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Em 5 de janeiro de 1504 veio dar na baía de Babitonga, onde hoje fica São Francisco do Sul, litoral norte de Santa Catarina. Ali, no bem bom, ao lado dos
moradores nativos, os carijós, os normandos sararam suas feridas. Ficaram amigos dos índios.
Devem ter vivido uma bela farra. Na volta, quase um ano depois, Gonneville abarrotou o porão de seu navio de pau-brasil, aves e animais e, não satisfeito,
levou também o pequeno Iça-Mirim, filho do cacique carijó, Arosca.
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Que cabeça tinha o garoto, não? Ele embarcou de livre e expontânea vontade. De uma hora pra outra, sair do estado selvagem e partir para a França é uma
aventura ainda maior do que a de quem veio! O rapaz era ainda pequeno, foi acompanhado de um índio adulto de nome Namoa.
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Vinte Luas
O combinado entre Gonneville e Arosca era devolvê-lo em 20 luas. Mas a viagem de volta foi o cão. Alguns tripulantes morreram, entre eles Namoa. Iça-
Mirim também adoeceu.
Ficou num estado tão lastimável que Gonneville resolveu batizá-lo a bordo para que não morresse pagão. Ele se esforçou o máximo que pode, mas não
conseguiu pronunciar Iça-Mirim. Nosso herói se tornou uma corruptela: Essomeriq.
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Ao se aproximar da costa da França o navio foi atacado por um corsário inglês que roubou tudo que os navegadores trouxeram de terra. Inclusive, e mais
importante, o diário da expedição.
Em sua chegada a Honfleur, DeGonneville imediatamente fez uma queixa diante do Tribunal do Almirantado da Normandia e escreveu um relatório de sua
viagem. Vem deste texto as histórias que agora relembramos.
Ao morrer, lega ao carijó parte de suas posses desde que ele e seus descendentes usassem seu nome e suas armas. Conta a história que ‘Essomericq teve 14
filhos, ele viveu 95 anos no verde da Normandia’.
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Como terá sido o primeiro encontro na corte? O que terá passado na cabeça de nosso herói? E como terá sido sua vida, já que descendentes nos dizem que
morreu aos 95 anos com 14 filhos?
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03/07/2023 15:20 Piratas que atormentaram no litoral do Brasil - Mar Sem Fim
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No início desta Primavera, a Folha de S. Paulo respondeu. O jornal publicou matéria contando da visita que nos fazia a francesa, Dorothée de Linares, 45,
que se dizia descendente de Essomeriq.
Dorothée veio conhecer a região, fascinada pela história que diz ouvir desde sempre, para transformá-la num livro infantil. Para tanto mantém um site que
agora contatamos.
Numa segunda circum-navegação, partiu de Plymouth em 26 de agosto de 1591 com cinco navios. A rota natural do Hemisfério Norte costeava o litoral do
Brasil.
Nessa viagem, Cavendish infernizou o País. Atacou diversas vezes. Incendiou construções de Ilha Grande, aprisionou navios, fundeou em Ilhabela, de onde
ordenou a destruição de Santos e São Vicente. Azucrinou. Quem conta é o tripulante…
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Knivet com a palavra: “De tarde, após incendiarmos mais um navio e queimarmos todas as casas (de Ilha Grande, RJ), partimos de lá. Como o vento era
bom, mais ou menos às seis horas chegamos à ilha de São Sebastião (Ilhabela), a cinco léguas de Santos, onde ancoramos. Uma vez no porto todos os
capitães e pilotos embarcaram no navio de capitão-mor para saber como pretendia tomar a cidade de Santos.”
O ataque a Santos
“Todos decidiram que nosso barco longo e nossa chalupa com somente cem homens eram suficientes…Knivet: “O piloto português (que haviam capturado
em Cabo Frio) contou-nos que aquele era o momento.”
“Pelo tocar do sino estariam no meio da missa. Desembarcamos e marchamos até a igreja onde tomamos todas as espadas sem resistência.” Havia cerca de
300 homens e mulheres na igreja (era comemorada a Missa do Galo), além de crianças.
Casa do Trem e ao fundo a antiga capela de Santa Catarina, ali reconstruída após o ataque de
Cavendish. Aquarela de Benedito Calixto.
“Então deu ordem para que ateassem fogo em todos os navios ancorados no porto. Permanecemos dois meses em Santos, carregamos nosso navio com
açúcar e mercadorias dos navios portugueses que estavam no porto.”
A crônica diz que prosseguindo na sua operação de pilhagem, o esquadrão pirata foi por terra até São Vicente, saqueando e queimando todos os engenhos
que encontrava pela frente, pilhando e incendiando o vizinho povoado, deixando atrás de si um rastro de ódio e pavor.
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Knivet: “Partimos de Santos para os estreitos de Magalhães com vento favorável e durante 14 dias tivemos tempo bom. Passados dois dias de calmaria, os
pilotos mediram suas posições e acharam que estávamos na altura do rio da Prata.”
Mas não seria tão fácil assim. A ousadia, e o tempo perdido em Santos, iriam cobrar um preço. Cavendish chegou atrasado na boca do estreito.
Pegou tempo desfavorável. “No mesmo dia em que pensamos ter visto terra, um sudoeste começou a soprar e o mar ficou muito escuro, inchado de ondas
tão altas que não conseguíamos enxergar nenhum navio da nossa frota, embora estivéssemos próximos. O mar quebrava na popa de nosso navio e
arrastava nossos homens assombrados de pavor para dentro dos botes.”
Relatos dramáticos a bordo de navios são comuns no Brasil dos primeiros séculos. Um dos mais notáveis foi o naufrágio de José de Anchieta em
Abrolhos, sul da Bahia, relatado por ele mesmo.
Knivet, que um dia desembarcou para procurar comida, foi pego pelo vento gelado enquanto seu pé havia molhado. Sem roupas para trocar, o marujo
conta que, “ao tirar minhas meias alguns dedos saíram junto, vi que meus pés estavam negros feito fuligem e não conseguia mais senti-los de todo. Não
mais conseguia caminhar.”
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03/07/2023 15:20 Piratas que atormentaram no litoral do Brasil - Mar Sem Fim
Knivet conta que a frota enfim conseguiu entrar: “penetramos ainda mais para os estreitos, apesar do vento contrario e do frio que matou por dia oito ou
nove homens de nosso navio.” O mar dava-lhe o troco. “Nesse lugar um ourives chamado Harris perdeu o nariz; quando tentou assoá-lo, ele acabou caindo
de seus dedos no fogo.”
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Knivet conta que Cavendish rumou para Santos para tentar encontrar seus pares. Lá ficou por três dias até que parte da tripulação, que havia
desembarcado, fora morta como retaliação.
Então, decidem voltar para a ‘ilha de São Sebastião’ (ou Ilhabela). No caminho mudam de planos. Um portuga preso em Cabo Frio entrega a fraca defesa da
Capitania do Espírito Santo, e ‘garante que sem nenhum risco poderiam atacar vários engenhos de açúcar e conseguir boa provisão de gado’.
Os piratas ingleses não pensam duas vezes: decidem atacar o Espírito Santo, para onde navegam.
“O capitão, achando que o português nos desejava trair, sem nenhum julgamento mandou enforcá-lo, o que foi feito imediatamente. Em seguida, escolheu
120 homens, dos melhores que havia em ambos os navios para o desembarque.”
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Mas desta vez o ataque foi um fracasso. Knivet conta que perderam 80 homens na refrega. Depois da sova, decidem voltar a São Sebastião. Ao chegarem, a
primeira providência do capitão foi se desfazer do peso morto: cerca de 20 homens feridos e famintos, inclusive o narrador, foram abandonados em
Ilhabela.
Durante oito dias Knivet sobreviveu comendo caranguejos. Dias depois, mais 40 homens foram largados em Ilhabela. Finalmente, nosso Indiana Jones do
século 16 é feito prisioneiro pelos portugueses e levado para o Rio de Janeiro.
A narrativa não para aí. Houve uma série de aventuras em Terra Brasilis, quase dez anos, fugas de canibais, ataques no Rio Grande do Norte, e outros, até
que Knivet consegue voltar a Londres onde publica sua saga em 1625.
Os ataques piratas continuaram a todo pano. O país que estava nascendo era a bola da vez. Chamou tanto a atenção que desde 1555 a França havia
plantado uma filial de seu país em plena baía de Guanabara, a França Antártica.
Fontes: Vinte Luas – Viagem de Paulmir de Gonneville ao Brasil, 1503 -1505, de Leila Perrone- Moisés, Cia. das Letras;
https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2018/10/descendente-de-indio-alcado-a-nobreza-na-franca-refaz-passos-do-parente.shtml; Anthony Knivet, As
Incríveis Aventuras E Estranhos Infortúnios De Anthony Knivet, organização de Sheila Moura Hue, ed. Zahar.
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