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ESTRUTURA DA

CONTABILIDADE BRASILEIRA
AULA 2

Profª Edenise Aparecida dos Anjos


CONVERSA INICIAL

Caro(a) aluno(a), seja bem-vindo(a)!


Nesta aula, vamos estudar especificamente as características da
informação contábil e sua capacidade de ser útil para seus usuários. Os temas a
serem explorados são:

 Característica da informação contábil útil e característica qualitativa


fundamental: relevância;
 Características qualitativas fundamentais: representação fidedigna;
 Características qualitativas de melhoria: comparabilidade e verificabilidade;
 Características qualitativas de melhoria: tempestividade e
compreensibilidade;
 Restrição do custo versus benefício da informação contábil.

CONTEXTUALIZANDO

Anteriormente, estudamos os aspectos conceituais da contabilidade, os


relatórios contábeis e principais usuários. Nesta aula, nosso enfoque é
direcionado sobre a qualidade das informações contábeis, ou características
qualitativas da informação contábil.
Para iniciar nossa aula, apresenta-se o seguinte questionamento: quais as
características que se espera da informação contábil para que um usuário a
classifique como útil e a utilize como base para a sua tomada de decisão?
A informação, para ser útil, precisa conter alguns atributos, como ser
relevante e representar de maneira fidedigna a situação da entidade. Deve ainda
ser passível de ser melhorada, ao ser comparada, verificada, compreensível e
ser apresentada tempestivamente, ou seja, no momento oportuno.
São muitos atributos? Não se preocupe, vamos estudar cada um deles e
apresentar exemplos que facilitam o entendimento. Bons Estudos!

TEMA 1 – CARACTERÍSTICAS QUALITATIVAS DE INFORMAÇÕES


FINANCEIRAS ÚTEIS

As características qualitativas da informação contábil são atributos que


tornam a informação contida nos relatórios contábeis úteis, para que seus
usuários possam tomar suas decisões. Voltando aos objetivos dos relatórios

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contábeis, já estudamos que são emitidos de acordo com as normas contábeis,
para atender as necessidades de uma ampla gama de usuários.
Agora vamos estudar a qualidade da informação gerada pelos
Demonstrativos Contábeis, analisando suas características fundamentais,
como relevância das informações, e se representam de forma fidedigna a
situação patrimonial e financeira de uma entidade.
De forma complementar aos atributos fundamentais, espera-se ainda que
a qualidade dessas informações possa ser aumentada, por meio das
características de melhoria, quanto à capacidade de serem comparadas e
verificadas; em termos da disponibilidade da informação, a tempo de ser utilizada
no momento certo, com tempestividade; e em relação a seu conteúdo, a
compreensibilidade, na perspectiva de seus usuários. Assim, as características
qualitativas são classificadas em dois grupos: fundamentais e de melhoria. A
Figura 1 apresenta as características de cada uma.

Figura 1 – Características qualitativas

Relevância
Características Qualitativas

Fundamentais
Representação
fidedigna

Comparabilidade

Verificabilidade
Melhoria
Tempestividade

Compreensibilidade

Fonte: CPC, 2019.

Em síntese, os relatórios contábeis, elaborados de acordo com as normas,


devem produzir informações que possam ser julgadas como úteis por seus
usuários. Para aprender sobre essas características fundamentais e de melhoria,
vamos estudá-las individualmente, iniciando pelas características fundamentais.

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1.1 Características qualitativas fundamentais

As características qualitativas fundamentais da informação contábil são


classificadas em relevância e representação fidedigna. São classificadas como
fundamentais pois representam os preceitos básicos do que se espera dos
demonstrativos contábeis; são carregadas de valor, tanto quantitativa (expressos
em números e valor) quanto qualitativamente (percepção de qualidade).

1.2 Características qualitativas fundamentais: relevância

A relevância é uma das características qualitativas fundamentais,


relacionada com a capacidade de uma informação fazer a diferença nas decisões
tomadas pelos seus usuários, ainda que eles optem por não tirar vantagem, e
mesmo que já tenham conhecimento delas e de outras fontes (CPC, 2019). Essa
classificação é apresentada na estrutura conceitual da contabilidade.
Mas qual a importância da característica da relevância? Essa é uma
das principais características da informação contábil, pois esse atributo deve estar
contido em todas as informações apresentadas pelos Demonstrativos Contábeis,
independente do fato de as informações apresentarem cunho quantitativo (de
quantidade), valores monetários e quadros explicativos. Somente assim o usuário
poderá avaliar se a informação é útil, verificando a capacidade de influenciar a
tomada de decisão.
No entanto, para o uso da informação contábil, o usuário precisa ter
conhecimento dos elementos patrimoniais e de resultados, para que possa
realizar suas análises. É nesse momento que entra o julgamento da utilidade da
informação, pois a partir dos valores preditivos e confirmatórios é possível decidir
se a informação disponibilizada para tomada de decisão será ou não utilizada.
A informação relevante deve conter valor preditivo, que são os dados
constantes nos relatórios, que podem ser processados como entradas para serem
utilizados em previsões (análise da entrada de dinheiro em caixa em períodos
futuros). Deve também apresentar valor confirmatório, em referência à
informação disponível nos relatórios, que ao serem analisadas e confrontadas
com períodos anteriores fornecem um feedback da situação encontrada. Espera-
se que uma informação relevante contenha os dois valores, preditivo e
confirmatório, ao mesmo tempo.

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Figura 2 – Características qualitativas

Utilizada como dados de


Valor preditivo
entrada para previsões
Informação relevante
Fornece feedback sobre
Valor confirmatório
avaliações anteriores

Fonte: CPC, 2019.

Exemplo: analise a seguinte situação

A empresa XX Ltda analisou a necessidade de investir em novos


equipamentos para aumentar sua produção e consequentemente suas vendas.
Para isso, decidiu verificar com fornecedores e instituições financeiras qual a
melhor opção.
Os fornecedores e instituições, para conceder o crédito para a Empresa
XX, solicitaram os demonstrativos contábeis dos últimos três anos e do ano
corrente.
De posse dos demonstrativos contábeis, analisam os períodos anteriores
para avaliar o desempenho da empresa (valor confirmatório) e verificar sua
capacidade de gerar fluxos de caixa futuros para saldar dívidas (valor preditivo).
Analisam ainda se ela tem estoques para vender; além dos direitos a receber de
seus clientes e do nível de endividamento (obrigações a pagar) nos últimos anos
(valor confirmatório), para analisar a capacidade a capacidade futura de
pagamento (valor preditivo).
Somente após tais análises os fornecedores e as instituições financeiras
avaliam a concessão dos empréstimos/financiamento para a empresa XX. Sendo
aprovado pelas entidades credoras, a empresa XX agora analisa qual a melhor
opção.

Observe, neste exemplo hipotético, que a base para a concessão de crédito


está atrelada à qualidade da informação contábil e sua relevância, e aos valores
preditivos e confirmatórios contidos na sua apresentação. Somente assim poderá
ser julgada como útil para a tomada de decisão.

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1.3 Materialidade

A relevância é diretamente associada ao conceito de materialidade, pois se


uma informação material for omissa ou distorcida, pode influenciar as decisões
dos usuários dos relatórios financeiros (CPC, 2019). Ressalta-se, nesse contexto,
que a contabilidade é realizada com requinte de detalhes; todavia, nem todas as
informações são relevantes para seus usuários, se pensarmos nos esforços
necessários para a sua elaboração e nas métricas de proporções.

Exemplo: analise a seguinte situação

Uma empresa de grande porte distribui por departamentos o material de


consumo. Em determinado período, identificou o total de despesas com papel A4
no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais). De posse dessa informação, o
encarregado pelas despesas de papel A4, decidiu, então, identificar quantas
folhas de papel A4 cada departamento consome, para atribuir de forma correta as
despesas aos seus respectivos departamentos. Para isso, designou uma equipe
para fazer o controle.
Essa decisão foi tomada levando em consideração a relevância e a
materialidade da informação?
Para responder essa pergunta, vamos comparar a despesa de R$ 5.000,00
com a Receita Líquida de Vendas da entidade, no valor aproximado de R$
3.000.000,00 (três milhões de reais). Analise, agora, o quanto essas despesas
(R$ 5.000,00) consomem das receitas líquidas de vendas nesse mesmo período.
5.000,00
𝑃𝑟𝑜𝑝𝑜𝑟çã𝑜: = 0,001667 𝑥100 = 0,17%
3.000.000,00
Analisando a proporção de 0,17%, podemos inferir que não faz sentido
montar uma equipe para analisar quanto de papel A4 cada departamento
consome – ou seja, essa informação é imaterial. Afinal, o custo para quantificar
quanto cada departamento consome de folhas é maior que o benefício da
informação. Portanto, é imaterial e irrelevante para a tomada de decisão.
Agora vamos tomar como base a mesma despesa com papel A4, mudando
apenas para o contexto de uma microempresa, que obtém Receitas líquidas
de Vendas no valor de R$ 120.000,00 (centro e vinte mil reais) no período.
Quando analisado o consumo de papel no valor de$ 5.000,00, comparando-o com
as receitas, vamos obter um percentual de 4,17%. Segue cálculo:

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5.000,00
𝑃𝑟𝑜𝑝𝑜𝑟çã𝑜: = 0,041667 𝑥100 = 4,17%
120.000,00
Pode-se agora inferir que a mesma despesa, considerada como imaterial e
não significativa para a empresa de grande porte, é material para uma
microempresa – ou seja, deve ser quantificada para identificar os motivos pelos
quais essa despesa consome 4,17% das receitas, sendo portanto relevante para
análise e posterior tomada de decisão.

Aplicar os conceitos de materialidade, julgar o que é relevante ou não para


uma entidade, não é tarefa fácil, pois requer, do contador, vivência, expertise e
bom senso no exercício de sua função.
Em resumo, uma informação relevante deve ser oportuna, ou seja, deve
servir o usuário no momento em que ele precisa, permitindo análise,
interpretação e utilização, para estabelecer metas, fazer investimentos, enfim,
tomar decisões que vão influenciar nos negócios da entidade que reportou a
informação.

TEMA 2 – CARACTERÍSTICAS QUALITATIVAS FUNDAMENTAIS:


REPRESENTAÇÃO FIDEDIGNA

Para serem úteis, as informações contábeis, além de relevantes, precisam


representar fielmente a situação financeira do patrimônio, que está sendo
retratada nos relatórios contábeis, ou seja, deve ser fidedigna. Essa
representação pode ser feita em palavras e números, como apresentar o nome
correto das contas e os saldos das transações a que se refere, evitando o uso de
terminologias genéricas, como despesas gerais, por meio das quais não é
possível identificar quais são essas despesas e seus respectivos valores,
suprimindo assim informações que possam vir a ser importantes para a tomada
de decisão.
Na perspectiva da estrutura conceitual, para a elaboração de relatórios
financeiros úteis, as informações financeiras não devem apenas representar
fenômenos relevantes, mas também, de forma fidedigna, a essência dos
fenômenos que se pretende representar (CPC, 2019).
Assim, a característica qualitativa de uma informação fidedigna é a
representação fiel da situação patrimonial de uma entidade em determinado

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período. Deve ainda ser maximizada por três características: completa, neutra e
isenta de erros.

Figura 3 – Representação fidedigna

REPRESENTAÇÃO FIDEDIGNA

COMPLETA NEUTRA LIVRE DE ERROS

Fonte: CPC, 2019.

2.1 Representação fidedigna: completa

Uma representação completa inclui todas as informações necessárias


para que o usuário compreenda os fenômenos que estão sendo representados,
inclusive todas as descrições e explicações necessárias.
Por exemplo, a representação completa de grupo de ativos inclui, no
mínimo, a descrição da natureza dos ativos do grupo, a representação numérica
de todos os ativos do grupo, e a descrição daquilo que a representação numérica
retrata (como valor do custo histórico ou valor justo).
Uma informação completa envolve também explicações de fatos
significativos sobre a natureza e as dimensões de qualidade da informação. Por
exemplo, as notas explicativas que evidenciam as práticas contábeis, além de
políticas, critérios e normas adotados para elaboração dos relatórios.

2.2 Representação fidedigna: neutra

A informação, para ser neutra, deve ser imparcial, não tendenciosa,


buscando apresentar dados e informações sem viés (CPC, 2019). Assim, a
neutralidade diz respeito à não existência de viés na escolha da forma de registro
ou de mensuração, quer para melhorar artificialmente a realidade, quer para piorá-
la.
A neutralidade em casos de incertezas no reconhecimento dos elementos
contábeis é apoiada pelo exercício da prudência, devendo-se adotar o menor
valor para os ativos e o maior valor para os passivos. Nesse contexto, o
contador deve ter cautela, ou seja, exercer o princípio da prudência, de modo que

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os ativos ou receitas não sejam superestimados, e os passivos ou despesas não
sejam subestimados.

Exemplo

A empresa, a partir do uso das características confirmatórias e preditivas


da informação contábil, observou um padrão de inadimplência, identificando um
percentual de 3% dos valores que ela deveria receber por mês de seus clientes,
não sendo pagos ou saldados. Nesse caso, para que a conta de Duplicatas a
Receber de clientes no Ativo não ficasse superestimada, apresentando um
valor que não será convertido em caixa (dinheiro), a contabilidade reconhece essa
perda estimada com clientes de liquidação duvidosa.
Ao reconhecer essa perda, ocorre a redução do valor da conta de
Duplicatas a receber, evidenciando somente os valores que a empresa
efetivamente espera receber em dinheiro no caixa, e com os quais poderá contar
para uso em operações diárias.
Ativos:
(+) Duplicatas de Clientes a receber
(-) Perdas estimadas de cliente de liquidação duvidosa
(=) Saldo de Duplicatas de Clientes a receber

2.3 Representação fidedigna: livre de erros

Representação fidedigna não significa representação precisa em todos os


aspectos. Diante disso, espera-se no mínimo que os demonstrativos contábeis
elaborados de acordo com as práticas e normas contábeis sejam isentos ou livre
de erros, representando fielmente a situação econômica e financeira da entidade.
Por exemplo, quando a estimativa de preço ou valor não pode ser estimada
com precisão, o valor deve ser descrito de forma clara e precisa como sendo
estimativa. Assim, a informação conterá em seu escopo as limitações da
estimativa; se nenhum erro tiver sido cometido na escolha e na aplicação do
processo, será representada de forma fidedigna.
Em resumo, pode-se afirmar que as Demonstrações contábeis estão longe
de se constituírem em uma ciência exata, pois as informações ou os valores
informados são consequência da utilização de julgamentos. Dessa forma, espera-
se que contenham as características fundamentais de relevância e representação
fidedignas, para que possam orientar os usuários na tomada de decisão.
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2.4 Aplicação das características qualitativas fundamentais

A estrutura conceitual (CPC, 2019) determina três passos, definidos como


processos eficientes para aplicação das características qualitativas fundamentais,
para elaboração e observação das informações contábeis.

Figura 4 – Aplicação das características qualitativas fundamentais

• Identificar o fenômeno 2º Passo: • Determinar se essas


econômico, com informações estão
informações sobre o que • Identificar disponíveis e se podem
pode ser útil para os o tipo de informação sobre fornecer representação
usuários das informações esse fenômeno que é fidedigna do fenômeno
financeiras da entidade mais relevante. econômico.
que reporta.

1º Passo: 3º Passo:

Fonte: CPC, 2019.

Por fim, entende-se que as informações apresentadas nos demonstrativos


contábeis, para serem classificadas como úteis por seus usuários, devem ser
relevantes (conter valores preditivos e confirmatórios), influenciando na tomada
de decisão, devem conter representação fidedigna (a informação precisa ser
completa, neutra e Isenta de erro), observando os preceitos de prudência e
materialidade nos registros, além de reconhecimento e desreconhecimento dos
elementos patrimoniais e de resultados apresentados.

TEMA 3 – CARACTERÍSTICAS QUALITATIVAS DE MELHORIA

As características de melhoria, como o termo aponta, tem o objetivo de


elevar o nível de qualidade da informação contábil. Assim, uma informação, além
de relevante e fidedigna, deve ter ainda a capacidade de ser comparada,
verificada, compreensível e apresentada no momento oportuno, tempestivo para
a tomada de decisão.

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Figura 5 – Características de melhoria

CARACTERÍSTICAS QUALITATIVAS DE
MELHORIA

Capacidade de
Comparabilidade Tempestividade Compreensibilidade
verificação

Fonte: CPC, 2019.

3.1 Comparabilidade

A comparabilidade é característica qualitativa que permite, aos usuários,


tomarem decisões que envolvem escolher entre alternativas, como vender ou
manter o investimento, ou investir em uma ou outra entidade. Esse processo é
facilitado quando as entidades divulgam seus relatórios contábeis; sua utilidade
será aumentada se puderem se forem comparados a informações similares
sobre outras entidades, e sobre a mesma entidade, referentes a outro período ou
outra data (CPC, 2019, item 2,24).
Para facilitar esse processo, os demonstrativos contábeis devem ser
divulgados e publicados evidenciando os resultados de pelo menos dois períodos.
Veja o exemplo do balanço Patrimonial da Cia Alpargatas S.A., em que se pode
observar que o ativo total referente ao exercício de 2018 foi de R$ 3.980.105; no
ano de 2019, foi de R$ 4.522.040. A comparabilidade permite a análise dos
elementos patrimoniais e de resultados, para avaliar a situação econômica e
financeira de uma entidade.

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Tabela 1 – Balanço Patrimonial Alpargatas S.A.

ALPARGATAS S.A.

Fonte: B3, 2020.

Então comparabilidade é isso? Esse é um exemplo de como a


informação contábil deve ser útil para seus usuários, pois é necessário que
apresente elementos que possam ser comparados, o que inclui as informações
da própria empresa em períodos diferentes (2018 e 2019), e de outras empresas
do mesmo segmento ou área de atuação, para que se possa fazer inferências.
Por segmento, entende-se determinados grupo de entidades que
desenvolvem atividades econômicas semelhantes, como produtos, serviços e
mercado consumidor.
Os usuários comparam a informação contábil, para verificar como a
empresa evoluiu nos últimos anos, se é rentável, gera lucros aos proprietários, e
qual o percentual de crescimento de período a período. Pode-se fazer
comparações, ainda, com as informações publicadas de outras empresas do
mesmo segmento. Assim, para afirmar que uma empresa obteve um bom
desempenho em determinado período, é preciso comparar os resultados da
empresa analisada com os resultados de outras empresas do mesmo segmento.
A característica qualitativa da comparabilidade permite também a análise
do segmento de mercado de atuação das entidades, e se o momento é propício
para investir nesse tipo de organização. Veja que a comparabilidade permite aos
usuários tomarem os mais diversos tipos de decisão, sejam internas (compras,
vendas, produção e investimento), como externas (investimentos, em outras
entidades, concessão de créditos, abertura de ações no mercado, entre outros
aspectos). Nesse entendimento, a comparabilidade permite aos usuários
identificar as variações econômicas e financeiras de uma entidade entre diferentes

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períodos, buscando compreender similaridades. Por exemplo, se o elemento de
análise for o estoque, as contas analisadas devem ser correlatas às contas de
estoques, para que se mantenha a similaridade, permitindo assim entender as
diferenças.
Dentre as características da comparabilidade, pode-se observar que um
dos pontos importantes repousa sobre a consistência da informação de um
período para outro.
Por exemplo, critérios de apuração dos inventários-estoques, se os
mesmos métodos foram aplicados de período a período, se houve mudança
nas políticas da empresa, e outras diferenças que mais adiante vamos estudar no
reconhecimento e desreconhecimento dos elementos patrimoniais.
A apuração do inventário-estoques corresponde ao método adotado por
uma empresa para avaliar seus estoques e apurar o custo do produto vendido –
e consequentemente o lucro no momento da venda.
Em síntese, um único fenômeno econômico, apresentado de forma
fidedigna, pode contemplar as características necessárias de uma informação
contábil. No entanto, sua relevância é diminuída se não puder ser comparável.

3.2 Capacidade de verificação: verificabilidade

Dentre as características de melhoria, destaca-se a capacidade de


verificação da informação contábil. Por exemplo, a informação apresentada de
forma fidedigna (representação fiel dos eventos econômicos e financeiros da
entidade) permite que os usuários verifiquem, confiram, façam auditorias e
perícias, chegando a um consenso sobre os métodos e práticas aplicados para a
elaboração dos demonstrativos contábeis.
Assim, a capacidade de verificação significa que diferentes
observadores, bem informados e independentes, podem chegar a um consenso,
embora não a um acordo necessariamente completo, quanto ao fato de que a
representação específica é fidedigna (CPC, 2019). A capacidade de verificação
pode ser direta e indireta.

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Figura 6 – Capacidade de Verificação

verificar o valor ou outra representação


DIRETA por meio de observação direta, por
exemplo, conferindo o dinheiro do caixa.

VERIFICAÇÃO

verificar os dados de entrada de modelo,


fórmula ou outra técnica e recalcular os
INDIRETA dados de saída utilizando a mesma
metodologia. Por exemplo: recalcular a
folha de pagto ou impostos

Fonte: B3, 2020.

A verificação direta pode ser classificada como quantitativa, observada


por exemplo na contagem dos estoques físicos para comparação com os
relatórios emitidos no sistema, na conferência do dinheiro em caixa no fim do
expediente, dentre outras finalidades.
A verificação indireta, por sua vez, está relacionada com os métodos de
aplicação contábil. Um exemplo é verificar o valor contábil do estoque,
checando as informações (quantidades e custos) e recalculando o estoque final,
com métodos como a média ponderada móvel ou o método primeiro a entrar,
primeiro a sair (CPC, 2019).
Por fim, observe que a capacidade de verificação pode ser tanto
quantitativa (contagem da quantidade física dos estoques) quanto qualitativa (por
exemplo, o método aplicado para reconhecer o valor contábil dos estoques).
Carece, ainda, da representação fidedigna e da comparabilidade das informações.
A capacidade de verificação é relevante, na medida que os relatórios
contábeis apresentam as informações referentes aos eventos econômicos e
financeiros da entidade, e as complementem com explicações sobre métodos e
políticas aplicados na sua elaboração. Somente assim os usuários poderão julgar
a utilidade da informação fornecida.

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TEMA 4 – CARACTERÍSTICAS QUALITATIVAS DE MELHORIA:
TEMPESTIVIDADE E COMPREENSIBILIDADE

Assim como as características fundamentais, a comparabilidade e a


verificação são importantes. Para classificar uma informação como útil, ela deve
ser apresentada no momento certo – deve ser tempestiva e compreensível.
Vamos estudar agora as características qualitativas de melhoria.

4.1 Tempestividade

Por tempestividade, podemos entender a disponibilização das informações


com tempo hábil para influenciar na tomada de decisão por parte de seus
usuários. Entende-se, assim, que quanto mais antiga uma informação, menos útil
ela é.

Exemplo

Uma empresa de pequeno porte de vendas no varejo foi atingida


fortemente pela recessão econômica em que vive o país. Com menor poder
aquisitivo, os clientes estão endividados e sem dinheiro para adquirir os produtos
de consumo, seja a prazo ou a vista. Diante disso, o empresário percebe que não
está passando por um bom momento, mas as vendas que foram parceladas em
períodos anteriores estão aquecendo o caixa. Otimista, na expectativa de
aumentar suas vendas com a chegada das festas de fim de ano, abasteceu seus
estoques.
No mesmo período, a contabilidade, que é terceirizada, fechou os
demonstrativos contábeis da empresa. O contador observou que o volume de
vendas da empresa vinha reduzindo significativamente nos últimos anos para o
mesmo período. Assim, o cenário econômico não era propício para adquirir um
volume tão grande de mercadorias, pois essa ação poderia comprometer o fluxo
de caixa no futuro próximo. Pensou em conversar com o empresário, imprimiu os
relatórios e guardou-os na gaveta.
Passados três meses, o empresário chegou desaminado ao escritório,
manifestando a possibilidade de fechar as portas, pois não conseguiria vender
seus estoques, e estava ficando sem caixa. O contador, mais que depressa, puxa
os demonstrativos contábeis guardados.

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Agora reflita, essa informação é relevante para o empresário neste
momento? Caso o contador tivesse reportado a informação no momento
oportuno, o empresário “poderia” ter tomado decisões mais conservadoras,
comprando um volume menor de mercadorias, ou talvez realizando companhas
de marketing para atrair mais clientes, fazendo promoções, baixando os preços.
Enfim, uma informação somente é valiosa e útil se influenciar tempestivamente a
tomada de decisão.
Nesse contexto, pode-se observar que os registros contábeis fornecem
informações de resultados que já ocorreram. Por isso, uma informação perde a
relevância se o contador demorar muito tempo para comunicá-la ou divulgá-la.
Quanto mais antiga a informação, menos valor ela tem, pois perde a
relevância – ou seja, a capacidade de influenciar: a tomada de decisão; a análise
de desempenho (mensal, trimestral ou anual) da entidade; o valor preditivo para
fornecer informações para projeções futuras; a capacidade de verificação e
comparação; entre outras características.

4.2 Compreensibilidade

Característica de melhoria, a compreensibilidade tem como função


apresentar e classificar as informações evidenciadas nos demonstrativos
contábeis, de modo claro e conciso, tornando-as compreensíveis aos usuários
da informação (CPC, 2019).

Exemplo de compreensibilidade

Pelo MEP, o resultado de equivalência patrimonial é reconhecido diretamente no


resultado do período, enquanto a variação cambial do investimento no exterior
deve ser reportada em conta específica do Patrimônio Líquido (Ajuste Acumulado
de Conversão – Outros Resultados Abrangentes), sendo somente reconhecida
como receita ou despesa no resultado, quando da realização dos investimentos
(venda ou baixa do investimento líquido).

Fonte: Gelbcke; Martins; Santos, 2018, p. 231

Você, aluno que está iniciando seu curso, consegue entender a explicação
dos autores? Conhece todos os termos utilizados, como MEP (Método de
equivalência patrimonial), Variação cambial, Resultados Abrangentes, Realização
dos investimentos?

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Alguns alunos, por já estarem no mercado de trabalho, pode ser que já
conheçam, mas a maioria não. Afinal, é necessário que o aluno percorra uma
trilha de conhecimentos, ao longo da qual lhe serão apresentados aos poucos,
e de forma evolutiva, conceitos, definições, técnicas, classificações etc., para que
ao longo do curso possa construir conhecimento, de forma que esteja habilitado
para aplicar a contabilidade e desenvolver competências para interpretar as
informações contábeis, inerentes à prática da profissão. Assim, para que possa
construir conhecimento, o aluno deve ser munido de informações claras e
concisas, para ser considerado como habilitado para, por exemplo, interpretar os
termos descritos no recorte apresentado.
Com os usuários dos demonstrativos contábeis, acontece o mesmo,
pois os relatórios são elaborados de acordo com as normas contábeis vigentes, e
por vezes apresentam informações complexas. Por isso, a compreensibilidade é
uma característica qualitativa importante, permitindo o entendimento da
informação por meio de padronização e métodos pré-determinados, como
estamos vendo ao longo da disciplina.
No entanto, isso não significa que os termos e jargões técnicos específicos
da área contábil e de negócios devem ser suprimidos (ocultados) para que sejam
compreensíveis. Porque, assim como acontece nas Ciências Jurídicas, na
Contabilidade os usuários devem estar aptos para interpretar as informações
contábeis fornecidas.
Por isso, “os Relatórios financeiros devem ser elaborados para usuários
que têm conhecimento razoável das atividades comerciais e econômicas e
que revisam e analisam as informações de modo diligente” (CPC, 2019).
Neste contexto, destaca-se a importância do profissional da Contabilidade,
pois, por vezes, mesmo que os usuários sejam habilitados, seus conhecimentos
podem não ser suficientes, cabendo aqui o papel consultivo do contador para
sanar dúvidas, sempre que solicitado.
As características qualitativas de melhoria devem potencializar o máximo
possível a qualidade das informações contábeis. Todavia, se as informações não
forem relevantes, representando fidedignamente os fenômenos econômicos e
financeiros de uma entidade, perdem totalmente sua utilidade (CPC, 2019).

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TEMA 5 – RESTRIÇÕES DO CUSTO SOBRE RELATÓRIOS FINANCEIROS ÚTEIS

Nos temas anteriores, abordamos as características qualitativas


fundamentais e de melhoria de uma informação contábil, como critérios que
qualificam uma informação contábil como útil. Qual é o custo benefício de gerar
as informações contábeis? Já pensou sobre isso?
Imagine um mercadinho da sua comunidade, bairro ou vila, publicando
seus Demonstrativos Contábeis no Diário Oficial da União. Consideramos aqui
uma microempresa que fatura até R$ 120.000 (cento e vinte mil reais) por mês.
Destaque para o fato de que esse tipo de empresa é desobrigado da divulgação
pública de seus relatórios financeiros.

Tabela 2 – Custos de publicação para o Diário Oficial no Estado do Paraná

Custo por cm
CUSTO DE PUBLICAÇÃO

Diário Oficial Executivo (Poder Executivo Estadual) R$ 26,00 (centímetro)

Diário Oficial Comércio, Indústria e Serviços R$ 30,00 (centímetro)

CUSTO DE PUBLICAÇÃO POR PÁGINA Custo por página inteira

 R$ 1.620,00 (17 x 27 cm) - A4


Diário Oficial Comércio, Indústria e Serviços  R$ 2.790,00 (25 x 31 cm) – Tabloide
 R$ 5.709,00 (30 x 52 cm) - Página dupla

Avalia: realmente vale a pena para esta microempresa publicar suas


informações no Diário Oficial, elaborar demonstrativos, notas explicativas de
forma pormenorizada, desembolsando de R$ 1.620,00 a 5.709,00? A quem se
destina ou quem são os usuários dessa informação? Vale o custo? Qual o
benefício?
Essas são perguntas que devem ser levadas em consideração, pois os
relatórios contábeis, elaborados de acordo com as normas contábeis, são
destinados primariamente aos usuários externos, que farão uso dessa
informação para a tomada de decisão, pensando em investimentos em outras
empresas, vendas de ações no mercado financeiros, negócios de fusão,
incorporação, cisão. De modo geral, envolvem grandes negociações.
Para uma microempresa, o custo pode não ter benefícios, pois o esforço
para emiti-las pode não trazer resultados (benefícios) para a empresa,
transformando-se em despesas.

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Por outro lado, no caso de uma sociedade anônima, que está obrigada a
publicar o conjunto completo de demonstrações contábeis, para atender às
normas da CMV (Comissão de valores Mobiliários) e da bolsa de valores, há a
necessidade de produzir informação aos acionistas quanto à distribuição dos
lucros, aos investidores interessados nas atividades da empresa, calculando o
preço das ações, pensando nos demais usuários interessados. O custo benefício
é relevante, pois seus usuários aguardam o momento da divulgação e publicação
dos demonstrativos contábeis, para avaliar se continuam ou não a investir na
empresa.
Assim, e diante de tudo que já estudamos nesta aula, pode-se inferir que
os custos para divulgar uma informação devem ser imbuídos de benefícios. A
estrutura conceitual da contabilidade define o custo como “uma restrição
generalizada que pode ser fornecida pelo relatório financeiro, e desse modo,
devem ser justificados pelos seus respectivos benefícios” (CPC, 2019).
Os fornecedores da informação, ou seja, a entidade que reporta,
representada pela contabilidade, demandam tempo e esforço em termos de coleta
de dados, processamento, adequação às normas, verificação e disseminação de
informações financeiras. É um trabalho minucioso, e por isso se deve levar em
consideração o custo-benefício de gerar a informação.
Sob o ponto de vista dos usuários, podemos observar que também há
custo-benefício, pois para se avaliar a utilidade da informação é necessário
dispender tempo e contratar especialistas para analisar e interpretar as
informações disponibilizadas. Caso essas informações não sejam necessárias ou
suficientes, incorrem em custos adicionais para obter as informações em qualquer
outra parte, ou para estimá-las.
Portanto, procura-se considerar custos e benefícios em relação ao
relatório financeiro, de modo geral, e não apenas em relação a entidades
individuais que reportam.

TROCANDO IDEIAS

Estudamos, nesta aula, que os relatórios contábeis devem fornecer


informações úteis para a tomada de decisão. No entanto, para serem julgadas
como úteis por seus usuários, devem conter características, ou atributos, que as
qualifiquem como tal.

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Com base nos temas apresentados e em um movimento de socialização
profissional, sugerimos que conversem com profissionais contábeis em atividade,
que você conhece ou no seu ambiente de trabalho, para investigar qual a
percepção que apresentam a respeito dos atributos da informação: características
qualitativas fundamentais e de melhoria.

 Investigue como essas características são percebidas pelos contadores;


 Qual o nível de aplicabilidade na sua rotina (essas características são
observáveis no dia a dia?);
 Quem são os principais usuários que consomem informações contábeis no
contexto analisado (usuários internos ou externos).

De posse dessas informações, entre no fórum de seu ambiente virtual e


discuta, com seus colegas, a aplicabilidade dessas características qualitativas e
os principais usuários da informação contábil.

NA PRÁTICA

As características qualitativas de informações financeiras úteis se


aplicam a informações financeiras fornecidas nas demonstrações
contábeis, bem como a informações financeiras fornecidas de outras
formas. O custo, que é uma restrição generalizada sobre a capacidade
da entidade que reporta de fornecer informações financeiras úteis, se
aplica de forma similar. (CPC, 2019)

Com base neste recorte do CPC, correlacione as características da


informação contábil:

1. Características qualitativas fundamentais.


2. Características qualitativas de melhoria.

Associe, atribuindo 1 ou 2 paras as sentenças:

A capacidade de verificação significa que diferentes observadores bem


informados e independentes podem chegar ao consenso, embora não a acordo
necessariamente completo.
A compreensibilidade tem como função apresentar e classificar as informações
evidenciadas nos demonstrativos contábeis de modo claro e conciso tornando-
as compreensíveis aos usuários da informação.
A representação fidedigna é a representação fiel da situação patrimonial de
uma entidade em determinado período.
A relevância é relacionada com a capacidade de uma informação fazer a
diferença nas decisões tomadas pelos seus usuários, devendo conter valor
preditivo e confirmatório ou ambos.
Tempestividade é a disponibilização das informações há tempo de influenciar
na tomada de decisão por parte de seus usuários.

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Assinale a sequência correta1:

a. 2; 1; 1; 2; 2.
b. 2; 2; 1; 1; 2.
c. 2; 1; 1; 1; 2.
d. 2; 1; 1; 2; 1.
e. 2; 2; 1; 2; 1.

FINALIZANDO

Nesta aula, estudamos a qualidade das informações geradas pelos


relatórios contábeis. Podemos pensar, a partir do exposto, sobre a importância
das observações das normas contábeis a para sua elaboração.
Outro ponto importante que podemos observar é a importância do
profissional contábil, seja para a preparação dos dados (reconhecimento e
escrituração), como também no auxílio a tomada de decisão, de forma direta ou
indireta, por meio dos relatórios emitidos.
Por fim, podemos inferir que os usuários da informação, a partir das
características qualitativas apresentadas, determinam se elas influenciam ou não
a tomada de decisão. São os usuários que determinam a utilidade da informação.

1
O gabarito para essa questão pode ser encontrado ao final deste material, após a seção
Referências.
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REFERÊNCIAS

B3 – Brasil, Bolsa, Balcão. Ações. Disponível em:


<http://www.b3.com.br/pt_br/produtos-e-servicos/negociacao/renda-
variavel/empresas-listadas.htm>. Acesso em: 10 mar. 2020.

CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis. CPC 00 (R2): Estrutura Conceitual


para Relatório Financeiro. 2019. Disponível em:
<http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos-Emitidos/Pronunciamentos>. Acesso
em: 10 mar. 2020.

GELBCKE, E. R.; MARTINS, E.; SANTOS, A. dos. Manual de contabilidade


societária: aplicável a todas as sociedades de acordo com as normas
internacionais e do CPC. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2018.

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GABARITO

A resposta correta é a b. 2; 2; 1; 1; 2.

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