Duas questões sobre aspectos / conteúdos apresentados no texto –
O texto traz a questão das “feministas biólogas” que são autoras que possuem formação acadêmica em ciências naturais e, portanto, discutem a ciência pelo “lado de dentro”. Seu papel foi extremamente importante pois ajudaram no processo de desconstrução da ideia de uma ciência neutra; e de cientistas objetivos e livres de interesses. Além disso, elas trazem a ideia de que a ciência estava ligada intimamente a cultura e o modo que ela foi dificultava a entrada e a participação de mulheres. O que faz muito sentido, pois o papel instituído das mulheres ao longo dos séculos foi o de dona de casa e mãe. Ao trazer a ideia de que a ciência era construída como algo objetivo e neutro, ideais identificados como masculinos e racionais, traz para o feminismo a responsabilidade de possibilitar a entrada e sucesso de mulheres cientistas. O texto também coloca em discussão a questão das “neurofeministas”, que são cientistas que possuem formação em diversas áreas como ciências biológicas, ciências humanas e sociais, estudos de gênero e estudos sociais da ciência, porém, com uma ênfase no campo neurocientífico, em especial da neurociência cognitiva. Logo, o objetivo do neurofeminismo é tornar possível o diálogo entre feminismo e neurociência. Ele nos coloca em voga a reflexão que envolve os ideais de uma neurociência feminista pautada na crença de que a ciência e a política não se misturariam e que a boa ciência seria construída na neutralidade. Em resumo, as neurofeministas tentam estabelecer uma relação entre gênero e cérebro além dos preconceitos estabelecidos, mas se pautando no estudo da neurociência. Para isso, elas se apropriam da perspectiva feminista em relação a estudos recentes sobre o cérebro, em especial aqueles que se mostram neurossexistas. É muito interessante pois as duas linhas de pensamento possuem vieses um pouco diferentes, mas que fazem bastante sentido. As neurofeministas tiveram bastante influência do feminismo biológico, porém criticam sua visão limitada sobre a objetividade da ciência. Em suma, as neurofeministas se diferem das feministas biólogas por realizarem discussão teórica e crítica, mas também participarem da ciência mais tradicional em laboratórios e neurociência. A interdisciplinaridade no neurofeminismo também é bastante discutida e controversa. A NeuroGenderings, que é a rede internacional interdisciplinar de “neurocientistas feministas”, estabelecida em 2010, é pautada no ideal de interdisciplinaridade, porém é bastante perceptível a dissimetria entre as neurofeministas que tiveram uma formação acadêmica nas ciências humanas e as neurofeministas mais voltadas à neurociência mais biológica. Porém, o texto é construído de uma forma que trata essa diferença como algo que não atrapalha o neurofeminismo e nem as discussões acerca do tema. Por conta de toda a discussão contida no texto, surgem questionamentos: 1) Por que a objetividade e neutralidade são conceitos considerados exclusivamente masculinos? 2) Até que ponto a interdisciplinaridade pode mais auxiliar do que atrapalhar o feminismo na ciência? 3) Por que uma boa ciência seria uma ciência neutra se a cultura e a política interferem diretamente na ciência?