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Influência da idade e do sexo na força muscular respiratória

Influence of age and sex on respiratory muscle strength


Rodrigo Polaquini Simões1, Marco Antonio Auad2, Jadiane Dionísio3, Marisa Mazzonetto4

1
Fisioterapeuta; mestrando em RESUMO: Este estudo teve como objetivo avaliar a força muscular respiratória
Fisioterapia na UFSCar (FMR) por meio de manovacuometria de homens e mulheres com idade entre
(Universidade Federal de São 40 e 89 anos, verificando se há diferenças nos valores da pressão inspiratória
Carlos)
máxima (PImáx) e pressão expiratória máxima (PEmáx) entre indivíduos do
2
Fisioterapeuta; mestrando em mesmo sexo de diferentes idades, e entre os sexos da mesma idade. Foram
Biotecnologia na UFSCar estudados 100 indivíduos (50 homens e 50 mulheres), sendo excluídos indivíduos
3 com pneumopatologias, praticantes regulares de atividade física, fumantes e
Fisioterapeuta; mestranda em
Fisioterapia na UFSCar ex-fumantes. Os dados foram analisados estatisticamente. Os resultados
mostram menor valor tanto da PImáx como da PEmáx nas mulheres em relação
4
Fisioterapeuta; Profa. Ms. do aos homens da mesma idade (p<0,001), e redução progressiva e significativa
Curso de Fisioterapia da (p<0,01) com o avançar de cada década nos valores das pressões respiratórias
Universidade Camilo Castelo
Branco, campus VIII em ambos os sexos. Esses resultados permitem concluir que a idade e o sexo
influenciam diretamente a FMR.
ENDEREÇO PARA DESCRITORES: Capacidade inspiratória; Grupos etários; Pressão positiva contínua
CORRESPONDÊNCIA nas vias aéreas; Sexo
Rodrigo Polaquini Simões
Av. Paulo VI 474
Jd. Cruzeiro do Sul ABSTRACT: The purpose of the study was to assess respiratory muscle strength
13572-140 São Carlos SP (RMS) by means of manovacuometry among women and men aged 40-89,
e-mail: checking whether there are differences in maximal inspiratory pressure (MIP)
rodpsimoes@hotmail.com and maximal expiratory pressure (MEP) values between same-sex subjects
of different ages and between same-age subjects of different sex. One
Versão resumida foi hundred subjects were studied (50 men, 50 women); subjects with
apresentada ao IV Workshop pneumopathologies, practising regular physical activities, smokers and
em Fisiologia do Exercício da former smokers were excluded. Data were statistically analysed. Results
UFSCar, I Congresso Paulista show lesser both MIP and MEP values in women than same-aged men
da Sociedade Brasileira de (p<0,001); and, among men and women, a progressive, significant reduction
Fisiologia do Exercício, São
Carlos, nov. 2005. (p<0,01) in values of respiratory pressure at every decade in age advance.
These results allow concluding that age and sex do influence RMS.
APRESENTAÇÃO KEY WORDS: Age groups; Continuos positive airway pressure; Inspiratory capacity;
abr. 2006 Sex
ACEITO PARA PUBLICAÇÃO
dez. 2006

36 FISIOTERAPIA E PESQUISA 2007; 14(1):


14(1) 36-41
Simões et al. Força muscular respiratória versus idade e sexo

INTRODUÇÃO acentuadas, aumentando a cifose da


região torácica 3 e, conseqüentemente,
entre indivíduos do mesmo sexo de
diferentes idades, e entre os dois se-
A força muscular respiratória (FMR) causando encurtamento da musculatura xos da mesma idade.
pode ser mensurada por meio das pres- inspiratória2. A atrofia da musculatura
sões sub e supra-atmosférica que es- esquelética promovendo a diminuição
ses músculos são capazes de gerar, de sua força e potência é relatada na METODOLOGIA
sendo portanto a pressão inspiratória literatura como um fato diretamente
Foram estudados 100 indivíduos
máxima (PImáx) a maior pressão que relacionado à idade. Esse processo, de-
com idade entre 40 e 89 anos (média
pode ser gerada durante a inspiração nominado sarcopenia, geralmente é
de 65,15±14,41 anos), divididos em
forçada contra uma via aérea ocluída; prevalente na população idosa e pos-
dois grupos, de homens (N=50) e mu-
e a pressão expiratória máxima (PEmáx), sivelmente atinge não só a muscula-
lheres (N=50). Cada grupo foi dividi-
a maior pressão que pode ser desenvol- tura periférica como também a respi-
do em cinco subgrupos de acordo com
vida durante um vigoroso esforço expi- ratória 4.
a faixa etária: de sujeitos com idade
ratório contra uma via aérea ocluída1.
Análises separando os indivíduos por entre 40 e 49 anos (N=10), de 50 a 59
A análise da força dos músculos res- sexo mostraram que a FMR é maior anos (N=10), de 60 a 69 anos (N=10),
piratórios pelas pressões respiratórias nos homens quando comparados às de 70 a 79 anos (N=10) e um subgrupo
máximas (PImáx e PEmáx) tem sido mulheres. Além disso, o coeficiente de sujeitos com idade entre 80 e 89
muito utilizada devido a seu importan- de idade é mais negativo nos homens, anos (N=10). A Tabela 1 apresenta as
te papel diagnóstico e prognóstico em indicando que o declínio da FMR re- características antropométricas dos
doenças neuromusculares, pulmonares lacionada à idade é maior nos homens participantes: idade, peso, altura e
e cardiovasculares, sendo um método em comparação com as mulheres 6. índice de massa corpórea (IMC).
simples, de baixo custo, prático e não-
Diante do exposto, faz-se necessário Todos os voluntários foram orienta-
invasivo 2, além de estar associada ao
o estudo sobre a influência dessas alte- dos sobre os procedimentos experi-
estado de saúde de um indivíduo e tam-
rações próprias do processo de senes- mentais a serem realizados e assina-
bém à morbimortalidade pós-cirúrgica1.
cência sobre a FMR em ambos os se- ram um termo de consentimento in-
A disfunção dos músculos respira- xos. O objetivo deste estudo foi avaliar formado, conforme determina a reso-
tórios pode levar à hipoventilação, a força muscular respiratória de ho- lução 196/96 do Conselho Nacional
redução na tolerância ao exercício e, mens e mulheres com idades entre 40 de Saúde. O trabalho foi analisado e
em casos extremos, à insuficiência res- e 89 anos, verificando se há diferen- aprovado pelo comitê de ética da
piratória. O decréscimo na FMR é pro- ças nos valores da PImáx e PEmáx Universidade.
vavelmente relevante na situação clí-
nica dos pacientes idosos, onde uma Tabela 1 Características antropométricas (média±desvio padrão) dos voluntários
carga é adicionada aos músculos res- por sexo e faixa etária
piratórios nos casos como pneumonia Grupos/subgrupos N Idade (anos) Peso (Kg) Altura (m) IMC (Kg/m2)
e insuficiência ventricular esquerda 3.
Homens
Em um recente artigo de Kim &
40 a 49 anos 10 45,50 ± 2,71 70,53 ± 4,27 1,70 ± 0,09 24,40 ± 1,20
Sapienza4, os autores relatam que uma
das principais mudanças no sistema res- 50 a 59 anos 10 55,70 ± 2,21† 68,25 ± 3,50 1,66 ± 0,05 24,76 ± 1,55
piratório com o avançar da idade é a 60 a 69 anos 10 65,80 ± 3,57† 63,55 ± 2,90† 1,65 ± 0,03 23,23 ± 2,30
diminuição do recolhimento elástico
dos pulmões e da complacência da 70 a 79 anos 10 74,60 ± 3,23† 65,46 ± 3,55 1,61 ± 0,06 25,25 ± 1,70
caixa torácica. Essas alterações estão 80 a 89 anos 10 84,80 ± 2,89† 62,17 ± 2,85 1,59 ± 0,03 24,59 ± 2,10
relacionadas às mudanças na quanti-
dade e na composição dos componen- Mulheres
tes dos tecidos conjuntivos do pulmão, 40 a 49 anos 10 45,50 ± 2,83 67,86 ± 4,15* 1,65 ± 0,06 24,92 ± 2,05
como a elastina, colágeno e proteogli-
canos. Quanto à caixa torácica, sofre 50 a 59 anos 10 54,90 ± 2,60† 64,69 ± 3,62* 1,62 ± 0,03 24,64 ± 1,23
progressivo enrijecimento devido à 60 a 69 anos 10 65,00 ± 2,58† 66,37 ± 3,10 1,61 ± 0,04 25,60 ± 1,40*†
calcificação das costelas e das arti-
culações vertebrais 5. 70 a 79 anos 10 74,90 ± 2,51† 61,73 ± 2,75† 1,58 ± 0,03 24,72 ± 1,90

Outra importante modificação ocor- 80 a 89 anos 10 85,80 ± 3,44† 63,15 ± 3,51 1,59 ± 0,02 24,97 ± 1,15
rida com o processo de envelhecimen- N = número de participantes; IMC = índice de massa corpórea; * diferença significativa
to é a alteração postural. As curvatu- (p<0,05) entre homens e mulheres da mesma faixa etária; †diferença significativa (p<0,05)
ras da coluna vertebral tornam-se mais entre subgrupos consecutivos em cada grupo.

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Foram selecionados para participar volume residual (VR), repetindo-a três por década em cada grupo. O coeficien-
deste estudo indivíduos com IMCs vezes com intervalo de um minuto te de correlação linear de Pearson foi
classificados como eutróficos (IMC de entre cada repetição. Posteriormente utilizado para avaliar o nível de cor-
18,5 a 24,9 Kg/m2) e com sobrepeso foi realizada a expiração forçada a relação entre a idade e os valores das
(IMC de 25 a 29,9 Kg/m2) segundo a partir da capacidade pulmonar total pressões respiratórias máximas, tanto
Organização Mundial de Saúde, não (CPT), utilizando a mesma metodologia nos homens como nas mulheres.
praticantes de atividade física regu- aplicada na manobra de inspiração.
Os valores das pressões respiratóri-
lar, sem antecedentes de patologias Para a obtenção dos valores da as máximas foram comparados entre
cardiovasculares e principalmente res- PImáx e da PEmáx, os indivíduos sus- os subgrupos em cada grupo, relacio-
piratórias (agudas ou crônicas), não tentavam a manobra de esforço respi- nando os dados das duas variáveis
fumantes nem ex-fumantes; os sujei- ratório em seu máximo durante apro- (PImáx e PEmáx) dos sujeitos de uma
tos também não podiam ter alterações ximadamente dois segundos; o maior década com os da década seguinte,
na região torácica e/ou abdominal, valor obtido das três repetições (com ou seja, o subgrupo de 40 a 49 com o
como retrações cutâneas ou desvios es- diferença de 10% ou menos entre os de 50 a 59 anos, este último com o de
truturais acentuados na coluna, que pu- valores) em cada manobra foi o regis- 60 a 69 anos, consecutivamente com
dessem alterar a dinâmica respiratória. trado 1. Vale ressaltar que a mano- o de 70 a 79 anos, e por fim, este com o
vacuometria foi realizada em todos os de 80 a 89 anos.
Materiais indivíduos por um único avaliador, sob
A probabilidade de ocorrência de
comando verbal homogêneo.
Para obtenção dos valores das pres- erro do tipo I foi estabelecida em 5%
sões inspiratórias e expiratórias máxi- para todos os testes (a=0,05). Os da-
mas, foi utilizado um manovacuômetro Análise estatística dos foram analisados pelos programas
(Criticalmed , Rio de Janeiro, Brasil) Statistica for Windows (StatSoft Inc,
Para verificar a normalidade dos da-
do tipo aneróide com intervalo 2000) e GraphPad InStat for Windows
dos foi aplicado o teste de Kolmogorov
operacional de 0 a +300 cmH2O para 95 (version 3.0, 1998).
Smirnov e, constatada sua normalida-
pressões expiratórias, e de 0 a -300 de, foi utilizado o teste-t de Student
cmH2O para pressões inspiratórias. Um
tubo plástico foi conectado ao apare-
para duas amostras independentes, a
fim de verificar se havia diferenças nos
RESULTADOS
lho e em sua extremidade distal foi valores dos subgrupos de mesma fai- Foi verificada uma redução progres-
adaptado um dispositivo plástico com xa etária entre os grupos de homens e siva e significativa (p<0,01) com o
um pequeno orifício (com aproxima- mulheres, e o teste de análise de avançar de cada década nos valores
damente 2 mm de diâmetro) que per- variância (ANOVA) para grupos inde- da PImáx e da PEmáx, tanto no grupo
mitia pequeno vazamento de ar, evi- pendentes, com pós-teste de Tukey, dos homens como no das mulheres
tando a elevação da pressão da cavi- para comparar os subgrupos separados (Gráfico 1).
dade oral gerada pela contração da
musculatura facial 7. Para cada indiví-
duo foi utilizado um bocal descartável
que era conectado ao dispositivo plás-
tico citado. Para realizar as manobras
respiratórias (tanto a PImáx como a * *
PEmáx) foi utilizado um clipe nasal * *
* *
para não permitir escape de ar pelas *
* * *
narinas.
* * * *
* *
Procedimentos
Previamente à realização das ma-
nobras, os sujeitos foram orientados a
sentar-se em uma cadeira e foi feita
uma demonstração de como deveria
ser efetuada a manobra; em seguida
foi colocado o clipe nasal no partici-
pante que, com os lábios bem fecha- Gráfico 1 Redução progressiva da pressão inspiratória máxima (PImáx) e da
dos em torno do bocal para não per- pressão expiratória máxima (PEmáx) de homens (H) e mulheres (M)
mitir escape de ar, realizava a mano- com o avançar da idade. Dados expressos em média; * = diferença
bra de inspiração forçada a partir do significativa (p<0,01) entre os subgrupos

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Simões et al. Força muscular respiratória versus idade e sexo

Quando comparados os valores da


PImáx e PEmáx dos homens de 40 a 49
DISCUSSÃO de superior a 65 anos e separaram os
voluntários por sexo, subdividindo-os
anos, 50 a 59, 60 a 69, 70 a 79 e 80 a Os resultados deste estudo sugerem em cinco subgrupos de acordo com a
89 anos com as mulheres de mesma que a idade influencia significativamen- faixa etária (65-69, 70-74, 75-79, 80-
faixa etária, foram verificados valores te os valores da PImáx e da PEmáx, tan- 84 e maiores de 85 anos). Os autores
significativamente menores (p<0,001) to em homens como em mulheres, sen- verificaram que há diminuição pro-
em todos os subgrupos de mulheres, do que a diminuição dessas duas variá- gressiva na PImáx e PEmáx de acordo
como mostram os Gráficos 2 e 3. veis ocorrem progressivamente com o com o aumento da faixa etária, en-
contrando correlação negativa entre
a idade e as pressões respiratórias, tan-
140
to nos homens como nas mulheres; os
120 resultados do presente estudo corrobo-
*
ram aqueles. Outros estudos também
100 relacionando idade e FMR, como os
*
PImáx (cmH2O)

de Ringqvist9 e Vincken et al.10, tam-


80 * bém encontraram correlação negati-
* Homens va entre os valores das pressões respi-
60
* Mulheres ratórias máximas e a idade. No entan-
40 to, os resultados desses dois estudos,
como também os do presente traba-
20 lho, são contrários aos obtidos por
Mcelvaney et al.11 e Bruschi et al.12,
0 que não encontraram influência da
40 a 49 anos 50 a 59 anos 60 a 69 anos 70 a 79 anos 80 a 89 anos idade sobre os valores pressóricos.
Essas reduções nos valores da PImáx
Gráfico 2 Comparação da pressão inspiratória máxima (PImáx) entre homens e
e da PEmáx com a idade podem estar
mulheres da mesma década. Valores expressos em média; * =
relacionadas às alterações fisiológicas
diferença significativa (p<0,001)
próprias do processo de envelhecimen-
to, como mudanças na composição do
tecido pulmonar e da caixa torácica,
160
que acarretam diminuição da massa
140 e da eficiência da musculatura respira-
tória5. Com o processo de senescência,
120 *
os pulmões sofrem alterações relacio-
*
PEmáx (cmH2O)

100 nadas à quantidade e composição dos


* componentes dos tecidos conjuntivos,
80 Homens como já mencionado, promovendo
*
60 Mulheres diminuição do recolhimento elástico
*
pulmonar. A caixa torácica sofre pro-
40 gressiva diminuição em sua compla-
20
cência devido à calcificação da carti-
lagem das articulações costais e es-
0 treitamento dos discos intervertebrais5.
40 a 49 anos 50 a 59 anos 60 a 69 anos 70 a 79 anos 80 a 89 anos Alterações na configuração do tórax
também ocorrem devido ao processo
Gráfico 3 Comparação da pressão expiratória máxima (PEmáx) entre homens e de osteoporose, que ocasiona microfra-
mulheres da mesma década. Valores expressos em média; * = turas parciais ou completas das vérte-
diferença significativa (p<0,001) bras, levando ao aumento da cifose
Foram verificadas correlações sig- avançar de cada década a partir dos 40 dorsal e do diâmetro anteroposterior
nificativas entre a idade e a PImáx até os 89 anos. Essas reduções nos valo- do tórax 3.
(p<0,0001, r= -0,94) e entre a idade e res são indícios de que perdas de força Todas essas alterações estruturais
a PEmáx (p<0,0001, r= -0,95) em ho- da musculatura respiratória ocorrem que ocorrem com o processo de enve-
mens e em mulheres (PImáx: com o processo de envelhecimento. lhecimento modificam a curvatura do
p<0,0001, r= -0,94; PEmáx: p<0,0001, Enright et al.8 avaliaram a PImáx e músculo diafragma, provocando um
r= -0,95), respectivamente. a PEmáx de 4.443 indivíduos com ida- efeito negativo em sua capacidade de

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gerar força. Isso é o que sugerem mões é o responsável por gerar a expi- cando que quanto maior a força de
Polkey et al.13, na tentativa de justifi- ração; entretanto, os músculos expira- preensão palmar do indivíduo, maior é
car a diminuição significativa da for- tórios são contraídos quando há neces- a força de seus músculos respiratórios.
ça diafragmática de sujeitos idosos sidade de produzir pressão pulmonar
Vários outros estudos, como os de
(67-81 anos) quando comparados a um durante atividades não-ventilatórias.
Ringqvist et al.9, Black e Hyatt 7 e
grupo controle de jovens (21-40 anos).
Um importante achado do presente Enright et al.8, também encontraram
O processo sarcopênico que se de- estudo são os valores significativamen- maiores valores das pressões respira-
senvolve com a progressão da idade é te menores tanto da PImáx como da tórias máximas nos homens em rela-
outro fator que justifica a queda nos PEmáx das mulheres, em todas as fai- ção às mulheres. Nossos resultados
valores da PImáx e da PEmáx. Segun- xas etárias estudadas, quando compa- portanto são concordantes com esses
do Neder et al.1, os idosos tem regres- rados aos dos homens de mesma faixa trabalhos, sugerindo que há influência
são na massa muscular do diafragma etária. Esse resultado sugere que as mu- do sexo nos valores pressóricos.
e da musculatura acessória da respi- lheres têm menor força nos músculos Algumas limitações deste estudo
ração, como também têm menor res- respiratórios que os homens da mesma devem ser consideradas. Não foi pos-
posta desses músculos a um mesmo idade. Harik-khan et al.15 relataram sível controlar as diferenças raciais en-
nível de estimulação neural. em seu trabalho que há diferença en- tre os indivíduos devido à grande difi-
Mizuno 14 reportou em seu trabalho tre os sexos nos valores das pressões culdade na separação dos mesmos em
que a área de secção transversal dos respiratórias máximas. E Berry et al.6, grupos de diferentes raças, já que a
músculos intercostais internos diminu- separando os indivíduos por sexo, população brasileira é caracterizada
em aproximadamente 7 a 20% em mostraram que a FMR é cerca de 30% por seus aspectos multirraciais.
indivíduos com 50 anos de idade de- maior nos homens quando compara-
vido à redução nas fibras do tipo I e, dos às mulheres - resultado semelhan-
principalmente, do tipo II. Segundo te ao encontrado no presente estudo, CONCLUSÃO
Kim e Sapienza4, esse decréscimo da em que os valores de FMR alcança-
massa muscular relacionado à idade, dos pelos homens foram cerca de 20% Diante do exposto, concluímos que
responsável por promover redução da maiores. os valores das pressões respiratórias
FMR, pode prejudicar não só a função máximas sofrem redução com o avan-
Essas diferenças nos valores das çar da idade a cada década a partir
de bomba ventilatória como também pressões respiratórias máximas entre dos 40 anos até os 89 anos, indicando
as funções não-ventilatórias do siste- os sexos podem estar relacionadas à um decréscimo da força muscular
ma respiratório. As funções não-venti- desigual quantidade de massa magra, inspiratória e expiratória, tanto em
latórias incluem: tossir, espirrar, falar, já que os homens têm maior quanti- homens como em mulheres. Por outro
cantar, realizar a manobra de Valsalva dade de massa muscular e, conse- lado, os valores da PImáx e da PEmáx
e outras funções que são acompanha- qüentemente, mais força que as mu- são significativamente inferiores nas
das pelo esforço expiratório.
lheres. Alguns trabalhos 8,9 confirmam mulheres em todas as décadas, quan-
Durante a expiração em repouso, o essa relação entre força muscular pe- do comparados aos dos homens de
recolhimento elástico passivo dos pul- riférica e muscular respiratória, verif i - mesma faixa etária.

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Simões et al. Força muscular respiratória versus idade e sexo

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