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Resenha do livro: A
corrupção da
inteligência, do autor
Flavio Gordon

Raul Oliveira
Jul 9, 2018 · 4 min read

O livro, em si, é muito bom para uma primeira


análise do contexto histórico, político, cultural
e intelectual do país. O autor traz uma imensa
bibliogra9a que pode ser acessada
posteriormente de uma forma bem tranquila, já
que boa parte está disponível na internet.

Com o foco na corrupção da inteligência


brasileira, por isso o título, o autor cunha tal
termo com o signi9cado que ele mesmo dá
forma. Trabalhando com o contexto histórico
brasileiro, mas sem perde de vista o contexto
histórico mundial, Gordon faz um trabalho
cronológico bem interessante, começando
desde o Brasil colônia até o Brasil atual,
passando mais devagar pelo período da
ditadura (ou regime) militar, onde, segundo o
autor, há a resposta do enigma: porque,
principalmente no Brasil, houve uma
corrupção tão grande da elite intelectual?

Em um primeiro momento, o sustentáculo das


hipóteses do autor tem como base a formação
cultural do Brasil. Desde a colonização, a
independência, o Brasil Império, o coronelismo
e a política do café com leite. Flávio mostra a
evolução da intelectualidade brasileira, que a
cada tique taque do tempo, que é implacável,
dava um passo para trás. De uma elite bem
formada, praticamente polímata, a um grupo
enorme de pessoas diplomadas, mas sem
nenhuma relevância intelectual. Gordon
acertadamente coloca como um dos fatores
inIuenciadores dessa catástrofe intelectual a
escolarização obrigatória. Esse fato é
determinante no empobrecimento intelectual
brasileiro por duas razões: em primeiro lugar, a
“escola para todos” nivelou o povo brasileiro,
intelectualmente, por baixo. Nesse ponto eu
coloco minha visão de professor do ensino
fundamental: é impossível explorar os
melhores alunos da sala sem que haja uma total
ruptura com os alunos medianos e medíocres.
Portanto, há apenas duas alternativas: ou
investe-se apenas nos que querem aprender e
deixa-se o resto ao Deus-dará, ou investe-se
todo o seu tempo e dinheiro em um placebo de
educação para todos, até mesmo para os que
estão ali apenas por uma obrigação burocrática
e que não têm interesse algum em formar um
intelecto acima da mediocridade. A segunda
razão é mais profunda: com o estado tendo
também o monopólio da educação, que atinge
cada vez mais pessoas, ele pode doutrina-las do
jeito que melhor lhe prouver. E é isso que vimos
acontecer com o passar dos anos e, mais
agudamente, em nosso tempo atual.

A análise do período da ditadura militar,


paralelamente com a análise do cenário
mundial do mesmo período, é muito didática e
possui uma conexão consistente com os
diversos documentos que o próprio autor cita.
Um dos fatos mais marcantes, ao meu ver, é a
degeneração da intelectualidade brasileira
neste período e, principalmente, após esse
período. Outros autores, como Bruno
Garschagen, também fazem uma análise
parecida, e que não é muito comum. No
cenário mundial, a guerra fria entra em seu
apogeu, e a URSS com outros regimes
socialistas começam a colapsar. No Brasil, a
ditadura militar começa, aos poucos, devolver
um placebo de democracia para o povo
brasileiro. Nesse momento delicadíssimo da
nossa história, vemos o que poucos
historiadores comentam: a ausência de uma
“direita”, que 9zesse uma oposição a esquerda
que ganhava mais e mais espaço na cultura,
política e economia brasileira. Como mostra
Gordon, isso se dá ao fato de que não houve
uma intelectualidade “de direita” que se
desenvolveu durante o período militar; em
contraponto, numa espécie de rancor e
sentimentalismo “antifascista”, a esquerda
começou a ganhar mais e mais adeptos e a
dominar os espaços ainda na época da
ditadura. O que acelerou essa degeneração
intelectual foi justamente isso: na ausência de
uma oposição intelectual, a esquerda não
conseguia fazer uma autocrítica necessária
para seu próprio desenvolvimento intelectual;
não havia quem parasse para pensar e analisar
os estragos que o comunismo e o socialismo
9zera durante todo o século XX; não havia
quem buscasse analisar os escritos críticos
internacionais às políticas socioeconômicas de
esquerda, como a escola austríaca (no âmbito
econômico) e os escritores conservadores como
Roger Scruton, T. S. Elliot, Alexis de
Tocqueville, Russell Kirk (no âmbito político e
social); menos ainda quem analisasse as
tréplicas aos supracitados, como Derrida e os
desconstrutivistas. Assim, a esquerda brasileira
não conseguiu um sustentáculo teórico e
intelectual que impedisse o seu colapso
décadas depois de chegar ao poder.

Com Lula e o PT, houve ainda uma descida


mais profunda do que o fundo do poço. Com a
doutrinação nas universidades públicas, digna
de orgulhar Gramsci, mentor de toda a política
de esquerda no Brasil desde o positivismo de
Vargas, vimos a degeneração esquerdista
atingir seu ápice. Com o monopólio das idéias
dentro do ambiente universitário, a esquerda
não conseguiu se desenvolver, buscando em
vez disso silenciar as vozes tímidas que se
levantavam contra ela. Com meu relato
pessoal, vi a universidade na qual me graduei
se tornar um palco de bizarrices pós-modernas
no espaço de dois ou três anos. A título de
ilustração, o autor traz uma imensa lista de
dissertações de mestrado e teses de doutorado
que envolvem desde orgias gays até a
desconstrução do sexo e gênero humano de
todas as formas possíveis. Um episódio curioso
acontecera há algumas semanas: uma
mestranda de uma universidade federal
escreveu uma dissertação defendendo o
casamento tradicional e colocando os outros
como prejudiciais à ordem social. O que a
esquerda, principalmente a pós-moderna, fez?
Desenvolveu uma contra argumentação sólida
e saudável? Buscou alguma contradição nos
escritos da mestranda? Não. Atacaram a moça
nas redes sociais, tentaram boicotar de todas as
formas possíveis a defesa do título de mestrado
dela. Esse modus operandis reIete a
degeneração do pós-modernismo no Brasil e,
pelo que tenho acompanhado nas redes sociais,
do mundo todo. Essa é a face imaculada da
corrupção da inteligência.

Conservadorismo Conservatives

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Católico apostólico romano e professor de


Matemática.

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