picada de agulha (45,7%) e a lesão mais prevalente verificou-se nos membros superiores
(43,2%), sendo as feridas o tipo de lesão mais frequente (32,6%).

4.3. REVISÃO SISTEMÁTICA

Em Portugal, de acordo com dados da Administração Central do Sistema de Saúde


(ACSS), os hospitais são as instituições onde ocorre maior número de acidentes de
trabalho. Ainda segundo o relatório da ACSS, de 2007, o número de acidentes de trabalho
ocorridos nas instituições de saúde tem vindo a aumentar, sendo o hospital a instituição
que apresentou a taxa média de crescimento anual mais elevada (Mendes & Areosa,
2014).

Silva (2008), identifica como mais referenciado, relativamente ao tipo de acidente, a


“lombalgia” (44%), seguida das “picadas” e “salpicos com produtos biológicos (32%),
“salpicos com medicamentos” (20%) e feridas com objetos cortantes (16%), este estudo
foi realizado num Hospital Público de Lisboa.

“Num estudo realizado em 26 unidades de saúde da área de Paris, refere que a principal
causa de baixa ao trabalho são as lesões músculo-esqueléticas que afetam 16% dos
trabalhadores. Em Inglaterra, Stubbs (1983), numa amostra de 3921 enfermeiros do
Serviço Nacional de Saúde, menciona que 43,1% sofreram de lombalgia de esforço e 17%
destes tiveram de aceder a baixa” (citado por Silva, 2008).

25
Por outro lado, em Portugal, num estudo realizado por Ferreira (2005, citado por Silva,
2008) envolvendo uma amostra de 288 enfermeiros de um Hospital Central da zona
Norte, distribuídos por 3 serviços distintos, nomeadamente, Medicina, Cirurgia e
Cuidados Intensivos, verificou-se uma prevalência de 52% de acidentes de serviço, sendo
o tipo mais referenciado a picada acidental (41% dos registos) seguido da lombalgia de
esforço (24,7%). De acordo com a mesma fonte, no que diz respeito às causas que
provocaram o acidente a mais expressiva foi a mobilização de doentes (26,9%).

Em Portugal, de acordo com o estudo, realizado pela Administração Central do Sistema


de Saúde, “Boletim Informativo dos Acidentes de Trabalho e Serviço”, (ACSS, 2015) no
período compreendido entre 2004 e 2014, verifica-se que a partir de 2011 tem-se
verificado uma tendência de crescimento relativa ao número de acidentes de trabalho. Em
2014, a taxa de incidência revelou que, por cada 1000 trabalhadores, ocorreram 62,5
acidentes de trabalho. O tipo de instituição onde se registou maior número de acidentes
de trabalho foram os Hospitais e Unidades de Saúde (89,9%), sendo o Internamento o
serviço com maior registo de acidentes de trabalho (29,8%), sendo mais afetadas as
categorias profissionais de assistentes operacionais e enfermeiros (74%). Verificou-se
uma maior percentagem de acidentes no sexo feminino (81,5%), com o grupo etário dos
30 e os 39 anos a ser o mais atingido (30,6%). A picada de agulha (22,9%) e a queda do
trabalhador (22,3%) foram as ações com mais peso que resultaram em lesão, e o tipo de
lesão mais frequente foram as feridas (23,9%), sendo as mãos a parte do corpo mais
atingida (34,4%). Estes resultados corroboram os resultados apresentados em estudos
anteriores, realizados pela mesma instituição e que foram apresentados no trabalho de
Filipe (2012).

A realização de ações de formação e/ou capacitações com os profissionais é uma das


principais estratégias para adoção de práticas seguras no trabalho. Essas atividades são
importantes na medida em que contribuem para que os trabalhadores se consciencializem
sobre as consequências das suas práticas para a saúde e a importância das precauções e
medidas de biossegurança padronizadas no exercício profissional, entre as quais está
incluída a prevenção de acidentes com corto-perfurantes. A avaliação rigorosa dos
processos de trabalho, da maneira como o trabalho é dividido e organizado também é
ponto fundamental para adoção de práticas seguras, especialmente para os acidentes de
trabalho típicos que envolvem trabalhadores que desempenham funções sujeitas aos
maiores riscos profissionais (Santos et al., 2012).

26
Os gráficos seguintes pretendem esquematizar a estatística de acidentes de trabalho não
mortais do Gabinete de Estratégia e Planeamento (GEP), relativos a 2017, no setor de
atividade económica de Atividades de saúde humana e apoio social (GEP, 2019). Estes
dados são relativos a “Portugal e Estrangeiro”, pois não existem dados relativos aos
Agentes Materiais (Desvio e Contacto) no “Continente”.

A escolha do setor de atividade económica de Atividades de saúde humana e apoio social


- setor de atividade económica Q, na classificação CAE - para a comparação dos dados
em estudo prendeu-se com o facto deste setor se enquadrar em atividades dirigidas à saúde
humana, como por exemplo, atividades hospitalares, exercidas em regime de
internamento ou ambulatório ou outras atividades de saúde humana, onde se incluem as
clínicas/hospitais incluídas no estudo, sendo assim possível comparar os acidentes de
trabalho ocorridos em atividades similares.

Segundo o GEP, em 2017, ocorreram 209 390 acidentes de trabalho, dos quais 17 540
(8,38%) dizem respeito a acidentes de trabalho ocorridos no setor em estudo (GEP, 2019).

Verifica-se que segundo o GEP, no setor Q, o sexo feminino é o mais visado por sinistros
laborais com 83% (Figura 11).

17%

83%

Homens Mulheres

Figura 11- Acidentes de trabalho, no setor Q, segundo o sexo do sinistrado (N=17540), em 2017

Relativamente ao escalão etário, é possível verificar que o grupo dos 45 aos 54 anos é o
mais visado por sinistros laborais (28,0%), seguido pelos grupos dos 35 aos 44 anos e o
dos 25 aos 34 anos, com respetivamente, 24,0% e 23,0% (Figura 12), sendo estas,
também, as faixas etárias que incluem a maior parte da população ativa.

27
Figura 12- Distribuição de Acidentes de trabalho, no setor Q, segundo o escalão etário (N=17540), em 2017

A análise efetuada às variáveis – atividade física específica, desvio, agente material do


desvio, contacto, agente material do contacto, escalão de dias perdidos, natureza da lesão
e parte do corpo atingida – teve por base o princípio de Pareto pelo que para cada variável
serão identificadas as causas/consequências responsáveis/decorrentes de ≈ 80% dos
acidentes de trabalho registados.

A atividade física específica mais visada com 31,8% é o movimento, seguida do


transporte manual e do trabalho com ferramentas de mão, com respetivamente 26,4% e
21,6% (Figura 13).

Figura 13- Distribuição de Acidentes de trabalho, no setor Q, segundo a atividade física (N=17 540), em 2017

Identifica-se o movimento do corpo sujeito a constrangimento físico como o


acontecimento desviante mais reportado que levou à ocorrência de acidentes, seguindo-
se de escorregamento ou hesitação com queda e de perda de controlo de máquina, meio

28
de transporte, equipamento manuseado, ferramenta manual, objeto ou animal (Figura 14).

Figura 14- Distribuição de Acidentes de trabalho, no setor Q, segundo o desvio (N=17 540), em 2017

Verifica-se que a maior percentagem de agente material do desvio diz respeito a “nenhum
agente material/nenhuma informação” com cerca de 38%, seguindo-se de “organismos
vivos e seres humanos” com cerca 21%, de “ferramentas manuais – não motorizadas”
com cerca de 14% e ainda de “Edifícios, superfícies – ao nível do solo” com cerca de
6,4% (Figura 15).

De realçar que o código “nenhum agente material ou nenhuma informação”, assume um


valor muito elevado, tornando a estatística pouco representativa da realidade. Torna-se
por isso, muito importante, que as empresas notifiquem os acidentes de trabalho com
dados de qualidade e com informação completa de forma a ser possível comparar dados
com padrões de referência. Considerando que o agente material de desvio representa a
variável diretamente ligada ao agente perigoso que provoca o acidente, a ausência do seu
conhecimento inviabiliza a tomada de ações concertadas em matéria de prevenção.

29
Figura 15- Distribuição de Acidentes de trabalho, no setor Q, segundo o agente material do desvio (N=17 540), em
2017

Relativamente ao contacto que lesionou o sinistrado, verifica-se que 35,2% deveram-se a


“constrangimentos físicos do corpo/constrangimentos psíquicos”, 25,7% deveram-se a
“esmagamento, em movimento vertical/horizontal sobre/contra objeto imóvel”, 18,1% a
“contacto com agente material cortante, afiado, áspero” e 5,8% a “contacto com corrente
elétrica, temperatura, subst. perigosa” (Figura 16).

Figura 16- Distribuição de Acidentes de trabalho, no setor Q, segundo o contacto (N=17 540), em 2017

Segundo o agente material do contacto verifica-se que o mais visado foi “edifícios,
superfícies – ao nível do solo” com 22,3%, seguindo-se de “organismos vivos e seres
humanos” com 19,1%, “nenhum agente material ou nenhuma informação” com 16,1% e
“Ferramentas manuais – não motorizadas” com 15,7% (Figura 17).

30
Figura 17- Distribuição de Acidentes de trabalho, no setor Q, segundo o agente material do contacto (N=17 540),
em 2017

Segundo o escalão de dias perdidos, verificou-se que 19,6% dos acidentes tiveram 30 a
365 dias de ausência ao trabalho, 14,6% tiveram 7 a 13 dias de ausência ao trabalho,
sendo que a maior percentagem (44,6%) de acidentes de trabalho não tiveram ausência
ao trabalho (Figura 18).

Figura 18- Distribuição de trabalho, no setor Q, segundo o escalão de dias perdidos (N=17 540), em 2017

A natureza de lesão mais referenciada, pelo GEP, foram as feridas e lesões superficiais
(48,8%), destacam-se ainda as deslocações, entorses e distensões (29,3%) (Figura 19).

31
Figura 19- Distribuição de Acidentes de Trabalho, no setor Q, segundo a natureza da lesão (N=17 540), em 2017

Relativamente à parte do corpo atingida verificou-se que as “extremidades superiores”


são as mais referenciadas (43,8%), seguidas das” extremidades inferiores” (23,3%) e das
“costas, incl. Espinha e vértebras” (14,7%) (Figura 20).

Figura 20- Distribuição de Acidentes de Trabalho, no setor Q, segundo a parte do corpo atingida (N=17 540), em
2017

Verificou-se ainda que:

• 72,1% destes acidentes de trabalho ocorreram em estabelecimentos de saúde;


• 4,1% destes acidentes de trabalho ocorreram em local público.

A Figura 21 demonstra que ao longo dos anos, a linha de tendência de acidentes de


trabalho não tem sido consistente. É possível verificar que, relativamente a todos os
setores de atividades económicas, houve maior número de acidentes de trabalho em 2017
e menor em 2016, no entanto, analisando o setor de atividades de saúde humana e apoio
social, verifica-se o contrário, havendo maior número de acidentes de trabalho em 2016
e menor em 2017. Em média, ao longo destes três anos (2015, 2016 e 2017) verifica-se

32
que 9,0% dos acidentes de trabalho no setor de atividades humanas e apoio social são
responsáveis pela totalidade de acidentes de trabalho.

Figura 21- Nº de ATs em 2015, 2016 e 2017. Gráfico A: Totalidade de ATs; Gráfico B: Nº de ATs no Setor Q

33
III. Metodologia
A escolha do processo RIAAT como a ferramenta utilizada para a análise e investigação
dos acidentes de trabalho em estudo prendeu-se com o facto de esta ter começado a ser
utilizada na empresa, onde a autora do trabalho se encontra a desenvolver atividade como
Técnica de Higiene e Segurança no Trabalho, no início de 2018. Pessoalmente, o facto
de ter começado a trabalhar com o processo RIAAT despertou-me ainda mais interesse
de o compreender melhor e aplicá-lo corretamente de forma a promover uma melhoria
contínua nas organizações, através da aprendizagem organizacional que se obtém
aquando a resolução do plano de ação extraído da análise e investigação de acidentes de
trabalho, tornando-se desta maneira uma medida preventiva de segurança.

1. RIAAT (REGISTO, INVESTIGAÇÃO E ANÁLISE DE ACIDENTES DE


TRABALHO)

A aplicação das metodologias de análises de acidentes de trabalho são viáveis em meio


hospitalar, no entanto, os métodos WAIT e RIAAT possuem variáveis pré-definidas que
auxiliam na análise dos acidentes de trabalho, ao contrário das restantes metodologias
que dependem da prática do investigador (Nunes et al., 2012).

O processo RIAAT tem como objetivo promover boas práticas relacionadas com
acidentes de trabalho, que combina uma metodologia estruturada e um protocolo do tipo
“impresso-padrão” (Jacinto, Soares, Fialho, & Silva, 2010).

A característica exclusiva do RIAAT (Recording, Investigation and Analysis of Accidents


at Work) é que cobre todo o ciclo de informações, facilitando o fluxo e a partilha de
informações relevantes e promovendo uma aprendizagem mais rápida sobre a segurança.
O desenvolvimento desta ferramenta foi baseado em três domínios principais:
identificação de boas práticas existentes e estabelecidas nas empresas, requisitos legais e
enquadramento teórico e cientifico, conforme representado na Figura 22 (Jacinto et al.,
2011).

34
Estado da
Arte
(Teoria)

RIAAT

Estado da
Arte Legislação
(Prática)

(Fonte: adaptado de Jacinto et al., 2011)

Figura 22- Principais domínios do desenvolvimento do método RIAAT

Este método foi desenvolvido tendo por base o modelo teórico de causalidade de Reason.
Ilustra-se na Figura 23 as quatro partes sequenciais da estrutura do processo RIAAT: o
registo dos dados, a investigação e análise do acidente, a implementação do plano de ação
com as propostas corretivas e por fim, a aprendizagem organizacional.

(Fonte: adaptado de Jacinto et al., 2010)

Figura 23- Processo RIAAT

A Parte I, relativa ao registo do acidente, é onde se pretende identificar todas as falhas


ativas, os factos básicos e circunstâncias. Esta parte inicial do processo está alinhada com
a metodologia Eurostat que adota o conceito de “desvio”, e garante o cumprimento de
alguns requisitos legais.

A Parte II, corresponde à análise de causalidade baseada no modelo dos “acidentes


organizacionais”, onde estão definidos três níveis de pesquisa: a organização/gestão, o
local de trabalho e a pessoa (ou equipa), aqui pretende-se procurar as causas e os
respetivos fatores subjacentes. O processo RIAAT acrescenta outro nível ao modelo

35
proposto por Reason, que diz respeito à legislação de SST com o objetivo de encontrar
possíveis problemas legais. A Figura 24 resume-se da seguinte forma (Jacinto et al.,
2010):

• Os atos inseguros e comportamentos podem causar um acidente, normalmente


estas são as causas imediatas mais frequentes. De forma a conceber estratégias de
prevenção adequadas torna-se necessário procurar este tipo de ocorrências e
analisar as razões subjacentes.
• As características do local de trabalho podem influenciar o comportamento das
pessoas, neste aspeto pretende-se identificar os perigos e condições perigosas,
definindo medidas corretivas/melhoria.
• A política e o controlo da gestão têm um grande impacto sobre o local e as
condições de trabalho, é fundamental identificar os pontos fracos ao nível
organizacional e de gestão de forma a melhorar o seu desempenho.
• A legislação de SST que assume o primeiro passo preventivo em qualquer
organização, pelo que a identificação de possíveis incumprimentos legais deverá
fazer parte integrante de uma boa investigação.

Fonte: adaptado de Jacinto et al., 2010

Figura 24- Modelo de acidente subjacente à Parte II do RIAAT

A Parte III do processo tem como objetivo “corrigir e melhorar” através da verificação
da avaliação de riscos e do estabelecimento de um plano de ação adequado e praticável.

36
Este plano de ação contempla a identificação do nível de prioridade (Curto prazo: <1mês;
Médio Prazo: 1 a 6 meses; e Longo Prazo: >6 meses), as medidas corretivas/de melhoria,
os responsáveis pela implementação das medidas e o custo estimado da mesma.

A aprendizagem organizacional refere-se à Parte IV do processo, que é fundamental para


manter um “ciclo” de melhoria da segurança. É necessário que as lições sejam extraídas
e que o conhecimento seja aplicado, assim como garantir que estas são partilhadas com
as pessoas “alvo”.

Para as organizações alcançarem a melhoria contínua, importa referir que chegando ao


fim do processo torna-se necessário verificar a eficácia da implementação das medidas
proposta e monitorizar qualquer desenvolvimento, sendo este processo, portanto, um
ciclo continuado.

37
2. APRESENTAÇÃO DAS UNIDADES EM ESTUDO

O presente estudo foi realizado em hospitais privados e clínicas de saúde privadas, que
se inserem na Classificação das Atividades Económicas na secção Q, subclasse 861.

Relativamente à atividade de Segurança e Higiene no Trabalho nas mesmas, existe um


técnico de SHT em cada hospital de grandes dimensões, e existem três técnicos de SHT
que se dividem entre os outros hospitais de média dimensão e clínicas de pequenas
dimensões que se distribuem conforme as zonas. Ou seja, no total, existem seis técnicos
de segurança no trabalho nas unidades onde o estudo se realizou.

Fazendo a autora deste trabalho parte da equipa, é responsável pela segurança dos
trabalhadores em dois hospitais de média dimensão e duas clínicas de saúde.

Relativamente ao processamento dos acidentes de trabalho, chegam ao serviço de saúde


ocupacional, por parte dos Recursos Humanos, as participações de acidentes de trabalho
(Apêndice A) para o mesmo fazer a respetiva investigação e análise de AT e elaborar o
respetivo plano de ação, fazendo o controlo se o mesmo foi ou não implementado.

No entanto, um dos grandes obstáculos para o serviço de saúde ocupacional tem a ver
com o facto do mesmo não ter qualquer acesso ao número total de trabalhadores em cada
unidade nem, ao respetivo número de horas-homem trabalhadas (NhHT),
impossibilitando o cálculo dos índices de sinistralidade. No relatório único apenas
existem dados dos números de colaboradores referentes a trabalhadores com contrato com
a unidade, no entanto, verifica-se que a grande maioria dos acidentes são referentes a
prestadores de serviços.

A dificuldade de se obter, por parte dos Recursos Humanos, dados credíveis sobre as
variáveis indispensáveis ao cálculo dos índices de sinistralidade prende-se com a
existência de um grande número de trabalhadores com contrato de prestação e também
com a grande rotatividade de profissionais, nestas organizações de saúde.

38
3. ETAPAS

Numa primeira etapa, foi feita a reclassificação de todos os acidentes de trabalho,


ocorridos nos anos de 2017 e 2018, de acordo com o método RIAAT. Este método apenas
começou a ser utilizado na empresa no ano de 2018, no entanto, mesmo os acidentes de
trabalho ocorridos nesse ano sofreram reclassificação neste estudo, de forma a garantir
uniformização dos dados tratados. Foram criadas classificações (I, II, III) de forma a
agrupar os acidentes de trabalho de acordo com a dimensão da unidade onde ocorreram.
Algumas variáveis foram também reclassificadas tendo em conta a codificação
apresentada pelo GEP de forma a posteriormente se poder fazer a comparação entre os
dados.

Numa segunda etapa, foram selecionados os acidentes de trabalho para a análise


aprofundada. Foram selecionados para esta análise os acidentes de trabalho pertencentes
às unidades de saúde nas quais a autora deste estudo se encontra a trabalhar, sendo assim
possível realizar as entrevistas informais (Apêndice B) com os trabalhadores, entrevistas
com as chefias quando necessário, e observar o espaço, equipamentos e outros fatores
que podem auxiliar a respetiva análise. Posteriormente, foi realizada a investigação
aprofundada destes acidentes de trabalho.

Numa última etapa, foi realizada a análise e discussão dos resultados obtidos.

Na Figura 25, apresenta-se o esquema das etapas acima descritas.

39
Figura 25- Etapas do estudo

4. AMOSTRA

Foi feita a análise de acidentes de trabalho relativos aos anos de 2017 e 2018, em oito
hospitais, oito clínicas e um instituto de saúde.

Relativamente aos hospitais, foram contemplados três de grandes dimensões e cinco de


dimensões inferiores. Foram criados 3 tipos de classificações, tendo como objetivo
comparar unidades semelhantes (em termos de dimensões/nº de trabalhadores), conforme
ilustrado na Figura 26.

40
Figura 26- Classificação das unidades

A Classificação I, diz respeito aos hospitais de grandes dimensões e apresentam um


elevado número de trabalhadores. A classificação II diz respeito a hospitais de dimensões
médias e a Classificação III, diz respeito a clínicas que têm uma dimensão reduzida e um
número de trabalhadores reduzido.

Na totalidade, ocorreram 555 acidentes de trabalho nas unidades, sendo que 112
ocorreram fora das instalações (in itinere, domicílio ou eventos da empresa) e 443
ocorreram nas instalações (Tabela 2). Neste estudo apenas vão ser tratados os acidentes
de trabalho ocorridos nas instalações (N=443), pois são aqueles que são possíveis de
implementar medidas para a prevenção de acidentes de trabalho.
Tabela 2- Acidentes de trabalho ocorridos em 2017 e 2018 nas unidades em estudo

Acidentes de Trabalho Nas instalações In itinere/outros

2017 196 45

2018 247 67

Total 443 112

Na Tabela 3 apresenta-se o número de acidentes de trabalho por unidade. Como se pode


observar a dimensão das unidades de Saúde não é indiferente. Assim as unidades de maior
dimensão (Classificação I) integraram 68% dos acidentes analisados, as unidades de
dimensão intermédia (Classificação II) integraram 28% e, por fim, as unidades de menor
dimensão apenas registaram 4% de acidentes de trabalho.

41
Tabela 3- Número de AT por unidade

Nº Nº Nº
Classif. Classif. Classif.
AT AT AT

Hospital A 105 Hospital D 41 Clínica A 2

I Hospital B 106 Hospital E 25 Clínica B 4

Hospital C 92 Hospital F 21 Clínica C 5


II
total 303 Hospital G 15 III Clínica D 2

Hospital H 2 Clínica E 1

Instituto A 18 Clínica F 3

total 122 Clínica H 1

total 18

Para a análise e investigação aprofundada (Parte II do RIAAT) apenas foram


considerados 52 acidentes de trabalhos, a escolha destes acidentes de trabalho deveu-se a
uma maior facilidade na recolha da informação e da facilidade de entrevistar os
sinistrados e analisar os locais de trabalho presencialmente, sendo assim, para esta análise
foram contempladas as unidades às quais a autora deste estudo está afeta, ou seja, o
Hospital E, o Hospital F, a Clínica B e a Clínica D.

5. TRATAMENTO DE DADOS

Para o tratamento dos dados recorreu-se ao programa informático Statistical Package for
the Social Sciences (SPSS ©) (version 26). Foi realizada estatística descritiva recorrendo
a parâmetros de localização (Frequência, Médias, Medianas ou percentagens) e de
dispersão (amplitude e desvio padrão), estatística inferencial e, foi ainda aplicado o
princípio de Pareto com o objetivo de identificar as causas/consequências responsáveis
por aproximadamente 80% dos acidentes de trabalho. A utilização do princípio de Pareto
pareceu-nos adequada pois permite definir melhor o problema ao identificar as principais
causas/consequências (em função da variável em estudo).

42
Relativamente à Parte I do RIAAT a análise dos dados incidiu sobre as variáveis: sexo
do sinistrado, escalão etário, categoria profissional, local do AT, escalão de dias perdidos,
atividade física, desvio, agente material do desvio, contacto, agente material do contacto,
natureza da lesão e parte do corpo atingida.

Adicionalmente, e numa tentativa de verificar se existem diferenças significativas entre


as categorias de unidades definidas (classificadas em I, II e III) e os resultados obtidos
para as variáveis - desvio, contacto, agente material do desvio e do contacto, natureza da
lesão e escalão de dias perdidos, foi utilizado o teste não paramétrico para amostras
independentes Kruscal-Wallis. Em todos os testes foi utilizado um nível de significância
de 0,05.

Relativamente à Parte II do RIAAT, para a análise aprofundada dos acidentes de trabalho


selecionados, a análise dos dados incidiu sobre as seguintes variáveis: as falhas humanas,
os fatores individuais contributivos, os fatores do local de trabalho e os fatores
organizacionais e de gestão.

43
IV. Resultados
Neste capítulo apresentam-se os resultados da aplicação do processo RIAAT, dividindo
os resultados em duas partes:

• Parte I – onde se apresentam os dados relativos: a) ao trabalhador sinistrado (sexo


do sinistrado, idade e categoria profissional); b) às características do local de
trabalho, das condições e da atividade em si (serviço/local de ocorrência do AT,
modalidade de horário e intervalo-hora da ocorrência do AT e atividade física; c)
às causas imediatas do AT (desvio e seu agente material, contacto e seu agente
material), e d) às consequências do AT (natureza da lesão, parte do corpo atingida
e escalão de dias perdidos).
• Parte II – onde se apresenta os dados relativos à investigação e análise do AT
(falhas humanas, fatores individuais contributivos, fatores do local de trabalho,
fatores organizacionais e de gestão)

Não foram consideradas variáveis relativas à nacionalidade e à situação profissional, pois


a maioria destes dados não foram preenchidos pelos Recursos humanos e não foram
contemplados nas entrevistas realizadas aos profissionais.

As variáveis - idade, dias perdidos, tipo de lesão e parte do corpo atingida - foram
classificadas segundo a metodologia adotada pelo GEP de modo a possibilitar uma
comparação entre os resultados obtidos e padrões de referência.

Tal como referido no ponto 4 do capítulo III, apenas irão ser analisados os acidentes de
trabalho que ocorreram no interior das instalações de saúde.

Relativamente à parte I, os resultados serão apresentados para cada variável em estudo


tendo em consideração a totalidade dos acidentes de trabalho analisados (por um lado) e
a classificação das unidades de saúde (por outro lado) procurando, deste modo, perceber
se a tipologia de acidente varia com a dimensão das unidades. Como referido na parte 4
do capítulo V, no período em análise ocorreram 303 ATs nas unidades de grande
dimensão (Classificação I), 122 ATs nas unidades de média dimensão (Classificação II)
e 18 nas unidades de pequena dimensão (Classificação III).

44
1. PARTE I – REGISTO DOS ACIDENTES DE TRABALHO

1.1. DADOS RELATIVOS AO SINISTRADO

1.1.1. Escalão etário

A idade permite caracterizar os sinistrados, como se verifica na Figura 27, a maioria dos
sinistrados encontra-se no escalão etário dos 25 aos 34 anos (29,6%), sendo que não difere
muito das faixas etárias dos 35 aos 44 anos (26,0%) e dos 45 aos 54 anos (24,4%).

Estas três faixas etárias foram, também as mais referenciadas pelo GEP (GEP, 2019).
(Figura 12).

Na Figura 27 é possível verificar que na classificação I e II, os dados não diferem da


caracterização global, no entanto, na classificação III o escalão etário dos 45 aos 54 anos
é o mais visado pelos sinistrados.

Figura 27- Distribuição de AT segundo o escalão etário (N=443)

De acordo com o teste Kruscal-Wallis, verificou-se que não existem diferenças


significativas entre as classes de unidade hospitalar no que respeita à variável escalão
etário, k=3.246 e p>0,05.

45
1.1.2. Sexo do sinistrado

Relativamente ao sexo do sinistrado verifica-se, na Figura 29, que a maioria dos


sinistrados correspondem ao sexo feminino (88%), o que está de acordo com os dados do
GEP (Figura 11) onde se tinha verificado um resultado semelhante (83%).

Quando se analisam os dados por classificação de unidades verifica-se que os resultados


são equivalentes, nomeadamente quando há a presença de ambos os sexos (proporção ≈
de 25% - sexo masculino; 70% a 75% - sexo feminino); quando apenas há registos de
acidentes num único sexo, como foi o caso das unidades com classificação III, o sexo
feminino é o que prevalece.

O setor da saúde está tradicionalmente mais associado à presença de mulheres, tanto em


atividades de limpeza, de enfermagem como de assistência de saúde, o que pode
eventualmente justificar os resultados apresentados já que estas foram as categorias
profissionais mais afetadas (Figura 28).

Figura 28- Distribuição de AT segundo o sexo do sinistrado e por classificação de unidade (N=443)

De acordo com o teste Kruscal-Wallis, verificou-se que não existem diferenças


significativas entre as classes de unidade hospitalar no que respeita à variável sexo do
sinistrado, k=2.599 e p>0,05.

1.1.3. Categoria profissional

Na Figura 29 é possível observar que os sinistrados desempenham profissões diretamente


ligadas com os cuidados de saúde. É possível evidenciar as principais categorias
profissionais com responsabilidade em 80% dos acidentes. Assim, destacam-se: os
auxiliares de ação médica (~37%), os enfermeiros (~26%), e os trabalhadores de limpeza

46
(~19%) como as categorias profissionais com predominância relevante na ocorrência de
acidentes de trabalho.

Na análise realizada tendo em conta a classificação, verifica-se que os resultados são


semelhantes, já que estas foram as três categorias profissionais responsáveis por, pelo
menos, 80% dos acidentes; ainda que nas unidades com classificação II e III a
sinistralidade na profissão administrativa mostrou-se superior em 13% e 6%,
respetivamente, à profissão de limpeza.

Figura 29- Distribuição de AT segundo a categoria profissional (N=443)

Todavia, de acordo com o teste Kruscal-Wallis, verificou-se que não existem diferenças
significativas entre as classes de unidade hospitalar no que respeita à variável categoria
profissional, k=1,174 e p>0,05.

47
1.2.DADOS RELATIVOS ÀS CARACTERÍSTICAS DO LOCAL DE
TRABALHO, DAS CONDIÇÕES E DA ATIVIDADE EM SI

1.2.1. Serviço/local de ocorrência do acidente de trabalho

A Figura 30 apresenta a distribuição dos acidentes de trabalho segundo a variável


serviço/local de ocorrência do AT. É possível evidenciar os serviços mais relevantes com
responsabilidade em 80% dos acidentes. Os locais/serviços onde ocorreram maior
número de acidentes de trabalho foram: internamento (19%), áreas comuns (16%), bloco
operatório (14%), consultas (7%), sem informação (6%), UCIP (4%) e imagiologia (4%).

Na análise realizada tendo em conta a classificação, verifica-se que os resultados são


semelhantes aos dados globais para a classificação I. Na classificação II, as áreas comuns,
o bloco operatório e o serviço de consultas foram os locais onde se verificaram mais
acidentes de trabalho. Na classificação III, é possível observar que a sala de enfermagem
foi o local onde ocorreram mais acidentes de trabalho, seguindo-se das áreas comuns e
da imagiologia.

Figura 30- Distribuição de AT segundo o serviço/local da ocorrência (N=443)

48
De acordo com o teste Kruscal-Wallis, verificou-se que existem diferenças significativas
entre as classes de unidade hospitalar no que respeita à variável serviço/local de
ocorrência, k=11,108 e p<0,05.

As diferenças verificam-se entre as classificações II e III e entre as classificações I e III.


Estas diferenças podem ser explicadas pelo facto de as classes I e II serem referentes a
hospitais, onde existe um maior número de serviços, enquanto a classe III, que se refere
a clínicas, acaba por muitas vezes não ter muitos serviços definidos (apenas consultas),
ou quando existem serviços, são em número muito reduzido.

1.2.2. Modalidade de horário de trabalho

A Figura 31 apresenta a distribuição dos acidentes de trabalho segundo a variável


modalidade de horário de trabalho. É possível evidenciar as modalidades de horário mais
relevantes, com responsabilidade em ≈ 80% dos acidentes. Observa-se que é
desconhecida a modalidade de horário de trabalho em aproximadamente 50% dos
sinistrados, o que evidencia a necessidade de uma melhor notificação dos acidentes por
parte dos profissionais; 33% dos sinistrados apresentam um horário por turnos.

Na análise realizada tendo em conta a classificação das unidades, verifica-se que é


desconhecida a modalidade de horário de trabalho na maioria dos sinistrados na
classificação I e II. Na classificação I, verifica-se que 27% dos acidentes de trabalho
dizem respeito a sinistrados que apresentam horário por turnos. Na classificação II, 17%
dos acidentes de trabalho referem-se a sinistrados com horário normal. E, na classificação
III, 53% dos acidentes de trabalho correspondem a sinistrados com horário por turnos e
37% dos acidentes é desconhecida a modalidade de horário de trabalho.

49
Figura 31- Distribuição de AT segundo a modalidade de horário de trabalho (N=443)

De acordo com o teste Kruscal-Wallis, verificou-se que existem diferenças significativas


entre as classes de unidade hospitalar no que respeita à variável modalidade de horário de
trabalho, k=16,012 e p<0,05. Estas diferenças verificam-se entre as classificações I e II e
as classificações II e III.

1.2.3. Intervalo-hora de ocorrência do acidente de trabalho

A Figura 32 apresenta a distribuição dos acidentes de trabalho segundo a variável


intervalo-hora de ocorrência. É possível evidenciar os intervalos-horas mais relevantes,
responsáveis por 80% dos acidentes, analisados neste período de tempo. Observa-se que
28% dos acidentes ocorreram entre as 9h00-11h59, 19% ocorrem entre as 15h00-17h59,
18% ocorrem entre as 12h00-14h59 e 13% ocorrem entre as 18h00 e as 20h59.

Na análise realizada tendo em conta a classificação das unidades, verifica-se que a


distribuição dos acidentes de trabalho segundo a variável intervalo-hora de ocorrência
apresenta uma distribuição +/- equivalente à dos dados globais.

50
Figura 32- Distribuição de AT segundo o intervalo-hora de ocorrência (N=443)

De acordo com o teste Kruscal-Wallis, verificou-se que não existem diferenças


significativas entre as classes de unidade hospitalar no que respeita à variável intervalo-
hora de ocorrência, k=3,674 e p>0,05.

1.2.4. Atividade física especifica

A Figura 33 apresenta a distribuição dos acidentes de trabalho segundo a variável da


atividade física. Da sua análise, é possível evidenciar as atividades mais relevantes, com
responsabilidade em ≈ 80% dos acidentes Verifica-se que a atividade física mais visada
pelos sinistros é a “manipulação de objetos” (~38%), seguindo-se de “movimento”
(~27%) e da atividade de “transporte manual” (~21%). Numa analise mais detalhada
verificou-se que:

51
• Dentro do código 40-Manipulação de objetos, 47% corresponde ao subcódigo 41-
Pegar à mão, agarrar, prender, manter na mão, colocar (num plano horizontal);
• Dentro do código 60-Movimento, 54% corresponde ao subcódigo 61-Andar,
correr, subir, descer, etc., e
• Dentro do código 50-Transporte manual, 47% corresponde ao subcódigo 52-
Transportar horizontalmente (puxar, empurrar um objeto) e 34% com o subcódigo
51-Tansportar verticalmente (levantar, baixar um objeto).

Na análise realizada tendo em conta a classificação das unidades, verifica-se que a


distribuição dos acidentes de trabalho segundo a variável atividade física específica
apresenta a mesma distribuição que os dados globais nas Classificações I e II. A
classificação III difere da análise global, onde o código 60-Movimento e 100-Outras não
se encontra representado no gráfico.

Figura 33- Distribuição de AT segundo a atividade física (N=443)

De acordo com o teste Kruscal-Wallis, verificou-se que não existem diferenças


significativas entre as classes de unidade hospitalar no que respeita à variável atividade
física, k=0,215 e p>0,05.

52
Verifica-se que os dados em estudo diferem dos dados publicados pelo GEP (2019), para
o setor Q, onde o código 60-Movimento foi o mais visado e onde o código 40-
Manipulação de objetos apenas foi responsável por 11% dos acidentes de trabalho (Figura
34). Todavia, quando se comparam os gráficos de Pareto relativos à distribuição de
acidentes, segundo a atividade física no sector Q (Figura 13) e nas Unidades em estudo
(Figura 33) percebe-se que, apesar da ordem poder variar, as 4 principais atividades
físicas especificas, responsáveis por 80% dos acidentes, são as mesmas, o que nos permite
afirmar que os resultados obtidos, neste estudo, são equiparados aos padrões de referência
utilizados.

Figura 34- Diferenças entre os dados em estudo e os dados do GEP na distribuição de AT segundo a atividade física

1.3. DADOS RELATIVOS ÀS CAUSAS IMEDIATAS DO AT

1.3.1. Desvio

A Figura 35 apresenta a distribuição dos acidentes de trabalho ocorridos segundo a


variável do Desvio. É possível evidenciar os fatores mais relevantes, associados a esta
variável, com responsabilidade em 80% dos acidentes Verifica-se que os principais
acontecimentos desviantes deveram-se a três grandes famílias de desvio: “movimentos
do corpo não sujeitos a constrangimentos” (26,2%), “movimentos do corpo sujeitos a
constrangimentos” (25,5%) e “perda de controlo de máquina, meio de transporte,
equipamento manuseado, ferramenta manual, objeto” (23%). Numa análise mais
detalhada verificou-se que:

• Dentro do código 60-Movimentos do corpo não sujeitos a constrangimentos, 72%


correspondem ao subcódigo 64-Movimentos não coordenados, gestos
intempestivos, inoportunos e 28% correspondem ao subcódigo 63-Ser apanhado ou
arrastado por qualquer coisa, ou pelo seu impulso;

53
• Dentro do código 70-Movimentos do corpo sujeitos a constrangimentos, 34%
correspondem ao subcódigo 72-Empurrar ou puxar um objeto, 24% correspondem
ao subcódigo 71-Levantar ou carregar um objeto, 20% ao subcódigo 75-Caminhar
pesadamente, passo em falso ou escorregamento (sem queda) e 14% ao subcódigo
74-Entorce, rotação, virando-se;
• Dentro do código 40-Perda de controlo de máquina, meio de transporte,
equipamento manuseado, ferramenta manual, objeto, 45% correspondem ao
subcódigo 41-Perda, total ou parcial, de controlo de objeto.

Relativamente à análise de acordo com a classificação, verifica-se que, na classificação I


o acontecimento desviante mais visado foi o de “movimentos do corpo sujeitos a
constrangimentos físicos” (28%), na classificação II foi o de “movimentos do corpo não
sujeitos a constrangimentos” (32%) e na classificação III foi o de “escorregamentos ou
hesitações com queda” (33%). No entanto, em todas as classificações é possível observar
uma predominância elevada, em pelo menos, dois destes três acontecimentos desviantes
mencionados.

54
Figura 35- Distribuição de AT segundo o desvio (N=443)

De acordo com o teste Kruscal-Wallis, verificou-se que não existem diferenças


significativas entre as classes de unidade hospitalar no que respeita à variável desvio,
k=0.739 e p>0,05.

A análise obtida dos acidentes de trabalho em estudo, no que diz respeito aos
acontecimentos desviantes mais relevantes, difere dos dados publicados pelo GEP (2019),
para o sector Q, como representado na Figura 36. No entanto, quando se comparam os
gráficos de Pareto relativos à distribuição de acidentes, segundo a variável desvio, no
sector Q (Figura 14) e nas Unidades em estudo (Figura 35) percebe-se que, apesar da
ordem poder variar existem, pelo menos, 2 acontecimentos desviantes comuns,

55
responsáveis por 80% dos acidentes; tais resultados revelam uma ténua equiparação aos
padrões de referência utilizados.

Figura 36- Diferenças entre os dados em estudo e os dados do GEP na distribuição de AT segundo o Desvio

1.3.2. Agente material do desvio

A Figura 37 apresenta a distribuição de acidentes de trabalho segundo a variável do agente


material do desvio. É possível evidenciar os fatores mais relevantes associados a esta
variável com responsabilidade em cerca de 80% dos acidentes. Em relação aos agentes
materiais do desvio destaca-se o código 06.00-Ferramentas manuais - não motorizadas
(31,8%), o código 01.00-Edifícios, superfícies (ao nível do solo) (17,6%), o código 11.00-
Dispositivos de transporte e de armazenamento (12,0%), o código 18.00-Organismos
vivos e seres humanos (9,3%) e o código 17.00-Equip. de escritório e pessoais, material
de desporto, armas, equip. doméstico (8,6%). Dos agentes materiais mais evidenciados
verifica-se que:

• Dentro do código 06.00-Ferramentas manuais (não motorizadas), 89%


correspondem ao subcódigo 06.14-Ferramentas para trabalhos médicos e
cirúrgicos (furar, cortantes).
• Dentro do código 01.00-Edifícios, construções e superfícies, 74% correspondem
ao subcódigo 01.02-Solo e 26% correspondem ao subcódigo 01.01-Paredes,
divisórias e obstáculos por função.
• Dentro do código 11.00-Dispositivos de transporte e de armazenamento, 60%
correspondem ao subcódigo 11.04-Dispositivos móveis de transporte e 28%
correspondem ao subcódigo 11.09-Embalagens diversas, pequenas e médicas
(móveis).
• Dentro do código 18.00-Organismos vivos e seres humanos, todos os acidentes
correspondem ao subcódigo 18.06-Seres humanos.

56
• Dentro do código 17.00-Equip. de escritório e pessoais, material de desporto,
armas, equip. doméstico, 74% correspondem ao subcódigo 17.01-Mobiliário.

Relativamente à análise de acordo com a classificação das unidades, verifica-se que em


todas as classificações a maior predominância do agente material do desvio também diz
respeito ao código 06.00- Ferramentas manuais e 01.00- Edifícios, construções,
superfícies – ao nível do solo, no entanto a restante distribuição já vai variando.

Figura 37 - Distribuição de AT segundo o agente material do desvio (N=443)

De acordo com o teste Kruscal-Wallis, verificou-se que existem diferenças significativas


entre as classes de unidade hospitalar e a variável agente material do desvio, k=11.688 e
p<0,05. Estas diferenças verificaram-se entre a classificação I e II, onde p=0,002.

A análise obtida dos acidentes de trabalho em estudo, no que diz respeito aos agentes
materiais do desvio mais relevantes, difere dos dados publicados pelo GEP (2019), como

57
representado na Figura 38. Quando se comparam os gráficos de Pareto relativos à
distribuição de acidentes, segundo a a variável agente material do desvio, no sector Q
(Figura 15) e nas Unidades em estudo (Figura 37) percebe-se que, apesar da ordem poder
variar existem, pelo menos, 2 agentes materiais desviantes comuns, responsáveis por 80%
dos acidentes; tais resultados revelam uma ténua equiparação aos padrões de referencia
utilizados.

Figura 38- Diferenças entre os dados em estudo e os dados do GEP na distribuição de AT segundo o agente material
do desvio

Os dados do GEP (2019) apresentam uma percentagem razoável de eventual “nenhuma


informação”, o que pode justificar as diferenças reveladas.

1.3.3. Contacto

A Figura 39 apresenta a distribuição dos acidentes de trabalho ocorridos segundo a


variável do Contacto. É possível evidenciar os fatores mais relevantes associados a esta
variável com responsabilidade em 80% dos acidentes. Destaca-se o contacto associado
aos códigos 50-Contacto com agente material cortante, afiado, áspero (33%), 70-
Constrangimento físico do corpo/constrangimento psíquico (27%) e 30-Esmagamento em
movimento vertical/horizontal sobre/contra objeto imóvel (18%). Na variável contacto,
entre os mais evidenciados, verifica-se que:

• Dentro do código 50-Contacto com agente material cortante, afiado, áspero,


verifica-se que 81% correspondem ao subcódigo 52-Contacto com agente
material afiado.
• Dentro do código 70-Constrangimento físico do corpo/constrangimento psíquico,
refere-se apenas ao subcódigo 71-Constrangimentos físicos sobre o sistema
músculo-esquelético.

58
• Dentro do código 30-Esmagamento em movimento vertical/horizontal
sobre/contra objeto imóvel, verifica-se que 81% correspondem ao subcódigo 31-
Movimentos verticais, esmagamento sobre, contra (resultados de quedas).

Relativamente à análise de acordo com a classificação, verifica-se que segundo o


contacto, as classes de unidade hospitalar pertencentes às classificações I e II apresentam
distribuições semelhantes correspondendo aos dados globais, no entanto as classes de
unidade hospitalar pertencente à classificação III, embora o contacto com agente material
cortante/afiado/áspero também tenha sido o mais visado pelos sinistrados verifica-se que
de seguida foi o esmagamento em movimento vertical/horizontal sobre/contra objeto
imóvel correspondendo a 28% dos sinistros ocorridos.

Figura 39- Distribuição de AT segundo o contacto (N=443)

De acordo com o teste Kruscal-Wallis, verificou-se que não existem diferenças


significativas entre as classes de unidade hospitalar no que diz respeito à variável
contacto, k=3.131 e p>0,05.

59
A análise obtida dos acidentes de trabalho em estudo, no que diz respeito à variável
contacto, difere dos dados do GEP (2019) como representado na Figura 40. Todavia,
quando se comparam os gráficos de Pareto relativos à distribuição de acidentes, segundo
o contacto no sector Q (Figura 16) e nas Unidades em estudo (Figura 39) percebe-se que,
apesar da ordem poder variar, os 3 principais contactos, responsáveis por 80% dos
acidentes, são os mesmos, o que nos permite afirmar que os resultados obtidos, neste
estudo, são equiparados aos padrões de referência utilizados.

Figura 40- Diferenças entre os dados em estudo e os dados do GEP na distribuição de AT segundo o contacto

1.3.4. Agente material do contacto

A Figura 41 apresenta a distribuição de acidentes de trabalho segundo a variável agente


material do contacto. É possível evidenciar os fatores mais relevantes associados a esta
variável com responsabilidade em cerca de 80% dos acidentes. Em relação aos agentes
materiais do contacto destacam-se os códigos 06.00-Ferramentas manuais (não
motorizadas) (~32%), 00.00-Nenhum agente material ou nenhuma informação (~21%), e
01.00-Edifícios, superfícies ao nível do solo (~19%). Dos agentes materiais mais
evidenciados verifica-se que:

• Dentro do código 06.00-Ferramentas manuais (não motorizadas), 61%


correspondem ao subcódigo 06.14.01.00-Seringas, agulhas e 15% correspondem
ao subcódigo 06.14.99.00-Outras ferramentas manuais afiadas e cortantes para
trabalhos de medicina.
• Dentro do código 00.00-Nenhum agente material ou nenhuma informação, 96%
correspondem ao subcódigo 00.01.00.00-Nenhum agente material, e
• Dentro do código 01.00- Edifícios, construções e superfícies ao nível do solo, 65%
correspondem ao subcódigo 01.02.01.00-Piso e 12% ao subcódigo 01.01.02.00-
Portas.

60
Relativamente à análise de acordo com a classificação das unidades (I, II e III), verifica-
se que em todas as classes de unidade hospitalar a maior predominância do agente
material do contacto também diz respeito aos agentes materiais identificados nos dados
globais.

Figura 41- Distribuição de AT segundo agente material do contacto (N=443)

De acordo com o teste Kruscal-Wallis, verificou-se que não existem diferenças


significativas entre as classes de unidade hospitalar no que diz respeito à variável agente
material do contacto, k=0.365 e p>0,05.

A análise obtida dos acidentes de trabalho em estudo, no que diz respeito à variável agente
material do contacto, difere dos dados publicados pelo GEP (2019) conforme apresentado
na Figura 42. Porém, quando comparados os gráficos de Pareto relativos à distribuição
de acidentes, segundo o agente material do contacto no sector Q (Figura 17) e nas
Unidades em estudo (Figura 41) percebe-se que, apesar da ordem poder variar, os 4
principais agentes materiais do contacto responsáveis por 80% dos acidentes, são os
mesmos, o que nos permite afirmar que os resultados obtidos, neste estudo, são
equiparados aos padrões de referência utilizados.

61
Figura 42- Diferenças entre os dados em estudo e os dados do GEP na distribuição de AT segundo o agente material
do contacto

1.4.DADOS RELATIVOS ÀS CONSEQUÊNCIAS DO AT

1.4.1. Natureza da lesão

A Figura 43 apresenta a distribuição dos acidentes de trabalho ocorridos segundo a


variável natureza da lesão. É possível evidenciar os fatores mais relevantes associados a
esta variável, presentes em 80% dos acidentes. Destacam-se os códigos 010-Feridas e
lesões superficiais (~47%) e 030-Deslocações, entorses e distensões (~29%). Numa
análise mais detalhada, verifica-se que:

• Dentro do código 010-Feridas e lesões superficiais, 73% correspondem ao


subcódigo 011-Lesões superficiais e 21% correspondem ao subcódigo 012-
Feridas abertas.
• Dentro do código 030-Deslocações, entorses e distensões, 66% correspondem ao
subcódigo 032-Entorses e distensões e 15% correspondem ao subcódigo 039-
Outros tipos de deslocações, entorses e distensões.

Relativamente à análise de acordo com a classificação das unidades, verifica-se que em


todas as classes de unidade hospitalar a maior predominância, relativamente à natureza
da lesão, também diz respeito ao identificado nos dados globais.

62
Figura 43- Distribuição de AT segundo a natureza da lesão (N=443)

De acordo com o teste Kruscal-Wallis, verificou-se que não existem diferenças


significativas entre as classes de unidade hospitalar no que respeita à variável natureza da
lesão, k=0.160 e p>0,05.

Quando comparamos os dados dos acidentes de trabalho em estudo, no que diz respeito
à variável natureza da lesão “conhecida”, verificamos que os resultados são semelhantes
aos dados publicados pelo GEP (2019), para o sector Q (Figura 19), conforme
apresentado na Figura 44, o que nos permite afirmar, mais uma vez, que os resultados
obtidos, neste estudo, são equiparados aos padrões de referência utilizados.

Figura 44- Diferenças entre os dados em estudo e os dados do GEP na distribuição de AT segundo a natureza da
lesão

63
1.4.2. Parte do corpo atingida

A Figura 45 apresenta a distribuição dos acidentes de trabalho ocorridos segundo a


variável “parte do corpo atingida”. É possível evidenciar as regiões corporais mais
afetadas, presentes em 80% dos acidentes ocorridos. Destaca-se os códigos 50-
Extremidades superiores (56,4%) e 60-Extremidades inferiores (18,3%). Numa análise
mais detalhada, verifica-se que:

• Dentro do código 50-Extremidades superiores, 57% correspondem ao subcódigo


54-Dedos, 17% ao subcódigo 53-Mão e 8% correspondem ao subcódigo 52-
Braço, incluindo cotovelo.
• Dentro do código 60-Extremidades inferiores, 35% correspondem ao subcódigo
64-Pé, 16% ao subcódigo 62-Perna, incluindo joelho e 69-Extremidades
inferiores, outras partes não mencionadas e 14% correspondem ao subcódigo 68-
Múltiplas partes.

Relativamente à análise de acordo com a classificação das unidades, verifica-se que as


extremidades superiores são sempre a parte do corpo mais atingida. A classificação I e II
apresentam distribuições semelhantes correspondendo aos dados globais, no entanto na
classificação III, embora as extremidades superiores também tenham sido a parte do
corpo mais atingida pelos sinistrados verifica-se que de seguida foi o corpo inteiro ou
múltiplas partes do corpo correspondendo a 22% dos sinistros ocorridos.

De acordo com o teste Kruscal-Wallis, verificou-se que não existem diferenças


significativas entre as classes de unidade hospitalar no que respeita à variável parte do
corpo atingida, k=1.521 e p>0,05.

Quando comparamos os dados dos acidentes de trabalho em estudo, no que diz respeito
à variável “parte do corpo atingida”, verificamos que os resultados são semelhantes aos
dados publicados pelo GEP (2019), para o sector Q (Figura 20) conforme apresentado na
Figura 46.

64
Figura 45- Distribuição de AT segundo a parte do corpo atingida (N=443)

Figura 46- Diferenças entre os dados em estudo e os dados do GEP na distribuição de AT segundo a parte do corpo
atingida

1.4.3. Escalão de dias perdidos

A Figura 47 apresenta a distribuição dos acidentes de trabalho ocorridos segundo a


variável “escalão de dias perdidos”. É possível evidenciar os fatores mais relevantes
associados a esta variável, presentes em 80% dos acidentes. Assim, destacam-se dois

65
escalões de dias perdidos, os “sem dias de ausência” (63%) e as ausências compreendidas
entre “30 a 365 dias” (11%).

Relativamente à análise de acordo com a classificação das unidades (I, II e III), verifica-
se que nas classes de unidade hospitalar pertencentes à classificação I, o escalão de dias
perdidos também diz respeito aos escalões identificados, nos dados globais. No entanto,
nas classes de unidade hospitalar pertencentes às classificações II e III, o escalão “7 a 13
dias” apresenta uma maior percentagem que o escalão “30 a 365 dias”, o que sugere que
os acidentes ocorridos em unidades mais pequenas são, geralmente, de menor gravidade.

Figura 47- Distribuição de AT segundo o escalão de dias perdidos (N=443)

De acordo com o teste Kruscal-Wallis, verificou-se que não existem diferenças


significativas entre as classes de unidade hospitalar no que respeita à variável escalão de
dias perdidos, k=6.435 e p>0,05.

66
Quando se comparam os gráficos de Pareto relativos à distribuição de acidentes, segundo
o “escalão de dias perdidos” no sector Q (Figura 18) e nas Unidades em estudo (Figura
47) percebe-se que os resultados obtidos, neste estudo, são equiparados aos padrões de
referência utilizados. Esta equivalência é ainda verificada na proporção relativa de cada
variável, conforme apresentado na Figura 48.

Figura 48- Diferenças entre os dados em estudo e os dados do GEP na distribuição de AT segundo o escalão de dias
perdidos

Na Tabela 4, verifica-se que na variável contacto, o código 50- Contacto com Agente
material cortante, afiado, áspero” representa o fator mais presente no total de acidentes
ocorridos (com ~33% dos registos (N=145)). No entanto, não se verifica na sua grande
maioria (91% dos casos) a ocorrência de dias de ausência ao trabalho; esta situação
representa o caso das “picadas acidentais”, que são notificadas, mas, no entanto, não
originam, na sua maioria, dias de trabalho perdidos. Em contrapartida, e por análise da
mesma tabela é possível observar que o código 70- Constrangimento físico do corpo,
constrangimento psíquico é a segunda variável do contacto que mais contribuiu para o
número de acidente ocorridos (com ~27% dos registos (N=120)) e a variável com maior
registo de dias perdidos (~61% dos casos reportados e representando ~44% dos acidentes
que originaram dias perdidos); importa referir que estas situações estão ligadas à
movimentação manual de doentes e movimentação de cargas/objetos.

67
Tabela 4- Relação entre a variável contacto e o escalão de dias perdidos

1.5. ACIDENTE TIPO

Não existe nas unidades de saúde analisadas uma tipologia de acidente muito bem
definida. No entanto, com base na análise global da Parte I, verifica-se que no período
em análise é possível destacar dois acidentes “típicos” considerando que existem, pelo
menos 2 “contactos” com uma proporção muito equilibrada. Assim o Acidente típico
poderá ser descrito como o que aconteceu:

§ a uma mulher (83%), na faixa etária dos 25-34 anos (~30%), auxiliar de ação
médica (37%), enquanto manipulava objetos (38%), no período das 9 às 11h59
(28%), no Internamento (19%).
§ onde a vítima terá sofrido um acidente do Tipo I associado ao “contacto com
agente material cortante, afiado, áspero” (33%) ou então um acidente do Tipo II
associado a “constrangimentos físicos do corpo” (27%). Estas duas modalidades
de acidentes foram possivelmente causadas por movimentos indevidos do corpo,
quer tenham sido “sem constrangimento físico” (26,2%), quer “movimentos com
constrangimento físico” (25,5%), ou ainda causados pela “perda de controlo” de
objetos (23%). Esta última causa estará mais relacionada com o acidente Tipo I
que envolve o contacto com “agentes materiais cortantes, afiados ou ásperos”.
§ ocasionando sobretudo, “feridas e lesões superficiais” (47%) nas “extremidades
superiores” (56,4%), em particular nos “dedos” (57%) não originando contudo, o
afastamento do trabalhador do seu local de trabalho (63%).

Na Tabela 5, apresenta-se a síntese da informação analisada acima.

68
Tabela 5 - Definição do acidente-tipo

Acidente-Tipo

Características do Sexo do sinistrado Feminino


trabalhador
Escalão etário 25 aos 34 anos

Categoria Profissional Auxiliar de Ação Médica

Características Local Ocorrência Internamento


espaciais e
temporais dos Intervalo-Hora
acidentes de 9h-11h59
trabalho ocorridos

Características dos Atividade física específica Manipulação de objetos


acidentes de
trabalho ocorridos Desvio Movimentos do corpo não sujeitos a
constrangimentos físicos

Agente material do desvio Ferramentas manuais – não motorizadas

Contacto com agente material cortante,


Acidente – Tipo 1
afiado, áspero
Contacto

Acidente – Tipo II Constrangimentos físicos do corpo

Agente material do contacto Ferramentas manuais – não motorizadas

Consequências dos Natureza da lesão Feridas e lesões superficiais


Acidentes de
Trabalho ocorridos Parte do corpo atingida Extremidades superiores

Escalão de dias perdidos Sem dias de ausência

69
2. PARTE II – ANÁLISE E INVESTIGAÇÃO APROFUNDADA DE AT

Na parte II será feita uma análise e investigação aprofundada de 52 acidentes de trabalhos,


que correspondem às seguintes unidades: Hospital E, o Hospital F, a Clínica B e a Clínica
D.

De acordo com a parte II do processo RIAAT foram considerados nesta fase da análise
as falhas humanas, os fatores individuais contributivos, os fatores do local de trabalho e
os fatores organizacionais e de gestão.

1.1. FALHAS HUMANAS

A análise das falhas humanas tem como objetivo encontrar e analisar quaisquer ações
humanas erróneas que causaram ou contribuíram/facilitaram para a ocorrência do
acidente.

A análise das falhas humanas foi realizada segundo: o tipo de erro – deslizes (falhas de
atenção), lapsos (falhas de memória) ou enganos (ações intencionais); e o tipo de
violações. Quando nenhuma das opções era aplicável, a opção “não se aplica” é
selecionada para caracterizar esta variável.

No apêndice C, apresentam-se definições de Reason citadas por Jacinto (2005), sobre os


tipos de erros e violações.

A Figura 49 apresenta a distribuição dos acidentes de trabalho segundo o tipo de falha


identificada.

Figura 49- Distribuição de AT segundo as falhas humanas identificadas (N=52)

70
Verifica-se que 65% das falhas humanas dizem respeito a deslizes, ou seja, falhas de
atenção, dos quais 74% foram da responsabilidade do próprio sinistrado.

A Tabela 6 permite relacionar as falhas humanas com a antiguidade nas funções. Nesta
tabela foram excluídas destes dados as falhas humanas cometidas por terceiros e o
acidente de trabalho onde não foi identificada falha humana, ou seja, será considerado
um N=34.
Tabela 6 - Distribuição de AT segundo as falhas humanas identificadas e a antiguidade nas funções (N=34).

Antiguidade nas Funções

Falhas Mais de 2 até Mais de 5 até


Humanas < 1 Ano 1 a 2 Anos >10 Anos Total
5 Anos 10 Anos

N % N % N % N % N % N

Deslize 2 8,0 6 24,0 2 8,0 6 24,0 9 36,0 25

Engano 4 44,4 0 0,0 1 11,1 2 22,2 2 22,2 9

Da análise à Tabela 6, é possível observar que 60% dos deslizes (falhas de atenção) dizem
respeito a trabalhadores com mais de 5 anos nas funções, podendo estas estar relacionadas
com a realização de tarefas em modo automático. Os deslizes mais visados pelos sinistros
prendem-se com as atividades de colocação de agulhas nos contentores de corto-
perfurantes originando picadas e a perda de controlo de ferramentas médicas (curetas,
agulhas, cateteres) que originam cortes, golpes e picadas, verificou-se a falta de atenção
na realização das atividades executadas. As perdas de controlo de ferramentas
representam cerca de 32% dos deslizes identificados.

Os Enganos com 17% das ocorrências dos AT analisados, estão associados à aplicação
de más regras, situações onde os colaboradores realizam atividades de movimentação
manual de cargas/doentes adotando procedimentos errados.

1.2.FATORES INDIVIDUAIS CONTRIBUTIVOS

O objetivo da análise dos fatores individuais contributivos é perceber quais os fatores que
influenciaram o comportamento ou contribuíram para as falhas humanas, podendo tratar-
se de fatores temporários, fatores permanentes ou outros fatores não incluídos na tabela

71
de classificação. Quando nenhuma das opções era aplicável, a opção “não se aplica” é
selecionada para caracterizar esta variável.

A Figura 50 apresenta a distribuição dos acidentes de trabalho segundo os fatores


individuais contributivos identificados. Apenas foram identificados os fatores
temporários nos fatores individuais contributivos, pois verificou-se que os fatores
permanentes e outros fatores não contribuíram para a ocorrência dos acidentes analisados.

Figura 50- Distribuição de AT segundo os fatores individuais contributivos identificados (N=52)

É possível verificar da análise à Figura 50, os fatores temporários que estiveram presentes
em 80% dos acidentes ocorridos, onde:

• O código 16-Variabilidade humana intrínseca foi evidenciado em 47% dos


acidentes analisados, que corresponde falta de precisão ou precisão reduzida na
realização da tarefa, movimentos descoordenados, ou aumento do número de
ações que falham o seu propósito.
• O código 14-Falta de atenção foi evidenciado por 37% dos acidentes analisados,
que corresponde a situações onde o sinistrado não reparou num sinal ou num
acontecimento por falha de atenção ou dificuldade de concentração.

É ainda possível identificar, apesar da baixa representatividade, o subcódigo 13-Mudança


de atenção (com 7% dos registos), que corresponde a situações em que o sinistrado

72
desviou a sua atenção para outra coisa, a tarefa pode ficar incompleta ou ocorrer perda de
orientação.

1.3.FATORES DO LOCAL DE TRABALHO

A análise dos fatores do local de trabalho tem como objetivo identificar quais os fatores
do local de trabalho que, direta ou indiretamente, contribuíram de forma negativa para a
ocorrência do acidente.

A análise dos fatores do local de trabalho foi realizada segundo: o ambiente físico de
trabalho/meio envolvente, os equipamentos ou ferramentas, a tarefa e trabalho, a
competência (habilitação profissional, formação e experiência), a informação e
comunicação, e o ambiente externo (condições climatéricas ou fenómenos naturais).
Quando nenhuma das opções era aplicável, a opção “não se aplica” é selecionada para
caracterizar esta variável.

A Figura 52 apresenta a distribuição dos acidentes de trabalho segundo os fatores do local


de trabalho identificados.

Figura 51- Distribuição de AT segundo os fatores do local de trabalho identificados (N=52)

Verifica-se, a partir da análise da Figura 52, os fatores do local de trabalho que estiveram
presentes em 80% dos acidentes ocorridos, onde:

• O código 00-Sem informação ou não aplicável foi evidenciado em 40% dos


acidentes analisados, onde não se verificou a contribuição de fatores do local de
trabalho para a ocorrência do acidente.
• O código 10-Ambiente físico de trabalho/meio envolvente foi evidenciado por
25% dos acidentes analisados. Destes, 69% deveram-se a situações de arrumação
deficiente.
• O código 30-Tarefa e trabalho foi evidenciado por 19% dos acidentes analisados.
Destes, 60% estão relacionados com a manipulação de objetos “difíceis”, como

73
objetos pequenos e cortantes o que pode afetar o equilíbrio/estabilidade do
sinistrado e 20% estão relacionados com tarefas muito exigentes.

É ainda possível identificar, apesar da baixa representatividade, o subcódigo 20-


Equipamentos e ferramentas (com 10% dos registos), que corresponde a situações em que
os equipamentos ou ferramentas eram insuficientes ou inadequados e, ainda se verificou
situações em que estes apresentavam más condições e manutenção deficiente.

Foram identificadas as seguintes medidas, através da análise dos fatores do local de


trabalho, que poderiam ter prevenido a ocorrência dos acidentes analisados:

• Ambiente físico de trabalho/meio envolvente:


o Limpeza adequada do espaço de trabalho;
o Arrumação adequada do espaço de trabalho.
• Equipamentos e ferramentas:
o Colocação de equipamentos em locais de fácil acesso;
o Utilização de EPI adequados à tarefa;
o Alteração de fornecedor de contentor de corto-perfurantes (contentores
com pouca resistência e de abertura difícil);
o Verificação dos equipamentos antes da sua utilização.
• Tarefa e trabalho:
o Cumprir com as responsabilidades definidas em cada tarefa;
o Proibir a realização de trabalho em simultâneo alocando os recursos
necessários para realizar a tarefa;
o Respeitar os tempos de resposta de todos os envolvidos na tarefa de forma
a que todos os intervenientes consigam acompanhar sem que se sintam
pressionados.
• Informação e comunicação:
o Comunicação verbal durante procedimentos conjuntos, alertando os
intervenientes para a tarefa seguinte que se pretende realizar.

1.4. FATORES ORGANIZACIONAIS E DE GESTÃO

A análise dos fatores organizacionais e de gestão tem como objetivo perceber quais os
fatores organizacionais e de gestão que influenciaram os acontecimentos e as condições
de trabalho insatisfatórias.

74
A análise dos fatores organizacionais foi realizada segundo: a gestão de topo
(empresarial), procedimentos e regras, fatores técnicos, formação e competência, e
fatores específicos de segurança (SST). Quando nenhuma das opções era aplicável, a
opção “não se aplica” é selecionada para caracterizar esta variável.

A Figura 53 apresenta a distribuição dos acidentes de trabalho segundo os fatores


organizacionais e de gestão identificados.

Figura 52- Distribuição de AT segundo os fatores organizacionais e de gestão identificados (N=52)

A partir da análise da Figura 53, é possível evidenciar os fatores organizacionais e de


gestão que estiveram presentes em 80% dos acidentes ocorridos, destacando-se:

• O código 00-Sem informação ou não aplicável que representa 50% dos acidentes
analisados, onde não se verificou a contribuição de fatores organizacionais e de
gestão para a ocorrência do acidente.
• O código 20-Procedimentos e regras que representa 27% dos acidentes analisados.
Destes, 92,9% deveram-se à aplicação de procedimentos incorretos e más práticas
de trabalho. Relativamente à aplicação de procedimentos incorretos, verificou-se
em grande maioria situações onde o material corto-perfurante era colocado em
locais inadequados (ex. mesa de trabalho e sacos do lixo), devendo estes ser
depositados em contentores próprios para corto-perfurantes, logo após a sua
utilização, pelo próprio utilizador. Relativamente à aplicação de más práticas de
trabalho foram identificadas situações onde os profissionais adotavam práticas
incorretas na movimentação manual de doentes, sem auxílio de colega e sem
atenção nas posturas/movimentos que aplicavam para a realização da atividade.

É ainda possível identificar, apesar da baixa representatividade, o código 30-Fatores


técnicos (com 12% dos registos), onde se identificou que a má conceção de
instalações/equipamentos e a má eficácia de controlos ou barreiras físicas contribuíram

75
para a ocorrência destes acidentes de trabalho. E, o código 40-Formação e competência
(com 10% dos registos), onde a política de formação e a identificação de necessidades
específicas de formação foram os fatores organizacionais e de gestão identificados.

Foram identificadas as seguintes medidas, através da análise dos fatores organizacionais


e de gestão, que poderiam ter prevenido a ocorrência dos acidentes analisados:

• Gestão de topo (empresarial):


o Contratação de mais profissionais de forma a que os profissionais
existentes não assumam mais que uma tarefa ao mesmo tempo.
• Procedimentos e regras:
o Reforçar e relembrar as regras e procedimentos com regularidade;
o Garantir o cumprimento das práticas e procedimentos estabelecidos;
o Sensibilização por parte dos responsáveis de serviço aos profissionais para
a utilização dos EPIs adequados sempre que exista risco de projeção de
salpicos de fluídos biológicos;
o Não assumir duas tarefas em simultâneo.
• Fatores técnicos:
o Reporte e devida substituição de equipamentos que se encontram em más
condições;
o Colocação de barras antiderrapantes nas escadas de forma a minimizar o
risco de queda.
o Colocação de sistemas de escoamento adequados nos balneários;
• Formação e competência:
o Formação e sensibilização para os riscos inerentes às atividades
realizadas;
o Formações práticas sobre a movimentação manual de doentes e
movimentação manual de cargas;
o Sensibilização para adoção de comportamentos seguros e de posturas
corretas.

76
1.5. PROPOSTAS DE CORREÇÃO

Após a identificação dos fatores influenciadores, relativamente aos fatores contributivos


do local de trabalho e dos fatores organizacionais e de gestão, que podem ter contribuído
para a ocorrência dos acidentes de trabalho, apresentam-se, na Tabela 7 e 8, propostas de
correção (medidas a implementar) para prevenir a ocorrência de acidentes de trabalho.
Tabela 7- Proposta de correção para os fatores do local de trabalho identificados

Fatores Influenciadores Propostas de Correção

Limpeza inadequada do espaço de trabalho Rever processos de limpeza

Arrumação inadequada do espaço de trabalho


Reorganizar os espaços de trabalho
Colocação de equipamentos em locais de difícil
acesso

Utilização de EPI inadequados à tarefa Rever os EPI e adquirir outros mais


adequados para os fins a que se destinam.

Alteração de fornecedor de contentor de corto- Rever contratos de fornecedores


perfurantes (contentores com pouca resistência e
de abertura difícil)
Local de Trabalho

Ausência de Verificação dos equipamentos antes Desenvolver check-list de verificação


da sua utilização

Incumprimento com as instruções de trabalho Sensibilizar para cumprimento das


instruções de trabalho

Sobrecarga de trabalho dos profissionais Reavaliar a necessidade de recrutar mais


facilitando a ocorrência de comportamentos de profissionais;
risco tais como incumprimento de regras de
Sensibilizar para adoção de
segurança, desatenção, etc.
comportamentos seguros

Falta de sensibilidade para a necessidade de se


respeitar os tempos de resposta, de todos os
envolvidos na tarefa, de forma a que todos os
intervenientes consigam acompanhar sem que se
sintam pressionados Sensibilizar para adoção de
comportamentos seguros
Ausência/deficiente comunicação verbal durante
procedimentos conjuntos, alertando os
intervenientes para a tarefa seguinte, favorecendo
a ocorrência de acidentes

77
Tabela 8- Proposta de correção para os fatores Organizacionais e de Gestão identificados

Fatores Influenciadores Propostas de Correção

Carência de profissionais originando sobrecarga Se possível recrutar mais profissionais


de trabalho e dificuldade de cumprimento das
regras e medidas de segurança

Incumprimento de regras e procedimentos


Alertar para cumprimento das regras e
Incumprimento das práticas e procedimentos procedimentos estabelecidos
estabelecidos

Falta de sensibilização aos profissionais para a Sensibilizar para a utilização dos EPIs
Organizacionais e de gestão

utilização dos EPIs adequados adequados (pelos responsáveis do serviço)

Sobrecarga de trabalho dos profissionais, Envolver os profissionais no processo de


fazendo com que estes assumam tarefas em tomada de decisões para que estes consigam
simultâneo priorizar o seu trabalho

Equipamentos em más condições e ausência de Reportar quando os equipamentos não se


reporte da situação encontram em condições a quem de direito

Ausência de barras antiderrapantes nas escadas Colocar barras antiderrapantes


potenciando o risco de queda

Inexistência de sistemas de escoamento Colocar sistemas de escoamentos


adequados nos balneários adequados nos balneários

Ausência de formação e sensibilização para os Reforçar formação, informação e boas


riscos inerentes às atividades realizadas práticas de trabalho

Ausência de formações práticas sobre a Implementar formações ao nível da


movimentação manual de doentes e movimentação manual de cargas
movimentação manual de cargas

78
V. Discussão
As organizações, cada vez mais, têm dois grandes objetivos: aumentar a produtividade e
reduzir custos, o que muitas vezes se reflete negativamente nas condições de trabalho que
são proporcionadas aos profissionais. O ritmo de trabalho intenso, a exigência das tarefas,
a rotatividade e o trabalho por turnos, que se verifica em muitas organizações contribuem
para o aumento do número de acidentes de trabalho.

Neste estudo, como expectável, as unidades de grande dimensão tiveram maior número
de acidentes de trabalho, seguindo-se das unidades de média e pequena dimensão devido
ao maior número de trabalhadores e serviços existentes nas mesmas.

Conforme apresentado na revisão sistemática, Ferreira (2005, citado por Silva, 2008)
aponta como o tipo de acidente mais frequente as picadas acidentais, o que vai de encontro
aos resultados apresentados, onde a variável de contacto mais frequente foi o “contacto
com agente material cortante, afiado, áspero” (81%). Sendo que, desta variável de
contacto identificada, o agente material mais visado foi justamente as agulhas e seringas
(61%). Também, a ACSS, identificou que o tipo de instituição onde se registou maior
número de acidentes de trabalho foram os Hospitais, o internamento foi identificado como
o serviço onde existe maior número de acidentes de trabalho, o sexo feminino foi o mais
visado, a picada de agulha foi a ação com mais peso que resultou em lesão, resultados
estes que se mostram semelhantes aos resultados apresentados.

Quando comparada a tipologia de acidente de trabalho, ao nível das diferentes variáveis


que a compõe (Escalão etário, sexo do sinistrado, categoria profissional, local/serviço de
ocorrência, modalidade de horário de trabalho, intervalo-hora de ocorrência, atividade
física, desvio, agente material do desvio, contacto, agente material do contacto, natureza
da lesão, parte do corpo atingida e escalão de dias perdidos), por unidades hospitalares
organizadas em função da dimensão da unidade (Classificação I, II e III), não se verificou,
na sua globalidade, a presença de diferenças significativas (p<.05).

Por sua vez, quando comparadas as variáveis do estudo com as variáveis de padrões de
referência (GEP, 2019), verifica-se que os principais fatores associados às variáveis
identificadas, que foram responsáveis por 80% dos acidentes de trabalho, são semelhantes
entre si embora a sua ordem possa variar. Estes resultados revelam equiparação aos
padrões de referência utilizados.

79
Através da análise aprofundada efetuada, verificamos que os deslizes, são as falhas
humanas mais cometidas pelos profissionais.

Os fatores individuais contributivos identificados em 58% dos acidentes de trabalho


deveram-se a fatores temporários. Destes fatores predominam a variabilidade humana
intrínseca e a falta de atenção na realização da tarefa. Durante as entrevistas foi
questionado aos profissionais como ocorreu o acidente e foi questionado o que poderia
ter sido feito de maneira diferente de forma a evitar a ocorrência do mesmo, e na maioria
das situações foi identificado pelos próprios que deveriam reforçar a atenção durante a
realização das tarefas.

De forma a prevenir estes acidentes de trabalho torna-se essencial a realização de pausas


programadas, evitando que os profissionais trabalhem muitas horas consecutivas assim
como se torna necessário que estes tenham consciência e conhecimento dos perigos
existentes no seu local de trabalho e o risco a que aos mesmos estão sujeitos, pelo que se
recomenda a realização de ações de formação neste âmbito.

Relativamente aos fatores do local de trabalho, embora na maioria dos acidentes não se
tenha verificado a contribuição destes fatores, existe ainda uma contribuição de 25% no
que se refere ao ambiente físico e meio envolvente e 19% no que se refere a tarefas e
trabalho. Para estas situações deverão ser alertados os profissionais, em ações de
formação ou conversas informais para a importância de garantir que colocam os materiais
corto-perfurantes, logo após a sua utilização, nos contentores disponibilizados para o
efeito, assim como todos os equipamentos utilizados em local adequado e definido para
tal. Importa referir que a colocação/arrumação destes materiais/equipamentos deverá
realizar-se pelo próprio. Deverá ainda existir supervisão pelos responsáveis de serviço
que garantam que os mesmos cumprem com o estipulado.

No que se refere aos fatores organizacionais, na maioria dos acidentes não se verificou a
contribuição destes fatores. No entanto, 27% dos acidentes ocorridos devem-se à
aplicação de procedimentos incorretos e más práticas de trabalho. Importa aqui, reforçar
as regras e procedimentos estabelecidos com regularidade de forma a garantir o
cumprimento dos mesmos.

“Relativamente ao elevado número de acidentes por picada de agulha entre os


profissionais de Enfermagem, é referido em alguns estudos que estes acidentes podem ser
evitados ou, pelo menos, minimizados, se existir uma utilização correta dos equipamentos

80
e se forem empregues cuidados no manuseamento de materiais perfuro-cortantes”
(Mendes & Areosa, 2014).

A citação acima referida assim como as medidas propostas para prevenir a ocorrência de
acidentes de trabalho, incidem sobretudo na importância de realização de ações de
formação assim como treino em situação real. Deverá ser prioridade nestas organizações
que exista um plano de ações de sensibilização no que se refere aos perigos existentes nos
locais de trabalho e aos riscos a que os profissionais estão sujeitos. Estas ações de
sensibilização deverão ser complementadas de forma programada com formações,
essencialmente, sobre riscos biológicos, riscos químicos e formações no âmbito de
ergonomia que incluam os riscos da movimentação manual de cargas e movimentação
manual de doentes assim como a adoção de posturas corretas para a realização das
diversas tarefas executadas.

É realizado, pelo Serviço de Saúde Ocupacional, um plano de ação para todos os acidentes
de trabalho e enviado para a respetiva chefia. Este plano de ação permite que as chefias
tenham conhecimento das medidas a implementar, dos responsáveis pela implementação
das medidas propostas assim como os prazos estipulados para a implementação das
medidas. No entanto, é importante realçar que não são só os trabalhadores que devem ser
sensibilizados para as questões da segurança. Deverá a direção das unidades em estudo
atribuir responsabilidades aos responsáveis de serviço para garantir que as medidas
propostas são efetivamente implementadas com o objetivo de criar locais de trabalho
seguros e, por sua vez, reduzirmos o número de acidentes de trabalho.

Importa referir, que durante a análise aprofundada dos acidentes de trabalhos não foram
identificados incumprimentos legais que possam ter contribuído para a ocorrência dos
acidentes. No entanto, foram identificados incumprimentos legais nas avaliações de
riscos que devem ser alvo de intervenção.

81
VI. Conclusões
As instituições hospitalares apresentam inúmeros riscos associados à saúde ocupacional,
devido à variedade de tarefas desempenhadas pelos profissionais. Estes profissionais
estão sujeitos a riscos biológicos, químicos, físicos, psicossociais, riscos no âmbito da
ergonomia entre outros.

Reconhecendo a importância atribuída à Análise e Investigação dos Acidentes de


Trabalho (AT), o presente estudo pretendeu avaliar os acidentes de trabalho ocorridos em
diferentes unidades de saúde recorrendo para o efeito ao método RIAAT (Registo,
Investigação e Análise de Acidentes de Trabalho).

Os objetivos do trabalho prenderam-se com a caracterização das causas (imediatas,


humanas, organizacionais e de gestão) mais relevantes dos acidentes de trabalho
ocorridos, em unidade de saúde privadas, entre 2017 e 2018, com a caracterização da
tipologia de acidente de trabalho mais comum, com a comparação da tipologia dos
acidentes de trabalho por unidades hospitalares organizadas em função tipo/dimensão da
unidade, com a comparação da tipologia dos acidentes nas variáveis (Desvio, Agente
material de Desvio, Contacto, Agente material de Contacto, Tipo de lesão, Parte do Corpo
Atingida e Dias perdidos), com padrões de referência conhecidos (Sector de atividade –
Q, segundo, CAE 3ª rev.) e, finalmente, com a disseminação de boas práticas de trabalho
através da utilização plena do método RIAAT – registo, Investigação e Análise de
Acidente de Trabalho.

Este trabalho implicou a reclassificação dos acidentes de trabalho registados em 2017 e


2018 (443 acidentes de trabalho), onde foi aplicado o método RIAAT e feita a
uniformização dos dados. Posteriormente, foram selecionados 52 acidentes de trabalho
para fazer a análise aprofundada onde foram aplicadas entrevistas semiestruturadas que
permitiram obter o contributo direto dos sinistrados e responsáveis de serviço (chefia).

Neste estudo foi utilizado o método RIAAT que permitiu evidenciar as causas imediatas,
humanas, organizacionais e de gestão mais relevantes nos acidentes de trabalho ocorridos
entre 2017 e 2018, assim como caracterizar a tipologia de acidente mais comum.

Após a análise dos dados relativos à parte I do RIAAT podemos dizer que não existe, nas
unidades de saúde estudadas, uma tipologia de acidente muito bem definida, contudo, no

82
período em análise, é possível destacar não um mas dois acidentes “típicos” considerando
que existem, pelo menos 2 “contactos” com uma proporção muito equilibrada. Assim,
o(s) Acidente(s)-Tipo poderá ser descrito como “o que aconteceu a uma mulher, na faixa
etária dos 25-34 anos, auxiliar de ação médica, enquanto manipulava objetos, no período
das 9 às 11h59, no Internamento; onde a vítima terá sofrido de um acidente do Tipo I
associado ao “contacto com agente material cortante, afiado, áspero” (33%) ou então um
acidente do Tipo II associado a “constrangimentos físicos do corpo” (27%). Estas duas
modalidades de acidentes foram possivelmente causadas por “movimentos indevidos do
corpo”, quer tenham sido “sem constrangimento físico” (26,2%), quer movimentos “com
constrangimento físico” (25,5%), ou ainda causados pela “perda de controlo” de objetos
(23%). Esta última causa estará mais relacionada com o acidente Tipo I que envolve o
contacto com “agentes materiais cortantes, afiados ou ásperos”; estes acidentes
ocasionaram sobretudo, “feridas e lesões superficiais” (47%) nas “extremidades
superiores” (56,4%), em particular nos “dedos” (57%) não originando, contudo, o
afastamento do trabalhador do seu local de trabalho (63%).

Quando comparada a tipologia de acidente de trabalho, ao nível das diferentes variáveis


que a compõem com as classificações I, II e III, não se verificou, na sua globalidade, a
presença de diferenças significativas (p<.05). Estas diferenças foram apenas encontradas
nas variáveis: serviço local de ocorrência, devido à existência de uma grande diversidade
de serviços encontrados em unidades hospitalares (classificação I e II) quando comparado
com clínicas, que apresentam poucos serviços (classificação III); modalidade de horário
de trabalho onde a informação na classificação I e III é maioritariamente desconhecida; e
no agente material do desvio.

Verificou-se ainda, que os acidentes ocorridos em unidades mais pequenas são,


geralmente, de menor gravidade.

Através da análise aprofundada efetuada, verificamos que os deslizes, são as falhas


humanas mais comuns nestes profissionais. Os fatores individuais contributivos
identificados deveram-se maioritariamente a fatores temporários; destes, predominam a
variabilidade humana intrínseca e a falta de atenção na realização da tarefa.
Relativamente aos fatores do local de trabalho, embora na maioria dos acidentes não se
tenha verificado a contribuição destes fatores, existe ainda uma contribuição de 25% no
que se refere ao ambiente físico e meio envolvente e 19% no que se refere a tarefas e

83
trabalho. No que diz respeito aos fatores organizacionais, na maioria dos acidentes não
se verificou a contribuição destes fatores, no entanto, 27% dos acidentes ocorridos
devem-se à aplicação de procedimentos incorretos e más práticas de trabalho.

Foi ainda possível, comparar a tipologia dos acidentes nas variáveis (Desvio, Agente
material de Desvio, Contacto, Agente material de Contacto, Tipo de lesão, Parte do Corpo
Atingida e Dias perdidos, com padrões de referência conhecidos (Sector de atividade –
Q, segundo, CAE 3ª rev.), tendo-se verificado um comportamento globalmente
semelhante nas variáveis: atividade física, contacto, agente material do contacto, natureza
da lesão, parte do corpo atingida e escalão de dias perdidos. Nas variáveis desvio e agente
material do desvio, os resultados revelam uma ténue equiparação aos padrões de
referencia utilizados.

No entanto torna-se necessário realçar que a sub-notificação ainda parece ser um


problema (maior no caso em estudo) mas igualmente presente nos dados publicados pelo
GEP (2019). Torna-se então fundamental que as empresas façam a análise correta e
completa dos seus acidentes de trabalho de forma a corrigir esta situação. A ausência de
conhecimento do tipo de lesão pode condicionar a eficácia das medidas de correção
propostas.

Foram ainda identificadas limitações no estudo, como o facto de as entrevistas, aplicadas


na parte II do RIAAT, não terem sido todas realizadas, pela autora do estudo, na totalidade
dos acidentes analisados. Daí, apenas terem sido propostos para a análise aprofundada
dos acidentes de trabalho, os acidentes cuja entrevista ao sinistrado tenha sido realizada
pela autora deste estudo.

Outra limitação prende-se com a falta de preenchimento de dados pelos Recursos


Humanos, havendo falta de informação no que diz respeito à modalidade de horário de
trabalho, ao nível de habilitações dos profissionais e à antiguidade nas funções, dados
estes que poderiam auxiliar na análise e investigação dos acidentes ocorridos. Estes
resultados são semelhantes aos reportados por Mendes e Areosa (Mendes & Areosa,
2014) que referem que “ ... ainda existe uma subnotificação dos acidentes de trabalho por
parte dos profissionais de saúde, principalmente, no que respeita a acidentes com material
perfuro-cortante. Existe uma subestimação do risco e das consequências deste tipo de
acidentes, o que leva a crer que haja uma lacuna ao nível da formação contínua, bem
como ao nível da sensibilização e consciencialização dos profissionais para os riscos a
que estão sujeitos no seu local de trabalho”

84
De salientar, ainda, que inicialmente estava previsto verificar se a sinistralidade laboral
estava ou não sob controlo e avaliar o impacto da (não) implementação de medidas de
segurança; contudo, estes dois objetivos requerem o uso de gráficos/cartas de controlo
que por sua vez necessitam de dados para cálculo da taxa de frequência, dados estes que
não foram fornecidos pelos Recursos Humanos, nomeadamente as horas-homem
trabalhadas e o número total de trabalhadores, impossibilitando a concretização desses
objetivos.

Para um estudo futuro, seria interessante verificar a sinistralidade laboral e avaliar o


impacto da implementação das medidas de segurança.

Como sugestões de melhoria para a empresa, da aplicação do método RIAAT, identifica-


se que: a análise seja efetuada, não apenas pelos técnicos de segurança com o contributo
das chefias mas com a inclusão do serviço de medicina do trabalho de forma a caracterizar
o tipo de lesão e definir outro tipo de medidas que possam ser necessárias implementar;
realização de ações de formação no âmbito da Segurança e Saúde dos trabalhadores e
responsabilizar os responsáveis de serviço pelo acompanhamento das medidas propostas.

Torna-se ainda essencial melhorar a comunicação entre os diversos departamentos e


mostrar as vantagens da implementação das medidas propostas pela Segurança e Saúde
no Trabalho.

Como proposta de melhoria para a metodologia EEAT, sentiu-se a necessidade de


perceber, nos dados apresentados pelo GEP, se as variáveis eram desconhecidas ou não
existiam, pelo que se propõem que o código “00-Nenhum agente material ou nenhuma
informação” seja desagrupado em dois códigos distintos: “Nenhum agente material” e
“Nenhuma informação”; na verdade, a ausência de informação, por falta de codificação,
reflete uma subnotificação na variável em estudo, que pode ser o resultado de um
desconhecimento; por outro lado, a codificação “nenhum agente material” reflete uma
notificação consciente de ausência de agente material.

A aplicação do método RIAAT foi importante para a realização deste estudo, pois
permitiu uma recolha inicial dos dados sobre os acidentes, a sua codificação e
interpretação, a identificação das causas e dos fatores que contribuíram para a ocorrência
dos acidentes, possibilitando, deste modo, o desenvolvimento de estratégias de
prevenção.

85
No contexto hospitalar, este método apresentou-se muito útil, pois sendo bastante
diversificados os acidentes de trabalho aqui ocorridos, as variáveis pré-definidas no
método RIAAT facilitaram a análise dos mesmos.

86
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90
Apêndice A – Participação de Sinistro de acidente de trabalho

91
92
Apêndice B – Guião de Entrevista

93
Apêndice C - Glossário de Termos e Acrónimos

Tipos de Erros

Ações não Falhas de atenção ou de perceção em ações


Deslizes
intencionais, observáveis
geralmente em
Acontecimentos mentais internos, geralmente
Lapsos modo
envolvendo falhas de memória
“automático”
Enganos do
“Enganos” associados a comportamentos que
tipo R (Rule-
requerem aplicação de regras ou procedimentos
based mistakes)
Ações
Enganos do “Enganos” ao nível do conhecimento; ocorrem quando
intencionais
tipo K o trabalhador se depara com situações novas e perante
(Knowledge- as quais não dispõe de regras ou conhecimento
based mistakes) aplicável

Violações
Normalmente envolvem “ir por atalhos”, seguindo o
caminho mais curto ou mais fácil para executar uma
Violações de tarefa. Estes atalhos podem tornar-se atitudes habituais
Rotina das pessoas, particularmente em ambientes de trabalho
permissivos que toleram comportamentos de risco e não
Ações
há́ sansões para o incumprimento.
deliberadas.
Podem também usar-se os termos: “pelo gozo” ou “pela
Desrespeito por
emoção” de o fazer. Refletem o facto das ações
Violações de regras,
humanas satisfazerem uma variedade de motivações
otimização procedimentos
diferentes, algumas delas não relacionadas com aspetos
ou normas de
funcionais da tarefa.
segurança pré-
O incumprimento é visto como essencial para conseguir
estabelecidas
fazer o trabalho. Têm origem em situações particulares
Violações de trabalho. Tipicamente são provocadas por fraquezas
necessárias organizacionais (e.g., pressa, falta de pessoal,
equipamentos que não está disponível, ou ainda
trabalho em condições atmosféricas extremas).
(Fonte: adaptado de Jacinto, 2005)

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