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O que vem agora? Perspectivas políticas pós-impeachment.

Por Bruno Almeida | Historiador


almeida.online@yahoo.com.br

Já escrevi aqui nesta coluna uma defesa apologética das esquerdas e direitas democráticas
e acredito, sinceramente, que a efervescência do debate político que tomou conta do país nos
últimos três anos vai superar essa dicotomia burra, preguiçosa e exacerbada que o tem
caracterizado até então, por mais trágica que e demorada que venha a ser essa transição.
Há um tempo venho acompanhando, com curiosidade, os espaços que os discursos liberal e
conservador vêm galgando na mídia de massas e no ciberespaço ou mesmo nos meios
acadêmicos e intelectuais, demonstrando cada vez mais um caráter organizado e coeso, apesar
das óbvias divergências impostas pela pluralidade do espectro político.
É notório que um ponto em comum no discurso desta “nova direita” é o ataque à
preponderância da matriz marxista/comunista no pensamento social brasileiro que, segundo os
“acusadores”, teria impregnado os meios acadêmicos, a produção intelectual, as políticas públicas,
o sistema educacional e a própria burocracia estatal com um esquerdismo que tenderia à uma
sociedade submissa ao autoritarismo socialista.
Acredito que, em grande medida, essa perspectiva preguiçosa e anacrônica por excelência
tenha ganhado espaços e adeptos – nos mais variados setores sociais, diga-se de passagem –
devido a estapafúrdia trajetória política do Partido dos Trabalhadores na última década e meia
que, cumprindo uma dupla função, empurrou o conservadorismo pra fora do armário.
Em primeiro plano, o fracasso do projeto petista não é produto apenas de uma derrota
política para o golpismo teimoso das velhas oligarquias. Representa inegavelmente a caduquice de
uma esperança quase utópica em um projeto de poder incompetente travestido de projeto de
desenvolvimento comprometido com a superação dos entraves estruturais da sociedade brasileira,
o que revelou uma elite política de esquerda absolutamente comprometida com as velhas
tradições das esquerdas latino-americanas, leia-se: o populismo e a autoritarismo.
Em segundo plano, diante da falência das esperanças e da constatação de tal
incompetência política, abriu-se a porteira para as generalizações de todo tipo, autorizando a
“nova direita” a se acomodar na crítica rasteira e lamurienta, quiçá preguiçosa, ao projeto caduco
e fracassado do lulo-petismo – para emprestar a tão recorrentemente usada expressão.
Paramos por aí?! O que vem depois?! As esquerdas comprometidas com a democracia vão
ficar até quando se lamuriando pela efetivação do golpe?! As direitas comprometidas com a
democracia vão ficar até quando tripudiando os incompetentes e aplaudindo a oligarquia
plutocrática golpista?!
Não podemos é perder a oportunidade de aprender com este duro golpe, que nossa
neonata democracia precisa de reforço, não apenas institucional – tal qual uma expressiva
reforma política poderia empreender –, mas de espírito republicano que as “novas esquerdas” e
“novas direitas” precisam não apenas herdar, mas reconstruir.
O motivo que me fez expressar tão esperançosa perspectiva política veio, mais uma vez, da
sala de aula. Um aluno inteligente, atento, educado, estudioso, leitor assíduo, de boas notas e
que aparentemente aprecia minhas aulas de maneira especial carregava um exemplar de O Elogio
do Conservadorismo e Outros Escritos do intelectual mineiro João Camilo de Oliveira Torres.
Confesso que fiquei surpreso e inquieto com o fato que aquele aluno se interessar por aquele
livro. Mas pensei: Ele é jovem, inteligente, atento, educado, estudioso, leitor assíduo, de boas
notas. Existem muitos motivos que podem o ter levado a escolha daquele livro. Inclusive o de
possuir inclinações políticas e ideológicas conservadoras, mas se ele ajudar os conservadores
brasileiros a saírem desse marasmo de preguiça dicotômica e anacrônica teremos um avanço.

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