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BELÉM
2023
Ayla Rabelo Martins
Fernanda Karoline da Silva da Conceição
Larissa da Silva Rodrigues
Mariana Laice Trindade de Sousa Xerfan
1. INTRODUÇÃO
O tema foi escolhido uma vez que os gêneros digitais, com o advento da
internet, estão cada vez mais presentes no cotidiano social. Por isso, é pelas
especificidades que o modo de ser digital implica para a configuração dos
enunciados, no que diz respeito à composição, à temática e ao estilo. O espaço
digital imprime a constituição de uma identidade enunciativa e “uma variedade cria
um efeito de sentido, pois se ajusta a um lugar, a um tempo, a uma situação de
interlocução, a um grupo social” (Fiorin, 2008, p. 6).
O facebook, por sua vez, é um dos tipos de gênero que exibe essas
particularidades e construção de identidade, viabiliza uma forma de interação social
complexa, na qual diferentes signos relacionam-se para compor a mensagem.
Portanto, a noção de texto ultrapassa os limites do código linguístico, ao se associar
com outras semioses. “Entre os vários tipos de semioses: signos verbais, sons,
imagens e formas em movimento.” (MARCUSHI, 2002, p.2), a plataforma facebook
destaca-se para expor por meio desses signos a discussão da visão preconceituosa
de determinados interlocutores de fora da região Norte. É sob o panorama da ironia,
ponto central dessa argumentação, que será observado no facebook, a oralidade e
a imagem.
2. EMBASAMENTO TEÓRICO
Searle menciona que de acordo com as circunstâncias, esse ato de fala pode
ser visto como uma ironia. Ou seja, o locutor pode apresentar uma intenção de
maneira velada para falar sobre algo conforme o contexto de interação, e por meio
do conhecimento mútuo, os interactantes podem partilhar desse olhar.
3. METODOLOGIA
Este artigo tem como intuito provocar uma análise a respeito do uso da ironia
presente nas expressões dos usuários da rede social Facebook, sob a perspectiva
da Semântica e da Pragmática. O presente trabalho adotou uma metodologia de
abordagem criteriosa, e a partir de inúmeras buscas foi escolhido o vídeo do nortista
amapaense cujo nome artístico é Hulk Pão, coletado da sua rede social oficial do
Facebook intitulada também como Hulk Pão, que tem como teor em suas
publicações a cultura nortista e críticas à xenofobia e preconceitos que geralmente
são atribuídos por não-nortistas aos residentes do Norte, porém, de forma
humorística. Neste caso em especial, o autor do vídeo utiliza da ironia para passar a
mensagem desejada e provocar risos e reflexão entre os internautas.
4. APRESENTAÇÃO DA ANÁLISE
Ou seja, o locutor usa do tom irônico, que pode ser usado com diferentes
intenções, por meio de recursos visuais, para criticar estereótipos preconceituosos
sobre os nortistas, utilizando de forma sagaz os elementos propriamente
estereotipados, como: a mata, pessoas indígenas, os rios, em um contexto que
reafirma o que ele desejou refutar, deixando perceptível o uso da antífrase através
do tom irônico.
Outro viés que pode ser atribuído ao vídeo está relacionado a seu caráter
ambíguo no que diz respeito ao modo como o locutor (Hulk Pão) discorre sobre a
sua narrativa e a imagem. “A ambiguidade é um fenômeno semântico que aparece
quando uma simples palavra ou um grupo de palavras é associado a mais de um
significado” (CANSADO, 2008, p.62), ou seja, ela pode gerar um problema na
comunicação, sendo visualizada de maneira literal ao que foi expresso. O vídeo, por
exemplo, possibilita essa interpretação a partir do posicionamento discursivo ao
dizer “esse preconceito que o pessoal tem do Norte dizendo que é só mato e água,
mas aqui é cheio de tecnologia, por exemplo, agora eu tô na faculdade” após esse
momento, ele mostra algumas pessoas sentadas dentro da água em formato de
sala de aula respondendo algumas indagações feitas pela “professora” sobre nome
de animais. As pessoas de fora da região podem interpretar como realmente sendo
verdadeiro de acordo com seu ponto de vista e pensar que estão certas quanto a
nossa realidade, pois “afirmar” por meio do vídeo essa perspectiva imagética,
discursiva e de ensino, os interactantes não irão considerar o contexto, já que não
fazem parte dele.
Segundo Navarro (2004), a ironia põe em jogo uma rede de inferências cujo
grau de complexidade está relacionado com a opacidade ou transparência da
mensagem irônica, isto é, o quanto o interlocutor está familiarizado com o conteúdo
do que foi falado ou mostrado. Exemplificando: os moradores da região norte estão
suscetíveis a entender com mais rapidez e clareza a mensagem que o locutor do
vídeo quis introduzir através do tom irônico; em uma breve pesquisa pelos
comentários da publicação do autor da postagem, é possível encontrar relatos e
risadas de indivíduos nortistas. Entretanto, pessoas que moram fora da região Norte
tendem a entender com mais lentidão, ou ainda, não entender o conteúdo da
mensagem, visto que não é um sentimento compartilhado entre essa população.
(NAVARRO, 2004)
Diante disso, infere-se que o locutor (autor do vídeo) utiliza de recursos não
verbais para preencher esse “eco de sentido” gerado pela ironia que se consolida a
partir de elementos (pessoas indígenas, matas, rios, vestimentas), carregados de
estereótipos e de idealizações negativas sobre o povo do norte, sendo eles os
próprios agentes para transmitir a mensagem irônica.
Por fim, fica explícito que a plataforma digital social Facebook, manifesta-se
não só como um meio onde os indivíduos interagem, mas também como fonte de
análise e estudo sobre as suas diversificadas semioses. Relacionado a isso, a
semântica e a pragmática são modelos que servem como ponte de uma prática
observatória de aprendizagem sobre seus significados de maneira divertida e com
sentido, proporcionando aos discentes novas formas de assimilar essas categorias
linguísticas.
5. CONCLUSÃO
Searle afirma que a ironia é um ato de fala que pode ser usado para
expressar hostilidade ou desprezo. Grice relaciona a ironia com uma atitude
negativa em relação ao interlocutor. A ironia desafia as regras de comunicação e
cria uma implicatura conversacional. Essas implicaturas podem ser convencionais
ou dependem do contexto extralinguístico, ou seja, implicaturas conversacionais.
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