Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Aline Rodrigues Padovani Maio 2015
Aline Rodrigues Padovani Maio 2015
tanahoradopapa.com
Maio 2015
Sumário 2
Sumário
Introdução alimentar: respeitando o tempo do bebê .................................................................. 4
Muito mais que engolir comida ................................................................................................ 5
Boas Práticas em Alimentação Complementar e Saúde ........................................................... 6
ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL .................................................................................................... 7
SEGURANÇA ALIMENTAR ...................................................................................................... 7
EMPATIA ................................................................................................................................ 7
A relação entre o desenvolvimento infantil e a introdução dos sólidos ....................................... 9
O Baby-led weaning .................................................................................................................... 12
Mas o bebê não engasga? ....................................................................................................... 13
Baby-led Weaning: Como começar? ........................................................................................... 14
Apresentação dos primeiros alimentos .................................................................................. 15
Os mecanismos de defesa de vias aéreas do bebê ..................................................................... 19
O reflexo de gag ...................................................................................................................... 19
Alterações no reflexo de gag ............................................................................................... 20
O reflexo de tosse ................................................................................................................... 21
O engasgo ................................................................................................................................ 23
Como reduzir os riscos de engasgo ..................................................................................... 26
O que fazer se o bebê engasgar? ............................................................................................ 30
Combinação de métodos: isso existe? ........................................................................................ 33
Uma questão de semântica..................................................................................................... 36
E se eu oferecer papinha de vez em quando? ........................................................................ 37
Finger food e a janela de oportunidades do bebê ...................................................................... 39
Introdução alimentar participativa ............................................................................................. 42
Dar ou oferecer? ..................................................................................................................... 44
Benefícios da introdução alimentar participativa ................................................................... 45
A Introdução da Alimentação Complementar ParticipATIVA ................................................. 47
(ou como aproveitar o melhor do BLW, mesmo oferecendo a comida) ................................ 47
Perguntas Frequentes* ............................................................................................................... 51
Meu bebê tem oito meses e até agora eu só dei papinha. É muito tarde para passar para o
método BLW? .......................................................................................................................... 51
BLW não deu certo com a gente, e agora? ............................................................................. 52
Iniciamos a introdução de alimentos há poucas semanas e meu bebê rejeita tudo, cospe,
“faz ânsia”, é normal? ............................................................................................................. 53
Meu bebê vai estar bem alimentado? .................................................................................... 54
A alimentação diz respeito não somente à ingestão de nutrientes, como também aos
alimentos que contém e fornecem esses nutrientes, e em como estes são combinados e
preparados. Além disso, a alimentação ainda engloba as características do modo de
comer e as dimensões culturais e sociais das práticas alimentares. E são todos esses
aspectos em conjunto que influenciam a saúde e o bem-estar do indivíduo.
Neste livro, convido vocês a refletir sobre COMO a introdução alimentar deveria ser
encarada. Assim, gostaria inicialmente de propor a seguinte reflexão: você já parou para
pensar se o seu bebê está participando ATIVAMENTE no momento da refeição?
É claro que ninguém faz isso por mal, toda família quer ver seu bebê comendo muito e
feliz. Mas em alguns momentos é necessário se perguntar o que realmente o bebê está
APRENDENDO nesse processo (de introdução alimentar). Muito do que ele aprender,
vai ser implícito - isso significa que você não vai ensinar, mas de certa forma, ele vai
assimilar e guardar em sua memória.
Entendo que cada bebê, dentro de seu contexto, seja único e reaja de jeitos diferentes
a diferentes situações. Se o seu bebê é um "comilão" nato, muito provavelmente você
Padovani, 2015. Todos os direitos reservados.
Introdução alimentar: respeitando o tempo do bebê 6
E gente, não é fácil! Acredito que a introdução alimentar seja uma das etapas mais
difíceis desses primeiros mil dias do bebê (da gestação aos dois anos de vida). Primeiro
de tudo, porque a introdução alimentar não é pontual. É um processo! E um processo
que leva meses, com altos e baixos que só quem está ali, na prática, sabe a dor e a delícia
sobre cada decisão e cada conquista.
ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL
SEGURANÇA ALIMENTAR
EMPATIA
Partindo-se do princípio que o bebê tem à sua frente alimentos seguros e saudáveis,
deixe o bebê mostrar o que quer. Como quer. Quando quer. Empatia significa "colocar-
se no lugar do outro". Experimente "oferecer" ao invés de "dar". Respeite os períodos
de inapetência e reforce a alimentação saudável nos períodos de convalescença e de
apetite normal. Se ater a quantidades pré-estabelecidas é desrespeitar o ritmo natural
que cada bebê tem de controlar a sua própria fome/saciedade.
E acima de tudo: BOM-SENSO! Lembre-se que SIM, cada bebê é único, mas quem dá a
oportunidade é você!! O bebê não vai ao supermercado escolher os alimentos que
consome, não prepara a refeição e não tira do armário os utensílios que vão ser
utilizados. Todas essas escolhas são inicialmente dos pais e/ou cuidadores. O que o bebê
assimila é hábito decorrente dessas escolhas iniciais. Então, criar um ambiente positivo
e dar OPORTUNIDADES é sempre fundamental!!!
Até os três meses de idade, os bebês começam a procurar as mãos: conseguem vê-las e
movem-nas diante do rosto para conhecê-las melhor. Suas mãozinhas fecham-se
automaticamente caso qualquer coisa passe por elas. Pouco a pouco, começam a levar
as mãos à boca. Nessa idade, ainda não coordenam muito bem a musculatura, então às
vezes podem golpear seu próprio rosto e mostrar-se surpresos ao perceber que estão
segurando algo.
Até os quatro meses, já podem esticar as mãos para agarrar algo que porventura tenha
lhes interessado. A medida que a coordenação motora vai se aperfeiçoando, começam
a movimentar os braços e as mãos com maior precisão, conseguindo agarrar objetos e
levá-los à boca. Os lábios e a língua estão extremamente sensíveis e o bebê os utiliza
para explorar o sabor, a textura, a forma e o tamanho dos objetos do cotidiano.
Quando chegam aos seis meses de idade, a maioria dos bebês conseguem alcançar
objetos fáceis de agarrar, usam toda a palma da mão para segurá-los e levá-los à boca
com bastante precisão. Se o bebê tem a oportunidade de observar, alcançar e agarrar
comida, a levará à boca. E ainda que pareça que o bebê está comendo, ele na verdade
está primariamente explorando com a boca e a língua – como se fosse um brinquedo,
ou objeto – e provavelmente não irá engolir.
Entre os seis e os nove meses de idade, o bebê adquire uma série de novas habilidades,
uma atrás da outra. Primeiro, aprende a morder ou mordiscar pedaços pequenos de
comida, com a gengiva (ou com seus primeiros dentinhos, caso eles já tenham
começado a aparecer). Rapidamente, descobrem que podem manter a comida na boca
durante um tempo. O tamanho e o formato da boca se modificam e o bebê já consegue
controlar melhor a língua. Nesta fase, se o bebê estiver sentado direito, é muito comum
que a comida caia da boca, ao invés de engolir.
Diferente do leite (seja materno ou fórmula), o qual o bebê precisa sugar e com isso o
direciona diretamente para a parte posterior da boca, os alimentos sólidos tem que ser
movidos ativamente no interior da cavidade oral. Quando expostos naturalmente aos
sólidos, nota-se que os bebês não conseguem engolir sem antes aprender a morder e a
mastigar. Isso significa que, por uma ou duas semanas, qualquer coisa que que seja
colocada na boca, acabará caindo. Só começarão a engolir quando os músculos da
língua, das bochechas e da mandíbula estiverem melhor coordenados, permitindo a
deglutição adequada. É possível que esta etapa do desenvolvimento seja um mecanismo
Até os nove meses de idade, o bebê adquire o movimento de pinça. Assim, utiliza o
polegar e o dedo indicador para capturar objetos e/ou alimentos menores. Antes que
isso aconteça, é muito pouco provável que o bebê consiga levar algo muito pequeno à
boca (uma uva passa ou um grão de arroz, por exemplo).
Os bebês que podem comer sozinhos em todas as refeições são expostos a múltiplas
oportunidades de praticar essas habilidades e adquirem segurança e precisão nos
movimentos muito rapidamente. Ao que parece, assim como caminham somente
quando estão preparados, também começam a ingerir os sólidos somente quando
estão prontos, desde que lhes seja dada OPORTUNIDADE!
O Baby-led weaning
A sigla BLW refere-se à “Baby-led Weaning”, termo proposto por Gill Rapley em 2008,
com a publicação de seu primeiro livro “Baby Led Weaning: helping your baby to love
good food”. Nessa abordagem, o termo “weaning”, embora frequentemente traduzido
literalmente como “desmame”, inclui na verdade a introdução gradual e natural da
alimentação complementar, sendo o desmame realizado gradualmente sob tempo
indeterminado, já que a escolha de passar a comer mais e mamar menos é feita
exclusivamente pelo bebê.
Apesar de parecer complicado, o método nada mais é do que uma descrição de técnicas
que algumas mães já praticam há anos, utilizando apenas o velho bom-senso. Assim,
descreve uma maneira simples de iniciar a alimentação complementar dos bebês,
permitindo que eles se alimentem sozinhos – não há oferta de alimento com a colher e
nem oferta de papinhas. O bebê é posicionado sentado junto com a família e participa
da alimentação quando estiver pronto, alimentando-se independentemente com as
próprias mãos e posteriormente, após a aquisição de habilidades necessárias, com os
talheres.
– Permite que os bebês explorem sabor, textura, cor e cheiro dos alimentos;
– Encoraja independência e confiança;
– Ajuda a desenvolver a coordenação visual-motora e as habilidades de mastigação;
– Reduz a probabilidade de distúrbios alimentares na infância, incluindo seletividade e
brigas frequentes na hora da refeição.
Uma das dúvidas e preocupações mais frequentes entre as mães que tem interesse em
aplicar o BLW é: mas e meu bebê não irá engasgar?
A verdade é que o risco de engasgo é real sim, porém tanto para bebês que comem
sozinhos utilizando a metodologia BLW, quanto para bebês que tem a oferta assistida
com papas. Podemos engasgar com qualquer alimento, seja ele líquido, pastoso ou
sólido. Mas o medo vem da possibilidade de pedaços grandes se desprenderem do
alimento oferecido em seu formato original e irem parar direto na garganta do bebê.
Pode acontecer? Pode. É frequente? Não. Vamos tratar mais sobre esse assunto nos
próximos capítulos.
Seu bebê está próximo de completar os seis meses, já senta e já consegue levar objetos
à boca com facilidade. Excelente! Já é um forte candidato a iniciar a introdução
alimentar pelo BLW! Mas e agora?
Bom, antes de tudo, é importante você entender que o método foi descrito em 2008,
no Reino Unido. Isso significa que foi planejado de acordo com as recomendações
oficiais deste país, as quais podem diferir em vários aspectos do que o que é preconizado
aqui no Brasil pelos dois órgãos responsáveis pelas diretrizes no assunto: o Ministério
da Saúde e a Sociedade Brasileira de Pediatria. Vamos chamar este modo de introdução
alimentar de “tradicional”.
A introdução alimentar tradicional prevê que o bebê seja introduzido à dieta sólida
gradualmente, considerando a oferta de papas não liquidificadas, em progressão
crescente em consistência à medida que – aos 8-12 meses a criança já come a mesma
comida da família. Essa é a orientação mais atual do Guia Alimentar para crianças
menores de dois anos do Ministério da Saúde. Muitos pediatras orientam ainda começar
com suco de laranja lima, depois frutas simples, como banana, maçã e pêra – uma fruta
por dia, por dias consecutivos e depois de uma semana começar com a papa salgada…
entre outras orientações (algumas desatualizadas, mas enfim, isso não vem ao caso).
Cabe a você colocar na balança e decidir quais alimentos irá apresentar e com que
frequência. Vale ressaltar que a presença de histórico familiar de alergia alimentar
definitivamente requer uma atenção extra e deve ser discutido junto ao médico.
É importante ter apoio médico. Alguns não conhecem a sigla “BLW”, mas o mais
importante é descrever: “meu bebê vai comer sozinho, alimentos sólidos que ele possa
manusear, desde o início da introdução alimentar”. Muitas famílias já utilizam o BLW
sem nem saber que ele existe, então é possível que o pediatra tenha algum
conhecimento sobre o assunto. Se o pediatra insiste na ordem de apresentação dos
Você deve ter em mente que o bebê VAI brincar com a comida em um primeiro
momento. Pra ele, as primeiras semanas vão ser totalmente de descoberta e o que vai
incentivá-lo a manipular os alimentos não é a fome, mas a curiosidade. Esse primeiro
contato vai ser essencial para que ele tenha uma boa relação com os alimentos e com a
hora da refeição. Tem que ser prazeroso, apenas isso. Se ele fizer as refeições junto à
família, vai ainda começar a entender todo o aspecto social que a hora da refeição
envolve. Tudo isso tende a levar a criança à gostar da hora da refeição, criando desde o
princípio, uma relação saudável com o alimento e a hora da refeição.
No início, é comum que eles tenham reflexo de gag e/ou cuspam a comida. Muito pouco
vai pro estômago e isso é absolutamente esperado. A amamentação em livre demanda
e/ou oferta de leite artificial ainda vai ser a principal fonte de nutrição dos bebês neste
primeiro momento. No BLW, o bebê irá decidir quando reduzir as mamadas – e isso só
vai acontecer quando ele estiver pronto para alimentar-se. Tudo vai ser no tempo do
bebê, por isso o método é de chamado “desmame conduzido pelo bebê” (baby-led
weaning).
Bom, agora que você já sabe de tudo isso, vamos para a parte prática! Saber como
apresentar os alimentos neste início!
que podem ser oferecidos ao bebê (a menos que exista histórico familiar de alergias ou
suspeita de alterações no sistema digestivo).
- leite de vaca
- sal em excesso
- açúcar (de qualquer origem)
- mel
- sucos, chás e agua de coco
Idealmente, ofereça frutas e legumes levemente cozidos para que fiquem macios o
suficiente para serem mastigados com a gengiva e duros o suficiente para que não sejam
amassados com facilidade e dissolvidos durante a preensão palmar. A melhor
consistência é aquela de legumes para salada.
Um bom guia para o tamanho e forma necessária é o tamanho do punho do bebê, com
um importante fator para se ter em mente: bebês pequenos não conseguem abrir o
punho intencionalmente. Assim, eles não conseguem pegar um alimento e soltá-lo
dentro da boca, ou seja, irão morder apenas o que sai pra fora do punho fechado. Isso
significa que eles tem melhor desempenho com o que tem forma de batata-frita ou tem
uma “alça” (como o cabo do brócolis, por exemplo). Eles então podem mastigar o
pedaço que está saindo para fora do punho fechado e soltar o restante depois –
geralmente enquanto eles estão tentando pegar o próximo pedaço que parece mais
interessante. Frutas e legumes escorregadios podem ser deixados com a casca, para
facilitar a preensão. Conforme suas habilidades são adquiridas, menos comida será
desperdiçada.
Em seu livro, Rapley & Murkett (2008) detalharam alguns pontos chaves para se ter
sucesso com o BLW. Então, pra quem está começando, seguem as dicas das autoras e,
pra quem já está no meio do caminho, é sempre bom rever o que estamos fazendo e
tentar melhorar.
“APRENDER A COMER SOZINHO: os segredos do sucesso (por Rapley & Murkett, 2008)
– não espere que o bebê coma demais no princípio. O fato dele haver completado seis
meses não significa que precise de mais alimento durante todo o dia. Quando descobrem
que a comida tem um gosto bom, começarão a mastigar e, em breve, a engolir. Muitos
bebês comem pouco durante os primeiros meses.
– tente comer com o bebê e permita-o juntar-se à mesa familiar sempre que possível.
Assim, ele terá muitas oportunidades para imitar vocês e praticar novas habilidades.
– tem que ser divertido … para todos! Assegure-se de que a hora da alimentação seja
uma experiência tranqüila e agradável para todos. Isso vai animar o bebê a explorar e a
experimentar, o que facilitará que ele se aventure com novos sabores e aproveite ao
máximo a hora da comida.
1. Assegure-se de que seu bebê está sentado e bem erguido enquanto experimenta a
comida. Nos primeiros dias, ele pode sentar-se no seu colo, de frente para a mesa. Uma
vez que comece a sentar no cadeirão, vc pode utilizar almofadas pequenas ou uma
toalha dobrada para mantê-lo ereto e na altura adequada em relação à bandeja ou à
mesa.
5. Fale com seu médico ou pediatra sobre a introdução de sólidos, discutam sobre
história familiar de intolerância aos alimentos, alergias, problemas digestivos ou
qualquer outra dúvida sobre a saúde ou desenvolvimento global do bebê.
1. Não ofereça comida que não seja boa para o bebê, como comida pronta, comida
processada ou com adição de sal/açúcar. Mantenha fora de seu alcance tudo o que
possa levar ao engasgo.
2. Não ofereça sólidos quando ele está com fome e precisa mamar.
4. Não coloque comida em sua boca (e esteja atento à crianças que podem querer tentar
“dar uma mão” e fazer o mesmo). Deixar que o bebê tenha a iniciativa é uma
característica fundamental de segurança no método BLW.
5. Não tente persuadi-lo para que ele coma mais do que quiser. As estratégias, jogos,
subornos e ameaças não são necessárias.
O reflexo de gag
A partir de determinada pressão, em determinado ponto da boca, todos nós (ou a
grande maioria de nós) temos um reflexo protetor chamado “reflexo de gag”. Esse
reflexo – muito similar a uma “ânsia de vômito” – é considerado protetor de vias aéreas
inferiores, pois a partir de seu disparo, qualquer objeto estranho que não esteja sendo
deglutido adequadamente vai ser trazido de volta para a frente da boca. A partir daí, ele
pode ser mastigado novamente, reiniciando-se a deglutição, ou devidamente cuspido
pra fora da boca. Sendo assim, o Gag é considerado como um importante recurso
fisiológico do corpo para prevenir o engasgo.
Além disso, a natureza, sábia como é, fez os bebês com um reflexo de gag bem
anteriorizado em relação aos adultos. Dessa forma, enquanto adultos apresentam o gag
apenas na região das amídalas e da faringe, os bebês já apresentam o reflexo em base
de língua, apresentando também essa região mais elevada. Essa disposição anátomo-
fisiológica está diretamente relacionada à capacidade do bebê para engolir e digerir
alimentos sólidos. Ou seja, ter o gag presente é um bom sinal! Sinal de que os reflexos
fisiológicos normais estão presentes e ajudando a proteger o seu bebê enquanto o corpo
dele se prepara para receber os sólidos da maneira mais instintiva e natural possível!
É óbvio que o reflexo de gag é disparado muito mais vezes quando o bebê está
manipulando um alimento sólido. Isso porque, como qualquer outro reflexo, o gag
depende de uma determinada pressão em determinado ponto da boca, para ser
ativado. Como o reflexo patelar, quando o médico bate o martelinho no joelho e a perna
levanta. Pois bem, pedaços maiores exercem maior pressão nesses pontos específicos
do que colheres de purê ou líquido, que se dispersam na boca. É por esse motivo que os
gags acontecem com maior frequência quando o bebê coloca pedaços grandes dentro
da boca e, principalmente, quando ainda não aprenderam a mastigar esses pedaços
antes de engolir – o que acontece principalmente nas primeiras semanas de introdução
alimentar.
forma, ele ainda não aprendeu a organizar esses alimentos dentro da boca,
transformando-os em um bolo alimentar para serem deglutidos. Assim, a papa se
dispersa e o corpo, em um fascinante mecanismo de proteção, faz todos os esforços
para que o alimento – mal deglutido – volte para a boca para ser cuspido ou manejado
novamente para dar sequência correta à deglutição. Muita gente acha que o bebê não
gostou da comida porque está tendo “ânsia”, mas na verdade é só mais uma parte do
aprendizado – “mastigar” e engolir.
Rapley, em seu best-seller “Baby led weaning”, teoriza ainda que, quando o bebê come
sozinho, ele tem maior controle do que leva à boca. A autora discute que os riscos reais
de engasgos são menores quando o bebê tem o controle da situação, pois quando é
alimentado, quem o assiste pode frequentemente colocar a colher dentro de sua boca,
ainda que o bebê não tenha a intenção de capturar o alimento da colher. Assim,
teoricamente, a papa pode ser direcionada para o fundo da boca sem aviso e acabar
causando o engasgo.
Bebês com refluxo crônico podem ter um reflexo de gag alterado, devido à modificação
da mucosa e sensibilidade oro-faringea, podendo levar a inibição total do reflexo ou
hipersensibilidade. Outras condições também podem levar à alteração do reflexo, por
O reflexo de tosse
No item anterior, vimos que o reflexo de gag é um importante mecanismo de defesa
contra engasgo e que no bebê ele é anteriorizado, sendo disparado muito antes do
alimento chegar na garganta. O gag é percebido como uma ânsia de vômito, no qual
movimentos musculares involuntários repetitivos mobilizam a musculatura do pescoço,
garganta, de dentro da boca e da face, na tentativa de expelir um alimento mal
deglutido. A tosse não faz parte do reflexo de gag, embora ambos possam coexistir,
como veremos mais à frente.
À medida em que o bebê se desenvolve, assim como outros reflexos inatos são
reduzidos ou suprimidos totalmente (como o reflexo de sucção, procura, preensão), o
reflexo de gag também tende a se normalizar e se aproximar mais do que acontece no
adulto lá pelos 7-9 meses de idade. Desta forma, por volta desta idade, o reflexo de gag
passa a ser disparado, na maioria dos bebês, mais posteriormente, em pilares faríngeos
(que revestem as amígdalas) e orofaringe, principalmente. Consequentemente, o
número de vezes em que o gag é disparado durante a alimentação diminui
drasticamente, e principalmente nos bebês BLW, os quais aparentam apresentar um
desenvolvimento significativo da fase oral da deglutição – mastigação e controle oral já
nos primeiros meses de introdução alimentar1.
Os receptores da tosse podem ser encontrados em grande número nas vias aéreas altas
(laringe e traquéia) e nos brônquios, e – assim como o gag, podem ser estimulados por
De fato, quando o reflexo de tosse aparece antes, durante ou após a deglutição, é muito
provável que o gag por si só não foi efetivamente capaz de eliminar o corpo estranho, e
este já atingiu vias aéreas. Apesar do gag funcionar melhor com pedaços de alimentos
grandes, o reflexo de tosse é eliciado mesmo com infímas porções. Assim, é sem
dúvida o reflexo mais importante de defesa de vias aéreas, sendo capaz de desobstruir
a maioria dos engasgos de leve a moderada gravidade (obstrução parcialde vias aéreas).
Gags vão acontecer no início da IA por BLW. É absolutamente normal. Mas são rápidos.
Vão durar no máximo uns 15 segundos, no máximo levando a um vômito por excesso
de ânsia. A criança volta a comer como se nada tivesse acontecido, caso o adulto passe
confiança e tranquilidade na situação. Não tem mesmo que enfiar o dedo na boca a
cada pedaço grande que entra. O bebê em pouco tempo aprende a cuspi-los, e ainda,
a morder pedaços menores, se for dada a oportunidade dele aprender naturalmente.
Por meio do reflexo de gag, por meio da mastigação por amassamento com as
gengivas, por meio da aquisição de movimentos finos com a língua.
Dito isso, nem por isso eu preciso expô-lo a riscos absolutamente desnecessários. Não
vou dar alimentos duros, por exemplo. Não vou deixar ele comendo sozinho. Vou
pesar o custo-benefício em cada situação. E nessa situação, o custo benefício tá muito
desbalanceado.
Observações Importantes:
1. Muito do que se discute sobre o BLW tem base empírica, isto é, não baseada em
fatos científicos. Apesar de bastante difundido atualmente, o BLW ainda está
sendo estudado e os artigos científicos sobre o assunto ainda apresentam dados
incompletos e superficiais. Na prática, o BLW tem se mostrado um método
extremamente eficiente no desenvolvimento das funções orofaciais e na
condução da introdução da alimentação complementar.
O engasgo
Nos últimos itens falamos sobre as diferenças entre os mecanismos de proteção de vias
aéreas: reflexo de gag e reflexo de tosse, e como estes estão inter-relacionados entre
si. No post de hoje, vamos falar sobre o engasgo, que nada mais é do que a consequência
imediata da falha destes mecanismos de proteção. Ressaltando que o ENGASGO é uma
CONDIÇÃO e não um REFLEXO.
bem orientado e conduzido. Acredita-se que o bebê exposto ao BLW tenha uma melhor
capacidade em lidar com os sólidos e esteja menos predisposto ao engasgo, já que
desenvolve potencialmente suas habilidades intra-orais – mas esse conhecimento é
empírico, isto é, não validado pela ciência.
Então, esclarecendo, o engasgo é definido como uma obstrução do fluxo aéreo, parcial
ou completo, decorrente da entrada de um corpo estranho nas vias aéreas, podendo,
em sua apresentação mais grave, levar à cianose e asfixia. Na obstrução parcial das vias
aéreas a criança consegue tossir, respirar, emitir alguns sons ou até falar. Na obstrução
total, a criança é incapaz de tossir, falar, chorar e isso é muito mais grave, pois pode
evoluir para um quadro de asfixia e parada cardio-respiratória.
Este mesmo estudo mostrou que uma parcela das mães relatou a maçã crua como uma
das principais causas de engasgo entre seus bebês BLW. Alimentos crus preenchem o
critério de alto risco para engasgo, principalmente em edentados, pois são rígidos e se
dividem em inúmeros pequenos pedaços duros quando mordidos. O autor ressalta que
é necessário desencorajar os pais que seguem o BLW a oferecer maçã crua para seus
bebês.
Rapley e Murkett (2008) sugerem que o bebê tem muito menos probabilidade de vir a
engasgar quando é ele quem leva o alimento à boca. Mas o que quero ressaltar com
esse artigo é que o adulto é diretamente responsável pela disposição de alimentos
seguros durante a alimentação pelo BLW. O bebê não tem maturidade para decidir o
que é seguro ou não e leva tudo, absolutamente tudo à boca. A minha sugestão é que
você também observe e respeite o desenvolvimento global do bebê durante o BLW. Se
ele não é capaz de capturar um grão de arroz com o movimento de pinça, então
dificilmente será capaz de manejá-lo com eficiência em cavidade oral. Todo seu
desenvolvimento oral está em perfeita sintonia com seu desenvolvimento global e não
há necessidade de estimular. Lembre-se que o BLW permite que o bebê se desenvolva
naturalmente.
Outro fator que pode aumentar o risco de engasgo, segundo a literatura, é a presença
do irmão mais velho, pois geralmente há no ambiente uma grande disposição de
alimentos e objetos perigosos para a faixa etária do irmão menor. Assim, deve-se
reforçar a supervisão e orientar aos mais velhos para não dividirem alimentos e objetos
com crianças menores.
1. Estar ciente das manobras de desobstrução que você pode fazer em casa.
2. Insistir para que as crianças comam à mesa, sentadas. Evite alimentá-las
enquanto correm, andam, brincam, estão rindo. Não deixá-las deitar com
alimento na boca.
3. Supervisione SEMPRE a alimentação de crianças pequenas.
4. Fique atento às crianças mais velhas. Muitos acidentes ocorrem quando irmãos
ou irmãs mais velhas oferecem objetos ou alimentos perigosos para os menores.
5. Evite comprar brinquedos com partes pequenas e mantenha objetos pequenos
da casa fora do alcance das crianças. Siga a recomendação da embalagem dos
brinquedos, com relação à idade ideal para aquisição. E não permita que crianças
pequenas brinquem com moedas.
Chicletes
Cubos de gelo
Creme de amendoim ou cream cheese em blocos grandes (pegajosos e grudam
no céu da boca)
Pipoca – PRINCIPALMENTE o peruá (parte amarelinha)
Pretzels
Uvas passas
Vegetais duros crus e verduras cruas
Alimentos em forma de cordão (exemplo: broto de feijão, espaguete, verduras
(ex:couve) cortadas em tiras etc)
Ufa! A lista é grande não? Mas pensando que muito do que está listado aí não é nem
indicado para um bebê, já que é pura porcaria, ainda tem MUITA coisa pra oferecer!
Então, por exemplo, alguns dos alimentos de alto risco que vocês podem
tranquilamente passar sem oferecer pelo menos até os 4 anos de idade:
salsichas e linguiças
doces duros, molengos ou pegajosos. Ao contrário do que muita gente pensa,
gelatina também é super perigoso, pois é escorregadio e, quando não mastigado,
um pedaço pode tranquilamente obstruir a via aérea.
amendoins, sementes e oleaginosas (amendoas, castanhas, nozes etc)
uvas inteiras
pedaços grandes de carne ou queijo duro
mashmallows
pipoca
chiclete
E o que podemos fazer para melhorar a apresentação dos alimentos a fim de reduzir as
chances de engasgo:
Quando o bebê ainda é “banguela”, você pode oferecer as frutas com parte da
casca para facilitar a preensão palmar (já que a maioria escorrega). Mas é
prudente retirar as cascas das frutas quando o bebê já tem dentes e é capaz de
“rasgar” a casca com a força da mordida.
CARNES:
desfiados
ou carne moída,
até que o bebê tenha habilidade para mastigar pedaços maiores com o
nascimento dos molares (até os dois anos mais ou menos).
Alimentos fibrosos e/ou duros para mastigar mesmo após o cozimento (ex:
quiabo, vagem, brócolis comum, folhas etc) são mais fáceis de mastigar se
cortados em pedaços pequenos e/ou misturados à outras preparações/receitas.
Hidratar as frutas secas e cozinhar bem os grãos antes de oferecê-los aos bebês.
Milho verde na espiga deve estar beeem molinho (daqueles que estouram nos
dentes), para os “banguelas”, vcs podem “rasgar” os grãos com um ralador de
queijo.
As folhas podem ser oferecidas cozidas ou cruas, mas sempre bem picadas.
Como no início o bebê não consegue pegar os pedacinhos, sugiro que você ainda
assim misture folhas verdes em outras receitas (ex: omelete), para que o bebê
também sinta o gosto “amarguinho” que a maioria das folhas verde-escura tem.
Evite pães de forma e/ou pães brancos industrializados “massudos”, pois quando
misturados à saliva formam uma pasta grudenta que pode dificultar a
mastigação e deglutição do bebê, levando à gags excessivos (e possível engasgo
ou vômito).
Primeiro de tudo: mantenha-se calma e focada. Não aja sem pensar, pois isso pode
prejudicar a situação, ao invés de ajudar.
Segundo, você está vendo o pedaço que está causando esse desconforto excessivo? Se
você CLARAMENTE VÊ o pedaço que está causando o engasgo, você pode retirá-
lo deslizando gentilmente seu dedo no espaço que fica entre a gengiva e a bochecha do
bebê, de modo que você traga o alimento DE TRÁS, para FRENTE. Em hipótese nenhuma
enfie o dedo na boca do bebê sem pensar antes de agir.
Então, resumindo:
1. O seu bebê deve estar em desenvolvimento normal. É essencial discutir o método com
o pediatra antes de iniciar. Bebês prematuros e/ou com atraso de desenvolvimento
costumam estar mais predispostos ao engasgo.
2. Assegure-se de que seu bebê está SENTADO ereto (90 graus) quando ele estiver
experimentando alimentos sozinho. Se ele não senta ainda, então o BLW não é indicado
4. Não apresse seu bebê. Permita a ele dirigir o ritmo do que ele está fazendo. Em
particular, não fique tentado a “ajudá-lo” colocando coisas em sua boca. No máximo
tocar nos lábios pra ele ver que aquele “brinquedo” tem sabor.
5. Não tente “pescar” todos os pedaços grandes que se desprendem dos alimentos. É
perigoso acabar empurrando o alimento para as vias aéreas e causar engasgo. Espere
que o gag cumpra seu papel.
7. Se ele tiver o reflexo de gag: aguarde, observe. Dê ao bebê alguns segundos para
trazer o pedaço para a frente da boca e expelir.
8. O mesmo com a tosse. Se ele engasgou, estiver tossindo forte, observe, dê ao bebê
alguns segundos para recuperar-se. A tosse é também um reflexo de proteção.
9. Durante o engasgo, não dê água ou bata nas costas, pode piorar a situação.
10. Se o bebê estiver com dificuldade aparente (não consegue tossir, respirar, olhos
arregalados, vermelhidão no rosto) e você estiver vendo o alimento dentro da boca, você
pode tentar retirar com o dedo. Caso você não esteja vendo o alimento, em hipótese
nenhuma enfie o seu dedo na boca do bebê, caso contrário você pode empurrar o
alimento para as vias aéreas. A manobra de desobstrução de vias aéreas já é indicada.
Tire o bebê da cadeira e proceda com a técnica.
Pra finalizar este capítulo, gostaria de deixar um trecho escrito pelo Dr Moises
Chencinsky, em seu website:
“Nem todo mundo que fuma tem câncer de pulmão, nem todo mundo que bebe bebida
alcoólica tem cirrose, nem todo mundo que tem relação sem preservativos tem
AIDS. Mas há uma chance maior de isso tudo acontecer. Nem por isso, deixamos
de orientar a forma que se julga adequada (não fumar, não beber e relações sexuais
sempre com proteção).
Assim, nem todas as crianças que usarem andador terão acidentes e serão internadas,
nem todas as crianças que estiverem em um carro fora das cadeirinhas vão morrer em
acidentes, nem todas as crianças que consumirem mel abaixo de um ano de idade terão
botulismo, e nem todas as crianças que tomarem sucos terão obesidade ou diabetes tipo
2. Mas há uma chance maior de isso tudo acontecer. Nem por isso, deixamos de orientar
a forma que se julga adequada (não usar andador, no carro, sempre na cadeirinha, não
oferecer mel abaixo de um ano de idade e não oferecer sucos abaixo de um ano de idade
e dar preferência para as frutas in natura).”
Por isso, estejam cientes e conscientes sobre os riscos, sobre como podem facilitar a
alimentação segura e agir em caso de necessidade, tornando o BLW um método apenas
leve e prazeroso de introdução alimentar. Sei que provavelmente vocês já deram muitos
dos alimentos citados aí em cima, assim como eu, mas o que quero sempre difundir são
as ESCOLHAS CONSCIENTES!
Sabendo o que esperar e como agir em caso de necessidade, TUDO fica mais tranquilo
e seguro para o bebê e mais fácil pra você, que provavelmente vai ter que dar a mesma
santa explicação sobre BLW pra todos à sua volta!
A ideia de oferecer alimentos em pedaços (finger food) para os bebês não é nova.
Instintivamente, mães de todas as partes do mundo sempre ofereceram um pedaço de
fruta, um biscoito, um pedaço de pão, normalmente quando o bebê começa a se
interessar pelo alimento inteiro e mostra autonomia para segurá-lo e levá-lo à boca com
destreza. A mãe, já acostumada a ver o bebê comer suas papinhas com eficiência –
geralmente por volta dos 8-9 meses começa a oferecer um pedaço ou outro de alimento
inteiro ao bebê. Muitas vezes – mas não somente – no intuito de distraí-lo, em um
intervalo entre refeições.
O BLW – por sua vez – também apoia-se na ideia de oferecer alimentos em sua forma
original ao bebê. Mas mais do que isso, reforça a ideia de que o bebê deve alimentar-se
sozinho, em todas as refeições, desde o seu primeiro contato com o alimento, aos 6
meses de idade – período no qual a maioria dos bebês já está apto para sentar sem
apoio, capturar e levar objetos à boca, e digerir alimentos. Sem purês, sem colheradas,
sem aviõezinhos, sem pressa na introdução dos sólidos. O BLW, acima de tudo, apoia-
se na ideia de que até um ano de idade o principal alimento do bebê é o leite – seja o
leite materno ou artificial.
Bom, com a popularidade crescente do método BLW em alguns países como Reino
Unido, Nova Zelândia e Austrália, as pesquisas começaram a tomar forma. Em sua
maioria trabalhos de análise de prontuários de pacientes e respostas de questionários
aplicados com voluntários.
Conforme essas pesquisas foram sendo conduzidas, foi-se percebendo que existia, entre
as mães simpatizantes com o método, uma linha contínua de aderência ao BLW. Isso
significa que algumas mães eram extremamente rígidas em seguir todas as “regras” que
o livro propunha, outras nem tanto. E entre as mães “nem tanto”, algumas auxiliavam o
bebê somente quando estavam comendo fora, ou quando precisavam oferecer algo que
precisava de colher (como iogurte, por exemplo) e outras praticavam aproximadamente
50/50 tradicional/BLW.
Ou seja, existiam mães BLW para todos os gostos. Tanto, que alguns pesquisadores
encontraram dificuldades para dividir essas mães em grupos, para poder compará-los
(os grupos) entre si. Um dos estudos, por exemplo, utilizou um limiar de no máximo 10%
de alimentação assistida (oferecida pelo cuidador) para definir quem seria adepto do
BLW e quem seria adepto ao método tradicional. Já outros estudos optaram por separar
essas mães em grupos mais flexíveis. Tudo isso para poder comparar as diferenças nos
resultados quando se aplicava o método BLW estritamente ou de maneira mais flexível.
Outro fato importante a ser destacado é que a maior parte dos resultados positivos
foram observados principalmente no grupo mais aderente ao BLW (pouca ou nenhuma
oferta assistida). Famílias que seguiram o BLW de forma mais rígida também
apresentaram melhores comportamentos em relação à saúde e nutrição. A maioria
desses bebês foi amamentada exclusivamente até os seis meses e iniciaram alimentação
complementar somente após essa idade, como sugere a OMS. Interessantemente, mães
que seguiram o BLW rigidamente (pouca ou nenhuma oferta assistida) apresentaram
melhores níveis de educação formal.
Ainda sobre a oferta de papas, Rapley & Murkett (2008) são bem claras:
A maioria dos bebês preferem comer sozinhos do que outra pessoa lhes dê de comer,
porque tem prazer de fazer coisas por si próprios e aprender habilidades novas. Muitos
pais recorrem ao BLW quando seu bebê se nega que lhe deem de comer com a colher.
Existe um mito, segundo o qual se deve convencer os bebês para que aceitem a
alimentação com a colher. Estes são alguns dos motivos mais frequentes:
– a crença errônea de que os bebês tem que se “acostumar” à colher a certa idade.
– a crença errônea de que os bebês precisam comer iogurte diariamente e que não são
capazes de comer sozinhos.
– a preocupação pela sujeira que pode fazer um bebê que come sozinho.
– a preocupação por não saber se o bebê come o suficiente por si só e precisam acabar
de “enchê-lo” com purês.
Padovani, 2015. Todos os direitos reservados.
Combinação de métodos: isso existe? 35
Alguns pais querem que o bebê se acostume que lhe deem de comer com a colher, para
se porventura precisem fazê-lo, e existem outros que simplesmente querem dispor desta
opção, além e deixá-lo comer sozinho.
Todavia, a opinião do bebê pode ser bem diferente. Muitos bebês que aprendem a comer
sozinhos deixam em seguida muito claro que não querem que ninguém lhes dê de comer.
Conseguem transmitir esta mensagem de múltiplas maneiras, e a principal é arrebatar
a colher ao adulto. Isso é aparentemente certeiro no caso dos bebês que mamam no
peito, já que até esse momento eles próprios tiveram controle da sua alimentação.
Tenha em conta que, se de vez em quando você insiste em dar comida pro seu filho,
enquanto que em outras ocasiões você o deixa comer sozinho, você estará enviando
mensagens contraditórias sobre a confiança depositada nele e no tanto que você o
permite ser independente.
Se o bebê aceita a colher, pode-se combinar os purês com o método BLW sem se
preocupar. Entretanto, se o método lhe interessou pelas vantagens que oferece ao bebê,
RECOMENDAMOS que não dê os purês em cada refeição. Caso o faça, é possível que o
bebê não pratique com texturas o suficiente ou que não tenha muitas oportunidades de
praticar e desenvolver suas habilidades. Também existe a possibilidade de que vc caia
na tentação de tentar persuadi-lo a comer mais do que comeria se sozinho. É melhor
reservar a colher para alimentos concretos, como iogurtes e cremes por exemplo, ou dar
(na mão) do bebê uma colher já cheia de vez em quando, para que seja ele quem decida
quando levar à boca. (O livro ainda tem conselhos para como oferecer alimentos
semilíquidos para que o bebê coma sozinho).”
Ou seja, as autoras deixam claro que NÃO É PROIBIDO, mas quando oferecemos um purê
ou oferecemos a comida com a colher para o bebê, também acabamos perdendo uma
parte do conceito do BLW. Ainda temos inúmeras vantagens utilizando o método
parcialmente, mas podemos estar deixando de ganhar algumas habilidades que são
inerentes ao método em sua forma mais pura.
Assim, de acordo com a TEORIA DO LIVRO, é que NÃO HÁ NECESSIDADE. Além disso, até
o momento, ainda que demonstrados por resultados iniciais, não foram observados
aspectos negativos com a aplicação do BLW de forma mais rígida (definida como pouca
ou nenhuma oferta assistida). Pelo contrário, os resultados iniciais mostraram que os
bebês expostos ao BLW desta forma apresentaram maior resposta de saciedade e
redução da probabilidade de sobrepeso aos 18-24 meses.
NA PRÁTICA, você deve fazer o que achar mais conveniente dentro do seu contexto! É
evidente que cada ser humano é único e isso inclui o bebê, a mãe e a família como um
todo. Por mais que as vezes tenhamos a intenção de praticar um método rígido, é
possível que, por algum motivo – qualquer que seja, alguma “regra” nos escape. Isso
não é uma característica só sua, mãe. Como você pôde ver, mesmo nos países onde o
Por fim, quando estamos falando de um método cuja eficácia ainda não foi comprovada
cientificamente, todo questionamento e toda análise pontual e de contexto é válida.
Assim, é natural que uma mãe se questione se seu bebê ingere alimento suficiente com
o BLW (as próprias pesquisas questionam isso e ainda não há uma resposta válida).
Quando um bebê fica doente, quando um bebê demonstra pouco ou nenhum interesse
pela comida, quando apresenta déficit de crescimento, aja imediatamente. Abuse do
seu sexto sentido de mãe, não confie em métodos infalíveis – e principalmente aqueles
não validados pela ciência. E sempre, sempre discuta aplicabilidade do método com o
pediatra do seu bebê!
Praticar o BLW precisa de muito empenho, paciência e requer que você, acima de tudo,
confie no seu bebê. Ele vai ser o principal ditador das regras. Ele vai te dizer o que, como,
quando e quanto quer comer. Pode ser que você deixe a disposição uma série de
alimentos e ele te diga (mesmo sem falar) que não é ali nem agora que ele gostaria de
estar. Não se desespere, tenha paciência, controle a ansiedade. Dê tempo à ele. A
alimentação é em livre-demanda. Se ele não quer comer agora, tente daqui meia hora.
Coloque-se no lugar do bebê e tente entender a vontade dele. E lembre-se que o leite é
E importantíssimo: BLW só depois que o bebê for capaz de sentar com pouco ou sem
apoio e capturar objetos com a mão e levá-los à boca. Antes disso, se for necessária a
introdução de alimentação complementar, somente o método tradicional é indicado.
1. IA tradicional
2. BLW
3. Um pouquinho dos dois
4. Tanto faz, o que importa é a saúde do meu bebê.
Todo mundo concorda que a alternativa 4 é a correta, certo? Ceeerto!!! Pode parecer
bobagem, mas muitas mães se sentem ofendidas quando são “excluídas” do grupo
número 2. Minha teoria é que, uma vez que essas mães entenderam e assimilaram o
conceito do BLW, não conseguem mais se enxergar como fazendo parte do grupo 1.
Muitas mães se sentem inseguras com o BLW puro devido principalmente ao medo do
engasgo e da nutrição adequada. Outras situações pontuais podem levar à oferta
assistida e/ou de papa, como: períodos de doença e/ou convalescência; bebês que tem
diferentes cuidadores; bebês que vão para a escolinha/creche por um curto período;
dúvida quanto à ingestão/nutrição (principalmente nas primeiras semanas); quando
estão fora de casa (viagens, passeios etc.); para a oferta de iogurtes, cremes, caldos etc.;
entre outras situações. Desta forma, essas mães conseguem assimilar a teoria do BLW,
mas não conseguem colocar em prática 100% das recomendações.
Já vimos nas discussões anteriores que esse grupo 3 existe. Fato. Mas esse “pouquinho
dos dois” pode incomodar o ouvido – ou o olhar – do leitor mais atento pois desintegra
o conceito original do BLW:
“Na maioria das famílias, são os pais quem decidem quando começar este processo (de
introdução da alimentação complementar). Começam a alimentar seu bebê com a colher
e decidem como e quando começam a ingerir sólidos. E quando deixam de oferecer o
peito ou a mamadeira, decidem quando acaba a alimentação à base de leite. O método
BLW é diferente: permite que o bebê tome a iniciativa durante todo o processo e utilize
seus instintos e suas habilidades. Decide quando começa e quando termina o processo.
(…)
– O bebê se senta à mesa com o restante da família, e participa quando está preparado.
– O bebê se entusiasma a experimentar com a comida quando mostra interesse, e
permite-se manuseá-la (não importa se, ao princípio, não consegue levá-la à boca).
– A comida se apresenta em tamanhos e formas que o bebê possa manipular com
facilidade, no lugar de consistir em alimentos em forma de purê ou comida triturada.
– O bebê come sozinho desde o princípio, ao invés de ser alimentado por uma pessoa
com a colher.
– O bebê decide quanto comer e quando ampliar a variedade de alimentos que gosta.
– O bebê segue tomando leite em livre demanda (materno ou fórmula) e decide quando
está preparado para diminuir as tomadas de leite.”
Trecho retirado do livro “Baby-led weaning: Helping your baby to love good food”, 2008.
Por esse motivo, baseando-se nas principais e mais atrativas propostas do BLW e nas
recomendações mais atuais do Ministério da Saúde, Sociedade Brasileira de Pediatria,
Organização Mundial da Saúde, e ainda, não desconsiderando a oferta assistida pela
mãe ou cuidador e nem o oferecimento de alimentos de todas as texturas, proponho
uma série de ideias que podem ser utilizadas durante o processo de introdução da
alimentação complementar, visando uma introdução alimentar participATIVA.
Como vimos, “finger food” é uma expressão usada para descrever os alimentos que
podem ser facilmente manuseados com as mãos. Independente de optar ou não pelo
BLW, oferecer alimentos em pedaços é uma escolha de grande valia para o
desenvolvimento do bebê.
Considerando tudo isso, o oferecimento dos alimentos em sua aparência original - cor,
cheiro, forma, textura e sabor - propiciam ao bebê uma série de informações sensoriais
essenciais no desenvolvimento da sua relação com os alimentos, incluindo:
Como já vimos, no caso dos bebês, os melhores tipos de finger food são aqueles cortados
do tamanho um pouco maior do que o seu punho, idealmente alimentos saudáveis
como por exemplo frutas ou legumes levemente cozidos. É importante recordar que os
bebês, nos primeiros meses da introdução alimentar, não conseguem abrir o punho
intencionalmente.
Então, no início, eles irão comer apenas a parte do alimento que estiver aparecendo
para fora do punho e provavelmente irão descartar o pedaço restante, pois ainda não
tem habilidade para comer o que ficou dentro da mão fechada. Conforme suas
habilidades vão sendo aprimoradas, o bebê já é capaz de pegar e manusear os alimentos
e levá-los à boca com mais destreza e eficiência, sendo importante dar oportunidades
deles se desenvolverem fase a fase.
Depois de ter contato com o baby-led weaning pela primeira vez, vc deve estar se
perguntando… “Mas isso funciona mesmo?”
Saiba que a ideia do BLW não é nova e nem original. O que as autoras do livro fizeram
foi compilar uma série de orientações para quem se propõe a utilizar método. Algo que
muitas famílias já fizeram instintivamente antes mesmo disso ter um nome.
Com o BLW, tenho aprendido que até quando me sinto na obrigação de tentar insistir
pra que ele pelo menos se interesse pela comida, hoje sei oferecer, ao invés de dar. Ele,
por sua vez, consegue claramente demonstrar quando não quer e nem que eu quisesse,
acredito, conseguiria forçá-lo a comer. As vezes ele mesmo pede, abrindo a boca e
inclinando-se para frente. Muitas vezes compartilhamos a mesma comida, ou ele do
meu prato, ou eu da bandeja dele.
No final das contas, preocupe-se menos com regras estritas do tipo: “não use colher”,
“não coloque nada na boca dele”, “não use purês de jeito nenhum” e blá blá blá. Deixe-
se simplesmente guiar pelo bebê, como o próprio nome já diz. Deixe que ele dite o ritmo,
que ele te mostre como prefere ser alimentado, faça da refeição um momento precioso
e prazeroso para vocês dois. Sem pressão, apoie-se na oferta do leite em livre demanda
como base nutricional. O que vier – e vai vir – será lucro tanto a curto, como a longo
prazo, na criação de uma relação saudável com a comida e com o momento da refeição.
Aprenda, essencialmente, a oferecer o alimento – ao invés de simplesmente “dar
comida”.
Como já vimos, ao contrário do que muita gente pensa, o método BLW em si não prevê
a oferta assistida pelos pais – pois fundamenta-se na alimentação livre e gerenciada pelo
próprio bebê, visando o total controle do bebê sobre sua própria alimentação. Desta
forma, ainda que os pais ofereçam alimentos em pedaços desde o início da IA, oferecer
alimentos passivamente ao bebê já descaracterizaria o BLW.
Dar ou oferecer?
Considerando tudo que já conversamos, deixo aqui uma reflexão. Você já parou para se
perguntar o quanto seu bebê está participando ativamente no momento da refeição?
Ele está decidindo o que quer comer, o quanto quer, como quer?
Já conheceu alguma criança maior que não pode ver nada de cor diferente no prato que
já recusa a refeição inteira? De onde será que vem esse comportamento? É claro que
ninguém faz isso por mal, toda família quer ver seu bebê comendo muito e feliz. Mas
em alguns momentos é necessário se perguntar o que realmente o bebê
está APRENDENDO nesse processo (de IA). Muito do que ele aprender, vai ser implícito
– isso significa que você não vai ensinar, mas de certa forma, ele vai assimilar e guardar
em sua memória. Assim, um comportamento, uma ação começa a se relacionar com
determinada consequência. “Eu abro a boca porque senão ela fica brava” é
completamente diferente de “Eu abro a boca porque eu tenho fome e vontade de
comer“.
Quando uma colher é colocada na boca do bebê sem que ele intencionalmente se
prepare pra isso, ele está realmente aprendendo a se alimentar? Ou simplesmente está
ingerindo comida? Consegue perceber a diferença? Sei que cada bebê é único e reage
de um jeito à situação. Se o seu bebê é um “comilão” nato, muito provavelmente você
nem vai chegar a se questionar se está fazendo certo/errado – e se é que existe
certo/errado. Mas independente da individualidade do seu bebê, refletir sobre COMO
o processo de IA está sendo conduzido e pensar no que essencialmente está
sendo aprendido, pode te levar a compreender de fato como os hábitos de agora podem
influenciar todo um futuro de organização e saúde alimentar.
Vale a pena, pode ter certeza. Refletir, repensar, reagir. Mudar. Devagar e sempre.
Padovani, 2015. Todos os direitos reservados.
Introdução alimentar participativa 45
Há de se entender que, entre o ideal e o possível existe uma linha contínua na qual,
muitas vezes, temos que encontrar nosso ponto de equilíbrio para nos apoiar em tudo
o que vem como consequência positiva. E beneficiar-se disso.
prática, em muitos casos, existem limitações entre o que está descrito e o que é
praticável dentro de um lar. Assim, passa-se avaliar uma relação custo-benefício, na qual
não existe certo ou errado, mas melhor ou pior.
No final das contas, o desafio é olhar o copo sempre meio cheio. Olhar com otimismo
para o que conseguimos extrair de positivo e buscar estar sempre em um contínuo de
mudança para melhor. Mudar aos poucos é melhor do que não mudar nunca.
Amamentar por alguns meses é melhor do que nunca ter tentado amamentar. Priorizar
a fruta, ao invés do suco, é melhor do que oferecer só o suco, sempre. Oferecer
alimentos em pedaços de vez em quando é melhor do nunca oferecer. Fazer a maioria
das refeições longe da TV é melhor do que depender dela sempre.
Voltando ao BLW, em seu sentido estrito, o bebê controla a sua própria ingestão de
alimentos durante todas as refeições, a ponto dele mesmo decidir quando ele vai passar
a comer mais e mamar menos, até o desmame completo (um processo que espera-se
que termine somente após os dois anos).
Seguido à risca, no BLW o bebê não sofre influências externas relacionadas à quantidade
de alimento ingerido. Se ele está disposto a comer, ele come. Se não, não há nenhuma
intenção ou esforço em mudar isso. Dessa forma, teoricamente (existem estudos ainda
iniciais), seria o único método capaz de proporcionar total autonomia no controle da
fome (comer por necessidade e não por vontade) e da saciedade (comer o necessário
para saciar a fome e não por gula). Seria a livre demanda da introdução alimentar.
Porém, o BLW tem outras vantagens que podem, sem dúvida alguma, estender-se ao
método participativo, como por exemplo:
Padovani, 2015. Todos os direitos reservados.
Introdução alimentar participativa 47
– O bebê aprende, desde sempre, todas as funções orais de acordo com a evolução de
suas habilidades: morder, mastigar e engolir, em uma ordem fisiológica e natural,
durante um período em que está fisiologicamente preparado para prevenir os engasgos
por meio do reflexo de gag anteriorizado (por volta dos 6 meses).
– O bebê torna-se mais disponível para provar e experimentar coisas novas, já que sabe
que pode recusar ou não aceitar algo caso não tenha interesse. Leva-se em média 10
apresentações, de um mesmo alimento, em diferentes formatos e texturas, para se ter
certeza que o bebê realmente gosta ou não gosta. Por isso, não há a necessidade de se
insistir em um alimento que foi ignorado, ou “escondê-lo” em preparações, apenas
apresentá-lo novamente, em uma outra ocasião, de diferentes formas (exemplo: cozido,
assado, grelhado).
Portanto, não há necessidade de se ater à nomenclatura “BLW”. Se não der pra garantir
o método ao pé da letra, faça o possível para seguir uma filosofia ParticipATIVA,
permitindo que seu bebê possa desfrutar de todas as vantagens que tendem a vir em
decorrência dela.
1. Aguarde os seis meses do seu bebê para iniciar a introdução alimentar. São inúmeras
as pesquisas que mostram que o sistema digestivo do bebê é imaturo até esta idade.
Está mais do que provado: até os seis meses de idade, o leite – materno ou artificial – é
tudo e somente o que o bebê precisa. E fique atento: a maior parte das dicas abaixo
preveem que seu bebê já tenha capacidade para sentar-se sozinho e levar objetos a boca
com facilidade (habilidades conquistadas próximo aos seis meses de idade).
2. Dê oportunidades ao seu bebê: ainda que você não confie totalmente na exclusividade
do BLW no início, tente estabelecer metas a fim de fazer uma evolução gradual, com o
5. Na medida do possível, deixe o bebê participar das refeições com a família, e aproveite
sempre que possível esse momento para oferecer alimentos em sua forma original,
deixando-o comer sozinho e oferecendo-lhe a mesma comida da família, mas adaptada
à sua idade (geralmente apenas sem adição de sal/açúcar). Bebês aprendem muito por
imitação, então mesmo que você dê a refeição dele em um horário separado do restante
da família, procure participar comendo um lanche saudável junto à ele.
8. Aproveite o momento de oferecer a refeição para abusar dos alimentos ricos em ferro,
de origem animal ou vegetal. De acordo com o Ministério da Saúde (2005), para
melhorar o aproveitamento do ferro do alimento complementar, é válida a adição de
carne bovina, peixe ou ave nas dietas, mesmo que seja em pequena quantidade e a
oferta, logo após as refeições, de frutas cítricas ou sucos com alto teor de ácido
ascórbico.
11. Durante a oferta assistida, deixe que seu bebê veja o que ele está comendo, deixe ele
tocar no alimento ou no talher caso insista para isso. Você pode oferecer os alimentos
juntos ou separados e um bom treino é olhar para o que está oferecendo e se perguntar
“EU teria vontade de comer?”. Se for oferecer uma fruta, tente levar a fruta e
raspar/amassar a fruta na frente do bebê, para que ele aprecie a “transformação” do
alimento (exemplos: mamão ou pêra raspada, banana amassada).
12. Respeite o tempo do seu bebê. Não encha a colher, espere ele abrir a boca para
inserir a colher e espere ele fechar a boca e retirar o alimento sozinho da colher. Aguarde
ele mastigar e engolir para oferecer uma nova colherada. Se ele não abriu a boca ou é
porque ainda não engoliu ou porque não quer mais. Aprenda a observar os sinais,
coloque-se no lugar do bebê. *OBS: “Raspar” a colher no lábio superior para “jogar” a
comida na boca do bebê é, além de tudo, um péssimo hábito e desestimula o adequado
funcionamento da musculatura oral.
14. Não se desespere se o bebê não abriu a boca ou quis comer poucas colheres ou ainda,
se não quis comer nada. Controle a ansiedade. Tudo é novidade. O bebê ainda não
associou a comida à fome, portanto comer é mais uma brincadeira e assimilação de
novas experiências sensoriais. Confie na amamentação ou oferta de fórmula no primeiro
ano de vida. Discuta com o pediatra a necessidade de uma suplementação de ferro e
outras vitaminas, se necessário.
15. Não há necessidade de limpar sua boca a toda hora, muito menos “raspar” a colher
no queixo a cada colherada. Além de ser desagradável, dessensibiliza a região ao redor
da boca. Com o tempo, ele sentirá e perceberá que tem comida parada ali e vai tentar
tirar, com a língua, com as mãos e futuramente, com o guardanapo (depois que lhe for
ensinado, claro).
Padovani, 2015. Todos os direitos reservados.
Introdução alimentar participativa 50
16. Converse com o seu bebê, principalmente se ele já for maiorzinho. Pergunte a ele o
que ele quer primeiro, se quer mais, se está satisfeito etc etc etc.
17. Desapegue-se das mamadeiras e chuquinhas. Utilize um copo de transição com alças
(assim o bebê pode logo aprender a utilizá-lo sozinho) e, assim q possível, ensine-o a
beber água no copo normal e/ou canudo.
18. Aprenda primeiros socorros. Há risco de engasgos tanto com alimentos sólidos
quanto com líquidos e purês, e saber o que fazer caso necessite é essencial para a
segurança de seu bebê. Aprenda a diferenciar reflexo de gag de engasgo e respeite o
tempo que seu bebê vai precisar para se acostumar a ter alimentos em sua boca.
19. Oriente os cuidadores e/ou creche quanto ao BLW. Caso eles se neguem a fazer,
imprima essa lista de recomendações e sugira que a sigam durante a oferta com a colher.
Perguntas Frequentes*
Meu bebê tem oito meses e até agora eu só dei papinha. É muito tarde para
passar para o método BLW?
Nunca é tarde demais para que o bebê comece a comer sozinho! Mesmo que o bebê
esteja acostumado à colher, é muito provável que ele adore explorar a comida se tiver
oportunidades. Ele vai se beneficiar igualmente, mas pode responder um pouco
diferente dos bebês que começam a comer sozinhos desde o princípio.
Isso porque, quando começam a comer sozinhos aos seis meses, os bebês desenvolvem
as habilidades necessárias para manusear a comida, ao mesmo tempo que desenvolvem
as estruturas motoras orais para lidar com ela. Sua alimentação, no início, ainda é
suprida basicamente com o leite materno ou a fórmula. Isso significa que esses bebês
podem praticar muito, antes que eles precisem comer de fato. Por outro lado, quando
eles começam com papinhas e depois passam a comer sozinhos, o processo pode ser
um pouco mais complexo, já que perderam a primeira janela de oportunidade.
Assim, quando oferecemos comida de comer com as mãos para estes bebês mais velhos
pela primeira vez, é possível que eles primeiramente se mostrem irritados, ao passo que
não consegue comer com a rapidez que desejariam. Os bebês que foram acostumados
com a colher podem ingerir mais comida de uma só vez quando tem fome, porque não
precisam mastigar a papinha.
Se dermos a este bebê, que antes comia papinha, a oportunidade de comer sozinho
quando não está com fome, será mais fácil evitar esse problema. Porque desta forma
ele poderá se concentrar-se no quão divertido pode ser manipular o alimento, sem que
haja a necessidade de ter que encher a barriga.
Assim, a princípio, sugere-se oferecer alimentos que ele possa comer com as mãos, e ao
mesmo tempo, oferecer a comida que ele estava acostumado a comer habitualmente.
À medida que o bebê vai aprendendo a comer sozinho, você verá que cada vez menos
ele demonstrará interesse pela papinha, até o ponto em que elas serão desnecessárias.
Alguns bebês, já acostumados com a colher, podem tentar colocar comida demais de
uma só vez dentro da boca. Talvez seja porque não tenham se acostumado a mastigar
antes de engolir, ou porque ainda não tiveram a oportunidade de aprender (com o
reflexo de gag) a não encher a boca em excesso. Uma boa maneira de evitar que isso
aconteça é também oferecer comida quando ele não está com fome.
Então vamos lá! BLW significa “desmame conduzido pelo bebê”, certo? Bom, então
considere o desmame um processo, assim como a introdução dos sólidos. Dos seis
meses a dois anos de idade aproximadamente, o bebê é introduzido à alimentação
complementar e gradualmente, ao longo desse tempo, ESPERA-SE que o bebê passe a
comer mais e mamar menos. No Baby-led weaning, quem decide esse tempo é o bebê
e não a mamãe ou o cuidador.
Agora, façam uma analogia comigo. Vocês concordam que tem bebês que sentam com
4 meses, outros com 5, outros com 6 e por aí vai, certo? Como pais, temos como
estimular que ele sente. Mas não conseguimos acelerar o processo, por mais vontade
que a gente tenha, não é mesmo? Agora voltamos à introdução alimentar. Como
sabemos quando um bebê está pronto para comer? Existe alguma mágica que acontece
na data em que o bebê completa seis meses para que ele de repente esteja pronto para
a IA? Claro que não. Mas, no método tradicional, quem escolhe o momento em que o
bebê vai comer é a mamãe (ou cuidador). No BLW, não é assim. Deixar que o bebê guie
a sua IA significa que ele vai começar a levar a comida à boca quando ele quiser, quando
ele tiver interesse. E ele vai começar a mastigar e posteriormente a engolir no tempo
dele. Enquanto isso, a mamãe vai estimular, deixando alimentos saudáveis à disposição
do bebê no momento da refeição da família, para estimular que ele os imite e comece
a comer também. Não é só o fato de ter alimentos em pedaços. Os alimentos em
pedaços são importantes pois só dessa forma o bebê pode ter condições motoras de
levar o alimento à boca em um primeiro momento. Entender o fundamento do BLW faz
com que o processo seja mais simples do que parece. Eu sei que às vezes ficamos
ansiosos para que o bebê coma mais, mas quanto mais você interfere nas escolhas do
bebê, mais distante do BLW vocês estão.
Então, concluindo, esse “insucesso” inicial não existe no Baby-led weaning. Se o seu
bebê só jogou tudo no chão, lambeu mas não mastigou e nem engoliu, não quis encostar
em nada…. Entenda que ele ainda não está preparado para a IA. Está só começando. É
difícil lidar com a frustração desse momento então muitas mamães acabam insistindo
em dar a papa, ou oferecer em pedacinhos, mas assim acabam por se distanciar do
método, pois quem está assumindo a liderança do processo é a mãe e não o bebê.
Muitas mães desistem do BLW nos primeiros meses, pois sentem-se pressionadas (pela
sociedade em geral) para que o bebê coma. Assim, muitas famílias optam por iniciar o
método tradicional e ir oferecendo finger food (alimentos em pedaços) durante o
processo – e como já vimos é uma excelente forma de estimulação sensorial! Se esse é
o seu caso, volte ao capítulo da introdução alimentar participativa, onde você vai
encontrar várias dicas legais para quem, por qualquer motivo, não consegue seguir o
BLW à risca, mas simpatiza com os todos os benefícios que o método pode trazer ao
bebê!
Vale a pena também lembrar que 6 meses é uma data aproximada na qual os bebês
estariam prontos/precisariam receber outros alimentos para complementar o
aleitamento (materno/fórmula/misto). Assim, é possível que alguns bebês só se
interessem pela comida em alguns meses, alguns até após 1 ano. Não se desesperem, o
leite ainda é o principal alimento do bebê durante o primeiro ano de idade (e isso
também é uma estimativa).
Se a introdução ao maravilhoso mundo dos alimentos for feita de forma natural e sem
pressão, é muito possível que em poucos meses você esteja colhendo os frutos e vendo-
o comer com vontade e nos horários determinados. No começo, TUDO é exploração e
aprendizado. Um bebê não aprende a andar sem levar antes alguns tombos, não é
mesmo? Então, lembre-se do lema: devagar e sempre!
Existe um mito segundo o qual, quando os pais controlam a alimentação dos filhos, estes
comem corretamente, enquanto as crianças que decidem por si próprias iriam viver a
base de batatas-fritas e chocolate. Na verdade, é muito provável que aconteça
justamente o contrário.
Muitos pais que controlam a alimentação dos filhos relatam a dificuldade em fazer a
criança comer bem e que, com frequência, têm que recorrer a truques como esconder
a verdura no meio de outra comida, dar a comida na frente da televisão ou prometer
recompensas para fazer com que comam a refeição principal. A maioria dos pais que
optaram pelo BLW, entretanto, relatam que os filhos comem de tudo sem necessidade
de estratégias, incluindo alimentos que se pressupõem que crianças não irão gostar,
como repolho, quiabo e brócolis.
Essa ideia se vê reforçada pela grande quantidade de crianças “chatas pra comer”, cuja
introdução alimentar foi absolutamente controlada pelos pais e à base de papas
homogeneizadas. Além disso, é frequente ouvir relatos de pais que tiveram experiências
com ambos métodos dizerem que não voltariam ao convencional, porque o filho que fez
o BLW come muito melhor do que o outro.
Bebês que comem no seu próprio ritmo tendem a manter a comida na boca durante
muito mais tempo antes de engolir. E, durante este tempo, a comida vai se misturando
com a saliva, à medida que o bebê vai mastigando com as gengivas. Os purês, pelo
contrário, apenas entram em contato com a saliva, indo da colher diretamente ao fundo
da boca para serem engolidos sem mastigar.
Ao verificar o conteúdo das fraldas dos bebês, é fácil concluir que a comida triturada se
digere melhor. A diferença das fezes de um bebê que come purês de um bebê que come
“comida de verdade” é que o último as vezes contém pedaços inteiros de legumes e
verduras inteiros e reconhecíveis. Isso não significa que não digeriram nada do alimento,
mas sim que estão em processo de aprendizagem. O bebê está aprendendo a mastigar
e o sistema digestivo está se adaptando à digestão dos sólidos. A comida processada dá
a impressão de ser mais digerível, mas somente porque não se destaca no meio das
fezes.
Quando se oferece comida ao bebê rapidamente (algo que pode acontecer facilmente
quando damos colheradas), acabamos fazendo com que eles demorem mais para
aprender a mastigar bem. Os bebês que aprendem a comer sozinhos desde o princípio
e não se sentem pressionados para comer rápido tendem a colocar menos na boca e a
mastigar por mais tempo antes de engolir. E isso, sem dúvida, favorece uma melhor
digestão.
Obviamente, a comida processada é benéfica para as pessoas que têm dificuldade para
mastigar e para aqueles que tem dificuldade de deglutição. Mas bebês sadios e em
desenvolvimento dentro do padrão não tem real necessidade de comer comida
processada/modificada.
Os bebês nascem com uma reserva de nutrientes que vão se acumulando durante sua
estadia no útero. Começam a utilizar essa reserva quando nascem, mas os nutrientes
que recebe com o leite materno garantem que não se esgote. A partir dos seis meses de
idade, o equilíbrio é modificado e o bebê COMEÇA a precisar MUITO GRADUALMENTE
de cada vez mais nutrientes do que apenas os que estão presentes no leite materno ou
fórmula.
É importante ressaltar que, aos seis meses de idade, os bebês começam a precisar de
algo mais que uma dieta exclusivamente à base de leite. A maioria dos bebês nascidos
a termo tem reservas suficientes de ferro, por exemplo, que não se esgotam de um dia
para outro. Sem dúvida, é necessário que comecem a ingerir sólidos aos seis meses, pois
assim poderão desenvolver as habilidades necessárias para comer diferentes sólidos e
acostumarem-se a novos sabores, preparando-se para o momento em que
verdadeiramente dependerão de outros alimentos como fonte de nutrição principal.
O momento que os bebês começam a necessitar de cada vez mais nutrientes parece
coincidir com o tempo de desenvolvimento gradual das habilidades que os permitem
comer sozinhos. Portanto, aos seis meses, quando ainda contam com uma boa reserva
de nutrientes, quase todos os bebês começam a pegar pedaços de alimentos e levá-los
à boca. Até os nove meses, quando a necessidade de nutrientes já tiver aumentado
consideravelmente, a maioria dos bebês que foram estimulados a comer sozinhos desde
Referências Bibliográficas:
Brown A, Lee MD. Early influences on child satiety-responsiveness: the role of weaning
style. Pediatric Obesity 2013.
Cameron SL, Heath A-LM, Taylor RW. Healthcare professionals’, and mothers’,
knowledge of, attitudes to and experiences with, baby-led weaning: a content analysis
study. BMJ Open 2012.
Cameron SL, Taylor RW, Heath A-LM. Parent-led or baby-led? Associations between
complementary feeding practices and health-related behaviours in a survey of New
Zealand families. BMJ Open 2013.
Chapin, M M et al. “Nonfatal choking on food among children 14 years or younger in the
United States, 2001–2009.” Pediatrics 132.2 (2013): 275-281.
Denny, SA, Nichole LH, and Gary AS. “Choking in the Pediatric Population.” American
Journal of Lifestyle Medicine (2014).
Ferreira, LP; Befi-Lopes, DM; Limongi, SCO. Tratado de Fonoaudiologia. São Paulo:
Rocca, 2004. p. 415-38.
Miller, H C., GO’Neil P, and Franklin C. B. “Variations in the gag, cough, and swallow
reflexes and tone of the vocal cords as determined by direct laryngoscopy in newborn
infants.” The Yale journal of biology and medicine 24.4 (1952): 284.
Rapley G, Murkett T. Baby-led weaning: helping your child love good food. London, UK:
Vermilion, 2008.
Wright, C. M., Cameron, K., Tsiaka, M. and Parkinson, K. N. (2011), Is baby-led weaning
feasible? When do babies first reach out for and eat finger foods?. Maternal & Child
Nutrition, 7: 27–33.
WebSites consultados:
http://en.wikipedia.org/wiki/Pharyngeal_reflex
http://pt.wikipedia.org/wiki/Tosse
http://www.aboutkidshealth.ca/en/healthaz/testsandtreatments/specialdiets/pages/s
ensitive-gag-reflex-transition-to-textured-foods.aspx
http://www.babycenter.com/0_gagging-in-babies_9197.bc
http://www.healthhype.com/coughing-up-vomit-and-digested-food-causes.html
http://www.healthhype.com/cough-reflex-physiology-process-ear-cough-reflexes.html
http://www.livescience.com/34110-gag-reflex.html
http://www.med.umich.edu/yourchild/topics/choking.htm
http://www.nhs.uk/conditions/pregnancy-and-baby/pages/helping-choking-baby.aspx
http://www.nlm.nih.gov/medlineplus/ency/article/000048.htm
http://www.nlm.nih.gov/medlineplus/ency/presentations/100221_1.htm
http://www.sbp.com.br/htn/noticias/aspiracao-de-corpo-estranho
http://www.wetreatkidsbetter.org/2011/03/knowing-the-signs-of-choking-and-
prevent/